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O art. 31 da Lei n. 6.385/1 976 i m pôs a i nterven ção da CVM (Co m issão de Valores
M o b i l i ários), como amicus curiae, nos processos que discutam matéria obj eto da
com petência desta autarq uia."8 O art. 1 1 8 da Lei n . 1 2. 5 29/20 1 1 (Lei Antitruste) i m põe
a i nti m ação do CAD E (Conselho Ad m i n i strativo de Defesa Eco n ô m i ca) nos processos
e m que se discutam q uestões relacionadas ao d i reito da concorrê n cia. Nesses dois
casos, o legislador, reco n h ecen d o as dificu ldades técnicas dessas causas, determ i n o u
a i ntimação do amicus curiae e a i n d a i n dicou q ue m exerceria esse pape l .
Q uando há n ecessidade de i ntimação do amicus curiae, o legi slador
confere ao possíve l amicus curiae a legiti m i dade para pro p o r ação
rescisória, caso não te n h a sido inti m ado (art. 967, IV, CPC).
Com a edição das leis q u e regu lame ntam os p rocessos de contro l e concen
trado d e c o n stituci o n a l i dade (Leis n . 9.868 e 9.882/1 999), a i nterve n ção d o amicus
curiae a p ri m o rou-se: não mais se i d e ntifica p revi a m e nte q u e m deva ser o auxi liar
(q u e pode ser q ualq u e r u m , desde q u e ten h a re p resentativi dade e possa contri b u i r
para a s o l u ção d a causa) e s e perm ite a i nterven ção espo ntânea do amicus curiae
- até e n tão a i nterve n ção e ra s e m p re p rovocada.
"A i n terve n ção do amicus curiae n o p rocesso objetivo de controle de
constitu cional idade p l u raliza o de bate dos p ri n ci pais temas de d i reito
constituci o n a l e propicia uma maior abertu ra n o seu p roced i m e n to
e n a i nterp retação constitucional, nos m o ldes s u geridos por Peter
Haberle e m sua sociedade aberta dos i nté rpretes da c o n stituição". "9· 1 20
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s u p re m e c o u rt.gov/ctru les/20 1 3 Ru lesoftheCo u rt . pdf), e a regra n.o 29, das Federal Rufes of Appellate Procedure
(FRAP) (http://www.usco u rts.gov/uscou rts/ru lesandpolicies/rules/ap2009 . pdf.),
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1 2 1 . STF, Tri b u n a l Pleno, A D I n. 4.071 AgR, Rei. M i n . M e nezes D i reito, j. em 2 2 .04. 2009, p u b l i cado no D]e· 1 95 .
1 2 2. CABRAL, Anto n i o do Passo. "Come ntários ao art. 1 38 d o Código de Processo Civil", a s e r e m p u b licados n o Cód i ·
go d e Processo C i v i l c o m e ntado por vários autores, coordenado p o r Lê n i o Streck, Leo nardo Carn e i ro da C u n ha,
Dierle N u nes e Alexa n d re Freire, da Editora Saraiva, n o prelo.
1 23 . Não e ra esse o ente n d i m ento desse Curso, q u e desde s e m p re defe n d i a q u e o amicus curiae e ra espécie de
auxiliar da j u stiça. Tam bé m ente n d e n d o tratar- se de a uxiliar da justiça, AG U I AR, M i re l l a d e Carva l h o . A micus
curiae. Salvador: Editora j u s Podivm, 2005, p. s6-6o.
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caso s e ria d e assistência litisco n s o rcial o u s i m p les, res pectivam e n te), n ão d eva ser
co n s i d e rado como parte para fi m de m o dificação d e com petê n c i a, e m bora d eva ser
co n s i d e rado c o m o parte para a defesa e m j uízo dos i nteresses q u e j u stificam a s u a
i ntervenção. Parte, pera no mucho.
E m b o ra parte, a sua atuação tem poderes restritos.
De um lado, reti ra-se d e le, como regra, a l egit i m idade rec u rsal (art. 1 38, § 1 °,
CPC), ressalvadas ao m e n o s d uas exceções: garante-se o d i reito de o p o r e m bargos
d e declaração (art. 1 38, § 1 o, fine, CPC) e d e reco rrer da decisão q ue j u lgar o i n ci d e n
te de reso l u ção d e deman d as re petitivas (art. 1 38, § 3o; arts . 976 e segs., C P C ) . E m
razão da existê ncia de u m m icrossiste m a de j u lgamento d e casos re petitivos (art.
928, CPC), a p ermi ssão de i nte rposição d e rec u rsos d eve este n d e r-se ao j u lgame nto
d e recursos especiais ou extraordinários repetitivos.
Cabe ao j u iz ou re lator d efi n i r os poderes p rocess uais do amicus curiae (art.
1 38, § 2°, CPC). Essa d e l i m itação, ao que parece, não pode perm iti r a i nterposição
de recu rsos, expressame nte p ro i b i d a no § 1 o do art. 1 38 - mas n ão estra n h ará se os
tri b u nais a m p l i are m essa legitim idade. Pode, p o r exe m p lo, auto rizar a p rod u ção de
p rovas e a s u stentação o ral das s u as razões.
Nada i m pede tam bém q u e o Regi m e nto I nterno do Tri b u nal atri b u a, ge n e ri ca-
m e nte, poderes p rocessuais ao amicus curiae1 24•
Percebe-se q u e a i nterve n ção do amicus curiae não se confunde com
a assistê ncia. O amicus curiae pode ser c h a m ado a i ntervi r ou pe
dir para i ntervir; n a assi stê ncia, o assistente pede para i n tervi r; os
poderes do assistente são conferidos pela lei; os do amicus, mais
l i m itados, são d efi n i dos pelo j u iz, ressalvados algu n s poucos con
feridos pela lei; o amicus não é parte para f i m de deslocamento d e
com petê n cia - a p resença do assiste nte desloca a com petê ncia e m
razão da pessoa, se fo r o caso.
1 24. Como, p o r exe m plo, o Reg i mento I nterno d o STF, q ue, d e s d e a E m e n d a Regi m e ntal n . 1 5/2004, q u e acresce ntou
o § 3' ao art. 1 3 1 , perm ite a s u ste ntação o ral d e amicus curiae: "§ 3' Admitida a interven ção d e te rcei ros n o
processo d e controle concentrado d e constitucionali dade, fica· l h e s facu ltado p r o d u z i r s u ste ntação o ral, a p l i
cando·se, q uando for o caso, a regra do § 2' do artigo 1 32 d e s t e Regi mento."
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1 26. Art. 91 do CPC/ 1 939: "O j u iz, q uando necessário, o rdenará a citação de tercei ros, para i ntegrarem a contesta·
ção. Se a parte i n t e ressada não promover a citação no p razo marcado, o j u i z abso lverá o réu da i n stân cia."
1 27 . A in tervenção iussu iudicis no processo civil brasileiro . São Pau l o : s/ed., 1 96 1 , p . 1 3 3 .
1 28. A in tervenção iussu iudicis no processo civil bra sileiro. São Pau l o : s/ed., 1 96 1 , p . 1 34.
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1 29. §3' d o art. 6o da Lei n. 4 . 7 1 7(1 965, que também é apl icado à ação d e i m p robidade ad m i n i strativa, por força
d o § 3' do art. 17 da Lei n . 8.429( 1 992: "A pessoa j u rídica d e d i reito p ú blico o u de d i reito p rivado, cujo ato
seja o bjeto d e i m p ugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, o u poderá atuar ao lado do autor, desde
q u e isso se afig u re útil ao i nteresse p ú b l i co, a j u ízo do respectivo represe ntante legal o u d i rigente". Cân d i d o
D i n a marco não aceita a utilização desse parad igma l e g a l como argu me nto, em razão da s u a exce pcionalidade.
(Litisconsórcio, cit., p . 2 3 1 , n ota 28.)
1 30. Providência q u e se i m põe, a des peito de o regi me j u rídico da coisa j u lgada coletiva não p rej u d i car a vítima:
"Art. 94- Proposta a ação, será p u blicado ed ital n o órgão oficial, a fim de q u e os i nteressados possam i ntervi r
no p rocesso como litisco n s o rtes, sem p rej uízo de a m p l a divu lgação pelos meios de c o m u n i cação social por
parte dos órgãos de defesa do cons u m i d o r" .
1 3 1 . Por exe m plo, FERREI RA, W i l l i a m Santos. " P roced i m entos na lei do i n q u i l i n ato: ação revisional e ren ovatória de
aluguel". Procedimentos especiais cíveis - lesislação extravasan te. Fredie D i d i e r ) r. e C ristiano C h aves d e Farias
(coord.). São Pau l o : Saraiva, 2003, p . 996; ASSIS, Araken de. Locação e despejo. Porto Alegre: Sérgio Anto n i o
Fabris Editor, 1 992, p. 45 -
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de des pejo, o brigatória conforme o § 2° do art. 59 da Lei n . 8. 245/1 99 1 , ' 3' q u e poderá
torn ar-se assistente tanto do locado r q uanto do locatário (su b locador)133•
N ão se trata, co nvé m refo rçar, d e p rovocação para d e m a n dar (provoca tio ad
agendum): i m posição d o m agistrado para que o te rceiro seja demandante. É m e ra
cientificação, para q u e te rcei ro ass u m a a posição n o p rocesso de acordo com os
seus i nteresses.
A so l u ção é bastante s i m p les; agrada a a m bas as corre n tes, pois traz o tercei ro
ao p rocesso s e m i m por- l h e o exercício do d i reito de d e m a n d ar; não co m p ro m ete
a razoável d u ração do p rocesso; está d e acordo com a a m p l i ação dos poderes de
co n d u ção d o m agistrado; não n ecessita q u e se alterem as defi n i ções d e i n stitutos
j u rídicos con sagrados.
Algu n s exe m plos e m q ue uma i nterve n ção iussu iudicis atípica seria úti l : a)
i nterven ção d o l itisco n s o rte facultativo u n itário q u e não está n o p rocesso - a coisa
j u lgada lhe ati ngi rá, daí a conve n i ê n c i a d e sua partici pação; b) i n terve n ção d o s u bs
tituíd o : o j u iz, se tive r co n h ec i m e nto de q u e m seja o s u bstituído, pode d eterm i n ar
a s u a co m u n i cação, para q u e, q u e re n do, faça parte do p rocesso; c) i n t i m ação do
cônjuge p rete rido, no c a s o de proposit u ra de ação real i m o b i l iária s e m a p rova do
seu consenti m e nto (art. 7 3 , C PC), para q u e se posicione a respeito do ass u nto.
1 32 . "Qualq u e r q u e seja o f u ndamento da ação dar-se-á ciência do pedido aos s u b locatários, q u e pode rão i n t e rv i r
n o p rocesso como assiste ntes".
1 3 3 . REST I F F E N ETO, Paulo, e RESTI FFE, Paulo Sé rgi o . Locação - questões processuais. 4' ed. São Pau lo: RT, 2000, p .
1 84· 1 85 .
1 34. M E N D ES, Aluísio G o n çalves. Competência Cível d a justiça Federa l. São Pau l o : Saraiva, 1 998, p . 6 7 .
1 35. São exe m plos l e m b rados por Aluísio Men des, e m relação aos q uais se aplica o q uanto a q u i dito: a ) Lei n .
5.o 1 0(1 966, art. 7 0 : " A U n ião intervi rá, o brigatoriamente, n a s causas em q u e figurarem, como autores ou ré us,
os partidos políticos, excetuadas as de com petência da J u stiça Eleitoral, e as sociedades d e economia m i sta ou
e m p resas p ú b licas com partici pação majoritária federal, bem ass i m os órgãos autônomos especiais e fundações
criados por lei federal."; b) Lei n . 5.627/1 970, art. 4°: " Nas ações j u diciais e m que as Sociedades de Seguros o u de
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Capitalização, em regi me de l i q u idação extraj u d icial com p u lsó ria, sejam auto ras, rés, assistentes ou oponentes,
a U n ião será s e m p re citada como assistente (art. 1 25 da Constituição Federal). Parágrafo ú n ico. As dis posições
dêste artigo aplicam-se às ações em cu rso, devendo os res pectivos processos ser remetidos 'ex ofticio' à j ustiça
Federal no p razo de 30 (tri nta) dias, contados da data em que for apresentado em j uízo o pedido de citação da
U n ião."; c) Lei n . 6.825/1 980, art. 7°: "A U n ião Federal poderá i ntervi r nas causas em q u e figu rarem, como autores
o u ré us, os partidos políticos, excetuadas as de competência da j u stiça Eleitoral, e as sociedades de economia
m i sta ou e m p resas públicas com partici pação maj oritária federal, bem ass i m os ó rgãos autônomos e fundações
criados por lei federal"; d) Lei n . 8 . 1 97/1 99 1 , art. 2°: "A U n ião poderá intervir nas causas em que figu rarem como
auto ras ou rés as autarq uias, as fu ndações, as sociedades de economia m i sta e as e m p resas p ú b licas federais."
1 36. Corte Especial, ST) . AGP 1 .6 2 1 /PE, rei . Min. N i lson Naves, j . 24.06. 2002, Dj 1 4 .04.2003.
1 37 . Vicente G reco F i l h o parece aceitar esta i nterven ção especial: "Daí podermos c o n c l u i r q ue, e m virtude da l egiti
mação estabelecida pelo texto legal, a interven ção da U n ião pode ocorrer, nas h i póteses citadas, ainda que o
i nteresse de i ntervir seja m e rame nte de fato ou, ainda, apenas, para aco m pa n h ar o feito c o m o observado ra.
Releva ressaltar, ainda, q u e fica afastada por i n compatível com a nova si ste m ática legal a j u ri s p rudência an
terior restritiva à i nterve n ção da U n ião nas causas em q u e são partes as pessoas j u rídicas aci ma e n u nciadas,
i n c l u sive n o concernente à deslocação do foro para a sede da C i rcu nscrição da j u stiça Federal, fato que, ago ra,
parece i n co nteste. A lei criou, por consegui nte, u m a figu ra especial de i ntervenção, não e n q u ad rável nas h i
póteses capitu ladas como d e intervenção de tercei ros n o Código d e Processo Civil, q u e t e m como pressu posto
apenas a posição de autora ou ré uma das pessoas referidas n a lei e a vontade da U n ião. O i nteresse, n o caso,
se p res u m e pela participação d e capital maj o ritário federal nas e m p resas p ú b li cas o u sociedades d e eco n o m i a
m i sta e pela cri ação n o caso das fun dações" (Direito Processual Civil Brasileiro, c i t . , p . 1 5 1 ).
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1 38. O STj d i s s e n ã o se aplicar o disp ositivo d o art. s . o da L e i n . 9.469/1 997 ao mandado de segu rança: "O art. 5 .',
par. ú n . , da Lei 9.469/97 não alcança o mandado de segu rança. Destarte, a pessoa de Di reito P ú b l ico, alegando
q u e o d e s l i n d e d o feito resu ltará, d i reta o u i n d i retamente, efeito eco n ô m i co, não pode se vale r desse disposi·
tivo para i ntervi r nesse tipo d e p rocesso" (EDcl n o AgRg n o M S 5 .690· D F, Rei. Min. H u m berto Gomes de Barros,
j u l gados e m 27.02. 2002).
1 39. E n u nciado no 5 5 6 da s ú m u la d o STF: " É com petente a j ustiça com u m para j u lgar as causas e m que é parte
sociedade d e economia m i sta". E n u nciado n .42 d a s ú m u l a d o STj : "Com pete à j u stiça Com u m Estadual p ro·
cessar e j u lgar as causas cíveis e m que é parte sociedade d e eco n o m i a m i sta e os cri m e s p raticado s e m seu
detri m e nto".
1 40. C U N HA, Leonardo Carn e i ro da. " I nterve nção a n ôm ala: a interven ção d e terceiro pelas pessoas j u rídicas d e
d i reito p ú blico p revista n o parágrafo ú n ico do art. 5' da L e i 9.469/1 997". Aspectos po lêmicos e a tuais sobre o s
terceiros no processo civil e assun tos afins. F r e d i e Didier j r. e Teresa A r r u d a Alvi m Wam b i e r (coord .). S ã o Pau lo:
RT, 2004, p. 597.
1 4 1 . CAR N E I RO, Ath o s Gusmão . In tervenção de terceiros. 1 3 . e d . São Pau lo: Saraiva, 200 1 , p. 1 50- 1 5 1 .
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1 42 . Não c o n s i d e rando q u e e s s a i ntervenção tran sfo r m e a p e s s o a j u rídica de d i reito público em parte, C U N HA, Leo
nardo Carn e i ro da. "I nterven ção a n ô m ala: a intervenção d e tercei ro pelas pessoas j u rídi cas de di reito p ú blico
p revista n o parágrafo ú n ico do art. s• da Lei 9.469/ 1 997". Aspectos po lêmicos e a tuais sobre os terceiros no pro
cesso civil e assun tos afins. Fredie D i d i e r ) r. e Te resa Arruda AI vim Wam bier (coord .). São Pau l o : RT, 2004, p . 601 .
1 43 . Assi m , Aluísio M e n d e s : "A intervenção da U n ião, das entidades autárq u icas, f u n dações p ú b l icas ou e m p resas
p ú b l i cas federais n o p rocesso, após a prolação da sente n ça, não des loca a com petência para a j u stiça Federal"
(ob. cit., p . 1 44).
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