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• Sistema familiar
Neste sistema valoriza-se a ideia de um património familiar, limitando em benefício dos
familiares mais próximos a liberdade de o autor da sucessão dispor dos seus bens por morte,
uma vez que uma parte do património é reservada aos herdeiros legitimários.
Origem do sistema familiar: p. 19 ML.
• Sistema socialista
Defende a primazia da propriedade coletiva, procurar assegurar a aquisição pelo Estado de
grande parte do património do autor da sucessão, seja através do reconhecimento do próprio
Estado como herdeiro, seja através do estabelecimento de uma elevada tributação em causa
de aquisição de bens por via hereditária. Os antigos direitos socialistas nunca chegaram ao
ponto de abolir a sucessão por morte, apesar do dogma marxista que o defendia, acabando
por isso por reconhecer a possibilidade de sucessão na propriedade familiar, ainda que limita-
da aos familiares mais próximos e a certas categorias de bens ou valores.
A manutenção da sucessão por morte em regimes tão hostis à propriedade privada tem si-
do explicada pelo facto de essa sucessão libertar o Estado do oneroso dever de promover uma
ajuda social imediata aos familiares das pessoas falecidas, consolidar a união familiar, desem-
penhar uma função educativa e de não discriminar os nacionais relativamente aos estrangei-
ros, cujas leis pessoais lhe reconheciam direitos sucessórios.
• O sistema português
Portugal possui um sistema sucessório individualista ainda que com algumas concessões
aos sistemas familiar e socialista.
A preponderância do sistema individualista reside no facto de o direito português admitir
uma ampla liberdade de testar, sempre que não existam herdeiros legitimários, tendo recen-
temente essa liberdade de testar até sido incrementada com a consagração da possibilidade
de renúncia do cônjuge à condição de herdeiro legitimário na convenção antenupcial (Art.º
1707º-A). Já no caso de existência de herdeiros legitimários, a liberdade de testar é restringida,
ainda que o testador mantenha nesse caso a possibilidade de dispor por morte de uma parte
significativa dos seus bens.
A relevância do sistema familiar no ordenamento jurídico português resulta da reserva de
uma parte considerável da herança em benefício dos herdeiros legitimários (cônjuge, descen-
dentes e ascendentes) a qual não pode ser afetada pelo autor da sucessão através da disposi-
ção dos seus bens em vida ou por morte (Art.º 2156 e ss.), o que constitui uma forte limitação
à liberdade de testar.
O autor da sucessão está assim sujeito a que os seus bens venham com a sua morte a ser
em grande parte adquiridos pelos seus familiares mais próximos, independentemente de ter
uma boa ou má relação com eles, sendo extremamente reduzidas as possibilidades de impedir
a vocação sucessória legitimária, o que só pode ocorrer através dos institutos da indignidade
(Art.º 2034º) e da deserdação (Art.º 2166º). A conceção da família protegida tem sofrido, no
entanto, algumas alterações, desde logo com a posição sucessória privilegiada atribuída ao
cônjuge sobrevivo com a Reforma de 1977 (Decreto-Lei 496/77), que só veio ser algo mitigada
em 2018 com a consagração dos pactos renunciativos recíprocos na convenção antenupcial
(Lei 40/2018).
A concessão ao sistema socialista resulta da existência de um imposto de selo em caso de
sucessão por morte, ainda que em montante bastante menos gravoso do que o anterior im-
porto sobre sucessões e doações, para cuja abolição foi necessário alterar a Constituição. Da
mesma forma, o Estado é considerado como sucessível, logo a seguir aos colaterais até o quar-
to grau (Art.º 2133º/1 e)). Embora a atribuição ao Estado da qualidade de sucessível seja expli-
cada pela necessidade de encontrar sempre um sucessor para evitar a colocação de bens no
abandono, a verdade é que o Estado adquire muitos bens por essa via, pois a limitação da su-
cessão legítima aos parentes de grau mais próximo, aliada à recusa de muitas pessoas em fazer
testamento, determina que grande parte das sucessões lhe seja atribuída.
Direito das Sucessões não é direito da Família1, pois nem sempre há relações familiares,
embora existam conexões.
• A sucessão não opera exclusivamente em benefício de familiares do de cuius2: Basta ha-
ver testamento para pessoa fora da família; Basta o Estado poder vir a herdar;
• O Direito da Família ocupa-se das ligações pessoais e patrimoniais que se estabelecem
entre pessoas vivas, enquanto as Sucessões preocupa-se com o destino do património de uma
pessoa que faleceu.
O Direito das Sucessões, enquanto ramo do Direito Civil, é identificado como o conjunto de
normas que regulam a instituição sucessão. Tem como finalidade descobrir quem será o titular
das situações jurídicas patrimoniais que ficaram sem sujeito, por morte deste. A sucessão por
morte em direitos é uma liberalidade3 à custa do património do de cuius – logo, não tem cará-
ter sucessório o art. 2018º, 2020º e atribuição do seguro de vida – pois fundam-se na necessi-
dade dos sobrevivos e em contratos onerosos e não na intenção (presumida ou conjetural) de
generosidade ou espontaneidade do de cujus.
De acordo com o artigo 2024º, consiste no chamamento de uma ou mais pessoas à titula-
ridade das relações de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos bens que a esta
pertenciam. Assim, a sucessão tem por causa a morte de uma pessoa e respeita a situações
jurídicas patrimoniais.
A definição tem vindo a ser criticada:
• ML: por restringir o conceito de sucessão à sucessão por morte, o que a torna restrita às
pessoas singulares. Efetivamente, a pessoas coletivas não é “falecida”, apenas se extinguindo.
Mas mesmo no âmbito de pessoas singulares, existem várias hipóteses de sucessão para além
da sucessão por morte. O CC admite várias referências a hipóteses de sucessão em vida, como
seja a sucessão singular nas dívidas (Art.º 595º e ss), a sucessão na posição jurídica de senho-
rio (Art.º 1058º) ou a acessão na posse em consequência de uma sucessão por título diverso
da sucessão por morte, a qual é assim exclusiva das pessoas singulares. Para além disso, o
Art.º 2024º apenas se refere a um aspeto da sucessão por morte – a vocação sucessória, dei-
xando de fora outras, como veremos de seguida.
• JDP e ML: Não se limita a direitos sobre os bens pois compreende-se todo o património
da pessoa falecida (ativo e passivo), excluindo-se apenas as situações jurídicas que devam ex-
tinguir-se por morte do respetivo titular. O Art.º 2068º é expresso no sentido de que o patri-
mónio da herança inclui as dívidas do falecido, estabelecendo o Art.º 2070º a responsabilidade
do herdeiro pelos encargos da herança
A sucessão por morte, que vem referida no artigo 2024º, comporta várias fases (a que o
artigo não se reporta):
i. Abertura da sucessão: no momento da morte da pessoa que era titular de situações
jurídicas (2031º);
1
JDP ≠ Leite de Campos
2
Aquele de que a sucessão se trata
3
Direito das Sucessões é o Direito das liberalidades – só uma das partes produz uma atribuição pa-
trimonial.
ii. Vocação: tende a coincidir com a altura da abertura da sucessão e consiste na atribui-
ção do direito de suceder, de aceitar ou repudiar a sucessão aberta.
iii. Pendência da sucessão ou herança jacente: é o período em que o sucessível ainda não
exerceu a faculdade de aceitar ou repudiar a sucessão (artigo 2046º);
iv. Aquisição da sucessão: ocorre quando o sucessível declara aceitar (artigo 2050º/1).
De notar, ainda, que a sucessão não se restringe a bens, abrangendo também dividas (en-
quanto encargos).
Nos termos do artigo 2026º, há três títulos de vocação sucessória: significa, assim, que a
sucessão é deferida por lei, testamento ou contrato. A sucessão legal (artigo 2027º) comporta
duas espécies – a legítima ou legitimária, conforme possa ou não ser afastada pelo autor. A
sucessão deferida por testamento identifica-se com a sucessão testamentária. E a sucessão
deferida por contrato identifica-se com a sucessão contratual, que tem caráter excecional (ar-
tigo 2028º/2).
2. Sucessão e transmissão
• ML concorda com esta posição, uma vez que há que reconhecer que a sucessão não cor-
responde necessariamente a uma forma de transmissão, já que esta implica a inexistência de
alterações ao direito transmitido, e em muitos casos a posição jurídica do sucessor não corres-
ponde àquela que o de cuius possuía. A regência prefere considerar a sucessão como uma
mera situação de aquisição derivada, que não corresponde por isso, necessariamente, a uma
forma de transmissão.
• A doação si praemoriar:
Constitui igualmente uma doação sujeita ao termo suspensivo da morte do doador, mas
nesse caso é ainda acrescida de uma condição suspensiva relativa à circunstância de a morte
do doador ocorrer antes da do donatário.
A maioria da doutrina defende a validade desta doação, considerando que a mesma não
constitui um pacto sucessório, uma vez que produz os seus efeitos em vida do doador (Pereira
Coelho, Capelo de Sousa, …).
Pires de Lima e A. Varela consideram ser esta doação também proibida pelo Art.º 946º, já
que se abriria uma porta à fraude, se apenas se proibissem as doações que fossem simultane-
amente contratos sucessórios. Bastaria, para legalizar estes contratos, que o doador se expri-
misse por esta ou outra forma ou equivalente: “Se eu morrer antes de B, doo-lhe os meus
bens”. Tratando-se de uma doação condicional, podia o donatário, desde logo, alienar como
condicional o seu direito. Mas, para as previsões dos interessados, os dois atos equiparar-se-
iam. Foram estas as razões que levaram o legislador a considerar, no nº 2 do Art.º 1755º, como
pactos sucessórios, todas as doações por morte para casamento.
A regência entende que o Art.º 946º não proíbe apenas as doações mortis causa, mas
todas as doações que hajam de produzir os seus efeitos por morte do doador, pelo que a
doação si praemoriar não pode igualmente ser considerada válida.
p. 66 e ss.
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Contra: A favor:
1. Com a morte cessa a personalidade (Art.º 1. Se a morte não é ressarcível, então
68º/1) ; logo, não se pode constituir um direito em a vida não é um direito subjetivo; isso
algo que já não existe; consequentemente, o direi- representaria um enorme retrocesso na
to de indemnização não podia ser transmitido aos defesa da dignidade humana, alcançada
herdeiros, uma vez que não tinha sido adquirido nas últimas décadas.
sequer pelo falecido. 2. Os trabalhos preparatórios mos-
2. Os trabalhos preparatórios e o cuidado pos- tram apenas a intenção de que, de resto,
to (por Antunes Varela) em contraditar as iniciati- nem logrou assento final no Código;
vas originais de Vaz Serra, favoráveis ao dano- 3. O art.º 496 não esgota o universo
morte, mostraria que a lei não consagraria tal solu- a que se aplica; a seu lado funcionam os
ção: artigos 70º/1, 483º/1, 2024º do CC.
3. O artigo 496º esgota o Universo dos danos
indemnizáveis e dos seus beneficiários.
Outros argumentos (a favor), que vão para além das indemnizações arbitradas por via do
artigo 496º. Há outras indemnizações ainda por danos morais e pela supressão morais e pela
supressão do direito à vida, do próprio lesado e seguem, depois, por via hereditária:
1. Não faz sentido descobrir “direitos” e, depois, negar-lhes o regime; se existe um “direi-
to à vida”, então há que dotá-lo da competente tutela aquiliana, logicamente a favor do seu
titular… ou será um direito de terceiros.
2. A atual responsabilidade civil tem funções retributivas e preventivas; ora tais funções
perder-se-ão quando se admitam direitos que desapareçam logo que violados.
3. A mera aplicação do art.º 496/2 tem de estar articulado com o restante ordenamento
jurídico português, pois caso contrário traria resultados inaceitáveis: se não houver nenhum
dos familiares aí referidos, não há indemnização? Nesta ótica seria este o resultado: o agente
responsável deve indemnizar o lesado ferido, mas se conseguir matá-lo, nada paga.
4. As indemnizações arbitradas pelos nossos tribunais são insatisfatórias: 60000€/80000€
pela vida de uma pessoa não é dinheiro, mesmo tendo em conta o atraso económico do País:
M. Cordeiro afirma que esta situação deve ser corrigida.
A jurisprudência manteve-se largamente convicta de que a morte é um dano indemnizável.
Todavia, o facto de as indemnizações terem vindo a aumentar, embora demasiado pouco,
conduziu a ovas pressões sobre os julgadores, no sentido da sua redução. Por isso, surgiram
algumas brechas, ainda que na sua maioria, ela se mantenha no bom caminho. Assim, referin-
do apenas arestos do último ano, são favoráveis a um dano-morte, com uma indemnização
transmissível iure hereditário.
A ver de ML: é igualmente hereditável, nos termos gerais, o direito de indemnização por
morte da vítima (2024º). Ao contrário do que alguma doutrina tem defendido (Daniel Morais),
não constitui nenhum regime particular de sucessão a disposição do Art.º 496º, uma vez que
essa disposição não prevê uma hipótese de sucessão por morte, mas antes a atribuição de
indemnização por danos próprios sofridos pelos familiares próximos do lesado, em caso de
morte deste. A hereditabilidade dos danos resultantes da perda d avida do lesado processa-se
nos termos gerais do Art.º 2133º.
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• O seguro de vida
Não constitui objeto de sucessão o seguro de vida, caso em que os beneficiários recebem
determinada prestação em caso de morte da pessoa segura. Neste caso, não existe qualquer
transmissão para o segurado, resultando o direito diretamente de um contrato a favor de ter-
ceiro celebrado entre a companhia de seguros e o de cuius. Embora a lei considere que só no
momento da morte se adquire o direito à prestação (Art.º 451º), a mesma tem sempre a sua
fonte no contrato a favor de terceiro celebrado, que constitui um título distinto da sucessão
por morte.
Por esse motivo, apenas em relação às contribuições feitas pelo de cujus à companhia de
seguros, é aplicável o regime de colação, redução e imputação das doações e impugnação
pauliana (Art.º 450º), só nessa medida se considerando haver doações em vida efetuadas ao
beneficiário. Já a quantia que este recebe da companhia de seguros se considera atribuída por
virtude do contrato, surgindo, por isso, diretamente na sua esfera jurídica.
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1. Espécies de sucessão
→ Sucessão Legal – em função de relações familiares, vem da lei:
• Sucessão Legítima (2132º e 2133º) – opera na ausência da vontade válida eficaz do de
cuius e tem como beneficiários o cônjuge, parentes próximos do falecido e supletivamente o
Estado.
• Sucessão Legitimária (2156º, 2157º, 2179º) – reserva porção de bens de que o de cuius
não pode dispor ao cônjuge e aos parentes na linha reta do falecido.
→ Sucessão voluntária – em função da vontade do de cuius:
• Sucessão Testamentária – espaço da autonomia da vontade do de cuius no domínio su-
cessório.
▪ Testamento é um ato unilateral (art. 2179º/1), pelo qual uma pessoa dispõe, para
depois da morte e a título gratuito, do seu património.
• Sucessão contratual
A lei, no entanto, não é clara relativamente aos casos em que o testador procede à repar-
tição do património hereditário não de uma forma aritmética, mas antes tomando em consi-
deração a natureza dos bens, caso em que estes ficam determinados, falando-se então em
herança ex re certa. Um exemplo será a situação de o testador deixar a um dos herdeiros os
seus bens móveis e a outro os seus imóveis. A maioria da doutrina pronuncia-se pela admissi-
bilidade daquela figura, apesar de G. Telles, no seu anteprojeto ter afastado expressamente
essa figura.
ML, assim como JDP, Daniel Morais, etc., admite a herança ex re certa, uma vez que a re-
partição do património hereditário com base na natureza dos bens adequa-se muito melhor à
instituição de herdeiro do que à nomeação de legatário.
A situação já é diferente, porém, se, em lugar de efetuar essa repartição, o testador atribu-
ísse todos os seus bens imóveis ou todos os seus bens móveis a alguém, sem referir o destino
dos bens sobrantes. Aqui já não há repartição do património por quotas, mas antes uma atri-
buição limitada de certos bens, o que implica estar-se perante um legado e não perante uma
herança4.
Apesar de a lei fazer referência a que só é legatário aquele que sucede em bens ou valores
determinados, parece claro que a determinação é apenas exigida para a individualização do
bem, não sendo necessário a sua especificação concreta.
Assim, constituem legados a atribuição de universalidades de facto (Art.º 206º), como um
rebanho de ovelhas ou a biblioteca do testador (ou “deixo a A um dos meus livros”), não sendo
necessário especificar concretamente as ovelhas do rebanho ou os livros que integram a bibli-
4
Uma simples deixa de todos os imóveis, sem qualquer repartição do património, constitui uma
atribuição de bens determinados, semelhante à deixa dos imóveis que o autor da sucessão tem numa
rua,p.e.
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oteca. A lei prevê, aliás, expressamente o legado de coisa genérica no Art.º 2253º, assim como
o legado alternativo no Art.º 2267º, onde não se verifica a especificação concreta dos bens
legados, tendo a mesma que ser concretizada por via de escolha, após a aceitação.
Da mesma forma, constituem legados a atribuição de universalidades de direito, como a
herança ou o estabelecimento comercial. No caso de o testador atribuir a alguém por morte a
totalidade ou uma quota não partilhada de uma herança que recebeu ou dispor igualmente
por morte de um estabelecimento comercial de que é titular, existe uma individualização dos
bens que atribui e não apenas de uma quota do seu património, pelo que estamos, neste caso,
perante legados e não perante herança. Pelo mesmo motivo, deve considerar-se como legado
a deixa da meação de bens comum, que a lei permite ao cônjuge dispor por morte (1685º/1),
atento o caráter circunscrito e exclusivo desses bens.
A lei estabelece que “o usufrutuário, ainda que o seu direito incida sobre a totalidade do
património, é havido como legatário” (Art.º 2030º/4). Esta disposição tem sido justificada pelo
facto de o usufruto5 constituir um direito determinado mesmo quando incide sobre toda a
herança, pelo que não se justificaria a atribuição a usufrutuário do estatuto de herdeiro.
Críticas:
• independentemente de a herança ser recebida em propriedade plena ou usufruto, con-
tinua a ocorrer uma sucessão numa universalidade, pelo que a qualificação correta do usufru-
tuário de uma herança é a de herdeiro, instituindo o Art.º 2030º/4 apenas uma ficção jurídica.
Só que dessa ficção nem sequer se retiram consequências de regime, dado que o Art.º 2072º
estabelece a responsabilidade do usufrutuário de uma quota ou da totalidade da herança pe-
los encargos da mesma, em termos semelhantes aos herdeiros (Art.º 2071º). Por esse motivo,
deve entender-se que o usufrutuário tem, da mesma forma que os herdeiros, o direito de acei-
tar a deixa a benefício de inventário (2052º) ou exigir partilha (Art.º 2101º/1), podendo a exi-
gência de inventário ser feita pelo Ministério Público, em caso de menoridade, incapacidade
de facto permanente ou ausência em parte incerta (Art.º 2102º/2 b) e Art.º 1085º/1 b) CPC
Podem concorrer à sucessão tanta herdeiros como legatários, ou apenas herdeiros, se não
se verificar atribuição de bens determinados a ninguém, ou apenas legatários no caso de a
herança ser toda distribuída em legados. Neste caso, referido no Art.º 2277º, não existe qual-
quer herdeiro, pelo que se considera dissolvida a herança enquanto universalidade global,
passando a existir apenas uma pluralidade de legados que receberam, considera G. Telles que
se constituem “novas universalidades menores, tantas quantos os legatários, correspondendo
a ‘patrimónios autónomos’, já que os bens atribuídos a cada um consideram-se afetos prefe-
rencial e limitadamente a uma correspondente quota nas responsabilidades totais”. Afirma,
por isso, o autor, que neste caso “o esquema da herança como que se repete, em miniatura,
relativamente a cada herdeiro depois da partilha se os encargos da herança não tiverem sido
integralmente satisfeitos”. Apesar disso, o autor mantém que “não há ali herança porque esta
é única, expressando post mortem do universsum ius, também único. Há sim uma pluralidade
de legados.
5 Num usufruto, estamos perante um direito real de gozo, ainda que temporário, que confere ao respetivo titu-
lar os poderes de uso, fruição e administração e em relação aos quais a lei impõe como único limite que o titular
conserve a sua forma, a sua substância e o seu destino económico.
Na relação proprietário/usufrutuário, é ao usufrutuário que cabe discutir o uso e fruição da coisa, podendo in-
clusivamente ceder a sua utilização a outrem (gratuita ou onerosamente) nos mesmos termos em que ele a podia
usar, sem que caiba ao titular da nua propriedade sequer o direito de reivindicar a coisa do detentor.
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É tradicional dizer-se que o estatuto de herdeiro é muito diferente do do legatário (P. Li-
ma/A. Varela; Capelo de Sousa, JDP).
ML não parece concordar com esta afirmação, justificando que os herdeiros e legatários
correspondem a categorias de sucessores, participando ambos do fenómeno jurídico sucessó-
rio e, por isso, ambos estão sujeitos ao mesmo regime de aceitação e repúdio (Art.º 2050º e
2049º)
Há, no entanto, certos efeitos que apenas ocorrem em relação ao herdeiro e que justifi-
quem que o seu estatuto seja diferenciado em relação ao legatário. Esses efeitos passam pela
faculdade que os herdeiros têm de exigir partilha e requerer inventário, pelo regime das provi-
dências relativas à memória do falecido, pela responsabilidade pelos encargos da herança.
Pelo regime das vocações indiretas, e pela aposição de termo ou pelo direito de preferência.
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• Sucessão na posse
A lei não estabelece qualquer distinção entre herdeiro e legatário, em termos de sucessão
na posse, limitando-se o Art.º 1255º a referir que, por morte do possuidor, a posse continua
nos seus sucessores, desde o momento da morte, independentemente da apreensão material
da coisa.
O. Ascensão interpreta esse Art.º restritivamente: “sucessores” nessa disposição apenas
abrangem os herdeiros. Em relação aos legatários, o autor considera que nem após a aceitação
do legado, os mesmos adquirem a posse, apenas ocorrente essa aquisição quando os herdei-
ros cumprem o legado, nos termos do Art.º 2270º. Também MC entende que não é possível, al
legatário, “suceder” numa posse, quando ele terá que dar um específico acordo, à assunção
dos ónus possessórios.
≠
ML não concorda: “resulta do Art.º 2030º/1, que os sucessores tanto podem ser herdeiros
como legatários, estando ambos sujeitos ao mesmo de aceitação e repúdio (Art.º 2050º e ss. E
2249º), pelo que ambos estarão sujeitos ao mesmo regime de sucessão na posse, nos termos
do Art.º 1255º.
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Em síntese:
O artigo 2030º estabelece a distinção entre herdeiro e legatário:
• Herdeiro que sucede na totalidade ou numa quota do património do falecido;
• Legatário: que sucede em bens ou valores determinados.
• Usufrutuário: é havido como legatário – no entanto, o seu estatuto, quando se trate de usu-
frutuário da totalidade ou de quota da herança é próximo do estatuto típico do herdeiro.
Note-se, que é aceitável um legado (deixa de um legatário) sem especificação, conforme
resulta do artigo 2253º: poderá ter como objeto bens meramente determináveis, através do
critério género (o que importa é que sejam determináveis no momento da sucessão). Na se-
quência do que foi já enunciado, a classificação resulta da lei e não é atribuível ou determiná-
vel pelo autor.
A doutrina clássica tendia a entender que só o herdeiro era um verdadeiro sucessor (um
sucessor pessoal do de cujus), enquanto o legatário é um mero beneficiário de uma atribuição
patrimonial; no entanto, a lei parece estabelecer uma equiparação entre as duas figuras – o
regime de aceitação e repúdio é igual. Ainda assim, existem diferenças de regime:
1. Direito de exigir partilha e de requerer inventário (2101º): ao herdeiro é reconhecido
este direito; ao legatário não é.
• Exceções:
▪ Há herdeiros que não dispõem deste direito: herdeiro universal, o herdeiro rema-
nescente, quando o resto do património tiver sido distribuído por legados, nem o
designado a suceder por herança ex re certa.
▪ Há legatários que podem exercer o direito: é o caso do usufrutuário.
2. Responsabilidade externa pelos encargos da herança: incumbe ao herdeiro (artigos
2068ºm 2071º, 2098º/1), incluindo o cumprimento dos legados (2065º/1).
• Exceção: → Responsabilidade dos legatários quando a herança é totalmente repartida
por legados (artigo 2277º), exatamente pela falta de herdeiros; → quando a herança é insufi-
ciente para o cumprimento dos legados; → O legado do usufrutuário (artigo 2071º); → Quan-
do o testador assim o exija (artigos 2072º e 2073º).
3. Direito de acrescer: assiste unicamente aos herdeiros (artigo 2137º, 2301º a 2307º,
2058º)
4. Sujeição a termo: é possível sujeitar a termo a nomeação do legatário, mas não a no-
meação do herdeiro (2243º).
5. Direito de preferência na venda ou dação em cumprimento do quinhão hereditário e
providências preventivas ou atenuantes da ofensa à memória do familiar falecido:
apenas os herdeiros dispõem destes direitos. (2130º e 71º e ss.).
6. Sucessão na posse – artigo 1255º: de acordo com a interpretação da maioria da dou-
trina, só abrange herdeiros.
▪ Regência: abrange herdeiros e legatários, pelo que não se afigura como uma dife-
rença de regime.
7. Estatuto de cabeça de casal: não poderá ser atribuído aos legatários, exceto se a he-
rança por toda atribuída em legados.
8. Transmissão do direito de suceder: apenas atribuível a herdeiros.
9. Sanções por sonegação da herança: apenas aplicável a herdeiros (2096º).
10. Redução por inoficiosidade: as liberalidades testamentarias que foram feitas aos her-
deiros são reduzidas antes das baixas testamentárias a título de legado (2171º).
Quanto à posição da regência a propósito da distinção entre herdeiros e legatários: a
distinção entre herdeiro e legatário existe apenas no regime, ambos são verdadeiros sucesso-
res do de cujus.
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2. Factos designativos
OS factos designativos (Art.º 2026º) são as circunstâncias que atribuem a alguém a quali-
dade de sucessível. ML critica a formulação do Art.º já que o testamento e o contrato não são
títulos de vocação, por ser negócios jurídicos que atribuem a qualidade de sucessível antes da
morte do de cuius, enquanto a vocação apenas ocorre no momento da abertura da sucessão.
Para além disso, a lei não é um facto designativo, tendo de ocorrer sempre um fato que de-
termina a sua aplicação, como o parentesco ou o casamento, ou até um NJ. Efetivamente,
mesmo nos casos de testamento ou pacto sucessório, a sua eficácia designativa resulta igual-
mente da própria lei.
Os factos designativos podem ser:
• negociais: o testamento e o pacto sucessório, que dão origem à sucessão testamentária
e à sucessão contratual.
• não negociais: são as relações jurídicas familiares (casamento, parentesco e adoção), as
relações parafamiliares de união de facto e convivência em economia comum e o vínculo da
cidadania portuguesa, na base da sucessão legitimária e da sucessão legítima.
Os factos designativos, que resultam da designação sucessória, não atribuem uma quali-
dade sucessora definitiva: essa qualidade só surge no momento da abertura da sucessão, po-
dendo alterar-se até lá.
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Questão controvertida: Qual a posição jurídica dos herdeiros legitimários em relação à he-
rança durante a vida do de cuius, atendendo às limitações das possibilidades que este tem de
pôr em causa a sua legítima, quer através de disposições mortis causa, quer através de doa-
ções em vida?
A lei reconhece aos herdeiros legitimários a possibilidade de reagir em vido do autor da
sucessão contra os atos deste que possam prejudicar o seu património. Efetivamente, em caso
de ausência, os herdeiros podem requerer a instituição da curadoria provisória (Art.º 91º) ou
definitiva (Art.º 99º e 100º), sendo que, neste último caso, têm mesmo direito a receber os
bens do ausente (Art.º 103º). Em caso de incapacidade os herdeiros podem mesmo requerer o
acompanhamento do seu familiar, com a sua autorização (Art.º 141º/2). No caso dos herdeiros
legitimários, estes têm mesmo legitimidade para arguir a nulidade por simulação dos negócios
gratuitos e onerosos celebrados em vida do autor da sucessão com o intuito de os prejudicar
(Art.º 242º/2). E, precisamente para evitar a simulação, em relação aos descendentes, a lei
exige o consentimento, ainda que suscetível de suprimento legal, para a venda a outros des-
cendentes (Art.º 877º). Da mesma forma, exige-se o consentimento dos presumidos herdeiros
legitimários para a partilha em vida (Art.º 2029º/1), podendo os que sobrevierem ou se torna-
rem conhecidos posteriormente exigir a composição em dinheiro da parte correspondente
(Art.º 2029º/2).
Em virtude destas faculdades, Paulo Cunha sustentou a existência, ainda em vida do autor
da sucessão, de um verdadeiro direito subjetivo dos seus herdeiros legitimários à sucessão, o
que permitiria falar num “direito ao direito de suceder”. Para o autor, embora em vida do au-
tor da sucessão, os herdeiros legitimários não tenham qualquer direito sobre os bens deste, o
facto de poderem reagir contra os atos do autor da sucessão destinados a prejudicá-los implica
ter que se reconhecer-lhes, durante a vida do de cuius, um verdadeiro direito que teria por
objeto a proteção da sua futura sucessão, sendo assim um direito ao direito de suceder.
ML e a restante da doutrina contesta esse entendimento. Efetivamente, apenas com a
abertura da sucessão, no momento da sua morte, se consolida a designação sucessória com o
chamamento dos sucessíveis, podendo até lá ocorrer inúmeras alterações, que afetam a de-
20
Apesar do disposto no Art.º 2179º e 2311º, existe ainda alguma proteção conferida em vi-
da do autor da sucessão aos sucessíveis testamentários, que consiste na possibilidade de re-
quererem em vida a curadoria provisória ou definitiva dos bens do ausente e de serem nome-
ados curadores provisórios ou definitivos (Art.º 91º, 92º, 100º a 104º). Esses sucessíveis são
interessados para decretar a nulidade ou anulabilidade do testamento, iniciando-se o prazo a
partir do momento em que têm conhecimento do testamento e da causa de nulidade e, por-
tanto, ainda em vida do autor da sucessão (Art.º 2308º).
21
Essa proteção não parece, porém, suficiente para se considerar que existe alguma posição
jurídica atribuída ao sucessível testamentário antes da abertura da sucessão. Na sucessão tes-
tamentária a designação sucessória não confere qualquer direito subjetivo à sucessão, nem
sequer uma expetativa jurídica.
22
23
do domicílio voluntário geral, previsto no Art.º 82º. Não relevando para este caso nem o domi-
cílio profissional (83º) ou o eletivo (84º).
O último domicílio do autor da sucessão corresponde ao da sua residência habitual, sendo
que se tiver residência alternada em diversos lugares, considerar-se-á domiciliado em qualquer
deles. Não tendo o de cuius residência habitual, considerar-se-á domiciliado no lugar de uma
residência ocasional ou, se esta não puder ser determinada, no lugar onde se encontrar em
vida.
1. Vocação e devolução
A vocação consiste na atribuição do direito de suceder ao de cuius. O direito de suceder,
que é um direito subjetivo potestativo que se esgota no seu exercício, é o direito de aceitar ou
repudiar a herança. Alienar o direito de suceder não é possível; na verdade, o que faz é alienar
(ou transmitir) a herança.
• Pires de Lima e Gomes da Silva: Tese da autonomia dos dois conceitos – GS distinguia a
devolução da vocação, considerando a devolução como a escolha de entre os sucessíveis de-
signados, o que ou os que devem efetivamente suceder, considerando que só após “escolhidos
um ou mais sucessíveis, pela devolução, estes têm que ser citados pela lei, que lhes atribui o
direito de suceder, traduzível num poder potestativo, na faculdade jurídica de adquirir a he-
rança. É exatamente este fenómeno de atribuir a alguém o direito de aceitar a herança que se
chama vocação.
• Galvão Telles e PCR: Tese da identidade entre os dois conceitos – são sinónimos. PCR
considera que ambas consistem numa fase intermédia do fenómeno jurídico-sucessório, em
que, estando aberta a sucessão, não se verificou ainda o exercício positivo do jus delationis por
parte dos sucessíveis chamados.
• JDP: Tese de que os dois conceitos exprimem diferentes perspetivas da mesma realidade:
a vocação corresponde a uma perspetiva subjetiva do fenómeno, correspondente a atribuição
dos sucessíveis designados do direito de suceder, enquanto quer a devolução corresponderia a
uma perspetiva objetiva, correspondente à atribuição aos sucessores dos bens que integram a
sucessão. Haveria, assim, apenas uma diferença de perspetiva, já que enquanto a vocação
apenas se refere ao chamamento de pessoas, a devolução toma por base a aquisição de situa-
ções jurídicas.
• OA: Tese da diferenciação em função dos sucessores: para o autor a vocação é a atribui-
ção do direito de suceder e significa o mesmo que chamamento. Devolução é a fase que se
verifica em princípio em benefício de quem tem título de herdeiro, quando se dá a colocação
dos bens à disposição do chamado. Tal explica-se por o autor considerar que a transmissão da
posse para os sucessores prevista no Art.º 1255º apenas se aplicaria aos herdeiros, o que ex-
plicaria a inexistência de devolução a favor dos legatários, que adquiririam a posse a partir dos
herdeiros.
24
• ML: considera não existir diferenciação relativamente à aquisição da posse por herdeiros
e por legatários, a ambos se aplicando o Art.º 1255º, não podendo aceitar a tesa da diferencia-
ção de acordo com os sucessores. Já relativamente à tese que defende a autonomia dos con-
ceitos, o Art.º 2024º parece autonomizar a vocação da devolução uma vez que apresenta a
devolução dos bens como uma consequência da vocação da devolução, uma vez que apresen-
ta a devolução dos bens como uma consequência da vocação. Mas noutras disposições legais,
como nos Art.º 2032º/2, 2037º/1, 2055º, 2125º/2, 2293 e 2294º, a devolução aparece identifi-
cada com a vocação. Não vemos, por isso, que haja justificação para estabelecer a uma sepa-
ração entre os dois conceitos, mas também não nos parece que sustenta serem apenas dois
prismas apresentados para descrever a mesma realidade. Efetivamente, quer a situação seja
apresentada de forma subjetiva como o chamamento dos sucessíveis, quer de forma objetiva
como a devolução dos bem que pertenciam ao autor da sucessão, o efeito é o mesmo, dado
que é sempre necessária a aceitação da herança ou legado para permitir a sua aquisição (Art.º
2050º).
Conclusão: A vocação é suscetível de ser encarada através de duas vertentes: a vertente
pessoal, através da determinação das pessoas que têm o direito de suceder (chamamento) e
a vertente patrimonial, através da atribuição das correspondentes situações jurídicas patri-
moniais (devolução), a ambas se referindo o Art.º 2024º.
A vocação ocorre normalmente no momento da abertura da sucessão, mas pode surgir
posteriormente. Efetivamente, se for chamado à sucessão um nascituro, uma vez que a voca-
ção fica dependente do seu nascimento (Art.º 66º/2), só nesse momento se concretiza a voca-
ção.
2. Pressupostos da vocação
i. Personalidade jurídica
O primeiro pressuposto da vocação é a personalidade jurídica do chamado. Enquanto que
a designação sucessória, uma vez que não traduz a atribuição de direitos, não pressupõe a
personalidade jurídica do designado, já a vocação não se pode concretizar sem que o chamado
25
possua personalidade jurídica. Para ser chamado é necessário que o sucessível tenha adquirido
personalidade jurídica e que não tenha perdido essa personalidade.
Duas vertentes, assim, para este requisito:
– a personalidade ter-se-á desse constituir, normalmente antes da abertura da sucessão;
– que a mesma não se tenha perdido entretanto, em caso de não sobrevivência do suces-
sível não designado em relação ao de cuius.
• Aquisição da personalidade jurídica
A regra do Art.º 2033º/1 é a de que a personalidade jurídica deve ter sido já adquirida no
momento da abertura da sucessão. Essa regra é, no entanto, alargada em relação aos nascitu-
ros já concebidos, ainda que, nos termos do Art.º 66º/2, a aquisição desse direito dependa do
seu nascimento. Já no caso da sucessão testamentária ou contratual, os nascituros não têm
sequer que estar concebidos no momento da abertura da sucessão, podendo ser contempla-
dos desde que sejam filhos de pessoa determinada, viva ao tempo da abertura da sucessão
(Art.º 2033º/2 a)) ainda que naturalmente também a aquisição do direito dependa do seu
nascimento (66º/2).
26
retroage ao momento da prática daqueles atos – verdadeira condição suspensiva. A quem foi
feita um legado e ele nunca nasceu (se não se verifica a condição o ato nunca produz efeitos).
No caso de nascer completo e com vida tem PJ para a frente e tem tbm PJ á data ou reportada
a data da prática do ato para não termos direitos sem sujeitos que encabece esses direitos. Se
não nascer nunca teve nada (vamos chegar a mesma conclusão de que chegaríamos na teoria
clássica; se nunca nascer nunca teve PJ).
▪ Versão do PPV: Para ele temos uma solução mais conservadora no sentido que tutela
ainda mais a vida intrauterina. Desde o dia 1 da conceção que o nascituro tem PJ. Não há re-
troatividades. É por isso q a lei permite que enquanto nascituro lhe seja permitido fazer doa-
ções etc. reconhece se aqui que ele tem PJ. O nascimento? Quando se da ele completo e com
vida temos apenas uma continuidade face aquilo que era a sua PJ já existente: o nascimento
em si não representa nenhum marco para a PJ mas sim para a capacidade de gozo que deixa
de ser limitada e agora referida à sua condição extrauterina. Questão diferente é de saber e se
não nascer? Se não nascer entra aqui a condição resolutiva. A PJ dos nascituros é atribuída
resolutivamente. Começa no dia 1 mas se chegarmos a fase do suposto nascimento que não
acontece então destrói se a PJ que foi atribuída (não há para a frente e nunca houve para trás).
Retroativamente vamos destruis a PJ que foi atribuída desde o início.
▪ A diferença entre as teorias: se tivermos uma doação no primeiro só produz efeitos do
nascimento completo e com vida e nunca retroage. Na segunda produz se efeitos á data da
formalização (em que ia produzir efeitos porque retroage). Para o PPV a doação considera se
desde o início. Na primeira é muito difícil de justificar a posição. No 952/2 diz nos que a doação
produz efeitos no nascituro.
▪ Dá se o nascimento completo e com vida e o bebé morre 1 dia depois: Para PPV tem
PJ desde a conceção até esse termo.
▪ O bebé morre antes de nascer: para a primeira nunca produziu efeitos. Para a segunda
era necessário nascer. Para a terceira foi destruído retroativamente.
27
Argumenta-se o facto de a lei equiparar as deixas a nascituros às deixas sob condição suspen-
siva e que o interesse dos concepturos não fica acautelado com uma partilha apenas entre os
já nascidos, uma vez que estes poderiam dissipar os bens e cair posteriormente em situação de
insolvência, prejudicando assim os direitos dos futuros interessados.
→ Tese da partilha aproximativa (Cunha Gonçalves): a partilha deve fazer-se entre nasci-
dos e nascituros, devendo calcular-se os concepturos que se espera que venham a existir, efe-
tuando-se a partilha de acordo com essa expetativa, e fazendo-se posteriormente a necessária
correção, quando se tiver a certeza de que não existem mais filhos, ou quando surgirem filhos
acima do esperado.
→ Tese da partilha sob condição resolutiva (Pereira Coelho): a partilha pode fazer-se logo
após a abertura da sucessão, ficando, porém, obrigatoriamente sujeita a uma condição resolu-
tiva, no caso de ocorrer o nascimento completo e com vida.
→ Tese da atribuição de um direito a tornas (JDP): a partilha pode fazer-se imediatamen-
te, havendo, em caso de nascimento posterior, lugar à aplicação analógica do Art.º 2029º/2: a
quota do herdeiro superveniente é composta em dinheiro.
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A capacidade sucessória pode ser entendida em sentido amplo (capacidade para suceder a
toda e qualquer pessoa) ou sentido restrito (toma-se em consideração a idoneidade para su-
ceder a certa e determinada pessoa).
Neste último caso a capacidade sucessória, aproxima-se do conceito de legitimidade: é o
que acontece com a indignidade e deserdação, que revestem caráter relativo, só impedindo o
chamamento em relação à sucessão de uma determinada pessoa, permanecendo o visado
como capaz em relação a toda e qualquer outra sucessão.
A indignidade não resulta autonomamente da prática dos factos acima referidos, tendo a
mesma quer declarada ou na própria sentença condenatória penal ou em ação instaurada para
o efeito, designadamente pelo MP (Art.º 2036º).
Quanto aos prazos previstos no Art.º 2036º: ML considera que é sempre necessário respei-
tar os prazos relativos à interposição da ação, pelo que, uma vez decorridos os mesmos, cadu-
ca a possibilidade de declarar a indignidade.
29
Segundo o Art.º 2037º/2, na sucessão legal, a incapacidade do indigno não prejudica o di-
reito de representação dos seus descendentes. A contrario, aprece que na sucessão testamen-
tária a incapacidade do indigno não permitirá aos seus descendentes invocarem o direito de
representação.
A lei prevê, porém, a possibilidade de aquele que tiver incorrido em indignidade, mesmo
depois de esta ter sido judicialmente declarada, readquirir a capacidade sucessória no caso de
o autor da sucessão expressamente o reabilitar em testamento ou em escritura pública (Art.º
2038º/1). Exige-se, assim, uma declaração expressa de reabilitação do autor da sucessão (Art.º
217º) feita sob qualquer uma destas formas. O Art.º 2038º/2 admite, porém, que, não haven-
do reabilitação expressa, mas sendo o indigno comtemplado em testamento quando o testa-
dor já conhecia a causa da indignidade, aquele possa suceder dentro dos limites da disposição
testamentária. Temos assim um caso de reabilitação tácita, mas cuja operatividade legal é
limitada à disposição testamentária, não funcionando para efeitos das outras modalidade de
sucessão.
A doutrina, porém, discute se esta reabilitação tácita no âmbito da disposição testamentá-
ria admite a possibilidade de acrescer por parte do indigno (Art.º 2301º e ss) ou se a mesma
está excluída. PCR, considera admissível o acrescer, verificados os respetivos pressupostos
falar do indigno. OA e Carvalho Fernandes respondem negativamente, considerando que a
limitação do Art.º 2038º/2 não se aplica apenas ao título da sucessão testamentária nos seus
precisos termos.
ML prefere esta última interpretação, uma vez que, não tendo o testador procedido à rea-
bilitação plena do indigno, como poderia fazer, não se deve admitir outros efeitos que não
aqueles que expressamente resultam da disposição testamentaria.
• A deserdação
Art.º 2166º – a deserdação constitui um instituto típico da sucessão legitimária, permitin-
do ao autor da sucessão privar um herdeiro legitimário da sua legítima quando se verifique em
relação ao mesmo alguma das seguintes circunstâncias.
30
A deserdação tem que ser realizada em testamento, pelo que está sujeita às mesmas re-
gras de forma do testamento, podendo também ser revogada pela mesma forma.
Para poder efetuar a deserdação, o testador tem que indicar expressamente a causa que
só pode ser alguma das causas taxativamente referidas nesse artigo. Se não o fizer ou indicar
uma causa inexistente, a deserdação será nula.
Na terceira causa (al. c) há quem diga que é desnecessário e absurda, já que quem possui
bens de que pretende deserdar (o herdeiro legitimário) não carece, evidentemente, de alimen-
tos nem pode exigi-los. Concordamos que a hipótese não será frequente, mas não pode ser
excluída, podendo, por exemplo, ocorrer que um pai tenha recusado alimentos ao filho na sua
infância, tendo este depois adquirido bens pelo seu trabalho, que não queira que o pai venha a
herdar, procedendo, por isso, à sua deserdação. A deserdação só será, porém, admissível se a
recusa tiver ocorrido sem justa causa, devendo considerar-me como justa causa o facto de o
sucessível não ter meios para poder pagar os elementos.
No caso da recusa de alimentos, prevista no Art.º 2166º/1 c), apesar de a violação da res-
petiva obrigação constituir crime previsto no Art.º 250ºCP,a lei não exige que o sucessível
tenha sido condenado criminalmente para o autor da sucessão poder deserdá-lo. Já em ambos
os casos previstos no Art.º 2166º. A) e b), a lei exige que ocorra a respetiva condenação crimi-
nal, sem a qual não pode haver deserdação. PCR e JDP defendem, no entanto, nas hipóteses
em que o herdeiro tenha praticado o crime, mas ainda não tenha sido condenado, a possibili-
dade de uma deserdação condicional, para a hipótese de a condenação vir a ocorrer posteri-
ormente à feitura do testamento, por aplicação analógica do Art.º 2035º/1. Parece-nos de
facto admissível essa possibilidade, uma vez que por essa via se continua a respeitar o princí-
pio da tipicidade das causas de deserdação.
Embora a lei refira apenas a sucessão legitimária é obvio que a deserdação afeta igualmen-
te a sucessão legítima e a testamentária, até porque o deserdado é equiparado ao indigno
para todos os efeitos legais (Art.º 2166º/2). Já em relação à sucessão contratual existe antes
outro instituto paralelo: a revogação da doação por ingratidão do donatário (Art.º 1705º/3 e
970º/3). Assim, se num testamento o testar aparecer a deserdar o herdeiro legitimário, parece
claro que o mesmo é privado não apenas da legítima, mas também do direito de suceder na
sucessão legal, bem como do que lhe tenha sido atribuído por testamento anterior. Já, porém,
se após a deserdação ou forma concomitante com ela, o testador efetuar uma disposição tes-
tamentária a favor do deserdado, parece-nos que ele poderá suceder dentro dos limites da
disposição testamentária, por aplicação analógica do Art.º 2038º/2.
6
Ver infra em “o princípio da indivisibilidade da vocação”
31
não justificar uma declaração integral. Finalmente, sustentar a nulidade de deserdação parcial
implica deixar o herdeiro legitimário que incorreu nalguma das hipóteses previstas no Art.º
2106º sem qualquer punição, quando o testador o entendeu sancionar com uma deserdação
parcial, o que o autor não considera correto. É admissível a deserdação parcial.
Deve, por força do Art.º 2166º/2 considerar-se aplicável à deserdação a hipótese de reabi-
litação do deserdado, que qual depende da revogação da disposição testamentária a estabele-
cer a deserdação. Essa revogação pode ser expressa, nos termos do Art.º 2312º, ou tácita, nos
termos do Art.º 2313º. Quanto a esta, o Art.º 2038º/2, esclarece, no entanto, que o facto de o
deserdado ser contemplado em testamento só lhe confere o direito de suceder nos precisos
limites da disposição testamentária, o que exclui a possibilidade de a sucessão ocorrer nos
termos da sucessão legítima ou legitimária.
Sendo o herdeiro legitimário objeto de uma deserdação ilegal, a forma correta de reagir,
nos termos do Art.º 2167º, é a ação de impugnação da deserdação, para a qual a lei estabelece
um prazo de 2 anos a contar da abertura do testamento. Deve, no entanto, considerar-se que
esse prazo pressupõe que o deserdado esteve presente na abertura do testamento, tendo, por
isso, conhecimento nessa data da deserdação. Não sendo esse o caso, deve considerar-se, por
analogia com o Art.º 2059º e 2038º, que o prazo só se inicia quando o interessado teve conhe-
cimento do testamento e da deserdação.
A ação de impugnação da deserdação, prevista no Art.º 2167º tem como pressuposto legal
a inexistência da causa invocada, pelo que não pode ser utilizada quando a deserdação ocorre
sem indicação de qualquer causa ou com uma causa não prevista na lei, como na hipótese de o
testador dizer que deserda o filho porque ele não tem o visitado nos últimos anos.
PCR sustenta que para uma deserdação nessas condições tem que se considerar como ju-
ridicamente inexistente. JDP sustenta que o deserdado poderá arguir a nulidade da disposição
testamentária, nos termos do Art.º 2038º.
ML tem que se considerar que uma deserdação que não obedeça aos requisitos da mesma
deve considerar-se inexistente, não se justificando, por isso, sequer uma ação de nulidade do
testamento. Se não for invocada nenhuma das causas do Art.º 2166º, a deserdação não produz
qualquer efeito.
32
título – vocação una. V.g.: o filho do de cuius, se for chamado a receber a sua legítima subjeti-
va não pode pretender ficar apenas com uma parte da mesma. Da mesma forma, se o testador
instituir alguém como legatário de uma quinta, não pode este referir que só pretende ficar
com uma parte da quinta, repudiando a parte restante.
Vocação múltipla: também aqui o princípio da indivisibilidade da vocação se aplica, nos
casos em que exista uma pluralidade de títulos sucessórios. O Art.º 2055º: a lei pressupõe que,
mesmo em caso de pluralidade de títulos de vocação, a aceitação e repúdio abrangem ambos
os títulos.
Exceções ao princípio: Art.º 2055º/1, 2ªparte, e nº 2; Art.º 2058º/2; Art.º 2250º/1, 2ª par-
te, e nº 2; Art.º 2306º. P. 121.
4. Modalidades de vocação
• Vocação originária ou vocação subsequente
A vocação originária é a que se verifica na data da morte do de cuius, artigo 2032º/1.
Já a vocação subsequente é a que se concretiza num momento posterior à morte do de cuius.
Normalmente é originária, mas podemos distinguir alguns casos de sucessão subsequente:
i. O sucessível não prioritário, que é chamado quando os primeiros sucessíveis não po-
derem ou não quiserem aceitar a herança/legado (2032º/2). Retroage ao momento da aber-
tura da sucessão.
ii. A vocação dos nascituros – a atribuição do direito de suceder só se efetiva no momen-
to do nascimento completo e com vida, em que adquirem personalidade jurídica (66º/2). Não
retroage ao momento da abertura da sucessão.
iii. A vocação do fideicomissário – o fideicomissário só é chamado após a morte do fidu-
ciário (que preserva a herança ou legado – 2293º/1º). Não retroage ao momento da abertura
da sucessão.
iv. Vocação sob condição suspensiva – a vocação deste sucessível só ocorre no momento
da verificação da condição (2035º/2, 2059º/2 e 231º/1/b). Retroage ao momento da abertura
da sucessão.
33
▪ Sucessão Legal
a. Divisibilidade: no chamamento como legatário.
b. Indivisibilidade: no chamamento como herdeiro – que aceita enquanto herdei-
ro legitimário, também aceita como herdeiro legítimo (a sucessão legal é uma
unidade).
▪ Sucessão Contratual
a. Resulta de um contrato em vida que, pela sua natureza bilateral, já pressupôs a
aceitação da outra parte – a atribuição processa-se ope iuris, pelo que o pro-
blema da divisibilidade não se coloca.
▪ Sucessão Testamentária
a. Quando se desconhece a existência do testamento e a pessoa repudia a suces-
são legal, ainda poderá, eventualmente, aceitar a sucessão testamentária.
b. No caso de aceitar a sucessão legitimária, poderá, no entanto, repudiar o tes-
tamento.
34
A vocação direta é a regra. A vocação é indireta sempre que ocorre que um sucessível prio-
ritário não possa ou não queira aceitar a sucessão, sendo nesse caso chamado o sucessível
subsequente, vindo, nesse caso, a vocação deste a ser moldada sobre a anterior vocação do
sucessível prioritário, cuja posição é ocupada pelo sucessível subsequente, retroagindo a devo-
lução indireta à data da abertura da sucessão (Art.º 2032º/2). A vocação indireta não pressu-
põe, no entanto, a resolução de uma vocação anteriormente realizada, uma vez que a mesma
pode nem sequer chegar a ocorrer, como sucede no caso de pré-morte.
35
G. Telles e PCR: consideram que é vocação indireta, sendo que o fenómeno sucessório não
se encontrava concluído em relação ao primitivo de cuius, só indo sê-lo por via da atuação da
vocação pelos sucessores do transmitente que assim acabam por suceder também ao primeiro
de cuius.
≠
O.A. e A. Varela e JDP: na transmissão do direito de suceder não ocorre um fenómeno de
vocação indireta, mas antes uma situação de dupla transmissão, pelo que os pressupostos da
vocação só tem que se verificar aquando da segunda abertura da sucessão, já não em relação
à primeira. A regência concorda, uma vez que tudo no regime da transmissão do direito de
suceder indicia a existência de uma dupla transmissão e não de uma vocação indireta. Em pri-
meiro lugar, o transmissário tem que aceitar a herança do transmitente para poder suceder ao
primitivo de cuius (Art.º 2058º/2), ao contrário do que se verifica nas vocações indiretas . De-
pois, o requisito da existência do chamado não tem que se verificar em relação à abertura da
primeira sucessão, podendo quem não era nascido à data da morte do primitivo de cuius ad-
quirir por transmissão o direito a aceitar ou repudiar a sucessão deste. Finalmente, tem que se
verificar a capacidade sucessória em relação às duas vocações, o que é dispensado no âmbito
das vocações indiretas (Art.º 2037º/2).
Em termos de modalidades: poderá ser singular ou plural (2382º), poderá ser reciproca ou
não recíproca (2283º), poderá operar em mais de um 1 grau (se x não quer aceitar, fica para y;
se y não quiser aceitar, fica para w; se w não quer aceitar, fica para z – não há qualquer limita-
ção legal à realização, daí que se entenda que seja permitido fazê-lo; quando o legislador quis
limitar graus fê-lo – é o caso da substituição fideicomissária).
Questão de se a substituição direta ocorre igualmente no caso de ser válida a deixa a favor
do substituto.
O. Ascensão e Carvalho Fernandes respondem afirmativamente, considerando que o insti-
tuidor pode ter previsto essa invalidade e é seguro que a sua vontade seria nesse caso de insti-
tuir o substituído, devendo, por isso, a referência a não poder aceitar a herança ou legado ser
entendida em termos amplos.
Questão de o caso do substituído falecer sem ter declarado se aceita ou repudia a suces-
são e se isso não constitui uma hipótese de não poder aceitar a herança, uma vez que nessa
situação se verifica antes uma transmissão do direito de suceder para os seus herdeiros, não se
36
podendo, consequentemente, aplicar a substituição direta sem que essa transmissão seja re-
solvida.
O.A e C.F. admitem, porém, que o testador disponha em sentido contrário, determinando
a exclusão da transmissão do direito de suceder aos herdeiros nesse caso e determinado a
imediata vocação do substituto. Pelo contrário, PCR entende que a substituição direta não
deve operar se a vocação do substituído se chegar a concretizar, dando origem à transmissão
do direito de suceder, podendo nesse caso apenas admitir-se uma substituição fideicomissária,
designada um fideicomisso irregular (Art.º 2295º). A regência concorda.
Pergunta-se, poderá ocorrer na sucessão legal? A sucessão legal abrange a sucessão legi-
timária e a sucessão legítima: a primeira não poderá ser afastada pelo autor da sucessão, pelo
que não há lugar a substituição direta; a segunda poderá ser afastada pelo autor da sucessão,
no entanto, ao ser afastada, já não se está no campo da sucessão legitima, mas no campo da
sucessão unilateral ou bilateral (voluntária). Assim, não há substituição direta na sucessão
legal. A substituição direta, enquanto fonte voluntária, é típica na sucessão voluntária – de
natureza testamentária ou contratual.
A substituição direta constitui uma modalidade de vocação indireta e condicional. É indire-
ta porque a posição do substituto é moldada pela posição do substituído, que assim surge a
título intermédio. É condicional porque a vocação do substituto fica dependente de uma con-
dição suspensiva, consistente no facto de o substituído não poder ou não querer aceitar a su-
cessão.
A substituição direta, quando seja admitida, tem ainda como efeito afastar a aplicação do
direito de representação e do direito de acrescer. Efetivamente, estes institutos são incompa-
tíveis com a substituição direta – 2041/a)
37
ii. Filho ou irmão do falecido tenha deixado descendentes ou adotados plenamente. Aqui a
lei já não contempla o cônjuge. A lei refere que a representação tem lugar qualquer que seja o
grau de parentesco, sendo assim irrelevante que o descendente seja filho, neto ou bisneto.
ii. Não verificação de causas de caducidade da vocação sucessória (Art.º 2317º - alíneas b),
c) e d)). Nos casos, porém, de a caducidade resultar de a pré morte ocorrer antes da verifica-
ção da condição suspensiva a que a disposição foi sujeita (al. b)), ou das alíneas c e d, a voca-
ção sucessória caduca, sem que o direito de representação possa operar.
38
Ver p. 129
– A sucessão contratual encontra-se prevista no artigo 1703º/2: doação por morte feita
por terceiro em favor de qualquer dos esposados, havendo predecessor do donatário – esta
doação não caduca quando sobrevivam descendentes legítimos. Este artigo coloca um possível
problema constitucional: a CRP proíbe preceitos discriminatórios (artigo 36º/4). De acordo
com a regência, não parece haver discriminação, uma vez que o objetivo é garantir o casamen-
to, daí que o direito de representação apenas funcione em relação aos filhos do casamento –
daquele casamento em particular. Se outra houver sido a estipulação das partes, não funciona
o direito de representação.
O direito de representação abrange apenas neste caso o predecesso do donatário
(1703º/2) e não o repúdio por este, ao contrário do que é regra geral neste direito (Art.º
2039º). Efetivamente, no âmbito da sucessão contratual a questão do repúdio não se pode
colocar dado o facto de a doação ser aceite em vida do doador.
O direito de representação é supletivo, podendo, por exemplo, ser afastado se na conven-
ção antenupcial, por exemplo, for instituída uma substituição direta nos casos de pré-morte.
Esquema:
A
B C → (pré falecido)
½
D E
¼ ¼
39
B C
D E F G H
1 1 1
¼ ¼
6 6 6
= 3/6 = 1/2 ¼+¼=½
½+½=1
Neste caso, embora já não esteja em questão a regra da preferência de grau, constante do
Art.º 2135º, uma vez que tanto B como C são pré-falecidos, a verdade é que a sua posição con-
tinua a ser considerada para efeitos de herança entre os netos do de cujus. Nestes termos, D, E
e F vão ser igualmente chamados à sucessão de A, mas não sucedem em posição de igualdade
com G e H, uma vez que, ocupando a posição de B, apenas podem repartir a parte que caberia
a este, recebendo assim apenas um sexto da herança. Já G e H, dado que ocupam a posição
que caberia a C, dividem a parte que a este caberia na herança, recebendo por isso apenas um
quarto da mesma. Em consequência, a existência do direito de representação vem afastar a
regra da divisão por cabeça prevista no Art.º 2136º (Art.º 2138º).
B C
D E F G
¼ ¼ ¼ ¼
Nestes casos, o direito de representação continua a funcionar, uma vez que apesar de a si-
tuação parecer idêntica à de uma sucessão direta de A para os seus netos, a posição que ocu-
pavam os pais destes não é ignorada, continuando a partilha a ser efetuada por estirpes. As-
40
→ Unidade de estirpe
V.g.: A é o de cujus, tendo tido um único filho, B, que é pré-falecido, mas que deixou um
neto, C. Em vida, A tinha feito uma doação de um prédio a B, fazendo ainda a doação das suas
joias a uma amiga, D.
41
2. A pré-morte não determina o acrescer – o pré-morto não chega a ser chamado à su-
cessão.
3. A parte do cônjuge é igual às demais.
4. Quando haja concurso entre cônjuges e ascendentes, fica 2/3 para o cônjuge e 1/3 pa-
ra os ascendentes. Se um dos ascendentes repudiar e funcionar o direito de acrescer, a parte
repudiada acresce aos ascendentes e não ao cônjuge.
5. Quando haja concurso entre cônjuge e descendentes e nenhum destes aceitar ou pu-
der aceitar, o cônjuge recebe a totalidade que lhes caberia, por via do direito de acrescer
(2141º).
6. Exceção – mistura entre herdeiros e legatários: artigo 2306º.
ML: há lugar ao acrescer. No exemplo dado acima, se o de cujus tem 2 filhos e um é consi-
derado indigno, a legítima mantém-se em 2/3 da herança, acrescendo a parte do indigno à do
outro filho.
42
43
44
Caso não haja lugar ao acrescer entre legatários: 2303º. V.g.: o testador A deixa toda a sua
biblioteca B, mas estabelece que um livro dessa biblioteca deve ser entregue a C, se não quiser
ou não puder aceitar o legado, o livro reverte para B.
45
p. 155 ML
O Art.º 2296º estende a aplicação desta figura aos lesados. Trata-se assim de uma situação
em que o sucessor instituído em primeiro lugar (o fiduciário) fica obrigado a conservar o objeto
da sucessão para que ele reverta por sua morte em benefício de um segundo sucessor (o fidei-
comissário).
46
igualmente, a dupla liberalidade resultar de uma doação por morte ou por vida, Art.º 1700º/2
e 962º, respetivamente.
A dupla liberalidade tem que ter, porém, o mesmo objeto, tendo assim o fideicomissário
que receber os mesmos bens deixados ao fideicomissário, sem o que se estaria perante um
encargo a termo inicial e não uma substituição fideicomissária7. A substituição fideicomissária
envolve necessariamente uma disposição de bens, não podendo consistir na simples constitui-
ção de obrigações e esses bens terão que pertencer ao autor da liberalidade, sem o que tam-
bém não existirá substituição fideicomissária.
• Ordem sucessiva
As suas disposições gratuitas dos mesmos bens devem produzir efeitos numa ordem su-
cessiva.
A segunda disposição gratuita deve ser realizada em ordem a só ter eficácia após a extin-
ção da eficácia da primeira, com a morte do fiduciário. O fiduciário poderá assim aproveitar os
bens durante toda a vida, passando depois os mesmos a beneficiar o fideicomissário, salvo no
caso de este não sobrevier ao fiduciário. Daqui resulta esta ordem sucessiva na propriedade
dos mesmos bens, que passam a ser propriedade de uma pessoa depois de terem pertencido a
outrem durante toda a vida desta última.
7
Se alguém deixar a outrem determinados bens e determinar que, no momento da morte deste, se-
jam pagos 50.000€ a terceiro, a situação não é de substituição fideicomissária, mas antes de legado a
termo inicial (Art.º 2243º).Nesta situação não há qualquer obrigação de conservação dos bens, pelo que
o beneficiário pode dispor dos mesmos, sendo apenas constituída uma dívida que se vencerá no mo-
mento da sua morte.
47
Ao contrário do resto da doutrina (PL e AV; AO e JDP), que considera que o Art.º 2288º
apenas impede a condição suspensiva, e não a condição resolutiva, uma vez que nessa verifica-
se antes a resolução da vocação (Art.º 270º), sendo assim a mesma permitida pelo Art.º 2229º.
A regência considera que o espírito do Art.º 2288º é o de evitar a utilização da condição
para elidir a proibição das substituição fideicomissárias em mais de um grau, o que tanto se
verifica na condição suspensiva como na condição resolutiva. Ambas são, portanto, vedadas
por essa disposição.
Em caso de instituição de uma substituição fideicomissária em mais de um grau, a nulidade
dessa substituição fideicomissária não envolve a nulidade da instituição ou da substituição
anterior, apenas se considerando a segunda cláusula fideicomissária como não escrita, salvo se
o contrário resultar do testamento (Art.º 2289º).
48
Caso o fiduciário seja herdeiro, responde pelos encargos da herança, nos termos do Art.º
2068º. No entanto, em consequência da futura reversão dos bens para o fideicomissário, os
credores pessoais do fiduciário não têm o direito de executar os bens sujeitos ao fideicomisso,
apenas podendo executar os seus frutos (Art.º 2292º).
Com a morte do fiduciário, ocorre a devolução da herança – ou do legado – ao fideicomis-
sário (Art.º 2293º/1) mas, se este não puder ou não quiser aceitá-la, fica sem efeito a substi-
tuição e a herança – ou o legado – considera-se definitivamente adquirida pelo fiduciário des-
de a morte do testador (Art.º 2293º/2). Neste caso, não funciona o direito de representação a
favor do fideicomissário, ainda que este tenha descendentes (Art.º 2041º/2 b)).
Daqui resulta que, durante a vida do fiduciário, o fideicomissário não é titular de qualquer
direito sobre os bens da herança ou do legado, mas apenas de uma expetativa jurídica de lhe
suceder (porque o que no fideicomisso está em jogo é a vontade do disponente e essa deter-
mina que o direito do fiduciário se exerça de tal forma que não prejudique o futuro titular do
direito – o fideicomissário; o fiduciário é titular por morte do disponente e a vontade deste
implica a limitação do seu direito em atenção ao fideicomissário), que por isso se pode qualifi-
car como expetativa sucessória. É em função da tutela dessa expetativa que surge o Art.º 2291
e 2290º/3.
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50
1. Generalidades
Art.º 2031.
A sucessão legítima ocorrer a título supletivo, só tendo lugar se não houver uma disposição
dos bens da herança por parte do autor da sucessão, o que ocorrer com frequência.
Para se poder afastar a sucessão legítima, a disposição de bens terá que ser válida e eficaz.
A sucessão legítima terá, assim, ainda lugar se a disposição testamentária for considerada invá-
lida (Art.º 2308º) e ss), for revogada (Art.º. 2310º e ss.) ou caducar (Art.º 2317º).
Mesmo em caso de disposição de bens válida e eficaz, a sucessão legítima continua a apli-
car-se relativamente a todos os bens da herança que não tenham sido abrangidos por essa
disposição.
Ordem da sucessão legítima nos termos do Art.º 2133º: o cônjuge sobrevivo integra a pri-
meira classe de sucessíveis, salvo se o autor da sucessão falecer sem descendentes e deixar
ascendentes, caso que integra a segunda classe (Art.º 2133º/2).
a) Preferência de classes
Esta regra implica que os sucessíveis de uma classe preferem aos sucessíveis das classes
subsequente, pelo que apenas aqueles são chamados à sucessão.
Esta regra encontra-se consagrada no Art.º 2133º, que nos indica quais são as classes de
sucessíveis, acrescentando o Art.º 2134º que “os herdeiros de casa uma das classes de sucessí-
veis preferem aos das classes imediatas”. Também o Art.º 2317º prevê que os sucessíveis de
uma classe só são chamados a suceder se nenhum dos sucessíveis da classe anterior quiser ou
puder aceitar a herança.
V.g.: Imaginemos que o autor da sucessão deixa 2 filhos e dois pais. Como os filhos inte-
gram a primeira classe de sucessíveis e os pais a segunda, apenas os filhos serão chamados à
sucessão. Se um dos filhos repudiar a herança, e não tiver descendentes, a sua parte acresce-
rá à do outro filhos (Art.º 2137º/2). O chamamento dos pais apenas se verificará em caso de
ambos os filhos repudiarem a herança (Art.º 2137º/1).
51
c) Sucessão l cabeça
• Regime geral
A regra da divisão por cabeça significa que os sucessíveis legítimos prioritários sucedem
em partes iguais e aplica-se, normalmente, entre parentes de cada classe (Art.º 2136), e na
situação do concurso do cônjuge com até 3 descendentes (Art.º 2139º/1, 1ª parte).
Assim, se o autor da sucessão sobreviverem dois filhos, a cada um deles caberá metade da
herança. Se lhe sobreviverem dois filhos e o seu cônjuge, a cada um destes sucessíveis será
atribuído um terço. Assim, os diversos herdeiros sucedem de forma igualitária.
A regra da divisão por cabeça é aplicável, mesmo no caso de existirem colaterais, que se-
jam duplamente parentes do falecido (Art.º 2148º). É o que ocorrerá, por exemplo, em relação
a primos, filhos de um casamento do irmão do pai com a irmã da mãe. Apesar do duplo paren-
tesco existente, a sua posição sucessória não é diferente da dos outros primos que sejam ape-
nas filhos de irmãos do pai ou de irmãos da mãe, aplicando-se a todos eles a regra da divisão
por cabeça.
• Exceções:
– Art.º 2139º/1. 2ª parte;
– Art.º 2142º/1;
– 2146º;
– 2138º
A primeira exceção determina, na segunda parte, que sempre que o cônjuge concorra com
mais de 3 descendentes, a regra da divisão por cabeça deixa de se aplicar, passando o cônjuge
a receber sempre ¼ da herança, enquanto os descendentes dividirão entre si os restantes ¾.
52
A última exceção refere-se à situação do direito de representação, uma vez que, nos ter-
mos do Art.º 2138º, a divisão por cabeça não prejudica o direito de representação, nos casos
em que este tiver lugar (Art.º 2039º e ss.). Nos termos deste direito, a divisão faz-se por estir-
pe (Art.º 2044º), pelo que a parte que competia ao sucessível que não pôde ou não quis acei-
tar a herança é atribuído ao conjunto dos descendentes desse mesmo sucessível. Em conse-
quência, havendo mais do que um sucessível do herdeiro pré-falecido, a regra da divisão por
cabeça deixa de ter aplicação, determinado antes o Art.º 2042º. Nesse caso, cabe o Art.º
2044º, o que implica que o direito de representação prejudique a aplicação da regra da divisão
por cabeça, quer em relação à sucessão dos descendentes (2140º), quer em relação à sucessão
dos irmãos e seus descendentes (Art.º 2145º).
Também não terá direito de suceder, nos casos do Art.º 116º e 118º.
53
54
O Art.º 2148º considera neste caso irrelevante o duplo parentesco, determinando que a
partilha faz-se por cabeça, independentemente de algum dos chamados à sucessão ser dupla-
mente parente do falecido. Efetivamente, e conforme acima se referiu, se o autor da sucessão
deixar primos do lado paterno e do lado materno, mas um dos seus primos o for de ambos os
lados, porque um irmão do seu pai casou com uma irmão da sua mãe, este seu primo herdará
por cabeça, exatamente, nos mesmos termos que os restantes primos.
9. A sucessão do Estado
Uma vez que os bens não podem ficar sem sucessor, determina ao art 2152 que, na falta
de cônjuge e de todos os parentes sucessíveis, é chamado à herança o Estado. Apesar de a lei
referir que o Estado tem, relativamente à herança, os mesmos direitos e obrigações de qual-
quer outro herdeiro (Art.º 2153º), a situação do Estado enquanto herdeiro não é exatamente
igual à dos restantes herdeiros.
Art.º 2155º: o Estado não pode repudiar a herança, que se opera de direito.
Assim, em relação ao Estado não há lugar à aplicação do regime do Art.º 2050º e ss. e
2062º e ss., os quais são substituídos pela declaração judicial da herança vaga em benefício do
Estado (Art.º 2155º), considerando-se a herança jacente até à concorrência dessa declaração
judicial (Art.º 2046º).
Processo: p. 187.
55
56
A sucessão testamentária é um dos títulos de vocação sucessória ( 2026º CC). A sua regu-
lamentação consta dos artigos 2179º e seguintes.
Consiste na espécie de sucessão em que a designação sucessória resulta de um testamen-
to. Trata-se, assim, de uma modalidade de sucessão voluntária, resultante da autonomia pri-
vada do autor da sucessão.
1. Conceito de testamento
Definido no Art.º 2179º.
ML considera a definição pouco correta, já que o testamento não é um simples ato mas
um verdadeiro NJ, na medida em que , tirando as limitações resultante da sucessão legitimária,
o testador tem plena liberdade de estipulação dos efeitos jurídicos da sucessão.
Em segundo lugar, o testamento não é um ato necessariamente patrimonial ( o testador
poderá perfilhar, deserdar, designar tutor etc.).
O regente acolhe a definição de O.A. e JDP: NJ unilateral pelo qual alguém procede a dis-
posições de última vontade.
2. Características do testamento
• Características do testamento enquanto negócio jurídico:
O que justifica o a afirmação do caráter negocial do testamento é o facto de o testador
manter nos limites da sua quota disponível uma liberdade de estipulação plena, embora este
de alguma forma constrangido na sua liberdade de estipulação em virtude da proteção confe-
rida aos herdeiros legitimários.
i. unilateral
Nele integra-se uma só parte, o autor da sucessão enquanto testador, não dependendo da
manifestação de outra vontade que não a do testador.
A revogabilidade do testamento não é um obstáculo ao caráter contratual do mesmo, uma
vez quem sendo a proposta apenas aceite com a morte do testador, natural seria que ele con-
servasse a possibilidade de revogar o testamento durante a sua vida. Isto para compreender-
mos que a unilateralidade é uma característica do testamento, e o facto de o sucessor desig-
nado poder aceitar ou repudiar a disposição testamentária não o converte em contraparte no
testamento, uma vez que, por força do mesmo, após a abertura da sucessão e antes da aceita-
ção o sucessível adquire logo o direito de suceder, cujo conteúdo não pode modificar (Art.º
2054º/1 e 2064º/1). Não é, por isso, necessária qualquer aceitação para produzir os efeitos do
testamento, já que a designação e a vocação sucessória se verificam independentemente de
aceitação. Uma vez que o testamento produz os seus efeitos apenas em virtude da declaração
do testador, podendo ser também revogado unilateralmente por este, a qualificação que lhe
compete é a de negócio unilateral e não a de contrato.
57
nação sucessória e apenas sendo possível a aceitação após a verificação da vocação sucessória,
em virtude da abertura da sucessão com a morte do seu autor.
iv. formal
Para a sua válida conclusão é necessária a observância da forma - 2204º a 2209º CC. A
inobservância da forma → nulidade, 286º CC;
v. revogável : até à morte do testador, o que resulta dos art. 2179º/1 CC e 2311º 8;
vi. singular
É um ato em que é permitido somente a uma pessoa manifestar a sua vontade. Todavia
será nula a disposição se o fim for contrário à lei como a objeto negocial.
vii. gratuito
Contém disposições patrimoniais em benefício de outrem sem qualquer contrapartida por
parte do beneficiário. Apesar de impor um encargo – 2244º CC – este não é uma verdadeira
contrapartida da atribuição do testador.
viii. individual
→ O caráter individual do testamento
Somente pode ser celebrado por uma pessoa, isto é, não pode, em testamento, testar
mais do que uma pessoa conforme o art. 2181º CC, de forma que seja garantido o pleno exer-
cício de liberdade de testar.
A proibição dos testamento de mão comum é justificada pelas seguintes razões:
• quando o testamento fosse cerrado, a morte de um dos co-testadores obrigaria à aber-
tura daquele e à consequente revelação da vontade do outro;
• o testamento de mão comum, mormente quando as disposições fossem recíprocas, faci-
litava as captações pois era usado, sobretudo, pelos cônjuges, um dos quais se impunha ao
outro;
• convertia-se o testamento recíproco numa espécie de contrato sucessório, mas, o co-
testador sobrevivo, depois de aproveitar os benefícios do falecido, podia revogar as suas dis-
posições, faltando aos compromissos tomados;
• ficava prejudicada a espontaneidade e liberdade do testador.
Salienta-se, no entanto, que esta proibição apenas inviabiliza que os testamentos sejam
realizados num único ato, tendo assim que ocorrer em atos distintos. Tal não impede, por isso,
que existam testamentos recíprocos, sendo até frequente a sua realização entre os cônjuges,
que habitualmente concentram entre si as disposições testamentárias para evitar que contra-
digam. No entanto, ao se exigir a sua realização em dois atos consegue-se evitar a influência
que um dos testadores poderia exercer sobre o outro, bem como manter em segredo as dispo-
sições testamentárias de cada um deles, que aliás podem continuar a ser unilateralmente re-
vogadas, assim se evitando a correspetividade entre os testamentos.
8
JDP → apesar do testamento ser revogável até à morte, se a perfilhação for feita por esta via e o
testamento revogado, a perfilhação, não é prejudicada , conforme o 1858º CC, o testamento não é ne-
cessariamente revogável;
58
59
ix. Pessoal
→ Caráter pessoal do testamento
O art. 2182º. 1 CC, na sua conclusão, não é permitida a intervenção de um terceiro que re-
presente o autor; somente o próprio poderá intervir na celebração deste negócio.
60
um título eficaz perante os poderes públicos para o reconhecimento e defesa dos direitos dos
seus sucessores e para a sua realização prática).
61
• Demonstra que o uso das formas especiais do testamento são uma exceção.
Não é forma especial o testamento feito por português em território estrangeiro (art.
2223º) – trata-se aqui de uma restrição a uma regra de Direito Internacional Privado (do art.
65º) – para ser válido em Portugal tem que ter forma escrita, com intervenção de entidade
dotado de fé pública e observando a lei estrangeira competente.
62
• passiva: refere-se à capacidade geral de suceder, presente no artigo 2033º CC, como por
exemplo os concepturos não concebidos;
A capacidade para testar (ativa) afere-se à data do testamento, sendo vistos como incapa-
zes os menores não emancipados e os maiores acompanhados (2189º al. b). O testamento
celebrado em transgressão desta regra implica a sua nulidade (2190º).
O Art.º 2300º esclarece que os bens que são abrangidos pela substituição quase-pupilar
são apenas os bens que foram adquiridos (em vida) ou que irão ser adquiridos (por morte)
pelo filho através do progenitor que está a fazer o testamento em nome do filho. Ou seja, se o
filho tiver outros bens, nomeadamente bens que adquiriu em vida por força do seu trabalho
ou que lhe foram doados ou deixados por morte por terceiros, os mesmos não podem ser
objeto da substituição pupilar, abrindo-se neste caso a sucessão legítima.
63
O mesmo referido anteriormente é aplicado nesta figura, mas para o filho maior acompa-
nhado.
Há quem entenda que seja do lado passivo (Guilherme de Oliveira) e não do lado ativo
(Pamplona Corte-Real e JDP: substituídos são pessoas singulares incapazes de testar, autor da
substituições é representante legal desse incapaz; substituições caducam se os substituídos
readquirirem capacidade testamentária ativa.
64
65
O Art.º 2200 apenas prevê a simulação do testamento por interposição fictícia de pessoas,
embora pareça que, por aplicação subsidiária das regras gerais, sejam igualmente relevantes
para efeitos de anulação do testamento a simulação absoluta e a simulação relativa objetiva9.
Já a disposição testamentária dissimulada poderá ser válida nos termos do Art.º 241º/2.
Nos termos do Art.º 2259º encontra-se um caso de aplicação desta solução, já que se se o tes-
tador pretender fazer uma liberalidade dissimulando o pagamento de uma dívida, a lei consi-
dera válido o legado, ainda que não exista a dívida, salvo se a mesma se destinar a elidir a in-
capacidade de o legatário a receber por sucessão.
No caso, porém, de interposição fictícia de pessoas será difícil admitir-se a validade da dis-
posição a favor de quem se pretendia, atenta a falta de um mínimo de correspondência entre
o ato dissimulado e o contexto do testamento (Art.º 2187º).
9
JDP: Embora simulação absoluta ou simulação relativa objetiva sejam atendíveis no negócio tes-
tamentário, por aplicação subsidiária das regras gerais – desvalor é anulabilidade, garantindo a unidade
de consequências associadas à simulação testamentária.
66
O Art.º 2203º admite, um regime especial para certo casos de erro na declaração, estabe-
lecendo uma conversão legal.
Assim, se o testador tiver indicado erroneamente a pessoa do herdeiro ou do legatário, ou
os bens que são objeto da disposição, mas da interpretação do testamento for possível con-
cluir a que pessoa ou bens ele pretendia referir-se, a disposição vale relativamente a essa pes-
soa ou a estes bens. V.g.: Caso de um idoso, o testador, confundido os nomes dos seus múlti-
plos netos, nomeia erradamente seu legatário Pedro Francisco, com quem andava de relações
cortadas, em vez do seu outro neto Francisco Pedro, que bastantes vezes o visitava e que que-
ria beneficiar. Há, aqui, um erro na declaração anulável e suscetibilidade de Francisco Pedro
ser chamado à sucessão, face aos Art.º 2203º, 2187º/2.
5.8. Erro-vício
Art. 2202º
• Em relação ao erro sobre os motivos, resulta do Art.º 2202º, que o mesmo pode ser de
facto ou de direito. Como exemplo do erro de facto sobre os motivos temos a situação de al-
guém referir no testamento que faz uma disposição de bens a favor de outrem porque este
administrou os seus bens quando ele esteve ausente, quando tal não se verificou. Quanto ao
erro de direito, teremos a situação de alguém deixar determinada pensão para alimentos ao
seu afilhado, referindo que o faz porque a lei estabelece obrigações de alimentos entre padri-
nhos e afilhados.
Exige-se, no entanto, a essencialidade do erro sobre os motivos, no sentido de que o tes-
tador, sem o mesmo, não teria feito a disposição em causa. Assim, o facto de o testador decla-
rar que deixa toda a sua herança ao seu sobrinho Abel, quando Abel não é efetivamente seu
sobrinho, não basta para anular a disposição testamentária, sendo necessário que se demons-
tre que só por motivo do parentesco a mesma tinha sido realizada. Não se encontra aqui a
necessidade do requisito de cognoscibilidade.
Para além daquela, a essencialidade deve resultar do próprio testamento. Tal levou a uma
controvérsia relativamente sobre se é admitido ou não prova complementar em relação à es-
sencialidade do erro sobre os motivos:
• ML: I Art.º 2202º é aplicável a todo o erro-vício, não fazendo, por isso, sentido aplicar em
matéria testamentária a distinção estabelecida nos Art.º 251º e 252º. A lei não admite prova
complementar, tendo a essencialidade do motivo que resultar do próprio testamento. No
exemplo dado acima, para anular a disposição testamentária não será suficiente demonstrar
67
por outros meios de prova que aquele parentesco era essencial para formação da vontade do
testador, sendo necessário, para anular a disposição, que o testador dissesse no testamento
que fazia aquela deixa a Abel por ele ser seu sobrinho.
• Quanto ao erro sobre a base do negócio, O.A. e JDP sustentam que, dado o caráter uni-
lateral e não recetício do testamento, haverá que adaptar o regime dessa disposição, conside-
rando anulável a disposição testamentária viciado por erro sobre as circunstâncias que funda-
ram a decisão de testar. ML concorda com a relevância deste erro, não vendo que o mesmo
seja sujeito a um regime diferente daquele que resulta do Art.º 2202º, não considerando por
isso necessária qualquer adaptação do Art.º 252º/2.
5.7. Dolo
Art.º 2201º
Se o dolo for praticado pelo beneficiário do testamento, tal constitui causa de incapacida-
de sucessória deste por motivo de indignidade (Art.º 2034º c)), o que excluirá da sucessão. O
dolo não deixa de ser, no entanto, relevante para efeitos de anulação da disposição testamen-
tária, uma vez que o mesmo pode provir de terceiro.
Constituirão dolo ou fraude, em especial, as calúnias, intrigas, mentiras, cartas anónimas,
fingimentos, velhacarias, etc., postos em prática, não só a fim de afastar o testador de pessoas
da sua família a quem aquele beneficiaria, mas para atrair a amizade do testador para si e cap-
tar assim a sua herança. Constitui também dolo a ocultação e a dissimulação de determinada
realidade para manter o autor do testamento em erro ( 254º.1 CC).
Não faz sentido fazer em matéria de testamento, uma distinção de regime entre o dolo
proveniente do beneficiário e o proveniente de terceiro, como sucede na parte geral (Art.º
254º/2). Uma vez que no testamento o que releva é a vontade do autor da sucessão, a confi-
ança do declaratário não merece tutela, pelo que a disposição será sempre anulável indepen-
dentemente de quem foi o autor do dolo.
68
• Invalidade: regras especiais para o negócio testamentário – regime específico para as in-
validades da sucessão testamentária que se demarcam dos demais desvalores do negócio jurí-
dico em geral. Geralmente a consequência é a nulidade. A anulabilidade ocorre quando a lei
expressamente o preveja.
Verificando-se uma situação de nulidade do testamento ou de disposição testamentária,
determina a lei que a respetiva ação caduca no prazo de 10 anos, a contar da data em que o
interessado teve conhecimento do testamento e da causa de nulidade (Art.º 2308º). Já no caso
de anulabilidade, a ação caduca passados 2 anos em que o interessado deve conhecimento do
testamento e da causa da anulabilidade (Art.º 2308º/2). Apesar de se tratar de casos de cadu-
cidade, a lei manda aplicar o regime da suspensão e da interrupção da prescrição (Art.º
2308º/3).
A lei prevê, no entanto, a possibilidade de confirmação do testamento por parte dos inte-
ressados, impedindo o que o tiver confirmado de invocar algum desses valores negativos (Art.º
2309º). Ao contrário, do que se prevê para a doação (Art.º 968º), não se está neste caso pe-
rante uma verdadeira confirmação, sendo antes uma situação de confirmação imprópria, já
que não se verifica uma verdadeira Sanação da invalidade do ato, mas antes uma perda ou
renúncia individual ao direito de declarar a sua nulidade ou anulabilidade, que não se estende,
por isso, aos outros interessados.
O facto de a confirmação poder abranger a hipótese de nulidade do testamento, ao con-
trário do que sucede no regime geral, em que é restrita a situações de mera anulabilidade
levou alguma doutrina a defender que algumas hipóteses de nulidade do testamento não seri-
am suscetíveis de confirmação.
JDP considera haver casos de nulidade típica, sujeita ao regime do Art.º 286º, em relação a
certas disposições testamentárias, abrangendo entre as mesmas as disposições condicionais
ou modais ilícitas ou impossíveis (Art.º 2229º e 2245º), as disposições condicionais ou modais
ilícitas (Art.º 280º/1), impossíveis (Art.º 280º/2) determinadas por um fim ilícito (Art.º 286º) ou
que não observem a forma legal (Art.º 220º e 2206º/5).
ML: Sabendo-se que a confirmação é imprópria, significando apenas a provação do direito
de invocar a nulidade por parte do interessado, não parece ao autor que essa posição que se
justifique. Não há, portanto, para que conserve o direito de invocar a nulidade do testamento
o herdeiro que decida cumprir um legado que o testador realizou por mero escrito particular.
Relativamente às condições e encargos ilícitos ou impossíveis, também não há motivo para o
beneficiário, que aceitou ser privado da disposição em consequência dos mesmos, pudesse
depois invocar a sua nulidade. Já quanto às disposições testamentárias impossíveis de cumprir,
ou contrárias à ordem pública ou aos bons costumes, ou as mesmas não podem ser realizadas
e não se põe a questão da confirmação, ou o cumprimento das mesmas constitui um ato ilícito
em si mesmo, o que igualmente afasta essa confirmação. Finalmente, a invalidade da perfilha-
ção referida no Art.º 1855º nada tem a ver com a invalidade do testamento e só a essa se refe-
re o Art.º 2309º. Afirma o autor que não há razão para restringir a aplicação dessa disposição.
O regime da invalidade do testamento tem caráter injuntivo, sendo vedado ao testador
proibir a impugnação do testamentos nos casos em que se verifique nulidade ou anulabilidade
(Art.º 2310º).
69
7. A interpretação do testamento
As regras sobre interpretação do testamento encontram-se previstas no Art.º 2187º (com-
pletadas pelos Art.º 2225º - 2228º, 2260º, 2262º ou 2263º).
• orientação subjetivista – visa a deteção da vontade real do testador “apontada para o
momento presumível da morte”, ou seja, tem de detetar uma “vontade real, se bem que con-
jetural10 (atende-se ao teor de todo o testamento e da relação das disposições umas com as
outras e com o conjunto11).
• Art. 236º tem uma orientação objetivista, pelo que não parece adequado ao testamen-
to, no entanto, se for impossível alcançar a vontade real do de cuius da forma subjetivista do
art. 2187º, numa lógica de aproveitamento do ato, pode-se utilizar este artigo e legitimar a
que se interprete o testamento com o sentido que uma pessoa normal daria ao que foi decla-
rado.
• O Art. 237º pode relevar para interpretar o testamento no sentido que se retire menos
património. O Art. 238º/2 tem sentido, substituindo “texto” por “contexto”, para disposições
testamentárias não essenciais
Sobre a eventual aplicação das disposições gerias relativas à interpretação negocial dos
Art.º 236 e ss. → p. 231
10
Pois o testamento é feito num momento para surtir efeitos noutro: o que o testador quereria
(vontade real), quando escreveu o testamento, para o momento da sua morte (vontade conjetural).
11
Isto confere uma maior latitude ao apuramento da vontade real no testamento que na maioria
dos negócios formais – que apenas atendem ao “Texto”. Isto porque há uma irrepetibilidade no testa-
mento que só é aberto aquando da morte do seu autor. Valoriza-se os elementos que reproduzam a
vontade real do testador.
70
é independente da dívida existente. Mas se o testador referir que deixa 10000 EUR a um dos
seus credores, devido ao facto de este lhe ter emprestado dinheiro, já se devem despertar
essa disposição como meramente destinada ao pagamento dessa dívida.
• Art.º 2262: se o testador deixar todos os seus créditos a alguém, poderia questionar se a
disposição abrange os depósitos bancários e os títulos, que são juridicamente créditos sobre os
bancos ou sobre o emitente do título, mas não são habitualmente assim entendidos pelas pes-
soas comuns. a lei vem por isso esclarecer que, em caso de dúvida, não se consideram abran-
gidos pelo legado.
• Art.º 2263º: Os legados de Recheio de uma causa ou do dinheiro que lá for encontrado,
não abrange os créditos cujos documentos tenham sido ali deixados pelo testador.
• Art.º 2269º: relativa à extensão dos legados.
71
cartas ou do seu espólio literário, estabelecer orientações políticas ou partidárias para o futuro
(“testamento político”), proibir a realização de homenagens públicas com a construção de uma
estátua, etc.
Herança – quando autor atribui uma quota da herança. Calcula-se tendo por base o R, de-
duzido do P – raciocínio lógico que se deduz do sistema e em que não se computa o donatum
pois não há disposição legal que o imponha.
▪ VTH Testamentário = R - P
O testador tanto pode indicar um único herdeiro como uma pluralidade de herdeiros.
Nesta última, temos as seguintes hipóteses:
72
Deverá considerar-se que é atribuído o remanescente da herança aos herdeiros sem quota
determinada, sendo assim o mesmo dividido entre eles. Já no caso de os herdeiros com quotas
esgotarem o montante da herança, não parece deverem considerar-se excluídos os herdeiros
sem quota, dado que tal não corresponderia seguramente à vontade do testador. Haverá, as-
sim, que reduzir proporcionalmente a parte dos herdeiros com quota atribuída em ordem a
permitir que os herdeiros instituídos sem quota recebam tanto quanto o herdeiro que tenha
sido instituído com a menor fração.
11.2.2. Os legados
Art.º 2030/2 e 4.
→ Classificação de legados
73
A diferença com a classificação anterior resulta de uma maior abrangência por parte dos
legados dispositivos, em relação aos legados per vindicationem, já que enquanto estes apenas
se refeririam a direitos reais sobre coisas, seja através da sua transmissão para o legatário (não
admitida no Direito Romano), seja através da sua extinção por perdão do devedor.
• Legados com eficácia imediata e legados com eficácia mediata
Com base na classificação de G. Telles, C. Fernandes veio propor outra classificação: p.244
• Posição da regência
Distinguir entre legados obrigacionais e dispositivos.
• Legado de usufruto
Existe sempre que se atribua ao legatário o direito de gozar temporária e plenamente uma
coisa ou direito alheio, sem alterar a sua forma ou substância (Art.º 1443º).
74
O legado de usufruto pode abranger uma parte ou até a totalidade do património heredi-
tário, sem que a qualificação como legado seja afetada (Art.º 2030º/4). Sobre esse legado,
refere o Art.º 2258º que a respetiva deixa, na falta de indicação em contrário considera-se
feita vitaliciamente ou, sendo feita a favor de pessoa coletiva, terá a duração de 30 anos. São
estes os limites máximos de duração do direito de usufruto, previstos no Art.º 1443º, presu-
mindo assim a lei que o testador teve a intenção de os estabelecer, quando efetua um legado
de usufruto.
Apesar de o qualificar como legatário, a lei determina alguma responsabilidade do usufru-
tuário de uma quota ou de todo o património pelos encargos da herança, há que o Art.º
2072º/1, estabelece que esse usufrutuário do falecido pode adiantar as somas necessárias,
conforme os bens que usufruir, para cumprimento dos encargos da herança, ficando com o
direito de exigir aos herdeiros findo o usufruto, a restituição sem juros das quantias que des-
pendeu. Isto não é uma mera faculdade pelo que o Art.º 2072º acrescenta.
O legatário do usufruto tem ainda uma responsabilidade específica no caso de ser instituí-
do um legado de alimentos ou de pensão vitalícia – Art.º 2073º.
• Legato de crédito
Art.º 2261º: constitui a deixa de um crédito existente no património do testador.
O caráter dispositivo do legado de crédito é confirmado pelo facto de o mesmo só produzir
efeitos relativamente à parte que subsista no património do testador no momento da sua
morte (Art.º 2261º).
Art.º 2062º e 2063º
O legado de todos os créditos do testador deve entender-se como referente aos que existi-
am no seu património aquando da feitura do testamento ou aos existentes aquando da abertu-
ra da sucessão? ML comisera que, não tendo sido estabelecida regra interpretativa especial, a
questão dependerá do apuramento da vontade do testador (Art.º 2187º).
75
até porque, mesmo que existam garrafas de vinho do porto na herança, a escolha não tem que
recair necessariamente sobre elas (Art.º 2266º/2).
A situação apenas se altera se o testador declarar que as 20 garrafas de vinho do porto
existem entre os seus pertencentes. Se nenhuma garrafa lá se encontrar, o legado é nulo
(Art.º 2253º). Se for inferior, reduz-se o legado.
Art.º 2266º e 2268º
• Legado alternativo
Compreende duas ou mais prestação, mas em que o obrigado se exonera efetuando ape-
nas uma prestação, que por escolha vier a ser designada. É o que sucede se o testador deixar
ao legatário o seu carro ou o seu barco, devendo ser escolhido um dos dois objetos, em ordem
a que o legado possa ser determinado.
Art.º 2267º: sujeitos ao regime dos Art.º 543º.
→ O pré-legado
Art.º 2264º: constitui um legado efetuado pelo testador a favor de um dos seus herdeiros
legais.
O legado testamentário a favor de qualquer herdeiro, seja ele legal, testamentário ou con-
tratual, presume-se ser atribuído em acrescento à sua quota hereditária. É essa a razão de ser
designado como pré-legado, o que significa que a deixa testamentária de um bem ou valor
determinado antecede e prevalece sobre a instituição dos herdeiros, entre os quais se encon-
tra o pré legatário. Assim, o legado é primeiramente satisfeito e só depois se reparte o rema-
nescente da herança entre os herdeiros.
O legatário não é obrigado a aceitar o pré-legado, podendo, nos termos do Art.º 2250º/2
repudiar o legado e aceitar a herança, ou aceitar o legado e repudiar a herança, mas só no
caso de a deixa repudiada não estar sujeita a encargos.
→ Os legados pios
Art.º 2280º: estes legados estão sujeitos a legislação especial. Decreto 43209/10 de outu-
bro.
76
p. 254.
→ Perturbações do legado
Diferentes situações:
Se, porém, o legado recair sobre coisa de algum dos co-herdeiros, são os outros obrigados
a satisfazer-lhe, em dinheiro ou em bens da herança, a parte que lhes compete no valor dela,
proporcionalmente aos seus quinhões hereditário, salvo diversa disposição do testador (Art.º
2251º/4).
Se, porém, a coisa que pertencia ao sucessor onerado com o encargo do legado já não lhe
pertencer no momento da abertura da sucessão por ter sido entretanto alienada por este, o
regime será o mesmo do acima exposto para o legado de coisa pertencente a terceiro, uma
vez que é essa a realidade no momento da abertura da sucessão.
77
78
11.4.1. A condição
Termos gerais dos Art.º 270º e ss. Os Art.º 2229º e ss. limitam atuação desta cláusula.
79
11.4.2. O termo
O testamento pode ser sujeito igualmente a termo, mas a sua admissibilidade é bastante
restrita, de acordo com o Art.º 2243º, o qual limita muito a aplicação ao testamento do regi-
me geral dos Art.º 278º e 279º.
→ Pendência do termo
A lei manda aplicar ao legado sujeito a termo inicial o mesmo regime do legado sujeito a
condição suspensiva, podendo assim ser imposta pelo tribunal a prestação de caução no inte-
resse do beneficiário do legado (Art.º 2236º/3). Em caso de não cumprimento dessa obrigação,
o legado é posto sob administração (Art.º 2237º/2), a qual compete ao seu beneficiário (Art.º
2238º/2), embora o tribunal possa providenciar de forma diferente, havendo justo motivo
(Art.º 2238º/3).
→ Verificação do termo
Ao contrário do que se verifica no regime geral do termo (Art.º 278º), e no regime especí-
fico da condição no testamento (Art.º 2242º), a verificação do termo suspensivo no âmbito do
legado não tem eficácia retroativa, uma vez que apenas a sua execução é suspensa, dado que
o legatário adquire imediatamente o seu direito (Art.º 2243º/1).
80
• Tácita: testador faz testamento posterior incompatível (art. 2313º/1)12. A revogação táci-
to só pode resultar de um novo testamento com data posterior. A incompatibilidade entre as
duas disposições não tem que ser material, bastando que a mesma revele uma intenção dife-
rente do testador. Assim, se o testador deixa um legado a uma pessoa e num segundo testa-
mento lega o mesmo objeto a outra pessoa, embora fosse materialmente possível que os dois
ficassem como co-legatários do mesmo objeto, é manifesto que a intenção do testador é a
12 Um pacto sucessório posterior e incompatível também é uma manifestação revogatória tácita – se fosse ao
contrário (testamento a revogar tacitamente um pacto designativo) o testamento poderia ser válido mas era tido
como não eficaz.
81
revogação da anterior disposição. Da mesma forma, se a herança for toda distribuída em lega-
dos em 2 testamentos diferentes, o facto de ocorrer uma nova distribuição implica natural-
mente a revogação tácito da anterior.
Não haverá incompatibilidade, porém, se houver sucessivas disposições diferentes a favor
da mesma pessoa, como na hipótese de o testador num primeiro testamento deixar a um so-
brinho um prédio, num segundo testamento uma quantia em dinheiro e num terceiro testa-
mento títulos de crédito, uma vez que é possível acumular estes legados. Também no caso de
o testador no primeiro testamento deixar ao sobrinho um prédio e noutro lhe deixar a quota
disponível da herança, nada impede que se considere ser intenção do testador que o prédio,
seja incluído na quota disponível da herança, assim se compatibilizando os dois testamentos.
Já no caso de se tratar de instituição de herdeiro, o facto de o testador instituir uma pes-
soa como o seu herdeiro e noutro o testamento dizer instituição semelhante em relação a
outra pessoa, tal não significa necessariamente a revogação tácita do testamento anterior,
dado que podem coexistir dois herdeiros. A revogação tácita já ocorre, porém, se no segundo
testamento o beneficiário é designado como único herdeiro ou se nesse mesmo testamento o
herdeiro anteriormente instituído passa a ser contemplado com um legado ou com uma quota
específica da herança.
• Revogação real: destruição física do testamento ou da coisa legada (bem como a sua
transformação ou alienação) – art. 2315º e 2316º.
Por inutilização só se aplica ao testamento cerrado (e, por maioria de razão, ao testamento
internacional) enquanto que a alienação ou transformação da coisa legada se aplica a testa-
mento cerrado e testamento público.
Se a destruição for por pessoa diversa do testador, pelo testador sem intenção revogatória
ou quando o mesmo se encontrava privado do usa da razão, então torna-se no regime da ca-
ducidade.
Não há revogação se se provar que o testador, ao alienar ou transformar a coisa, não quis
revogar o legado (sendo este eficaz como legado de coisa alheia). Se for alienada por outro
testamento do testador, então a revogação é tácita.
Se a condição for impossível, contrária à lei ou à ordem pública ou ofensiva aos bons cos-
tumes, como na hipótese de se consignar que o testamento fica revogado se o herdeiro não
cometer um crime, crê-se que nestas situações a revogação é prejudicada, mantendo-se o
testamento inicial, e ter-se essa cláusula como não escrita.
Já relativamente à sujeição da revogação do testamento a termo, a mesma deve conside-
rar-se sujeita ao disposto no Art.º 2243º, não sendo admissível, salvo quando dela resulte a
mera aposição de um termo inicial na nomeação do legatário.
82
83
84
Nos termos do Art.º 1707º - A/1, a renúncia pode ser condicionada à sobrevivência ou não
de sucessíveis de qualquer classe, bem como de outras pessoas, nos termos do Art.º 1713º,
não sendo necessário que a condição seja recíproca. Em qualquer caso, embora a condição
85
não seja recíproca, a renúncia tem que o ser, nos termos do Art.º 1701º/1 c) pelo que a condi-
ção terá que ser necessariamente referida à renúncia de ambos os nubentes e não apenas de
um deles.
A renúncia tem como efeito a perda pelo cônjuge da condição de herdeiro legitimário ou
legítimo, mas a lei não deixa de lhe reconhecer direitos especiais em relação à herança nessa
condição.
Em regra, as doações por morte são nulas – art. 946º/1 ex vi art. 2028º/2
• Doações mortis causa inválidas são alvo de conversão em disposições testamentarias –
art. 946º/2 – que exige que se tenham observado as formalidades dos testamentos – conver-
são legal em que o negócio muda de natureza de doação para disposição testamentária
86
• se foi feita a favor de pessoa certa e determinada que intervenha na convenção ante-
nupcial como aceitante: a disposição tem caráter contratual, existindo, portanto, um pacto
sucessório em benefício desse terceiro, o qual é irrevogável nos termos dos Art.º 1701º e
1702º (Art.º 1705º/1). A lei admite, no entanto, a possibilidade de o disponente reservar a
faculdade de revogação, caso em que a disposição pode ser livremente revogada (Art.º
1705º/2). Em qualquer caso, a doação pode ser sempre revogada por ingratidão ao donatário,
nos termos dos Art.º 970º e ss., sendo igualmente sujeita a redução por inoficiosidade, de
acordo com os Art.º 2168º e ss. (Art.º 1705º/2). A disposição é ainda considerada ineficaz em
caso de caducidade da convenção antenupcial (Art.º 1705º/1(, caducando igualmente se o
donatário falecer antes do doador (nº 4º).
No caso de ambos os esposados fazerem disposições a favor de terceiros, podem consig-
nar na convenção antenupcial o caráter correspetivo das duas disposições, caso em que a inva-
lidade ou revogação de uma das disposições produz a ineficácia da outra (Art.º 1706º/1). Nes-
se caso, desde que uma das disposições comece a produzir os seus efeitos, a outra já não pode
ser revogada ou alterada, exceto se o beneficiário da primeira renunciar a ela, restituindo
quanto por força dela haja recebido (Art.º 1706º/2).
87
do momento em que a outra disposição começa a produzir efeitos (Art.º 1706º/2). Já no caso
de a disposição contratual poder ser revogada, a situação do sucessível contratual é equipara-
da à do sucessível testamentário.
4. A impossibilidade de repúdio da sucessão contratual após a abertura da sucessão
• JDP: o donatário já aceitou a proposta de doação mortis causa em vida do doador, à data
da abertura da sucessão não adquire o direito de aceitar ou repudiar, porque já se encontra
aceite. Isto seria confirmado pelo Art.º 2055º.
• DM: Posição intermédia – o donatário não pode repudiar a sucessão, uma vez que já
aceitou a doação em vida do doador, mas admite que, no momento da abertura da sucessão o
mesmo possa aceitar a herança a benefício de inventário.
88
• Cônjuge:
Privilégios do cônjuge: p. 294.
– O cônjuge só terá direitos sucessórios se, à data da morte do de cuius dele não se encon-
trar divorciado ( 2133º/3 CC).
– Se o de cuius deixar como sucessíveis o cônjuge e filhos estes formam a 1ª classe e terão
direito a uma quota legitimária de ⅔ da herança ( 2159º/1 + 2157º CC).
– Se o de cuius deixar como herdeiros só o cônjuge e ascendentes, estes ocupam, em con-
junto, a 2ª classe de sucessíveis, o cônjuge e ascendentes terão uma legítima também de 2/3
da herança ( 2161º/1 + 2157º CC).
– Se o de cuius, apenas tiver como herdeiro o cônjuge, não concorrendo terá direito a uma
legítima correspondente a metade da herança ( 2158º + 2144º CC “ex vi” 2157º CC).
– Note-se que, embora a partilha se faça por cabeça, a quota legitimária do cônjuge não
pode ser inferior a ¼ da herança ( 2139º + 2157º CC).
– Se o cônjuge e os descendentes concorrem e os descendentes não puderem/ não quise-
rem aceitar receberá por direito de acrescer a totalidade da herança ( 2137º + 2157º CC).
– Se o cônjuge e, simultaneamente todos os descendentes repudiarem ou não puderem
aceitar a sua quota legitimária, serão chamados os ascendentes ( 2142º/2 + 2157º CC).
89
• Descendentes:
– Se os descendentes concorrem com o cônjuge, a legítima do cônjuge será ⅔ herança (
2159º + 2157º CC). Se o autor da herança não deixar cônjuge sobrevivo, concorrendo os des-
cendentes isolados:
– a legítima é de ⅔ da herança, se existirem 2 ou mais filhos ( 2159º/2 + 2157º CC);
– a legítima dos filhos é de metade da herança se apenas concorrer um filho ( 2159º/2 +
2157º CC);
• Ascendentes:
– A quota legitimária, em caso de concurso de cônjuge e ascendentes é de ⅔ da herança
(2161º/1).
Concorrendo cônjuge e os ascendentes, a partilha não será feita por cabeça mas sim da
seguinte forma: da legítima que são ⅔ partes entregues ao cônjuge, e aos ascendentes será
entregue ⅓ parte da quota legitimária (2161º e 2142º).
– Se apenas concorrem à herança os descendentes, há que distinguir consoante a ela con-
corram os pais/ascendentes em segundo grau:
- legítima dos ascendentes será de ½ da herança se apenas concorrem os ascendentes
em 1º grau;
- legítima dos ascendentes será de ⅓ da herança se apenas concorrem ascendentes de
2º grau e ss. (2161º);
– Se algum dos ascendentes não quiser ou não puder aceitar a sua parte acresce à dos as-
cendentes que concorram à sucessão ( 2143º CC + 2157º CC).
3. Definição da legítima
Art.º 2156º
Crítica: p. 295.
Definição proposta por ML: a quota variável da herança, de que o autor da sucessão não
pode dispor a título gratuito, por ser legalmente destinada aos seus herdeiros legitimários.
90
– Varia de 1/3 a 2/3 consoante a categoria dos sucessíveis legitimários (art. 2158º - 2161º).
– O valor varia consoante a categoria dos herdeiros (ao contrário do que se passa em ou-
tros ordenamentos jurídicos em que tal é invariável)
• PCR e DM: invocam razões de segurança jurídica, considerando que a existência a que se
referem os Art.º 12158º e ss. é apenas a existência física, pelo que em caso de um dos filhos
ser indigno, mesmo que a indignidade tenha sido declarada à data da abertura da sucessão, a
sua existência releva para efeitos de determinação no valor da legítima, operando o direito de
representação se o mesmo tiver descendentes (Art.º 2042º) ou o direito de acrescer para os
restantes filhos do de cuius (Art.º 2137º/2).
5. Cálculo da legítima
Art. 2162º/2 dá-nos a massa patrimonial que vai servir para determinação da quota indis-
ponível ou herança legitimária propriamente dita – obtém-se o valor total da herança (VTH)
para efeitos de sucessão legitimária:
14 Direito de Representação só funciona na linha reta descendente – só pode existir direito de representação
ge sobrevivo.
91
→ VTH = R + D – P
• Relictum = abrange os bens existentes no património do autor da sucessão à data da
sua morte (móveis, imóveis, créditos e outros direitos). Se o de cuius era casado em algum
regime de comunhão, integra no relictum a sua meação nos bens comuns do casal, excluindo-
se, então, a meação nos bens comuns pertencente ao outro cônjuge. São ainda incluídos no
relictum os bens deixados por testamento ou doados por morte, uma vez que os mesmos ain-
da se encontram no património do de cujus nessa data.
• Escola de Lisboa
– A interpretação acima está errada, pois o art. 2162º tem instrumento de tutela quanti-
tativa da legítima objetiva (assegura que os sucessíveis legitimários recebam a sua legítima
subjetiva), pelo que as doações em vida são abstrata e ficcionalmente devolvidas ao patrimó-
nio, para que o todo vá responder pelas dívidas.
p. 300.
6. A tutela da legítima
A legítima não pode ser afetada por disposição do autor da sucessão (Art.º 2166º e ss, e
2156º): disto resulta o princípio da intangibilidade da legítima, que tem uma dimensão quan-
titativa e uma dimensão qualitativa.
16 Tal como o art. 1702º o impõe à Contratual. A lei não impõe à Testamentária nem à Legítima, pelo que nes-
sas não se contabiliza o Donatum – na falta de disposição legal não se considera o Donatum.
92
Na vertente quantitativa: o art. 2166º e 2167º; art. 2168º a 2178º – o autor da sucessão
está impedido de privar o legitimário do valor, total ou parcial, que lhe assiste a título de legí-
tima.
93
requerida como incidente do processo de inventário, nos termos previstos no Art.º 1118º e
1119ºº CPC.
Art.º 2171º 17
Em primeiro as deixas testamentárias a título de herança(1º), depois as deixas testamentá-
rias a título de legado(2º) e depois as liberalidades(3º).
A lei não se refere às doações por morte, mas estas estão igualmente sujeitas à redução
por inoficiosidade (Art.º 1705º/3 e 1759º), devendo o regime ser idêntico ao estabelecido
para as doações inter vivos.
Assim, no caso de ser necessário afetar toda a disposição para preencher a legítima, os
bens deixados ou doados devem ser restituídos aos herdeiros legitimários. Sendo essa redução
parcial, por não ser necessário afetar toda a doação para preencher a legítima, no caso de os
bens legados ou doados serem divisíveis, a redução faz-se separando deles a parte necessária
para preencher a legítima (Art.º 2174º/1). Sendo os bens indivisíveis, se a importância da re-
dução exceder metade do valor dos bens, este pertencem integralmente ao herdeiro legitimá-
rio, e o legatário ou donatário haverá o resto em dinheiro (Art.º 2174º/2, 1ª parte). Deverá
17
Primeiro estão as deixas testamentárias porque o testamento é secreto até ao momento da mor-
te e não cria expetativas jurídicas, sendo, inclusive, revogáveis a todo o tempo.
94
ser-lhe igualmente restituído em dinheiro aquilo que ele despendeu gratuitamente em benefí-
cio dos herdeiros legitimários (Art.º 2174º/3).
Sempre que houver lugar à restituição em dinheiro, a insolvência daqueles que, segundo a
ordem estabelecida, devem suportar o encargo da redução não determina a responsabilidade
dos outros (Art.º 2176º). Nos Casos de bens doados a herdeiro legitimário, ou que tiverem
perecido ou tiverem sido alienados ou onerados, a insolvência do donatário com o encargo da
redução em dinheiro não determina a responsabilidade de outros beneficiários de 54 liberali-
dades ( 2176º).
O donatário é considerado, em relação a frutos ou benfeitorias, possuidor de boa fé até à
data do pedido de redução (Art.º 2177º). Quanto aos frutos estes são remetidos para o Art.º
2170º. Quando às benfeitorias é remetido para o Art.º 1273º. Ver p. 306
A doutrina tradicional, assim como o regente, consideram que o artigo deve ser interpre-
tado em termos estritos, aplicando-o apenas aos legados de usufruto ou de pensão vitalícia, e
não doações em vida ou outro tipo de encargos como a substituição fideicomissária. A solução
é excecional e portanto não se justifica estendê-la a outras situações.
95
O.A. e JDP consideram que deve ser estendida aos fideicomissos, e este último vai mais
longe, estendo às doações de usufruto e de nua-propriedade, às deixas de nua-propriedade e
aos fideicomissos.
O que significa atingir a legítima? Significa o legado ultrapassar o valor da quota disponí-
vel ou incidir sobre bens integrantes da legítima?
O objetivo da cautela sociniana não é a tutela da intangibilidade quantitativa da herança,
mas sim da sua intangibilidade qualitativa. Em consequência, o facto de a herança ser inte-
gralmente onerada com um usufruto implica que a legítima seja atingida, desencadeando as-
sim a aplicação do Art.º 2164º, e permitindo aos herdeiros entregar ao legatário a quota dis-
ponível.
• Aceitação do legado por conta da legítima não o priva da qualidade de herdeiro legitimá-
rio.
Caso de herança ex re certa na forma de Legado por Conta da Legítima .
Tem por base um título legal (relativo à quota legitimária que se destina a ser preenchida)
e um título voluntário (relativo aos bens que, por testamento ou pacto sucessório, o de cuius
indica para preenchimento da quota do beneficiário)
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Se o valor do bem legado for superior à legítima subjetiva: o sucessível tem direito ao bem
e ao extra de valor (que se imputa na quota disponível). V.g.: tem direito a quota de 100. Dei-
xam-lhe carro a valer 200. Entende-se que quiseram beneficiá-lo e no excesso é legatário.
Se o valor do bem legado for inferior à legítima subjetiva: o sucessível tem direito ao bem
e ao extra de valor (que se imputa na quota disponível). V.g.: tem direito a quota de 100. Dei-
xam-lhe carro a valer 50. Tem direito a exigir os outros 50.
Por outro lado, o legatário por conta da legítima continua a beneficiar do direito de acres-
cer se algum dos sucessíveis da mesma classe não puderem ou não quiserem aceitar a heran-
ça. Nos termos do Art.º 2137º/2.
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Assim se distingue esta figura do legado por conta da legítima, que visa apenas o seu pre-
enchimento, pelo que não determina a sua perda. Pode, no entanto, em certos casos ser difícil
distinguir as duas situações, o que leva alguma doutrina a sustentar que, em caso de dúvida, se
ver preferir a interpretação de que se trata de legado em substituição, e não de legado por
conta da legítima.
• Se o valor do bem legado for superior à legítima subjetiva: aceitando o legado, não tem
de dar o extra à herança;
• Se o valor do bem legado for inferior à legítima subjetiva: aceitando o legado, não rece-
be mais da herança (porque é uma deixa substitutiva).
6.3. Colação
Art. 2104º - instituto que visa a igualação dos descendentes na partilha do de cuius, medi-
ante a restituição (fictícia ou real) à herança dos bens que foram doados em vida por este a um
deles.
• Fundamento numa presunção legal iuris tantum de que o autor da sucessão quando faz
uma doação a um dos filhos (ou outro descendente que na altura seja sucessível legitimário
prioritário) não pretende avantajá-lo relativamente aos demais – em princípio os filhos são
tratados da mesma forma e um não é beneficiado em detrimento de outro.
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Conflito doutrinário sobre está matéria (sobre se o cônjuge deve ou não estar sujeito a co-
lação):
• O.A defendia que o cônjuge devia estar também sujeito a colação porque a partir de
1977 o cônjuge passou a ser legitimário, existindo uma lacuna legal.
• JDP, PCR, GT: presunção de que o pai não quer beneficiar um filho em preterição dos
restantes; mas o mesmo não se pode aplicar ao cônjuge, já que uma doação visa, efetivamen-
te, beneficiá-lo face aos descendestes, aproveitando, igualmente da colação feita pelos des-
cendentes.
• ML: O objetivo do legislador não foi sujeitar o cônjuge à colação, sendo o regime das do-
ações feitas ao cônjuge completamente diferente do das doações feitas a descendentes, até
porque são livremente revogáveis pelo doador (Art.º 1765º), e estão sujeitas a causas de cadu-
cidade especiais (Art.º 1766º). O cônjuge beneficia também da colação feita pelos descenden-
tes (o Art.º 2108º/2 refere expressamente herdeiros e não descendentes).
Art.º 2105º: estão sujeitos à colação os descendentes que eram à data da doação presun-
tos herdeiros legitimários do doador, ou seja, aqueles que seriam chamados à sucessão em
caso de morte deste, uma vez que também só neste caso faz sentido aquela presunção.
V.g.: se o doador fez uma doação a um filho sei, este é sujeito a colação. Mas se o doador
fez uma doação a um neto seu, quando o pai ainda era vivo, o neto não é sujeito à colação,
ainda que venha a ser chamado à herança do doador, em virtude do pré-falecimento de seu
pai. Neste caso, a doação deve presumir-se feita por conta da quota disponível, dado que o
mais provável era que fosse o filho e não o neto que fosse chamado à sucessão. Se, no entan-
to, ao tempo da doação ao neto, o pai deste já tivesse falecido, já se presume vir a ser o neto
chamado à sucessão por virtude do direito de representação, sendo por isso a doação a este
sujeita a colação (Art.º 2039º).
Mas a sujeição do sucessível legitimário prioritário à colação não é inevitável, podendo ser
afastada no caso de este não pretender entrar na sucessão (Art.º 2104º/1), o que acontece no
caso de repudiar a herança. O donatário pode assim repudiar a herança no caso de não pre-
tender sujeitar à colação as doações que recebeu em vida. Nesse caso, nunca chega a ser her-
deiro, pelo que não é obrigado a sujeitar a colação às doações, ainda que as mesmas possam
ser reduzidas por inoficiosidade. Efetivamente, se não houver lugar à colação a doação é impu-
tada na quota disponível (Art.º 2114º), o que implica a possibilidade de redução por inoficiosi-
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dade (Art.º 2168º e ss.), caso o valor da doação ultrapasse essa quota. Apenas no caso de não
haver lugar à colação por o donatário repudiar a herança sem ter descendentes que o repre-
sentem, a doação é imputada na quota indisponível (Art.º 2114º/2).
Não estão sujeitas a colação as doações feitas ao cônjuge do presuntivo herdeiro legitimá-
rio (Art.º 2107º/1), sendo, no caso de doação feita a ambos os cônjuges, apenas sujeita a cola-
ção a parte que competia ao presuntivo herdeiro legitimário (nº 2). No entanto, a doação não
se considera feita a ambos os cônjuges só porque entre eles vigora o regime da comunhão
geral (nº 3).
A dispensa pode ser efetuada no ato de doação ou posteriormente pela mesma forma pela
qual foi feita doação/ testamento ( 2113º/1 e 2). → se for posterior à doação, a dispensa tem
de ser aceite pelo donatário porque equivale a uma liberalidade, em conjunto com o princípio
invito beneficium non datur.
Art. 2113º/3 – casos em que se presume sempre a dispensa da colação
Também devem ser conferidos os frutos da coisa doada, mas apenas se tiverem sido per-
cebidos desde a abertura da sucessão (Art.º 2111º), pelo que frutos percebidos antes dessa
data pertencem ao donatário.
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Nos termos do Art.º 2108º, colação faz-se pela imputação do valor da doação ou da impor-
tância das despesas na quota hereditária, ou pela restituição dos próprios bens doados se
houver acordo entre todos os herdeiros. Em princípio será adotada a primeira forma. Uma vez
que a segunda depende do acordo de todos os herdeiros. Será assim apenas efetuada uma
operação aritmética, deduzindo à quota da herança a que o herdeiro tem direito, o valor da
doação que já recebeu. Apenas se todos os interessados estiverem de acordo é que os bens
doados serão restituídos em espécie à herança.
Se, no entanto, os bens remanescentes na herança não permitirem a igualação das posi-
ções dos diversos herdeiros, tal implica que devam ser reduzidas as doações, a menos que
ocorra a inoficiosidade (Art.º 2108º/2). Efetivamente, com a colação pretende-se apenas fazer
reentrar na herança os bens doados aos descendentes, mas não proceder à sua redução para
igualação das quotas hereditárias. Essa redução apenas ocorre se a doação exceder o valor da
legítima que caberia ao donatário.
Para efeitos de colação, o valor dos bens doados é o que eles tiverem à data da abertura
da sucessão (art. 2109º/1):
• Se a coisa pereceu – art. 2109º/2.
• Se a doação foi em dinheiro – art. 2109º/3.
• O valor colacionável dos frutos dos bens doados, percebidos desde a abertura da suces-
são, será correspondente à diferença entre o valor dos frutos na data da sua perceção e o va-
lor das despesas que estiveram na génese da sua obtenção.
A lei refere que a eventual redução das doações sujeitas à colação constitui um ónus real,
que incide sobre os bens doados (Art.º 2118º/1), estabelecendo mesmo em relação aos bens
imóveis, que não pode fazer-se o registo da doação sem se efetuar simultaneamente o registo
desse ónus (Art.º 2118º/2).
6.4. A imputação
A operação de afetação de atribuição patrimonial gratuita a uma das quotas tem o nome
de imputação, sendo sempre necessária a sua realização, quer para o preenchimento das quo-
tas (disponível ou indisponível), quer para a colação, quer ainda para a determinação da exis-
tência de inoficiosidade.
Imputar é a operação de preencher ou atribuir algo a uma quota, sendo neste caso essa
operação referida ao enquadramento na quota disponível ou indisponível das liberalidades
efetuadas em vida ou por morte para efeitos de determinação da partilha.
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Ler pp. 326 e ss. para compreender melhor cada um dos tópicos acima.
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