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Bruno Cesar – Medicina 2023.

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poucos dias. O período de incubação se encerra


quando surgem as primeiras manifestações
clínicas.
Os termos exantema ou rash são utilizados para
descrever a presença de uma erupção cutânea Fase prodrômica: A fase prodrômica
disseminada. As doenças exantemáticas nada compreende os sintomas e sinais que surgem
mais são do que um grupo de condições antes do aparecimento do exantema. Na fase
caracterizadas pelo surgimento agudo desta prodrômica, o paciente já apresenta
erupção. Dentre as diversas etiologias para manifestações e é contagioso. Muitos dos
essas doenças, encontramos causas sinais e sintomas encontrados nessa fase são
infecciosas, medicamentosas e inespecífico, incluindo sinais constitucionais
reumatológicas. As infecções, sejam como febre, mal-estra, adinamia e sintomas
bacterianas, virais, fúngicas ou por catarrais. Além disso, nessa fase, já podemos
protozoários, representam as principais causas ter a presença de alterações nas superfícies
de exantema com febre na infância. mucosas, que recebem o nome de enantema.
Quando os pródromos surgem, sabemos que o
A erupção cutânea encontrada nos pacientes
paciente está doente, mas as vezes, ainda nem
com um quadro infeccioso pode se estabelecer
suspeitamos de que estejamos diante de uma
por vários mecanismos. Alguns agentes, como
doença exantemática.
o vírus varicela-zóster, levam à erupção por
invasão e multiplicação direta na pele. Fase exantemática: É caracterizada pelo
Também é possível que as lesões sejam surgimento do exantema. Sempre que você for
resultantes da ação de toxinas (como na avaliar a descrição do exantema, é importante
escarlatina), de processos imunoalérgicos com que você tente responder às seguintes
expressão cutânea, ou de danos vasculares com perguntas:
necrose da pele. Além disso, mais de um
• ● Qual é o aspecto das lesões?
mecanismo pode estar presente em uma
mesma doença. • ● Como essas lesões progridem?
• ● O que ocorre quando essas lesões
desaparecem? Há descamação?
As doenças exantemáticas infecciosas têm uma Aspectos
evolução clínica que pode ser dividida em
algumas fases. Os exantemas mais comuns são
maculopapulares ou vesiculares.
Período de incubação: O período de
incubação é aquele que vai do momento do Nos exantemas maculopapulares temos o
contágio (que corresponde à entrada do agente predomínio de lesões maculares (apenas
infeccioso no organismo) até o surgimento dos alteração da cor) e/ou papulares (lesões
primeiros sinais e sintomas. No período de elevadas com menos de 0,5 cm de diâmetro).
incubação, o paciente já está infectado, mas Podemos descrever o aspecto apenas como
não apresenta qualquer manifestação da sendo maculopapular, mas algumas
doença. De um modo geral, as infecções virais peculiaridades também permitem a
têm um período de incubação mais caracterização da erupção pelos seguintes
prolongado, que costuma variar entre uma e termos:
três semanas. Já os agentes bacterianos têm um
período de incubação mais curto, que dura
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● Morbiliforme: caracterizado pela presença Descamação


de lesões maculopapulares avermelhadas, com
E, por fim, a avaliação da descamação também
pele sã de permeio, podendo confluir. r. O
vai nos auxiliar. Em algumas condições, o
principal exemplo é o exantema encontrado no
desaparecimento das lesões cutâneas pode ser
sarampo (que é um Morbillivirus);
acompanhado do surgimento de descamação.
● Rubeoliforme: é um exantema semelhante ao O primeiro passo é avaliarmos se a
morbiliforme, mas as lesões aqui têm uma descamação está ausente ou presente. Se
coloração mais clara (rosada) e as pápulas são estiver presente, poderá ser de dois tipos:
menores. É o exantema mais característico dos
● Furfurácea: quando há uma descamação fina,
quadros de rubéola;
como uma "caspa". É o tipo de descamação
● Escarlatiniforme: consiste em um que encontramos no sarampo;
acometimento homogêneo da pele por lesões
● Lamelar ou laminar: é uma descamação
papulares puntiformes (micropapulares).
grosseira, em "lascas" de pele maiores. É a
Adivinhe a doença que é o protótipo desse tipo
descamação que ocorre nas extremidades na
de exantema? A escarlatina, evidentemente;
escarlatina ou na doença de Kawasaki.
● Urticariforme: caracterizado por lesões
Fase de convalescença: É a fase de
maculopapulares eritematosas, maiores e de
recuperação. Na maioria das doenças sequer
limites imprecisos. Podemos encontrar
encontramos a descrição de qualquer
quadros de exantemas urticariformes nas
manifestação que possa ser incluída nessa fase.
alergias medicamentosas, mas também em
Alguns autores incluem a descamação cutânea
doenças infecciosas.
dentro desta fase, outros preferem colocá-la
Aspecto vesicular: Caracteriza-se pela dentro da fase exantemática
presença de vesículas, que são lesões de
conteúdo líquido e seroso com até 1 cm de
diâmetro. Essas lesões podem desenvolver um Organizando o raciocínio
conteúdo purulento, passando a ser chamadas
de pústulas. Encontramos este tipo de além de buscar por sinais característicos ou
exantema nos casos de varicela e herpes- patognomônicos na fase prodrômica e
zóster. exantemática, é importante que você sempre
caracterize os seguintes pontos:
Outros: Além dos exantemas maculopapulares
e vesiculares, também podemos ter exantemas ● A idade do paciente: determinadas doenças
somente papulares, petequiais ou purpúricos e são mais características de algumas faixas
nodulares. Os exantemas petequiais ou etárias (como o exantema súbito, em lactentes,
purpúricos podem estar associados a algumas e a doença de Kawasaki, nos menores de cinco
doenças graves, como a meningococcemia anos);

Progressão ● História epidemiológica: algumas doenças


não são mais endêmicas em nosso país e, por
Após a descrição do aspecto, vamos identificar isso, o relato de viagem ao exterior ou de
de que forma as lesões progridem, isto é, onde contato com estrangeiros poderá ser uma pista
surgem e para onde vão. A progressão pode ser nos direcionando para um determinado
essencialmente craniocaudal ou então pode ser diagnóstico. A história de contato com casos
centrífuga (surge no centro do corpo e progride semelhantes também será uma ferramenta útil
em direção às extremidades). para nosso raciocínio;
● O padrão da febre: a "curva" da febre ao
longo das fases da doença é bastante
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importante. Em algumas situações, a febre Tem algum tratamento?


desaparece antes do início do exantema, o que
● Apenas suporte. A vitamina A é
nos aponta para o diagnóstico. Em outras, o
recomendada para as crianças.
prolongamento da febre além do habitual
poderá ser um sinal da ocorrência de Podemos evitar?
complicações.
● Claro! A profilaxia pré-exposição é feita
com a vacinação.
● Após a exposição (profilaxia pós exposição)

Os vírus são os principais responsáveis pelas o Vacinação de bloqueio em até 72


doenças exantemáticas infecciosas na infância. horas;
o Imunoglobulina em até seis dias
(quando a vacina estiver
contraindicada: gestantes suscetíveis,
Quem é o agente etiológico? imunodeprimidos, menores de seis
● O vírus do sarampo pertence ao gênero meses).
Morbillivirus da família Paramyxoviridae.
Como e quando ocorre a transmissão? A doença é causada pelo vírus do sarampo, um
● A transmissão é pelo contato com secreções vírus de RNA que pertence ao gênero
nasofaríngeas ou aerossol e pode ocorrer Morbillivirus da família Paramyxoviridae. Os
mesmo sem o contato face a face entre humanos são os únicos hospedeiros naturais
suscetível e doente. deste agente. O vírus contém algumas
proteínas estruturais principais, sendo que duas
● É transmissível de três dias antes até quatro delas (a proteína de fusão e a hemaglutinina, F
ou seis dias após o início do exantema. e H, respectivamente) são as mais importantes
Quais são os dados clínicos mais marcantes na indução da resposta imune. Os anticorpos
do quadro? neutralizantes produzidos pelo organismo
infectado conferem imunidade duradoura e são
● Fase prodrômica: febre, conjuntivite com dirigidos principalmente contra a proteína H.
fotofobia, tosse e manchas de Koplik (achado
patognomônico).
● Fase exantemática: exantema morbiliforme Você sabe o que é um caso autóctone de
com progressão craniocaudal. sarampo? Após um caso de sarampo ser
confirmado, deve ser feita a suas classificações
● Fase de convalescença: descamação são as seguintes:
furfurácea. A tosse é a última manifestação a
desaparecer. ● Caso importado: caso cuja infecção ocorreu
fora do país durante os 14 a 23 dias prévios ao
Qual é a principal causa de morte? surgimento do exantema, de acordo com a
análise dos dados epidemiológicos ou
● A pneumonia!
virológicos;
E qual é a complicação bacteriana mais
● Caso relacionado com importação: quando
comum?
a infecção foi contraída localmente, como
● A otite média aguda! parte de uma cadeia de transmissão originada
de um caso importado. Os casos registrados em
2018 foram casos relacionados com a
importação;
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● Caso com origem de infecção formação das células gigantes. A infecção de


desconhecida: como sugerido pela toda a mucosa respiratória será a responsável
denominação, é o caso em que não foi possível pela coriza e tosse classicamente encontradas
estabelecer a origem da fonte de infecção; na doença. Será nesta fase que o paciente
começará a eliminar o vírus, antes mesmo que
● Caso-índice: é o primeiro caso ocorrido
você suspeite que esteja diante de um caso de
entre vários casos de natureza similar e
sarampo. As células infectadas se fundem e
epidemiologicamente relacionados,
dessa fusão surgem células gigantes
encontrando se a fonte de infecção no
multinucleadas. Essas células são
território nacional;
patognomônicas do diagnóstico de sarampo e
● Caso secundário: é um caso novo, a partir recebem o nome de células gigantes de
do contato com o caso-índice; Warthin-Finkeldey quando encontradas no
sistema reticuloendotelial, ou células epiteliais
● Caso autóctone: é o primeiro caso gigantes, quando encontradas no epitélio
identificado após a confirmação da cadeia de respiratório e outras superfícies epiteliais. Um
transmissão sustentada (o vírus deve circular dado importante é que o vírus do sarampo
no país por mais de 12 meses, em uma mesma infecta os linfócitos T CD4+, o que resulta na
cadeia de transmissão). supressão da resposta imune Th1 e outros
Até início de 2019, considerava-se que o efeitos imunossupressores.
último caso autóctone de sarampo no Brasil ● Fase exantemática: o surgimento do
tivesse ocorrido em 2000, no Mato Grosso do exantema coincide com o surgimento de
Sul. Porém, tivemos casos autóctones anticorpos séricos. Por isso ocorre uma
identificados em São Paulo e tbm Pará. diminuição progressiva dos sintomas após o
A nossa história recente reacende o alerta: não início da erupção cutânea
podemos relaxar. É necessário um grande rigor a transmissão começa ainda na fase
nas estratégias de vigilância epidemiológica prodrômica. O período de transmissibilidade
para rápida detecção dos casos e adoção de se inicia cerca de três dias antes da erupção
medidas específicas de controle, permitindo cutânea e vai até quatro/seis dias após seu
que seja novamente alcançada a eliminação da início, sendo que a transmissão é mais intensa
doença em nosso meio. de dois dias antes até dois dias após o início do
exantema.

● Período de incubação: o período de A entrada do vírus no organismo ocorre pela


incubação dura entre oito e 12 dias e, nesta mucosa do trato respiratório e conjuntiva. O
fase, não há manifestações clínicas. O vírus vírus é transmitido pelo indivíduo infectado
penetra na mucosa conjuntival ou do trato através de gotículas de secreção respiratória ou
respiratório e migra em direção aos linfonodos por pequenas partículas de aerossol que o
regionais. Segue-se, então, a primeira viremia, mantém em suspensão no ar por até uma hora.
com disseminação viral para o sistema Percebeu a implicância disso? Você não
reticuloendotelial. A segunda viremia espalha precisa estar face a face com o indivíduo
o vírus pelas superfícies corporais, dando infectado para ser contaminado. Como o vírus
início à fase prodrômica. permanece suspenso no ar mesmo após a saída
do doente daquele ambiente, basta você
● Fase prodrômica: é nesta fase que começa adentrar no local em que esteve o paciente
a ocorrer a replicação do vírus em todas as infectado que você poderá contrair a infecção!
células do corpo, inclusive no sistema nervoso É também por esse motivo que os pacientes
central. Agora, terá início o processo de internados com sarampo devem ser mantidos
necrose do epitélio, multiplicação viral e em precaução de contato aéreo.
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Cerca de 90% dos indivíduos suscetíveis que mas a conjuntivite no sarampo é tão intensa
se expõem ao vírus irão adquirir a doença. A que chega a estar associada com fotofobia. É
suscetibilidade ao vírus na população não uma conjuntivite tipicamente não purulenta.
vacinada é geral, ou seja, os indivíduos que não
● Tosse: a tosse é bastante intensa e é um
foram vacinados, não tiveram a doença ou não
sintoma marcante do sarampo.
receberam anticorpos passivamente têm alto
risco de desenvolver o quadro. A primeira dose ● Manchas de Koplik: o sarampo tem um
da vacina é habitualmente administrada com enantema patognomônico, que são as manchas
12 meses de idade. Nos primeiros meses de de Koplik Se esse sinal estiver bem
vida, os filhos de mulheres que tenham tido caracterizado, podemos pensar no diagnóstico
sarampo ou que tenham sido vacinados mesmo antes da fase exantemática. As
possuem anticorpos que foram transmitidos manchas de Koplik surgem entre um e quatro
por via transplacentária. Essa proteção é dias antes do exantema e consistem em
apenas temporária, pois o recebimento passivo pequenas manchas branco azuladas com 1 mm
de anticorpos não desencadeia uma memória de diâmetro e halo eritematoso. São
imunológica. tipicamente identidades na mucosa jugal, na
altura dos pré-molares. Podem se disseminar
por toda a cavidade oral e também podem ser
identificadas na conjuntiva e mucosa vaginal
Fase exantemática
O exantema típico dura em torno de cinco dias.
Você está lembrado das perguntas que sempre
devemos fazer para caracterizá-lo?
Qual é o aspecto das lesões? A erupção
cutânea consiste em lesões maculopapulares
eritematosas, que são facilmente perceptíveis,
com áreas de pele sã de permeio, podendo
confluir em algumas áreas. Esse exantema é
chamado de morbiliforme.
Fase prodrômica Como essas lesões progridem? Essa erupção
Essa fase dura poucos dias (entre dois e tem algumas peculiaridades: tem progressão
quatro). Basta que você se lembre da agressão craniocaudal lenta e começa na fronte
que o vírus promove na mucosa respiratória e (próximo à linha de implantação capilar), na
será fácil lembrar dos sintomas encontrados. O região retroauricular e na nuca. As lesões
sarampo é a doença exantemática que tem os progridem para o tronco e atingem as
pródromos mais ricos e bem caracterizados. extremidades no terceiro dia da fase
exantemática. Em até 50% dos casos pode
● Febre: a elevação da temperatura é ocorrer o acometimento da região
progressiva e atinge seu máximo no início do palmoplantar. A confluência das lesões
exantema (no 2 o ou 3 o dia), decaindo costuma ocorrer na face e porção superior do
progressivamente a partir daí. Analisando a tronco.
você já tinha percebido essa relação. Repare
como a temperatura vai subindo e, após a Fase de convalescença ou remissão
erupção, vai, pouco a pouco, caindo. O que ocorre quando essas lesões
● Conjuntivite: a conjuntivite pode ser desaparecem? Ocorre descamação! O
encontrada em outras doenças exantemáticas, exantema adquire aspecto acastanhado e
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desaparece na mesma sequência em que dosagem de IgM e IgG, é o utilizado pela rede
surgiu, dando lugar a uma fina descamação da laboratorial de saúde pública no Brasil. O
pele, com aspecto furfuráceo ("semelhante a Ministério da Saúde reitera a importância de se
farelo") assegurar a coleta de amostra de caso suspeito,
sempre que possível, no primeiro atendimento
A linfadenomegalia está descrita em casos
mais graves e é mais proeminente na região
occipital e cervical.

Consistia em uma forma mais grave da doença


que ocorria em indivíduos que receberam uma
antiga vacina inativada contra o sarampo e
eram posteriormente infectados pelo vírus
selvagem. A evolução da doença nesses
pacientes era diferente. O quadro incluía febre
alta e cefaleia, seguido pelo aparecimento de
exantema maculopapular nas extremidades.
Este exantema tornava-se petequial ou
purpúrico e sofria progressão centrípeta, isto é, Além da identificação dos anticorpos, também
para o centro do corpo. A pneumonia com deve ser feita a identificação viral. O vírus do
derrame pleural era uma complicação sarampo pode ser identificado na urina, nas
frequente nos casos. secreções nasofaríngeas, no sangue, no liquor
ou em tecidos do corpo pela técnica de reação
em cadeia da polimerase (PCR). No protocolo
A avaliação inespecífica pouco ajuda e o que do Ministério da Saúde a indicação é de
se observa é uma redução global da pesquisa de detecção viral em amostra de
leucometria, mais acentuada na linhagem orofaringe, nasofaringe e urina. As amostras
linfocitária. As provas de atividade devem ser coletadas até o 5º dia a partir do
inflamatória, como a VHS e a proteína C- início do exantema (preferencialmente nos três
reativa são normais, a menos que exista primeiros dias). A identificação tem o intuito
alguma complicação bacteriana. de conhecer o genótipo do vírus, diferenciar
caso autóctone de importado e vírus selvagem
O diagnóstico laboratorial pode ser do vacinal.
estabelecido pela detecção de anticorpos IgM
no sangue, na fase aguda da doença. A IgM
costuma ser identificada entre um e dois dias A morbidade e mortalidade são maiores nos
após o início do exantema e permanece elevada menores de cinco anos (principalmente nos
por até um mês. Quando a coleta é feita nas menores de um ano) e nos maiores de 20 anos.
primeiras 72 horas após o início do exantema e Os principais fatores de risco associados ao
o resultado é negativo, deve ser solicitada uma aumento na morbimortalidade são as
nova amostra. Os anticorpos específico da aglomerações, a desnutrição grave, a
classe IgG também podem eventualmente hipovitaminose A e os quadros de
aparecer na fase aguda da doença e são imunossupressão.
detectados por muitos anos após a infecção.
Existem diversas técnicas laboratoriais para a
identificação desses anticorpos, sendo que
ensaio imunoenzimático (ELISA), para
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No trato respiratório ● Encefalite


● Pneumonia A encefalite é uma complicação grave, que
tem um prognóstico desfavorável. Os
É a principal causa de morte no sarampo! O
adolescentes e adultos jovens são os mais
acometimento do pulmão pode ocorrer tanto
acometidos e há relatos de incidência de até 1-
pela ação lesiva do próprio vírus no
3 casos a cada 1.000 indivíduos infectados.
parênquima (pneumonia por células gigantes)
Quinze por cento dos pacientes com encefalite
quanto por superinfecção bacteriana (por
morrem, e entre 20 e 40% permanecem com
Streptococcus pneumoniae, Haemophilus
sequelas em longo prazo. Acredita-se que o
influenzae ou Staphylococcus aureus), que é
quadro seja uma complicação pós infecciosa,
favorecida pela lesão tecidual provocada pelo
mediada imunologicamente, ou seja, não
vírus associada à depressão imunológica. A
decorra da agressão direta do vírus ao sistema
pneumonia grave pelo sarampo pode levar ao
nervoso central. As manifestações clínicas
desenvolvimento de bronquiolite obliterante.
surgem ainda na fase exantemática e incluem
● Otite média aguda convulsões, letargia, irritabilidade e coma. A
análise do liquor revela pleocitose linfocítica e
É a complicação bacteriana mais comum do aumento da proteinorraquia. Os pacientes
sarampo! Respire e leia novamente: a principal imunocomprometidos podem apresentar lesão
causa de morte no sarampo é a pneumonia, mas do parênquima cerebral pela ação viral
a complicação bacteriana mais frequente é a específica. Estes pacientes apresentam um
otite média aguda. Faça a analogia com o que quadro subagudo, com o início das
você sabe sobre as infecções respiratórias manifestações neurológicas um a dez meses
agudas de um modo geral (se ainda não sabe, após a primoinfecção. O quadro é progressivo
saberá em poucas semanas): qual é a e fatal.
complicação bacteriana mais comum das
infecções das vias aéreas superiores? A otite ● Panencefalite esclerosante subaguda
média aguda, claro!
Esta complicação merece um destaque
No TGI especial. A Panencefalite Esclerosante
Subaguda (PEES) é uma rara doença
● Diarreia e vômitos neurodegenerativa crônica e fatal, que ocorre
São manifestações comuns na evolução do cerca de sete a dez anos após a infecção pelo
sarampo e podem levar à desidratação. A vírus do sarampo. Ocorre principalmente em
análise da mucosa intestinal desses pacientes crianças que tenham tido a infecção antes dos
revela a formação de infiltrados de células dois anos de idade.
gigantes
● Apendicite Não há tratamento específico. A internação
Pode ocorrer por hiperplasia linfoide na hospitalar está indicada nos casos graves. As
mucosa local, com consequente obstrução medidas de suporte incluem hidratação
luminal. adequada, uso de antipiréticos (como
acetaminofeno; dipirona), uso de oxigênio
No SNC umidificados (para os pacientes com
● Convulsões comprometimento respiratório) e suporte
ventilatório nos casos graves. Não é
Crises febris acontecem em menos de 3% das recomendado o uso de antibioticoterapia
crianças com sarampo. profilática
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A ribavirina tem efeito in vitro contra o com o componente sarampo, devem receber
sarampo. O seu uso, com ou sem uma dose da tríplice viral. Nestas situações de
gamaglobulina associada, parece ter benefício bloqueio, as crianças a partir de seis meses
em alguns casos, mas não há ensaios podem receber uma dose da vacina. Um
randomizados comprovando o benefício. A cuidado que você deve ter aqui é o seguinte:
única droga realmente utilizada é a vitamina A. caso uma criança com idade entre seis meses e
A hipovitaminose A é um reconhecido fator de um ano receba essa vacina, esta dose não deve
risco para a doença e o uso da vitamina é capaz ser considerada como dose de rotina. Assim,
de promover a redução da morbidade e essa criança irá receber as duas doses do
mortalidade do sarampo. Os manuais do Calendário Básico normalmente. E, neste
Ministério da Saúde recomendam que se momento, você se pergunta: qual o sentido de
administre a vitamina A em todas as crianças vacinarmos um indivíduo que já foi exposto ao
em duas doses (no mesmo dia do diagnóstico e vírus? É fácil de entender. A vacina consegue
no dia seguinte) da seguinte forma: desencadear a produção de anticorpos no
indivíduo em um tempo menor que o período
o ● Crianças < 6 meses: 50.000 UI em
de incubação da doença. É uma corrida contra
cada dose;
o tempo. Por esse motivo, a vacina deve ser
o ● Crianças 6-12 meses: 100.000 UI em
administrada até 72 horas após a exposição.
cada dose;
o ● Crianças > 12 meses: 200.000 UI em Imunoglobulina – ate 6 dias
cada dose.
A vacina contra sarampo é uma vacina de
agente vivo atenuado e está contraindicada em
algumas situações. Uma alternativa para a
O paciente infectado deve evitar o contato com
proteção dos pacientes que não podem receber
os suscetíveis até quatro ou seis dias após o
a vacina é o uso de imunoglobulina. O
início do exantema, lembrando que o tempo de
Ministério da Saúde não se pronuncia sobre
eliminação do vírus pode ser mais prolongado
isso em seus principais documentos, ainda que
no imunodeprimido. Quando internado, o
algumas Secretarias de Saúde estaduais
paciente deve ser mantido em precaução para
recomendem esta medida. Encontramos em
transmissão aérea. No plano individual, o
várias fontes a recomendação da administração
isolamento domiciliar ou hospitalar dos casos
de imunoglobulina até seis dias após a
consegue diminuir a intensidade dos contágios.
exposição para os contactantes
Esse impacto é relativo, pois a transmissão já
intradomiciliares suscetíveis menores de seis
estava ocorrendo desde a fase prodrômica.
meses, gestantes e imunocomprometidos.
Vacinação de bloqueio ate 72H
Após a notificação de um caso suspeito, a ação
de bloqueio vacinal seletivo (vacinação dos A rubéola é uma doença que costuma ter
suscetíveis) deve ser desencadeada evolução benigna na infância. Pode lembrar
imediatamente e deve abranger as pessoas do uma forma branda de um caso de sarampo, um
mesmo domicílio do caso suspeito, vizinhos "sarampinho", sendo também conhecida como
próximos, creches, ou, quando for o caso, as "sarampo alemão". Mas se a doença é branda,
pessoas da mesma sala de aula, do mesmo por que ouvimos tanto falar sobre a
quarto de alojamento ou da sala de trabalho. Os importância da vacina contra rubéola? A
contactantes com idade entre um e 49 anos grande preocupação relacionada a esta
devem ser vacinados conforme as orientações infecção é com a síndrome da rubéola
do Programa Nacional de Imunizações; os congênita. A infecção no início da gestação é
indivíduos com mais de 50 anos que não devastadora e pode acarretar em abortamentos,
comprovarem o recebimento de nenhuma dose
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natimortos ou levar a malformações congênitas contaminados com secreções nasofaríngeas,


graves. sangue e urina

A doença pós-natal é leve e breve. Da mesma


maneira que ocorre com várias doenças virais,
o quadro nas crianças é mais leve do que o
encontrado nos adultos. As infecções
subclínicas são bastante frequentes e até 25-
40% das crianças não apresentam o exantema.
O período de incubação dura em torno de 14 a
21 dias e as manifestações clínicas, quando
surgem, distribuem-se em duas fases:
prodrômica e exantemática.
Fase prodrômica
Os pródromos são mais comuns nos
adolescentes e adultos e costumam estar
ausentes nas crianças. Essa fase tem duração
de poucos dias e podemos encontrar sintomas
inespecíficos, como febre baixa, dor de
garganta, conjuntivite, cefaleia, mal-estar e
anorexia. Esses sintomas vão desaparecendo
aos poucos após o início do exantema.
Porém, o que realmente nos ajuda, é a
identificação de linfadenomegalia. As cadeias
mais acometidas são suboccipital,
retroauricular e cervical posterior
Fase exantemática
O vírus entra no organismo através do epitélio
respiratório, dissemina-se pelos linfonodos Qual é o aspecto das lesões? O exantema da
regionais e daí ocorre a viremia com rubéola é maculopapular róseo (rubeoliforme).
disseminação sistêmica. Há inflamação As lesões são bem menos evidentes do que
linforreticular, infiltrado mononuclear àquelas do sarampo.
perivascular e infiltrado meníngeo. Como essas lesões progridem? As primeiras
A transmissão se dá através do contato com as lesões surgem na face e pescoço e a
secreções nasofaríngeas provenientes do disseminação ocorre para o tronco e
paciente infectado. O período de maior extremidades, de forma mais rápida do que
transmissibilidade vai de cinco dias antes até ocorre no sarampo. Quando as lesões surgem
seis dias após o início do exantema, embora no tronco, podem já estar desaparecendo da
possa ocorrer eliminação do vírus por um face. A duração total do exantema não costuma
período mais extenso. Mesmo os pacientes ultrapassar três dias. Essas lesões podem
com infecção subclínica são capazes de coalescer na face e, ao desaparecerem, não
infectar os suscetíveis. Embora não seja apresentam descamação.
frequente, também é possível a transmissão Existe mais algum dado característico dessa
indireta pelo contato com objetos fase? Lá no sarampo tínhamos as manchas de
Koplik, que eram patognomônicas do
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diagnóstico. Aqui na rubéola também temos infectados previamente ou tinham sido


alterações características, embora não vacinados.
patognomônicas, que são as manchas de
Forchheimer. Estas manchas consistem em
lesões puntiformes rosadas identificadas
quando o exantema surge.

Os achados em exames inespecíficos sao


pouco característicos e incluem leucopenia,
neutropenia e trombocitopenia discreta.
Detecção de anticorpos
O diagnóstico laboratorial de fato é feito pela
detecção de anticorpos IgM no sangue na fase
aguda da doença. Os anticorpos específicas da
classe IgG podem eventualmente aparecer na
fase aguda e, geralmente, continuam sendo
detectados muitos anos após a infecção.
Existem diferentes técnicas laboratoriais para
identificação dos anticorpos, mas, no Brasil, a
rede laboratorial de saúde pública de referência
utiliza a técnica de ELISA para detecção de
IgM e IgG para a rubéola.
Identificação viral
A identificação viral também é feita com o
objetivo de identificar o padrão genético
circulante no país, diferenciar os casos
autóctones da rubéola dos casos importados e
diferenciar o vírus selvagem do vírus vacinal.
O vírus pode ser identificado na urina, nas
secreções nasofaríngeas, no sangue ou em
tecidos do corpo. As amostras devem ser
coletadas até o 5º dia a partir do início do
exantema (a urina é o material de escolha).
O parvovírus B19 só consegue se replicar em
células com alta atividade mitótica, pois é
totalmente dependente do material genético
Não há tratamento específicos. São usados
celular para sua multiplicação. Esse vírus só é
apenas analgésicos e antipiréticos para
capaz de se propagar de forma eficientes por
controle da artralgia e da febre. O uso de
células precursoras da linhagem eritroide
imunoglobulina e corticoides pode ser
próximas ao estágio de proeritroblasto. O
considerado nos casos de trombocitopenia
tropismo por essa linhagem está relacionado à
grave.
presença do antígeno P nessas células, que é o
O prognóstico dos casos de rubéola pós-natal é principal receptor para o vírus. Sabendo que a
ótimo. Existem relatos de reinfecção com vírus infecção provoca a lise celular, responda
selvagem em indivíduos que já tinham sido rápido: qual será a consequência da destruição
dos precursores eritroides? Uma interrupção
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 11

temporária da eritropoiese, claro. Este receptor Voltando agora às alterações clínicas, perceba
também é encontrado em células endoteliais, que o quadro de eritema infeccioso
da placenta e no miocárdio fetal. Daqui a propriamente dito, indicado pela barra
pouco veremos o que o vírus promove nesses vermelha, ocorre vários dias após o período de
outros sítios. manifestações inespecíficas: na verdade, o
paciente permanece alguns dias sem sintomas
entre esses dois momentos! A doença
exantemática costuma ocorrer entre 17 a 18
dias após o contágio inicial e não está mais
associada a um efeito direto do vírus. Compare
o momento em que essas manifestações
surgem com o período em que se observa a
viremia e confirme que já não há mais detecção
do vírus nessa fase. Acredita-se que essas
manifestações sejam o resultado de um
fenômeno pós-infeccioso relacionado a um
processo imunomediado.
Observe as barras horizontais e veja que temos A transmissão ocorre através das secreções
dois momentos distintos nos quais há nasofaríngeas do infectado, lembrando que
manifestações clínicas: a barra verde indica o essas secreções só contêm o vírus no período
momento em que há sintomas inespecíficas e em que está ocorrendo a viremia. Deste modo,
coincide com o período em que ocorre a o indivíduo infectado elimina o vírus de sete a
viremia, representado pela curva azul. Ainda 11 dias após a inoculação.
neste mesmo momento, encontramos a queda
na contagem de reticulócitos, que está Na fase que surge o exantema que caracteriza
representada pela curva laranja pontilhada, o eritema infeccioso, o indivíduo já não é mais
como consequência da interrupção da capaz de transmitir a doença. Isso não ocorre
eritropoiese. Nos pacientes com produção em nenhuma das outras doenças exantemáticas
eritrocitária normal, essa breve interrupção que vimos até agora e terá implicância direta
provoca no máximo uma discreta queda na no manejo do paciente. Responda
hemoglobina. Já nos pacientes com hemólise rapidamente: uma criança que está na fase
crônica, a história será outra. Também costuma exantemática precisa ser afastada do contato
ocorrer neutropenia e trombocitopenia, mas a com outras? Claro que não! As taxas de
patogênese dessas alterações não é totalmente transmissão são variáveis e temos a descrição
elucidada. de taxas de ataque secundário de 15-30% nos
contactantes domiciliares suscetíveis e de até
Repare agora que o aparecimento dos 60% em surtos em escolas
anticorpos, ilustrado pela curva rosa, ocorre
cerca de um a dois dias após o início das Embora a principal forma de transmissão seja
manifestações inespecíficas e coincide com a pela via respiratória, o vírus é encontrado no
regressão dos sintomas iniciais e a retomada da sangue e pode ser transmitido por
eritropoiese. A imunidade humoral exerce um hemoderivados. A transmissão por meio de
papel crucial no controle da infecção pelo fômites não é bem estabelecida.
vírus. Indivíduos com imunidade humoral
prejudicada estão sob risco elevado de adquirir
uma infecção crônica pelo parvovírus B19 e, Muitas das infecções pelo parvovírus B19 são
consequentemente, aplasia medular crônica. assintomáticas
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 12

Eritema infeccioso Artropatia


O eritema infeccioso é a manifestação mais As manifestações articulares são mais comuns
comum da infecção pelo parvovírus B19. O em adolescentes e adultos, principalmente do
período de incubação dura em média 17-18 sexo feminino. Pode haver desde uma queixa
dias. A maioria dos pacientes não refere de artralgia até um quadro de artrite evidente.
sintomas correspondentes à fase prodrômica Todas as articulações podem ser acometidas,
ou refere sintomas leves. Alguns autores mas as mais comuns são as das mãos, punhos,
chegam mesmo a afirmar que não há tornozelos e joelhos. Esse quadro pode ocorrer
pródromos. Esses pacientes mantêm-se em isoladamente ou em associação com outros
bom estado geral, sem manifestações sintomas e, da mesma forma que ocorre com o
sistêmicas associadas ao quadro cutâneo. De eritema infeccioso, é um evento
todo modo, o que nos permite pensar nesse imunomediado, não sendo decorrente de
diagnóstico não é a presença de qualquer agressão direta pelo vírus.
pródromo, mas sim a evolução característica
Crise aplástica transitória
do exantema.
Vimos que o vírus causa uma interrupção
É um exantema que evolui caracteristicamente
temporária na eritropoiese, não é? No
em três estágios ou fases.
indivíduo sem comorbidade hematológica,
● Na primeira fase há um eritema malar essa interrupção temporária não terá
bilateral, que dá ao paciente o aspecto de "face consequências importantes. Agora, imagine o
esbofeteada" ou, como alguns preferem, em que acontecerá com um falcêmico, com
"asa de borboleta". Essa alteração pode vir hemácias de meia-vida mais curta, que tenha
acompanhada de uma relativa palidez sua eritropoiese interrompida...
peribucal
Os indivíduos com doenças hemolíticas
Na segunda fase, cerca de um a quatro dias crônicas (como anemia falciforme, talassemia,
após, ocorre a disseminação do exantema para esferocitose hereditária ou deficiência de
o tronco e extremidades proximais, piruvato quinase) apresentam um rápido
principalmente nas superfícies extensoras, turnover celular e essa interrupção da
comumente poupando a região palmoplantar. eritropoiese com reticulocitopenia absoluta irá
Identificamos lesões maculares eritematosas levar a uma queda abrupta da hemoglobina.
que sofrem um clareamento central, Essa crise aplásica coincide com a viremia e,
adquirindo um aspecto rendilhado ou evidentemente, o período de incubação será
reticulado. Alguns pacientes queixam-se de mais curto do que o observado no eritema
um leve prurido. As lesões desaparecem sem infeccioso.
descamação.
Além disso, o paciente aqui está agudamente
Finalmente, ocorre a terceira fase, com doente, com febre, mal-estar, letargia, além das
duração de uma a três semanas, caracterizada manifestações da anemia, como palidez,
por um período em que o exantema recidiva taquicardia e taquipneia. Raramente, pode
quando o paciente se expõe ao sol, calor, haver um exantema associado. O quadro é
estresse e exercício. Um cuidado que você autolimitado ("transitório"), mas necessita de
deve ter é que nem sempre a evolução da suporte terapêutico, como hemotransfusão.
primeira para a segunda fase é bem evidente,
Imunocomprometidos
com as manifestações podendo surgir
simultaneamente. Não afaste o diagnóstico por Os pacientes que apresentam um
isso. comprometimento da imunidade humoral
podem apresentar uma infecção persistente
pelo parvovírus B19. Esses indivíduos
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 13

apresentam anticorpos contra o vírus em títulos No caso da infecção fetal e dos pacientes com
muito baixos ou ausentes e o DNA viral é hemólise crônica, o tratamento será de suporte
identificado no soro de forma persistente ou através da hemotransfusão, que pode ser feita
recorrente. A manifestação mais comum é uma mesmo durante a vida intrauterina.
anemia crônica, que pode eventualmente ser
acompanhada por neutropenia, plaquetopenia
ou supressão medular completa. Atualmente, ainda não existem medidas
específicas como vacinas no controle pré ou
Síndrome papular-purpurica em “luvas e
pós-exposição, embora existam estudos nesse
meias”
sentido. A forma que temos de prevenir a
É uma síndrome pouco comum, caracterizada doença é interrompendo a cadeia de
pela associação de febre com prurido e eritema transmissão. Lembre-se de que as crianças com
com edema doloroso nas mãos e pés, seguindo eritema infeccioso podem ir para a escola, sem
uma distribuição em "luvas e meias". Há restrições, pois já não eliminam mais o vírus.
também petéquias de distribuição acral e Na prática, vemos crianças sendo mantidas em
lesões orais. O quadro está associado casa até a resolução do quadro, o que revela um
basicamente à infecção pelo parvovírus B19. profundo desconhecimento da patogênese da
doença.

O diagnóstico de eritema infeccioso é, na


maioria dos casos, definido pela evolução
clínica do exantema, que é bastante específica
desta doença. A confirmação virológica pode
ser dispensada mesmo nos casos de crise
aplásica transitória típica nos falcêmicos.
A IgM é detectada logo após o início das
manifestações clínicas e permanece elevada
por seis a oito semanas, sendo o melhor
marcador da infecção aguda. A IgG indica
imunidade e infecção prévia, mas pode indicar
a infecção aguda quando é demonstrada a
elevação dos títulos em amostras pareadas.

Não há qualquer terapia específica contra o


parvovírus B19 e na maior parte das vezes não
há indicação de tratamento, pois o quadro é
autolimitado e a infecção leva à imunidade
duradoura. O quadro de artropatia deve ser Alguns até lembram-se do outro nome
manejado com sintomáticos (analgésicos ou utilizado para essa condição, que é roséola ou
anti-inflamatorios não esteroidais) roseola infantum
Os imunodeprimidos com anemia crônica e O exantema súbito é causado pelos herpesvírus
supressão medular podem se beneficiar da humano 6 (HHV- 6) A e B, sendo que o HHV-
infusão o intravenosa de imunoglobulina. Nos 6B é o mais comum. Também pode ser
pacientes com HIV, a resolução da infecção causado, com menor frequência, pelo
pode ocorrer pela utilização da terapia herpesvírus humano 7 (HHV-7). Esses vírus de
antirretroviral eficaz. DNA representam o gênero Roseolovirus da
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 14

subfamília dos beta-herpesvírus da família de contaminação ocorra pelo contato com a


Herpesviridae. saliva desses adultos assintomáticos, já que o
vírus estabelece infecção persistente nas
O exantema súbito tem uma grande
glândulas salivares. Já imaginou como pode
peculiaridade: é uma doença exantemática bem
ocorrer a transmissão, não é? Ao beijar o bebê,
típica de lactentes. Até 95% das crianças são
além de dar amor e carinho, você também
infectadas pelo HHV-6 antes dos dois anos de
poderá estar dando HHV-6. Não é fácil
idade, sendo que o pico de incidência da
precisar quem foi o responsável pela
infecção ocorre entre seis e nove meses. Não
transmissão do vírus para a indefesa criança.
parece haver variação sazonal. A idade média
da primoinfecção pelo HHV-7 parece ser um É por isso que a infecção é tão comum já nos
pouco maior. A infecção pelo HHV-6 não é primeiros dois anos de vida. A exposição ao
comum nos primeiros meses de vida por um vírus ocorre o tempo todo, pois a maioria dos
motivo simples: a presença dos altos títulos de adultos, ainda que absolutamente saudáveis,
anticorpos maternos passados por via elimina o vírus na saliva. Nos primeiros meses
transplacentária protege a criança nos de vida, os anticorpos maternos oferecem
primeiros meses. Já dá para começar a alguma proteção para o lactente e é por isso
imaginar por qual motivo essa doença é mais que o pico de infecção tem início apenas após
comum nos lactentes o primeiro semestre. Porém, conforme esses
anticorpos vão saindo da circulação,
virtualmente todas as crianças vão sendo
O vírus penetra no organismo através da infectadas e algumas evoluem com
mucosa oral, nasal ou conjuntival, e se replica manifestações clínicas.
em sítios desconhecidos, produzindo a viremia
encontrada na infecção primária. A infecção
primária pelo HHV-6 ou pelo HHV-7 é Vamos pensar no diagnóstico de exantema
seguida por um período de latência prolongado súbito principalmente avaliando a evolução da
ou mesmo pela persistência da infecção em doença, isto é, de que modo a fase prodrômica
alguns sítios. Os vírus têm tropismo por várias e a fase exantemática se relacionam.
células e sítios, tais como linfócitos T CD4+,
Fase prodrômica
monócitos, macrófagos, glândulas salivares,
células precursoras na medula óssea, células da Já que é difícil precisar o momento exato do
linhagem epitelial, células da linhagem contágio, também é difícil precisar o período
endotelial e células do sistema nervoso central. de incubação da doença. Alguns estudos
A infecção persistente nas glândulas salivares apontam uma incubação de uma a duas
pode ser demonstrada pela identificação do semanas. Findo esse período, surgem as
DNA viral na saliva de adultos e crianças. manifestações da fase prodrômica, que tem
como característica mais marcante a presença
A imunidade celular desempenha um papel
de febre alta. Essa febre tipicamente
crítico no controle e na persistência ou
desaparece em crise após 72 horas. O que
reativação da infecção. Nas situações de
significa esse desaparecimento "em crise"? É o
comprometimento da imunidade celular, como
desaparecimento repentino, de uma hora para a
após transplantes de medula óssea ou
outra. É distinto do desaparecimento "em lise",
transplantes sólidos, pode ocorrer a reativação
que é mais progressivo. O desaparecimento em
da doença, com infecção disseminada.
lise até pode ocorrer, mas não é o mais típico.
Outras alterações que podem ser encontradas
A maior fonte de infecção são os adultos nos pródromos incluem irritabilidade,
saudáveis. Acredita-se que a principal forma hiperemia faríngea, conjuntival ou da
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 15

membrana timpânica, rinorreia, sintomas


gastrointestinais, além de linfadenomegalia
O exantema súbito fará diagnóstico diferencial
nas cadeias da cabeça e pescoço. Existe algum
com várias condições, como a rubéola e as
enantema típico dessa condição? Na avaliação
enteroviroses. Porém, existe um diagnóstico
da cavidade oral, podem ser identificadas
diferencial em especial que muitas vezes
principalmente em crianças de países asiáticos.
precisa ser feito. Imagine um lactente que,
Fase exantemática durante três dias, apresenta febre alta e quase
nenhuma outra manifestação associada..
O exantema tipicamente surge algumas horas
após o desaparecimento da febre. Imagine agora que, no terceiro dia de febre, é
visualizada hiperemia da membrana
Qual é o aspecto das lesões? Esse exantema é
timpânica...
caracterizado pela presença de lesões
maculopapulares róseas, não pruriginosas. "Será que uma otite média aguda é a causa da
Também é possível a presença de um exantema febre? Será que não é melhor prescrever um
morbiliforme antibiótico?"
Como essas lesões progridem? Um dado O antibiótico é prescrito (ainda que essa
importante é que esse exantema indicação não seja muito correta,
caracteristicamente surge no tronco e daí se
Algumas horas depois, a febre desaparece e
dissemina para a cabeça e extremidades, de
surge o exantema! E agora: a criança realmente
forma centrífuga. Esse padrão é bem diferente
tinha otite e tem uma reação alérgica ao
do observado nas demais doenças que vimos
antibiótico ou a criança tem exantema súbito e
até agora, não é verdade? Até agora tínhamos
a medicação foi desnecessária? Essa distinção
visto exantemas que começavam na cabeça e
nem sempre é simples. Porém, nas reações
tinham progressão craniocaudal. A duração do
adversas será mais comum a associação com
exantema é breve, chegando a durar apenas
prurido e eosinofilia no sangue periférico, caso
algumas horas, e entre um a três dias já terá
um hemograma seja realizado.
desaparecido, sem descamação. A é bem
representativa do quadro: lactente, com A avaliação complementar é geralmente
exantema claro (por vezes é até difícil de desnecessária e podemos estabelecer o
percebê-lo) e mais evidente no tronco diagnóstico com base na evolução clínica
característica. Porém, muitas vezes essas
Se o HHV-6 pode causar infecção latente, o
crianças são atendidas antes do aparecimento
que ocorre na reativação? Essa reativação pode
do exantema e acabam sendo submetidas a
ou não ser acompanhada de manifestações
vários exames complementares.
clínicas. Uma das grandes preocupações é a
reativação no imunossuprimido, Na infecção pelo HHV-6, podemos encontrar
principalmente após transplantes. Acredita-se uma queda na leucometria total, com queda no
que um percentual das complicações número de linfócitos e neutrófilos. Pode haver
observadas após o transplante de células- linfocitose relativa, mas não há nada de muito
tronco hematopoiéticas esteja associado à característico.
reativação da infecção. O quadro de encefalite
A pesquisa de anticorpos para HHV-6 e HHV-
límbica aguda pós-transplante (PALE) foi
7 pode ser feita através de várias técnicas. O
descrito após transplante de células-tronco
aumento nos título de IgM ocorre já em fases
hematopoiéticas e caracteriza-se por perda de
iniciais da doença, mas não permite a distinção
memória, confusão e insônia com convulsões;
entre uma infecção primária e a reativação da
trata-se de uma condição com mortalidade
infecção pelo vírus. A demonstração da
elevada e risco de sequelas neurocognitivas em
soroconversão pelo pareamento de amostras da
longo prazo.
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 16

fase aguda com amostras após algumas A varicela nada mais é do que a famosa
semanas também pode indicar infecção catapora. Esta doença costuma ter um curso
primária. Porém, isso só serve para a avaliação benigno e autolimitado na infância. Embora
retrospectiva do caso. Na hora do sufoco, em seja uma doença imunoprevenível, continua
que queremos definir o diagnóstico de um sendo bastante comum em nosso meio, uma
lactente com febre, isso não nos ajuda. vez que a vacina contra varicela foi introduzida
no Calendário Básico da Criança apenas no
segundo semestre de 2013.
Não há necessidade de qualquer tratamento
A doença é causada pelo Vírus Varicela-Zóster
para os quadros de exantema súbito, apenas o
(VVZ), um alfaherpesvírus de DNA da família
uso de antipiréticos para a febre. O tratamento
Herpesviridae. O ser humano é o único
específico está reservado para quadros mais
reservatório do agente
graves, como os de encefalite ou PALE,
principalmente nos imunodeprimidos. As
drogas utilizadas incluem ganciclovir,
O vírus é encontrado nas secreções
cidofovir e foscarnet, muito embora a real
respiratórias e no líquido das lesões cutâneas
eficácia do tratamento seja ainda questionável.
do paciente com varicela e pode disseminar-se
por via aérea por aerossóis e pelo contato direto
com as lesões. A transmissibilidade tem início
de um a dois dias antes do surgimento do
exantema e persiste até o momento em que
todas as vesículas tornam se crostas (o que
em geral ocorre de três a sete dias após o início
das lesões). Repetindo o que já vimos várias
vezes em outras doenças exantemáticas: o
vírus começa a ser transmitido mesmo antes de
suspeitarmos que o paciente possa estar com a
doença. Quando afastamos a criança com
varicela da escola, uma parte do estrago já
ocorreu.
O vírus é inoculado na mucosa do trato
respiratório superior e nos tecidos linfoides e
começa a se replicar. Tem início o período de
incubação da doença, que dura entre 10 e 21
dias (esse é um período que você deve
guardar!). Ocorre uma primeira viremia
subclínica, que espalha o vírus pelo sistema
reticuloendotelial. Passam-se alguns dias e
ocorre a disseminação cutânea do vírus por
meio de uma segunda viremia, que dura de três
a sete dias. Próximo ao fim do período de
incubação, o vírus é novamente transportado
para a mucosa respiratória, começando a ser
eliminado antes do aparecimento do exantema.
Não tínhamos dito que a doença é
autolimitada? A limitação é imposta pela
própria resposta imune do hospedeiro, que é
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 17

capaz de conter a replicação viral. A resposta adultos podem apresentar febre, geralmente
imune celular é fundamental para frear a moderada, mal-estar, adinamia, anorexia e dor
replicação do vírus, impedindo a disseminação abdominal. Esses sintomas surgem um a dois
da infecção para órgãos como pulmão, fígado dias antes do exantema e em nada nos auxiliam
e cérebro. Se houver um comprometimento no raciocínio diagnóstico. A febre e os outros
dessa resposta, poderá haver doença sinais sistêmicos, quando presentes, costumam
disseminada. É por isso que a história natural desaparecer em até dois ou quatro dias após o
da doença é bem diferente no surgimento da erupção cutânea
imunocomprometido
Fase Exantemática
Mas e quando a infecção primária é finalmente
Qual é o aspecto das lesões? A lesão inicial
contida, você acha que acabou? Claro que não.
consiste em uma mácula eritematosa e
Após o controle da doença, o VVZ não é
pruriginosa, que se converte em uma pápula,
eliminado do organismo. Ele caminha de
que evolui em vesícula de conteúdo cristalino.
forma retrógrada pelos axônios sensoriais e
Essa vesícula lembra uma "gota de orvalho
alcança os gânglios das raízes dorsais,
sobre uma pétala de rosa". Poético, não? Em
permanecendo em estado de latência por
24- 48 horas, ou menos, cada vesícula evolui
muitos anos. O vírus latente pode sofrer
como pústula com umbilicação central e
reativação, replicar-se nos gânglios e fazer o
formação de crostas
caminho de volta pelos nervos até a área de
pele correspondente a um dermátomo, levando Cada nova lesão que surge evolui dessa
ao surgimento das lesões do quadro de herpes- maneira. Veja agora que interessante: ao
zóster. mesmo tempo em que algumas vesículas já se
tornaram crostas, há novas vesículas surgindo.
Por este motivo, em uma mesma região do
H O diagnóstico clínico costuma ser bastante corpo, podemos encontrar lesões em vários
simples. Na vida real, quando estamos estágios evolutivos, que dá origem ao
avaliando uma criança com uma doença polimorfismo regional,
exantemática, não é incomum coçarmos um
Como essas lesões progridem? As primeiras
pouco a cabeça e dizermos para a mãe do
lesões em geral surgem no couro cabeludo, na
paciente: "Bem... Hummm... Deve ser alguma
face e no tronco. No exame geral do paciente
doença viral, mas precisamos confirmar com a
você é capaz de perceber que o exantema tem
sorologia..." Aqui a história é outra. A sua
uma distribuição centrípeta, ou seja, é mais
vizinha pode te mostrar o filho no elevador do
evidente no centro do corpo (veja a ). Essas
prédio e você é capaz de bradar com orgulho e
lesões se disseminam do centro para a
convicção: "Sim! Não tenho dúvidas: é
periferia, o que caracteriza uma disseminação
catapora!
centrífuga. Alguém já se deu ao trabalho de
O período de incubação, você já sabe, pode contar e observou que há, em média, 300
durar entre 10 e 21 dias, mas a doença costuma lesões presentes. O segundo caso dentro de um
começar entre 14 e 16 dias após o contágio. mesmo domicílio (caso secundário) costuma
Seguindo o mesmo esquema, vamos separar os ter um número maior de lesões e apresenta o
pródromos da fase exantemática surgimento de novas lesões durante um
período de tempo mais prolongado. Os
Fase prodrômica
pacientes com doenças cutâneas também
As crianças menores simplesmente não podem ter um exantema mais extenso.
costumam apresentar pródromos. As
Conforme a resposta imune do hospedeiro vai
manifestações cutâneas costumam ser as
controlando a replicação viral, o aparecimento
primeiras alterações. As crianças maiores e
de novas lesões vai sendo interrompido. O
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 18

surgimento das novas lesões dura, em média,


entre dois e quatro dias. No momento em que
O tratamento é simplesmente sintomático na
todas as lesões tornam-se crostas e novas
maior parte das vezes e inclui o uso de
lesões param de surgir, sabemos que a viremia
antitérmicos, em caso de febre, e anti-
foi interrompida. Isso é fundamental para
histamínicos sistêmicos, para controle do
definirmos o momento em que o indivíduo
prurido. As unhas devem ser mantidas curtas.
parou de transmitir o vírus e pode retomar suas
As infecções bacterianas secundárias serão
atividades normais, como ir à creche ou à
tratadas com antibióticos orais ou parenterais,
escola.
de acordo com a gravidade do quadro.
O que ocorre quando essas lesões
Temos aqui a possibilidade de realizar um
desaparecem? Todas as crostas irão
tratamento específico. Até agora em todas as
desaparecer entre uma e duas semanas
doenças virais o máximo que fazíamos era
deixando áreas de hipo ou hiperpigmentação.
prescrever sintomáticos...). O aciclovir é capaz
A formação de cicatrizes permanentes não é
de modificar o curso da doença. Ainda assim,
comum, exceto quando ocorre a infecção
seu uso não é recomendado de forma rotineira
secundária de uma lesão. Você tem alguma
para o tratamento de todas as crianças com
cicatriz que lhe disseram que era por
varicela que sejam previamente hígidas. O
"catapora"? É possível que ela seja o fruto de
tratamento pode ser feito por via oral ou
uma lesão infectada.
parenteral, da seguinte forma:
● Aciclovir oral:
Na maioria das vezes, não será necessária a
Dose: 20 mg/kg/dose (máximo 800 mg) em
realização de exames complementares para
quatro doses ao dia, por cinco dias. Deve ser
confirmação do diagnóstico de varicela. Essa
iniciado idealmente nas primeiras 24 horas do
confirmação poderá ser necessária quando
início do exantema ou até no máximo em 72
houver dúvidas no diagnóstico de um paciente
horas (não parece ser eficaz se iniciado após
de alto risco, para os quais é necessária a
esse período)
adoção rápida de medidas específicas
se iniciado após esse período). As principais
Na avaliação laboratorial geral, encontramos
situações em que o uso do aciclovir oral deve
leucopenia nas primeiras 72 horas após o início
ser considerado são:
do exantema, seguida de linfocitose. As
enzimas hepáticas ficam levemente elevadas ● Pacientes com mais de 12 anos (não
em 75% dos casos. Nos pacientes com gestantes);
complicações neurológicas pode haver uma
discreta pleocitose linfocítica liquórica e ● Crianças com mais de 12 meses com doenças
aumento da proteinorraquia. cutâneas ou pulmonares crônicas;

A identificação o do VVZ pode ser feita a ● Indivíduos que usam corticoide sistêmico em
partir das próprias lesões cutâneas através de dose não imunossupressora e por tempo curto
vários métodos, como por PCR. A avaliação ou intermitente, ou que usam corticoide
citológica das lesões (teste de Tzanck) pode inalatório;
evidenciar células gigantes multinucleadas, o ● Indivíduos que fazem uso crônico de
que sugere o diagnóstico. Porém, esta salicilatos;
avaliação tem baixa sensibilidade e não
diferencia a infecção pelo VVZ da infecção ● O segundo caso em um mesmo domicílio.
causada pelo vírus herpes simples. Você não precisa enlouquecer "decorando"
essa lista. Os pacientes que vão receber o
aciclovir oral são aqueles com risco de doença
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 19

mais grave ou de complicações. Já tínhamos em creches. Isto é, quando há um caso de


visto que a doença é mais grave em adultos e varicela em uma enfermaria, por exemplo, a
no segundo caso de um domicílio e que as vacina é administrada nos comunicantes
complicações são mais comuns se associadas suscetíveis imunocompetentes maiores de
ao uso de alguns medicamentos, como os nove meses de idade até 120 horas (cinco dias)
corticoides e AAS. Por isso, esses pacientes após a exposição.
serão candidatos ao tratamento específico.
Imunoglobulina humana antivaricela-zóster
O tratamento deve ser iniciado precocemente, (IGHAVZ): até 96 horas!!
ainda nas primeiras 24 horas de doença. O
A IGHAVZ deve ser administrada até 96 horas
início da medicação após 72 horas tem
após a exposição. A dose é de 125 UI a cada
benefício clínico bem questionável. O
10 kg de peso (dose mínima de 125 UI,
famciclovir e o valaciclovir surgem, em
máxima de 625 UI) por via intramuscular. Para
algumas referências, como alternativas para o
saber se há indicação de IGHAVZ, você deve
tratamento oral de crianças maiores.
responder "sim" às três perguntas seguintes:
● Aciclovir intravenoso:
1º) O comunicante é suscetível?
Dose: 500 mg/m²/dose, de 8 em 8 horas, por 7-
● Os suscetíveis são os indivíduos sem história
10 dias (dose para maiores de um ano), ou até
bem definida da doença e/ou de vacinação
48 horas após o surgimento da última lesão
anterior e os indivíduos com imunossupressão
ativa. As principais indicações para o uso são:
celular grave, independentemente de história
● Doença grave ou progressiva (envolvimento anterior.
visceral);
2º) Houve o contato significativo com o VVZ?
● Imunossupressão (incluindo a corticoterapia ● Esse contato pode ser domiciliar
em dose imunossupressora); (permanência junto ao doente durante pelo
menos uma hora em ambiente fechado) ou
● Recém-nascido com varicela neonatal por
hospitalar (pessoas internadas no mesmo
exposição perinatal (o esquema aqui é:
quarto do doente ou que tenham mantido com
aciclovir 10 mg/kg/dose, de 8/8 horas). Nesses
ele contato direto, prolongado, de pelo menos
casos não há tempo a perder, pois esses
uma hora).
pacientes podem evoluir rapidamente para o
óbito. A droga pode ser iniciada mesmo após
72 horas do início do exantema, pois o período
de replicação no imunossuprimido é mais
prolongado (mas é claro que se deve tentar
iniciá-la o mais precocemente possível, ainda
nas primeiras 24 horas).
Vacinação de bloqueio: até 5 dias
A doença pode ser prevenida ou ter sua
evolução modificação a quando administramos
a vacina até três ou cinco dias após a exposição
ao vírus (quanto antes, melhor). É a mesma
lógica do que vimos sendo feito nos casos de
sarampo. Porém, cuidado com o seguinte: o
Ministério da Saúde só libera a vacina para
profilaxia a pós-exposição para uma situação
de controle de surto em ambiente hospitalar ou
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 20

agamaglobulinemia, hipogamaglobulinemia,
ou nos recém-nascidos, há o risco de doença
mais grave e, eventualmente, crônica.

Doença mão-pé-boca

As infecções por esses agentes são bastante É a síndrome mais distinta e peculiar de todas
comuns. Para você ter uma ideia da as infecções por enterovírus. O principal
importância dessas infecções, os enterovírus agente envolvido é o coxsackie A16, mas
são responsáveis por 33-65% de todas as outros agentes também podem estar
doenças febris agudas nos Estados Unidos nas implicados, como o enterovírus 71, além de
crianças menores de um ano, principalmente outros coxsackie A, B e alguns echovírus
no outono e inverno. Nas regiões tropicais e A doença em geral é branda e sem febre ou
semitropicais, o vírus circula o ano inteiro com febre baixa. O dado mais característico do
quadro é a distribuição das lesões. Temos
lesões tipicamente na cavidade oral, nas mãos
O vírus penetra no organismo pela via oral ou e nos pés e também nas nádegas (você achou
respiratória e começa a se replicar na faringe e que o nome da doença era um acaso?). As
no intestino. Após alguns dias dessa replicação lesões na cavidade oral consistem em vesículas
inicial, ocorre a multiplicação do vírus nos distribuídas pela língua, mucosa jugal, faringe
tecidos linfoides, como as amígdalas, placas de posterior, gengiva e/ou nos lábios. Essas
Peyer e linfonodos regionais. A seguir, ocorre vesículas podem sofrer ulceração, levando à
uma viremia primária (viremia minor), capaz formação de lesões rasas com hiperemia ao
de disseminar as partículas infectantes para o redor. É importante você guardar que as lesões
sistema reticuloendotelial, acometendo o podem estar distribuídas por toda a cavidade
fígado, o baço, a medula óssea e os linfonodos oral, ao contrário do que ocorre em outras
distantes. O sistema imune do hospedeiro é condições clínicas que cursam com lesões mais
capaz de limitar a replicação viral neste ponto, localizadas.
o que resulta em uma infecção subclínica.
Porém, em alguns indivíduos, a replicação Doença febril inespecífica
viral pode continuar ocorrendo no sistema Essa vai ser a principal apresentação clínica
reticuloendotelial, levando a uma viremia nas infecções sintomáticas pelos enterovírus,
secundária (viremia major), capaz de atingir principalmente nas crianças pequenas e
órgãos-alvo, como o coração, o sistema menores de um ano. Muitas vezes é difícil
nervoso central e a pele. O tropismo pelo saber ao certo se a criança pequena apresenta
tecido-alvo varia de acordo com o sorotipo do apenas uma infecção benigna por um desses
vírus. O dano a cada um desses tecidos será agentes ou se apresenta uma infecção
resultado da necrose mediada pelo vírus e pela bacteriana potencialmente mais grave. No
reação inflamatória local. apêndice acessado pela versão digital desta
A produção de anticorpos neutralizantes tipo- apostila, você vai conhecer melhor as
específicos parece ser a etapa fundamental na estratégias que nós, pediatras, usamos para
resposta imune à agressão. O organismo tentar fazer essa distinção.
produz IgM, IgG, IgA e IgA secretória, A doença febril aqui não tem nada de típico. A
tornando-se capaz de impedir a replicação viral criança apresenta febre com duração
caso uma reinfecção ocorra. Em todas as aproximada de três dias, mal-estar,
situações em que há um comprometimento da irritabilidade. Pode apresentar sinais e
imunidade humoral, como nos pacientes com sintomas inespecíficos de acometimento do
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 21

trato respiratório e gastrointestinal, com dor suporte em unidade de terapia intensiva, com
abdominal, odinofagia, hiperemia conjuntival, suporte respiratório e hemodinâmico.
adenomegalia. A duração total da doença é de
A doença neurológica pelo enterovírus 71
quatro a sete dias, mas pode se estender por
costuma ser tratada com a associação de
mais de uma semana.
imunoglobulina e corticoides. Diversos
Aqui também podem ocorrer várias antivirais (exemplo: pleconaril) têm seu uso
manifestações cutâneas, com os exantemas estudado na infecção por esses vírus.
mais variados possíveis, como maculares,
maculopapulares, vesiculares e petequiais.
Quanto mais nova a criança, mais comum é a
presença do exantema. Você lembrou-se do
exantema súbito e achou que os quadros são
parecidos? Na prova, pelo menos, a síndrome
febril inespecíficas pelos enterovírus não será
um quadro tão comum, justamente por ser tão
inespecífico.

A síndrome mão-pé-boca possui uma


apresentação bastante característica, como
você viu na e este diagnóstico será estabelecido
apenas com base nas manifestações clínicas.
A cultura viral pode ser realizada para
confirmação da infecção. O ideal é que sejam
obtidas amostras de vários sítios corporais,
com o objetivo de aumentar a sensibilidade do
exame. Porém, nem todos os enterovírus
crescem em culturas. A detecção do vírus por A infecção primária é o resultado da exposição
técnicas de PCR pode identificar a maioria dos ao vírus presente nas secreções orais de
enterovírus e oferece resultados em poucas indivíduos infectados (sejam eles
horas, diferentemente da cultura. A detecção sintomáticos, assintomáticos ou apenas com
de anticorpos não é utilizada para a tomada de infecção latente). Após ser adquirido na
decisões clínicas, sendo reservada cavidade oral, o EBV infecta as células
essencialmente para estudos epidemiológicos epiteliais orais, o que vai contribuir para os
ou situações graves em que se quer identificar sintomas da faringite. Ocorre a replicação
um sorotipo em especial (como em epidemias intracelular, com destruição das células e
pelo enterovírus 71). liberação de novas partículas virais que vão se
espalhando para estruturas contíguas, como as
glândulas salivares. A etapa seguinte é a
O tratamento consiste, essencialmente, em ocorrência da viremia, com infecção dos
suporte, uma vez que não há um antiviral linfócitos B no sangue periférico e de todo o
específico. Muitos dos lactentes infectados por sistema reticuloendotelial, justificando as
um enterovírus acabam recebendo manifestações clínicas características. Os
antimicrobianos até que se saiba que eles não linfócitos B infectados estimulam o
estão com nenhuma infecção bacteriana. Nas aparecimento de linfócitos T CD8+, que serão
infecções mais graves, pode ser necessário os linfócitos atípicos encontrados na doença. A
infecção latente se estabelece nos linfócitos B
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 22

por meio de um processo de transformação e sendo que as petéquias são encontradas com
imortalização dessas células. O vírus pode ser frequência.
eliminado de forma intermitente nas secreções
Mas por que estamos estudando essa doença na
da orofaringe de indivíduos infectados, como
apostila que fala sobre as síndromes
resultado da reativação viral com replicação,
exantemáticas? Simples! Em 3-15% dos
que geralmente é assintomática. A relação
pacientes com mononucleose infecciosa
entre o EBV e o desenvolvimento de
encontramos um exantema maculopapular
neoplasias é bem estabelecida. Há associação
como parte da doença. Porém, até 80% deles
do vírus com carcinoma nasofaríngeo, linfoma
apresentam um exantema quando fazem uso de
de Burkitt, doença de Hodgkin, doenças
amoxicilina ou ampicilina. Guardou essa
linfoproliferativas e leiomiossarcomas. Os
diferença? O exantema não é tão comum, mas
quadros de imunodeficiências, sejam
acomete a maioria dos pacientes que faz uso de
congênitas ou adquiridas, acarretam em
alguns antibióticos. Esse exantema é uma
aumento no risco de diversos quadros
vasculite imunomediada, não um quadro de
linfoproliferativos relacionados com a
alergia à medicação.
infecção pelo EBV.
Você deve estar se perguntando por qual
motivo o paciente com uma infecção viral
O período de incubação é longo e chega a durar estaria recebendo amoxicilina ou ampicilina. É
entre 30 e 50 dias nos adolescentes, sendo mais fácil adivinhar a razão desse uso indevido.
curto em crianças. A maioria das crianças com Imagine: o paciente apresenta odinofagia e um
a infecção primária será assintomática. E como exame bastante sugestivo de faringite
será o quadro nos pacientes maiores? Nesta estreptocócica. O que pode ocorrer? Este
população, a mononucleose infecciosa será a paciente acaba recebendo incorretamente o
manifestação típica da infecção pelo EBV. A diagnóstico de faringite estreptocócica e sendo
duração média da doença é de duas a quatro tratado como tal. A evolução insidiosa, a
semanas, seguindo-se de gradual recuperação. adenopatia generalizada e as visceromegalias
estão presentes apenas na mononucleose
Os pacientes queixam-se de sintomas vagos,
infecciosa, não na faringite pelo estreptococo.
como mal-estar, fadiga, febre aguda ou
prolongada (com duração superior a uma
semana), cefaleia, odinofagia, náusea, dor
Um achado comum nos casos de infecção pelo
abdominal, mialgia. Tudo isso dura por uma ou
EBV é a presença de leucocitose (10.000-
duas semanas, enquanto a febre e a odinofagia
20.000 cél/mm3 ), com 20-40% de linfócitos
vão piorando aos poucos. Mas se tudo é tão
atípicos, que correspondem aos linfócitos T
inespecífica, como vamos pensar nesse
CD8+ ativados que tínhamos falado. A atipia
diagnóstico? A história arrastada de febre,
linfocitária pode ser encontrada em outras
astenia e odinofagia já é uma grande pista, mas
infecções virais, mas é mais proeminente na
é o exame físico que reforça muito a nossa
infecção pelo EBV
suspeita. A maioria dos pacientes (90%)
apresenta linfadenopatia generalizada. Além Em mais de 50% dos pacientes pode haver
disso, há esplenomegalia em 50% dos casos e trombocitopenia (50.000- 200.000
hepatomegalia em 10%. plaquetas/mm3 ), mas que raramente tem
repercussão clínica. Outra alteração frequente
Os achados na avaliação da orofaringe são
é uma elevação discreta das transaminases.
indistinguíveis dos encontrados na faringite
estreptocócica: há hipertrofia amigdaliana e Todas essas alterações servem para corroborar
pode haver exsudato com petéquias no palato, a hipótese, mas o diagnóstico definitivo é
estabelecido pela identificação dos anticorpos.
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 23

Preste atenção nessa parte, pois não é incomum vias aéreas, trombocitopenia com hemorragia,
encontrarmos erros na interpretação desses anemia hemolítica autoimune, convulsões e
exames. Podemos fazer duas avaliações meningite. A droga usada é a prednisona na
distintas: a pesquisa de anticorpos heterofilos e dose de 1 mg/kg/dia (máximo de 60 mg/dia)
a pesquisa de anticorpos específicos contra o por sete dias, com redução progressiva nos sete
EVB dias subsequentes

O SGA pode produzir doença por pelo menos


três mecanismos patogênicos, que são a
supuração, a elaboração de toxinas e os
processos imunomediados. O que é importante
guardarmos nesse momento é a relevância da
proteína M como fator de virulência e a
Não há tratamento específico. O aciclovir em
capacidade da bactéria de produzir toxinas. As
altas doses é capaz de reduzir a replicação
exotoxinas pirogênicas são as responsáveis
viral, mas não diminui a gravidade ou a
pelo aparecimento do exantema da escarlatina.
duração dos sintomas, não sendo
recomendado. Deve ser evitado o uso de ácido
acetilsalicílico por uma possível associação
O período de incubação da faringite
com síndrome de Reye
estreptocócica costuma ser de dois a cinco
A indicação de corticoterapia é bastante dias. As primeiras manifestações da escarlatina
controversa. O tratamento pode ser utilizado podem ser apenas as da faringite ou,
em algumas complicações, como obstrução de
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 24

eventualmente, o próprio exantema pode ser a esses dois sinais e aposte que pelo menos um
manifestação inicial. deles estará descrito no enunciado de um caso
de escarlatina.
Fase prodrômica
O que ocorre quando essas lesões
A história desses pacientes tem início com
desaparecem? Após três ou quatro dias, o
odinofagia e febre na ausência de tosse. No
exantema começa a desaparecer, deixando
exame físico, encontramos faringe
uma fina descamação, lembrando a
hiperemiada, amígdalas aumentadas e cobertas
descamação que ocorre após uma queimadura
com exsudato, petéquias no palato e
solar, como na (se lembra de quando você não
adenomegalia cervical. Nenhum desses dados
fazia medicina e pegava sol?). A descamação
é patognomônico ou exclusivo da faringite
começa na face e vai descendo, podendo durar
estreptocócica, mas guarde essa imagem por
por semanas. Nas extremidades pode ocorrer
ora. Nas questões de escarlatina muitas vezes
uma descamação lamelar, acometendo a região
não é sequer descrito o exame completo da
periungueal ou palmoplantar
orofaringe, diz-se apenas que o paciente
queixa-se de odinofagia. Lembre-se de que a
associação com a faringite é o mais comum,
O diagnóstico da escarlatina é eminentemente
mas que a escarlatina também pode estar
clínico. A confirmação da infecção pelo SGA
associada à infecção em outros sítios
pode ser obtida pela identificação da bactéria
Fase exantemática em material da orofaringe ou pelo aumento nos
títulos de anticorpos,
O exantema costuma surgir 24 ou 48 horas
após o início das manifestações clínicas, mas Mesmo sendo uma doença bacteriana, o curso
também pode ser a manifestação inicial. O é autolimitado na maioria das vezes. O
exantema é bem típico e é o ponto mais tratamento aqui na verdade é o tratamento da
importante para estabelecermos o diagnóstico. faringite estreptocócica. Os principais
objetivos do tratamento são encurtar a duração
Qual é o aspecto das lesões e como
da doença, reduzir a transmissão do agente
progridem? Ao observar o paciente, você tem
para outros indivíduos, reduzir o risco de
a impressão de que ele tem uma hiperemia
complicações supurativas e, sobretudo,
cutânea difusa, como você pode perceber na
prevenir a febre reumática. Mais uma vez:
Porém, o que temos na verdade são numerosas
vamos voltar a falar sobre isso, mas, para matar
lesões papulares puntiformes eritematosas, que
um pouco a sua curiosidade, vejamos o que é
sofrem clareamento à digitopressão. Ao
mais importante
tocarmos o paciente, percebemos que a pele
encontra-se áspera, como se fosse uma lixa ou Nos pacientes com o quadro clássico da
a "pele de um ganso" (ainda que você não saiba escarlatina, o tratamento deve ser iniciado
como é a pele de um ganso, guarde o aspecto imediatamente. O SGA é reconhecidamente
em lixa). Esse exantema surge em torno do sensível à penicilina e esta é a droga de escolha
pescoço e se dissemina para o tronco e para seu tratamento. Muito embora a melhora
extremidades. É mais intenso nas áreas de clínica ocorra com poucos dias de medicação,
dobras, como nas axilas, região inguinal e a antibioticoterapia por via oral deve ser
prega cubital (essa intensificação recebe o mantida por dez dias, com o objetivo de
nome de sinal de Pastia – veja ). A face em promover a erradicação do estreptococo da
geral é poupada, mas pode haver hiperemia na orofaringe e prevenir a febre reumática. As
região malar com palidez peribucal, o que drogas utilizadas incluem:
caracteriza o sinal de Filatov, como mostrado
na As regiões palmar e plantar também
costumam ser poupadas. Guarde muito bem
Bruno Cesar – Medicina 2023.2 25

● Penicilina V oral: 250 mg/dose (até 27 kg) A doença de Kawasaki é uma vasculite que
ou 500 mg/dose (acima de 27 kg), 2-3 vezes ao acomete especialmente as artérias de médio
dia por dez dias, por via oral; calibre, com predileção pelas artérias
coronárias. A avaliação histopatológica de
● Penicilina G benzatina: 600.000 U (até < 27
casos fatais revela a presença de processo
kg ou 20 kg, conforme a referência usada) ou
inflamatório intenso na parede vascular. Nos
1.200.000 U (acima de 27 kg ou 20 kg) em
casos mais graves há o acometimento de todas
dose única por via intramuscular;
as três camadas da parede, com destruição da
● Amoxicilina: 50 mg/kg/dia, 2-3 vezes ao dia lâmina elástica interna, levando ao
por dez dias. Vários estudos já demonstraram enfraquecimento da parede e formação
que a amoxicilina pode ser usada no tratamento aneurismática no local. Outras vezes, a
da faringite estreptocócica em dose única regeneração é conseguida através da
diária, com a mesma e proliferação intimal, levando à estenose e
oclusão do vaso.
As alternativas para os pacientes alérgicos à
penicilina incluem cefalosporinas, como a
cefalexina, clindamicina, eritromicina ou
azitromicina. A azitromicina é a única que
pode ser usada por apenas cinco dias. As
sulfonamidas e as tetraciclinas NÃO devem ser
usadas no tratamento da faringite
estreptocócica.

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