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SÍNDROMES EXANTEMÁTICAS

ABRAHAM NUNES CEZAR SCHNEERSOHN1

RESUMO

Esta breve revisão de literatura tem como objetivo explanar e propiciar


conhecimentos sobre os agentes etiopatológicos, manifestações clínicas e
tratamento das síndromes exantemáticas. Para a elaboração deste, foram realizadas
pesquisas em artigos nacionais e internacionais, diretrizes e casos clínicos, como
objetivo de sistematizar de forma clara o supracitado. Será abordado de forma
sucinta as causas e efeitos de doenças como varicela, sarampo, dengue, exantema
súbito, eritema infeccioso, Kawasaki, mononucleose, rubéola, rash cutâneo
medicamentoso, doença mão-pé-boca e escarlatina, tendo em vista corriqueira
detecção dessas doenças em consultas médicas, especialmente na pediatria.

Palavras-chave: Exantema. Escarlatina. Sarampo.

ABSTRACT

This brief literature review aims to explain and provide knowledge about
etiopathological agents, clinical manifestations and treatment of exanthematic
syndromes. For the preparation of this, research was carried out in national and
international articles, guidelines and clinical cases, in order to clearly systematize the
aforementioned. The causes and effects of diseases such as chickenpox, measles,
dengue, sudden rash, infectious erythema, Kawasaki, mononucleosis, rubella,
medicated skin rash, hand-foot-mouth disease and scarlet fever will be briefly
addressed, with a common detection of these diseases in medical consultations,
especially in pediatrics.

Keywords: Rash. Scarlet fever. Measles.

1 INTRODUÇÃO

Síndromes exantemáticas são sinais e sintomas que se manifestam na pele


mediante ao acometimento por agentes infecciosos, medicamentosos, vasculares,
irritantes ou imunológicos. São mais comuns em crianças e possuem níveis de
gravidade variáveis, albergando parte significativa nos atendimentos médicos. Tais
manifestações, a despeito de certa similaridade entre as várias etiologias, podem ser
identificadas e diferenciadas conforme o quadro clínico, história de exposição e
características das lesões cutâneas associadas com demais apresentações
sintomatológicas. Com base em pesquisas recentes e em coleta de dados do
ministério da saúde, foi elaborado esse artigo, que traz dados epidemiológicos,
2

semiológicos, clínicos e imagens ilustrativas com objetivo de corroborar os dados


descritivos aqui abordados. É esperado que sejam elucidados os viés de
confundimento, bem como proporcionado uma abordagem integrativa.
Tendo em vista a trivialidade das admissões ambulatoriais e nos pronto
atendimentos por ocasião de lesões cutâneas, é importante saber diferenciá-las,
bem como associá-las com o quadro clínico geral do paciente, objetivando o
diagnóstico preciso e precoce para consequente medida terapêutica a ser tomada.
Doenças ocasionadas por agentes bacterianos, como escarlatina e impetigo
requerem detecção precoce, logo que podem ocasionar lesões sistêmicas e
comprometimento de órgãos específicos, culminando com substancial taxa de
morbimortalidade. Quando o agente etiológico é viral, tende a apresentar quadro
clinico autolimitado, embora possam surgir reações deletérias pós infecciosas, como
danos cardíacos após infecção por coxsackie. Outrossim diz tocante aos exantemas
resultantes de vasculites, como Kawasaki, que tem potencial de lesões coronarianas
ou situações que envolve substâncias alergênicas globais ou idiossincráticas, com
potencial evolução para choque anafilático e óbito, o que requer identificação e
intervenção médica precoce.
Por conseguinte, será abordado neste artigo os dados epidemiológicos, as
principais semelhanças e diferenças e as medidas terapêuticas cabíveis de forma
genérica e individualizada sobre as síndromes exantemáticas, para que ao final
deste estudo, seja proporcionado um conhecimento sobre o tema, objetivando
capacidade de diagnostico diferencial e possíveis intervenções.

2 DOENÇAS EXANTEMÁTICAS

Exantema pode ser definido com lesões cutâneas caraterizadas pela


presença de máculas, pápulas, bolhas, vesículas, placas, eritemas, exulcerações ou
mesmo nódulos, não podendo como tal ser classificado, lesões únicas ou isoladas.
O tipo de lesão apresentado varia de acordo com o agente etiológico em associação
com características individuais do paciente. Além dos aspectos visíveis, é importante
atentar para quadro evolutivo previsto mediante cada suspeita, além da idade do
individuo e possíveis fatores coadjuvantes primários ou secundários.

2.1 CAUSAS VIRAIS


O levantamento de dados epidemiológicos evidencia que cerca de 65% dos
casos de crianças com síndromes exantemáticas apresentavam algum agente
infeccioso como causa. Desses, 75% possuíam etiologia viral. Os demais 45%
possuíam como fator de base, as reações alérgicas, medicamentosas, autoimunes e
neoplásicas.
Dentre as causas virais, podemos citar os exantemas presentes na doença
mão-pé-boca, no eritema infeccioso, no exantema súbito, no rash cutâneo do
dengue, na varicela zoster, no sarampo, na mononucleose e na rubéola. Embora
possuem quadro clínico autolimitado, algumas dessas doenças podem resultar em
danos cardíacos ou cerebrais de modo direto ou indireto.
3
2.1.1 Doença mão-pé-boca
Causada pelo vírus Coxsackie, da família dos enterovírus, manifesta-se por
meio de lesões cutâneas predominantemente nas regiões plantares, palmares e orais,
sendo nestas podendo evoluir para ulcerações dolorosas e expandirem para a região
palatal e tonsilar, ocasionando odinofagia e sialorreia e naquelas, apresentarem
lesões bolhosas pequenas, como apresentado na imagem 1. Em tese, essas
manifestações são precedidas de sintomas febris e tendem a se tornarem evidentes
após o abrandamento da febre. Existem, porém, embora raras, as situações em que
há comprometimento do sistema nervoso central, com evolução grave e significativo
índice de mortalidade. A transmissão se dá por via fecal-oral, e acomete
principalmente crianças com menos de 5 anos de idade.

Imagem 1
(fonte: Vera Culley)

2.1.2 Eritema infeccioso


Já no eritema infeccioso, cujo agente etiopatogênico é o Parvovirus B19,
inexistem sinais prodrômicos definidos e caracteriza-se pelo surgimento de lesões
maculopapulares na região malar, conhecido como face esbofeteada, que podem
progredir para tronco e membros, como mostra a imagem 2. Esse tipo de exantema
tende a desaparecer no período de alguns dias e podem recidivar perante situações de
exposição ao calor, irritantes e choro intenso, com predomínio na face. Além dessas
manifestações mais comuns, pode correr o acometimento da medula óssea,
acarretando uma crise aplásica transitória. A transmissão se dá por meio de gotículas
de saliva e respiração e acomete principalmente crianças de idade entre 5 e 15 anos.
4

2.1.3 Exantema Súbito


Esta afecção causada pelos herpes vírus tipo HHV-6 (A e B) e HHV-7, se
caracteriza pelo sinal prodrômico proeminente: febra alta, por vezes superior a 40
graus Celsius, que convalesce dando lugar ao exantema róseo não confluente iniciado
no tronco (Imagem 3) com distribuição centrífuga e que desaparece rapidamente, sem
deixar descamações. A esmagadora maioria dos casos evoluem de forma branda e
benigna. Não obstante pode haver comprometimento do sistema nervoso central,
resultando em encefalopatia e convulsões, em raras situações. Acomete mais crianças
com idade entre 3 e 6 meses.

Imagem 3
(fonte: Scott Camazine / Science Source Roséole)
5
2.1.4 Rash cutâneo do dengue
Neste caso, além dos sintomas clássicos do dengue, causado por um flavivirus,
podem surgir eritema ou erupções eritematosas de aspecto mosqueado na face,
pescoço e tórax, coincidentes com o período pós febril, podendo desaparecer ou
mesclar-se à erupção maculopapulosa (imagem4), típica por volta do sexto dia de
doença. Esse tipo de exantema pode ser induzido através da prova do laço, em que se
usa um manguito para compressão do membro superior e então identifica-se o
surgimento de petéquias distalmente ao local comprimido. O vírus causador da doença
é transmitido pelo vetor Aedes aegypti e não há predominância de faixa etária.
Gubler DJ, Kuno G. Dengue and dengue hemor hagic fever. New York: CABI
Publishing, 1997. 496 p.

Imagem 4.
(fonte: Jacob Frederik De Wolff)

2.1.5 Varicela
Causada pelo vírus Varicela zoster, acomete principalmente crianças e
apresenta como sintomas iniciais intensa irritabilidade, febre, astenia e sintomas
gripais que cedem dando origem ao exantema polimórfico, cuja apresentação se dá
pelo surgimento inicial de máculas, que evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e
crostas (vide a imagem 5). O período de transmissão se dá antes dos sinais
prodrômicos e segue até a evolução de todas as lesões cutâneas para crostas. O vírus
pode ficar albergado no organismo e retomar atividade futuramente através do
surgimento do herpes zoster.
6

Imagem 5.
(fonte: John-Kelly/Shutterstock)

2.1.6 Sarampo
Tendo como agente etiopatogêncio o paramixovirus, essa doença pode ter
evolução grave e é passível de vacinação. Os sintomas iniciais são inespecíficos,
como febre alta, odinofagia, tosse e conjuntivite. Posteriormente pode surgir o sinal de
Koplick (Imagem 6) na cavidade oral próximo aos molares, que se caracteriza por uma
mácula pálida circundada por enantema. Logo após, o exantema morbiliforme, inicia-
se com máculas irregulares associadas a pápulas, que adquirem coloração castanho-
acobreada e sofrem posterior descamação. Devido a alta contagiosidade, imunização
ativa ou passiva, a doença tende a não ter predominância de acordo com a faixa
etária, podendo acometer qualquer idade desde que não haja imunização prévia.

Imagem 6.
(fonte: MOSS W. Measles. Lancet 2017; 10111: 2490-2502)
7

2.1.7 Mononucleose
Causada pelo vírus Epstein Barr, a mononucleose, também conhecida como
doença do beijo, tende a iniciar sintomas inespecíficos, como odinofagia,
adenomegalia e febre. A faringite costuma ser similar à de causa bacteriana, por
apresentar exsudato acinzentado e quadro álgico intenso. A dor abdominal, pode estar
presente e é indicativa de possibilidade de complicação com rotura esplênica. Outra
característica importante é o sinal de Hoagland (edema palpebral). Quanto ao
exantema, costuma ser rubeoliforme, rosado (Imagem 7) e costumeiramente surge
após administração de penicilina. Isso torna-se um viés de confundimento, visto que
após a administração do antibiótico, pode haver confusão entre a etiologia do
exantema, ou seja, se é por reação alérgica ou por ocasião do EBV. Porém, neste, não
há prurido como naquele.

Imagem 7. Exantema da mononucleose.


(fonte: Infectious mononucleosis – The New England journal of medicine)

2.1.8 Rubéola
Causada por um vírus da família Togaviridae e gênero Rubivirus, manifesta-se
inicialmente por um leve mal-estar, febre baixa e irritação conjuntival e erupção
cutânea similar a do sarampo, porém ausente de coalescência, como mostra a
imagem 8. Inicia-se na região facial e cervical, espalhando então para o tronco e
membros. Além disso podem surgir enantemas indolores seguidos de coalescência e
evoluindo para formas eruptivas hiperemiadas e doloroas, podendo atingir a região
posterior da faringe. Outro sinal que acompanha esta afecção é a linfadenomegalia
cervical posterior e retroauricular. Esta doença possui importância vacinal tendo vista
a teratogenicidade do vírus. Também não possui faixa etária predominante, podendo
acometer qualquer pessoa não imunizada.
8

Imagem 8.
(fonte: National Center for Immunization and Respiratory Diseases - NCIRD).

2.2 CAUSAS BACTERIANAS


Já a respeito dos exantemas relacionados a infecções bacterianas, podemos
citar a escarlatina e o impetigo. Ambos podem cursar com sintomas febris, embora
mais acentuado na primeira e mais dependente de disseminação ou área
comprometida no segundo. Outrossim diz tocante a possibilidade de bacteremia e
septicemia, que podem ocorrer nas duas situações a depender de fatores
imunológicos do paciente bem como virulência específica do patógeno envolvido.
Requerem, portanto, tratamento com antibioticoterapia além da terapia de suporte
individualizada.

2.2.1 Escarlatina
Causada pelo Strepotoccus pyogenes, especificamente do grupo A de
Lancefield, nesta afecção o exantema surge em concomitância com a
faringoamigdalite membranosa associada aos sintomas febris. O rash cutâneo
apresenta-se com lesões puntiformes, disseminadas, em formato de luvas e botas com
descamação posterior, como mostra a imagem 9. Uma das características que
configuram o exantema escarlatiniforme é o aspecto de lixa, assim como a presença
dos sinais de Pastia e Filatov, descritos como palor em regiões de dobras e perioral,
respectivamente. Outro sinal presente é a língua em framboesa, que configura um
aspecto pontilhado e saburroso. Se não tratado corretamente, pode evoluir com
glomerulonefrite aguda, ou glomerulonefrite pós estreptocócica, febre reumática aguda
e posterior cardiopatia reumática e coreia de Sydenham em indivíduos predispostos.
Além disso, existem estudos que evidenciam a associação da doença com a desordem
9
psiquiátrica infantil denominada PANDAS (Pediatric Autoimmune Neuropsychiatric
Disorders Associated with Streptococcal Infection), que se manifesta em crianças pré-
púberes com histórico de infecção estreptocócica e se traduz por meio de tiques,
ideias obsessivas e compulsivas, irritabilidade e movimentos coreiformes.

Imagem 9. Exantema escarlatiniforme.


(fonte: Centers for Disease Control and Prevention)

2.2.2 Impetigo
Embora seja diferente das demais doenças citadas, por apresentar não um
exantema clássico, mas sim lesões bolhosas ou crostosas, focais ou disseminadas,
possui uma importância clínica relevante, visto que requer tratamento com antibióticos
e pode evoluir com complicações renais ou sepse. Causado pelo Streptococcus
pyogens ou Staphilococcus aureus, as vezes torna-se difícil a identificação do
patógeno de acordo com as características das lesões. Em se tratando da infecção
estreptocócica, difere da escarlatina pelo aspecto das lesões e pela ausência de
acometimento orofaríngeo. Costumeiramente apresenta-se como impetigo crostoso
(imagem 10), o que não exclui a forma bolhosa (imagem 11). Já a respeito da infecção
cutânea estafilocócica, é mais comum a apresentação bolhosa, idem ao primeiro, não
excluindo a forma crostosa. Embora no caso da infecção estreptocócica poder, assim
como na escarlatina, acometer os rins por meio de glomerulonefrite (GNPE), diferente
daquela, não há associação com febre reumática e as demais complicações possíveis
na escarlatina. Em ambas as enfermidades citadas neste tópico, a origem da infecção
pode se dar por meio de lesões cutâneas pré-existentes, visto que esses patógenos
são encontrados trivialmente na pele de pacientes hígidos. Embora possa surgir em
pacientes de qualquer idade, existe uma maior incidência em crianças entre 2 e 6
anos.
10

Imagem 10: impetigo crostoso.


(fonte: Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, SBP 2014).

Imagem 11: impetigo bolhoso.


(fonte: Clínica médica, volume 7: alergia e imunologia clínica, doenças da pele,
doenças infecciosas e parasitárias. – 2. ed. – Barueri, SP: Manole, 2016).

2.3 Doença Exantemática Vascular


Quando a doença exantemática é de origem vascular, pode ter como base
fatores autoimunes ou pós infecciosos. Tem como causa principal a Doença de
Kawasaki e requer tratamento de suporte, além da terapêutica especifica, com a
administração de imunoglobulina IV e ácido acetilsalicílico. O rash cutâneo caracteriza-
se por ser polimorfo, podendo ser maculopapular, urticareiforme, morbiliforme ou
escarlatiniforme, comprometendo principalmente o tronco e região perineal e é
precedido por período febril intenso associado a outros sintomas constitucionais.
Geralmente evolui com irritação conjuntival, eritema edemaciado e doloroso em
regiões palmares e plantares com posterior descamação, surgimento de língua em
11
framboesa, enantema importante em mucosas (vide a imagem 12) e palidez
periungeal. Doravante a evolução da afecção, podem surgir sintomas como artralgias e
posterior acometimento de artérias coronarianas, visto que é uma vasculite de artérias
de médio calibre, por meio da formação de microaneurismas e suas consequentes
complicações, como tamponamento cardíaco e infarto. Sabe-se que a doença é mais
incidente e prevalente em pacientes pediátricos da primeira infância e de origem
asiática.

Imagem 12.

(fonte: Anais Brasileiros de Dermatologia)

2.4 Reação Alérgica


Quando o exantema tem como substrato as reações alérgicas de origem
medicamentosa, irritativas, atópica ou contato por inoculações de alergênicos, toxinas
ou picadas de inseto, é comum o surgimento de placas eritematosas pruriginosas em
alto-relevo mais ou menos disseminadas (Imagem 13). O aparecimento das lesões
tende a ocorrer de forma abrupta e progressiva. Além disso pode ocorrer outras
manifestações mais sistêmicas, a depender a resposta anafilática individual,
quantidade de alergênico envolvida, bem como a capacidade da substância de realizar
tais reações. Essas lesões urticariformes costumam perdurar e causar intenso
incômodo, até que haja intervenção medicamentosa com o objetivo de cessar a
reação. Picadas de insetos, especialmente os que possuem capacidade de inocular
substâncias, ácido metanoico das formigas por exemplo, podem culminar em
aparecimento rápido das placas eritematosas pruriginosas com potencial envolvimento
12
de vias aéreas superiores, como edema de glote, a depender da resposta de cada
paciente. Outro fator importante é que existem medicamentos capazes de causar
reações cutâneas não exantemáticas, como o lítio, com lesões acneiformes, hiperemia
por vasodilatadores ou mesmo equimoses por anticoagulantes, sendo que neste caso
são provenientes de pequenos sangramentos. Não existe faixa etária mais
predominante. Porém sabe-se que quanto mais grave for a anafilaxia em um primeiro
contato, mais severo tende a ser o quadro em contatos subsequentes com o mesmo
fator desencadeante.

Imagem 13. Placas eritematosas.


(fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia)

3 EXAMES LABORATORIAIS

Como pode ser notado, o diagnóstico das doenças exantemáticas requer uma
boa avaliação clínica para sua detecção e diferenciação. Para isso, é necessário que
seja feita uma boa anamnese, um exame físico pormenorizado, além de considerar
fatores étnicos, etários, epidemiológicos e culturais. Porém, existem casos em que o
diagnostico laboratorial pode ser recorrido, visto que devido a gravidade de algumas
afecções citadas neste artigo, faz-se fundamental um diagnostico de certeza procedido
de um acompanhamento médico.

Embora boa parte das alterações laboratoriais encontradas sejam inespecíficas,


alguns achados tornam mais sugestivos ou não, de uma doença especifica e pode
13
servir como fator prognóstico. Um exemplo claro é o aumento de segmentados em
infecções bacterianas, a linfocitose ou linfopenia em quadros virais, a eosinofilia em
quadros alérgicos ou parasitários, a plaquetopenia ou trombocitose em situações
vasculares e autoimunes ou mesmo um hemograma dentro dos padrões de
normalidade. Exames como VHS, são uteis na doença de Kawasaki, dosagem de IgE,
nas reações alérgicas, pesquisa de anticorpos específicos para cada patógeno
suspeito ou mesmo cultura de secreção orofaríngea em busca de achados inerentes
infecção por estreptococos na escarlatina.

3.1 Exames laboratoriais na doença māo pé boca


Os exames laboratoriais podem vir com algumas alterações. No caso da doença
mão-pé-boca, pode ser identificado uma leucocitose com desvio a esquerda, que tem
valor inespecífico. Porém, pode ser realizado testes sorológicos para identificação do
vírus, como o Coxsackievírus anticorpos IgG e IgM.
Sakane PT, Bellizia Neto L, Marques HHS. Doenças exantemáticas. In: Grisi S,
Escobar AM. Prática pediátrica. São Paulo. 1a ed. São Paulo: Atheneu, 2000. p. 385-
92.

3.2 Exames laboratoriais no eritema infeccioso


No caso do eritema infeccioso, o hemograma pode evidenciar uma redução nos
níveis de hemoglobina da ordem de 1 a 2 g/dl e uma leucopenia significativa. Caso
seja realizada uma contagem de reticulócitos, os valores podem vir inalterados na
maioria dos casos. Porém, uma reticulocitopenia pode ser detectada em situações de
evolução para crise aplásica, o que requer a realização de um exame citológico da
medula, a critério médico.

3.3 Exames laboratoriais no exantema súbito


Em se tratando do exantema súbito, o hemograma também tende a ser
inespecífico, apresentando leucopenia ou leucócitos normais. Pode ser realizado
sorologia para detecção de anticorpos contra o herpes vírus tipo HHV-6 (A e B) e HHV-
7, embora a doença seja autolimitada e exames laboratoriais não são solicitados com
frequência.
14
3.4 Exames laboratoriais no dengue
O hemograma pode apresentar importante fator preditivo e prognóstico. Visto
que esta arbovirose pode cursar com trombocitopenia, a contagem de plaquetas é
primordial para estadiamento do nível de gravidade e possibilidade de hemorragias.
Outrossim diz respeito ao hematócrito, que em seu aumento prediz possibilidade de
desidratação e perda de plasma para o terceiro espaço, indicando gravidade do
quadro e necessidade de internamento para medidas terapêuticas mais agressivas. Os
testes sorológicos com detecção de IgM e IgG podem ser realizados a partir do quinto
dia de sintomas, o que não exclui ou confirma diagnóstico, visto que existem cinco
sorotipos diferentes e estes podem contribuir para resultados em falsos positivo e
negativo.

3.5 Exames laboratoriais na varicela


Testes sorológicos e hemograma podem ser solicitados mediante suspeita de
varicela. Não obstante, o diagnóstico clínico tende a ser conclusivo, deixando os
exames laboratoriais para segundo planto. De qualquer forma, a sorologia para o vírus
Varicela zoster pode vir positivada em pacientes expostos por vacinação ou
imunização ativa. Quanto ao hemograma, também pode apresentar resultados
inespecíficos.

3.6 Exames laboratoriais no sarampo


Quando a suspeição é referente ao sarampo, o hemograma pode revelar
leucopenia, linfocitose relativa, neutropenia absoluta e trombocitopenia. Visto que o
paramixovirus pode causar quadros de hepatite, quando existir essa suspeita, é
importante que seja realizados testes de função hepática, para verificação de aumento
de transaminases. Na fase aguda, a realização de testes sorológicos como ELISA ou
imunofluorescência direta e inibição da hemaglutinação para detectar a presença de
IgM. Outro exame possível é por meio do isolamento viral ou transcrição reversa (RT)-
PCR, sendo, portanto, mais específico.

3.7 Exames laboratoriais na mononucleose


Um achado frequente no hemograma de pacientes acometidos por
mononucleose é a atipia linfocitária. Além desta, pode estar presente também uma
leucocitose, basofilia e trombocitopenia. Os testes sorológicos podem evidenciar a
presença de anticorpos heterófilos ou anticorpos específicos. Ademais, a detecção
viral pode se dar por meio de antígenos virais, DNA viral ou PCR.
15
3.8 Exames laboratoriais na rubéola
No que se refere a rubéola, a leucopenia é um achado frequente no
hemograma, que também pode ter a presença de plasmócitos, que são células
habitualmente teciduais e não aparecem no sangue periférico em circunstâncias
normais. Quanto a sorologia, a detecção de anticorpos IgM específicos para rubéola,
sugere infecção aguda ou recente, visto que a presença de IgG, prediz imunidade
permanente oriunda de vacinação ou imunização por contato prévio.

3.9 Exames laboratoriais na escarlatina


O hemograma pode evidenciar leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda,
além de eventual eosfinofilia. Além de testes sorológicos e pesquisa de anti-
streptolisina-A (ASLO), pode ser realizada a cultura de orofaringe para detecção do
Streptococcus Beta hemolítico do grupo A de Lancefield. Exames de VHS, fator
reumatoide, função renal e urina de 24h podem ser requisitados conforme dados
clínicos evolutivos e a critério médico.

3.10 Exames laboratoriais no impetigo


No impetigo, o hemograma pode evidenciar leucocitose leve com desvio nuclear
à esquerda. A velocidade de hemossedimentação (VHS) pode estar aumentada. Além
desses exames, podem ser requisitados a cultura das secreções para detecção do
patógeno específico.
Veronesi R. Infecções estafilocóccicas e estreptococcias. In: Veronesi R, Focaccia R.
Tratado de infectologia. 3 ed. São Paulo, SP: Atheneu; 2005.

3.11 Exames laboratoriais na doença de Kawasaki


Já no que diz tocante à doença de Kawasaki, é fulcral um acompanhamento
médico associado a exames laboratoriais, de imagem e eletrocardiográficos. O
hemograma evidencia leucocitose com acentuado desvio à esquerda, anemia
normocítica leve e trombocitose (≥ 450.000/μL). Há também a elevação do VHS ou
proteína C reativa (PCR). O ECG pode sugerir arritmias, hipertrofia ventricular
esquerda, bem como diminuição de voltagem. Já ecocardiograma é importante para
detecção de aneurisma coronariano, peri ou miocardite e regurgitação valvular, que a
depender da dimensão, pode ser identificado na ausculta. Outro exame de imagem
importante é a arteriografia coronariana, para que se possa dimensionar a extensão e
magnitude dos aneurismas.
16
3.12 Exames laboratoriais nas reações alérgicas
Já nos casos de farmacodermia e reações alérgicas que cursam com exantema,
é comum a presença de eosinofilia no hemograma. A dosagem de IgE também pode
ser útil na detecção de alergias. Existem exames específicos para identificação dos
alérgenos. Porém, nem sempre os pacientes conseguem sugerir quais os fatores
causais ou substâncias desencadeantes para que sejam agregadas aos testes
cutâneos específicos.

Como visto, existem vários métodos para diagnostico de doenças exantemáticas.


Embora o diagnóstico seja primordialmente clínico, a vinculação com exames
laboratoriais, exames de imagem e eletrográficos propiciam um direcionamento mais
incisivo, além de possibilitar predições a respeito da gravidade e acompanhamento
do quadro evolutivo, tornando possível a tomada de medidas interventivas precoces.

4 CONCLUSÃO

Mediante tamanhas semelhanças em congruência com dados clínicos,


epidemiológicos e laboratoriais peculiares, as doenças exantemáticas perduram
como importante fator de confundimento na área e visão biomédica. As lesões são
costumeiramente precedidas de sinais constitucionais associados a apresentações
idiossincráticas e evoluções clínicas ramificadas. Avaliando as variadas formas,
dimensões e métodos expansivos dos exantemas, é possível atingir um diagnóstico
sólido. Visto que acometem preferencialmente crianças, com exceção das
farmacodermias e rash cutâneo do dengue, as síndromes exantemáticas causam
desconforto, irritabilidade e estigmas em seus portadores. Ainda que autolimitadas,
em sua maioria, cursam tangenciando complicações graves e potencialmente letais.
Tais desfechos desfavoráveis comumente vêm vinculados a diagnóstico tardio ou
tratamento relapso. As evidências de que as intervenções antecipadas são
favoráveis se dão não só pelas possibilidades de estabelecimento de medidas
terapêuticas eficazes como também pela sua aplicação precoce. É notório que o
tratamento para essas afecções, quando iniciados de maneira tenra, na ausência de
complicações em potencial ou já estabelecidas, resulta em um sucesso terapêutico
mais promissor. Outrossim diz tocante as sequelas ocasionadas por um sinergismo
entre acompanhamento obsoleto e uma diagnose tardia. Perante todas as
peculiaridades inerentes a cada doença abordada, é imprescindível um
direcionamento diagnóstico com associação laboratorial coerente, além do raciocínio
prognóstico cauteloso e conduta intervencionista resolutiva.

Declaro que não há conflitos de interesses.


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REFERÊNCIAS

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