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Chicago. Adorável e muito carinhoso, ele não busca o amor, mas sua vida
muda ao conhecer Elizabeth, a garota que vai morar com ele e vira sua
cabeça e coração de cabeça para baixo.
Elizabeth Miranda é uma jovem moradora de rua que sonha em ser
dançarina. Vítima de uma bala perdida num tiroteio entre a polícia e
criminosos, ela conhece Marcelo, o policial que quer ajudá-la. Lizzie não
imagina que pode se apaixonar, até se encantar com o belo homem que
tomou seu coração com seu jeito doce de ser.
Marcelo e Elizabeth viverão momentos tensos e prazerosos e a única
certeza que eles têm é de que sempre estarão nos braços um do outro.
Este é um romance erótico e pode conter gatilhos e temáticas
delicadas como álcool, drogas, depressão, abusos, violência, incluindo temas
de consentimento questionável, linguagem imprópria e conteúdo sexual
gráfico. A autora não apoia e nem tolera as ações e comportamentos dos
policiais retratados neste livro. A atenção do leitor é aconselhada. Não leia se
não se sente confortável.
Esta é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.
“Você me faz ser assim, delícia. Te amo, logo vou para casa.”
Não estávamos tão longe assim do bar e decidi que iria pegar o metrô
até a próxima estação e seguir a pé para lá. Paguei a devida quantidade ao
motorista e desembarquei perto da parada de ônibus. Caminhei para o metrô e
fiz todo o trajeto até o barzinho quase correndo para não atrasar.
Ao chegar na porta do estabelecimento com porta de madeira, respirei
fundo e adentrei o local, vendo muitas pessoas lá dentro. Realmente era um
bar movimentado. Pelo que lembro de Marcelo dizendo, muitas pessoas da
cidade iam naquele bar por ser aconchegante e cheio de vida, e eles não
estavam errados, o clima aqui dentro era muito bom.
Notei ao fundo daquele local iluminado, uma mesa rodeada pelos
amigos do Marcelo, melhor dizendo, seus parceiros, as mesmas pessoas com
quem ele trabalhava todos os dias no distrito e sorri ao vê-lo conversando
enquanto tomava uma cerveja.
Como podia ser tão lindo?
Estava tão despojado com aquela camiseta preta colada no seu corpo,
que evidenciava aquele pedaço de mal caminho que só eu conhecia. Mordi os
lábios e balancei a cabeça, afastando os pensamentos naquele momento.
Me concentrei apenas em me aproximar e parei atrás dele, que não
notou minha presença, estava distraído conversando com Ryder.
— Posso atrapalhar um pouco a conversa para beijar meu namorado?
Entrei na conversa deles dois e Marcelo se virou para me olhar. Seus
olhos demonstraram surpresa e ele não perdeu tempo, agarrou meu corpo e
me deu um beijo daqueles que se eu não estivesse sendo segurada por seus
braços, com certeza teria ido ao chão.
— O que você está fazendo aqui?
— Achei que ia ficar feliz em me ver, quis fazer uma surpresa.
— Eu estou feliz, Lizzie! Só achei que estaria em casa descansando.
— E perder a farra do seu aniversário? Nem pensar nisso! — Olhei
para Allie que me lançou um sorriso e vi o garçom servir a mesa inteira com
uma rodada de cerveja. Marcelo arqueou a sobrancelha, peguei uma garrafa
para mim e entreguei-lhe a dele. — Feliz aniversário adiantado, meu amor!
Ergui a garrafa imitando o gesto para brindar com todos da mesa e a
equipe inteira me imitou. Marcelo balançou a cabeça, descrente com aquilo e
sorriu, brindando com todos nós.
Bebi um pouco daquela bebida gelada e olhei para meu namorado.
— Você não existe mesmo, planejou uma comemoração do meu
aniversário?
— Não fiz isso sozinha, Allie e Ryder são meus cúmplices. — Dei de
ombros, rindo ao ver o leve soco que deu em Ryder e senti Marcelo me
abraçar pela cintura.
— Ainda mato vocês dois. — Apontou para os dois detetives e ambos
demos risada. Estava gostando de estar ali, ao lado de Marcelo e de seus
amigos, descontraindo e vivendo a noite da melhor maneira que podíamos.
Eu me dava bem com todos os detetives do 13° distrito, o que faziam deles
meus amigos também.
— Lizzie, queria saber de você, o que foi que viu nesse cara, ein? —
Ryder perguntou e todos levaram a atenção para mim. Minhas bochechas
coraram na hora e fui incentivada por todos a falar. Eu estava com muita
vergonha.
— Ah, o Marcelo é a melhor pessoa que conheço. Sabe, é bom saber
que tem alguém do meu lado, que sei que sempre vai me apoiar quando eu
precisar. O Marcelo é um daqueles caras mágicos que vem para transformar
sua vida. Eu sempre brinco que ele foi feito para me resgatar e feito
exclusivamente para mim, não tenho dúvidas disso.
— Você tá puxando saco só porque ele está do seu lado e é seu
namorado.
— Não, pior que não estou. Ele é um homem incrível, além de ser
lindo, claro, e tenho a mais pura certeza que é o homem ideal para mim. Ele é
o grande amor da minha vida, o que posso fazer?
— Awwwwn, que lindo. — Allie se derreteu e Marcelo beijou minha
bochecha, arrancando um suspiro meu.
— Eu te amo!
— Também te amo, Marcelo.
— Então, já que vocês se amam, vamos brindar mais uma vez, agora,
por esse casal maravilhoso à nossa frente, que ainda tem muita coisa para
viver e ser feliz. Um brinde à felicidade de Marcelo e Elizabeth!
Brindei junto com a galera e sorri, tendo na minha mente que era
exatamente aquilo que iria acontecer.
Marcelo e eu estávamos destinados à felicidade e nada e nem
ninguém, poderia mudar os planos do destino para nossas vidas.
Me levantei cedo no dia seguinte para começar os preparativos da
surpresa que iria fazer para Marcelo. Era um dia especial, o aniversário do
meu namorado e queria que tudo fosse perfeito.
O dia clareou, eu não tinha dormido ainda e não pretendia fazer tão
cedo. Passei a noite em claro, pensando no que estava fazendo e na decisão
que tomei. Machuquei o homem que mais amava e feri meu coração de uma
forma que não poderia voltar a remendar para curá-lo.
Marcelo tinha ido para o quarto assim que saí de lá com minhas coisas
arrumadas dentro de duas bolsas. Ele insistiu para que eu colocasse em uma
mala, mas não quis. A última vez que o vi, foi quando ele me abraçou e me
deu um beijo no topo da cabeça, dizendo que me amava e que não ia desistir
de mim.
Eu não podia fazer nada para mudar sua ideia, porque nem mesmo eu
tinha certeza do que queria, e era por isso que ainda estava sentada no sofá da
sala, pensando sobre os próximos minutos.
Deixá-lo era o certo a se fazer?
Não tinha outra forma de superar meu medo?
Enquanto eu soubesse que, há qualquer momento poderia estar na
mira de criminosos, não havia outra forma e nem solução para esse problema.
Respirei fundo e me levantei, tomando a coragem que faltava, até
agora. Pensei em passar no seu quarto para lhe deixar um beijo, talvez
estivesse dormindo, nem iria me ver, mas julguei não ser a melhor opção.
Peguei uma caneta e um bloquinho de papel perto do aparelho de som e o
levei para a cozinha, onde havia preparado café para ele e deixei as únicas
palavras escritas naquele papel:
“Aproveite o café! ♥”
A estadia na casa da Brenda não era tão ruim como imaginei que
seria. Eu conseguia arrumar a casa, fazer a comida e ir para as minhas aulas.
Por sorte, o corpo docente da faculdade me deixou fazer a apresentação anual
e eu estava muito empolgada com aquilo. Treinava noite e dia para poder ser
boa o bastante e não errar um passo sequer.
Já estávamos em novembro e faltava menos de um mês para a
apresentação, então eu tinha que estar preparada. Desde o dia que saí da casa
do homem que amo, não falei mais com ele. Ignorei suas mensagens e
ligações, até que um dia elas pararam de chegar e aquilo de certa forma doeu.
Era bom ter ele vindo atrás de mim, mas entendia seu lado de ficar
correndo atrás de alguém que o menosprezava. Ainda bem que eu tinha
Brenda para me dar notícias. Quase todos os dias, eles se encontravam depois
do expediente e comecei a me perguntar se não estava rolando algo entre eles,
porque assim, encontraria motivo cabível para Marcelo me esquecer, afinal,
eles já tiveram um lance antes, por que não ter um de novo?
E só de pensar nessa hipótese, meu coração se apertava e meus olhos
embaçavam, com a vontade de chorar.
Por que eu estava sentindo aquilo? Não era para sentir.
Segurei com mais força a barra de ferro ao meu lado e logo relaxei o
corpo, ouvindo a voz do meu professor para encerrarmos nossos exercícios
diários. Respirei fundo e caminhei em direção ao vestiário, no intuito de secar
o suor que meu corpo produziu com o ensaio que fizemos antes de exercitar o
corpo pós treino.
Escutei os passos que me acompanhavam e senti uma mão tocar meu
braço, antes que eu pudesse entrar no vestiário. Levei um susto até ver quem
era.
— Lizzie!
— Professor Klaus, que susto.
— Quero falar com você a sós.
Ele esperou todas as meninas passarem, até restar apenas eu e ele no
estúdio. O olhei e arqueei a sobrancelha, esperando-o falar.
— Você sabe que eu acho você a melhor dançarina dessa equipe e...
— Espera, não sabia que achava isso.
— Claro que acho, Lizzie. O jeito que você movimenta o corpo, tem
tanta leveza e sensualidade, é exatamente o que o Zouk precisa. Sabe o que
acho, você pode brilhar nos palcos de Chicago e não vai parar por aí, eu
posso te fazer ser conhecida pelo mundo todo, sabe que tenho grandes
referências.
Klaus se aproximava de mim e a cada passo seu, eu me afastava mais.
Aquela conversa estava ficando estranha, mas não era de se jogar fora. Ser
conhecida pelo mundo, era mais do que realizar um sonho, era algo
fantástico, mas ele poderia mesmo fazer aquilo?
— Diga me mais. Como pretende fazer isso?
— Me deixa trabalhar, Lizzie e apenas aproveita... o seu momento.
Ele sussurrou perto do meu ouvido e fechei os olhos naquele instante.
Suas mãos já estavam em meus ombros e logo, Klaus segurou meu rosto. Sua
boca encostou na minha e sua língua forçou para se enroscar com a minha,
mas não permiti, o empurrei fazendo-o se afastar de mim.
— O que você tá fazendo? — Quase gritei.
— Ué, você não quer ser conhecida mundialmente?
— Querer eu quero, mas isso não te dá o direito de tentar me beijar.
Klaus riu e aí minha ficha começou a cair.
Ele não estava fazendo aquilo, não mesmo.
— Como você acha que as garotas crescem nesse ramo, Elizabeth?
Talento? Dedicação? Ou elas dormem com quem pode torná-las a sensação
do momento?
Ele segurou meus pulsos com força e me assustei com aquilo. Klaus
queria que eu dormisse com ele para poder crescer? Não, jamais faria isso na
minha vida.
— Me solta ou eu vou gritar.
— Grita, grita bem alto, mas apenas quando eu estiver no meio das
suas pernas te dando o maior prazer que um homem pode dar.
Tentei me soltar, mas Klaus era mais forte. Me virou contra a parede e
senti seu corpo se juntar ao meu. Seu membro estava duro e aquilo me deu
nojo. Gritei pedindo por ajuda, mas ninguém podia me ouvir por estarem
muito longe.
Meu corpo se debatia e as lágrimas que escorriam em meu rosto me
impediam de ver muito, mas consegui identificar uma brecha entre nossos
corpos e a usei para poder me livrar do seu aperto. O empurrão que dei para
trás, fez Klaus me soltar e chutei suas partes baixas, usando um golpe que
Brenda me ensinou.
O bom de morar com um policial, era aprender tudo o que ele pode te
ensinar para se defender. Corri para fora daquele lugar, usando minhas roupas
de treino mesmo e não me importei com as pessoas da recepção me
chamando, eu só queria sumir dali e evitar que aquele homem me tocasse
mais uma vez.
Como pude acreditar um segundo naquelas palavras?
Quando abri as grandes portas da faculdade, o mundo caía do lado de
fora, mas a chuva não foi capaz de me deixar com medo. Andei na chuva
mesmo, só queria ir embora e esquecer o que aconteceu, mas não conseguiria
sozinha.
Eu não conseguia parar de chorar e minhas mãos tremiam de
nervosismo e medo. As ruas estavam escuras e mal conseguia ver os nomes
das mesmas, mas eu conhecia aquele caminho de cor e salteado. Morei um
ano por ali e não podia me esquecer daquele prédio estilo antigo com uma
grande porta.
Atravessei a rua, não ia parar agora, precisava estar nos braços da
única pessoa que iria conseguir me acalmar naquele momento. Adentrei ao
prédio, subi as escadas e tremendo, bati na porta diversas e incansáveis vezes,
até vê-la se abrir e de lá, sair o homem mais lindo que eu tinha visto em toda
a minha vida: Marcelo.
— Lizzie? — Marcelo perguntou e sua cara de espanto ao me ver
encharcada, chorando e com roupa de dança, chamou minha atenção. Eu
abraçava meu próprio corpo e tremia de frio. Com o olhar, implorei por ajuda
e ele me recebeu em sua casa imediatamente.
— Lizzie, o que aconteceu?
Era bom estar de volta naquela casa, mas nem aquela sensação era
capaz de me animar naquele momento.
— Eu… estava na aula e…
Parei de falar e por um instante, me arrependi de ter ido até sua casa,
quando vi Brenda sair de dentro do banheiro e me encarar com espanto.
O que ela estava fazendo ali?
Ela… não, ela não faria aquilo comigo. Ou faria? Não dava para
conhecer as pessoas. Meu coração doeu, ainda amava Marcelo e foi ali,
naquele instante, que me dei conta do que estava acontecendo.
Havia o perdido para ela.
Balancei a cabeça negativamente e me encolhi ainda mais.
Recuei alguns passos em direção à porta.
— Eu não devia ter vindo aqui, me desculpa.
— Elizabeth, espera. — Brenda chamou e Marcelo parou na minha
frente, ficando entre a porta. Meus olhos arderam ainda mais e não consegui
esconder as lágrimas. Ele se aproximou de mim e delicadamente, me
envolveu em seus braços, me trazendo o conforto que precisava. Demorei ali,
não estava com pressa, só queria que tudo parasse de doer.
— Vem, vamos trocar essa roupa molhada para você não adoecer e
depois conversamos, tudo bem?
Assenti e deixei que me guiasse pela casa que eu conhecia como a
palma da minha mão. Marcelo me levou até seu quarto, pegou uma camisa e
uma blusa de frio e me entregou. Deixou que eu ficasse à vontade para um
banho e foi isso mesmo que fiz.
Me aqueci com a água que caía do chuveiro e me permiti desabar
ainda mais no choro. As lágrimas agora se misturavam à água do chuveiro e
eu só queria entender o porquê de tudo aquilo estar acontecendo comigo.
Os flashes invadiam minha mente e tudo o que eu queria, era esquecer
e me livrar daquele pesadelo, que me atormentava a cada passo que eu dava.
Ao terminar o banho, me vesti com a roupa do Marcelo e coloquei a
blusa para ficar quentinha. As roupas dele eram grandes para mim, o que fez
cobrir parte das minhas pernas, me deixando despreocupada quanto à isso.
Abri a porta do quarto e vi ele e Brenda, sentados na bancada da cozinha, me
esperando. Abaixei a cabeça e caminhei até os dois.
Marcelo se apressou em se levantar e caminhar de encontro à mim.
— Como você está?
— Estou bem, Marcelo.
Fui grossa sem nem perceber e meus braços não deixavam de abraçar
meu corpo em hipótese alguma. Eu não os olhava e Brenda pareceu perceber
exatamente o que me incomodava, mas preferiu se calar.
— Não é o que pareceu quando você apareceu na minha porta,
encharcada, assustada e chorando. — Marcelo segurou meu rosto e o ergueu
para olhá-lo, tentei me esquivar, mas não obtive sucesso. — Fala comigo,
conta o que aconteceu. Você estava na aula e… — Ele lembrou do que havia
falado quando cheguei e me encorajou a continuar. Respirei fundo e encarei
seus olhos.
Naquele momento, me senti bem, me perdendo naquela imensidão
que eu tanto adorava e me senti em paz, pronta para contar o que aconteceu e
não me sentir mal com aquilo, afinal, eu estava junto a ele.
— Eu estava na aula, encerramos os exercícios finais e meu professor
pediu para falar comigo. Ele disse que eu era uma ótima dançarina. — Voltei
a chorar, não era fácil falar sobre aquilo e ainda perceber que no meio de
tudo, eu não era nada além de um objeto sexual para aquele homem
repugnante, que se intitulava, meu professor.
Seriam todos os professores de dança daquela forma?
— Hey, minha menina, não precisa chorar.
Marcelo passou a mão no meu cabelo e olhou para Brenda, que já
estava tirando a água que fervia no fogão. Ela nos serviu com um chá, que
terminou de fazer logo em seguida. Bebi um pouco do líquido quente
tentando organizar minhas ideias e tomei coragem para continuar a falar.
— Ele disse que podia me tornar famosa, porque dentre todas as
garotas do grupo, eu era a melhor.
— Isso é maravilhoso, Lizzie! — Brenda comentou e balancei a
cabeça, decidindo jogar a bomba em cima deles de uma vez por todas.
— Ele tentou me estuprar.
Disse baixo, era a primeira vez que dizia algo desse tipo em voz alta
na minha vida. Nunca me imaginei dizendo isso, nem mesmo com a vida nas
ruas, mas para tudo havia uma primeira vez e essa estava sendo a primeira.
— Como é?
O olhar de espanto de ambos era constrangedor. Não me contive e as
lágrimas dobraram, nunca chorei tanto como naquele dia.
— Ele tentou me beijar, disse que era dessa forma que eu cresceria
dentro do ramo das artes. Ele me agarrou, tocou meu corpo… eu fiquei com
tanto medo.
A cada palavra dita, doía mais. Eu não parei de chorar enquanto
falava e torcia para que eles tivessem entendido. Marcelo levantou e passou
por mim, sem dizer nada. Ele foi até a sala, parecia possesso. Brenda já
estava abraçada em mim.
— Qual o nome daquele desgraçado?
— Klaus. — Respondi baixinho.
Ele fechou os olhos e bateu com a mão na parede, consumido pelo
ódio.
— Eu vou matá-lo. — Gritou, possesso.
— Marcelo, se acalma.
— Me acalmar? Brenda, ele tocou na minha menina sem ela permitir.
Quando uma mulher diz não, é não, porra!
Minha menina.
Aquilo ficou em minha mente. Era dessa forma que Marcelo me
chamava todas as manhãs e de repente, me bateu uma saudade do passado.
Fiquei ali, quietinha, observando aquele homem. A barba estava bem feita e
os cabelos maiores do que me lembrava, não fazia muito tempo que não nos
víamos, apenas alguns meses, mas que para mim, pareceram anos.
Passei a mão no rosto, enxugando as lágrimas e respirei fundo para
me acalmar, eu precisava ficar calma. Balancei a cabeça, ouvindo eles dois
conversando sobre mim e permaneci intacta.
— Eu sei que ele fez isso, mas matá-lo não vai resolver as coisas.
Vamos agradecer por ter sido apenas uma tentativa.
— Um beijo, um toque, por mais que tenha sido no braço, ele não tem
o direito de tocá-la se ela não quiser. E outra, você ouviu o que ela disse, era
o que ele queria.
— Sim, era o que ele queria, mas que não conseguiu.
— Não importa!
— Importa. Você é policial, se coloca no seu lugar de profissional e
põe a cabeça no lugar, Marcelo. — Ela se aproximou dele, calmamente. —
Eu gosto muito de você, mas não pode deixar a emoção tomar conta sempre
na sua vida. Dá vontade de matar esse homem? Sim, e muita, ele é nojento e
merece o pior na vida, mas não somos nós que decidimos isso. O máximo
que podemos fazer é investigar uma denúncia.
— Gente, é isso. Eu vou denunciá-lo para o corpo docente da
faculdade.
— Não! — Marcelo se aproximou e Brenda o seguiu.
— Você vai até a polícia.
— Eu estou com a polícia. — Era ironia, não? — E outra, não tenho
como provar, não tem câmeras naquela área. Ele vai negar.
— Ela tem razão, Marcelo. Falar com o diretor da faculdade é o
melhor que a Lizzie pode fazer no momento.
Ele tinha que se contentar com isso. Eu tinha que me contentar com
aquilo.
— Tudo bem, eu vou com você.
— Ok.
Dei um sorriso curto para ele, que me acolheu mais uma vez em seus
braços. Fechei os olhos e aproveitei o momento, estando mais calma,
sentindo seu cheiro amadeirado e seu toque que tanto me faziam falta.
Estar com Marcelo era bom demais e queria poder estar ao seu lado
mais uma vez, mas não tinha mais essa oportunidade, infelizmente.
— Bom, eu vou para casa, não quero atrapalhar vocês dois.
Me afastei de seu abraço e olhei para Brenda.
— Você não estava atrapalhando, meu amor.
Meu coração errou a batida ao ouvir Marcelo me chamar de “meu
amor” e fechei os olhos, para não mostrar as lágrimas querendo escapar mais
uma vez.
— Eu vou indo também, Marcelo, aproveito e dou uma carona para a
Lizzie.
— Vou ver se minhas roupas secaram. — Informei.
— Vai com a minha. — Marcelo segurou em meus ombros e me
virou para ele. Ficamos a poucos centímetros de distância um do outro e dava
até para sentir sua respiração um pouco alterada.
Meu coração começou a bater mais forte e parecia que minhas pernas
estavam cedendo ao peso do meu corpo, de tão mole que estava, por estar ali
com ele. Era igual a quando estávamos juntos, sempre dessa forma.
Marcelo aproximou o rosto do meu e prendi a respiração. O que ele ia
fazer?
Senti o toque leve de sua boca entrando em contato com minha
bochecha e suspirei, gostando daquilo. Sorri sem ligar se iria mostrar isso a
ele.
— Você fica linda usando minhas roupas, depois você me devolve.
Espertinho. Era uma forma dele me ver mais uma vez.
Se tinha uma coisa que Marcelo não era, era ser bobo.
Ele sabia muito bem o que fazia com sua vida.
— Vamos, Lizzie? — Brenda chamou.
— Vamos sim. Obrigada por me escutar e me abrigar hoje.
Falei com ele, de novo.
— Sempre terá abrigo comigo, Lizzie, basta você querer!
Assenti ao que disse e sorri envergonhada. Caminhei com Brenda
para fora do apartamento e olhei para trás mais uma vez, antes de descer as
escadas. Marcelo estava na porta, me olhando como sempre me olhou: com
amor e carinho. Acenei para ele e desci as escadas, decretando ali, naquele
momento, que eu podia voltar a ter uma vida com ele, era só o tempo
permitir.
O local estava cheio e havia uma banca enorme com o que pareciam
ser jurados de diversos seguimentos da dança, entre escolas e profissionais de
agências renomadas. Para onde se olhava, tinha gente e eu me perguntava
como cabiam tantas pessoas dentro daquele teatro.
Brenda havia dito que conseguiu a segunda fileira do centro para se
sentar, e foi para lá que segui para procurá-la. O pessoal do distrito estava
comigo. Todos os meus parceiros vieram prestigiar minha menina no final do
expediente.
Tudo deu certo com a apreensão de Javier e Billy, que descobrimos
estar envolvido na morte da própria esposa. Jonas liberou a todos e os
convidou para se juntar a nós nesse programa, eles aceitaram.
Avistei Brenda sentada, mexendo no celular e me aproximei dela.
— Posso me sentar aqui?
Ela se assustou e ficou surpresa por eu estar ali.
— Marcelo, você veio?
— Não apenas eu, como o 13° inteiro. — Sorri.
— Aí, que maravilha. A Lizzie vai ficar muito feliz com todos vocês
aqui. Especialmente com você. — Brenda cutucou minha cintura, me fazendo
rir. Era bom estar ali, fazendo parte da vida de Elizabeth mais uma vez.
— Vai ser uma surpresa boa. Será que ela consegue me ver daqui?
— Claro que consegue. Senta do meu lado. Como vocês conseguiram
sair?
— Ah, somos o 13°, querida. Conseguimos fazer tudo, quando
quisermos.
— É, vocês são bons nos casos, que conseguem tirar de letra cada um
deles.
— Nem todos eles.
Peguei meu celular e decidi escrever uma mensagem para Elizabeth:
Fingi que não estava ali, para ela realmente ter uma surpresa quando
me visse, assim como tinha uma surpresa para ela quando a apresentação
terminasse.
A noite havia chegado e eu não podia estar mais nervosa. Nosso dia
havia sido fantástico, conhecemos muitos lugares e aproveitamos o momento
a dois que tanto precisávamos há tempos. Marcelo era uma ótima companhia
e se eu pudesse, ficaria com ele o dia inteiro, apenas para apreciar sua beleza
e jeito de ser.
Marcelo era um sonho do qual eu havia realizado.
Estávamos no hotel, nos arrumando para poder sair à noite, já que
estava mais friozinho e tínhamos que nos agasalhar. Eu já tinha tomado outro
banho, do qual Marcelo também fez parte e agora, o esperava terminar de se
arrumar e apreciar sua beleza em frente ao espelho, se gabando dela para
mim.
— Fala sério amor, você diria não a um rostinho lindo como o meu?
— Marcelo, sério isso? Vai ficar se gabando pela sua beleza?
— Claro, o que é bonito precisa ser gabado e espalhado pelo mundo
todo. Mas responde vai, eu já me imaginei várias vezes me pedindo em
casamento e eu sou um homem muito lindo, não tem como resistir.
Revirei os olhos e me deitei na cama.
— Eu não estou ouvindo isso, mesmo.
— Lizzie? Elizabeth? Senhora González? — Arqueei a sobrancelha e
abri os olhos, vendo que Marcelo estava perto de mim na cama e sorria
travesso, como muitas vezes ele fazia. Ele não estava querendo mais uma
rodada de sexo, estava? Eu estava cansada e se ele demorasse mais um
minuto se exibindo para mim na frente do espelho, eu desistiria desse passeio
para dormir.
— Fala comigo, amor.
— Amor, se você não terminar de se arrumar agora, eu vou dormir e
vamos fazer esse passeio na ponte amanhã ou no último dia da nossa viagem.
— Está falando sério?
— 10...9...8...7...6… — Iniciei a contagem e o tempo foi passando.
Eu sabia que ele também estava cansado e que não queria sair naquela noite e
o enrolar de suas ações demonstravam isso. Talvez ficar no hotel não seria
tão ruim assim, só estragaria os planos de lhe dar uma baita novidade, com
Veneza iluminada sendo nossa testemunha.
Mas ainda tínhamos dois dias na cidade da água para aproveitar.
— 5...4...3...2...ah, desisto, você está aí parado, não quer sair. Boa
noite!
Me virei de costas para ele e coloquei um travesseiro no rosto,
cobrindo minha cabeça. Senti a cama se mexer e seu corpo vir para cima de
mim.
— Marcelo, para de fogo, depois eu que sou insaciável na cama.
— Essa noite não vamos sair, sinto muito. Eu preparei uma surpresa
para você aqui no quarto e não posso deixar que ela seja estragada.
E quanto à minha surpresa, idiota?
Sorri com o pensamento e virei para ele, podendo encontrar com seu
belo sorriso. Marcelo me estendeu a mão para que eu pudesse me sentar na
cama e assim eu o fiz. Fiquei ali, parada, olhando para ele sem dizer nada.
— Eu pedi comida, eles vão entregar aqui no quarto. Pedi um filme
também, quem sabe você não quer assistir um romance leve ou quem sabe
um pornô.
Dei risada, sabia que ele estava brincando, queria apenas me fazer rir.
— É sério, já assistiu aos filmes da Clarissa Anderson e Bernardo
Sanches? Eles dois arrasam na atuação e… — Eu estava séria, ele não estava
mesmo falando de filmes pornô, estava?
— Então quer dizer que você assiste pornô?
— Você não? Lizzie, amor, eu, eu…
— Estou brincando com você, é gostoso, não?
— Você me paga. — Riu e apertou meu nariz, me fazendo sorrir
também, mas se bem que fiquei tentada a conhecer essa tal Clarissa e
Bernardo, iria procurar sobre eles depois para poder brincar com meu marido.
— Podemos dormir?
— Não, eu te disse que tinha uma surpresa.
— Nós dois nus na cama, ofegantes, gemendo para acordar meia
Veneza?
— Eu não tinha pensado nisso, mas já que deu a ideia… — Ele
mordeu o lábio, sabia que eu não conseguia resistir quando fazia aquilo, mas
seria forte o bastante para não cair na tentação. Marcelo se aproximou e
beijou meu pescoço.
Lá íamos nós mais uma vez…
Maldita tentação…
Levei meus braços até seu pescoço, sentindo suas mãos habilidosas
retirarem as peças de roupa que estavam em meu corpo. Pensando bem, ficar
mesmo no hotel era melhor do que estar na rua, aqui pelo menos, estaria nos
braços de Marcelo, onde era o meu lugar.
Estávamos no nosso último dia de viagem e quase nos despedindo da
linda e bela Veneza. As surpresas haviam sido feitas, eu havia jantado com
minha esposa no quarto e lhe dado mais um presente, um vestido do qual
queria que ela usasse na noite seguinte em um jantar romântico, que havia
reservado em um restaurante chique. No restaurante, aproveitamos a noite e
depois fomos até um dos museus da cidade, apreciar a bela paisagem e
história que o local contava e aqui estávamos nós, hoje, na Basílica de São
Marcos de Veneza, registrando muitos momentos bons, não apenas em fotos,
mas também na memória.
Lizzie não havia me contado o que queria quando me pediu para
irmos até a Ponte de Rialto, mas insistia muito para irmos lá hoje antes de
irmos para o aeroporto e como um bom marido, precisava agradar minha
esposa, que estava feliz por estar ali comigo.
A viagem havia sido ótima e eu não via a hora de poder fazer mais
uma dessas com minha menina, mas neste momento, a correria de Chicago
nos esperava e ela ainda tinha uma carreira pela frente no mundo da dança
para conquistar, tudo o que eu podia fazer, era lhe apoiar.
Elizabeth se aproximou de mim com um salgadinho na mão e o
colocou na minha boca, me forçando a comer o alimento. Olhei para ela.
— Espero que isso não seja nada exótico.
— É comida normal, amor, eu não comeria nada exótico, você sabe.
— Sim eu sei. Mas me diz, vai sentir saudades de Veneza? — A
abracei por trás, olhando ao fundo, a cidade e sorri, feliz por estar ali com ela.
— Claro que vou, tem como não sentir saudade de um lugar lindo
desse?
— Obrigado.
— Pelo que?
— Por me tornar o homem mais feliz do mundo ao aceitar se casar
comigo e vir viajar comigo na nossa lua de mel, está sendo tudo mágico,
Lizzie.
— E você pensando que ia ser um tio cinquentão solteiro, fala sério.
Elizabeth adorava tirar sarro de mim sobre as histórias que contava a
ela e eu me perguntava sempre o motivo de contar essas coisas para ela.
— Você poderia parar de me zoar por isso, foi apenas um pensamento
antes de você chegar, é passado. — Respondi, rindo e ela me apertou em seu
abraço, se virando pra mim e me dando um beijo no nariz.
— Eu te amo, o que seria de você sem eu na sua vida para te zoar?
— Um homem inocente, com certeza.
— Se você seria inocente, eu seria virgem, entendeu onde quero
chegar?
— Quer transar comigo aqui na Basílica?
Eu sabia que ela ia se irritar e segurei a risada pelo olhar mortal que
Elizabeth me lançou. Fechei os olhos, me preparando para o tapa que
receberia no ombro e ele foi um belo de um tapa, ardeu.
— Eu estou brincando, amor, me perdoa.
— Idiota, isso que você é. Um idiota viciado em sexo.
— Só um louco não seria viciado em sexo quando se tem você para
transar.
— Chega desse assunto, vamos fazer nosso último tour para irmos
embora.
Antes que ela pudesse se afastar de mim, a segurei pelo braço e puxei
seu corpo para se colar no meu. Lizzie encarou meus olhos e ficamos ali
alguns segundos, sentindo a respiração um do outro e aproveitando o brilho
dos nossos olhos. Elizabeth era linda e eu não queria me cansar nunca da sua
beleza.
— Eu te amo, menina, sempre será meu porto seguro.
— Você sempre será meu porto seguro também, Marcelo. Te amo.
E como se fosse possível, eu amava aquela menina mais que a mim
mesmo, o que chegava a ser loucura, mas uma loucura boa, da qual eu não
queria nunca me ver longe. Elizabeth era e sempre seria o meu porto seguro,
o único lugar que eu encontraria paz em meio a toda turbulência do mundo.
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