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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0021.11.001058-0/001 Númeração 0010580-


Relator: Des.(a) Alberto Vilas Boas
Relator do Acordão: Des.(a) Alberto Vilas Boas
Data do Julgamento: 29/09/2014
Data da Publicação: 02/10/2014

EMENTA: ADMINISTRATIVO. AÇÃO POPULAR. CONTRATO DE SERVIÇO


DE DIVULGAÇÃO DE ATOS DO PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL.
SERVIÇO DE PUBLICIDADE. AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. ATO LESIVO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO.

- A contratação de sociedade empresária para a prestação de serviços de


divulgação e impressão dos atos do poder público, sem prévia licitação,
configura ato lesivo ao patrimônio público, haja vista que, nos termos da lei, o
serviço de publicidade deve ser obrigatoriamente licitado.

AP CÍVEL/REEX NECESSÁRIO Nº 1.0021.11.001058-0/001 - COMARCA


DE ALTO RIO DOCE - REMETENTE.: JD COMARCA ALTO RIO DOCE -
APELANTE(S): GIOVANNI CARUSO TOLEDO EM CAUSA PRÓPRIA -
APELADO(A)(S): JOSÉ ELEUTÉRIO DA SILVA, SAMUEL ALEXANDRE
MENDES DA SILVA, ANSELMO JOSE BARBOSA DE PAIVA, JE
COMUNICAÇÃO IMAGENS LTDA E OUTRO(A)(S), VALDOMIRO
DOMINGOS DIAS, ALCIDES BARROSO NETO, CAETANO MOREIRA
BARBOSA E OUTRO(A)(S), CÂMARA MUNICIPAL DE ALTO RIO DOCE,
MUNICÍPIO ALTO RIO DOCE

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em REEXAME NECESSÁRIO, REFORMAR A SENTENÇA, PREJUDICADO
O RECURSO VOLUNTÁRIO.

DES. ALBERTO VILAS BOAS

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RELATOR

DES. ALBERTO VILAS BOAS (RELATOR)

VOTO

Conheço do recurso e do reexame necessário, nos termos do art.


19 da Lei nº 4.717/65.

Cuida-se de ação popular ajuizada por Giovanni Caruso Toledo em


desfavor de JE Comunicação Ltda e outro objetivando a declaração de
nulidade do contrato administrativo firmado entre os réus para prestação de
serviços de divulgação e impressão dos atos do poder público.

Após regular contraditório, o pedido foi julgado improcedente e o


autor postula a reforma da sentença, porquanto restou comprovado o ato
lesivo ao patrimônio público configurado pela contratação sem prévia
licitação da empresa JE Comunicação e Imagens LTDA (f.578-593).

Afirma que não há que se cogitar na espécie eventual dispensa ou


inexigibilidade de licitação tendo em vista que o contrato celebrado não se
encaixa no disposto nos arts. 24 e 25 da Lei nº 8.666/93.

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Aduz que outra ilegalidade repousa no fato de que a empresa ré


não apresentou os documentos necessários para a celebração do contrato,
previsto no art. 28 da Lei 8.666/93.

Alega que a contratação não foi divulgada nem publicada na


imprensa oficial e que o serviço não foi prestado de forma adequada, razão
pela qual estaria configurado o enriquecimento ilícito da empresa ré.

A sentença deve ser confirmada, data venia.

O autor aforou ação popular contra os apelados objetivando


declarar a nulidade de contrato de prestação de serviços de publicidade de
atos oficiais celebrado, de forma sucessiva, entre a Câmara Municipal de Alto
Rio Doce com a empresa JE Comunicação Imagens Ltda.

O argumento central da ação popular circunscreve-se ao fato de a


Lei Orgânica Municipal exigir a observância da licitação para a escolha do
órgão de imprensa que irá publicar as leis e atos municipais (art. 90, § 1º) e o
fato de o art. 2º da Lei nº 8.666/93 determinar que os serviços de publicidade
serão necessariamente precedidos de licitação.

Assiste razão ao autor, data venia.

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Com efeito, a invocação do art. 90, § 1º, LOM, não parece ser
apropriada para a espécie em exame, porquanto a norma dispõe sobre o
órgão oficial de publicação das leis e atos oficiais do Município de Alto Rio
Doce.

A redação da norma permite concluir que, se o Município resolver


dispor de um canal de comunicação com a comunidade, será necessário
eleger, por licitação, uma instituição que cuide de veicular esses atos oficiais.

No entanto, como esse órgão oficial não foi escolhido pelo


Município de Alto Rio Doce, nada obstava que a Câmara Municipal pudesse
fazê-lo, desde que a contratação do serviço de publicidade,
independentemente do valor contratado, fosse submetida à prévia licitação
para a designação da empresa (art. 2º, da Lei nº 8.666/93)

É preciso, por conseguinte, enfatizar que a Lei nº 8.666/93 veda a


inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação (art. 25, II), e, na
espécie em exame, nenhuma espécie de formalidade foi observada pela
Câmara de Vereadores para efetivar a contratação de JE Comunicação
Imagens Ltda.

A prova documental anexada aos autos permite constatar que


inexistiu qualquer espécie de procedimento licitatório ou sequer a
formalização de dispensa ou inexigibilidade, sendo certo que a contratação
foi realizada de forma direta.

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Nesse particular, é correto o parecer da Procuradoria-Geral de


Justiça, da lavra do Procurador Geraldo Magela Fiorentini, pois:

Impõe, assim, a lei federal de regência a existência de certame, não sendo


admissível criar situações excepcionais e enquadrá-las dentro da norma
geral, dando-lhes contornos de normalidade, de generalidade. Não é cabível
interpretação extensiva.

Desse modo, a contratação direta da empresa JE Comunicação e Imagens


Ltda se revela ilegal, já que comprovou o autor que a Câmara Municipal,
além de não ter efetuado o processo licitatório necessário, também não
efetutou o processo de dispensa de licitação, especificado no art. 26, da Lei
nº 8.666/93, por ausência de eventual outro órgão de imprensa no município.

...

Ao contrário, o que se vê dos autos é que a Câmara Municipal contratou, por


diversas vezes, a empresa ré para a prestação dos mesmos serviços de
publicidade de atos da administração. A contratação persistiu durante os
anos de 2009 a 2012 (fls. 291/204, 307/308 e 402/404). - (f. 592).

Em situação similar, o STJ já decidiu que:

A dispensa de licitação na contratação de serviços de publicidade não foi


contemplada no permissivo legal (art. 22, IX, do Decreto-lei 2.300/86),
aplicando-se a regra geral da licitação. Na vigência da Lei 8.666/93, a
inexigibilidade de licitação para serviços de publicidade e divulgação foi
expressamente vedada (art. 25, II). - (Resp nº 932.821,

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rel. Min. Eliana Calmon, DJe 11/4/20008).

A nulidade do contrato administrativo implica considerar presumida


a lesão ao patrimônio público, e, dessa forma, os atores envolvidos na
contratação direta devem ressarcir os custos dos contratos celebrados sem a
prévia licitação, na linha do que decidiu o STF:

AÇÃO POPULAR - PROCEDENCIA - PRESSUPOSTOS. Na maioria das


vezes, a lesividade ao erario público decorre da propria ilegalidade do ato
praticado. Assim o e quando da-se a contratação, por município, de serviços
que poderiam ser prestados por servidores, sem a feitura de licitação e sem
que o ato administrativo tenha sido precedido da necessaria justificativa. -
(RE nº 160.381, rel. Min. Marco Aurélio, DJ 12/8/94).

Aliás, o autor teve o cuidado de destacar, nas razões de recurso as


edições do jornal editado pela empresa-ré e a inexistência de ato oficial
oriundo da Câmara Municipal, circunstância que revela o desperdício de
dinheiro público.

Fundado nessas razões, dou provimento ao apelo para reformar a


sentença e julgar procedente o pedido formulado na inicial para declarar a
nulidade dos contratos celebrados entre as partes (2009, 2010 e 2011 e
ordenar a devolução dos valores nele consignados (f. 291/292; 293/294 e
307/308).

As referidas quantias serão atualizadas monetariamente pela


tabela da Corregedoria-Geral de Justiça e acrescidas de juros de mora de
1% ao mês a partir da citação.

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Fixo os honorários advocatícios em quantia equivalente a 15% do


valor da condenação, a ser apurado em liquidação de sentença por cálculo.

DES. EDUARDO ANDRADE (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. GERALDO AUGUSTO - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "EM REEXAME NECESSÁRIO, CONFIRMARAM A


SENTENÇA, PREJUDICADO O RECURSO VOLUNTÁRIO."

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