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A atenção flutuante e o ato analítico: noções complementares na psicanálise.

Resumo: Este artigo aborda duas técnicas fundamentais da prática psicanalítica: a


atenção flutuante, proposta por Sigmund Freud, e o ato analítico, proposto por Jacques
Lacan. A atenção flutuante é uma postura do analista que se mantém aberto e
receptivo a todos os conteúdos apresentados pelo paciente, sem julgamentos ou
preconceitos. Já o ato analítico consiste em uma intervenção ativa e provocativa do
analista, que visa quebrar padrões de pensamento e comportamento do paciente.
Embora sejam técnicas distintas, elas podem ser usadas de forma complementar e
estratégica, a fim de ajudar o paciente a acessar conteúdos inconscientes e promover
mudanças significativas em sua vida.

Palavras-chave: psicanálise, atenção flutuante, ato analítico, técnica, terapia,


intervenção, inconsciente.

A psicanálise é uma teoria e prática que se dedica a entender a dinâmica do


funcionamento psíquico humano e suas implicações no comportamento e na
subjetividade. Fundamentada na teoria de Sigmund Freud e desenvolvida por seus
seguidores e continuadores, a psicanálise evoluiu ao longo do tempo, gerando diversas
escolas e correntes, cada qual com suas particularidades e ênfases teóricas e técnicas.
Entre as muitas técnicas empregadas pelos analistas, duas se destacam: a atenção
flutuante de Freud e o ato analítico de Lacan.

A atenção flutuante e o ato analítico são duas técnicas fundamentais da prática


psicanalítica. A atenção flutuante, proposta por Sigmund Freud, consiste em uma
postura do analista na qual ele se mantém aberto e receptivo a todos os conteúdos
que o paciente apresenta em análise, sem julgamentos ou preconceitos. Essa técnica
permite que o paciente expresse livremente suas associações e pensamentos, sem
medo de ser julgado ou censurado pelo analista. Como Freud (1912) afirma, "a atenção
livre e flutuante é a atividade psíquica mais importante do analista durante a análise"
(p. 115).

Já o ato analítico, proposto por Jacques Lacan, consiste em uma intervenção ativa e
provocativa do analista, que visa quebrar padrões de pensamento e comportamento
do paciente, a fim de revelar conteúdos inconscientes que estão impedindo o processo
de análise. Essa técnica pode ser usada em momentos específicos da análise, quando o
analista percebe que o paciente está preso em um padrão de pensamento ou
comportamento que o impede de progredir em sua análise. Como Lacan (1966) afirma,
"o ato analítico é um ato que visa despertar o sujeito de sua letargia, de sua ilusão" (p.
399).

Embora essas técnicas possam parecer opostas, muitos teóricos acreditam que elas
podem ser usadas de maneira complementar em diferentes momentos da análise. De
acordo com Cohen (2019), a atenção flutuante é frequentemente usada no início da
análise, para estabelecer um ambiente seguro e acolhedor para o paciente. Nesse
estágio, o analista deve evitar fazer julgamentos ou preconceitos e permitir que o
paciente se expresse livremente. Isso pode ajudar o paciente a se sentir mais à vontade
e confiante na relação com o analista, criando assim um espaço propício para a
emergência de conteúdos inconscientes.

Porém, à medida que a análise avança, o analista pode usar o ato analítico de Lacan
para ajudar o paciente a avançar em sua análise, como explica Stavrakakis (2019). O ato
analítico pode ser usado em momentos específicos, quando o analista percebe que o
paciente está preso em um padrão de pensamento ou comportamento que o impede
de progredir em sua análise. Nessas situações, o ato analítico pode ser uma
intervenção necessária e efetiva para desvelar os conteúdos inconscientes que estão
impedindo o paciente de avançar.

Apesar de serem técnicas distintas, a atenção flutuante e o ato analítico podem ser
usados de forma complementar e estratégica, a fim de ajudar o paciente a avançar em
sua análise. A atenção flutuante é uma postura fundamental do analista, que permite a
expressão livre e segura do paciente, enquanto o ato analítico pode ser uma
intervenção necessária e efetiva em momentos específicos da análise. É importante que
o analista tenha sensibilidade e discernimento para escolher a técnica mais adequada
em cada momento da análise, sempre respeitando a singularidade de cada paciente e a
dinâmica particular da relação terapêutica. É importante lembrar que o ato analítico
não deve ser usado de maneira arbitrária ou aleatória. Ele deve estar baseado em uma
escuta atenta e cuidadosa do paciente, e ser realizado de forma cuidadosa e respeitosa,
a fim de não gerar resistências ou rupturas na relação terapêutica.

Além disso, é importante destacar que o uso dessas técnicas requer um alto grau de
capacitação e experiência do analista, pois elas envolvem a compreensão profunda dos
processos psíquicos inconscientes e das dinâmicas da relação terapêutica. O analista
deve ter habilidades clínicas avançadas para ser capaz de aplicar essas técnicas de
forma adequada e efetiva, sempre respeitando os limites e as necessidades do
paciente.
Em suma, a atenção flutuante e o ato analítico são técnicas importantes da prática
psicanalítica, que visam ajudar o paciente a acessar conteúdos inconscientes e
promover mudanças significativas em sua vida. Cada técnica possui suas
particularidades e objetivos específicos, e deve ser usada de forma consciente e
estratégica pelo analista, a fim de promover o máximo de benefícios para o paciente.

Referências bibliográficas:

COHEN, R. A. Atenção flutuante: do conceito à prática clínica. Revista Brasileira de


Psicanálise, São Paulo, v. 53, n. 3, p. 331-344, 2019.

Freud, S. (1912). A dinâmica da transferência. In Edição standard brasileira das obras


psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12, pp. 113-126). Rio de Janeiro: Imago.

Lacan, J. (1966). Escritos. Rio de Janeiro: Zahar.

STAVRAKAKIS, Y. Lacan e a política. Rio de Janeiro: Zahar, 2019.

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