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NEFROLOGIA
14.11.17
Fisiopatologia
Na síndrome nefrítica ocorre inflamação da parede glomerular e, então, abertura da passagem de hemácias,
causando a hematúria. Já na síndrome nefrótica não ocorre inflamação, ocorre uma alteração na barreira de
filtração, alteração não suficientemente grande para passar hemácias, mas grande o suficiente para passar
proteínas. Essas proteínas começam a sair e por isso o paciente vai apresentar proteinúria.
1 – Proteinúria
Igual ou superior a 3,5 g nas 24 horas ADULTO
Maior ou igual que 50 mg/kg/ dia CRIANÇAS
Valores normais: até 150mg/ 24 horas
2- Hipoalbuminemia
Valores normais : 3,5 a 5,0 g/ dL
Consequente a muita saída de proteína na urina vai ocorre também a hipoalbuminemia. E como
consequência da hipoalbuminemia vai ocorrer o edema.
3 – Edema
FISIOPATOLOGIA
O problema é que o edema não é tão simples quanto as teorias de underfling e overfiling. O que causa o
movimento de fluídos entre os compartimentos é demonstrada pela equação acima que envolve todos
os aspectos descritos acima também. Não vai cair na prova!
Porém, é importante saber que não é somente a falta de pressão oncótica que vai provoca o edema no
paciente nefrótico, são vários fatores associados que o causarão.
O paciente nefrótico, geralmente, é normovolêmico e pode ser hipovolêmico, apesar de estar
edemaciando ele não está hipervolêmico. Devendo-se tomar muito cuidado ao fazer diurético para
pacientes nefróticos, pois o diurético retira líquido do meio intravascular e se o intravascular está com
uma quantidade de líquido normal ou pouca o paciente vai ficar desidratado podendo ter a uma IRA
(insuficiência renal aguda).
SINAIS E SINTOMAS
Edema tendendo à Anasarca
↓ PV
Hipertensão (?)
Diarréia (cerca de 20%)
Anorexia
Distrofia nutricional
Dor abdominal → crise abdominal nefrótica
O paciente vai apresentar edema tendendo a anasarca, hipertensão, diarreia, anorexia, crise abdominal
que ocorre, principalmente, em crianças sendo diagnóstico diferencial para apendicite nesses casos.
QUADRO CLÍNICO
É classificado em grupos de acordo com as teorias, mas existem vários tipos de comportamento dos
pacientes em relação a síndrome nefrótica.
“Underfill” – hipofluxo
Perda proteica
Queda da Pressão Oncótica
Hipovolemia:
o # SRAA
o # HAD
GFR >50%
Albumina <2 g/dl
Ausência de hipertensão
Hipotensão postural
Principal: Lesão mínima
São pacientes cuja taxa de filtração glomerular não cai, tendo a função renal menos comprometida.
Não possui hipertensão. A albumina está bem baixa e estando hipovolêmico apresenta, também,
hipotensão postural. Tudo isso característico da teoria de underfiling, que é de hipofluxo, causada pela
diminuição da pressão oncótica.
“Overflow” – hiperfluxo
Defeito na absorção de Na+ (aumentada) no TD
GFR <50%
Albumina >2 g/dl
Hipertensão
Ausência de hipotensão postural
São pacientes que tem alteração da filtração glomerular, cursando com insuficiência renal, são
hipertensos. Com a albumina não tão baixa e ausência de hipotensão postural. Sugerindo que esses
pacientes tem uma alteração na absorção de sódio, característica da teoria de overfiling.
Apesar da diferença de sinais e sintomas das duas teorias, sabe-se que elas ocorrem ao mesmo tempo
no mesmo paciente.
INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL
Sindrômica
o Proteínas totais e frações
o Perfil lipídico
o EAS
o Proteinúria de 24 hs
Para se investigar a síndrome nefrótica é obrigatório pedir proteína total e frações, perfil lipídico e EAS,
mas a proteinúria na urina de 24 horas é o exame principal.
O EAS não vem normal, geralmente apresenta de 3 a 4 cruzes de proteína, sabe-se que 4 cruzes de
proteína corresponde a mais de 500mg de proteína. Para ser síndrome nefrótica é preciso ter 3,5
gramas e sem a proteinúria de 24 horas não conseguimos identificar se é nefrítica ou nefrótica. Por isso
esse exame é tão importante para o diagnóstico.
o E não é urina de 24hrs, é proteinúria de 24hrs. Pois, a urina de 24 hrs é um termo muito amplo e
serve para qualquer coisa.
Dúvida: Pode-se utilizar a relação albumina/creatinina? Pode sim, mas o problema é que a proteinúria
da síndrome nefrótica não é seletiva, só com albumina, e se for realizado esse exame que pega só a
albumina, perde-se a captação de globulina, anti-trombina 3, trasnferrina, entre outras proteínas
fazendo com que a quantidade total de proteínas não seja identificada.
EAS
Protenúria
Glicosúria*
Hematúria
Piúria
* Pode refletir acometimento tubular
No EAS pode tem proteinúria. Se houver acometimento tubular vai ter
glicosúria mesmo em pacientes não diabéticos. Hematúria e piúria
podem estar presentes.
Etiológica
o Frações do Complemento
o Eletroferese de proteínas (sanguíneas e urinárias)
o Sorologias virais (hepatites, HIV)
o Dosagens de anticorpos (ANCA, FAN, Anti-DNA)
o Hemograma
o Culturas e pesquisa de parasitas
É necessário pedir complemento, pois pode ser uma síndrome nefrótica com componente nefrítico.
Pede-se, também, eletroforese de proteínas, sorologias, dosagem de anticorpos, hemograma, todos os
exames solicitados para síndrome nefrítica solicita-se também para a nefrótica.
Eletroforese de proteínas
o Elevações de alfa-2 e beta- globulinas:
hipoalbunemia antiga;
o Gamaglobulina normal ou elevada: SN 2ária
(infecção / hepotopatias / doenças
autoimunes);
o Gamaglobulina dinimuída : SN 1ária mas
também 2ária (MM produtor de cadeias
leves).
A eletroforese de proteína normal mostra a curva da
albumina maior e mostra a curva das outras
proteínas, como globulina, imunoglobulina,
antitripisina, glicoproteína ácida, transferrina,
menores. (figura ao lado)
BIÓPSIA RENAL
Indicações de biópsia na infância
o < 2 anos ou >7 anos
o Corticorresistência
o Recidivas frequentes
o Redução de função renal
Indicações de biópsia no adulto
o Esclarecimento do padrão histológico
A biopsia renal é indicada na infância somente se for menor que dois anos e maior que 7 anos, isso
quando a criança é resistente ao corticoide, com recidiva frequente e redução da função renal.
A biopsia renal no adulto é indicada sempre que possível realizá-la.
A lesão mínima é a causa mais comum de síndrome nefrótica na infância, sendo benigna em crianças. É
considerada uma síndrome nefrótica pura, pois apresenta hematúria e hipertensão em menos de 20%
dos pacientes.
Em adultos, a lesão mínima nunca é primaria, pois ela vem acompanhada de outros achados, entre eles
o linfoma de Hodgkin. Por isso que, em adultos, sempre se deve biopsiar para buscar outros achados.
O podócito está firmemente ligado à membrana
basal, com seus pedicelos interdigitados.
Na síndrome nefrótica por lesão mínima, os
podócitos perdem sua interdigitação.
Não ocorre o consumo de complemento, pois o imunocomplexo irá ficar entre a membrana basal e o
podócito.
o O imunocomplexo fica entre os pedicelos dos podócitos e a
membrana basal. A membrana basal tem muita afinidade
com o podócito, dessa forma ela vai formando espículas,
chamadas de Spikes, para tentar englobar o imunocomplexo e
ficar perto do podócito novamente. Essa tentativa de
aproximação da membrana basal com o podócito, com
expansão e integração do imunocomplexo, acaba com as
interdigitações da membrana basal. Isso forma barreiras mais
espessas em certos pontos e abre espaços enormes em outros
pontos, causando a proteinúria maciça.
o Não se tem consumo complemento, pois a membrana basal
separa o imunocomplexo da luz do vaso, não ativando a
cascata de complemento.
o Esses depósitos são chamados de subepiteliais, pois o
imunocomplexo está entre a membrana basal e o podócito.
Na microscopia óptica é perceptível a alteração no glomérulo, no
entanto é possível observar também que a luz do vaso, ou seja, a
superfície de filtração está pérvia. Dessa forma, esses pacientes vão
ter proteinúria, mas não vão ter alteração da função renal. Com
creatinina, às vezes, menor que 1, pois está ocorrendo filtração,
mas o problema é que esta ocorrendo passagem de proteínas, que
não deveria ocorrer.
TRATAMENTO GERAL
Restrição sódica
Diuréticos
o Tiazídicos
o De alça
o Poupadores de potássio
Anti-proteinúricos
o Inibidores da ECA
o Bloqueadores de Receptores de Angiotensina
Existem os tratamentos gerais e os tratamentos específicos para cada
tipo de doença. A restrição de sódio é muito importante, o uso de
qualquer diurético é permitido, mas se o paciente estiver muito
edemaciado é preferível usar o diurético de alça. O uso de anti-
proteinúricos é muito recomendado.
Lembrar que tanto o IECA quando o BRA fazem vasodilatação da
arteríola eferente, diminuição da pressão dentro do glomérulo e
diminui a proteinúria. Mas só eles não resolvem o problema, é preciso
tratar a glomerulonefrite também.
COMPLICAÇÕES
Infecções;
o Causas : Fatores físicos
↓ níveis de IgG
↓ níveis de transferrina e zinco
o Localização: Peritonite primária
Celulite
ITU
Viroses
A infecção é causada pela perda de imunoglobulinas, que são proteínas, deixando o paciente
imunocomprometido. Podendo perder IgG e trasnferrina, causando peritonite, celulite, infecção urinária,
viroses com mais facilidade.
Dislipidemia (com ↑ de LDL e VLDL e ↓de HDL);
A dislipidemia vai aumentar as placas de ateroma já existentes nos vasos sanguíneos do paciente.
Perda de proteínas carreadoras ( transferrina, ceruloplasmina, vitamina D, TBG);
A perda de trasnferrina pode causar anemia.
Disfunção tubular progressiva;
Progressão para DRC.
Tromboembolismo
o Incidência: 2 a 10%
o Causas : Fatores físicos
o ↓ dos inibidores da coagulação (antitrombina III , proteína S)
o ↑dos pró-coagulantes (von Willebrand, fatores V,X e VII)
o Hiperagregabilidade plaquetária
o Drogas
o Localização: TVP e TVRenal (além de TEP)
o Tratamento e prevenção
O tromboembolismo sempre está associado à síndrome nefrótica e acontece mais comumente na
membranosa, mas pode acontecer em qualquer dos tipos histológicos. Isso ocorre por perda da
antitrombina 3 na proteinúria e aumento dos fatores pró-coagulantes, apresentando uma
hipecoagulailidade plaquetária. Deve-se fazer o uso de AAS e, se necessário, o uso de anticoagulante.
A localização principal é a veia renal, mas também pode fazer trombose venosa profunda e
tromboembolismo pulmonar.
PROGNÓSTICO
Prognóstico da LM
o Presença de remissões e recidivas;
o crianças – até 95%;
o adultos – 70 a 75%.
O prognóstico da lesão mínima nas crianças é muito bom. Mas se a criança for corticodependente ou
corticoresistente deve-se associar ao corticoide a ciclofosfamida ou o micofenolato. Em adultos, o
prognostico não é tão bom, pode ocorrer remissão e, geralmente, está atrelada a outra doença, como
hepatite, neoplasia, linfoma, sendo necessário tratar a doença de base também.
Prognóstico da GESF
o Evolução para IRCt em 5 a 20 anos (até 60%);
o Na variante colapsante IRCt em 2 a 3 anos;
o Pode recidivar no transplante (20 a 40%).
A GESF não tem um prognóstico muito bom, pois ate 60% dos pacientes pode evoluir para doença renal
crônica. O glomérulo encolhe e colapsa nele mesmo causando a doença renal crônica, necessitando de
diálise em até 3 anos após início da doença. Até 40% dos casos pode recidivar após transplante.
Dependendo do local que foi biopsiado não se consegue captar os tecidos alterados na doença já que
somente algumas áreas estão acometidas. Se alguma área livre for puncionada e analisada vai se
pensar em lesão mínima e não em glomeruloesclerose segmentar e focal, retardando o tratamento.
Prognóstico da GNM
o Remissão em 20 a 30%;
o Remissão parcial espontânea em 25%;
o IRCt em 20 a 30 anos para 20 a 25%;
o Pior se mais idoso, com lesão tubular, sexo masculino e com creatinina elevada.
Ocorre remissão espontânea e até 30% dos casos, mas isso não significa cura, dessa forma o paciente
deve ser sempre acompanhado, pois pode recidivar. A membranosa demora mais a chegar em doença
renal crônica e se o paciente for mais idoso não se pode esquecer de pesquisar neoplasia associada.
Prognóstico da GNMP
o Tipo III – pior;
o IRCT em 50%;
o Recorrência no Tx: 30% tipos I e II e 90% tipo III.
Sendo considerada a pior de todas. Em 30% dos pacientes tipo I e II pós-transplantados ocorrem
recidiva. E no tipo III não é feito o transplante, pois em um curto período de tempo ocorre recidiva no
rim transplantado.
“ACABOU”