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IMPACTOS DA QUALIDADE DO AMBIENTE

ESCOLAR NA APRENDIZAGEM

Priscila Becker Martins1


Samara Marcelino Ramos de Lima2
Vanessa da Silva Almeida3

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Atualmente é quase impossível contestar os benefícios de um bom ambiente físico no


desenvolvimento e aprendizagem dos educandos. Pesquisas recentes demonstram que experiências
e enriquecimento ambiental podem facilitar e estimular o processo de aprendizagem. Isso acontece
devido à motivação extrínseca que a variedade de espaços e situações diversificadas proporcionam:
a curiosidade; o desafio e a criatividade.
Antes de prosseguir com a argumentação do presente artigo, acreditamos que para o
entendimento do trabalho proposto, seja necessário esclarecer os seguintes conceitos:
aprendizagem e ambiente escolar.

2.1 Como o cérebro aprende?

De acordo com Sartório (2009), o cérebro humano é o órgão mais complexo do universo.
Pertence ao sistema nervoso central e possui bilhões de células nervosas que, em situações típicas,
fazem conexões entre si e promovem, dentre outras coisas, a aprendizagem. A este processo
neurológico que modifica células nervosas e promove novas conexões – ou sinapses – entre elas,
chamamos neuroplasticidade.
A plasticidade cerebral tem seu início na exposição do aprendiz a uma informação, pois seus
sentidos vão captá-la e levá-la ao cérebro. Posteriormente, o cérebro irá selecionar as emoções e
motivações necessárias à aprendizagem, ou não, daquela informação. Nesse ponto do processo de
aprendizagem, diversas áreas do cérebro são solicitadas, uma vez cada uma possui função distinta.

1
Acadêmica Uniasselvi
2
Graduanda curso de psicopedagogia – 4° período e professora na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
3
Professor tutor externo Centro Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI – Psicopedagogia
(FLC36506LPS) – Prática do Módulo IV – 20/10/2023
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Figura 1 – Lobos do córtex cerebral

Fonte: Pesquisando sobre o cérebro - 3 | Neurociências em benefício da Educação!


(neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com)

De maneira geral, temos:


 Lobo frontal: está associado à atividade motora (movimentos), à fala, às atividades do
pensamento e do planejamento (raciocínio), à cognição e à memória.
 Lobo parietal: responsável pelas sensações e pela orientação do corpo, como temperatura
e pressão.
 Lobo occipital: interpreta a visão.
 Lobo temporal: trabalha a memória, as emoções e o estado de ânimo. Possibilita a
identificação, recuperação e identificação das informações obtidas.

Diante do contexto apresentado, o processo de aprendizagem realiza-se quando há o


crescimento de espinhos dendríticos em direção a outros neurônios para estabelecer as sinapses que
levam a informação ao seu local correspondente de processamento no córtex cerebral.

Figura 2 - Neurônio

Fonte: Células nervosas - Só Biologia (sobiologia.com.br)


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No entanto, antes de estabelecer uma correlação entre ambiente e aprendizagem, é


necessário ressaltar que

as sinapses vão se tornando mais bem estabelecidas e mais complexas à medida que o
aprendiz interage com o meio ambiente interno e externo. Desta forma, é verdadeiro que
crianças pouco ou não estimuladas podem apresentar dificuldade de aprendizagem (CRUZ,
2016, p. 3).

2.2 Ambiente escolar

O ambiente escolar é, sem dúvidas, o segundo lugar frequentado por mais tempo pelos
aprendizes, uma vez que podem ali permanecer entre 4 a 12 horas – a depender da modalidade
escolar e da faixa etária das quais fazem parte. Mas o ambiente escolar, muitas das vezes, também é
o primeiro lugar de socialização para as nossas crianças.
Uma vez que o ambiente escolar precisa concorrer com o ambiente familiar dos aprendizes
ou – no caso de adultos que frequentam escolas – com o ambiente laboral, é necessário que seja
agradável permanecer nesse espaço.
A partir desta perspectiva, também vale ressaltar que adotamos como ambiente “o conjunto
de condições do qual o ser humano faz parte. A saber que o bom ou mau andamento desse conjunto
determina a qualidade de vida do homem, seja social, psicológica, cultural, moral ou escolar”
(NASCIMENTO E ORTH, 2008, p. 5). Em outras palavras, o termo ambiente refere-se ao conjunto
do espaço físico e às relações que se estabelecem no mesmo (afetos, as relações interpessoais entre
as crianças, entre crianças e adultos, entre crianças e sociedade em seu conjunto).
Considerando apenas o espaço físico, o ambiente escolar precisa conter “uma boa
infraestrutura e ambientes diversificados, amplos e prazerosos” (Op. Cit., p. 10). Já o ambiente
educativo demanda outras prioridades: bons recursos didático-pedagógicos; professores bem
qualificados; gestão integrada; suporte socioemocional etc. No entanto, é necessário que ambos
convirjam para o desenvolvimento integral do aprendiz, pois uma escola que possui excelente
infraestrutura e materiais pedagógicos de baixa qualidade, não conseguirá aproveitar todo o
potencial existente. Do mesmo modo, não o fará um professor que possui excelente material
didático em mãos, mas não tem espaço físico adequado para explorá-lo.

A sala de aula é um espaço crucial, tendo em vista que nesse ambiente se concentram
muitos desejos e propósitos de aprendizagem a serem atingidos, por alunos ou professores.
Esse ambiente de aprendizagem, que se organiza dentro de uma sala de aula, é dinâmico e
complexo, e pode ser considerado uma condição fundamental para se compreender o
desempenho escolar dos alunos. As salas de aula, além de serem espaços ricos de interação,
também se constituem como espaços em que há uma grande variedade de desafios e
dificuldades a serem enfrentados e objetivos/metas a serem atingidos. Essas condições nem
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sempre são satisfatórias, podem resultar em maior ou menor sucesso por parte do aluno e
desencadear emoções que afetam a aprendizagem (MARTINELLI, MUELLE-ZÚÑIGA e
ALVES, 2022).

Um ambiente escolar ideal deve oferecer uma gama de elementos e condições que são
essenciais para promover a aprendizagem, o desenvolvimento socioemocional e o bem-estar dos
alunos. Abaixo estão os principais aspectos que um ambiente escolar deve oferecer:
1) Segurança e bem-estar. Um ambiente físico seguro e limpo, livre de ameaças à
segurança dos alunos, incluindo medidas de segurança contra incêndios, acesso controlado e
procedimentos de emergência, além de políticas e práticas que promovam um clima de respeito
mútuo, combate ao bullying e à discriminação, garantindo o bem-estar emocional e psicológico dos
alunos.
2) Infraestrutura adequada. Salas de aula bem equipadas, espaços para atividades físicas,
laboratórios, bibliotecas, refeitórios e áreas de recreação projetados de maneira funcional e
ergonômica para facilitar o aprendizado e a interação dos alunos.
3) Recursos educacionais e materiais didáticos. Livros, materiais didáticos, jogos
educacionais e outros recursos que auxiliem os professores a fornecerem uma educação de alta
qualidade e estimular a aprendizagem dos alunos.
4) Corpo docente qualificado e motivado. Professores bem treinados, capazes de aplicar
métodos de ensino eficazes, adaptados às necessidades dos alunos. Também é importante promover
oportunidades de desenvolvimento profissional contínuo para os educadores, a fim de manter suas
habilidades atualizadas e proporcionar a melhor experiência de aprendizagem possível.
5) Inclusão e acessibilidade. Práticas inclusivas que atendam às necessidades de todos os
alunos, com suporte individualizado e adaptações físicas para alunos com necessidades
educacionais especiais.
6) Ambiente inclusivo e diversificado. Promoção de uma cultura que valorize a diversidade
e que incentive a compreensão mútua, a tolerância e a cooperação entre os alunos.
7) Participação ativa dos alunos. Criação de espaços e oportunidades para que os alunos
expressem suas opiniões e sugestões sobre as questões relacionadas à escola e incentivo à
participação dos alunos em atividades extracurriculares, clubes, organizações estudantis e projetos
comunitários para promover habilidades de liderança, trabalho em equipe e responsabilidade social.
8) Apoio social e emocional. Serviços de aconselhamento, orientação profissional e apoio
emocional para os alunos e promoção de habilidades socioemocionais, como resolução de conflitos,
empatia e autoconsciência.
9) Parceria com os pais e comunidade. Colaboração ativa e comunicação regular com os
pais, envolvendo-os nas atividades e decisões escolares.
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Oferecer um ambiente escolar que englobe esses elementos contribui para uma experiência
educacional mais rica, estimulante e inclusiva, resultando em alunos mais envolvidos, bem-
sucedidos e preparados para enfrentar os desafios da vida.

2.3 Realidade nas escolas

O conhecimento resulta de um processo pessoal de sentidos e significados, possibilitando a


construção individual e particular do conhecimento de acordo com o seu modo de ser e a partir de
suas representações internas. Por isso, os resultados de aprendizes provenientes de escolas voltadas
às classes A e B, de acordo com Engel et al. (2015), são superiores em aproximadamente 30% nas
funções executivas e 50% nas funções da linguagem, dado que possuem pais com maior grau de
instrução e mais conscientes da importância da vida escolar, contextos de vivência mais
enriquecidos culturalmente e linguisticamente, melhores instalações e melhor alimentação, além de
não precisar dividir o tempo entre trabalhar e estudar. Basta uma pequena análise nos resultados do
índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb – para perceber a discrepância entre os
escandalosamente ricos e os devastadoramente pobres nosso país.

Figura 3 – Proficiência dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática de acordo com os


números do Saeb: um comparativo entre unidades federativas.
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Fonte: Ranking IDEB dos Estados Regiões do Brasil (sejalguem.com)

Ao observar os mapas é possível perceber que os estados das regiões norte e nordeste
possuem os desempenhos mais baixos no Ideb. Lembrando que também são as regiões com os
menores PIBs do Brasil e os estados que possuem mais áreas rurais, mais remotas, de maior
vulnerabilidade social. Dentro deste contexto, não há dúvidas de que também possuem escolas
públicas mais precárias que as demais regiões do país seja em recurso humano – no que tange à
falta ou à menor qualificação de profissionais –, seja em recurso físico (ausência de uma biblioteca,
laboratório de informática, quadra poliesportivas, refeitório entre outras instalações).
Contudo, não é apenas o Brasil sofre com as consequências educacionais devido às
deficiências nas instituições escolares. Houve, em 2006, um estudo do Banco Interamericano de
Desenvolvimento, doravante BID, que analisou o quanto a estrutura da infraestrutura escolar
influencia na aprendizagem de alunos. Foram examinados o desempenho de aproximadamente 200
mil estudantes da América Latina e os resultados também são mais favoráveis às escolas urbanas de
alta classe social.

Figura 4 – Escolas rurais X Escolas urbanas: diferenças nos resultados da prova de leitura
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Fonte: (PDF) Infraestructura escolar y aprendizajes en la educación básica latinoamericana: Un análisis a partir
del SERCE (researchgate.net)
Aos observar outro gráfico, é possível perceber que ainda é preciso resolver problemas
como falta de água potável, eletricidade e saneamento básico em algumas escolas rurais.

Figura 5 – Infraestrutura escolar

Fonte: (PDF) Infraestructura escolar y aprendizajes en la educación básica latinoamericana: Un análisis a partir
del SERCE (researchgate.net)

Ao fim das análises, recorre-se à ideia de Sartório (2009) para corroborar a ideia de que um
ambiente empobrecido não propicia a ampla proliferação de conexões sinápticas, pois não há fontes
de estímulos, não há segurança, tão pouco há conforto. Não há envolvimento dos aprendizes e não
há alternativas para que os professores ofereçam alternativas que interferem diretamente na
aprendizagem.
Opostamente, estão as escolas mais bem estruturadas e os melhores resultados, já que os
diferentes recursos disponíveis incitam as células estelares a proliferem suas conexões para que
consigam responder aos estímulos do ambiente.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste artigo, para cumprir o objetivo de investigar um pouco mais da relação entre a
qualidade do ambiente escolar e a aprendizagem, foi conduzida uma pesquisa bibliográfica, que se
caracteriza pela utilização de dados científicos já analisados e publicados.
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O trabalho consistiu na leitura de diversos artigos acadêmicos, dissertações e teses que


versam sobre tal dicotomia, na avaliação crítica de tais leituras e na comparação entre os resultados
já encontrados. Também foram realizadas consultas complementares em sites. Diante da
necessidade de apropriar-se de inúmeros conceitos e ideias, foram consultados, evidentemente, os
cânones que deram origem à tal discussão.
Por último, mais não menos importante, a pesquisa aqui conduzida é justificada a partir da
demanda de atender a produção acadêmica necessária à disciplina de “Prática Interdisciplinar:
escola e aprendizagem” proposta pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI). O
tema surge da reflexão sobre o impacto da estrutura escolar (física e organizacional) sobre o
processo de aprendizagem.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Embora os textos que abordam a relação entre ambiente escolar e aprendizagem apresentem
maior foco no processo das crianças da Educação Infantil, o resultado da pesquisa demonstrou que
todos os aprendizes precisam de segurança e estímulo adequado para sentirem-se livres a aprender.
Este artigo trouxe à luz reflexões sobre três grupos distintos no processo de aprendizagem, mas
muito pertinentes ao assunto educação: 1. crianças; 2. adolescentes e jovens; 3. adultos.
Através dessa pesquisa, confirmou-se que o ambiente onde o aprendiz está inserido durante
o processo de aprendizagem pode tornar-se significativamente responsável pelo sucesso ou fracasso
do desempenho escolar, uma vez que instituições que possuem estímulos variados, materiais
adequados, estrutura confortável e apoio pedagógico proporcionam os maiores índices de
rendimento. Enquanto alunos que estão em espaços vulneráveis – com exacerbados episódios de
violência ou de insegurança alimentar, por exemplo – apresentam índices mais baixos no
rendimento, uma vez que existe a perda do foco no processo de aprendizagem e a necessidade de
estar atento a outras questões.
Além disso, é fundamental ressaltar que o papel dos educadores e da equipe pedagógica é de
extrema importância na construção desse ambiente propício à aprendizagem. Profissionais bem-
preparados, engajados e sensíveis às necessidades individuais dos aprendizes conseguem criar um
clima de confiança e motivação, fatores essenciais para o desenvolvimento pleno das
potencialidades de cada estudante. Essa pesquisa também sublinha a necessidade de políticas
educacionais e investimentos que visem à melhoria das condições estruturais e socioemocionais das
instituições de ensino, visando assim um impacto positivo no desempenho acadêmico e no bem-
estar dos aprendizes.
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Por fim, os resultados obtidos neste estudo indicam a importância de uma abordagem
holística no planejamento e gestão dos ambientes educacionais, considerando não apenas aspectos
físicos, mas também sociais, emocionais e culturais. A compreensão das necessidades específicas
de cada faixa etária e o reconhecimento da diversidade de experiências e contextos dos aprendizes
são fundamentais para a construção de espaços inclusivos, onde todos os indivíduos se sintam
valorizados e encorajados a explorar seu potencial máximo no processo de aprendizagem. Dessa
forma, a criação de ambientes escolares propícios à aprendizagem torna-se um desafio coletivo e
um investimento essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

REFERÊNCIAS

CRUZ, L.H.C. Bases neuroanatômicas e neurofisiológicas do processo de ensino e


aprendizagem. In: A neurociência e a educação: como nosso cérebro aprende?. Ouro Preto:
Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas e Mestrado Profissional em Ensino de
Ciências, 2016. Disponível em: <PRODUÇÃOTECNICA_NeurociênciaEducaçãoCerebro.pdf
(ufop.br)>. Acesso em: 13 out. 2023.

DUARTE, J.; GARGIULO, C. e MORENO, M. Infraestructura escolar y aprendizajes en la


educación básica latinoamericana: Un análisis a partir del SERCE. 2011. Disponível em < (PDF)
Infraestructura escolar y aprendizajes en la educación básica latinoamericana: Un análisis a partir
del SERCE (researchgate.net)>. Acesso em: 13 out. 2023.

ENGEL, P. M. J. de A.; TOURINHO, C. J.; PUGLISI, M. L.; NIKAEDO, C.; ABREU, N.;
MIRANDA, M. C.; BEFI-LOPES, D. M.; BUENO, O. F. A. & MARTIN, R. A Pobreza e a
Mente: Perspectiva da Ciência Cognitiva. Walferdange, Luxemburg: The University of
Luxembourg, 2015. Disponível em:
<A-pobreza-e-a-mente_perspectiva-da-ciencia-cognitiva_DEVPOLUX.compressed.pdf
(cienciaparaeducacao.org)>. Acesso em: 13 out. 2023.

MARTINELLI, S., MUELLE-ZÚÑIGA, N., & ALVES, L. Classroom Learning Environment


and School Performance. Revista Electrónica Educare, 26(3), 1-17, 2022. Disponível em: <
Classroom Learning Environment and School Performance | Revista Electrónica Educare
(una.ac.cr)>. Acesso em: 6 set. 2023.

NASCIMENTO, G. S. e ORTH, M. R. B. A influência dos fatores ambientais no desenvolvimento


infantil. Revista de Ciências Humanas, RS, v. 9, n. 13, 2008. Disponível em <a influência dos
fatores ambientais no desenvolvimento infantil / the influence of the ambient factors in the infantile
development | nascimento | revista de ciências humanas (uri.br)>. Acesso em: 13 out. 2023.

SARTÓRIO, R. Neurofisiologia. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Indaial: Grupo


Uniasselvi, 2009.

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