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Autores - Texto: Welton Soares de Oliveira, Ana Bárbara Xavier Luciano

Lucena, Luis Heustákio Lima Carvalho Filho, Naiane Rodrigues Alcântara Lobo
Autores - Vídeos: Géssica Texeira / Telessaúde/ Canal Liga Acadêmica de
Medicina de Família e comunidade

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS IMPORTANTES NA


HEMATOLOGIA
Olá cursista, nesse módulo iremos trazer uma aula completa sobre ministrada pela
professora Géssica Texeira com o Tema: Onco-hematologia. O bônus será um
material sobre anemia falciforme e a indicação de dois vídeos, o primeiro sobre
Interpretação de Hemograma e o segundo sobre anemias e leucemias na APS.

Interações Medicamentosas de Importância para a Hematologia - Parte 1

Interações Medicamentosas de Importância para a Hematologia - Parte 2


ANEMIA FALCIFORME

INTRODUÇÃO

As hemoglobinopatias são doenças genéticas que afetam a hemoglobina. A doença


falciforme é o exemplo mais comum das hemoglobinopatias.

A doença falciforme (DF) é uma condição genética autossômica recessiva resultante


de defeitos na estrutura da hemoglobina (Hb) associados ou não a defeitos em sua síntese.

Indivíduos com DF obrigatoriamente herdam uma mutação materna e outra paterna.


As mutações herdadas podem encontrar-se em estado homozigótico (SS), único genótipo
que pode ser denominado “anemia” falciforme, ou heterozigótico composto.

EPIDEMIOLOGIA

No Brasil, que reconhecidamente apresenta uma das populações de maior heterogeneidade


genética do mundo, a maior prevalência da doença ocorre nas Regiões Norte e Nordeste.
Pode se manifestar de forma diferente em cada indivíduo, com predominância entre a
população de afrodescendentes.
CAUSAS

O indivíduo normal recebe a hemoglobina A do pai e da mãe.

Portador assintomático ou portador de traço falciforme recebe a Hb A de um dos


genitores e a Hb S do outro genitor é denominado indivíduo Hb AS, esta é a alteração mais
comum, na maioria das vezes não apresenta sintomas e tem uma vida normal, porém poderá
transmitir esta herança para seus filhos. O indivíduo que recebe Hb S do pai e da mãe é
denominado portador de Anemia Falciforme (Hb SS).
FISIOPATOLOGIA

Em condições de hipóxia, a Hb S faz com que a hemácia deixe de ser flexível e fique mais
rígida. Nesses casos, a hemácia passa a ter o formato de meia lua ou foice
(eritrofalciformação).

Os eritrócitos falciformes sofrem alterações de membrana, a qual acaba por se


romper, levando a hemólise intravascular e ocasionando anemia hemolítica crônica,
geralmente de relevante magnitude.

A Hemólise intravascular compromete o metabolismo do oxido nítrico levando a


uma vasculopatia proliferativa. Ocasiona alterações endoteliais que geram um estado
inflamatório crônico e expõe o fator tecidual que desencadeia a cascata de coagulação e
liberação do fator de von Willebrand.

Ainda, na DF a expressão anômala de moléculas de adesão acentua a interação


indesejada entre os elementos celulares sanguíneos e o endotélio vascular. Os pilares
fisiopatogênicos da vasoclusão na DF são o fenômeno da eritrofalciformação, a maior
interação entre células endoteliais, leucócitos e plaquetas, a vasculopatia proliferativa, o
estado inflamatório crônico e a hipercoagulabilidade.
TRATAMENTO

PREVENÇÃO DE CRISES E COMPLICAÇÕES

O fármaco hidroxiureia (HU) atua:

• Inibição da enzima ribonucleotídeo redutase;


• Aumento da produção de HbF, da hidratação do glóbulo vermelho e da taxa
hemoglobínica;
• Diminuição da hemólise;
• Aumenta produção de óxido nítrico;
• Diminuição da expressão de moléculas de adesão.

Até o momento, a HU é considerada a terapia farmacológica mais eficaz para a DF


A terapia com HU apresenta risco de toxicidade hematológica, necessitando de
monitorização rigorosa das contagens de células sanguíneas. Além disso, o potencial
carcinogênico e teratogênico do fármaco deve ser considerado.

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES

Pacientes com doença falciforme são frequentemente acometidos por asplenia funcional
(ausência da função normal do baço), com consequente aumento da susceptibilidade a
infecções por bactérias com parede celular.

As infecções são mais frequentes e graves em crianças com menos de 5 anos, podendo se
apresentar de maneira fulminante e levar à morte em menos de 24 horas.

A penicilina dada preventivamente reduz a taxa de infecção pneumocócica em crianças com


DF de até 5 anos de idade e é recomendado desde o diagnóstico até essa idade.
Priorizar uso de Penicilina V (suspensão), na impossibilidade utiliza-se a penicilina G
benzatina por via intramuscular, se alérgico utiliza-se eritromicina por via oral.

TRATAMENTO ADJUVANTE

Outros medicamentos usados na prevenção de complicações e no tratamento de


intercorrências incluem ácido fólico (uso contínuo), analgésicos e anti-inflamatórios.

Classe de Onde age / Efeito Fármaco


fármacos

ANTIANÊMICOS

Anti-Hemolíticos Formação, Hidratação e Manutenção das Hidroxiureia


Hemácias / Prevenção da Anemia Folato
Hemolítica

ANTIBIÓTICOS

Compostos Liga-se à proteína de ligação da penicilina Penicilina V


Betalactâmicos que provoca a lise bacteriana / Elimina as Penicilina G
bactérias
Tabela 1: Medicamentos usados no tratamento de anemia falcifome.

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ENVOLVENDO AS


PRINCIPAIS CLASSES DE MEDICAMENTOS
ANTIANÊMICOS E ANTIBIÓTICOS

ANTIANÊMICOS
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• HIDROXIUREIA

Hidroxiureia + Mielossupressores
O tipo de interação experimentada farmacodinâmica. A junção de Mielossupressores com a
Hidroxiureia provoca uma depleção acentuada na produção medular, que como resultado,
pode produzir supressão da medula óssea. Assim, a leucopenia é, em geral, a primeira e mais
comum manifestação clínica, o que gera contraindicação a associação dos fármacos.

Interação Medicamento – Exame Laboratorial

Estudos têm mostrado que a hidroxiureia tem interferência analítica em enzimas (urease,
uricase e desidrogenase láctica) usadas na determinação de ureia, ácido úrico e ácido lático,
provocando resultados elevados falsos nos pacientes tratados com hidroxiureia.
.
• FOLATO

Folato + Metotrexato:

A união dos fármacos provoca uma interação farmacocinética. Dessa união, pode haver
inibição aditiva da enzima diidrofolato redutase pelo metotrexato, que faz com produza a falta
de sensibilidade para o Àcido Fólico, que em longo prazo pode provocar Anemia
Megaloblástica.

Ácido Fólico + Hidantoína:

Diminuição das concentrações séricas da hidantoína, com possibilidade de aumento da


frequência de convulsão; o uso prolongado de fenitoína frequentemente leva a níveis
subnormais de folato.

Ácido Fólico + Pirimetamina :

Inibição dos efeitos antimicrobianos da pirimetamina

Acido Fólico - Exame laboratorial:

Doseamento de vitamina B12 no sangue: A concentração pode ser reduzida com o uso
concomitante de ácido fólico.O ácido fólico pode interferir em diversos exames, entre eles:
glicemia (dosagem de açúcar no sangue), glicosúria (dosagem de açúcar na urina),
transaminases, creatinina, desidrogenases láticas, ácido úrico, bilirrubina, carbamazepina,
acetaminofeno e sangue oculto nas fezes.

• ANTIBIÓTICOS

PENICILINA

Penicilina + Metotrexato

Nesse tipo de interação o principal efeito presenciado é o farmacocinético. Devido à


semelhança estrutural entre as penicilinas e o metotrexato, pode ocorrer inibição competitiva
da secreção tubular do metotrexato, aumentando seu tempo de meia-vida. No geral, As
interações relacionadas ao metotrexato e classificadas como maiores, podem resultar em
aumento das concentrações plasmáticas de seu metabólito ativo, potencializando seus efeitos
adversos, que incluem leucopenia, trombocitopenia, anemia, hepatoxicidade, nefrotoxicidade
e ulcerações em mucosas.
Penicilina + Probenecida

A junção dos fármacos provoca uma interação do tipo farmacocinética. Nesse caso, A
competição de medicamentos no túbulo proximal pela secreção tubular é um mecanismo
utilizado, como estratégia farmacológica, para prolongar o tempo de ação dos medicamentos,
isto acontece com a Probenecida e a Penicilina, quando a primeira inibe a secreção da
segunda, aumentando a meia-vida sérica da Penicilina. Dessa forma, o resultado da
combinação eleva o tempo de ação do antibiótico, evitando a sua excreção indesejada.

VÍDEO BÔNUS

REFERÊNCIAS

MINISTÉRIO DA SAÚDE - Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Doença Falciforme -


Disponível em:
http://conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2016/Relatorio_PCDT_DoencaFalciforme_C
P_2016_v2.pdf

GOMES, et al, Qualidade da assistência à criança com doença falciforme na Atenção Primária
a Saúde. Disponível em: https://www.nupad.medicina.ufmg.br/wp-
content/uploads/2016/12/Qualidade-da-assistencia-a-crianca-com-doenca-falciforme-na-
atencao-primaria-a-saude2011.pdf

ZAGO, Marco Antonio; PINTO, Ana Cristina Silva. Fisiopatologia das doenças falciformes: da
mutação genética à insuficiência de múltiplos órgãos. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., São José
do Rio Preto , v. 29, n. 3, p. 207-214, Sept. 2007 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
84842007000300003&lng=en&nrm=iso>. access
on 03 July 2020. https://doi.org/10.1590/S1516-
84842007000300003.https://www.scielo.br/pdf/rbhh/v29n3/v29n3a12.pdf

Bula do farmacêutico- Hydrea. Responsável Técnico: Dra. Elizabeth M. Oliveira , disponivel em:
https://www.bms.com/assets/bms/brazil/documents/hcp/HYDREA_CAP_VPS_Rev0417.pdf

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