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A FOME

EMOCIONAL
EM TEMPOS DE
PANDEMIA

Robério Motta - CRM-CE 5982


Gastroenterologia - Endoscopia Digestiva; Membro da Comissão de Título de Especialista-FBG
(2013-16); Presidente da Associação Cearense Gastroenterologia (2011-12); Membro Associado
Titular GEDIIB, Membro Associado SBH; Professor Assistente da Faculdade de Medicina de
Juazeiro-FMJ; Diretor Técnico Médico da Endoclinic do Cariri Ltda
A FOME EMOCIONAL EM TEMPOS DE PANDEMIA.
Como manter o equilíbrio e uma boa Saúde Digestiva?
Estamos vivenciando um momento Quantos de nós não fomos surpreendidos
único em nossas vidas com a Pandemia em algum momento de nossas vidas
do novo Coronavírus (SARS-CoV-2) que, pela popularmente conhecida “gastrite
em alguns casos, pode levar a Doença nervosa”? Existe esta possibilidade de
causada pelo SARS-CoV-2 (COVID-19). que a disfunção gástrica possa ser um
fator de risco para distúrbios do humor,
A necessidade do isolamento modificou
como ansiedade e depressão e vice-versa.
nossas relações sociais, hábitos e
horários, influenciando drasticamente o Há uma forte relação entre o nosso
cotidiano de todos nós. Neste momento sistema digestivo e o cérebro. Este eixo
de preocupação com a COVID-19 e a sistema digestivo-cérebro afeta vários
quarentena coloca em risco também processos fisiológicos que resultam
nosso trabalho e afeta sobremaneira o em saciedade, ingestão de alimentos,
bem-estar psicoemocional levando a regulação do metabolismo dos açúcares
ansiedade e estresse. e gordura.2
Epicuro, 300 a.C dizia que: “O princípio Assim, em momentos de ansiedade,
e a origem de todo o bem é a alegria os sinais decorrentes do estômago
do estômago, mesmo a sabedoria está têm efeitos no bem-estar e no humor
relacionada a isso”. psicológico. Daí, alguns pacientes
sentem-se bem ao ingerir alimentos
Assim, não por acaso e há muito tempo,
não saudáveis como chocolates, doces,
existe a associação entre dispepsia (má
massas e refrigerantes. Esta sensação
digestão) e ansiedade, depressão e
de bem-estar é passageira. Depois, há
estresse. No atual momento que estamos
intensificação dos sintomas digestivos
passando, de incertezas, muitas pessoas
como má digestão, desconforto no
acabam descontando na comida por
estômago e azia.2
estarem mais tempo isoladas em casa e
com rotina diferente.1 “Somos o que comemos” – A boa
alimentação é de grande valia para nossa
Em momentos de ansiedade estamos
saúde gastrointestinal, pois alimentos
mais propensos a má alimentação. Não
saudáveis e em horários regulares
só no contexto de ingerir alimentos
propiciam o bem estar através de uma boa
inadequados, ricos em carboidratos
digestão e de uma microbiota saudável
e gorduras, mas, também a ingesta
(população de micro-organismos que
excessiva destes, de forma errada, com
habitam em nosso trato gastrointestinal
taquifagia (comer apressadamente), em
e tem como funções manter a integridade
horários irregulares e muitas vezes em
da mucosa e nos defendendo daqueles
ambientes inadequados (por exemplo:
microrganismos patogênicos – isto é,
assistindo noticiários) e às vezes deitado.
considerados perigosos) já que temos
Todo este cenário afeta, em muito trilhões de microrganismos que fazem
a saúde gastrointestinal, levando a parte da regulação do nossos sistema
uma percepção maior ao desconforto digestivo.3
gastrointestinal, tanto por dietas erradas
Já identificamos os vários aspectos
causadas pela “fome emocional”, como
relacionados a saúde digestiva. Mas
pelo próprio estado de ansiedade.
como podemos ajudar nosso paciente a aderência em pacientes com dificuldades
melhorar a saúde digestiva? de engolir, idosos ou acamados.
Devemos estimular modificações de Naqueles pacientes com a doença
hábitos (técnicas de relaxamento e COVID-19 em que se está indicado
atividades físicas) já é um bom começo.4 o tratamento sintomático da febre
Orientações ao paciente como: tomadas e da mialgia, caso opte pelo uso do
de refeições em ambiente tranquilo e, ibuprofeno como antipirético (200 mg/
sempre que possível, com repouso pré dose a cada quatro horas; não exceder
e pós-prandial, evitando a taquifagia. quatro doses em 24 horas) o uso dos
Refeições fracionadas, com menor inibidores da bomba de prótons(IBPs)
volume e menor teor de gordura, são é recomendado.6 Uma boa opção é o
usualmente recomendadas. Respeitar uso do esomeprazol diluído ao invés do
a individualidade do organismo com omeprazol ou pantoprazol injetáveis.
relação a dieta (hipersensibilidade, É recomendável o uso de protetores
intolerância ou alergia alimentar).5 gástricos aos esomeprazol em
Além do aparecimento da dispepsia associação com antibióticos (que estão
em momento como este de Pandemia, sendo muito usados para a COVID) para
muitos pacientes intensificam os o bem estar do paciente.
sintomas de doenças pré-existentes Os IBPs também são bem indicados
(dispepsia funcional, doença de refluxo para reduzir a incidência de úlceras de
gastroesofageano ou úlcera péptica), estresse e sangramento gastrointestinal
assim a proteção gástrica está indicada. em pacientes com risco de sangramento
Os Inibidores de Bomba de Prótons gastrointestinal. Entre os fatores de
(esomeprazol, omeprazol, lanzoprazol, risco estão ventilação mecânica por 48
pantoprazol) são bem indicados. O uso horas ou mais, coagulopatia, terapia
do esomeprazol é interessante devido de substituição renal, doença hepática,
sua possível diluição em água permitindo entre outros.6

Referências:
1.Gathaiya N, Locke GR 3rd, Camilleri M, et al. Novel associations with dyspepsia: a community-based study
of familial aggregation, sleep dysfunction and somatization. Neurogastroenterol Motil 2009;21:922_e69.
2.Talley, NJ, The Stomach – Brain Axis, Best Pratctice & Research Clinial Gastroenterology (2014).
3.Camilleri M, Buéno L, Andresen V, et al. Pharmacological, Pharmacokinetic, and Pharmacogenomic
Aspects of Functional Gastrointestinal Disorders. Gastroenterology 2016;150:1319–1331.
4.Vincenzo Stanghellini, Francis K. L. Chan, William L. Hasler, Juan R. Malagelada,Hidekazu Suzuki, Jan
Tack and Nicholas J. Talley. Gastroduodenal Disorders. Gastroenterology 2016;150:1380–1392.
5.Camilleri M, Stanghellini V. Current management strategies and emerging treatments for functional
dyspepsia. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 2013;10:187–194.
6.Jin YH, Cai L, Cheng ZS,et al. A rapid advice guideline for the diagnosis and treatment of 2019 novel
coronavirus (2019-nCoV) infected pneumonia (standard version). Mil Med Res. 2020 Feb 6;7(1):4.
Available at: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7003341/.

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