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Biotransformação

(Parte 1)
Edilson Martins
Biotransformação
 Comportamento geral de fármacos administrados por via oral:
Metabólito
Substância Absorção no GI Biotransformação Excreção
produzido

 renal  reabsorção
S/ mecanismo 
renal  acúmulo
 (maioria
absorvida)
Lipossolúvel Renal
C/ mecanismo Mais polar
Sistema hepatobiliar**

Nas fezes (na forma


Não absorvidas  
inalterada)

 (maioria não Nas fezes (na forma


 
absorvida) inalterada)

Hidrossolúvel S/ mecanismo Renal (na forma



(a maioria) inalterada)
Absorvidas*
C/ mecanismos Mais polar Renal

* Boa absorção através de transporte especializado: açúcares, aminoácidos, neurotransmissores,


íons metais.
** Reabsorção a partir do intestino ou eliminação pelas fezes.
Ciclo Entero-hepático
Biotransformação
É o processo de conversão substâncias químicas
lipofílicas, prontamente absorvidas no trato
gastrointestinal e em outros locais, em substâncias
químicas hidrofílicas que são excretadas prontamente
em urina ou bílis, em geral.

Acetilação

Metilação
Biotransformação
 A Biotransformação é catalisada por vários sistemas
de enzimas (específicas e inespecíficas) que podem
ser divididos em quatro categorias:

1. Hidrólises (carboxilesterase) ;
2. Redução (carbonil redutase) ;
3. Oxidação (citocromo P450);
4. Conjugação (UDP-glicuronosil-transferase) .
Biotransformação
 Degradação não enzimática (em taxas apreciáveis):

 Hidrólises de certos ésteres de ácidos carboxílicos e


fosfóricos;
 Redução de sulfóxidos para sulfetos (rabeprazole);
 Isomerização que envolve tautomerização cetoenólica
(talidomida);
 Conjugação com a glutationa.
Biotransformação
 Degradação não enzimática:

 Pelo ácido gástrico:

 NaHCO3 + HCl gástrico  H2O + CO2 + NaCl;

 Degradação da Penicilina G;

 Hidrólises de ésteres (por exemplo, adoçante artificial


aspartame).
Penicilina G Penicilina V
Biotransformação

Éster metílico de L-aspartil-L-fenilalanina

Aspartato fenilalanina metanol


Biotransformação

 Em geral, ocorre a inativação dos fármacos por


biotransformação;
 Bioativação de uma substância deve ser considerada;
 Em geral, ocorre em etapas sucessivas; metabólitos
intermediários nem sempre detectáveis.
Biotransformação
 Em geral, as enzimas da biotransformação são localizadas em organelas
únicas, mas há várias exceções.
Reação Enzima ou reação específica Localização

Hidrólise Carboxiesterase Microssoma, citosol, lisossoma, sangue

Alcalino fosfatase Membrana plasmática

Redução Desalogenação redutiva Microssoma

Deidroxilação (aldeído oxidase) Citosol

Redução de quinona Citosol, microssoma

Oxidação Álcool desidrogenase Citosol

Aldeído desidrogenase Citosol, mitocôndria

Monoamino oxidase Mitocôndria (também nos mocrossomas)

Conjugação Glutationa transferase Citosol, microssoma, mitocôndria

Sulfotransferase Citosol
Biotransformação
• Fígado: Alta concentração de enzimas; efeito de primeira
passagem.
• Outros: pulmões, rins, adrenais, pele e mucosa gastrintestinal.

• Homogeneizado hepático:

• 1° Precipitado: núcleos, mitocrôndias, lisossomas e


fragmentos de membranas.
• 2° Precipitado: fragmentos de retículo endoplasmático
(microssomas).
• Sobrenadante (citosol): enzimas solúveis (fração solúvel).
Biotransformação

Tipos de Reações:
Reações de oxidação
Reações de Fase I
Enzimas microssômicas (em
Reações de redução
geral): expõe ou adiciona
grupos sulfidrilas, hidroxilas, Reações de hidrólise
aminas ou carboxilas

Reações de Fase II Reações de conjugação


Enzimas citosólicas (em
ou síntese
geral): adiciona co-
fatores endógenos
Biotransformação
Reações do Tipo I: podem conferir também maior toxicidade ao
metabólito do que o composto de origem (por acentuar caráter
eletrofílico, nucleofílico ou radicalar)  bioativação.

Composto de origem Metabólito ativo


Alopurinol aloxantina
Codeína morfina
Fenacetina paracetamol
Paration paraoxon
Fenilbutazona oxifembutazona
Enalapril Ácido enalaprílico
Biotransformação
 Compostos sofrem reações de Fase I e depois de Fase II.

 Compostos podem também sofrer as reações de Fase II


e depois de Fase I.

 Exemplo: gemfibrozil é conjugado com o ácido glicurônico antes


de sofrer oxidação pelo citocromo P450.
Biotransformação
 Alguns compostos sofrem diretamente as reações de Fase
II.
 Exemplos: conjugação com ácido glicurônico para
morfina, heroína, codeína, e paracetamol (este
último com o ácido sulfônico em menor quantidade).
 Nem sempre o produto da reações de Fase II são
desprovidos de toxicidade  bioativação.
 Exemplo: conjugação com ácido glicurônico para
substâncias contendo grupos carboxilas (vários
antiinflamatórios não esteroidais) podem gerar acil-
glicuronatos que são hepatotóxicos.
Citocromo P450
Microssomas

Tolueno Ác. benzóico

Conjugação com glicina


no citisol
Redução de cadeia
por -oxidação de
ácido graxo em
mitocôndrias

Ác. cinâmico

Ácido hipúrico

Metabolização redutiva e aromatização através


microbiota intestinal de humano e macacos do velho
mundo, mas não em macacos do novo mundo,
ratos, camundongos, coelhos, cães e diversas
outras espécies.
Ác. quínico
Professora Janete Eliza Soares de Lima
Biotransformação
• Reações de hidrólise:

– Principais enzimas: carboxilesterases, colinesterases e


paraoxonases (lactonases).
– Carboxilesterases e colinesterases: serina esterases.
– Aldeído desidrogenases, carbônico anidrases,
carboxipeptidases, lipases, proteases e a albumina:
atividade hidrolítica sobre vários xenobióticos.
– Citocromo P450 pode catalisar a clivagem de certos
xenobióticos contendo éster de ácido carboxílico.
Biotransformação
• Reações de hidrólise:

Éster de ácido carboxílico


(delapril)

Éster de ácido carboxílico


(procaína)
Biotransformação
• Reações de hidrólise:

Éster de ácido fosfórico


(paraoxon)

Tioéster (espironolactona)
Biotransformação
• Reações de hidrólise:

Amida (procainamida)

Anidrido de ácido
(diisopropilfluorfosfato)
Biotransformação
• Reações de hidrólise:

Éster metílico etanol Éster etílico

metanol
Transesterificação (cocaína)

Lactona (espironolactona)
Biotransformação
• Reações de hidrólise:

Fosfatase alcalina

Fosfato como pró-


drogas (fosamprenavir)
Biotransformação
Nome genérico: esterases e amidases:

 Catalisam a hidrólise de ésteres e amidas,


respectivamente.
 Esterases citosólicas  específicas 
aceticolinesterase e pseudocolinesterase.
 Esterases microssômicas  inespecíficas.
Biotransformação
Acetilcolinesterase:
Biotransformação

Epóxido hidrolase:

 Consideradas de Fase 1: introdução de grupo funcional


(-OH) para subsequente reação de conjugação.
 de Fase II: catalisam a adição de água a epóxidos
alifáticos e areno óxidos que são formados através da
ação do citocromo P450 sob alquenos alifáticos e
hidrocarbonetos aromáticos, respectivamente.
Biotransformação

Estireno-7,8-glicol
Estireno-7,8-epóxido (alqueno epóxido)

Naftaleno-1,2-epóxido (areno óxido) Naftaleno-1,2-dihidrodiol


Biotransformação

REAÇÕES DE REDUÇÃO

Enzima ou reação específica Localização

Azo- e nitro- redução Microbiota

Carbonil (aldo-ceto) redução Citosol, microssomas, sangue

Dissulfeto redução Citosol

Sulfóxido redução e N-óxido redução Citosol


Quinona redução Citosol, microssomas
Diidropirimidina desidrogenase Citosol

Desalogenação redutiva Microssomas


Desidroxilação (citocromo b5) Microssomas

Desidroxilação (aldeído oxidase) Citosol


Biotransformação
• Reações de azo- e nitro- redução:

– As reações de azo- e nitro- redução são catalisadas, em


geral, pela microbiota intestinal.
– Em condições de redução de oxigênio as reações de azo e
nitro-redução podem ser catalisadas pelo Citocromo P-
450 microssomal do fígado ou pela NAD(P)H-quinona
oxidoredutase.
– Para nitro-aromáticos: aldeído oxidase citosólica.
Biotransformação
Biotransformação
• Reações de azo-redução:

Prontosil 1,2,3-triaminobenzeno Sulfanilamida

• Reação de nitro-redução:

Cloranfenicol Metabólito arilamina


FÍGADO
Biotransformação
• Reações de azo-redução:2,6-dinitrobenzilalcool
2,6-dinitrotolueno
INTESTINO

-glicuronidase Nitro-redução

2,6-dinitrobenzilalcool
glicuronato
FÍGADO

Ligação covalente
a proteína e DNA
Acetilação,
2-amino-6-nitrobenzilálcool sulfatação
X = COCH3
SO3H
Biotransformação
• Reação de redução de carbonila:

Carbonil-redutase

Haloperidol reduzido
Biotransformação

• Reação de redução de carbonila:


Hidrato de cloral

Álcool desidrogenase

Tricloroetanol
Biotransformação
• Reação de redução de dissulfeto:
• 3 etapas envolvendo a glutationa (1ª com
a glutationa transferase ou via não
enzimática, 3ª com glutationa-redutase)::

Dissulfiram (Antabuse)

dietilditiocarbamato
Biotransformação
• Redução de sulfóxido :

(Sulfeto)
Biotransformação
• Redução de N-óxido:

Tirapazamina

Desproporção

Toxicidade para células com


Radical hipóxia como células tumorais
nitróxido
DT-diaforase

(NADPH – QUINONA-
OXIDOREDUTASE)

Menadiona Hidroquinona

NADPH -
Citocromo
P450
redutase
Redução de quinonas:

Ânion superóxido

Espécies de oxigênio reativas


Radical peridroxil

Peróxido de
hidrogênio
Radical semiquinona
Radical hidroxila

Danos a proteínas e DNA Peroxidação lipídica


Mcrobiota
intestinal

Sorivudina Diidropirimidina
deidrogenase (DPD)
Diidropirimidina
DPD inativada
desidrogenase:

Tegafur

 da 5-FU quando a DPD está Toxicidade para medula óssea e


inativada intestinos. Pode ser fatal
Biotransformação
Redução pelo citocromo P-450: em condições de  O2 
desalogenação redutiva.

Exemplos biativação:
e
Citocromo P-450 CCl4 formação de
radicais intermediários
livres e tóxicos
e
Citocromo P-450 CF3CHBrCl formação de
halotano radicais
intermediários
livres e tóxicos
Desalogenação redutiva

 Desalogenação
redutiva:

Exemplo: tetracloreto
de carbono e P450

Peroxidação
lipídica

Fosgênio
 Desidroxilação por citocromo b5:

Metabólito amidoxima

Desidroxilação
(citocromo b5)

Metabólito amidina
 Desidroxilação por aldeído oxidase:

Desidroxilação
(aldeído oxidase)

Professora Janete Eliza Soares de Lima


Biotransformação
REAÇÕES DE OXIDAÇÃO

Enzima ou reação específica Localização

Álcool desidrogenase Citosol


Aldeído desidrogenase Mitocôndria, citosol
Aldeído oxidase Citosol
Xantina oxidase Citosol
Monoamina oxidase Mitocôndria
Diamina oxidase Citosol
Peroxidase Microssomas, lisossomas, saliva
Flavina-monooxigenases Microssomas
Citocromo P450 Microssomas
Biotransformação
 Álcoois, cetonas e aldeídos  biotransformados por enzimas
solúveis em  tecidos (desidrogenages, redutases e oxidases)
  da toxicidade ou biativação.

Professora Janete Eliza Soares de Lima


Biotransformação
• Sistema citocromo P-450:

– Enzimas fixas nos fosfolipídios das membranas do retículo


endoplasmático.
– Citocromo P-450: hemoproteína (Fe no núcleo), suas isoenzimas são
CYP (ex. CYP3A2 isoenzima 2 da família 3 e subfamília A).
– Citocromo P-450 reduzido (Fe2+) + CO  complexo (A em 450 nm).
– Experiência em roedores: substâncias + Citocromo P-450 reduzido
(Fe2+) + CO  complexo (A em 488 nm)   no Citocromo P-450 
 capacidade catalisadora do sistema.
– Citocromo P-450: hepático e extra-hepático (biossíntese de
hormônios esteróides).
Biotransformação
• Sistema citocromo P-450:

Citocromo P-450: enzima terminal


Sistema oxidase
de função mista NADPH citocromo P-450 redutase:
enzima intermediária (transferência de
e da NADPH para o Citocromo P-450).
(P 450)
Citocromo b5: alternativa de
transferência de e para o Citocromo P-
450.
Biotransformação
Biotransformação
Referências
• RANG, H.P.; DALE, M.M. Farmacologia. 6ª ed. Rio
de Janeiro: Editora Elsevier, 2008;
• HARDMAN, J.G.; LIMBIRD, L.E. Goodman &
Gilman As Bases Farmacológicas da Terapêutica.
McGraw Hill, 11ª ed. 2006;
• OGA, S.; CAMARGO, M.M.A; BATISTUZZO, J.A.O.
(eds). Fundamentos de Toxicologia. 4ª edição.
São Paulo: Atheneu Editora, 2014.
• KLAASSEN, C. D. (ed). Casarett e Doull’s
Toxicology: The basic science of poisons. Texas:
Mc Graw Hill Medical, 2008.
Biotransformação

Intermediário da
talidomida

R(+)-talidomida S(+)-talidomida
Biotransformação

Carbonil
redutase

Álcool secundário (configuração S)

Pentoxifilina (cetona)

Carbonil
redutase

Álcool secundário (configuração R): Lisofilina


Professora Janete Eliza Soares de Lima

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