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Volume 4 | Número 1 | Ano 2023

ISSN 2596-268X

APLICABILIDADE DO CONCEITO DE FATOR PARA A


NEUROPSICOLOGIA INFANTIL: SEGUINDO A A. R. LURIA
APPLICABILITY OF THE CONCEPT OF FACTOR TO CHILD
NEUROPSYCHOLOGY: FOLLOWING A. R. LURIA
Caio Pereira Gottschalk Morais1
Yulia Solovieva2
Camila Borges3
RESUMO
A neuropsicologia infantil tem por objetivo compreender diferentes casos de atrasos e
alterações no desenvolvimento e na aprendizagem, bem como elaborar programas de
intervenção. A neuropsicologia luriana têm como princípios teórico-metodológicos a
origem histórico-cultural do psiquismo humano, natureza sistêmica da atividade cerebral
e representação hierárquica e dinâmica dos sistemas funcionais cerebrais. Com isso,
pode-se dizer que nenhuma ação cultural pode ser realizada por um "centro" específico,
mas exige o trabalho funcional combinado de vários mecanismos cerebrais unidos por
um objetivo comum, o que foi denominado "sistema funcional complexo". O resultado
do trabalho específico que cada área do cérebro contribui para o sistema funcional como
um todo foi denominado "fator” neuropsicológico. Uma disfunção em qualquer área do
cérebro leva ao distúrbio do sistema funcional como um todo, mas de uma forma
peculiar. Portanto, o fator representa um mecanismo funcional ou psicofisiológico com
repercussões em nível psicológico uma vez que os vários tipos de ações se alteram em
consequência do sofrimento de algum deles. O objetivo deste artigo é analisar o
conceito de fator neuropsicológico a partir de sua aplicabilidade na neuropsicologia
infantil. Foi realizada uma revisão teórica e a apresentação de um caso clínico para fins
ilustrativos da aplicação conceitual em termos práticos. Pretendemos responder às
seguintes questões: O conceito de fator tem a mesma implicação na neuropsicologia
infantil e na do adulto? Quais particularidades do desenvolvimento psicológico e da
maturação do sistema nervoso central devem ser consideradas para a utilização do
conceito de "fator" na neuropsicologia infantil?
Palavras-Chave: fator neuropsicológico; sistema funcional complexo;
neuropsicologia infantil; neuropsicologia histórico-cultural.

ABSTRACT

1
Instituto Luria de Neuropsicologia e Promoção de Saúde. Email: morais_caio@yahoo.com.br
2
Instituto Luria de Neuropsicologia e Promoção de Saúde. Email: camilaborges93@gmail.com
3
Universidad Autónoma de Puebla. Universidad Autónoma de Tlaxcala. Lomonosov Moscow State University. Email:
aveivolosailuy@gmail.com
Revista Brasileira da Pesquisa Sócio-Histórico-Cultural e da Atividade
Brazilian Journal of Socio-Historical-Cultural Theory and Activity Research

Child neuropsychology aims to understand different cases of delays and


disfunctions in development and learning, as well as to develop intervention
programs. Lurian neuropsychology offers specific theoretical-methodological
principles of cultural-historical origin of the human psyche, systemic nature of
brain activity and hierarchical and dynamic representation of brain functional
systems. According to such principles, no cultural action could be performed by
a specific "center". Each action requires the combined functional work of several
brain mechanisms united by a common goal, what has been called "complex
functional system". The result of specific work that each area or union of areas of
the brain contributes to the functional system as a whole has been termed a
“neuropsychological factor.” A dysfunction in any area of the brain leads to a
disturbance of the functional system as a whole, but in a peculiar way.
Neuropsychological factor represents a functional or psychophysiological
mechanism with repercussions at the psychological level since the various types
of actions change as a result of the suffering of some of them.The aim of this
article is to analyze the concept of neuropsychological factor from its applicability
in child neuropsychology. A theoretical review and presentation of a clinical case
was carried out for illustrative purposes of the conceptual application in practical
terms. The article present an example of clinical case to show the importance of
the concept of neuropsychological factor. Intends to discuss the following
question: Does the concept of factor have the same implication in child and adult
neuropsychology?
Keywords: neuropsychological factor; complex functional system; child
neuropsychology; historical-cultural neuropsychology.

INTRODUÇÃO

Na década de noventa do século XX, consolidou-se a neuropsicologia


infantil cujo objetivo é compreender diferentes casos de atrasos e alterações no
desenvolvimento e na aprendizagem, bem como elaborar e aprovar programas
de intervenção e desenvolvimento (Solovieva & Quintanar, 2016). É importante
constantemente rever os conceitos e termos que compõem esta área do
conhecimento e que refletem nas decisões diagnósticas e na eficácia da prática
de intervenção em problemas que surgem no desenvolvimento e aprendizagem
nas várias etapas da infância (Ardilla et al., 2015).
Os autores deste artigo identificam-se como representantes do modelo
histórico-cultural da neuropsicologia e adeptos da escola neuropsicológica de
Luria. Os princípios teórico-metodológicos desse modelo são: origem histórico-
cultural do psiquismo humano; natureza sistêmica da atividade cerebral e

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representação hierárquica e dinâmica dos sistemas funcionais cerebrais. Este


modelo considera seus próprios conceitos e termos, a saber: organização
funcional do cérebro, sistema funcional complexo, fator neuropsicológico e
síndrome neuropsicológica (Luria, 1973; Quintanar & Solovieva, 2000, 2008;
Xomskaya, 2002; Solovieva et al., 2019). Estes princípios se traduzem na ideia
de que a organização funcional do cérebro humano é muito complexa,
justamente porque reflete um processo de desenvolvimento ontogenético
mediado pela experiência prática e social encontrada em uma cultura. Graças
ao uso de objetos e signos culturais, como a linguagem, assimilamos
conhecimentos e mudamos nossa forma de interagir com a realidade o que, em
nível cerebral, implica na formação de novos sistemas funcionais. Com isso,
pode-se dizer que nenhuma ação cultural pode ser realizada por um "centro"
específico, seja ele cortical ou subcortical, mas inclui necessariamente um
trabalho funcional combinado de vários centros ou mecanismos cerebrais unidos
por um objetivo comum (Luria, 1974). Esta coordenação funcional combinada foi
denominada "sistema funcional complexo" (Anojin, 1980), e o resultado do
trabalho específico que cada área do cérebro contribui para o sistema funcional
como um todo foi denominado "fator” neuropsicológico (Luria, 1977, 1979). Uma
alteração de qualquer área do cérebro leva ao distúrbio do sistema funcional
como um todo, porém, dada a diferente localização das lesões, a falha de
diferentes fatores afeta os sistemas funcionais de forma peculiar (Luria, 1979;
Luria, 1964).
O objetivo deste artigo é analisar o conceito de "fator” neuropsicológico a
partir de sua aplicabilidade na neuropsicologia infantil. Para isso, foi realizada
uma revisão teórica e a apresentação de um caso clínico para fins ilustrativos da
aplicação conceitual em termos práticos. Em particular, pretendemos responder
às seguintes questões: O conceito de fator tem a mesma implicação na
neuropsicologia infantil e na do adulto? Quais são as particularidades do
desenvolvimento psicológico e da maturação do sistema nervoso central que
devem ser levadas em consideração para a utilização do conceito de "fator" na
neuropsicologia infantil?

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PRINCÍPIOS DE ORGANIZAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: OS SISTEMAS


FUNCIONAIS

De acordo com Anojin (1987), o termo “sistema” tem uma origem muito
antiga e quase não existe orientação científica que não o tenha utilizado. Seu
uso como princípio geral do funcionamento de uma grande quantidade de
fenômenos pode oferecer maiores contribuições ao estudo dos processos
particulares do que os métodos analíticos. Esse termo é utilizado quando se trata
de algo unido, ordenado, organizado. Sua característica mais importante é que,
no trabalho de pesquisa, não pode haver um estudo analítico de qualquer objeto
particular sem sua identificação exata no sistema. Este adquire, durante o seu
estabelecimento, princípios próprios e específicos de organização não
traduzíveis aos princípios e propriedades dos componentes e processos dos
quais se formam os sistemas íntegros.
No domínio das investigações fisiológicas, talvez I.P. Pavlov tenha sido o
primeiro a utilizar a expressão “sistema” em seu trabalho experimental
relacionado à formação do estereótipo dinâmico (Anojin, 1987). Pavlov (1997)
dizia que um grupo determinado de células estaria relacionado com uma
atividade definida do organismo, como excitar, e outro com outra atividade, como
inibir. O córtex cerebral seria, então, representado como um mosaico de extrema
complexidade, com um quadro de distribuição, com ampla capacidade para
desenvolvimento de novas conexões. Concluiu que os reflexos condicionados
aparecem, a princípio, em uma forma generalizada: a excitação irradia desde o
ponto de iniciação para abarcar células pertencentes a outros elementos
receptores além do limite da área do córtex inicialmente relacionada com o
receptor estimulado. A atividade do organismo corresponderia a uma resposta
necessária frente a algum agente do mundo exterior na qual o órgão ativo se
encontra com o agente dado em uma relação de causa e efeito que se
estabelece por meio de uma determinada via nervosa. Este agente do mundo
exterior age sobre um dos aparelhos receptores nervosos e seu impacto

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produzido se transforma em um processo nervoso denominado de “fenômeno da


excitação”. As fibras nervosas agem como um condutor e fazem chegar a
estimulação ao sistema nervoso central, de onde se dirige, por meio de conexões
estabelecidas por outros condutores ao órgão ativo, no qual é transformado num
processo específico das células desse órgão. Se o animal não estivesse
perfeitamente adaptado ao mundo exterior acabaria, mais cedo ou mais tarde,
por deixar de existir, pois, para ser completa, a vida cotidiana exige relações
flexíveis e especializadas entre o organismo e o mundo. Pavlov (1976)
denominou de “analisadores” as unidades funcionais que realizam a análise dos
processos dos meios externo e interno.
Vigotsky (2004) considera que Pavlov teve razão em utilizar o termo
“analisador”, pois se refere a um aparelho que começa num órgão periférico e
finaliza no terminal do nervo sensitivo tendo a função de decompor o mundo em
seus elementos mais ínfimos e sutis ajustando as reações do homem às
mudanças do meio. Esse aparelho permite o enraizamento da criança à
civilização e representa uma fusão com os processos de amadurecimento
orgânico. Os planos natural e cultural do desenvolvimento coincidem e se
fusionam. Ambas as séries de mudanças se penetram mutuamente e formam
uma série unitária na formação sóciobiológica da personalidade da criança. O
desenvolvimento cultural adquire um caráter peculiar e incomparável por
realizar-se simultaneamente e fusionado com a maturação biológica, já que seu
portador é o organismo da criança em crescimento, mudança e maturação. Da
mesma forma que o uso de instrumentos pressupõe o desenvolvimento da mão
e do cérebro, o desenvolvimento psicofisiológico da criança constitui a premissa
indispensável do desenvolvimento psicológico cultural (Vigotsky, 1989).
Vigotsky (1997) denomina os processos intelectualizados e volitivos pelos
quais se dominam os meios externos do desenvolvimento cultural e do
pensamento de “funções psicológicas superiores” (FPS). Quanto à sua
organização cerebral, explica que ocorrem no sujeito pela formação de sistemas
funcionais (Vigotsky, 2004). Segundo ele, uma função específica não é
produzida pela atividade de um determinado centro, mas é produto da atividade

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integrada de diversos centros diferenciados e relacionados hierarquicamente


entre si. Na função global e na parcial ocorre tanto a divisão quanto a unidade:
a diferenciação funcional dos centros e sua atividade integradora. O conjunto se
organiza e estrutura como uma atividade integrada que tem por base relações
intercentrais dinâmicas diferenciadas de forma complexa e conectadas
hierarquicamente. No caso de lesões focais, as funções, como não se
relacionam diretamente com o setor lesionado, são afetadas de forma específica
e não manifestam uma diminuição uniforme. Isto indica que o funcionamento
normal do sistema psicológico não é garantido pelo conjunto de todas as funções
de áreas especializadas, mas por sistemas de centros que participam da
formação de qualquer dos aspectos parciais das funções em questão (Vigotsky,
2004).

PRINCÍPIOS DE ORGANIZAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

Com essas ideias, Vygotsky havia formulado o núcleo teórico da


neuropsicologia com os princípios da gênese social, da estrutura sistêmica e
dinâmica das funções psicológicas superiores (Akhutina, 2013; Glozman &
Nemeth, 2020). Da mesma forma, a neuropsicologia luriana se baseia na
premissa de que qualquer atividade psicológica é um sistema funcional
complexo refletindo a atividade conjunta de um grupo de zonas cerebrais e que
cada uma delas tem sua própria função altamente específica e necessária para
o desempenho eficaz de formas complexas de atividade mental. A partir desta
premissa, se pode inferir que um transtorno em qualquer área do cérebro
interrompe sua participação no sistema e dá origem a um defeito primário
imediato que, por sua vez, produz uma série de distúrbios secundários ou
sistêmicos que perturbam o funcionamento da forma de atividade mental. A
devida análise do defeito primário e de sua relação com os distúrbios sistêmicos
secundários permite descrever o conjunto de sintomas (ou "síndrome")
decorrentes. Luria denomina esse método de "análise sindrômica" o qual é
empregado na investigação clínica (Luria & Artemieva, 2014).

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Por si só, um sintoma primário não exibe qualquer significado e pode ter
muitas causas. Por exemplo, assim como uma temperatura corporal elevada
pode ter dezenas de motivos, as dificuldades de um paciente na repetição de
fonemas semelhantes (como b e p, ou d e t) pode, com igual probabilidade, ser
causada por uma dificuldade em passar de um fonema para o outro ou por
defeitos na articulação ou por inatividade geral, entre outras possibilidades. Um
sintoma observado é sempre passível de muitas interpretações e seu significado
só pode ser estabelecido na comparação com outros sintomas, ou seja, por uma
análise sindrômica. O principal valor deste método reside no fato de permitir
partir de uma descrição do quadro clínico de um paciente para uma análise das
condições fundamentais ou fatores por trás do grupo de sintomas observado. No
entanto, essa "análise fatorial", que é realizada pela correlação de um número
de sintomas, não pode ser limitada a uma simples descrição destes. Este método
pode ser utilizado ao máximo apenas por uma análise qualitativa dos sintomas
que exibem uma correlação e estão associados entre si. Uma caracterização
precisa desses fatores requer uma análise psicológica ou, em outras palavras,
um estudo cuidadoso dos processos perturbados e a investigação do elemento
constituinte comum a eles sem os quais não poderiam executar seu curso normal
(Luria & Artemieva, 2014; Luria, 2005). Tsvetkova escreve: "esta abordagem
analítica do defeito, sua análise sindrômica para o avaliador e reabilitador
constitui o instrumento para estabelecer o diagnóstico exato e para a elaboração
de tecnologias de ensino de reabilitação" (Tsvetkova, 2004, pp. 18-19). Assim, a
tarefa do neuropsicólogo é realizar a análise sindrômica para especificar o
diagnóstico e ao mesmo tempo estabelecer os objetivos e meios de reabilitação,
no caso de adultos, ou correção de dificuldades, no caso de crianças. O conceito
de “síndrome neuropsicológica” é definido como a “alteração seletiva de um
grupo de funções psicológicas, em cuja estrutura se insere o fator alterado em
face da conservação das demais funções” (Tsvetkova, 2004, p. 73).
Como cada zona do cérebro oferece seu elemento específico na
construção dos sistemas funcionais complexos, o transtorno de sistemas
funcionais possui um caráter distinto frente a diferentes perturbações locais.

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Para que a análise neuropsicológica seja precisa, é necessário proporcionar


suficiente clareza à tese de que cada área cerebral está relacionada de modo
imediato com determinado fator fisiológico os quais formam parte das condições
que proporcionam o desenvolvimento normal de umas ou outras formas de
atividade psíquica. Para se estabelecer precisamente qual fator cada zona
introduz no desenvolvimento dos sistemas funcionais em seu conjunto, o
neuropsicólogo deve estudar minuciosamente quais tipos de atividade psíquica
são perturbadas frente a diferentes transtornos cerebrais locais e de que forma
(Luria, 1964, 1974, 1977, 1979, 2005).
De acordo com Xomskaya (2002), o conceito de “fator” foi introduzido pela
primeira vez na neuropsicologia por A.R. Luria entre 1947 e 1948 em suas obras
“Afasia traumática” e “Reabilitação das funções depois de traumatismos de
guerra” e constitui um componente do aparelho conceitual da neuropsicologia
luriana. Em sua opinião, com esse conceito, Luria conseguiu superar a
identificação imediata dos conceitos psicológicos no nível morfológico. Luria
definia “fator” como a função específica de uma ou outra estrutura cerebral, ou
seja, o princípio ou meio determinado de seu trabalho. Cada zona cerebral que
participa na realização do sistema funcional que se encontra na base da função
psicológica superior é responsável por um determinado fator. Sua patologia
conduz à alteração do trabalho do sistema funcional correspondente de uma
forma geral. A análise sindrômica, ou seja, a análise das alterações das funções
psicológicas superiores, pressupõe a busca do fator (ou fatores) prejudicado e
que constitui a base primária da síndrome que determina seu caráter. Essa forma
de investigação das síndromes neuropsicológicas através dos fatores foi
denominada por Luria também como “análise fatorial” (Xomskaya, 2002; Luria &
Artemieva, 2014). Para isso, Luria e seus colaboradores estudaram os fatores e
seus papéis nas síndromes neuropsicológicas. A análise dos dados
neuropsicológicos obtidos em materiais clínicos permitiu identificar os seguintes
fatores listados por Xomskaya (2002) apresentados nas Tabelas 1 e 2.

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Tabela 1: Tipos de fatores listados por Xomskaya (2002) encontrados nas


pesquisas de Luria relacionados com seu substrato morfológico e suas
funções
Fator Substrato morfológico Funções

Campos secundários
dos grandes hemisférios
e suas relações córtico-
Modal- Visuais, auditivas, cinestésico-
corticais e córtico-
específicos táteis e motoras.
subcorticais
(analisadores
específicos).
Estruturas profundas do
Não cérebro: estrio-pálido,
Atividade-inércia dos processos
específicos hipocampo, formações
nervosos
(amodais) talâmicas e
hipotalâmicas etc.

Formas mais complexas da


atividade psicológica;
Trabalho das
Pré-frontal e temporo- Pré-frontal: fator de programação
áreas
parieto-occipital (TPO) e controle;
associativas
TPO: fator de organização
simultânea.

Verbais (abstrato-lógicas) para o


Fatores Trabalho específico de hemisfério esquerdo (HE) e não-
hemisféricos cada hemisfério verbais (concretas) para o direito
(HD).
Fator de
Corpo caloso e demais Determinam os processos de
integração
comissuras mediais do inter-relação e interação dos
inter-
cérebro hemisférios.
hemisférica
Influenciam no estado funcional
Mecanismos cerebrais geral do cérebro como um todo
gerais como circulação influenciando no transcurso de
Fatores
sanguínea e do líquido todos os processos e estados
cerebrais
cerebral, processos psicológicos. Podem agir tanto de
gerais
humorais, bioquímicos maneira independente como em
etc. conjunto com fatores mais
regionais.

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Tabela 2: Tipos de fatores listados por Xomskaya (2002) encontrados nas


pesquisas de Luria relacionados com seus sintomas específicos em caso
de transtornos
Tipos de Fatores Alterações

Transtornos apráxicos, de linguagem, agnosias e


Modal-específicos
alterações mnêmicas.
Não específicos Perseverações nas esferas motora, gnósica e intelectual;
(amodais) inércia, inatividade, a espontaneidade.

Campos terciários dos lobos frontais: alterações de


programação e controle tanto nos processos motores e
sensoriais como nas formas complexas de atividade
Trabalho das áreas
perceptiva, mnésica e intelectual;
associativas
Campos terciários posteriores: alterações na análise e na
síntese simultânea que se manifestam de imagens
concretas às lógico-verbais.

HE: transtorno da regulação voluntária da conduta, dos


estados funcionais e da temporalidade da ação intelectual;
lentificação das operações intelectuais; perda da gestalt.
Hemisféricos HD: transtorno das funções automatizadas reguladas
involuntariamente; anosognosia; hemianopsia; hemiplegia;
agnosias visuais; alterações da sensibilidade (não
percepção da dor).
Integração inter-
Diferentes formas de síndrome do cérebro dividido.
hemisférica
Amplo espectro de sintomas com predomínio de
alterações dos aspectos dinâmicos dos processos
Cerebrais gerais
psicológicos e oscilações no transcurso de diferentes
funções: “síndrome cerebral geral”.

Os fatores têm características em comum: 1. suas alterações conduzem


à aparição de uma síndrome neuropsicológica unitária na qual as alterações de
diferentes processos psicológicos possuem uma base comum; 2. refletem o
trabalho de sistemas autônomos determinados que se caracterizam por suas
próprias regularidades (Xomskaya, 2002). Um sistema funcional complexo pode
ser desdobrado ou condensado, dependendo do grau de automatização e
perfeição da ação que o sujeito desenvolve. A automatização (condensação) e
a perfeição do sistema funcional complexo é resultado da formação de um órgão

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funcional que depende do tipo de ação e do seu objetivo. A participação dos


fatores (mecanismos cerebrais) nos sistemas funcionais complexos depende
diretamente do objetivo que se estabelece no plano psicológico, isto é, no plano
da interação cultural. Desta forma, no cérebro não se localizam ações ou funções
psicológicas em si, mas fatores neuropsicológicos, ou seja, mecanismos
psicofisiológicos que garantem as ações. Esses fatores se submetem à ação e
se unem em sistemas funcionais que, por sua vez, constituem a base
psicofisiológica da ação. A análise das ações permite identificar o fator ou os
fatores neuropsicológicos que estão afetados. O transtorno de um fator
neuropsicológico determinado se manifesta em todas aquelas ações que
incluem a operação que garante esse mecanismo e conduz à aparição de uma
síndrome complexa na qual se incluem necessariamente dificuldades nas
diversas ações. Entretanto, as alterações que se observam em cada caso terão
um caráter específico determinado pelo fator.
Observa-se, então, a importância central do conhecimento acerca dos
fatores neuropsicológicos, sua estrutura, função e sintomas que apresentam em
caso de transtornos. A Tabela 3 apresenta os fatores listados até o momento e
as zonas cerebrais com as quais se relacionam considerando o funcionamento
maduro no adulto.

Tabela 3: Fatores e seus substratos neuroanatômicos


Fator Zona Cerebral

Zonas temporais secundárias do


Integração fonemática hemisfério esquerdo (direito para alguns
idiomas)
Zonas parietais secundárias do
Integração cinestésico-tátil
hemisfério esquerdo
Zonas temporais médias do hemisfério
Retenção audio-verbal
esquerdo

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Retenção visual Zonas occipitais secundárias


Organização sequencial motora
Zonas pré-motoras
(melodia cinética)
Neurodinâmico (estado ativo de Zonas terciárias fronto-mediais
trabalho) anteriores do hemisfério esquerdo
Programação e controle da atividade Setores pré-frontais do hemisfério
consciente esquerdo
Regulação dos processos
Setores pré-frontais do hemisfério direito
involuntários e automatizados
Percepção espacial global TPO do hemisfério direito
Percepção espacial analítica TPO do hemisfério esquerdo
Estruturas subcorticais amplas,
Ativação geral inespecífica
formação reticular ascendente
Ativação emocional inespecífica Estruturas médio basais
Interação hemisférica Corpo caloso e demais comissuras
Fonte: Quintanar et al, 2011.

Luria (2005) sugeriu a organização do cérebro em três unidades


baseando-se em suas funções gerais. A primeira unidade funcional se
caracteriza pela regulação do tônus cortical, regulando o ciclo de sono e vigília
e estabelecendo um nível ótimo de funcionamento bioelétrico de todo o córtex
de forma inespecífica. Funções suportadas pelo Sistema Ativador Reticular
Ascendente. A segunda unidade é composta pelas estruturas posteriores
(parietais, temporais e occipitais) e é responsável por receber, processar e
armazenar informações. A terceira é constituída pelos lobos frontais e capacita
o homem a organizar e controlar as próprias ações. Cada unidade funcional
reúne seus fatores com suas características específicas que permitem a
realização de suas funções. As tabelas 4, 5 e 6 sistematizam essas informações.

Tabela 4. Fatores da I Unidade Funcional luriana e suas correlações com


o trabalho que realiza e seus sintomas em caso de transtornos

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I Unidade Funcional

Fator Funções Sintomas em caso de debilidade

Ativação Fundo e Flutuação na qualidade das execuções,


geral estabilidade da lentidão no processamento, prejuízo geral
inespecífica execução da ação. das funções complexas, fadiga.

Ativação Fundo e Instabilidade emocional prejudicando o


emocional estabilidade estado geral ótimo necessário para o
inespecífica emocional. engajamento nas atividades diversas.
Fonte: Adaptado de Quintanar et al, 2011.

Tabela 5: Fatores da II Unidade Funcional luriana e suas correlações com


o trabalho que realiza e seus sintomas em caso de transtornos

II Unidade Funcional

Fator Funções Sintomas em caso de debilidade


Dificuldade em diferenciar sons
Diferenciação de sons do idioma, especialmente os
Integração verbais do idioma dado de próximos por ponto ou modo de
fonemática acordo com as oposições produção (p x b, f x v etc) com
fonemáticas. prejuízo na compreensão da
linguagem.
Sensibilidade tátil fina,
assim com precisão de Falha na precisão dos
posturas e posições; na movimentos, principalmente nos
Integração
articulação da linguagem finos (praxias). Na linguagem,
cinestésico-
garante a diferenciação dificulta a produção de
tátil
dos sons verbais de acordo articulemas dificultando a
ao ponto e modo de sua expressão.
produção motora.
Estabilidade das marcas
mnêmicas (volume de
Dificuldade em reter informações
Retenção percepção) na modalidade
áudio-verbais (palavras, frase
áudio-verbal áudio-verbal em condições
etc.) com perda de volume.
de interferência homo e
heterogênea.

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Estabilidade das marcas


mnêmicas (volume de Alteração na integração de
Retenção percepção) na modalidade informações visuais e perda de
visual visual em condições de volume na retenção de
interferência homo e informações desse tipo.
heterogênea.
Alterações na estrutura global de
Percepção e a produção estímulos visuais com prejuízo
Percepção adequada da forma geral, da proporção e simetria afetando
espacial dos aspectos métricos e a percepção e,
global das proporções dos consequentemente, a
objetos. denominação; falhas na
formação de imagens internas.
Percepção e produção
Alterações na localização e
adequada de traços
Percepção posição espacial de elementos
essenciais e sua
espacial em estímulos visuais; alteração
localização e as relações
analítica na formação de imagens
espaciais entre os
internas.
elementos da situação.
Fonte: Adaptado de Quintanar et al, 2011.

Tabela 6: Fatores da III Unidade Funcional luriana e suas correlações com


o trabalho que realiza e seus sintomas em caso de transtornos
III Unidade Funcional

Fator Funções Sintomas em caso de debilidade

Movimentos lentos, dificuldade


Organização Passagem fluente de um
na automatização de atos
sequencial movimento a outro, inibe o
motores, perda de elementos da
motora elo motor anterior para
cadeia motora, perseverações
(melodia passagem flexível ao elo
de elos motores, inércia
cinética) motor posterior.
patológica.
Apatia, amimia,
Neurodinâmico Mantém a disposição para a
aespontaneidade (falta de
(estado ativo realização das atividades em
iniciativa na interação),
de trabalho) geral.
produção verbal pobre.
Programação e Processo de execução de Impulsividade, falha no controle
controle da uma tarefa de acordo com o das ações, no planejamento,
atividade objetivo (instrução ou regra) alterações na organização de
consciente estabelecido. informações a serem retidas;

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falhas na formação de imagens


internas.

Anosognosia; hemianopsia;
Regulação dos
Regulação e estabilidade das hemiplegia; agnosias visuais;
processos
funções automatizadas alterações da sensibilidade (não
involuntários e
reguladas involuntariamente. percepção da dor); redução de
automatizados
volume na retenção involuntária.
Fonte: Adaptado de Quintanar et al, 2011.

Acrescenta-se o fator de interação inter-hemisférica que garante o


trabalho conjunto dos dois hemisférios.
Diante das informações sistematizadas, destaca-se a importância desses
princípios e conceitos para a neuropsicologia infantil, guardando sua devida
relação com a psicologia infantil. Os neuropsicólogos seguidores da escola de
A. R. Luria compreendem a neuropsicologia como um ramo da psicologia,
compartilhando suas bases teórico-metodológicas e mantendo um intercâmbio
mútuo de informações que enriquecem o fazer de cada área específica (Luria,
1966).

APLICABILIDADE DO MODELO FUNCIONAL CEREBRAL LURIANO À


NEUROPSICOLOGIA INFANTIL

O específico da neuropsicologia infantil é a tentativa de estabelecer a


relação entre as evidências do desenvolvimento psicológico que se manifestam
nas atividades que a criança realiza nos diferentes estágios da ontogenia com o
estado de funcionalidade e maturidade dos níveis hierárquicos do cérebro.
Podemos definir a neuropsicologia infantil como a ciência que estuda as bases
cerebrais (como sistemas funcionais constituídos pelos elementos subcorticais
amplos e corticais seletivos) das ações culturais que a criança adquire e
internaliza em diferentes períodos ontogenéticos em condições ótimas e
desviantes, orgânicas e sociais.

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Os sistemas funcionais complexos não estão prontos para funcionar no


momento do nascimento do bebê nem amadurecem autonomamente. Se
formam no processo de comunicação e da atividade objetal da criança e surgem
sobre a influência da sua atividade prática resultando em formações bastante
estáveis. Obviamente, estes sistemas funcionais podem existir apenas em
presença de condições que permitam formar enlaces cerebrais novos e
dinâmicos. As FPS se formam no processo da ontogênese e passam por vários
estágios sucessivos. Nas etapas iniciais de seu desenvolvimento, se apoiam na
utilização de signos externos e transcorrem como uma série de operações
amplas especiais. Logo se reduzem paulatinamente e todo o processo se
converte em uma ação abreviada que se baseia na linguagem exterior e,
posteriormente, interior. Nas últimas etapas de seu desenvolvimento as FPS não
conservam uma estrutura única, mas realizam a mesma tarefa com ajuda de
diferentes sistemas de enlaces que se substituem mutuamente. A correlação
entre os componentes das FPS não permanece invariável nas sucessivas etapas
de seu desenvolvimento: nos estágios iniciais de sua formação, processos
sensoriais relativamente simples que servem de fundamento para o
desenvolvimento das FPS são decisivos. Entretanto, nas etapas posteriores,
quando elas já estão formadas, esse papel central passa a sistemas de enlaces
mais complexos, formados sobre a base da linguagem, que começam a
determinar toda a estrutura dos processos psíquicos superiores (Luria, 2005).
Os sistemas funcionais não são rígidos e estáveis, mas modificáveis e
flexíveis e dependem de vários parâmetros como a idade do indivíduo, nível
educacional e eficiência de aprendizagem, entre outros (Luria, 1973). Isso
significa que a participação funcional muda ao longo da ontogenia (Vigotsky,
1991, 2011; Luria, 1965), de forma que o efeito de defeitos e lesões no sistema
nervoso central não é equivalente em crianças e adultos (Vigotsky, 2016). É por
isso que as alterações de processos relativamente elementares de análise e
síntese têm, na infância precoce, uma importância decisiva, provocando a falta
de desenvolvimento das estruturas funcionais que se constroem sobre sua base.
Ao contrário, a alteração dessas mesmas formas de análise e síntese direta,

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sensorial, na idade madura, quando os sistemas funcionais superiores já estão


formados, pode provocar um efeito mais particular, compensando-se a partir de
outros sistemas diferenciados de enlace (Luria, 2005).
Na criança, devido à maior possibilidade de reorganização dos sistemas
funcionais em construção, o defeito orgânico adquirido pode ser compensado
pelas condições ambientais adequadas e pelo possível processo de auto-
organização dos sistemas cerebrais. Se essa interação com o meio ambiente e
auto-organização não for satisfatória, o defeito não será compensado. Ou seja,
a relação entre danos orgânicos e alterações funcionais na infância é menos
direta do que nos adultos. O problema se torna mais complexo pelo fato de que
o defeito primário leva a disfunções nos mecanismos construídos sobre sua base
e a disfunções secundárias sistêmicas. Como resultado, nas funções
psicológicas se pode observar um amplo quadro de disfunções cuja estrutura
funcional pode ser identificada por uma análise dinâmica. O atraso no
desenvolvimento de componentes funcionais no desenvolvimento infantil exige
a realização de uma análise sindrômica: o atraso primário leva a mudanças
secundárias e a reconstruções compensatórias (algumas satisfatórias, outras
não). A base para um adequado diagnóstico neuropsicológico infantil é a
avaliação do estado dos componentes dos sistemas funcionais que garantem o
desempenho das funções psicológicas, ou seja, o diagnóstico funcional. O
diagnóstico tópico em crianças só pode ser indicado de forma provável
(Akhutina, 2008).
A partir desta perspectiva, os objetivos fundamentais da avaliação
neuropsicológica infantil são: 1. Identificar as idiossincrasias do desenvolvimento
da esfera psíquica e da personalidade da criança; 2. Compreender a dinâmica
da sua situação social de desenvolvimento; 3. Caracterizar o estado funcional
dos mecanismos psicofisiológicos (fatores) estabelecendo tendências negativas
e positivas em sua formação; 4. Analisar os sistemas funcionais que dependem
do trabalho dos fatores que sustentam as ações incluídas nas atividades típicas
para cada idade psicológica; 5. Elaborar programas personalizados de
intervenção para fortalecer ou formar os aspectos funcionais débeis a partir das

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atividades típicas da idade psicológica correspondente (Quintanar & Solovieva,


2003; Morais et al., 2018; Solovieva & Quintanar, 2020a). De acordo com Luria
(1992), o avaliador começa pela observação cuidadosa do sujeito sem ignorar
qualquer dado nem mesmo os que não parecem significativos, pois,
posteriormente, podem revelar-se essenciais. Numa certa etapa da avaliação,
começam a se esboçar os contornos da primeira hipótese de resolução do
problema. Apenas depois de ter recolhido uma quantidade suficiente de
sintomas similares que juntos formam uma síndrome, o profissional pode
considerar que sua hipótese esteja comprovada ou rejeitada.
Na opinião de Glozman (2020), a análise neuropsicológica infantil
baseada em Luria permite diferenciar entre problemas de comportamento e de
aprendizagem causados por problemas de maturação e/ou características
individuais das estruturas cerebrais causadas pelo desajustamento associado a
métodos de ensino pobres ou características patológicas da personalidade da
criança. Não apenas uma doença pode provocar certos processos biológicos
que podem dificultar o desenvolvimento infantil, como também pode interferir no
desenvolvimento psicológico e social, como a formação da personalidade. Por
outro lado, uma ação psicológica ou educacional pobre ou inadequada também
pode causar atrasos no desenvolvimento de crianças ou desvios no
desenvolvimento de seus sistemas funcionais. A análise neuropsicológica
luriana utilizada hoje em dia é destinada a determinar como as diferentes causas
biológicas e sociais interagem e influenciam no processo de desenvolvimento
em cada criança em uma situação social própria da sua vida (Solovieva &
Quintanar, 2020b).

APLICAÇÃO DA ANÁLISE LURIANA A UM CASO CLÍNICO

A modo de ilustração da aplicabilidade do conceito de fator ao processo


de avaliação neuropsicológica infantil, apresentamos neste artigo, de forma

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breve, um exemplo de caso clínico. Trata-se de uma garota de 12 anos, destra,


de classe socioeconômica média, que cursava o sétimo ano do ensino
fundamental e que sempre estudou em colégio particular. A avaliação
neuropsicológica foi solicitada pela neuropediatra, que levantou suspeita de
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Para a avaliação foi
realizada uma entrevista de anamnese com o responsável e uma entrevista com
a equipe pedagógica da escola, assim como foram aplicados o Protocolo de
Avaliação Neuropsicológica Breve Infantil (Chastinet, 2010), o WISC-IV
(Wechsler, 2015), a Figura Complexa de Rey (Rey, 2010), o RAVLT (Jardim de
Paula & Malloy-Diniz, 2018) , o Teste WISCONSIN de Classificação de Cartas
(Heaton, 2005), o Teste dos Cinco Dígitos (FDT) (Sedó, 2015), a Bateria
Psicológica para Avaliação da Atenção (BPA) (Rueda, 2013), o Teste de
Desempenho Escolar (TDE-II) (Stein, Giacomoni & Fonseca, 2019) e exercícios
de avaliação qualitativa de leitura e escrita. A avaliação durou em total 8 sessões
com duração média de 50min cada.
Na sessão de anamnese, a mãe informou que a filha sempre foi “muito
acelerada” e que, por vezes, parece não prestar atenção ao que falam com ela.
Apresentava bom histórico escolar, porém mudou de escola no mesmo ano em
que teve início a pandemia do COVID-19, enfrentando todas as dificuldades de
adaptação ao formato remoto de aulas e sem poder estabelecer vínculos de
amizade com os novos colegas. A menina acredita que suas habilidades estão
concentradas nas artes e nos esportes e jogos, enquanto suas áreas a melhorar
estariam em matemática, português e redação.
Na avaliação observou-se uma tendência a verbalizar seu raciocínio
durante a realização das tarefas, por vezes comentando outros assuntos que se
relacionavam a algum elemento da atividade. Em ocasiões apresentou latências
para responder e bocejos durante a execução. De maneira geral, isso repercutiu
no seu rendimento, apresentando flutuações. Quando contava com adequado
nível de ativação cortical, incluía em seus desenhos elementos essenciais e
diferenciais, caso contrário, limitava-se aos mínimos detalhes para ser
reconhecível (ver Imagens 1 e 2).

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Figura 1: Desenho de 4 animais

Nota. Desenho feito com motivação, inclui alguns animais de estimação que teve
e comenta sobre cada um deles.

Figura 2: Desenho livre de uma casa

Nota. Desenho feito rapidamente, sem janelas, ocupando apenas uma pequena
parte do espaço da folha.

Na retenção áudio-verbal de uma lista de palavras, apresentou falhas no


automonitoramento da atividade, devido a que repetiu frequentemente palavras
que já havia mencionado e acrescentou algumas palavras intrusas. Quanto à
regulação e controle da atividade voluntária, houve momentos em que sua
execução se antecipou ao planejamento, o que resultou em um desempenho

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diferente do esperado por ela mesma, como por exemplo no desenho de uma
mesa (ver Imagem 3) e na cópia da Figura de Rey (ver Imagem 4).

Figura 3: Desenho de uma mesa

Nota. O primeiro desenho da mesa (à direita, pouco visível) foi feito com traçado
fraco, em tamanho reduzido e de maneira muito rápida. Em seguida ela percebeu
que podia fazer melhor e desenhou a mesa da esquerda.

Figura 4: Cópia da Figura A de Rey

Nota. A primeira cópia, a esquerda, apresenta desproporção entre as partes


superior e inferior do modelo. Ao concluir, a avaliadora solicitou a revisão da sua
produção, identificando a paciente que poderia melhorar. Na cópia mediada, à
direita, após oferecida estratégia de execução, a paciente corrigiu a falha
apresentada previamente, melhorando inclusive a precisão da sua evocação
posterior.
Em ocasiões, pode identificar os erros ou aspectos a melhorar por si
mesma, porém, em atividades com maior grau de exigência e menor motivação,
como nas operações aritméticas, necessitou da indicação da necessidade de

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verificação dos procedimentos e correção (ver Imagem 6). Em decorrência dessa


dificuldade, a aluna apresenta uma defasagem importante no aprendizado da
matemática, sendo observado um desempenho significativamente abaixo da
média (percentil <1) no subteste de aritmética do TDE-II.

Figura 6: Resolução de operação aritmética no TDE-II

Nota. Solução apresentada para a seguinte operação: 4 x 3 + 17 - 28. Observa-


se erro no procedimento, que não foi corrigido espontaneamente por falta de
verificação.

Na produção escrita, cometeu erros ortográficos em palavras irregulares,


e na aplicação de regras contextuais, assim como omitiu acentos, letras e
sílabas. No TDE-II, apresentou também um desempenho abaixo do esperado
para a sua idade e escolaridade (percentil 30) na tarefa de escrita por ditado de
palavras. Além disso, ao produzir um resumo por escrito a partir de um texto
informativo lido, também se observou inconsistência no uso de vírgulas e pontos
e iniciou o texto com letra minúscula. Tais erros não foram identificados e
corrigidos pela garota por falta de verificação (ver Imagem 7).

Figura 7: Produção escrita

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Nota. Produção escrita sobre texto informativo lido previamente.

Em síntese, em tarefas de maior complexidade, foram observadas


dificuldades para criar estratégias mais eficazes, assim como para controle da
atividade no curso da execução. Além disso, era ausente a verificação final dos
resultados e, consequentemente, faltava a correção dos erros cometidos. Isso
se observou sob um fundo de ativação cortical flutuante, oscilando entre maior
ativação, onde se observa um comportamento mais ativo, maior verbalização,
tendência a respostas impulsivas; e baixa ativação, produzindo sinais de
cansaço, latências entre respostas e desaceleração do ritmo da ação realizada.
Ao verbalizar em excesso, comentava algo que não se relacionava
diretamente com a tarefa, o que, por exemplo, a fez perder o contexto nas
respostas do teste de classificação de cartas de Wisconsin, sendo necessário
retomar a categoria vigente para concluir o objetivo de cada etapa da atividade.
Em outra ocasião, verbalizava de maneira a estimular a manutenção do foco da
atenção na tarefa, dizendo tudo o que via e deveria fazer no subteste de procurar
símbolos do WISC-IV, o que tornou a sua execução mais lenta, considerando o
tempo limite da tarefa. Os sinais de cansaço e latências entre respostas
apareciam principalmente nas tarefas verbais, de maneira que outros estímulos
externos do ambiente passavam a chamar sua atenção (o teto, brinquedos e
objetos da sala etc.), sendo necessário ajudá-la a retornar ao objetivo da
atividade.
As dificuldades descritas permitiram evidenciar uma imaturidade funcional
do fator neuropsicológico de ativação cortical inespecífica. Apesar dos erros de

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tipo regulatórios observados em algumas execuções, a análise dos dados em


conjunto permite evidenciar que esses erros ocorrem sob o fundo da flutuação
no nível de ativação cortical, sendo esta a causa primária das dificuldades
apresentadas pela paciente. Predomina em seu funcionamento a flutuação na
qualidade das execuções, lentidão no processamento e o prejuízo geral das
funções complexas, apresentando em ocasiões fadiga.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo mostra que existem duas possibilidades de realizar o diagnóstico


neuropsicológico: sem e com o conceito de fator neuropsicológico. O caso
descrito, sem a análise por fatores neuropsicológicos, teria recebido o
diagnóstico tradicional de déficit de atenção, ao qual normalmente é sugerido um
tratamento cognitivo-comportamental e farmacológico. Entretanto, durante a
análise qualitativa dos dados foi possível identificar a causa comum que explica
as dificuldades da aluna na escrita, no cálculo etc. Essa causa comum é o fator
neuropsicológico de ativação cortical inespecífica, que, do ponto de vista
estrutural, relaciona-se com a formação reticular, que possui vias ascendentes
(de regulação da ativação cortical) e descendentes (de modulação da ativação
de outras estruturas subcorticais). O subdesenvolvimento desse fator tem
relação com as dificuldades para manter o fundo de estabilidade da execução
da ação, prejudicando a qualidade do desempenho, principalmente nas
atividades mais complexas, como as atividades escolares, por exemplo. Outros
estudos encontraram estado disfuncional deste mesmo fator em pacientes que
tinham sido diagnosticados com TDAH com base na descrição do déficit
executivo (Solovieva et al., 2013; Machinskaya et al., 2014; Luna-Villanueva et
al., 2017; Quintanar & Ochoa, 2018; Solovieva, Machinskaya & Quintanar, 2020).
Assim, o conceito de fator neuropsicológico pode ser compreendido de duas
formas: 1) Como elemento do sistema funcional complexo, o qual se forma
gradativamente desde os primeiros estágios da ontogênese; 2) como causa
psicofisiológica das dificuldades que provoca um efeito sistêmico negativo no

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desenvolvimento e na aprendizagem verbal e não verbal. No exemplo


apresentado, o fator de ativação cortical inespecífica participa fundamentalmente
nos sistemas funcionais de todas as atividades intelectuais que são
requerimentos básicos da idade escolar. O nível funcional deficiente desse
mecanismo provoca dificuldades que não se podem limitar a uma única função
de atenção, mas sim repercute negativamente sobre todas as atividades
escolares da aluna. Dessa forma, o conceito de fator neuropsicológico permite
realizar o diagnóstico eurístico e integral nos casos de problemas de
aprendizagem, assim como Luria (1974) propôs para a análise das dificuldades
em caso de pacientes adultos com lesão cerebral adquirida.
As diferenças essenciais entre a análise clínica de pacientes adultos e crianças
com problemas de aprendizagem consistem na aceitação da ausência de uma
única correspondência entre o fator neuropsicológico e a zona cerebral, no caso
das crianças, devido a que na ontogênese podem existir diversas possibilidades
de participação de regulação subcortical e córtico-subcortical, a depender dos
processos neuromaturacionais e da forma de organização da vida social. A
precisão e o estudo profundo dessas diferenças deve ser o objetivo de estudos
teórico-metodológicos e clínicos futuros.

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Volume.4 Número.1 2023


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