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Cerca de 90% dos indivíduos suscetíveis que mas a conjuntivite no sarampo é tão intensa
se expõem ao vírus irão adquirir a doença. A que chega a estar associada com fotofobia. É
suscetibilidade ao vírus na população não uma conjuntivite tipicamente não purulenta.
vacinada é geral, ou seja, os indivíduos que não
● Tosse: a tosse é bastante intensa e é um
foram vacinados, não tiveram a doença ou não
sintoma marcante do sarampo.
receberam anticorpos passivamente têm alto
risco de desenvolver o quadro. A primeira dose ● Manchas de Koplik: o sarampo tem um
da vacina é habitualmente administrada com enantema patognomônico, que são as manchas
12 meses de idade. Nos primeiros meses de de Koplik Se esse sinal estiver bem
vida, os filhos de mulheres que tenham tido caracterizado, podemos pensar no diagnóstico
sarampo ou que tenham sido vacinados mesmo antes da fase exantemática. As
possuem anticorpos que foram transmitidos manchas de Koplik surgem entre um e quatro
por via transplacentária. Essa proteção é dias antes do exantema e consistem em
apenas temporária, pois o recebimento passivo pequenas manchas branco azuladas com 1 mm
de anticorpos não desencadeia uma memória de diâmetro e halo eritematoso. São
imunológica. tipicamente identidades na mucosa jugal, na
altura dos pré-molares. Podem se disseminar
por toda a cavidade oral e também podem ser
identificadas na conjuntiva e mucosa vaginal
Fase exantemática
O exantema típico dura em torno de cinco dias.
Você está lembrado das perguntas que sempre
devemos fazer para caracterizá-lo?
Qual é o aspecto das lesões? A erupção
cutânea consiste em lesões maculopapulares
eritematosas, que são facilmente perceptíveis,
com áreas de pele sã de permeio, podendo
confluir em algumas áreas. Esse exantema é
chamado de morbiliforme.
Fase prodrômica Como essas lesões progridem? Essa erupção
Essa fase dura poucos dias (entre dois e tem algumas peculiaridades: tem progressão
quatro). Basta que você se lembre da agressão craniocaudal lenta e começa na fronte
que o vírus promove na mucosa respiratória e (próximo à linha de implantação capilar), na
será fácil lembrar dos sintomas encontrados. O região retroauricular e na nuca. As lesões
sarampo é a doença exantemática que tem os progridem para o tronco e atingem as
pródromos mais ricos e bem caracterizados. extremidades no terceiro dia da fase
exantemática. Em até 50% dos casos pode
● Febre: a elevação da temperatura é ocorrer o acometimento da região
progressiva e atinge seu máximo no início do palmoplantar. A confluência das lesões
exantema (no 2 o ou 3 o dia), decaindo costuma ocorrer na face e porção superior do
progressivamente a partir daí. Analisando a tronco.
você já tinha percebido essa relação. Repare
como a temperatura vai subindo e, após a Fase de convalescença ou remissão
erupção, vai, pouco a pouco, caindo. O que ocorre quando essas lesões
● Conjuntivite: a conjuntivite pode ser desaparecem? Ocorre descamação! O
encontrada em outras doenças exantemáticas, exantema adquire aspecto acastanhado e
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desaparece na mesma sequência em que dosagem de IgM e IgG, é o utilizado pela rede
surgiu, dando lugar a uma fina descamação da laboratorial de saúde pública no Brasil. O
pele, com aspecto furfuráceo ("semelhante a Ministério da Saúde reitera a importância de se
farelo") assegurar a coleta de amostra de caso suspeito,
sempre que possível, no primeiro atendimento
A linfadenomegalia está descrita em casos
mais graves e é mais proeminente na região
occipital e cervical.
A ribavirina tem efeito in vitro contra o com o componente sarampo, devem receber
sarampo. O seu uso, com ou sem uma dose da tríplice viral. Nestas situações de
gamaglobulina associada, parece ter benefício bloqueio, as crianças a partir de seis meses
em alguns casos, mas não há ensaios podem receber uma dose da vacina. Um
randomizados comprovando o benefício. A cuidado que você deve ter aqui é o seguinte:
única droga realmente utilizada é a vitamina A. caso uma criança com idade entre seis meses e
A hipovitaminose A é um reconhecido fator de um ano receba essa vacina, esta dose não deve
risco para a doença e o uso da vitamina é capaz ser considerada como dose de rotina. Assim,
de promover a redução da morbidade e essa criança irá receber as duas doses do
mortalidade do sarampo. Os manuais do Calendário Básico normalmente. E, neste
Ministério da Saúde recomendam que se momento, você se pergunta: qual o sentido de
administre a vitamina A em todas as crianças vacinarmos um indivíduo que já foi exposto ao
em duas doses (no mesmo dia do diagnóstico e vírus? É fácil de entender. A vacina consegue
no dia seguinte) da seguinte forma: desencadear a produção de anticorpos no
indivíduo em um tempo menor que o período
o ● Crianças < 6 meses: 50.000 UI em
de incubação da doença. É uma corrida contra
cada dose;
o tempo. Por esse motivo, a vacina deve ser
o ● Crianças 6-12 meses: 100.000 UI em
administrada até 72 horas após a exposição.
cada dose;
o ● Crianças > 12 meses: 200.000 UI em Imunoglobulina – ate 6 dias
cada dose.
A vacina contra sarampo é uma vacina de
agente vivo atenuado e está contraindicada em
algumas situações. Uma alternativa para a
O paciente infectado deve evitar o contato com
proteção dos pacientes que não podem receber
os suscetíveis até quatro ou seis dias após o
a vacina é o uso de imunoglobulina. O
início do exantema, lembrando que o tempo de
Ministério da Saúde não se pronuncia sobre
eliminação do vírus pode ser mais prolongado
isso em seus principais documentos, ainda que
no imunodeprimido. Quando internado, o
algumas Secretarias de Saúde estaduais
paciente deve ser mantido em precaução para
recomendem esta medida. Encontramos em
transmissão aérea. No plano individual, o
várias fontes a recomendação da administração
isolamento domiciliar ou hospitalar dos casos
de imunoglobulina até seis dias após a
consegue diminuir a intensidade dos contágios.
exposição para os contactantes
Esse impacto é relativo, pois a transmissão já
intradomiciliares suscetíveis menores de seis
estava ocorrendo desde a fase prodrômica.
meses, gestantes e imunocomprometidos.
Vacinação de bloqueio ate 72H
Após a notificação de um caso suspeito, a ação
de bloqueio vacinal seletivo (vacinação dos A rubéola é uma doença que costuma ter
suscetíveis) deve ser desencadeada evolução benigna na infância. Pode lembrar
imediatamente e deve abranger as pessoas do uma forma branda de um caso de sarampo, um
mesmo domicílio do caso suspeito, vizinhos "sarampinho", sendo também conhecida como
próximos, creches, ou, quando for o caso, as "sarampo alemão". Mas se a doença é branda,
pessoas da mesma sala de aula, do mesmo por que ouvimos tanto falar sobre a
quarto de alojamento ou da sala de trabalho. Os importância da vacina contra rubéola? A
contactantes com idade entre um e 49 anos grande preocupação relacionada a esta
devem ser vacinados conforme as orientações infecção é com a síndrome da rubéola
do Programa Nacional de Imunizações; os congênita. A infecção no início da gestação é
indivíduos com mais de 50 anos que não devastadora e pode acarretar em abortamentos,
comprovarem o recebimento de nenhuma dose
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temporária da eritropoiese, claro. Este receptor Voltando agora às alterações clínicas, perceba
também é encontrado em células endoteliais, que o quadro de eritema infeccioso
da placenta e no miocárdio fetal. Daqui a propriamente dito, indicado pela barra
pouco veremos o que o vírus promove nesses vermelha, ocorre vários dias após o período de
outros sítios. manifestações inespecíficas: na verdade, o
paciente permanece alguns dias sem sintomas
entre esses dois momentos! A doença
exantemática costuma ocorrer entre 17 a 18
dias após o contágio inicial e não está mais
associada a um efeito direto do vírus. Compare
o momento em que essas manifestações
surgem com o período em que se observa a
viremia e confirme que já não há mais detecção
do vírus nessa fase. Acredita-se que essas
manifestações sejam o resultado de um
fenômeno pós-infeccioso relacionado a um
processo imunomediado.
Observe as barras horizontais e veja que temos A transmissão ocorre através das secreções
dois momentos distintos nos quais há nasofaríngeas do infectado, lembrando que
manifestações clínicas: a barra verde indica o essas secreções só contêm o vírus no período
momento em que há sintomas inespecíficas e em que está ocorrendo a viremia. Deste modo,
coincide com o período em que ocorre a o indivíduo infectado elimina o vírus de sete a
viremia, representado pela curva azul. Ainda 11 dias após a inoculação.
neste mesmo momento, encontramos a queda
na contagem de reticulócitos, que está Na fase que surge o exantema que caracteriza
representada pela curva laranja pontilhada, o eritema infeccioso, o indivíduo já não é mais
como consequência da interrupção da capaz de transmitir a doença. Isso não ocorre
eritropoiese. Nos pacientes com produção em nenhuma das outras doenças exantemáticas
eritrocitária normal, essa breve interrupção que vimos até agora e terá implicância direta
provoca no máximo uma discreta queda na no manejo do paciente. Responda
hemoglobina. Já nos pacientes com hemólise rapidamente: uma criança que está na fase
crônica, a história será outra. Também costuma exantemática precisa ser afastada do contato
ocorrer neutropenia e trombocitopenia, mas a com outras? Claro que não! As taxas de
patogênese dessas alterações não é totalmente transmissão são variáveis e temos a descrição
elucidada. de taxas de ataque secundário de 15-30% nos
contactantes domiciliares suscetíveis e de até
Repare agora que o aparecimento dos 60% em surtos em escolas
anticorpos, ilustrado pela curva rosa, ocorre
cerca de um a dois dias após o início das Embora a principal forma de transmissão seja
manifestações inespecíficas e coincide com a pela via respiratória, o vírus é encontrado no
regressão dos sintomas iniciais e a retomada da sangue e pode ser transmitido por
eritropoiese. A imunidade humoral exerce um hemoderivados. A transmissão por meio de
papel crucial no controle da infecção pelo fômites não é bem estabelecida.
vírus. Indivíduos com imunidade humoral
prejudicada estão sob risco elevado de adquirir
uma infecção crônica pelo parvovírus B19 e, Muitas das infecções pelo parvovírus B19 são
consequentemente, aplasia medular crônica. assintomáticas
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apresentam anticorpos contra o vírus em títulos No caso da infecção fetal e dos pacientes com
muito baixos ou ausentes e o DNA viral é hemólise crônica, o tratamento será de suporte
identificado no soro de forma persistente ou através da hemotransfusão, que pode ser feita
recorrente. A manifestação mais comum é uma mesmo durante a vida intrauterina.
anemia crônica, que pode eventualmente ser
acompanhada por neutropenia, plaquetopenia
ou supressão medular completa. Atualmente, ainda não existem medidas
específicas como vacinas no controle pré ou
Síndrome papular-purpurica em “luvas e
pós-exposição, embora existam estudos nesse
meias”
sentido. A forma que temos de prevenir a
É uma síndrome pouco comum, caracterizada doença é interrompendo a cadeia de
pela associação de febre com prurido e eritema transmissão. Lembre-se de que as crianças com
com edema doloroso nas mãos e pés, seguindo eritema infeccioso podem ir para a escola, sem
uma distribuição em "luvas e meias". Há restrições, pois já não eliminam mais o vírus.
também petéquias de distribuição acral e Na prática, vemos crianças sendo mantidas em
lesões orais. O quadro está associado casa até a resolução do quadro, o que revela um
basicamente à infecção pelo parvovírus B19. profundo desconhecimento da patogênese da
doença.
fase aguda com amostras após algumas A varicela nada mais é do que a famosa
semanas também pode indicar infecção catapora. Esta doença costuma ter um curso
primária. Porém, isso só serve para a avaliação benigno e autolimitado na infância. Embora
retrospectiva do caso. Na hora do sufoco, em seja uma doença imunoprevenível, continua
que queremos definir o diagnóstico de um sendo bastante comum em nosso meio, uma
lactente com febre, isso não nos ajuda. vez que a vacina contra varicela foi introduzida
no Calendário Básico da Criança apenas no
segundo semestre de 2013.
Não há necessidade de qualquer tratamento
A doença é causada pelo Vírus Varicela-Zóster
para os quadros de exantema súbito, apenas o
(VVZ), um alfaherpesvírus de DNA da família
uso de antipiréticos para a febre. O tratamento
Herpesviridae. O ser humano é o único
específico está reservado para quadros mais
reservatório do agente
graves, como os de encefalite ou PALE,
principalmente nos imunodeprimidos. As
drogas utilizadas incluem ganciclovir,
O vírus é encontrado nas secreções
cidofovir e foscarnet, muito embora a real
respiratórias e no líquido das lesões cutâneas
eficácia do tratamento seja ainda questionável.
do paciente com varicela e pode disseminar-se
por via aérea por aerossóis e pelo contato direto
com as lesões. A transmissibilidade tem início
de um a dois dias antes do surgimento do
exantema e persiste até o momento em que
todas as vesículas tornam se crostas (o que
em geral ocorre de três a sete dias após o início
das lesões). Repetindo o que já vimos várias
vezes em outras doenças exantemáticas: o
vírus começa a ser transmitido mesmo antes de
suspeitarmos que o paciente possa estar com a
doença. Quando afastamos a criança com
varicela da escola, uma parte do estrago já
ocorreu.
O vírus é inoculado na mucosa do trato
respiratório superior e nos tecidos linfoides e
começa a se replicar. Tem início o período de
incubação da doença, que dura entre 10 e 21
dias (esse é um período que você deve
guardar!). Ocorre uma primeira viremia
subclínica, que espalha o vírus pelo sistema
reticuloendotelial. Passam-se alguns dias e
ocorre a disseminação cutânea do vírus por
meio de uma segunda viremia, que dura de três
a sete dias. Próximo ao fim do período de
incubação, o vírus é novamente transportado
para a mucosa respiratória, começando a ser
eliminado antes do aparecimento do exantema.
Não tínhamos dito que a doença é
autolimitada? A limitação é imposta pela
própria resposta imune do hospedeiro, que é
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capaz de conter a replicação viral. A resposta adultos podem apresentar febre, geralmente
imune celular é fundamental para frear a moderada, mal-estar, adinamia, anorexia e dor
replicação do vírus, impedindo a disseminação abdominal. Esses sintomas surgem um a dois
da infecção para órgãos como pulmão, fígado dias antes do exantema e em nada nos auxiliam
e cérebro. Se houver um comprometimento no raciocínio diagnóstico. A febre e os outros
dessa resposta, poderá haver doença sinais sistêmicos, quando presentes, costumam
disseminada. É por isso que a história natural desaparecer em até dois ou quatro dias após o
da doença é bem diferente no surgimento da erupção cutânea
imunocomprometido
Fase Exantemática
Mas e quando a infecção primária é finalmente
Qual é o aspecto das lesões? A lesão inicial
contida, você acha que acabou? Claro que não.
consiste em uma mácula eritematosa e
Após o controle da doença, o VVZ não é
pruriginosa, que se converte em uma pápula,
eliminado do organismo. Ele caminha de
que evolui em vesícula de conteúdo cristalino.
forma retrógrada pelos axônios sensoriais e
Essa vesícula lembra uma "gota de orvalho
alcança os gânglios das raízes dorsais,
sobre uma pétala de rosa". Poético, não? Em
permanecendo em estado de latência por
24- 48 horas, ou menos, cada vesícula evolui
muitos anos. O vírus latente pode sofrer
como pústula com umbilicação central e
reativação, replicar-se nos gânglios e fazer o
formação de crostas
caminho de volta pelos nervos até a área de
pele correspondente a um dermátomo, levando Cada nova lesão que surge evolui dessa
ao surgimento das lesões do quadro de herpes- maneira. Veja agora que interessante: ao
zóster. mesmo tempo em que algumas vesículas já se
tornaram crostas, há novas vesículas surgindo.
Por este motivo, em uma mesma região do
H O diagnóstico clínico costuma ser bastante corpo, podemos encontrar lesões em vários
simples. Na vida real, quando estamos estágios evolutivos, que dá origem ao
avaliando uma criança com uma doença polimorfismo regional,
exantemática, não é incomum coçarmos um
Como essas lesões progridem? As primeiras
pouco a cabeça e dizermos para a mãe do
lesões em geral surgem no couro cabeludo, na
paciente: "Bem... Hummm... Deve ser alguma
face e no tronco. No exame geral do paciente
doença viral, mas precisamos confirmar com a
você é capaz de perceber que o exantema tem
sorologia..." Aqui a história é outra. A sua
uma distribuição centrípeta, ou seja, é mais
vizinha pode te mostrar o filho no elevador do
evidente no centro do corpo (veja a ). Essas
prédio e você é capaz de bradar com orgulho e
lesões se disseminam do centro para a
convicção: "Sim! Não tenho dúvidas: é
periferia, o que caracteriza uma disseminação
catapora!
centrífuga. Alguém já se deu ao trabalho de
O período de incubação, você já sabe, pode contar e observou que há, em média, 300
durar entre 10 e 21 dias, mas a doença costuma lesões presentes. O segundo caso dentro de um
começar entre 14 e 16 dias após o contágio. mesmo domicílio (caso secundário) costuma
Seguindo o mesmo esquema, vamos separar os ter um número maior de lesões e apresenta o
pródromos da fase exantemática surgimento de novas lesões durante um
período de tempo mais prolongado. Os
Fase prodrômica
pacientes com doenças cutâneas também
As crianças menores simplesmente não podem ter um exantema mais extenso.
costumam apresentar pródromos. As
Conforme a resposta imune do hospedeiro vai
manifestações cutâneas costumam ser as
controlando a replicação viral, o aparecimento
primeiras alterações. As crianças maiores e
de novas lesões vai sendo interrompido. O
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A identificação o do VVZ pode ser feita a ● Indivíduos que usam corticoide sistêmico em
partir das próprias lesões cutâneas através de dose não imunossupressora e por tempo curto
vários métodos, como por PCR. A avaliação ou intermitente, ou que usam corticoide
citológica das lesões (teste de Tzanck) pode inalatório;
evidenciar células gigantes multinucleadas, o ● Indivíduos que fazem uso crônico de
que sugere o diagnóstico. Porém, esta salicilatos;
avaliação tem baixa sensibilidade e não
diferencia a infecção pelo VVZ da infecção ● O segundo caso em um mesmo domicílio.
causada pelo vírus herpes simples. Você não precisa enlouquecer "decorando"
essa lista. Os pacientes que vão receber o
aciclovir oral são aqueles com risco de doença
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agamaglobulinemia, hipogamaglobulinemia,
ou nos recém-nascidos, há o risco de doença
mais grave e, eventualmente, crônica.
Doença mão-pé-boca
As infecções por esses agentes são bastante É a síndrome mais distinta e peculiar de todas
comuns. Para você ter uma ideia da as infecções por enterovírus. O principal
importância dessas infecções, os enterovírus agente envolvido é o coxsackie A16, mas
são responsáveis por 33-65% de todas as outros agentes também podem estar
doenças febris agudas nos Estados Unidos nas implicados, como o enterovírus 71, além de
crianças menores de um ano, principalmente outros coxsackie A, B e alguns echovírus
no outono e inverno. Nas regiões tropicais e A doença em geral é branda e sem febre ou
semitropicais, o vírus circula o ano inteiro com febre baixa. O dado mais característico do
quadro é a distribuição das lesões. Temos
lesões tipicamente na cavidade oral, nas mãos
O vírus penetra no organismo pela via oral ou e nos pés e também nas nádegas (você achou
respiratória e começa a se replicar na faringe e que o nome da doença era um acaso?). As
no intestino. Após alguns dias dessa replicação lesões na cavidade oral consistem em vesículas
inicial, ocorre a multiplicação do vírus nos distribuídas pela língua, mucosa jugal, faringe
tecidos linfoides, como as amígdalas, placas de posterior, gengiva e/ou nos lábios. Essas
Peyer e linfonodos regionais. A seguir, ocorre vesículas podem sofrer ulceração, levando à
uma viremia primária (viremia minor), capaz formação de lesões rasas com hiperemia ao
de disseminar as partículas infectantes para o redor. É importante você guardar que as lesões
sistema reticuloendotelial, acometendo o podem estar distribuídas por toda a cavidade
fígado, o baço, a medula óssea e os linfonodos oral, ao contrário do que ocorre em outras
distantes. O sistema imune do hospedeiro é condições clínicas que cursam com lesões mais
capaz de limitar a replicação viral neste ponto, localizadas.
o que resulta em uma infecção subclínica.
Porém, em alguns indivíduos, a replicação Doença febril inespecífica
viral pode continuar ocorrendo no sistema Essa vai ser a principal apresentação clínica
reticuloendotelial, levando a uma viremia nas infecções sintomáticas pelos enterovírus,
secundária (viremia major), capaz de atingir principalmente nas crianças pequenas e
órgãos-alvo, como o coração, o sistema menores de um ano. Muitas vezes é difícil
nervoso central e a pele. O tropismo pelo saber ao certo se a criança pequena apresenta
tecido-alvo varia de acordo com o sorotipo do apenas uma infecção benigna por um desses
vírus. O dano a cada um desses tecidos será agentes ou se apresenta uma infecção
resultado da necrose mediada pelo vírus e pela bacteriana potencialmente mais grave. No
reação inflamatória local. apêndice acessado pela versão digital desta
A produção de anticorpos neutralizantes tipo- apostila, você vai conhecer melhor as
específicos parece ser a etapa fundamental na estratégias que nós, pediatras, usamos para
resposta imune à agressão. O organismo tentar fazer essa distinção.
produz IgM, IgG, IgA e IgA secretória, A doença febril aqui não tem nada de típico. A
tornando-se capaz de impedir a replicação viral criança apresenta febre com duração
caso uma reinfecção ocorra. Em todas as aproximada de três dias, mal-estar,
situações em que há um comprometimento da irritabilidade. Pode apresentar sinais e
imunidade humoral, como nos pacientes com sintomas inespecíficos de acometimento do
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 21
trato respiratório e gastrointestinal, com dor suporte em unidade de terapia intensiva, com
abdominal, odinofagia, hiperemia conjuntival, suporte respiratório e hemodinâmico.
adenomegalia. A duração total da doença é de
A doença neurológica pelo enterovírus 71
quatro a sete dias, mas pode se estender por
costuma ser tratada com a associação de
mais de uma semana.
imunoglobulina e corticoides. Diversos
Aqui também podem ocorrer várias antivirais (exemplo: pleconaril) têm seu uso
manifestações cutâneas, com os exantemas estudado na infecção por esses vírus.
mais variados possíveis, como maculares,
maculopapulares, vesiculares e petequiais.
Quanto mais nova a criança, mais comum é a
presença do exantema. Você lembrou-se do
exantema súbito e achou que os quadros são
parecidos? Na prova, pelo menos, a síndrome
febril inespecíficas pelos enterovírus não será
um quadro tão comum, justamente por ser tão
inespecífico.
por meio de um processo de transformação e sendo que as petéquias são encontradas com
imortalização dessas células. O vírus pode ser frequência.
eliminado de forma intermitente nas secreções
Mas por que estamos estudando essa doença na
da orofaringe de indivíduos infectados, como
apostila que fala sobre as síndromes
resultado da reativação viral com replicação,
exantemáticas? Simples! Em 3-15% dos
que geralmente é assintomática. A relação
pacientes com mononucleose infecciosa
entre o EBV e o desenvolvimento de
encontramos um exantema maculopapular
neoplasias é bem estabelecida. Há associação
como parte da doença. Porém, até 80% deles
do vírus com carcinoma nasofaríngeo, linfoma
apresentam um exantema quando fazem uso de
de Burkitt, doença de Hodgkin, doenças
amoxicilina ou ampicilina. Guardou essa
linfoproliferativas e leiomiossarcomas. Os
diferença? O exantema não é tão comum, mas
quadros de imunodeficiências, sejam
acomete a maioria dos pacientes que faz uso de
congênitas ou adquiridas, acarretam em
alguns antibióticos. Esse exantema é uma
aumento no risco de diversos quadros
vasculite imunomediada, não um quadro de
linfoproliferativos relacionados com a
alergia à medicação.
infecção pelo EBV.
Você deve estar se perguntando por qual
motivo o paciente com uma infecção viral
O período de incubação é longo e chega a durar estaria recebendo amoxicilina ou ampicilina. É
entre 30 e 50 dias nos adolescentes, sendo mais fácil adivinhar a razão desse uso indevido.
curto em crianças. A maioria das crianças com Imagine: o paciente apresenta odinofagia e um
a infecção primária será assintomática. E como exame bastante sugestivo de faringite
será o quadro nos pacientes maiores? Nesta estreptocócica. O que pode ocorrer? Este
população, a mononucleose infecciosa será a paciente acaba recebendo incorretamente o
manifestação típica da infecção pelo EBV. A diagnóstico de faringite estreptocócica e sendo
duração média da doença é de duas a quatro tratado como tal. A evolução insidiosa, a
semanas, seguindo-se de gradual recuperação. adenopatia generalizada e as visceromegalias
estão presentes apenas na mononucleose
Os pacientes queixam-se de sintomas vagos,
infecciosa, não na faringite pelo estreptococo.
como mal-estar, fadiga, febre aguda ou
prolongada (com duração superior a uma
semana), cefaleia, odinofagia, náusea, dor
Um achado comum nos casos de infecção pelo
abdominal, mialgia. Tudo isso dura por uma ou
EBV é a presença de leucocitose (10.000-
duas semanas, enquanto a febre e a odinofagia
20.000 cél/mm3 ), com 20-40% de linfócitos
vão piorando aos poucos. Mas se tudo é tão
atípicos, que correspondem aos linfócitos T
inespecífica, como vamos pensar nesse
CD8+ ativados que tínhamos falado. A atipia
diagnóstico? A história arrastada de febre,
linfocitária pode ser encontrada em outras
astenia e odinofagia já é uma grande pista, mas
infecções virais, mas é mais proeminente na
é o exame físico que reforça muito a nossa
infecção pelo EBV
suspeita. A maioria dos pacientes (90%)
apresenta linfadenopatia generalizada. Além Em mais de 50% dos pacientes pode haver
disso, há esplenomegalia em 50% dos casos e trombocitopenia (50.000- 200.000
hepatomegalia em 10%. plaquetas/mm3 ), mas que raramente tem
repercussão clínica. Outra alteração frequente
Os achados na avaliação da orofaringe são
é uma elevação discreta das transaminases.
indistinguíveis dos encontrados na faringite
estreptocócica: há hipertrofia amigdaliana e Todas essas alterações servem para corroborar
pode haver exsudato com petéquias no palato, a hipótese, mas o diagnóstico definitivo é
estabelecido pela identificação dos anticorpos.
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Preste atenção nessa parte, pois não é incomum vias aéreas, trombocitopenia com hemorragia,
encontrarmos erros na interpretação desses anemia hemolítica autoimune, convulsões e
exames. Podemos fazer duas avaliações meningite. A droga usada é a prednisona na
distintas: a pesquisa de anticorpos heterofilos e dose de 1 mg/kg/dia (máximo de 60 mg/dia)
a pesquisa de anticorpos específicos contra o por sete dias, com redução progressiva nos sete
EVB dias subsequentes
eventualmente, o próprio exantema pode ser a esses dois sinais e aposte que pelo menos um
manifestação inicial. deles estará descrito no enunciado de um caso
de escarlatina.
Fase prodrômica
O que ocorre quando essas lesões
A história desses pacientes tem início com
desaparecem? Após três ou quatro dias, o
odinofagia e febre na ausência de tosse. No
exantema começa a desaparecer, deixando
exame físico, encontramos faringe
uma fina descamação, lembrando a
hiperemiada, amígdalas aumentadas e cobertas
descamação que ocorre após uma queimadura
com exsudato, petéquias no palato e
solar, como na (se lembra de quando você não
adenomegalia cervical. Nenhum desses dados
fazia medicina e pegava sol?). A descamação
é patognomônico ou exclusivo da faringite
começa na face e vai descendo, podendo durar
estreptocócica, mas guarde essa imagem por
por semanas. Nas extremidades pode ocorrer
ora. Nas questões de escarlatina muitas vezes
uma descamação lamelar, acometendo a região
não é sequer descrito o exame completo da
periungueal ou palmoplantar
orofaringe, diz-se apenas que o paciente
queixa-se de odinofagia. Lembre-se de que a
associação com a faringite é o mais comum,
O diagnóstico da escarlatina é eminentemente
mas que a escarlatina também pode estar
clínico. A confirmação da infecção pelo SGA
associada à infecção em outros sítios
pode ser obtida pela identificação da bactéria
Fase exantemática em material da orofaringe ou pelo aumento nos
títulos de anticorpos,
O exantema costuma surgir 24 ou 48 horas
após o início das manifestações clínicas, mas Mesmo sendo uma doença bacteriana, o curso
também pode ser a manifestação inicial. O é autolimitado na maioria das vezes. O
exantema é bem típico e é o ponto mais tratamento aqui na verdade é o tratamento da
importante para estabelecermos o diagnóstico. faringite estreptocócica. Os principais
objetivos do tratamento são encurtar a duração
Qual é o aspecto das lesões e como
da doença, reduzir a transmissão do agente
progridem? Ao observar o paciente, você tem
para outros indivíduos, reduzir o risco de
a impressão de que ele tem uma hiperemia
complicações supurativas e, sobretudo,
cutânea difusa, como você pode perceber na
prevenir a febre reumática. Mais uma vez:
Porém, o que temos na verdade são numerosas
vamos voltar a falar sobre isso, mas, para matar
lesões papulares puntiformes eritematosas, que
um pouco a sua curiosidade, vejamos o que é
sofrem clareamento à digitopressão. Ao
mais importante
tocarmos o paciente, percebemos que a pele
encontra-se áspera, como se fosse uma lixa ou Nos pacientes com o quadro clássico da
a "pele de um ganso" (ainda que você não saiba escarlatina, o tratamento deve ser iniciado
como é a pele de um ganso, guarde o aspecto imediatamente. O SGA é reconhecidamente
em lixa). Esse exantema surge em torno do sensível à penicilina e esta é a droga de escolha
pescoço e se dissemina para o tronco e para seu tratamento. Muito embora a melhora
extremidades. É mais intenso nas áreas de clínica ocorra com poucos dias de medicação,
dobras, como nas axilas, região inguinal e a antibioticoterapia por via oral deve ser
prega cubital (essa intensificação recebe o mantida por dez dias, com o objetivo de
nome de sinal de Pastia – veja ). A face em promover a erradicação do estreptococo da
geral é poupada, mas pode haver hiperemia na orofaringe e prevenir a febre reumática. As
região malar com palidez peribucal, o que drogas utilizadas incluem:
caracteriza o sinal de Filatov, como mostrado
na As regiões palmar e plantar também
costumam ser poupadas. Guarde muito bem
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 25
● Penicilina V oral: 250 mg/dose (até 27 kg) A doença de Kawasaki é uma vasculite que
ou 500 mg/dose (acima de 27 kg), 2-3 vezes ao acomete especialmente as artérias de médio
dia por dez dias, por via oral; calibre, com predileção pelas artérias
coronárias. A avaliação histopatológica de
● Penicilina G benzatina: 600.000 U (até < 27
casos fatais revela a presença de processo
kg ou 20 kg, conforme a referência usada) ou
inflamatório intenso na parede vascular. Nos
1.200.000 U (acima de 27 kg ou 20 kg) em
casos mais graves há o acometimento de todas
dose única por via intramuscular;
as três camadas da parede, com destruição da
● Amoxicilina: 50 mg/kg/dia, 2-3 vezes ao dia lâmina elástica interna, levando ao
por dez dias. Vários estudos já demonstraram enfraquecimento da parede e formação
que a amoxicilina pode ser usada no tratamento aneurismática no local. Outras vezes, a
da faringite estreptocócica em dose única regeneração é conseguida através da
diária, com a mesma e proliferação intimal, levando à estenose e
oclusão do vaso.
As alternativas para os pacientes alérgicos à
penicilina incluem cefalosporinas, como a
cefalexina, clindamicina, eritromicina ou
azitromicina. A azitromicina é a única que
pode ser usada por apenas cinco dias. As
sulfonamidas e as tetraciclinas NÃO devem ser
usadas no tratamento da faringite
estreptocócica.