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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO - IE

PEDAGOGIA LICENCIATURA
ARTE E LINGUAGENS NA EDUCAÇÃO

Profª Vivi Kwecko

Pamela Tissot – 140527


Valéria Borges - 155432

Camila Brandão - 156908

Segundo Cleusa Peralta nos mostra em seu livro - Pela linha do tempo do
desenho infantil: um caminho trans estético para o currículo integrado – Rio Grande,
2012. Na fase de garatuja as crianças evidenciam o pensamento cinestésico, que
segundo Peralta: tem como característica marcante a não representação, ou seja, o
desenho é a grafia do movimento sem uma tentativa de representação figurativa, o
desenho ali presente se encontra sem uma tentativa de plagiar ou referenciar
qualquer outro objeto ou situação mundana.
A fase de garatuja possui 3 níveis/etapas, sendo a primeira a etapa de garatuja
desordenada, onde a criança não transmite evidência de controle ou uma
representação do que é visto, evidenciando apenas movimentos aleatórios e
espontâneos, já na segunda etapa, chamada de garatuja ordenada ou longitudinal, a
criança tende a buscar um maior controle ao rabiscar, através de movimentos mais
ordenados e firmes. Na última etapa do pensamento sinestésico, intitulada como
garatuja nomeada, as crianças começam com as tentativas de representar através de
suas obras, desta forma, passam a nomear e dar sentido aos seus rabiscos, mesmo
que essas representações mudem a todo momento.
Como visto, ao decorrer do tempo as crianças tendem a rabiscar estas
garatujas de maneira mais ordenada, passando a fechar as formas e também a
atribuir significados a elas, demonstrando estar em processo de transição para a fase
do Pré-esquematismo, atribuída ao pensamento imaginativo, onde os rabiscos agora
fechados em círculos, passam a carregar significados pessoais cada vez mais
persistentes, que acompanharão os processos criativos das crianças em suas obras
sequenciais. Nesta competência a criança passa a expressar através destes novos
símbolos e formas, a si própria e as experiencias vivenciadas cotidianamente em suas
realidades, assim, evidenciando uma correspondência entre os desenhos e a
realidade, permitindo uma maior leitura pessoal a quem vê e a ela própria, que é quem
cria. Na etapa do Pré-esquematismo quase tudo se refere a criança, o que é
desenhado e a cor atribuída a estes desenhos, desta forma, passam a usar a cor
preferida em suas obras, independente de representar a cor genérica dos elementos
ou não, outra característica pertinente a ser destacada é que em alguns momentos
os elementos grafados transmitem a sensação de estarem flutuando, o que é
nomeado como espaço do astronauta.

Ainda segundo Cleusa, o terceiro processo transitório importante está ligado


ao pensamento simbólico e possui 3 fases/etapas, aqui no presente trabalho
destacamos as 2 primeiras etapas deste eixo. A primeira é nomeada como fase do
esquematismo, e se antes os desenhos representavam uma ausência de gravidade,
nesta fase eles passam a aterrissar nas margens e linhas do material utilizado para
riscar a obra, as crianças passam a representar a linha do céu e da terra, utilizando
as margens e as linhas de base de suas telas. Esta fase geralmente acontece ao
mesmo tempo do processo de alfabetização e com isso as crianças passam a
representar sons em seus desenhos, através do recurso de onomatopeia, que é uma
figura de imagem responsável por reproduzir uma tradução semiótica de elementos
grafados no desenho, outro ponto pertinente a destaque é o recurso da desproporção,
utilizado pelas crianças para dar maior ênfase e/ou relevância em algumas
"mensagens" e situações que queiram destacar nos desenhos.
A segunda etapa refere-se a etapa do realismo e é aqui que as divisões por
gêneros passam a ganhar maior força, dividindo-os mais ou menos como: "lado das
meninas" e "lado dos meninos" desta forma, passam a dividir o ambiente e o material
produzido, aqui também habita a busca por um resultado mais natural, que se
aproxime fielmente da realidade, com isso, as inúmeras tentativas de "concertos" e
ajustes fazem parte das telas utilizadas para as obras. Através desta etapa, as
crianças passam a dar maior valor para os desenhos de observação, assim como,
para as cores genéricas de cada elemento grafado, buscando sempre a maior
aproximação possível entre o que é grafado e o real.
Pensamento cinestésico - Etapa da Garatuja:

Garatuja desordenada
O desenho abaixo tem bastante em comum com o da figura 4 do livro, porém
as idades se diferem, na figura 4 a criança tem 1 anos e 9 meses (imagem 2), já a
outra criança possui 3 anos e meio (imagem 1).

O que se vê em comum é a forma dos traços onde não houve representação


de algo para ambas as crianças. As duas rabiscam com todo o corpo, suas linhas se
localizam concentradas em um só lugar da folha, dividido em vários tempos, alguns
círculos até podem ser observados se olharmos atentamente, porém, não são
tentativas autorais e sim consequências dos rabiscos espontâneos que em vários
momentos acabam se encontrando e formando formas de maneira involuntária.
Garatuja ordenada
A figura 5 do livro (imagem 1), se assemelha com o desenho de João (imagem
2) as crianças demonstram se apropriar de uma motricidade ampla, usando
praticamente todo espaço disponível na folha, os traços ainda mais amplos registram
um movimento com mais liberdade e ao mesmo tempo uma tentativa de obter mais
controle, através dos movimentos de vai e vem mais ordenados e firmes.
As obras transmitem o indicativo da utilização de todo o membro superior, com
mais movimentos de abre e fecha os braços, utilizando não apenas as mãos, mas o
membro superior como um todo (mãos, braços, cotovelos e ombros). É pertinente
destacar que João da imagem 2, está em processo investigativo de autismo, o que
não implica na análise, mas se destaca como uma informação extra entre as duas
crianças utilizadas para tais comparações.

Garatuja nomeada
A diferença de idade nesta análise é pouca, apenas 3 meses, mas
observasse a mesma tentativa de representar algo, nota-se que a figura do livro
(imagem 1) fez a representação de 1 figura humana mais nítida e círculos
estrelados que refletem outros ensaios de figuras. A criança autora da imagem 2
representou com clareza até mesmo o corpo, desenhando a cabeça e os pés.
Ambas demonstram já conseguir fechar círculos, completando as formas, dando
indicativos de que estão no início do processo transitório para a fase de pré-
esquema.
Uma característica da garatuja nomeada é dar significados que mudam a
todo instante. Alice, autora da imagem 2, diz ter registrado ela e sua família.

Pensamento imaginativo – Etapa de Pré-esquema:

Onde a transição começa


Ao compararmos os desenhos abaixo notamos que o desenho número 1, de
Lavínia (4 anos) se assemelha ao desenho número 2, de Carolina (3 anos) da página
64 do livro. Ambas demonstram estar no processo de transição do pensamento
cinestésico para o pensamento imaginativo, é possível ter essa percepção pela
tentativa/início de fechamento dos círculos, no caso de Lavínia ela ainda não
evidência de forma clara a etapa "cabeça-pés" passando o indicativo de que está no
início desta transição, da garatuja nomeada para o Pré-esquematismo.
Ao analisar o desenho de Carolina, se pouco apreciado, a figura humana não
é notada, diferentemente do desenho de Lavínia que possui 2 rostos bem evidentes,
outro ponto pertinente é quanto ao preenchimento do espaço ao redor da figura
central, Carolina se absteve em completar os espaços disponíveis na folha com mais
elementos, enquanto Lavínia preencheu os espaços ao redor com círculos, traços e
corações, evidenciando a característica do "espaço do astronauta" onde os elementos
flutuam ao redor da figura central ali retratada.
Configuração cabeça–pés
Tendo como autor da imagem número 1 o Gabriel (4 anos) e Tatiana (3 anos)
como autora da imagem número 2, ambos destacam a configuração ausente no
desenho de Lavínia, ao olharmos a obra das duas crianças conseguimos notar que a
figura ali presente possui a configuração nomeada como cabeça–pés, já que, agora
a representação corporal é composta por cabeça, pés e mãos, demonstrando uma
maior compreensão da figura humana.
Gabriel optou por desenhar várias pessoas de forma sequencial, enquanto
Tatiana se limitou a uma pessoa, no desenho da mesma é perceptível a característica
do espaço do astronauta, já que, o desenho transmite uma ausência de gravidade,
dando a impressão de que a figura central está flutuando, já Gabriel utilizou a folha
de forma horizontal e desenhou suas figuras rentes a margem inferior da mesma,
dando o entendimento de estarem apoiados ao chão, ambos evidenciam a utilização
de suas cores favoritas na criação das obras. Diferente da análise feita anteriormente,
aqui Tatiana representa com mais elementos os traços de um rosto, enquanto Gabriel
se absteve a desenhar os olhos.
Transição para a configuração tronco-membros

Carolina, agora com 4 anos, foi citada anteriormente na primeira etapa desta
análise sobre a fase do pré-esquematismo (imagem 1). Após um ano, seu desenho
de número 2 demonstra a grande evolução desde o início da transição, Carolina agora
destaca a configuração de tronco–membros de forma clara em seu desenho, assim
como, a maior riqueza de detalhes nos traços e elementos que compõem um rosto.
A mesma registrou sua família, e para isso utilizou a folha de forma horizontal,
aproveitando melhor o espaço ali ofertado, a menina ainda evidencia o exercício
cinestésico do grafismo em suas figuras tronco–membros.
Lara (4 anos) também optou por representar sua família em sua obra (imagem
3), assim como também optou por utilizar a folha de forma horizontal, visando o
melhor aproveitamento do espaço e melhor acomodamento das figuras de forma
sequencial. Ambas utilizaram traços longos e/ou curtos que dão origem aos cabelos,
a fim de distinguir os gêneros de forma visual, o que facilita no momento de nomear
cada figura representada. Lara optou por representar o tronco e os membros com
traços mais finos e longitudinais, enquanto Carolina buscou representá-los com
formas mais estruturadas e preenchidas.
Pensamento simbólico – Etapa do esquematismo
A autora caracteriza o momento do pré-esquematismo como pensamento
imaginário; onde inicia a fase de semelhanças com o real. A partir disso, ocorre a
passagem do pensamento imaginativo para o simbólico, momento em que a
alfabetização começa a ser desenvolvida.

A figura 18 do livro (imagem 1), reflete uma forma humana apenas com os
membros inferiores grafados, a mesma também evidencia fortemente as formas
geométricas em sua construção. Diferente da figura 18, Miguel (6 anos) traça linhas
horizontais e verticais delimitando outro plano, mas ainda em escala emocional;
referente às cores, risca evidenciando a roupa de seu pai (escolha de forma casual),
utilizando predominantemente grafite preto, fazendo detalhes e correções. Ainda,
exaltando as formas rígidas e geométricas conforme a figura 18.
Em ambos os desenhos há a presença de cores genéricas e novamente a
predominância das formas geométricas, no desenho de Rodrigo (9 anos) o
personagem (papai noel) está no espaço do astronauta, aspecto de flutuação visto
na etapa de pré-esquematismo. Já no desenho de Johana da página 81 do livro,
todos os elementos se encontram aterrissados na margem da folha.

O desenho da página 85 do livro evidencia o recurso de desproporção,


Tatiana utilizou para demonstrar o incômodo da figura principal com o barulho do
sino da igreja, para isto utilizou a desproporção no braço, que vai até o ouvido na
intenção de tapá-lo.
Melyssa (9 anos) também utilizou a mesma configuração para referenciar um
aceno da figura desenhada, para isto, fez o braço e a mão em uma proporção um
pouco maior, chamando a atenção para o suposto movimento do membro, a mesma
também desenhou a figura no espaço de flutuação, sem força da gravidade, os
traços e as proporções do corpo são referentes ao realismo. Ao desenhar, optou
por utilizar grafite preto e demonstra interesse por efeitos de volume e sombras. Os
traços dão a ideia de movimento e articulações, perfil ressaltado e busca de traços
semelhantes aos fisionômicos.
Referências:
CASTELL, Cleusa. Pela linha do tempo do desenho infantil: um caminho
trans estético para o currículo integrado. Rio Grande: Universidade Federal do Rio
Grande, 2012. 201 p.

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