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EQUIPE UNITINS

Organização de Conteúdos Acadêmicos


1ª edição Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazotto
Silvéria Aparecida Basniak Schier
2ª edição rev. e ampl. Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazotto
Silvéria Aparecida Basniak Schier
Coordenação Editorial Maria Lourdes F. G. Aires

Revisão Didático-Pedagógica Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazotto


Silvéria Aparecida Basniak Schier Junior
Revisão Lingüístico-Textual Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazotto
Silvéria Aparecida Basniak Schier
Gerente de Divisão de Material Impresso Katia Gomes da Silva

Revisão Digital Bruno Cesar Fleuri Siqueira

Projeto Gráfico Irenides Teixeira


Katia Gomes da Silva
Ilustração Geuvar S. de Oliveira

Capas Igor Flávio Souza

Equipe EADCON
Coordenador Editorial William Marlos da Costa

Assistentes de Edição Ana Aparecida Teixeira da Cruz


Janaina Helena Nogueira Bartkiw
Lisiane Marcele dos Santos
Programação Visual e Diagramação Denise Pires Pierin
Kátia Cristina Oliveira dos Santos
Monica Ardjomand
Rodrigo Santos
Sandro Niemicz
William Marlos da Costa
Prezado acadêmico, neste caderno iremos conhecer, discutir e analisar
alguns elementos da linguagem, concebida não apenas como instrumento de
comunicação ou expressão do pensamento, mas como forma de interação e
prática social de uma dada comunidade.
Discutiremos língua, linguagem, fala e variação dialetal. Qualquer língua,
falada por qualquer comunidade lingüística, apresenta uma gama de varia-
ções. Língua e variação são inseparáveis e existem vários fatores que influen-
ciam a forma como a língua é usada pelos diferentes falantes.

Apresentação
Estudaremos também coesão e coerência textuais, consideradas elementos
basilares da textualidade. A coesão se revela por meio de marcas lingüís-
ticas, manifestadas por aspectos lexicais, sintáticos e semânticos, mas, outras
vezes, vem subentendida, não marcada lingüisticamente. Já a coerência é o
resultado do encadeamento lógico das idéias, refere-se ao sentido que atribu-
ímos ao texto e é construída pelo leitor durante a leitura.
Além disso, conheceremos a estrutura de um parágrafo padrão e suas
várias formas de tópico, de desenvolvimento e de conclusão. Depois de iden-
tificar a estrutura dos parágrafos, passaremos para a produção textual de
gêneros diversos utilizando vários tipos textuais: argumentação, exposição,
narração, descrição e injunção.
Analisaremos o livro A arte de argumentar, de Antônio Suárez Abreu.
Você verá como a leitura é fundamental no seu dia-a-dia, conhecerá técnicas
argumentativas e aprenderá a utilizá-las com ética.
Como último conteúdo desta disciplina, temos dúvidas gramaticais que
surgem no cotidiano de quem pratica a escrita. Aqui esperamos que você
possa resolvê-las.
Para que você possa entender melhor os conteúdos, apresentamos ativi-
dades com comentários e sugestões de leitura. Esperamos que aproveite
para conhecer mais sobre a linguagem e o ensino da língua portuguesa.
Bons estudos.
Prof.ª Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazotto
Prof.ª Silvéria Aparecida Basniak Schier
EMENTA
Estudo da conceituação de língua, linguagem e fala, articulado ao
estudo de textos orais e escritos, considerando a variação lingüística.
Coerência e coesão relacionadas aos articuladores textuais. Estudo do pará-
grafo e formas de desenvolvimento. Diferenciação das tipologias textuais.
Estratégias de leitura.
Plano de Ensino

OBJETIVOS
• Analisar conceitos de língua, linguagem, fala e variação lingüística.
• Produzir textos criativos, claros, concisos, coesos, coerentes e com
correção gramatical.
• Produzir textos nos diversos gêneros utilizando a linguagem e a
tipologia textual adequada, conforme a situação comunicacional,
e com correção gramatical.
• Desenvolver leitura proficiente e capacidade argumentativa.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
• Língua, linguagem, fala e variação dialetal
• Língua padrão
• Qualidades de um bom texto: criatividade, clareza, concisão,
coesão, coerência, correção gramatical, unidade temática e
argumentação
• Redação do parágrafo: tópico frasal, desenvolvimento e conclusão
• Gênero textual
• Tipologia textual: argumentação, exposição, narração, descrição
e injunção
• Estratégias de leitura e argumentação
• Questões gramaticais: os porquês; este/esse/aquele; onde/aonde;
verbos no particípio; mal/mau; a/há/ah; senão/se não; mas/más/
mais; acerca de/a cerca de/cerca de/há cerca de; todo/todo o;
sobre/sob; trás/traz; eu/mim
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ABREU, A. S. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 9. ed. São
Paulo: Ateliê Editorial, 2006.
______. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2004.
KOCH, I. V. Inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2001.
MARTINS, M. H. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1983.
PLATÃO, F.; FIORIN, J. L. Lições de texto: leitura e redação. 5. ed. São Paulo:
Ática, 2006.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 2002.
FAULSTICH, E. L. J. Como ler, entender e redigir um texto. Petrópolis: Vozes,
2001.
FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto. 6. ed. São Paulo: Ática,
1998.
FULGÊNCIO, L.; LIBERATO, Y. G. Como facilitar a leitura. 3. ed. São Paulo:
Contexto, 1998.
OLIVEIRA, J. L. de. Texto técnico: guia de pesquisa e de redação. Brasília: abc
BSB, 2004.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 9


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

Aula 1
Língua, linguagem, fala e variação
dialetal no Brasil

As formas discriminadas têm um uso muito mais


freqüente do que se pensa, inclusive na fala e na escrita
das pessoas que discriminam a língua dos outros [...].
Se é essa a realidade, a disposição para apontar
erros na fala de outros não tem propósito edificante
de corrigi-los; é antes uma forma de excluir o outro e
de reforçar uma desigualdade percebida.
(Ilari e Basso)

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


• comparar os diversos conceitos de lingüistas em relação à língua,
linguagem e fala;
• reconhecer os diferentes níveis de linguagem e as formas de manifestação
das variações lingüísticas diacrônica, diatópica, diastrática e diamésica.

Como explicitar os pré-requisitos da primeira aula de língua portuguesa no


primeiro período? O que dizer a você neste momento? O principal é você “baixar
a guarda” em relação a esta disciplina, ou seja, estar aberto à sistematização
de conhecimentos que, com certeza, você já possui. O que não queremos ouvir é
“não sei português”, pois quem nasceu neste país utiliza essa língua desde seus
primeiros anos de vida! Então o que esperamos é que você utilize o que já sabe
para avançar um pouco mais. Você verá que estudar sua própria língua não é
nenhum bicho-de-sete-cabeças!

O primeiro assunto que veremos é o objeto de estudo desta disciplina: a


língua. Como lingüistas contemporâneos a conceituam? Vamos também procurar

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 11


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

diferenciar língua de linguagem e de fala. Por que há variação na forma de falar


e escrever a língua portuguesa? Trataremos sobre esses temas nesta aula.

1.1 O que é língua, linguagem e fala?


Começaremos esta aula conhecendo várias definições de língua dadas por
alguns lingüistas brasileiros renomados. Você verá que grande parte deles sente
dificuldade em defini-la, não por falta de conhecimento, mas por causa de sua
complexidade. Vamos às definições.

1.1.1 Língua
José Luiz Fiorin (2003, p. 72) assevera que não se satisfaz com definições
da língua que a vêem
[...] como instrumento de comunicação, ou como um sistema orde-
nado com vistas à expressão do pensamento, nada disso. [...] a
linguagem humana é a condensação de todas as experiências
históricas de uma dada comunidade, é nesse sentido que nós
temos que ver a língua. [...] o aspecto mais relevante a verificar
é que a língua é, de certa forma, a condensação de um homem
historicamente situado (grifo nosso).

Na mesma linha de pensamento, Carlos Alberto Faraco (2003, p. 63)


costuma dizer aos seus alunos que
[...] nosso objeto de estudo é uma complexa realidade semiótica
estrutura sim, mas necessariamente aberta, fluida, cheia de inde-
terminação e polissemias, porque é atravessada justamente por
nossa condição de seres históricos (grifo nosso).

Luiz Antônio Marcuschi (2003, p. 132) acredita que


[...] a língua deve ser entendida principalmente como uma ativi-
dade e não um sistema ou forma. Ela é um domínio público de
construção simbólica e interativa do mundo, ou seja, uma “ativi-
dade constitutiva” [...]. Língua é mais do que um conjunto de
elementos sistemáticos para dizer o mundo. [...] Língua se mani-
festa como uma atividade social e histórica desenvolvida interati-
vamente pelos indivíduos com alguma finalidade cognitiva, para
dar a entender ou para construir algum sentido. [...] língua é
atividade sócio-interativa (grifo do autor).

Ingedore V. G. Koch (2003, p. 124) vê a língua


[...] simultaneamente como um sistema e como uma prática social.
[...] A língua é sistema, ela é um conjunto de elementos inter-
relacionados em vários níveis, no nível morfológico, no nível
fonológico-morfológico, sintático. Mas ela só se realiza enquanto
prática social, quer dizer, os seres humanos, nas suas práticas
sociais usam a língua e a língua só se configura nessas práticas e
é constituída nessas práticas (grifo nosso).

12 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

Fecharemos a conceituação com João Wanderley Geraldi (2003, p. 78),


para quem a língua
[...] é o produto de trabalho social e histórico de uma comuni-
dade. É uma sistematização sempre em aberto. [...] É o produto
de um trabalho do qual ela mesma é instrumento. [...] a língua,
enquanto esse produto de trabalho social, enquanto fenômeno
sociológico e histórico, está sendo sempre retomada pela comu-
nidade de falantes. E ao retomar, retoma aquilo que está esta-
bilizado e que se desestabiliza na concretude do discurso, nos
processos interativos de uso dessa língua (grifo nosso).

Você deve ter observado que a maioria dos pesquisadores citados acredita
que a língua é um fenômeno social e histórico. Isso significa que não podemos
ver a língua simplesmente como uma forma de comunicação ou de expressão
do pensamento. A língua é uma atividade sociointerativa, pois por meio dela os
sujeitos agem uns sobre os outros e realizam suas práticas sociais.

E então qual a diferença entre língua e linguagem?

1.1.2 Linguagem
Para Matos (2003), a linguagem é um sistema cognitivo e por meio dele
podemos adquirir línguas, ou seja, a língua seria uma manifestação particular
da linguagem. Marcuschi (2003, p. 133) acrescenta que a linguagem é uma
faculdade da espécie humana, e a língua é “uma das formas de se organizar,
efetivar, concretizar essa faculdade humana, assumindo histórica, social e cultu-
ralmente uma determinada maneira de ser”.
Fiorin (2003, p. 72) contribui para a definição de linguagem ensinando que “a
língua é uma maneira particular pela qual a linguagem se apresenta. A linguagem
humana é essa faculdade de poder construir mundos. [...] E a língua é uma forma
particular dessa faculdade de criar mundos”. Ataliba de Castilho (2003, p. 53)
concorda com os autores citados afirmando que a “linguagem encerra um entendi-
mento mais amplo do que língua. A língua é só de natureza verbal e a linguagem
não, é o conjunto de todos os sinais que o ser humano foi criando”.
Então a língua é uma das manifestações possíveis da linguagem e ambas se
realizam nas práticas sociais pelos sujeitos.

Mas ainda há um termo que precisa ser definido antes da continuidade dos nossos
estudos: a fala.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 13


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

1.1.3 Fala
Recorremos à teoria de Saussure para definir o que é fala. O autor
assevera que
[...] o estudo da linguagem comporta duas partes: uma essen-
cial, tem por objeto o estudo da língua, que é social em sua
essência e independe do indivíduo; a outra, secundária, tem
por objeto a parte individual da língua, isto é, a fala, e compre-
ende a fonética: ela é psicofisiológica (SAUSSURE citado por
DUBOIS e outros, 2004, p. 261).

Como você já tinha visto antes, a língua é produto social. Já a fala é individual,
particularizada, meio pelo qual a língua se realiza por determinado sujeito.
Chegamos, nesse ponto dos estudos, à seguinte conclusão: língua é o
que permite a comunicação em determinada comunidade lingüística, em deter-
minado grupo social. Diferencia-se da fala porque, enquanto a língua é um
conjunto de potencialidades da fala, a fala é um ato de concretização da
língua. Então o que diferencia fala de língua é que a língua é sistemática, tem
certa regularidade e é falada por uma determinada comunidade; já a fala é
parcialmente sistemática, pois é variável e realizada individualmente.

Recapitulando: a linguagem é uma característica humana universal; enquanto a língua


é a linguagem particular de uma comunidade, um grupo, um povo; já a fala é a reali-
zação concreta da língua feita por um indivíduo.

E a língua é utilizada pelos falantes da mesma forma? Este é o próximo


assunto: a variação dialetal do português no Brasil.

1.2 Variação dialetal


Vejamos mais uma conceituação de língua para compreendermos esse
novo tópico. José Borges Neto (2003, p. 38) afirma que
[...] o termo língua é apenas uma abreviação útil para falarmos
de um conjunto de idioletos, que, de alguma forma, achamos que
se relacionam por semelhança. O que tem existência é o idioleto.
Idioleto como manifestação do conhecimento que cada um de
nós tem sobre essa forma de organização mental de conteúdos,
de comunicação e de ação sobre os outros, de representação de
situações etc., que se convencionou chamar de linguagem.

Borges Neto (2003) assevera que a língua seria formada por vários idio-
letos, que teriam entre si maior ou menor grau de semelhança, fazendo surgir
os dialetos de uma língua. Isso quer dizer que a língua não é homogênea, não
é realizada da mesma forma por todos falantes.

14 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

Saiba mais

Qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe sempre variação.


Pode-se afirmar mesmo que nenhuma língua se apresenta como entidade homo-
gênea. Isso significa dizer que qualquer língua é representada por um conjunto
de variedades. Concretamente, o que chamamos de “língua portuguesa” engloba
os diferentes modos de falar utilizados pelo conjunto de seus falantes no Brasil,
em Portugal, em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde, em Timor, etc.
Língua e variação são inseparáveis, e essa diversidade da língua não deve
ser encarada como um problema, mas como uma qualidade constitutiva do fenô-
meno lingüístico. Os falantes adquirem as variedades lingüísticas próprias da sua
região, de sua classe social, etc.
Iniciando os estudos sobre variação, é importante salientar que alguns autores
apresentam diferentes classificações para os níveis de linguagem. Seguiremos a
classificação de Dino Preti (2000), Rodolfo Ilari e Renato Basso (2006) e Marcos
Bagno (2007).
Ilari e Basso (2006) questionam o fato de muitos escritores e estudiosos afir-
marem que a língua portuguesa é uniforme. Os autores argumentam que essa
afirmação é um mito, pois esconde em si um nacionalismo exacerbado, uma
visão limitada do uso da língua e uma negação da variação, como se os falantes
não se adaptassem aos contextos de produção de textos orais e escritos.
Seguindo essa linha de raciocínio, Marcos Bagno (2007, p. 40) acrescenta
que, para a sociolingüística, a variação é “estruturada, organizada, condicio-
nada por vários fatores”.
Concordamos com os autores citados quando afirmam que a uniformidade
da língua é um mito e que a variedade não é caótica. Procuraremos mostrar
isso a você discorrendo sobre as variações diacrônica, diatópica, diastrática e
diamésica. Começaremos pela variação diacrônica.

1.2.1 Diacrônica: a variação através do tempo


As variações que ocorrem na língua através do tempo podem ser externas e
internas. A variação externa pode ser descrita como a que ocorre em razão das

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 15


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

funções sociais da língua e em sua relação com a comunidade lingüística. Como


exemplo, podemos citar a evolução do latim para a língua portuguesa. A variação
interna se relaciona ao léxico e à gramática: mudanças que ocorrem na fono-
logia, na morfologia e na sintaxe (ILARI; BASSO, 2006). Por exemplo, na época
do descobrimento do Brasil, escrevia-se “dereito”, “frecha”, “escuitar”, “deseja de
comprar” (presença da preposição “de”), “esta gente padecem” (verbo no plural
com o sujeito no singular) (ALKMIN, 2003). Hoje não escrevemos mais assim!
Mas atenção: Ilari e Basso (2006) asseveram que podemos pensar que a
variação diacrônica só ocorra em períodos muito distantes, de século em século,
o que não é verdade.
Os autores afirmam que podemos fazer comparação diacrônica da língua
até mesmo no intervalo de geração para geração. É o caso das gírias, que
podem não fazer sentido para determinados indivíduos de uma geração e ser
bastante conhecidas por indivíduos de outra geração. Você sabe o que é “levar
uma tábua”? E “cair a ficha”? Pergunte aos seus pais...
O importante é que você saiba que “[...] na língua que falamos hoje convivem
palavras e construções que remontam a épocas diferentes” (ILARI; BASSO, 2006,
p. 153). Assim alguns optam, conscientemente ou não, por construções e léxico
mais antigos, mesmo que isso represente um distanciamento em relação à língua
falada hoje. Mas, como os autores afirmam, “independentemente disso tudo, a
língua muda” (BASSO, 2006, p. 154).

1.2.2 Diatópica: a variação na dimensão do espaço


Esse tipo de variação ocorre em relação ao espaço: em diferentes regiões
de um mesmo país ou mesmo em países diversos.
Normalmente, a variação diatópica nos leva a comparar o português do
Brasil com o de Portugal. Ilari e Basso (2006) chamam a atenção para o fato de
que, se compararmos a variação diatópica do Brasil com a mesma variação na
Europa, concluiremos que ela “quase” não existe por aqui. Isso porque não afeta
o sistema fonológico e sintático. Mas não significa dizer que ela seja inexistente
ou que a variação diastrática e diamésica não sejam significativas. Mas esse
não é nosso foco central de estudo, queremos aqui discutir a variação diatópica
no território brasileiro.
Outro aspecto que devemos levar em consideração é o fato de existir uma
intensa migração interna no país, o que resulta em “variedades lingüísticas de
procedências diferentes, entre as quais acabam se criando diferenças de status
e prestígio” (ILARI; BASSO, 2006, p.161). Assim fica difícil separarmos, com
precisão, o que é variação diatópica e o que é variação diastrática.
Como exemplos de variação diatópica, podemos citar (entre tantos outros
existentes) os relativos ao léxico, à ordem fonológica e à morfossintática. Na

16 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

fonologia, podemos observar as mudanças que ocorreram na pronúncia de


algumas palavras, como nas vogais médias (“e”, “o”) pretônicas. No Nordeste,
elas têm pronúncias abertas ([m lad ]), enquanto que, no Sudeste, são fechadas
([melad ]). Na morfologia, citamos como exemplo os vocábulos mexerica,
tangerina, mimosa, bergamota, cujo uso varia conforme a região em que vive o
falante. Na sintaxe, notamos a preferência pela posposição verbal da negação,
como “tem não”, no Nordeste, enquanto que no Sudeste se usa “não tem” ou
“não tem, não” (ALKMIN, 2003). E na sua região? Como vocês falam?
Uma observação importante feita por Ilari e Basso (2006) diz respeito à
falta de delimitação geográfica das variações diatópicas. Segundo os autores,
seria necessário um trabalho conjunto de pesquisadores e de dialetólogos para
que as variações pudessem ser localizadas com precisão. Vejamos agora a
variação diastrática.

1.2.3 Diastrática: a variação entre os estratos da população


Apesar da dificuldade de determinar geograficamente dialetos relacionados
à variação diatópica, para encontrar elementos que caracterizam a variação
diastrática na fala não se precisa de muito esforço. Isso se deve ao fato de ainda
existirem na sociedade diferenças marcantes de escolaridade entre a classe
pobre e a classe rica.
Vários estudiosos procuram descrever a variedade subpadrão do português
falado pelos mais pobres (conseqüentemente, menos escolarizados), entre eles
Castilho citado por Ilari e Basso (2006). O estudioso cita como principais carac-
terísticas da variedade subpadrão fatores relacionados à fonética, à morfologia
e à sintaxe. Como, por exemplo, a troca do [l] pelo [r] em encontros consonan-
tais, como em “brusa”, “grobo” ou a tripla negação, como em “eu nem não
gosto”, usadas por falantes situados abaixo na escala social (ALKMIN, 2003).
Apesar de essa variedade falada poder soar “estranha” aos nossos ouvidos,
o que importa é sabermos que, quando entramos em contato com qualquer varie-
dade subpadrão,
[...] estamos diante de um outro código, e não de erros devidos
às limitações mentais dos indivíduos que o empregam. Do ponto
de vista pedagógico, é fundamental perceber que os alunos que
chegam à escola falando uma variedade subpadrão precisam
aprender a variedade culta como uma espécie de língua estran-
geira; isso não significa que essas crianças devam ser poupadas
do aprendizado da língua padrão, cujo valor cultural é inegável;
significa apenas que a criança que sempre falou calipe, para
chegar a escrever <eucalipto>, terá de aprender essa palavra
como uma palavra nova e, portanto, terá de dar dois passos em
vez de apenas um (ILARI; BASSO, 2006, p. 177).

Os autores reforçam um aspecto para o qual chamamos sua atenção:


respeitar a variedade trazida pelo estudante de seu meio cultural não significa

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 17


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

deixá-lo sem conhecer e, conseqüentemente, sem aprender a língua padrão.


Você deve saber que existem maneiras diversas de dizer a mesma coisa, e que
cada variedade deve ser adequada ao momento da comunicação, ao contexto
da prática social.
Já vimos variações diacrônica, diatópica e diastrática. Agora veremos a
variação diamésica.

1.2.4 Diamésica: a variação dos modos de comunicação (fala/escrita)


A oralidade sempre foi vista como algo que ocorria separadamente da
escrita, e esta sempre gozou de um status mais elevado em relação àquela. Mas
é necessário compreendermos que as duas se complementam, relacionando-se
de forma recíproca, ora a fala transformando a escrita, ora a escrita transfor-
mando a fala.
A variação diamésica muitas vezes não é levada em consideração no ensino
e aprendizado da escrita. Quando a escola dá atenção especial à escrita em
detrimento da fala, pode levar o aluno a pensar que escrevemos como falamos.
Esse é um grande equívoco.
Esse equívoco que ocorre no contexto escolar em relação à oralidade e à
escrita faz com que a escola “ensine” o aluno a se expressar oralmente come-
çando por corrigi-lo, para que se enquadre no padrão lingüístico prestigiado,
ou seja, na língua culta. Mas essa correção não evita que o aluno transfira para
a escrita seus “problemas” da oralidade. Assim o que ocorre é o reforço do
preconceito contra quem não domina a chamada língua padrão.
Outro equívoco (ainda existente em nossas escolas) ocorre pelo fato de o
professor confundir o respeito pela variedade lingüística trazida pelo aluno do
seu ambiente social com a idéia de que não deveria aproximá-lo da língua de
prestígio, a língua culta, como vimos na variação diastrática. Sobre esse assunto,
os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 28) afirmam que
[...] de nada adianta aceitar o aluno como ele é, mas não lhe
oferecer instrumentos para enfrentar situações em que não será
aceito se reproduzir as formas de expressão próprias de sua
comunidade. É preciso, portanto, ensinar-lhe a utilizar adequada-
mente a linguagem em instâncias públicas, a fazer uso da língua
oral de forma cada vez mais competente.

Dessa maneira, não pretendemos ensinar a você o que já sabe, mas sim
propiciar situações para que possa exercitar a variedade com a qual pode não
ter muita intimidade: a variedade padrão.
Vamos ver algumas diferenças nas condições de produção de um texto oral e
de um texto escrito. De acordo com Fávero, Andrade e Aquino (2000), podemos
distinguir a modalidade oral e a escrita por meio do quadro a seguir.

18 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

Quadro Diferenças entre fala e escrita.

Fala Escrita
Ocorre a distância (espaço-
Interação Ocorre face a face.
temporal).
É simultâneo ou quase simul-
Planejamento É anterior à produção.
tâneo à produção.
É coletiva: administrada passo a
Criação É individual.
passo.
Não há possibilidade de
Revisão Há possibilidade de revisão.
apagamento.
Não há condições de consulta a
Consultas A consulta é livre.
outros textos.
Pode ser promovida tanto pelo
Reformulação É promovida apenas pelo escritor.
falante como pelo interlocutor.
Reações do Não há possibilidade de acesso
O acesso é imediato.
interlocutor imediato.
Pode-se processar o texto a
Processamento Pode-se redigir o texto, a partir
partir das possíveis reações do
do texto das reações do interlocutor.
leitor.
Tende a esconder processo de
Processo de
Mostra todo processo. criação, mostrando apenas o
criação resultado.

Essas diferenças são meramente ilustrativas, já que tanto o texto oral como o
texto escrito têm níveis de formalidade e de informalidade que variam de acordo
com o contexto em que foram produzidos (interlocutor, intenção, objetivo, etc.).
Além disso, devemos lembrar que chamamos aqui de texto oral aquele realmente
falado e não o texto lido.
Como podemos notar, existe uma gramática do texto falado diferente da
gramática do texto escrito. Segundo Ilari e Basso (2006), essa não foi a única
descoberta importante dos estudos realizados pela variação diamésia. Outra
diz respeito aos gêneros discursivos.
Qualquer falante sabe que, conforme o gênero que utilizamos (determinado
pelo contexto, interlocutor, finalidade, etc.), elegemos uma variedade lingüística
que seja adequada a ele. Assim também fazemos com os meios pelos quais os
textos são distribuídos.
Por exemplo, se publicarmos uma descoberta científica em um jornal, utili-
zaremos uma linguagem diversa daquela que utilizaríamos se publicássemos
a mesma descoberta em uma revista científica. E em uma conversa em chat ou
msn? Você escreveria seus textos de que forma? Utilizaria a mesma estrutura e
vocabulário que utiliza quando faz um requerimento na universidade? Ilari e
Basso (2006, p. 187) acrescentam que

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 19


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

[...] todos esses gêneros, além de ter marcas exteriores próprias,


e de obedecer a convenções interpretativas próprias, fazem
também um uso muito particular da língua, chegando às vezes a
desenvolver uma sublíngua exclusiva. A sublíngua de um gênero
caracteriza-se normalmente não só pela freqüência maior de
certas palavras [...], mas pode ser marcada também pela alta
freqüência de construções gramaticais que não seriam comuns em
outros gêneros.

Podemos perceber o que os autores afirmam quando entramos em contato


com gêneros que não fazem parte do nosso dia-a-dia, como um boletim de ocor-
rência policial, por exemplo. Com certeza, estranharíamos a estrutura e o voca-
bulário normalmente utilizados nesse gênero. Isso estuda a variação diamésica.
Além dessas quatro variações citadas por Ilari e Basso (2006), Marcos
Bagno (2007) acrescenta uma quinta: a variação diafásica. O autor considera
que cada falante utiliza a língua de forma diferenciada – diferença de graduação
do informal para a formal – e isso diz respeito ao seu estilo.

Fique atento!
O nível de prestígio social é a língua culta e, se não quisermos ser discriminados por
grupos que a praticam, devemos conhecê-la.

Saiba mais

Convém lembrar que todas as variações aqui citadas estão presentes, juntas,
nos textos e podem ser aplicadas a qualquer produção da fala ou da escrita. O
que é preciso entender é que, para cada situação da prática social, existe uma
forma de falar considerada mais adequada.

20 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

Nesta primeira aula, você aprendeu que a linguagem é uma característica


humana universal, enquanto a língua é a linguagem particular de uma comuni-
dade, um grupo, um povo, por meio da qual há interação dos indivíduos. Já a
fala é a realização concreta da língua feita por um indivíduo em particular. É
importante que o conceito de língua, linguagem e fala tenham sido bem apre-
endidos, pois eles formam a base de sua aprendizagem da língua.
Você conheceu, também, a variação dialetal da língua portuguesa no
Brasil. A variação diacrônica diz respeito às diversas manifestações de uma
língua através dos tempos (que pode ser de geração a geração, ou de século
a século); a diatópica relaciona-se à variação por fatores geográficos; a
variação diastrática trata dos modos de falar que correspondem a códigos
de comportamento de determinados grupos sociais; e a variação diamésica
está relacionada à situação de comunicação, ou seja, em função do contexto
(principalmente falado/escrito), um falante varia seu registro de língua, adap-
tando-se às práticas sociais. Vimos também a variação diafásica, que consiste
na variação de estilo de cada indivíduo, do informal para o mais formal,
conforme a situação.
Uma observação importante diz respeito à variedade padrão: se você não
a pratica no seu dia-a-dia, procure exercitá-la, pois todas profissões utilizam
linguagem técnica, cuja base é a língua padrão (culta).

1. Compare as definições de língua dadas, no início desta aula, por Fiorin,


Faraco, Marcuschi e Geraldi. O que há em comum nas definições? Que
característica da língua é citada por todos eles?

2. A partir da análise que fizemos sobre a diferença entre língua, linguagem e


fala, relacione os itens a seguir.
(1) Língua (2) Linguagem (3) Fala
( ) Ação individual, com características particulares.
( ) Manifestação particular da linguagem.
( ) Faculdade da espécie humana.
( ) Uma das formas de se organizar, efetivar, concretizar essa faculdade
humana.
( ) Atividade social e histórica desenvolvida de forma interativa entre os
indivíduos.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 21


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

( ) Conjunto de todos os sinais que o ser humano foi criando para interagir
com o outro.
( ) Ato de concretização da língua.
Assinale a seqüência correta.
a) 1, 1, 2, 3, 3, 2, 3 c) 2, 3, 2, 3, 1, 2, 2
b) 3, 1, 2, 1, 1, 2, 3 d) 3, 3, 2, 3, 1, 2, 1

3. Analise as assertivas a seguir e relacione-as ao tipo adequado de variação


lingüística, respectivamente.
I. Variação apresentada em diferentes regiões de um mesmo país ou em
países que falam a mesma língua.
II. Variação constatada na diferença entre a língua falada por indivíduos
escolarizados e indivíduos menos escolarizados.
III. Variação lingüística em decorrência da situação de fala, do contexto de
produção e meios de distribuição dos textos.
IV. Variação que ocorre na história externa e interna das línguas, ou seja,
na evolução ao longo do tempo em sua função social e em sua gramá-
tica e léxico.

Marque a alternativa correta.


a) Diacrônica, diamésica, diatópica e diastrática.
b) Diacrônica, diamésica, diastrática e diatópica.
c) Diamésica, diastrática, diatópica e diacrônica.
d) Diatópica, diastrática, diamésica e diacrônica.

4. Observe os dois enunciados.


(1) Nós vamos estudar língua portuguesa neste semestre.
(2) Nóis vai estudá língua portuguesa neste semestre.
Que variação (diacrônica, diatópica, diastrática, diamésica ou diafásica)
ocorre entre os enunciados (1) e (2)? Justifique sua resposta.

As atividades um e dois proporcionaram a você verificar se atingiu o objetivo de


comparar os diversos conceitos de lingüistas em relação à língua, linguagem e fala.
Na primeira atividade, a característica recorrente em todas as definições
de língua dadas pelos lingüistas é em relação à língua ser uma “experiência
histórica”, uma “condição de seres históricos”, uma “atividade sociointerativa”,

22 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

produto de “trabalho social e histórico”, fenômeno “sociológico e histórico”.


Assim podemos constatar que, para todos os autores, a língua é construída pelos
indivíduos sociais e históricos.
Na atividade dois, a seqüência correta é 3, 1, 2, 1, 1, 2, 3, portanto
alternativa (b). Língua é manifestação particular da linguagem; uma das formas
de se organizar, efetivar, concretizar essa faculdade humana; atividade social
e histórica desenvolvida de forma interativa entre os indivíduos. Linguagem é
faculdade da espécie humana; conjunto de todos os sinais que o ser humano
foi criando para interagir com o outro. E, por fim, fala é ação individual, com
características particulares; ato de concretização da língua.
O segundo objetivo, reconhecer os diferentes níveis de linguagem e as
formas de manifestação das variações lingüísticas diacrônica, diatópica, dias-
trática e diamésica, pode ser mensurado pelas atividades três e quatro.
Na atividade três, a opção correta é a (d). Essa alternativa é a correta
porque relaciona, respectivamente, os conceitos trabalhados da variação
diacrônica, diatópica, diastrática e diamésica. Assim as opções (a), (b) e
(c) estão equivocadas, porque não trouxeram como resposta que a variação
diacrônica é em relação à variação no tempo, que a diatópica é geográ-
fica, que a diastrática diz respeito à variação por estratos sociais, e que a
diamésica se refere à variação, principalmente, entre fala/escrita, conforme o
contexto comunicacional.
A atividade quatro traz dois enunciados, entre os quais podemos perceber
uma variação dialetal diastrática, pois identificamos no enunciado (2) o que
os lingüistas chamam de variedade subpadrão (Nóis vai estudá). Essa varie-
dade ocorre principalmente devido a fatores socais e econômicos.

ALKMIM, T. M. Sociolingüística. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (Org.)


Introdução à lingüística. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2003. v. 1.
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação
lingüística. São Paulo: Parábola, 2007.
BORGES NETO, J. Borges Neto. In: XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (Org.) Conversas
com lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística? São Paulo: Parábola
Editorial, 2003.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – primeiro e segundo ciclos do ensino
fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental
MEC, 1997.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 23


Aula 1 • LÍNGUA PORTUGUESA

CASTILHO, A. de. Ataliba de Castilho. In: XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (Org.)


Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística? São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.
DUBOIS, J. et al. Dicionário de Lingüística. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
FARACO, C. A. Carlos Alberto Faraco. In: XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (Org.)
Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística? São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.
FÁVERO, L. L; ANDRADE, M. L. C. V. O.; AQUINO, Z. G. O. Oralidade e escrita:
perspectiva para o ensino de língua materna. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FIORIN, J. L. José Luiz Fiorin. In: XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (Org.) Conversas com
lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística? São Paulo: Parábola Editorial,
2003.
GERALDI, J. W. João Wanderley Geraldi. In: XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (Org.)
Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística? São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.
ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos a língua que
falamos. São Paulo: Contexto, 2006.
KOCH, I. G. V. Ingedore G. V. Koch. In: XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (Org.)
Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística? São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.
MARCUSCHI, L. A. Luiz Antônio Marcuschi. In: XAVIER, A. C.; CORTEZ, S. (Org.)
Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística? São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.
MATOS, F. C. G. Francisco Gomes de Matos. In: XAVIER, A. C.; CORTEZ, S.
(Org.) Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da lingüística? São
Paulo: Parábola Editorial, 2003.
PRETI, D. Sociolingüística: os níveis de fala: um estudo sociolingüístico do diálogo
na Literatura Brasileira. 9. ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2000.
SILVA, R. V. M. Contradições no ensino de português: a língua que se fala x a
língua que se ensina. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1997.

Após você ter conhecido o pensamento de vários lingüistas em relação à


língua, à linguagem, à fala e à variação dialetal, veremos o que pode ser consi-
derado um texto e quais são os fatores que contribuem para sua qualidade.
Daremos ênfase, nesse momento, à análise da coesão. Ainda há muitos aspectos
da linguagem para você relembrar!

24 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

Aula 2
Qualidades textuais I:
coesão textual

Uma ocorrência lingüística, para ser texto, precisa ser


percebida pelo recebedor como um todo significativo.
[...] o texto caracteriza-se por apresentar uma unidade
formal, material. Os elementos lingüísticos que o
formam devem ser reconhecivelmente integrados, de
modo a permitirem que ele seja apreendido como um
todo coeso.
(Maria da Graça Costa Val)

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


• reconhecer os fatores que contribuem para a qualidade do texto;
• identificar os elementos coesivos em textos.

Na aula passada, você estudou alguns conceitos referentes à língua, à


linguagem e à fala. Também observou que a língua não é falada de forma
homogênea por todos, há variações. O que devemos fazer é adequar o nível de
linguagem conforme a situação comunicativa em que nos encontramos. Assim
como adequar a linguagem à prática social, também é importante sabermos
organizar as idéias, tanto na língua escrita quanto na falada. Por isso os conceitos
vistos anteriormente ajudarão você a compreender este novo assunto: as boas
qualidades de um texto.

Depois de termos falado sobre o que é linguagem, língua, fala e variação


lingüística, abordaremos a produção textual. Iniciaremos a aula falando sobre o
que é texto e analisaremos os fatores que contribuem para a construção de um
texto de qualidade, enfatizando, nesta aula, a coesão textual.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 25


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

2.1 O que é texto


Provavelmente você já ouviu, leu e estudou muito sobre texto. Mas o que
realmente pode ser considerado um texto? Começaremos o estudo pela defi-
nição do que se considera texto.
Maria da Graça Costa Val (1999, p. 3) define texto como “ocorrência
lingüística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade
sociocomunicativa, semântica e formal”.
Ingedore Villaça Koch (2001, p. 10) acrescenta que o texto pode ser
[...] entendido como uma unidade lingüística concreta (percep-
tível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da
língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em sua situação de inte-
ração comunicativa, como uma unidade de sentido e como preen-
chendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida,
independentemente da sua extensão.

Percebe-se, nas duas definições, que o texto é usado para interação comu-
nicativa oral ou escrita, independentemente de sua extensão. Isso evidencia
que texto não é apenas o que está escrito com certa quantidade de palavras,
sentenças e parágrafos. Um simples gesto, uma única palavra, se transmitirem
uma mensagem, são textos.
Outro ponto que destacamos, exposto por Antônio Suárez de Abreu (2004),
é a importância de entendermos o que ouvimos/lemos. Conseguimos isso por
meio de nosso conhecimento de mundo, a que o autor chama de repertório.
Pois, com ele, compreendemos o conteúdo semântico e percebemos a intenção
de quem produz o texto.
Mas que características um bom texto deve ter?

2.2 Qualidades do texto


Jorge Leite de Oliveira (2004) expõe seis “cês” que contribuem para a
construção de um texto de qualidade. São eles: criatividade, clareza, concisão,
coesão, coerência e correção gramatical. Vamos conhecer cada um deles.
a) Criatividade: compreende a habilidade de produzir coisas e conheci-
mentos novos. Um texto criativo mostra ao leitor algo diferente. Isso não
quer dizer que devemos inventar coisas, mas podermos enxergar além
das que já existem e fazermos uso desse conhecimento para nossas
próprias produções. Para desenvolver essa habilidade, precisamos
ter bagagem intelectual, por isso devemos ler bastante, assistir a bons
filmes, conhecer outras culturas.
b) Clareza: é uma qualidade essencial de qualquer texto. O texto claro
possibilita a imediata compreensão do leitor. Ao produzirmos textos,
precisamos prestar bastante atenção no uso, por exemplo, dos pronomes

26 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

possessivos e dos relativos, que podem provocar ambigüidades. Em


“Paulo disse à namorada que seu futuro estava decidido”, por exemplo,
não se sabe a quem se refere o possessivo “seu” (a Paulo, à namorada
ou aos dois). Nesse caso, o problema pode ser resolvido com o emprego
de “dele”, “dela” ou “deles”.
c) Concisão: um texto deve ser preciso, sem rodeios de palavras. Um texto
conciso condensa idéias em períodos que expressam o essencial do
que se quer comunicar. Para isso, devemos optar por títulos, sentenças e
parágrafos curtos e eliminar palavras supérfluas.
d) Coesão: é a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre as
partes de um texto, mesmo que não sejam aparentes. Contribuem para
essa ligação os pronomes, as conjunções, os sinônimos, as repetições
(KOCH, 2001).
e) Coerência: está ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido ao
texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os
usuários. Deve, portanto, ser entendida como um princípio de interpreta-
bilidade, ligada à inteligibilidade do texto em uma situação de comuni-
cação (KOCH; TRAVAGLIA, 2001).
f) Correção gramatical: é o uso da língua de acordo com os padrões da
norma culta, sem incorreções gramaticais.
Além desses seis “cês”, é importante também levarmos em consideração
a unidade e a argumentação.
g) Unidade: um bom texto mantém unidade temática, ou seja, as idéias são
amarradas entre si (alguma coisa as unifica). Um texto que tem unidade
temática apresenta uma idéia central e outras que giram em seu redor.
h) Argumentação: procura formar a opinião do leitor, ou seja, busca
convencê-lo de que o raciocínio apresentado é o correto. Segundo Othon
Garcia (2000), a verdadeira argumentação deve revestir-se de caráter
construtivo, cooperativo e útil e não em um “bate boca” improdutivo. Ela
deve fundamentar-se na consistência do raciocínio e na evidência das
provas (apresentação de fatos, exemplos, ilustrações, dados estatísticos
e testemunhos). Assim a argumentação será firme, sedimentada e apre-
sentada com autoridade.
Vamos analisar todos esses fatores que contribuem para a qualidade textual
no trecho a seguir.

(1) A Suécia é um primor no que diz respeito à igualdade entre os sexos no trabalho

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 27


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

e na vida pública. No Parlamento, 45% das cadeiras são ocupadas por mulheres, o
maior índice internacional de participação feminina e quase o triplo da média européia.
Por consenso entre os partidos políticos, elas também estão no comando de metade dos
ministérios. Um terço dos cargos de confiança no governo é reservado para as mulheres.
Em nenhum outro lugar da Europa é maior a presença feminina no mercado de trabalho
e tão alta a média salarial, comparada com a masculina, como na Suécia (José Eduardo
Barella, Veja, n. 1902, p. 70, 27 abr. 2005).

Percebemos que o texto contém os fatores que analisamos. O autor foi cria-
tivo, apresenta as informações de forma clara, concisa (sem rodeios de palavras)
e coerente (as informações expostas têm sentido). Utiliza elementos coesivos,
como, por exemplo, “elas” e “feminina”, que são usados para referir-se a
mulheres. O autor respeita as regras da norma culta da língua. Propõe-se a
falar sobre a igualdade de sexos no trabalho e na vida pública (idéia central)
e depois apresenta dados sobre isso (idéias secundárias), portanto mantém a
unidade temática. Em seus argumentos, expõe dados para ser consistente e, com
isso, convencer seu leitor de que o raciocínio apresentado é o correto.
Nos próximos itens, daremos continuidade aos fatores de qualidade na
construção de um texto, analisando com mais detalhes a coesão textual.

2.3 Coesão textual


Vimos, no item anterior, que a coesão é um dos fatores que contribui para
a produção de um texto de boa qualidade. Agora vamos analisar de que forma
ela pode desempenhar esse papel.
A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras,
expressões ou sentenças do texto. Ela é manifestada por elementos lingüísticos
que assinalam o vínculo entre os componentes do texto.
Koch (2001) considera dois tipos principais de modalidades de coesão:
remissão e seqüenciação. Nesta aula, estudaremos a coesão remissiva, na
próxima, a coesão seqüencial.

2.3.1 Coesão por remissão


A modalidade coesiva por remissão refere-se à retomada de termos, expres-
sões ou sentenças já mencionadas ou sua antecipação. A isso Koch (2001)
chama de referência anafórica e catafórica, respectivamente. Vamos entender
melhor cada um dos tipos de referência?
Tradicionalmente, a anáfora é a retomada de elemento anterior em um
texto, mantendo-se a identidade com o termo a que se refere. É o que podemos
perceber no trecho a seguir.

28 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

(2) O Ministério da Educação chegou anunciar a entrada em vigor da reforma ortográ-


fica no Brasil já em 2008. Felizmente, essa data foi adiada (Jerônimo Teixeira, Veja,
n. 2025, p. 88, 12 set. 2007).

A expressão “essa data” refere-se a “2008”, data mencionada anterior-


mente, com a qual mantém a identidade.
Essa noção de anáfora vem sendo ampliada. Estudos recentes reconhecem
que a anáfora não é necessariamente correferencial e que o referente de uma
expressão anafórica não é sempre explicitamente denotado por um termo ante-
rior. A anáfora vem sendo estudada como um fenômeno de natureza inferen-
cial e não como um simples processo de “clonagem referencial” (MARCUSCHI,
2005, p. 55). Vamos entender melhor esse fenômeno nos exemplos a seguir?

(3) Pedro jogou seu cigarro e acendeu um outro.

A expressão “um outro” ativa um referente novo (não se trata do mesmo


cigarro). O laço que se estabelece entre “um outro” e “cigarro” é somente lexical
e não referencial, ou seja, associamos “um outro” ao “cigarro”. Marcuschi
(2005) chama esse processo de anáfora indireta. Vamos a outro exemplo.

(4) Essas crianças não são bandidas. Existem crimes piores (Ludovico Ramalho Bruno, dispo-
nível em: < . Acesso em: 30 nov. 2007).

A expressão “crimes piores” não reativa um referente anterior, há uma asso-


ciação de “crimes piores” com “bandidas”.
Todo o processo que mencionamos sobre a anáfora ocorre com a catáfora.
Mas há uma diferença: a catáfora refere-se a termos, expressões ou sentenças
que serão ainda mencionados no texto, ou seja, ao que será dito adiante. É o
que podemos perceber no exemplo a seguir.

(5) Eles já recomendaram bochechos com xixi e foram especialistas em cortar cabelos
– mas salvaram nossa pele ao inventar a anestesia. Conheça a milenar (e assustadora)
saga dos dentistas (Mariana Sgarioni, Aventuras na História, n. 51, p. 40, nov. 2007).

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 29


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

Por que o pronome destacado é um exemplo de catáfora? “Eles” é uma


referência catafórica, pois se refere a “dentistas”, que foi mencionado depois do
pronome “eles”.

Saiba mais
l

Além da anáfora e da catáfora, temos o dêitico, que é a relação referencial


que se estabelece entre uma expressão lingüística (dita dêitica) e um elemento
da situação comunicativa, isto é, um referente exterior ao texto. Vamos analisar
um trecho do poema Ausência, de Vinícius de Morais.

(6) Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética)

Podemos notar que as expressões grifadas referem-se à situação comunicativa.


Só sabemos quem é o eu (a pessoa que lamenta a ausência) e a quem se ele se
refere (a amada) a partir do contexto comunicativo. Os termos “eu deixarei”, “mim”,
“me”, “eu sinto”, “meu”, “minha” referem ao eu do poema; os termos “seus”, “te”,
“veres”, “tua”, “teu” referem-se à amada a quem se dirige o eu do poema.
Portanto a interpretação do dêitico exige o conhecimento compartilhado
da situação, ou seja, é uma situação criada pelo autor/falante e compactuada
pelo leitor/ouvinte (CAVALCANTE, 2005). Agora que sabemos o que é coesão
remissiva, analisaremos os processos desse tipo de coesão, a partir de Fávero
(2002) e Viana (2000).
a) Pronominalização: uso de pronomes para fazer remissão a outros elementos
textuais ou co-textuais (fora do texto).

(7) A escrava Chica da Silva conquistou o homem mais poderoso das Minas Gerais.
Ele comprou sua liberdade e a tornou rica. Mais que isso: a ex-cativa ganhou respeito
(Flávia Ribeiro, Aventuras na História, n. 51, p. 32, nov. 2007).

30 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

A coesão no exemplo (7) é feita por meio de pronominalização. A autora


utilizou os pronomes “ele” para se referir ao “homem mais poderoso das
Minas Gerais”; “sua” e “a” para referir-se a “Chica da Silva”; e “isso”, a
“Ele comprou sua liberdade e a tornou rica”.
b) Elipse: omissão de termo recuperável pelo contexto.

No exemplo (8), ocorre a elipse do sujeito dos verbos “ia” (“eu”), “é”
(“Pasárgada”) e “queria” (“eu”). Esse recurso é utilizado para não repe-
tirmos expressões desnecessariamente.
c) Substituição vocabular: colocação de um elemento no lugar de outro. Ela
pode ocorrer por meio de sinônimo, hiperônimo/hipônimo, antonomásia,
repetição do mesmo termo ou repetição do nome próprio (ou parte dele).
• Sinônimo

(9) Califórnia, o mais rico estado americano, registra a cada ano uma média de 8.000
focos de incêndio em áreas de matas. Em geral, as chamas logo são controladas pelos
bombeiros. Desta vez, o fogo fugiu do controle (Veja, n. 2032, p. 66, 31 out. 2007).

A sinonímia ocorre na substituição vocabular do exemplo (9): o termo


“incêndio” é retomado no texto pelos elementos “chamas” e “fogo” que,
nesse contexto, podem ser considerados sinônimos.
• Hiperonímia/hiponímia: Leonor Lopes Fávero (2002, p. 24) expõe que
[...] quando o primeiro elemento de uma seqüência lingüística
mantém com um segundo elemento uma relação todo/parte,
classe/elemento, tem-se um hiperônimo; quando o primeiro
elemento mantém com o segundo uma relação parte/todo,
elemento/classe, tem-se o hipônimo (grifo nosso).
Vamos analisar essa definição no exemplo a seguir?

(10) A indústria automobilística tornou-se mais produtiva e consegue vender


carros a preços relativamente mais baixos do que no passado. Em 1960, eram

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 31


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

necessários 92 salários mínimos para adquirir um Fusca. Agora, para comprar um Uno
Mille, são necessários 55 mínimos (Julia Dualibi e Cíntia Borsato, Veja, n. 2032, p. 78,
31 out. 2007).

A substituição vocabular do exemplo (10) foi feita por meio do uso de


hipônimo. A palavra “carro”, citada na primeira informação, é genérica
(hiperônimo), pois há várias espécies de carros. Quando a expressão
foi retomada na segunda e na terceira informação, as autoras utilizaram
os termos “Fusca” e “Uno Mille”, que são tipos de carros. Portanto elas
usaram hipônimos.
• Antonomásia: substituição vocabular de um nome por um apelido ou
feito – ação – pelo qual é reconhecido.

(11) Chica da Silva não se transformou em uma pessoa rica – também ganhou respeito.
A ex-escrava costumava promover bailes e peças de teatro (Flávia Ribeiro, Aventuras na
História, n. 51, p. 34, nov. 2007).

No exemplo (11), temos substituição vocabular por antonomásia, uma


vez que Chica da Silva também é conhecida como “ex-escrava”.
• Repetição do mesmo termo: há ocasiões em que não conseguimos ou
não queremos substituir o termo, então o repetimos.

(12) O celular pode ser uma facilidade na comunicação dos pais com seus filhos? É
bom pensar melhor nesse assunto já que não são mais apenas os filhos adolescentes
que pedem e/ou ganham um celular: crianças cada vez menores já vão para a escola
ou para os passeios com a turma levando seu celular. Como toda e qualquer atitude que
os pais tomam com relação aos filhos, oferecer um celular também terá conseqüências
educativas (Rosely Sayão. Disponível em: .
Acesso em: 30 nov. 2007).

A repetição dos termos ocorre na substituição vocabular no exemplo


(12), pois “filhos”, “celular” e “pais” retomam “filhos”, “celular” e “pais”,
respectivamente.
• Repetição do nome próprio (ou parte dele): normalmente, citamos o
nome completo e, depois, parte dele.

32 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

(13) A brasileira Ângela Hirata, responsável pelas negociações internacionais da


Alpargatas, dona da marca Havaianas, passa seis meses por ano fora do Brasil. Após
uma apresentação para executivos em Tóquio, Ângela conheceu informalmente um dos
representantes da Celux, uma loja multimarcas japonesa, a qual passou a exportar nossas
famosas Havaianas (Chrystiane Silva, Veja, n. 1873, p. 82, 29 set. 2004).

No exemplo (13), temos a substituição vocabular que se dá por meio


de repetição de parte do nome próprio, ou seja, ao invés de repetir
“Ângela Hirata”, retomou-se somente “Ângela”.

d) Termo-síntese: termo que condensa e resume o conteúdo de uma sentença,


de um parágrafo ou de todo um fragmento do texto. Veja o exemplo.

(14) Nos anos 80 e 90, e-mails se tornaram muito informais. Mas a idade média do
usuário de internet vem subindo, e com isso a comunicação está ficando mais formal
novamente (Jerônimo Teixeira, Veja, n. 2025, p. 93, 12 set. 2007).

No exemplo (14), o autor usou o termo síntese “isso”, que sintetiza as infor-
mações expostas na sentença anterior (“a idade média do usuário de internet
vem subindo”).

e) Advérbios: os mais utilizados são os de lugar e tempo.

(15) A cobertura da imprensa de Primeiro Mundo sobre a violência no Brasil tende a


ser sensacionalista, não apenas porque esse tipo de notícia vende, mas porque faz o
público pensar que vive no melhor dos mundos possíveis. Ironicamente, para mim, o Brasil
preenche essa descrição muito melhor que os Estados Unidos. Primeiro porque as pessoas
daqui têm mais generosidade, ginga e prazer de viver que a maioria dos americanos
(Michael Kepp, Superinteressante, n. 193, p. 122, out. 2003).

No exemplo (15), o elemento de coesão utilizado é o advérbio “daqui”, que


retoma “Brasil”.

Nesta primeira etapa dos estudos sobre a qualidade de bons textos, vimos
que, para produzirmos um texto de qualidade, devemos ser criativos, claros,
coerentes na exposição de nossas idéias, usar a língua padrão, utilizar os
elementos de coesão, argumentar bem e manter a unidade temática.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 33


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

Texto é uma ocorrência lingüística falada ou escrita, de qualquer


extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal.
Para produzirmos um texto de boa qualidade, precisamos levar em consi-
deração os seis “cês”: criatividade (apresentação de idéias e conhecimentos
novos); clareza (imediata compreensão do leitor/ouvinte); concisão (precisão,
sem rodeios de palavras); coesão (ligação entre as partes de um texto); coerência
(o texto precisa fazer sentido para o leitor/ouvinte); e correção gramatical (uso
da língua segundo os padrões da gramática normativa).
Além desses seis “cês”, é importante também consideramos a unidade temá-
tica (apresentação de uma idéia central e outras que giram em seu redor) e a
argumentação (convencimento do leitor/ouvinte de que o raciocínio apresen-
tado é o correto).
A coesão textual é a ligação entre as palavras, expressões ou sentenças
do texto. Há dois tipos principais de modalidades de coesão: remissão e
seqüenciação.
Nesta aula, estudamos a remissão, que se refere à retomada de termos,
expressões ou sentenças já mencionadas (referência anafórica) ou sua anteci-
pação (referência catafórica). Dêitico é a relação referencial que se estabelece
entre uma expressão lingüística (dita dêitica) e um elemento da situação comuni-
cativa, isto é, um referente exterior ao texto.
Os principais processos de remissão são: pronominalização (uso de
pronomes); elipse (omissão de termo recuperável pelo contexto); substituição
vocabular (colocação de um elemento no lugar de outro, podendo ocorrer por
meio de sinônimo, hiperônimo (relação todo/parte, classe/elemento), hipônimo
(relação parte/todo, elemento/classe), antonomásia (substituição vocabular de
um nome por um apelido ou ação)); repetição do mesmo termo ou repetição do
nome próprio ou parte dele; termo-síntese (resumo do conteúdo de uma sentença,
de um parágrafo ou de todo um fragmento do texto); e advérbios, principalmente
os de lugar e tempo.

1. Leia e analise o trecho a seguir.

“Sinto falta da galinha da minha mãe, do peixe do meu pai e da energia do povo brasi-
leiro” (Gisele Bündchen, Veja, n. 2025, p. 53, 12 set. 2007).

34 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

a) O texto de Gisele, a top model, apresenta ambigüidades. Identifique-as.


b) Dos fatores que contribuem para a qualidade textual, qual foi prejudi-
cado devido às ambigüidades? Por quê?
c) Para torná-lo um bom texto, reescreva o trecho, tirando essas
ambigüidades.

Leia o trecho a seguir para responder às questões de dois a quatro.

Wasaburo Otake nem imaginava que se tornaria carioca da gema quando foi designado
intérprete de oito oficiais da Marinha brasileira em visita ao Japão. Ele nem sequer falava
nosso idioma – o inglês era a língua usada nas conversas com os militares. Mas o aris-
tocrata japonês, então com 17 anos, ganhou a simpatia de Augusto Leopoldo, neto do
imperador dom Pedro II, que o convidou para acompanhá-Io em sua viagem de volta para
conhecer o Brasil. O navio nem deixou a Ásia e a aventura já começou a es­quentar. No
Ceilão (atual Sri Lanka), o príncipe teve de descer: era 1889, e a República, proclamada,
obri­gava a família real a se afastar das instituições bra­sileiras. Chegando ao Rio, Otake
não tinha mais a proteção real. Precisou se virar. Aprendeu português, ingressou na Escola
Naval e entrou para a história. É o primeiro japonês de que se têm registros con­cretos de
ter morado no Brasil (Paula Moura, Superinteressante, n. 245, p. 56, nov. 2007).

2. Em relação ao trecho em análise, examine as afirmativas a seguir e depois


assinale a alternativa correta.
I. O texto apresenta os fatores que contribuem para a qualidade texto. Um
desses fatores é a unidade temática. Apresenta uma idéia central, que
é Wasaburo Otake, o primeiro japonês brasileiro, e outras que giram
em seu redor, em que a autora mostra como Otake se tornou o primeiro
japonês que morou no Brasil.
II. Outro fator de qualidade presente no texto é a concisão, pois a autora
menciona as informações de uma forma objetiva, sem rodeios de pala-
vras. Também há clareza, uma vez que essas informações são facilmente
entendidas pelo leitor.
III. O texto também é coerente e coeso, visto que o que é exposto faz
sentido para o leitor e as informações estão ligadas, como podemos
perceber pelos termos em negrito (coesão por remissão).

a) Todas as afirmativas estão corretas.


b) Todas as afirmativas estão incorretas.
c) Apenas a afirmativa II está incorreta.
d) Apenas a afirmativa III está incorreta.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 35


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

3. Em relação à coesão textual, assinale a única alternativa incorreta.


a) Os termos em negrito, “ele”, “o aristocrata japonês”, “o”, “Otake” refe-
rem-se ao Wasaburo Otake.
b) Os pronomes “lo”, “sua” e “o príncipe” referem-se a Augusto Leopoldo.
c) A autora, ao empregar todos os termos que estão em negrito, utilizou a
referência catafórica, uma vez que os termos referentes retomam pala-
vras já mencionadas.
d) A autora utilizou os seguintes processos de coesão: pronominalização
(“ele”, “o”, “lo” e “sua”), antonomásia (“aristocrata japonês”, “prín-
cipe”) e repetição de parte do nome próprio (“Otake”).

4. Analise o trecho a seguir.

Chegando ao Rio, Otake não tinha mais a proteção real. Precisou se virar. Aprendeu
português, ingressou na Escola Naval e entrou para a história. É o primeiro japonês de
que se têm registros con­cretos de ter morado no Brasil.

Identifique onde estão as elipses e diga qual é o termo que foi omitido.

Na atividade um, item (a), há ambigüidade porque Gisele quis dizer que
sente saudade da galinha que sua mãe faz, do peixe que seu pai faz e da
energia do povo brasileiro. Mas a forma como ela construiu o texto acabou
deixando-o ambíguo, dando a entender que ela estava chamando sua mãe de
galinha e seu pai de peixe. No item (b), o fator de qualidade prejudicado foi
a clareza, visto que a ambigüidade pode levar o leitor interpretar o texto de
outra(s) forma(s). No item (c), uma possibilidade de reescrita do texto de Gisele
poderia ser: “Sinto falta da galinha que minha mãe faz, do peixe que meu pai
faz e da energia do povo brasileiro”.
Na atividade dois, a reposta é a alternativa (a), pois todas as afirmativas
estão corretas. O texto em análise contém os fatores que contribuem para a
qualidade de um texto.
Na atividade três, a alternativa incorreta é a (c). Todos os termos de refe-
rência grifados são anafóricos, uma vez que se referem a palavras já mencio-
nadas. Os termos catafóricos fazem referência a palavras que são mencionados
depois dos referentes.
Na atividade quatro, há omissão dos sujeitos dos verbos “precisou”,
“aprendeu”, “ingressou”, “entrou” e “é”, como você pode observar no trecho:

36 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

“chegando ao Rio, Otake não tinha mais a proteção real. [Otake] precisou se
virar. [Otake] aprendeu português, [Otake] ingressou na Escola Naval e [Otake]
entrou para a história. [Otake] é o primeiro japonês de que se têm registros
con­cretos de ter morado no Brasil.” Você pôde perceber que a elipse é um
recurso utilizado para não repetirmos expressões desnecessariamente.
Se você acertou as atividades, atingiu os objetivos desta aula: reconhecer
os fatores que contribuem para a qualidade do texto (atividades um e dois) e
identificar os elementos coesivos em textos (atividades três e quatro). Caso tenha
se equivocado, retome o que estudamos.

ABREU, A. S. Curso de redação. 11. ed. São Paulo: Ática, 2004.


CAVALCANTE, M. M. Anáfora e dêixis: quando as retas se encontram. In:
KOCH, I. V.; MORATO, E. M.; BENTES, A. C. (Org.). Referenciação e discurso.
São Paulo: Contexto, 2005.
COSTA VAL, M. da G. Redação e textualidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. 9. ed. São Paulo: Ática, 2002.
GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 18. ed. Rio de Janeiro: FGV,
2000.
KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2001.
KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. 11. ed. São Paulo: Contexto,
2001.
MARCUSCHI, L. A. Anáfora indireta: o barco textual e suas âncoras. In: KOCH,
I. V.; MORATO, E. M.; BENTES, A. C. (Org.). Referenciação e discurso. São
Paulo: Contexto, 2005.
OLIVEIRA, J. L. de. Texto técnico: guia de pesquisa e de redação. Brasília: abc
BSB, 2004.
VIANA, A. C. (Coord.) Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo:
Scipione, 2000.

Depois de você ter estudado os fatores que contribuem para a qualidade


textual, enfatizando o estudo da primeira modalidade de coesão (coesão remis-
siva), passaremos à análise da segunda modalidade, coesão seqüencial. Também
aprofundaremos a análise de textos em relação à coerência textual.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 37


Aula 2 • LÍNGUA PORTUGUESA

Anotações

38 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

Aula 3
Qualidades textuais Ii: coesão
e coerência textuais

Não basta costurar uma frase a outra para dizer que


estamos escrevendo bem. Além da coesão, é preciso
pensar na coerência.
(Antônio Carlos Viana)

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


• identificar a coesão textual por meio dos operadores argumentativos
em textos;
• reconhecer problemas no emprego dos operadores argumentativos e em
textos incoerentes.

Na aula passada, analisamos fatores que contribuem para a qualidade


do texto (criatividade, clareza, concisão, coesão, etc.). Também aprendemos
uma das modalidades de coesão, a remissão. Os conceitos vistos anteriormente
ajudarão você a compreender outra modalidade de coesão, a seqüenciação, e,
a seguir, a coerência textual.

Vimos, na aula anterior, que a coesão e a coerência são fatores que contribuem
para a qualidade de um texto. Já analisamos a coesão remissiva, que são os termos
que usamos para ligar as informações. Nesta aula, analisaremos a coesão seqüen-
cial, realizada pelos operadores argumentativos. Além disso, falaremos também
sobre a coerência e veremos que fatores são essenciais para um texto ser coerente.

3.1 Coesão Textual: Seqüenciação


A coesão por seqüenciação pode ser feita por conexão ou justaposição.
Veja a definição e os exemplos de cada forma.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 39


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

a) Conexão: ocorre quando usamos operadores argumentativos (classifi-


cados, pela gramática tradicional, como conjunções) para ligar duas
informações.

(1) Diana Spencer deixou de ser princesa, mas continuou sendo uma das pessoas mais
admiradas dos ingleses (Aventuras na História, n. 48, p. 16, ago. 2007).

As informações dadas no exemplo (1) são ligadas, “costuradas” por


meio do conectivo mas. O uso adequado desses elementos é funda-
mental para a construção do texto, conforme veremos no item 3.1.1.
b) Justaposição: ocorre quando expomos duas informações, uma ao lado
da outra, sem o uso dos operadores argumentativos.

(2) A separação de Charles e Diana foi anunciada em dezembro de 1992.


Os rumores de que o casamento não ia bem começaram antes, em 1985
(Aventuras na História, n. 48, p. 17, ago. 2007).

No exemplo (2), não há um conectivo que una as informações dadas, elas


estão justapostas, ou seja, postas uma ao lado da outra. Mas todos entendem
seu sentido. Se quiséssemos uni-las por meio de um elemento, poderíamos
utilizar o conectivo mas para substituir o ponto final, por exemplo, além de
outras de sentido de oposição. Então o enunciado ficaria assim: “A sepa-
ração de Charles e Diana foi anunciada em dezembro de 1992, mas os
rumores de que o casamento não ia bem começaram antes, em 1985”,
passando a ser uma seqüenciação por conexão.

3.1.1 Operadores argumentativos


A partir de Abreu (2004) e Fávero (2002), analisaremos os principais opera-
dores argumentativos, classificados, pela gramática tradicional, como conjun-
ções. Eles designam os variados tipos de interdependência semântica existente
entre as sentenças na superfície textual. É necessário, portanto, usar o operador
adequado à relação que queremos expressar. Vamos conhecê-los e fique atento!
a) Operadores de oposição: mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entre-
tanto, embora, apesar de que, etc.

(3) A Justiça trabalha para resolver os casos que chegam até ela, mas não consegue
ser eficiente.

40 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

O mas muda o rumo argumentativo para uma conclusão inesperada. A


conclusão natural que decorre da primeira proposição é de que a justiça deva
ser rápida, mas não é o que a segunda proposição afirma. Ao contrário, há
uma negação implícita decorrente. Vejamos a representação a seguir.

(então) A justiça consegue (mas) A justiça não consegue


ser eficiente. ser eficiente.

Desvio

A justiça trabalha para resolver os casos que chegam até ela.

Outro elemento que marca especialmente a oposição é o embora e seus


sinônimos: ainda que, mesmo que, etc.

(4) Embora (ainda que, mesmo que) a justiça não consiga ser eficiente, trabalha para
resolver os casos que chegam até ela.

No exemplo (3), há uma oposição implícita: o fato de a justiça não conse-


guir ser eficiente poderia impedi-la de resolver os casos que chegam
até ela. No entanto há outra orientação argumentativa que permite ao
interlocutor deduzir que nada impede a justiça de resolver os casos que
chegam até ela.
Devemos fazer a seguinte observação em relação à diferença entre o mas
e o embora: primeiramente, o mas nunca inicia o período composto, como
acontece com o embora, salvo em situações particulares de estilo ou de
mudança de assunto; secundariamente, o embora leva o verbo da oração
iniciada por ele a flexionar-se no subjuntivo, diferenciando-se do mas, que
faz seu verbo permanecer no indicativo.
O uso de um ou outro termo tem a ver exclusivamente com a intenção do
produtor de texto, conforme queira antecipar a conclusão lógica da idéia
apresentada (embora) ou contrariar a expectativa da conclusão (mas).
Observe os exemplos.

(5) Embora fosse claramente culpado, o réu não foi condenado.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 41


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

No exemplo (5), o uso do embora antecipa a idéia de que haverá uma


relação de contradição.

(6) O réu era claramente culpado, mas não foi condenado.

Já no exemplo (6), a primeira informação cria no leitor a expectativa da


condenação e a presença do mas contraria essa expectativa.
b) Operadores de causa: já que, visto que, uma vez que, como, pois,
porque, etc.

(7) Gêneros textuais como a carta circular ou o requerimento estão em extinção, pois o
e-mail absorveu essas funções (Gilda Palma, Veja, n. 2025, p. 90, 12 set. 2007).

Podemos observar que a segunda proposição (“pois o e-mail absorveu essas


funções”) iniciada por pois aponta para a causa, para o motivo de os gêneros
textuais como a carta circular ou o requerimento estarem em extinção. Assim
a proposição inicial (“Gêneros textuais como a carta circular ou o requeri-
mento estão em extinção”) é a conseqüência da segunda.
As conjunções uma vez que, visto que, já que, como podem tanto vir no
início quanto no meio do período: “Uma vez que gêneros textuais como
a carta circular ou o requerimento estão em extinção, o e-mail absorveu
essas funções”.
c) Operadores de conformidade: conforme, de acordo, como, segundo, etc.

(8) De acordo com o governo federal, há vagas suficientes nas universidades brasileiras.

A relação de conformidade manifesta o acordo entre duas informações. O


exemplo (8) demonstra isso. Em lugar de de acordo, poderíamos usar o articu-
lador conforme, para, segundo, pois todos apontam para o mesmo sentido.
d) Operadores de finalidade: para, para que, a fim de, etc.

(9) Precisamos ter o hábito de leitura para que entendamos melhor o mundo.

42 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

Esse articulador indica finalidade entre duas proposições, implicando a


idéia de fim previsto para uma determinada ação expressa na primeira
oração. No exemplo (9), o hábito da leitura tem finalidade: entendimento
melhor do mundo.
e) Operadores de temporalidade: quando, enquanto, sempre que, logo que,
antes que, assim que, cada vez que, depois que, até que, etc.

(10) Quando não existiam as lâmpadas, que podiam ser alimentadas por óleo de baleia ou
gás, as velas eram a principal fonte de luz (Aventuras na História, n. 51, p. 19, nov. 2007).

A idéia veiculada pelo articulador destacado (quando), no exemplo (10), é


de temporalidade.
f) Operadores de conclusão: portanto, logo, por isso, por conseguinte, etc.

(11) Terminamos o trabalho de língua portuguesa, portanto podemos entregá-lo à professora.

O conector portanto introduz um enunciado de valor conclusivo em relação


a um (ou mais) ato da fala anterior que contém uma dada informação.
No exemplo (11), a conclusão é introduzida a partir do que é exposto na
primeira oração (“Terminamos o trabalho de língua portuguesa”).
g) Operadores de comparação: (tanto, tal, tão)... como (quanto), mais... do
que, menos... do que, etc.

(12) Um ano após a revelação de sua tradução, o evangelho ainda causa polêmica.
Uma corrente de historiadores – tão competentes quanto os que traduziram o documento
– discorda da versão publicada (Aventuras na História, n. 51, p. 12, nov. 2007).

O exemplo (12) apresenta comparação entre os historiadores e os tradutores


da bíblia. Você deve observar que o caráter eminentemente argumentativo
da comparação está no fato de que se usa a comparação para argumentar
contra ou a favor de determinada conclusão. Nesse caso, valorizam-se os
historiadores em detrimento dos tradutores.
h) Operadores de adição: e, também, não só... mas também, tanto... como,
além de, além disso, ainda, nem, etc.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 43


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

(13) O réu não só foi condenado a 20 anos de reclusão, mas também teve todos os seus
bens confiscados.

A função desses articuladores é encaminhar o interlocutor da comunicação


para uma mesma conclusão. No exemplo (13), temos um operador que
soma um argumento adicional a um argumento já dito.

i) Operadores de condição: se... então, caso, etc.

(14) Não teremos problema de água no planeta no futuro, se hoje nos educarmos para o
consumo consciente.

Como podemos notar, a realização da primeira informação (“não termos


problemas de falta de água no futuro”) está condicionada à realização da
segunda (“educarmo-nos para o consumo racional da água”). É essa idéia
de condição que o articulador se introduz.

j) Operadores de disjunção: ou

(15) Ou a Justiça Eleitoral ouve os que têm discernimento para propor mudanças, ou a
verdadeira expressão da vontade nas urnas continuará oprimida.
(16) Há candidatos que escondem a origem dos recursos de campanha por eles serem um
financiamento adicional ou caixa dois.

Esse conector é ambíguo, ora correspondente à forma exclusiva (isto é, um


ou outro, mas não ambos, conforme o exemplo (15)), ora à forma com valor
inclusivo (ou seja, um ou outro, possivelmente ambos, conforme o exemplo
(16)). Observe que, quando inclusivo, o ou pode ser substituído por e.

Quando estivermos produzindo nossos textos, é importante usarmos os operadores argu-


mentativos adequados para não prejudicarmos a coerência textual.

Depois de termos estudado a coesão textual remissiva e seqüencial, agora


é a vez da coerência.

44 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

3.2 Coerência Textual


A coerência é o fator essencial da textualidade, uma vez que ela é respon-
sável pelo sentido do texto (COSTAL VAL, 1999). É ela que dá origem à textuali-
dade (KOCH; TRAVAGLIA, 2001).

Saiba mais

Como percebemos que um texto é coerente? A coerência se dá a partir do


conhecimento da língua e de mundo e do grau de compartilhamento desse conhe-
cimento entre autor/falante e o leitor/ouvinte. Se eu não conheço bem a língua
que deu forma ao texto, bem como a realidade de que ele fala, com toda certeza
esse texto será incoerente para mim. A coerência textual depende também das
inferências (relação que é estabelecida entre aquilo que é lido/ouvido com o
nosso conhecimento prévio) e dos fatores pragmáticos e interacionais (contexto de
situação, intenção comunicativa).
Examinemos a seguinte situação.

A: Obrigado!

Esse diálogo só terá coerência se entendermos que, quando alguém pergunta


“você tem fogo”, está pedindo para emprestarmos o isqueiro ou fósforo ou
mesmo acendermos seu cigarro. Assim, se falarmos que temos, ele esperará uma
dessas ações. Ou seja, nesse processo todo, fazemos inferências, percebemos
a intenção comunicativa. Isso só ocorre devido ao conhecimento da língua, de
mundo, ao compartilhamento desse conhecimento entre o falante e o ouvinte.
Na seqüência, examinaremos os princípios fundamentais responsáveis pela
construção de um texto coerente.

3.2.1 As meta-regras da coerência


Abreu (2004), citando um estudioso francês chamado Michel Charolles,
estabeleceu quatro princípios fundamentais responsáveis pela coerência textual.
Chamou-os de meta-regras da coerência. Vamos analisá-las?

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 45


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

a) Meta-regra da repetição: um texto coerente deve ter elementos recorrentes,


que chamamos de coesão textual. O fato de, em uma sentença, recuperarmos
termos de sentenças anteriores, por meio de pronomes, elipses, sinônimos ou
qualquer outro recurso, constitui um processo de repetição ou recorrência.
A coesão textual é, portanto, a primeira condição para que um texto seja
coerente. Vejamos, no exemplo a seguir, se há coesão textual.

(18) A primeira vacina de que se tem registro é a antivariólica, desen­volvida pelo inglês
Edward Jenner em 1798. Ela foi descoberta depois de análises que o cientista fez ao
observar que mulheres da ordenha, expostas a um tipo de varíola mais fraca que ataca
vacas, desenvol­viam imunidade à varíola humana (Galileu, n. 196, p. 37, nov. 2007).

No trecho (18), há metra-regra da repetição, porque temos termos recupe-


rando informações anteriores, por exemplo, ela recupera a primeira vacina,
e o cientista retoma Edward Jenner.
b) Meta-regra de progressão: um texto coerente deve apresentar renovação do
conteúdo, ou seja, um texto deve sempre apresentar informações novas à
medida que vai sendo escrito. Vejamos, no texto a seguir, se há progressão
de conteúdo.

(19) Esse funcionário não faz nada. Fica apenas reclamando de suas tarefas, ou seja,
chega, liga seu computador e reclama de seus afazeres no escritório. Acha que trabalha
muito e reclama do que tem de ser feito. Não faz nada!

Não há, no exemplo (19), informações novas, há sim repetição do que já


foi dito. Poderíamos reduzir essa informação a: “esse funcionário não faz
nada. Só reclama de suas tarefas”. Portanto, como o autor desconsiderou a
meta-regra de progressão, a coerência foi prejudicada.
c) Meta-regra da não-contradição: em um texto coerente, o que se diz depois
não se pode contradizer com o que se disse antes ou o que ficou pressu-
posto. Cada pedaço do texto deve fazer sentido com o que se disse antes.
Analisemos se, no texto seguir, isso é considerado pelo autor.

(20) O quarto espelha as características de seu dono: um esportista, que adorava a vida
ao ar livre e não tinha o menor gosto pelas atividades intelectuais. Por toda a parte, havia
sinais disso: raquetes de tênis, prancha de surf, equipamento de alpinismo, um tabuleiro
de xadrez com as peças arrumadas sobre mesinha, as obras completas de Shakespeare
(PLATÃO; FIORIN, 1998, p. 268).

46 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

Uma das qualidades de um bom texto é não apresentar contradição. No


exemplo (20), há contradição. Inicialmente, o narrador afirma que o quarto
tinha as características de seu dono, que era um esportista que não gostava de
atividades intelectuais e, depois, menciona que no quarto havia um tabuleiro
de xadrez arrumado e as obras completas de Shakespeare, portanto o autor
acaba se contradizendo. É um texto sem credibilidade argumentativa.
d) Meta-regra de relação: em um texto coerente, seu conteúdo deve estar
adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis.
Vejamos o texto a seguir.

(21) Em nosso pequeno vilarejo, aconteceu, certa vez, um caso bastante curioso. Havia
ali um coronel muito matuto que vivia assombrando os moradores da cidade com suas
bravatas. Numa manhã de domingo, no dia da festa da padroeira, ele acordou morto e
todo pronto para conduzir o turíbulo que, de véspera, havia dormido em sua casa. Depois
do café matinal, fez-se uma grande aglomeração de pessoas diante da casa do coronel:
foi a primeira vez que tivemos um engarrafamento de 15 km: carros, motocicletas, triciclos,
bicicletas e mesmo pedestres aguardavam atentos pelas palavras do coronel nas primeiras
horas do dia de seu enterro.

O que mais chama a atenção, no exemplo (21), é o fato de o coronel estar


morto e, mesmo assim, estar pronto para carregar o turíbulo. Além disso, é
estranho o fato de os moradores aguardarem seu pronunciamento matinal. Ao
ler o texto, o que nos vem à cabeça é que se trata de um “causo”, não de um fato
verídico. Isso porque no mundo real não existe a possibilidade de se acordar
morto, de um morto carregar um turíbulo e, menos ainda, de um morto fazer
pronunciamento em festa de padroeira.

Saiba mais

A partir do que analisamos nesta aula, podemos concluir que contribuem


para a produção de um texto de qualidade o uso adequado dos operadores
argumentativos e as meta-regras de coerência.

A coesão seqüencial pode ser feita por conexão (uso de operadores argumen-
tativos) ou justaposição (não há uso de operadores argumentativos). Os princi-

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 47


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

pais operadores argumentativos são de: oposição (mas, porém, contudo, todavia,
no entanto, entretanto, embora, apesar de que, etc.); causa (já que, visto que,
uma vez que, como, pois, porque, etc.); conformidade (conforme, de acordo,
como, segundo, etc.); finalidade (para, para que, a fim de, etc.); temporalidade
(quando, enquanto, sempre que, logo que, antes que, assim que, cada vez que,
depois que, até que, etc.); conclusão (portanto, logo, por isso, por conseguinte,
etc.); comparação ((tanto, tal, tão)... como (quanto), mais... do que, menos... do
que, etc.); adição (e, também, não só... mas também, tanto... como, além de,
além disso, ainda, nem, etc.); condição (se... então, caso etc.); e disjunção (ou).
A coerência é responsável pelo sentido do texto. Ela se dá a partir do conhe-
cimento da língua e de mundo e do grau de compartilhamento desse conheci-
mento entre autor/falante e o leitor/ouvinte. Depende também das inferências,
dos fatores pragmáticos e interacionais.
Há quatro princípios fundamentais responsáveis pela coerência textual: meta-
regra da repetição (texto coeso); meta-regra de progressão (renovação do conteúdo,
informações novas); meta-regra da não-contradição (as informações novas não se
podem contradizer com o que se disse antes); meta-regra de relação (conteúdo
adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis).

1. Analise o enunciado a seguir.

Maria escreve tão bem quanto Joana.

Há, realmente, igualdade quanto à habilidade de escrita entre Maria e


Joana, sob o ponto de vista do autor do enunciado? Justifique sua resposta.

2. Leia o trecho a seguir e analise em que sentido cada um dos operadores


argumentativos, em negrito, está sendo empregado.

Para Einstein, a religião organizada, com sua ênfase em hierarquias e poder, com seu auto-
ritarismo e repressão, violava a essência da espiritualidade humana, que deveria ser livre
para dedicar-se ao que existe de mais importante em nossas vidas, o mundo onde vivemos
e as pessoas com quem dividimos nossa existência. Nós somos matéria antes, durante e
após as nossas vidas, matéria em diferentes níveis de organização. Enquanto vivos, nada
mais nobre do que nos entregarmos à natureza, a seu estudo e à contemplação. Era essa a
essência da religiosidade humana, associar o sagrado à natureza, e não a uma divindade
antropomórfica, vaidosa e caprichosa (Galileu, n. 196, p. 39, nov. 2007).

48 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

Assinale a alternativa que corresponde ao sentido de cada um dos opera-


dores argumentativos destacados, respectivamente.
a) Finalidade, adição, finalidade, tempo.
b) Conformidade, adição, finalidade, tempo.
c) Finalidade, oposição, conformidade, tempo.
d) Conformidade, adição, conformidade, oposição.

3. O uso inadequado dos operadores argumentativos nas sentenças a seguir


provoca um efeito de incoerência. Reescreva-as, fazendo as alterações neces-
sárias para garantir o estabelecimento das relações de sentido corretas.
a) Moramos no mesmo andar, mas vemo-nos com freqüência, por isso mal
nos falamos.
b) O livro é muito interessante porque tem 570 páginas.
c) O show estava excelente, por isso eles saíram antes de terminar, porém
tinham um aniversário para ir.

4. Leia com bastante atenção e assinale a alternativa que não identifica adequa-
damente a meta-regra infringida.
a) É realmente apropriado que nos reunamos aqui hoje, para homenagear
Abraham Lincoln, o homem que nasceu numa cabana de troncos que ele
construiu com suas próprias mãos (político, em um discurso, homenage-
ando Lincoln). A meta-regra infringida é de relação.
b) Eu não estava mentindo. Disse, sim, coisas que mais tarde se viu que eram
inverídicas (presidente Nixon, em depoimento durante as investigações
do caso Watergate). A meta-regra infringida é de não-contradição.
c) Cuidado! Tocar nesses fios provoca morte instantânea. Quem for flagrado
fazendo isso será processado (tabuleta em uma estação ferroviária de
Portugal). A meta-regra infringida é de não-contradição.
d) Substituição de bateria: substitua a bateria velha por uma bateria nova
(instrução em manual). A meta-regra infringida é de progressão.

5. Leia os trechos a seguir, examine-os e explique por que eles são incoe-
rentes. Esses trechos são frases publicadas em alguns jornais do Brasil e
foram retirados do sítio http://www.bombanet.com.br/?page=secoes/
frases­dejornais&local=Bombanet%3EFrases%20De%20Jornais.
a) “A vítima foi estrangulada a golpes de facão.” O Dia
b) “Ela contraiu a doença na época que ainda estava viva.” Jornal do Brasil

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 49


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

c) “O velho reformado, antes de apertar o pescoço da mulher até a morte,


se suicidou.” O Dia
d) “Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério,
para a satisfação dos habitantes.” Jornal do Brasil
e) “O aumento do desemprego foi de 0% em novembro.” Extra
f) “Prefeito de interior vai dormir bem, e acorda morto.” O Dia

A atividade um diz respeito aos operadores argumentativos de comparação.


Reflita: se para uma pergunta como: “Joana escreverá a carta?”, se obtivesse
como resposta: “Maria escreve tão bem quanto Joana”, a argumentação seria
desfavorável a Joana (embora não negando a sua capacidade de escrita) e
favorável a Maria. Assim se verifica que, do ponto de vista argumentativo, não
há “igualdade” entre Maria e Joana.
Na atividade dois, a reposta correta é a alternativa (b), pois “para” está
indicando conformidade; “e”, adição; “para”, finalidade; “enquanto”, tempo,
respectivamente.
Na atividade três, o uso inadequado dos operadores argumentativos nas
sentenças provocou um efeito de incoerência. Vamos verificar se você reescreveu
as sentenças empregando adequadamente os articuladores? (a) Como moramos
no mesmo andar, vemo-nos com freqüência, porém mal nos falamos (entre a
primeira e a segunda oração, há a relação de causa, e entre a segunda e a
terceira, de oposição); (b) O livro é muito interessante, mas tem 570 páginas (há
entre as orações o sentido de oposição); (c) O show estava excelente, porém eles
saíram antes de terminar, porque tinham um aniversário para ir (entre a primeira
e a segunda oração, há o sentido de oposição, e entre a segunda e a terceira,
de causa). Não há problema se você empregou outros articuladores, o impor-
tante é se os usou de acordo com o sentido estabelecido entre as orações.
Na atividade quatro, a alternativa incorreta é a (c). A meta-regra infringida
é a de relação, pois não há como processar quem já morreu.
Na atividade cinco, o item (a) é incoerente porque um estrangulamento não é
cometido a golpes de facão. O item (b) é incoerente uma vez que não se contrai
doença depois de morto. O item (c) é incoerente visto que não há como cometer
suicídio e depois matar outra pessoa. O item (d) está incoerente porque não há
como satisfazer mortos com água. O item (e) está incoerente já que 0% não signi-
fica aumento. E o item (f) está incoerente visto que quem morre não acorda.
Se você acertou as atividades, atingiu os objetivos desta aula: identificar
a coesão textual por meio dos operadores argumentativos (atividades de um
e dois) e reconhecer problemas no emprego dos operadores argumentativos

50 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

e em textos incoerentes (de três a cinco). Caso tenha se equivocado, retome o


que estudamos.

ABREU, A. S. Curso de redação. 11. ed. São Paulo: Ática, 2004.


COSTA VAL, M. da G. Redação e textualidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
FÁVERO, L. L. Coesão e coerência textuais. 9. ed. São Paulo: Ática, 2002.
KOCH, I. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. 11. ed. São Paulo: Contexto,
2001.
PLATÃO; FIORIN. Lições de texto: leitura e redação. 2. ed. São Paulo: Ática,
1998.

Você estudou alguns aspectos da linguagem que contribuem para a produção


textual. Agora, está na hora de pôr em prática e construir textos. É isso que
veremos a seguir: a produção de parágrafos.

Anotações

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 51


Aula 3 • LÍNGUA PORTUGUESA

52 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

Aula 4
O parágrafo e a produção textual

Escrever é uma atividade complexa, resultado de uma


boa alfabetização, hábito de leitura, formação inte-
lectual, acesso a boas fontes de informação e muita,
muita prática.
(Dad Squarisi e Arlete Salvador)

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


• identificar a estrutura de um parágrafo padrão e as diferentes formas de
se elaborar o tópico, o desenvolvimento e a conclusão;
• construir um parágrafo padrão.

Nesta aula, você terá a oportunidade de colocar em prática os conheci-


mentos das aulas três e quatro deste caderno. Analisamos fatores que contri-
buem para a qualidade do texto (criatividade, clareza, concisão, coesão,
coerência, correção gramatical, unidade temática e argumentação). Também
aprendemos os mecanismos de coesão (remissão e seqüenciação), os opera-
dores argumentativos e as metas-regras que contribuem para a coerência
textual. Ter conhecimentos sobre tudo isso é condição necessária para que
você possa ter o melhor proveito desta e de outras aulas de nossa disciplina e,
conseqüentemente, do curso.

Hoje o mercado de trabalho exige pessoas com habilidades de produção


textual. Muitas vezes nos comunicamos por e-mail, precisamos fazer ofícios,
memorandos ou qualquer outro tipo de documentos, e produzir um texto de
qualidade não é fácil. Nem por isso devemos desanimar. Precisamos treinar
muito, pois só assim conseguiremos aperfeiçoar nossa escrita.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 53


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

Por isso, nesta aula, falaremos sobre a produção textual. Analisaremos o


que é parágrafo e sua estrutura, as etapas prévias para sua produção, que é
o planejamento, tão necessário para uma boa construção textual, e a redação
propriamente dita. Também examinaremos formas de elaborar o tópico frasal, o
desenvolvimento e a conclusão, que lhe ajudarão na produção de seus textos. É
importante ter esses conhecimentos, mas o primordial é conhecer o assunto sobre
o que escreverá. Portanto mantenha-se informado lendo bastante.

4.1 Parágrafo: conceituação


Garcia (2000, p. 203) define o parágrafo como “uma unidade de compo-
sição, constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve ou se
explana determinada idéia central, a que geralmente se agregam outras, secun-
dárias, mas intimamente relacionadas pelo sentido”.
O conceito se aplica ao chamado parágrafo padrão, que é constituído de
três partes essenciais: tópico frasal, de­senvolvimento e conclusão. No entanto
há diferentes formas de cons­trução do parágrafo, dependendo da natureza do
assunto, do gênero da composição, do objetivo do autor e do tipo de leitor a
quem se destina o texto escrito.
Independentemente do tipo de parágrafo, temos etapas a seguir.

4.2 Parágrafo: etapas prévias


Antes de você começar a elaborar o parágrafo, é importante atentar para
as seguintes etapas prévias:
• escolha de um assunto: por exemplo, optamos em construir um pará-
grafo sobre leitura;
• delimitação do assunto: é restringir o assunto, ou seja, concentrar-se
apenas em um ou dois aspectos dele. Esse processo é necessário para
que possamos organizar o parágrafo com mais facilidade. Por exemplo,
depois de escolhermos o assunto “leitura”, decidimos escrever sobre as
“vantagens da leitura”;
• fixação do objetivo: é definir a intenção, o objetivo de quem escreve o
parágrafo. Por exemplo, optamos em redigir o parágrafo para “mostrar
as vantagens que a leitu­ra proporciona”.
Depois de analisarmos as etapas prévias, é interessante conhecermos a
estrutura do parágrafo, a fim de organizá-lo.

4.3 Parágrafo: redação


Neste item, explicitaremos cada uma das partes do parágrafo padrão, como
se dá sua redação e suas formas diversas de construção. Fique atento!

54 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

4.3.1 A formulação do tópico frasal


Delimitado o assunto, fixado o objetivo que deverá orientar o parágrafo,
você poderá come­çar a escrever. É importante redigir, em primeiro lugar, uma
ou mais sentenças que expressem o objetivo escolhido. Essa ou essas frases
iniciais do parágrafo traduz(em), de maneira geral e sucinta, a idéia-núcleo do
parágrafo e constitui(em) o que se chama tópico frasal. Ele introduz o assunto e o
aspecto desse assunto, a idéia central com o potencial de gerar outros períodos,
chamados de idéias secundárias. Serve para orientar o resto do parágrafo.
Assim o tópico fra­sal garante que você não se afaste do objetivo estabelecido,
mantendo a coerência do texto.
Passaremos ao estudo das principais formas de elaborar o tópico frasal do
parágrafo, a partir do que é exposto por Abreu (2004) e Viana (2000).
a) Declaração inicial: o autor inicia o parágrafo com uma declaração sucinta
na qual apresenta o assunto e seu aspecto, que serão desenvolvidos no
parágrafo. Podemos observar isso no exemplo a seguir.

(1) Uma nova tecnologia que lê o DNA como um código de barras vai ajudar a identificar
espécies de flora e fauna. A técnica, desenvolvida no Canadá, dis­
tingue a porção de um
gene que é única em cada espécie. Além de funcionar como tira-teima para espécies difíceis
de diferenciar por critérios morfológi­cos, o sistema também vai facilitar a apreensão de novas
plantas, animais e materiais pelo controle ambiental (Galileu, n. 196, p. 33, nov. 2007).

b) Definição: o autor abre o parágrafo com uma definição. É o que podemos


notar no parágrafo a seguir, em que o autor define a expressão “céu de
brigadeiro”.

(2) “Céu de brigadeiro” é uma gíria carioca que foi popularizada pelos locutores de
rádio. Ela é dita quando alguém pretende descrever um dia em que tudo parece cons­
pirar a favor ou mesmo para dizer que o dia está bonito. Surgiu entre as décadas de
1940 e 1950. Na época, o Rio de Janeiro era a ca­pital do Brasil, responsável por boa
parte do tráfego aéreo. Brigadeiro é o posto má­ximo da Aeronáutica. E é um oficial que
só comanda um avião quando o céu está limpo, sem nuvens. Por isso, ao dizer que o
céu estava “de brigadeiro”, a intenção era reforçar que não havia problemas à vista
(Aventuras na História, n. 48, p. 19, ago. 2007).

c) Divisão: o tópico frasal é apresentado sob a forma de divisão ou discri-


minação das idéias que serão desenvolvidas no parágrafo. Essa forma é
apresentada no exemplo a seguir, em que a autora menciona que existem

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 55


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

duas situações quanto aos prazos relativos ao divórcio, apresenta-as e as


explana no desenvolvimento.

(3) Quanto aos requisitos legais dos prazos relativos ao divór­cio, existem duas situa-
ções. A primeira é ter decorrido um ano do trânsito em julgado da sentença que homo-
logou a separação judicial, ou um ano da separação for­malizada por meio de escri-
tura pública. A segunda é o casal estar comprovadamente separado de fato por mais
de dois anos (Juliana Marcucci Pontes, Prática Judiciária, n. 66, p. 66, set. 2007).

d) Oposição: o autor apresenta o tópico fazendo uma oposição, a qual será


desenvolvida no parágrafo. No exemplo em análise, perceberemos a
oposição entre os estudos realizados sobre corpos celestes e os lugares mais
profundos de nosso planeta.

(4) Enquanto pesquisas espaciais descobriram um sem número de novos corpos celestes em
nosso e outros sistemas do Universo nos últimos anos, ainda não chegamos muito longe nos
recônditos mais profundos do nosso próprio planeta. O conhecimento humano sobre o que
há sob nossos pés pode melhorar muito o Programa Integrado de Perfuração do Oceano,
que começou em setembro seu projeto ambicioso de chegar a um lugar da terra nunca
antes explorado [...] (Galileu, n. 196, p. 34, nov. 2007).

e) Alusão histórica: o autor introduz o parágrafo mencionando um fato histó-


rico, como podemos perceber no parágrafo a seguir, em que ele faz refe-
rência ao século VII.

(5) No século VII, a Arábia Sau­


dita, hoje cobiçada por possuir a maior reserva mundial de
petróleo, não passava de um rincão desértico que não interessava a ninguém. Naquele
local habi­tado por tribos nômades (os beduínos), a vida valia pouco. Os mercadores que
cru­zavam a região em direção aos vizinhos reinos da Pérsia, no atual Irã, ou Bizân­cio, na
Turquia, viviam ameaçados pelos constantes conflitos tribais (Aventuras na História, n. 48,
p. 29, ago. 2007).

f) Pergunta: o parágrafo é iniciado com uma interrogação. A pergunta deve


ser respondida ou esclarecida no desenvolvimento. Note essas caracterís-
ticas no exemplo a seguir.

56 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

(6) O que faz o espelho refletir? O brilho vem de uma fina camada de prata ou outro metal
que é aplicada no dorso do vidro. Essa é uma das razões por que bons espelhos custam
caro. A prata, aliás, era usada para refletir imagens desde a Roma antiga: a diferença é
que, naquela época, o espelho nada mais era que um disco convexo – estanho e bronze
eram outros materiais usados. A qualidade da imagem refletida era sofrível e os espelhos
eram grandes o bastante apenas para refletir um rosto, mas isso era o melhor que se tinha
até a Idade Média (Rafael Hakime, Superinteressante, n. 245, p. 54, nov. 2007).

g) Citação: consiste em mencionar trecho de algum autor, livro, revista, dados de


pesquisa, etc. A citação pode ser: direta (quando citamos as palavras ditas
ou escritas por alguém, por isso devemos usar as aspas); ou indireta (quando
reproduzimos com nossas palavras o que o autor disse ou escreveu). Observe,
no parágrafo a seguir, um exemplo de tópico frasal com citação direta.

(7) “O português brasileiro é que usa a forma dita clássica no idioma. O que está em
jogo é a antiga crença de que a língua portuguesa pertence a Portugal e que, portanto,
eles a usam melhor do que nós”, diz Mothé. Como todo idioma vivo, o português, em
terras brasileiras, portuguesas ou africanas, está em permanente mudança [...]. A influ-
ência do escravo africano no português do Brasil é notória. Em Casa-Grande & Senzala,
Gilberto Freyre, numa das passagens mais belas do seu clássico, diz que a negra que
habitava a casa-grande como cozinheira ou babá fez “com as palavras o mesmo que
com a comida: machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando
para a boca do menino branco as sílabas moles. Daí esse português de menino que no
norte do Brasil, principalmente, é uma das falas mais doces deste mundo” (André Petry,
Veja, n. 2032, p. 106, 31 out. 2007).

Você pôde perceber que a primeira(s) sentença(s) introduziu(ram) o assunto,


que é a idéia central. A partir dessa idéia, surgiram outros períodos que orien-
taram o desenvolvimento do resto do parágrafo.
Depois de aprendermos como podemos iniciar a elaboração de um pará-
grafo, examinaremos as formas para construir seu desenvolvimento.

4.3.2 O desenvolvimento do parágrafo


Nessa etapa de redação do parágrafo, você passa a expandir as idéias indi-
cadas no tó­pico frasal. Para isso, em primeiro lugar, deve selecionar aspectos
ou detalhes particulares que desen­volvam o tópico frasal e, após, ordená-los, ou
seja, construir um plano de desenvolvimento que servirá como forma de controle.
Isso evitará a inclusão de aspectos ou detalhes desnecessários ou incoerentes
com o objetivo fixado.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 57


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

Veremos as formas de construir o desenvolvimento desse parágrafo a partir


do que é exposto por Garcia (2000).
a) Ordenação por enumeração: consiste em enumerar diferentes situações
ou características de um fato expresso de modo genérico no tópico frasal.
Organiza-se, freqüentemente, por meio de certos articuladores que têm a
função de marcar a ordem, segundo a qual os detalhes do fato são apre-
sentados. Alguns desses articuladores são: primeiro, segundo, em primeiro
lugar, em segundo lugar, inicialmente, após, a seguir, depois, em seguida,
mais adiante, por fim, ainda, além, também, etc. Vamos analisar o desenvol-
vimento por enumeração no seguinte parágrafo.

(8) O governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral disse duas besteiras. A primeira é
uma imprecisão grosseira: afirmou que a taxa de fertilidade nas favelas cariocas é igual
às de Gabão e Zâmbia. Não é: nas favelas cariocas, ela é de 2,6 filhos por mulher,
contra 5,4 e 6,1 nos países citados. A segunda é uma con­clusão descabida: disse que o
aborto é capaz de reduzir a taxa de criminalida­de na medida em que impede o nasci­
mento de crianças indesejadas e criadas por famílias desestruturadas (André Petry, Veja,
n. 2032, p. 62, 31 out. 2007).

O parágrafo em análise exemplifica a ordenação por enumeração, em que


o autor aponta o que foi dito pelo governador do Rio de Janeiro.
b) Ordenação por causa-conseqüência: consiste em indicar a(s) causa(s) do fato
apresentado e o(s) resultado(s) ou efeito(s) produ­zido(s). A relação causa-
conseqüência, estabelecida entre períodos de um mesmo parágrafo, ou é
evi­denciada por expressões (articuladores) que a introduzem ou é percebida
semanticamente, ou seja, por meio da interpretação das idéias relacionadas.
São expressões indicadoras de causa: porque, já que, visto que, uma vez
que, pois, a razão disso, a causa disso, devido a, por motivo de, em virtude
de, graças a, etc.; de conseqüência: tão que, tal que, tanto que, tamanho
que, de forma que, de maneira que, de modo que, em conseqüência, como
resultado, por isso, em vista disso, etc. Vamos analisar de que forma a orde-
nação por causa-conseqüência é trabalhada no parágrafo a seguir.

(9) O caos deu novo sinal de vida nos aeroportos brasileiros na sema­na passada. Os passa-
geiros que embarcaram em São Paulo e no Rio de Janeiro enfrentaram filas, cancela­mentos
de vôos e atrasos de até 24 horas. Tudo indica que, ao contrário das vezes anteriores, a
principal causa da confusão foram as fortes chuvas que atingiram a Região Sudeste do
país (Diego Escosteguy, Veja, n. 2032, p. 60, 31 out. 2007).

58 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

O autor expõe que a causa do caos nos aeroportos de São Paulo e Rio
de Janeiro foram as fortes chuvas. Em conseqüência disso, os passageiros
enfrentaram filas, cancela­mentos de vôos e atrasos de até 24 horas.
c) Ordenação por comparação ou confronto - semelhança ou contraste: consiste
em estabelecer um confronto de idéias, seres, coisas, fatos ou fenômenos,
mos­trando seus pontos comuns (semelhanças) ou seus contrastes (diferenças).
Evidenciam-se expressões articulatórias como: assim como... também, tanto
como... tanto quanto, além de... também, não só... (como) também, de igual
modo, em ambos os casos, de um lado... de outro lado, por um lado... por
outro lado, se por um lado... por outro lado, (para) uns... (para) outros,
este... aquele, ao contrário..., em oposição..., enquanto..., já..., ao passo
que..., mas..., porém, etc. Observe a comparação no texto a seguir.

(10) Se há opinião unânime sobre Sigmund Freud, é a de que mudou nossa manei­ra
de compreender a cultura, o outro e a nós mesmos. Mas as divergências em torno de
sua pessoa e de sua obra são imensas. Para alguns, Freud foi um gênio, um herói que
desbravou as profundezas do inconsciente e expôs à posteridade sua vida pessoal em um
grau desconhecido até então, por amor à ciência [...] Para outros, não foi mais do que
uno charlatão, um covarde que abandona a verdade por medo da opinião públi­ca, um
homem que enxergava o sexual em todas as coisas, alguém que perseguia os discípulos
dissidentes, que não media os meios para impor suas idéias (Freud: a ex­ploração do
inconsciente. História do Pensamento, Fasc. 54, p. 641).

Esse parágrafo exemplifica a comparação por contraste, visto que apresenta


opiniões divergentes em relação a Freud (gênio x charlatão).
d) Ordenação por tempo e/ou espaço: algumas vezes, ao elaborarmos
um texto, surge a necessidade de organizarmos os fatos, as idéias pelo
critério tempo e/ou espaço. As indicações de espaço são necessárias
sempre que for conveniente mostrar o lugar em que aconteceram os fatos
referidos. Já a ordenação temporal exprime a ordem segundo a qual o
reda­tor teve a percepção ou o conhecimento de algo acontecido. Pode
ocorrer o emprego simultâneo dos critérios de ordenação de idéias por
tempo e espaço.
Examinemos as expressões indicativas dessas formas de ordenação: tempo:
agora, já, ainda, antes, depois, em seguida, breve, logo que, finalmente,
freqüentemen­te, após, antes de, à medida que, à proporção que, enquanto,
sempre que, assim que, ultima­mente, presentemente, no século tal, muitos
anos atrás, naquele tempo, etc.; espaço: longe de, perto de, em frente de,
atrás de, diante de, detrás de, abaixo de, dentro de, fora de, aí, ali, cá,
além, à direita, à esquerda, no país tal, no local tal, etc.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 59


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

No parágrafo a seguir, observe que o desenvolvimento se dá por meio de


indicação de tempo e espaço.

(11) Devido ao valor histórico de Enola Gay, o avião da bomba atômica, o governo norte-
americano decidiu preservá-lo. O avião passou por bases aéreas na Califórnia, Arizona,
Texas e Mayland, onde ficou 24 anos. Em 1984, o Museu Nacional Aeroespacial, em
Washington, iniciou um projeto de restauração da aeronave que durou 10 anos. Em 1995,
ela foi o centro da controvérsia em uma mostra no museu que lembrava os 50 anos da
bomba. Desde 2003, o bomberdeiro está exposto em um prédio anexo ao aeroporto de
Dulees, em Washington (Aventuras na História, n. 51, p. 20, nov. 2007).

A ordenação do desenvolvimento por tempo se dá por meio da referência


a três anos: 1984, 1995 e 2003. E a ordenação por espaço se apresenta
por meio de “na Califórnia, Arizona, Texas e Mayland”, “em Washington”
e “em um prédio anexo ao aeroporto de Dulees, em Washington”.
e) Ordenação por definição: de todas as formas de ordenação, essa é a mais
abstrata, pois revela os atributos essenciais de um objeto, sentimentos,
expressões por meio de sua definição, muito utilizada em textos técnicos ou
científicos. Nessa forma de ordenação, é freqüente o emprego do verbo ser
ou de verbos como cha­mar-se, denominar-se, considerar-se, tratar-se de.
Analisemos de que maneira a ordenação de desenvolvimento por definição
é utilizada no parágrafo a seguir.

(12) A expressão “não ter papas na língua” é uma mistura de espanhol com português.
Ela tem origem no termo estrangeiro “no tiene pepiras en Ia len­gua” - em português, “não
tem pevides na língua”. Pevides são pequenos tumores que revestem a língua de algumas
aves, obstruindo-lhes o cacarejo. A doença di­ficulta a ingestão de água e de alimentos,
podendo até matar. No singular, pevide é ainda um dis­túrbio da fala - o paciente apresenta
di­ficuldade e até mesmo incapacidade de pronunciar alguns fonemas. Portanto quando
fulano não tem as tais pepitas - que, no aumentativo em espanhol, viram as papas da
expressão - na língua, significa que ele fala muito, à vontade e sem obstáculos (Aventuras
na História, n. 48, p. 19, ago. 2007).

A ordenação do desenvolvimento por definição foi usada para explicar o


significado da expressão “não ter papas na língua”.
f) Ordenação por exemplificação: consiste em exemplificar um conceito ou justi-
ficar uma afirmação por meio de exemplos ilus­trativos. O exemplo estabe-
lece um elo, uma ponte entre o conceito ou a afirmativa e o leitor, principal­

60 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

mente quando se trata de algo muito abstrato. O parágrafo seguinte usa a


exemplificação para justificar a afirmação feita no tópico frasal.

(13) Para os otimistas, a Copa costuma ser uma oportunidade para realizar in­vestimentos
em infra-estrutura de que há muito os países necessitam. Por exemplo, os sul-africanos vão
aproveitar 2010 para construir um trem de alta ve­locidade entre Johanesburgo e Pretória.
Os alemães reformaram estradas. O Brasil poderia aproveitar para dar uma solução defi-
nitiva aos problemas de seus aeroportos. Apenas o Aeroporto Internacional do Galeão,
no Rio de Ja­neiro, pode ser considerado pronto para um evento do porte de uma Copa do
Mundo, já que opera com metade de seu potencial. Portanto o Brasil terá sete anos para
preparar uma Copa inesque­cível - e que espante do Maracanã os fantasmas de 1950
(Daniel Salles e Marcio Orsolini, Veja, n. 2032, p. 117, 31 out. 2007).

Você deve ter notado que o desenvolvimento exemplifica o que é exposto no


tópico frasal. O que os alemães fizeram e o que os sul-africanos e o Brasil
podem fazer por meio da realização da Copa do Mundo exemplificam os
investimentos em infra-estrutura de que há muito os países necessitam.
g) Argumento de autoridade: consiste em apresentar, no desenvolvimento,
dados colhidos da realidade, citações de autoridades (principais autores
sobre o assunto do qual faremos a exposição), exemplos e ilustrações, argu-
mentos de valor universal (os irrefutáveis) (VIANA, 2000). Utilizando essas
estratégias, nossos argumentos se tornam mais fortes, têm mais poder de
convencimento. Analise o parágrafo a seguir.

(14) O que permite à China desafiar a lógica do Ocidente, aliando a repressão das liber-
dades individuais a uma economia de mercado agressiva? É provável que ao menos parte
da resposta esteja no passado imperial do país. “Os chineses sempre tiveram a consci-
ência de que foram o centro do mundo e de que apenas um poder unificado seria capaz
de impedir a desintegração de seu gigantesco território”, diz o pesquisador Severino
Cabral, fundador do Instituto Brasileiro de estudos da China, Ásia e Pacífico (Ibecap) e
membro permanente da Escola Superior de Guerra. Hoje os historiadores sabem a que
unidade desse império já estava consolidada desde o século III a.C., quando a China se
tornou uma potência sem concorrentes (Aventuras na História, n. 51, p. 23, nov. 2007).

No parágrafo ilustrativo, há argumento de autoridade, ou seja, o autor


utiliza uma opinião dos historiadores e do pesquisador Severino Cabral,
fundador do Instituto Brasileiro de estudos da China, Ásia e Pacífico (Ibecap)
e membro permanente da Escola Superior de Guerra. O saber dos historia-

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 61


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

dores e a opinião do pesquisador fortalecem a argumentação, afinal quem


opina tem conhecimento sobre o assunto.
h) Parágrafo misto: alguns parágrafos caracterizam-se, no seu desenvolvimento,
por serem mistos. Os parágrafos mistos são aqueles em que predomina mais
de uma forma. Examinemos os tipos de ordenação que são usados no pará-
grafo a seguir.

(15) Durante mais de 100 anos, as favelas cresceram assustadoramente. O primeiro levan-
tamento sobre favelas do Brasil foi realizado pela prefeitura do Rio de Janeiro, em 1948.
Esse levantamento apontou a existência de 109 favelas na cidade. Em 2000, o Censo feito
pelo Instituto Brasileiro de Geografia, apontou que esse número passou para 513 comuni-
dades. Em 2005, já havia 750 favelas cariocas cadastradas no Sistema de Assentamentos
de Baixa Renda (Sabrem). A maior parte dessas comunidades mantém-se excluída dos
benefícios urbanos, à margem dos bairros e à mercê das balas (nem sempre perdidas) de
traficantes e policiais (Aventuras na História, n. 48, p. 51, ago. 2007).

A ordenação do desenvolvimento é considerada mista porque o autor utilizou


mais de um tipo de ordenação. Apresentou as informações por meio da
evolução temporal (“em 1948”, “em 2000”, “em 2005”) e também utilizou
dados a partir de pesquisas da prefeitura do Rio de Janeiro, do Censo feito
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e dados do Sabrem. Portanto temos
ordenação temporal e por argumento de autoridade.
E, para finalizarmos o parágrafo, vamos analisar como podemos proceder
na elaboração da conclusão.

4.3.3 A elaboração da conclusão


A transição entre o desenvolvimento e a conclusão do parágrafo é feita, geral-
mente, por meio de articuladores que indicam a relação que desejamos estabe-
lecer, tais como: assim, logo, dessa forma, então, portanto, etc. Algumas vezes,
no entanto, o nexo não vem explicitado, pois se caracteriza por uma apreciação
do autor e não por uma implicação direta a partir das idéias desenvolvidas.
Para concluir um parágrafo, podemos optar por uma das formas mencio-
nadas a seguir.
a) Retomada do objetivo: na formulação da conclusão, podemos retomar o
objetivo expresso na introdução, recapi­tulando o conjunto de detalhes ou
aspectos particulares que fazem parte do desenvolvimento. Em ou­tras pala-
vras, reorganizamos resumidamente os diversos aspectos da fase de desen-
volvimento em um parágrafo final, que feche o texto. Essas características
podem ser observadas no parágrafo a seguir.

62 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

(16) Todo ato de comunicação humana implica uma fonte, o emissor, de onde se origina
a mensagem que passa por meio de um canal para atingir um destinatário. Quando um
rapaz murmura “eu te amo” para a namorada, todos esses elementos es­tão presentes. De
igual modo, quando o Presidente da República se dirige ao povo pela televisão, também
podemos identificar os quatro elementos de comunicação. Em ambos os casos, a estrutura
da comunicação é a mesma, embora o contexto comuni­cativo seja bem diferente.

b) Apresentação de conseqüências, implicações: apresenta, de modo conciso,


conseqüências, implicações daquilo que foi expresso na introdução e no
desenvolvimento. Observe essa forma no parágrafo seguinte.

(17) Em 1992, o poder público removeu grande parte das pessoas que viviam nos morros
da Providência, Santo Antônio e Gávea-Leblon. No fim dos anos 20, o francês Alfred
Agache propôs um projeto urbanístico para o Rio. Nele não havia espaço para as favelas,
consideradas um problema “sob o ponto de vista da ordem social, da segurança, da
higiene, sem falar de estética”. A impressão se manteve na década seguinte. Em 1937,
o Código de Obras da cidade citou as favelas como “aberração urbana” e propôs sua
eliminação, proibindo a construção de novos barracos. Mais que isso, o Código proibia
melhorias nos morros já ocupados. Portanto, em vez de encarar a questão das favelas,
mais uma vez os governantes resolviam apenas tentar fazer com que elas desaparecessem
(Aventuras na História, n. 48, p. 49, ago. 2007).

c) Sugestão de uma perspectiva de solução: principalmente se o tema for polê-


mico, podemos sugerir uma possível solução para o problema exposto no
parágrafo. É o que podemos notar no parágrafo a seguir.

(18) A fiscalização do governo é falha. Nem todos os tipos de eletrodomésticos passam por
certificação do Inmetro, que tem uma lista limitada de produtos que precisam passar por esse
processo. Os produtos que ficam de fora da lista não são certificados nem fiscalizados. E
mesmo nos aparelhos certificados, muitas das fiscalizações só são feitas após denúncias de
irregularidades. Sem esquecer que, quando o Inmetro decide testar se os aparelhos estão
seguindo as normas técnicas, ele pede aos fabricantes que mandem amostras de seus produtos
para análise. Tal prática permite que os fabricantes escolham os produtos que serão testados,
o que pode ocultar ou maquiar resultados. O ideal seria que os testes do governo fossem
anônimos e aleatórios, como os realizados pela Pro Teste (Pro Teste, n. 63, p. 14, out. 2007).

Os parágrafos dos exemplos (16), (17) e (18) têm as três partes essenciais à
sua redação, ou seja, tópico frasal, desenvolvimento e conclusão, portanto

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 63


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

são parágrafos padrões. Cabe registrarmos que existem parágrafos que


apresentam apenas tópico frasal e desenvolvimento, desenvolvimento e
conclusão ou somente desenvolvimento, isso quando inseridos em um texto.
São os chamados parágrafos em aberto.
Portanto, nesta aula, você pôde observar que há várias formas de se cons-
truir um parágrafo. Para que você produza bons textos, é necessário que tenha
conhecimento sobre o assunto e que pratique bastante o que aprendeu aqui.

O parágrafo, normalmente, é constituído por idéia central, a que se agregam


as idéias secundárias. É o chamado parágrafo padrão, constituído por tópico
frasal (idéia central), de­senvolvimento (idéias secundárias) e conclusão (fecha-
mento da idéia).
Antes da elaboração do parágrafo, é importante escolher um assunto, deli-
mitá-lo (concentrar-se apenas em um ou dois aspectos dele) e fixar o objetivo
(definir a intenção).
Depois disso, podemos partir para a redação iniciando pelo tópico frasal.
Em uma ou mais sentenças, devemos expressar o objetivo escolhido, que deve
traduzir a idéia-núcleo do parágrafo. Isso pode ser feito por: declaração inicial,
definição, divisão, oposição, alusão histórica, pergunta ou citação.
Após, no desenvolvimento, expandimos as idéias indicadas no tó­pico frasal,
por meio de: enumeração, causa-conseqüência, comparação ou confronto (seme-
lhança ou contraste), tempo e/ou espaço, definição, exemplificação, argumento
de autoridade ou parágrafo misto.
E, finalmente, na formulação da conclusão, retomamos o objetivo expresso
na frase núcleo, apresentamos de modo conciso conseqüências, implicações
daquilo que foi expresso no tópico frasal e no desenvolvimento ou damos
sugestão de uma perspectiva de solução.

Leia o parágrafo a seguir para responder às questões um e dois.

O Alcorão não é mais violento ou cheio de leis do que outros textos sagrados, como a
própria Bíblia. O livro bíblico do Levítico, que trata de leis e foi herdado da Torá dos judeus,
é um caso exemplar. Afinal, ele está repleto de normas que, se fossem seguidas ao pé da
letra hoje em dia, fariam com que nossa sociedade fosse pouco diferente de um regime

64 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

opressor como o do Talibã. Além disso, é bom lembrar que a separação entre Igreja e
Estado é uma conquista recente no Ocidente, que ainda vem se aprofundando (devido à
pressão da Igreja Católica, o divórcio, por exemplo, só foi legalizado no Brasil na década
de 1970). Portanto a violência sempre associada aos países muçulmanos contidas no
Alcorão não são tão diferentes assim de outros textos religiosos (Rodrigo Cavalcante,
Aventuras na História, n. 48, p. 30, ago. 2007).

1. Em relação ao parágrafo que você leu, faça o que se pede:


a) identifique a estrutura (tópico frasal, desenvolvimento e conclusão);
b) especifique o assunto, a delimitação e o objetivo fixado pelo autor do
texto.

2. Quanto à estrutura do parágrafo e ao tipo de forma utilizada pelo autor para


elaborar o tópico, o desenvolvimento e a conclusão, use (V) para as afirma-
tivas verdadeiras e (F) para as falsas. Depois, assinale a opção correta.
( ) O parágrafo é padrão, visto que tem tópico frasal, desenvolvimento
e conclusão.
( ) A forma selecionada para construir o tópico frasal foi declaração inicial.
( ) O autor desenvolveu o tópico frasal por meio da exemplificação.
( ) Na conclusão, o autor utilizou a retomada do objetivo.

a) F, V, V, V c) F, F, V, V
b) V, V, V, V d) V, V, F, F

3. Analise as afirmações a seguir considerando a teoria que estudamos a


respeito do parágrafo.
I. Todo parágrafo tem introdução, desenvolvimento e conclusão.
II. A idéia central do parágrafo é enunciada por meio do período denomi-
nado tópico frasal.
III. O tópico frasal contribui para que o escritor não se afaste do objetivo
estabelecido.
IV. O desenvolvimento corresponde a uma ampliação do tópico frasal, com
apresentação de idéias secundárias que o fundamentam ou esclarecem.
V. Na conclusão, podemos retomar o objetivo expresso na frase núcleo.

Assinale a alternativa correta.


a) São verdadeiras apenas as afirmativas I, II e III.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 65


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

b) São verdadeiras apenas as afirmativas II, III, IV e V.


c) São verdadeiras apenas as afirmativas II e III.
d) São verdadeiras apenas as afirmativas I, II, III e IV.

4. Elabore um parágrafo padrão falando sobre a importância da leitura para


o aluno que está iniciando um curso universitário. Lembre-se de que o pará-
grafo padrão contém tópico frasal, desenvolvimento e conclusão. Analise
de que forma construirá cada um desses elementos. Para que seu parágrafo
tenha qualidade, leve em consideração o conteúdo estudado nas aulas ante-
riores, os fatores que contribuem para a qualidade textual.

Os objetivos desta aula são: identificar a estrutura de um parágrafo padrão


e as diferentes formas de se elaborar o tópico, o desenvolvimento e a conclusão
(atividades um e dois) e construir um parágrafo padrão (atividades três e quatro).
Vamos conferir se você os atingiu?
Na atividade um, item (a), o tópico frasal é a primeira sentença (“O Alcorão
não é mais violento ou cheio de leis do que outros textos sagrados, como a
própria Bíblia”), pois ela introduz o assunto do parágrafo, é a idéia central. A
conclusão está na última sentença (“Portanto a violência sempre associada aos
países muçulmanos contidas no Alcorão não são tão diferentes assim de outros
textos religiosos”), que é o fechamento do que foi exposto. E o restante do pará-
grafo é o desenvolvimento, que são as idéias secundárias, aquelas que desen-
volvem o que foi mencionado no tópico frasal. No item (b), o assunto exposto é
o Alcorão; a delimitação é a comparação entre o Alcorão e a Bíblia; o objetivo
fixado pelo autor é expor que não é só o Alcorão que estimula a violência.
Na atividade dois, todas as afirmativas são verdadeiras, portanto a resposta
correta é a opção (b). Como vimos na atividade um, o parágrafo em análise
apresenta tópico frasal, desenvolvimento e conclusão. A sentença “O Alcorão
não é mais violento ou cheio de leis do que outros textos sagrados, como a
própria Bíblia” é uma declaração inicial, em que o autor apresenta o assunto do
parágrafo. Para desenvolver essa declaração inicial, o autor utiliza a exemplifi-
cação, visto que expõe o livro bíblico do Levítico para mostrar que a Bíblia está
repleta de normas opressoras como as do Talibã. Essa idéia é reforçada com a
menção de que o divórcio só foi legalizado no Brasil na década de 1970. Na
conclusão, o autor retoma o objetivo expresso no tópico frasal e recapitula resu-
midamente os detalhes expostos no desenvolvimento.
Na atividade três, a alternativa correta é (b). Apenas (I) está incorreta, pois
nem todo parágrafo tem introdução, desenvolvimento e conclusão. Existem pará-
grafos em aberto.

66 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

Na atividade quatro, esperamos que você tenha levado em consideração


as etapas prévias para a construção textual (delimitação do assunto, fixação do
objetivo) e que tenha selecionado uma das formas de construção do tópico, do
desenvolvimento e da conclusão. A construção dos primeiros textos é sempre
difícil, mas não podemos desanimar. Continue treinando, selecione outros
assuntos e construa novos parágrafos.

ABREU, A. S. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2004.


GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 18. ed. Rio de Janeiro:
FGV, 2000.
VIANA, A. C. (Coord.) Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo:
Scipione, 2000.

Você sabe a diferença entre gênero e tipologia textual? Essa distinção é


muito importante para o estudo e compreensão de textos! É o que você verá a
seguir! Vamos lá!

Anotações

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 67


Aula 4 • LÍNGUA PORTUGUESA

68 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

Aula 5
Gênero e tipologia textual

Cada vez mais, evidencia-se a necessidade de novos


estudos sobre diferentes gêneros textuais que desen-
volvam instrumentais teóricos e práticos para demons-
trar que, através de textos orais e escritos, criamos
representações que refletem, constroem e/ou desafiam
nossos conhecimentos e crenças, e cooperam para o
estabelecimento de relações sociais identitárias.
(José Luiz Meurer)

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


• distinguir tipologia de gêneros textuais;
• identificar gênero e tipologia textual em textos.

A definição de texto, vista na aula dois, que se referia às qualidades de


um bom texto, será importante para a continuação dos estudos. Relembre que
Ingedore Villaça Koch (2001, p. 10) compreende o texto como
[...] uma unidade lingüística concreta (perceptível pela visão ou
audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/
ouvinte, leitor), em sua situação de interação comunicativa, como uma
unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa
reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão.

Compreendendo o texto como instrumento de interação comunicativa oral ou


escrita, você verá que, conforme a intenção da interação, elegemos um gênero
ou outro, que trará dentro de si tipologias textuais diversas.

Marcuschi (2002) acredita que o conhecimento dos gêneros textuais que


fazem parte das interações sociais diárias favoreça tanto a leitura como a
compreensão de textos. O autor considera que

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 69


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

tendo em vista que todos os textos se manifestam sempre num ou


noutro gênero textual, um maior conhecimento do funcionamento
dos gêneros textuais é importante tanto para a produção como
para a compreensão. Em certo sentido, é esta idéia básica que
se acha no centro dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais),
quando sugerem que o trabalho com o texto deve ser feito na
base dos gêneros, sejam eles orais ou escritos (MARCUSCHI,
2002, p. 32-33).

Os gêneros textuais são grandes aliados para várias atividades: leitura


crítica, produção textual significativa, desenvolvimento da oralidade, conscienti-
zação de que a leitura e a escrita estão presentes em tudo que fazemos, etc.
Dessa forma, procuraremos conhecer as características do que se chama
gênero textual, como ele ocorre na nossa prática social diária e qual a diferença
entre os gêneros e os tipos textuais.

5.1 Gênero x tipologia


Vamos começar procurando entender o que é gênero textual. Baltar (2004,
p. 46-47) nos ensina que
gêneros textuais são unidades triádicas relativamente estáveis,
passíveis de serem divididas para fim de análise em unidade
composicional, unidade temática e estilo, disponíveis num inven-
tário de textos, criado historicamente pela prática social, com
ocorrência nos mais variados ambientes discursivos, que os usuá-
rios de uma língua natural atualizam quando participam de uma
atividade de linguagem, de acordo com o efeito de sentido que
querem provocar nos seus interlocutores.

O autor define gênero textual como unidade triádica por ser formado de três
elementos: unidade composicional, unidade temática e estilo, ou seja, por poder
ser dividido em três unidades para ser analisado e classificado.
Quanto à classificação dos gêneros textuais, podemos dizer que seja impos-
sível fazer um inventário fechado e fixo, pois os gêneros surgem conforme a
necessidade das práticas sociais.
Como exemplo, temos os e-mails. Há quanto tempo esse gênero surgiu?
Qual era o gênero que o substituía em muitas situações? Surgiu há pouco tempo
e derivou de cartas comuns.

Mas preste atenção! Muitas vezes, quando surge um novo gênero textual, isso não quer
dizer que outro tenha de desaparecer!

No caso das cartas, elas ainda resistem, mas foram substituídas em muitas
situações da prática social pelos e-mails. Assim vemos que, como já dissemos, a

70 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

classificação dos gêneros, como um inventário fechado, fixo, é impossível. Mas


vejamos alguns gêneros: carta, bilhete, receita, bula de remédio, telefonema,
sermão, horóscopo, lista de compras, resenha, resumo, cardápio, romance,
piada, conferência, bate-papo por computador, outdoor, edital de concurso,
entrevista, etc.
Nossa lista seria infinita...
Marcuschi (2002, p. 29) diz que os gêneros podem ser caracterizados
conforme a atividade sócio-discursiva a que servem e que, quando dominamos
um gênero, dominamos “uma forma de realizar lingüisticamente objetivos espe-
cíficos em situações sociais particulares”. Por isso a importância do estudo de
gêneros diversificados, pois ficamos em contato com variadas formas de inte-
ração social, nas mais diversas práticas cotidianas de comunicação.

Vamos ver a diferença entre gênero e tipo textual. Afinal, gênero e tipo não são a
mesma coisa?

Para Marcuschi (2002), usamos a expressão tipo textual para textos em


que examinamos sua natureza lingüística, ou seja, o léxico, a sintaxe, os
tempos verbais, as relações lógicas, etc. E eles são facilmente classificados.
Conforme o autor, podemos ter os tipos: narração, argumentação, exposição,
descrição e injunção.
Vamos ver os tipos textuais exemplificados.

5.2 Tipologia textual


Os tipos textuais mais utilizados, conforme Werlich citado por Marcuschi
(2002), são as bases temáticas descritiva, narrativa, expositiva, argumentativa
e injuntiva.
Você verá agora teoria e exemplos relacionados à tipologia textual apresen-
tada, conforme Abreu (2004) e Barbosa (2002).

5.2.1 Descrição
Utilizamos essa tipologia para caracterizar algo ou alguém. Isso é possível
por meio do uso dos cinco sentidos (olfato, tato, audição, paladar e visão) e de
sensações psicológicas.
Primeiramente, quando descrevemos, devemos fazer um levantamento senso-
rial (Barbosa, 2002). Os sentidos são explorados em sua totalidade, pois
assim conseguimos transmitir para o interlocutor o máximo de informações para
que ele possa “criar” o objeto em questão.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 71


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

Podemos fazer descrição objetiva (sem interferência de julgamento), ou subjetiva


(como eu penso que é, minha opinião sobre o objeto). Também temos a descrição
física (o que eu vejo) e a psicológica (julgamento de valor sobre o outro).
Um fator interessante na descrição é a determinação do ponto de vista:
de onde você está analisando o objeto? Qual seu lugar na observação? Por
exemplo: você está ao lado do objeto? De frente para ele? Isso é importante
para que o interlocutor tenha mais informações na reconstrução da coisa em
análise. Leia o texto que exemplifica essa tipologia.

(1) A lontra é um mamífero carnívoro e selvagem, cujo habitat é no litoral ou próximo aos
rios e lagos, onde busca alimentos como peixes, crustáceos, répteis e, com menos fre­­
qüência, aves e pequenos mamíferos. É comum o ataque desse animal a cultivo de peixes,
rãs e camarões (Jorge Meneses, Globo Rural, n. 263, p. 32, set. 2007).

Podemos observar que essa é uma descrição em que prevalece a objetivi-


dade. O autor descreveu o modo de vida do animal e não seu aspecto físico.
A descrição é utilizada normalmente como base para outras tipologias,
como a narração e a exposição.

5.2.2 Narração
Podemos considerar a narração como relato de fatos ocorridos. Abreu (2004)
considera que a base da tipologia narrativa dramática está nos plots (unidade
dramática que se compõe de uma situação, uma complicação e uma solução).
Além da formulação dos plots, devemos atentar para a fórmula de Oswald de
Andrade citado por Barbosa (2002), em relação a notícias. Veja qual é a seguir.

3 Q = que, quem, quando


Como, onde e porque

Com essa fórmula, é mais fácil identificarmos a estrutura da narração e seus


componentes.
Mas quem narra um fato? Conforme a intenção do autor, ele escolherá um
tipo de narrador, que pode ser narrador-personagem (primeira pessoa), narra-
dor-observador (terceira pessoa) ou narrador-onisciente (terceira pessoa).
Quando temos um narrador-personagem, quem narra está inserido na história,
podendo ser um personagem principal ou secundário. O narrador-observador

72 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

não interfere nos fatos narrados, pois só expõe o que vê. Já o narrador-onis-
ciente, apesar de não ser um personagem, é um “sabedor de tudo” (BARBOSA,
2002, p. 71), ou seja, sabe até mesmo o que os personagens pensam.
Se você se interessar por essa tipologia textual, há vários outros aspectos
que devem ser levados em consideração, como organização do enredo, apre-
sentação de personagens e tipos de discursos. Recorra à bibliografia indicada.
Vamos analisar um texto.

(2) Cheguei a Phuket, na Tailândia, por volta de 9h, a trabalho. Peguei um táxi e notei que as
pessoas estavam em pé na praia. Elas olhavam o mar, que havia recuado. De repente, vimos
que a enseada começou a se encher de novo. Logo depois, veio uma onda mais alta que
as árvores da orla. Tudo no caminho foi destruído e ficamos ali, perplexos, até que novas
ondas vieram. O hotel, que ficava no alto, virou um refúgio, onde banhistas sangrando, com
membros quebrados, foram buscar ajuda. O som de choro e gritos ficaria em meus ouvidos
por longo tempo (Rick Von Feldt, Aventuras na História, n. 52, p. 17, dez. 2007).

Nesse texto, há um narrador-personagem (“Cheguei a Phuket [...]”) que faz


um relato de fatos ocorridos. Os três Q (que, quem, quando) foram respondidos:
que – a tragédia do tsunami; quem – Rick, presente na tragédia; quando – 9h
da manhã. Os outros itens também: como – o mar recuou e depois a enseada
se encheu, grandes ondas vieram em direção à praia; onde – em Phuket, na
Tailândia; porque – desastre natural. Há enunciados indicativos de ação, por
exemplo, em “Cheguei a Phuket” e “Elas olhavam o mar, que havia recuado”.
Dessa forma, o texto analisado pode ser considerado coerente e, conforme
a estrutura apresentada, narrativo.

5.2.3 Exposição
O tipo expositivo caracteriza-se por identificar fenômenos ou a ligação
entre eles. É utilizado quando o autor quer expor um fato, mas não interfere
com opiniões particulares. Apesar dessa característica, é quase impossível não
deixar transparecer pontos de vista em textos que produzimos, pois a linguagem
é argumentativa. Dizemos, então, que nesse tipo há uma incidência reduzida da
individualidade. Veja o exemplo.

(3) Na Grécia, o Brasil bateu todos os recordes em participações em Olimpíadas. Ao to­­­­


­­
do, estiveram em Atenas 247 atletas do país, competindo em 22 diferentes modalida­­des.
Na maior delegação brasileira na história dos Jogos, sobraram grandes vitórias e derrotas

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 73


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

inesquecíveis, como o Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona, que liderava a prova


quando, a poucos quilômetros do fim, foi atropelado por um padre irlandês trajando o kilt,
a tradicional saia escocesa (Superinteressante, n. 246, p. 18, dez. 2007).

Esse texto expõe um fato sem opinar (explicitamente) sobre o tema abor-
dado, ou seja, mostra a situação do Brasil nas Olimpíadas da Grécia e o que
ocorreu com um dos atletas.
O texto expositivo pode ser utilizado como introdução de um texto argumen-
tativo, como base para futuras discussões.

5.2.4 Argumentação
Em textos argumentativos, estão presentes tema, problema, hipótese, tese
e argumentação. Quanto ao tema e à delimitação (problema), você já estudou
na aula quatro, em que viu o parágrafo e a produção textual. Lá, observou
que, para temas abrangentes, deve haver uma delimitação, ou seja, eleger um
problema para se discorrer.
Após essa etapa, levantam-se as hipóteses, as possíveis respostas ao
problema inicial. Quando a melhor é eleita, tem-se a tese a ser defendida, na
base da qual se constrói a argumentação.
Abreu (2004, p. 49) nos ensina que “a construção prévia de um esquema,
levando em conta as partes da macroestrutura da argumentação e a execução
desse esquema, levará a um grau de coerência textual bastante grande”. Veja
um exemplo de texto argumentativo.

(4) Para voltar a ser uma potência mundial, a China necessita respeitar a propriedade indus-
trial e intelectual e, acima de tudo, respeitar o meio ambiente. A China é o país que mais
executa seres humanos, sob tutela do estado. É a maior fonte de pirataria de produtos
de péssima qualidade exportados para o Ocidente. E, se não bastasse isso, é um dos
maiores poluidores do meio ambiente mundial. Apesar de sua história milenar, esse país de
contrastes aberrantes precisa aprender a conviver com a democracia e com a liberdade,
para que possa ocupar um lugar de liderança mundial (Carlos Seixas de Oliveira, Aventuras
na História, n. 52, p. 6, dez. 2007).

No exemplo dado, percebemos que há um tema (China), uma delimitação


ou problema (a necessidade de respeito, por parte da China, à propriedade
industrial e intelectual e ao meio ambiente), a hipótese que se transformou
em tese (para voltar a ser uma potência mundial, a China precisa de muitos

74 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

ajustes) e a construção da argumentação na defesa da idéia apresentada (a


China é o país que mais executa seres humanos, é a maior fonte de pirataria
de produtos de péssima qualidade e é um dos maiores poluidores do meio
ambiente mundial).
Com esse esquema, alcançamos a coerência textual e somos bem sucedidos
na defesa de nossas idéias.

5.2.5 Injunção
A característica que distingue o tipo injunção dos outros é seu “caráter
normativo, impositivo de mandar ou pedir” (ABREU, 2004, p. 54). Há muitos
gêneros textuais que trazem em si essa tipologia, como oração, normas, leis e
manuais. Veja o exemplo.

(5) Se você desistiu de esperar a situação nos aeroportos melhorar e decidiu colocar o pé
na estrada nestas férias, siga algumas dicas para não estressar. Além da revisão de rotina
no carro, verifique:

Nesse texto, há verbo no imperativo (“verifique”) e determinações como


“devem viajar”, “devem estar”. Essa estrutura evidencia o tom normativo, impo-
sitivo do texto.
Agora que temos a definição de gênero textual e de tipo textual, faremos a
comparação entre eles, conforme Marcuschi (2002).

Quadro Comparação entre os tipos e os gêneros textuais.

Tipos textuais Gêneros textuais


Construções teóricas definidas por Realizações lingüísticas concretas definidas
propriedades lingüísticas próprias. pela situação sociocomunicativa.
Seqüências lingüísticas ou de enun- Textos empiricamente realizados cumprindo
ciados no interior de gêneros. funções em situações comunicativas.
Nomeação limitada determinada por Nomeação ilimitada, determinadas pelo:
aspectos: lexicais, sintáticos, relações canal, estilo, conteúdo, composição e
lógicas, tempo verbal. função.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 75


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

Tipos textuais Gêneros textuais


Exemplos de gêneros: carta, bilhete, receita,
bula de remédio, telefonema, sermão, horós-
copo, lista de compras, resenha, resumo,
Designações: descrição, narração,
cardápio, romance, piada, conferência,
exposição, argumentação, injunção.
bate-papo por computador, outdoor, edital
de concurso, entrevista, reunião de condo-
mínio, instruções de uso, etc.

Saiba mais

Atente para o fato de que, para identificar o gênero, temos de ter em mente,
principalmente, seu propósito, pois assim temos menos chance de cometer equí-
vocos na classificação. Para identificarmos o tipo textual, devemos ver se nas
seqüências predomina a narração, a descrição, a informação, a exposição de
idéias ou a injunção.

Os gêneros textuais são instrumentos que devem ser utilizados na formação


do cidadão de forma abrangente, pois é por meio deles que podemos fazer com
que o indivíduo tenha contato com vários textos orais e escritos que fazem parte
de seu dia-a-dia e, assim, inserirem-se na sociedade letrada.
Tipologia textual diz respeito ao léxico, à sintaxe, aos tempos verbais,
às relações lógicas, etc. É classificada em: descrição, narração, exposição,
argumentação e injunção. Normalmente, utilizamos o tipo descrição quando
queremos que o interlocutor consiga visualizar a coisa descrita por meio dos
sentidos, podendo ser objetiva/subjetiva, física/psicológica. O tipo narração
é usado para narrar um fato ocorrido e é utilizado em vários gêneros textuais,
como novelas, romances, reportagens jornalísticas, etc. Há três tipos básicos
de narradores: narrador-personagem (primeira pessoa); narrador-observador e
narrador-onisciente (terceira pessoa). A exposição é adequada para definições
em que não há a opinião do autor. Já a argumentação é utilizada em muitas
ocasiões cotidianas, tanto na oralidade quanto na escrita. Com esse tipo textual,
expomos e defendemos pontos de vista por meio de argumentos. Finalmente,

76 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

a injunção serve para darmos ordens e fazermos pedidos. Normalmente, utili-


zamos verbos no imperativo nesse tipo textual.
Não se esqueça de que, na maioria dos gêneros textuais, há presença de
variados tipos textuais, sobressaindo-se um ou outro. A distinção entre tipo textual
(classificação limitada e definida por aspectos lingüísticos) e gênero textual
(classificação ilimitada e feita por meio da função na prática social) deve estar
clara para compreender textos e escolher o melhor tipo de composição para a
produção textual, conforme os objetivos estabelecidos.

Leia o texto e responda às questões um e dois.

GOSTOSA
O apresentador do programa “Altas Horas” (Rede Globo) Sérgio Groismann não diz
em qual sentido o termo ‘gostosa’ ganhou sua preferência, mas faz o elogio regrado da
‘plasticidade’ da palavra.
– Aprecio a sonoridade da palavra e a variedade de aplicações que podemos ter
dela – afirma o apresentador.
‘Gostosa’ é uma palavra que, no português escrito, é contemporânea do descobri-
mento (ou invasão, se você preferir) do Brasil. É derivado do latim gustus (paladar, sabor).
Tem o sentido de saboroso, mas do sabor que se sente pela degustação do paladar derivou
o sentido figurado de degustar toda uma forma. Cícero já usava ‘gosto’ no sentido de
modus, estilo, forma.
Formas saborosas ou apetitosas seria uma idéia aplicada pelo brasileiro como evidente
‘canibalismo’ lingüístico – a pessoa de contornos palatáveis aos olhos é, por extensão
semântica, ‘gostosa’. E gosto, como se sabe, nem sempre se discute (Língua Portuguesa,
ano I, n. 2, 2005, p. 47).

1. Estudamos, nesta aula, que o gênero pode ser classificado conforme a fina-
lidade a que se destina na interação social. Analise o texto Gostosa, identi-
fique sua finalidade e indique a que gênero pode pertencer.

2. Em seguida, observe o texto e identifique nele o(s) tipo(s) textual(is) presente(s).

3. Relacione os itens a seguir.


(1) Gênero textual
(2) Tipologia textual

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 77


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

( ) Textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações


comunicativas.
( ) Construções teóricas definidas por propriedades lingüísticas próprias.
( ) Exemplos: bula de remédio, telefonema, sermão, horóscopo, lista de
compras.
( ) Nomeação limitada determinada por aspectos: lexicais, sintáticos, rela-
ções lógicas, tempo verbal.
( ) Realizações lingüísticas concretas definidas pela situação socioco­­
municativa.
( ) Nomeação ilimitada, determinada pelo: canal, estilo, conteúdo, com­­
posição e função.
( ) Designações: descrição, narração, exposição, argumentação, in­­jun­­­ção.

Leia o texto a seguir e responda ao que se pede na questão quatro.

Em 1972, por 70 dias, os sobreviventes da queda de um Fairchild F-227 uruguaio foram


submetidos ao frio e à fome extrema. Das 40 pessoas a bordo, pelo menos dez morreram
quando a aeronave caiu na cordilheira dos Andes. Outras ficaram severamente feridas.
O pequeno estoque de comida do serviço de bordo logo acabou e o grupo passou
cerca de dois meses no fundo de um desfiladeiro, a 4 mil metros de altura. Foi então que
dois deles resolveram sair em busca de socorro. Depois de caminhar por quilômetros, a
dupla conseguiu fazer contato com a civilização e todos foram resgatados. Dezesseis,
ao todo, haviam resistido. Barbudos e maltrapilhos, explicavam que haviam se alimen-
tado de ervas colhidas no local. Mas a verdade logo veio à tona. Eles haviam comido
a carne dos companheiros mortos. A história ficou famosa. Virou livro, depois filme
(“Sobrevivente dos Andes”, de 1976, e “Vivos”, de 1993) (Aventuras na História, n. 52,
p. 49, dez. 2007).

4. Em relação ao gênero e à(s) tipologia(s) textual(is) presente(s) no texto lido,


marque a opção incorreta.
a) No texto, predomina o tipo narrativo, pois narra um fato ocorrido, ou
seja, um acidente de avião e o que aconteceu aos seus passageiros.
b) “Barbudos e maltrapilhos” pode ser considerado um trecho descritivo.
c) O trecho “Mas a verdade veio à tona. [...] Virou livro, depois filme
(“Sobrevivente dos Andes”, de 1976, e “Vivos”, de 1993)” pode ser
classificado como exposição.

78 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

d) Levando-se em consideração de onde o trecho foi retirado, a linguagem


utilizada e a finalidade do texto, podemos dizer que pertence ao gênero
textual artigo científico.

Com as atividades sugeridas, você poderá verificar se atingiu os objetivos


propostos de distinguir tipologia de gêneros textuais e de identificar gênero e
tipologia textual em textos diversos.
Na primeira atividade, se levarmos em conta o veículo utilizado (revista), o
conteúdo do texto e o nível de linguagem, podemos acreditar que a produção
textual tem a finalidade de entretenimento e informação, pois discorre sobre
uma curiosidade sobre a palavra “gostosa”. Por meio do estabelecimento da
finalidade, concluímos que o gênero textual presente é um artigo de revista.
Para resolver a atividade dois, você atentou para a tipologia textual. No
texto, predomina o tipo expositivo, pois quase todo conteúdo expõe a opinião
de Sérgio Groismann sobre a palavra “gostosa” e a define. No último período,
há uma argumentação, quando o autor do texto declara que “E gosto, como se
sabe, nem sempre se discute”.
A resposta correta para a atividade três é a seqüência 1, 2, 1, 2, 1, 1, 2.
As afirmações relacionadas ao gênero textual são: textos empiricamente reali-
zados cumprindo funções em situações comunicativas; exemplos: bula de
remédio, telefonema, sermão, horóscopo, lista de compras; realizações lingü-
ísticas concretas definidas pela situação sociocomunicativa; e nomeação ilimi-
tada, determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição e função. Os
aspectos relacionados à tipologia textual são: construções teóricas definidas
por propriedades lingüísticas próprias; nomeação limitada determinada por
aspectos: lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal; e designações
como: descrição, narração, exposição, argumentação, injunção. Esse conteúdo
pode ser verificado no quadro comparativo entre gêneros e tipos textuais, no
final desta aula.
Na atividade quatro, a assertiva incorreta é a (d), pois o gênero a que o
texto pertence não é um artigo científico, e sim um artigo de revista, com finali-
dade de entretenimento. As opções (a), (b) e (c) estão corretas no que afirmam.

ABREU, A. S. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2004.


BALTAR, M. A. Competência discursiva e gêneros textuais: uma experiência com
o jornal de sala de aula. Caxias do Sul: EDUCS, 2004.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 79


Aula 5 • LÍNGUA PORTUGUESA

BARBOSA, S. A. M. Redação: escrever é desvendar o mundo. 15. ed. Campinas:


Papirus, 2002.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO,
A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gêneros textuais e ensino.
2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. 5. ed. São Paulo: Contexto,
2001.

Além de conhecer aspectos relacionados à coesão, à coerência e à para-


grafação, você também tem de saber argumentar com propriedade! Agora,
vamos nos dedicar à importância da leitura e da argumentação.

Anotações

80 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

Aula 6
Compreender e argumentar

Já é coisa sabida que o mais importante não são


as informações em si, mas o ato de transformá-las
em conhecimento. As informações são os tijolos e o
conhecimento é o edifício que construímos com eles.
(Antônio Suárez Abreu)

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


• reconhecer a importância das estratégias de leitura para a compreensão
de textos;
• distinguir persuasão de convencimento na arte de argumentar.

Para o acompanhamento desta aula, é imprescindível que você tenha


lido o livro indicado, A arte de argumentar, pois sem a leitura prévia não há
como discutir os principais aspectos apontados pelo autor. Além disso, quando
deixamos que outro interprete, compreenda “por nós”, corremos o risco de só
conhecermos o que o outro tem interesse que saibamos... Não leia pelos “olhos
de outrem”, como aconselha Martins (1994), leia com seus olhos e chegue às
suas próprias conclusões.

Nesta aula, discutiremos o ato de ler e o livro A arte de argumentar:


gerenciando razão e emoção, de Antônio Suárez Abreu (2006). Veremos,
primeiramente, aspectos relacionados à compreensão da leitura, aos posi-
cionamentos do leitor frente aos textos e às estratégias que podemos utilizar
nessa tarefa; depois, estudaremos como argumentar sem perder de vista o
comportamento ético.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 81


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

6.1 Aspectos que interferem na leitura


Para começar a discussão sobre leitura, você deve saber que a atividade de
leitura não é somente visual. Para conseguirmos compreender um texto, devemos,
além das informações visuais (IV), já termos armazenadas em nossa memória as
informações não-visuais (InV).

Saiba mais

Assim, para que a leitura, entendida como interpretação e compreensão de


textos, realize-se, é necessário utilizarmos as duas formas de informação: IV + InV.
Vamos analisar o enunciado a seguir.

O novo emprego de Maria exige que ela viaje muito. Ela está pensando em trocar de carro.

Temos, no exemplo dado, IV e InV.


As IV são as letras: “O novo emprego de Maria exige que ela viaje muito.
Ela está pensando em trocar de carro”.
As InV são várias, como a informação de mundo de que quem viaja muito
precisa ter um bom carro; de que o carro de Maria, para que precise ser trocado,
deva ser um carro mais antigo, ou que não esteja com o motor bom. Também são
as informações prévias sobre a língua portuguesa, ou seja, o que significa cada
signo, cada letra, regras de pontuação, etc.
A que conclusão chegamos, então? Chegamos à conclusão de que a leitura
é a interação entre IV e InV. E, quanto mais InV tivermos, de menos IV precisamos
para realizar a atividade de leitura.
Fulgêncio e Liberato (2003) citam que há pesquisas demonstrando que
nossos olhos captam uma informação visual muito mais rápido do que nosso
cérebro pode processar, por isso a importância de utilizarmos as informações
não-visuais no processo de leitura. Então, para ler, nosso cérebro não precisa
ver tudo o que está impresso no papel. Assim é imprescindível que o cérebro
faça uso da InV para não gastar muito tempo na leitura, pois isso dificultaria a
compreensão do texto.

82 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

Como isso pode ocorrer? Se nossa leitura for muito lenta, podemos ter mais dificuldade
em compreendermos um texto? A resposta é sim!

Fulgêncio e Liberato (2003) asseveram que, quando o cérebro recebe uma


informação visual, esta é posta na memória de curto termo (MCT), até que se dê
significado a ela. Quando isso ocorre, a informação é passada para a memória
de longo termo (MLT). Nesse processo, a informação literal é recodificada e é
enviado para a MLT somente o conteúdo semântico, ou seja, as letras (informação
literal) são reinterpretadas, e o significado que elas trazem, armazenado.
Dessa forma, se demorarmos para “juntar” as letras e dar sentido a elas,
as informações se perdem no percurso da MCT para a MLT, e não conseguimos
compreender o que lemos. Por isso a importância das previsões e inferências no
processo de leitura. Vamos nos aprofundar nesses aspectos?

6.1.1 Previsões e inferências


A compreensão de textos, como afirma Kleiman (2004), é um processo com­­
plexo em que interagem diversos fatores como conhecimentos lingüísticos, conhe-
cimento prévio a respeito do assunto do texto, conhecimento geral a respeito do
mundo, motivação e interesse na leitura, entre outros. A autora acrescenta que
a compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela
utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que
ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É
mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o
conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que
o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza
justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si,
a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com
segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do
leitor não haverá compreensão (KLEIMAN, 2004, p. 13).

A compreensão da linguagem é, então, um verdadeiro jogo entre aquilo


que está explícito no texto (que é em parte percebido, em parte previsto) e
entre aquilo que o leitor insere no texto por conta própria, a partir de previsões,
inferências que faz, baseado no seu conhecimento do mundo. E, dentro desse
conhecimento de mundo, insere-se o conhecimento lingüístico.

Conhecimento lingüístico é o conhecimento que faz com que o indivíduo fale uma língua
como falante nativo, o conhecimento sobre o uso da língua.

Conhecimento de mundo é uma espécie de dicionário enciclopédico do mundo e da cultura,


armazenado na memória.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 83


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

Vimos como funciona o sistema visual e que não lemos todas as letras das
palavras para compreendermos os textos. Veja que interessante o texto que
segue. Você consegue compreender o que foi escrito?

Qaudno leoms noã exneragmos tdoas as lteras, pios nsoso sitsema viusal lê mias raidpa-
emnte do qeu nsoso céerbro pdoe procsesar. Asism, se tievrmos a priemira e ulitma ltera
da pavlara, as ourtas poedm etsar troacdas que a enntedeermos. Icnríevl, noã?

A maioria dos falantes da língua consegue fazer a leitura e compreendê-la


porque tem as informações lingüísticas básicas (InV) que possibilitam fazer as
previsões e inferências e utiliza seu conhecimento de mundo, que ajuda na
compreensão do texto. Além desses conhecimentos, é fundamental que se esta-
beleça um objetivo para a leitura.

6.2 A Leitura e seus objetivos


Para Charmeux (1992), ler é uma atividade-meio que deve servir ao projeto
que a provoca. Em outras palavras, um bom leitor utiliza a leitura para um deter-
minado fim. Assim ela será eficaz se realizar o projeto que a originou.
Vejamos alguns objetivos e, após, os tipos de leitura que podem se rela-
cionar a eles.

Objetivos:
• por prazer
• para obter informações
• para estudar
• para seguir instruções
• para comunicar
• para revisar um texto
Tipos de leitura:
• com atenção
• sublinhando
• corrigindo
• sem comprometimento, etc.

Assim também poderemos escolher um procedimento estratégico para a


leitura, como veremos no próximo item desta aula.

84 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

6.3 Estratégias de leitura


Quando lemos o livro A arte de argumentar, de Antônio Suárez Abreu,
vimos o quão importante é a leitura para podermos gerenciar informações nos
dias de hoje. Garcez (2002, p. 23) acrescenta a essa idéia que “a leitura é a
forma primordial de enriquecimento da memória, do senso crítico e do conheci-
mento sobre os diversos assuntos acerca dos quais se pode escrever”.
Seguindo esse raciocínio, Paulo Freire citado por Garcez (2002) acrescenta
que estudar, conseqüentemente ler, é um trabalho difícil, pois exige disciplina
intelectual e postura crítica, sistemática, só conseguidas com a prática. Para
Freire, o ato de estudar e o de ler requer de quem a eles se dedica muitas
posturas. Analise-as a seguir.
a) Que assuma o papel de sujeito desse ato.
Só tendo uma atitude crítica diante do texto é possível perceber o condi-
cionamento histórico-sociológico do conhecimento e buscar as relações
entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento.
Um texto estará estudado se voltarmos a ele.
b) Que tenha uma atividade de indagação frente ao mundo.
Os livros refletem o enfrentamento de seus autores com o mundo, por
isso quem estuda precisa assumir uma atitude curiosa de quem pergunta,
de quem indaga e de quem busca, não só diante do texto, mas diante
do mundo.
c) Que leia leituras afins.
O estudo e a leitura de um tema específico exigem que o estudante se
ponha a par da bibliografia que se refere ao tema.
d) Que dialogue com o autor do texto.
Para isso, é necessária a percepção de seu condicionamento histórico-
sociológico e ideológico, que nem sempre é o mesmo do leitor.
e) Que tenha humildade.
Muitas vezes é difícil encontrar a significação profunda de um texto. É
preciso ter humildade, reconhecer que é necessário instrumentalizar-se
melhor para voltar ao texto em condições de entendê-lo.
Mas, mesmo assim, às vezes, continuamos com dificuldades que se apre-
sentam na hora da leitura de textos diversos. O que fazer? Vamos ver algumas
idéias expostas por Garcez (2002) para facilitar a leitura. Iremos, agora,
concentrar-nos em alguns procedimentos estratégicos de leitura.

6.3.1 Procedimentos estratégicos de leitura


Conforme o objetivo que estabelecemos, elegemos um tipo de leitura: com
atenção, sublinhando, corrigindo, sem comprometimento, etc. Assim também

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 85


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

podemos escolher um procedimento estratégico para a leitura, como mostra


Garcez (2002).

Procedimentos estratégicos de leitura:


• estabelecer um objetivo claro;
• identificar e sublinhar com lápis as palavras-chave;
• tomar notas e estudar o vocabulário;
• destacar divisões do texto para agrupá-las posteriormente;
• perceber a intertextualidade;
• monitorar e concentrar-se: fidelidade ao planejamento, detecção de erros no
processo de leitura, ajuste de velocidade, tolerância e paciência.

Então você já sabe: há muitos aspectos que interferem na leitura e, depois


de estabelecer um objetivo, você deve eleger uma estratégia mais adequada
para cada situação.
Vamos analisar algumas questões sobre argumentação contidas na obra A
arte de argumentar: gerenciando razão e emoção, de Antônio Suárez Abreu.

6.4 Argumentação: convencimento e persuasão


A argumentação faz parte de nossa vida, seja no âmbito familiar, social ou
profissional. Você leu a obra de Antônio Suárez Abreu (2006) e deve ter visto
como aprender argumentar é importante para nós. Vamos, agora, discutir alguns
pontos eleitos. Mas você não deve se ater a eles somente! A obra deve ter sido
lida por completo!
a) Por que aprender a argumentar?
Antônio Suárez Abreu (2006) inicia a obra declarando que sua intenção
é convencer as pessoas de que não adianta ser inteligente, poliglota, ter
boa formação se não tiver habilidade de relacionamento interpessoal,
de compreender e comunicar idéias. O autor acrescenta que “saber
argumentar é, em primeiro lugar, saber integrar-se ao universo do outro.
É também obter aquilo que queremos, mas de modo cooperativo e cons-
trutivo, traduzindo nossa verdade dentro da verdade do outro” (ABREU,
2006, p. 10).
b) Gerenciando informação
Sobre o gerenciamento de informações, o autor expõe quatro pontos
principais para os quais devemos atentar: transformar as informações
em conhecimento, cuidar para que a cultura de massa não alinhe pontos
de vista e manipule informações, adicionar ao nosso repertório massa

86 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

crítica para fazermos leitura seletiva da mídia e construirmos nosso


conhecimento. O quarto ponto seria que,
por meio da leitura, podemos [...] realizar o saudável exercício
de conhecer as pessoas e as coisas, sem limites no espaço e no
tempo. Descobrimos, também, uma outra maneira de transformar
o mundo, pela transformação de nossa própria mente. Isso acon-
tece quando nós adquirimos a capacidade de ver os mesmos
panoramas com novos olhos (ABREU, 2006, p. 14).

c) Gerenciando relação
Nessa seção, o autor afirma que, em um futuro próximo, estaremos na
área de serviços, conseqüentemente, teremos de ter um bom gerencia-
mento de relação. Abreu (2006) acredita que temos medo de nos rela-
cionarmos em nível pessoal e acredita que “nunca estamos diante de
pessoas prontas e também não somos pessoas prontas” (ABREU, 2006,
p. 20). O autor acrescenta que “conseguimos diminuir a distância que
nos separa das partes mais longínquas do mundo, por meio da aviação
a jato, da tevê a cabo, da Internet, mas não conseguimos diminuir a
distância que nos separa do nosso próximo” (ABREU, 2006, p. 19).
Hoje, ao se levantar, você disse “bom dia” para as pessoas que moram
com você? Ou saiu “batendo portas”? Pense nisso!
d) Argumentar, convencer, persuadir
O autor critica algumas definições de argumentar, como a que considera
que essa ação seja “vencer o outro”. Para ele, “argumentar é a arte
de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é
falar à razão do outro, demonstrando, provando. [...]. Persuadir é saber
gerenciar relação, é falar à emoção do outro” (ABREU, 2006, p. 25).
e) Condições da argumentação
Aqui, Abreu define as quatro condições essenciais da argumentação.
Em suas palavras,
a primeira condição da argumentação é ter definida uma tese
e saber para que tipo de problema essa tese é a resposta. [...]
A segunda condição da argumentação é ter uma “linguagem
comum” com o auditório. [...] A terceira condição da argumen-
tação é ter um contato positivo com o auditório, com o outro. [...]
Finalmente, a quarta condição e a mais importante delas: agir de
forma ética (ABREU, 2006, p. 37-40).

Você pôde observar que, para o autor, o principal ponto da argumen-


tação está na ética, em agir corretamente com o próximo, sem medo de
revelar os verdadeiros propósitos e intenções.
f) O auditório
O autor nos ensina que “o auditório é o conjunto de pessoas que
queremos convencer e persuadir. [...] É preciso não confundir interlo-

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 87


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

cutor com auditório” (ABREU, 2006, p. 42). Ele divide o auditório em


universal (não temos controle das variáveis) e particular (controlamos
as variáveis), chamando a atenção para o fato de que não devemos
demonstrar pontos de vista no auditório particular que não sejam defen-
sáveis dentro de um auditório universal.
g) Convencendo as pessoas
Para convencer as pessoas, o autor aconselha que não devemos propor
nossa tese de imediato; devemos, primeiro, propor a tese de “adesão
inicial”, fundamentada naquilo que é real ou normal para o auditório.
h) As técnicas argumentativas
Abreu (2006, p. 50) define técnicas argumentativas como
[...] os fundamentos que estabelecem a ligação entre as teses de
adesão inicial e a tese principal. Essas técnicas compreendem
dois grupos principais: os argumentos quase lógicos e os argu-
mentos fundamentados na estrutura do real.

Os argumentos quase lógicos são: compatibilidade e incompatibilidade,


regra de justiça, retorsão, ridículo, definição (lógica, expressiva, norma-
tiva e etimológica). Os argumentos baseados na estrutura do real são:
pragmático, do desperdício, pelo exemplo, pelo modelo ou anti-modelo
e pela analogia.
i) Dando visibilidade aos argumentos
Abreu (2006, p. 68) define que “recursos de presença são procedi-
mentos que têm por objetivo ilustrar a tese que queremos defender”. O
autor acredita que o melhor recurso são as histórias e nos aconselha a
sempre agregá-las aos argumentos.
j) Persuadindo as pessoas
A preocupação com aquilo que desejamos deve ser secundária: primeiro
devemos saber o que o outro ganhará ao fazer o que queremos. Assim
Abreu (2006, p. 72) afirma que “a primeira lição de persuasão que
temos a aprender é educar nossa sensibilidade para os valores do
outro”. Além disso, o autor acrescenta que devemos saber previamente
os verdadeiros valores do nosso interlocutor (auditório).
k) As hierarquias de valores
Primeiramente, não devemos rejeitar um valor do auditório, pois isso é
mortal para a persuasão. Devemos também atentar para o fato de que “as
hierarquias de valores variam de pessoa para pessoa, em função da cultura,
das ideologias e da própria história pessoal” (ABREU, 2006, p. 77). O que
podemos fazer é re-hierarquizar os valores por meio do lugar de quanti-
dade, de qualidade, de ordem, de essência, de pessoa, do existente.

88 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


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l) Afinal de contas, o que é argumentar?


Por fim, Abreu (2006, p. 93) define que
argumentar é, em primeiro lugar, convencer, ou seja, vencer junto
com o outro, caminhando ao seu lado, utilizando, com ética, as
técnicas argumentativas, para remover os obstáculos que impedem
o consenso. Argumentar é também saber persuadir, preocupar-se
em ver o outro por inteiro, ouvi-lo, entender suas necessidades,
sensibilizar-se com seus sonhos e emoções.

Dessa forma, vemos que não basta vencer o outro, é necessário que, com
ética, se vença “com o outro”, respeitando seus valores e cientes de que o outro
também ganhe com aquilo que ganhamos.
Quanta informação interessante! Você viu que argumentar não é tão simples
assim... Há questões que devemos levar em conta para não ser antiético e
aprender a “vencer com o outro”. Ponha em prática o que aprendeu!

É muito importante você compreender o enorme serviço desempenhado pela


leitura para o progresso e enriquecimento da escrita. Tivemos a oportunidade de
ver, nesta aula, alguns recursos simples que nos permitem, de maneira singela,
aumentar e aprimorar nossos conhecimentos de mundo e nosso senso crítico,
instrumentos indispensáveis na construção do texto.
Você aprendeu também que, para fazermos uma boa leitura, usamos as IV e
as InV. Isso é necessário porque o sistema visual não funciona como pensamos,
por isso devemos selecionar o que vamos ler para que o cérebro possa processar
e armazenar as informações na MLT.
As previsões e inferências são fundamentais no processo de leitura. E, para
que a leitura faça sentido em nossa vida, devemos estabelecer objetivos e metas
antes de realizá-la.
A arte de argumentar foi vista tendo por base o livro de Antônio Suárez
Abreu. O foco principal da obra é constituído por dois elementos: convencer e
persuadir. O autor expõe que o convencimento se baseia na razão, e a persu-
asão trabalha com a emoção. Esses elementos são fundamentais para a argu-
mentação com ética e responsabilidade.

1. Em muitos estudos e pesquisas realizados sobre as competências e habili-


dades que devemos ter para atingirmos o sucesso pessoal e profissional,
sempre estão marcadamente presentes, segundo Antônio Suárez Abreu
(2006, p. 11), as capacidades do “gerenciamento da informação por meio

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 89


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

da comunicação oral e escrita, ou seja, a capacidade de ler, falar e escrever


bem”. A respeito dessa informação, e tendo como base o material estudado
e as discussões das aulas, assinale a alternativa correta sobre nossa capaci-
dade de atingir as habilidades de ler, falar e escrever bem.
a) Escrever é um dom que poucas pessoas têm. Mesmo que nos esfor-
cemos, não conseguiremos escrever bem se não tivermos esse dom.
b) A leitura e a escrita são atos espontâneos que não exigem empenho de
quem os pratica.
c) Ler, falar e escrever não são atos autônomos, desligados das práticas
sociais. Estão inseridos na nossa vida, em qualquer circunstância, seja
pessoal ou profissional. Por isso devemos desenvolver essas habilidades,
para atuarmos de fato social e profissionalmente.
d) Escrever é um ato desligado, desvinculado da leitura e desnecessário no
mundo moderno, cheio de novas tecnologias.

2. Segundo os teóricos estudados nesta aula, é importante observarmos que


I. a leitura de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de
conhecimento prévio, como conhecimento lingüístico, textual e de mundo.
II. a leitura é uma forma primordial de enriquecimento da memória, do
senso crítico e do conhecimento sobre os diversos assuntos acerca dos
quais se pode escrever.
III. a leitura é a interação entre informações visuais e não-visuais e, quanto
mais informações não-visuais tivermos, de menos informações visuais
precisaremos para realizar a atividade de leitura.
IV. não é necessário, para realizarmos uma boa leitura, estabelecermos
objetivos, pois a leitura, assim como qualquer outra atividade humana,
não precisa de metas.
Marque a alternativa correta quanto aos itens analisados nesta questão.
a) Somente o item I é verdadeiro.
b) Somente os itens II, III e IV são verdadeiros.
c) Somente os itens I, II e III são verdadeiros.
d) Todos os itens são verdadeiros.

3. Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira. Paulo Freire citado


por Garcez (2002) afirma que estudar, conseqüentemente ler, é um trabalho
difícil, pois exige disciplina intelectual e postura crítica e sistemática, só
conseguidas com a prática. O autor afirma que essa postura crítica é funda-
mental e tem como objetivo apropriar-se da significação profunda de um
texto. Para ele, o ato de estudar e ler requer de quem a eles se dedica

90 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

(1) que assuma o papel de sujeito desse ato, porque...


(2) que tenha uma atividade de indagação frente ao mundo, porque...
(3) que faça leituras afins, porque...
(4) que dialogue com o autor do texto, porque...
(5) que tenha humildade, porque...

( ) os livros refletem o enfrentamento de seus autores com o mundo, por isso


quem estuda precisa assumir uma atitude curiosa de quem pergunta, de
quem indaga e de quem busca.
( ) só tendo uma atitude crítica diante do texto é possível perceber o condi-
cionamento histórico-sociológico do conhecimento e buscar as relações
entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento.
( ) o estudo e a leitura de um tema específico exigem que o estudante se
ponha a par da bibliografia a que se refere o tema.
( ) é preciso ter humildade quando não compreendemos determinados
textos e reconhecer que é necessário instrumentalizar-se melhor para
voltar ao texto em condições de entendê-lo.
( ) é necessária a percepção de seu condicionamento histórico-sociológico
e ideológico, que nem sempre é o mesmo do leitor.

A ordem correta é:
a) 1, 3, 4, 2, 5 c) 3, 4, 1, 5, 2
b) 2, 1, 3, 5, 4 d) 4, 3, 5, 2, 1

4. Compare, com suas palavras, o ato de convencer e o ato de persuadir. Em


seu texto, procure citar as principais características de cada ato e utilize as
formas de parágrafos estudados na aula quatro deste caderno.

Para atingir os objetivos de reconhecer a importância das estratégias de


leitura para a compreensão de textos e distinguir a persuasão do convencimento
na arte de argumentar, você deve ter resolvido as atividades propostas. Veja se
compreendeu o conteúdo e se acertou as respostas.
Na primeira atividade, a resposta correta é a opção (c). As atividades de
ler, falar e escrever são indissociáveis e ocorrem nas práticas sociais. As opções
(a), (b) e (d) estão equivocadas porque, em (a), todos podem desenvolver a
habilidade de escrita, o treino e a persistência que importam; em (b), a leitura
e a escrita não são atos espontâneos, precisamos nos empenhar para alcançar

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 91


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

essas habilidades; e, em (d), a leitura está intimamente ligada à escrita e esta é


fundamental no mundo moderno.
Na segunda atividade, a resposta correta é a assertiva (c). Vejamos: em (I),
a afirmação feita é verdadeira, pois a inferência e a previsão são essenciais na
concretização da leitura; em (II), a afirmação também é verdadeira, porque a
leitura influencia sobremaneira nosso modo de escrever, além de ajudar a desen-
volver a memória e o pensamento crítico; a assertiva (III) é verdadeira, porque
as IV e InV são a base da leitura. Quanto mais informações externas aos textos
tivermos, menos precisaremos nos fixar nos códigos, nas palavras para compre-
endê-los; e, por fim, somente a (IV) é falsa, pois os objetivos são necessários
para que a leitura seja proveitosa. Ler sem ter metas faz com que não tenhamos
definidas as estratégias que nos auxiliam na compreensão de textos.
Na atividade três, a seqüência correta é a da alternativa (b). Isso se justifica
pela coerência entre a primeira informação dada e a continuidade do tema na
segunda informação. Vejamos: (1) que assuma o papel de sujeito desse ato,
porque... só tendo uma atitude crítica diante do texto é possível perceber o
condicionamento histórico-sociológico do conhecimento e buscar as relações
entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento; (2) que
tenha uma atividade de indagação diante do mundo, porque... os livros refletem
o enfrentamento de seus autores com o mundo, por isso quem estuda precisa
assumir uma atitude curiosa de quem pergunta, de quem indaga e de quem
busca; (3) que leia leituras afins, porque... o estudo e a leitura de um tema espe-
cífico exigem que o estudante se ponha a par da bibliografia a que se refere o
tema; (4) que dialogue com o autor do texto, porque... é necessária a percepção
de seu condicionamento histórico-sociológico e ideológico, que nem sempre é
o mesmo do leitor; (5) que tenha humildade, porque... é preciso ter humildade
quando não compreendemos determinados textos e reconhecer que é necessário
instrumentalizar-se melhor para voltar ao texto em condições de entendê-lo.
Quanto à atividade quatro, a principal diferença entre convencer e persu-
adir consiste no foco da atenção: para convencer, trabalhamos com a razão,
com o raciocínio lógico do interlocutor; já na persuasão, o foco é a emoção, o
lado sentimental do interlocutor. Outra diferença está no fato de que, no primeiro
caso, a pessoa pode concordar com nossas idéias, mas não agir conforme espe-
ramos; no segundo, levamos a pessoa a agir conforme as expectativas, mas
podemos não a convencer de que estamos certos.

ABREU, A. S. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 9. ed. Cotia:


Ateliê Editorial, 2006.

92 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

CHARMEUX, E. Como fomentar los habitos de lectura. Barcelona: Edições CEAC,


1992.
FULGÊNCIO, L.; LIBERATO, Y. G. Como facilitar a leitura. 7. ed. São Paulo:
Contexto, 2003.
GARCEZ, L. H. C. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem escrever.
São Paulo: Martins Fontes, 2002.
KLEIMAN, A. B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Belo Horizonte:
Pontes, 2004.
MARTINS, M. H. O que é leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Quando devo utilizar “por quê”? Quando não posso usar “eu”? Qual é a
diferença entre “se não” e “senão”? Na última aula, você terá a oportunidade
de tirar muitas dúvidas em relação ao uso da língua padrão no seu cotidiano.

Anotações

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 93


Aula 6 • LÍNGUA PORTUGUESA

94 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

Aula 7
Dificuldades mais freqüentes
no uso da língua padrão

Sofisticado é usar o cujo como manda o figurino. [...]


Requintado, impõe três regras para ser empregado.
São exigências simples. Para entendê-las, basta
manter as antenas ligadas e a preguiça adormecida
em berço esplêndido.
(Dad Squarisi)

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


• utilizar adequadamente os porquês; este/esse/aquele; onde/aonde;
os verbos no particípio; mal/mau; a/há/ah; senão/se não; mas/más/
mais; acerca de/a cerca de/cerca de/há cerca de; todo/todo o; sobre/
sob; trás/traz; eu/mim.

O estudo gramatical da língua estrutura-se no conhecimento de regras


associadas aos fatos lingüísticos. Assim você trabalhará com sua capacidade
de assimilação e aplicação dessas regras. Portanto, mais uma vez, queremos
que você ative seu conhecimento de mundo, utilize inferências e previsões
para compreender mais facilmente as regras que, de uma forma ou de outra,
precisamos saber.

Os estudos a que nos propusemos para esta disciplina estão intimamente


ligados à linguagem, principalmente à produção textual. Esta aula apresenta
a você orientações sobre aspectos gerais da língua culta. É uma oportunidade
de aperfeiçoar seu desempenho no emprego apropriado de expressões que
normalmente geram dúvidas na hora da fala ou da escrita de um texto, como
o emprego de: por que/porque/porquê/por quê; este/esse/aquele; onde/

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 95


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

aonde; os verbos no particípio; mal/mau; a/há/ah; senão/se não; mas/más/


mais; acerca de/a cerca de/cerca de/há cerca de; todo/todo o; sobre/sob;
trás/traz; eu/mim.
Lembre-se de que regras não nos transformam em bons leitores ou escritores,
mas ajudam a desenvolver a leitura e a escrita.

Para facilitar nossos estudos, já que nesta aula trabalharemos com regras, as atividades
relacionadas a cada item virão imediatamente após a teoria dada.

7.1 Uso dos porquês


Quando você está escrevendo seu texto, tem dúvidas quanto ao uso dos
porquês: é junto ou separado, com acento ou sem acento? Vamos tirar as dúvidas
agora? Quando estiver fazendo seu texto e tiver de usar um porquê, lembre-se
das regras que estudaremos a seguir.
a) Por que: você pode usá-lo em três casos. Você lembra quais são eles?
• Em perguntas (menos no final).

Por que precisamos ler tanto?

• Quando puder trocar por pelo(s) qual(is), pela(s) qual(is).

Não sei a razão por que (pela qual) precisamos ler tanto.

• Quando puder colocar depois dele uma destas palavras: razão, causa
ou motivo.

Quero saber por que (razão) precisamos ler tanto.

b) Por quê: você pode usá-lo em finais de frases, ou seja, quando ele for a
última palavra da frase.

Precisamos ler tanto por quê?

96 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

c) Porque: você vai empregá-lo em duas ocasiões. Vejamos.


• Em respostas

Precisamos ler tanto, porque, por meio da leitura, adquirimos bagagem para fazer
bons textos.

• Na indicação de causa, de explicação

A leitura é importante, porque nos oferece uma visão mais ampla da realidade do mundo.

Nas duas ocasiões, você pode substituir porque por pois.

A leitura é importante, pois nos oferece uma visão mais ampla da realidade do mundo.

d) Porquê: você usará essa forma quando for substantivo. Como saber se ele
é ou não é substantivo? Ele será substantivo se estiver antecedido de artigo,
numeral ou pronome.

Queria saber o porquê de tanta leitura que nos é solicitada.

Vamos colocar em prática as regras que acabamos de aprender?

1. Analise bem cada trecho a seguir e preencha os espaços com os porquês


adequados.
a) ........ o nosso país ainda não figura como uma das maiores e mais
respeitadas potências dentro do cenário mundial? (Globo Rural, n.
265, nov. 2007).
b) Tento me cadastrar no Passaporte e não consigo. ........ ? Se você digita
seu e-mail, escolhe a seleção não sou cadastrado e a tela de cadastro
não se abre: é possível que você já tenha se cadastrado anteriormente
e não se lembra (Disponível em: <http://historia.abril.com.br>. Acesso
em: 30 nov. 2007).

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 97


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

c) ........ muitas vezes reagimos de maneira que não sabemos explicar? ........
somos assim? ........ seguimos nossos instintos, uma herança primitiva que
carregamos desde os tempos dos homens das cavernas (Disponível em:
<http://www.submarino.com.br>. Acesso em: 30 nov. 2007).
d) O homicida viola os direitos humanos ......... é bandido, criminoso [...]
(Veja, n. 1958, 31 maio 2006).

2. Leia os dois trechos a seguir e examine se os porquês estão empregados


adequadamente. Se houver algum problema, justifique-o.
a) Os banhos são uma tradição milenar, sejam eles públicos ou privados,
sagrados ou profanos. Entenda porque algumas civilizações celebraram
ou amaldiçoaram o ato de se lavar em nome da religião, da beleza e
da saúde (Aventuras na História, n. 43, fev. 2007).
b) Porque a torrada cai de ponta-cabeça?
Um físico inglês descobriu cientificamente porque um pão com manteiga
sempre cai com a manteiga virada para baixo (Superinteressante, n. 95,
out. 1995).

7.2 Este, esse ou aquele


Para que você tenha maior clareza do emprego adequado dos pronomes
demonstrativos, apresentamos o quadro um.

Quadro 1 Emprego dos pronomes demonstrativos.

Enumeração
Pronomes Espaço Tempo Discurso de dois
elementos

O objeto está
Substituição
perto da pessoa Referência
Este Presente do último
que fala (eu, posterior
nós). elemento

O objeto está
perto da pessoa
Passado ou Retomada de um
Esse com quem se -
futuro recente elemento
fala (tu, você,
vós, vocês).

O objeto está
Substituição
longe da pessoa
Aquele Passado remoto - do primeiro
que fala e com
quem se fala. elemento

98 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

Perceba essas regras nos seguintes exemplos.

Ex1: Este brinco que estou usando é de ouro.


Esse brinco que você está usando é mesmo de ouro?
Aquele brinco que está do outro lado da vitrine é de ouro.

No primeiro conjunto de exemplos, foi usado este para referir-se, em relação


ao espaço, ao objeto que está perto do falante; esse, para o objeto que está
perto do ouvinte; e aquele, para o objeto que está distante de ambos.

Ex. 2: Este ano teremos eleições para prefeito.


Em 2007, tivemos grandes vitórias no esporte. Nesse ano, tivemos uma notícia muita
boa, o Brasil foi escolhido sede para a Copa de 2014.
O ano de 1922 é um marco para a literatura brasileira. Naquele ano tivemos a
Semana de Arte Moderna.

No segundo conjunto de exemplos, referente ao tempo, este se refere ao


presente (2008, ano em que o texto foi escrito); nesse se refere a 2007, passado
próximo; e naquele se refere ao passado remoto (1922).

Ex. 3: Estas foram as palavras de Jesus Cristo: “amai-vos uns aos outros”.
“Amai-vos uns aos outros”, essas foram as palavras de Jesus Cristo.

Nesse outro conjunto de exemplos, relacionado ao discurso, usamos estas


para uma referência posterior, ou seja, as palavras de Cristo são expostas depois
do termo de referência. E utilizamos essas quando as palavras de Cristo foram
mencionadas anteriormente.

Ex. 4: Machado de Assis e Graciliano Ramos são dois grandes romancistas da literatura
brasileira. Este escreveu Vidas Secas; aquele, D. Casmurro.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 99


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

Nesse exemplo, no caso de enumeração de dois elementos, este se refere a


Graciliano Ramos, que é o último elemento; aquele se refere a Machado de Assis,
que é o primeiro termo que está sendo substituído.

Saiba mais

Preencha os espaços com os pronomes demonstrativos adequados (alguns


pronomes precisam se juntar a preposições, por exemplo, neste = preposição
em + este).
a) O Brasil deve atingir ........ ano a maior safra de grãos de sua história.
Conheça a opinião de alguns dos visitantes do site sobre ........ previsão.
[...] Realmente, é muito preocupante ......... história de supersafra.
Normalmente, excede ao consumo mundial, e os preços caem por
excesso de oferta [...] (Globo Rural, n. 265, nov. 2007).
b) ........ aula estamos estudando as dificuldades mais freqüentes do uso da
língua padrão.
c) ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Eu já estava de malas prontas: ia pra Pasárgada [...] Queria escapar
........ reino das frases infelizes e atitudes grotescas, dos reis feios e nus,
das explicações cabotinas, da falta de providências e de autoridade,
da euforia apoteótica de um lado e da realidade tão diferente de outro.
[...] Levaria família, amigos, livros, música e o homem amado. Ah, e
as minhas velhas crenças de que não somos totalmente omissos ou sem
caráter, portanto ........ país ainda teria jeito, embora ........ momento eu
não tenha muita fé ........ (Veja, n. 2015, 4 jul. 2007).
d) Quando éramos crianças brincávamos mais, pois ........ época não
havia pré-escola, nem aulas de natação, de balé, de inglês. Bons tempos
........ ! - diz vovó, nostálgica (Disponível em: <http://www.linguabrasil.
com.br>. Acesso em: 30 nov. 2007).

7.3 Onde
Onde, pronome relativo, é usado como um coringa, por isso é muito comum
tanto na fala quanto na escrita. Quando se precisa ligar uma oração a outra,
usa-se onde sem restrição. Examine a sentença a seguir.

100 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

Marcos fez várias declarações de amor à ex-esposa, onde fica evidente o desejo de
reatar o casamento.

O emprego do onde está adequado? O emprego não está adequado porque


onde, segundo a gramática normativa, só deve ser empregado nas referências a
lugar físico, como você pode observar nos seguintes exemplos.

A rua onde moro é muito tranqüila.


Há cidades onde se leva uma vida muito estressante.
Maria conversou com Paulo na universidade onde ele estuda.

Nos três exemplos, onde faz referência a lugar. No primeiro exemplo, refe-
re-se à rua, no segundo, a cidades, e, no terceiro, à universidade.
Quando você não tiver certeza se se trata de lugar, substitua onde por
em que.

7.3.1 Onde ou aonde


Qual é a forma adequada na sentença “José provou que tem capacidade
para chegar onde ou aonde chegou”? A forma adequada é aonde, que é
resultado do encontro da preposição a com o pronome onde. Esse encontro só
ocorre com verbos de movimento que exigem a preposição a, como os verbos ir,
chegar, conduzir. Por exemplo, quem vai, vai a algum lugar; quem chega, chega
a algum lugar. Por isso, nos exemplos que analisaremos a seguir, a forma que
deve ser empregada é aonde.

Aonde você vai?


Aonde você pretende chegar com tudo isso?
Ninguém sabe aonde as atitudes dela nos levarão.

Em outros casos, devemos usar onde, como nos exemplos a seguir.

Onde você assistiu ao show?


Já não lembro onde assisti ao show.
Onde está minha bolsa?

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 101


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

Nos três exemplos, devemos usar onde porque o verbo assistir não é de
movimento, e o verbo estar, nesse exemplo, é verbo de ligação, portanto também
não indica movimento.

Analise as sentenças a seguir e aponte as assertivas em que o onde não foi


usado adequadamente. Faça a devida correção.
a) Há lugares no mundo onde se vive bem.
b) Quais são as modalidades onde seu filho é campeão?
c) Vamos assistir a um espetáculo bem brasileiro, onde Maitê faz um
pequeno papel.
d Fomos fazer um rafting e o bote onde estávamos virou.
e) O divórcio foi instituído no país no ano onde o número de separações
chegava a níveis astronômicos.
(Sentenças retiradas de artigos da professora Maria Tereza de Queiroz Piacentini.
Disponível em: <http://www.linguabrasil.com.br>. Acesso em: 30 nov. 2007).

7.4 Uso dos particípios


A forma nominal particípio pertence aos verbos abundantes, pois apresenta,
às vezes, mais de uma flexão. Além das formas regulares do particípio – termi-
nadas em ado/ido –, há também formas irregulares (ou curtas/breves). Mas
há regras para que saibamos quando utilizar a forma regular ou a irregular.
Vejamos.
a) Com os verbos auxiliares ter e haver, utilizamos os particípios regulares.
Ex.: tinha / havia limpado
tinha / havia morrido
b) Já com os auxiliares ser e estar, normalmente empregamos os particí-
pios irregulares.
Ex.: foi / estava aceso
foi / estava impresso
c) Os verbos ganhar, gastar e pagar têm uma particularidade: podemos
utilizar as formas irregulares com ter, haver, ser e estar, mas as regulares
somente com ter e haver. Dessa forma, para não cometer equívocos,
podemos optar somente pelo uso do particípio irregular desses verbos.
Ex.: tinha / havia / foi / estava ganho gasto pago
tinha / havia ganhado gastado pagado

102 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

d) Abrir, cobrir e escrever e seus derivados apresentam somente particípios


irregulares, ou seja, não existem particípios regulares para esses verbos
(abrido, cobrido, escrevido).
Ex.: tinha / havia / foi / estava aberto coberto escrito
Observe o quadro dois, que apresenta os particípios abundantes.

Quadro 2 Particípios abundantes.


Infinitivo Particípio Particípio
impessoal regular irregular
aceitar aceitado aceito
entregar entregado entregue
enxugar enxugado enxuto
expressar expressado expresso
expulsar expulsado expulso
findar findado findo
1ª Conjugação
isentar isentado isento
limpar limpado limpo
matar matado morto
salvar salvado salvo
segurar segurado seguro
soltar soltado solto
acender acendido aceso
benzer benzido bento
eleger elegido eleito
2ª Conjugação
morrer morrido morto
prender prendido preso
suspender suspendido suspenso
emergir emergido emerso
expelir expelido expulso
exprimir exprimido expresso
extinguir extinguido extinto
3ª Conjugação imergir imergido imerso
imprimir imprimido impresso
inserir inserido inserto
omitir omitido omisso
submergir submergido submerso
Fonte: Pasquale e Ulisses (2003, p.169).

Saiba mais

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 103


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

Preencha as lacunas com o particípio adequado para cada situação.


a) O presidente foi ......... com a maioria dos votos. Mas muitos que o
haviam ......... dizem que não o farão novamente. (eleger)
b) A tese jamais foi ......... pelo juiz. Porém há alguns que crêem que o juiz
já tinha ......... a história do réu. (aceitar)
c) As custas já foram ........ , e o acusado diz que todo seu dinheiro já foi
......... e que ele não tem perspectivas de que outra quantia seja ........ .
(pagar/gastar/ganhar)
d) João havia ........ a porta para sair sem ser ........ , e contaria a todos o que
havia sido ........ e ......... na reunião. (entreabrir/ver/dizer/escrever)

7.5 Mal ou mau


Qual é a diferença entre mal e mau? Vamos observá-la no quadro três.

Quadro 3 Uso de “mal” e “mau”.


Maria não imagina o mal que fez a
Pode exercer a função de substantivo José (substantivo acompanhado de
(vem acompanhado de artigo) ou de artigo).
advérbio de modo. Opõe-se a bem. O time brasileiro jogou muito mal na
Mal
copa de 2006 (advérbio de modo).
Pode exercer a função de conjunção
Mal (= assim que) chegamos, a aula
de tempo. Equivale a quando, assim
começou (conjunção de tempo).
que, apenas.
Pode exercer a função de adjetivo ou Fizemos um mau negócio (adjetivo).
Mau substantivo (vem acompanhado de O mau é não assumirmos o que
artigo). Opõe-se a bom. fazemos (substantivo).

Assinale a única alternativa que apresenta uso inadequado de mal e mau, para
a norma culta.
a) “Os soldados em serviço militar, mal treinados e mal armados [...] sofreram
fragorosas derrotas para a guerrilha que parecia, nos dois primeiros meses
de conflito, invencível”, afirma o jornalista americano Jon Lee Anderson em
Che Guevara - Uma Biografia” (Aventuras na História, n. 50, out. 2007).
b) Há cinco anos, o lago do meu sítio em Vinhedo, SP, tornou-se o dormitório
de um pequeno bando de garças. O local é cercado por um bambuzal
onde elas pousam no final da tarde. Mas, desde que se instalaram, a

104 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

população não parou de crescer. E os problemas, idem. O pior deles:


um mau cheiro insuportável (Disponível em: <http://globorural.globo.
com>. Acesso em: 30 nov. 2007).
c) O médico e escritor Moacyr Scliar volta a Aventuras na História com
mais um de seus brilhantes ensaios sobre uma das doenças mais mal
compreendidas e estigmatizadas da história: a lepra (Aventuras na
História, n. 29, out. 2007).
d) Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mal humor e
transmitir isso adiante ou sorrir... Bom mesmo é ter problema na cabeça,
sorriso na boca e paz no coração! (Disponível em: <http://www.acserv.
com.br>. Acesso em: 30 nov. 2007).

7.6 A, há ou ah
Você sabe quando se usa a, há ou ah? Verifique o uso desses três termos no
quadro quatro.

Quadro 4 Uso de “a”, “há” e “ah”.


Indica tempo passado. Nosso colega saiu há dez minutos.
Há Nosso colega há de vencer todas as
É a forma do verbo haver.
dificuldades.
Nosso colega chegará daqui a dez
A Indica tempo futuro.
minutos.
Ah É interjeição exclamativa. Ah! Que delícia de bolo!

Analise se o emprego de há, a e ah, nas afirmativas a seguir, está adequado.


I. E os celulares? Há cinco anos se clama por bloqueio deles nas prisões.
“Ah, não pode...”, “Ah, vamos estudar...”. Sabemos que até tela de
galinheiro serve para bloquear o sinal (Disponível em: <http://jg.globo.
com>. Acesso em: 30 nov. 2007).
II. Há médico que acha que a pílula do dia seguinte é abortiva. Achar,
quando se trata de ciência, não basta. Há médico que acha que o DIU
dá câncer. Há médico que acha que a vasectomia causa impotência
(Disponível em: <http://veja.abril.com.br>. Acesso em: 30 nov. 2007).
III. Estude bastante que daqui a quatro anos você já estará formado.
Assinale a alternativa correta.
a) O emprego está adequado apenas na afirmativa I.
b) O emprego está adequado apenas na afirmativa II.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 105


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

c) O emprego está adequado apenas nas afirmativas II e III.


d) O emprego está adequado em todas as afirmativas.

7.7 Senão ou se não


Você sabe a diferença entre senão ou se não? Vamos verificar o uso adequado
desses dois termos no quadro cinco.

Quadro 5 Emprego de “senão” e “se não”.


Pode exercer a função de conjunção
Espero que ele estude, senão
adversativa, no sentido caso contrário,
terá problemas.
de outra forma, mas sim, a não ser.
Senão
Pode exercer a função de substan- Há um senão em sua aparência
tivo, com o sentido de falha, defeito, que me fez mudar de marca de
imperfeição. carro.
Exerce a função de se (conjunção
Se não condicional) + não (advérbio de Se não chover, iremos à praia.
negação). Equivale a caso não.

O uso de se não e de senão nos seguintes trechos obedece às normas da língua


padrão? Comente sua reposta.
I. Já imaginaram o que aconteceria conosco se não tivéssemos a capaci-
dade de resgatar nossos arquivos de computador? Se pudéssemos utili-
zá-los somente no dia em que os produzimos? (Disponível em: <http://
www.planetaeducacao.com.br>. Acesso em: 30 nov. 2007).
II. Não podemos fazer justiça com as próprias mãos, se não este mundo
nunca vai ter jeito mesmo. A Justiça é cega, capenga, mas tem de
segurar com ela mesma (Veja, n. 1901, 20 abr. 2005).

7.8 Mas, más ou mais


Qual é a diferença entre mas, más e mais? Vamos observar o quadro seis,
que apresenta a diferença entre os três termos.

Quadro 6 Emprego de “mas”, “más” e “mais”.


Já estudei a língua portuguesa por
Exerce a função de conjunção adversa-
Mas vários anos, mas ainda não sei
tiva (oposição, retificação).
quando devo usar más.
Más É plural feminino de mau (adjetivo). Minhas amigas foram más comigo.
Exerce a função de advérbio de intensi- Quero aprender mais sobre o uso
Mais
dade (diferente de menos). dos porquês.

106 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

Preencha adequadamente as lacunas com mas, más ou mais.


a) ........ do que carisma [do candidato], quero preparo, compostura, equi-
líbrio e classe – que não relaciono a bens materiais, ........ à elite dos
honrados e dos capazes. Uma elite que nada tem a ver com nome,
dinheiro ou cargo, que superou o retrógrado conceito de que é culpada
pelas desgraças da humanidade (Veja, n. 1978, 18 out. 2006).
b) Mesmo assim, tem de escolher. Enfrentamentos mostram perfis diversos, da
calma firmeza ao disparatado deboche, da determinação às ......... pueris
desculpas. ......... teremos, inevitavelmente, de decidir, e não é em questão
menor: trata-se do líder deste país (Veja, n. 1978, 18 out. 2006).
c) O pau-brasil é nativo da Mata Atlântica, ......... é encontrado no interior
da floresta, não sendo recomendado para matas ciliares (Disponível em:
<http://globorural.globo.com>. Acesso em: 30 nov. 2007).

7.9 A cerca de, acerca de, cerca de ou há cerca de


Quantas dúvidas causam essas expressões! Mas temos respostas a todas
elas no quadro sete.

Quadro 7 Uso de “a cerca de”, “acerca de”, “cerca de” ou “há cerca de”.

Trata-se do artigo a e do substan- A cerca da fazenda caiu.


A cerca
tivo cerca.
Trata-se de advérbio com sentido Falamos acerca do livro por mais
Acerca de
de: sobre, a respeito de. de três horas.
Cerca de Trata-se de locução prepositiva
ou que quer dizer mais ou menos, Corri cerca de três quilômetros.
a cerca de aproximadamente.
Trata-se de verbo haver e locução
prepositiva que indica tempo Não o vejo há cerca de cinco
Há cerca de
decorrido: faz aproximadamente, anos.
perto de.

Empregue acerca de, (a) cerca de ou há cerca de adequadamente.


a) A torcida ficou ........ cem metros dos jogadores.
b) Quando nos encontramos, nada falamos ......... separação.
c) Eles partiram ......... meia hora.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 107


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

d) Falou abertamente sobre sua vida ......... duzentas pessoas.


e) Os donativos foram distribuídos ......... quinhentas pessoas.
f) Não se falavam ......... cinco anos.
(VIANA, 2000, p. 118).

7.10 Todo ou todo o


O quadro oito apresenta o uso adequado de todo e todo o.

Quadro 8 Uso de “todo” e “todo o”.


Corresponde a qualquer, com idéia
Todo de generalização, de totalidade Todo livro traz alguma mensagem.
numérica.
Todo o Corresponde a inteiro, total, com
Todos os alunos leram o livro A arte
idéia de especificação,
de argumentar.
de totalidade das partes.

Explique o uso de todo em “Todo pai tem direito de ver no filho um Ronaldinho e
na filha uma Gisele Bündchen” (Veja, n. 1979, 25 out. 2006).

7.11 Sobre ou sob


Qual é a diferença entre sob e sobre? A diferença está explicitada no quadro
nove.

Quadro 9 Uso de “sob” e “sobre”.


A criança estava escondida sob a
Sob Significa debaixo de.
mesa (debaixo).
Esqueci a chave sobre a mesa (= em
Significa em cima de, na parte supe- cima de).
Sobre
rior de, a respeito de. Conversamos muito sobre o livro A
arte de argumentar (= a respeito de).

Explique o uso de sobre e sob no trecho a seguir.


“O senador Renan Calheiros diz que ele mesmo era o dono dos recursos. ‘O
dinheiro era meu’, afirmou. Se era seu, por que o lobista fazia a intermediação?
Nesse ponto, Renan diz que não falará mais sobre um assunto que está sob
segredo de Justiça” (Veja, n. 2010, 30 maio 2007).

108 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

7.12 Trás ou traz


Preste atenção no uso dessas palavras, pois há diferença entre trás e traz.
Observe o quadro dez.

Quadro 10 Uso de “trás” e “traz”.

É preposição e significa depois de, após; Por trás das entrelinhas sempre há
Trás
corresponde a atrás. muitas mensagens (atrás).
É a terceira pessoa do singular do Um bom livro sempre traz mensa-
Traz
presente do indicativo. gens boas (verbo “trazer”).

Complete os espaços com traz ou trás adequadamente.


a) Nada se assemelha à alma como a abelha. Esta voa de flor para flor,
aquela de estrela para estrela. A abelha ......... o mel, como a alma
......... a luz (Disponível em: <http://www.pensador.info>. Acesso em:
30 nov. 2007).
b) Quando se fala aqui em EU, pode-se e deve-se procurar o que está por
......... de sua máscara. Por ......... do discurso da avó Lilibeth encontrar-
se-á o discurso de Lya Luft. Por ......... do discurso do narrador encontrar-
se-á também o discurso da autora (Disponível em: <http://www.cintia-
barreto.com.br>. Acesso em: 30 nov. 2007).

7.13 Eu ou mim
Você emprega adequadamente eu e mim? Veja o uso correto desses pronomes
no quadro 11.

Quadro 11 Emprego de “eu” e de “mim”.

Eu É sempre sujeito. Entregou o bilhete para eu ler depois.


Mim É complemento verbal ou nominal. Entregou o bilhete para mim.

Assinale a única alternativa correta quanto ao uso de eu e mim.


a) Devolveram todos os livros para mim.
b) Já é hora de mim tomar uma decisão na vida.
c) Se é para mim pagar, desista; não tenho dinheiro.
d) Entre eu e Mateus não há mais nada.

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 109


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

Vamos encerrar esta aula com um questionamento: você tem o hábito de


falar vou estar verificando, vou estar ligando, vou estar providenciando? Essas
formas são condenadas pela língua padrão. Mas qual é a forma correta? A
forma adequada é: vou verificar ou verificarei, vou ligar ou ligarei, vou provi-
denciar ou providenciarei. Fique atento!

Saiba mais

http://veja.abril.
com.br>

A partir do que examinamos nesta aula, podemos concluir que, para utilizarmos
a língua padrão, precisamos saber as regras de determinadas expressões.

Nesta aula, estudamos algumas expressões que normalmente geram dúvidas


em seu uso. Começamos com o uso dos porquês. Usamos: por que em perguntas
(menos no final), quando pudermos trocar por pelo(s) qual(is), pela(s) qual(is) e
quando pudermos colocar depois dele uma destas palavras: razão, causa ou
motivo; por quê apenas em finais de frases; porque em respostas e na indicação
de causa, de explicação (= pois); porquê quando for substantivo.
O emprego de este, esse ou aquele depende do contexto. Para indicar
espaço, usamos: este para objeto que está perto da pessoa que fala; esse para
objeto que está perto da pessoa com quem se fala; aquele para objeto que está
longe da pessoa que fala e com quem se fala. Para indicar tempo, utilizamos:
este para indicar o presente; esse para indicar passado ou futuro recente; aquele
para indicar passado remoto. Dentro de textos, usamos este para referência poste-
rior, e esse para retomada de um elemento. Na enumeração de dois elementos,
utilizamos este para substituir o último elemento, e aquele para o primeiro.
Onde só deve ser empregado nas referências a lugar fixo, enquanto o aonde
só ocorre com verbos de movimento que exigem a preposição a, como os verbos
ir, chegar, conduzir.
A forma nominal particípio pode ter a forma regular (ado/ido), usada com
verbos auxiliares ter e haver, e forma irregular (curta/breve), usada com os
auxiliares ser e estar.

110 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

Mal pode exercer a função de substantivo ou de advérbio de modo (opõe-se a


bem). Também pode exercer a função de conjunção (equivale a quando, assim que,
apenas). Mau pode exercer a função de adjetivo ou substantivo (opõe-se a bom).
Há indica tempo passado e é a forma do verbo haver. A indica tempo futuro.
E ah é interjeição exclamativa.
Senão pode exercer a função de conjunção adversativa (= caso contrário,
de outra forma, mas sim, a não ser) ou de substantivo (sentido de falha, defeito,
imperfeição). Se não exerce a função de se (conjunção condicional) + não
(advérbio de negação) (= caso não).
Mas exerce a função de conjunção adversativa (oposição, retificação). Más
é plural feminino de mau. Mais exerce a função de advérbio de intensidade
(diferente de menos).
A cerca trata-se do artigo a e do substantivo cerca. Acerca de é advérbio com
sentido de: sobre, a respeito de, com referência a, perto de. Cerca de ou a cerca
de é locução prepositiva que quer dizer: mais ou menos, aproximadamente. Há
cerca de é verbo haver e locução prepositiva que indica tempo decorrido: faz
aproximadamente, perto de, mais ou menos.
Todo corresponde a qualquer, com idéia de generalização, de totalidade
numérica. Todo o corresponde a inteiro, total, com idéia de especificação, de
totalidade das partes.
Sob significa debaixo de; sobre significa em cima de, na parte superior de,
a respeito de.
Trás é preposição e significa: depois de, após; corresponde a atrás. Traz é a
terceira pessoa do singular do presente do indicativo verbo trazer.
O pronome eu deve ser usado sempre como sujeito; e o mim, como comple-
mento verbal ou nominal.
O uso do gerúndio em expressões como “Vou estar verificando” é conde-
nada pela língua padrão. A forma adequada é: “vou verificar” ou “verificarei”.

O objetivo desta aula é utilizar adequadamente os porquês; este/esse/


aquele; onde/aonde; os verbos no particípio; mal/mau; a/há/ah; senão/se
não; mas/más/mais; acerca/a cerca/cerca/há cerca de; todo/todo o, sobre/
sob, trás/traz; eu/mim. Vamos conferir se você o alcançou?
Na atividade um do item 7.1, você deve ter preenchido os espaços assim:
(a) por que (uma pergunta); (b) por quê (final de frase); (c) por que, por que
(duas perguntas), porque (reposta); (d) porque (causa, = pois). Na atividade dois, na
letra (a), “porque” está inadequado, pois podemos colocar depois dele “razão”,

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 111


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

“causa” ou “motivo”, portanto a forma adequada é “por que”. Na letra (b), os dois
porquês estão inadequados, uma vez que o primeiro é usado em uma pergunta,
portanto a forma adequada seria “por que”; e, no segundo, deveria ser usado
“por que”, visto que podemos colocar depois dele “razão”, “causa” ou “motivo”.
Na atividade 7.2, você deve ter preenchido os espaços com os seguintes
pronomes demonstrativos: (a) este (presente, ano em que o trecho foi escrito),
essa preenche outros dois espaços (retomada da informação); (b) nesta (aula
que estamos estudando, presente); (c) deste (reino no qual a autora está), este
(país no qual a autora está, Brasil), neste (presente), nisso (retomada da infor-
mação); (d) naquela, aqueles (passado remoto).
Na atividade do item 7.3, as alternativas em que “onde” está empregado
de forma inadequada são (b), (c) e (e), pois não se referem a lugar. Podemos
substituir “onde” por “nas quais”, “no qual” e “em que”, respectivamente. Os
dois primeiros também podem ser substituídos por “em que”.
Na atividade 7.4, você deve ter preenchido as lacunas com: (a) eleito (parti-
cípio irregular devido ao verbo ser), elegido (particípio regular devido ao verbo
haver); (b) aceita (particípio irregular devido ao verbo ser), aceitado (particípio
regular devido ao verbo ter); (c) pagas, gasto, ganha (particípio irregular devido
ao verbo ser e estar); (d) entreaberto, visto, dito e escrito (esses verbos só são
usados no particípio irregular).
Na atividade 7.5, a única alternativa que apresenta uso inadequado de
“mal” e “mau”, para a norma culta, é (d), pois “mau”, no contexto da alterna-
tiva, é um adjetivo que se opõe a “bom”, portanto a forma adequada é “mau”.
Na atividade 7.6, a alternativa correta é a (d), pois em todos os trechos
“há”, “a” e “ah” estão empregados adequadamente. Na afirmativa (I), “há”
indica passado e “ah” é interjeição. Na afirmativa (II), os três “há” são o verbo
haver. E, na afirmativa (III), o “a” indica futuro.
Na atividade 7.7, no item (I), o emprego está adequado, uma vez que se
trata de uma conjunção condicional (se) e advérbio de negação (não). Já no (II),
o emprego está inadequado, visto que se trata de uma conjunção adversativa
(= caso contrário), portanto a forma correta é “senão”.
Na atividade 7.8, as lacunas devem ser preenchidas com: (a) mais (soma),
mas (oposição); (b) mais (intensidade), mas (oposição); (c) mas (oposição).
Na atividade 7.9, você deve ter preenchido as lacunas com: (a) cerca de
(= aproximadamente); (b) acerca da (= sobre); (c) há cerca de (= faz aproxima-
damente); (d) a cerca de (= aproximadamente); (e) a cerca de (= aproximada-
mente); (f) há cerca de (= faz aproximadamente).
Na atividade 7.10, usou-se “todo” porque está generalizando, ou seja,
é qualquer pai que tem direito de ver no filho um Ronaldinho e na filha uma
Gisele Bündchen.

112 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA I: leitura e produção textual

Na atividade 7.11, usou-se “sobre” porque significa “a respeito de”, e sob


no sentido de estar “embaixo”, protegido pelo segredo que a justiça exige.
Na atividade 7.12, você deve ter preenchido os espaços com: (a) traz, nos
dois espaços, uma vez que se trata do verbo “trazer”; (b) trás, nos três espaços,
visto que se trata de preposição.
Na atividade 7.13, a única alternativa correta quanto ao uso de “eu” e
“mim” é (a), pois se usou “mim” devido a ser um complemento. A (b) e a (c) estão
inadequadas, porque em ambas se trata de sujeito, por isso seria “eu”. A (d)
também está incorreta, porque se trata de complemento, assim a forma correta
seria “mim”.

CIPRO NETO, P.; INFANTE, U. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo:


Scipione, 2003.
VIANA, A. C. (Coord.) Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo:
Scipione, 2000.

Anotações

UNITINS • MATEMÁTICA • 1º PERÍODO 113


Aula 7 • LÍNGUA PORTUGUESA

114 1º PERÍODO • MATEMÁTICA • UNITINS

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