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Aula 1

Investimentos Societários
e Equivalência Patrimonial

Marcello Sartore de OLIVEIRa


Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

Meta

Apresentar o conceito de participação societária, evidenciando sua im-


portância, trabalhando nos critérios de avaliação de participações per-
manentes; método de equivalência patrimonial e pelo valor justo, apon-
tando as alterações na legislação pertinente.

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

1. identificar os tipos de participaçõessocietárias;


2. aplicar o método de equivalência patrimonial em investimentos em
coligadas e controladas;
3. registrar contabilmente os dividendos decorrentes das
participações societárias;

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Contabilidade Avançada I

Introdução

Prezado aluno, você que já passou pela contabilidade básica e interme-


diária, iniciará o estudo da contabilidade avançada, já com um tema
de grande relevância no cenário contábil, que são os investimentos so-
cietários e o método da equivalência patrimonial. Como sabemos, um
dos principais objetivos da contabilidade é oferecer informações úteis
a respeito da vida das entidades, e, para isso, órgãos nacionais e inter-
nacionais buscam, por meio de muitos estudos e pesquisa, melhorar a
qualidade da informação contábil. Dessa maneira, o modo de avaliar
os investimentos em outras sociedades tem despertado, ao longo dos
anos, bastante atenção, uma vez que as empresas, além de praticarem
suas próprias atividades, geralmente, participam do capital de outras
entidades, com o intuito, dentre outros, de diversificar seus riscos e
otimizar resultados.

Participações societárias

As participações societárias são ações de sociedades anônimas ou


quotas de sociedades limitadas que uma determinada empresa, deno-
minada investidora, adquire de outra, denominada investida. Tais par-
ticipações podem ser classificadas em ativo circulante ou em ativo não
circulante, nos subgrupos realizável a longo prazo ou investimento,de-
pendendo da intenção de venda pela investidora.

Figura 1.1: Investidora e investida em uma participação societária

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Tipos de participações societárias


Participações societárias temporárias
Classificação antiga: Ocorrem quando a investidora possui a intenção de
vender, visto
que essas participações possuem natureza especulativa. Podem ainda ser
divididas em destinadas à negociação (quando já estão aptas a serem
negociadas) ou disponíveis para venda (somente serão negociadas quando o
mercado estiver favorável ou quando a investidora precisar de dinheiro).
Conforme Ferrari (2013), essas participações são consideradas, entre
outros tipos, instrumentos financeiros e reguladas pelo CPC 38, 39 e 40,
sendo classificadas no ativo circulante ou no ativo realizável a longo prazo,
dependendo do prazo de realização.

CLASSIFICAÇÃO (ATUAL) INSTRUMENTOS FINANCEIROS CPC 48

Participações societárias permanentes

Ocorrem quando a investidora adquire ações ou quotas de outra em-


presa sem o intuito de alienar essa participação. Diferentemente da tem-
porária, a participação permanente possui natureza estratégica, uma vez
que representa uma extensão da atividade econômica dainvestidora.
Essas espécies de participações societárias são classificadas no grupo
ativo não circulante, subgrupo investimentos.
Podem ser classificadas em ações de coligadas, ações de controladas
eações de controladas em conjunto.
Além disso, cabe destacar que, conforme legislação do Imposto de
Renda, alguns tipos de participações devem ser sempre consideradas
permanentes, independentemente do intuído intuito de vendas. São elas:
a) participações em coligadas ou controladas;
b) participações decorrentes de incentivos fiscais;
c) participações em sociedades por quotas.
Ferrari (2013) explica que, para o fisco, a aquisição de quotas de ou-
tras sociedades deve ser classificada como participações permanentes,
devido à impossibilidade de negociar esses títulos no mercado de valo-
res mobiliários.
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Contabilidade Avançada I

Sociedades coligadas Capital votante


(ações ordinárias)
O conceito previsto no § 1º do artigo 243 da Lei 6404/76 diz que são co- São aquelas que
ligadas as sociedades nas quais a investidora tem influência significativa. proporcionam participação
nos resultados econômicos
de uma empresa e
De acordo com o mesmo artigo, em seu parágrafo 4º, considera-se conferem a seu titular o
que há influência significativa quando a investidora detém ou exerce o direito de voto em
assembleia. Cabe destacar
poder de participar nas decisões das políticas financeira ou operacional que o capitala ser
da investida, sem controlá-la. considerado na presunção
é o votante (ações
ordinárias). Essa espécie
Entretanto, o § 5º afirma que é presumida influência significativa de capital é tão somente
quando a investidora for titular de 20% (vinte por cento) ou mais do utilizada para saber se
vamos ou não aplicar a
capital votante (ações ordinárias) da investida, sem controlá-la. equivalência patrimonial.

Portanto, de acordo com a Lei 6404/76, são coligadas as empresas


nas quais a investidora possua influência significativa ou que tenha pre-
sunção de influência.
De acordo com o CPC 18 (R2), item 5, se o investidor mantém direta Pronunciamento técnico
CPC 18 (R2)
ou indiretamente (por meio de controladas, por exemplo), 20% ou mais Investimento em
do poder de voto da investida, presume-se que ele tenha influência signi- coligada, em controlada
e em empreendimento
ficativa, a menos que possa ser claramente demonstrado o contrário. Por controlado em conjunto.
Correlação às normas
outro lado, se o investidor detém, direta ou indiretamente (por meio de internacionais de
controladas, por exemplo), menos de 20% do poder de voto da investida, contabilidade – IAS 28
(IASB–BV2012).
presume-se que ele não tenha influência significativa, a menos que essa
influência possa ser claramente demonstrada. A propriedade substancial
ou majoritária da investida por outro investidor não necessariamente im-
pede que um investidor tenha influência significativa sobre ela.
Para Moraes Júnior (2013), pode ocorrer de uma empresa ter 8% do
capital votante da investida, mas, por outras circunstâncias, ter influên-
cia significativa. Assim, essas empresas seriam coligadas.
Continua Moraes Junior (2013) dizendo que, por outro lado, apesar
da influência com mais de 20% do capital votante da investida, também
pode existir uma empresa com 30% do capital votante da investida, mas
que, por outras circunstâncias, não tenha influência significativa (é pre-
cisa provar a influência). Desse modo, as empresas não são coligadas.
Conforme o item 6 do mesmo CPC, a existência de influência signi-
ficativa por investidor geralmente é evidenciada por uma ou mais das
seguintes formas:
a) representação no conselho de administração ou na diretoria
da investida;

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b) participação nos processos de elaboração de políticas, inclusive em


decsões sobre dividendos e outrasdistribuições;
c) operações materiais entre o investidor e a investida;
d) intercâmbio de diretores ou gerentes;
e) fornecimento de informação técnica essencial.
Há ainda que ressaltar o direito de voto potencial, ou seja, se a in-
vestidora possui valores mobiliários (opções de compra de ações, bônus
de subscrição, debentures conversíveis em ações etc.) que podem ser
facilmente convertidos em ações com direito a voto.
Sendo assim, os votos potenciais devem ser levados em consideração
no momento de se verificar o percentual de participação da investidora
na investida.
Se a investidora Glorioso S/A,por exemplo, possui 10% das ações
com direito a voto (capital votante) de uma investida, possuindo, ainda,
opções de compra de ações da investida capazes de gerar mais 12% de
ações com direito a voto, para efeito de influência significativa, a princí-
pio, as empresas são coligadas, uma vez que a participação da investido-
ra no capital votante da investida alcançou 22%.

Sociedades controladas
Em consonância com o § 2º do artigo 243 da Lei 6404/76, considera-
-se controlada a sociedade na qual a controladora, diretamente ou atra-
vés de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegu-
rem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o
poder de eleger a maioria dos administradores.

Doutrina Para Ferrari (2013), a doutrina entende que, para ocorrer o con-
Conjunto de estudos trole, é necessário que a investidora tenha direta ou indiretamente
e teoriasdesenvolvido
pelos especialistas com o
mais de 50% do capital votante da investida, ou seja, mais de 50% das
objetivo de sistematizar ações ordinárias.
e interpretar as normas
vigentes e de conceber Nas controladas, para haver o controle, a investidora tem que possuir
novos institutos contábeis.
mais de 50% do capital votante da investida. Nas coligadas, há a presun-
ção de influência significativa quando a investidora possui mais de 20%
do capital votante da investida, mas sem ter o controle.
A legislação declara em ter mais de 20% do capital votante, mas sem
realizar o controle, mas a doutrina entende que, para ter controle, é ne-
cessário que se possua mais de 50% do capital votante.

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Contabilidade Avançada I

Dessa maneira, é possível ter controle com menos de 50% do capital


votante?A resposta é sim.Isso ocorre quando os demais acionistas são
muito pulverizados e não votam em conjunto, acarretando, assim, que
um sócio, mesmo não tendo a maioria do capital votante, possua pre-
ponderância nas deliberações sociais. Deliberações
Decisões tomadas pelos
sócios em assembleia ou
reunião sobre assuntos de
Controle indireto X participação indireta interesse da sociedade.

No nosso estudo, o importante é o conceito de controle e não de


propriedade. Vejamos um exemplo:
Uma empresa A possui 80% do capital votante da empresa B, sendo
que esta possui 55% do capital de C.
Dessa maneira, teremos as seguintes conclusões:
a) A empresa A controla diretamente B;
b) A empresa B controla diretamente C;
c) A empresa A controla indiretamente, através de B, a empresa C
com 55%;
d) A participação indireta de A em C é de 44% (80% x 55%).
Outro exemplo:

Figura 1.2: Participação indireta: A possui 30% do capital votante de B, que


possui 30% de C. A possui, ainda, 60% de D, sendo que D, possui 70% de C.

Desse modo, podemos afirmar que a participação indireta da empre-


sa A em C é de 51% (30% x 30% = 9%; 60% x 70% = 42%; 42% + 9% =
51%)

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Join venture

Join venture pode ser conceituado como um negócio do qual duas ou


mais empresas têm controle conjunto.
O item 16 do CPC 19 (R2) assevera que empreendimento contro-
lado em conjunto (joint venture) é um negócio em que as partes que
detêm o controle conjunto do negócio possuem direitos sobre os ativos
líquidos do negócio. Essas partes são denominadas empreendedores
em conjunto.

Atividade 1

Atende ao objetivo 1

1)(TRF-2003-Esaf) Considere as empresas e sua participação no capital


de outra, conforme descrito abaixo.
Investidora
Participação
Investida

Alfa -> Beta80%


Alfa -> Gama 90%
Beta -> Lâmina10%
Beta -> Ômega 10%
Gama -> Ômega 90%

Assinale a opção correta.


a) A empresa Alfa controla indiretamente a empresa Ômega.
b) A empresa Alfa controla indiretamente a empresa Lâmina.
c) A empresa Beta controla a empresa Lâmina.
d) A empresa Beta controla a empresa Ômega.
e) A empresa Gama controla a empresaBeta.
2) Aplicações em investimentos temporários que apresentem caracterís-
ticas de liquidez imediata são classificadas no ativo como:
a) valores realizáveis
b) investimentos

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Contabilidade Avançada I

c) não circulante
d) imobilizado
e) circulante.

Resposta comentada
1) Letra A. A empresa Alfa controla diretamente a empresa Beta, uma
vez que possui 80% de participação. Beta não controla Ômega, eis que
participa somente com 20% desta. Entretanto, Alfa controla diretamen-
te Gama (90%) e esta controla diretamente Ômega (80%). Dessa manei-
ra, Alfa controla indiretamente Ômega com80%!
Vale destacar que estamos nos referindo a controle, e não à participação.
Se fosse participação, então Alfa possuiria (90% x 80%) 72% de Ômega.
2) Como já exposto, essas participações são consideradas, entre outros
tipos, instrumentos financeiros e reguladas pelo CPC 38, 39 e 40, sendo
classificadas no ativo circulante ou no ativo realizável a longo prazo,
dependendo do prazo de realização.

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Formas de avaliação das participações societárias


Participações societárias temporárias

CLASSIFICAÇÃO (ATUAL) INSTRUMENTOS FINANCEIROS CPC 48


A classificação anterior era ativos mantidos até o vencimento, ativos destinados
à venda imediata e ativos disponíveis para venda futura. Repare que essa classificação
era baseada na intenção da administração da empresa com relação ao título.
Agora, a empresa deve se basear no modelo de negócios e nas características do ativo
financeiro.
O modelo de negócios da entidade refere-se a como a entidade gerencia seus ativos
financeiros para gerar fluxos de caixa. Ou seja, o modelo de negócios da entidade
determina se os fluxos de caixa resultam do recebimento de fluxos de caixa contratuais,
venda de ativos financeiros ou ambos.
O modelo de negócios não é o que a empresa espera fazer com relação aos ativos
financeiros; é o que ela efetivamente faz com tais ativos.

ATIVOS FINANCEIROS: MENSURADOS ao CUSTO AMORTIZÁVEL; AO


VALOR JUSTO POR MEIO DE OUTROS RESULTADOS ABRANGENTES (PL);
AO VALOR JUSTO POR MEIO DE RESULTADOS (RESIDUAL).
CUSTO AMORTIZÁVEL:
O ativo financeiro deve ser mensurado ao custo amortizado se ambas as seguintes
condições forem atendidas:
(a) o ativo financeiro for mantido dentro de modelo de negócios cujo objetivo seja
manter ativos financeiros com o fim de receber fluxos de caixa contratuais; e
(b) os termos contratuais do ativo financeiro derem origem, em datas especificadas, a
fluxos de caixa que constituam, exclusivamente, pagamentos de principal e juros sobre
o valor do principal em aberto.
Alguns exemplos: aplicações financeiras na poupança e outras aplicações em
renda fixa, contas a receber de clientes e empréstimos concedidos.
Necessário frisar que para essa classificação, as duas condições devem ser
atendidas, ou seja, o ativo é mantido para receber fluxos de caixa contratuais que se
referem exclusivamente ao pagamento de principal e de juros. Cabe informar, ainda,
que os ativos financeiros dessa classificação não são ajustados ao valor justo.
Exemplo: A empresa K Honda adquiriu um título no valor de R$ 20.000, com
juros de 1% ao mês, no dia 31/11/2018. De acordo com o modelo de negócios da
empresa, este título será mensurado ao custo amortizado. Determine o valor do título
em 31/12/2018.
Resposta: apropriação dos juros de 1%:
R$20.000 x 1% = R$200 Valor em 31/12 = R$20.000 + R$200 = R$ 20.200
Contabilização aquisição:
D – Título financeiro – custo amortizado (Ativo) 20.000
C – Caixa (Ativo) 20.000
Contabilização juros:
D - Título financeiro – custo amortizado (Ativo) 200
C – Receita financeira (Resultado) 200

Exemplo 2(CESPE/Analista/EBSERH/2018) Para que um ativo financeiro seja


mensurado ao custo amortizado, é necessário que suas cláusulas contratuais prevejam
fluxos de caixa exclusivamente de principal e juros sobre esse principal, nas datas
previamente acordadas, e que o modelo de negócio em que o ativo esteja inserido tenha
por objetivo receber esses fluxos de caixa contratuais. (verdadeiro!!)

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Contabilidade Avançada I
2 ATIVO FINANCEIRO MENSURADO AO VALOR JUSTO POR MEIO DE
OUTROS RESULTADOS ABRANGENTES.
O ativo financeiro deve ser mensurado ao valor justo por meio de outros resultados
abrangentes se ambas as seguintes condições forem atendidas:
(a) o ativo financeiro for mantido dentro de modelo de negócios cujo objetivo seja
atingido tanto pelo recebimento de fluxos de caixa contratuais quanto pela venda de
ativos financeiros; e
(b) os termos contratuais do ativo financeiro derem origem, em datas especificadas, a
fluxos de caixa que constituam exclusivamente pagamentos de principal e juros sobre o
valor do principal em aberto.

Observação 1: Situações bem parecidas!!! A diferença consiste no seguinte: no custo


amortizado, a empresa vai receber os rendimentos, ou seja, vai segurar os títulos
até o vencimento!!
No “valor justo por meio dos resultados abrangente” a empresa, em geral, pretende
segurar os títulos para receber os juros, Mas pode negociar os títulos em algum
momento, se houver necessidade ou conveniência.
Observação 2: Essa classificação pode ser relacionada com a antiga categoria dos
“títulos disponíveis para venda futura”.

3. ATIVO FINANCEIRO MENSURADO AO VALOR JUSTO POR MEIO DO


RESULTADO.
Também conhecida como residual.
O ativo financeiro deve ser mensurado ao valor justo por meio do resultado,
exceto se for mensurado ao custo amortizado ou ao valor justo por meio de outros
resultados abrangentes.
Conforme o IFRS 9 (item 4.1.5), a administração da entidade pode, no ato de
reconhecimento, de maneira irrevogável, designar os instrumentos financeiros básicos
como mensurados pelo modelo do valor justo mediante resultado.
Observação 3: os ativos que não forem mensurados pelo custo amortizado ou pelo
valor justo por meio de outros resultados abrangentes devem ser mensurados pelo valor
justo por meio de resultado (classificação residual).

OBSERVAÇÃO: TÍTULOS MENSURADOS AO:


A) CUSTO AMORTIZADO (mantido até o vencimento):
Rendimentos (juros) = RESULTADO, não se ajusta a VALOR JUSTO.

B) VALOR JUSTO POR MEIO DO RESULTADO (destinados à venda imediata).


Rendimentos (juros) e AVJ (Ajuste a Valor Justo) = RESULTADO.

C) VALOR JUSTO POR MEIO DE OUTROS RESULTADOS ABRANGENTES


(disponível para negociação futura).
Rendimentos (juros) RESULTADO; AVJ = PL (AAP).

Exemplo 1: A empresa K Honda BFR vende mercadorias a prazo, quando o cliente


pode dividir o valor de sua compra em até 5 parcelas mensais e sucessivas e sem juros.
A entidade mantem as duplicatas em carteira, até a data do vencimento, momento em
que realiza a cobrança.
Aqui a empresa deve classificar suas contas a receber de clientes como um ativo
financeiro mensurado pelo custo amortizado, tendo em vista que o modelo de
negócios dessa entidade é manter ativos com o propósito de recolher seus fluxos de
caixa contratuais.

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Exemplo 2: Outra empresa, que também permite que suas vendas sejam parceladas em
5 prestações mensais, sucessivas e sem juros, costuma vender essas duplicatas de seus
clientes ao banco comercial, onde mantém conta corrente. O banco deposita o
montante desses títulos, descontados de outros custos de transação, na conta corrente da
empresa.
A K Honda deve classificar suas contas a receber de clientes como um ativo
financeiro mensurado pelo valor justo por meio de resultado, eis que nesse caso, o
modelo de negócios dessa entidade não é manter ativos com o propósito de recolher
seus fluxos de caixa contratuais.

Exemplo 3: A empresa BFR Ltda também vende mercadorias com a possibilidade de o


cliente dividir o valor de suas compras em até três parcelas mensais, sucessivas, iguais
e sem juros. A empresa detém ativos financeiros para receber fluxos de caixa
contratuais e vende ativos financeiros de acordo com suas necessidades.
Agora essa empresa deve classificar suas contas a receber de clientes como um
ativo financeiro mensurado pelo valor justo por meio de outros resultados
abrangentes, uma vez que o modelo de negócios dessa entidade é atingido tanto pelo
recebimento de fluxos de caixa contratuais quanto pela venda de ativos financeiros.

Exercício: (CONSULPLAN) – questão modificada: “A companhia BFR S/A, que atua


exclusivamente no ramo de serviços de solda, quando do fechamento de seu balanço
patrimonial do ano de 2016 precisou de uma empresa de auditoria para auxiliá-la
quanto à avaliação de suas aplicações em instrumentos financeiros, que se tratavam de
aplicações destinadas a receber fluxos de caixa e para vendas e instrumentos
financeiros para negociação (categoria residual). De acordo com a Lei nº 6.404/76 e
alterações posteriores, estes ativos devem ser avaliados pelo:
a) Valor justo. b) Custo líquido. c) Custo histórico. d) Custo de aquisição,
deduzido de provisão para perdas prováveis na realização do seu valor.

2) (FCC/TRE-SP/Analista Judiciário/Contabilidade/2017) Questão adaptada: A


empresa Manequim Challenger S.A. fez uma aplicação financeira em 30/11/2018,
adquirindo um título no mercado financeiro no valor de R$ 5.000,00, que remunera à
taxa de 10% ao mês. Este título, conforme orientação da controladoria da empresa, foi
classificado na data da aquisição como “mantido para recebimento de fluxo de
caixa” e o seu valor de mercado 30 dias após a sua aquisição era R$ 5.450,00. De
acordo com estas informações, em 30/12/2018, a empresa reconheceu
a) receita financeira no valor de R$ 500,00.
b) receita financeira no valor de R$ 450,00.
c) receita financeira no valor de R$ 500,00 e ajustes de avaliação patrimonial, no
patrimônio
líquido, no valor de R$ 50,00 (saldo devedor).
d) receita financeira no valor de R$ 450,00 e ajustes de avaliação patrimonial, no
patrimônio
líquido, no valor de R$ 50,00 (saldo credor).
e) no patrimônio líquido, em ajustes de avaliação patrimonial, o valor de R$ 500,00.

3) As características das aplicações financeiras realizadas por uma empresa no dia


01/12/2016 são apresentadas na tabela a seguir:

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Contabilidade Avançada I

O valor total apresentado no Balanço Patrimonial da empresa, em 31/12/2016, e o


efeito total na Demonstração do Resultado de 2016, para as três aplicações em conjunto
foram, respectivamente, em reais,
A) 2.437.000,00 e 37.000,00. B) 2.442.000,00 e 42.000,00. C) 2.438.000,00 e
38.000,00.
D) 2.438.000,00 e 40.000,00. E) 2.438.000,00 e 35.000,00.

Participações societárias permanentes

As participações societárias permanentes podem ser classificadas


em não coligadas e não controladas ou coligadas, controladas, empresa do
mesmo grupo e controlecomum.

Participações societárias em não coligadas e não controladas


Pela Lei 6404/76, art. 183,

No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os


seguintes critérios:
[...]
III - os investimentos em participação no capital social de outras
sociedades, ressalvado o disposto nos artigos 248 a 250 (método
de equivalência patrimonial), pelo custo de aquisição, deduzi-
do de provisão para perdas prováveis na realização do seu valor,
quando essa perda estiver comprovada como permanente, e que
não será modificado em razão do recebimento, sem custo para a
companhia, de ações ou quotas bonificadas;[...]

Então, pelo artigo 183, III, podemos perceber que, fora os casos de
equivalência patrimonial, usaremos o custo de aquisição.

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Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

De acordo com o art. 248 da Lei 6404/76,


No balanço patrimonial da companhia, os investimentos em coli-
gadas ou em controladas e em outras sociedades que façam parte de
um mesmo grupo ou estejam sob controle comum serão avaliados pelo
método da equivalência patrimonial [...].
Portanto, para a Lei das Sociedades Anônimas, os investimentos em
coligadas, controladas, empresa do mesmo grupo e controle comum se-
rão avaliados pelo método de equivalência patrimonial, enquanto que
os demais casos de investimentos permanentes, pelo custo de aquisição.
Entretanto, o item 9 do CPC 38 determina que os investimentos que
não são avaliados por equivalência patrimonial devem ser avaliados
pelo seu valor justo (de forma sucinta, seria o valor de mercado), sendo
admissível a avaliação pelo método do custo apenas quando os instru-
mentos não tiverem preço de mercado cotado em um mercado ativo ou
cujo valor justo não possa ser mensurado com confiabilidade.
Percebam que a Lei das Sociedades Anônimas, em seu art. 183, III,
admite apenas MEP e custo, enquanto que o CPC 38 admite MEP, valor
justo e, de forma excepcional,custo.
Sendo assim, fica a pergunta: qual caminho deve ser seguido: acom-
panhar o pronunciamento técnico, no caso o CPC 38, que é emitido
pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), uma entidade autô-
noma criada pela Resolução CFC nº 1.055/05, ou seguir a determinação
da Lei das Sociedades Anônimas, criada pelo Congresso Nacional?
Aparentemente, a resposta correta seria seguir a Lei 6.404/76. Toda-
via, a doutrina recente, baseada no art. 177, § 5º, entende que a própria
Lei das Sociedades por Ações, implicitamente, determina que as normas
do Comitê de Pronunciamentos Contábeis devem ter preferência sobre
a referida lei nos pontos de divergência (FERRARI, 2013).

Quadro 1.1: Resumo - Avaliações em participações permanentes

Avaliações Pela Lei 6.404/76 Pelo CPC


MEP
Participações MEP
Valor justo
permanentes Custo de aquisição¹
Custo de aquisição²

¹ Quando não for por MEP (coligadas, controladas, quando do mesmo


grupo ou com controle comum);
² de forma excepcional.

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Contabilidade Avançada I

Ferrari (2013) afirma que, se uma empresa adquire ações de outra que
não se constitua em coligada ou controlada (incluindo a joint venture),
esses instrumentos patrimoniais podem ser classificados no ativo circu-
lante, no ativo realizável a longo prazo ou no ativo investimentos, depen-
dendo da intenção de vender a curto prazo, de vender a longo prazo ou de
não vender. Entretanto, independentemente disso, são ativos financeiros
dentro do alcance do CPC 38 quanto à forma de reconhecimento e men-
suração e devem, regra geral, ser avaliados pelo valor justo e não pelo
custo de aquisição, muito menos deduzidos de qualquer provisão, termo
este que, conforme CPC 25, é exclusivo de contas do passivo.

Participações societárias coligadas, controladas, empresa do mes-


mo grupo e controlecomum
Conforme mencionado, os investimentos em Coligadas, Controla-
das, empresa do Mesmo Grupo e Controle Comum serão avaliadas pelo
Método de Equivalência Patrimonial.

Avaliação pelo método da equivalência patrimonial


De acordo com o item 2 da Deliberação CVM 605/2009,
Método de equivalência patrimonial é o método de contabilização
por meio do qual o investimento é inicialmente reconhecido pelo custo
e posteriormente ajustado pelo reconhecimento da participação atri-
buída ao investidor nas alterações dos ativos líquidos da investida. O
resultado do período do investidor deve incluir a parte que lhe cabe nos
resultados gerados pela investida.
Já o item 3 do CPC 18 (R2) afirma que método de equivalência patri-
monial é o método de contabilização por meio do qual o investimento
é inicialmente reconhecido pelo custo e, a partir daí, é ajustado para
refletir a alteração pós-aquisição na participação do investidor sobre os
ativos líquidos da investida. As receitas ou as despesas do investidor in-
cluem sua participação nos lucros ou prejuízos da investida, e os outros
resultados abrangentes do investidor incluem a sua participação em ou-
tros resultados abrangentes da investida.
A equivalência patrimonial é baseada no fato de que os resultados e
quaisquer variações patrimoniais de uma controlada ou coligada devem
ser reconhecidos (contabilizados) no momento de sua geração, inde-
pendentemente de serem ou não distribuídos.

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Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

Conforme Moraes Júnior (2013), o valor do investimento avaliado


pela MEP é obtido aplicando-se a porcentagem de participação no capi-
tal social sobre o valor do patrimônio líquido da investida.

Cálculo da equivalência patrimonial

Calcular a equivalência patrimonial é aplicar o percentual de parti-


cipação que a investidora possui na investida, que será sempre em
relação ao capital total da investida, enão sobre o capital votante.
A utilização do capital votante é tão somente para saber se vamos
ou não aplicar a equivalência patrimonial.
Então, para calcular a equivalência patrimonial, é necessário apli-
car o percentual de participação em relação ao capital total da
investida sobre o patrimônio líquido (PL) também da investida.

Inicialmente, conforme deliberação acima, o investimento é reco-


nhecido pelo custo e, posteriormente, ajustado pelo reconhecimento da
participação atribuída ao investidor nas alterações do patrimônio líqui-
do da investida.
Portanto, o reconhecimento do investimento ocorre na data da aqui-
sição, quando já é possível verificar se houve, eventualmente, algum
ágio ou deságio (compra vantajosa).
Para melhor compreensão desse assunto, segue exemplo em que não
há ágio ou deságio.
Em 01/05/2013, a investidora ABC adquire, por R$ 70.000,00, , 70%
da investida XYZ, cujo patrimônio líquido era de R$ 100.000,00. Sendo
assim, como deve proceder ainvestidora?
R: Deve aplicar o percentual de participação ao PL da investida:
70% x R$ 100.000,00 = R$ 70.000,00.
Tendo em vista que a investidora pagou exatamente R$ 70.000,00,
não pagando nada a mais, não falaremos em ágio. Como também

72
Contabilidade Avançada I

não pagou nada a menos, também não podemos falar em deságio


(compra vantajosa).
Lançamento contábil
D – Ações de controladas (ANC Investimentos)
C – BCM: 70.000,00
Caso a investidora tivesse pagado R$ 75.000,00 pelo investimen-
to acima, haveria uma diferença positiva entre o custo de aquisição e
o valor contábil do investimento, que é de R$ 70.000,00 (70% de
R$ 100.000,00). Essa diferença positiva significa que a participação
teria ocorrido com ágio por rentabilidade futura (goodwill).
Com isso, o lançamento ficaria assim:
D – ações de controladas (ANC Investimentos): 70.000
D – ágio em participações permanentes (ANC Investimentos): 5.000
C – bancos: 75.000
Cabe destacar que as contas ações em controladas e ágio em partici-
pações permanentes serão classificadas no ANC Investimentos.
Conforme Moraes Júnior (2013, p. 570),

O ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill),


representado pela diferença positiva entre o valor pago (ou va-
lores a pagar) e o montante líquido proporcional adquirido do
valor justo dos ativos e passivos da entidade adquirida só é clas-
sificado no subgrupo de Intangíveis no balanço consolidado,
visto que o goodwill é da investida (a capacidade de geração de
rentabilidade futura é da investida), pago pela adquirente. A in-
vestidora registrará esse ágio como parte do custo de seu investi-
mento, no sub-grupo Ativo Não Circulante “Investimentos”. Esse
ágio não será amortizado, mas o investimento poderá sofrer o
teste de recuperabilidade.

Ferreira (2014) relata que a participação é desdobrada em valor de


patrimônio líquido (no exemplo, 70% do PL) e ágio (custo de aquisição
– participação sobre o PL).
Investimentos
ações de controladas: 70.000
ágio de participações permanentes: 5.000

73
Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

Agora, se ABC tivesse desembolsado R$ 67.000 pela participação de


70% da investida XYZ, que possui PL de R$100.000, haveria uma dife-
rença negativa de R$ 3.000 entre o custo de aquisição e o valor contábil
do investimento. Essa diferença negativa significa que a participação
teria ocorrido com deságio.
Diferentemente do tratamento contábil do ágio (classificado como
ANC Investimentos), o deságio vai para o resultado como receita.
No MEP, sempre que o patrimônio líquido da investida variar, a in-
vestidora deverá ajustar o valor do investimento.
Ferrari (2013, p. 1073) afirma que “a expressão ``equivalência patri-
monial` significa que o PL da investidora varia de forma `equivalente`
(proporcional) ao PL da investida”.
Desse modo, em geral, no encerramento de cada exercício social,
a investidora deve avaliar o investimento pelo valor de patrimônio lí-
quido da coligada ou controlada, de modo a readequar o valor contábil
de seu investimento e determinar o possível resultado na equivalência
patrimonial.

Variações do PL devido a outros


resultados abrangentes

No caso de variações no PL da investida não geradas por lucros


ou prejuízos, mas sim por outros resultados abrangentes (ajuste
de avaliação patrimonial, aumento de capital, ajuste de exercícios
anteriores etc.), a investidora irá reconhecer por equivalência pa-
trimonial no momento em que tais variações forem geradas, não
necessariamente na data do encerramento do exercíciosocial.

Para isso, aplicamos o percentual de participação ao PL da inves-


tida e, em seguida, comparamos o resultado obtido com o valor atual
do investimento.

74
Contabilidade Avançada I

O objetivo do MEP é que o valor contábil do investimento daquela


investidora sempre reflita a aplicação do percentual de participação ao
capital investido.
Sempre que o patrimônio líquido da investida for alterado, a investi-
dora precisará rever o valor contábil de seu investimento.
Fatores como apuração de resultado na investida (lucro ou prejuízo),
ajuste de exercícios anteriores, ajuste de avaliação patrimonial, aumento
de capital ou qualquer outro que provoque alteração no patrimônio lí-
quido da investida vão provocar reflexo na investidora.
O caso clássico é a apuração do resultado, enquanto que os demais
são os outros resultados abrangentes, conforme item 3 do CPC 18 (R2).
Caso, por ventura, ocorra um aumento de valor no PL da investi-
da, teremos resultado positivo na equivalência patrimonial (outras
receitas operacionais).
Para uma melhor compreensão, recorreremos aos exemplos.
Ex.1: Retornando ao caso da empresa ABC, que adquire 70%
da investida XYZ por R$ 70.000, cujo patrimônio líquido era de
R$ 100.000,00. Inicialmente o registro seria, conforme já demonstrado:
D – ações de controladas (ANC Investimentos)
C – BCM: 70.000,00
Agora, vamos supor que, no final do exercício social seguinte, a in-
vestida apurou um lucro de R$ 60.000. Portanto, a investida passou a ter
um PL de R$ 160.000.
Como no MEP, sempre que o patrimônio líquido da investida variar,
a investidora deverá ajustar o valor do investimento.
Desse modo, a investidora, sabendo do lucro de R$ 60.000 na inves-
tida, vai aplicar o percentual de participação ao novo PL da investida,
passando agora para R$ 112.000.(160.000 x 70%).
Vai pegar esse R$ 112.000 e vai comparar com o que ele tinha antes;
R$ 70.000. E, assim, vai descobrir que ele precisa aumentar o valor de
seu investimento em R$ 42.000.
D – ações de controladas (ANC Investimentos)
C – resultado positivo na equivalência patrimonial: 42.000,00

75
Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

Poderia, também, aplicar o percentual de participação diretamente


sobre a variação do PL, que, no caso, foi apenas o lucro, no valor de
R$ 60.000 (70% x 60.000 =42.000).
Após esse lançamento, teremos:
ativo não circulante investimentos
ações de controladas: 112.000,00
Entretanto, pode acontecer de a alteração no PL da investida ser uma
redução de valor, em que teremos resultado negativo na equivalência
patrimonial (outras despesas operacionais).
Ex.2: Imaginemos, agora, que não houve lucro, e sim um prejuízo
líquido de R$ 30.000,00. O PL da investida terá o valor de R$ 70.000,00:
1) Aplicação do MEP ((100.000 - 30.000) x 70%) = 49.000,00
2) (-) VC Anterior (70.000,00)
(=) Resultado negativo na EP(21.000,00)
Dessa maneira, a conta que registra o investimento deve ser diminuí-
da por crédito em R$ 21.000,00, para que o seu saldo seja equivalente ao
valor de patrimônio líquido da participação na investida. A contrapar-
tida desse ajuste, via de regra, é como resultado operacional negativo.
Assim, deve a investidora lançar:
D – resultado negativo de equivalência patrimonial (despesa)
C – ações de controladas: 21.000,00 (70% x 30.000 de prejuízo)
Após esse lançamento, teremos:
ativo não circulante investimentos
ações de controladas:49.000,00
Pode acontecer, ainda, que a investida tenha uma alteração em seu PL,
não devido ao resultado do exercício, mas em decorrência, por exemplo,
de um ajuste de avaliação patrimonial (outros resultados abrangentes).
Ex. A investida XYZ contabilizou um aumento em seu PL de
R$10.000,00 em decorrência de um ajuste de avaliação patrimonial. As-
sim sendo, deve a investidora realizar o seguinte registro contábil:
D – investimento em controlada
C – outros resultados abrangentes – ajuste de avaliação patrimonial
(70% x 10.000): 7.000

76
Contabilidade Avançada I

A apuração do resultado da equivalência patrimonial ocorre, em


geral, no encerramento do exercício social, após a apuração do
resultado do exercício, sendo antes da constituição de reservas e
distribuição de dividendos.

Relevância
De acordo com o § único do artigo 247 da Lei 6404/76, considera-se
relevante o investimento:
a) em cada sociedade coligada ou controlada, se o valor contábilfor
igual ou superior a 10% (dez por cento) do valor do patrimônio líquido
da companhia;
b) no conjunto das sociedades coligadas e controladas, se o valor
contábil for igual ou superior a 15% (quinze por cento) do valor do pa-
trimônio líquido da companhia.
Devido às alterações trazidas pela Lei 11/638/07 e 11.941/09, o artigo
248 da Lei 6.404/1976 não mais menciona a relevância como critério
para avaliação pelo método da equivalência patrimonial. Sendo assim,
os investimentos que possuam as características narradas no art. 248 da
referida lei (investimentos em coligadas ou em controladas e em outras
sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob contro-
le comum) serão avaliados pelo MEP, independentemente do quanto o
seu valor contábil represente em relação ao PL da investidora.

Atividade 2

1. (ISS-SP/FCC/2012) O investimento em controlada, que representa


participação no capital votante de 60% e no capital social de 50%, deve
ser aumentado em R$ 60.000,00 se a investida tiver apurado lucro no
exercício de R$ 100.000,00.
( ) Certo ( ) Errado

77
Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

2. (Analista CVM/2003 – FCC Adaptada) A Cia. Omega comprou, à vis-


ta, ações representativas de 20% do capital votante da Cia. Delta, tendo
pago o equivalente a R$ 350. 000,00 na transação. Na ocasião, o Patrimô-
nio Líquido da investidora montava a R$3.000.000,00, e o da investida, a
R$1.500.000,00. Pode-se concluir, diante dos fatos expostos, que:
(A) a Cia. Delta e a Cia. Omega não são coligadas.
(B) o investimento na Cia. Delta não é relevante para a Cia. Omega.
(C) houve pagamento de ágio por rentabilidade futura (goodwill) na
aquisição do investimento.
(D) a Cia. Omega deve avaliar o investimento na Cia.Delta pelo custo
de aquisição.
(E) o investimento efetuado na Cia. Delta tem caráter temporário.

Resposta comentada
1. Errado, pois capital votante é utilizado apenas para saber se iremos
aplicar a equivalência patrimonial. Sendo assim, devemos trabalhar
com a porcentagem sobre o capital social. Portanto, o investimento na
controlada deve ser aumentado em R$ 50.000 (100.000 x 50%).
2. Alternatica C. A diferença positiva significa que a participação foi
realizada com ágio por rentabilidade futura(goodwill).

Contabilização dos dividendos–


Dividendos pelo método do custo de aquisição

Pela legislação do Imposto de Renda, os dividendos recebidos até seis


meses a partir da data de aquisição do investimento avaliado pelo custo
de aquisição devem ser registrados como redução do custo de aquisição
do investimento permanente, sem afetar o resultado da investidora.

78
Contabilidade Avançada I

Os dividendos recebidos após seis meses da data de aquisição do


referido investimento devem ser registrados como receita operacional.
Desse modo, seguem os lançamentos contábeis:

Tabela 1.2: Lançamentos na investidora

I – dividendos recebidos até seis II – dividendos recebidos após seis


meses; meses:
D – caixa (ativo circulante) D – caixa (ativo circulante)
C – participações permanentes
C – receita de dividendos (receita)
(ANC - Investimentos)

Entretanto, Ferrari (2013) entende que a regra acima, desde 2010,


não é mais válida “contabilmente”, uma vez que o CPC 30 (R1) – Recei-
tas – determina que os dividendos (não decorrentes de investimentos
avaliados por equivalência patrimonial) devem ser reconhecidos como
receitas quando for estabelecido o direito de o acionista receber o res-
pectivo valor. Isso, ainda de acordo com Ferrari, independe da época
em que o investimento foi adquirido, não fazendo, portanto, alguma
diferença se antes ou após seismeses.
Dessa maneira, os dividendos de investimentos que não sejam ava-
liados pelo MEP, portanto, a valor justo (ou custo, na impossibilidade de
se determinar de forma precisa o valor justo), devem ser reconhecidos
como receita.
Pelo exposto, embasado nas novas regras trazidas pelo CPC (CPC 30
(R1) e item 55b do CPC 38), os dividendos recebidos de investimentos
não avaliados pelo MEP passam a ter o seguinte registro contábil, inde-
pendentemente da data de aquisição:
D – dividendos a receber/caixa (ativo circulante)
C – receita de dividendos (outrasreceitas)

Dividendos pelo método de equivalência patrimonial

Após a apuração do resultado do exercício e do resultado da equi-


valência patrimonial, os dividendos recebidos de investimento ava-
liado pelo MEP serão sempre contabilizados como redução do valor
do investimento.

79
Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

Registro contábil:
D – dividendos a receber/caixa (ativo circulante)
C – investimentos permanentes (ANC - Investimentos)

Atividade 3

Atende ao objetivo 3

1. (Susep – 2010 – Esaf) A Companhia Epson adquiriu da Companhia


Ypsilon 30% de seu patrimônio líquido, que é representadounicamente
pela conta Capital, cujo valor é R$ 200 mil. Sabemos que a compra, no
início do período, foi realizada por R$ 60 mil; que as companhias Ep-
son e Ypsilon são empresas coligadas; que o investimento é considerado
relevante; e que o lucro líquido do período, antes da distribuição de di-
videndos, foi de R$ 100 mil, na empresa Ypsilon e de R$ 80 mil, na em-
presa Epson. Sabemos também que a assembleia geral de cada empresa
mandou contabilizar a distribuição de 40% do lucro como dividendos.
Com base nas informações acima, pede-se indicar por quanto deverá
ser avaliado o investimento no Balanço Patrimonial da Companhia Ep-
son no fim do período. O valor da avaliação será:
a)R$78.000,00.
b)R$42.000,00.
c)R$90.000,00.
d) R$ 72.000,00.
e) R$ 102.000,00.
2. (AFC-CGU-2004 – Adaptada – Esaf) A Arvorebrás tem um patri-
mônio líquido de R$ 1.500.000,00 e possui 18% das ações emitidas pela
Piauí Queijos & Doces. O investimento não é considerado relevante
nem avaliado por equivalência patrimonial. No fim do exercício social,
a investida apurou lucro líquido de R$ 25.000,00 e destinou 40% para
o pagamento de dividendos. Ao receber a comunicação desses fatos, a
investidora deverá contabilizar:
a) débito de ativo permanente 4.500,00 a crédito de receitas 4.500,00;
b) débito de ativo circulante 4.500,00 a crédito de receitas 4.500,00;

80
Contabilidade Avançada I

c) débito de ativo permanente 1.800,00 a crédito de resultado do exer-


cício 1.800,00;
d) débito de ativo circulante 1.800,00 a crédito de resultado do exercício
1.800,00;
e) débito de ativo permanente 2.700,00 débito de ativo circulante
1.800,00 a crédito de resultado4.500,00.

Resposta comentada
1. Inicialmente iremos calcular e registrar a equivalência patrimonial (o
enunciado da questão informa que as empresas são coligadas):
participação de 30%
lucro da investida: r$100.000;
D – investimentos permanentes
C – receita de equivalência patrimonial: (30% x 100.000) ...30.000
Após o resultado da equivalência patrimonial, iremos calcular e re-
gistrar o recebimento dos dividendos:
dividendos – 40% do lucro;
D - dividendos a receber/caixa
C - investimentos permanentes ((30% x 100.00) x 40%): 12.000
Alternativa A. O investimento, antes do encerramento do exercício, era
de R$ 60.000 e houve um acréscimo de R$18.000 (30.000 – 12.000) no
período, totalizando 78.000,00.

81
Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

2. Alternativa D. Os dividendos de investimentos que não sejam avalia-


dos pelo MEP terão o seguintelançamento:
D – dividendos a receber/caixa (ativo circulante)
C – receita de dividendos (outras receitas)
O valor dos dividendos a receber é: ((18% x 25.000) x 40%) = 1.800

Conclusão

As participações societárias, classificadas em temporárias ou per-


manentes, contam com o método de avaliação pelo valor justo ou pela
equivalência patrimonial. Como já é regra na contabilidade, percebe-
mos, mais uma vez, a necessidade de o profissional contábil acompa-
nhar as atualizações da legislação, pois, no presente estudo, discutimos
as alterações referentes às participações societárias instituídas pelo Co-
mitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC.
Compreendido isso, vamos à atividade final.

Atividade Final

Atende aos objetivos 1, 2 e 3.

1. Responda:
a) O que são investimentos temporários e onde são classificados no
balanço patrimonial?
b) O que são investimentos permanentes e onde são classificados no
balanço patrimonial?
c) O que é método de valorjusto?
d) O que é método da equivalênciapatrimonial?
e) Quais são as empresas avaliadas pelo MEP?
f) Defina empresascontroladas.
g) Defina empresas coligadas.

82
Contabilidade Avançada I

h) Defina ágio.
i) Defina deságio.

Resposta comentada
a) São investimentos em que a investidora possui a intenção de vender,
visto que essas participações possuem natureza especulativa. Essas par-
ticipações são consideradas, entre outros tipos, instrumentos financei-
ros, sendo classificadas no ativo circulante ou no ativo realizável a longo
prazo, dependendo do prazo de realização.
b) Ocorrem quando a investidora adquire ações ou quotas de outra em-
presa sem o intuito de alienar essa participação, sendo classificados no
ANC Investimentos.
c) É a quantia pela qual um ativo poderia ser trocado, ou um passivo

83
Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

liquidado, entre partes conhecedoras e dispostas a isso em transação


sem favorecimento.
d) Pelo método de equivalência patrimonial, um investimento em co-
ligada e em controlada é inicialmente reconhecido pelo custo, e o seu
valor contábil será aumentado ou diminuído pelo reconhecimento da
participação do investidor nos lucros ou prejuízos do período, gerados
pela investida após a aquisição.
e) Empresas coligadas, controladas, quando do mesmo grupo ou com
controle comum.
f) É a entidade na qual a controladora, diretamente ou por meio de
outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de
modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder
de eleger a maioria dos administradores.
g) Sociedades nas quais a investidora tem influência significativa (quan-
do a investidora detém ou exerce o poder de participar nas decisões das
políticas financeira ou operacional da investida, sem controlá-la).
Presunção de influência significativa: investidora é titular de 20% (vinte
por cento) ou mais do capital votante da investida, sem controlá-la.
h) É a diferença positiva entre o valor pago (ou valores a pagar) e o mon-
tante líquido proporcional adquirido do valor justo dos ativos e passivos
da entidade adquirida. Como exemplo, temos o ágio pago por expecta-
tiva de rentabilidade futura (goodwill).
i) Deságio representa a diferença negativa entre o valor pago (ou valores
a pagar) e o montante líquido proporcional adquirido do valor justo dos
ativos e passivos da entidade adquirida, sendo registrado como receita
no período em que o investimento foiadquirido.

2. A empresa Estrela Solitária adquiriu investimentos nas


respectivas empresas:
Total do capital Capital votante em
Investidas
votante poder da investidora
Empresa Alfa 100.000 12.000
Empresa Beta 100.000 16.000
Empresa Charles 1.000.000 70.000
Empresa Delta 400.000 220.000
Empresa Echo 200.000 120.000

84
Contabilidade Avançada I

A Estrela Solitária participa do conselho de administração da empresa


Charles.
Nos casos acima, quais desses investimentos serão avaliados pelo MEP
e quais ser20ão pelo método de valor justo?
Ilustração: favor inserir 20 linhas para resposta.

Resposta comentada
A Estrela Solitária participa com 12% de Alfa, portanto não é coligada e
nem controlada, sendo avaliada pelo método de valorjusto.
O mesmo ocorre com Beta, eis que não atinge a presunção de influência
significativa (20%).
Em relação à empresa Charles, apesar de a Estrela Solitária possuir ape-
nas 7% do total do capital votante, participa do conselho de adminis-
tração, o que significa que possui influência significativa (investidora
detém ou exerce o poder de participar nas decisões das políticas finan-
ceira ou operacional da investida, sem controlá-la). Dessa maneira, são
coligadas, e, por isso, o método de avaliação será o MEP.
Quanto à Delta, a participação atinge 55% do capital votante, o que sig-
nifica controle. Sendo assim, investimento avaliado pelo MEP.
E, por fim, na Echo, a participação chega a 60%, logo, MEP.
3. (TRT/FCC/2012) Considere as seguintes operações realizadas pela
Cia. Compra Tudo:
I. Aquisição de 20% de ações preferenciais da Cia. A, com o objetivo de
diversificar suas operações, mas não possuindo influência na adminis-
tração da mesma.
II. Aquisição de 15% do total das ações da Cia. B, adquirindo so-
mente ações ordinárias, com o objetivo de assegurar fornecimento de
matéria-prima (o acionista controlador possui 51% do capital votante).
III. Aquisição de 40% do total das ações da Cia. C, adquirindo apenas
ações ordinárias, com o objetivo de aumentar sua participação de mer-
cado (o acionista controlador possui 51% ou mais do capital votante).
Sabendo que as Cias. A, B e C possuem o Capital Social formado por
50% de ações preferenciais e 50% de ações ordinárias, é correto afirmar
que a Cia.

85
Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

a) A é avaliada pelo custo por ser considerada coligada.


b) B é avaliada pelo custo por não ser considerada coligada ou controlada.
c) C é avaliada por equivalência patrimonial por ser considerada coligada.
d) A é avaliada porequivalência patrimonial porser considerada coligada.
e) B é avaliada por equivalência patrimonial por ser considerada coligada.

Resposta comentada
Alternativa E.
Percebe-se na questão que o capital social é formado por 50% deações
ordinárias (capital votante). Assim sendo:
I – O enunciado fala em ações preferenciais, o que não é relevante quan-
do se fala em MEP. A presunção de influência significativa refere-se a
20% do capital votante (= açõesordinárias).
II – Adquiriu 15% do total das ações, sendo que comprou somente ações
ordinárias. Como existem apenas 50% de ações dessa espécie, 15% equi-
valem a 30% do total das ações ordinárias. Vale lembrar que, para veri-
ficar se as empresas são coligadas ou controladas, trabalhamos com as
ações ordinárias (capital votante) e, no caso da questão, a Cia B possui
50 (desconsiderar a porcentagem apenas para melhor compreensão do

86
Contabilidade Avançada I

tema) ações ordinárias, tendo a Cia Compra Tudo adquirido 15. Por
conseguinte, Compra Tudo atingiu 30% do total das ações ordinárias da
Cia B. Portanto, aqui, há a presunção de influência significativa, o que
as tornam coligadas.
III – Adquiriu 40% do total de 50%, o que equivale a 80% das ações com
direito a voto. Logo, Cia. C é controlada.

4. (MPE–RS–Assessor-Contabilidade–adaptada-2008–FCC) A Cia. Es-


telar registra, em seu permanente, uma participação de 10% das ações
preferenciais de uma determinada empresa, sobre a qual não detém in-
fluência significativa. Os dividendos, quando distribuídos pela investida
ao final do exercício de 2008, serão registrados pela investidora a:
a) crédito da conta participações em sociedades controladas e coligadas.
b) débito de resultados não operacionais em investimentos avaliados
pelo método de custo.
c) crédito de participação nos resultados de coligadas avaliadas por
equivalência patrimonial.
d) débito de participações societárias em sociedades coligadas.
e) crédito de uma conta de receita.

Resposta comentada
Lançamento referente a dividendos não avaliados pelo MEP:
D – dividendos a receber/caixa (ativo circulante)
C – receita de dividendos (outras receitas)
Alternativa E. Conforme o lançamento acima, percebemos que ocorre
um crédito na conta de receita de dividendos. [

87
Aula 1 • Investimentos Societários e Equivalência Patrimonial

Resumo

Na presente aula, discutimos a respeito das participações temporá-


rias e permanentes, de quando usar o método da equivalência patri-
monial (MEP), aplicável a investimentos em coligadas – investidas nas
quais a investidora tem influência significativa na administração; em
controladas – investidas nas quais a investidora tem preponderância nas
deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores
por ter a maioria do capital votante; e, também, em investimentos– em
que a investidora e as investidas são parte do mesmo grupo de socieda-
de ou estão sob controle comum.
Vimos, também, que aplicar a equivalência patrimonial é aplicar o
percentual de participação que a investidora possui na investida, sempre
lembrando que esse percentual de participação é em relação ao capital
total da investida, e não dovotante.
Por fim, tratamos da aplicação do método de equivalência patrimo-
nial, como por exemplo, sobre o resultado do exercício, a questão do
ágio, deságio e dos dividendos.

Referências bibliográficas

FERRARI, Ed Luiz. Contabilidade Geral.13. ed. Niterói: Editora Impe-


tus, 2013.
FERREIRA, Ricardo J. Contabilidade Básica. 11. ed. Rio de Janeiro: Edi-
tora Ferreira, 2014.
MORAES JÚNIOR, José Jayme. ContabilidadeGeral. 4. ed. Rio de Janei-
ro: Editora Elsevier, 2013.
NEVES, Silvério das; VICECONTI, Paulo E.V.ContabilidadeAvançada.
7 ed. São Paulo: Frase,2003.

Informações sobre a próxima aula

Na próxima aula, você estudará as regras gerais das demonstrações


contábeis, bem como identificar quais as demonstrações financeiras
obrigatórias. Até lá!

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Contabilidade Avançada I

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