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FREDIE DIDIER JR.

7. 1 NTERVENÇÃO D E AMICUS CUR/Af1 1 1


O amicus curiae é o tercei ro q u e, espontaneame nte, a ped i d o da parte o u p o r
p rovocação d o ó rgão j u ris dicional, i ntervé m n o p rocesso para fo rnecer s u bsíd i os
q u e possam a p ri m o rar a q u alidade da decisão.
A interven ção do amicus curiae não se confunde com a partici pação do
perito. A perícia é meio de p rova, e, pois, de averiguação do su bstrato
fáctico. O perito é auxi liar do j u ízo. O amicus curiae, q u e é parte, dá a
sua opin ião sobre a cau sa, em toda a sua com plexidade, sobretudo nas
q u estões técnico-j u rídicas. Além disso, n ão há h o n o rários para o ami­
cus curiae, n e m se s u b m ete ele às regras de i m ped i m ento e suspeição.

O art. 31 da Lei n. 6.385/1 976 i m pôs a i nterven ção da CVM (Co m issão de Valores
M o b i l i ários), como amicus curiae, nos processos que discutam matéria obj eto da
com petência desta autarq uia."8 O art. 1 1 8 da Lei n . 1 2. 5 29/20 1 1 (Lei Antitruste) i m põe
a i nti m ação do CAD E (Conselho Ad m i n i strativo de Defesa Eco n ô m i ca) nos processos
e m que se discutam q uestões relacionadas ao d i reito da concorrê n cia. Nesses dois
casos, o legislador, reco n h ecen d o as dificu ldades técnicas dessas causas, determ i n o u
a i ntimação do amicus curiae e a i n d a i n dicou q ue m exerceria esse pape l .
Q uando há n ecessidade de i ntimação do amicus curiae, o legi slador
confere ao possíve l amicus curiae a legiti m i dade para pro p o r ação
rescisória, caso não te n h a sido inti m ado (art. 967, IV, CPC).
Com a edição das leis q u e regu lame ntam os p rocessos de contro l e concen­
trado d e c o n stituci o n a l i dade (Leis n . 9.868 e 9.882/1 999), a i nterve n ção d o amicus
curiae a p ri m o rou-se: não mais se i d e ntifica p revi a m e nte q u e m deva ser o auxi liar
(q u e pode ser q ualq u e r u m , desde q u e ten h a re p resentativi dade e possa contri b u i r
para a s o l u ção d a causa) e s e perm ite a i nterven ção espo ntânea do amicus curiae
- até e n tão a i nterve n ção e ra s e m p re p rovocada.
"A i n terve n ção do amicus curiae n o p rocesso objetivo de controle de
constitu cional idade p l u raliza o de bate dos p ri n ci pais temas de d i reito
constituci o n a l e propicia uma maior abertu ra n o seu p roced i m e n to
e n a i nterp retação constitucional, nos m o ldes s u geridos por Peter
Haberle e m sua sociedade aberta dos i nté rpretes da c o n stituição". "9· 1 20

1 1 7 . Sobre o amicus curiae, i n d i s p e n sáve l a l e i t u ra do m o n u m ental traba l h o de B U E N O, Cassio Scarpi n e l l a . Amicus


curiae no processo civil brasileiro: um terceiro enigmático. São Pau l o : Saraiva, 2006.
1 1 8. Sobre antiga h i pótese de i ntervenção de amicus curiae no d i reito i m perial bras i l e i ro, que tudo i n dica é a mais remo·
ta em n ossa história, D I D I E R ] r., Fredie; SOUZA, M arcus Seixas. "Formação do precedente e amicus curiae n o d i reito
i m perial brasileiro: o i nteressante Dec. 6 . 1 42/1 876". Revista de Processo. São Pau lo: RT, 201 3, n. 2 20, p. 407 e segs.
1 1 9. C U N H A ] r., D i rley da. "A intervenção de tercei ros no p rocesso d e controle abstrato d e constituci o n a l i d ad e - a
i ntervenção do particular, do colegiti mado e do amicus curiae na A D I N , ADC e ADPF" . Aspectos po lêmicos e
atuais sobre os terceiros no processo civil e assuntos afins. Fredie D i d i e r ] r. e Te resa Arruda Alvim Wam bier
(coo rd .). São Pau lo: RT, 2004, p. 1 65 .
1 20. D u a s regras do d i reito n o rte-americano s ã o i m portantes para a c o m p re e nsão da figura do amicus curiae,
originária do d i reito anglo-saxão: a regra n.• 37, das Rufes ot the Supreme Court of The U. 5 (htt p://www.

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I NT E R V E N ÇÃO D E T E R C E I R O

O CPC d e 201 5 pela p ri m e i ra v e z regu lou a i nterven ção do amicus curiae.


O art. 1 38 do CPC c u i d a do ass u nto.
A interve n ção do amicus curiae passou a ser possíve l e m q ua l q u e r p rocesso,
desde que se trate de causa re levante, ou com te m a m u ito e s pecífico o u q u e te n ha
re percu ssão social (art. 1 38, caput, CPC). Generalizou-se a in tervenção do amicus
curiae.
O amicus curiae pode s e r pessoa n at u ral, pessoa j u rídica ou ó rgão ou entidade
es pecial izad o . A opção legislativa é clara: am p l iar o rol de entes aptos a ser amicus
curiae.
Exige-se, p o rém, q u e te n h a representa tividade adequada (art. 1 38, caput,
CPC). O u seja, o amicus curiae p recisa ter alg u m vín c u l o com a q u estão l itigiosa, de
m o d o a que possa co ntri b u i r para a s u a sol u ção .
A adeq u ação da re p resentação s e rá avaliada a parti r da relação e n t re o amicus
curiae e a relação jurídica litisiosa. U m a associação científi ca possui re p resentativi­
dade adeq u ada para a discussão d e temas relaci o n ados à atividade científica q u e
patro c i n a; u m antropólogo re n o m ad o pode colaborar, p o r exe m plo, co m q u estões
re laci o n adas aos povos i n díge nas; u m a e ntidade d e classe pode aj udar n a s o l u ção
de q uestão q ue d iga res peito à ativi dade profissional q u e ela re p resenta etc.
A p ropós ito, o e n u n ciado n. 1 2 7 do Fó r u m Permanente de P rocessua­
l i stas Civis: "A re p rese ntatividade adeq uada exigida do amicus curiae
não p ress u põe a c o n co rdância u n â n i m e daq ueles a q u e m re p rese nta" .

N ada i m pede q u e h aj a mais d e u m amicus curiae n o p rocesso. A p l u ralidade


d e visões s o b re o mes m o tema e n riq u ece o d e bate e q ualifica, n ecessari a m e nte, a
deci são j u d icial.
É possíve l, por exe m p lo, q u e, e m processo de controle concentrado
da constituci o n al i dade de um ato n o r m ativo, uma associação sol icite
seu i n gresso n a c o n d i ção de amicus curiae, defe n d e n d o uma deter­
m i nada "tese" ace rca da constitucionali dade da lei o u do ato n o rm a­
tivo, e m pro l da co m u nidade cujos interesses re presenta. É possível,
i n c l u sive, que esteja, em j u ízo, m ais de uma entidade com "teses"
d isti ntas ou opostas, s u stentando, cada u m a, seu posici o n a m e n to .
Basta p e n sar n a i nterven ção de u ma associação para defesa dos d i ­
reitos da p o p u l ação afrodesce n d e n te b ras i l e i ra, para abordar q u estão
relativa ao sistema de cotas; ou de uma e ntidade para p reservação da
h i stória e c u l t u ra dos j u d e u s para defi n i r se o crime rac i s m o abrange
o antissemiti s m o . A verdade é q u e, parcial o u n ão o amicus curiae, às

s u p re m e c o u rt.gov/ctru les/20 1 3 Ru lesoftheCo u rt . pdf), e a regra n.o 29, das Federal Rufes of Appellate Procedure
(FRAP) (http://www.usco u rts.gov/uscou rts/ru lesandpolicies/rules/ap2009 . pdf.),

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s u as considerações dará o ó rgão j u lgad o r o peso q u e a s u a convicção


dete r m i n a r ("Th e c o u rt m ay give the argu m e nts in t h e amicus c u riae
b rief as m u c h o r as little weight as it c h ooses").
A i nterven ção d o amicus curiae será auto rizada pelo ó rgão j u ri s d i c i o n al, de
ofício ou a req ueri m e nto do e nte i nteressado ou das partes (art. 1 38, capu t, CPC).
Tam bé m aq u i , a m p l i o u-se co n s i d e rave l me nte a fo rma d e i n gresso do amicus curiae.
O STF ente n d e u , p o ré m , que o amicus curiae some nte pode req u e re r
seu i n gresso n o p rocesso até a data e m q u e o relator l i b e rar o p ro­
cesso para a i n c l u são e m pauta"' .
A deci são sobre a i nterven ção do amicus curiae, ad m iti ndo-a o u n ão a ad m i ­
t i n do, é i rreco rríve l (art. 1 38, capu t, CPC).
O amicus curiae terá o prazo de q u i nze dias para man ifestar-se, contados da data
da i nti m ação da decisão q u e o ad m iti u (art. 1 38, caput, CPC). Nada i m pede q ue essa
man ifestação seja apresentada s i m u ltaneamente ao req ueri mento de i ngresso no pro­
cesso - i nad m itido o i ngresso, a man ifestação do amicus curiae será excl uída dos autos.
Para man ifestar-se no i n ci d e nte de re percu ssão geral e m recu rso extrao rd i ­
n á r i o (art. 1 .035, §4o, C PC), i nterpor recu rsos o u fazer s u stentação o ral, o amicus
curiae p recisa estar re p rese ntado por advogado . M as n e m sem p re isso será n eces­
sári o . Para s i m p les mente falar n o s autos, n ão h á sentido e m exigi r a p resença de
advogado, s o b retudo q uando o amicus curiae é uma pessoa n at u ral (um cientista,
um p rofessor etc.) . A situação asse m e l h a-se à da autoridade coatora em mandado
de segu ran ça"', q u e s u bscreve pessoa l m e nte as i nfo rmações, e ao laudo pericial,
tam bém s u bscrito pelo perito.
O CPC tomou partido d e uma d i scussão do utri nária: a i nte rve n ção d e amicus
curiae é u m a i n terve n ção de te rce i ro . Assi m , o amicus curiae vira parte"3; a ele, por
exe m p lo, não se a p l i cam as regras s o b re s u s pei ção o u i m ped i m e nto, a p l i cávei s aos
auxi l iares da j u stiça. Atuará, em j uízo, na defesa dos i nteresses q u e patroci na. Nada
o bstante, e u m tanto q uanto paradoxa l m e nte, determ i n a o CPC que essa i nterve n ­
ção n ã o i m p l i ca alte ração d e com petê n ci a e m razão da pessoa (art. 1 38, § 1 °, CPC).
Ass i m , se, por exe m p lo, uma entidade autárq u i ca fed e ral for a d m itida co m o
amicus curiae em p rocesso q ue tram ita n a j u stiça Estad ual, n ão h averá desloca­
m e nto da causa para a j u stiça Federa l . A razão é a segu i nte: como o amicus curiae
n ão é tit u l a r da re lação j u rídica l itigiosa n e m de re lação j u rídica con exa (se o for, o

1 2 1 . STF, Tri b u n a l Pleno, A D I n. 4.071 AgR, Rei. M i n . M e nezes D i reito, j. em 2 2 .04. 2009, p u b l i cado no D]e· 1 95 .
1 2 2. CABRAL, Anto n i o do Passo. "Come ntários ao art. 1 38 d o Código de Processo Civil", a s e r e m p u b licados n o Cód i ·
go d e Processo C i v i l c o m e ntado por vários autores, coordenado p o r Lê n i o Streck, Leo nardo Carn e i ro da C u n ha,
Dierle N u nes e Alexa n d re Freire, da Editora Saraiva, n o prelo.
1 23 . Não e ra esse o ente n d i m ento desse Curso, q u e desde s e m p re defe n d i a q u e o amicus curiae e ra espécie de
auxiliar da j u stiça. Tam bé m ente n d e n d o tratar- se de a uxiliar da justiça, AG U I AR, M i re l l a d e Carva l h o . A micus
curiae. Salvador: Editora j u s Podivm, 2005, p. s6-6o.

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caso s e ria d e assistência litisco n s o rcial o u s i m p les, res pectivam e n te), n ão d eva ser
co n s i d e rado como parte para fi m de m o dificação d e com petê n c i a, e m bora d eva ser
co n s i d e rado c o m o parte para a defesa e m j uízo dos i nteresses q u e j u stificam a s u a
i ntervenção. Parte, pera no mucho.
E m b o ra parte, a sua atuação tem poderes restritos.
De um lado, reti ra-se d e le, como regra, a l egit i m idade rec u rsal (art. 1 38, § 1 °,
CPC), ressalvadas ao m e n o s d uas exceções: garante-se o d i reito de o p o r e m bargos
d e declaração (art. 1 38, § 1 o, fine, CPC) e d e reco rrer da decisão q ue j u lgar o i n ci d e n ­
te de reso l u ção d e deman d as re petitivas (art. 1 38, § 3o; arts . 976 e segs., C P C ) . E m
razão da existê ncia de u m m icrossiste m a de j u lgamento d e casos re petitivos (art.
928, CPC), a p ermi ssão de i nte rposição d e rec u rsos d eve este n d e r-se ao j u lgame nto
d e recursos especiais ou extraordinários repetitivos.
Cabe ao j u iz ou re lator d efi n i r os poderes p rocess uais do amicus curiae (art.
1 38, § 2°, CPC). Essa d e l i m itação, ao que parece, não pode perm iti r a i nterposição
de recu rsos, expressame nte p ro i b i d a no § 1 o do art. 1 38 - mas n ão estra n h ará se os
tri b u nais a m p l i are m essa legitim idade. Pode, p o r exe m p lo, auto rizar a p rod u ção de
p rovas e a s u stentação o ral das s u as razões.
Nada i m pede tam bém q u e o Regi m e nto I nterno do Tri b u nal atri b u a, ge n e ri ca-
m e nte, poderes p rocessuais ao amicus curiae1 24•
Percebe-se q u e a i nterve n ção do amicus curiae não se confunde com
a assistê ncia. O amicus curiae pode ser c h a m ado a i ntervi r ou pe­
dir para i ntervir; n a assi stê ncia, o assistente pede para i n tervi r; os
poderes do assistente são conferidos pela lei; os do amicus, mais
l i m itados, são d efi n i dos pelo j u iz, ressalvados algu n s poucos con­
feridos pela lei; o amicus não é parte para f i m de deslocamento d e
com petê n cia - a p resença do assiste nte desloca a com petê ncia e m
razão da pessoa, se fo r o caso.

As partes não podem limitar os poderes d o amicus curiae o u n egociar para


i m pe d i r a s u a parti cipação, valendo-se d o art. 1 90 d o CPC. Mas é lícito u m n egócio
p rocessual p l u ri lateral, de q ue faça parte o amicus curiae, para orga n i za r a fo rma
d e s u a man ifestação - p o r escrito, o ral m e nte etc.
O art. 967, IV, CPC, auto riza a p ro posit u ra de ação rescisória por a q u e ­
le q u e n ão te n h a sido o uvido n o p rocesso e m q u e e ra o b ri gató ria a
s u a i ntervenção. O d i s pos itivo aplica-se, clarame nte, aos casos da
CVM e do CADE, cuja i nterven ção como amicus curiae é o b rigatória

1 24. Como, p o r exe m plo, o Reg i mento I nterno d o STF, q ue, d e s d e a E m e n d a Regi m e ntal n . 1 5/2004, q u e acresce ntou
o § 3' ao art. 1 3 1 , perm ite a s u ste ntação o ral d e amicus curiae: "§ 3' Admitida a interven ção d e te rcei ros n o
processo d e controle concentrado d e constitucionali dade, fica· l h e s facu ltado p r o d u z i r s u ste ntação o ral, a p l i ­
cando·se, q uando for o caso, a regra do § 2' do artigo 1 32 d e s t e Regi mento."

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e m algu n s casos, conforme visto aci ma. N ote-se q u e, n este caso,


atri b u i u - s e a q u e m p o d e r i a t e r sido
amicus curiae o d i reito à resci são
da se nten ça, caso n ão te n h a sido i n t i m ado n o p rocesso origi nário.
Nesse sentido, o e n u n ciado n . 3 39 d o Fóru m Permanente de Processua­
listas Civis: "O CAD E e a CVM, caso não te n ham sido i n t i m ados, q uando
ob rigató rio, para partici par do p rocesso (art. 1 1 8, Lei n . 1 2 . 5 29/20 1 1 ;
art. 3 1 , Lei n . 6.385/1 976), têm legiti m i dade para propor ação rescisória
contra a decisão ali proferida, nos termos do i nciso IV do art. 967''.

O ó rgão j u lgado r n ão fica vi n c u lado à man ifestação d o amicus curiae real­ -

m e nte, n ão h á sentido e m vi n c u la r o j u lgad o r à man ifestação de u m a parte, ai n d a


q u e u m a parte especial; l e m b re-se, a i n da, q u e h á possi b i l i d ade de i nterven ção d e
mais d e u m amicus curiae, para defe n d e r i nteresses contrapostos.
Mas o j u iz não pode ign o rar a man ifestação do amicus curiae assi m co m o -

n ão p o d e i g n o rar a man ifestação d a s partes p ri n ci pai s . Se assi m não fosse, h averia


grave violação ao contraditório, além de tornar i n ócua a i nterven ção do amigo da
co rte. Po r isso, " n o p rocesso e m que há i nterven ção do amicus curiae, a decisão
d eve e nfrentar as alegações por ele apresentadas, nos termos do i n ciso IV do § 1 °
d o art. 489" ( e n u n ciado n . 1 28 d o Fó rum Permane nte d e P rocess ualistas Civis).
Além da p revi são gen é rica de i nterven ção de amicus curiae n o art. 1 38 do CPC,
h á outras regras, n o p ró p ri o Código, q u e auto rizam essa i ntervenção: a) i n cidente de
arguição d e i n constitucionalidade e m tribu nal (art. 959, §§ 1 °, 2° e 3°); b) n o i n cidente
de resol u ção de demandas re petitivas (art. 983, caput e § 1 o, CPC); c) no p roced i m e n ­
t o de análise da repercussão geral e m rec u rso extraordi n ário (art. 1 .035, §4o); d) n o
j u lgamento de recu rsos extraordi n á rios ou especiais repetitivos (art. 1 .038, COC)125•

8. OUTRAS I NTERVENÇÕES DECORRENTES DA RESPOSTA DO RÉU


H á três outras es pécies de i nterven ção de tercei ro q u e podem s u rg i r da res­
posta d o ré u .
A p ri m e i ra de las perm ite a s u bstitui ção do réu n a h i pótese do art. 338. A se­
gunda perm ite a s u bstitui ção do ré u o u a a m p l i ação do polo passivo d o p rocesso,
n a h i pótese d o art. 339. A tercei ra p ro m ove u m a a m p l i ação s u bjetiva d o p rocesso
nos casos e m q ue a reconven ção é p roposta e m l itisco n s ó rcio com um tercei ro ou
p roposta e m face do autor e um te rcei ro (art. 343, §§3o e 4°, CPC).

1 25 . N o c é l e b re j u lgamento d o Habeas Corpus n . 82 .424, concl uído e m 2003, e m q u e se d e l i n e o u o alcance do c ri m e


de rac i s m o , p revisto constitucio nal m ente, o STF ad m it i u a i ntervenção de amicus curiae, o P rol. Celso Lafer, a
despeito da i n existê ncia de regra exp ressa no p rocesso penal n este sentido. Trata-se de j u lgame nto tam bém
por este aspecto h i stóri co, pois servi u d e parad igma para q u e s e perm ita a i n t e rvenção deste auxiliar s e m p re
a q u e a rel evância da causa assi m i m p u s e r - e n te n d i m e nto q u e o CPC e n c a m p o u no art. 1 38.

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Essas t r ê s m odalidades de i nterve n ção d e te rcei ro serão exam i nadas n o capí­


t u l o sobre a res posta d o réu .

9 . A I NTERVENÇÃO /USSU /UDIC/S


A i nterven ção iussu iudicis é a i nterven ção de tercei ro por determ i n ação do j u iz.
H á ao m e n os três h i póteses típicas de i nterve n ção iussu iudicis:
a) a i nterven ção d e amicus curiae, q u e, c o m o vi sto, pode ser dete rm i n ada ex
officio;
b) citação do l itisco n s o rte passivo n ecessário (art. 1 1 5, par. ú n ., CPC). A h i póte­
se n ão é d e litisco nsórcio n ecessário por dete rm i n ação do j u iz: é determ i n ação, pelo
j u iz, d e citação d e u m litisco nsorte n ecessário, de aco rdo co m os crité rios legais q u e
i m po n ham a n ecessari edade. S e o autor não p ro m ove r a citação (ad iantar o val o r
d a s cu stas, p rovidenciar e n d e reço d o ré u etc.), o m agistrado exti ngu i rá o p rocesso
s e m reso l u ção d o mé rito.
c) A citação dos i nteressados n a p ro d u ção antecipada de p rova (art. 382, § 1 o,
CPC). Caso o j u iz ente n d a q ue h á algu m i nteressado n a p rova d o fato o u n a p rod u ­
ção d a p rova, c u j a citação n ão te n h a s i d o req uerida, poderá determ i ná-la ex officio .
Rem a n esce a d úvida s o b re é possíve l u m a i nterven ção iussu iudicis atípica.
O art. 9 1 do CPC- 1 939 autorizava a interve n ção iussu iudicis, permitindo ao
m agistrado traze r ao p rocesso tercei ros, q ua n d o n ecessári o 1 26•
M oacyr Lobo da Costa, ao i nte r p retar o d i s positivo da l egis lação revogada,
entendia q ue a i nterven ção iussu iudicis não é caso de formação de l itisco n s ó rcio,
m u ito menos n ecessário, pois não tem por fi m a i ntegração d e pessoa i n d i s pe n sá­
vel ao vál i d o e regular d es l i n d e d o feito. Sua fi nal idade s e ri a diversa. Ente n d i a q u e a
"causa geral da i nterve n ção é o n exo existente e n t re a relação j u rídica controve rtida
e uma outra relação de q ue o i nterve n i e nte é sujeito; o fi m é t razer para o p rocesso
um te rcei ro q ue pode ser p rej u d i cado pela sentença a p rofe ri r entre as partes o rigi­
n á rias o u ao q ual se p rete n d e este n d e r a efi cácia d essa sentença" . 1 27 C onc l uía q u e
a i nterve n ção de tercei ro iussu iudicis e ra poder do j u iz, q u e poderia s e r uti l izado
q ua n d o j u lgasse oportuna a p rese n ça d o tercei ro no p rocesso, e n q uanto a dete r m i ­
n ação do i ngresso do l itisco nsorte n ecessário é i m posição da l e i . 1 28

1 26. Art. 91 do CPC/ 1 939: "O j u iz, q uando necessário, o rdenará a citação de tercei ros, para i ntegrarem a contesta·
ção. Se a parte i n t e ressada não promover a citação no p razo marcado, o j u i z abso lverá o réu da i n stân cia."
1 27 . A in tervenção iussu iudicis no processo civil brasileiro . São Pau l o : s/ed., 1 96 1 , p . 1 3 3 .
1 28. A in tervenção iussu iudicis no processo civil bra sileiro. São Pau l o : s/ed., 1 96 1 , p . 1 34.

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D e acordo c o m essa i nterp retação, h averia u m a c l á u s u l a g e ral d e i nterve n ção


iussu iudicis, a permiti r i n te rve n ções atípicas.
O CPC atual, n o e ntanto, n ão re p rod uzi u o e n u n ciado do art. 91 d o CPC- 1 939,
p reve n d o ap en as h i póteses específi cas de i nterve n ção iussu iudicis.
Parece possíve l, n o d i reito b ras i l e i ro, a parti r da c o n c retização dos p r i n cípios
da adeq u ação, da d u ração razoáve l do p rocesso e da efi ciên cia, a i nterve n ção iussu
iudicis atípi ca, sem p re q u e o ó rg ão j u risdicional, p o r deci são f u n d a m e ntada, enten­
d e r conve n i e nte a partici pação d e terce i ro n o p rocesso.
Em 2005, o M i n . Celso de M e l l o , relator dos man dados de segu ran ça n . 24.83 1 ,
24.845, 24. 846, 24.847, 24.848 e 24.849 (j u l g ados por co n exão e m 2 2 .06. 2005), q u e
d i scutiam a i n stalação da cha mada " C P I d o s B i n gos", val e u -se, exp ressamente, d a
i nterven ção iussu iudicis para traze r a o p rocesso os líde res d o s partidos g ove rnis­
tas . Ente n d e u o m i n i st ro q u e es s es líderes, e m b o ra não fossem l itisco n s o rtes n e ­
cessários, d everiam ad cau telam, participar do p rocesso.
A p rovi d ê n cia j u stifi ca-se, tam bém, como medida de efetivação do d i reito
f u n d a m e ntal ao co ntraditório e, ai n da, co m o p roteção d o p r i n cípio d a i g ual dade,
p o rq uanto p ro c u re evitar q u e a parte se s u b m eta a p rocesso cujo res u ltado possa
ser i m p ugnado por um te rce i ro . Garante ao te rcei ro o exe rcíci o da d i reito de n ão
d e m andar, não l h e s e n d o i m posta a c o n d i ção d e d e m a n dante: o te rcei ro não estaria
o b ri g ado a d e m andar, pois apenas seria cie ntificado d o p rocesso.
Há, ai nda, al g u mas re g ras semelhantes n a le g islação extrava g ante: a) na Lei de
Ação Po p u lar e n a Lei de I m probidade Ad m i n i strativa, i m põe-se a intimação da pessoa
j u rídica de d i reito p ú b l ico, cujo ato se q u estiona, para que ass u m a a posição de litis­
consorte ativa o u passiva, co nfo rme seja o seu i nteresse; ' 29 b) n o Códi g o de Defesa do
Co n s u m i d o r, p revê-se a intimação das vítimas n a ação co letiva p ro posta para a tutela
de d i reitos i n d ividuais h o m o g ê neos; ' 30 c) a i n t i m ação do fiador na ação revi sional de
al uguel, o brigatória para algu n s autores;'3' d) a i nti mação do s u b locatário na ação

1 29. §3' d o art. 6o da Lei n. 4 . 7 1 7(1 965, que também é apl icado à ação d e i m p robidade ad m i n i strativa, por força
d o § 3' do art. 17 da Lei n . 8.429( 1 992: "A pessoa j u rídica d e d i reito p ú blico o u de d i reito p rivado, cujo ato
seja o bjeto d e i m p ugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, o u poderá atuar ao lado do autor, desde
q u e isso se afig u re útil ao i nteresse p ú b l i co, a j u ízo do respectivo represe ntante legal o u d i rigente". Cân d i d o
D i n a marco não aceita a utilização desse parad igma l e g a l como argu me nto, em razão da s u a exce pcionalidade.
(Litisconsórcio, cit., p . 2 3 1 , n ota 28.)
1 30. Providência q u e se i m põe, a des peito de o regi me j u rídico da coisa j u lgada coletiva não p rej u d i car a vítima:
"Art. 94- Proposta a ação, será p u blicado ed ital n o órgão oficial, a fim de q u e os i nteressados possam i ntervi r
no p rocesso como litisco n s o rtes, sem p rej uízo de a m p l a divu lgação pelos meios de c o m u n i cação social por
parte dos órgãos de defesa do cons u m i d o r" .
1 3 1 . Por exe m plo, FERREI RA, W i l l i a m Santos. " P roced i m entos na lei do i n q u i l i n ato: ação revisional e ren ovatória de
aluguel". Procedimentos especiais cíveis - lesislação extravasan te. Fredie D i d i e r ) r. e C ristiano C h aves d e Farias
(coord.). São Pau l o : Saraiva, 2003, p . 996; ASSIS, Araken de. Locação e despejo. Porto Alegre: Sérgio Anto n i o
Fabris Editor, 1 992, p. 45 -

528
I N T E R V E N Ç Ã O OE T E R C E I R O

de des pejo, o brigatória conforme o § 2° do art. 59 da Lei n . 8. 245/1 99 1 , ' 3' q u e poderá
torn ar-se assistente tanto do locado r q uanto do locatário (su b locador)133•
N ão se trata, co nvé m refo rçar, d e p rovocação para d e m a n dar (provoca tio ad
agendum): i m posição d o m agistrado para que o te rceiro seja demandante. É m e ra
cientificação, para q u e te rcei ro ass u m a a posição n o p rocesso de acordo com os
seus i nteresses.
A so l u ção é bastante s i m p les; agrada a a m bas as corre n tes, pois traz o tercei ro
ao p rocesso s e m i m por- l h e o exercício do d i reito de d e m a n d ar; não co m p ro m ete
a razoável d u ração do p rocesso; está d e acordo com a a m p l i ação dos poderes de
co n d u ção d o m agistrado; não n ecessita q u e se alterem as defi n i ções d e i n stitutos
j u rídicos con sagrados.
Algu n s exe m plos e m q ue uma i nterve n ção iussu iudicis atípica seria úti l : a)
i nterven ção d o l itisco n s o rte facultativo u n itário q u e não está n o p rocesso - a coisa
j u lgada lhe ati ngi rá, daí a conve n i ê n c i a d e sua partici pação; b) i n terve n ção d o s u bs­
tituíd o : o j u iz, se tive r co n h ec i m e nto de q u e m seja o s u bstituído, pode d eterm i n ar
a s u a co m u n i cação, para q u e, q u e re n do, faça parte do p rocesso; c) i n t i m ação do
cônjuge p rete rido, no c a s o de proposit u ra de ação real i m o b i l iária s e m a p rova do
seu consenti m e nto (art. 7 3 , C PC), para q u e se posicione a respeito do ass u nto.

l O. I NTERVENÇÕES ESPECIAIS DOS ENTES PÚBLICOS

O i n ciso I do art. 1 09 d a CF/1 988 esti p u l o u q u e as cau sas cívei s e m que a


U n ião, entidades autárq u i cas o u e m p resas p ú b l i cas fed e rais i n tervi erem como as­
s i stentes são da com petê n c i a da j u stiça fed e ral de p ri m e i ra i n stância. Isso j á foi
exa m i n ado n o capít u l o s o b re com petê n cia.
Sucede q u e, como pontuou Al uís i o M e n des, " o Pode r Executivo e o legislad o r
o rd i n ário j á tentaram afastar, de m o d o d issi m u l ado, o i nteresse j u ríd ico c o m o re­
q u isito, estabelece n d o u m a i nterven ção ex officio ou por s i m p les d esejo d o ente
fede ra l " . ' 34 Ed itaram-se l e i s que auto rizavam a i nterven ção da U n ião, e m p rocesso
a l h e i o, sem a n ecessidad e d e d e m o n stração d e i nte resse j u ríd i co, e q u e, e m razão
d isso, desnatu ravam os clássicos i n stitutos da i nterven ção . ' 35

1 32 . "Qualq u e r q u e seja o f u ndamento da ação dar-se-á ciência do pedido aos s u b locatários, q u e pode rão i n t e rv i r
n o p rocesso como assiste ntes".
1 3 3 . REST I F F E N ETO, Paulo, e RESTI FFE, Paulo Sé rgi o . Locação - questões processuais. 4' ed. São Pau lo: RT, 2000, p .
1 84· 1 85 .
1 34. M E N D ES, Aluísio G o n çalves. Competência Cível d a justiça Federa l. São Pau l o : Saraiva, 1 998, p . 6 7 .
1 35. São exe m plos l e m b rados por Aluísio Men des, e m relação aos q uais se aplica o q uanto a q u i dito: a ) Lei n .
5.o 1 0(1 966, art. 7 0 : " A U n ião intervi rá, o brigatoriamente, n a s causas em q u e figurarem, como autores ou ré us,
os partidos políticos, excetuadas as de com petência da J u stiça Eleitoral, e as sociedades d e economia m i sta ou
e m p resas p ú b licas com partici pação majoritária federal, bem ass i m os órgãos autônomos especiais e fundações
criados por lei federal."; b) Lei n . 5.627/1 970, art. 4°: " Nas ações j u diciais e m que as Sociedades de Seguros o u de

529
FREDIE DIDIER JR.

A Lei n . 9 .469/ 1 997 é u m exe m p l o disso. Criam-se d u as m odalidades especiais


d e i nterve n ção de terce i ro . Eis o texto legal :
Art. so. A U n ião poderá i n te rvi r nas cau sas em q u e fig u rare m , c o m o
autoras ou rés, autarq u i as, f u n dações p ú b l i cas, sociedades de eco n o ­
m i a m i sta e e m p resas p ú b l icas fed e rai s .
Parágrafo ú n ico. A s pessoas j u rídicas d e d i reito p ú blico poderão, n as
cau sas cuja decisão possa ter reflexos, ai n d a q u e i n d i retos, de n a­
tu reza eco n ô m ica, i ntervi r, i n d e p e n d e nt e m e nte da d e m o n stração d e
i nteresse j u rídico, para esclarecer q u estões de fato e d e d i reito, p o ­
d e n d o j u ntar d o c u m e ntos e m e m o riais re p utados ú t e i s a o exa m e
da m atéria e, se f o r o caso, reco rre r, h i pótese e m q u e, para fi n s d e
deslocame nto de com petê ncia, serão consideradas partes.
São d uas as modali dades i nterve ntivas .
/) O caput do art. so da Lei n . 9-469/1 997 p revê u m a i nterven ção es pecial para
a U n ião . O d i s positivo legiti m o u a U n ião a i n te rv i r de fo rma a m p l a e m p rocesso
a l h eio, tendo e m vista apenas a q u al idade das partes e m l i tígio, i n d e p e n d e n te m e n ­
te da d e m o n stração de j u ri d icidade do i nteresse q u e l eva à i nterve n ção .
H á presunção le3al absoluta do i nteresse j u rídico da U n ião n as causas de q u e
faça parte fu n d ação p ú b l i ca federal, autarq u i a fed e ral, e m p resa p ú b l i ca federal o u
sociedade d e eco n o m i a m i sta fed e ra l .
A i nterve n ção p o d e dar-se a q ua l q u e r tem po, e m q ualq u e r dos polos do p ro­
cesso e n ão amplia o o bj eto l itigioso (a U n ião n ão agrega pedido ao p rocesso).
Perm ite-se, i n c l u sive, que a U n ião form u l e pedido de s u s p e n são de segu ran ça . ' 36• É,
s e m d úvida, i nterven ção especial, fo ra dos parâmetros do CPC'37•

Capitalização, em regi me de l i q u idação extraj u d icial com p u lsó ria, sejam auto ras, rés, assistentes ou oponentes,
a U n ião será s e m p re citada como assistente (art. 1 25 da Constituição Federal). Parágrafo ú n ico. As dis posições
dêste artigo aplicam-se às ações em cu rso, devendo os res pectivos processos ser remetidos 'ex ofticio' à j ustiça
Federal no p razo de 30 (tri nta) dias, contados da data em que for apresentado em j uízo o pedido de citação da
U n ião."; c) Lei n . 6.825/1 980, art. 7°: "A U n ião Federal poderá i ntervi r nas causas em q u e figu rarem, como autores
o u ré us, os partidos políticos, excetuadas as de competência da j u stiça Eleitoral, e as sociedades de economia
m i sta ou e m p resas públicas com partici pação maj oritária federal, bem ass i m os ó rgãos autônomos e fundações
criados por lei federal"; d) Lei n . 8 . 1 97/1 99 1 , art. 2°: "A U n ião poderá intervir nas causas em que figu rarem como
auto ras ou rés as autarq uias, as fu ndações, as sociedades de economia m i sta e as e m p resas p ú b licas federais."
1 36. Corte Especial, ST) . AGP 1 .6 2 1 /PE, rei . Min. N i lson Naves, j . 24.06. 2002, Dj 1 4 .04.2003.
1 37 . Vicente G reco F i l h o parece aceitar esta i nterven ção especial: "Daí podermos c o n c l u i r q ue, e m virtude da l egiti­
mação estabelecida pelo texto legal, a interven ção da U n ião pode ocorrer, nas h i póteses citadas, ainda que o
i nteresse de i ntervir seja m e rame nte de fato ou, ainda, apenas, para aco m pa n h ar o feito c o m o observado ra.
Releva ressaltar, ainda, q u e fica afastada por i n compatível com a nova si ste m ática legal a j u ri s p rudência an­
terior restritiva à i nterve n ção da U n ião nas causas em q u e são partes as pessoas j u rídicas aci ma e n u nciadas,
i n c l u sive n o concernente à deslocação do foro para a sede da C i rcu nscrição da j u stiça Federal, fato que, ago ra,
parece i n co nteste. A lei criou, por consegui nte, u m a figu ra especial de i ntervenção, não e n q u ad rável nas h i ­
póteses capitu ladas como d e intervenção de tercei ros n o Código d e Processo Civil, q u e t e m como pressu posto
apenas a posição de autora ou ré uma das pessoas referidas n a lei e a vontade da U n ião. O i nteresse, n o caso,
se p res u m e pela participação d e capital maj o ritário federal nas e m p resas p ú b li cas o u sociedades d e eco n o m i a
m i sta e pela cri ação n o caso das fun dações" (Direito Processual Civil Brasileiro, c i t . , p . 1 5 1 ).

530
I N T E R V E N Ç Ã O DE T E R C E I R O

O exe rcício d e s s e d i reito d e a U n ião i nterv i r e m u m p rocesso, lastre­


ado e m pressu postos tão s i m p l es, d eve sem p re ser avaliado à l u z
do pri n cípio da boa-fé p rocessual. I nterven ção s e m a m í n i m a j u sti­
fi cativa por parte da U n ião pode revelar-se m e i o d e p rocrast i n ação
i rrazoável do p rocess o . ' l8

A i nterven ção da U n ião e m p rocesso q ue envo lve sociedade de eco n o m i a m i s ­


ta federal ' 39 desloca a co m petência para a j ustiça Fed e ral, salvo se oco rre r n a i n s­
tância rec u rsal . É q u e, n esse caso, cabe ao Tri b u nal de j u sti ça, e não ao TRF, j u lgar
recu rso contra d ecisão d e j u iz estad ual, confo r m e foi exa m i nado n o capít u l o s o b re
com petê n cia.
11) A Lei n. 9.649/ 1 997 ainda cria o utra modal idade d e i nterve n ção d e te rcei ro .
O parágrafo ú n ico d o a rt. s o c riar u ma m o d a l i dade especial de i nterven ção d e
te rcei ro para todas as pessoas j u ríd i cas de d i reito p ú b lico ( n ã o s o m e nte a U n ião,
nem tam p o u co se restri n ge às pessoas p ú b l i cas fed e rais : q ua l q u e r u m a, i n c l u sive
as estad uais e m u nici pais)'40•
É tam bé m i n terve n ção q ue pode dar-se e m q ualq u e r dos polos d o p rocesso, a
q ua l q u e r t e m p o e grau d e j u risd i ção, s e m a m p l i ação do o bjeto l itigioso.
Diferentemen te da i nterve n ção p revista n o caput, essa i nterve n ção pode ocor­
rer e m qualquer processo, sem q u e se exija a p rese n ça d e algu m ente específico.
H á, porém, a n ecessidade d e d e m o n stração d e i nteresse eco n ô m ico n a causa.
Essa i nterve nção s e ri a para p restar esclarec i m e ntos e m m até ria d e fato e d e
d i reito, p o d e n d o , ai n da, j u ntar m e m o riais. N o e n tanto, fala-se q ue, se a pessoa
j u ríd i ca d e d i reito p ú b l ico i nterp user recu rso, torn ar-se-á parte, para fi m d e deslo­
camento da co m petência.
H á q u e m veja nesta i nterven ção mais uma h i pótese d e amicus curiae'4'. Se ria,
p o ré m , h i pótese sui 3eneris, sej a p o rq u e se confe re expressamente legiti m idade
recu rsal, sej a porq u e tam bém expressam ente se refere a possíve l alteração de

1 38. O STj d i s s e n ã o se aplicar o disp ositivo d o art. s . o da L e i n . 9.469/1 997 ao mandado de segu rança: "O art. 5 .',
par. ú n . , da Lei 9.469/97 não alcança o mandado de segu rança. Destarte, a pessoa de Di reito P ú b l ico, alegando
q u e o d e s l i n d e d o feito resu ltará, d i reta o u i n d i retamente, efeito eco n ô m i co, não pode se vale r desse disposi·
tivo para i ntervi r nesse tipo d e p rocesso" (EDcl n o AgRg n o M S 5 .690· D F, Rei. Min. H u m berto Gomes de Barros,
j u l gados e m 27.02. 2002).
1 39. E n u nciado no 5 5 6 da s ú m u la d o STF: " É com petente a j ustiça com u m para j u lgar as causas e m que é parte
sociedade d e economia m i sta". E n u nciado n .42 d a s ú m u l a d o STj : "Com pete à j u stiça Com u m Estadual p ro·
cessar e j u lgar as causas cíveis e m que é parte sociedade d e eco n o m i a m i sta e os cri m e s p raticado s e m seu
detri m e nto".
1 40. C U N HA, Leonardo Carn e i ro da. " I nterve nção a n ôm ala: a interven ção d e terceiro pelas pessoas j u rídicas d e
d i reito p ú blico p revista n o parágrafo ú n ico do art. 5' da L e i 9.469/1 997". Aspectos po lêmicos e a tuais sobre o s
terceiros no processo civil e assun tos afins. F r e d i e Didier j r. e Teresa A r r u d a Alvi m Wam b i e r (coord .). S ã o Pau lo:
RT, 2004, p. 597.
1 4 1 . CAR N E I RO, Ath o s Gusmão . In tervenção de terceiros. 1 3 . e d . São Pau lo: Saraiva, 200 1 , p. 1 50- 1 5 1 .

531
FREOIE DIDIER JR.

co m petê n c i a - c o m o v i m os, a i nterven ção d o amicus curiae poss u i regramento d e


conteúdo o posto.
Afi rma o legislad o r, algo desn ecessariame nte, q u e o recu rso, para fi n s de "des­
locamento da competência " (sic), transformaria em parte o reco rre nte p ú b l i co. C o n ­
s i d e ramos o c i o s a a afi rm ação, pois t o d a a modali dade de i nterven ção de tercei ro
tem por fi n a l i dade transformar u m estran h o em parte - não seria esta u m a exce­
ção . Ao i n gressar para defe n d e r s e u s i n te resses eco n ô m i cos - relaci o n ados a u m a
d a s partes -, está a pessoa j u rídica i ntervi n d o n a q u alidade d e u m assi stente com
i n te resse m e ra m e nte eco n ô m i co, ro m pe n d o a tradi ção da exigê n cia do i n te resse
j u rídico para a i n terve n ção do coadj uvante . ' 42
N a verdade, q u i s o legislad o r e m p restar ao recorrente, para i m p ressi o n a r o
o p e rador j u rídico, u m sta tus aparentem ente de maior re levo, p reparando, ass i m , a
e m boscada j u rídica da mod ifi cação, e m q u alq u e r h i pótese, d a co m petê ncia.
Por ú lti m o, mas não m e n o s i m po rtante, q u e r afi rmar o legislador q u e a s i m ­
p l e s i nterve n ção rec u rsal de u m a pessoa j u ríd ica de d i reito p ú b l ico poderia deslocar
a causa para a j ustiça Fede ral . Assi m , por exe m plo, se o Banco Central do B ras i l
(BAC EN), autarq uia fed e ral, reco rresse de u m a decisão q u e tram itasse n a j ustiça
Estad ual, para fi n s de m o d ifi cação da com petê n ci a, a causa seria tran sfe rida para
o Tri b u n al Regi o n al Fed e ral. Ora, co m o d e m o n stramos, não se pode expa n d i r, p o r
lei i n fraco n stitu cional, a com petê n cia da j u stiça Fed e ral; o TRF, e m se tratando de
co m petê ncia f u n cional recu rsal, s o m e nte pode revisar decisões dos j uízes federais
e d e j u ízes estad uais n o exe rcício da co m petê ncia d e l egada (art. 1 09, § 3°, CF/1 988).
A co n d i ção d e parte, o u n ão, é i rre levante. Este deslocame nto da causa, n estas
situ ações, jamais poderia acontecer'4l.

1 1 . I NTERVENÇÃO LITI SCO N SORCIAL VOLU NTÁRIA O U LITISCO N SÓRCIO


FACU LTATIVO U LTERIOR SIMPLES
In terven ção litisconsorcia l volun tária é designação uti l i zada pela do utri na para
refe ri r-se a d o i s fen ô m e n os bastante d i stintos:
a) assistê ncia litisco n so rcial, e m q u e o te rcei ro vo l u ntari ame nte pede para tor­
n ar-se litisco n s o rte u n itário u lteri o r de algu é m , n o s casos e m q ue h á colegitim ação
(i nterven ção do col egiti m ado);

1 42 . Não c o n s i d e rando q u e e s s a i ntervenção tran sfo r m e a p e s s o a j u rídica de d i reito público em parte, C U N HA, Leo­
nardo Carn e i ro da. "I nterven ção a n ô m ala: a intervenção d e tercei ro pelas pessoas j u rídi cas de di reito p ú blico
p revista n o parágrafo ú n ico do art. s• da Lei 9.469/ 1 997". Aspectos po lêmicos e a tuais sobre os terceiros no pro­
cesso civil e assun tos afins. Fredie D i d i e r ) r. e Te resa Arruda AI vim Wam bier (coord .). São Pau l o : RT, 2004, p . 601 .
1 43 . Assi m , Aluísio M e n d e s : "A intervenção da U n ião, das entidades autárq u icas, f u n dações p ú b l icas ou e m p resas
p ú b l i cas federais n o p rocesso, após a prolação da sente n ça, não des loca a com petência para a j u stiça Federal"
(ob. cit., p . 1 44).

532

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