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Copyright © 2022 por Tamires Barcellos

Todos os direitos reservados.

Revisão: Raquel Moreno


Capa: Tamires Barcellos
Diagramação: Tamires Barcellos

É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra


sem a autorização prévia da autora.

Todos os personagens desta obra são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas
terá sido mera coincidência.
Sumário
Nota da autora e aviso de gatilhos
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Epílogo
NOTA DA AUTORA
AGRADECIMENTOS
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
Olá, leitor! Como é bom ter você aqui comigo!
“Acordo Perfeito” é uma comédia romântica, porém,
tem algumas situações que podem causar desconforto
durante a leitura.
O livro vai abordar o luto, relacionamento abusivo e
violência doméstica. Não há cenas explícitas ou muito
violentas, mas é bom que você se atente.
Espero que goste deste romance e que se divirta!
Beijos!
“Todos veem o que você parece ser, mas poucos
sabem o que você realmente é.”
Nicolau Maquiavel
Janeiro de 2022

Yea, Alabama! Drown ’em Tide!


Every ‘Bama man’s behind you,
Hit your stride [1]

Queria que todo mundo calasse a boca, só por um


segundo. Eu me sentia no topo do mundo, enquanto uma
chuva torrencial e muito gelada golpeava a minha pele.
Os pingos eram grossos e inundavam os meus olhos, me
deixando confuso. Eu já não sabia se estava chorando ou
se era apenas a água da chuva que me deixava meio
cego em cima daquela ponte.
Olhei à minha volta, ainda ouvindo o grito de guerra
do Crimson Tide. Não conseguia ver ninguém, mas ouvia
nitidamente, a ponto de mal conseguir ouvir os meus
próprios pensamentos. Meu peito doeu e eu ofeguei,
querendo sumir por um minuto. Apenas um minuto. Ou
para sempre.
— Noite difícil, não é? — Alguém parou ao meu lado.
A ponte onde eu estava era alta demais, mesmo assim,
vi quando a pessoa se sentou ao meu lado, sobre o
guarda-corpo. Prendi a respiração.
— Desce daí. — Acho que sussurrei, mas eu poderia
ter gritado. Não faria muita diferença, na verdade, pois o
barulho da chuva e do público cantando não deixariam
que a pessoa ao meu lado ouvisse.
A chuva também não me deixava ver quem ela era.
Se era homem ou mulher, se eu a conhecia ou não. Eu
mal conseguia enxergar um palmo a minha frente.
— Foi uma noite difícil para mim também. — A
pessoa falou. Sua voz... Era feminina ou masculina? Que
porra, eu não conseguia distinguir! — Parece que noites
difíceis combinam com chuva.
— Só... Desce, por favor. É perigoso.
— E por que seria perigoso apenas para mim e não
para você?
Eu não conseguia ver o seu rosto direito, mas
conseguia sentir os seus olhos sobre os meus. Era como
se enxergassem algo além do que a chuva permitia,
como se enxergassem dentro de mim, o que me fez
sentir estranho. Eu não gostava quando viam além do
que eu queria mostrar, mas, naquele momento, a
sensação foi bem-vinda.
— Eu sou um atleta.
— E daí?
— E daí que eu tenho... — O que eu tinha? Eu não
tinha nada. Engoli o nó na garganta e prossegui. — Mais
equilíbrio.
A risada que a pessoa soltou ao meu lado fez o
aperto em meu peito afrouxar um pouco.
— Estamos a mais de dezoito metros do chão. Uma
queda daqui seria fatal, não importa quanto equilíbrio
você tenha.
— E por que você está rindo disso?
— Não tenho medo de altura. — Podia jurar que a
pessoa deu de ombros ao meu lado. Então, eu percebi. A
curva dos seios, a linha fina do pescoço. Uma garota.
Definitivamente, uma garota. — Sabe do que eu tenho
medo? — Sacudi a cabeça, mesmo sem saber se ela
conseguia me ver ou não debaixo daquela chuva toda. —
De viver o resto da minha vida sentindo medo. Creio que
seria um desperdício e tanto.
Olhei para baixo, sentindo uma leve vertigem. Um
relâmpago clareou todo o céu e percebi que o asfalto
havia se transformado em um rio raso. A água da chuva
corria lá embaixo, com a mesma rapidez com que o meu
coração batia.
— Eu não sinto mais medo — confessei. — Até hoje
de manhã, eu sentia, mas, agora, não sinto mais.
— Como você conseguiu se livrar do medo?
Senti meus lábios se curvarem em um sorriso
amargo, antes de um soluço escapar do fundo da minha
garganta. Eu podia imaginar o que todo mundo estava
pensando naquele momento.
O quarterback do Crimson Tide havia surtado de
vez.
A promessa do esporte era um fracasso total.
Ele jamais seria um atleta de verdade. É um
arruaceiro, um garoto problema idiota.
— Arrancaram esse sentimento de mim. Arrancaram
ela de mim. — Solucei de novo, apertando a beirada do
guarda-corpo com as minhas mãos. Minhas pernas
balançaram. Uma queda daqui seria fatal. Que bom,
talvez fosse disso que eu precisava.
— Não sei quem é ela, mas acho que sei o que ela
iria querer.
— Você não sabe! — Acho que gritei, pois senti
minha garganta ficar arranhada de repente. — Ninguém
sabe!
— Tem razão, eu disse que eu acho que sei, não que
sei com certeza.
Balancei a cabeça, ficando cansado demais de
repente.
— Só... Fica quieta — pedi.
— Para deixar que as vozes na sua cabeça falem
mais alto do que eu? Não mesmo. Eu sei como elas
podem ser poderosas, mas, sabe de uma coisa, atleta
cheio de equilíbrio? — Tentei enxergá-la através das
lágrimas e da chuva, mas falhei. — Somos mais fortes do
que ela. Somos mais fortes do que tudo. E mesmo que
hoje você se sinta fraco e que amanhã ou depois você
continue achando que não tem força, você vai perceber
que tem, sim. E então, quando você se der conta disso,
ninguém vai poder te parar.
Sacudi um pouco a cabeça, sentindo meus lábios se
curvarem um pouco para cima. Eu estava sorrindo?
— Isso é quase um parágrafo de livro de autoajuda.
— Bem brega, por sinal — ela salientou.
— Muito.
— Mas funciona, acredite em mim.
— Por que eu faria isso? Eu nem te conheço.
— Por isso mesmo. Se nós dois conhecêssemos um
ao outro, você poderia pensar que estou aqui porque
tenho medo de te perder, mas não é esse o caso.
— E por que você está aqui?
— Porque não quero que você se perca, pelo menos
não definitivamente. — Através da cortina que a chuva
formava, vi uma mão pequena se estender em minha
direção. — Vamos lá, estrelinha dourada, mostre para
mim que você tem equilíbrio de sobra e desça do guarda-
corpo comigo.
Olhei mais uma vez para baixo. Algo me chamava
para lá. A paz, talvez. O silêncio, finalmente. O fim
daquela dor que eu carregava há semanas, do medo
constante de perdê-la para sempre, a sensação que eu
tinha de que poderia encontrá-la a qualquer momento,
caso me entregasse. Eu só queria mais um abraço, mais
um beijo, sentir o seu cheiro pelo menos mais uma vez.
Queria ter mais tempo com ela, não para me despedir,
mas para sentir que ela estava comigo.
— Você vai se encontrar com ela um dia. — A garota
disse ao meu lado, chamando a minha atenção. — E
então, você vai ter várias histórias para contar a ela.
Coisas incríveis, que eu tenho certeza de que ela vai
querer saber com detalhes. Vocês vão sorrir juntos e se
abraçar de novo. Vai ser muito especial, eu juro. Confie
em mim.
Contra todas as possibilidades, eu confiei.
Segurei a mão macia daquela garota — só podia ser
uma garota — e deixei que ela me ajudasse a sair de
cima do guarda-corpo. O mundo girou por um segundo
ou dois e eu senti vontade de vomitar. O gosto da vodca
pura que tomei antes de chegar ali ainda estava forte em
minha boca e fiquei com vergonha por um momento.
Será que ela tinha sentido aquele cheiro horrível saindo
de mim? Esperava que não. Sem que eu pudesse contê-
la, a garota passou o meu braço sobre o seu ombro e
simplesmente começou a me arrastar para longe dali.
Ela era bem mais baixa do que eu, mas parecia ter
a força de uma leoa. Descemos devagar pela ponte, no
meio da chuva, comigo tropeçando em meus próprios
pés, até chegarmos em um carro. Ela pareceu falar
alguma coisa, que não consegui entender por causa da
chuva, então, me empurrou para o banco do carona. O
barulho da tempestade ficou abafado quando ela entrou
no carro e fechou a porta.
— Agora você precisa me falar onde mora, atleta.
Meus olhos pesaram, mas acho que consegui falar
para ela o endereço da minha casa. Meu peito ainda doía
e eu ainda queria chorar, mas havia outro sentimento
comigo, algo que parecia me acolher. Gostei daquilo. Pela
primeira vez em semanas, não lutei contra o sono e
deixei que ele me levasse sem amaldiçoar o mundo a
minha volta.
— Logan? Logan, você precisa acordar.
Abri os olhos pesados, tomando um susto com a
claridade que me deixou cego por longos segundos.
Minha cabeça... Porra, minha cabeça ia explodir.
— Cadê... A chuva?
— O quê?
— E a garota?
— Que garota? Logan, do que você está falando? —
Abri os olhos de novo, dando de cara com a minha irmã.
Ela estava sentada ao meu lado na cama. Na cama, não
na ponte, debaixo da chuva. Que merda é essa? — Acho
que você estava sonhando. — Norah quase sorriu, mas
seus olhos estavam tristes demais para que ela
conseguisse fazer aquilo. Senti seus dedos em meus
cabelos e, por um momento, tentei visualizar aquela
garota sem rosto... Foi mesmo um sonho? — Nós
precisamos ir.
— Acho que eu não consigo.
— Consegue, sim. De nós dois, você sempre foi o
mais forte.
Aquilo estava longe de ser verdade. A prova estava
bem ali, diante da minha fraqueza, da ressaca idiota que
me assolava e do fato de eu sequer conseguir abrir a
boca para contestá-la.
Norah saiu do meu quarto e eu me ergui da cama
no automático. Segui para o chuveiro, passei pelo menos
meia hora debaixo da água gelada, me dando conta de
que a água da chuva em meu sonho era bem mais
brutal, tanto em temperatura, quanto em sua força.
Queria me lembrar de mais detalhes, qualquer coisa que
eu pudesse me agarrar para me manter são durante as
próximas horas, que eu sabia que seriam as piores da
minha vida.
Coloquei a roupa que Norah escolheu para mim,
calcei os sapatos e olhei para a minha mão por um
segundo. Lembrava-me que a mão da garota no sonho
era bem menor que a minha e mais macia, também. Por
que ela não tinha um rosto? Seria melhor ter algo físico
dela para me lembrar. Qualquer coisa.
Alguém bateu na porta, antes de girar a maçaneta e
colocar a cabeça para dentro. Tentei sorrir quando vovó
Meredith entrou.
— Está pronto, querido? — Concordei com a cabeça
e ela se aproximou, tocando em meu rosto. — Vamos lá.
Vamos fazer isso. Você não está sozinho.
Eu sabia que não estava, mas era como me sentia.
Entramos no carro e o motorista nos guiou até a
capela, que já estava lotada. À frente do púlpito, estava a
foto dela e o caixão aberto. Eu sabia que deveria, mas
não consegui me aproximar até o final da missa. Doía
tanto, que eu mal conseguia respirar.
Queria ter tido mais tempo com você, foi o que
pensei quando finalmente consegui chegar perto dela.
Queria ter te abraçado mais e ter dito o quanto eu te
amava enquanto ainda podia. Sinto que não foi o
suficiente... Não tivemos tempo suficiente, mãe, e eu
sinto muito por isso.
O resto foi apenas um borrão. O caminho até o
cemitério, o enterro, as pessoas à minha volta, os braços
que me cercaram e que mal senti, as palavras de
conforto que mal escutei, os rostos à minha frente, que
eu sequer lembraria. No final, só restou a lápide, as
flores, minha irmã e eu. Queria ser mais forte por ela.
Queria ser aquele que suportaria tudo por nós dois.
Foi pensando nela que parei de chorar por um
tempo e a abracei, deixando que finalmente desabasse
de encontro ao meu peito e colocasse para fora tudo o
que doía. Não era o suficiente, eu sabia, mas ajudava por
um tempo. Me ajudou durante o meu sonho, mesmo que
eu não tenha chorado no peito daquela garota. Eu mal
conseguia me lembrar da sua voz agora, apesar de me
lembrar de cada uma das suas palavras.
“Não quero que você se perca, pelo menos não
definitivamente.”
Acho que eu não era forte o suficiente para impedir
aquilo de acontecer, porque daquele dia em diante, a
única coisa que fiz, foi me perder.
Estávamos em agosto, mas eu ainda estava me
acostumando com a diferença entre a UCLA [2] e a UA [3].
O sotaque era diferente, o campus, apesar de também
ser gigantesco, era diferente, mas o maior diferencial
era, com certeza, o esporte que “comandava” cada
faculdade.
Quando se falava da UCLA, a primeira coisa que
vinha na cabeça das pessoas, era o Bruins, o famoso
time de basquete, de onde tinha saído Raymond King [4],
o jogador mais conhecido da faculdade, que estava no
que parecia ser o auge da sua carreira. Eu não era
obcecada por basquete, muito menos pelo jogador, mas
estudando na mesma faculdade em que ele, não tinha
como não saber quem ele era.
Agora, quando se falava da Universidade do
Alabama, a primeira coisa que vinha na cabeça das
pessoas era o futebol. Isso porque, segundo o que soube
quando cheguei à faculdade, o Crimson Tide era o time
que detinha mais títulos de campeão — ou qualquer que
seja o nome dado para isso.
Por mais que eu não entendesse muito sobre todo
aquele amor pelo time de futebol da faculdade, achava
legal a forma como os alunos pareciam ansiar pelo início
da temporada e vestiam a camisa vermelha e branca
com orgulho. Claro, a cultura daquele esporte nos
Estados Unidos era gigantesca, movimentava não apenas
bilhões de dólares por ano, como fazia com que os
torcedores surtassem nas arquibancadas, em casa, ou
em bares, mas eu não me importava muito com aquilo.
Talvez, se tivesse iniciado os meus estudos na
Universidade do Alabama, poderia ter me apaixonado
pelo Crimson Tide, mas eu havia sido transferida há
pouco tempo, portanto, não tinha como me intitular
como uma torcedora fervorosa.
Ainda assim, deixei que Mia, uma colega de classe,
me arrastasse para a festa dada pelos jogadores do time
de futebol. A casa — que mais parecia uma mansão —
onde eles moravam, estava lotada de alunos usando as
cores do time, todos bêbados demais para saber
diferenciar a área da piscina — que também estava
lotada — e a sala, onde luzes estroboscópicas formavam
o ambiente perfeito para uma pista de dança. Corpos
molhados dançavam juntos, esbarrando em pessoas
completamente vestidas, e todo mundo ria.
Queria estar me divertindo como eles, mas, tirando
o fato de a cerveja estar surpreendentemente gelada em
meio a uma festa de estudantes, nada ali me deixava
muito animada. Era quinta-feira, eu teria que acordar
cedo no dia seguinte. Ter ido àquela festa tinha sido um
erro.
— Finalmente te achei! — Mia se aproximou de
mim, segurando duas doses de alguma coisa que, com
certeza, continha muito álcool. — Vamos lá para fora!
Acho que vou cair na piscina, está um calor infernal!
Na verdade, estava um pouco frio naquele dia, mas
tudo bem.
— Acho que vou embora — gritei para ela, pois uma
música eletrônica começou a tocar bem alto. Mia fez
beicinho.
— Ah, não, Avalon! Você ainda é uma novata,
precisa se enturmar! E está linda com essa roupa, já vi
vários carinhas te comendo com os olhos. — Acho que
estremeci. Aquilo era, definitivamente, a última coisa que
eu queria. — Fica só mais um pouco, por favor! Não seja
chata.
Eu estava sendo chata? Sim, estava. Aquilo me
deixou incomodada, porque eu não queria ser a menina
insuportável que estragava a festa dos outros, por isso,
disse a Mia que iria ao banheiro rapidinho e logo a
encontraria na área da piscina. Se eu me esforçasse,
poderia curtir a noite como se fosse uma jovem normal
de vinte e um anos.
Mas você não é uma jovem normal, Avalon.
Expulsei aquele pensamento incômodo e fui à
procura de um banheiro. Encontrei um lavabo no andar
debaixo, porém, assim que entrei, dei de cara com um
casal quase transando e fechei a porta, sentindo o meu
rosto ficar quente por ter sido pega de surpresa. Eles
nem perceberam que alguém havia aberto a porta, o que
me causou um pouquinho de inveja, também.
Tentei passar pelas pessoas que ocupavam grande
parte do caminho entre a sala e a cozinha e cheguei à
escada. Alguns casais ocupavam os degraus e se
beijavam de forma bem pornográfica, mas os ignorei e
comecei a subir. Os dois copos de cerveja que tomei
estavam cobrando o seu preço e eu precisava muito
fazer xixi, talvez conseguisse achar algum banheiro
desocupado no andar de cima.
Assim que passei pela primeira porta fechada e ouvi
um gemido abafado, soube que não seria tão fácil assim
encontrar a porcaria de um banheiro naquela casa
enorme. Havia um total de cinco portas naquele corredor.
Cheguei à segunda e a encontrei trancada, a terceira
estava encostada e um casal se pegava na cama, na
quarta, eu já estava sem esperança e bufei quando
percebi que também estava trancada à chave.
A quinta e última porta no corredor era a minha
única chance. Também a considerei como um sinal: se
estivesse trancada, aquele era o recado que o universo
estava me enviando para ir embora dali sem que Mia me
visse. Eu mandaria uma mensagem para ela depois,
explicando que recebi alguma ligação importante e que
precisei sair correndo da festa.
Avancei pelo corredor e testei a maçaneta. Para a
minha felicidade — ou infelicidade, já que eu queria ir
embora —, a porta abriu sem maiores dificuldades,
revelando um quarto desocupado. A decoração era
bonita e a primeira coisa que me chamou a atenção, foi
um quadro de medalhas pendurado na parede. Eram
muitas, a maioria dourada, outras, prateadas. Nenhuma
de bronze. Soltei um assobio, ficando impressionada. O
dono daquele quarto parecia ser um atleta e tanto.
A cama de casal era enorme, coberta com uma
colcha vermelha, o que me fez revirar os olhos. Claro que
o jogador do Crimson Tide seria viciado naquela cor ao
ponto de colocar uma colcha vermelha na sua cama.
Percebi que não havia porta-retratos e que, além do
quadro de medalhas, duas prateleiras afixadas à parede
na frente da cama estavam cheias de troféus. Fora isso,
não havia nada realmente pessoal naquele ambiente.
Poderia facilmente passar por um quarto de hóspedes.
Minha bexiga cheia me fez lembrar o motivo para
eu estar invadindo o quarto enorme de um jogador de
futebol. Andando com as pernas quase cruzadas para
não deixar o xixi escapar, fui até o banheiro — que
também era gigantesco, com uma banheira redonda de
hidromassagem que caberia facilmente quatro pessoas
— e finalmente comecei a me aliviar naquela privada que
deveria valer alguns milhares de dólares. Foi difícil não rir
com o pensamento. Minha bunda com certeza nunca
tinha encostado em algo tão valioso antes.
Não havia um botão para acionar a descarga, no
lugar, havia um sensor, que simplesmente acionou o
fluxo de água sem que eu precisasse encostar em nada.
A tampa também se abaixou sozinha. Por que ricos eram
sempre tão esquisitos? Qual era o problema de abaixar a
tampa do vaso sanitário? Fui até a pia e lavei as mãos
rapidamente, me dando conta de que o isolamento
acústico do banheiro era muito bom, pois eu quase não
conseguia ouvir a música eletrônica que tocava no andar
debaixo.
Pensar em voltar para a festa me deixou um pouco
mais desanimada, mas ali, de frente para o espelho
enorme que tomava conta de quase toda a parede, tomei
a decisão de que eu ficaria só mais trinta minutos e,
depois, iria embora. Era o máximo que eu poderia
suportar. Mia já havia bebido bastante e arrumado
companhia masculina, então, não sentiria a minha falta.
Talvez, ela sequer estivesse sentindo a minha falta
naquele momento.
Retoquei o batom vermelho e dei uma ajeitada em
minha roupa, finalmente pronta para escapar dali antes
que fosse descoberta pelo dono do quarto. Antes de sair,
peguei meu celular na bolsa só para verificar se não
havia nenhuma mensagem perdida, mas encontrei
apenas uma de Aubrey, minha irmã:
Aubrey: Espero que esteja se divertindo
muuuuuuito! Volte bem tarde, ok? E beije na boca. Tchau!
— Beijar na boca... Tá bom — ri baixinho enquanto
saía do banheiro.
Parei abruptamente ao notar que algo havia
mudado. A luz do quarto. Das sancas de gesso no teto,
saía uma luz levemente amarelada quando entrei no
cômodo, agora, ela estava lilás. E havia uma música,
também. Uma música sensual que destoava
completamente da batida eletrônica que, ali do quarto,
eu conseguia ouvir com mais clareza.
— Já chegou, gatinha? Tô pronto pra você...
Então, muito de repente, um cara completamente
nu saiu de dentro do que parecia ser um closet imenso.
Um grito escapou da minha boca, meu celular caiu no
chão e o cara nu, com o pênis ereto, arregalou os olhos,
puxando uma almofada em cima da cama para se cobrir.
— O que... Quem é você? — Sua voz saiu levemente
enrolada, mas em alto e bom tom.
— Eu... Eu...
Quem era eu? Qual era mesmo o meu nome? Eu já
nem me lembrava mais. Meus olhos estavam secos,
completamente vidrados naquele homem à minha frente.
Eles desceram pelo seu corpo com uma lentidão que me
deixou meio tonta e fizeram o meu cérebro registrar tudo
em detalhes. A pele levemente bronzeada pelo sol,
cabelos bagunçados, mandíbula forte, barba por fazer,
peitoral rígido, braços muito torneados e com veias
aparentes, abdômen sarado, aquele V definido, uma
trilha de pelos que levavam ao seu...
— Eu estou falando com você, porra! O que está
fazendo no meu quarto? Estava me roubando?
O homem parou na minha frente de repente e eu
finalmente o reconheci. Afinal, quem não o conhecia na
Universidade do Alabama?
Logan Miller III, o quarterback.
O “terceiro”, vinha do fato de Logan ser herdeiro de
uma família bilionária, dona de um dos maiores
escritórios de advocacia dos Estados Unidos — com
alguns escritórios espalhados pela Europa. Seu dinheiro
era antigo e a sua reputação era péssima dentro e fora
da UA. E ele estava me acusando de roubo? Mas que
merda ele tinha na cabeça?
— Como é que é?
— Uma garota no meu quarto aleatoriamente?
Querida, eu já vi essa cena antes, pelo menos umas cem
vezes. — Ele sorriu e cambaleou lentamente, ainda
segurando aquela almofada. Por ironia do destino, havia
um espelho enorme encostado na parede do outro lado
da cama e, de onde eu estava, conseguia ver o seu corpo
todo por trás. Ele tinha uma bunda bonita demais, o que
era um desperdício, já que obviamente, Logan Miler III
era um babaca. — Ou você quer sexo ou quer dinheiro. E
então, vai me contar ou vou ter que chamar a polícia?
Encarei-o de cima a baixo, dessa vez, com outros
olhos. Ele ainda era bonito, mas do que adiantava ter um
corpo espetacular e um rosto simetricamente perfeito —
pelo menos era o que eu achava — quando se era um
idiota de marca maior?
— Quer mesmo chamar a polícia? Vamos lá, chame,
então. — Desafiei, cruzando os braços. — Além de ter
que provar que eu te roubei, ainda vai ter que explicar
aos policiais o porquê de ter maconha rolando solta
nessa sua festinha de merda.
— Festinha de merda? — Foi a vez dele de me olhar
de cima a baixo e eu não me senti nem um pouco
atraente quando terminou a sua inspeção. Logan ainda
sorria, mas cheio de desdém. — Quer saber, acho que
você tem razão. Geralmente, minha festa é mais bem
frequentada. Se alguém como você teve permissão para
entrar, é porque realmente ela se tornou uma festa de
merda.
Meu coração bateu forte, mas eu não demonstrei
que aquilo havia me afetado, porque comecei a dizer a
mim mesma que não me afetou. Conhecia caras como
Logan. Riquinhos esnobes que achavam que podiam
mandar no mundo, só porque haviam nascido na família
certa, com o sobrenome certo. Aquele discurso dele não
me surpreendia.
— Alguém como eu, realmente não deveria estar
aqui. Não porque não estou no mesmo nível que você,
mas porque não quero que me confundam com alguma
Maria-Pompom que lambe o chão onde caras babacas
como você, pisam.
— Pelo jeito que me olhou... — Ele se aproximou um
pouco mais, apenas um passo. — Eu podia jurar que você
queria lamber muito mais do que o chão onde eu piso.
— Sim. Eu preferia lamber uma navalha.
— A que eu uso para depilar o meu saco? Ela está
ali no banheiro, fique à vontade.
— Vai se foder, Logan terceiro. — Empurrei-o pelo
peito para que saísse do meu caminho e ele cambaleou
para o lado, soltando uma risada.
— Hum, parece que você sabe o meu nome.
— Claro. A cada semana sai um novo escândalo
sobre você, seria difícil não saber — falei, olhando para o
chão.
Onde estava a porcaria do meu celular? Ele havia
caído quando tomei um susto, mas estava bem longe das
minhas vistas.
— Aposto que você é do tipo que fica
acompanhando a minha vida pelas redes sociais.
Meu Deus, por que aquele idiota ainda estava
falando? E por que não colocava uma roupa?
— Nossa! Como você adivinhou?
— Você está no meu quarto, esqueceu? Essa foi
fácil. O que está procurando?
— Sua cueca. Vou leiloar e ficar rica.
Ele ficou em silêncio por um momento e, de
repente, saiu andando. Respirei fundo, agradecendo por
finalmente ficar sozinha para poder clarear a minha
mente. Fechei os olhos por um segundo, tentando me
acalmar. Meu celular, eu só precisava encontrá-lo, então,
poderia ir embora daquela casa para sempre. Voltei a
abrir os olhos e a primeira coisa que visualizei, foi a
cama.
Sem pensar duas vezes, me abaixei e olhei debaixo
dela, soltando um gritinho quando encontrei o aparelho
ali embaixo. Nem verifiquei se estava quebrado, só me
ergui e o enfiei no bolso da minha saia, tomando um
novo susto quando a porta do quarto se abriu e uma
garota entrou, usando apenas um conjunto de lingerie
encharcado. Ela parou ao me ver e olhou para algo além
de mim. Ainda usando apenas a almofada para esconder
o pênis, Logan saiu do closet segurando uma cueca —
vermelha, claro — na mão esquerda. Ele a jogou em
minha direção e eu a peguei no ar apenas por reflexo,
antes que caísse na minha cara.
— Pronto, está até autografada.
— Mas... O que é isso? — A garota gritou com uma
voz muito fina e Logan pareceu finalmente perceber que
havia mais alguém no quarto além de nós dois. Batendo
o pé, ela se aproximou e parou na frente de Logan, de
costas para mim. Com o polegar, apontou em minha
direção. — O que isso significa? Você disse que seria
apenas nós dois hoje à noite, Logan!
— Calma, isso não é...
— Eu não vou te dividir com mais ninguém! — O
grito dela fez os meus tímpanos doerem.
— Olha, eu não estou aqui para...
— Cala a boca! — Ela se virou para mim, me
interrompendo, então, inclinou um pouco a cabeça para
o lado. Seu cabelo castanho pingava água com cheiro de
cloro de piscina. — Quer dizer, a culpa não é sua. Eu sou
contra a rivalidade feminina. A culpa é dele!
— Minha? — Logan franziu o cenho, apoiando as
duas mãos na cintura. A almofada caiu. Não olhe para
baixo, Avalon, não olhe para baixo... — Eu não tenho
nada a ver com isso! Essa maluca que invadiu o meu...
— Não chame uma mulher de maluca! — A garota
gritou, ficando vermelha. — Quer saber? Chega! Nós não
merecemos passar por isso! Há homens melhores lá fora,
amiga, é só a gente procurar. Vamos!
A menina empinou o queixo e saiu do quarto da
mesma forma como entrou, parecendo um trovão
estourando no céu. Eu estava sem palavras, tentando
entender se ela estava bêbada, chapada, ou muito
sóbria. Era difícil dizer.
— Viu o que você fez? — Logan bradou para mim,
caminhando completamente nu na minha direção. —
Você empatou a porra da minha foda, sua maluca!
— Eu não fiz nada! Mal consegui abrir a boca!
— E precisou? Você invadiu o meu quarto, isso foi o
suficiente! E me devolva isso! — Ele puxou a cueca da
minha mão e começou a vesti-la. Não olhei para baixo.
Fui forte daquela vez. — Tentei ser legal com você te
dando uma cueca autografada, mas você não merece
isso depois do que fez. Cai fora do meu quarto!
— O que te faz pensar que eu ia querer uma cueca
sua autografada?
— Foi você quem pediu!
Comecei a rir quando me lembrei do que falei
minutos antes.
— Não é possível que você seja tão burro ao ponto
de não entender um deboche. Como conseguiu entrar
para a faculdade? — Comecei a andar em direção à
porta, mas parei no meio do caminho. — Ah, sim... Seu
papai gasta muito dinheiro para te manter aqui, não é?
Imagino que deva até comprar as notas azuis que dizem
por aí que você tira. Acho que as fofocas sobre você
estão corretas, afinal. Você realmente não tem qualquer
credibilidade, Logan terceiro.
Sua mandíbula ficou tensa e seus dedos se
fecharam em punho. Eu parei de sorrir assim que
visualizei a cena, dando mais um passo em direção à
porta. Algo nos olhos de Logan se transformou e toda a
sua expressão mudou de um segundo para o outro. Ele
não parecia mais estar indignado por ter perdido uma
trepada. Ele estava com raiva.
— Sai daqui — ordenou com a voz levemente
estremecida. — Sai, ou eu juro que vou arrumar um jeito
de te expulsar.
Meu coração acelerou e eu apressei o passo, saindo
dali sem olhar para trás. Atravessei o corredor extenso, a
escada ainda ocupada por alguns casais, os corpos que
dançavam espremidos na sala enorme e deixei aquela
casa, permitindo que o ar gelado da noite preenchesse
os meus pulmões.
Demorei pelo menos um minuto inteiro para
conseguir controlar as minhas emoções. Mesmo assim,
minhas mãos ainda tremiam enquanto eu pedia por um
carro de aplicativo. Aquele riquinho de merda... Logan
realmente era tudo o que diziam sobre ele.
Mimado. Arrogante. Prepotente. Havia inúmeros
outros adjetivos, mas me obriguei a parar de enumerá-
los quando o carro parou na minha frente. Dei boa noite
ao motorista e observei a casa ficar distante conforme o
carro andava pela pista. Prometi a mim mesma que
nunca mais colocaria os meus pés naquele lugar ou
olharia de novo na cara de Logan Miller III.
Meu corpo já devia estar acostumado com a
sensação da ressaca no dia seguinte após uma noite
carregada a muito álcool, mas o infeliz era teimoso
demais e sempre me fazia acordar com uma dor de
cabeça monstruosa e a sensação de que eu nunca mais
conseguiria colocar algo substancial em meu estômago.
Ele me fazia perder a hora, também, pois me jogava em
uma outra dimensão quando eu desabava na cama.
Meu celular tocou em algum lugar bem longe, me
obrigando a erguer a cabeça do travesseiro e abrir os
olhos. A claridade que entrava pela janela me fez xingar
baixinho, preenchendo o meu cérebro com aquela
sensação de que agulhas finas estavam espetando-o.
Levei um tempo para conseguir finalmente enxergar e a
bagunça a minha volta me deu mais dor de cabeça
ainda.
Duas meninas estavam deitadas na cama, cada
uma de um lado do meu corpo, enquanto Ben, meu
amigo, dormia de bruços aos nossos pés, com aquela
bunda branquela para cima, o que me deixou ainda mais
nauseado. Percebi que estávamos em seu quarto, não no
meu, e que o celular que despertava na mesinha de
cabeceira era o dele. Quase joguei o aparelho no chão
para poder desligar o alarme, xingando mais um pouco
pelo idiota ter colocado o celular para despertar às seis
da manhã em pleno final de semana.
Então, olhei mais atentamente para o aparelho em
minha mão. Ali dizia que era sexta-feira, não sábado ou
domingo.
Se era dia de semana — sexta-feira, para ser mais
exato —, então, não deveríamos estar na cama com duas
gostosas. Deveríamos estar nos arrumando para
encontrar com o treinador Coben para a reunião semanal
do time.
Merda!
— Ben! — Dei um pulo da cama, catando a primeira
cueca que vi pelo chão e vestindo-a rapidamente. —
Ben! — Ajeitei o cós da cueca com uma mão e comecei a
sacudir o ombro do babaca com a outra. Ele resmungou
alguma coisa incompreensível e voltou a dormir. —
Benjamin, acorda!
— Cara... Sabe que horas eu fui dormir?
— Não importa, hoje é sexta-feira!
— E daí?
— Reunião do time. Isso te diz alguma coisa?
Ben ergueu a cabeça rapidamente e quase caiu da
cama ao se virar no colchão.
— Porra, essa cama é minha! Como eu vim parar
aqui? — questionou, levantando-se e apontando para o
lugar da cama onde havia dormido.
— Não sei. Vou tomar um banho.
— E vai deixar comigo a função de acordar as
meninas, não é? Seu babaca. — Fiz a minha melhor cara
de inocente para ele antes de caminhar em direção à
porta do seu quarto. — Por que você autografou a sua
bunda?
— O quê? — Parei por um momento, tentando,
inutilmente, enxergar a minha bunda.
— Você autografou a sua cueca bem na altura da
bunda. Como fez isso? — Seus olhos estavam
arregalados. — Você é muito esquisito, Logan.
— Mas eu não... — As palavras sumiram da minha
boca enquanto eu tentava me lembrar do que havia
acontecido.
Não, eu não tinha autografado a minha bunda por
cima da cueca. Eu era um jogador de futebol, não um
contorcionista, porra! Então, como aquilo tinha
acontecido? A noite passada era como um borrão na
minha mente, lembrava-me de começar a receber os
convidados para a festa de aniversário de James, meu
segundo melhor amigo, e apontar para onde estavam as
bebidas. Então, as meninas começaram a chegar, o DJ
contratado colocou uma música animada e a casa ficou
lotada. Muito lotada. Talvez, tenhamos perdido o controle
da quantidade de pessoas, mas chegou um momento em
que eu não me importava mais.
Nesse momento, claro, eu já tinha bebido demais. E
também estava com Savannah, uma das cheerleader,
com quem, aparentemente, eu não tinha passado a
noite.
— Por quê? — perguntei a mim mesmo, baixinho,
tentando me lembrar. — Por que não passei a noite com
ela?
— Ela quem?
— Savannah.
— Sei lá. Só lembro de ela voltar para a piscina,
puta com você, falando que você queria fazer um
ménage e que quase tinha feito ela brigar com uma
garota. — Ben deu de ombros e se afastou, indo até a
cama para acordar uma das meninas.
Brigar com uma garota? Que garota?
Confuso, dei meia-volta e saí do quarto meu amigo,
indo em direção ao meu. Minha cama estava intacta, não
tinha roupas espalhadas pelo chão, o que indicava que
eu realmente não tinha transado com Savannah. Parei no
meio do meu quarto, tentando trazer de volta as
memórias da noite anterior. Lentamente, elas
começaram a surgir, fazendo a minha cabeça doer pelo
esforço, até o momento em que eu finalmente me
recordei dela.
A ruiva — ou ela era loira? — maluca que invadiu o
meu quarto.
Foi como levar um choque, tamanho o impacto que
senti quando sua imagem invadiu a minha mente ainda
enevoada pelo efeito do álcool. Ela usava uma blusa
preta de manga comprida e gola alta, meia-calça
também preta, uma saia curta xadrez na cor amarela,
um cinto preto comum na altura da cintura e botas
gladiadoras. Como eu havia memorizado aquilo, era um
mistério, mas lembro de, em um primeiro momento,
achar que ela era linda, mesmo tendo invadido o meu
quarto e me confrontado daquela forma.
Nós brigamos, era verdade, então, em algum
momento, eu havia tomado a decisão de autografar a
minha cueca e dar para ela. Por que eu havia feito isso?
Talvez eu jamais fosse descobrir. Depois disso, a situação
piorou quando Savannah nos pegou juntos no quarto e
decidiu que eu não valia mais a sua atenção. Fiquei puto
com a ruiva/loira, porque Savannah era gostosa e eu
estava animado para finalmente ficar sozinho com ela,
mas a invasora apenas me deu um olhar debochado e
fez o que a maioria das pessoas amavam fazer.
Julgou-me baseada no que achava sobre mim.
Baseada no que as pessoas diziam sobre mim. Aquilo não
me surpreendeu, na verdade, só me deixou com raiva
porque, por um momento, cheguei a pensar que ela era
autêntica, de certa forma. Devorou o meu corpo com os
olhos quando me viu pelado? Sim, mas não foi
dissimulada, muito menos tentou me enrolar com
sorrisinhos sedutores ou tirar proveito da situação. Ainda
não sabia o que ela estava fazendo em meu quarto — e
sentia que nunca descobriria —, mas estava começando
a acreditar, antes de ela citar o meu pai e o dinheiro da
minha família, que talvez realmente não estivesse ali
porque queria ir para a cama comigo ou porque queria
roubar alguma coisa. Agora, já não sabia mais em que
acreditar.
Decidi parar de perder tempo pensando naquilo e
fui direito para o chuveiro, deixando que a água gelada
tirasse um pouco da letargia do álcool. Quase não sentia
mais o choque da temperatura sobre o meu corpo,
porque banhos como aquele haviam se transformado em
uma rotina a cada final de semana. Podia ouvir a voz do
meu pai enchendo o meu saco, do meu treinador
exigindo que eu mudasse de postura, sentir o olhar meio
decepcionado da minha irmã e da minha avó sobre mim,
mas ignorei aquilo. Ignorei tudo que me causava aquele
aperto horrível no peito e a sensação de estar
naufragando.
— Eu estou bem — falei para mim mesmo ao sair do
box e me olhar no espelho. — Estou ótimo, na verdade.
Nunca estive melhor.
Era bom ouvir aquilo em voz alta, pois não era algo
que eu ouvia com frequência, pelo menos não naquele
sentido.
“Você é o melhor, Logan”, dizia qualquer menina
que passava a noite comigo.
Eu sabia que era. O problema, de verdade, era
encontrar motivação para mostrar a todos — e a mim
mesmo — que eu ainda era o melhor em tudo.

— Cara, você está péssimo. — Foi a primeira coisa


que Kevin, o tight end do time, disse quando entrei na
sala usada para reuniões no centro de treinamento da
faculdade. — Vocês três estão, na verdade.
Por três, ele queria dizer eu, Benjamin e James.
Morávamos juntos, então, era comum que também
chegássemos juntos aos treinos e reuniões que
aconteciam no primeiro horário da manhã antes das
aulas.
— Pelo menos estamos feios só hoje, já você, é feio
todo dia — disse Ben, arrancando risada do resto do
time.
— Impossível eu estar feio hoje. Ontem foi o meu
aniversário. — James ajeitou os óculos escuros na ponte
do nariz.
— Ou seja, a culpa pela nossa ressaca, é sua —
falei, me jogando em uma das cadeiras. Também ansiava
por óculos escuros, mas achei melhor não usar para
poder disfarçar um pouco na frente do treinador.
— Minha? Eu não obriguei ninguém a beber!
— Isso é verdade. Eu saí de lá tão sóbrio quanto
entrei — defendeu-se Dean, que jogava na linha
ofensiva.
— Porque você é um velho no corpo de um babaca
de vinte e dois anos — Benjamin riu.
— Não, porque eu sou responsável. Era dia de
semana, não queria vir com ressaca para o treino no dia
seguinte.
Ouvi alguns murmúrios atrás de mim, uns
zombando de Dean e outros resmungando que ele tinha
razão. Eu fiquei quieto, porque suas palavras me
lembraram de um Logan certinho demais, que brilhou
durante o seu primeiro ano e que quase nunca colocava
uma gota de álcool na boca.
— Bom dia, rapazes! — O treinador Coben nos
saudou ao entrar na sala. Ele pousou a sua prancheta
sobre a mesa e encarou demoradamente cada um de
nós. — Não vou perguntar por que a maior parte de
vocês está com essa cara amassada e usando óculos
escuros, pois não estou lidando com crianças aqui.
Portanto, tirem a porcaria dos óculos e prestem atenção
em tudo o que vou falar agora.
James foi o primeiro a fazer o que o treinador
ordenou, sendo seguido pelos demais. Eu me ajeitei na
cadeira, sabendo que o treinador iria nos dar um sermão.
Pelo menos eu não seria o único a ser comido no esporro
naquele dia.
— Eu sei que James fez aniversário ontem e sei que
todos aqui queriam comemorar junto com ele, mas
precisavam mesmo ter passado tanto do ponto? Já sei
que há vídeos circulando na internet, mas não perdi o
meu tempo olhando nenhum deles, porque queria ver
pessoalmente, no rosto de cada um, o estrago feito na
noite passada. — O treinador Coben nos deu um olhar
severo, antes de começar a andar de um lado para o
outro. — Preciso reforçar, mais uma vez, como o excesso
de álcool pode ser prejudicial para o rendimento de
vocês?
— Não, senhor — Benjamin respondeu, seguido por
todos nós.
— Preciso reforçar, mais uma vez, que a imagem
que o time passa lá fora, é importante? Que o Crimson
Tide não pode ter a sua imagem abalada, porque os seus
jogadores não sabem como se comportar?
— Não, senhor.
— Preciso reforçar, de novo, que não vou hesitar em
substituí-los por qualquer jogador reserva, caso eu não
esteja satisfeito com o desempenho de cada um até o
primeiro jogo da temporada?
Nós nos olhamos. Aquela, com certeza, era a
ameaça mais efetiva que o treinador Coben poderia jogar
sobre o nosso colo. Ninguém ali queria perder o seu lugar
de titular no time, porque sabia que os jogadores
reservas eram bons e que estavam apenas esperando
uma oportunidade para se tornarem um titular.
— Não, senhor — respondi antes de todo mundo.
Os olhos severos do treinador Coben me encararam
pelo que pareceu ser um milênio inteiro. Senti-me como
um menino de novo, prestes a ser colocado de castigo, o
que me encheu de vergonha, porque eu era um homem.
Eu era o capitão daquele time, deveria servir de exemplo
para todos, mas, pelo visto, estava afundando todo
mundo comigo.
Talvez, eu devesse desistir.
O pensamento me fez estremecer, mas não deixava
de ser uma boa opção. Para quem? Quase pude ouvir
meu subconsciente me perguntando.
Para o treinador, que não precisaria se preocupar se
o seu quarterback chegaria em condições de treinar. Para
o time, que poderia ter um capitão mais responsável.
Para mim, que finalmente poderia afundar em paz sem
ter que pensar nas consequências.
— Cada um de vocês ocupa um lugar nesse time
por uma razão. Sabe qual é a maior delas? — questionou
o treinador, voltando a falar antes de deixar que
qualquer um de nós respondesse: — A minha certeza de
que eu tenho sob o meu comando, os melhores
jogadores de futebol universitário dos Estados Unidos. Eu
sei que vocês vão sair daqui direto para a liga
profissional, mas, para isso, precisam ter foco! Precisam
se esforçar dez vezes mais, dar o seu sangue, serem o
que vocês nasceram para ser: campeões. Não estou aqui
para dizer que vocês não devem se divertir, mas
precisam fazer isso com moderação. Não quero o meu
time se arrastando de ressaca durante o treino, quero o
meu time forte, centrado e unido. Fui claro?
— Sim, senhor!
— Ótimo. Não quero perder tempo tendo esse tipo
de conversa outra vez. Espero que mantenham isso em
mente. Agora, vamos trabalhar!
— Meu Deus, o que aconteceu nessa casa?
Eu estava destruído. Jogado no sofá, sentia o meu
corpo doer como se um rolo compressor tivesse passado
por cima de todos os meus músculos e dado ré
incontáveis vezes. Ao meu lado, James e Benjamin
pareciam estar do mesmo jeito, enquanto víamos uma
reprise de jogo de futebol na TV. O treinador Coben havia
pegado pesado conosco, provavelmente, para se vingar
da festa que demos na noite passada.
— Eu fico fora por uma única noite e é isso que
vocês fazem?
— Gata, escuta...
— Para de chamar a minha irmã de gata —
resmunguei para Benjamin, jogando uma almofada em
sua cara. Norah parou bem na frente da TV, com as mãos
na cintura, esperando por uma explicação. — Não deu
tempo de ligar para a empresa de limpeza, Norah.
— Essa é a desculpa mais idiota que já ouvi em toda
a minha vida! Era só dar um telefonema, Logan!
— Foi mal, Norah — James fez uma cara de culpado,
mas durou só por um segundo. Logo ele se ergueu do
encosto do sofá e encarou para minha irmã com os olhos
cerrados. — Não, eu não vou me desculpar. É você quem
precisa se desculpar comigo.
— Eu?
— Sim! Ontem foi o meu aniversário. Onde você
estava?
— Eu falei que não conseguiria vir, passei a noite na
casa da Tiffany, terminando de ajustar os detalhes para o
trabalho que apresentamos hoje...
Norah parou de falar quando James se levantou.
— Estou decepcionado com você.
— Mas, James...
— Depois a gente conversa.
James passou por minha irmã e Benjamin o seguiu,
dando a Norah um olhar chateado antes de subir as
escadas. Norah acompanhou os dois com os olhos, de
boca aberta, parecendo assustada.
— James está falando sério?
— Acho que sim. — Dei de ombros. James era um
pouco dramático às vezes. — Daqui a pouco ele supera
isso, sabe que ele não leva esse tipo de coisa para o
coração.
— Ele estar chateado de verdade comigo, diz o
contrário. — Norah suspirou e se sentou ao meu lado,
dando uma olhada geral na sala. Sim, estava mesmo
uma bagunça. Havia copos e garrafas espalhados, um
vaso quebrando perto do aparador ao lado da escada,
uma mancha de bebida no tapete e um cheiro meio
azedo de cerveja no ar. — Essa casa virou um chiqueiro.
— Sim. Ainda bem que você não estava aqui ontem.
Ainda bem mesmo. Eu poderia levar uma vida
desregrada e passar muito do ponto, mas era
extremamente cuidadoso com a minha irmã. Conhecia os
babacas que frequentavam aquele tipo de festa — afinal,
eu era como eles — e queria Norah bem longe das vistas
de cada um.
— Eu deveria ter estado aqui, assim, não teria vídeo
de vocês na internet virando shots de bebida e tirando a
roupa antes de cair na piscina.
— Não ficamos pelados, Norah.
— Por muito pouco. — Ela cruzou os braços e me
olhou com seriedade. Precisei voltar a encarar a TV.
Norah era parecida demais com a nossa mãe, o que às
vezes tornava muito difícil encará-la por tempo demais.
— Logan, estou preocupada com você.
— Não sei por quê.
— Você sabe muito bem o porquê.
Antes que minha irmã pudesse continuar, me
levantei do sofá. Eu já tinha decorado tudo o que ela
estava prestes a me dizer, portanto, não precisava ficar
ali ouvindo tudo de novo pela milésima vez.
— Norah, estou cansado e cheio de dor de cabeça.
A única coisa que eu preciso, é de um analgésico e da
minha cama, ok? — Aproximei-me dela e dei um beijo em
sua testa. — Eu estou bem, não precisa se preocupar
comigo. Amo você.
Subi as escadas rapidamente e entrei em meu
quarto, procurando o refúgio da minha cama para me
esconder do desastre que era a minha vida.
O Maeve’s Bar era “oficialmente” o bar do Crimson
Tide, onde o time sempre se reunia depois dos jogos para
comemorar a vitória. A temporada de futebol ainda não
havia começado, mas os torcedores mais fanáticos
adoravam frequentar o bar usando a camisa do time,
principalmente quando passava a reprise de algum jogo
na TV.
Maeve foi amiga da minha mãe quando eram jovens
e ainda morava em Los Angeles quando eu nasci. Eu
odiava depender da ajuda das pessoas, mas, quando
precisei sair da Califórnia e liguei para ela pedindo que
me acolhesse por alguns dias, Maeve prontamente se
dispôs a me ajudar. Não apenas isso, ela me deu um
emprego em seu bar e permitiu que eu ficasse no
apartamento vazio no andar de cima junto com a minha
irmã.
Eu pagava a ela um aluguel simbólico — bem
simbólico, pois o preço real de um apartamento de vinte
metros quadrados em uma região tão privilegiada era
pelo menos o triplo do que eu podia dar a ela — e me
dedicava ao máximo no bar todos os dias, principalmente
nos finais de semana, quando o fluxo de clientes era
maior.
— Mal posso esperar para a temporada de futebol
começar — Maeve disse ao meu lado, me ajudando a
servir uma rodada de cerveja para a mesa cinco.
— O faturamento vai aumentar — concluí.
— Com certeza, mas não é apenas isso. O clima
muda nessa cidade, parece que todo mundo se une para
torcer pelo Crimson Tide. A última temporada foi difícil,
eles perderam em casa, mas tenho certeza de que esse
ano eles vão arrasar.
Eu cheguei à cidade depois da derrota do time,
portanto, ainda não tinha vivido aquela fase louca da
temporada de futebol universitário. Tinha um pouco de
experiência com os jogos do time de basquete da UCLA,
mas sabia que o amor pelo futebol era maior,
principalmente no Alabama.
Deixamos os copos cheios de cerveja sobre o balcão
e Donovan logo se aproximou para servi-los, enquanto
Cindy voltava com a bandeja vazia.
— Uma rodada de tequila para aquela mesa cheia
de gostosos — Cindy informou, apontando para uma
mesa no canto do bar, com seis homens usando a camisa
do Crimson Tide. — Espero que a gorjeta seja
proporcional a beleza deles.
— Ah, vai ser sim, com certeza. — Eu ri, me
afastando para poder encher seis shots de tequila.
— Você não me contou como foi a festa na casa do
James McHugh! — Cindy comentou logo atrás de mim e
eu estremeci levemente. — Estou curiosa! Vi alguns
vídeos no Twitter. Você viu quando eles tiraram a roupa e
caíram na piscina? Nossa, quis muito que tivessem ficado
pelados.
— Que horror, Cindy! — A funcionária de Maeve era
mesmo uma tarada.
— Vai me dizer que você não queria ter visto um
deles como veio ao mundo?
Bom, eu tinha visto, infelizmente. E a imagem de
Logan completamente sem roupa se recusava a sair da
minha cabeça, o que era contraditório, já que eu odiava
aquele babaca. Era uma pena que o ódio não
transformava uma pessoa fisicamente bonita em um ser
horripilante de se olhar.
— Não mesmo — respondi, colocando os copinhos
de shot sobre a sua bandeja. — E eu vim embora antes
de esse espetáculo horroroso acontecer. A festa estava
muito chata, cheia de bêbados, gente andando molhada
dentro de casa e esbarrando nas pessoas, cheiro de
maconha por todos os cômodos... Estou até agora
arrependida por ter usado a minha noite de folga para ir
àquela festa. Eu poderia ter ido ao cinema com a minha
irmã, teria me divertido muito mais.
— Era uma festa de universitários, o que você
achou que encontraria lá? — Cindy me olhou como se eu
fosse uma idiota, enquanto ria de mim. — Você está
parecendo uma velha ranzinza, Avalon. Na sua idade, eu
me divertia muito em festas assim.
— Deixe a garota, Cindy. Avalon não é do tipo
festeira e está tudo bem — Maeve saiu a meu favor. —
Agora vá servir esses shots, o bar está cheio e tem
clientes esperando.
— Pode deixar, chefa! — Cindy pegou a bandeja e
se afastou. Ao meu lado, Maeve soltou um suspiro.
— Não ligue para Cindy, ela fala demais às vezes,
mas é uma boa pessoa.
— Eu sei disso, não se preocupe. Ela não disse nada
de mais, só o que eu já sei. Talvez, eu seja um pouco
chata mesmo com todo esse lance de festa e bebida.
— Você não é chata, só é alguém que já viveu muita
coisa e que tem objetivos diferentes das outras pessoas
da sua idade. — Maeve tocou a minha mão e me deu um
olhar generoso. — Sua mãe teria muito orgulho de você,
assim como eu tenho.
Parecia que mil agulhas haviam começado a pinicar
a minha garganta de repente, mas eu engoli em seco
antes que aquela sensação incômoda se transformasse
em lágrimas idiotas.
— Obrigada, Maeve, de verdade. Se não fosse por
você, eu nem sei o que seria de mim ou da minha irmã.
— Pare com isso. Se eu não estivesse aqui, você
teria arrumado um outro jeito de sair daquele lugar,
porque é uma mulher muito forte, Avalon. Nunca se
esqueça disso. — Ela apertou a minha mão mais uma vez
antes de se afastar. — Agora vamos voltar ao trabalho,
porque a noite está apenas começando.
Maeve tinha toda razão. A noite estava mesmo
apenas começando e logo o bar foi ficando mais
movimentado, com muitos pedidos de bebidas e alguns
petiscos saindo. Em noites de sábado, quando não tinha
algum jogo importante passando na TV, rolava um
karaokê e os clientes mais desinibidos acabavam
entretendo todos os outros enquanto cantavam. Alguns
realmente tinham a voz bonita, outros, só cantavam por
diversão e estragavam algum grande clássico como
músicas do Elvis Presley e do Queen.
O bar começou a esvaziar perto das quatro da
manhã, com muitos bêbados tentando carregar outros
bêbados para dentro de carros de aplicativo. Pelo menos
eles tinham a consciência de não dirigir no estado em
que estavam.
— Tudo bem, já ouvi esse mesmo discurso das
últimas dez vezes em que me ligou. Posso desligar
agora?
Terminei de secar um copo e me virei em direção à
voz masculina, franzindo o cenho ao pensar que estavam
falando comigo, mas logo me dei conta de que não. Em
frente ao balcão, Logan Miller III se sentou no banco de
madeira e posicionou melhor o celular entre a orelha e
ombro. Quase deixei a porcaria do copo cair. Ele olhava
fixamente para a madeira lustrosa do balcão, enquanto
parecia ouvir quem estava falando do outro lado da linha
e secava uma long neck.
Pensei em chamar Maeve para lidar com a
estrelinha dourada do time do Crimson Tide. Os olhos
dela sempre brilhavam quando falava deles, portanto,
tinha certeza de que ficaria feliz em atender o
quarterback idiota, que revirava os olhos enquanto falava
no celular.
— Onde eu estou? Estou em casa.
Em casa, tá bom. Sacudi a cabeça, pegando um
outro copo. Logan suspirou.
— Sim, essa música está tocando no meu quarto.
Não posso ouvir música mais? Quer saber? Vou desligar.
Sei que já é de manhã em Londres, mas aqui ainda é
madrugada e eu preciso dormir. Até mais.
Virei-me de frente para a prateleira de bebidas
assim que Logan encerrou a ligação. Havia um espelho
que tomava conta de toda a parede atrás da prateleira, o
que me permitia ainda ter uma visão parcial dele, mesmo
estando de cabeça baixa, fingindo estar concentrada em
secar o copo. Com tanto bar espalhado por Tuscaloosa,
por que ele tinha que parar justamente no Maeve’s? Ok,
a resposta poderia ser bem fácil, já que ali era o bar
favorito do seu time, mas, mesmo assim... Custava ir
para outro bar?
— Me vê uma cerveja. — Ele pediu atrás de mim e
eu retesei. — Não, me dê algo mais forte. Tequila, para
começar.
— Começar? Já são quatro da manhã — respondi
ainda de costas. Eu podia sentir o seu olhar cravado em
minha nuca.
— E daí?
E daí?
Eu mesma comecei a me questionar sobre aquilo.
Se Logan não estava se importando em encher a cara às
quatro da manhã, por que eu iria me preocupar? Ele não
era nenhuma criança e parecia saber o que estava
fazendo. Por isso, deixei de lado a minha função de secar
copos e servi uma dose de tequila. Seus olhos bateram
nos meus quando caminhei em sua direção e deixei o
copinho na sua frente sobre o balcão.
Por um momento, Logan franziu o cenho e inclinou
um pouco o rosto para o lado, como se estivesse
confuso. Torci para que não me reconhecesse. Ele estava
bêbado na quinta-feira à noite, talvez as lembranças da
festa fossem apenas um borrão em sua mente. O
quarterback passou longos segundos me analisando,
quase me fazendo acreditar que desistiria de tentar
descobrir quem eu era, até que seus olhos se
arregalaram em reconhecimento, me deixando frustrada.
— Ora, ora, se não é a invasora de quartos alheios.
— Ele me deu aquele mesmo sorriso cheio de sarcasmo e
me olhou de cima a baixo. — Realmente, com esse seu
estilo tão... peculiar, seria difícil não te reconhecer. O que
você estuda? Ah, me deixa descartar uma opção. Não é
moda, certo?
Sem tirar os olhos de cima de mim, Logan virou o
shot de tequila e engoliu tudo sem nem lamber o sal
antes ou chupar o limão depois. Nenhuma careta surgiu
em seu rosto.
Não havia absolutamente nada de errado com a
minha roupa. A noite estava um pouco fria com o início
do outono e eu estava trabalhando, por isso, optei por
usar um moletom antigo e uma calça jeans larga,
rasgada no joelho esquerdo.
— Eu não poderia me importar menos com a sua
opinião sobre o meu estilo. Vai querer mais? — Apontei
para a garrafa de tequila e Logan concordou com a
cabeça. — Melhor aproveitar, porque o bar fecha às cinco
da manhã. Você tem exatamente trinta e oito minutos
para dar o fora.
— Desde quando você trabalha aqui?
— Não sei por que isso interessa a você.
Ele soltou uma risadinha e tomou a bebida em um
gole. Servi mais uma dose.
— Por que Maeve te contratou? Você trata os
clientes muito mal, isso é péssimo para os negócios.
— E quantos negócios você já geriu? Além da sua
mesada, é claro. — Sorri para ele, não de forma
amigável, vendo-o fechar a cara. Havia algo realmente
prazeroso em usar a riqueza contra os ricos. Eles ficavam
chateados quando a gente esfregava a verdade na cara
deles. — Pode ficar despreocupado, porque Maeve está
muito satisfeita com o meu trabalho.
— Imagino que você deva estar no período de
experiência... Não vai durar muito.
— Na verdade, eu estou aqui desde o início do ano.
Logan parou com o shot a caminho da boca e me
encarou com o cenho levemente franzido.
— Isso é impossível. Venho aqui quase todo final de
semana e nunca te vi.
— Queria poder dizer o mesmo sobre você —
ironizei.
Eu o via sempre que ia até o bar com os amigos,
mas, até aquele momento, não tinha nada contra Logan.
Meu ranço surgiu na festa de aniversário que fui
praticamente obrigada a ir, onde todo aquele desastre
aconteceu. Ele bebeu o shot, depois bebeu mais dois, um
seguido do outro. Aquele cara era insano. Como podia
beber tanto daquele jeito e ainda ser um atleta?
— Você está mentindo-do. — Soluçou. Olha aí, a
tequila começando a fazer efeito. — Eu teria te visto e
me lembrado de você.
— Sei que sou mesmo difícil de esquecer.
Logan bufou e tentou puxar a garrafa da minha
mão. Por sorte, ele parecia já estar embriagado o
suficiente e não teve o reflexo de segurar a garrafa com
mais força quando eu a puxei de volta para mim.
— Me dê isso.
— Você está pagando pelo shot, não pela garrafa.
— Então me venda a... garrafa — soluçou de novo,
mas não cedi.
— Por que quer tanto ficar bêbado? Na festa eu até
entendi o seu estado, você estava comemorando com os
seus amigos, então, é normal exagerar na bebida, mas
agora eu acho que você está forçando um pouco a barra.
— Forçando um pouco a barra? Você é o quê?
Psicóloga? — Ele riu, então, pegou a garrafa de uma vez,
arrancando o bico dosador e bebendo direto no gargalo.
— Fala a verdade... — Ele se inclinou um pouco sobre o
balcão, quase me fazendo sentir a sua respiração em
meu rosto. — Você é meio fanática por mim, não é? Por
isso invadiu o meu quarto... Arrumou um emprego no bar
em que eu sem-sempre frequento... Queria chamar a
minha atenção.
Meu Deus. Ele estava mesmo falando sério? Apesar
da embriaguez, Logan parecia acreditar veementemente
naquela teoria maluca, o que me fez gargalhar.
— Você é patético, sabia?
— E você é uma fã alucinada.
— Se eu fosse uma fã, deixaria agora mesmo de te
admirar, porque tudo o que estou vendo é um cara
convencido, idiota e arrogante, que parece estar bem
longe de ser e agir como um atleta de verdade. — O
sorriso de Logan desapareceu e o leve rubor que tomava
conta das suas bochechas, provavelmente causado pelo
álcool, deu lugar à palidez. Fiquei um pouco arrependida.
Será que havia pegado pesado demais? — Acho que
agora você já pode me dar isso.
Tomei a garrafa da sua mão e a coloquei de volta na
prateleira, mantendo um olho sobre Logan. Percebi que,
de repente, ele pareceu estar mais do que embriagado.
Ele pareceu estar cansado. Seus ombros cederam e seus
olhos encararam o chão por longos minutos, antes de ele
se levantar e colocar algumas notas de dólares sobre o
balcão.
— Acho que aqui tem o suficiente.
Logan se afastou sem olhar para trás, cambaleando
de leve até a saída. A porta vai e vem ficou balançando
por alguns segundos depois que ele partiu e o meu
coração ficou um pouco apertado. Fui muito dura com
ele? Eu não tinha mentido em nada, ele realmente era
um cara convencido e arrogante, mas, talvez, fosse
melhor se eu tivesse guardado aquela opinião só para
mim.
— Ele vai embora dirigindo?
Dei um pulo de susto ao ouvir a voz de Aubrey bem
atrás de mim. Ela estava parada na porta da cozinha,
usando um pijama rosa de blusa de manga comprida e
calça e uma pantufa nos pés. Em suas mãos, havia um
pacote de Pringles.
— O que está fazendo acordada a essa hora,
Aubrey? São quase cinco da manhã!
— Perdi o sono e vim pegar um lanchinho. Agora é
sério, o jogador vai embora dirigindo? Ele parece estar
muito bêbado.
Virei-me para a pia, observando a pilha de copos
que eu ainda precisava secar. Baixinho, resmunguei:
— Isso não é problema meu.
— Você que serviu a bebida para ele.
— Assim como fiz com todos os outros clientes,
Aubrey. Não sou responsável pelo que eles fazem quando
saem daqui.
— É verdade, mas, se você pode evitar uma
tragédia, por que ainda está aqui dentro?
Olhei para minha irmã. Aquela pestinha tinha
apenas quatorze anos, mas a sua língua afiada ainda me
meteria em grandes confusões, eu sentia.
— Não me responsabilize por algo que não é culpa
minha.
— Só acho que você poderia ajudá-lo. — Seus olhos
encontraram os meus e eu engoli em seco, sentindo um
nó em meu estômago. — Não custa nada.
Respirei fundo, sentindo um pouco de raiva. Que
droga! Por que Aubrey simplesmente não podia estar
dormindo, como qualquer adolescente da sua idade?
Joguei o pano de prato em sua direção e ela o agarrou no
ar, sorrindo.
— Se vai me fazer ir atrás daquele idiota, pelo
menos seque esses copos. E não quebre nenhum!
— Sim, senhora. Agora vá!
Maeve não estava no salão, mas fiz um sinal para
Cindy, avisando que daria uma saída bem rápida. Ela
ergueu o polegar e eu fui em direção à porta do bar,
torcendo para que Logan não tivesse ido embora, porque
agora estava realmente com um peso na consciência.
Christopher, nosso segurança, estava de prontidão em
frente à porta do bar e olhando com curiosidade para
alguém do outro lado da rua. Logo identifiquei quem era.
Logan estava parado em frente a um Audi preto — muito
lindo e caro, por sinal —, tateando os bolsos,
provavelmente à procura da chave para destrancar o
carro. Eu atravessei a pista e parei na sua frente, vendo-
o dar um passo para trás.
— Caramba! Quer me ma-matar de susto, porra?
— Não. Eu quero o seu celular.
— O quê? — Ele parou por um momento, me
olhando como se eu tivesse duas cabeças. — Para quê?
— Para ligar para alguém vir te buscar.
Sua risada arrastada me provou que, realmente,
Logan não estava em condições de entrar naquele carro
e dirigir.
— Quantos anos você acha... que eu tenho? Quin-
quinze?
— Você está bêbado, Logan.
— Foda-se.
— E pode se meter em um acidente — continuei,
ignorando sua teimosia.
— Seria o melhor, pode ter certeza.
— Cala a boca — ordenei, me aproximando. Ele
tentou dar um passo para trás, mas o puxei de volta pelo
puxador da sua calça jeans, começando a tatear em seus
bolsos.
— O que está fazendo? Isso é assédio, sabia?
Ignorei e achei, primeiro, a chave do seu carro.
Coloquei-a em meu bolso sem que ele visse e continuei a
procurar pelo seu celular, finalmente encontrando o
aparelho no seu bolso traseiro. Era bloqueado, é claro,
mas só precisei posicionar o celular na frente do seu
rosto para que a tela fosse desbloqueada através do
reconhecimento facial.
— Me devolve isso. — Ele tentou tirar o aparelho da
minha mão, mas não deixei. — É sério, Valente.
— Valente?
Logan deu de ombros e a sombra de um sorriso
apareceu em seus lábios.
— É que você lembra aquela personagem da
Disney... Merida. Só falta os cachos no cabelo.
Eu não ia sorrir diante daquela bobagem. Não, eu
me recusava a dar aquele gostinho a Logan, mesmo
sabendo que ele estava bêbado e que, provavelmente,
sequer lembraria do apelido idiota. Voltei a mexer em
seu celular e fui direto na agenda, vendo que a última
ligação tinha sido do seu pai. Suas palavras durante o
telefonema voltaram a minha mente e logo lembrei que o
homem estava em Londres, então, seria inútil ligar para
ele. O segundo contato que apareceu foi de James
McHugh, o wide receiver do Crimson Tide. Como sabia
que ele era amigo de Logan, cliquei sobre o seu nome e
esperei a chamada completar.
Caiu a primeira vez, mas eu insisti, finalmente
ouvindo a sua voz meio rouca do outro lado da linha.
— Cara, por que você tá me ligando? São cinco da
manhã.
— Oi, hm... É a Avalon na linha.
— Quem?
— Você não me conhece, mas eu estou aqui com o
Logan, ele estava bebendo no bar da Maeve e não está
em condições de dirigir. Pode vir buscá-lo?
— Ah, merda! — Ouvi o barulho de alguma coisa
caindo do outro lado da linha. — Segure ele aí, ok? Estou
a caminho.
A ligação ficou muda.
— Espero que você não tenha ligado para o meu pai
— Logan disse, encostando-se no carro e cruzando os
braços.
— Pelo que entendi, ele está na Europa, então, não
fazia sentido ligar para ele.
— Eu deveria saber que estou lidando com uma en-
enxerida.
— Eu estou te ajudando, Logan.
— Não, você está se metendo onde não é chamada.
Eu não preciso da sua ajuda nem da ajuda de ninguém.
Ele tomou o celular da minha mão e o aparelho
caiu. Não me abaixei para pegar. Ele não era
autossuficiente? Pois poderia muito bem cuidar daquilo.
Devagar, ele se abaixou e conseguiu pegar o celular do
chão, quase caindo para frente ao se levantar. Para a sua
sorte, eu estava bem ali e consegui apoiar o seu corpo,
empurrando-o de volta para o carro. Minha nossa, ele era
muito pesado.
— Dá para perceber que você não precisa de ajuda,
estrelinha dourada. — Dei um tapinha em seu ombro e
me afastei completamente. O calor do seu corpo pareceu
envolver o meu, mas ignorei o arrepio que aquilo me
causou.
— É, não preciso.
Logan cruzou os braços e olhou para longe. Eu fiz o
mesmo, querendo logo que seu amigo chegasse e o
levasse para bem longe dali. Bem longe de mim. O cara
era como uma pedra no meu sapato desde quinta-feira.
O que eu tinha feito para merecer aquilo? Longos e
torturantes minutos se passaram até que, ao longe, vi
um carro dobrando a esquina. O farol começou a piscar
quando se aproximou de onde estávamos, me deixando
aliviada ao perceber que era James quando parou bem
atrás do carro de Logan. Ele e uma garota de cabelos
castanhos, usando um jeans simples e uma blusa do
Alabama saíram quase correndo do veículo.
— Logan! — Ela correu na direção do jogador e o
abraçou rapidamente, antes de dar um tapa forte em seu
braço. — Quer me matar de susto? O que você tem na
cabeça?
— Eu? Eu não fi-fiz nada — Logan soluçou, mas
percebi que tentou pelo menos ajeitar um pouco a
postura.
— Não fez porque ela não deixou. — James apontou
para mim, me dando um sorriso de desculpa. — Qual é
mesmo o seu nome?
— Avalon.
— Nossa, Avalon, muito obrigada por ter impedido o
Logan de entrar nesse carro. — A garota se aproximou de
mim e ergueu a mão em minha direção. — Sou Norah
Miller, irmã desse idiota.
Agora tudo fazia sentido. Eles eram mesmo muito
parecidos. Apertei a mão dela e a mão de James em
seguida.
— Não precisa agradecer, eu faria isso por qualquer
pessoa.
Logan me olhou por um segundo com as pálpebras
pesadas por causa da bebida e se virou para o amigo.
— Posso ir embora agora ou mais alguém vai me
impedir como se eu fosse uma criança?
— Sua irmã tem toda razão, você é mesmo um
idiota, cara.
James deu um tapinha na nuca de Logan, mas logo
passou o braço do amigo pelo seu ombro, acenando um
agradecimento para mim antes de levá-lo para o carro.
Obriguei-me a parar de olhar para eles dois e peguei a
chave do Audi do quarterback.
— Aqui, consegui confiscar isso antes que ele
encontrasse — falei, entregando a chave para Norah.
— Obrigada, Avalon, de verdade. Você
provavelmente salvou a vida dele hoje. Logan vem
passando por uma fase muito... Complicada.
— Não precisa me explicar nada, só, sei lá... Cuida
dele.
Quem eu estava pensando que era para dar aquele
tipo de conselho para irmã de Logan? Meu Deus, Avalon!
Apesar da minha idiotice, Norah sorriu.
— Vou continuar fazendo isso. Boa noite, Avalon.
— Boa noite, Norah.
A irmã de Logan ocupou o lugar do motorista e logo
partiu, seguindo o carro de James. Eu ainda fiquei ali por
alguns segundos, assimilando tudo o que havia
acontecido pela última hora. De verdade, esperava que
Logan não esbarrasse mais no meu caminho.
Eu podia ouvir a agitação na cozinha conforme
descia as escadas. A risada da minha irmã pareceu
formar um eco no cômodo e desmanchou parte do aperto
em meu peito que já havia se tornado o meu velho
companheiro desde a partida da nossa mãe. Gostava de
saber que Norah não sofria tanto como eu, apesar de
sempre me perguntar como ela conseguiu superar tudo
tão rapidamente. Encontrei-a sentada em frente à ilha da
cozinha, tomando o café da manhã, enquanto Benjamin e
James falavam alguma merda às seis da manhã.
— Bom dia, campeão! — Ben saudou, erguendo a
mão no ar para que eu batesse. — Bom ver que
ressuscitou.
— Depois de passar o domingo inteiro na cama, se
ele não tivesse ressuscitado, eu mesmo levaria o
desfibrilador. — James riu, me perturbando.
— Passei o domingo no quarto, porque não queria
ver a cara feia de vocês.
— Isso me inclui? — Norah perguntou e eu sacudi a
cabeça.
— Claro que não. — Dei um beijo em sua testa
antes de ir me servir de ovos mexidos. — Posso saber o
que você e o James estavam fazendo juntos no sábado
de madrugada?
Minha irmã parou com o garfo a caminho da boca e
olhou para James, que a encarou de volta, segurando a
jarra de café. Benjamin soltou um assobio muito
sugestivo antes de rir baixinho e eu senti o início de uma
dor de cabeça. Não, James não faria aquilo comigo. Ele
não tocaria na minha irmã, certo?
— Pelo que eu me lembre, no sábado de
madrugada, nós estávamos buscando você no Maeve’s
— James respondeu, quase cauteloso.
— Antes disso.
— Antes disso eu estava dormindo — Norah disse.
— Com o James? — Talvez eu tenha gritado. O susto
que levei foi tão grande, que a espátula cheia de ovo
caiu da minha mão direto no chão.
— O quê? Claro que não! Ficou maluco, cara? Sua
irmã também é como uma irmã para mim.
— Assim como eu vejo o James e o Benjamin como
meus irmãos.
— Nossa, gata, isso doeu. Ser seu irmão é um
desperdício — Benjamin massageou o peito, como se
estivesse com dor, mas acabou rindo quando Norah
jogou uma uva em sua direção.
— No entanto, mesmo se eu não os visse assim e
quisesse ter algo com qualquer um dos dois, eu poderia,
porque sou solteira e maior de idade. O que significa que
você não manda em mim, Logan. — Minha irmã se
levantou, me dando um olhar sério. — Você precisa parar
com essa mania de colocar medo nos caras da faculdade
em relação a mim. Isso só atrapalha a minha vida!
— Atrapalha nada, apenas te ajuda. Sem um idiota
no seu caminho, você pode se concentrar melhor nos
estudos.
— Já eu acho o contrário sobre você. Sabe o que
falta na sua vida? Uma namorada! É isso, vou arrumar
uma namorada para você.
Eu a encarei por alguns segundos, um pouco
chocado, antes de começar a rir. Não sabia que Norah
era tão boa em contar piadas.
— Você pode tentar.
— Vou conseguir, maninho. — Ela se aproximou de
mim e deu um beijo em minha bochecha. — Você sabe
que eu sempre consigo o que quero. Agora limpe essa
sujeira no chão.
Sem me dar chance de resposta, Norah se virou e
saiu da cozinha com aquela sua pose de quem realmente
conseguia tudo o que queria. Com o nosso pai aquela sua
atitude sempre funcionava, mas, comigo, seria bem
diferente. Eu não precisava e não queria uma namorada.
Eu estava na faculdade, pelo amor de Deus! E não era
apenas isso. O que eu poderia oferecer para uma garota,
além de sexo? Provavelmente nada.
— Cara, se eu fosse você, teria medo da sua irmã —
Ben resmungou. — Já pensou se ela decide arrumar uma
namorada para nós três?
— Me deixe fora dessa, terminei o meu lance com a
Megan não tem nem dois meses.
— Lance? Vocês estavam juntos há quase um ano —
falei, me abaixando para pegar a espátula do chão. Onde
ficava a vassoura naquela casa?
— Não quero dar tanta importância para isso...
— A gente já sabe que você gostava dela, James —
Benjamin disse, apertando o ombro do nosso amigo. —
Está tudo bem admitir, cara.
— Claro que eu gostava dela, só que não deu certo,
bola pra frente.
— É assim que se fala. — Senti os olhos de
Benjamin em cima de mim quando abri a despensa. — O
que está fazendo aí, Logan?
— Tentando achar a porcaria da vassoura.
Ele e James riram da minha cara e eu ergui o dedo
na direção dos dois.
— Seu riquinho idiota, a vassoura está na área de
serviço. Eu pego para você, mas é você quem vai varrer
— disse James. Antes de passar por mim, no entanto, ele
apertou o meu ombro, como Benjamin fez com ele. —
Você sabe que eu nunca olharia para a sua irmã de outro
jeito, não sabe?
No fundo, eu sabia que sim. James e Benjamin
poderiam pegar a UA inteira, mas não tocariam na minha
irmã. Não apenas por causa de mim, mas porque os dois
a respeitavam e, provavelmente, a enxergavam como
uma irmãzinha.
— Sim, eu sei, mas não custa nada ficar em cima de
vocês.
— Deixa de ser idiota, cara. Se eu fosse pegar
alguém, seria a garota que te ajudou no sábado. Ela é
bem gostosa.
— Quem? A Valente?
Mas que porra era aquela? James a tinha visto
apenas uma vez! Como podia falar aquilo na minha cara?
— Valente? Não foi esse o nome que ela me disse.
— Ele coçou levemente o queixo. — Qual era mesmo o
nome dela?
— Vocês nem sabem o nome da garota? — Ben nos
encarou e começou a rir enquanto sacudia a sua garrafa
com um shake de suplementos. — Meus amigos são
mesmo dois idiotas. Tem uma gostosa na frente deles e
não conseguem gravar o nome dela. Por que me deixou
ser amigo de dois babacas assim, Deus?
— Quer saber? Não importa — falei, indo em direção
à pia para pegar uma nova espátula. Meu estômago
roncava de fome. — A garota tem um humor do cão e
não é nem um pouco simpática. Nenhum de vocês
gostaria dela.
— E você gosta dela? — Ben perguntou, arqueando
uma sobrancelha.
— Lógico que não. Qual foi a parte do “ela não é
simpática” que você não entendeu?
— James disse que ela era gostosa — Ben deu de
ombros, como se aquilo fosse o suficiente.
— Ela é esquisita, se veste de forma estranha —
respondi.
E era gostosa. No sábado, poderia estar usando
uma roupa larga e que revelava pouca coisa, mas na
festa, ela estava com uma saia curta que moldava muito
bem a bunda durinha. E eu não sabia por que aquilo
havia ficado gravado em minha mente, já que nem fui
com a cara dela.
— Eu achei que ela é linda pra caralho — disse
James, ainda parado no meio da cozinha. — Talvez eu dê
uma passada no Maeve’s qualquer dia desses, só para
ser atendido por ela. Sei que trabalha no balcão, já a vi
alguma vezes por lá.
Como James a tinha visto e eu não? E por que
queria tanto chegar na garota, porra?!
— Acho que você encontra coisa melhor na
faculdade.
Coisa melhor. Puta merda. Fechei os olhos por um
segundo, me sentindo realmente um idiota por ter
acabado de falar algo como aquilo.
— Agora você foi um babaca, cara — Ben
resmungou.
— É, foi mesmo. Tudo bem não ter ido com a cara
da menina, mas ela te ajudou no sábado, cuidou de você
enquanto sua irmã e eu não estávamos lá. Acho que
você deveria engolir esse orgulho e ir falar com ela.
— Falar com ela? — Meu coração deu uma
disparada meio insana no peito. — Falar o que com ela?
— Como o quê? Você tem que agradecer, Logan.
— Agradecer? Eu não pedi a ajuda dela.
— Mas ela te ajudou mesmo assim. — Benjamin
parou ao meu lado, colocando a garrafa vazia dentro da
pia. — E você tem mesmo que agradecer por isso.
— Ou, se quiser, eu posso fazer isso por você. —
James sorriu e eu senti um nó se formar em meu
estômago. — Seria a desculpa perfeita para tentar puxar
assunto com ela.
— Não. — Eu sequer pensei, só deixei a palavra
escapar pela minha boca. O olhar dos dois sobre mim me
deixou um pouco nervoso, mas não demonstrei. — Não
precisa chegar perto dela, eu vou fazer isso.
— Vai mesmo?
— Sim.
— Quando? — James perguntou. — Porque, se for
para ficar enrolando, pode deixar que eu assumo a
missão.
— Tenho certeza de que sim — ironizei. — Mas a
Valente é assunto meu, então, eu vou resolver.
— Assunto seu? Interessante. — Ben sorriu para
mim. — Agora vai limpar o chão. Estou ansioso para ver
você com uma vassoura na mão.
— Eu também. Já volto!
James saiu em disparada e eu respirei fundo.
Valente é assunto meu. Olha o tipo de coisa que aquela
garota me fazia falar na frente dos meus amigos. Algo
me dizia que, enquanto eu não resolvesse aquilo, James
e Benjamin nunca mais me deixariam em paz.

Cursar Direito foi uma escolha do Logan de dezoito


anos, que ainda no final do Ensino Médio, tinha uma boa
relação com o pai e achava que poderia conciliar o
futebol com o futuro que Logan Miller II queria que ele
traçasse. No fundo, sempre soube que nunca esteve nos
meus planos me tornar um advogado e assumir os
negócios da minha família, mas eu tinha o sonho
mirabolante de que meu pai entenderia o meu lado e me
apoiaria quando eu contasse que queria entrar para um
time profissional depois que me formasse.
Logicamente, ele não entendeu e tudo foi por água
abaixo quando descobriu que eu havia entrado para o
time de futebol da faculdade.
Meu pai entendeu rapidamente o meu plano e a
nossa relação começou a se desgastar. Ele era um
homem difícil, apesar de sempre ter sido um bom pai e
um bom marido, e tinha o costume de sempre dar a
última palavra, só que eu já não era mais um garoto que
abaixava a cabeça e satisfazia as suas vontades.
No entanto, aqui estava eu, entrando na sala de
aula, ainda matriculado no curso que era o seu sonho, só
que não por causa dele. Eu estava ali cumprindo a última
promessa que fiz para a minha mãe. Ela me entendia,
mas também entendia o meu pai e havia feito dos
últimos meses da sua vida, a missão de tentar
reconstruir o nosso relacionamento de pai e filho. De um
lado, ela conseguiu fazer com que ele respeitasse a
minha paixão pelo futebol e, do outro, pediu para que eu
não trocasse o curso e concluísse a faculdade de Direito.
Ela já não estava mais aqui para me ver pegar o diploma,
mas eu o faria por ela, porque a amava e queria que
sentisse ao menos um pouco de orgulho de mim.
As salas do prédio de Direito da UA eram bem
clássicas, todas no estilo oval, com as fileiras de carteiras
uma acima da outra. Eu me sentei em uma das últimas e
abri o meu laptop, relendo as minhas anotações da
última aula de Mediação de Conflitos e percebendo que
não compareci na semana passada. Eu era um aluno
aplicado, apesar de não gostar do meu curso, e sempre
tirava boas notas, não apenas porque era uma exigência
acadêmica para que eu permanecesse no time, mas
porque eu me dedicava a ser sempre o melhor no que eu
fazia.
Aquele período, no entanto, vinha sendo difícil para
mim. Os motivos eram muitos, mas percebi que, se eu
queria pelo menos permanecer no time, precisaria me
esforçar mais.
A sala foi enchendo gradativamente, mas os alunos
logo se calaram quando a Sra. O’Born entrou. Ela sempre
se vestia formalmente com um terninho e usava o cabelo
preso em um coque apertado no topo da cabeça, mas
era uma professora tranquila e solícita. Logo pediu para
que abríssemos o e-mail que nos enviou durante o final
de semana e iniciou a aula.
Os primeiros trinta minutos foram dedicados à
explicação sobre a matéria, que me rendeu algumas
páginas de anotações no Word e algumas dúvidas que
gostaria de tirar com ela no final da aula, já que eu havia
faltado semana passada. Então, a Sra. O’Born começou a
falar sobre o projeto daquele semestre para a sua
matéria.
— Vocês vão se dividir em duplas... — Aquilo era
muito bom. Meu olhar esbarrou com o de Frederick
Johnson, um colega de classe, com quem eu havia feito
um trabalho no último período e ele acenou para mim.
Poderíamos formar uma dupla de novo. — Previamente
sorteadas por mim.
Exclua tudo o que pensei. Aquilo não era nada bom.
Eu geralmente não tinha sorte com aquele tipo de coisa e
sempre caía com algum aluno irresponsável, que deixava
tudo nas minhas costas.
— E terão que apresentar um seminário ao final do
período, partir do estudo de caso que também será
sorteado. O objetivo deste trabalho, é ver na prática
como vocês mediariam conflitos no âmbito...
Tirei os óculos que precisava usar para leitura e
cocei os olhos, já pensando em como aquilo poderia ser
um desastre. Torci para que a minha dupla fosse
Frederick. Eu poderia não ter sorte, mas talvez ele
tivesse sorte suficiente por nós dois.
— Eu já tenho aqui as duplas formadas e seus
respectivos temas. Estão preparados? É sempre um
prazer ver como vocês amam esse tipo de trabalho. — A
professora, que devia estar na faixa dos cinquenta anos,
ainda teve a capacidade de brincar com aquilo.
Pelo menos os alunos foram sinceros ao soltarem
resmungos desanimados. Ela começou a falar o nome
das duplas e fui ficando com esperança ao ver que nem o
meu nome nem o nome de Frederick foi citado. Seria
possível que o destino fosse tão bonzinho comigo e me
colocasse para fazer o trabalho com ele?
— Frederick Johnson e... Melaine Roberts.
Pelo visto, não.
Vi quando uma menina, provavelmente a tal
Melaine, acenou para Frederick, que sorriu meio bobo e
acenou de volta. A garota era muito bonita e pareceu
deixar Fred meio embasbacado, porque ele não
conseguiu tirar os olhos de cima dela depois daquele
aceno. Que traidor! Ele sequer me deu um olhar de pesar
por não poder fazer o trabalho comigo.
— Logan Miller III e... — Voltei a olhar para a
professora, querendo que acabasse logo com aquele
suspense. Que eu fosse sorteado com um aluno
inteligente e responsável. Era só isso que eu queria. —
Avalon Banks.
Quem diabos era Avalon Banks?
Estiquei o pescoço à procura da minha dupla, mas
ninguém olhou para mim de volta. Era impossível que a
garota não soubesse quem eu era, portanto, comecei a
acreditar que, ou ela tinha ido ao banheiro justamente na
hora da revelação das duplas, ou não tinha comparecido
à aula. De qualquer forma, as duas opções só me
provaram que, mais uma vez, eu teria que me desdobrar
para fazer um trabalho em dupla sozinho, pois a tal
Avalon provavelmente era uma aluna indisciplinada.
E você é o que, Logan? Esqueceu que não
compareceu à aula na semana passada?
Expulsei a voz incriminatória da minha cabeça e
anotei o nome da garota em meu laptop para não
esquecer. Acabei perdendo o tema do trabalho, mas
perguntaria novamente à professora no final da aula.
Mais duplas foram formadas e logo a Sra. O’Born
permitiu que usássemos os últimos minutos de aula para
que as duplas pudessem se reunir e começar a debater
sobre o trabalho.
Eu fiquei sentado em meu lugar, porque a minha
dupla não estava em sala. Pensei em sair, mas decidi que
falaria antes com a professora e perguntaria se poderia
me passar o e-mail da garota, para que eu pudesse
explicar que teríamos que fazer um trabalho juntos.
Estava terminando de guardar o laptop em minha
mochila, quando senti alguém se acomodar ao meu lado
e olhar fixamente para mim. Curioso, ergui a cabeça e,
então, eu a vi. De novo.
Bem ali, ao meu lado, com um coque displicente,
vestindo uma blusa preta que deixava uma parte da
barriga de fora, calça jeans e um casaco xadrez, estava
Valente, ou melhor, a invasora de quartos e bartender do
Maeve’s.
— Você só pode estar de brincadeira com a minha
cara — resmunguei, deixando a minha mochila na
cadeira desocupada ao meu lado. — Vai me perseguir até
mesmo na sala de aula?
— Acredite em mim, a última coisa que eu queria,
era ter que esbarrar com você de novo, mas a vida
parece me odiar. — Ela me deu um sorriso sardônico com
os lábios pintados de vinho. Percebi que a invasora não
usava muita maquiagem, mas sempre estava com um
batom forte nos lábios. — Vamos ter que fazer esse
trabalho juntos.
— O quê? Não. Eu vou fazer o trabalho com uma tal
de Avalon Banks.
Valente me olhou como se eu fosse um idiota e
comecei a acreditar que eu realmente era quando ela me
estendeu a mão e disse com uma voz ácida:
— Prazer, Avalon Banks.
Diga-me uma coisa, Deus... Eu sou uma piada para
o Senhor?
Eu deveria ser, porque aquela era a única
explicação plausível para o que havia acabado de
acontecer. Eu literalmente me afundei na carteira quando
a Sra. O’Born disse meu nome em voz alta logo após
falar o nome completo de Logan e fiquei daquele jeito
por longos minutos, torcendo para que algum tipo de
milagre acontecesse. Talvez, a professora se desse conta
de que havia cometido um equívoco e se retratasse.
Melhor ainda, ela poderia falar que anotou errado a
ordem do sorteio e que eu poderia fazer aquele trabalho
com qualquer pessoa, exceto o quarterback que amava
beber tequila às quatro da manhã.
Obviamente, nada disso aconteceu. Minha mãe
costumava falar que sempre havia um propósito maior
para tudo o que acontecia em nossas vidas. Em sua
opinião, nada era por acaso. Comecei a acreditar que o
propósito maior, no meu caso, era só me fazer passar
raiva a cada vez que eu era obrigada a esbarrar com
Logan. Agora, eu teria que conviver com ele, pelo menos
por um tempo, desperdiçando algumas horas do meu dia
em sua presença irritante.
Encarei-o ainda com a mão estendida em sua
direção e vendo o choque em sua expressão. Ele olhou
em meus olhos, encarou a minha mão, então, voltou a
me olhar nos olhos de novo.
— Essa brincadeira não é engraçada, Valente.
— Acha mesmo que entre as coisas incríveis que eu
poderia estar fazendo neste exato momento, eu estaria
aqui, brincando com você?
Logan fechou a cara e eu recolhi a minha mão,
cruzando os braços e esperando que a ficha dele caísse
logo de uma vez.
— Não é possível, sinceramente... — O quarterback
sacudiu a cabeça, trincando os dentes. Os ossos da sua
mandíbula ficaram aparentes. — Vamos falar com a Sra.
O’Born. Talvez ela possa abrir uma exceção e mudar a
nossa dupla.
— Logan, nós não estamos no jardim de infância!
Vamos encarar essa situação como adultos e tentar não
matar um ao outro.
— Isso só prova a minha teoria de que você é, sim,
fanática por mim. Deve estar adorando essa situação,
não é? — provocou, me dando um sorrisinho de lado que
o deixou muito bonito. O que não diminuía o fato de que
ele era um idiota, eu precisava me lembrar.
— Muito! Aliás, a primeira coisa que eu fiz hoje ao
acordar, foi dobrar os meus joelhos e pedir a Deus para
que Ele me desse uma chance de ficar perto de você.
Afinal, com tanta coisa boa que eu poderia pedir, com
certeza eu perderia o meu tempo pedindo isso.
— Você é muito debochada!
— E você precisa parar de achar que o mundo gira
em torno do seu umbigo rico!
— Espero que vocês estejam com os ânimos
alterados dessa forma porque estão entusiasmados com
o trabalho.
A voz da Sra. O’Born atravessou com muita clareza
os meus ouvidos. Muita clareza mesmo. Só então eu
percebi que os alunos estavam saindo da sala e que
apenas Logan e eu estávamos sentados, discutindo como
dois adolescentes com os hormônios agitados. Minhas
bochechas ficaram quentes diante do olhar curioso da
professora.
— Sim, Sra. O’Born. — Logan limpou a garganta e se
levantou. — É exatamente por causa disso.
— Ótimo! Estou ansiosa para ver o projeto de vocês,
afinal, são alunos com uma das maiores médias do curso.
Tenho certeza de que vão fazer um ótimo trabalho. Até
semana que vem.
A professora acenou para nós dois e saiu da sala.
Aquela informação me surpreendeu. Logan realmente
tirava boas notas? Achei que eram apenas boatos que
ele fazia questão de que corressem pelo campus. O
jogador começou a se afastar de mim, descendo os
degraus e parecendo se esquecer de que estávamos no
meio de uma discussão.
— Logan, espera! Nós ainda não terminamos!
— Ashley...
— Meu nome é Avalon! — Repeti, finalmente
parando ao seu lado. Era meio injusto ter que competir
com os dois metros de pernas que ele tinha. Logan fez
um gesto com a mão, como se o meu nome fosse
completamente desinteressante, e olhou rapidamente o
Apple Watch em seu pulso.
— Eu tenho uma aula em exatos três minutos e
estou apertado para mijar, então, vamos fazer o
seguinte...
— Você é um porco — resmunguei.
— Obrigado pelo elogio. — O idiota me deu um
sorrisinho insolente, mas muito bonito. Eu realmente
tinha que parar de pensar na beleza dele. — Tenho uma
hora livre depois das aulas antes do treino com o time,
vamos nos encontrar na Bounds Law Libary [5] e discutir
um pouco mais sobre o trabalho.
Discutir sobre o trabalho. Certo, parecia um ótimo
plano para mim.
— Tudo bem.
— Não se atrase! — Ele começou a se afastar,
andando de costas para poder continuar me olhando. —
Eu realmente não vou poder te esperar, Valente. Sou o
quarterback do time, você sabe...
O idiota piscou para mim e saiu da sala, me
deixando sozinha. Usei aqueles segundos para olhar para
o teto e pensar em Deus. Pedi para que Ele aliviasse um
pouco a minha situação, porque não sabia como eu iria
passar as próximas semanas ao lado de Logan sem
querer trucidar aquele pescoço grosso que ele tinha.
Eu estava há pelo menos meia hora sentada na
biblioteca esperando pela estrelinha dourada do Crimson
Tide. Tive tempo de sobra para terminar o lanche que
havia comprado no meio do caminho, ler um capítulo do
livro que o professor de Direito Penal havia passado e
trocar mensagens com a minha irmã que, ao contrário de
mim, não tinha o menor problema com a sua dupla da
escola. Ela estava na casa de uma amiga naquele
momento, fazendo um trabalho de matemática.

Aubrey: Foi realmente um sorteio ou a professora


percebeu que vocês não se gostam e resolveu se divertir
um pouquinho ao juntar vocês dois?
Eu: Logan e eu nunca nos esbarramos na aula da
Sra. O’Born. Acredito que ele nem sabia, até o momento
em que me sentei ao seu lado, que eu estudava na
mesma turma que ele.

Nunca iria admitir para ninguém, mas o modo como


Logan me olhou quando me sentei ao seu lado me afetou
um pouco. Antes da situação em sua casa e no bar, eu
nem ao menos me lembrava que fazíamos aquela
matéria juntos, mas pensei que ele iria me ver quando
entrei na sala naquela manhã. Eu o vi, infelizmente. Ele
tinha um lugar cativo nos fundos da sala, sempre em
uma das carteiras mais altas, por isso, meus olhos
acabaram indo naquela direção automaticamente. Logan
estava digitando algo no laptop naquele momento, mas
achei que uma hora olharia para mim e iria me
reconhecer.
Não sabia por que aquilo havia se tornado uma
questão para mim. Eu sequer gostava do quarterback! O
fato de ele não saber que estudávamos juntos deveria
ser uma benção, não me deixar incomodada.
Aubrey: Então eu acho que é o destino. Talvez,
vocês devessem ficar juntos.
Eu: Você está lendo muita fanfic, Aubrey!
Aubrey: Pode ser. Só queria deixar claro que
enemies to lovers é uma das minhas tropes favoritas!
Eu: Sinto em te decepcionar, mas você vai ter que
continuar a se agarrar à ficção, porque algo assim não
vai se tornar realidade, pelo menos não para mim.

— Avalon, finalmente te encontrei! — Mia parou na


frente da mesa em que eu estava sentada e puxou uma
cadeira. Despedi-me de Aubrey rapidamente e guardei
meu celular na bolsa, dando um olhar culpado para ela.
— Mia, me desculpa. Sei que saí às pressas da festa
e nem consegui me despedir.
— Você poderia ter pelo menos me mandado uma
mensagem.
— Sim, eu sei. Me perdoe.
Mia sacudiu a cabeça e sorriu para mim, parecendo
não estar chateada pelo meu sumiço.
— Está tudo bem, esqueça isso. Fiquei sabendo que
você vai fazer um trabalho com Logan Miller! Sua
sortuda! — Ela deu um tapinha em minha mão e eu me
sobressaltei.
— Como ficou sabendo disso?
— Tudo o que acontece com os jogadores de futebol
se torna notícia, garota! Uma menina da turma de vocês
contou para uma garota, que contou para outra, que
contou para outra e então... Todo mundo ficou sabendo!
Fechei os olhos por um segundo, sem acreditar
naquilo. O que iria acontecer agora? Todo mundo ficaria
de olho em mim para ver se eu ia cair na cama do
quarterback do Crimson Tide?
— Mas não se preocupe com essas fofocas, Avalon.
Daqui a pouco acontece alguma coisa mais interessante
e isso vai ser notícia velha — Mia deve ter visto a
preocupação em meu rosto, pois logo me tranquilizou.
— Eu só não quero que as pessoas comecem a
achar que eu sou uma nova conquista de Logan.
— Ah, mas eu acho que isso não vai acontecer,
porque Logan acabou de ir embora com uma loira no
banco do carona do carro.
— O quê? — Eu me levantei no susto, fazendo Mia
se levantar também com os olhos arregalados. — Você
tem certeza?
— Claro que tenho. Eu estava longe, mas
reconheceria Logan de qualquer lugar do mundo. — Mia
me olhou um pouco desconfiada. — Por quê? Não me
diga que está com ciúmes, Avalon!
— Eu? Com ciúmes daquele idiota? É claro que não!
— Comecei a recolher as minhas coisas, sentindo minhas
mãos tremerem de raiva. — Ele marcou comigo aqui para
discutirmos sobre o trabalho e simplesmente me deu um
bolo! Não acredito nisso!
Talvez, pedir para que a Sra. O’Born nos colocasse
para fazer o trabalho com outra pessoa não fosse uma
opção tão ruim assim. Eu preferia que ela me visse como
uma aluna imatura que não sabia lidar com desafios, do
que ter que desperdiçar mais um segundo do meu tempo
com Logan.
— Ele pode ter se esquecido, Avalon...
— Claro que se esqueceu, ele tinha coisas mais
importantes para fazer.
Como levar a menina loira para a sua casa e passar
aquela hora livre com ela em seu quarto. Filho da mãe
irresponsável!
— Tenho certeza de que vocês vão se resolver —
Mia disse, passando a mão pelo meu braço. — Agora eu
preciso procurar logo o livro que o professor passou na
aula de hoje, antes que alguém consiga pegá-lo antes de
mim. Se precisar de qualquer coisa, é só me mandar uma
mensagem.
Eu concordei com a cabeça e a abracei meio que no
automático, logo me afastando dali e indo embora. Se
não visse Logan no dia seguinte, eu iria atrás da Sra.
O’Born e insistiria para que me mudasse de dupla.

Logan faltou dois dias consecutivos.


Eu devia ter levado a minha decisão adiante sobre
conversar com a professora, mas toda vez que chegava
perto da sala dela, eu me afastava. Não sabia o porquê,
mas algo parecia me pedir cautela e um pouco de
paciência. A única vez que tomei uma decisão no impulso
acabou me colocando em uma enrascada que, até agora,
eu não tinha conseguido me livrar, por isso, decidi ouvir
a minha intuição.
Descobri que Logan estava na faculdade
completamente por acaso. A última aula havia terminado
e eu fui ao banheiro, pois estava apertada. Duas meninas
conversavam em frente ao espelho e, enquanto eu usava
o reservado, as escutei dizendo que Logan estava lindo
naquela manhã usando uma camisa azul que marcava os
músculos dos braços. Foi o suficiente para que eu
tomasse a decisão de ir atrás dele, mesmo sem ter ideia
de onde o jogador poderia estar.
No final, elas mesmas me deram a resposta ao dizer
que ele estava a caminho do centro de treinamento. Foi
para lá que me dirigi assim que saí do banheiro. Eu
nunca tinha ido para aquele lado do campus, por isso,
fiquei assustada com a estrutura gigantesca. Havia um
segurança em frente aos portões do complexo e ele
caminhou em minha direção quando me aproximei.
— Hoje o treino é fechado para o público — disse
antes mesmo que eu abrisse a boca.
Eu poderia ser leiga sobre futebol, mas sabia o que
“treino fechado para o público” significava. Precisava
arrumar um jeito de entrar naquele lugar.
— Eu sei disso. Sou amiga de Norah Miller, irmã do
Logan, e ela me pediu para vir aqui dar um recado para
ele.
O segurança me fitou com certa desconfiança e eu
achei que falaria um não bem grande na minha cara, no
entanto, seus olhos logo se arregalaram e algo mudou
em sua expressão.
— Oh, é sobre o que aconteceu na segunda-feira?
O que havia acontecido na segunda-feira? Eu não
fazia ideia, mas me aproveitei daquilo, confirmando a
cabeça com entusiasmo.
— Sim, é sobre isso! Eu posso falar com ele?
Prometo que será bem rápido.
— Ok, você tem dez minutos. Siga as placas de
instruções e logo você chegará ao campo.
— Muito obrigada!
Passei pelo segurança e mal prestei atenção em
nada pelo caminho, seguindo as placas, como o homem
vestido de terno me aconselhou a fazer. Depois do que
pareceram horas, cheguei bem no momento em que o
treinador — ou técnico, eu não sabia realmente qual era
o termo certo — estava conversando em particular com
Logan no canto do campo, perto dos bancos. Percebi que
o resto do time estava no meio de um treinamento
pesado, mas Logan era o único jogador que não estava
entre eles.
Esperei um pouco, pensando que talvez fosse
melhor eu ir embora. Poderia falar com Logan depois,
apesar de ter a certeza de que seria difícil encontrar com
ele pelo campus antes da próxima aula da Sra. O’Born.
Olhei no relógio em meu celular. Eu poderia esperar um
pouco mais ou, no caso, ficar ali até o segurança me
expulsar.
O treinador do time pareceu querer me poupar
daquele vexame, pois deu dois tapinhas no ombro de
Logan e se afastou. Aproveitei aquele momento para
correr para perto do jogador, antes que ele se juntasse
ao time. Para a minha surpresa, ao invés de ir até os
meninos vestidos de vermelho e branco, Logan se sentou
em um dos bancos e cruzou os braços, observando tudo
de longe. Ele se sobressaltou quando entrei em seu
campo de visão.
— O que está fazendo aqui? — Se levantou, dando
uma olhada a nossa volta. — Ou melhor, como conseguiu
entrar aqui? O treino de hoje é fechado.
— Mamei o segurança. — Passar os dedos em volta
dos meus lábios foi só um adicional para ver se o
quarterback mauricinho ficaria chocado.
Contive um sorriso enquanto Logan observava o
meu gesto obsceno e engolia em seco. Homens. Por que
era sempre tão fácil mexer com eles? Ele limpou a
garganta.
— Deve ter sido um boquete e tanto para ele te
deixar entrar.
— Eu sou muito boa em tudo o que faço.
— Fico lisonjeado por eu valer tanto esforço da sua
parte. — O sorriso que ele me deu foi quase um insulto.
— O que você quer?
O treinador soprou um apito e depois gritou, dando
ordens e mandando que acelerassem na corrida. Eu os
observei de longe e a curiosidade falou mais alto:
— Por que você está aqui ao invés de estar ali? —
Apontei para o campo com a cabeça.
— Por que você está aqui ao invés de estar, sei lá,
enchendo o saco de outra pessoa?
Jesus Cristo, aquele riquinho era mesmo um ser
humano intragável.
— Estou aqui porque quero saber quando vamos
poder nos reunir para discutir sobre o seminário.
— Está falando sério? Veio atrapalhar o meu treino
por causa disso?
Dei uma olhada para ele demoradamente, mal
conseguindo esconder meu deboche.
— Você parece estar bem desocupado no momento.
Não, melhor ainda… Parece estar de castigo.
Dessa vez foi o meu sorriso que pareceu ter o
insultado.
— Dá o fora daqui, Ashley.
— É Avalon! E, acredite, eu preferia estar em
qualquer outro lugar agora, mas, ao contrário de você,
sou uma aluna exemplar, portanto, cruzei a porcaria
desse campus inteiro para ver se eu encontrava Vossa
Majestade, já que você me deu um bolo na segunda-feira
e mal parece frequentar as aulas. Não vou sair daqui até
termos um encontro marcado, Logan!
— Um encontro? — Ele deu um sorrisinho e se
aproximou um pouco de mim. — Sempre soube que toda
essa… animosidade, era desejo reprimido, Valente.
Ah, meu Deus. Aquele mimadinho só podia estar de
brincadeira com a minha cara. A piada que contou foi tão
boa, que eu não pude conter a risada.
— Você não deveria ser atleta, muito menos
advogado. Ficaria cinco vezes mais rico se fosse
comediante. — Dei um tapinha em seu ombro, fazendo-o
voltar a dar um passo para trás. — Você entendeu muito
bem o que eu quis dizer. E o meu nome é Avalon!
Acredito que você não tenha nenhum problema de perda
de memória recente.
Ele revirou os olhos, como se estivesse entediado.
— Que seja. Me dê o seu celular.
— O quê? Pra quê?
— Para que eu possa anotar o meu número, assim,
só vou precisar ter o desprazer de te encontrar
pessoalmente quando for realmente necessário.
Aquela era a primeira vez que o riquinho tinha uma
boa ideia na minha frente. Dei meu celular para ele e o
observei digitar rapidamente o seu número na minha
agenda. Ao longe, vi o segurança aparecer pelo lugar de
onde entrei, parecendo procurar por alguém. Assim que
seus olhos me encontraram, percebi que era atrás de
mim que ele estava.
— Parece que seu boquete não é tão bom assim, já
que John está à sua procura — disse Logan, me
devolvendo o celular.
— Ou talvez ele esteja viciado. Que pena que você
nunca vai descobrir.
— Prefiro que meu pau caia antes de você colocar a
boca nele.
— Nossa, mas acho que agora eu quero muito te
chupar. Vai ser ótimo ver você perdendo esse negocinho
que carrega no meio das pernas.
— Negocinho? — Logan riu, cheio de si. — Valente,
eu já estive nu na sua frente e você pareceu gostar
bastante do que viu.
— Essa é a sua memória de bêbado tentando te
enganar, estrelinha dourada. Eu mal consigo me lembrar
do que vi, isso mostra como eu fiquei impressionada com
todo o seu tamanho. — Distanciei-me de Logan, antes
que o segurança viesse me buscar à força e o
quarterback percebesse que, daquela vez, eu estava
mesmo mentindo. — Vou te mandar uma mensagem
para marcarmos a nossa primeira reunião sobre o
trabalho. Se você sumir, Logan terceiro, eu bato lá no
castelo onde você mora e te arranco à força de lá de
dentro.
O babaca me soprou um beijo cheio de deboche e
eu saí logo dali, agradecendo ao segurança pelo favor.
Assim que deixei o campo, peguei o meu celular para
enviar um oi para o jogador mimado e pedir para que
salvasse o meu número. Uma careta surgiu em meu rosto
assim que vi o modo como salvou o seu contato.
“Sua Majestade”.
Mudei para Babaca de Uniforme.
Aquele seria o seu nome por enquanto. Em breve,
eu arrumaria um insulto melhor.
Eu: Salvou o meu número?
Eu: Quando vamos poder nos encontrar? Hoje é o
meu dia de folga e tenho a noite livre.
Deixei meu celular de lado sobre o sofá depois de
reler a mensagem que havia enviado para Logan há
pouco mais de uma hora. Ele não havia respondido ao
“oi” que enviei para ele quando deixei o centro de
treinamento mais cedo, mas uma hora teria que
responder às duas últimas mensagens que enviei.
— Fiz pipoca! — Aubrey anunciou, sentando-se ao
meu lado.
Ela nem precisava avisar, pois o cheiro de pipoca já
tomava conta do apartamento pequeno e fazia a minha
barriga roncar. Enchi a mão e soltei um gemido conforme
comecei a comer.
— Seus dotes culinários estão cada vez melhores —
falei com a boca cheia, vendo-a revirar os olhos.
— Vai ficar me zoando até quando por eu ter
queimado aquele miojo?
— Você nem deveria estar comendo miojo, para
começar. Aquilo é sódio puro.
— Também é cancerígeno — complementou.
— E não tem nutriente algum.
— Mesmo assim, é uma delícia. Uma pena que eu
não tenha conseguido comer, de fato.
— Certeza de que foi a mamãe que te fez esquecer.
Achou mesmo que ela não estaria de olho em você lá no
céu?
Aubrey me deu um sorriso meio emocionado,
afrouxando o aperto em meu peito. Ainda doía muito a
perda da nossa mãe, mesmo já tendo se passado três
anos, mas pelo menos conseguíamos falar sobre aquilo
sem nos debulhar em lágrimas toda hora. O peso
daquela perda tinha se tornado um pouco mais leve, com
certeza pelo fato de termos uma a outra. O melhor
presente que minha mãe podia ter me dado, estava bem
ali ao meu lado, no formato de uma adolescente
sonhadora, que era péssima na cozinha, mas uma
romântica incurável.
— Isso é injusto. Como vou esconder algo dela?
— É simples, você não vai esconder. Game over
para você, pirralha! — Ela tentou se afastar de mim, mas
baguncei seu cabelo mesmo assim.
— Para com isso, sua chata! Por que você não desce
e pergunta se a Maeve precisa de ajuda? Não quero ficar
te aturando pelo resto da noite.
— Estou de folga, ok? Sei que não parece, mas não
sou uma máquina — falei, pegando mais um pouco de
pipoca. Aubrey acabou colocando o pote em minhas
mãos e se levantou.
— Então coloca uma série pra gente assistir,
enquanto isso, vou fazer mais um pouco de pipoca para
mim.
— Ok, vou escolher, mas não será nada muito
meloso!
— Vai ser meloso sim! Você precisa assistir mais
conteúdos de romance para se inspirar, Ava! Está na
hora de desencalhar. — Aubrey praticamente gritou,
mesmo que a sala e a cozinha fossem praticamente um
cômodo só, com apenas um balcão dividindo-os.
Eu não me dei ao trabalho de responder, pois não
adiantaria de nada. Segundo Aubrey, eu deveria estar
aproveitando a faculdade o máximo possível, agora que,
na visão dela, eu podia, mas minha irmã não sabia de
tudo sobre a minha vida. As partes mais pesadas eu
sempre escondia dela, porque Aubrey já tinha suportado
muita coisa nos últimos anos. Queria que ela continuasse
a acreditar que estávamos livres no Alabama, longe de
qualquer mal.
Acabei escolhendo uma série na Netflix que
continha um pouco de romance para satisfazer a minha
irmã, mas não dei play, esperando por ela. Minha pipoca
estava quase acabando quando ouvi meu celular vibrar
em cima do sofá. Quase ignorei, pensando ser algum e-
mail com spam — que era o que eu mais recebia —, mas
logo me lembrei da mensagem que enviei a Logan e
deixei a pipoca de lado, limpando a mão em meu jeans
para me livrar da manteiga e poder pegar o aparelho.
Meu coração bateu um pouco mais rápido e logo
acelerou completamente. Havia mesmo uma mensagem
ali, mas não era de Logan.

Número desconhecido: Passando apenas para


lembrar que o seu prazo está acabando.

Quase deixei o celular cair no chão, mas consegui


bloquear a tela a tempo e esconder a mensagem da
minha irmã quando ela voltou para o sofá. Percebi que
estava falando alguma coisa, mas não ouvi uma palavra
sequer.
Seu prazo está acabando.
— Ava? Está me ouvindo?
Meu prazo estava acabando e eu sabia. Só queria
fingir por mais um tempo que aquele problema não
existia na minha vida.
— Desculpa, estava distraída. O que você disse?
— Perguntei se quer pipoca doce. Vi uma receita no
Pinterest e queria testar. Parece ser bem fácil.
— Para você colocar fogo no apartamento enquanto
derrete o açúcar? Não, obrigada. — Consegui brincar.
Aubrey caiu direitinho, pois logo pegou uma almofada em
cima do sofá e jogou em minha direção.
— Irritante! Não vou te oferecer mais nada de hoje
em diante.
Ela voltou para a cozinha enquanto eu forçava uma
risada, que morreu assim que minha irmã sumiu das
minhas vistas. Geralmente, eu conseguia agir com
tranquilidade na sua frente, mas estava cogitando
inventar uma desculpa e me trancar no quarto para que
Aubrey não visse que eu estava prestes a surtar. Ela
voltou com um novo pote cheio de pipoca e despejou um
pouco mais no meu, que estava quase vazio.
— Você nunca vai poder dizer que sou uma irmã
ruim.
— Nunca mesmo! — Estiquei-me e dei um beijo em
sua bochecha. — Eu te amo, pestinha.
Aubrey sorriu, toda derretida. Eu amava o seu
coração mole.
— Também te amo, agora dá play na série, por
favor.
A série começou a passar na TV, mas eu não
consegui prestar atenção em uma única palavra dita
pelos atores. Minha mente, que às vezes se revelava ser
a minha maior inimiga, começou a criar um monte de
cenários e me deixar mais preocupada do que já estava.
— Você tem tomado cuidado na escola, Aubrey?
Minha irmã demorou alguns segundos para me
responder, entretida com a série.
— Sim. Você sabe que não sou mais uma criança,
Ava.
— Eu sei, mas… Os casos de violência estão
aumentando. Vou passar a te levar e te buscar na escola.
— O quê? — Aubrey praticamente gritou, virando-se
para mim em cima do sofá. — Não, você não vai fazer
isso! Todas as minhas amigas já vão sozinhas para a
escola, Ava. Não me faça passar essa vergonha, por
favor!
— Vergonha? Eu só estaria te dando uma carona!
— Carona é algo que você pode me dar de vez em
quando. Se passar a me levar todos os dias para a
escola, vão perceber que é muito mais do que uma
carona.
— Aubrey…
— Ava, por favor! — A danada deixou o pote de
pipoca sobre a mesinha de centro e se ajoelhou no sofá,
juntando as mãos na frente do rosto. — Por favor, é sério,
não me faça pagar esse mico.
— Mico? — Eu ri, mesmo estando nervosa. — Achei
que os adolescentes da sua idade tinham inventado
alguma outra gíria.
— Só falei isso para você se identificar. — Cerrei os
olhos para ela. Filha da mãe! — Viu como sou uma irmã
incrível e que não merece passar pela humilhação de ser
levada pela irmã para a escola? Uma escola, aliás, que
fica a três quarteirões de onde eu moro!
Eu sabia que não tinha como argumentar contra
aquilo. Se insistisse muito no assunto, Aubrey começaria
a desconfiar que havia alguma coisa errada e aquela era
a última coisa que eu queria. Por isso, decidi não ceder à
minha preocupação, que estava quase se tornando uma
paranoia. Eu ainda estava no prazo, mesmo que ele
estivesse se esgotando. Não iam fazer nada contra a
mim ou contra a minha irmã.
— Está bem, esqueça o que eu disse, ok? Não vou
te fazer passar vergonha.
— É isso! Você é a melhor irmã do mundo! —
Aubrey me abraçou apertado pelo pescoço e eu retribuí,
sorrindo. — Olha, você recebeu uma mensagem!
Gelei. Sem pensar muito, afastei minha irmã e
peguei o meu celular no braço do sofá. A tela tinha
acabado de se apagar, mesmo assim, virei o aparelho
para mim para que minha irmã não visse nada. Ela me
olhou com curiosidade.
— Nossa, quanto mistério. Quem é? Algum garoto
lindo da faculdade? Por favor, diz que sim!
O medo deu lugar ao alívio quando vi que era
apenas uma mensagem de Logan. Nunca pensei que o
quarterback me faria sentir algo parecido com aquilo.
— É uma mensagem do Logan — respondi no
automático.
— Logan? Que Logan? — Aubrey continuou a me
olhar, esperando por uma resposta, até que seus olhos
brilharam e ela voltou a se ajoelhar no sofá. — Estamos
falando daquele Logan? O jogador bonitão do Crimson
Tide com quem você vai fazer o trabalho?
— Sim, ele mesmo, mas não precisa ficar
entusiasmada desse jeito, ele só está respondendo a
mensagem que enviei para ele mais cedo.
Uma resposta que eu praticamente precisei me
humilhar para que ele enviasse. A constatação disso me
deixava com um gosto ruim na boca.
— Isso é ótimo! Você precisa mesmo se enturmar,
Ava, e Logan parece ser o cara ideal para fazer isso
acontecer. Ele é popular!
— Ele é insuportável, isso sim.
— Não seja uma chata! Leia logo a mensagem dele.
Foi o que fiz, apenas para diminuir as expectativas
da minha irmã. Li e virei a tela para ela.
— Viu só? Não tem nada de mais, ele só disse que
eu posso ir à casa dele agora para conversarmos sobre o
trabalho.
— Ir à casa dele! Isso é perfeito! — Aubrey bateu
palmas, sorrindo de orelha a orelha. — Vai logo, anda! Eu
te dispenso por essa noite!
— Você já estava querendo me dispensar há muito
tempo, até mandou eu ir trabalhar.
— Eu só estava brincando, mas agora estou falando
muito sério. Vai logo, Ava! E só volte depois que se tornar
amiga do quarterback!
Ah, tá bom.
E depois disso, o Papai Noel desceria pela nossa
chaminé — que não existia — apenas para nos desejar
um Feliz Natal.
Apenas Aubrey acreditava em milagres, eu já era
bem realista e sabia que uma amizade entre mim e
Logan jamais seria possível.

Para quem tinha prometido para si mesma que


nunca mais colocaria os pés naquela casa monstruosa de
dois andares, eu tinha voltado a bater na porta de Logan
bem rápido. Sem toda aquela multidão ocupando cada
cantinho em frente à entrada da casa do quarterback,
tive a oportunidade de observar como a construção era
bonita. Havia arbustos bem-cuidados na calçada, a
grama estava aparada e, pelo cheiro característico,
parecia que havia sido regada há menos de uma hora.
Uma escadaria de pedra levava à porta da frente, onde
eu estava agora, esperando que alguém viesse me
receber depois de apertar a campainha.
— Vá de coração aberto, Ava! ­— A voz da minha
irmã soou em meus ouvidos, como se ela estivesse bem
ali, ao meu lado. — Se você der uma chance, talvez
Logan possa mostrar que é um cara legal.
Ele era bem legal, sim. Eu estava há cinco minutos
parada ali e até agora o filho da mãe não tinha me
atendido. Estava prestes a apertar a campainha pela
terceira vez quando, finalmente, ouvi o barulho de uma
chave na fechadura e a porta se abriu, revelando a irmã
de Logan.
Ele nem mesmo veio me receber!
Realmente, uma amizade com aquele cara estava
completamente fora de cogitação.
— Avalon! Entra, por favor. — Norah me deu um
sorriso caloroso e, diferente da primeira noite em que
nos conhecemos em frente ao bar da Maeve, me puxou
para um abraço. — Fiquei tão feliz quando Logan disse
que vocês vão fazer um trabalho juntos!
Pelo menos alguém havia ficado feliz, além de
Aubrey, é claro.
— É... Foi uma surpresa e tanto — comentei,
afastando-me dela.
Norah fechou a porta atrás de mim e me puxou pela
mão, me levando para dentro da casa. Tinha cheiro de
limpeza, mas havia alguns pares de sapatos masculinos
espalhados pela sala e pacotes de batata chips em cima
da mesinha de centro.
— Não ligue para a bagunça, gostaria de dizer que
moro com três caras, mas, a verdade, é que moro com
três bagunceiros idiotas, que não sabem deixar os
sapatos no hall e deixam tudo espalhado pelos cantos.
Vem comigo, estou preparando um lanche aqui na
cozinha. Quer comer alguma coisa?
— Não, obrigada. Eu vim porque preciso conversar
com o seu irmão sobre o trabalho. Temos um tempo
razoável para concluir o projeto, mas quanto antes
começarmos, melhor.
— Tem toda razão! — Entramos na cozinha e Norah
logo ocupou a ilha, começando a passar pasta de
amendoim em uma fatia de pão. — Logan é um ótimo
aluno, você vai ver que vai ser fácil fazer esse trabalho
com ele. Não é porque é meu irmão, mas o filho da mãe
é muito inteligente.
— Legal — murmurei, forçando um sorriso.
Eu estava desconfortável ali, por mais que Norah
parecesse ser uma garota muito legal — ao contrário do
irmão mais velho, logicamente. Ela parou com a faca suja
de manteiga de amendoim a caminho do pote e me deu
um olhar intrigado.
— Acho que você não gosta muito dele, não é?
— Eu? De quem? Do seu irmão? — Que pergunta
idiota, Avalon! Norah pareceu prender um sorriso e
confirmou com a cabeça. Agora eu podia afirmar com
toda a certeza que estava desconfortável. Aquela
pergunta parecia uma pegadinha e qualquer deslize meu
poderia ser fatal. Limpando a garganta, respondi: — Não
posso dizer que somos amigos. Eu mal conheço o seu
irmão.
— Pouquíssimas pessoas conhecem o meu irmão —
disse ela, voltando a afundar a faca no pote.
— Isso não é verdade, seu irmão é o aluno mais
popular da faculdade e está sempre rodeado de pessoas.
— Isso não quer dizer que essas pessoas o
conheçam. Sabe quantos amigos meu irmão tem de
verdade, Avalon? — Sacudi a cabeça diante da sua
pergunta. — Dois e eles moram nessa casa. O resto, são
apenas pessoas que queriam muito ser amigas deles,
mas não suportariam conhecê-lo de verdade.
— Por quê? Ele é tão insuportável assim? —
Consegui fazer a pergunta com um bom humor invejável
em minha voz. Para a minha surpresa, Norah riu.
— Um pouco — confessou, mas foi de uma forma
carinhosa. Como quando Aubrey e eu implicávamos uma
com a outra. — As pessoas gostam do Logan divertido,
que ama dar festas, que bebe de forma exagerada e que
sempre está feliz e receptivo, só que esse Logan é só
uma máscara. Há camadas mais profundas dele que
poucas pessoas conseguem enxergar.
Só pude lembrar de mim mesma um ano atrás,
fingindo viver uma vida perfeita para que a minha irmã
não precisasse se preocupar com nada. As camadas mais
profundas — toda a dor e humilhação, as lágrimas e o
desespero — eu escondia atrás de uma máscara, até que
não consegui esconder mais e tudo veio à tona.
— Que bom que ele tem vocês, então — comentei
baixinho, porque não sabia o que dizer de fato. Aquilo, no
entanto, era verdade. Eu suportei tudo sozinha, mas era
bom que Logan tivesse pessoas ao seu lado.
— Sim, mas espero que ele encontre mais pessoas
boas pelo caminho. Pessoas como você.
Senti meus olhos se arregalarem e nem consegui
disfarçar.
— Como eu?
— Sim, como você. O que fez pelo meu irmão no
sábado foi uma atitude muito nobre.
— Não ter deixado que ele dirigisse no estado em
que estava? — Norah concordou com a cabeça. — Aquilo
foi o mínimo que uma pessoa poderia fazer pela outra,
não teve nada de especial.
— Teve sim, acredite. Meu irmão já dirigiu bêbado
inúmeras vezes, saindo de festas lotadas pelas mesmas
pessoas que o rodeiam na faculdade. Nenhuma delas o
impediu antes.
Não soube o que dizer. Aquela parecia ser uma vida
muito... solitária. Rodeado de pessoas em um momento
e, então, sozinho dentro de um carro, completamente
embriagado, colocando toda a sua existência em risco.
Meu coração ficou um pouco apertado pelo quarterback,
mesmo que eu não gostasse dele. Resolvi colocar a culpa
por aquilo na empatia. Eu era empática pelas pessoas,
mesmo quando não ia com a cara delas.
— Fico feliz que eu tenha o ajudado, então — falei,
logo percebendo que estávamos ali há mais de vinte
minutos e Logan ainda não tinha aparecido. — E onde
seu irmão está?
Norah deu uma mordida no sanduíche e me olhou
enquanto abria a geladeira e pegava uma jarra de suco.
— Ele foi tomar banho. Nós chegamos agora do
hospital. Inclusive, preciso me desculpar em nome do
meu irmão. Sei que vocês iam se encontrar na segunda-
feira para debaterem sobre o trabalho, mas a nossa avó
precisou ser operada às pressas por conta de uma crise
de apendicite. Nós saímos da faculdade correndo direto
para o hospital naquele dia.
— Ah, meu Deus! — Aquela, sim, era uma notícia
que me pegou completamente de surpresa. — Mas uma
amiga minha disse que viu Logan saindo da faculdade
com uma mulher loira.
Norah tinha os cabelos castanhos, assim como
Logan. Seria possível que estivesse inventando aquilo
para limpar a barra do irmão? Ela não iria tão longe,
certo? Afinal, havia acabado de falar sobre a saúde da
própria avó. A irmã de Logan serviu dois copos de suco e
me entregou um sem me dar chance de negar.
— Eu estudo Artes Cênicas e, naquele dia, estava
ensaiando para uma peça caracterizada como a
personagem. Quando meu pai me ligou, nem pensei em
me livrar da peruca, apenas avisei a Logan e saímos
juntos.
— Não achei que você perdia o seu precioso tempo
ouvindo fofocas sobre mim, Valente.
Virei-me em direção à voz de Logan e o encontrei
encostado contra a parede que formava um arco na
entrada da cozinha. Seus cabelos castanhos estavam
úmidos pelo banho recente e seus músculos estavam
ainda mais em evidência, pois ele estava com os braços
cruzados. O quarterback usava uma calça de moletom
cinza, que tinha um caimento perfeito na cintura estreita,
e uma regata branca simples que moldava perfeitamente
seu peitoral rígido. Talvez eu tenha olhado para ele por
mais tempo do que deveria, mas logo disfarcei,
colocando uma expressão de indiferença no rosto e
dando de ombros.
— Eu não perco, mas todo mundo parece achar a
sua vida muito interessante, pois amam falar de você.
— Mas eu sou uma pessoa interessante. — Ele
sorriu e Norah soltou um suspiro ao meu lado.
— Você é um egocêntrico, isso sim.
— Concordo — comentei, sorrindo para ela.
— Por que você sorri para a minha irmã e para mim
não?
Olhei para Logan, realmente surpresa com a sua
pergunta. Ele queria receber sorrisos meus? Por quê? Por
sorte, Norah me salvou de ter que responder.
— Porque eu sou a irmã mais legal, isso não é
óbvio? — Ela pegou o copo de suco, um prato com um
segundo sanduíche e começou a caminhar em direção à
entrada da cozinha. — Vou para o meu quarto. Divirtam-
se fazendo o trabalho! Ah, Logan, depois me passa o
número da Avalon. Acho que nós vamos ser grandes
amigas.
Norah piscou para mim e saiu da cozinha, me
deixando um pouco atordoada com aquele pedido. Não
pensei que a irmã de Logan ia querer me conhecer
melhor. Nossos mundos eram completamente diferentes
e, se não fosse por conta daquele trabalho que eu teria
que fazer com o seu irmão, nós duas provavelmente
nunca mais nos esbarraríamos. No entanto, Norah
parecia ser uma garota muito legal, o que eu não poderia
falar de Logan, e seria interessante passar mais um
tempo conversando com ela.
— Tenho uma pizza congelada no freezer. Quer
dividir comigo?
— Não sabia que um atleta podia comer esse tipo
de coisa.
— Não pode, mas eu descobri nos últimos tempos
que sou muito bom em quebrar regras. — O quarterback
me deu um sorriso cheio de segundas intenções e
caminhou até a geladeira enorme de duas portas. — Se
você me ajudar a comer, não vou me sentir tão culpado.
— Vou fazer esse esforço por você, então.
— É isso aí, Valente. Acho que posso começar a
gostar de você agora.
Só revirei os olhos diante daquilo, reprimindo uma
vontade idiota de sorrir enquanto Logan pegava a pizza e
colocava o forno para pré-aquecer.
Eu podia sentir os olhos de Avalon sobre mim
conforme eu me movimentava pela cozinha. Não sabia
dizer se ela estava me avaliando, muito menos o que
passava pela sua cabeça, mas era realmente intrigante a
forma como eu me sentia perante ela. Geralmente,
olhares intensos demais me incomodavam, mas o da
garota sentada em frente à ilha da minha cozinha só me
deixava cada vez mais curioso, apesar de eu saber que
ainda nutríamos uma antipatia quase indestrutível um
pelo outro.
— Que cheiro é esse? Temos pizza?! — Pude ouvir a
voz animada de James antes mesmo de ele chegar à
cozinha. Meu amigo parou abruptamente assim que viu
Avalon e deu a ela o seu melhor sorriso. Cafajeste do
caralho. — Não sabia que estávamos com visita.
— Ashley só veio conversar sobre o trabalho que
vamos ter que fazer juntos.
Avalon estreitou os olhos para cima de mim quando
ouviu eu errar o seu nome de propósito e eu segurei o
beijo que quis soprar em sua direção, mal conseguindo
conter um sorriso idiota. Era bom provocá-la.
— Que bom saber disso, assim, quando vocês
terminarem, talvez a gente possa sair para beber alguma
coisa. O que acha, Avalon?
— Acho que você deveria arrumar algo melhor para
fazer — resmunguei, vendo o filho da mãe me dar um
sorriso divertido.
— Você se chama Avalon? — O idiota me perguntou.
— Não entendi a parte do “arrumar algo melhor
para fazer”. Isso significa o que, exatamente?
Senti minha mente travar diante da pergunta de
Avalon, que me olhava de forma indecifrável. Senti-me
prestes a cair em uma armadilha e o babaca do meu
melhor amigo não fez nada para me ajudar, apenas
cruzou os braços e esperou pacientemente pela minha
resposta.
— Eu só falei isso para James parar de te perturbar
— desconversei, virando-me para tirar a pizza do forno
assim que o timer soou.
— Eu não estou a perturbando! Estou te
perturbando, Avalon?
Virei-me a tempo de ver Avalon sacudir a cabeça
para James, enquanto eu colocava a pizza sobre a
bancada.
— Claro que não.
James sorriu para Avalon e arqueou uma
sobrancelha para mim, naquela pose clássica de macho
que estava prestes a dar o bote. De forma muito casual
— e extremamente calculada — o babaca apoiou o
cotovelo sobre a ilha e se inclinou um pouco para cima
de Valente, o que me irritou, mesmo sem eu saber o
porquê. Eu nem gostava da garota. Se ela quisesse dar
para o meu melhor amigo, eu não tinha nada a ver com
aquilo.
— Então, acho que podemos sair depois que você
perder o seu tempo na presença do idiota do QB, o que
acha?
— Acho que você se esqueceu de que marcamos de
ir ao cinema, James McHugh!
Norah entrou na cozinha carregando o prato e o
copo vazios. James ajeitou a postura imediatamente e
ergueu as mãos em forma de rendição.
— Culpado! Desculpa, baixinha, você sabe que eu
tenho a memória péssima.
— Por que vocês vão ao cinema juntos e sozinhos?
— questionei, cruzando os braços e olhando para os dois.
Pude ouvir a risada baixinha de Avalon e acabei
desviando os olhos para ela e os seus lábios cheios
pintados de vermelho. Ainda que me irritasse, eu
precisava admitir: Valente era linda e, quando sorria de
verdade, sem deboche ou ironia, prendia totalmente a
minha atenção.
— Não acredito que você é do tipo de irmão que
sente ciúmes, estrelinha dourada.
— Estrelinha dourada? — James perguntou, voltando
a arquear uma sobrancelha. — Gostei desse apelido.
Posso roubar?
— Fique à vontade — Avalon respondeu.
— Parem com essa merda vocês dois — ordenei,
mesmo sabendo que não tinha poder algum contra James
e, menos ainda, sobre Avalon. — E sim, eu sinto ciúmes!
Homens são safados, cafajestes e cínicos, não vou
permitir que usem a minha irmãzinha.
— Ele está falando sobre si mesmo apenas, Avalon
— James ressaltou.
— O caralho que estou.
— Meu Deus, Avalon vai pensar que moramos em
um hospício! — Norah deixou tudo sobre a pia e se
aproximou de mim, erguendo o dedo indicador. — Apesar
de ser surtado desse jeito, eu juro que meu irmão é uma
boa pessoa, Avalon.
— Sim, lá no fundo, bem no fundo, ele é uma
pessoa legal — James deu de ombros e Norah deu a ele
um olhar afiado. Por que minha irmã estava me
defendendo para aquela garota?
“Vou arrumar uma namorada para você”, a voz dela
soou claramente em minha cabeça. Ah, não. Norah só
podia estar louca. Havia soda cáustica no sanduíche que
comeu e aquela porcaria estava derretendo o seu
cérebro. Era a única explicação plausível para o que a
minha irmã estava tentando fazer.
— Eu não sou nada legal. Nada mesmo. Sou um
cuzão, as meninas sempre reclamam depois que ficam
comigo, porque eu não sou do tipo meloso ou que se
apaixona e, claro, você já teve o desprazer de conhecer
as piores partes de mim, não é, Valente? Creio que nada
do que a minha irmã te disser, vai fazer com que a sua
opinião mude.
Norah deu um passo para o lado e me olhou
boquiaberta.
— Qual é o seu problema, Logan Miller III?
— Estou arruinando os seus planos, maninha —
falei, dando um beijo em seus cabelos. — Você não vai
arrumar uma namorada para mim.
— Espere um segundo — Avalon pediu, descendo da
banqueta alta em frente à ilha. Observei a pizza
esfriando sobre a bancada. Porra, eu estava com fome e
o queijo estava fumegando, mas minha atenção ficou ali
apenas por um segundo, pois logo Avalon tomou conta
de tudo ao colocar as mãos sobre a cintura e dar um
olhar confuso para mim e Norah. — Que história é essa
de namorada? Acha que eu namoraria com um cara
como o seu irmão?
— Um cara como eu? O que isso quer dizer?
— Você mesmo acabou de se definir como um
cuzão.
Abri a boca para me defender, mas logo a fechei,
porque Avalon tinha razão. Eu mesmo havia acabado
com a minha reputação diante da garota. Logo percebi a
merda que fiz. Tinha dado munição para que Avalon se
sentisse poderosa para sempre, afinal, ela já não gostava
de mim, e agora, eu tinha dado passe livre para que ela
tivesse razão em não gostar. James me olhou e sacudiu
de leve a cabeça, como se eu fosse o maior idiota do
século.
— É que você é uma garota incrível, Avalon... —
Norah colocou no rosto aquela sua carinha de cachorro
que havia caído do caminhão de mudança. — Seria
maravilhoso se você e meu irmão se conhecessem
melhor.
— Seria um desastre — Avalon respondeu
rapidamente e eu logo reiterei:
— Realmente, seria uma catástrofe.
— Deus me livre de passar mais tempo do que o
necessário com o seu irmão!
— Não, Deus que me livre de ter que te aturar. Você
invadiu o meu quarto sem que a gente ao menos se
conhecesse! O que faria se pegasse um pouco mais de
intimidade comigo?
— Eu não invadi o seu quarto! — Avalon ficou com o
rosto vermelho e limpou a garganta. — Quer dizer, sim,
eu invadi, mas não pelos motivos que você acredita.
— Essa história eu não conhecia — James sorriu
para Avalon, voltando a se encostar contra a ilha. — Me
conta, Avalon, encontrou a coleção dele?
Uma expressão de dúvida surgiu no rosto acalorado
de Valente, deixando-a um pouco mais bonita.
— Coleção? De quê?
— De vibradores.
Eu revirei os olhos e Norah soltou um suspiro
exacerbado.
— Pelo amor de Deus, James!
— Bom, essa coleção em específico eu não
encontrei, só achei uma coleção de lingeries. — Avalon
sorriu para o idiota e James gargalhou, se aproximando
dela e dando um beijo em sua bochecha.
— Eu já te amo, Avalon! Porra, acho que seremos
grandes amigos.
— Chega dessa palhaçada. Vocês dois não tinham
que ir ao cinema? — perguntei, apontando para Norah e
o babaca do meu melhor amigo.
— Nossa, isso quer dizer que agora eu tenho a
permissão de ir ao cinema com a sua irmã?
— Só sai da minha frente, James — pedi, ainda
ouvindo-o rir.
Eu não estava irritado de verdade pelos dois saírem
juntos, pois confiava cegamente em James e sabia o
motivo pelo qual havia chamado a minha irmã para ir ao
cinema. Ele queria fazer com que ela se distraísse um
pouco, depois da tensão dos últimos dias com a cirurgia
de emergência da nossa avó. O babaca podia me
perturbar o quanto quisesse, mas era uma das melhores
pessoas que eu conhecia.
— Vou só trocar de roupa e já podemos sair,
baixinha — disse ele para a minha irmã. — Espero te
encontrar mais vezes por aqui, Avalon. Adorei te
conhecer melhor.
— Eu poderia voltar mais vezes, mas Logan também
mora aqui, então, acho que não vai rolar.
— Graças a Deus — falei bem alto enquanto ouvia
James rir e sentia Norah me dar um tapa no braço.
— Para de ser um idiota com ela! — Minha irmã –
novamente, minha irmã –, brigou comigo por causa
daquela garota. — Vamos sair agora, mas, por favor, não
se matem, ok? Ajam como duas pessoas adultas —
aconselhou Norah.
Percebi que as bochechas de Avalon ficaram
vermelhas novamente, de vergonha, dessa vez. Foi
bonitinho, mas eu jamais admitiria aquilo em voz alta.
Ela e minha irmã se despediram com um abraço rápido e
eu apontei para o armário em cima da pia quando
ficamos sozinhos.
— Pegue os pratos, por favor. Se quer comer,
precisa fazer algo para ajudar.
— Você é sempre tão irritante assim? — perguntou
ela, dando a volta na ilha para fazer o que pedi.
— Só com quem merece.
Pude jurar que Avalon revirou os olhos, mas como
estava de costas para mim, foi impossível ter certeza. De
qualquer forma, eu não consegui tirar meus olhos dela,
observando suas pernas levemente torneadas, que
estavam desnudas, pois ela usava um short jeans muito
curto e um suéter cinza que tinha como função cobrir
apenas os seus braços, já que ele terminava acima do
umbigo. Naquela noite, ela usava um par de A ­ ll Star
preto no estilo Chuck, bem gasto por sinal, mas que
combinava perfeitamente com o seu estilo.
Pensando bem, Avalon não poderia se vestir de
forma diferente. Ela era uma garota cheia de atitude e
isso transparecia não apenas na sua forma de agir, mas
na forma como se vestia. Poderia ser um pouco estranho
e até chocante em um primeiro momento, mas apenas
dez minutos ao seu lado, já demonstrava que Avalon não
se escondia de nada. Ela parecia ser uma pessoa que
encarava qualquer desafio e eu estava vendo que era
verdade. Mesmo não gostando de mim, ela estava aqui,
agora. Ela havia me ajudado no sábado à noite, também,
eu não havia me esquecido. A garota tinha personalidade
de sobra, era irritante, tinha a língua afiada, mas talvez
fosse uma boa pessoa.
Servi dois pedaços de pizza enormes para cada um
de nós e pedi para que me ajudasse a levar duas latas de
Coca-Cola e talheres até o meu quarto. A casa estava
silenciosa, já que minha irmã e James estavam
terminando de se arrumar para sair e Ben ainda não
havia chegado, mas preferi ir para o meu quarto mesmo
assim, pois Benjamin era imprevisível e poderia chegar
acompanhado. Ele não tinha muita noção na maioria das
vezes e sempre levava um encontro para casa.
Apontei para a minha cama com o queixo e nos
sentamos de frente um para o outro, o que acabou me
dando uma ampla visão da Valente. Percebi que seus
olhos estavam marcados por um delineador fino e os
cílios estavam cheios, provavelmente por ter usado
aquele negócio que os alongava. Eu poderia me
vangloriar e deixar o meu ego amaciado ao pensar que
Valente havia se maquiado apenas para poder me ver,
mas logo tirei a ideia da cabeça, porque eu sabia que
aquele era o seu jeito de ser. Avalon parecia gostar de
maquiagens simples, mas fortes. Talvez, aquela também
fosse a sua forma de se expressar.
— Eu, hm... — Limpei a garganta e comi um pedaço
de pizza apenas para ganhar tempo, enquanto via um
brilho curioso cruzar os seus olhos. Parei de enrolar e
prossegui: — Queria te agradecer pelo que fez por mim
naquela noite.
— Que noite?
Avalon ficou um pouco pálida de repente, mas logo
me dei conta de que era porque a vermelhidão que a
tomou na cozinha, havia desaparecido.
— Vai mesmo me fazer falar, não é? — questionei
sem tanta seriedade e ela deu de ombros, tomando um
gole da Coca. — No sábado, no bar da Maeve. Sei que fui
um otário com você em algum momento... Posso não me
lembrar de tudo o que falei, mas tenho essa sensação, e
você só queria me ajudar.
— Ah... — Avalon pareceu soltar a respiração e eu
achei confusa a sua atitude. Sobre o que ela achou que
eu estava falando? Sobre a festa, talvez? Mas eu não iria
agradecer a doida por ter invadido o meu quarto. —
Aquilo não foi nada. Como eu disse para a sua irmã, eu
faria o mesmo por qualquer outra pessoa.
— Mas você fez por mim e sei que não gostamos
um do outro, então, obrigado mesmo assim.
— O fato de eu não gostar de você não quer dizer
que eu quero que você morra — disse ela, simplesmente,
enquanto comia um pedaço da pizza. — Apesar de eu ter
desejado que você desaparecesse quando nossos nomes
saíram juntos no sorteio.
— Eu teria essa mesma sensação se soubesse que
Avalon Banks era você.
— Olha só, então você sabe o meu nome. É bom
que comece a usá-lo, estrelinha dourada.
— Acho Ashley mais bonito — provoquei, enfiando o
último pedaço da primeira fatia de pizza na boca. — Mas
Valente combina mais com você.
Avalon sacudiu a cabeça e se esticou para deixar a
lata de refrigerante ao lado da minha sobre a mesinha de
cabeceira. Fiquei tenso por um segundo quando o cheiro
do seu perfume me alcançou. Tinha uma leve nota
adocicada em meio ao aroma cítrico que se destacava
em sua pele. Era tão bom que, por um momento, senti
vontade de enfiar meu rosto em seu pescoço, mas logo
me dei um tapa mental para expulsar aquela sensação
maluca. Ela voltou a se sentar de frente para mim e me
deu um olhar diferente do que vinha me dando até
então.
— Norah me contou sobre o que aconteceu com a
avó de vocês. Imagino que tenha sido um susto. Agora
eu entendi por que me deu um bolo na segunda-feira.
O pedaço de pizza que eu havia acabado de engolir
quase voltou pela minha garganta, mas freei a sensação
a tempo, tomando um gole do refrigerante para disfarçar.
— Sim, foi mesmo um susto, mas o que importa é
que está tudo bem agora.
Tinha sido mais do que um susto. Quando minha
irmã me ligou, desesperada logo após ter recebido a
ligação do nosso pai, eu senti como se estivesse vivendo
aquele dia horrível de novo do acidente da minha mãe.
Eu não suportaria perder mais ninguém da minha família
agora, nem mesmo o meu pai, com quem eu não tinha a
relação mais amigável de todas, mas, graças a Deus,
Meredith Miller era uma mulher forte e logo estaria em
casa.
Eu, no entanto, ainda estava tentando me recuperar
do baque que senti com o medo terrível de ter que
enterrar mais alguém em tão pouco tempo.
— Ótimo, então, vamos dar orgulho a sua avó e
deixar a conversa de lado? Tenho certeza de que ela
ficará muito feliz quando você vestir a beca e pegar o
seu diploma.
Eu ri com o humor meio azedo, deixando meu prato
vazio de lado.
— Não acho que a minha avó será a pessoa mais
feliz da minha família. Meu pai com certeza vai superá-la.
— Vamos dar orgulho ao seu pai, então — disse
Avalon, me entregando seu prato vazio e abrindo a bolsa
que carregava consigo. Ela tirou um iPad de lá de dentro,
um modelo antigo, do qual eu tinha me livrado há, sei lá,
uns cinco anos. Seus olhos encontraram os meus ao me
ver parado no mesmo lugar. — Não tenho a vida toda,
estrelinha dourada. Mexa-se!
— Você é sempre tão irritante assim? — Repeti a
mesma pergunta que Avalon me fez na cozinha e ela
revidou com a mesma resposta que lhe dei:
— Só com quem merece.
Touché.
Levantei-me e fui logo pegar meu laptop.
Surpreendentemente, Logan era mesmo inteligente.
O objetivo do seminário era bem claro. Baseado no
estudo de caso sorteado pela Sra. O’Born — que no
nosso caso, era guarda compartilhada entre um casal
com três filhos — precisávamos apresentar no seminário,
o caminho que usaríamos para finalizar aquele conflito
sem que fosse necessário entrar com uma ação na
justiça.
Apesar de parecer simples, aquele era um tema
complexo e que requeria muito mais do que técnica para
escrever um trabalho impecável, por isso, havia
separado alguns textos que iam além da questão judicial
e entravam no âmbito da psicologia. Estávamos lidando
com crianças, afinal, e todo o processo poderia ser
desgastante demais para elas também.
Logan fez comentários pontuais e que me
surpreenderam. Senti que estava pagando a minha
língua por cada pensamento que tive sobre ele comprar
o boletim impecável que todos alegavam que o
quarterback tinha. De qualquer forma, não ousei falar
aquilo em voz alta, pois sentia que o ego de Logan não
precisava ser mais amaciado do que já era normalmente.
E também não éramos amigos, eu precisava me lembrar.
Aquele era só um momento de trégua entre dois
estudantes acadêmicos que precisavam lidar um com o
outro para poderem se sair bem em uma matéria.
— Acho que podemos encerrar por hoje — falei,
depois de anotar um último item na lista que criei para
nós dois.
Dividimos o trabalho em partes e cada um ficaria
responsável por uma quantidade específica de pesquisas,
assim, não ficaria pesado para nenhum dos dois lados. Vi
pela minha visão periférica Logan concordar com a
cabeça e deixar o laptop de lado. O quarterback
praticamente se deitou na cama, apoiando-se nos
cotovelos e deixando o tronco um pouco elevado. Fiquei
imaginando se aqueles gominhos que ele tinha na
barriga estavam mais rígidos naquele momento.
Ser uma mulher heterossexual era difícil demais às
vezes. A gente acabava ficando obcecada pelo físico de
um cara e quase se esquecia de como ele podia ser um
babaca.
— E então, sou ou não sou um aluno exemplar?
Claro que Logan não deixaria de esfregar aquela
porcaria na minha cara.
— Não sei, não faço parte do corpo docente para
poder avaliar a sua atuação como estudante — comentei,
deixando meu iPad sobre a cama e ouvindo a sua
gargalhada.
— É só admitir que sim, Valente. Não vai te matar
se você deixar o seu orgulho um pouquinho de lado.
— Eu não preciso admitir nada, pois você já é muito
seguro de si.
— Bobagem, todo mundo precisa de um elogio de
vez em quando.
— Você parece receber elogios todos os dias — falei,
logo me lembrando de uma questão. — Apesar de já ter
me deparado com alguns comentários depreciativos
sobre você nas redes sociais.
— Tudo inveja. — Ele sorriu de lado, ficando bonito
demais. Logan tinha uma barba por fazer toda
preenchida, que contornava perfeitamente os lábios
bem-desenhados. E eu não sabia por que estava
perdendo o meu tempo prestando atenção naquilo. —
Vamos lá, você me faz um elogio e eu te faço outro.
— Está tão sedento assim para ter o ego inflado? O
que houve? Nenhuma fã sua te deu bola hoje?
— Eu faltei durante os dois últimos dias, então, sim,
estou sentindo falta de um pouco de carinho.
Eu ri diante daquilo, levantando-me da cama. Logan
continuou me olhando com uma sobrancelha grossa
arqueada e aquele sorriso de menino rico e convencido.
Naquele momento, duvidei muito de todo o discurso
inflamado de Norah na cozinha. Seu irmão não parecia
enfrentar problema algum com aquela expressão de
quem sabia que era gostoso e que deixava um rastro de
calcinhas molhadas pelo campus. Eu, porém, não faria
parte da sua listinha de conquistas.
— Pode me emprestar o seu celular? — pedi,
bolando um plano rapidamente. Logan estreitou os olhos
e me encarou com desconfiança.
— Por quê?
— Vai ser rápido, eu juro. O meu acabou a bateria.
O quarterback pareceu duvidar da minha mentira,
mas me entregou o aparelho com a tela desbloqueada.
Fui rapidamente até a sua agenda telefônica e não
demorei nem um segundo para encontrar o que
procurava.
— Britney, Christen, Daphne, Emily, Jordan…
— Ei! — O aparelho sumiu da minha mão e Logan
parou de pé na minha frente. — O que você pensa que
está fazendo?
— Listando os nomes femininos da sua agenda.
Tenho certeza de que, se você mandar mensagem para
uma delas, em cinco minutos a garota estará aqui para
te elogiar pessoalmente. Ou seja, você não precisa de
mim para inflar esse ego idiota, Logan terceiro.
— Cinco minutos é muito tempo, qualquer uma
delas estaria aqui em dois — disse ele com um olhar
convencido.
— Que bom para você, já para elas... — Dei de
ombros, como se duvidasse de tudo o que já havia
ouvido falar sobre ele na universidade.
— Cuidado, Valente... — Logan jogou o celular sobre
a cama e se aproximou um pouco de mim, me fazendo
sentir o cheiro do sabonete que usou para tomar banho
mais cedo. O quarterback se inclinou um pouco em
minha direção e eu quase pude sentir a sua respiração
em meu rosto. — Quem desdenha muito, quase sempre
quer comprar.
Respirei fundo, o que não foi uma atitude muito
sensata da minha parte, pois o cheiro de Logan agora
parecia estar em todo o lugar. Uma voz no fundo da
minha cabeça gritou que eu deveria me afastar, afinal,
havia muito tempo que eu não tinha um contato íntimo
com ninguém e o meu corpo traidor parecia estar
sentindo falta daquilo, mas não recuei, porque jamais
demonstraria para Logan que ele me afetava.
— Eu não preciso comprar, você está praticamente
se oferecendo de graça — retruquei e aquilo pareceu
atingir Logan por um segundo. Seus olhos se arregalaram
minimamente, antes de ele jogar a cabeça para trás e
soltar uma sonora gargalhada.
— Eu? Me oferecendo para você? Por favor, Valente,
você mesmo disse que eu posso ter a garota que quiser.
Você até que é bonitinha, mas não me atrai em nada.
— Ainda bem. Seria realmente muito triste ver você
chorar por eu não sentir o menor desejo por você.
— Sou eu que não sinto nada por você — disse,
dando um passo para trás. — O lance do elogio era só
para tentar quebrar o clima, mas você é a rainha de gelo.
O que acontece quando um cara toca em você? Congela
até a morte?
— Acho que você nunca vai saber.
— E alguém vai saber algum dia? Você não parece
ser o tipo de garota que deixa qualquer um se aproximar.
— Nossa, enfim você disse algo realmente
inteligente! Eu não deixo mesmo qualquer um — olhei-o
de cima a baixo. — Se aproximar. Tenha isso em mente,
estrelinha dourada.
Logan abriu a boca para retrucar, mas duas batidas
na porta o interromperam. Logo a maçaneta girou e o
seu outro amigo, Benjamin, apareceu. Ele me deu um
sorriso amistoso e logo se virou para Logan.
— Desculpa atrapalhar, QB, mas você tem visita.
Logan se virou para mim tão rápido quanto a
menina do Exorcista.
— Não acredito! Você mandou mensagem para
alguma daquelas garotas?
— O quê? — Eu não podia acreditar. Logan
realmente tinha o ego inflado ao ponto de achar que em
menos de cinco minutos alguma garota viria correndo
atrás dele por causa de uma mensagem? Eu só estava
brincando, mas o jogador claramente tinha levado a
sério. — Óbvio que não! Acha que eu perderia o meu
tempo fazendo isso?
— Não sei, você tem cara de quem gosta de pregar
pegadinhas nas pessoas.
— Na verdade, não é nenhuma garota — disse
Benjamin, voltando a chamar a nossa atenção. — É o seu
pai, Logan.
O clima no quarto mudou. Logan estava um pouco
irritado comigo sobre a possibilidade de eu ter enviado
alguma mensagem para uma garota, mas a expressão
em seu rosto se tornou quase impassível diante do
anúncio do seu amigo. Eu me senti como um peixe fora
d’água, pois os dois se olharam naquela linguagem muda
que só amigos muito íntimos conseguiam entender.
— O que ele veio fazer aqui? — Logan questionou
baixinho, ainda olhando para Benjamin como se ele
tivesse todas as respostas.
— Eu não sei, cara, ele só pediu para que chamasse
você.
Senti que aquela era a minha chance de ir embora
antes que eu acabasse testemunhando algo que não era
da minha conta.
— Eu já estava de saída — anunciei, pegando a
minha bolsa sobre a cama.
— Então, você é a famosa Avalon, certo? —
Benjamin perguntou de repente, entrando no quarto e
me estendendo a mão. — Prazer, sou Benjamin, o
jogador mais bonito do Crimson Tide.
Minha nossa, todos os atletas eram egocêntricos
daquele jeito? Apesar do pensamento, eu não pude
deixar de rir. Benjamin parecia ter o senso de humor
parecido com o de James e eu realmente gostei do outro
melhor amigo de Logan. Eles pareciam ser bem melhores
do que o quarterback.
— Vou ter que apurar meus ouvidos pelo campus
para saber se esse boato é verdadeiro — falei, apertando
a sua mão.
— Ah, não, por favor, não faça isso. Logan é
considerado o mais bonito pelo voto popular, prefiro que
você não receba qualquer influência e tire as suas
próprias conclusões.
— Tenho certeza de que é só porque ele carrega o
título de quarterback, as meninas gostam de puxar saco
de quem usa a faixa de capitão.
— Há-há-há, como vocês são engraçados! — Logan
debochou enquanto Benjamin ria alto, mas percebi que
ele ainda estava tenso, com a postura rígida e a cara
fechada, não por estar sendo provocado, mas por algo
mais, que eu não sabia o que era. — Preciso saber o que
o velho quer, então, vamos descer. Eu te levo até a
porta, Avalon.
— Pode deixar que eu faço isso — Benjamin se
ofereceu, todo solícito, enquanto saíamos do quarto do
jogador. Logan o olhou rapidamente com aquele mau
humor repentino.
— Eu não me lembro de acompanhar as suas
garotas quando elas vêm te ver, Benjamin.
— Claro que não, você não acompanha nem as
suas.
— Isso não é verdade...
— Eu não sou a garota dele. — Deixei bem claro,
interrompendo aquela discussão idiota e me sentindo
cercada por ter aqueles dois homens com no mínimo
1,90m de altura de cada lado do meu corpo.
— É verdade — Logan confirmou, pegando a minha
mão de repente. — Mas você veio aqui por minha causa,
então, eu vou te levar até a porta. Sei que sou um
babaca, mas não tanto quanto pensa.
Não sabia se Logan havia dito aquilo para mim ou
para Benjamin, só que pareceu surtir efeito para o amigo,
que riu baixinho, parecendo surpreso, e ergueu as mãos
em rendição. Acenei para Benjamin e fui guiada até a
escada por Logan, que dava passos apressados com
aquelas pernas longas e musculosas de jogador de
futebol. Ele não soltou a minha mão nem mesmo quando
chegamos lá embaixo e paramos na presença de um
homem alto, vestido em um terno que, com certeza,
custava um valor obsceno, e sapatos de couro que
brilhavam mais do que a minha testa quando eu estava
cheia de oleosidade.
Logan Miller II, o tubarão da advocacia. Eu o
conhecia, afinal, que estudante de Direito não conhecia a
história da família Miller? Ele parecia estar um pouco
mais velho do que nas fotos que já vi no Google, com os
cabelos levemente mais grisalhos e um pouco de ruga no
canto dos olhos — que, inclusive, eram afiados como
uma navalha e focaram explicitamente na mão de Logan
na minha. Eu dei um passo para o lado e me desvencilhei
do seu filho, com medo de o ricaço achar que eu poderia
dar o golpe do baú apenas tocando nos dedos do seu
herdeiro.
— Boa noite — saudou com a voz potente, mas
educada. Eu quase gaguejei ao responder:
— É, sim... Boa noite. — Limpei a garganta. Que
droga! Se um dia eu quisesse ao menos um espaçozinho
em um dos escritórios Miller, nem que fosse servindo
café, eu precisava dar o fora dali o mais rápido possível,
antes que o Sr. Miller II gravasse o meu rosto assustado e
ditasse a regra de que era expressamente proibido me
contratar. — Eu já estava de saída... Foi um prazer
conhecer o senhor.
Olhei para Logan, quase puxando a barra da sua
blusa como uma criança de cinco anos para fazer com
que me notasse, mas não foi preciso. Ele logo disse ao
pai que me acompanharia até a porta e me levou até a
entrada da sua casa.
— Eu te mando uma mensagem para marcamos um
novo encontro — disse ele, parecendo distraído. — Meu
tempo vai ficar mais curto agora, porque vamos
intensificar o treino para a próxima temporada, mas vou
dar um jeito.
— Claro que vai, nós dois podemos nos odiar, mas
temos um objetivo em comum: não queremos reprovar
nessa matéria. Se você se esquecer de mim, eu venho
aqui pessoalmente furar os seus olhos com as minhas
unhas.
Surpreendentemente, Logan riu, o que fez com que
a tensão em seus ombros diminuísse um pouco.
— Eu tenho certeza de que você teria coragem para
fazer isso, Valente.
— Ótimo, sendo assim, não brinque comigo.
Acenei para Logan e saí dali o mais rápido possível,
entrando em meu carro. Observei quando ele fechou a
porta bonita da sua casa e percebi que eu queria ser uma
mosquinha naquele momento, só para saber o que o
Logan mais velho queria com o Logan mais novo. Como
eu não podia alimentar a minha alma enxerida, dei
partida e saí logo dali.
— Quem era a garota? — Foi a primeira coisa que
meu pai perguntou quando voltei para a sala.
Encontrei-o ainda de pé no mesmo lugar, sua pasta
de couro estava no sofá, e eu podia imaginar que sua
mala devia estar no Bentley preto estacionado em frente
à minha casa.
— Uma amiga da faculdade, estamos fazendo um
trabalho juntos.
A sobrancelha do meu pai quase tocou a raiz dos
seus cabelos enquanto apontava para a porta.
— Aquela garota, vestida daquele jeito, estuda
Direito?
Eu sabia que era muita hipocrisia da minha parte,
tendo em vista que eu fui o primeiro a julgar o estilo de
Avalon, mas não gostei nem um pouco do
questionamento e, principalmente, da ironia na voz do
meu pai.
— Não acredito que na sua época os estudantes de
Direito se vestiam apenas de maneira formal, pai.
— Pelo menos eles não se vestiam como se fossem
a um show de heavy metal ou andavam por aí com a
unha descascando com esmalte preto. — Porra, nem eu
havia prestado atenção naquilo. — Você já frequentou
algum lugar com aquela garota? Ela me parece
vagamente familiar.
Eu duvidava muito que meu pai já tivesse visto
Avalon alguma vez na vida. Provavelmente, só estava
jogando aquela pegadinha no ar para que eu caísse e
comentasse se ela fazia parte do meu círculo de amigos
ou não.
— O senhor não veio para cá direto do aeroporto
para me questionar sobre isso, pai. Diga logo o que quer.
Logan Miller II soltou um suspiro e apontou para a
poltrona atrás de mim, indicando que eu deveria me
sentar. Eu estava muito bem de pé, mas como não
estava a fim de ter mais um motivo para ter um
confronto com ele — porque eu sabia que daquela
conversa sairia uma nova discussão —, me sentei,
vendo-o se sentar no sofá à minha frente.
— Precisamos ter uma conversa muito séria acerca
do seu futuro, Logan.
— O senhor sabe muito bem o que eu quero para o
meu futuro.
Meu pai me encarou novamente com as
sobrancelhas arqueadas e soltou uma risada baixa.
— Está falando sobre a sua suposta carreira no
futebol?
— Isso não é uma suposição.
— Bom, eu tenho certeza de que é. — Ele cruzou a
perna, apoiando a lateral do tornozelo no joelho
esquerdo, uma posição confortável demais para quem
tinha ido ali iniciar uma discussão. Percebi que, diferente
das outras vezes em que conversamos, meu pai estava
muito seguro. Ele sabia de algo que eu não sabia e aquilo
me deixou tenso sobre a poltrona. — Quero que você
inicie o seu estágio em nosso escritório daqui a duas
semanas.
— Como é que é? — Foi a minha vez de rir. — Meu
estágio obrigatório só começa ano que vem.
— Um Miller de verdade já estaria dentro da
empresa no primeiro ano de faculdade. Você, com essa
história de ser um astro do futebol, apenas adiou esse
momento, mas agora já chega, Logan.
— A temporada de futebol começa exatamente
daqui a duas semanas, então, não conte comigo para
estar na sua empresa até que isso seja realmente
necessário — falei, me levantando. — Agora, se era só
isso, acho melhor ir embora. Minha avó perguntou por
você todos os dias, mas o seu trabalho não permitiu que
você pudesse pegar o primeiro voo disponível ou fretasse
um jatinho para ir visitá-la, não é mesmo?
Vi a mandíbula do meu pai se contrair, finalmente.
Era difícil pegar em algum ponto que o tocasse de
verdade.
— Sente-se, Logan, nós ainda não terminamos essa
conversa.
— Eu já terminei. — Afastei-me, pensando se iria
subir de volta para o meu quarto ou se iria abrir a porta
para que ele fosse embora.
Estar na presença do meu pai me fazia mal. Eu
sabia que era triste um filho se sentir assim, mas era
como eu me sentia há bastante tempo. A sensação vinha
piorando a cada mês que se passava desde a morte da
minha mãe. Nossa relação, que já estava estremecida
naquela época, descarrilhou de vez desde a sua partida.
— Você sabe que eu tenho contatos em todos os
lugares, não sabe? — perguntou ele, me fazendo parar
no meio do caminho. Algo me dizia que eu não ia gostar
de ouvir o que tinha para me dizer. — Então, não foi
difícil descobrir que a sua imagem perante as ligas
profissionais está tão suja, que talvez você nem consiga
entrar para o Draft daqui a dois anos.
As paredes a minha volta pareceram estremecer,
mas eu me mantive firme no lugar, sem querer que meu
pai percebesse o golpe certeiro que havia acabado de me
dar.
— Isso é mentira.
— Acha que eu preciso mesmo inventar isso, Logan?
Será que não percebe o óbvio? Você teve um primeiro
ano brilhante, eu confesso, mas seu segundo ano foi um
desastre, sua falta no último jogo da temporada foi...
— Você sabe muito bem por que eu faltei! — gritei,
sem conseguir mais me controlar. Dei a volta na poltrona
e me aproximei do meu pai, vendo-o ter a decência de
pelo menos ficar pálido na minha frente. — Não ouse
jogar essa porcaria na minha cara!
— Não estou dizendo que a culpa foi sua, pelo
menos não sobre isso, mas tudo o que fez antes e
depois, é, sim, sua responsabilidade! Ou achou que o
fato de ser um Miller o isentaria das consequências? A
cada final de semana há um novo vídeo seu na internet,
sendo imprudente e irresponsável! Boatos sobre você
rolam soltos pelas redes sociais! Até de drogado já te
chamaram, Logan!
— Nunca experimentei droga na minha vida!
— Eu acredito — disse, me surpreendendo. — Mas
as pessoas não, porque você dá a elas munição para que
acreditem em qualquer porcaria que inventam ao seu
respeito. Você pode achar que eu sou o seu maior
inimigo, mas essa não é a verdade, filho. Sua postura é a
sua maior inimiga.
Sacudi a cabeça, sem querer ouvir mais nada. Sabia
que aquela não era a atitude correta de um homem
adulto e que, em parte, meu pai tinha razão, mas eu não
conseguia lidar com tudo aquilo naquele momento.
Sentia um aperto no peito e pensei em como eu estava
minutos atrás, na presença de Avalon. Por mais irritante
que fosse, a garota pelo menos conseguiu tirar aquela
sensação ruim de dentro de mim enquanto
provocávamos um ao outro, agora, eu estava aqui de
novo, preso em uma gaiola, sendo obrigado a ter toda
aquela merda jogada em minha cara.
— Por isso que quero que inicie o estágio em nosso
escritório — continuou meu pai. — Você não está
cursando Direito à toa, Logan, sei que é um bom aluno,
pode e deve investir em uma carreira sólida. Você já tem
tudo na mão, filho, é meu herdeiro, assim como sua irmã.
Tudo o que é meu um dia será de vocês e quero que
cuide de tudo quando eu não estiver mais aqui.
— Para com isso! — Minha voz saiu entredentes,
mas meu pai não moveu um músculo. — Você sabe
muito bem que não quero ser advogado, quero ser um
jogador de futebol!
— Você não vai conseguir ser um jogador de
futebol, Logan!
— Sim, eu vou! Enquanto eu ainda tiver o meu lugar
no time, nada está acabado!
— E você acha que vai permanecer como
quarterback titular até quando?
— Até onde eu sei, o treinador não me colocou no
banco.
— Ainda. — A voz do meu pai parecia uma
premonição, mas não deixei que aquilo me abalasse
ainda mais. — Mas seu rendimento caiu nos últimos
treinos e, com certeza, o primeiro jogo da temporada vai
ser o seu teste final. Se você falhar, Logan, creio que
estará fora nos próximos jogos e, quem sabe, durante a
temporada inteira.
— Eu não vou falhar!
— É mesmo? Se você diz... — Meu pai ergueu as
mãos, como se estivesse se eximindo de qualquer
responsabilidade. — Você deveria se agarrar ao fato de
que, por sorte, carrega um sobrenome forte e que
sempre terá um lugar no escritório que um dia será seu
por direito. Muitos não têm uma oportunidade como
essa, Logan.
— Às vezes eu me pergunto se isso é sorte ou uma
maldição — falei, sentindo um gosto amargo em minha
boca quando vi o olhar decepcionado do meu pai.
Arrependi-me, mas não abri a boca para pedir
desculpas, porque meu pai também nunca deu o
primeiro passo para se desculpar por todas as coisas
ridículas que já disse para mim. Ele pegou a sua maleta e
me olhou com seriedade.
— Diga a sua irmã que estou de volta e que ficarei
na cidade pela próxima semana. Quero que vocês
venham jantar comigo quando sua avó receber alta.
Conversei com o médico e ela deve estar em casa no
domingo.
— Eu sei disso. Ao contrário de você, Norah e eu
estivemos ao lado da vovó todos os dias.
— Eu tinha reuniões importantes, Logan. Cheguei a
desmarcar boa parte delas, mas quando soube que sua
avó estava fora de perigo, precisei cumprir alguns
compromissos da minha agenda.
— Claro, afinal, o que é mais importante para você
do que o trabalho? — ironizei.
— Você, sua irmã e sua avó são mais importantes
para mim do que qualquer outra coisa.
Eu não acreditei, mesmo que seus olhos dissessem
que era verdade. Meu pai resmungou uma despedida e
foi em direção à porta, sozinho, porque eu só consegui
me mover para me jogar no sofá quando o ouvi partir.
Suas palavras se repetiam em minha mente como um
disco arranhado, me fazendo enxergar um futuro que eu
não queria para mim. Desde pequeno, sempre quis ser
uma única coisa: jogador de futebol. No início, quando
achava que era apenas um hobby, meu pai me apoiou.
Ele ia aos meus jogos na escola e torcia comigo ao lado
da minha mãe, da minha irmã e da minha avó, mas tudo
mudou quando expressei o meu desejo de um dia entrar
para a liga profissional.
Logan Miller II não podia permitir que seu filho mais
velho não levasse adiante o seu legado, que ele havia
herdado do meu avô. Norah podia ser o que quisesse — e
eu realmente não me ressentia por isso —, mas eu tinha
aquela responsabilidade por ser o primeiro filho, por
carregar não apenas o seu sobrenome, mas o seu nome,
sendo o terceiro na linha de sucessão como se fôssemos
alguma família real estúpida.
Eu não queria e não seria uma versão mais velha e
infeliz do meu pai. Essa era a única certeza que eu tinha
enquanto naufragava desde o acidente que matou a
minha mãe.
— Acabei de encontrar com o papai lá fora! Que
bom que ele chegou! — Ergui a cabeça, encontrando
minha irmã e James entrando na sala. O entusiasmo
deixou o seu rosto assim que me viu. Deixando a bolsa
sobre a poltrona, Norah se aproximou e se sentou na
mesinha de centro à minha frente. — Logan, o que
aconteceu?
— O que sempre acontece quando meu pai e eu
estamos juntos no mesmo lugar — resmunguei,
chateado. Não queria jogar aquela porcaria em cima da
minha irmã. Ao contrário da minha relação com o nosso
pai, a dela com ele era muito boa e eu sentia que Norah
ficava dividida entre nós dois.
— Vocês brigaram de novo? — Ela soltou um suspiro
cansado, como se não acreditasse. — Quando vão parar
com isso, Logan?
— Quando meu pai colocar na cabeça que eu não
sou uma sombra dele ou uma massinha de modelar para
que molde como bem entender!
— Eu acabei ouvindo parte da conversa — Benjamin
disse, descendo as escadas. — Achei melhor ficar por
aqui quando vocês alteraram a voz.
— Você ficou ouvindo porque é um fofoqueiro —
James provocou, tentando deixar o clima mais leve. —
Logan, não liga para o seu pai, você sabe que ele tem
esse sonho de que você se torne um advogado no futuro,
mas você vai provar, em campo, que nasceu para ser um
quarterback.
— James tem razão, Logan. Essa temporada vai ser
nossa, irmão! — Benjamin reforçou.
Foi bom ouvir aquele incentivo dos meus amigos,
mas as palavras do meu pai sobre a liga ainda
martelavam em minha cabeça.
— Se você ouviu o que ele disse, então sabe sobre o
lance do Draft — falei, encarando Ben. — Será que é
mesmo verdade?
— Que lance do Draft? — James perguntou.
Eu não queria repetir nada do que meu pai disse,
então, deixei que Benjamin tomasse a palavra. Senti o
impacto mais uma vez enquanto ele contava tudo para
James e minha irmã.
— Isso não pode ser verdade — Norah disse,
segurando a minha mão. — E mesmo se for, em dois
anos muita coisa pode acontecer! Você não pode ser
descartado ainda.
— Se eu fizer uma temporada ruim esse ano, com
certeza — murmurei.
— Mas você não vai fazer! — Benjamin disse. — Tira
isso da sua cabeça, Logan!
— Norah, me desculpe pelo que vou falar agora,
mas, Logan, acho que seu pai só quis falar isso tudo para
te desestabilizar. Ele sabe como a sua carreira é
importante para você.
— É difícil admitir isso, mas acho que James tem
razão. — Norah disse, mas não fiquei surpreso. Ela
amava o nosso pai, mas nunca foi injusta, o que
significava que, quando eu estava errado, ela também
puxava a minha orelha, como parecia prestes fazer
agora. — Mas o nosso pai fez isso porque você deu
brechas, Logan. Uma coisa é certa, a sua reputação,
querendo ou não, diz muito sobre você. Se continuar
agindo da forma como tem agido nos últimos meses, as
palavras do nosso pai vão se concretizar. É isso que você
quer?
— Claro que não! — respondi sem pensar uma
segunda vez.
— Então por que você não segue o conselho do
treinador Coben, Logan? — James perguntou. — Por que
não procura a psicóloga do time? Vai fazer bem a você.
Sacudi a cabeça, me levantando. Eu não queria
falar sobre a minha vida com ninguém, ainda mais com
uma pessoa estranha.
— Já falei que não preciso disso.
— Eu acho que você precisa — Ben disse.
— Eu também — Norah concordou.
— Já falei que não!
— Então você precisa procurar outra forma de
reverter essa situação! — Norah disse, colocando as
mãos na cintura daquela forma enfezada, como a nossa
mãe fazia quando eu me metia em encrenca.
— Ou seja, precisa limpar a sua imagem, irmão —
Ben apertou o meu ombro.
— Diminuir as festas, a bebida, as mulheres... As
pessoas precisam ver que você mudou — James reiterou.
— Por isso que eu disse que você precisa arrumar
uma namorada! — Norah repetiu aquela besteira mais
uma vez.
— Acho que isso já seria um pouquinho demais —
Benjamin disse.
— Nossa, muito obrigado pela sensatez! — pedi. —
Esquece essa história de namorada, Norah!
— Não vou esquecer! O que seria melhor do que
uma namorada para você mostrar que deixou de vez a
vida de farra, mulheres e bebidas?
— Foco e disciplina — respondi de prontidão. Norah
estalou a língua.
— Sim, isso também, mas uma namorada faria uma
diferença enorme! Você nem precisaria postar nada nas
redes sociais, as pessoas iriam especular e começar a
mudar a forma como falam sobre você.
— Isso é verdade... — James refletiu e Benjamin e
eu olhamos para ele como se a sua cabeça tivesse sido
arrancada fora e substituída por outra coisa.
— Como assim? Você não pode estar falando sério,
James!
— Cara, quando eu estava namorando, foi o
momento em que mais tive paz. Claro que rolava um
assédio ou outro por parte das garotas quando eu ia a
alguma festa ou até mesmo por DM no Instagram, mas,
em geral, ninguém falava merda sobre mim ou inventava
fofocas pelo campus. Também foi a época em que mais
me dediquei ao esporte, já que eu mal ia para a farra.
— Isso é besteira. Eu nunca namorei e tenho uma
trajetória impecável no time! — disse Benjamin.
— Mas esse não é o caso do meu irmão. — Norah
cruzou os braços. — Pensa com carinho, ok? Talvez,
esteja na hora de você abrir esse coração pela primeira
vez na vida, maninho.
— Tenho coisas mais importantes para me
preocupar, Norah — falei, puxando-a para um abraço. —
Mas agradeço o seu esforço em me ajudar, ok? Agora eu
vou subir. Estou com uma dor de cabeça chata, quero me
deitar e pensar um pouco em tudo isso.
Dei um soquinho no punho de cada um dos meus
amigos e fugi deles, trancando-me em meu quarto. Os
pratos e as latas de refrigerantes vazias ainda estavam
por ali, mas deixei para me livrar de tudo no dia
seguinte, me dando conta de que aquele não havia sido
o único rastro que Avalon deixou para trás. Sobre a
minha cama, estava o seu iPad, o seu cheiro gostoso
estava espalhado pelo quarto.
Deixei o aparelho sobre a minha mesinha de
cabeceira e fechei os olhos assim que me deitei,
tentando esvaziar a minha mente por um minuto e
encontrar a solução perfeita para o meu problema.
Babaca de Uniforme: Acho que isso aqui pertence
a você.

A notificação de mensagem apareceu na barrinha


de cima do meu celular enquanto eu deslizava pelo feed
do Instagram. Um segundo depois, percebi que Logan
havia me enviado uma foto e abri a nossa conversa no
WhatsApp, sentindo um pouco de medo. E se ele
estivesse me mandando uma foto do seu pau? E por que
diabos eu estava apreensiva sobre isso, se o pau dele
não era meu? Acreditava que o pau dele não pertencia
nem a ele mesmo, de tão rodado que era.
Deparei-me com a foto do meu iPad sobre a sua
mesinha de cabeceira e respirei aliviada por não ter sido
um nude do riquinho.
Eu: Pode deixar no bar da Maeve mais tarde, por
favor?

Surpreendentemente, Logan respondeu em menos


de um minuto.

Babaca de Uniforme: E por que não na faculdade?


Está com vergonha de ser vista comigo? Acho que faria
muito bem para a sua reputação se nos vissem
conversando, você se tornaria mais popular.
Eu: O que te faz pensar que eu quero ser popular?
Tenho pavor de ter o meu nome na boca do povo
fofoqueiro daquela faculdade.
Babaca de Uniforme: Ainda acho que isso tudo é
medo de acharem que eu estou te dando uns pegas.
Eu: Você é nojento e, sim, é isso também. Deus me
livre ser confundida com uma das garotas com quem
você já ficou.
Babaca de Uniforme: Você poderia ficar
conhecida como a ruiva gótica do QB. Não seria incrível?
Eu: Seria péssimo. E eu não sou gótica.
Babaca de Uniforme: Claro que você é gótica, é
só olhar para as suas roupas.
Eu: Qual é o seu problema com as minhas roupas?
Babaca de Uniforme: Nenhum, elas combinam
com você. Ontem, por exemplo, você estava muito
gostosa com aquele shortinho, mas creio que eu não
possa falar isso, ou vou ser chamado de babaca mais
uma vez, certo?
Meu coração idiota acelerou, mas resolvi ignorar
aquela reação estúpida do meu corpo.

Eu: Ainda bem que você sabe.


Babaca de Uniforme: Mas saiba que você estava
gostosa. Pra caralho.
Eu: O que você espera que eu faça depois de ler
isso? Que eu caia na sua cama?
Babaca de Uniforme: Você estava na minha cama
ontem.
Eu: Não por livre e espontânea vontade, pode
acreditar.
Babaca de Uniforme: É mesmo? Eu achei que
você estava tão confortável...
Eu: Apenas enquanto estávamos fazendo a
pesquisa, depois disso, você voltou a se tornar esse ser
desagradável.
Babaca de Uniforme: Assim você machuca os
meus sentimentos, Valente. Para provar que eu sou um
cara muito legal, vou atrás de você agora. Em que sala
você está?
Eu: No momento, estou em uma sala de espera de
um hospital.
Babaca de Uniforme: Como assim? O que
aconteceu com você? Não me diga que ter passado a
noite de ontem comigo fez com que você tivesse uma
arritmia cardíaca.
Eu: Não me lembro de ter passado a noite com
você, apenas algumas horas enfadonhas.
Babaca de Uniforme: Enfadonhas? Eu não diria
isso depois de eu ter te causado tanta emoção. Tenho em
minha memória as diversas vezes em que seu rosto ficou
vermelho na minha presença.
Eu: Vermelho de raiva.
Babaca de Uniforme: Ou de tesão? Fica aí o
questionamento.
Eu: Logan, faz um favor para mim?
Babaca de Uniforme: Depende. O que é?
Eu: Vai se foder.

O quarterback irritante enviou uma figurinha


soltando uma gargalhada e eu sacudi a cabeça, surpresa
por não estar tão irritada como de costume. Achei que
nossa conversa se encerraria ali, mas ele me enviou uma
nova mensagem:

Babaca de Uniforme: Agora é sério, o que


aconteceu para você estar no hospital?

Não queria admitir, mas achei legal da sua parte se


preocupar.

Eu: Não aconteceu nada comigo, vim apenas trazer


a minha irmã para fazer exames de rotina.
Babaca de Uniforme: Não sabia que você tinha
uma irmã. Quantos anos ela tem?
Eu: Quatorze, ou seja, nova demais para você.
Babaca de Uniforme: Assim você me ofende,
Valente. Eu jamais ficaria com uma irmã sua, imagino
que ela deva ter um temperamento parecido com o seu.
Eu: Na verdade, ela é infinitamente melhor do que
eu, ou seja, mesmo se tivesse vinte anos, eu jamais
deixaria que você chegasse perto dela.
Babaca de Uniforme: É muito ruim não poder
discordar. Eu também não deixo nenhum filho da puta
chegar perto da minha irmã, principalmente se ele for
parecido comigo.
Eu: Agora eu fiquei impressionada de verdade. Não
sabia que você era tão consciente.
Babaca de Uniforme: Viu só? Eu não sou apenas
um rostinho bonito com um corpo perfeito, Valente.

— Aubrey Banks.
O médico apareceu na recepção, chamando pela
minha irmã, que estava tirando um cochilo encostada em
meu ombro. Fiz um sinal avisando a ele que já estávamos
indo e acordei a dorminhoca, que se espreguiçou antes
de se levantar. A caminho do consultório, digitei para
Logan:

Eu: Minha irmã vai ser atendida agora. Pode deixar


o iPad na Maeve depois?
Babaca de Uniforme: Vou pensar no seu caso.

Revirei os olhos diante da sua mensagem. Era claro


que Logan não desperdiçaria uma oportunidade de me
perturbar.
Era noite de sexta-feira, então, o bar estava em
pleno funcionamento, com a maioria das mesas
ocupadas, assim como as banquetas em frente ao
balcão. No palco pequeno, onde rolava o karaokê em
noites de sábado, uma banda de rock que tocava os
clássicos dos anos 80 e 90 animava os clientes. Maeve
negava, mas eu tinha quase certeza de que o vocalista,
um homem de pouco mais de cinquenta anos e que mal
conseguia tirar os olhos de cima dela, estava tocando ali
pela terceira semana consecutiva porque tinha um
interesse maior na dona do bar.
Segundo Maeve, eles foram amigos durante o
ensino médio, mas Harlan, o vocalista, se mudou com a
família quando passou para a faculdade de Yale, e só
agora havia retornado ao Alabama. Maeve nunca havia
se casado, seu relacionamento mais longo tinha durado
sete anos quando ela era mais jovem, e não parecia ser
do tipo que gostava de se amarrar em alguém. Já a tinha
visto com alguns casos desde que cheguei à cidade, mas
nada muito sério. No entanto, Harlan a deixava
visivelmente nervosa e distraída quando estava no bar. A
prova estava bem ali, diante dos meus olhos, enquanto
ela suspirava e quase deixava o copo quase transbordar
de cerveja sob a chopeira. Maeve soltou um gritinho
quando tirei a caneca da sua mão e acionei o botão para
desligar a máquina.
— Ah, meu Deus, quase desperdicei cerveja, não
foi? — perguntou, fazendo uma careta. Tentando
disfarçar, ela deu um tapinha na própria testa. — Não sei
onde está a minha cabeça hoje.
— Eu sei muito bem onde ela está — comentei,
apontando para o palco com o queixo.
A banda de Harlan tocava Radio Ga Ga, do Queen, e
os clientes, em sua maioria universitários,
acompanhavam em um coro animado. Aquela era uma
prova de que um clássico sempre seria um clássico, não
importava quantos anos se passassem. As bochechas de
Maeve ficaram coradas enquanto ela tentava conter um
sorriso.
— Para de besteira, já disse que somos apenas
amigos.
— O que é melhor ainda. Melhor se interessar por
um amigo do que por um inimigo, não?
— Não estou interessada nele.
— Mas ele com certeza está interessado em você —
falei, colocando a caneca de cerveja sobre a bandeja de
Cindy quando ela parou em frente ao balcão. — Pedido
da mesa dezoito. — Ela concordou com a cabeça e saiu
pelo salão. Aproveitando a folguinha de alguns segundos
entre um pedido e outro, abracei Maeve pelos ombros. —
Eu acho que você não vai se arrepender de dar uma
chance ao cantor sensual.
— Você acha, é? Como pode saber disso se nem ao
menos o conhece?
— Eu não o conheço, mas você conhece.
Maeve sacudiu a cabeça e tomou um gole da sua
água, tentando escapar de mim.
— Eu o conheci a mais de trinta anos atrás, Ava. É
verdade que estamos nos reaproximando agora, mas
somos duas pessoas diferentes das que éramos quando
adolescentes.
— E isso não é bom? Agora, vocês são mais
maduros e experientes.
— Eu tenho mais de cinquenta anos, homens como
Harlan com certeza gostam de mulheres mais novas.
— Maeve, isso é besteira! Veja a forma como ele te
olha. — Indiquei novamente com o queixo para o palco
pequeno. Harlan ainda olhava em nossa direção,
especificamente para a mulher linda ao meu lado, e
piscou para ela. Senti Maeve sorrir silenciosamente. —
Não acredito que Harlan te olharia desse jeito se por um
acaso não sentisse interesse por você.
— Acha mesmo isso?
— Sim! Em que momento você se deixou tomar pela
insegurança desse jeito? — perguntei, realmente
surpresa.
Maeve sempre me pareceu ser muito confiante. Ela
comandava aquele bar com punhos de ferro, separava
brigas se fosse necessário, tinha muitos amigos do sexo
masculino e arrastava muitos olhares por onde passava.
Aquilo nunca havia sido um problema para ela até então,
pelo contrário, eu via como aproveitava o interesse que
despertava no sexo oposto e que só negava algum
convite quando a pessoa realmente não chamasse a sua
atenção. Por que agia de forma tão diferente com o
cantor de rock?
— Eu tinha uma quedinha por ele quando
estudávamos juntos, mas Harlan nunca retribuiu o
sentimento — confidenciou enquanto lia a comanda
deixada no balcão por Donovan. — Sempre me viu como
uma amiga, então, tenho medo de acabar me iludindo ao
acreditar que ele possa estar interessado por mim agora.
Não sou mais uma garotinha para ficar suspirando por aí.
— E desde quando há um limite de idade para
suspirar por alguém? Esse seu etarismo [6] está me
deixando muito surpresa, Maeve.
— Não fale assim! Não sou uma pessoa
preconceituosa.
— Não estou afirmando que é — falei, pegando duas
canecas limpas para encher com cerveja. — Mas está se
rotulando demais apenas porque passou dos cinquenta
anos. Você é uma mulher linda, independente e solteira,
se está sentindo interesse real em alguém, e não apenas
em sexo, deve se abrir para isso.
Ela fez uma careta e percebi que não queria dar o
braço a torcer e admitir que eu estava certa, o que me
fez rir um pouco. Maeve era uma pessoa maravilhosa,
mas também era um pouco cabeça-dura. Decidi não
insistir mais no assunto, até porque, sua vida pessoal e
amorosa dizia respeito apenas a ela, mas prometi a mim
mesma que ficaria de olho no desenrolar daquela
possível história de amor.
Eu poderia não ser muito fã de filmes de romance,
como Aubrey era, mas também não era totalmente
cética sobre relacionamentos. Não me via envolvida com
ninguém pelos próximos dez anos, no mínimo, mas
queria que as pessoas a minha volta fossem felizes
quanto aos assuntos do coração. Maeve merecia ter uma
pessoa incrível ao seu lado e Harlan parecia ser um cara
muito legal, além de realmente ter todo um sex appeal
com aquela aparência de rockstar. Eles formariam um
belo casal.
— Avalon. — Virei-me em direção à Cindy, que me
olhava com um sorriso cheio de segundas intenções. —
Tem uma pessoa lá fora querendo falar com você.
— Comigo? Quem?
— Não sei, Christopher apenas me disse que era um
homem. Espero que seja um gostosão, garota! Você
precisa sair da seca!
Cindy se afastou e eu revirei os olhos, logo me
dando conta de quem provavelmente era o gostosão.
Havia pedido para Logan me levar o iPad, mas ele ainda
não tinha aparecido, então, com certeza era ele. Maeve,
que estava ao meu lado quando Cindy passou a
informação, disse que eu poderia ir lá fora ver quem era
e que seguraria as pontas ali no balcão, então, sequei
minhas mãos, que estavam úmidas por manipular
canecas de cervejas geladas, e fui em direção à porta do
bar.
A calçada estava movimentada e havia uma
pequena fila de espera do lado de fora. Procurei por
Logan e o seu Audi preto, mas fiquei confusa ao não
encontrar qualquer um dos dois em lugar nenhum. Será
que tinha desistido de esperar e havia entrado no bar?
Não fazia ideia de quanto tempo havia ficado ali fora me
esperando, então, era possível que sim. Ou tinha ido
embora? Decidida a tirar a dúvida, me aproximei de
Christopher, que conversava com um grupo de mais ou
menos seis pessoas, provavelmente clientes, e anotava o
nome de um deles na lista de espera.
— Christopher, Cindy disse que havia alguém
esperando por mim aqui fora. Era Logan Miller III? Viu se
ele entrou no bar ou se foi embora?
O grupo se afastou para esperar por uma mesa e
Christopher me olhou, antes de indicar com a cabeça.
— Não, não era o quarterback, Ava. Aquele homem
que está querendo falar com você.
Eu segui o seu olhar até o outro lado da rua.
Encostado em um carro azul-escuro, estava um homem
alto, todo vestido de preto, com o olhar fixo sobre mim.
Meu coração deu um salto no peito e eu dei um passo
para trás.
— Você conhece aquele homem, Avalon? Se quiser,
posso me livrar dele — disse Christopher.
Ele era um grande amigo de Maeve e ex-
combatente das Forças Armadas Americana, então, não
duvidava nada de que usaria os seus punhos ou a arma
que portava na cintura, para se livrar do homem. Apesar
de a ideia ser tentadora, eu sabia que se algo do tipo
acontecesse, a minha situação só iria piorar, por isso,
forcei um sorriso e falei para Christopher:
— Não se preocupe, ele é um conhecido meu da
Califórnia.
Pela forma como me olhou, sabia que estava
desconfiando de alguma coisa.
— Tem certeza?
— Claro. — Apertei o seu ombro e sorri um pouco
mais. — Vou até lá cumprimentá-lo.
Aproveitei quando um casal se aproximou para
deixar o seu nome na lista de espera e fugi do olhar
desconfiado de Christopher. Esperei que um carro
passasse e atravessei a rua, sentindo meu coração bater
mais rápido a cada segundo. O que ele estava fazendo
ali? Eu ainda estava dentro do prazo, droga!
— Veja só se não é a minha fugitiva favorita. —
Charles me deu um sorriso frio assim que pisei na
calçada.
Ele se desencostou do carro e se aproximou, mas eu
cruzei os braços e coloquei um pouco mais de distância
entre nós dois, ficando de costas para o bar, pois temia
que Christopher conseguisse fazer leitura labial da
distância em que estávamos.
— O que está fazendo aqui? Até onde eu sei, meu
prazo ainda não terminou.
Era preciso ter atitude com homens como Charles.
Se ele sentisse o medo em minha voz ou visse qualquer
insegurança em minha postura, passaria por cima de
mim como um rolo compressor.
— É verdade, mas é sempre bom deixar claro que
eu estou mais perto do que você imagina, linda. — Ele se
aproximou um pouco mais, mas não me movi dessa vez,
olhando-o com a cabeça erguida. — Como você não
respondeu à minha mensagem ontem, achei melhor vir
aqui pessoalmente.
— Não era necessário...
— Você tem apenas dez dias, Avalon —
interrompeu-me. — Diga-me, já conseguiu a minha
grana?
Engoli em seco, querendo muito olhar para trás só
para ter a certeza de que Christopher estava a poucos
passos de distância. Não que eu acreditasse que Charles
seria louco de fazer algo contra mim ali, na frente de
todo mundo, mas era bom estar prevenida.
— Daqui a dez dias eu te conto — respondi, ouvindo
a sua gargalhada que me deixou com um arrepio gelado
na espinha.
Charles era bem mais alto e mais forte do que eu,
mas eram os seus olhos, azuis e sádicos, que me
deixavam borrando de medo. Não que eu fosse
demonstrar o sentimento para ele, claro.
— Você sabe que não deveria me responder dessa
forma, não é? — O desgraçado tocou em uma mecha do
meu cabelo e desceu os olhos pelo meu corpo. — Tem
uma pessoa lá na Califórnia que adoraria saber o seu
paradeiro e eu, com esse meu coração de manteiga,
estou quase dando a sua localização para ela.
Senti cada parte do meu corpo ficar gelada. Não
tive nem mesmo a reação de me afastar do toque
daquele filho da puta.
— Você me prometeu que não faria isso.
— E você prometeu me pagar na data combinada,
mas isso não aconteceu, Avalon. — Charles já não sorria
mais. — Eu te dei um segundo prazo, mas algo me diz
que não vou ver a cor do dinheiro. Você trabalha na porra
dessa espelunca desde que chegou ao Alabama, ainda
tem que bancar a sua irmãzinha... A não ser que esteja
vendendo essa boceta escondido de todo mundo, acho
difícil que você tenha conseguido juntar pelo menos
trinta por cento do que me deve!
— Tire as mãos de mim!
— Ou vai fazer o quê? — Ele voltou a sorrir e passou
a ponta dos dedos pela minha mandíbula, quase
chegando ao pescoço. — Conta para mim, é isso que
você está fazendo? Está se prostituindo? Se estiver,
posso abrir uma exceção no seu caso e deixar que me
pague dando essa boceta para mim. Sempre quis
descobrir se você era ruiva de verdade.
Por um segundo, pensei em dar uma cabeçada
naquele seu nariz meio torto — que provavelmente ele já
havia quebrado em algum momento — até fazer com
que um rio de sangue sujasse a sua cara, mas a
presença de alguém atrás de mim me deteve.
— Acho melhor você tirar as mãos de cima dela, ou
juro que vai conhecer o peso da minha mão se não o
fizer.
Surpreendentemente, Charles deu um passo para
trás, erguendo as mãos, mas ainda sorrindo. Às minhas
costas, senti o calor do corpo de Logan, mas não
consegui me virar. Não consegui nem mesmo respirar,
sentindo meus pensamentos correrem de um lado para o
outro. Logan teria ouvido alguma coisa? Ou a conversa
inteira? Ele tinha que chegar justo naquele momento?
Porra! Meu coração voltou a disparar, mas agora confuso
com uma miríade de sentimentos.
— Nós só estávamos conversando. Somos velhos
amigos, não é, Avalon? — Charles não esperou pela
minha resposta. — E você? Quem é?
— Depende. — Senti as mãos de Logan em minha
cintura. Ele apertou um pouco, quase como se quisesse
me tranquilizar, mas tudo o que senti foi um frenesi em
meu estômago e um arrepio na base da coluna que
quase me fez perder as forças das pernas. — Para
Avalon, sou namorado, para você, posso ser o cara que
vai consertar ou terminar de arrebentar esse nariz torto
que você tem.
O quê?
Eu realmente quis me virar de frente para o
quarterback, mas ele apenas me apertou mais forte,
puxando o meu corpo de encontro ao seu. Minha cabeça
batia em seu peitoral, isso foi tudo o que consegui
assimilar durante um segundo inteiro. Nossa diferença de
tamanho nunca ficou tão visível. Era quase humilhante.
— Interessante. — Charles sequer se abalou. Ele
olhou para Logan com mais interesse e eu morri de medo
de que soubesse quem ele era. — Espero que você não
esconda nada do seu namorado, Avalon, muito menos o
nosso... envolvimento. Não se esqueça, você tem dez
dias. Ou nove. Ou oito. Vai depender do meu humor.
Sem esperar pela minha resposta, Charles entrou
em seu carro e deu partida, deixando Logan e eu parados
na calçada, com as mãos enormes do quarterback em
minha cintura. Geralmente, eu pensava e agia rápido,
mas, naquele momento, não consegui. Sentia-me presa
em um looping, com os últimos minutos passando em
câmera lenta dentro da minha cabeça.
— Avalon. — Logan parou na minha frente e tocou
em meus ombros. Nunca o vi tão sério antes, nem
mesmo ontem, quando soube que seu pai o esperava na
sala. — Quem era aquele homem?
— Eu... Hm... — Merda! Eu não sabia o que
responder. Fechei os olhos por um segundo, só para
poder puxar ar suficiente para preencher os meus
pulmões e oxigenar o meu cérebro confuso. Aquilo me
deu tempo para poder clarear os meus pensamentos. —
Por que você disse que era meu namorado?
— Depois de tudo o que aconteceu aqui, é com isso
que está preocupada?
Logan tinha razão. Droga, ele tinha toda razão.
Sacudi a cabeça, ainda confusa, e o jogador pegou em
minha mão.
— Você está gelada. Vem comigo.
Logan começou a me levar em direção ao seu carro,
que estava estacionado a alguns metros à frente de onde
estávamos, e eu tentei pará-lo, sem sucesso,
obviamente, porque ele era bem mais alto, pesado e
rápido do que eu.
— Logan, espera! Eu preciso voltar para o bar, estou
no horário de expediente.
— Acha mesmo que vai conseguir trabalhar nesse
estado? Você está tremendo, Avalon, é capaz de deixar
alguma daquelas garrafas cair e ainda se cortar com um
caco de vidro.
Desde quando Logan era tão dramático? Ele
destravou o carro e abriu a porta do carona. Algo me
dizia que, se eu entrasse ali, minha vida ia mudar para
sempre. Eu geralmente dava ouvidos a minha intuição,
mas estava tão abalada, que sequer pensei direito,
apenas entrei no carro do quarterback e tentei me
acalmar enquanto ele dava a volta e ocupava o banco do
motorista.
Eu ouvi boa parte da conversa de Avalon com
aquele homem estranho e não gostei de nada das
merdas que saíram da boca do filho da puta. Não era
preciso de muito para saber que o cara tinha pinta de
perigoso. A cicatriz em sua sobrancelha, o nariz torto de
quem já havia se metido em brigas e o sorriso mal-
intencionado eram indícios suficientes, o que me pegou
de surpresa, foi Avalon ter relação com uma pessoa
daquele tipo.
Ao meu lado, a garota parecia ter se acalmado um
pouco mais, apesar de balançar a perna esquerda para
cima e para baixo e manter o olhar fixo pela janela. Eu
continuei a dirigir, deixando apenas que a música que
tocava no rádio preenchesse o silêncio. Ariana Grande
cantava Breathin e percebi que a letra da canção
combinava bastante com o momento tenso.
Não sabia exatamente para onde eu estava indo,
mas quando me dei conta de que estava perto de um
Drive-in, joguei a seta para o lado direito e entrei no
espaço aberto, já ocupado por alguns carros naquela
noite de sexta-feira. Havia barracas com cachorro-
quente, pipoca e algodão-doce ao fundo, mas desisti da
ideia de sair para comprar algo logo depois que
estacionei o carro e fiquei esperando que Avalon dissesse
alguma coisa.
Eu sabia que não éramos amigos — na verdade,
estávamos bem longe de ser algo do tipo —, mas jamais
conseguiria ficar indiferente ao ver uma mulher sendo
cercada por um homem tão estranho quanto aquele
fodido que tocava em seu rosto. O fato de já ter algum
tipo de contato com Avalon só me fez ter a certeza de
que eu precisava intervir de alguma forma.
Se tivesse que partir para a porrada com o filho da
puta, eu o faria. Havia praticado luta quando adolescente
e ainda sabia uma técnica ou outra, seria fácil imobilizá-
lo. O que me fez tomar uma atitude diferente, foi a
certeza de que o babaca deveria portar uma arma de
fogo e, então, eu não estaria colocando apenas a minha
vida em risco, mas a de Avalon e das pessoas a nossa
volta também.
— Está com fome?
Eu queria perguntar outra coisa. Na verdade, queria
jogar sobre Avalon uma enxurrada de perguntas,
inclusive, sobre a identidade daquele homem, mas sabia
que a garota era dura na queda e não me falaria nada,
principalmente se eu chegasse sendo invasivo demais.
Seus olhos finalmente encontraram os meus e percebi
que estavam levemente úmidos. Avalon havia chorado? E
eu nem mesmo tinha visto? Puta merda!
— Valente...
— Não. — Ela sacudiu a cabeça. — Não estou com
fome.
— Esquece isso — pedi, virando-me em sua direção.
Um filme qualquer começou a passar na tela do Drive-in,
mas nenhum de nós dois prestou atenção. — Quer me
contar o que aconteceu em frente ao bar? — Avalon
sacudiu a cabeça de novo e eu contive um suspiro de
frustração. — Tudo bem. Eu vou sair para comprar um
lanche pra gente, ok?
— Não precisa, realmente não estou com fome.
— Mas vai comer. Quando minha irmã está
chateada, sempre dou comida para ela. Geralmente
funciona.
Uma sombra de sorriso surgiu nos lábios de Valente
e eu me senti um pouco vitorioso por arrancar aquela
reação dela.
— Parece que você é um bom irmão.
— Eu sou o melhor, pergunte a Norah.
— Acho que você é o único irmão que ela tem, não?
— Por isso mesmo que sou o melhor, não tem
ninguém para competir comigo.
Avalon riu e revirou os olhos.
— Você é inacreditável, estrelinha dourada. Só não
me traz algodão-doce, ok? Eu odeio.
— O quê? Apenas psicopatas não gostam de
algodão-doce, Avalon!
— Então é melhor tomar cuidado comigo, QB. — Ela
piscou para mim e eu senti um impacto bem em meu
peito.
Nomeei a sensação como surpresa, afinal, meu
corpo apenas reagiu ao gesto inesperado de Avalon. Não
foi nada de mais. Desistindo de tentar entender o
paladar estranho da garota, saí do carro e caminhei até
as barracas, comprando dois cachorros-quentes, duas
latas de Pepsi e uma barra de chocolate. Havia outros
doces por ali, mas decidi não arriscar muito, pois uma
pessoa que não gostava de algodão-doce, poderia
simplesmente não gostar de doce algum.
Enquanto entrava no carro, percebi que o filme
Grease estava sendo exibido, um clássico do final dos
anos 70.
— Esse é um dos filmes favoritos da minha avó —
comentei assim que me acomodei melhor sobre o banco.
Dei para Avalon um cachorro-quente e o refrigerante. —
Também era um dos filmes favoritos da minha mãe.
— Obrigada. — Ela pediu baixinho, olhando
rapidamente para a tela antes de voltar a me encarar. —
Sua mãe não era muito nova para ter como filme favorito
um clássico que foi lançado em 1978?
Não passou despercebido por mim que Avalon falou
da minha mãe no passado. Então, ela também sabia
sobre a sua morte, assim como todos os alunos da UA.
— Por isso mesmo que é um clássico, ele atravessou
gerações. Ela era criança na época do lançamento, mas o
filme ainda era um sucesso quando ela chegou à
adolescência.
Avalon concordou com a cabeça e deu uma mordida
no cachorro-quente, assim como eu. Nunca iria entender
como um alimento ultraprocessado como a salsicha,
poderia ter um sabor tão bom.
— Minha mãe era apaixonada por Top Gun — disse
ela antes de beber um pouco do refrigerante e colocá-lo
no porta-copos do carro, ao lado do meu. — Mas por
culpa do Tom Cruise, é claro.
— Por que você acha que minha mãe adorava
Grease? Era por culpa do John Travolta, por mais que
meu pai não goste de admitir.
A lembrança que me invadiu foi saudosa e
engraçada ao mesmo tempo. Eu ainda um moleque,
observando minha mãe provocar o meu pai enquanto o
John Travolta dançava na tela da nossa TV. Ele se fingiu
de bravo, mas logo a puxou para dançar, para a alegria
da minha irmã, que era só uma criança na época e
gargalhava com as mãos na barriga. Eu também me
diverti muito naquele dia. Era triste pensar que nunca
mais viveríamos momentos como aquele. Nem ao menos
me lembrava da última vez que meu pai sorriu daquela
forma.
Continuamos a comer em silêncio, mas eu mantive
um olho sobre Avalon durante todo o tempo. Assim que
terminamos, peguei a bolsa de papel onde estava a barra
de chocolate e estendi para ela, vendo seu olhar de
surpresa.
— Não sabia se você gostava, mas resolvi arriscar.
— Logan... Não precisava. — Ela pegou o chocolate
e me deu um sorrisinho. — Chocolate ao leite é o meu
favorito.
— Que bom! Acho que pela primeira vez, acertei em
alguma coisa com você.
Avalon continuou a sorrir para mim, o que foi
mesmo surpreendente, enquanto abria a embalagem.
Percebi que fiquei realmente contente por ter acertado o
gosto da garota, apesar de ainda não saber como me
sentia em relação a ela. Uma coisa, no entanto, era
certa: Avalon havia me ajudado na noite de sábado,
quando eu estava tão bêbado, que sequer conseguia
destravar o meu carro — algo que soube pela minha
irmã, pois a minha memória daquela noite era muito
confusa —, então, eu meio que estava em dívida com
ela. Sentia que finalmente estava retribuindo o que fez
por mim.
Ela tirou uma fileira da barra de chocolate e me
ofereceu um pedaço, que eu logo aceitei, porque era
uma formiga como minha irmã mais nova. Mais alguns
minutos de silêncio se estenderam entre nós dois
enquanto devorávamos o doce e fingíamos prestar
atenção no filme. Eu já não conseguia mais me conter,
queria muito que Avalon começasse a me contar o que
havia acontecido de verdade entre ela e aquele cara, por
isso, precisei contar:
— Eu ouvi uma parte da sua conversa com aquele
babaca.
Avalon voltou a me fitar, sem o sorriso de antes.
Percebi como ficou tensa ao meu lado, seu rosto
perdendo a cor gradativamente. Ela ainda tinha um
resquício de batom escuro nos lábios, mas só isso.
Mesmo assim, continuava linda.
— Não quero falar sobre isso.
— Quem é ele, Avalon?
— Logan, por favor...
— Por que você deve dinheiro a ele?
Aquele era o ponto crucial. Eu ouvi o filho da puta
falando sobre um prazo e perguntando sobre dinheiro.
Apesar de Avalon tentar manter a postura de dona de si,
era óbvio demais que estava abalada, pelo menos para
mim, que estava acostumado a ver como era segura,
quase uma rocha. Assim que cheguei perto dela o
suficiente, percebi que tremia, e quando a toquei, tive a
certeza de que eu não estava exagerando ao notar a sua
reação. Avalon estava com medo daquele cara, por mais
que não quisesse demonstrar.
— Isso não é da sua conta — disse de forma dura,
voltando a olhar para frente. — É melhor a gente voltar,
Maeve vai cortar o meu pescoço por causa desse sumiço
e...
— Eu te salvei daquele cara, então, sim, é da minha
conta.
Avalon me encarou e, então, começou a rir de forma
debochada. Eu trinquei a mandíbula, pedindo a mim
mesmo que tivesse paciência com ela. Eu também não
gostava quando qualquer pessoa se metia em meus
assuntos, mas naquele caso era diferente. A ameaça na
expressão daquele cara era muito real para que eu
simplesmente ignorasse.
— Você me salvou? O que você é agora, Logan, um
príncipe de armadura brilhante? Só falta o cavalo branco,
certo? Mas acho que você é moderno demais para isso.
— Aquele filho da puta estava tocando em você,
Avalon.
— E eu me livraria dele em um segundo, se eu
quisesse!
— O que isso quer dizer? Queria que ele
continuasse colocando as mãos em você? — perguntei,
virando-me em sua direção. — Será que eu entendi tudo
errado e você estava gostando daquela situação? Talvez
fazendo charme para que ele pensasse que você é difícil?
Seu rosto ficou vermelho e eu soube que tinha
vencido aquela parte da discussão quando Avalon
balançou a cabeça.
— Óbvio que eu não estava gostando!
— Então eu te ajudei de alguma forma, não foi?
— Você precisa ouvir isso para alimentar a porcaria
do seu ego, não é?
— Talvez. — Sorri porque, no fundo, eu era mesmo
um pouco babaca e gostava de perturbá-la. — Ou talvez
eu só queira que você se acalme e confie em mim para
contar o que está acontecendo.
— Confiar em você? Logan, nós não somos amigos!
— Tem razão, mas eu ouvi a maior parte do que
aquele babaca falou para você, Valente, e quero me
certificar de que você vai ficar bem.
— Eu vou ficar bem — garantiu, diminuindo o tom
de voz. Vi em sua expressão que queria muito que eu
acreditasse naquilo e a deixasse em paz, mas em seus
olhos brilhavam a dúvida e a insegurança. — Não precisa
perder o seu tempo se preocupando comigo. Eu sei muito
bem cuidar de mim e da minha irmã, faço isso desde os
dezoito anos, quando perdemos a nossa mãe e ficamos
sozinhas no mundo. Não vai ser aquele imbecil que vai
me derrubar.
Aquela informação me pegou completamente de
surpresa e acho que até mesmo Avalon se surpreendeu
por ter jogado tudo aquilo sobre o meu colo. Eu demorei
alguns segundos para tentar descobrir o que eu poderia
falar diante de tudo o que ouvi, mas logo percebi que
fazia muito sentido que aquela fosse a história de
Valente. Ela era forte de uma maneira que eu não
conhecia em nenhuma garota da nossa idade, como se já
tivesse vivido muito mais do que todas elas, apesar da
cara de novinha. Agora, eu sabia o porquê.
— Sinto muito por ter perdido a sua mãe. Eu perdi a
minha há pouco tempo e sei como a dor é insuportável —
sussurrei, desviando o olhar para a janela.
Apesar de a nossa relação ser muito difícil, eu ainda
tinha o meu pai, também tinha a minha avó, duas
pessoas mais velhas, que foram a minha âncora e a da
minha irmã naquele momento tão difícil. Não conseguia
imaginar como foi para Avalon perder a mãe e se ver
sozinha com uma irmã que dependia única e
exclusivamente dela.
— Eu soube disso. Sinto muito também, Logan —
disse ela, chamando a minha atenção. — É muito ruim a
gente não ter o que falar nessas horas, não é? “Sinto
muito” simplesmente não serve de nada.
Eu concordei com a cabeça, porque era mesmo
verdade. Tantas pessoas haviam prestado condolências a
mim e a minha família naquela época, mas não senti
consolo algum. Lidar com a perda de alguém era algo
muito solitário e eu sofria com isso todos os dias. Não se
tornava mais fácil com o passar do tempo, pelo contrário,
ficava cada vez mais difícil.
— Obrigada por ter me ajudado — Avalon murmurou
ao meu lado, me pegando completamente de surpresa.
— E por ter me tirado de lá, por ter comprado o lanche...
Foi muito gentil da sua parte.
— Sei que não esperava uma atitude tão nobre
partindo de mim — brinquei, mas a forma como Avalon
me encarou deixou bem claro que ela realmente não
esperava. — Minha nossa, Valente, você poderia pelo
menos fingir que tinha um pouco de fé em mim?
Avalon riu baixinho, me trazendo uma sensação
estranha na barriga, como se um monte de formigas
corresse por debaixo do meu abdômen.
— Desculpa, mas a sua fama não é uma das
melhores, Logan terceiro.
Por um momento, me senti dentro do campo, no
momento fatídico em que lanço a bola para James, o
wide receiver, confiando que ele vai pegá-la para
continuar a nossa tática de jogo e garantir que o nosso
time fará um touchdown. Era o segundo em que tudo
poderia mudar. O segundo em que a minha cabeça deu
uma guinada e o plano perfeito surgiu em minha mente.
“Você precisa arrumar uma namorada!”
“Limpar a sua imagem...”
“Melhorar a sua reputação.”
— Logan? — Avalon voltou a entrar em meu campo
de visão. — Está tudo bem?
“Eu te dei um segundo prazo, mas algo me diz que
não vou ver a cor do dinheiro.”
“Não se esqueça, você tem dez dias. Ou oito. Ou
nove. Vai depender do meu humor.”
— É isso! — Soquei o volante com entusiasmo e
Valente deu um pulinho de susto sobre o banco ao meu
lado.
— Isso o quê?
— Você — apontei para ela — vai ser a minha
namorada por dois meses e eu — apontei para mim
mesmo — vou pagar a sua dívida com aquele babaca e
você vai se ver livre dele de uma vez por todas.
— O... O quê? — Avalon gaguejou, com os olhos tão
arregalados, que pensei que eles poderiam saltar do seu
rosto e rolar pelo assoalho do meu carro.
— É isso que você ouviu! Pensa bem, Valente, você
precisa da grana para pagar aquele filho da puta e eu
preciso melhorar a minha fama, como você mesmo disse.
Minha imagem está manchada com a liga profissional e
eu preciso mudar isso o quanto antes, ou não terei
chance de ir para o Draft em 2024. Então, te proponho o
seguinte: você se torna a minha namorada, de mentira, é
claro, e eu pago a sua dívida. É o acordo perfeito! O que
acha?
Avalon piscou uma, duas, três vezes. Ela estava
pálida e boquiaberta, completamente sem reação.
— Eu... Eu acho que devia ter algum tipo de droga
no seu cachorro-quente e, agora, você está alucinando.
— Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida!
— E eu continuo achando que você está alucinando!
— rebateu, me olhando como se eu fosse louco. — Nós
não nos suportamos, Logan! Como quer que eu finja que
sou a sua namorada? E, pelo amor de Deus, namoro de
mentira? Quantos anos você tem? Doze?
— É mais simples do que arrumar uma namorada de
verdade e bem mais descomplicado, também. Vai ser um
acordo, Valente. Pense nisso como uma transação de
negócios.
— Ah, claro, você é como um banco querendo
comprar a minha dívida e eu vou ficar pagando juros
abusivos que, no caso, é ter que conviver com você. Não,
nem pensar!
— Eu juro que vou ser o namorado falso mais
fantástico do universo!
— Não!
— Comigo, você só vai ter a ganhar. Não vai ter
cobrança, ciúmes e todo o lado tóxico de um
relacionamento. Eu até deixo você me colocar um chifre
de vez em quando, mas tem que ser muito bem
escondido, claro, porque não posso ficar por aí com fama
de corno. — Avalon voltou a me encarar boquiaberta,
completamente estarrecida. Limpei a garganta,
pensando melhor. — Quer dizer, acho que podemos
esquecer essa parte do chifre. Serão apenas dois meses,
não vamos morrer se ficarmos em celibato durante esse
tempo, certo?
Certo? Eu tinha que fazer aquela pergunta a mim
mesmo. Dois meses sem sexo. Sessenta dias. Puta
merda. Eu ia morrer.
— Eu sabia que você era sem-noção, mas não a
esse ponto.
— Você também não vai conseguir ficar dois meses
sem transar?
— O quê? Logan, você está se ouvindo? — Eu
concordei com a cabeça, só para deixar claro que sim. —
Eu não estou preocupada com sexo! Nem lembro a
última vez que transei.
Eu a olhei de cima a baixo, ficando chocado.
— Isso não é possível, você é gostosa pra caralho.
— E daí?
— E daí que é impossível um cara olhar para você e
não ficar de pau duro. — Calei-me ao ver o seu olhar
assassino. — Quer dizer, eu estou te olhando e não estou
de pau duro agora, mas... Espera, preciso explicar
melhor. Você é gostosa e homens sentem tesão em
mulher gostosa, entendeu? Sendo assim, a matemática é
simples, você desperta desejo sexual nos homens, logo,
eles devem chegar em você, não? Você trabalha no bar
da Maeve, lida com homens o tempo inteiro!
— E é exatamente por isso que eu tenho vontade de
chorar a cada vez que me lembro que sou uma mulher
heterossexual — disse ela, revirando os olhos. — Vamos
fazer o seguinte, estrelinha dourada. Me leva de volta
para o bar, porque eu preciso trabalhar, e vamos fingir
que você nunca me fez essa proposta, ok?
— Quanto você deve para aquele cara?
— Isso não é da sua conta, Logan!
— Só me diz o valor.
— Um milhão de dólares! — disse ela, muito séria.
— E aí, está disposto a pagar?
— Não que eu acredite em você, mas, para tentar
limpar a minha imagem e chegar ao Draft daqui a dois
anos? Querida, eu pagaria o dobro.
Valente me olhou como se eu estivesse
completamente insano.
— Por que rico sempre acha que pode comprar
tudo?
— Não podemos comprar tudo, mas o dinheiro abre
muitas portas — falei o óbvio. — Não estou fazendo essa
proposta para te ofender, Valente, não quero comprar
você nem nada do tipo, estou apenas te mostrando que
há uma opção para você se livrar dessa dívida, contanto
que me ajude por dois meses. Juro que vou tentar ser
uma pessoa melhor para você nesse meio tempo. Você
vai perceber que eu nem sou tão babaca quanto pensa.
Avalon passou a mão pelo rosto e respirou fundo. Eu
sabia que sua cabeça deveria estar zonza naquele
momento, pois até mesmo a minha estava, por isso, dei
partida no carro e logo saí do Drive in, me dando conta
de que eu provavelmente estava mesmo insano. De
todas as garotas no mundo, resolvi fazer aquela proposta
justamente para uma que não ia com a minha cara e por
quem eu nutria uma certa aversão.
Mas é melhor assim. Se não gostamos um do outro,
não haverá a menor possibilidade de acontecer alguma
coisa entre nós dois.
Quase sorri com o pensamento. Eu não estava
insano, eu era um gênio, porra! Aproveitei que
estávamos na estrada e voltei a ligar o rádio do carro,
dando um tapinha de leve no volante.
Avalon aceitaria a minha proposta e a minha
imagem perante o mundo do esporte iria mudar
completamente.
Eu tinha certeza!
Eu jamais aceitaria aquela maluquice proposta por
Logan!
O quarterback devia ter batido a cabeça enquanto
comprava o lanche para nós dois e os parafusos da sua
mente — que com certeza já não eram muitos — ficaram
frouxos. Era a única explicação. Fizemos o caminho de
volta para o bar da Maeve sem trocarmos uma palavra,
enquanto ele cantarolava baixinho a música que tocava
no rádio e batucava o volante com o polegar. Sua voz
rouca era até bonitinha, mas seu sorriso presunçoso, de
quem tinha certeza de que eu iria aceitar aquela
insanidade, estava me deixando irritada.
Eu sabia que não deveria ter entrado no carro dele.
Deveria ter ouvido a minha intuição, mas fui teimosa.
Era verdade que ele tinha sido fofo comigo me
levando para longe de onde tudo havia acontecido e
comprando o cachorro-quente e o chocolate, mas a
magia acabou quando ele soltou aquela bomba no meu
colo. Logan estava completamente louco se achava que
eu iria aceitar participar daquilo. Não éramos mais
crianças, se ele queria mesmo mudar a sua imagem,
tinha que trabalhar de verdade naquilo, e não criar uma
historinha idiota de jogador apaixonado.
Seu carro parou em frente ao bar, que ainda estava
bastante cheio, mas já sem a fila de espera, pois era
quase meia-noite. Eu sabia que aquilo não queria dizer
nada, pois muitos clientes acabavam chegando por volta
daquele horário e só deixavam o bar depois das três, por
isso, me preparei para ficar de pé por pelo menos mais
quatro horas.
— Antes que eu me esqueça. — Virei a cabeça a
tempo de ver Logan se esticar e pegar algo no banco de
trás. — Seu iPad.
— Valeu. — Peguei o aparelho da sua mão e me
preparei para agradecer novamente por ter me ajudado,
mas Logan falou mais rápido:
— Pensa com carinho na minha proposta, ok?
— Logan...
— Não, não quero uma resposta agora. É sério,
Valente, só pense um pouco, você vai ver que o meu
plano beneficia a nós dois.
Eu concordei com a cabeça apenas para que ele
parasse de insistir, pois queria sair logo dali e respirar o
ar frio da noite. Tinha medo de que a presença de Logan
acabasse fazendo com que os parafusos do meu cérebro
se afrouxassem também.
— Tudo bem, eu vou pensar — menti. — Obrigada
pelo que fez por mim. Apesar de você ser insuportável,
hoje foi uma pessoa incrível comigo.
— Só imagine quando eu me tornar o seu
namorado, de mentira, é claro. Vou ser melhor ainda.
O idiota sorriu de orelha a orelha, me dando uma
piscadinha que com certeza era infalível com o público
feminino. Ignorei o fato de a minha barriga ter ficado
gelada diante do seu gesto, pois não queria fazer parte
das meninas que se encantavam por Logan Miller III.
Despedi-me dele e saí do seu carro, encontrando
com Christopher na porta do bar. Ele me deu um olhar
curioso, mas não perguntou nada, acenando para Logan
quando o quarterback buzinou para cumprimentá-lo. Só
consegui entrar depois que Logan partiu, sentindo que
aquela última hora ao seu lado parecia fazer parte de um
outro universo. Tanta coisa havia acontecido dentro
daquele Audi, que eu poderia facilmente acreditar que
tinha sido um sonho muito louco e não a realidade.
— Maeve já perguntou mil vezes por você — Cindy
disse, me interceptando no meio do caminho. — Para
onde você foi o com quarterback gostoso, garota?
— Como sabe que eu estava com ele?
— Eu estava perto atendendo a mesa que fica perto
da janela e vi quando você entrou no carro dele. Sua
sortuda! Me diz, ele tem pegada? Como é o beijo? Já ouvi
diversas meninas comentando aqui no bar que ele é uma
delícia na cama, mas queria saber de alguém com quem
eu tenho alguma intimidade. Me conta tudo!
Fiz uma careta ao ouvir aquilo. Será que mais
alguém, além de Cindy e Christopher, tinha me visto
entrar no carro de Logan? A última coisa que eu
precisava, era que começassem a especular sobre um
suposto envolvimento entre mim e o astro do Crimson
Tide.
— Não aconteceu nada disso que você está
pensando, Cindy. Nós só estamos fazendo um trabalho
juntos e Logan veio até aqui para discutirmos sobre uma
pesquisa que ele fez.
— Em uma sexta-feira à noite? Com você no meio
do horário de expediente? Tá bom! — Ela riu, me dando
um aperto no ombro. — Eu entendo se você não quiser
falar nada, é tudo muito recente, não é? Mas uma hora
você vai ter que me contar! Agora eu preciso voltar ao
trabalho, porque ao contrário de você, não posso dar
uma escapadinha para pegar um quarterback.
Ela me deu um tapinha na bunda, me chamando
mais uma vez de sortuda, e partiu em direção à mesa
treze. Por sorte, a música alta havia abafado a nossa
conversa e os clientes pareciam estar entretidos demais
bebendo, rindo e conversando para prestarem atenção
em nós duas. Segui em direção ao balcão, onde Maeve
estava se dividindo entre atender um cliente e conversar
com Harlan, que já havia encerrado o show daquela
noite. Percebi que Lisa, a ajudante de cozinha, estava por
ali também, organizando alguns pedidos. Senti-me mal
imediatamente por ter deixado Maeve na mão por tanto
tempo, principalmente quando ela me flagrou abrindo a
portinha de madeira que dava acesso ao interior do
balcão.
— Maeve, eu...
— Tome isso — ela colocou três comandas na mão
que eu não usava para segurar o iPad. — Cuide desses
pedidos, depois a gente conversa.
Não sabia dizer se Maeve estava irritada, chateada
ou as duas coisas, mas não ousei falar nada. Coloquei o
iPad em uma prateleira escondida debaixo do balcão e
comecei a trabalhar. No meu primeiro mês no bar, me
senti completamente perdida, pois não tinha experiência
alguma com bebidas alcoólicas e acabava me enrolando
com os pedidos, mas, agora, eu conseguia me mover
naquele espaço de pouco mais de dois metros quadrados
de olhos fechados, por isso, em menos de meia hora,
Lisa pôde voltar para a cozinha e eu dominei
completamente o atendimento para que Maeve pudesse
dar um pouco mais de atenção ao cantor charmoso que
não tirava os olhos dela.
Como previsto, o bar começou a esvaziar logo
depois das três da manhã, mas isso não significava que o
trabalho havia terminado. Harlan se manteve firme por
ali, mesmo depois de sua banda ir embora, e eu senti
que, daquela vez, ele não parecia disposto a sair sem
Maeve ao seu lado, por isso, pedi licença para roubá-la
por um segundo e a levei até o canto, perto da prateleira
de bebidas.
— Maeve, antes de mais nada, quero te pedir
desculpas por ter sumido naquela hora, é que...
— Eu sei que você saiu com Logan Miller — disse
ela. Cindy era mesmo uma fofoqueira!
— Não foi para fazer o que você está pensando, eu
juro.
— Eu não estou pensando nada. —
Surpreendentemente, Maeve sorriu. — Fiquei irritada na
hora, é claro, mas não vou brigar com você. Só não quero
que isso se repita. O dia que você quiser sair com algum
pretendente, me diga, e eu posso remanejar a sua folga.
— Não! Maeve, eu juro que não foi nada disso e
Logan está bem longe de ser um pretendente.
Ela me olhou como se não acreditasse, mas acabou
falando:
— Que pena, porque ele é um gato e, apesar estar
com uma fama ruim por aí, eu sei que é um garoto
maravilhoso. Espero que você possa dar uma chance
para ele.
Cindy e Maeve estavam vendo em mim e em Logan
algo que simplesmente não existia — e que jamais iria
existir algum dia —, mas desisti de tentar convencer
qualquer uma das duas. Não queria falar que Logan
havia me ajudado enquanto eu estava sendo cobrada por
um agiota perigoso que havia vindo da Califórnia apenas
para me ameaçar, portanto, deixei que pensassem o que
quisessem.
— Esqueça isso, ok? Agora que já me desculpei,
quero que vá embora com Harlan. Eu cuido de tudo por
aqui e fecho o bar.
Maeve mordiscou a pontinha do lábio inferior,
parecendo insegura, enquanto olhava por cima do meu
ombro. Sabia que estava observando Harlan, por isso,
não ousei olhar na mesma direção em que ela para que
não ficasse tão óbvio que estávamos falando dele.
— Acha mesmo que eu devo ir?
— Claro que sim! Dê uma chance para vocês dois,
Maeve.
— Ah, meu Deus. — Ela estava mesmo nervosa,
mas havia um brilho de entusiasmo em seus olhos que
era inegável. — Tudo bem, eu vou! Me deseje sorte e
uma noite regada a muito sexo, por favor.
Eu ri, abraçando-a rapidamente.
— Toda sorte do mundo e muitos orgasmos para
você.
— Eu te amo, garota!
— Também te amo, agora vá.
Maeve passou por mim e deu a volta para sair do
balcão. Eu observei tudo discretamente pela parede
espelhada à minha frente, enquanto lavava alguns
copos. Harlan jogou ainda mais charme para ela, tocando
em suas mãos e, depois, em sua cintura. O gesto me fez
sentir um calafrio, pois minha mente me transportou
para o momento em que Logan me tocou daquela
maneira. Eu estava há tanto tempo sem receber um
toque masculino, que quase senti as minhas pernas se
transformarem em gelatina enquanto sentia o
quarterback às minhas costas, o que, agora, me deixou
um pouco constrangida.
Será que Logan sentiu como me deixou? Eu
esperava que a tensão do momento não tivesse dado a
ele o gostinho de me ver afetada pelo seu toque. Ele com
certeza acreditaria que era irresistível, quando, na
verdade, eu reagi daquela forma porque devia estar
carente. Não foi por conta dele exclusivamente, eu com
certeza me sentiria daquele jeito com o toque de
qualquer pessoa. Pelo menos, foi o que passei os
próximos minutos dizendo para mim mesma, porque, de
todos os homens do mundo, Logan seria o último por
quem eu sentiria algum tipo de desejo.
Maeve e Harlan se despediram e logo deixaram o
bar. Pelas próximas duas horas, me ocupei em finalizar os
últimos pedidos, fechar o caixa, dispensar o pessoal da
cozinha e arrumar o salão junto com Cindy e Donovan
depois que o último cliente foi embora. Christopher me
ajudou a trancar tudo e eu logo estava livre para subir,
cansada demais depois de mais uma noite turbulenta,
sendo esta completamente diferente de todas as outras
que tive desde que cheguei ao Alabama.
O apartamento em que morava com a minha irmã
tinha apenas um quarto, mas havia um cômodo pequeno
que Maeve usava antigamente como escritório e Aubrey
pediu para que eu o transformasse em um quarto só para
ela. Era difícil admitir, mas minha irmã já era uma
adolescente e queria ter um espaço sozinha, por isso, me
esforcei para deixar tudo do jeito que ela queria, dentro
das minhas condições.
Entrei no cômodo, que estava parcialmente
iluminado pela luz que vinha da rua, e a encontrei
dormindo em sua cama de solteiro, coberta até a cintura
por um edredom rosa, sua cor favorita. As paredes
receberam uma tinta da mesma cor e agora estavam
cobertas por pôsteres de bandas que ela gostava —
inclusive algumas coreanas que eu nunca conseguia
gravar os nomes. Subi o edredom até os seus ombros,
pois a madrugada estava mais fria agora com o outono
chegando, e passei a mão pelos seus cabelos. Era bom
ver minha irmã tão tranquila e saudável daquele jeito,
depois de tudo o que havia enfrentado nos últimos anos.
Eu sabia que estava cometendo uma loucura
quando peguei dinheiro com um homem como Charles,
mas faria tudo de novo sem pensar uma segunda vez,
pois não peguei aquele dinheiro para mim. Foi por
Aubrey. Tudo o que fiz foi por ela e não me arrependia
nem um pouco. Dei um beijo em sua testa e saí do
quarto silenciosamente, indo direto para o banheiro.
Depois de um banho longo, caí na cama e demorei
longos minutos para pegar no sono, lembrando da
proposta de Logan. Uma parte minha queria aceitar, mas
a outra achava tudo aquilo uma loucura. Decidi me
manter firme em negar e virei para o lado, tentando
dormir.

— Acorda, bela adormecida! Fiz panquecas!


Escondi os olhos com as mãos assim que Aubrey
afastou as cortinas, me fazendo estremecer com a
claridade. Minha mente acabou despertando depois
daquilo, por mais que eu não quisesse, e o cheiro de
panquecas chegou rapidamente ao meu nariz.
— Hm... Isso é mesmo verdade? — murmurei,
tomando coragem para abrir os olhos. Encontrei minha
irmã parada na minha frente, me olhando com
desconfiança.
— O que é verdade?
— Você ter feito panquecas e não ter deixado
nenhuma delas queimar. Porque não estou sentindo
nenhum cheiro de fumaça.
Ri alto quando Aubrey pegou uma almofada do chão
e jogou em minha direção.
— Eu realmente deveria deixar você morrer de
fome! Não sei por que ainda tento ser uma irmã legal! —
Ela marchou em direção à porta enquanto eu ainda ria.
— Venha logo, ou eu vou comer tudo!
Uma música animada de uma das bandas que
Aubrey gostava começou a tocar na sala e eu me
levantei, vendo que passava um pouco das dez da
manhã. Eu poderia dormir mais, no entanto, com a
correria entre a faculdade e o bar, eu quase não passava
um tempo de qualidade com a minha irmã durante os
dias úteis, por isso, valorizava muito os nossos
momentos juntas no final de semana. Fui até o banheiro
rapidinho fazer xixi, lavar o rosto e escovar os dentes e a
encontrei terminando de colocar os talheres no balcão
que separava a sala da cozinha.
— Uau! O que houve com você hoje? Acordou
inspirada?
Aubrey havia arrumado o balcão com tudo o que
precisávamos para desjejum, mas havia caprichado ao
colocar um arranjo de flores artificiais e um conjunto de
guardanapos de pano rosa que era da nossa mãe.
— Eu criei uma pasta no Pinterest sobre decoração,
então, pensei em não postar apenas ideias que encontro
na internet, mas fotos autorais também. Não mexa em
nada! Preciso tirar algumas fotos antes.
Ela pegou seu celular e começou a tirar fotos de
vários ângulos. Vi que também gravou alguns vídeos
curtos e fiquei admirando seu desempenho. Aubrey era
muito ligada em redes sociais e sempre gostou de
trabalhos manuais. Quando criança, ela amava pintar, o
que era ótimo, pois mesmo no hospital, ela podia se
distrair com o hobby. Minha mãe e eu sempre a
incentivamos, mas conforme foi crescendo, seus
interesses foram mudando um pouco. Agora, ela estava
muito empenhada em descobrir tudo sobre decoração de
interiores e design de ambientes.
— Pronto, podemos comer! Espero que tenha ficado
gostoso.
— O cheiro está uma delícia e a decoração está
linda, querida. Você arrasou.
Ela me deu aquele sorriso de menina que eu amava,
ficando levemente corada, e logo se sentou ao meu lado.
Alisei seu cabelo ruivo em um tom mais claro do que o
meu, que lembrava muito o da nossa mãe, e logo
comecei a me servir. Diferente do miojo, que ela havia
conseguido queimar, a panqueca estava maravilhosa e o
café não estava aguado. Comi e a enchi de elogios,
porque, apesar de perturbarmos uma a outra, éramos
unidas demais e não poupávamos incentivos e palavras
carinhosas.
Como ela havia feito o café da manhã, eu me
propus a lavar tudo, mas Aubrey acabou ajudando a
guardar algumas coisas na geladeira. Eu estava
cantarolando uma música bonitinha do Justin Bieber,
quando ela começou a falar:
— Eu vi pela janela quando você conversou com um
homem ontem à noite. — A xícara cheia de sabão quase
caiu da minha mão, mas eu a segurei no último segundo,
sentindo meu coração disparar. — Era o Charles, não
era?
— Aubrey...
— Por favor, não minta para mim, Ava. — Ela parou
ao meu lado e eu deixei a xícara dentro da pia, abrindo a
torneira apenas para lavar as mãos. Queria fugir do olhar
sério da minha irmã, mas eu era a mais velha ali,
portanto, me mantive no lugar. — Você pegou dinheiro
com ele, não foi? Não ia conseguir pagar pelo meu
tratamento apenas com o dinheiro da venda da casa da
nossa mãe, por isso, pediu mais dinheiro emprestado
para ele. Estou certa?
Apoiei minhas mãos na bancada da pia, sabendo
que, uma hora ou outra, Aubrey iria juntar os pontos e
descobrir tudo. Ela já não era mais uma criança e eu não
conseguiria esconder a verdade dela para sempre. Sem
ter coragem para encará-la, confessei:
— Sim, você está certa.
— Meu Deus, Ava! Não acredito nisso. — Aubrey
passou as mãos pelos cabelos, nervosa. — Ele veio até
aqui para te cobrar, não foi?
— Sim, mas você não precisa se preocupar com isso
— falei, secando as mãos no meu short do pijama para
poder segurar o seu rosto. — Eu tenho tudo sob controle,
não vai acontecer nada de ruim, ok?
— Como você pode dizer isso? Se ele veio da
Califórnia até aqui, é porque você não tem nada sob
controle. — Os olhos de Aubrey se encheram de lágrimas
e eu quis me dar um soco. Ela tinha apenas quatorze
anos e estava começando a ter uma vida normal, como
os jovens da sua idade. Não era para a minha irmã se
preocupar com nada daquilo! — Eu disse que não queria
que você fizesse nenhuma loucura por mim, Ava...
— Ei, pare com isso! — pedi quando os seus ombros
começaram a chacoalhar de leve por conta do choro. —
Eu faria qualquer coisa por você, Aubrey. Entende o que
isso quer dizer? Qualquer coisa! Não me arrependo nem
um pouco de ter pegado dinheiro com aquele homem,
pois foi com ele que eu consegui arcar com todos os
custos do hospital para salvar a sua vida! Eu faria tudo
de novo, mil vezes se fosse preciso.
Aubrey chorou mais alto e eu a abracei apertado,
engolindo o nó intenso que tomou a minha garganta. Não
gostava de chorar na frente da minha irmã, pois ela só
tinha a mim agora e eu precisava ser forte por nós duas.
Nos momentos mais difíceis, quando achei que não
conseguiria salvar a sua vida, eu chorava escondida no
banheiro ou no canto do quarto do hospital quando ela
estava dormindo, pedindo para que minha mãe ajudasse
a Deus a operar um milagre. Ela o fez. Deus nos ouviu.
Agora, eu precisava apenas dar um jeito de me livrar
daquela dívida, mas o mais importante, era que eu tinha
Aubrey viva e saudável ao meu lado.
Nunca conheci o meu pai, minha mãe era uma
mulher sozinha, mas que criou a mim e a Aubrey com
muito amor, sempre se esforçando para nos dar o melhor
que podia. Perdê-la foi um golpe muito difícil, mas ter a
minha irmã ao meu lado, foi o que me manteve de pé.
Aubrey tinha apenas onze anos na época, dependia
completamente de mim, e eu coloquei em minha cabeça
que não descansaria jamais enquanto ela não estivesse
curada, porque, se eu a perdesse, com certeza acabaria
me perdendo também. Por isso, eu não me arrependia de
ter feito um acordo com um homem perigoso como
Charles, porque faria tudo de novo para salvar a vida da
minha irmã.
Alisei as suas costas enquanto ela se acalmava,
sabendo que Aubrey era muito mais emotiva do que eu e
que não conseguia disfarçar quando algo a abalava.
Assim que seus tremores diminuíram, eu me afastei e
sequei o seu rosto vermelho pelo choro, vendo seus olhos
levemente inchados.
— Co-como você vai fazer para pagar a ele, A-Ava?
— ela soluçou baixinho.
— Eu vou pedir mais um prazo — falei, pensando
rápido. — Isso provavelmente vai aumentar os juros,
mas...
— Não, você não pode fazer isso! Va-vai se tornar
uma bola de neve! Quanto nós devemos a ele?
Nós. Ah, meu Deus, eu amava a minha irmã.
— Eu — deixei bem claro, porque aquela dívida era
minha. — devo a ele cinquenta mil.
— Cinquenta mil dólares? — Aubrey gritou, me
fazendo estremecer. A cada vez que pensava naquele
valor exorbitante, sentia uma parte minha se
desmanchar em desespero. — Como assim? Avalon, isso
é muito dinheiro!
— Sim, eu sei, mas eu tenho uma parte da minha
bolsa estudantil reservada apenas para dar uma entrada
para Charles, assim, posso pedir um novo prazo para
pagar o restante.
— E de onde você vai tirar o resto do dinheiro?
— Ainda não sei, mas eu vou dar um jeito.
Eu tinha que dar, pois não havia outra saída. Ou
pagava Charles, ou ele poderia cobrar a dívida tirando a
minha vida, ou, pior ainda, tocando na minha irmã.
Aubrey balançou a cabeça, nervosa, e começou a andar
de um lado para o outro.
— Será que Maeve não nos emprestaria o restante
do dinheiro? Eu começo a lavar louça de graça todo dia
para ajudar a pagar! Posso fazer faxina na casa dela
também, lavar o seu carro, colocar comida para os gatos
dela... O que acha?
— Eu pensei nisso, mas Maeve pegou um
empréstimo alto no banco meses antes de virmos para
cá, para poder fazer uma reforma no bar, e está sem
margem nenhuma agora. Ela me contou isso assim que
nos mudamos, então, não tive coragem pedir nada a ela
— falei, me aproximando da minha irmã. Segurei em sua
mão para que parasse de andar como uma barata tonta
daquele jeito. — Escuta, vai dar tudo certo, ok? Não
quero que você se preocupe com isso, Aubrey. Essa
dívida é minha e eu vou dar um jeito de quitá-la.
— Não, essa é dívida é nossa! Se eu não fosse uma
doente idiota, você não teria se metido com aquele
bandido!
— Não! Não fale assim! — Briguei com ela, vendo
seu rosto vermelho, mas agora de raiva. — Você é a
pessoa mais importante no mundo para mim, entendeu?
Não gosto quando fala assim de si mesma.
— Mas é a verdade! Eu só nasci para dar trabalho,
primeiro para a mamãe, depois para você.
— Aubrey, pare com isso! Eu sei que você já tem
quatorze anos, mas eu ainda posso te dar uns tapas na
bunda e te colocar de castigo por um mês se você
continuar falando essa besteira, ouviu?
Ela revirou os olhos, contrariada, e eu a puxei para
um abraço apertado. Bem baixinho, ela confidenciou em
meu ouvido:
— Só não queria que você corresse nenhum tipo de
risco por minha causa, Ava. E se não conseguir o dinheiro
e ele fizer alguma maldade com você?
— Nada disso vai acontecer, eu prometo.
— Como não? A não ser que você ganhe na loteria,
eu não vejo como vai conseguir esse dinheiro. Ou você
pode se casar com um homem muito rico e ele, por estar
apaixonado, vai pagar a dívida. — Ela riu um pouco,
finalmente se livrando de parte da melancolia, enquanto
se afastava de mim. Vi a sua expressão mudar de
repente, então, seus olhos se arregalaram. — Meu Deus,
Ava! É isso! Você pode pedir dinheiro emprestado para o
jogador!
— Que jogador? — perguntei lentamente, mesmo
sabendo de quem Aubrey estava falando nas entrelinhas.
— Logan Miller III! O pai dele não é um milionário
foda do mundo do Direito?
— Olha a boca, garota! — falei, dando um tapinha
em sua bunda. — E, sim, ele é, mas eu jamais pediria
dinheiro emprestado para Logan.
— Por que não? Eu vi você entrando no carro dele
ontem à noite. Inclusive, foi impressão minha, ou ele te
abraçou por trás e espantou Charles de perto de você?
— Foi impressão sua — respondi, voltando para a
pia para poder terminar de lavar a louça. — Tire isso da
cabeça, ok? Já não basta a proposta louca que Logan me
fez ontem.
— Que proposta?
Eu não deveria abrir a minha boca perto de Aubrey.
Agora, a filha da mãe me olhava cheia de expectativa e
eu, que quase nunca conseguia dizer não para ela, teria
que contar sobre a insanidade que Logan jogou no meu
colo na noite passada.
— Ele ouviu a minha conversa com Charles e se
propôs a pagar a dívida.
— COMO É QUE É? — Aubrey gritou tão alto, que um
passarinho que voava perto da janela da cozinha, saiu
em disparada. Eu estremeci, sentindo meu tímpano
pulsar. — Como você fala isso só agora? Me deixou
chorar e ficar nervosa à toa, quando o jogador deixou
claro que vai pagar a dívida! Você é uma irmã muito má,
Avalon Banks!
— Eu não disse que ele vai pagar, eu disse que ele
se propôs a pagar.
— E você vai aceitar, é claro!
— Oh, é claro... Que não! — Coloquei a louça limpa
no escorredor e me virei para Aubrey. — Logan e eu não
somos amigos, Aubrey, na verdade, a gente mal se
suporta. É lógico que não vou aceitar.
— Eu não posso acreditar nisso. — Ela veio atrás de
mim quando fui em direção ao meu quarto. — Ava,
estamos falando de uma dívida de cinquenta mil dólares!
Nós não temos esse dinheiro, mas para alguém como
Logan, isso deve ser, sei lá, o troco do café que ele toma
todos os dias! Não seja orgulhosa e aceite!
— Eu nem disse o que ele me pediu em troca. Como
quer que eu aceite se você nem sabe qual foi a proposta
dele?
— O que ele quer? Imagino que não seja sexo,
porque ele é bonito e, pelo que vejo na internet, pega
todo mundo. — Olhei um pouco espantada para a minha
irmã e ela revirou os olhos. — O que foi? Eu não sou mais
criança, Ava, vou fazer quinze anos em janeiro, sei muito
bem o que é sexo.
— Não quero ouvir isso — pedi, tampando as
orelhas, mas a fedelha se aproximou e afastou as minhas
mãos.
— Qual foi a proposta dele?
— Vou te contar, mas saiba que eu já recusei, ok? —
Ela apenas arqueou a sobrancelha, esperando. — Logan
quer que eu finja ser a sua namorada por dois meses,
pois precisa melhorar a sua imagem, já que quer seguir a
carreira profissional depois da faculdade. Se eu aceitar,
ele paga a minha dívida com Charles.
Aubrey ficou boquiaberta por um segundo, com
certeza pensando o mesmo que eu, que aquela ideia era
uma maluquice sem fim. No entanto, me pegando
completamente de surpresa, ela riu.
— É só isso?
— Como assim “só isso”?
— Sim, só isso! Achei que seria algo muito pior, que
envolvesse prostituição, crime hediondo ou qualquer
outra coisa assim.
— Aubrey! — Sacudi a cabeça, sem reação. — Vou
proibir que você acesse a internet! Desde quando você
sabe o que é crime hediondo?
— Eu não sei, só ouvi você ensaiando para
apresentar um trabalho uma vez e o termo ficou gravado
no meu cérebro. — Deu de ombros, o que me deixou
aliviada, pois não queria que minha irmã ficasse
pesquisando aquele tipo de coisa na internet. As imagens
e histórias poderiam ser assustadoras e ela só tinha
quatorze anos! — Posso saber por que você não aceitou?
— Não é óbvio? — Ela apenas sacudiu a cabeça. —
Logan é um babaquinha rico, que acha que pode
comprar tudo só porque tem uma conta bancária
recheada! Sem contar que é muito arrogante e
prepotente, não suportamos um ao outro, odeio passar
mais do que dez minutos ao seu lado, aceitar ser sua
namorada de mentira seria uma tortura sem fim!
— Ele pode até ser isso tudo, mas tem a cura para o
nosso problema. Sem contar que é muito bonito, seria
muito pior se ele fosse feio, não é? Imagina, ter que fingir
que namora um cara feio? Eca! — Eu revirei os olhos
diante daquilo. Enfim minha irmã estava demonstrando a
idade que tinha. — Você precisa aceitar, Ava!
— Não, nem pensar!
— Ava, essa é a nossa salvação, será que você não
vê?
— Eu vou dar outro jeito.
— Não, você não vai. Vamos ser realistas e enxergar
a verdade. Não temos de onde tirar esse dinheiro e
Logan é podre de rico. Acho que você deveria engolir o
seu orgulho e aceitar. Eu só não tomo o seu lugar, porque
sou menor de idade e terminaria de afundar a imagem
de Logan, mas, se eu tivesse dezoito anos? Ligaria para
ele agora e me tornaria a sua namorada de mentira pelo
tempo que fosse necessário. — Ela se jogou de bruços na
minha cama e sorriu. — E nem seria tão ruim assim, já
que ele é um gato.
— Para com isso, pirralha! — Ordenei, me sentando
ao seu lado. — Se eu aceitar, minha vida vai mudar
completamente, Logan é um cara conhecido e eu não
quero e nem posso ter a minha imagem espalhada por
aí.
Aubrey ficou séria e se sentou na cama, tomando a
minha mão.
— Você sabe o que eu penso sobre isso, não é? Ava,
você precisa parar de se esconder e começar a viver. É
uma mulher livre, ninguém vai poder te fazer mal. — Eu
sabia que Aubrey tinha razão, mas não me sentia segura
depois de tudo o que havia acontecido. — Sabe o que
deveríamos fazer?
— O quê?
— Deveríamos criar uma lista!
— Uma lista?
— Sim! Uma lista onde fique bem claro o que pode e
o que não pode acontecer nesse namoro fake de vocês!
Assim, vocês terão limites pré-estabelecidos e você vai
saber o que esperar durante esses dois meses. O que
acha?
Não queria admitir, mas era mesmo uma boa ideia.
No fundo, eu sabia que não conseguiria juntar a quantia
necessária para quitar a minha dívida com Charles —
nem hoje e nem nos próximos cinco anos — e a proposta
de Logan, muito provavelmente, era única opção que eu
tinha.
— Ok, vamos fazer isso — falei, vendo minha irmã
dar pulinhos sobre o colchão. — Vamos criar essa lista.
Pedi para que Aubrey esperasse eu tomar um banho
longo e lavar os cabelos antes de criarmos a tal lista que
ela propôs. A verdade, era que eu precisava de um
momento só para mim, para colocar a cabeça no lugar e
pensar um pouco em tudo o que poderia acontecer, caso
eu realmente aceitasse a proposta de Logan.
Eu sempre fui muito reservada quanto a minha vida
pessoal. Ser filha de mãe solo acabou me fazendo
amadurecer muito rápido, principalmente quando Aubrey
nasceu e eu me tornei irmã mais velha. Quando minha
mãe ia trabalhar, eu ficava responsável por mim e por
ela, o que acabou me deixando ter pouco tempo para ter
uma vida social agitada como o pessoal da minha idade.
Nunca tive muitos amigos e acabei não frequentando
muitas festas durante a adolescência, então, era normal
para mim passar todo o final de semana em casa.
Isso mudou quando comecei a namorar quando
ainda morava na Califórnia, mas a experiência que eu
tive logo me fez voltar para a minha bolha. Desde que
cheguei ao Alabama, podia contar nos dedos de uma
mão a quantas festas universitárias eu fui e em quantas
eu realmente me diverti. Era difícil me enturmar com
pessoas que tinham a realidade tão diferente da minha,
mas como eu sabia que ninguém tinha culpa pelo modo
como eu vivia a minha vida, não me importava muito em
não ter feito, ainda, uma amizade de verdade com algum
aluno.
Tinha Mia, é claro, mas eu sentia que éramos
apenas colegas, não amigas. Gostava dela, mas, apesar
de termos a mesma idade, tínhamos ideias e estilos de
vida diferentes, o que não era ruim, mas que acabava
me fazendo demorar para confiar e me abrir. Eu gostava
da minha vida do jeito que era, sem muita agitação, com
liberdade para andar pelo campus e não estar com o
meu nome na boca de ninguém, como aconteceu na
UCLA meses antes de eu pedir transferência para outra
universidade, mas sabia que isso mudaria caso eu
aceitasse a proposta de Logan.
Seria um namoro de mentira, mas apenas para nós
dois e, provavelmente, pessoas próximas — isso se ele
contasse a verdade para sua irmã e seus dois melhores
amigos. O resto acreditaria que éramos um casal e o
meu anonimato sumiria como fumaça ao vento. Eu seria
o foco das fofocas por semanas, até que se
acostumassem com a nova versão criada por Logan. Será
que estava mesmo preparada para tudo isso? Será que
os comentários nas redes sociais sairiam da bolha do
Alabama e correriam o resto do país?
Eu não havia pedido transferência para fugir de
algum crime ou algo do tipo. Não estava sendo
procurada pela polícia ou devia algo ao governo, mas não
queria que algumas pessoas na Califórnia soubessem do
meu paradeiro. Aubrey tinha razão quando falava que eu
precisava parar de me esconder, mas ainda tinha receio
do que poderia acontecer, caso soubessem onde eu
estava atualmente.
No entanto, eu não podia me esconder atrás desse
medo, muito menos do meu orgulho. Logan — ou melhor,
o seu dinheiro — era a minha única salvação. Para me
livrar do perigo iminente que Charles significava para
mim, eu precisaria abrir mão de tudo aquilo e aceitar a
proposta do quarterback.
Doía depender do jogador riquinho, mas, se aquela
era a minha realidade, eu iria abraçá-la. Nunca fui
covarde e não começaria a ser agora.
— Serão apenas dois meses — falei para mim
mesma enquanto passava a mão no espelho embaçado
pelo vapor da água quente. — Você vai conseguir,
Avalon. Já enfrentou coisa pior nessa vida, garota. Você é
forte!
Terminei de me arrumar e pentear o cabelo em meu
quarto, enrolando só um pouquinho para ir de encontro a
minha irmã. Encontrei-a sentada no sofá, com um
caderno pousado sobre as suas coxas e uma caneta rosa
presa no arame em espiral. Ela sorriu, animada, e deixou
o celular de lado para poder me olhar.
— Nossa, até que enfim, pensei que tinha derretido
sob a água quente e ido embora pelo ralo.
— Eu queria muito que isso tivesse acontecido —
murmurei com deboche, ouvindo-a rir. Estreitei os olhos
para ela. — Espero que Logan seja um falso cunhado
insuportável para você, Aubrey.
— Ele não será, porque eu vou ser uma falsa
cunhada incrível! Agora, sente-se aqui, vamos começar!
Sentei-me ao seu lado no sofá, vendo-a escrever
algo na folha em branco. “Lista de proibições para o falso
namoro”, consegui ler segundos depois.
— Item 1. — Ela me olhou e eu senti o meu cérebro
travar. — Vamos lá, Ava, você não quer que eu faça a
lista sozinha, não é? Não se esqueça que a minha
experiência amorosa se resume a livros e séries da
Netflix!
— Ok. — Parei um pouco para pensar. — Nada de
posts mirabolantes nas redes sociais dele. No máximo,
uma foto nossa no feed e sem me marcar.
— Certo. — Aubrey começou a escrever. — Item 2.
— Sem demonstrações públicas de afeto.
Aubrey me olhou como se eu fosse uma idiota.
— O intuito de um namoro falso é mostrar para
todos que vocês estão namorando, Avalon. Não faz o
menor sentido não demonstrar afeto na frente das
pessoas.
Bufei, cruzando os braços. O que aquilo significava?
Que teríamos que andar mãos dadas como um
casalzinho apaixonado? Que Logan teria que me abraçar?
Ou pior, me beijar? Senti os pelos da minha nuca ficarem
arrepiados só com o pensamento e, infelizmente, não foi
de um jeito totalmente ruim, o que me deixou um pouco
irritada.
— Ok, sem muitas demonstrações públicas de afeto.
— Continua não fazendo muito sentido, mas, tudo
bem, vou colocar aqui — murmurou ela, contrariada,
começando a escrever. — Item 3.
— Vamos passar, no máximo, uma hora juntos na
frente das pessoas e apenas quando estivermos na
faculdade!
— Meu Deus, ainda bem que sou sua irmã — disse
ela enquanto anotava no caderno. — Namorar com você
seria insuportável.
— Esse é um namoro falso, Aubrey — lembrei a ela.
— E daí? Para todo mundo, tem que ser real, e um
casal apaixonado não passa apenas uma hora por dia
juntos, principalmente quando estudam no mesmo lugar
e fazem o mesmo curso.
— Sua função aqui é anotar, pare de dar palpite! —
Ela me mostrou a língua em um ato tipicamente infantil e
eu ri, bagunçando seu cabelo. — Vamos para o item 4.
Sem, hm... Contato íntimo quando estivermos sozinhos.
Na verdade, esse deveria ter sido o item 1, pois é o mais
importante.
— Ok, sem sexo.
— Aubrey!
— Não comece, Ava. Vou ter que repetir que não
sou mais uma criança?
Por que adolescentes tinham sempre uma resposta
na ponta da língua? Esperei que ela escrevesse e voltei a
falar:
— Logan não terá direito de se meter no modo
como eu me visto.
— Por que ele faria algo assim? — Aubrey perguntou
com uma careta.
— Ele já disse diversas vezes que acha o meu estilo
estranho, então, é melhor deixar claro que não vou
mudar uma única peça de roupa para agradá-lo.
— Você é o meu orgulho! — disse ela, sorrindo
abertamente enquanto escrevia. — E só para constar, eu
amo o seu estilo.
Sabia que ela estava sendo sincera, mesmo se
vestindo completamente diferente de mim.
— E por último, mas não menos importante, Logan
não pode estender o prazo de dois meses, então, é
melhor que consiga convencer a todo mundo de que
mudou dentro de sessenta dias.
Aubrey concordou com a cabeça e terminou de
escrever, arrancando a folha do caderno e entregando-a
para mim. Li atentamente cada item, só para ter a
certeza de que eu não havia me esquecido de nada.
— Agora você pode ligar para ele e dizer que aceita
a proposta. Quanto antes fizer isso, mais rápido ele
pagará a dívida e, então, estaremos livres! — Aubrey se
ajoelhou no sofá e beijou o meu rosto com força. — Eu te
amo muito, irmã! Obrigada por tudo o que tem feito por
mim, prometo que vou retribuir em dobro quando me
formar na faculdade, arrumar um bom emprego e ficar
rica!
Não quis desestimular a minha irmã contando que o
mercado de trabalho era muito difícil e que ter um
diploma na mão não era garantia de que arrumaria o
emprego dos sonhos e ficaria rica em pouquíssimo
tempo.
— Espero muito que isso aconteça, não para você
me retribuir, mas para que tenha uma vida incrível.
— Minha vida já é incrível, porque eu tenho você —
disse ela, quase me fazendo chorar. — Mas agora chega
de elogio! Você tem um pedido de namoro para aceitar.
— Um pedido falso, Aubrey — falei, pois ela estava
entusiasmada demais e parecendo se esquecer daquele
fator tão importante.
— Mas não deixa de ser um pedido.
Na verdade, não era um pedido e, sim, uma
proposta. Um acordo, como Logan mesmo disse. Acordo
perfeito. Só se fosse nos sonhos dele, mas como eu não
tinha qualquer opção no momento, teria que aceitar.

Vi o Audi de Logan virar a esquina faltando cinco


minutos para dar o horário que combinamos de nos
encontrar. Falei por telefone que podíamos conversar no
bar da Maeve, que ficava fechado durante a tarde, mas
ele insistiu para que comêssemos alguma coisa, então, o
esperei na calçada. Foi inevitável não olhar com mais
atenção para as pessoas a minha volta e os carros que
passavam pela rua, em busca de Charles, mas não o vi
em lugar algum. Esperava que já estivesse bem longe,
de preferência, a caminho do inferno, que era para onde
homens como ele com certeza iriam depois de morrer.
— Estou atrasado? — Logan perguntou ao parar o
carro e descer o vidro.
Eu me aproximei e dei a volta, me acomodando ao
banco do carona. Nunca imaginei que voltaria a entrar
tão rápido naquele carro, da mesma forma como nunca
pensei que pisaria na sua casa de novo. O destino devia
rir da minha cara todos os dias.
— Na verdade, não, eu que decidi te esperar aqui
fora — falei, colocando o cinto e percebendo que fui
imprudente ao não ter me lembrado de usar aquele
acessório tão importante quando andei com Logan na
noite passada. — Para onde vamos?
— Bom, como já passou da hora do almoço, pensei
em irmos a uma cafeteria, o que acha?
— Por mim, tudo bem, contanto que você pague a
conta.
Logan sorriu e colocou o Audi em movimento. Ele
usava um modelo de óculos escuro muito bonito, no
estilo aviador, que combinava bastante com o formato do
seu rosto.
— Eu sempre pago a conta quando convido uma
garota para um encontro, Valente.
— Isso não é um encontro — retruquei, não
querendo perder muito tempo observando a sua roupa
de aparência cara, mas registrando que usava uma
bermuda jeans na cor preta e uma blusa branca que
abraçava seus bíceps. Havia uma corrente de ouro em
seu pescoço também, que eu nunca tinha visto antes.
— Tem razão, é mais do que um encontro, é um
momento importantíssimo em que você vai me dizer sim.
— Quem disse que eu te chamei para isso?
— Para que mais seria? Se fosse para negar o
acordo, você apenas me mandaria uma mensagem. Isso
se chegasse a me mandar alguma coisa, acho que seria
capaz de me deixar no vácuo até nos encontrarmos de
novo para discutirmos sobre o trabalho.
Era realmente um absurdo que Logan me
conhecesse tanto em tão pouco tempo. Eu era tão fácil
de ser lida daquele jeito? Sem querer responder,
aumentei o som do carro e tive que observar o seu
sorrisinho prepotente até pararmos em frente a uma
cafeteria charmosa, que havia inaugurado há pouco
tempo. A atendente nos indicou uma mesa mais intimista
no canto do salão e nos entregou o cardápio. O cheiro de
café moído na hora me deixou com água na boca.
— Viu como vai ser fácil? A garçonete acredita que
somos um casal.
Ergui meus olhos do cardápio, observando Logan
tirar os óculos e colocá-los no canto da mesa.
— Como você sabe disso? Ela não disse nada.
— E precisava? Só o fato de ter nos indicado essa
mesa, longe do centro do salão e das janelas, já
demonstra que acha que somos um casal e que
queremos um pouco de intimidade.
— De onde você tira essas coisas? De livros de
romance dos anos oitenta?
— Dos filmes de romance da Netflix — respondeu
com orgulho, me deixando chocada. — O que foi? Não
acredita que eu goste desse tipo de filme?
— Não parece ser um gênero que combine com
você.
— Valente, não se esqueça de que esse é apenas o
nosso primeiro encontro oficial, você ainda não sabe
muito sobre mim — disse, apoiando os braços sobre a
mesa e se inclinando em minha direção. — Isso me fez
lembrar de que precisamos contar as nossas
peculiaridades um para o outro. Um casal precisa, pelo
menos, conhecer o básico sobre o parceiro, não podemos
cair em contradição.
— Antes disso, preciso que leia a minha lista de
proibições — falei, tirando o papel dobrado de dentro do
bolso da minha calça jeans. Estendi em sua direção e
Logan pegou, abrindo e olhando com curiosidade.
— Uma lista de proibições? O que seria isso?
— O nome já deixa claro, não?
Ele arqueou uma sobrancelha e começou a ler.
Apenas um segundo se passou antes de me olhar como
se eu tivesse duas cabeças sobre o pescoço.
— Por que não posso te marcar nas fotos? Você é
alguma espécie de criminosa e esqueceu de me contar?
— Já sabem o que vão pedir?
A atendente apareceu de repente do nosso lado,
com um sorriso imenso no rosto e um bloquinho e caneta
nas mãos. Aproveitei para fugir da pergunta de Logan e
dei uma olhada rápida no cardápio, escolhendo
basicamente o que eu sempre comia quando ia a
cafeterias.
— Um latte machiato, um muffin de queijo e um
cookie, por favor.
— Perfeito. E o senhor, o que vai querer?
— O mesmo que ela, só que dois muffins, por favor.
— Ela concordou com a cabeça e anotou tudo
rapidamente, pedindo licença em seguida. Logan voltou
a me encarar. — Não posso postar apenas uma foto com
você, Valente. Preciso demonstrar que estou apaixonado
e não tem forma melhor de fazer isso, do que usando as
redes sociais, até porque, foi a partir delas que eu joguei
a minha imagem no lixo nos últimos meses.
— Logan, eu dei uma olhada no seu Instagram hoje
à tarde...
— É mesmo? Gostou do meu story malhando? — O
idiota sorriu, todo se achando, e eu revirei os olhos.
— Você tem mais de sessenta mil seguidores!
— Hm... Sim, eu tenho, até porque, sou uma pessoa
pública. Inclusive, tenho uma empresa que cuida de
todas as minhas redes sociais e...
— São sessenta mil pessoas acompanhando a sua
vida apenas no Instagram. Não cheguei a ver o TikTok
nem o Twitter, mas não quero todas essas pessoas
acompanhando a minha vida.
— Por que não? Eu acho que seria ótimo se você
investisse um pouco mais nas suas redes sociais, isso te
deixaria ainda mais em evidência depois que se
formasse.
— Logan, eu quero ser advogada, não digital
influencer.
— O mundo agora é digital, Valente. Você pode até
tentar fugir, mas uma hora vai perceber que ter uma
rede social bem planejada e estruturada, pode te abrir
portas.
— Não acho que eu precise de algo mais do que o
LinkedIn.
— E você tem LinkedIn?
— Ainda não. — Foi a vez de Logan revirar os olhos.
— Mas vou criar em breve!
— Certo. — Ele voltou a olhar para a lista, mas logo
levantou a cabeça e fez um sinal para alguém. Percebi a
atendente se aproximando um minuto depois. — Você
teria uma caneta para me emprestar? Nem eu ou a
minha namorada trouxemos uma.
— Ah, claro, pode ficar com essa, eu pego outra no
balcão — disse ela, entregando a caneta para ele.
O quarterback sorriu em agradecimento e se virou
para mim depois que a atendente se afastou.
— Doeu ouvir que é minha namorada?
— Doeu mais do que as cólicas que sinto a cada
menstruação.
— Não me diga que você também tem TPM e todas
essas coisas? — Eu apenas dei de ombros, sem revelar
nada, e Logan suspirou. — Vou prestar atenção nisso e te
encher de chocolate ao leite quando acontecer.
— Você é esse tipo de namorado? — perguntei,
ficando surpresa de uma forma positiva. Não queria
admitir, mas aquilo era bem fofo.
— Não, sou esse tipo de irmão. Nunca namorei
antes. Se posso cuidar da minha irmã, posso cuidar de
você também — disse simplesmente, como se fosse a
coisa mais normal do mundo. Precisei disfarçar a vontade
de sorrir ao ouvir aquilo, enquanto Logan voltava a olhar
a lista e escrevia algo rapidamente. — Vamos alterar o
item 1, ok? Posso postar mais conteúdo sobre nós dois,
mas sem te marcar?
Algo me dizia que iriam descobrir o meu username
no Instagram de qualquer forma, mas como o meu perfil
era fechado, ninguém poderia vasculhar o que eu
postava na rede social.
— Tudo bem, mas adianto logo que não sou boa
gravando stories.
— Não se preocupe com isso, não pretendo te filmar
vinte e quatro horas por dia. Vamos fazer só uns stories
algumas vezes por semana, sem ter uma quantidade
específica. Próximo item... — Ele parou para ler. — Sem
muitas demonstrações públicas de afeto? O que isso quer
dizer, especificamente?
— Sem muitos abraços e toques... Essas coisas —
murmurei, sentindo o meu rosto ficar quente.
A atendente voltou com os nossos pedidos e logo se
afastou. Eu comecei a comer para ter com o que me
ocupar enquanto o quarterback me olhava como se eu
fosse um caso perdido.
— Que tipo de namoro é esse, em que o casal não
se toca?
— Não disse que não podemos nos tocar — falei
logo depois de engolir um pedaço do muffin. — Só disse
que não precisamos nos tocar muito.
— Isso não faz sentido, Avalon, assim como o item
número três. Não podemos passar só uma hora juntos e
apenas na universidade. Como minha namorada, você
vai ter que me acompanhar nos jogos em casa e, às
vezes, fora de casa também.
Eu quase me engasguei. Por sorte, não estava
tomando o café, ou teria cuspido na cara de Logan.
— Como é que é? Você não me disse nada sobre
isso quando me fez essa proposta, Logan!
— Achei que fosse óbvio. Eu estou namorando
porque preciso mudar a minha imagem perante a liga
profissional. Qual é o sentido de ter uma namorada e não
poder mostrar para todos que estamos juntos e que eu
mudei de postura?
— Stories e fotos no feed do Instagram não são o
suficiente? Ainda tem o Twitter, que é de onde sai a
maior parte das fofocas sobre você.
— Claro que não. Eu preciso que as pessoas vejam
tudo pessoalmente, não que apenas especulem,
entendeu?
Pousei o muffin sobre o prato e escondi meu rosto
nas mãos por alguns segundos. Aquilo nunca daria certo.
Por que eu permiti que Aubrey me fizesse mudar de
opinião? Logan era uma pessoa pública e eu odiava
chamar a atenção, todo mundo iria saber quem eu era e
eu ainda teria que estar praticamente colada nele pelos
próximos dois meses, na frente de todos. Tudo aquilo era
uma péssima ideia!
— Acho que vou desistir — sussurrei, mas foi alto o
suficiente para que Logan ouvisse.
Nós estávamos sentados em uma mesa que, ao
invés de ser composta por cadeiras, tinha dois bancos
longos, um de frente para o outro, por isso, o
quarterback teve a brilhante ideia de sair do seu lugar e
se sentar bem ao meu lado. Senti o seu braço no encosto
perto da minha nuca e o cheiro do seu perfume me
deixou imediatamente sem fôlego.
— Valente, olhe para mim — pediu, sem me tocar.
Tomando coragem, afastei minhas mãos do rosto e olhei
diretamente nos olhos verdes de Logan. Nós nunca
ficamos tão próximos daquele jeito, pelo menos não cara
a cara, e me senti um pouco desestabilizada. — Eu já
percebi que você é uma garota discreta, apesar de
chamar a atenção por onde passa com o seu estilo
despojado, e que não gosta muito de estar no meio de
uma multidão, afinal, invadiu o meu quarto naquela noite
e, depois, desapareceu sem deixar um rastro para trás, e
eu respeito isso, de verdade. Só que, tendo em vista a
nossa situação, eu não acho que encontraremos uma
solução melhor para os nossos problemas que não seja
embarcar nessa mentirinha inocente...
— Nós vamos enganar todo mundo, Logan.
— Mas será por um bem maior! Você vai se livrar
daquele filho da puta e eu vou melhorar essa fama de
inconsequente que conquistei bravamente nos últimos
meses. — Ele tirou o braço do encosto do banco e cruzou
as mãos na frente do rosto, me olhando como se fosse
uma criança de três anos de idade. — Por favor, não
desista agora! Eu prometo que você não vai se
arrepender!
Algo me dizia que eu iria, sim, me arrepender, mas
que escolha eu tinha naquele momento? Precisava pagar
a dívida, ou Charles poderia colocar em risco a vida da
minha irmã e a minha também.
Era por um bem maior, como Logan mesmo disse.
Ignorando o medinho que eu sentia e o frio na
barriga, concordei com a cabeça e soltei um gritinho de
susto quando o quarterback pegou a minha mão e deu
um beijo estalado na palma.
— É isso, Valente! Sabia que você não iria fugir! —
Ele soltou a minha mão e pegou a lista junto com a
caneta. — Vamos para o próximo item.
Sem querer, olhei bem para a palma da minha mão,
onde eu ainda podia sentir os lábios de Logan
pressionando a pele e o roçar da sua barba por fazer. Um
novo arrepio tomou conta do meu corpo e o meu coração
disparou, mas eu engoli em seco e fingi que nada de
mais estava acontecendo em meu interior.
Eu sabia que Valente iria aceitar! Claro que não
imaginava que ela iria surgir com uma lista de proibições,
mas não me assustei quando me entregou o papel
escrito com uma caneta rosa — que eu tinha quase
certeza de que não combinava muito com o seu estilo —,
porque, vindo de Avalon, eu poderia esperar qualquer
coisa. Peguei o meu café do outro lado da mesa e bebi
um pouco enquanto voltava a ler a famigerada lista.
Quase cuspi a bebida ao me deparar com item número 4.
— Não imaginei que você iria se preocupar com
isso. Não é claro que não haverá sexo entre nós dois?
Acho que falei um pouco alto demais, pois Avalon
ficou com as bochechas coradas e olhou a nossa volta
com medo de que alguém tivesse ouvido. Por sorte, as
mesas a nossa volta estavam desocupadas e a atendente
estava retirando um pedido na frente do salão.
— Achei melhor deixar por escrito — murmurou,
enfiando um pedaço de muffin naquela boca que era
sensual demais para ser completamente ignorada por
mim.
Escrevi ao lado do item 4: “sem sexo – entre nós
dois e com qualquer outra pessoa”.
— Eu pensei bastante sobre isso e acho que vai ser
melhor assim. Não quero correr o risco de que alguém
desconfie do nosso relacionamento ou pior, que
comecem a achar que além de eu ser um cara que não
leva a sério a sua carreira, também sou um traidor.
Seria terrível passar sessenta dias na seca? Com
certeza, mas para recuperar tudo o que perdi nos últimos
meses, valeria a pena. Eu sentia que precisava ter foco
total naquele acordo que estava fazendo com Valente, ou
acabaria fraquejando e ferraria com tudo de vez.
— Faz sentido, mas quero deixar claro que eu não
me importaria se você quisesse se envolver escondido
com alguém — disse ela ao meu lado.
— É mesmo? E se descobrissem? Você ficaria com
fama de corna para sempre.
— Já passei por coisas piores, um chifre não iria me
matar. — Ela deu de ombros e eu fiquei um pouco
preocupado. O que havia acontecido na vida de Avalon
para que algo como aquilo não a afetasse?
— Pelo visto, você encontrou apenas babacas pelo
caminho.
Ela me olhou demoradamente de cima a baixo e
arqueou uma sobrancelha.
— Acho que você está coberto de razão pela
primeira vez desde que nos conhecemos, estrelinha
dourada.
— Ei, vai com calma, ruiva! Eu não sou tão babaca
assim — defendi-me, erguendo as mãos. — Sei que você
não teve uma primeira boa impressão de mim, mas algo
me diz que se acreditasse mesmo que eu sou uma
pessoa ruim, você não estaria aqui agora, mesmo
desesperada para se livrar da dívida com aquele pedaço
de merda que te cercou ontem à noite.
​ valon desviou os olhos, com a expressão de quem
A
não queria dar o braço a torcer.
— Talvez, mas isso não quer dizer que eu goste de
você, porque não gosto.
— Não preciso que você goste de mim de verdade,
apenas que finja gostar. — Pisquei para ela, dando o meu
melhor sorriso, antes de voltar à lista. — Não quero me
meter no modo como você se veste. Na verdade, acho
que até gosto um pouco do seu estilo.
Não tinha como ser diferente, Avalon tinha uma
personalidade muito forte e era claro que isso ficaria
impresso até mesmo na forma como se vestia. Naquela
tarde, ela estava usando uma calça jeans de cintura alta,
um cropped preto que ia de ombro a ombro, com mangas
compridas, os coturnos, que já deveriam andar sozinhos
de tanto que ela os usava, uma gargantilha preta e o
cabelo preso em uma trança despojada, jogada sobre o
seu ombro esquerdo. Aquela era a primeira vez que eu a
via sem um batom escuro, seus lábios estavam rosados e
os cílios estavam preenchidos e fartos. A filha da mãe
estava linda e cheirosa pra caralho.
— É sério? Naquela noite no bar, você disse que eu
era estranha.
— Eu estava bêbado.
— Há quem diga que bêbados não mentem — disse
ela, desconfiada. — Não precisa mudar o seu discurso
agora, Logan, eu já aceitei a sua proposta e não vou
voltar atrás.
— Não estou falando isso para te agradar, eu juro.
— Avalon pareceu não acreditar muito em mim, mas eu
sabia que seria difícil conquistar a sua confiança depois
de tudo o que falei no pouco tempo em que nos
conhecíamos. — Você sabe que a gente se estranhou
muito no começo, então, eu quis arrumar um motivo
para te perturbar e implicar com você. Acabei usando o
seu estilo para fazer isso, o que foi uma idiotice da minha
parte. Sinto muito se te deixei chateada.
Estava sendo sincero, por mais que Valente não
quisesse acreditar.
— Não me chateou, mas aceito as suas desculpas.
— Ela meu deu um sorrisinho que me deixou com a
sensação de estar com um caroço na garganta, porque,
de repente, se tornou muito difícil engolir a minha própria
saliva.
— Ok, último item — murmurei, voltando a ler a
lista. — Com certeza serão apenas dois meses! Não
pretendo prolongar o acordo por mais tempo.
— Acredito que sessenta dias seja o seu limite
máximo para ficar sem sexo — disse ela, rindo de mim
enquanto terminava de comer o muffin. Os meus ainda
estavam praticamente intocados, por isso, puxei o prato
para mais perto.
— Realmente. Para falar a verdade, nunca pensei
que um dia eu seria obrigado a ficar sem trepar. Essa
com certeza vai ser a parte mais difícil.
— Pelo menos você tem duas mãos. — A forma
nada discreta como me olhou quase me fez ficar de pau
duro, mas fui mais forte e forcei uma risada, retribuindo o
seu comentário.
— Imagino que você consiga tocar uma playlist de
uma hora quando se deita na cama a cada fim de noite.
— Uma hora? Não, isso é muito pouco. Posso ficar
brincando de DJ por três horas tranquilamente. — Eu
quase me engasguei com a porcaria do muffin e Valente
riu, dando dois tapinhas bem fortes nas minhas costas. —
Desculpa, não pensei que você ficaria tão afetado, QB.
Dei um gole longo no meu latte e voltei a pegar a
caneta depois de colocar o copo sobre a mesa.
— Vamos adicionar mais um item aqui: proibido
falar sobre sexo enquanto Logan estiver em celibato.
— Só enquanto você estiver em celibato? E eu?
— Você já está acostumada, é praticamente virgem
de novo.
— Há-há! Como você é engraçado, estrelinha
dourada. — Ela tomou a caneta da minha mão e fez um
risco em cima do último item que eu havia acabado de
escrever. — Liberado falar MUITO sobre sexo durante o
celibato do Logan.
— Você é sádica, Valente — resmunguei, querendo
cruzar os braços feito uma criança, mas me segurando.
— A partir de segunda-feira podemos chegar juntos na
faculdade, o que acha?
— Já? — Os olhos de Avalon ficaram arregalados. —
Achei que demoraria um pouco mais.
— Não posso esperar e acredito que você também
não, já que aquele babaca te deu um prazo para pagar a
dívida. Inclusive, quanto você deve a ele?
O semblante despreocupado de Avalon desapareceu
lentamente e seus olhos se desviaram dos meus. Ela
enrolou um pouco para responder, bebendo o café e,
depois, pegando um pedaço do cookie. Decidi não a
apressar, porque imaginava que aquele assunto deveria
ser difícil para ela.
— Cinquenta mil — murmurou.
Segurei a minha reação de surpresa. Era lógico que
ela não devia um milhão para o filho da puta, mas
cinquenta mil dólares era muito dinheiro para quem
aparentemente não tinha nada. Avalon realmente
acreditou que um dia conseguiria quitar aquela dívida?
— Ligue para ele e marque um horário na segunda-
feira depois das seis horas. Vamos tirar esse filho da puta
da sua vida de uma vez por todas, Valente — falei,
pegando meu copo de café e o erguendo em direção a
ela.
Avalon me deu um olhar estranho, quase
vulnerável, mas logo expulsou o sentimento e ergueu o
seu copo, o encostando ao meu em um brinde simbólico.
Eu continuava querendo saber o motivo para ter pegado
dinheiro emprestado com um espécime como aquele,
mas decidi não perguntar novamente, porque sabia que
Valente não me contaria. Ela ainda não confiava em mim
— e eu não sabia se um dia iria confiar — e eu respeitava
a sua decisão em não querer falar sobre o assunto.
— Obrigada — disse ela, segundos após o brinde. —
De verdade, Logan. Nunca vou esquecer o que está
fazendo por mim.
— Estamos ajudando um ao outro, Valente.
— Mas você está dando muito mais do que eu,
obviamente.
— Será mesmo? Eu estou usando uma quantia
irrisória da herança que minha mãe me deixou, enquanto
você está me dando uma parte da sua vida que nunca
mais terá de volta. Sabe que sou uma pessoa conhecida
e vai ficar marcada como minha ex-namorada daqui a
dois meses. Você nunca vai poder se livrar disso, mas eu
vou recuperar esses cinquenta mil em pouco tempo sem
nem precisar me esforçar. O dinheiro rende juros sozinho
na minha conta e eu também tenho algumas
aplicações... Enfim, não estou perdendo nada, mas você
está.
Avalon continuou com aqueles olhos arregalados
por um tempo, até fazer uma careta e dar um peteleco
em meu ombro.
— Não precisa esfregar a sua riqueza na minha cara
— brincou e eu ri.
— Desculpa, mas só falei a verdade.
— É, eu sei. Tem gente que nasce mesmo
privilegiada, enquanto outras pessoas — apontou para si
mesma —, só tomam no cu.
— Avalon, que boca suja! — Empurrei-a com o
ombro, ouvindo a sua risada pela primeira vez. Não foi
escandalosa nem longa demais, porém, foi genuína, e eu
gostei. — Dinheiro não é tudo, acredite.
— Tem razão, mas é melhor sofrer sendo rica do que
pobre, não é mesmo?
Certo, daquilo, eu não poderia discordar, apesar de
haver uma exceção:
— O dinheiro faz com que as pessoas ignorem o seu
sofrimento. Na verdade, isso acontece até com nós
mesmos. Uma conta bancária recheada e um cartão de
crédito sem limites fazem com que a gente se esconda
atrás de um mundo de fantasia, com festas, bebidas,
garotas, e nos dá a ilusão de que aquela sensação de
euforia vai durar para sempre e que nunca mais iremos
sentir qualquer dor ou tristeza, mas isso não é verdade.
O outro dia sempre vem, carregando uma ressaca
infernal, que vai além da consequência que o álcool
causa no nosso corpo... A ressaca moral é mil vezes pior
e é ela a responsável por fazer com que afundemos cada
vez mais, ao ponto de não achar que teremos mais como
nos reerguer.
O silêncio tomou conta da nossa mesa depois que
me calei, me fazendo ter ciência de que eu nunca havia
confessado aquilo em voz alta para ninguém, nem
mesmo para minha irmã ou para os meus melhores
amigos. Senti-me exposto na frente de Avalon e quase
peguei os meus óculos escuros e os coloquei novamente
para que ela não enxergasse mais nada dentro de mim,
mas me segurei, sendo brutalmente honesto com ela — e
comigo mesmo, principalmente — pela primeira vez na
vida.
— Quando a minha mãe morreu, eu também me
senti perdida desse jeito — Avalon confidenciou baixinho
ao meu lado. — Claro que não extravasei indo a festas ou
bebendo, até porque, eu tinha uma irmã para criar e não
tinha dinheiro para nada, mas encontrei uma outra forma
de camuflar a dor. Me escondi atrás de um
relacionamento que só me fez mal, mas consegui me
reencontrar e dei a volta por cima. — Sua mão tocou a
minha por cima da mesa e o seu olhar gentil aqueceu o
meu peito de uma forma que eu não esperava. — Você
vai se reerguer também, Logan terceiro. Não duvide
disso.
Eu concordei com a cabeça, querendo muito
acreditar em suas palavras, praticamente me agarrando
a elas, talvez por saber que Avalon havia, infelizmente,
passado pelo mesmo que eu. Nossas dores eram iguais
naquele aspecto.
— Acho que já esclarecemos todos os pontos, certo?
— perguntei, querendo mudar de assunto.
— Sim, só precisamos criar uma história
convincente sobre o início do nosso namoro. Você sabe, o
primeiro encontro, o pedido... Essas coisas.
— Acho melhor nós começarmos, primeiro, a andar
juntos pelo campus, de mãos dadas, trocando sorrisos e
carícias, para fazer com que todo mundo comece a
especular sobre nós dois. Depois, confirmamos o boato
de que estamos namorando. Até lá, já teremos criado o
enredo perfeito para contar para todo mundo.
— Certo. — Avalon soltou um suspiro meio nervoso.
— Então, tenho pouco mais de vinte e quatro horas para
fingir que estou caidinha por você.
— Não apenas caidinha, mas completamente
apaixonada — falei, vendo seus olhos se estreitarem em
minha direção.
— Não espere de mim uma namorada melosa,
estrelinha dourada.
— Oh, eu não ousaria, rainha do gelo. — Ri quando
Avalon me deu um cotovelada de leve no braço. — Vou
poder te beijar na segunda-feira?
— Oi? — Ela me olhou meio horrorizada, com as
bochechas ficando vermelhas.
— O quê? A ideia de me beijar é tão ruim assim?
— É péssima.
— Nossa, Valente, você faz um belo desserviço para
a minha autoestima!
— Desculpa, é que... Não pensei que aconteceria
tudo tão rápido.
— Vamos fazer o seguinte. Deixa toda essa parte
comigo e só confie em mim, ok? Vai ser melhor se
agirmos sem um roteiro, para que não fique tudo
robotizado demais. Precisa ser espontâneo.
— Eu jamais te beijaria de forma espontânea.
— Ok, já entendi que você tem uma aversão a
mim...
— Não é uma aversão, eu só... Bom, até ontem a
gente se odiava, então, beijar você nunca passou pela
minha cabeça.
— Posso te dizer que, da minha parte, te beijar não
será nenhum sacrifício. Você é linda, Valente —
confidenciei, me sentindo um pouco idiota por isso,
porque ali estava a garota me esnobando e eu quase
abanando o rabo para ela. Como eu era sem-noção!
— Aposto que você diria isso para qualquer garota
do campus — ela resmungou, terminando de tomar o
café.
— Se eu estivesse bêbado, talvez sim, mas como
não é o caso, estou apenas sendo sincero. — Ergui a
minha mão para Avalon, decidido a encerrar aquele
assunto antes que eu falasse mais alguma coisa da qual
fosse me arrepender. — Temos um acordo, Valente?
Avalon olhou para a minha mão e finalmente a
segurou, me dando a sua palavra.
— Temos um acordo, Logan terceiro.
Eu sorri, satisfeito. Nada daria errado, eu sabia.
Passaríamos aqueles dois meses fingindo, depois, cada
um iria para o seu lado e pronto. Talvez pudéssemos até
nos tornar amigos, mas apenas isso.
Seria moleza!
Parti para casa logo depois de deixar Avalon em
frente ao Maeve’s Bar, sentindo uma espécie de
entusiasmo e ansiedade pelo que aconteceria nas
próximas semanas. Havia muito tempo que algo não me
deixava estimulado daquele jeito e a sensação era
realmente muito boa e completamente inesperada.
Desde a morte da minha mãe, eu me sentia entorpecido
e ligado no piloto automático, treinando porque era a
minha obrigação, indo para as aulas porque eu dependia,
também, das minhas notas para continuar no time e me
afundando em festas um dia após o outro para
permanecer desligado das minhas emoções. Agora, eu
me sentia diferente.
Ainda não queria enfrentar a realidade e pensar
demais na perda que sofri em janeiro, mas ter um novo
propósito estava me tirando daquele limbo. Minha mãe
sempre me apoiou e acreditou em mim, mesmo quando
meu pai se mostrou contra a minha escolha de ser um
jogador profissional, então, eu sentia que devia aquilo a
ela. Eu precisava me esforçar, não apenas por mim, mas
também pela minha mãe.
Espantei aquele pensamento antes que o aperto em
meu peito ficasse insuportável e entrei em casa,
encontrando James e Norah discutindo enquanto
duelavam no videogame. Benjamin ria dos dois e
gravava a briga idiota, provavelmente para postar nos
stories.
— Você rouba demais, James!
— Nada disso! Você precisa aceitar a minha vitória,
baixinha. Ela foi legítima!
— É ótimo passar um fim de tarde na companhia de
duas crianças, pessoal — Benjamin disse, narrando o
vídeo. Ele apontou o celular em minha direção e eu
acenei para a câmera. — Nosso QB finalmente encontrou
o caminho de casa!
— Idiota. — Dei o dedo do meio para ele e fugi da
câmera ao me sentar ao seu lado. Quando Ben parou de
filmar, perguntei: — Posso saber o que está acontecendo
aqui?
— Não é óbvio? Sua irmã não aceita perder, como
sempre.
— Eu não aceito trapaça, é diferente! Eu desisto,
sério. Não dá para jogar com o James! — Norah jogou o
controle ao seu lado no sofá e cruzou os braços,
emburrada.
— Quantos anos vocês têm? Dez? — questionei,
vendo James me dar o dedo do meio e Norah me dar
língua. — Nossa, como são maduros.
— Eu falei que eles eram duas crianças — disse
Ben, deixando o celular de lado depois de postar o story.
— Onde você estava, QB? Está todo misterioso desde
ontem, nem apareceu na festa do Parker.
— É verdade, ficamos te esperando e você nem deu
as caras, também não mandou nenhuma mensagem
avisando que não iria. O que aconteceu? Ficou com dor
de barriga? Norah te acorrentou em casa?
— Eu não tenho nada a ver com isso. — Minha irmã
ergueu as mãos. — Mas também fiquei surpresa quando
você chegou cedo ontem à noite.
— Não sabia que a minha vida era tão interessante
assim — falei, sendo encarado com curiosidade pelos
três.
Eu não estava a fim de ir à festa do Parker. Depois
da discussão com o meu pai, senti um peso horrível na
consciência e um medo maior ainda de perder a única
coisa que ainda fazia algum sentido para mim. O futebol
era uma parte essencial da minha vida, que eu acabei
deixando de lado no momento em que deveria usá-lo
para me manter no foco e não me perder.
Encontrar com Avalon na noite passada e ouvir a
ameaça daquele homem contra ela acabou me dando um
estalo. A insistência de Norah sobre eu arrumar uma
namorada e mudar a minha imagem me deu um soco
forte e me fez juntar as peças que estavam bem ali, na
minha frente. Eu realmente não queria me comprometer
com alguém, mas nada me impedia de fingir que estava
comprometido. Relacionamentos por conveniência
aconteciam o tempo todo — pelo menos no mundo dos
negócios, onde já vi muitos filhos de amigos dos meus
pais se casando com filhas de homens ricos para fazer
uma fusão em seus negócios —, eu poderia muito bem
embarcar naquela onda e, de quebra, ainda livrar Avalon
daquele filho da puta.
Depois de deixá-la de volta no bar ontem à noite,
decidi vir direto para casa e fiquei até o início da
madrugada costurando as teias daquele plano e,
principalmente, reunindo motivos para convencer
Valente a aceitar a minha proposta. Foi uma sorte ela ter
caído em si e decidido aceitar por vontade própria,
porque eu não sabia se teria argumentos fortes o
suficiente para mudar aquela cabeça-dura que ela tinha.
— Ei, Terra chamando Logan! — Benjamin estalou os
dedos na frente do meu rosto e eu pisquei forte,
percebendo que meus pensamentos tinham ido para
bem longe dali. — Você tá muito estranho, QB. O que
está acontecendo?
— Preciso contar algo para vocês.
Esconder tudo aquilo da minha irmã e dos meus
amigos não era uma opção, pelo contrário. Eu sentia que
precisava dos três ao meu lado, para que tudo desse
certo.
— O que você está aprontando, Logan? — Norah
perguntou e vi certo receio em sua expressão. — Por
favor, não me diga que fez alguma besteira!
— Não fiz, eu apenas segui o seu conselho.
— Que conselho? — questionou James, curioso.
— Arrumei uma namorada!
Xinguei-me mentalmente por não estar com o meu
celular na mão naquele momento. A forma como os três
se olharam, certamente pensando que eu havia
enlouquecido, foi impagável. Permaneci em silêncio,
prendendo a risada, esperando quem iria se manifestar
primeiro.
— É... Como assim? — Benjamin me olhou
lentamente. — Quem é você e o que fez com o meu
melhor amigo pegador?
— Olha, se isso for uma piada, saiba que é de muito
mau gosto! — Norah resmungou, cruzando os braços.
— Só pode ser uma piada. Como esse babaca
conseguiria uma namorada assim, de um dia para a
noite? — James apontou para mim, mas olhava para a
minha irmã.
— Essa seria a parte mais fácil, na verdade. Muitas
garotas dariam o braço para namorar comigo.
— Meu Deus, você é nojento de tão convencido. —
Norah fez uma careta.
— Não estou sendo convencido, apenas realista, e
saiba que não tenho orgulho em falar isso. Nenhuma
dessas garotas namoraria comigo por quem eu sou e sim
pelo que eu poderia oferecer a elas.
— Sua consciência me comove. — Benjamin apertou
o meu ombro e eu não soube dizer se ele estava sendo
sincero ou sarcástico. Acho que um pouco dos dois. —
Bom saber que você estava apenas fazendo uma
pegadinha com a gente, agora, vamos falar sobre uma
coisa bem séria. Nicholas nos chamou para a área VIP
daquela boate que inaugurou no mês passado. Vamos
sair depois da meia-noite, ok?
Benjamin ia se levantar, mas fui mais rápido e o
puxei pelo braço, fazendo-o cair de volta no sofá.
— Espera, idiota! Não estou fazendo pegadinha
nenhuma. Realmente arrumei uma namorada.
— Você tá mesmo falando sério? — Norah se
levantou, colocando as mãos na cintura. — Logan Miller
III, explica essa história agora!
— É o que estou tentando fazer, mas vocês não
calam a boca.
— Eu estou quieto no meu canto. — James ergueu
as mãos, antes de puxar Norah pelo braço e fazer com
que voltasse a se sentar ao seu lado. — Deixe o seu
irmão falar, baixinha, quero ouvir a fofoca com detalhes.
— É o seguinte. — Pensei em uma forma melhor de
falar, mas, como nada veio a minha cabeça, fui direto ao
ponto: — Pedi Valente... Avalon Banks em namoro.
— O quê? — James arregalou os olhos.
— Como assim, Logan?
— Você não disse que não ia com a cara dela? —
Benjamin esfregou minhas palavras na minha cara. —
Não me diga que conseguiu levar a garota para a cama e
ficou apaixonado?
— Duvido! Avalon não parece ser do tipo que vai
para a cama com qualquer um — Norah disse e eu
estreitei os olhos.
— Então quer dizer que eu sou qualquer um, na sua
opinião, irmãzinha?
— Você é mais rodado do que maçaneta e a Avalon
parece ser uma garota reservada, não acho que ela cairia
na sua lábia com facilidade. — A filha da mãe deu de
ombros, como se aquilo explicasse tudo.
— Porra, você sabe como acabar com a moral de
um homem, Norah — James resmungou.
— Até parece! No mundo machista em que a gente
vive, para vocês, ser pegador é motivo de orgulho,
enquanto para as mulheres, é motivo de vergonha. —
Como sabia que nós não tínhamos argumentos contra
aquilo, Norah continuou: — Agora explica direito essa
história, Logan.
Resolvi deixar de fora toda a história sobre a dívida
de Avalon, porque sabia que aquilo era muito pessoal, e
parti logo para a verdade:
— Vai ser um namoro de mentira.
Meus amigos e minha irmã voltaram se olhar, mas
ignorei a reação dos três e expliquei o meu plano. Deixei
bem claro que foi a insistência de Norah que me fez
enxergar aquela possibilidade e que Avalon era perfeita
para o papel, porque era uma das poucas meninas que
cagavam para a minha existência, sendo assim, não
confundiria as coisas. Os três ficaram boquiabertos
enquanto eu explicava que a mentirinha tinha prazo de
validade e que eu daria o meu sangue para mudar a
minha imagem durante aquele período — e não ter
nenhuma recaída quando tudo terminasse.
— E o que você fez para convencer Avalon a
aceitar? — Norah perguntou depois de longos segundos
de silêncio.
— Era isso que eu ia perguntar. Achei que a ruiva
não gostasse de você — Benjamin murmurou.
— Claro que ela gosta de mim, nós só implicamos
um com o outro — menti, sem querer admitir para
Benjamin que Avalon provavelmente me achava um
cuzão.
— Olha, eu nem sei o que dizer. — James sacudiu a
cabeça. Ele parecia um pouco apreensivo. — Acha que
isso vai dar certo, Logan?
— Claro que vai! Por que não daria?
— Porque mentira tem perna curta. E se alguém
descobrir? — Norah perguntou, aflita. — Você pode piorar
uma situação que já está ruim.
— O pior nem é isso. E se você começar a gostar
dela, cara? James acabou de encontrar a liberdade, não
quero que mais um amigo meu seja abatido!
— Porra, Ben! — Eu ri, dando um soco de leve em
seu ombro. — Olha pra mim, cara. Acha mesmo que eu
vou permitir que isso aconteça? Avalon e eu sequer
temos algo em comum, vai ser realmente uma
encenação.
Decidi deixar de fora o fato de que Valente não
parecia estar nem um pouco animada para passar
aqueles dois meses ao meu lado, fingindo ser a minha
namorada. A garota iria apenas tolerar a minha
presença, porque havia feito um acordo comigo e não
tinha mais como voltar atrás.
— Você fala como se fosse muito fácil mandar no
coração — Norah resmungou. — Só por causa disso,
espero que fique de quatro pela Avalon!
— Tá amarrado! — Fiz o sinal da Cruz, sem nem
saber se era aquilo mesmo que eu deveria fazer para me
livrar da praga jogada pela minha irmã. — Como minha
caçula, você deveria me desejar coisas boas, Norah!
— Só te desejo as melhores coisas, maninho. — A
filha da mãe me soprou um beijo. Ao seu lado, James
soltou um suspiro.
— E para o seu pai, Logan? Você vai contar a
verdade?
Eu havia pensado naquilo na noite passada, mas
rapidamente cheguei a uma conclusão.
— Não. Meu pai tem certeza de que eu vou
fracassar no futebol na próxima temporada, quero que
ele assista de camarote o meu triunfo, a começar pelo
fato de eu estar em um relacionamento sério.
— Você sabe que não vai ser tão simples, não é? Ele
vai querer conhecer a Avalon e a vovó também.
— E ele pareceu não ir com a cara da Avalon ontem
à noite — Benjamin relembrou.
— Não preciso que ele goste dela, só quero que veja
que eu estou mudando, apesar de não acreditar em mim.
— Dei de ombros, como se não me importasse com
aquilo, mas eu me importava, sim. Bem no fundo do meu
ser, eu me importava. — E então, posso contar com
vocês?
Foi Benjamin quem respondeu primeiro, passando
um braço pelos meus ombros.
— Até parece que a gente te deixaria sozinho,
idiota. — Ele sacudiu o meu cabelo com a mão livre. —
Mas tenho uma pergunta séria a fazer.
— Uma pergunta séria? Vindo de você? Eu duvido!
— disse James, recebendo o dedo do meio do Ben em
resposta.
— Pergunta logo — pedi, curioso.
— Como vai ser um namoro de mentira... Eu posso
investir na Avalon?
— Eu não acredito nisso. — Norah riu baixinho.
— A garota é linda, Norah, e tem atitude! Essas são
as melhores. — O idiota sorriu e eu senti vontade de dar
um soco naquela sua cara de prepotente. — E então?
Você não vai ficar chateado, vai? Não é como se eu
estivesse tentando furar o seu olho ou alguma merda
assim...
— Na verdade, é exatamente isso — falei, me
desvencilhando do seu braço e me levantando do sofá. —
Sei que é um namoro de mentira, mas a gente vai ter
que fingir na frente de todo mundo. Não quero que um
amigo meu toque na garota que eu vou ter que abraçar e
beijar.
— Você fala como se a gente nunca tivesse
compartilhado uma garota na vida. — Benjamin revirou
os olhos e eu senti vontade de apertar o seu pescoço.
Norah estava ali, pelo amor de Deus!
— Vocês são nojentos — ela resmungou. — Acho
que eu preciso arrumar um outro lugar para morar.
— Tire essa merda da cabeça, você fica aqui — falei
bem sério. Queria minha irmã perto de mim, onde eu
pudesse ficar de olho nela e espantar os babacas que
ainda tinham coragem de cercá-la. Não era como se eu
não quisesse que Norah vivesse, mas conhecia os
homens e não deixaria que um filho da puta brincasse
com os sentimentos dela. — E você — apontei para
Benjamin. — Tome cuidado com o que fala perto da
minha irmã, seu idiota do caralho!
— Ok, desculpa, Norah. — Ben ergueu as mãos,
parecendo sincero. — Mas eu não menti. Só queria saber
qual é a diferença entre ficar com a Avalon ou com
alguma garota que você também está pegando em uma
festa.
Senti minha mente travar por um segundo,
querendo encontrar uma resposta coerente para dar ao
filho da mãe. Nós realmente já dividimos algumas
garotas, a última vez, inclusive, tinha sido no seu quarto
na festa do James, mas eu sentia que aquilo era
diferente. Sexo casual era uma coisa, dar em cima de
Valente, alguém com quem eu teria que conviver pelos
próximos sessenta dias de forma mais íntima, era
completamente diferente.
— Não é óbvio? Não estamos falando sobre sexo,
Ben — James respondeu por mim.
— Também não estamos falando de um
relacionamento de verdade.
— Mas precisa parecer de verdade, sendo assim, é
melhor que você fique longe de Valente. — Apontei um
dedo para Benjamin, que voltou a erguer as mãos e me
deu um sorrisinho idiota.
— Tá bom, QB, não precisa ficar bravo comigo nem
dar um showzinho de ciúmes.
— Não estou com ciúmes!
— Hm, parece que você está, sim, com ciúmes da
Valente. — O idiota se levantou. — Mas tudo bem, eu vou
ficar na minha. Só quero saber se você vai à boate hoje à
noite. Pode ser a sua despedida de solteiro.
Era uma proposta tentadora. Apesar do entusiasmo
com todo o plano e a aceitação de Avalon, eu estava
ansioso pelo que iria acontecer nas próximas semanas,
como o namoro iria repercutir e, se fosse sincero comigo
mesmo, pela reação do meu pai.
— Logan não vai! — Norah respondeu por mim,
como se fosse a nossa mãe. Senti quando parou ao meu
lado e entrelaçou o braço no meu. — Não quer mudar de
postura? Comece agora! Se quer mesmo que as pessoas
acreditem nesse seu namoro com a Avalon, você não
pode ir para uma boate e sair beijando meia dúzia de
garotas como fazia até semana passada, Logan.
— Norah tem razão. — James disse, mas aquilo não
me surpreendeu. Ele implicava com a minha irmã, mas
sempre ficava ao seu lado em todas as discussões. —
Mudar a sua imagem vai muito além de arrumar uma
namorada, QB, você precisa mostrar isso para as pessoas
de forma individual, sem ter Avalon ao seu lado.
— Ou seja, zero festas, é isso? — Benjamin fez uma
careta, como se sentisse dor. — Logan, eu sinto muito
por você, de verdade.
— Não dificulte as coisas, Benjamin Ryan! — Norah
brigou com ele e Ben passou a ponta dos dedos unidos
na frente dos lábios, como se fosse um zíper.
— Tudo bem, não falo mais nada, mesmo assim...
Meus pêsames, amigo.
O idiota apertou o meu ombro e saiu da sala
correndo, fugindo do tapa que Norah ameaçou dar em
seu braço. Assim que ele sumiu das nossas vistas, minha
irmã tocou em meu rosto.
— Apesar de eu achar esse plano uma loucura,
estou feliz por ver que você está se esforçando para
mudar de atitude, irmão, também adorei o fato de ter
proposto o acordo para Avalon. Nós conversamos um
pouco na cozinha na quinta-feira e eu gostei muito dela.
Espero que dê tudo certo.
— Posso contar com você?
— É claro que sim! — Ela se esticou e deixou um
beijo estalado no meu rosto, antes de dar um tapinha em
meu ombro. — Só não faça nenhuma besteira, ok? Avalon
parece ser uma garota muito bacana, não seja um idiota
com ela.
— Eu jamais faria isso. — Ri, sem graça, porque a
verdade, era que eu vinha apenas sendo um idiota com
ela.
— Pode contar comigo também, seu maluco —
James riu, se levantando para apertar o meu ombro. — E
é óbvio que pode contar com Ben, acho que ele só
estava querendo te perturbar com toda aquela história
sobre a ruiva.
Ah, claro que sim. Como se eu não conhecesse
aquele filho da mãe. Benjamin era muito pior do que eu,
um pegador nato, mas eu sabia que ele não passaria por
cima da minha decisão. Podia ser um idiota safado, mas
era meu melhor amigo e eu confiava nele.
— Agora, vamos arquitetar os detalhes sobre esse
plano! Já pensou na história que vão contar para aqueles
que perguntarem como vocês se conheceram e
decidiram começar a namorar? — questionou Norah,
subitamente animada.
— Na verdade, não. Estava pensando em deixar
esses detalhes para depois.
— Depois quando? No final dos dois meses? Pelo
amor de Deus, Logan! Vamos planejar tudo agora!
Minha irmã me puxou de volta para o sofá e James
riu da minha cara de desespero, sabendo que eu não
conseguiria me livrar da minha caçula pelas próximas
horas.
Encarei o celular pela décima vez em menos de dois
minutos, esperando ansiosamente pela resposta de
Charles. O movimento no bar estava relativamente calmo
naquela noite de domingo, o que era ruim, pois me dava
mais tempo livre para ficar verificando as minhas
notificações de forma obcecada. Só queria que aquele
desgraçado me respondesse logo, nem que fosse com
um mísero “ok”, confirmando que me encontraria na
noite seguinte.
Não citei na mensagem que Logan iria comigo, pois
tinha receio de que Charles recusasse. Ele era o tipo de
homem que gostava de pegar uma mulher desprevenida
e, com certeza, ia exigir que eu fosse sozinha, ou não me
encontraria. Seria melhor pegá-lo de surpresa ao
aparecer com o quarterback, do que alertá-lo sobre eu
ter companhia.
Donovan chegou com um novo pedido — uma
rodada de cerveja e duas mimosas — e enfiei o celular no
bolso, decidida a distrair um pouco a minha mente.
Estava terminando de preparar os drinques, quando
percebi de relance uma mulher de cabelos castanhos
ocupar uma das banquetas na frente do bar. Eu teria
deixado de prestar atenção nela um segundo depois,
caso não a tivesse reconhecido de imediato. A taça
quase caiu da minha mão quando ela acenou para mim e
sorriu.
Norah Miller estava bem ali, com os cabelos longos
caídos pelas costas e ombros, usando uma blusa branca
de mangas longas, que parecia quase uma segunda pele.
Eu sorri de volta, mas com certeza não parecia tão feliz
ou ansiosa quanto ela. Estava surpresa, na verdade. O
que Norah estava fazendo ali? Coloquei as mimosas na
bandeja de Donovan, que já estava ocupada pelas
cervejas, e ele se afastou, me deixando completamente
desocupada, ou seja, livre para ir até a irmã de Logan e
colocar em prática a educação que minha mãe havia me
dado.
Sequei as mãos, subitamente suadas, na minha
calça jeans e me aproximei de Norah, vendo seu sorriso
se expandir um pouco mais. Ela e Logan eram parecidos
fisicamente em diversos aspectos, apesar de ela ser mais
baixa e seus olhos serem quase azuis.
— Avalon, como é bom te ver de novo! — Ela
esticou as mãos sobre o balcão e pegou as minhas,
dando um aperto entusiasmado. — Desculpa aparecer
assim no seu trabalho, espero não estar atrapalhando.
— É muito bom te ver de novo também, Norah...
Ela fez um gesto com a mão, me interrompendo.
— Não precisa fingir, vi que te assustei em aparecer
assim, mas eu juro que não vim aqui para te deixar sem
graça.
Norah era espontânea e eu acabei sorrindo de
verdade pela primeira vez desde que chegou. Aproximei-
me um pouco mais do balcão, ficando mais à vontade em
sua presença.
— Desculpa, eu que não quis te deixar sem graça —
falei, tendo uma ideia. — O que você gosta de beber?
Pode escolher o que quiser, será por minha conta.
— Não, nada disso!
— Eu faço questão, por favor.
Norah havia ido até ali para falar comigo, aquilo era
óbvio, e ela parecia ser uma garota muito legal, apesar
de ser irmã do QB irritante. Queria deixar claro que eu
não tinha nada contra ela.
— Tudo bem, pode ser uma mimosa. Vi você
preparando uma e fiquei com água na boca.
Concordei com a cabeça e me afastei para pegar
uma taça de champanhe, o espumante, suco de laranja e
um ramo de alecrim. Preparei o drinque e entreguei para
Norah, que soltou um gemidinho de prazer ao provar.
— Esse era o drinque favorito da minha mãe —
comentou, com um saudosismo no olhar que se
equiparava ao meu quando eu pensava em minha
própria mãe. — Sempre que posso, tomo um desses com
a minha avó. Hoje nós fomos tomar o café da manhã com
ela, e a Sra. Meredith Miller ficou brava por não poder
tomar uma mimosa em frente à piscina antes do almoço
— Nora riu baixinho e eu me lembrei que sua avó havia
passado por uma cirurgia.
— Que bom que ela já está em casa e se
recuperando.
— Sim, o problema é a fazer entender que não pode
exagerar. Minha avó é uma senhora muito ativa, ou seja,
ficar de repouso é um martírio para ela. — Norah deixou
a taça sobre o balcão e me olhou sem tirar o sorriso do
rosto. — A verdade, é que conforme ela vai
envelhecendo, parece que se torna uma criança de novo.
É divertido, mas preocupante. Vovó não tem limites.
— Nunca conheci a minha avó, mas imagino que
seja muito bom ter a sua por perto.
— É, sim. Os pais da minha mãe morreram quando
eu era bebê e não conheci o pai do meu pai, portanto,
minha avó paterna é a minha única referência. Agora que
somos as únicas mulheres da casa, costumo dizer que
somos nós duas contra o mundo, ou seja, contra os Miller
II e III. Esses dois só nos dão dor de cabeça, mas sinto
que isso vai mudar agora que tenho uma nova cunhada.
Norah piscou para mim e eu finalmente entendi o
motivo da sua aparição tão repentina. Olhei à minha
volta, só para garantir que eu ainda estava sozinha atrás
do balcão, e senti as minhas bochechas comicharem de
vergonha.
— Então, você já sabe — comentei baixinho depois
de limpar a garganta.
— Não só eu, mas James e Benjamin também.
Logan nos contou tudo ontem e preciso dizer que, no
início, fiquei chocada e achei uma loucura, mas agora eu
estou amando a ideia! — Norah só faltou bater palminhas
de entusiasmo, mas parou antes que chamasse a
atenção de todos os clientes do bar. — Como você está
se sentindo com tudo isso?
Fiquei surpresa por Norah se preocupar comigo.
Tendo o seu irmão como protagonista de toda aquela
confusão, pensei que seu foco estaria exclusivamente
nele, mas a caçula dos Miller parecia genuinamente
curiosa enquanto esperava a minha resposta.
— Ainda estou assimilando tudo. Acho que a ficha
ainda não caiu.
Aquela era a única verdade que eu sabia. Foi difícil
pegar no sono na noite anterior, tentando imaginar o que
aconteceria nos próximos dois meses. Nunca fui uma
pessoa muito intuitiva, mas algo me dizia que minha vida
mudaria para sempre e eu não gostava muito daquela
sensação. Depois de tudo o que havia enfrentado, a
insegurança e eu com certeza não éramos melhores
amigas, mas eu sabia que não tinha outra saída. Se
queria me livrar da dívida, precisaria me amarrar a Logan
pelos próximos sessenta dias.
— Eu entendo, sinto que meu irmão está do mesmo
jeito, por mais que não queira admitir.
— Tem certeza? Logan parecia muito seguro quando
me fez a proposta.
— Já falei que ele é bom em fingir, mas sei que no
fundo está ansioso e um pouco inseguro. Ontem eu
deixei claro para ele que podia contar comigo e decidi vir
até aqui para dizer o mesmo para você. Sei que nos
conhecemos há pouco tempo, mas quero que saiba que
estou ao seu lado, Avalon. Já que vamos ser falsas
cunhadas — ela sussurrou —, podemos ser amigas
também. Sem pressão, é claro.
Por mais incrível que pudesse parecer, eu me senti
tudo, menos pressionada. Norah parecia ser uma garota
calma, assim como eu, mas divertida e muito simpática.
Por mais que fosse irmã de Logan e que fossem muito
unidos — era o que eu presumia, já que moravam juntos
mesmo estando na faculdade, que é uma fase da vida
que muitas pessoas gostam de experimentar a liberdade
estando longe dos familiares —, ela não tinha obrigação
alguma de querer se aproximar de mim só porque seu
irmão e eu havíamos firmado um acordo.
Norah poderia ficar neutra perante tudo aquilo e
ajudar apenas Logan, mas estava ali comigo naquele
momento. Senti-me especial de certa forma, querida por
ela.
— Muito obrigada — pedi, segurando a sua mão por
cima do balcão, como fez comigo quando chegou. —
Será um prazer ter você ao meu lado nesse momento,
espero mesmo que sejamos amigas.
— Acha mesmo que eu vou te deixar depois que
esses dois meses terminarem? Garota, se a gente se
tornar amigas, você vai ter que me aturar para sempre!
— Ela sorriu e eu concordei com a cabeça, animada com
a perspectiva de, finalmente, ter uma amiga de verdade
no Alabama.

Despertei bem antes do alarme tocar e fiquei pelo


menos meia hora em frente ao meu guarda-roupa,
tentando escolher um look para aquele dia.
Normalmente, eu era rápida em fazer combinações, mas
o frio na barriga e o nervosismo pelo que iria acontecer
naquela manhã estavam me impedindo de raciocinar
com clareza. Como se chegar à faculdade com Logan não
fosse o bastante, Charles finalmente havia respondido a
minha mensagem no início da madrugada, confirmando
que poderia me encontrar hoje no início da noite.
Sentia que um ciclo estava prestes a se encerrar —
graça a Deus —, mas outro estava prestes a começar e
esse me amedrontava da mesma forma, apesar de ser
por um motivo completamente diferente. Vestindo a
minha carapuça de mulher forte, decidi parar de adiar o
inevitável e peguei a primeira saia que vi pela frente,
vermelha com estampa xadrez. Para deixar que apenas
ela desse o toque de cor no look, peguei um par de
meias pretas que terminava acima do meu joelho, um
cropped e uma jaqueta de couro — imitação, lógico — da
mesma cor. Nos pés, calcei um par de botas de cano
curto.
Meu cabelo não havia acordado no seu melhor
momento naquele dia, por isso, fiz um rabo de cavalo no
alto da cabeça e deixei algumas mechas soltas na frente
do rosto. Passei um batom nude, lápis de olho e máscara
de cílios, me olhando no espelho para ver o resultado.
Gostei. Ainda era eu e não parecia que eu tinha perdido
quarenta minutos tentando escolher uma roupa. Era
como se eu estivesse arrumada para um dia normal de
aulas.
— Uau! — Aubrey se aproximou de mim assim que
entrei na sala. — Meu Deus, você está muito gata!
— Por que está falando isso? Exagerei? Tá muito na
cara que eu me esforcei para ficar apresentável?
Estava na hora de admitir para mim mesma. Eu
estava insegura pra caralho. O palavrão era válido,
porque só ele podia demonstrar a intensidade do
sentimento que oprimia o meu peito. Logan mesmo havia
dito, assim que me conheceu, que eu era estranha por
conta da forma como me vestia. Já ele era um filho da
mãe muito gostoso, todo padrãozinho e se vestia de
forma que arrancava suspiro de quase todo mundo por
onde passava. O que iriam pensar quando nos vissem
juntos? “A estranha e o quarterback”, com certeza era o
que diriam. E olha que estranha era um adjetivo muito
comum perto dos insultos que poderiam proferir.
Já havia passado por aquilo no passado e o medo
fez com que eu me oprimisse até quase explodir. Não iria
mudar o meu estilo de forma alguma, mas isso não
queria dizer que eu era a garota mais segura do mundo.
No fundo, talvez eu estivesse bem longe de ser.
— Apresentável? Ava, você está incrível! — Aubrey
se aproximou de mim e tocou na correntinha de prata
que coloquei no pescoço. — Juro que não estou falando
isso apenas porque sou sua irmã. Estou sendo sincera.
Você está linda e Logan vai ser um sortudo por chegar na
faculdade com você ao lado dele.
— Tenho certeza de que vão pensar o contrário —
murmurei, já imaginando os olhares que iria receber das
meninas.
Odiava rivalidade feminina, mas ela existia e isso
era inegável. Com certeza, a maior parte das estudantes
me veria como inimiga apenas por estar de mãos dadas
com Logan. Quando saísse a notícia sobre o namoro, não
queria nem imaginar o que aconteceria.
— As meninas, talvez sim, mas os meninos? Só se
eles fossem cegos! — Aubrey deu um tapinha em minha
bunda e eu ri do seu entusiasmo. — Quero que você me
conte todos os detalhes quando chegar, entendeu? Não
ouse me esconder nada, Avalon Banks, ou juro que pego
o seu celular e peço para que Logan me conte.
— Você não teria coragem, nunca falou com ele
pessoalmente.
— Você sabe que eu teria coragem.
Revirei os olhos, porque sim, Aubrey teria coragem.
Ela era muito mais extrovertida do que eu e cara de pau,
também. Ainda me surpreendia o fato de não ter pedido
para que eu a apresentasse a Logan. Provavelmente, ela
estava apenas esperando a oportunidade perfeita para
me pressionar.
Tomamos café juntas e ela logo saiu para a escola.
Pedi para que tomasse cuidado e nem precisei falar o
porquê, já que agora estava ciente da minha dívida com
Charles. Até mesmo depois de quitar o que devia a ele,
eu ficaria ainda em alerta, pois não podia confiar cem por
cento na sua promessa de que me deixaria em paz.
Estava terminando de secar as xícaras que usamos,
quando meu celular anunciou uma nova mensagem.
Senti o frio voltar à minha barriga ao ver que era Logan
avisando que já estava me esperando lá embaixo. Avisei
que já estava saindo e peguei a minha bolsa sobre o
sofá, trancando tudo antes de descer as escadas. Havia
duas portas no fim dos degraus, uma levava direto ao
bar da Maeve e era a que eu mais utilizava a cada fim de
expediente e outra levava diretamente para a rua. Foi
essa que usei, sendo saudada pelo ar geladinho da
manhã, que me fez perceber que eu havia acertado ao
escolher a jaqueta.
Ao contrário do que eu esperava, Logan estava do
lado de fora do Audi, parado contra a porta do motorista.
Ele usava uma calça jeans de lavagem escura com o
caimento perfeito na cintura e, parecendo querer
combinar comigo, vestia uma blusa de manga comprida
na cor preta, que abraçava seu tórax e os braços
musculosos com perfeição. O cabelo estava meio
bagunçado, como sempre, e aqueles óculos no estilo
aviador me roubaram um pouco o fôlego. Por que ele
tinha que ser tão bonito? Eu sempre me perguntava isso
e acreditaria que nunca iria encontrar uma resposta.
Assim que percebeu que eu estava na calçada, ele
parou de mexer no celular e guardou o aparelho no
bolso, descendo os óculos escuros até a ponta do nariz
para poder me olhar lentamente de cima a baixo, sem
qualquer discrição. Não sabia dizer como me senti.
Nervosa, com certeza, com ainda mais frio na barriga,
mas o coração acelerado e as palmas das mãos suadas
me deixaram confusa. O olhar de Logan estava mexendo
comigo? Aquilo não podia ser possível. Querendo afastar
a sensação, encurtei a nossa distância e fiz de tudo para
mostrar que eu não estava nem um pouco abalada.
— Puta merda, Valente — Logan murmurou,
desencostando-se do carro e parando na minha frente.
Seus olhos estavam levemente arregalados e os lábios
entreabertos, como se estivesse sem palavras. — Você
está... Porra, eu nem sei dizer!
— Vou tentar levar isso como um elogio. — Apesar
de ter tentado soar sarcástica, minha voz saiu muito
baixa, o que não causou o efeito que eu esperava. Logan
tirou completamente os óculos e soltou um assobio.
— Isso é um elogio. Bem ruim, claro, mas é. Eu só
não consigo encontrar a palavra perfeita para te
descrever. Sinto muito. — Ele coçou a nuca e me deu um
sorriso de moleque que me deixou novamente sem
reação. — Só consigo pensar que sou um filho da mãe
muito sortudo. Nunca namorei antes e, a primeira vez
que decido fazer isso, é com uma gata com você.
— Isso não é um namoro de verdade, estrelinha
dourada, por isso, não precisa mentir. — Toquei em seu
queixo rapidamente, vendo-o arquear uma sobrancelha.
— Sei que não sou a garota mais bonita do campus e
você também sabe disso.
— Eu não sei de nada. Você não pode colocar
palavras na minha boca, Avalon.
— Não estou colocando palavras na sua boca, você
mesmo me chamou de estranha.
Meu Deus, por que eu estava batendo tanto naquela
tecla desde que abri os meus olhos naquela manhã?
Pensei que aquela insegurança toda já não fazia mais
parte de mim.
— Achei que já tivéssemos conversado sobre isso.
Eu estava bêbado e me esforçando para ser mais idiota
do que já sou normalmente. Por favor, Valente, não leve
as minhas palavras para o coração.
Pelo visto, seu pedido tinha vindo tarde demais,
mas decidi deixar aquilo de lado e focar no que
aconteceria naquela manhã. Quanto antes
começássemos aquela farsa, mais rápido ela iria
terminar.
— Podemos ir? Não quero chegar atrasada para a
primeira aula.
— A aula que nós fazemos juntos, não se esqueça.
Como eu poderia me esquecer? Foi justamente por
causa daquela aula que tivemos que começar a conviver.
Era inacreditável pensar que o anúncio do trabalho em
dupla da Sra. O’Born estava completando uma semana
hoje. Havia acontecido tanta coisa no último final de
semana, que parecia ter se passado um mês.
Logan destravou o carro e eu dei a volta para entrar
no lado do carona. O veículo tinha o mesmo cheiro do
dono, como se o quarterback se perfumasse ali dentro
todos os dias antes de ir para a faculdade.
— Fiquei sabendo que Norah veio aqui ontem à
noite — disse ele enquanto colocava o Audi em
movimento. — Juro que não fui eu que pedi para que ela
fizesse isso.
— Eu sei que não. Gosto da sua irmã.
— É mesmo? E de mim? — Sua sobrancelha estava
arqueada e um sorrisinho perturbado pintou os seus
lábios.
— Você eu apenas suporto — respondi, ouvindo a
sua gargalhada.
— Valente, acho que eu tenho um novo objetivo,
além, é claro, de mudar a minha imagem.
Logan ficou em silêncio por longos minutos e eu
suspirei, fingindo que não estava nem um pouco afetada
com tudo aquilo que estava acontecendo.
— E que objetivo é esse? — perguntei, pois sabia
que era por isso que ele estava esperando para poder
continuar.
— Fazer você gostar de mim. — Seus olhos se
encontraram com os meus e eu engoli em seco ao
perceber que estavam bem mais claros naquele dia. —
Até o final desses sessenta dias, nós seremos melhores
amigos!
— Sim, é claro — murmurei, sem acreditar. Logan
tocou o meu joelho e deu um aperto de leve, que fez com
que cada pelinho do meu corpo se arrepiasse. Que
porcaria estava acontecendo comigo?
— Estou falando sério. Eu fico obcecado quando
quero alguma coisa e não desisto até conseguir! Sou
assim com as minhas notas, com o futebol e, agora, serei
com você.
— Nós não podemos apenas cumprir o acordo e
depois cada um seguir a sua vida?
Era o mais seguro, com certeza. Logan era...
demais. Bonito demais, rico demais, popular demais e
obstinado demais, pelo que parecia. Eu estava fugindo
de qualquer pessoa que fosse tão intensa assim. Sua
mão continuou em meu joelho enquanto ele voltava a
falar:
— Valente, eu não sei o que aconteceu no seu
passado, não sei por que você precisou pegar dinheiro
com aquele filho da puta, sei menos ainda se alguém já
te machucou ou não, mas eu sei de uma coisa. — Seus
olhos encontraram os meus rapidamente e a intensidade
que vi neles me pegou completamente de surpresa. — Eu
sou o tipo de pessoa que não esquece o que fazem para
mim, seja algo bom ou ruim. Posso ser um babaca de vez
em quando e meter os pés pelas mãos, falar besteira, ser
um escroto, mas não sou ingrato. Quando nosso tempo
acabar, você vai continuar sendo importante na minha
vida e eu estarei ao seu lado sempre que precisar.
Todos os meus amigos haviam me virado as costas
quando mais precisei. Quando vi a necessidade de sair
de Los Angeles, ninguém me estendeu a mão, todos me
deixaram completamente sozinha, mesmo sabendo que
eu não tinha mais ninguém com quem contar e que tinha
uma irmã doente à tiracolo. Aquilo me fez aprender que
eu não precisava de ninguém ao meu lado, apenas de
Aubrey, e foi por ela que lutei. Por isso, não esperava que
minha garganta fosse ficar apertada ao ouvir o discurso
de Logan, principalmente porque eu tinha a convicção de
que ele era um cara mesquinho, mimado e egocêntrico,
que pensava apenas em si mesmo.
E se eu estivesse errada? E se Norah estivesse certa
em relação ao irmão e aquele ao meu lado fosse o
verdadeiro Logan e não o babaca que conheci semanas
atrás? Eu estaria disposta a abaixar a guarda e permitir
que ele se aproximasse verdadeiramente de mim?
Eu não sabia, ainda assim, tomei coragem e toquei
em sua mão por cima do meu joelho. Logan parou em um
sinal vermelho e me olhou com surpresa, com certeza
sem esperar pelo meu gesto.
— Obrigada — murmurei, engolindo o nó em minha
garganta.
Logan sorriu e puxou a minha mão até o seu rosto,
dando um beijo na palma, como fez na cafeteria.
— Nós somos uma dupla agora, Valente. Os dois
mosqueteiros, um por todos...
— E todos por um — completei, rindo baixinho e
sentindo o aperto em meu peito diminuir.
Quem diria que Logan Miller III ia me fazer rir em
uma manhã turbulenta como aquela.
Quem diria...
Avalon Banks, a garota mais dura na queda que eu
conhecia, estava, definitivamente, nervosa.
Não podia mentir, eu também havia acordado
nervoso naquela manhã. Na verdade, mal dormi. Depois
de uma noite turbulenta, acabei me levantando da cama
às cinco da manhã e decidi dar uma corrida pelas ruas
vazias, parando apenas para comtemplar o amanhecer
frio, com os raios de sol bem tímidos. Aquilo me acalmou
um pouco, junto com as lembranças da manhã passada.
Para a minha surpresa, meu pai decidiu não
levantar qualquer discussão à mesa de café da manhã,
provavelmente, em respeito ao estado da minha avó.
Não que a Sra. Meredith Miller estivesse frágil, pelo
contrário. Se eu não a tivesse acompanhado durante
todos aqueles dias no hospital, jamais diria que esteve
internada até o início daquela manhã. Minha avó era uma
mulher forte e que odiava ser paparicada, também nos
arrancava boas risadas ao contar as mesmas histórias de
sempre com o meu avô. Ela parecia ser a única capaz de
tirar a tensão entre mim e meu pai, pelo menos
enquanto estávamos em sua presença.
Foi bom passar aquela manhã e o início da tarde
com ela. Senti que parecia atenta demais a mim e
chegou a perguntar se eu estava escondendo alguma
coisa, mas desconversei, pois não queria falar sobre o
namoro naquele momento. Queria que meu pai
descobrisse ao mesmo tempo em que todo mundo, para
que a surpresa fosse maior. Sabia que ele ia me exigir
explicações sobre o relacionamento, mas deixaria para
me preocupar com isso depois.
Precisava, primeiramente, fazer o plano dar certo
agora, então, daria atenção para uma coisa de cada vez.
Norah me ajudou a pensar em alguns detalhes e
deixar a história sobre o namoro mais crível e eu
conversaria sobre isso com Valente depois. No momento,
só precisávamos chegar juntos ao campus e mostrar a
todos que alguma coisa estava acontecendo entre nós
dois.
Eu já havia ficado com muitas meninas da
faculdade. Em festas universitárias, era praticamente
impossível isso não acontecer, mas nunca andei de mãos
dadas com qualquer uma delas, muito menos cheguei
acompanhado para um dia normal de aula. Sabia que os
olhos de todo mundo estariam sobre nós dois,
principalmente quando Avalon e eu chegássemos juntos
nos próximos dias. Logo começariam a especular sobre
um relacionamento e não apenas um caso passageiro. E
era exatamente isso que eu queria.
Estacionei o carro e olhei para a garota ao meu
lado, percebendo que parecia estar mais calma do que
quando a peguei em casa. Avalon ainda estava
levemente pálida, mas forçou um sorriso quando olhou
em meus olhos.
— Ok. Vamos fazer isso — sussurrou mais para si
mesma do que para mim.
— Vai ser moleza, Valente. Confio no seu talento de
atriz, afinal, todo dia você se esforça um pouco mais para
fingir que me odeia.
Surpreendendo-me, Avalon soltou uma risada que
fez com que o meu coração batesse mais rápido no peito.
Porra, eu gostava do sorriso dela, principalmente quando
era espontâneo.
— Eu não finjo, estrelinha dourada.
— Então quer dizer que você ainda me odeia de
verdade? Avalon, nunca pensei que você fosse tão
rancorosa.
— Vai dizer que você passou a gostar de mim? —
perguntou, desconfiada.
Eu precisei parar por um momento para pensar
naquilo. Sim, no início, eu realmente não fui com a cara
dela, a achei intrometida — afinal, a garota estava dentro
do meu quarto —, debochada e mal-humorada demais,
no entanto, aquela minha percepção foi mudando aos
poucos, principalmente depois do tempo que passamos
juntos em meu quarto. Avalon ainda era debochada e
levemente mal-humorada, mas não parecia ser tão
insuportável quanto eu achei que era.
— Acho que sim — respondi com sinceridade. — Se
eu não gostasse de você, Avalon, não teria feito a
proposta sobre o namoro falso.
— Achei que você tinha feito a proposta para mim,
porque era conveniente.
— Sim, também foi por causa disso. — Eu não
poderia mentir, foi conveniente, mas não foi apenas por
isso. — Mas foi também pelo fato de você ser diferente
de qualquer outra garota que já conheci e, antes que
pense que estou falando sobre o seu jeito de se vestir e
se comportar, saiba que não foi por isso. Foi porque você
é intrigante e inteligente. E porque eu acho que não vai
se apaixonar por mim no final dos dois meses.
Foi bom colocar aquilo para fora, cheguei até a me
sentir mais leve. Avalon me encarou com as
sobrancelhas arqueadas e voltou a rir.
— Você é tão convencido, Logan! Acha mesmo que
qualquer garota se apaixonaria por você só por estarem
em um namoro falso?
— Sim, eu acho, mas juro que não estou falando
isso porque sou convencido. — Ela me olhou como se
dissesse que nem eu mesmo acreditava nisso e eu bufei.
— Ok, posso ser um pouco convencido, mas estou
falando a verdade. Muitas meninas vivem correndo atrás
de mim. Diferente de você, elas me adoram, então, sim,
eu acredito que poderiam confundir as coisas ou pior,
fingir que confundiram para tentar mudar o status da
nossa relação.
— Meu Deus, por que essas meninas se humilham
por tão pouco?
— Puta merda, Avalon! Eu preciso andar com um
colete à prova de balas ao seu lado — falei,
massageando o meu peito como se sentisse dor. A filha
da mãe apenas riu.
— Desculpa, não quis desmerecer você, apesar de
você não ser grande coisa. — Percebi que estava
brincando apenas pelo brilho dos seus olhos, o que me
fez sorrir. Avalon estava abaixando a guarda perto de
mim? Aquilo era bom demais para ser verdade. — O que
eu quis dizer, é que tem algumas meninas que aceitam
passar por qualquer tipo de humilhação apenas para
namorarem um cara popular. Acho isso uma idiotice
tremenda.
— Concordo. Por isso que eu fujo delas.
— Não, você foge delas porque é um safado que
quer pegar todas ao mesmo tempo.
— Não ao mesmo tempo, eu tenho apenas um pau,
não uma máquina de fazer sexo. — As bochechas de
Avalon ficaram vermelhas e eu ri alto. — Você fica tão
bonitinha quando está com vergonha, Valente.
— Não estou com vergonha! — Ela fechou a cara e
desviou os olhos dos meus, ocupando-se de destravar o
cinto de segurança.
— Sim, você está, e isso é bem fofo.
— Eu não tenho nada de fofa. Cala a boca, Logan
terceiro.
— Você é fofa sim, mesmo sendo gótica.
— Também não sou gótica! Logan, por favor, pode
parar de me irritar? Ou vou sair desse carro e deixar você
andar sozinho pelo campus!
Ergui as mãos em rendição e pressionei os lábios
um contra o outro para impedir que o sorriso voltasse a
crescer em meu rosto. Avalon bufou baixinho e abriu a
porta, o que me fez sair correndo também, pois senti
medo de que a doida cumprisse com a sua promessa e
saísse correndo sem me esperar. Ela deu a volta e parou
ao meu lado, observando que o estacionamento do
campus de Direito estava movimentado. Vi alguns
olhares sobre nós dois e tomei a sua mão, puxando-a
levemente para perto de mim. Parei na sua frente e
toquei nos fios de cabelo que estavam soltos na lateral
do seu rosto, sentindo o seu corpo tenso.
— Relaxa, Valente — sussurrei, olhando em seus
olhos.
— Estou relaxada — respondeu, soltando um suspiro
e liberando a tensão dos ombros. — Esquecemos de
planejar o nosso modo de agir. Estou perdida.
— Você poderia me dar um beijo, o que acha? Só
para começarmos com o pé direito.
— Há-há! Vai sonhando, estrelinha dourada —
debochou, me fazendo rir. Para a minha surpresa, Avalon
subiu com as mãos pelo meu peitoral até chegar em
meus ombros. Seu toque quase me fez estremecer,
provavelmente porque foi inesperado. Quantas garotas já
haviam me tocado daquele mesmo jeito e eu nunca senti
nada parecido? — Assim está bom?
— Ficaria melhor se eu estivesse sem camisa...
— Queria te dar um tapa agora — ela disse
entredentes, mas forçou um sorriso. Logo percebi que
era porque duas garotas estavam passando ao nosso
lado e nos olhando com muito interesse, enquanto
sussurravam uma para a outra. — Pare de ficar soltando
essas piadinhas com cunho sexual.
— Era só para te fazer rir, Valente.
Pousei minhas mãos em sua cintura e fechei
completamente a nossa distância, ouvindo o seu suspiro.
O cheiro do seu perfume me deixou levemente
desnorteado, enquanto meu cérebro registrava cada
detalhe do seu corpo colado ao meu. Avalon era pelo
menos trinta centímetros mais baixa do que eu, mas as
botas que usava a deixavam um pouquinho mais alta,
fazendo a sua cabeça bater em meu peitoral. Ela
precisou erguer a cabeça para me olhar e eu senti algo
me puxar em sua direção.
Percebi, bem naquele momento, que eu queria
beijar aquela garota. E não tinha nada a ver com a
encenação sobre o nosso namoro.
A reação me deixou estático pelo que poderia ser
um ano inteiro, preso nos olhos castanhos de Valente,
que me olhava com a boca levemente entreaberta e a
respiração superficial. Ela estaria sentindo o mesmo que
eu? Se sim, surtaria se eu colocasse aquele lábio inferior
grosso entre os meus dentes? Puta merda, eu estava
enlouquecendo.
— Logan... Acho melhor a gente ir, já chamamos
atenção o suficiente e nem andamos pelo campus ainda.
Eu, que sempre me vangloriei por agir de forma
racional perto de uma garota, percebi naquele momento
que Avalon era a voz da razão entre nós dois. O que
estava acontecendo comigo, porra? Bastou tocar na
garota e eu quase perdi a cabeça. Limpando a garganta,
me obriguei a voltar a pensar com clareza e dei um
passo para trás, tomando a sua mão na minha. Percebi
que Avalon tinha razão, muitas pessoas olhavam para
nós dois agora, como se fôssemos a atração de um circo.
Será que elas haviam percebido que eu perdi o
controle por alguns segundos? Se sim, esperava que pelo
menos isso ajudasse no nosso plano e eu parecesse um
cara perdidamente apaixonado por Avalon. Não que eu
estivesse apaixonado, pois logicamente não estava, mas
se achassem que sim, eu estaria no lucro.
De dedos entrelaçados, Valente e eu começamos a
andar pelo campus. Ela parecia focada, olhando apenas
para frente, enquanto eu observava discretamente a
nossa volta enquanto nos dirigíamos ao prédio de Direito.
Acenei de volta para alguns conhecidos que me
cumprimentaram de longe e puxei Avalon para mais
perto, soltando a sua mão para poder passar meu braço
pelo seu ombro. Sussurrei em seu ouvido:
— Acho que está dando certo, ninguém tira os olhos
da gente. Somos a sensação do momento, Valente.
Ela se virou em minha direção e me deu um sorriso
de garota apaixonada que fez o meu estômago ficar
esquisito.
— E você nem precisou me beijar. Acho que vamos
conseguir levar a farsa do namoro só andando de mãos
dadas. — A filha da mãe acariciou o meu rosto sem
deixar de sorrir. — Amorzinho.
Eu quis gargalhar, mas me segurei, voltando a me
inclinar para sussurrar em seu ouvido:
— Amorzinho? Esse apelido é muito brochante. Eu
te chamo pelo título de um filme da Disney e é só isso
que recebo?
— Posso te chamar de Shrek, o que acha? Você foi
um ogro quando nos conhecemos.
Tirei meu braço do seu ombro e enlacei a sua
cintura, apertando a lateral do seu corpo entre os meus
dedos. Avalon soltou um gritinho de susto e eu aproveitei
o momento para dar um beijo estalado no seu rosto,
dando um espetáculo para quem parava para nos
observar.
— Ok, eu aceito se puder te chamar de Fiona. Vocês
duas são ruivas mesmo, e a Fiona é a esposa do Shrek...
Ela apertou levemente o meu pescoço e se esticou
na ponta dos pés. Poderia jurar que iria me dar um beijo
na boca, mas a danada desviou o rosto e sussurrou em
meu ouvido:
— Mas eu não vou me tornar a sua esposa, então,
prefiro que continue me chamando de Valente, QB.
Avalon deu um passo para trás e voltou a pegar a
minha mão, começando a entrar no prédio. Eu fui logo
atrás dela, rindo para mim mesmo enquanto a observava
e entrelaçava os nossos dedos. Valente era como uma
incógnita para mim e eu estava louco para desvendar
cada um dos seus segredos.

Ouvi o apito do treinador Coben encerrando o


aquecimento e aproveitei para secar o suor que escorria
pela minha testa e quase entrava em meus olhos. Apesar
de o sol estar fraco naquele dia, qualquer treino em
campo causava a sensação de estar dentro de uma
sauna. O treinador jogou a bola para mim e a peguei no
ar um segundo depois, logo ouvindo as suas instruções.
— Logan, quero que treine aquele novo passe com
James no centro do campo. — Concordei com a cabeça e
o treinador se virou para os outros jogadores: —
Benjamin, quero que treine a corrida com Liam...
James e eu nos afastamos do pessoal e começamos
um leve aquecimento, passando a bola um para o outro,
antes de começar o treino do passe. Sentia que o filho da
mãe estava louco para falar alguma coisa comigo, por
isso, não me surpreendi quando deu um passo para mais
perto de mim e comentou baixo:
— Cara, não se fala de outra coisa no campus. Você
e a ruiva são o assunto de todos os grupinhos de fofoca!
Sorri, mas joguei a bola mais forte em sua direção,
vendo-o franzir o cenho.
— O nome dela é Avalon, babaca. Nada de apelidos
com a minha garota.
— Sua garota? — Sua sobrancelha se arqueou e eu
revirei os olhos.
— É só modo de falar.
— Será mesmo?
— Claro que sim, decidi que vou entrar de cabeça
no papel de namorado perfeito, então, mesmo longe de
Avalon, vou agir como se fôssemos um casal.
James riu alto e eu fechei a cara, dando uma olhada
a nossa volta. Por sorte, todo mundo estava entretido
com o treino e Coben olhava atentamente o cronômetro
em sua mão, provavelmente, contando o tempo que
Benjamin estava levando para correr pelo campo. Como
running back, a principal função do meu amigo era
cruzar o gramado com a bola nas mãos no menor tempo
possível, passando entre os nossos adversários.
— Entrar de cabeça? No sentindo literal? —
perguntou James, me passando a bola. — Eu observei de
longe a interação de vocês... Pode mentir o quanto
quiser, mas sei que está a fim da Valente.
— Avalon, James! Não ouse roubar o apelido que dei
para ela! — Passei a bola mais forte. Ok, talvez sobre o
apelido, eu fosse mesmo possessivo, mas era porque
aquela porra era algo pessoal entre mim e Avalon. — E o
nosso acordo não envolve sexo.
— Você esqueceu de mencionar essa parte, mas
imagino que essa tenha sido uma exigência da ruiva. —
O babaca sorriu, levemente ofegante, ao ver o meu olhar.
— Desculpa, Avalon.
— Não foi uma exigência apenas dela, nós entramos
em comum acordo sobre isso.
James continuou a sorrir e esperou recuperar a bola
para voltar a falar:
— Você nem percebeu, não é? — Jogou a bola para
mim.
— Não percebi o quê? — Joguei a bola para ele.
— Você não negou, QB. — Ele segurou a bola e
abriu ainda mais o sorriso. — Não negou o que eu disse
sobre estar a fim de Avalon.
Abri a boca para retrucar, mas logo percebi que era
verdade. Eu não neguei. Porra! James gargalhou e
manteve a bola nas mãos, porque sabia que eu a jogaria
com força em sua direção se ela estivesse comigo.
Babaca esperto!
— O que é isso? Um treino ou uma aula de
educação física, para os dois amiguinhos estarem
fofocando no meio do campo? — A voz do treinador
Coben fez James parar de sorrir na hora. — Comecem a
treinar de verdade agora, ou vou mandar os dois para o
banco!
James jogou a bola em minha direção e eu a agarrei,
decidido a focar apenas no treino e não mais na ruiva
gostosa que quase me fez perder a cabeça naquela
manhã.
Aubrey não me deixou em paz enquanto não me
sentei ao seu lado no sofá e contei tudo o que havia
acontecido naquela manhã. A pestinha só faltou tentar
entrar na minha cabeça e acessar a minha memória para
poder ver tudo como se fosse um episódio da sua série
favorita, exigindo cada mínimo detalhe. Enquanto
contava tudo para ela, comecei a reviver cada cena louca
na minha cabeça, sentindo novamente o meu coração
disparar, principalmente quando me lembrei da forma
como Logan me segurou no estacionamento.
Não queria admitir — e não iria mesmo, pois nem
para a minha irmã eu contei sobre aquilo —, mas me
senti afetada pelo olhar e o toque do quarterback. De
forma consciente, eu sabia que tinha pessoas a nossa
volta, observando tudo, e que Logan estava agindo
daquela forma justamente para que elas vissem, mas
meu coração idiota, que de uma hora para a outra
decidiu romper laços com qualquer veia racional do meu
corpo, pareceu se esquecer de tudo aquilo e disparou
feito um louco, me deixando com a boca seca e
momentaneamente sem reação.
Fiquei com aquela cena na cabeça durante toda a
manhã, tentando entender o que diabos havia
acontecido comigo para ficar daquele jeito só porque
Logan me abraçou e colou o seu corpo enorme, largo,
musculoso e cheiroso no meu. Só podia ser carência. Eu
estava há tanto tempo sem receber atenção masculina,
que meus hormônios entraram em ebulição por conta de
um mísero toque e olhar.
Briguei comigo mesma no final das aulas, decidida a
ser mais forte. Se no primeiro dia de farsa eu já estava
daquele jeito, o que aconteceria em dois meses? Eu não
podia ficar derretida a cada vez que o quarterback se
aproximasse ou me tocasse. Precisava lembrar a mim
mesma que o que havia entre nós dois era um acordo,
com regras bem-definidas, e que o meu corpo carente e
o meu coração idiota não tinham espaço naquela
equação.
Logan havia deixado bem claro que me escolheu
porque sabia que eu não sentiria nada por ele no final
dos sessenta dias e tinha toda razão. Eu realmente não
nutriria nada por ele, talvez algo parecido com amizade,
nada além disso.
— Já tem alguns comentários sobre vocês dois no
Twitter! — Aubrey disse depois que eu saí do banho.
Entrei em meu quarto para poder pentear o cabelo e
minha irmã veio logo atrás, se jogando na minha cama
para mexer no celular. — Não é nada de mais, só estão
falando que Logan foi visto com uma estudante de
Direito no campus, mas parece que ainda não estão
colocando fé de que pode ser um relacionamento sério.
Realmente, a fama de pegador do quarterback não dá
muita margem para que as pessoas comecem a acreditar
que ele está namorando.
— Será que vão demorar muito para acreditar? —
questionei mais para mim mesma do que para Aubrey,
mas minha irmã logo respondeu:
— Se em dois meses vocês não conseguirem fazer
com que esse povo fofoqueiro acredite que estão
namorando, então, Logan não tem mais salvação.
Aubrey tinha razão. Logan nunca foi visto com uma
mesma garota por mais de uma vez, quando
percebessem que ele estava “saindo exclusivamente”
comigo, logo começariam a suspeitar de que eu era mais
do que uma ficante do jogador.
— Citaram o meu nome? — Aquela era uma outra
preocupação que eu tinha, apesar de saber que seria
inevitável descobrirem a minha identidade.
— Ainda não, mas acredito que devem citar em
breve. — Aubrey deixou o celular de lado e sorriu para
mim. — Estou animada para ver o desenrolar desse
romance!
— Não existe romance algum, Aubrey — falei, me
virando para o espelho de corpo todo que ficava na porta
do meu guarda-roupa e começando a pentear o meu
cabelo.
— Eu sei, sua chata, mas não quero falar “falso
romance”, porque fica muito sem graça.
Eu revirei os olhos, rindo do seu entusiasmo. Aubrey
com certeza achava que aquele meu acordo com Logan
era uma espécie de série da Netflix ou as fanfics que lia
pelo celular, mas iria se decepcionar ao final dos dois
meses. Logan e eu iríamos nos separar e cada um
seguiria para um lado.
Esse seria o desfecho e era melhor que minha irmã
se acostumasse logo com a realidade.

Pedi para que Cindy trocasse a sua folga comigo no


bar, para que eu tivesse a noite livre para poder resolver
de uma vez por todas aquela situação com Charles. Ela
aceitou prontamente e eu esperei com ansiedade pela
chegada de Logan, quase roendo o esmalte vermelho
que havia usado para pintar as unhas naquela tarde. O
quarterback chegou em cima do horário marcado e saiu
do carro assim que estacionou em frente ao bar, me
dando um olhar culpado.
— Desculpa! O treinador Coben comeu o nosso rabo
no treino de hoje e acabei saindo tarde do centro de
treinamento. Só tive tempo de tomar um banho em casa
e colocar uma outra roupa.
Não queria admitir — pelo visto, eu não queria
admitir um milhão de coisas naquele dia —, mas achei
fofa a forma como Logan parecia desesperado para se
desculpar pelo quase atraso. Para tranquilizá-lo, toquei
em sua mão rapidamente, vendo certa surpresa no seu
olhar.
— Tudo bem, não se preocupe. Vamos?
— Sim, vamos.
Dei a volta e entrei em seu Audi novamente, vendo
Logan ocupar o lugar do motorista e apontar para o
banco de trás. Meu estômago embrulhou ao ver uma
maleta preta parcialmente iluminada pelas luzes que
vinham da rua.
— Peguei o dinheiro hoje à tarde, antes do treino.
Tem cinquenta e cinco mil ao todo.
— O quê? Logan, eu disse que a dívida era de
cinquenta mil.
— Eu sei, mas achei melhor colocar uma quantia a
mais, assim, o filho da puta não vai poder voltar
querendo te cobrar mais alguma coisa.
Sacudi a cabeça, pensando seriamente em pular
para o banco de trás e tirar os cinco mil a mais de dentro
da maleta.
— Você não vai fazer isso, sério. Quando estacionar
o carro, vou pegar a maleta e...
— Não. — Logan me deu um olhar sério e eu não
recuei, olhando-o de volta. — Avalon, não quero que
aquele filho da puta volte a te perturbar, ameaçando
você e a sua irmã.
— Se der dinheiro a mais, Charles vai pensar o
contrário, Logan. Ele vai querer voltar a me ameaçar,
porque pode achar que você é uma mina de dinheiro,
que vai engordar os bolsos dele para evitar que alguma
coisa aconteça comigo ou com a minha irmã.
— Ele não vai fazer isso. — Logan me deu um olhar
muito confiante, como se soubesse de algo que eu não
sabia. — Confie em mim, Valente.
Não consegui retrucar e decidi concordar com a
cabeça, mesmo estando contrariada. Logan dirigiu até
uma área afastada do centro da cidade, chegando a um
bairro que era conhecido por ter prédios industriais e
pouca área residencial, por isso, sempre ficava mais
deserto à noite. Charles havia marcado conosco em uma
rua sem-saída, entre dois prédios antigos. Senti as
palmas das minhas mãos ficarem suadas quando
chegamos ao nosso destino e vi o carro do babaca
estacionado ao final da pequena rua.
— Quer que eu vá sozinho? — Logan perguntou,
ainda com o motor do carro ligado.
— Não. Quero olhar nos dele e deixar bem claro que
não devo mais nada e que nunca mais quero que
atravesse o meu caminho.
— É isso aí, Valente. — O quarterback apertou a
minha mão por alguns segundos e logo se virou para
pegar a maleta, colocando-a em meu colo. — É você
quem deve dar isso a ele. Deixe bem claro que quem
está pagando essa dívida, é você.
— Obrigada por me deixar fingir — pedi com
sinceridade.
— Fingir? Você não está fingindo nada, Avalon,
realmente está pagando a dívida.
— Nós dois sabemos que não estou, esse dinheiro é
seu.
— Não estou te dando esse dinheiro, nós temos um
acordo, esqueceu? Não é como se você não estivesse
fazendo nada para estar com essa maleta em mãos.
Eu queria contra-argumentar, mas o brilho dos
faróis do carro de Charles acendendo e apagando me fez
lembrar que paciência não era muito o forte daquele
babaca. Logan desligou o motor do Audi e saiu do
veículo, batendo a porta com pouca suavidade. Eu
respirei fundo e logo repeti o seu gesto, sentindo o ar
mais gelado da noite atingir a pele do meu rosto como se
fosse agulhas afiadas. O jogador logo parou ao meu lado
e tocou em minhas costas, me guiando até onde Charles
estava parado, em frente ao carro que, agora, estava
com os faróis apagados.
— Achei que ficariam escondidos para sempre —
disse ele com a voz pingando sarcasmo e me dando
vontade de vomitar.
Seus olhos foram diretos para a maleta que eu
segurava e um sorriso nojento se abriu em seus lábios,
revelando dentes muito brancos. Charles deu um passo
para frente, mas parou quando Logan avançou também,
segurando a minha cintura e me posicionando atrás do
seu corpo.
— Sem chegar perto dela. Creio que a gente
consiga resolver rapidamente toda essa situação sem
que você se aproxime.
— Pose de macho alfa... — Charles não tirou o
sorriso do rosto e olhou para mim por cima do ombro de
Logan. — Interessante como você tem um perfil definido
para homens, não é, Avalon? Deve ser por isso que
nunca deu muita bola para mim. Você gosta dos
populares.
Meu estômago se embrulhou ainda mais ao ouvir
aquilo e eu retesei, apertando com tanta força a alça da
maleta, que os nós dos meus dedos ficaram dormentes.
Senti os músculos das costas de Logan ficarem mais
rígidos e sua mão em minha cintura me apertou de forma
pouco casual, quase protetora.
— Chega dessa merda!
— Não, garoto, eu digo quando essa merda acaba —
Charles retrucou e eu fiquei com medo de que resolvesse
partir para a violência de repente.
— Logan, por favor... Vamos só entregar a maleta
para ele e ir embora — pedi, tentando sair de trás do seu
corpo, mas ele não deixou, me segurando de forma
firme.
— Acho que você não deve saber quem eu sou, não
é? — Logan questionou para Charles, que riu com
desdém.
— Na verdade, eu sei, sim. Você é o quarterback do
Crimson Tide. Posso não ter nascido no Alabama, mas o
seu time é famoso por todo o país.
— Eu sou mais do que isso, Charles Gardner, ou
deveria te chamar de Alfred Dickson? — Fiquei surpresa
quando vi o sorriso de Charles desaparecer. — O que foi?
Não esperava que eu soubesse a sua verdadeira
identidade?
— Como que você...
— Como eu descobri? Você deve saber que um
homem nunca revela os seus segredos, afinal, você é
dono de tantos, não é mesmo? — Logan parecia sorrir e
eu senti o meu coração bater mais rápido. O que estava
acontecendo ali? — Você pode se esconder da gangue da
qual fugiu do Bronx, em Nova York, mas jamais
conseguiria se esconder de alguém que tem contatos tão
poderosos quanto eu. Sabe o que isso significa, Alfred?
Que, se eu quiser, posso dar a sua falsa identidade para
Bob Bray com um telefonema. Acho que não é isso que
você quer, certo?
Quem era Bob Bray? Charles havia nascido em Nova
York? Como Logan sabia de tudo aquilo? O agiota deu um
passo para trás, assustado e muito pálido, olhando
atentamente para o início da rua, como se estivesse com
medo de que alguém fosse aparecer de repente.
— Só me dá logo a minha grana e vamos esquecer
tudo isso.
— Como é? Desculpa, eu não ouvi direito — Logan
debochou e eu dei um beliscão em sua cintura para que
parasse. Ele sequer se moveu.
— Eu quero a minha grana e prometo nunca mais
aparecer no caminho da sua garota, contanto que você
permaneça de boca fechada, jogador! ­— Charles
levantou a bainha da camisa preta que usava e o meu
coração parou na boca ao ver a pistola escondida no cós
da sua calça jeans.
— Meu Deus, Logan...
— Pessoas de confiança sabem que Avalon e eu
estamos aqui com você. Se não voltarmos em meia hora,
elas têm a minha permissão para entregar a sua
localização e o seu novo nome para Bob Bray. Vai querer
mesmo arriscar? — Logan apertou mais firme a minha
cintura, quase fundindo a frente do meu corpo com as
suas costas musculosas.
— Fique tranquilo, não vou fazer nada, só queria
mostrar que não estou aqui para batermos papo. Quero a
porra do meu dinheiro. Agora!
Eu sequer pensei, apenas tive o ímpeto de jogar a
maleta no chão e chutar na direção de Charles, que se
abaixou rapidamente e a pegou, colocando-a sobre o
capô do carro para poder destravá-la.
— Tem cinquenta e cinco mil dólares aí, Charles!
Não ouse chegar perto de mim ou da minha irmã outra
vez, entendeu? Ou Logan vai cumprir com o que acabou
de falar aqui.
Eu não fazia ideia do que tudo aquilo significava,
mas, se havia afetado Charles daquele jeito, era porque
era alguma coisa muito séria. Ele deu uma olhada no
dinheiro e pegou um bolo de notas, cheirando
profundamente, antes de voltar a guardar e fechar a
maleta com clique.
— Tudo certo, dou a minha palavra de que nunca
mais vamos nos ver de novo, Avalon.
Como se a sua palavra valesse de alguma coisa,
mas como era a única garantia que eu tinha, não podia
fazer nada além de torcer para que não voltasse atrás.
Seu olhar cheio de raiva fitou a mim e a Logan por mais
alguns segundos, antes de ele entrar no carro e o ronco
do motor romper o silêncio da rua vazia. Ele logo sumiu
das nossas vistas e eu finalmente pude respirar aliviada,
sentindo um tremor intenso nas pernas, que ameaçava
me derrubar. Como se sentisse que eu mal conseguia
ficar de pé, Logan se virou e me abraçou com força,
passando a mão aberta pelas minhas costas.
— Acabou, Valente — sussurrou contra o meu
cabelo. Não esperava que o seu carinho repentino fosse
me deixar com os olhos cheios de lágrimas, mas
aconteceu. — Esse filho da puta não vai chegar perto de
você nunca mais.
Apertei os olhos com força e cerquei a cintura de
Logan com os braços, sentindo o meu coração esmurrar
a minha caixa torácica. O jogador não parou com a
carícia em minhas costas em momento algum,
parecendo pronto e alerta para me segurar, caso eu
caísse.
— Obrigada — pedi abafado contra o seu peito, mas
Logan pareceu ouvir. — Muito obrigada, Logan. Do fundo
do meu coração. Eu juro que nunca vou esquecer o que
fez por mim.
Ia muito além do dinheiro. De alguma forma, Logan
havia descoberto algo importante sobre Charles, que o
havia amedrontado e o feito recuar de verdade. Pagar a
dívida era a única opção que eu tinha para me ver livre
daquele bandido, mas certamente não me deixaria
completamente segura. Nada poderia o impedir de voltar
atrás de mim, exigindo mais dinheiro ou tentando colocar
a vida da minha irmã em risco, já que sabia que Aubrey
era o meu calcanhar de Aquiles.
Logan havia colocado realmente um ponto-final
naquela chantagem. Eu não sabia como nem por que
havia perdido o seu tempo tentando achar algo contra
Charles, mas agradecia profundamente e me sentia um
pouco envergonhada, também.
Logan não era só mais um jogador riquinho e
metido, também não era totalmente arrogante e
egocêntrico. Ele era uma boa pessoa, com um coração
bom. Era o Logan que Norah havia descrito para mim.
Pela primeira vez desde que invadi o seu quarto naquela
festa, eu me senti verdadeiramente grata por ter a sua
presença em minha vida.
Eu estava dirigindo há pouco mais de dez minutos,
mas jurava que ainda podia sentir o corpo trêmulo de
Avalon colado ao meu enquanto a abraçava. Por um
momento, achei que a garota valente que eu conhecia
iria se desfazer bem ali, na minha frente, e senti uma
necessidade ainda maior de tomá-la para mim e
assegurar que estava segura. Ficamos daquele jeito por
longos minutos, até Avalon respirar fundo e dar um passo
para trás, parecendo mais calma, apesar do nariz
vermelho em um sinal claro de que havia lutado contra
as lágrimas. Não a julguei por não querer chorar na
minha frente, pois eu também odiava expor qualquer tipo
de fraqueza diante de outras pessoas.
— Quem é Bob Bray? — ela perguntou depois de
longos minutos em silêncio.
— Bob Bray é um traficante muito perigoso da
região do Bronx, em Nova York.
— E como você descobriu que ele tinha algum tipo
de ligação com Charles?
Sua voz soou mais calma ao meu lado e eu me
preparei para contar o que vinha aprontando desde
sábado de manhã.
— Eu fiquei com receio de que apenas o dinheiro
não fosse suficiente para fazer com que esse cara
sumisse da sua vida, por isso, conversei com um amigo
meu que é investigador. Você sabe que a minha família é
poderosa e que meu pai, como advogado, tem ótimos
contatos. Philipe Ward é um deles. Ele é filho de um
amigo do meu pai, então, crescemos juntos. Pedi a ele
que descobrisse todos os podres de Charles e ele não
levou muito tempo para me enviar tudo o que reuniu em
pouco mais de quarenta e oito horas.
Avalon se virou para mim no banco do carona, já
sem a apatia de minutos atrás.
— Então, me conte tudo o que ele descobriu!
— Como você ouviu, Charles, na verdade, se chama
Alfred. Ele nasceu na região do Bronx e sempre foi ligado
ao crime, já que seu pai também traficava. Depois que
seu pai foi assassinado, ele se tornou braço-direito de
Bob Bray, mas logo iniciou uma guerra contra o cara por
debaixo dos panos. Seu plano era matar Bob e tomar o
lugar dele, mas claro que não deu certo. Bob descobriu e
Charles fugiu. Há mais ou menos cinco anos ele vem
vivendo como um fugitivo, usando identidades falsas e
mudando de cidade a cada poucos meses. Parece que
ficou fixo na Califórnia desde o ano passado, mas agora
que foi ameaçado por nós dois, acredito que deva mudar
de novo de identidade e sumir do mapa.
Avalon estava boquiaberta e de olhos arregalados.
Eu também fiquei quando descobri tudo naquela tarde,
não porque não acreditava que Charles não era um
bandido perigoso, mas por saber que Avalon corria perigo
real por ter pegado dinheiro com ele. Havia mais que eu
não contei a ela, pois queria poupá-la, mas Philipe
também descobriu que o filho da puta já tinha cumprido
pena por tentativa de estupro quando completou
dezenove anos. Atualmente, ele tinha trinta e quatro, e
senti nojo quando deixou claro que tinha interesse em
Avalon. Nada me tirava da cabeça que o desgraçado era
um aproveitador e que não a deixaria em paz, mesmo
depois do pagamento da dívida.
— Faz sentido ele se mudar a cada poucos meses.
Lembro que quando decidi pegar o dinheiro com ele no
final do ano passado, soube que ele tinha chegado na
Califórnia há pouco tempo. Não sabia que ele era tão
perigoso assim, a ponto de ter traficado drogas. Pensei
que fosse apenas um agiota.
— Você não tinha como saber, Valente, e imagino
que deveria estar muito desesperada quando pegou o
dinheiro com ele, não ia perder tempo se questionando
sobre a verdadeira índole do filho da puta.
— Sim, eu estava mesmo. — Ela pareceu divagar
por alguns segundos e eu torci para que me contasse o
motivo, mas isso não aconteceu. — Muito obrigada
mesmo, Logan. De verdade
— Não precisa agradecer.
— Claro que preciso. Você já comeu?
— Na verdade, não. Eu disse que saí correndo do
centro de treinamento. — Olhei rapidamente para ela. —
Por quê? Quer me levar para jantar?
— Acha mesmo que eu tenho dinheiro para te levar
nesses restaurantes de riquinho que você deve
frequentar? — Ela cruzou os braços, me olhando com
uma sobrancelha arqueada e me fazendo rir.
— Um fato sobre mim: eu odeio esses restaurantes
cheios de frescuras, onde um prato custa duzentos
dólares e vem um pingo de comida. Olhe para mim,
Valente — apontei para o meu peitoral e engoli em seco
ao perceber o olhar interessado de Avalon —, eu sou um
cara grande, preciso me alimentar bem.
Avalon limpou a garganta e eu sorri ainda mais ao
perceber a vermelhidão que tomou conta do seu pescoço
até as bochechas. Foi inevitável pensar em como a sua
pele ficaria com o atrito da minha barba naquela região.
O aperto que senti em minha virilha logo me fez expulsar
a imagem que minha mente criou.
— Bom, eu não sou a melhor cozinheira de todas,
mas faço um macarrão à carbonara que é o prato
favorito da minha irmã.
— É impressão minha ou você está me convidando
para jantar na sua casa?
Avalon deu de ombros e sorriu de lado, me olhando
de esguelha.
— Talvez eu esteja.
— Ah, não. Se isso é um convite, tem que ser feito
direito, Valente.
Ela estreitou os olhos em minha direção e eu prendi
a gargalhada, sabendo que ficaria puta por eu insistir
para que fizesse o pedido formalmente.
— É sério que você vai me fazer falar com todas as
letras, sendo que já entendeu que é um convite?
— Sou um cara educado, isso significa que eu não
invado o espaço pessoal de ninguém... — Avalon se
esticou e me deu um tapa no braço, me fazendo rir.
— Esqueça o convite! Por um segundo, eu tinha me
esquecido de como você pode ser irritante, Logan Miller
III!
— Meu nome nunca soou de forma tão sensual aos
meus ouvidos.
Avalon revirou os olhos, mas vi um sorrisinho em
seus lábios sem batom. Ela parecia não ter dedicado
tempo algum em frente ao espelho para poder se
encontrar com aquele filho da puta e eu gostei disso.
Vestia uma calça jeans comum de lavagem escura, uma
blusa preta justa ao corpo e de mangas longas e o All
Star da mesma cor. Estava simples, mas incrivelmente
linda, principalmente por conta do coque despojado no
alto da cabeça, que deixava seu pescoço esguio à
mostra.
— Aceita ou não jantar na minha casa? Última
chance!
— Já que você está praticamente implorando... —
Desviei de outro tapinha. Talvez o meu lado masoquista
se aflorasse na presença de Avalon. — Eu aceito.
— Ótimo. — Ela tirou o celular do bolso e começou a
digitar rapidamente. — Vou pedir para que minha irmã
coloque a água no fogo.
Não sabia explicar o porquê, mas fiquei feliz por
finalmente poder conhecer a irmã de Avalon. A garota
teimosa estava se abrindo cada vez mais para mim, eu
sentia.
Avalon destrancou a porta que dava acesso ao seu
apartamento, do lado do bar da Maeve. Subimos um
lance de escada e logo estávamos realmente em frente à
porta do seu lar. Eu conseguia ouvir o barulho de uma
música vinda lá de dentro e ela se virou para mim
enquanto abria a porta.
— Minha irmã escuta música o tempo todo —
explicou.
— Ela tem bom gosto. Quem está cantando?
— Você nem sabe o nome do artista e diz que ela
tem bom gosto?
— Não preciso saber quem está cantando para ter a
certeza de que é uma música boa — expliquei e Avalon
sorriu para mim, parecendo satisfeita com a minha
resposta.
— É alguma banda de K-pop que ela ama. Não me
pergunte o nome, porque ela escuta várias — Avalon
explicou. Pensei que iria finalmente abrir a porta, mas ela
voltou a se virar para mim enquanto ainda segurava a
maçaneta. — Não se espante com o tamanho enorme do
meu apartamento, ok? Nem com o pé direito
insuportavelmente alto e os quadros caríssimos na
parede.
— Pode deixar — concordei, vendo certa
insegurança em seu olhar. — Agora vai me deixar entrar
ou pretende preparar a minha comida aqui fora?
— Sua comida? Deixe de ser egocêntrico, estrelinha
dourada.
Avalon finalmente abriu a porta e entrou primeiro,
logo dando passagem para que eu a seguisse. Não perdi
meu tempo observando nada da decoração nem mesmo
a cor das paredes, pois uma garota, que não devia ter
mais do que quinze anos, estava no meio da sala, em
frente à TV, tentando imitar os passos de um grupo de
coreanos que dançavam e cantavam ao mesmo tempo.
Ela sequer percebeu a nossa presença, até Avalon se
aproximar e jogar uma almofada em sua direção.
— Aubrey, temos visita — Valente apontou para
mim e sua irmã ficou estática no meio da sala,
completamente ofegante e com os olhos arregalados. —
Aubrey?
— AI MEU DEUS! — Ela gritou e se atrapalhou toda
ao tentar pausar o vídeo na televisão. — Avalon, como
você não me avisa que vai trazer o jogador para casa?!
Eu nem me arrumei!
— Você está ótima — falei, vendo suas bochechas
vermelhas. Ela e Avalon eram muito parecidas, apesar de
seu cabelo ser em um tom mais claro de ruivo.
Aproximei-me e apontei para a TV. — Adorei a música.
— É mesmo? Avalon odeia.
— Não é verdade! — Avalon se defendeu, cruzando
os braços. — Só acho muito confuso e não consigo gravar
o nome de nenhuma banda, só do BTS, mas eles, por
exemplo, têm seis integrantes! Nunca vou saber o nome
de cada um.
— Sete! São sete integrantes. Meu Deus, Avalon! E
não é banda que se fala, é grupo!
— Você precisa prestar mais atenção nas
explicações da sua irmã.
— Eu também acho. — Aubrey olhou para Avalon
com uma sobrancelha erguida, antes de se virar para
mim e me estender a mão: — Prazer, sou Aubrey, a irmã
mais legal.
— Você é uma pestinha, isso sim!
— Não atrapalhe a minha conversa com o meu
cunhado, por favor? — Aubrey pediu, me arrancando
uma gargalhada.
Apertei a sua mão com entusiasmo, encantado por
aquela garota. Era uma miniatura de Avalon, só que sem
a expressão carrancuda.
— O prazer é meu, Aubrey. Fico feliz que a sua irmã
já tenha deixado claro o status do nosso relacionamento.
— Nesse caso, fui eu que deixei claro esse status,
porque, se não fosse por mim, essa cabeça-dura não
teria aceitado a sua proposta.
— Aubrey! — Avalon praticamente gritou,
claramente querendo que a irmã parasse de falar.
— O que foi? Não contou ao Logan que fui que te
convenci a aceitar esse lance de namoro falso?
— Namoro falso? — Coloquei a mão sobre o meu
peito, fazendo a minha melhor expressão de surpresa. —
Avalon, você não contou para a sua irmã que o nosso
amor é verdadeiro?
Avalon abriu a boca para contestar, mas Aubrey
falou primeiro:
— Isso é sério? Vocês estão juntos de verdade?
— Sim!
— Não! — Avalon respondeu junto comigo e
empurrou de leve o meu ombro, indo em direção à
cozinha. — Que péssima ideia eu tive de te convidar para
jantar aqui, Logan! Já estou arrependida!
— Então foi por isso que você decidiu fazer
macarrão à carbonara! — Aubrey foi atrás dela e eu logo
as segui, parando em frente ao balcão que separava a
sala da cozinha. — Está querendo impressionar o Logan!
Valente, que estava agachada pegando algo no
armário debaixo da pia, ergueu a cabeça em tempo
recorde, olhando boquiaberta para a irmã.
— Lógico que eu não quero impressionar o Logan!
Está doida, Aubrey?
— Você só faz esse macarrão em datas especiais.
— Minha presença aqui é algo especial — falei,
vendo Aubrey sorrir, cúmplice.
— Não tem nada de especial na sua presença aqui.
Só estou fazendo o jantar como forma de agradecimento
pelo que fez hoje.
— Não tem problema admitir que você gosta de
mim, Valente — falei, querendo atravessar o balcão para
poder chegar mais perto dela.
— Valente?
— É o meu apelido para ela — respondi para a
Aubrey. — Por causa daquela personagem da Disney.
— Merida, sei! Que fofo! — Aubrey encostou a
cabeça rapidamente em meu ombro, sorrindo de orelha a
orelha. — Sério, Ava, Logan não é nada do que você disse
para mim! Ele é um príncipe!
— O que a sua irmã disse sobre mim?
— Nada que eu já não tenha falado na sua frente —
Avalon disse enquanto abria um pacote de macarrão.
— Então você já disse na frente dele que o acha um
gato?
Virei-me para Avalon e a encontrei com o rosto
vermelho de novo e os olhos estreitos em direção à
Aubrey.
— Estou pensando seriamente em te colocar de
castigo, Aubrey Banks!
— Não pode colocar Aubrey de castigo só por ela
estar falando a verdade — defendi a minha cunhada,
vendo-a erguer o polegar para mim.
— Verdade? Eu não te chamei de gato em momento
algum!
— Chamou, sim. E disse que você era lindo e
musculoso.
— Isso é mentira!
— Na verdade, não é mentira. Eu sou mesmo lindo e
musculoso. — Ergui o braço e forcei o bíceps, ouvindo a
risada de Aubrey ao meu lado.
— Por que não diz que eu o chamei de egocêntrico,
Aubrey?
— Porque eu tenho certeza de que isso você já disse
para ele.
— Inúmeras vezes, aliás, apesar de eu não entender
o porquê. — Dei de ombros, ouvindo o suspiro de Avalon.
Ela estava toda nervosinha, do jeito que eu gostava.
— Não pensei que esse jantar se transformaria em
um caos. — Ela apertou a ponte do nariz. — Vamos fazer
o seguinte, já que vocês parecem ter se tornado grandes
amigos, por que não vão se sentar no sofá e me deixam
em paz para cozinhar?
— Acho que é melhor mesmo, vai que ela erra a
mão no sal? — falei e Aubrey fez uma careta.
— Ou pior, confunde com açúcar!
— Não precisamos passar por isso. Vamos logo para
o sofá, Aub.
Pisquei para Avalon e fui com Aubrey para a sala,
finalmente prestando atenção no apartamento pequeno.
Percebi que não havia quadros na parede, no entanto, no
aparador abaixo do painel de madeira da TV, havia
alguns porta-retratos com fotos de Avalon, Aubrey e uma
outra mulher ruiva, que supus ser a mãe das duas. Quis
me aproximar para ver de perto, mas Aubrey logo puxou
assunto, perguntando se eu queria assistir alguma coisa
na Netflix. Logo respondi que sim e descobrimos que
tínhamos um gosto em comum: ambos gostavam de
filmes de romance.
— Não acredito! Avalon, ouviu isso? — Aubrey falou
bem alto, mas nem precisava, porque a cozinha não
ficava longe da área de TV da sala.
— Sim, eu ouvi. Quem diria que o jogador com fama
de pegador gosta mesmo de filmes de romance?
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. — Fiz
a minha autodefesa, ocultando o fato de que eu nunca
tinha parado para pensar sobre aquilo.
— Logan tem razão!
— Aubrey, se Logan disser que eu sou insuportável,
é capaz de você continuar dando razão para ele.
— Mas às vezes você é insuportável — falei e
Aubrey concordou ao meu lado.
— Isso é verdade.
— Vocês não iam assistir um filme? — Avalon
perguntou mais alto e eu me virei para frente da TV com
Aubrey.
— Você também sente prazer em perturbar a minha
irmã? — A menina perguntou baixinho, me fazendo rir.
— Sinto, sim. Muito, na verdade.
— Eu também! Sinto que seremos uma dupla
imbatível, QB!
Ela ergueu o punho em minha direção e eu bati o
meu contra o dela, sorrindo. Aubrey me lembrava Norah
quando era mais nova e, só naquele momento, me dei
conta de como sentia falta da minha irmã naquela fase
em que tudo era resolvido com um pouco de provocação
e muita risada.

Eu não estava chorando com a porcaria de um


filme. Recusava-me a deixar que as lágrimas caíssem
enquanto Continência ao Amor rolava na tela da TV e
Aubrey e Avalon fungavam baixinho ao meu lado. O
macarrão ficou pronto rapidamente, então, logo Avalon
se juntou a nós dois na sala, cada um com um prato,
degustando da comida deliciosa e do filme que deveria
ser uma comédia romântica, mas era só uma pegadinha
para pegar trouxas como eu.
— Será que eles não vão ficar juntos? — Aubrey
perguntou baixinho e eu limpei a garganta.
— Claro que vão. É um romance, eles precisam ficar
juntos no final.
— Talvez seja uma adaptação de um livro do
Nicholas Sparks e a gente não sabe — Avalon resmungou
ao meu lado, de braços cruzados.
Em algum momento eu havia passado o meu braço
por cima do encosto do sofá e, agora, Valente estava
praticamente encostada no meu peito. Meu braço estava
começando a ficar dormente? Sim, mas eu não iria me
mover nem fodendo.
— Eu me recuso a aceitar um final em que eles não
fiquem juntos — falei, sentindo os olhos de Avalon sobre
mim. — O que foi? Eu fui sincero quando disse que esse é
um dos meus gêneros favoritos e eu já sofri demais
vendo Um Amor para Recordar quando era mais novo,
para passar por aquela mesma tortura mais uma vez.
— Esse é um dos meus filmes favoritos — Avalon
confidenciou, me pegando de surpresa.
— Meu também.
— O amor é como o vento...
— Não podemos ver, mas podemos sentir —
completei a frase famosa, olhando nos olhos de Valente.
Ela sorriu abertamente para mim, me pegando
novamente de surpresa ao encostar a cabeça em meu
peito.
— Agora eu realmente acredito em você, Logan
terceiro — falou baixinho, pois sua irmã estava vidrada
no filme.
Eu deveria ficar quieto na minha, mas tendo Avalon
tão perto de mim, com a cabeça bem em cima do meu
coração, não consegui ser forte o suficiente para ficar
indiferente e acabei descendo o braço do encosto do sofá
para poder segurá-la contra o meu peito. Esperei alguns
segundos para ver se Valente iria recuar, mas ela não se
moveu, apenas soltou a respiração devagar, olhando
para a TV. Ela podia disfarçar o quanto quisesse, mas eu
sabia que estava tão concentrada naquele momento
quanto eu.
— É bom que acredite mesmo, Valente. Juro que eu
posso ser tudo, menos um mentiroso — sussurrei perto
do seu cabelo, querendo muito que a sua blusa não fosse
de manga comprida para que eu pudesse tocar na pele
do seu ombro.
Tive um vislumbre do seu sorriso e foi a minha vez
de soltar a respiração devagar. Se Aubrey não estivesse
ali, talvez, eu fosse capaz de esquecer tudo e mataria o
desejo que estava sentindo desde aquela manhã. A
vontade insana de provar o beijo daquela garota de
personalidade forte e que me tirava do eixo.
Que bom que Aubrey estava ali, bem do nosso lado,
fungando com o filme e me fazendo segurar no último fio
de consciência que havia sobrevivido dentro do meu
cérebro.
Realmente... Que bom.
Em uma montanha-russa de emoções.
Era assim que eu me sentia nos últimos dias ao lado
de Logan, andando com ele de mãos dadas pelo campus
e chamando a atenção da maior parte dos alunos. Não
fazíamos nada mais do que trocar algumas carícias em
público, mas isso foi o bastante para que o boato de que
o quarterback do Crimson Tide estava tendo um caso,
começasse a se espalhar com mais força, não apenas na
faculdade, mas em alguns perfis no Twitter.
Logan resolveu que ainda não iria confirmar nada,
para que o nosso namoro não parecesse algo forçado ou
repentino, e eu gostei da ideia, pois me dava a falsa
sensação de que eu ainda era apenas uma anônima,
apesar de já terem citado o meu nome em alguns tweets.
Fiquei um pouco apavorada quando Aubrey me mostrou
a postagem, tinha que confessar, mas logo me obriguei a
ficar calma, porque eu sabia que algo do tipo iria
acontecer mais cedo ou mais tarde.
Apesar do desconforto com os olhares que eu
recebia, principalmente por parte das mulheres na
faculdade, conviver com Logan estava sendo
completamente diferente de tudo o que eu havia
imaginado que seria. Ele ainda me irritava — de
propósito, pois se divertia muito ao me ver mal-
humorada —, ainda era o atleta meio egocêntrico que
conheci na festa em sua casa, mas também era
engraçado, se preocupava comigo e parecia adorar a
minha irmã. Ele e Aubrey trocaram número de celular e
viviam conversando pelo WhatsApp, confabulando contra
mim e estreitando os laços de amizade.
Era impossível não gostar de alguém que tratava
tão bem a minha irmã, mas não era só por isso que eu
vinha sentindo o muro que construí em volta de mim
mesma, ser derrubado tijolo por tijolo pelo quarterback.
Logan era mesmo tudo o que sua irmã havia dito para
mim: inteligente, fiel aos amigos e diferente daquela
versão que conheci quase um mês atrás. Ainda era um
perturbado de marca maior, mas não era mais um
babaca que me tirava do sério de verdade.
Eu me preocupava sobre aquela percepção que
estava começando a ter dele, pois sentia o meu coração
ficar balançado de um jeito que eu não queria. Me tornar
amiga de Logan era aceitável, afinal, estávamos
praticamente vivendo juntos desde o início do namoro
falso e pegando intimidade um com o outro, mas eu não
queria que passasse disso e vinha lutando comigo
mesma para não me apegar demais ao jogador. Quando
eu sentia que estava dando abertura demais, recuava, e
lembrava a mim mesma que cada toque, cada olhar e
sorriso, eram propositais por conta do nosso acordo. Eu
não podia confundir as coisas.
Larguei o pincel de maquiagem quando ouvi o meu
celular apitar com uma nova notificação. Era uma
mensagem de Norah e eu senti o frio tomar conta da
minha barriga pela vigésima vez naquele dia.

Norah: Já está pronta, cunhadinha? Chego aí em


cinco minutos!
Eu: Sim. Vou te esperar em frente ao bar da Maeve.

Norah me enviou um polegar erguido e eu voltei a


me olhar no espelho, só para ter a certeza de que não
estava faltando nada. Naquele sábado, começaria a
temporada de futebol e o Crimson Tide jogaria contra o
Utah State no Bryant-Denny Stadium, a casa do time,
com capacidade para mais de cem mil pessoas. Eu nunca
tinha ido a um jogo de futebol na minha vida e a minha
estreia seria não apenas fingindo ser a namorada do
quarterback, como ao lado da sua irmã, ocupando um
dos melhores lugares do estádio e usando a camisa com
o seu número.
Sinceramente? Se alguém me dissesse que algo do
tipo aconteceria comigo um dia, eu teria gargalhado na
cara da pessoa. Tudo aquilo era tão irreal que, mesmo
usando a blusa vermelha do time com o número 9 escrito
“Miller” nas costas, eu ainda não conseguia acreditar.
Talvez a minha ficha caísse quando eu estivesse ouvindo
a multidão cantar o grito de guerra do Crimson Tide.
Fiquei satisfeita ao ver que a calça jeans preta havia
combinado perfeitamente com as botas de salto
plataforma que escolhi. Como a blusa do time tinha um
comprimento maior do que eu gostava de usar
normalmente, fiz um nó na lateral do corpo e a deixei
mais curta. Como se Logan soubesse que eu não queria
chamar tanta atenção, ele me deu um boné do time, por
isso, deixei o meu cabelo solto. O batom vermelho era a
única coisa que se destacava em meu rosto.
— Você vai chamar mais atenção do que o meu
cunhado — Aubrey disse, parando no batente da porta do
meu quarto. — Está muito gata, Ava!
— Não estou ridícula com essa camisa do time?
— Claro que não! Como namorada do Logan, você
precisa usar a camisa dele. — Eu sabia que aquilo era
óbvio, mas estava mexendo comigo de uma forma
diferente.
A lembrança de Logan me dando a camisa, dois dias
atrás, voltou com tudo em minha mente.

— Quero te dar uma coisa. — Ele se esticou e pegou


uma caixa de presente vermelha do banco de trás do
carro. — Abra.
Pousei a caixa sobre as minhas coxas, curiosa, e
levantei a tampa, logo vendo o papel de seda branco.
Tirei-o do caminho com cuidado para não rasgar e peguei
a blusa vermelha, bem menor do que a que Logan usava,
obviamente, com o seu número e o seu sobrenome nas
costas.
— É linda.
— Queria que você usasse no jogo de sábado.
— Queria? — Aquilo me pegou de surpresa, pois
achei que Logan simplesmente diria que era para eu
usar, para que o nosso disfarce ficasse mais crível.
— Não quero te forçar a fazer isso, Valente, só achei
que seria legal se a minha garota estivesse usando a
minha camisa.
Minha garota.
Meu coração não deveria demonstrar qualquer
reação ao ouvir aquilo, muito menos ao detectar certa
intensidade no olhar de Logan. Senti a minha boca ficar
seca de repente e precisei passar a língua pelos lábios
para espantar a sensação.
— Vou pensar no seu caso, estrelinha dourada.
Logan sorriu diante da minha resposta,
provavelmente, sabendo que eu não negaria o seu
pedido.

— Estou ouvindo uma buzina! Acho que a irmã do


Logan chegou! — Aubrey me tirou das lembranças e eu
peguei o meu celular, vendo que Norah havia acabado de
avisar que estava lá embaixo me esperando.
— É ela mesmo. Vou descer. Comporte-se, ok? Não
desça para o bar — avisei, dando um beijo em sua testa
enquanto minha irmã revirava os olhos.
— Pode deixar, mamãe. Mais alguma
recomendação?
— Sim. Deixei vinte dólares no balcão, peça algo
para comer.
— Mentira! — A pestinha passou correndo por mim
e cheguei na sala a tempo de vê-la com a nota de dólar
na mão. — Não acredito! Pensei que iria para o jogo e me
deixaria comendo pão com pasta de amendoim.
— Viu como sou uma ótima irmã? Mesmo assim, é
só do Logan que você puxa-saco.
— Está com ciúmes?
— Claro que não.
— Está sim! — Aubrey encurtou a nossa distância e
me abraçou pelo pescoço enquanto ria. — Só resta saber
se está com ciúmes de mim ou do Logan.
— Quer ver eu pegar esse dinheiro da sua mão e te
deixar à base de sanduíche a noite inteira, Aubrey?
— Não, nem pensar! — Ela me deu um beijo
estalado no rosto e logo se afastou, escondendo as mãos
atrás das costas. — Divirta-se, maninha, e esfregue na
cara de todo mundo que você é a garota oficial de Logan
Miller III.
Evitei erguer o dedo do meio para a minha irmã de
quatorze anos e saí de casa, descendo as escadas
rapidamente para encontrar com Norah. Mais uma vez,
havia pedido para que Cindy trocasse a sua folga comigo,
o que significava que na próxima semana eu não teria
nenhuma noite para descansar.
A BMW prata de Norah estava estacionada do outro
lado da rua, pois durante o final de semana a calçada em
frente ao bar ficava muito movimentada e Christopher
sempre pedia para que não estacionassem ali e
atrapalhassem o ir e vir dos clientes. Acenei para ele,
que gritou em minha direção falando que estava
torcendo pelo Crimson, e atravessei, logo ocupando o
banco do carona de couro em cor creme. O interior do
veículo era tão impressionante quanto o Audi de Logan e
eu me senti um pouco mais pobre por estar colocando a
minha bunda sentada em um carro que valia muitos
milhares de dólares.
— Uau, você está uma grande gostosa, Avalon
Banks! — Norah sorriu para mim, dando um tapinha em
minha coxa. — Acho que até eu quero namorar com
você.
— Não seja boba, você que está uma gata! — Falei,
vendo sua saia jeans branca, os tênis de plataforma da
mesma cor e a camisa do time que vestia. — Está usando
o número do Logan também?
— Não, estou usando o número do James. Passei
muito tempo usando o número do Ben enquanto ele
namorava, agora, passei a usar a camisa dele.
— Não sabia que James tinha uma namorada. — Na
verdade, eu não conhecia quase nada sobre a vida dos
jogadores do time de Logan. Norah colocou o carro em
movimento e fez uma careta.
— Nem me lembre daquela vaca! Eu não gosto de
usar termos pejorativos para falar sobre qualquer
mulher, mas abro uma exceção para aquela idiota.
— Por quê? Tudo bem se não quiser me contar —
falei logo, antes que pensasse que eu era uma enxerida.
— Quase ninguém sabe sobre a verdadeira história
por trás do rompimento de James e Megan, mas como sei
que você é uma pessoa confiável, vou te contar. — Norah
me olhou rapidamente enquanto dava seta para virar
para a direita. — Só não conte isso para ninguém, por
favor!
— Claro. Eu nem teria para quem contar, na
verdade.
Bom, eu tinha sim, e essa pessoa se chamava
Aubrey, mas minha irmã era um agente neutro, que só
absorvia as minhas fofocas e guardava tudo para si.
— Megan traiu o James e ele a pegou no flagra. No
meio do ato, para ser mais clara.
Eu arregalei os olhos, um pouco chocada. Sequer
sabia quem era Megan, mas conhecia James, ele era um
homem lindo com mais de um 1,90 de altura, pele preta,
corpo forte e um sorriso de moleque que era contagiante.
Também parecia ser uma pessoa muito legal. Como
alguém conseguia ser tão mau-caráter daquele jeito?
— Nossa, eu nem sei o que dizer, mas agora
entendi por que James não quis que a história se
espalhasse.
— Sei que deve estar pensando que era porque ele
não queria ficar com fama de corno, mas não foi por
causa disso... Quer dizer, não foi apenas por causa disso.
Megan é filha do prefeito do Alabama e o pai dela estava
concorrendo a reeleição quando James descobriu tudo, se
essa história se espalhasse, seria um escândalo que
poderia atrapalhar a campanha política do pai dela.
Enfim, ela implorou para que James não contasse a
verdade para ninguém e ele aceitou.
— Simples assim?
— É, simples assim. — Norah fez um bico,
claramente com raiva da decisão tomada por James. Eu
estava chocada, não sabia nem o que pensar. — Eu sei
que James tem um ótimo coração e que gostava daquela
vaca, mas ela não merecia sair com fama de boa moça
depois de tudo o que fez! Sabe o que é pior? James ainda
saiu com fama de traidor, porque foi visto ficando com
uma garota em uma boate dias depois do término e todo
mundo associou aquilo ao rompimento do namoro,
mesmo que ele já estivesse solteiro. Ela sequer fez um
tweet desmentindo tudo!
— Que vaca! — Realmente, não tinha como
defender aquela garota.
— Eu falei que poderíamos abrir uma exceção para
ela.
— E onde ela está agora? Estuda na UA?
— Não. Pelo menos ela teve a decência de ir
terminar os estudos na Europa.
Ah, o lado bom de ter uma conta recheada de
dinheiro. O máximo que eu pude fazer quando decidi sair
da Califórnia, foi pedir uma transferência para a
Universidade do Alabama, e apenas porque eu tinha um
lugar garantido para ficar, que não me custaria uma
pequena fortuna.
— Por isso que estou usando a camisa do James
hoje — Norah voltou a falar. — Sei que muitas garotas
vão estar usando a camisa dele também, mas eu sou a
melhor amiga dele, então, tenho que dar essa força.
— É muito legal que você seja amiga dos amigos do
seu irmão.
— Logan tem bom gosto para amizades. — Ela
sorriu divertida para mim. — E para namoradas também.
— De mentirinha, no caso — alertei.
— É, mas nada impede que se torne de verdade,
não é? Vocês formam um casal muito bonito e eu não
vejo meu irmão tão relaxado há quase um ano. Você está
fazendo muito bem a ele, Avalon, e espero que ele esteja
fazendo bem para você também.
Lembrei-me de todo o seu esforço para ter a certeza
de que Charles nunca mais voltaria a me perturbar, o seu
carinho com a minha irmã e a forma como pediu para
que eu usasse a sua camisa. Sim, Logan me fazia bem e
isso me assustava.
— Seu irmão deixou bem claro que não quer nada
sério e eu também não quero. Por isso que o acordo está
funcionando tão bem — desconversei e Norah bufou
baixinho, como Logan fazia de vez em quando.
— Isso é bobagem, ninguém manda no coração
dessa forma.
— Por que está falando assim? Está apaixonada? —
Eu era boa em tirar o foco de mim e jogá-lo para outra
pessoa. Norah sacudiu a cabeça, parecendo sincera.
— Não estou. Como vou me apaixonar, se Logan
colocou medo em todos os machos da UA? Ninguém olha
para mim, Ava.
— Por isso que eu digo que Logan é ridículo.
Decidi que eu conversaria sobre aquilo com ele. O
jogador não podia ficar aterrorizando todos os garotos da
faculdade contra Norah. Chegava a ser infantil o modo
como agia com a irmã. Norah era maior de idade e tinha
o direito de viver a sua vida da forma que queria,
conhecendo novas pessoas e se aventurando no amor.
— Sim, ele é ridículo às vezes, mas o maior
problema do meu irmão, é acreditar que todos os
homens são como ele e Benjamin. Só porque eles fogem
de relacionamento sério, não quer dizer que todos os
homens do planeta sejam assim.
— James é um ótimo exemplo.
— Exatamente! Mas Logan é um idiota.
— Vou ver se consigo fazer o seu irmão enxergar
que você precisa de liberdade, ok? Não prometo que vou
conseguir fazer um buraco naquela cabeça-dura, mas
vou tentar.
Norah sorriu para mim e quase quicou sobre o
banco do motorista.
— Por isso que eu me apaixonei por você à primeira
vista, cunhadinha! Obrigada por isso.
Eu sorri e toquei o seu ombro com gentileza.
Gostava muito de Norah e, principalmente, da relação de
amizade e confiança que estávamos construindo.

O estádio já estava lotado quando chegamos, todo


mundo gritando enquanto a Million Dollar Band, banda
marcial oficial da Universidade do Alabama, tocava o
hino do time. Fiquei chocada com o mar vermelho e
branco que ocupava as arquibancadas e muito surpresa
com o fato de os nossos lugares serem tão pertos do
campo. Uma amiga de Norah, que se chamava Alicia,
chegou logo depois da gente e ocupou o lugar vago ao
lado esquerdo da irmã de Logan, enquanto eu ocupei o
lugar direito.
— Preciso ser sincera, sei muito pouco sobre
futebol, principalmente o universitário — falei alto para
que Norah conseguisse me escutar. — Você vai ter que
me explicar o que eu não souber.
— Você sabe o básico?
— Mais ou menos.
— Um time ataca e o outro defende, a função do
meu irmão é pegar a bola, estudar a melhor jogada e
arremessar para o wide receiver ou o running back,
quem estiver com a bola, tem que tentar correr o
máximo possível até a end zone e marcar o touchdown,
mas há outras formas de pontuar também. Os outros
jogadores, de modo bem resumido, precisam proteger o
quarterback e dar o maior tempo possível para ele fazer
o lançamento.
Na teoria, era bem prático, mas eu já tinha passado
o olho em alguns jogos pela TV e sabia como aquele era
um esporte de alto impacto, em que tudo acontecia
muito rápido e as regras eram meio complicadas. Fiquei
torcendo para que eu não ficasse tão perdida enquanto
assistia, pois sabia que seria chato ficar pedindo
explicação toda hora para Norah.
De qualquer forma, eu sabia que a função de Logan
era escolher as melhores jogadas e lançar a bola para os
recebedores. Como capitão do time, era seu dever
pensar e agir rapidamente, o que eu jamais conseguiria
fazer, pois minha mente poderia travar no meio de tanta
tensão. Logo avistei o time entrando em campo,
enquanto as cheerleaders ainda dançavam e agitavam o
público durante os acordes finais da música tocada pela
banda.
— Vai começar! — Norah apertou a minha mão e se
juntou ao coro: — Yea, Alabama! Down ’em Tide! Every
‘Bama man’s behind you, hit your stride!
O jogo começou com o Utah atacando. Fiquei
apreensiva enquanto todos se posicionavam e quase
morri do coração quando pelo menos quatro jogadores
do Crimson se jogaram sobre o quarterback do time
adversário para impedi-lo de arremessar a bola. Talvez
eu tenha fechado o olho por um segundo ou dois,
sentindo na minha alma o impacto que o jogador do
outro time deve ter sentido.
— Não fique com pena, Ava, ele é do time rival! —
Norah gritou em meu ouvido, percebendo a minha
reação.
Eu sabia daquilo, mas a violência com que se
jogaram sobre ele me deixou com um pouco de pena do
pobre coitado. Logo eles se reorganizaram para a
segunda jogada e, dessa vez, o quarterback conseguiu
lançar a bola para outro jogador, que começou a correr
como louco pelo campo e foi interceptado por mais dois
jogadores da linha de defesa do Crimson. A bola quase
caiu no chão, mas ele conseguiu segurar e logo o jogo
recomeçou, com o quarterback conseguindo arremessar
a bola oval de forma certeira para um outro jogador que,
dessa vez, conseguiu chegar a end zone e marcou um
touchdown [7].
Enquanto o público se enfurecia — afinal,
estávamos no Alabama e todos ali torciam pelo time
vermelho e branco —, o Utah conseguiu fazer um ponto
extra acertando a bola no goal post que ficava na end
zone do Crimson.
O primeiro quarto do jogo acabou sem que o nosso
time pontuasse e eu percebi que estava tão nervosa, que
quase sentia vontade de fazer xixi. Houve uma pausa e o
público começou a cantar mais alto, impulsionando o
time. Eu só podia imaginar como estava a cabeça de
Logan naquele momento, principalmente porque no
segundo quarto, era o Crimson Tide que iria atacar.
Logo os jogadores entraram em campo e Norah
agarrou a minha mão. Vi Logan se posicionar atrás de um
outro jogador que eu não sabia que função ocupava, e a
bola foi parar em sua mão. Em um piscar de olhos, ele foi
derrubado por um gigante do Utah, que praticamente
montou em suas costas e o jogou no chão.
— Seu filho da puta, sai de cima dele! — berrei junto
com as milhares de pessoas a minha volta. Do meu lado,
Norah xingava feito um marinheiro assim como eu. —
Será que ele se machucou?
— Não, meu irmão está acostumado. Esses babacas
amam tentar jogar ele no chão! — Ela gritou e percebi
que estava muito mais tranquila do que eu.
Sinceramente, eu não teria coração para
acompanhar os jogos se todos fossem naquele nível. E o
pior é que eu sabia que era. O time voltou a se posicionar
e, novamente, Logan pegou a bola, passando-a para um
outro jogador.
— Vai, James! — Norah gritou e confiei de que ela
sabia quem era o jogador, porque, ao contrário de mim,
ela com certeza conhecia o sobrenome do melhor amigo
de Logan.
James conseguiu avançar algumas jardas no campo
— não sabia quantas, porque estava nervosa demais
para prestar atenção —, mas logo foi jogado no chão por
dois jogadores. O jogo foi paralisado por alguns minutos
e eu peguei a garrafinha de água que havia comprado na
entrada no estádio, dando um gole longo.
As próximas jogadas quase arrancaram o meu
coração do peito. Logan jogou a bola no ar para Benjamin
— soube que era ele, pois Norah gritou o seu nome —,
que correu com ela praticamente debaixo da axila,
batendo com os ombros nos dois jogadores que tentaram
cercá-lo e, finalmente, atingindo a end zone do Utah
State.
— Touchdown! — Norah e eu gritamos praticamente
ao mesmo tempo, dando um abraço coletivo junto com a
sua amiga, que também estava eufórica.
O estádio quase veio abaixo, principalmente quando
o Crimson conseguiu marcar o ponto extra. Agora o jogo
estava empatado. Ainda havia um tempo naquele
segundo quarto e a posse de bola passou para o time
adversário, mas eles sequer conseguiram completar uma
jogada. A defesa do Crimson derrubou o jogador do Utah,
que acabou soltando a bola, fazendo com que a posse
agora fosse do Alabama.
Meu nervosismo voltou com tudo ao ver Logan
sendo tão duramente marcado pelos jogadores do Utah.
A defesa deles se tornou algo quase impossível de
ultrapassar, por isso, o Crimson pediu um field goal [8] —
que eu sequer saberia o que significava se Norah não
estivesse ao meu lado explicando tudo — quando chegou
na sua quarta tentativa de chegar a end zone.
A multidão foi à loucura quando a bola passou pelo
Y gigante e três pontos foram acrescentados ao placar do
Crimson Tide, nos deixando com uma pequena vantagem
perante o Utah.
Houve uma nova paralisação e o terceiro quarto me
deixou com as pernas bambas. O Utah State não
conseguiu marcar um novo touchdown, mas marcou um
field goal, empatando novamente com o Crimson. Logo
percebemos que aquele seria um jogo em que o
vencedor sairia de campo com uma margem de diferença
muito pequena em relação ao time perdedor.
O último quarto começou e foi sofrido. Logan foi
marcado demais, assim como Benjamin e James, por
isso, o nosso quarterback mudou a jogada e lançou a
bola para um outro jogador, que Norah logo disse que
era o tight end do time. Por um segundo, achei que ele
conseguiria chegar na end zone, mas foi derrubado por
três brutamontes e quase perdeu a posse de bola. O
relógio corria e faltava muito pouco para chegar ao final
dos quinze minutos.
Os times se reposicionaram e Logan agarrou a bola
com tudo. Ele pareceu levar menos de um milésimo de
segundo para analisar o campo e a posição dos
jogadores, antes de simplesmente começar a correr.
— O quê? — Gritei, me levantando. Acho que todo
mundo se levantou também, pois Logan cortou o meio de
campo e começou a voar em direção à end zone. Eu senti
o meu coração parar na boca quando um jogador do
Utah chegou muito perto de agarrá-lo pelo braço, mas
acabou caindo no chão. — Logan, não seja louco! Passa a
bola. ELE PRECISA PASSAR A BOLA! Essa não é a porcaria
da função dele?
O que aquele maluco estava fazendo?
Um outro jogador do Utah tentou interceptá-lo, mas
caiu no chão, assim como um terceiro, que ficou para
trás comendo poeira. Logan não parou, ele avançou
todas as jardas e quando quase foi agarrado por dois
brutamontes, se jogou na end zone, marcando o
touchdown mais impressionante que eu — uma completa
leiga — já tinha visto!
O estádio pareceu que seria jogado abaixo. Eu senti
a arquibancada tremer enquanto Norah me agarrava
pelo pescoço, gritando o nome do irmão e chorando
copiosamente. Eu queria gritar também, mas estava em
choque, vendo Logan ser abraçado pelos companheiros
de time, tendo o capacete tirado da cabeça e quase
sendo jogado para o alto, enquanto tentavam pegá-lo no
colo. Ele comemorou com todo mundo, mas logo olhou
para a multidão, como se procurasse por alguém.
Segundos se passaram até os seus olhos se encontrarem
com os meus, então, ele veio correndo em minha
direção.
Eu senti o meu coração bater na velocidade insana
das suas passadas pelo campo. Ele passou pela equipe
do Crimson Tide e chegou perto das arquibancadas,
abrindo o maior sorriso do mundo para mim antes de
passar o braço musculoso pela minha cintura e me tirar
de perto da sua irmã. Eu acordei do transe e o agarrei
com as minhas pernas na altura do seu quadril, com
medo de que o doido me deixasse cair no chão a
qualquer momento, mesmo sendo tão forte daquele jeito.
— Você viu, Valente?
— Se eu vi? O mundo inteiro viu! Você é louco,
estrelinha dourada! — Segurei o seu rosto suado e sorri
diante da felicidade em seus olhos. — Eu estou muito
orgulhosa de você.
— É bom mesmo que esteja e que não fique com
raiva de mim, porque agora eu vou te beijar.
Assim como foi confiante em atravessar o campo
com a bola nas mãos e marcar aquele touchdown
inacreditável, Logan foi certeiro em capturar a minha
boca e me dar o beijo mais insano e profundo que eu já
havia recebido.
Eu não sabia explicar como o meu peito não
explodiu, porque meu coração chegou a falhar duas
batidas, enquanto eu esquecia de como se respirava.
Logan enfiou a língua em minha boca com precisão, me
segurando forte com as duas mãos em minha bunda,
enquanto eu me perdia na sensação inebriante que
aquele beijo estava me causando. O mundo a nossa volta
despareceu, não havia mais o coro apaixonado dos
torcedores, a comemoração do time ou a voz de Norah
ainda ecoando em minha cabeça.
Enquanto o beijava de volta, permiti que o meu lado
romântico expulsasse do meu cérebro a realidade de que
o nosso namoro era de mentira. Fingi que aquele beijo
era para mim e não para o público a nossa volta e me
entreguei a Logan de uma forma que nunca havia me
entregado para qualquer outra pessoa.
Eu deveria estar pulando que nem um louco com o
meu time no vestiário, mas ainda me sentia conectado à
Valente e ao beijo que dei em sua boca no meio do
estádio, com o público vibrando e o meu coração
ameaçando explodir dentro do peito.
Não sabia o que tinha me levado até ela, só senti
que eu deveria procurá-la no meio daquela multidão de
mais de cem mil pessoas e olhar em seus olhos. O beijo
não foi programado, assim como não imaginei que a
pegaria em meu colo e ficaria emocionado em ver a
alegria em seus olhos pelo que eu havia feito em campo.
A magnitude daquele momento ainda estava sendo
processada pelo meu cérebro e o gosto de Avalon ainda
preenchia a minha boca.
Eu queria mais e nem conseguia entender o porquê.
— Foi inacreditável o que você fez! — Thomas,
nosso inside linerbacker [9], deu dois tapinhas em minhas
costas enquanto ria de orelha a orelha. — Sério, eu quase
não consegui respirar enquanto você atravessava o
campo com aquela bola, driblando todos os outros
jogadores. Foi espetacular, Logan!
— Você foi foda pra caralho! — Benjamin passou o
braço pelo meu ombro e apontou para o meu peito. —
Nosso QB está de volta, porra, e nada vai nos impedir de
ganhar esse ano!
Eu queria responder o entusiasmo deles, mas só
consegui rir quando o time todo se aproximou e me
ergueu no ar, me fazendo xingar um por um e ameaçar a
vida de todos eles se me deixassem cair. Eles só me
colocaram no chão quando o treinador Coben e o
treinador Fred, responsável pela parte de defesa do time,
entraram no vestiário. Fiquei com receio de que acabasse
levando uma bronca de Coben por ter agido daquela
forma em campo, mas me tranquilizei quando ele sorriu
e se aproximou de mim, apertando o meu ombro.
— Hoje você provou para todo mundo o motivo de
ainda ser o capitão desse time, Logan. Sempre acreditei
em você e estou muito orgulhoso do que fez em campo.
Ouvir aquilo me abalou de uma forma que eu não
esperava. Eu sabia que vinha decepcionando o treinador
com o meu comportamento nos últimos meses e sentia
que aquele jogo era como um teste final para
permanecer no time. Não foi por isso que arrisquei
aquela jogada, mas estava feliz por ter dado certo,
apesar de, no fundo, uma voz insistir em dizer que eu
não merecia toda aquela comoção.
— Não joguei sozinho, treinador. Nosso time foi
impecável hoje e, se ganhamos, é porque jogamos
juntos.
— Sim, eu sei disso. Todos vocês estão de parabéns!
— disse ele, virando-se para os meninos. — Agora,
vamos continuar trabalhando, porque essa temporada
será nossa, entenderam?
— Sim, treinador!
— Não ouvimos direito. Vocês entenderam? —
incentivou o treinador Fred.
— Sim, treinador!
— Agora, vocês podem comemorar. Com juízo! —
Recomendou o treinador Coben.
Os meninos foram rápidos em ocupar um chuveiro,
enquanto os outros começaram a combinar onde seria a
comemoração. Logo optaram pelo clássico: o Maeve’s
Bar. Não me reuni a eles, indo direto para o meu armário
para pegar meus itens de higiene pessoal.
— Ei, vai para o bar com a gente? — James
perguntou, parando ao meu lado enquanto abria o seu
armário. — Ou vai comemorar em particular com a sua
garota?
— Tá mesmo ficando sério com ela, Logan? —
Thomas perguntou do outro lado do vestiário. — Não se
fala de outra coisa desde que vocês começaram a chegar
juntos na segunda-feira retrasada.
— Nosso QB está apaixonado! — Benjamin
respondeu por mim e o time inteiro se manifestou com
gemidinhos que me fizeram rir.
— O que eu posso fazer? Valente me pegou de jeito.
— Valente? Ela não se chama Avalon alguma coisa?
— Liam perguntou.
— Esse é o apelido que Logan deu para ela. —
James sorriu, me dando um soquinho no ombro. — Sim,
Logan é do tipo de namorado que dá apelidos, pessoal.
— Cala a boca — retribuí o soco que me deu, rindo e
sentindo um pouco de vergonha.
Era estranho estar naquela posição, tendo a minha
vida exposta daquela maneira, mesmo sabendo que era
disso que eu precisava para fazer todo mundo acreditar
no namoro de mentira. Eu só queria... Preservar de
alguma forma o que Valente e eu tínhamos, o que era
uma bobagem, porque não tínhamos nada além de uma
amizade que estava apenas engatinhando.
— E sim, eu vou comemorar com a minha garota.
Minha fase de bebida e festas acabou!
— Ah, não, assim não vale! Essa comemoração não
vai ser nada sem você, Logan! — Um dos meninos disse
enquanto saía do chuveiro.
— Colin tem razão — Thomas disse. — Vamos lá, vai
ser só uma cerveja! Sua garota pode ir conosco, James
vivia levando a ex dele para as nossas festas.
— Vocês não entendem, não é? Logan e Avalon
estão no início do namoro, eles não querem ficar no meio
de um bando de cuzões como a gente! — James apertou
o meu ombro em solidariedade. — Vai comemorar com a
sua garota, irmão. Você merece isso.
— Eu estou com James! — Ben disse, apertando o
meu outro ombro.
— Justo você? O maior galinha do time? Isso não é
possível! — Thomas brincou e se esquivou quando Ben
jogou um frasco de shampoo em sua direção.
— Eu sou galinha, sim, mas se meu amigo resolveu
ser um namorado fiel, então, eu estou com ele.
Sorri diante daquilo, grato por ter os meus dois
melhores amigos ao meu lado, dispostos a me ajudarem
com todo aquele plano. Sem o apoio deles, seria mais
difícil começar a mudar a minha imagem perante o time.
Os meninos logo desistiram de me convencer e eu
agradeci a Ben e James discretamente antes de ir para o
chuveiro, já pensando no que faria quando encontrasse
com Valente do lado de fora.

Demorei mais do que o esperado para deixar o


vestiário, mas, assim que saí, meus olhos bateram em
Norah e Avalon do lado de fora do estádio. Elas
conversavam junto com Alicia, uma amiga de curso da
minha irmã, e só me viram quando cheguei perto o
suficiente para chamar a atenção. Nada discreta, Norah
puxou Alicia pela mão e disse que precisavam ir ao
banheiro, deixando-me sozinho com uma Avalon que
parecia olhar para qualquer direção, menos para mim.
— Gostou do jogo?
Que merda de pergunta era aquela? Logo me dei
conta de que eu estava perdido. Precisava pelo menos
admitir aquilo para mim mesmo. Como se fazia para
chegar em uma garota que havia te abalado com apenas
um beijo? Eu não sabia, pois nunca me senti daquele
jeito na vida. Valente forçou um sorriso e finalmente me
encarou, mas evitou os meus olhos.
— Eu adorei e quase morri do coração inúmeras
vezes. Você está bem?
Tirando a parte de que eu não sabia como lidar com
o que havia acontecido entre nós dois em campo, sim, eu
estava.
— Claro. Por que eu não estaria?
— Porque aqueles brutamontes te derrubaram
várias vezes. Como você pode estar intacto?
Eu ri diante da sua dúvida, mas precisei engolir um
comentário que estava na ponta da minha língua. Avalon
estava com cenho franzido e uma ruguinha se formou
entre as suas sobrancelhas. Quis muito dizer que ela
estava linda pra caralho.
— Você nunca assistiu a um jogo? — Ela apenas
sacudiu a cabeça. — O que aconteceu hoje é normal,
Valente. Além de treinarmos algumas técnicas de como
cair e nos proteger, de alguma forma, dos impactos, há
também todas as proteções que usamos por debaixo do
uniforme.
— Ainda assim... É violento demais — comentou
como se sentisse dor por mim e por todos os jogadores.
— Mas o que importa é que vocês venceram e que você
foi incrível naquela última jogada. Eu quase perdi a voz
de tanto te xingar.
— Por que me xingou? — Aquilo era surpreendente.
— Como por quê? Pelo que entendi, a sua função é
passar a bola, então, de repente, você começou a correr
com ela nas mãos que nem um louco... Sério, Logan,
quase morri do coração achando que daria tudo errado.
— Que bom que você tem tanta fé em mim. — Ri,
dando um passo em sua direção. — Não fiz aquilo do
nada, percebi que James e Benjamin estavam cercados
pelos jogadores do Utah e que havia um buraco no meio
do campo deixado pela defesa deles, então, eu me
agarrei a essa falha e corri em direção à end zone. Foi
arriscado, eu sei, mas quando tomamos esse tipo de
decisão, precisamos levá-la até o fim.
— E se um deles te derrubasse?
— Então eu agarraria a bola com toda a minha força
para que não a tomassem de mim.
— Você é louco. — Ela sorriu, sacudindo de leve a
cabeça. — Mas é extremamente talentoso e tenho
certeza de que vai muito longe nesse esporte. Fico feliz
que você esteja tão empenhado em mudar a sua imagem
e que leve o futebol a sério. Qualquer time da liga
profissional só vai ter a ganhar se fechar um contrato
com você.
— Uau. — Engoli em seco, sentindo o meu coração
bater mais rápido. — Não esperava receber um elogio tão
grande assim vindo de você, Valente.
— Nossa, assim parece que eu não tenho coração,
estrelinha dourada!
— Você acabou de me mostrar que tem um coração
enorme — brinquei, vendo Norah se aproximar devagar
com a sua amiga. Percebi que minha irmã queria me dar
tempo, por isso, agi rápido e praticamente sem pensar.
— Quer ir para a minha casa comigo? A gente pode... não
sei, assistir alguma coisa e tomar uma cerveja... Cerveja
não, um suco ou qualquer coisa assim... Ou o que você
quiser beber, é claro.
Merda.
Merda.
Eu estava divagando igual a um garotinho virgem
de quatorze anos de idade, que não sabia como chamar
uma garota para ir ao cinema.
— Pensei que você ia comemorar com o time, não
achei que ia querer ficar comigo.
— Não, eu tenho que levar a sério a minha nova
imagem de atleta exemplar. — Voltei a brincar, mas
percebi que Valente se fechou um pouco, principalmente
quando deu um passo para trás.
— Eu preciso ir para casa, minha irmã está sozinha
e já está ficando tarde.
Não era nem nove da noite ainda, mas Aubrey era
menor de idade e elas moravam em cima de um bar. Pelo
menos, essa foi a desculpa que dei para mim mesmo
para justificar a recusa de Avalon, já que ela não pareceu
se preocupar daquela forma com Aubrey quando ficou
até tarde na festa que dei em minha casa na noite em
que nos conhecemos.
— Ah, claro. Tem razão, precisa mesmo ficar com
ela — murmurei, enfiando as mãos nos bolsos do meu
jeans. — Quer que eu te acompanhe até em casa? Estou
sem carro, mas posso ir com você de Uber.
— Imagina, Logan, não precisa.
— Tem certeza? — Algo me dizia que eu poderia ser
mais insistente sobre levá-la para casa, mas fiquei
inseguro depois que recusou o meu convite. Não queria
ser inconveniente.
— Sim. — Avalon se aproximou e eu prendi a
respiração quando se esticou e deixou um beijo rápido
em meu rosto. — Você arrasou hoje, estrelinha dourada.
Espero que continue assim. Nos vemos na segunda-feira.
Ela se afastou e tirou o celular do bolso. Vi de longe
quando abriu o aplicativo do Uber e observei enquanto ia
para longe de mim, em direção a um grupo pequeno de
pessoas que, provavelmente, também esperavam pelo
carro de aplicativo.
“Vai até ela. Vocês nem falaram sobre o beijo!”,
uma vozinha chata soou em minha cabeça e deixou o
meu estômago gelado, quase me impulsionando na
direção de Valente. “Não seja idiota, Logan, vá!”
Eu ia. Eu juro que ia, mas um carro parou rente à
calçada e Avalon entrou no veículo, desparecendo das
minhas vistas de um segundo para o outro. Engoli o
caroço que se formou em minha garganta, sentindo
vontade de me dar um soco e, ao mesmo tempo,
querendo convencer a mim mesmo de que aquilo foi o
melhor para nós dois. O que eu falaria sobre o beijo? Que
não foi planejado? Que eu não conseguia tirar aquele
momento da minha cabeça? Que eu ainda podia sentir a
maciez dos seus lábios ou o gosto da sua boca?
Avalon claramente correspondeu porque sabia que
beijos faziam parte do nosso acordo. Provavelmente,
para ela, aquilo não tinha tido a menor importância,
assim como deveria ser para mim. Eu não inventei toda
aquela história de namoro falso para ficar abalado com
apenas um beijo, porra! O que estava acontecendo
comigo, afinal? Não podia sair de um limbo — que para
mim significava festas, bebidas e mulheres — e cair em
outro, que tinha os cabelos ruivos com as pontas loiras,
usava roupas escuras e que havia ficado gostosa pra
caralho usando a minha camisa.
Porra, eu nem tinha agradecido por Avalon ter
usado a minha camisa. Que grande filho da mãe eu era!
— Cadê a Avalon? — Norah perguntou, entrando em
meu campo de visão.
— Foi embora.
— Como assim “foi embora”? Sozinha? — Confirmei
com a cabeça. — Logan! Por que deixou que Avalon fosse
embora sozinha?
— Porque ela quis. Me ofereci para ir com ela, mas
ela recusou.
— Mas vocês não estão namorando? — Alicia
perguntou, chamando a minha atenção. — Pelo menos, é
o que todo mundo está dizendo na internet. Gravaram o
beijo de vocês e não se fala sobre outra coisa no Twitter.
A garota me mostrou o seu celular e eu peguei o
aparelho da sua mão, dando uma olhada na rede social.
Engoli em seco ao ver os tweets, a maioria afirmando
que Avalon e eu estávamos em um relacionamento sério
e que eu estava perdidamente apaixonado. Paralelo a
isso, havia vídeos meus correndo pelo campo com a bola,
enquanto todo mundo declarava que eu era o melhor
jogador universitário da atualidade. Senti meu peito ficar
comprimido diante de tanta atenção e tive dificuldade
para respirar.
— Logan. — Norah tocou em meu braço e eu dei um
passo para trás, levemente aturdido. — Acho melhor
irmos para casa, eu estou com o meu carro, posso te
levar.
Eu tinha ido para o estádio no ônibus do time,
então, aceitar a carona da minha irmã seria o ideal, mas
até mesmo a sua presença naquele momento estava me
sufocando. Eu sabia do que precisava quando ficava
daquele jeito. A pressão, às vezes, se tornava absurda e
só uma coisa conseguia me tirar daquela prisão.
— Não precisa, eu vou pedir um Uber.
Não deixei que Norah tentasse me impedir. Devolvi
o celular para sua amiga e passei pelas duas, pegando o
meu próprio aparelho e chamando um carro de
aplicativo. Coloquei um endereço qualquer no centro de
Tuscaloosa, bem longe de onde eu sabia que o time e os
torcedores estariam comemorando. O carro chegou em
menos de um minuto e eu entrei, sendo obrigado a sorrir
para o motorista quando ele me reconheceu e me
parabenizou pelo jogo.
Perdi-me no tempo que levamos para chegar e logo
percebi que eu estava em uma rua lotada por bares.
Sabia que eu não deveria estar ali, afinal, era do que eu
estava tentando me livrar, mas meus pés me fizeram
entrar em um deles sem que eu conseguisse me
controlar. O ambiente escuro do interior do bar me
ajudou a não ser reconhecido e logo peguei uma mesa
nos fundos, sentindo falta de um boné ou qualquer outra
coisa que pudesse me esconder dos olhares dos curiosos.
Um atendente se aproximou e eu pedi uma garrafa de
gin.
Prometi a mim mesmo que seria a última vez que
eu iria ceder àquele tipo de coisa. Eu só precisava me
livrar de toda pressão, da sensação que eu tinha de que,
mesmo começando a agir de forma correta, não
adiantaria de nada, porque a única pessoa que eu
gostaria que estivesse ali para me ver brilhar, já não
estava mais comigo. Eu evitava pensar na minha mãe,
mesmo sonhando com ela quase todas as noites e
acordando com a dor de que nunca mais a veria.
Comecei a lutar para sair daquele buraco, porque
precisava dar um sentido para a minha vida, mas, será
mesmo que tanto esforço valeria a pena?
Minha mãe conseguia me ver de onde estava
agora? Ela também sentia a minha falta todos os dias?
Ela se revoltava, assim como eu, por ter partido tão
cedo? Será que brigava com Deus, exigindo voltar?
Porque eu passei os últimos meses brigando com Ele e
exigindo que a trouxesse de volta para mim, da forma
que fosse. Nada da minha mãe ficou para trás, a não ser
suas roupas, seus sapatos, suas joias, a porcaria da
herança ou meras fotos, que não ajudavam de nada.
Ela havia partido e eu não sabia como lidar com
isso. Eu não queria lidar com isso.
Uma garrafa de gin, um copo e um balde de gelo
apareceram na minha frente. Minhas mãos tremiam
quando desenrosquei a tampa e me servi, dando um gole
e sentindo a minha garganta queimar. Meu último
pensamento coerente, foi de que eu esperava que minha
mãe não estivesse me vendo agora, porque ela não
merecia ver o que o seu filho estava se tornando naquele
momento.
Sentei-me no sofá após passar a última hora
conversando com Aubrey e comendo os dois pedaços de
pizza que ela havia deixado. Quem olhasse para aquela
carinha fofa, não pensaria que minha irmã era uma draga
quando o assunto era comida, mas aquilo me deixava
feliz. Durante anos, Aubrey teve dificuldade para se
alimentar e se viu presa em uma dieta muito restrita por
conta da sua condição de saúde, portanto, era bom ver
que ela agora podia ter uma vida normal e que
aproveitava isso a cada oportunidade que tinha.
Eu me esforçava para que ela continuasse a se
alimentar bem com legumes, verduras e frutas, mas
amava vê-la comer pizza, hambúrguer e a porcaria do
miojo que tanto gostava — esse, ela só comia muito
raramente, pois o teor de sódio me assustava e me fazia
ter o máximo de precaução.
A pestinha me surpreendeu quando disse que
assistiu ao jogo, pois, assim como eu, ela não ligava
muito para esportes, mas ligava para Logan — é claro.
Ela também fez questão de falar que nosso beijo foi
televisionado e que, agora, a internet estava em
polvorosa.
Eu me segurei ao máximo, mas, com o apartamento
praticamente em silêncio depois que ela havia ido dormir
e a TV ligada apenas para não me deixar no escuro,
peguei o meu celular e abri o Twitter, vendo o nome de
Logan nos trending topics. Os tweets se dividiam entre o
seu touchdown espetacular e o nosso beijo. Todos
afirmavam que estávamos namorando e que nunca
viram Logan agir daquela forma com uma garota.
Talvez eu tenha passado mais tempo do que o
aceitável vendo os diversos vídeos sobre o nosso beijo na
rede social. Impressionante como todo mundo no estádio
resolveu filmar, por isso, havia filmagens de diversos
ângulos e distâncias. Alguns, filmaram o telão do estádio,
onde o nosso beijo passou ao vivo em um close que me
deixou um pouco perturbada e com o coração acelerado.
Sem pensar muito, passei os dedos sobre os meus
lábios. Meu cérebro reproduzia aquele momento com
uma exatidão impressionante e eu quase podia sentir a
boca de Logan na minha e a sua língua exigindo
passagem. Meu corpo inteiro reagiu, da mesma forma
que no estádio. Fiquei arrepiada, com os mamilos
sensíveis e o meio das minhas pernas pulsando de uma
forma que me deixou meio assustada.
Não era certo sentir aquilo, principalmente porque
eu sabia que aquele beijo não tinha tocado Logan da
mesma forma que fez comigo. Eu me envolvi durante o
ato e me permiti esquecer do nosso acordo por um
momento, mas agora eu precisava voltar à realidade.
Logan beijava inúmeras garotas até duas semanas atrás,
o que aconteceu entre nós dois, para ele, com certeza
não havia passado de uma brincadeirinha, uma parte da
mentira que precisávamos contar para todo mundo.
E havia dado certo, não era mesmo? Todo mundo
estava comentando sobre nós dois e afirmando que
estávamos em um relacionamento. Perfis ligados ao
esporte estavam comentando sobre o jogo daquela noite
e colocando Logan em um pedestal pelo que havia feito
em campo. Eu imaginava que ele deveria estar em
êxtase naquele momento, acompanhando tudo pelo
celular e sorrindo de orelha a orelha.
O quarterback merecia aquilo e eu estava feliz de
verdade por ele. Esperava mesmo que estivesse feliz,
porque havia se esforçado demais naquele jogo e vinha
lutando para mudar a imagem ruim que havia caído
sobre si nos últimos meses. Eu só precisava colocar a
minha cabeça no lugar e deixar de dar importância para
aquele beijo e para os momentos que passávamos
juntos.
— Faltam só mais seis semanas — comentei
baixinho, bloqueando a tela do celular. — Você consegue
passar por isso sem se envolver pela estrelinha dourada,
Avalon.
Já era quase meia-noite, por isso, desliguei a TV e
decidi ir me deitar. Fui até a cozinha apenas para encher
a minha garrafa de água, pois sempre acordava com
sede durante a madrugada, mas parei no meio do
caminho quando ouvi o barulho da campainha soar pelo
apartamento. Ninguém apertava aquela campainha,
apenas as amigas de Aubrey quando vinham visitá-la, de
resto, qualquer pessoa que me conhecia, batia direto na
porta do apartamento, porque subia as escadas pela
porta do interior do bar.
Como eu tinha acesso às câmeras de segurança que
Maeve havia instalado do lado de fora, peguei meu
celular e entrei no aplicativo. Podia ser apenas algum
bêbado sem-noção que queria zoar com quem morava
ali, mas era bom checar. Demorou um pouco para
carregar, mas, assim que a imagem se abriu, eu senti um
impacto em meu estômago. Precisei puxar o zoom
apenas para ter certeza de que eu não estava vendo
coisas, mas logo percebi que era real. Logan estava
encostado de um jeito esquisito na porta lá embaixo, e se
movimentou, virando para a frente da porta e apertando
novamente a campainha, antes de encostar a testa
contra o batente.
Deixei meu celular sobre a bancada da cozinha e
peguei as chaves no aparador, destrancando a porta e
descendo as escadas de dois em dois degraus. Percebi
que estava fora de forma quando parei ofegante e enfiei
a chave na fechadura lá embaixo, abrindo a porta e
soltando um gritinho quando um Logan completamente
embriagado perdeu equilíbrio e se apoiou em mim, quase
me fazendo cair de bunda no chão.
— Meu Deus! Logan!
Ele riu baixinho de forma débil e eu me posicionei
melhor, pegando-o pelos ombros. Logan conseguiu se
firmar minimamente e tentou focar os olhos pesados e
vermelhos em meu rosto.
— Valente... Tentei... tentei ficar longe, mas... não
sei... acho que eu queria te ver... de novo. — Ele soluçou
no final e deu um passo para mais perto, quase
invadindo o meu espaço pessoal.
— Logan. — Segurei o seu rosto e ele cambaleou,
me fazendo firmar melhor os meus pés no chão para o
caso de cair novamente sobre mim. — O que houve? Por
que bebeu desse jeito de novo?
Ele não estava bem? Eu tinha certeza de que Logan
estava bem quando vim embora! Ele parecia feliz, estava
rindo, brincando, e ainda afirmou que não iria
comemorar com os amigos, porque precisava manter o
foco no plano de mudar a sua imagem. O que havia
acontecido? Percebi o olhar de dois caras curiosos às
suas costas e fechei a porta na cara deles. Esperava que
não tivessem reconhecido Logan.
— Porque eu... sinto a falta... dela.
Seus olhos se encheram de lágrimas e eu engoli em
seco diante da sua resposta.
— Dela quem? — perguntei baixinho.
Logan gostava de alguém? Estaria apaixonado por
alguma outra menina e eu nunca percebi? Se sim, ele
escondia aquilo muito bem, pois sequer desconfiei.
Aquilo não deveria mexer comigo, mas mexeu, mesmo
eu lutando para ignorar o sentimento ruim que se
instalou em meu peito.
— Da minha mãe. — Os lábios dele tremeram e os
meus se abriram sem que eu tivesse qualquer controle,
apesar de eu estar sem palavras. Sua cabeça tombou e
aquele gigante de 1,90m escondeu o rosto em meu
pescoço, apertando com força a minha cintura. — Eu
sinto a falta dela todos os dias. Todos... os dias!
— Logan... — Passei minha mão pelos seus cabelos
e ele soluçou mais alto. Suas lágrimas molharam o meu
pescoço e escorreram devagar em direção ao meu peito.
— Nunca vou entender o por... o porquê... de ela ter
ido embora. Eu nunca vou aceitar isso! Nun... Nunca!
Eu sabia como aquilo era difícil e como doía, por
isso, resolvi não falar nada e deixei que ele chorasse pelo
tempo que precisava. Logan perdeu a força nas pernas
aos poucos e eu nos levei ao chão, torcendo para que
ninguém abrisse sem querer a porta do bar que dava
acesso ao apartamento, pois não queria que vissem
Logan daquele jeito. Ele me agarrou como se eu fosse
uma espécie de boia de salva-vidas, soluçando e
murmurando coisas incompreensíveis em meu ouvido.
Pelo pouco que sabia, sua mãe havia morrido há
menos de oito meses. Era muito recente e Logan
provavelmente estava passando pelas fases do luto. Eu
sabia muito bem o que era aquilo e precisei pesquisar a
fundo quando me vi sozinha com a minha irmã, que,
além de doente, não aceitava a forma repentina como
nossa mãe partiu. Ela tinha apenas quarenta e nove anos
quando sofreu um AVC isquêmico, que a tirou de nós sem
que ao menos nos desse tempo de nos despedir.
Eu me vi completamente perdida, tendo apenas
dezoito anos e me tornando responsável por uma menina
que necessitava de cuidados mais do que especiais. Foi o
momento mais difícil da minha vida, em que tive que
tomar decisões que adolescente algum deveria ter que
tomar. Como se isso não fosse o bastante, ainda precisei
lidar com a minha dor de forma silenciosa, para poder
cuidar da dor da minha irmã.
Eu me vi naufragando naquela época e a pessoa
que foi minha “boia de salva-vidas” quase me afundou
de vez. Enquanto minha irmã passava pela negação, pela
raiva, a barganha, a depressão e a aceitação [10], eu me
via presa sem poder expressar de fato tudo o que eu
sentia, prestes a explodir.
Foi difícil sair do fundo daquele poço, mas eu
consegui. E queria muito que Logan conseguisse
também. Ele vinha se esforçando tanto nas últimas
semanas, não pensei que se sentisse daquela forma, mas
eu deveria desconfiar. Também sempre fui boa em
esconder os meus sentimentos dos outros. Pessoas
enlutadas, quando ainda estão presas nos três primeiros
estágios do luto, são boas em descontar a sua dor de
forma inesperada. Logan fazia isso com a bebida e eu
acreditava que com as festas, também. Era quase um
pedido de socorro, que ele conseguia camuflar com
aquela fama de garoto problema mimado e arrogante.
Longos minutos se passaram até ele finalmente se
acalmar. Quando senti o seu corpo pesar um pouco mais
sobre o meu, me dei conta de que ele estava quase
dormindo e sacudi devagar o seu ombro. Seu rosto
vermelho e inchado pelo choro entrou em meu campo de
visão quando ele ergueu a cabeça.
— Vamos subir? Eu te ajudo.
Ele olhou em direção à escada e fez uma careta,
mas logo concordou devagar com a cabeça. Levantei-me
primeiro e lutei para ajudá-lo a se erguer. Depois, passei
o seu braço pelo meu ombro e pedi para que apoiasse a
outra mão no corrimão para que não derrubasse nós
dois. Foi difícil ajudar aquele gigante a subir, mas deu
certo e logo entramos em meu apartamento. Fui direto
para o meu quarto, mas Logan murmurou e pousou uma
mão sobre a barriga, fazendo uma careta.
— Acho que vou... vou vomitar.
— Ah, merda!
Virei-me e fui direto para o banheiro. Nem tive
tempo de acender a luz. Com o cômodo parcialmente
iluminado pela luz que vinha do corredor, ajudei Logan a
se ajoelhar em frente ao vaso sanitário e ergui a tampa
antes de ele começar a despejar o álcool que ainda agia
em seu estômago. Segurei a sua cabeça com as mãos e
ouvi passos no corredor em meio ao barulho de ânsia
que Logan fazia. Aubrey acendeu a luz e arregalou os
olhos sonolentos ao se deparar com o quarterback
naquela posição meio humilhante.
— Ava...
— Volte para o quarto, Aub.
— Mas... mas é o Logan! O que aconteceu com ele?
— Exagerou na bebida. Depois nós conversamos,
ok? Volte para o quarto e durma.
Ainda boquiaberta, Aubrey lançou um olhar de
pesar para Logan e saiu do banheiro, me deixando
sozinha com o jogador. Eu permaneci segurando a sua
cabeça até ele terminar, ignorando o meu próprio enjoo e
fazendo de tudo para não olhar para o interior do
sanitário. Logo dei descarga e fiz com que Logan se
sentasse no chão, encostando a sua cabeça contra a
parede.
Ele mal conseguia ficar com os olhos abertos e só
pareceu despertar quando encostei uma toalha úmida
em sua testa, limpando o suor acumulado ali. Limpei o
seu rosto devagar, depois o seu pescoço, até tirar os
vestígios de vômito dos seus lábios.
— Valente... — Logan abriu um pouco mais os olhos
e eu respirei fundo, não querendo ser impactada por
eles.
— Oi, estrelinha dourada.
Ele sorriu bem de leve e ergueu a mão direita. Seus
dedos tocaram a lateral do meu rosto com uma gentileza
que me fez sentir vontade de chorar.
— Quantas... Quantas vezes você... já cuidou de
alguém... assim?
Que tipo de pergunta era aquela? Engoli o nó em
minha garganta e tentei encontrar a minha voz.
— Algumas vezes — murmurei, sem querer me
lembrar. — Mas a pessoa que eu cuidei naquela época,
não valia a pena o meu esforço. Ela só me fez perder
tempo.
— E eu... eu valho... a pena?
Havia medo em seu olhar. O sentimento era sincero
demais e me deixou ainda mais vulnerável, apesar de eu
saber a resposta.
— Vale. Você vale a pena, Logan. — Deixei a toalha
de lado e peguei seu rosto em minhas mãos. Eu sabia
que ele não se lembraria disso no dia seguinte, mesmo
assim, precisei falar. — Você cuidou de mim e da minha
irmã no momento em que mais precisei, agora, eu vou
cuidar de você. Prometo que vou te ajudar a sair desse
buraco, ok? Não vou deixar você se afundar mais. Você
vai se reerguer, estrelinha dourada, nem que seja na
marra! Não vive me chamando de cabeça-dura? Você vai
ver que vou fazer jus a esse elogio.
Funguei baixinho, porque, mesmo sendo durona,
não consegui impedir que as lágrimas caíssem, e Logan
sorriu. Foi tão bonito e verdadeiro. Foi calmo e singelo, e
desacelerou as batidas do meu coração. Percebi que
estava aliviada pelo quarterback estar ali comigo, pois eu
o manteria seguro naquele momento em que estava tão
vulnerável.
Ajudei-o a se levantar e o levei para o meu quarto,
deixando seu corpo gigantesco cair sobre a minha cama.
Logan apagou um segundo depois e eu me ocupei em
livrá-lo dos sapatos e meias. Tirei a carteira e o seu
celular do bolso, vendo a tela se acender e mostrar
algumas notificações de mensagens e chamadas
perdidas. A maioria eram de Norah, mas havia
mensagens e ligações de James e Benjamin também.
Decidida a tranquilizar a sua irmã, peguei o meu celular
no balcão da cozinha e mandei uma mensagem para ela,
avisando que seu irmão estava comigo. Ela me ligou um
minuto depois.
— Avalon! Me desculpe ligar a essa hora, mas é
porque Logan quase matou a mim e aos meninos de
preocupação! Por que esse idiota não disse que tinha ido
para a sua casa?
Percebi que Norah acreditava que Logan tinha ido
diretamente me encontrar. Como não queria mentir para
ela, falei logo a verdade:
— Norah, seu irmão chegou aqui há pouco mais de
quarenta minutos. Ele bebeu bastante antes de vir para
cá, mas agora está dormindo.
Segundos de silêncio se passaram até Norah
parecer ter alguma reação.
— Eu não acredito nisso. — Apenas pelo tom da sua
voz, percebi que estava prestes a chorar. — Não, não
quero acreditar que meu irmão está fazendo isso de
novo, não depois de ter se esforçado tanto para melhorar
e, principalmente, do jogo incrível que fez hoje!
— Eu entendo, mas acho que, talvez, a noite de
hoje tenha sido demais para ele. Pode ter acionado
algum gatilho, mas não acredito que isso fará com que
Logan regrida. Se ele quisesse desistir, não teria vindo
para cá.
Precisava me agarrar àquilo, porque não queria
acreditar que Logan iria abrir mão de tudo o que vinha
conquistando. Sua imagem estava melhorando e sua
carreira iria decolar se continuasse jogando como havia
jogado naquela noite. Eu não deixaria que ele desistisse.
Da mesma forma que lutou para me livrar das garras de
Charles, eu lutaria para livrá-lo daquele ciclo vicioso em
que estava.
— Tomara que você esteja certa, Ava. Eu vou até aí
buscá-lo com James, ok? Sinto muito se meu irmão te
deu algum trabalho.
— Não precisa, de verdade. Ele está dormindo
agora, pode passar a noite aqui.
— Tem certeza? Não quero que Logan te atrapalhe.
— Não vai me atrapalhar em nada. Amanhã, depois
que ele acordar, eu te mando uma mensagem para vir
buscá-lo.
— Está bem. Obrigada, Ava. De verdade, muito
obrigada, se Logan foi até você, é porque se sente bem
ao seu lado. Ele confia em você, assim como eu. Você faz
muito bem a ele.
— Ele me faz muito bem também, apesar de me
irritar de vez em quando — brinquei apenas para fazer
com que Norah risse, o que deu certo.
— O amor começa assim. — Ouvi uma voz
masculina do outro lado da linha. Norah pareceu brigar
com a pessoa, mas isso não adiantou de muita coisa,
pois logo ouvi a sua voz de novo. — James aqui. Obrigado
por cuidar do meu amigo, Valente. E não o deixe
descobrir que te chamei pelo apelido, porque o babaca
fica bravo. Ele é possessivo.
— Pode deixar, vou guardar o seu segredo.
Norah voltou a me agradecer e logo nos
despedimos. Pelo menos agora ela poderia ir dormir
tranquila, pois sabia que seu irmão estava em segurança.
Peguei um copo grande de água e duas aspirinas para
que Logan tomasse quando acordasse e fui para o meu
quarto, percebendo que aquela seria a primeira vez em
que iria me deitar ao lado de um homem depois de tanto
tempo. Não fiquei nervosa como sempre imaginei que
ficaria, pois, assim como Logan confiava em mim, eu
também confiava nele.
Deixei o copo e os comprimidos sobre a mesinha de
cabeceira e me deitei ao seu lado, observando o seu
semblante calmo até pegar no sono.
Percebi que estava morrendo de ressaca antes
mesmo de abrir os olhos.
Eu conseguia ouvir o toque do meu celular ao longe,
mas a minha cabeça pesava demais e o meu corpo não
parecia nem um pouco disposto a se mover sobre a
cama. Eu conhecia muito bem aquela sensação, apesar
de não me orgulhar nem um pouco disso. A dor de
cabeça infernal, o enjoo incessante e a vontade de
permanecer na cama até tudo desaparecer como em um
passe de mágica.
Gemi ao abrir os olhos pesados e me deparar com a
luz do sol, a minha arqui-inimiga em momentos como
aquele. Voltei a fechar as pálpebras e tateei sobre a
mesinha de cabeceira, quase jogando o que pareceu ser
um copo no chão, até achar o meu celular.
— Oi. — Minha voz estava péssima. Torci para ainda
ser bem cedo e poder usar o sono para justificar a
rouquidão.
— Acordei você, Logan?
Abri os olhos em um estalo ao reconhecer a voz
grave do meu pai. Tentando focar a visão, afastei o
celular da orelha e vi que o relógio na tela marcava oito
horas. Soltei um suspiro inaudível de alívio enquanto
voltava a posicionar o aparelho entre o meu ombro e
pescoço.
— São oito da manhã de um domingo, pai. O que
você acha?
— Sinto muito, achei que você tivesse acordado
cedo para se exercitar, mas deveria saber que iria
descansar até mais tarde depois de ontem. Fez um bom
jogo, aliás.
Bom jogo.
Eu poderia ter enfiado a cara no álcool na noite
passada, mas sabia que tinha feito muito mais do que
um bom jogo.
— Obrigado.
— Eu estou ligando, porque quero que você e a sua
irmã almocem comigo e com a sua avó hoje.
— Pai... Eu estou morto do jogo, não queria sair de
casa...
— Quero que leve a garota com você. — Sua voz
séria me interrompeu e eu fiquei estático sobre a cama.
— A garota?
— Sim, a que você beijou ontem no jogo. Todo
mundo está comentando que ela é sua namorada. Se
isso for mesmo verdade, quero conhecê-la de forma
apropriada. Você não nos apresentou formalmente
naquela noite na sua casa.
Claro que meu pai não se esqueceria de Valente
com facilidade.
— A garota tem nome, pai, e se chama Avalon.
— Ótimo, leve a Avalon para o almoço. Agora
preciso desligar. Até mais tarde, filho.
A ligação ficou muda e eu suspirei, jogando o celular
ao meu lado na cama. Eu sabia que precisaria apresentar
Avalon para o meu pai em algum momento, mas não
queria que fosse hoje, comigo nesse estado. Eu mal
conseguia me lembrar do que havia acontecido na noite
passada, depois que abri a porcaria da garrafa de gin!
Cocei os olhos e encarei o teto, tentando puxar
alguma memória coerente, mas meu cérebro se recusou
a colaborar. Ao invés disso, comecei a me dar conta de
que aquele teto branco não tinha nada a ver com as
sancas de gesso do meu quarto. Eu também nunca
dormia com as cortinas afastadas, pois odiava ser
acordado pela claridade do dia. Um olhar a minha volta
me fez tomar ciência, pela primeira vez desde que
despertei, que eu não conhecia aquele cômodo.
Aquele não era o meu quarto.
Onde diabos eu estava?
Sentei-me na beirada do colchão e afastei o
edredom marrom das minhas pernas, vendo que eu
ainda vestia a roupa da noite anterior. Meus sapatos
estavam alinhados aos pés da cama e o quarto pequeno
tinha um aroma que eu percebi que conhecia muito bem,
mas que minha cabeça ainda confusa não tinha
identificado de onde. Passei as mãos pelos cabelos,
tentando me lembrar do que havia acontecido na noite
passada, até que a porta do quarto se abriu devagar e eu
quase caí para trás sobre o colchão quando Aubrey
colocou apenas a cabeça para dentro do cômodo.
— Você já acordou! — Ela sorriu de orelha a orelha e
abriu totalmente a porta, enquanto gritava em direção ao
corredor: — Ava, o Logan acordou! — Minha cabeça
pulsou dolorosamente, mas não consegui ter nenhuma
reação, enquanto via a irmã de Valente voltar a olhar
para mim. — Como você está? Avalon deixou esse
remédio para você tomar quando acordasse.
Acompanhei o movimento de Aubrey e vi o copo
d’água e dois comprimidos em cima da mesinha de
cabeceira. Uma mesinha que, obviamente, não era
minha, apesar de eu ter encontrado o meu celular sobre
ela ainda de olhos fechados minutos atrás. Puta merda. O
que eu estava fazendo na casa de Avalon, porra?
— É, hm... Como eu vim parar aqui? — perguntei
baixinho para Aub, que apenas deu de ombros.
— Não me pergunte. Só sei que você chegou de
madrugada e que vomitou enquanto a minha irmã
segurava a sua cabeça para você não se afogar no vaso
sanitá...
— Aubrey!
Avalon entrou no quarto de repente, pousando as
mãos sobre os ombros da irmã e levando-a para a porta.
Eu sabia que tinha que assimilar as palavras da Banks
caçula, mas meus olhos se detiveram nas pernas da
Banks mais velha, que estavam descobertas. Valente
usava um pijama preto com bolinhas brancas, bem
simples, mas o short... Porra, ele moldava a sua bunda e
deixava as suas pernas bonitas de fora.
— Por que você está me colocando para fora?
— Porque você tem uma língua que não cabe na
boca! Não disse que ia fazer panquecas? Vai logo!
— Meu Deus, como você é chata, Avalon!
Ainda reclamando, Aubrey saiu do quarto e Valente
se virou para mim depois de encostar a porta. Mantive
meus olhos fixos nos dela, para não cair na tentação de
admirar o seu corpo coberto pelo conjunto de dormir.
Avalon não usava sutiã, foi o que percebi no milésimo de
segundo que levei para olhar em seus olhos. Aquela
informação ficou piscando em meu cérebro como um
letreiro em néon e eu quis me dar um murro na cara.
— Bom dia, estrelinha dourada. Como está se
sentindo?
Como eu estava me sentindo?
Com tesão, percebi. Com um puta tesão em Avalon
e aquilo era inapropriado pra caralho! Sem graça, puxei
um travesseiro para o meu colo, pois sentia meu pau
começar a endurecer, e encarei Valente, que não parecia
ter percebido que tinha um tarado filho da puta na sua
cama.
— Confuso — falei, me dando conta de que eu não
estava mentindo.
Lentamente, as palavras da sua irmã inundaram a
minha cabeça, junto com flashes da noite passada.
Lembrei-me vagamente do momento em que saí do bar e
que pensei em Avalon. Então, entrei em um carro de
aplicativo e, de repente, eu estava em frente à sua porta,
tentando manter a minha postura ereta enquanto recebia
o olhar do segurança do bar da Maeve. Ele me perguntou
alguma coisa e acho que respondi, então, eu estava nos
braços de Avalon, chorando no ombro dela.
Chorando? Puta que pariu.
E Aubrey realmente não mentiu. Eu vomitei e
Avalon esteve comigo o tempo todo. Não. Eu não podia
acreditar naquilo. Joguei-me para trás sobre o colchão,
soltando um gemido de vergonha enquanto escondia os
meus olhos com o braço. Queria que um buraco se
abrisse bem naquele momento e que eu fosse engolido,
sugado, levado para bem longe dali, tão longe, que
Avalon nunca mais precisaria olhar na minha cara.
— Essa parte é sempre muito ruim, não é? Quando
as memórias voltam e dão um murro na nossa cara. — A
voz de Valente estava bem mais próxima do que um
minuto atrás e logo entendi o porquê quando senti a sua
mão sobre o meu joelho. — Está tudo bem, Logan, eu
juro.
— Não. Não está nada bem.
Estava tudo péssimo, na verdade.
O que tinha dado na minha cabeça ontem à noite,
para que eu decidisse bater na porta de Avalon estando
embriagado daquele jeito? Quando algo assim acontecia,
eu ia direto para casa e me refugiava em meu quarto até
estar apto para aparecer na frente da minha irmã e dos
meus amigos. Nunca agi daquela maneira antes! Sempre
tive consciência de que ninguém, além de mim mesmo,
precisava lidar com as minhas merdas, então eu agia
sozinho.
O que havia mudado? O quê?
— Está falando sobre ter bebido ou ter vindo aqui
para casa?
Não havia julgamento na voz de Avalon e foi por
isso que tomei coragem para olhar em seus olhos. Havia
sido covarde o suficiente na noite anterior. Depois de ter
dado trabalho para a ruiva, precisava pelo menos parar
de fugir como um idiota.
— Os dois, mas, principalmente, por ter vindo para
cá te perturbar. Eu nem sei o que dizer, Avalon. Estou
morrendo de vergonha — admiti, fechando os olhos
rapidamente para não ter que ver a sua reação de pena
ou qualquer merda do tipo.
Senti quando o colchão sofreu uma pequena
ondulação ao meu lado e percebi que Avalon havia se
deitado. Respirando fundo, abri os olhos e a encontrei
deitada ao meu lado, apoiando a cabeça na mão direita.
Seu corpo estava de frente para o meu e o seu rosto sem
um pingo de maquiagem, tão próximo, me fez perceber
pela primeira vez que ela tinha sardas bem claras no
topo do nariz.
— Acho que você deveria sentir vergonha se tivesse
agido como um babaca. Como das primeiras vezes em
que nos encontramos, sabe? — Eu quis me encolher ao
ouvir aquilo, me dando conta de que nunca tinha pedido
desculpas a Avalon por ter agido como um cuzão com ela
antigamente. — Mas não foi isso que aconteceu, então,
não precisa se envergonhar por nada. Todo mundo tem
um momento de fraqueza alguma vez na vida, Logan. A
diferença, é que algumas pessoas têm mais momentos
assim do que outras.
— Mas eu nunca perturbei ninguém nos meus
momentos de fraqueza, só você.
Para a minha surpresa, Avalon sorriu e cutucou de
leve o meu peito.
— Que privilégio o meu, QB. — Sem que eu
esperasse, seus dedos tocaram a linha do meu maxilar,
me fazendo engolir em seco. — Fiquei feliz por você ter
batido na minha porta, Logan.
Foi inevitável fazer uma careta ao ouvir aquilo.
— Por quê?
— Porque você estava passando por um momento
difícil e sem qualquer capacidade para ficar vagando
sozinho por aí. Você podia ter sofrido um acidente ou
qualquer coisa assim. Estando aqui, eu pude te ajudar,
de certa forma.
Sacudi o rosto para tentar ignorar a sensação das
minhas bochechas ficando quentes de vergonha.
— Você segurou a minha cabeça enquanto eu
vomitava. Isso vai além de apenas me ajudar.
— Não leve em consideração o que a Aubrey disse,
sério. Ela pode exagerar bastante quando quer.
— Não precisa dourar a pílula comigo, Valente —
falei, tocando em sua mão que ainda estava sobre o meu
rosto. — Eu me lembro, vagamente, desse momento em
específico. Sei que Aubrey disse a verdade.
Avalon fez uma careta muito bonitinha, como se não
quisesse que eu tivesse me lembrado daquele momento
constrangedor, mas logo sorriu.
— Então você deve se lembrar de que disse que iria
me amar para sempre por ter te ajudado, certo?
Eu não deveria, mas ri ao ouvir aquilo.
— Não tenho qualquer lembrança sobre isso,
inclusive, acho que você está mentindo.
— Eu seria incapaz de mentir sobre um assunto tão
sério, Logan terceiro. — O sorriso dela... Puta merda, por
que o sorriso daquela garota tinha que ser tão
impressionante? — Estou decepcionada por pensar isso
de mim.
— De uma coisa eu me lembro — falei, levando a
palma da sua mão para perto da minha boca. Dei um
beijo sobre a pele quente e delicada, vendo o sorriso de
Avalon estremecer e um suspiro escapar dos seus lábios
cheios. Os lábios que provei pela primeira vez na noite
passada e que queria muito beijar de novo. — Não
agradeci o que fez por mim.
— Não preci...
— Preciso, sim. — Interrompi, dando um outro beijo
nela, em seu pulso, daquela vez. Vi a pele do seu braço
ficar toda arrepiada e o meu pau, que já havia perdido a
ereção, deu um outro sinal de vida dentro da calça. —
Preciso agradecer por um monte de coisa, Valente. —
Beijei novamente o seu pulso, pressionando os lábios
exatamente no local onde pulsava as batidas do seu
coração. Ele estava acelerado, assim como o meu. —
Sinto que estou saindo do buraco em que me enfiei nos
últimos meses desde a noite em que você invadiu o meu
quarto. Sua opinião forte, seu jeito nada meigo de
esfregar a verdade na minha cara e a sua forma de lidar
comigo têm sido essenciais de uma forma que não
consigo explicar. O fato de eu ter vindo parar aqui nessa
madrugada prova isso. Nunca procurei o colo de alguém
em momentos assim, mas procurei pelo seu.
— Logan...
— Não consigo me lembrar com exatidão do que me
fez colocar o endereço da sua casa e o não o da minha
no Uber, mas consigo me lembrar da sensação de que eu
precisava de você, e você me aceitou aqui, mesmo eu
estando naquele estado tão deplorável.
— Para com isso, você não estava em um estado
deplorável. — Sua voz estava bem séria e aquela
ruguinha surgiu entre as suas sobrancelhas quando
franziu o cenho. — Só estava triste e vulnerável, Logan.
— Sim, mas eu não deveria estar.
— Por que não?
— Porque a noite de ontem foi incrível! Eu fiz o
melhor jogo da minha carreira, dei aquele beijo em você,
vi as pessoas comentando coisas boas sobre mim depois
de tanto tempo. Eu deveria estar feliz, Valente, mas não
consegui me sentir assim. — O desespero em minha voz
era nítido até mesmo para mim, mas Avalon manteve a
calma, desvencilhando a mão dos meus dedos para
poder tocar em meu rosto.
— Quando eu entrei no carro para poder sair da
Califórnia, também pensei que ficaria feliz, mas tudo o
que fiz, foi chorar. Minha irmã dormia no banco de trás e
eu precisei parar o carro em um acostamento, no meio
de uma estrada deserta, porque sentia que meu peito iria
explodir se eu não colocasse para fora toda a dor, o
medo e a tristeza que eu sentia. Era para eu estar
chorando de felicidade, mas não tinha qualquer resquício
de alegria em mim, Logan.
— Por que não? — repeti a mesma pergunta que fez
para mim, torcendo muito para que Avalon tivesse uma
resposta para me dar, já que eu não sabia o que dizer
para ela.
— Porque eu acho que a gente tem medo de abrir
mão completamente do que nos machuca. Ao mesmo
tempo em que queremos nos ver livres das amarras que
nos prendem ao passado, temos medo do que iremos
encontrar lá na frente.
— Porque a dor é a única coisa que a gente conhece
— concluí, finalmente entendendo.
Se eu me agarrasse ao presente, como iria viver
sem a raiva que sentia por ter perdido a minha mãe?
Como conseguiria aproveitar plenamente as coisas boas
que estavam por vir, sem me agarrar ao fato de que eu
não poderia aceitar a sua morte? Racionalmente, eu
queria sair daquele poço em que havia me enfiado desde
janeiro, mas em meu interior, o medo e a sensação de
que eu não merecia viver momentos bons, já que minha
mãe também não estava aqui para aproveitar tudo
comigo, ainda me prendiam.
— Quando você perceber que é capaz de viver sem
o peso dessa dor, vai entender que pode e deve
aproveitar os momentos bons da vida — Avalon disse
baixinho, tocando a minha bochecha com o polegar. Só
naquele momento eu percebi que uma lágrima havia
escapado dos meus olhos. — Tenho certeza de que é isso
que a sua mãe quer, Logan. De onde ela estiver, pode ter
certeza de que ela quer te ver feliz.
Abri a boca para responder, mas tudo o que
consegui fazer, foi respirar fundo para poder segurar a
represa que pareceu prestes a se romper. Não queria
chorar novamente como um bebê na frente de Valente.
Ela sorriu para mim com o semblante emocionado e
deixou um beijo em minha testa antes de se levantar.
— Vou na cozinha ver o que a minha irmã está
aprontando. Deixei uma escova de dentes nova e uma
toalha limpa no banheiro para você, caso queira tomar
um banho. Vem se juntar a nós duas para tomar café, ok?
Avalon ia sair do quarto, mas fui mais rápido e me
levantei, conseguindo pegar a sua mão antes que ela
abrisse a porta. Seu corpo voltou em direção ao meu e,
sem pensar demais, a abracei bem forte, precisando
inclinar um pouco os meus joelhos para ficar mais
próximo da sua altura. Um arrepio desceu pela minha
coluna quando Avalon retribuiu o abraço, tocando a
minha nuca com as mãos macias.
— Obrigado, Valente — pedi baixinho em seu
ouvido, sentindo o seu cheiro tão próximo em meu nariz.
Era o mesmo aroma que perfumava o seu quarto. — E
me perdoe por todas as vezes em que fui um escroto
com você. O dia em que quiser chutar as minhas bolas, é
só avisar.
— E se eu quiser fazer isso agora? — Havia um tom
de risada em sua voz.
— Posso pelo menos me recuperar da ressaca
antes? Acho que não vou conseguir lidar com a dor de
cabeça e a dor no meu saco ao mesmo tempo.
— Você é um idiota, estrelinha dourada. — Ela
finalmente riu, mas senti seu corpo estremecer quando
deixei um beijo na curva do seu pescoço.
Quis lamber bem ali e subir com beijos pela sua
mandíbula, bochecha, até chegar a sua boca, mas me
controlei porque, primeiro, eu estava com um bafo
horrível e, segundo, tinha medo de que Avalon realmente
chutasse as minhas bolas por eu estar me aproveitando
da sua confiança. Afastei-me lentamente e observei seus
olhos fugirem dos meus enquanto suas bochechas
enrubesciam.
— Eu vou, hm... Ver a minha irmã.
Avalon abaixou a cabeça e praticamente voou para
fora do quarto, me deixando parado perto da cama e
confuso pra caramba.
Seria possível que Valente estivesse atraída por
mim?
Eu não teria tanta sorte, teria?
Não, não teria.
Mas, e se por um acaso, eu tivesse me tornado um
sortudo do caralho?
Porra, eu precisava descobrir!
— O que é isso? Um banquete?
Aubrey havia arrumado a bancada da nossa cozinha
com praticamente tudo o que havia em nossa geladeira,
além das panquecas, ovos mexidos e o bacon que tinha
feito minutos antes. O apartamento estava perfumado
pela comida e a minha barriga roncou, por isso, não
esperei que minha irmã respondesse antes de pegar uma
tira de bacon de cima do prato. A pestinha deu um tapa
na minha mão.
— Não coma ainda, vamos esperar o Logan!
— Agora eu entendi o porquê de tudo isso. Você é
muito puxa-saco, Aubrey.
— Não sou puxa-saco... Quer dizer, não sou tão
puxa-saco, é que eu gosto do Logan e ele estava mal
ontem. Mamãe sempre dizia que a comida é capaz de
deixar alegre até a alma mais triste.
Ah, meu Deus!
Tinha como não amar aquela garota? Nossa, eu
amava aquela pestinha de um jeito que fazia o meu
coração doer. Dei a volta no balcão e a apertei com força
entre os meus braços, ouvindo-a reclamar enquanto
tentava fugir de mim.
— Eu te amo, Aub.
— Eu sei disso. — Ela riu, dando um tapinha em
minha bunda. — E eu também amo você.
— Uau! Tudo isso é para mim?
A voz de Logan soou em minhas costas e eu me
virei, precisando engolir o acúmulo de saliva em minha
boca ao me deparar com ele terminando de vestir a
camisa. Ele tinha a barriga trincada. Em algum momento
eu havia me esquecido daquilo, mas agora tinha certeza
de que aquela imagem jamais deixaria a minha mente.
Seu cabelo estava úmido do banho recente e ele estava
lindo pra caramba. O fato de estar usando a mesma
roupa da noite anterior era só um detalhe que meu
cérebro mal registrou.
Alguma coisa muito estranha estava acontecendo
comigo. Eu sentia que meus neurônios estavam
começando a se tornar uma gelatina quando eu estava
perto de Logan. E o meu corpo também não colaborava.
Por que meus mamilos pareciam estar prestes a perfurar
a blusa do meu pijama?
— Sim, é para você! — respondeu a minha irmã, me
tirando do transe.
— Bom saber que você cozinhou tudo isso e não vai
comer nada, Aubrey — comentei.
— Não fique assim, Valente, eu deixo vocês
comerem comigo. — Logan sorriu e se aproximou da
minha irmã, tocando gentilmente o seu ombro. —
Obrigado, Aub. Não fique triste se eu não conseguir
comer tudo, ok? Não vou mentir para você, estou com
uma ressaca horrível.
— Se você sabia que ia ficar assim, por que bebeu
tanto?
Às vezes, eu esquecia que minha irmã ainda tinha
alguns resquícios da infância. A supersinceridade era
algo que ela ainda não havia deixado de lado.
— Aubrey. — Chamei a sua atenção, mas Logan
apenas riu.
— Essa é uma ótima pergunta. — O quarterback
puxou uma das três banquetas em frente ao balcão e se
sentou. — A ressaca deveria ter mais poder sobre a
gente, mas depois que ela passa, o nosso cérebro parece
esquecer a sensação horrível que ela causa em nosso
corpo. É por isso que a gente bebe de novo. — Ele enfiou
uma uva na boca e pousou uma mão no coração,
voltando a falar depois de engolir: — Mas agora eu vou
fazer um juramento na frente de vocês duas.
— Vamos ser suas testemunhas? — Aubrey
perguntou.
— Exatamente. — Logan limpou a garganta antes
de continuar. — Prometo nunca mais beber como fiz
ontem. A partir de hoje, vou tomar apenas cerveja e com
moderação.
Parei ao seu lado e toquei em seu queixo, querendo
que olhasse em meus olhos.
— Não deveria ter feito esse juramento na minha
frente, estrelinha dourada.
— Por que não?
— Porque eu vou cobrar essa promessa e só vou
parar, no dia em que você decidir me enxotar da sua
vida.
— Bom, então você não vai parar nunca, porque
esse dia não vai chegar, Valente. — O jogador piscou
para mim e eu senti os meus lábios tremerem de leve
enquanto eu sorria. Talvez as minhas pernas tenham
tremido também, assim como o meio das minhas coxas.
Droga. Logan pegou um morango sobre o balcão e o
levou até a minha boca. — Você também precisa comer.
Dei uma mordida e me afastei rápido de Logan
quando ouvi Aubrey soltar uma risadinha animada. Minha
nossa. Por um momento, eu esqueci completamente que
a minha irmã estava bem ali, do nosso lado.
— Vocês já estão agindo como um casal! Isso é tão
fofo!
— Mas nós somos um casal — Logan disse enquanto
colocava uma panqueca em seu prato.
— De mentira — ressaltei.
— Isso é só um detalhe, Valente.
— Um detalhe muito importante. — Muito mesmo,
tão importante, que eu precisava voltar a me lembrar
com mais frequência.
— Inclusive, temos um compromisso hoje — disse
ele sem me olhar. Logan enfiou uma quantidade enorme
de panqueca na boca e voltou a falar sem nem mesmo
engolir: — Vamosalmoçarcomomeupai.
— O quê?
— É alguma coisa com o pai dele — Aubrey disse ao
meu lado.
— O que aconteceu com o seu pai? — Eu não tinha
entendido absolutamente nada.
Logan engoliu a panqueca e me encarou com um
olhar de quem estava prestes a me pedir desculpas.
— Vamos almoçar com o meu pai — disse com mais
calma e eu paralisei. — Hoje.
— Meu Deus, você vai conhecer o seu sogro! —
Aubrey me deu uma cotovelada nada modesta no braço,
me fazendo reagir com a dor rápida. — Isso tá ficando
sério mesmo, Ava!
— Por quê? — perguntei, ignorando o entusiasmo da
minha irmã. Aquela não era uma boa notícia, o pai do
Logan era... Logan Miller II, pelo amor de Deus! E eu o vi
na casa do jogador naquela noite. O homem me fez
tremer na base com aquele terno caro e os sapatos de
couro. — Por que eu tenho que ir? E por que tem que ser
hoje?
Meu cabelo estava péssimo. Os fios estavam
implorando por uma reconstrução há semanas e eu vinha
empurrando com a barriga, cheia de preguiça de cuidar
deles. Minha pele também estava horrível, eu sentia que
podia surgir uma espinha no meio da minha testa a
qualquer momento, pois era o que sempre acontecia
comigo depois que a minha menstruação ia embora. Eu
simplesmente não estava no meu melhor momento para
conhecer, oficialmente, o tubarão da advocacia, muito
menos para ser apresentada como sua nora!
— Meu pai viu o nosso vídeo e ficou sabendo sobre
o boato de que estamos namorando, então, decidiu nos
intimar para almoçar com ele. Minha irmã também vai —
Logan informou, talvez na esperança de me deixar
menos intimidada. — E a minha avó estará conosco, você
vai ver que ela é incrível. Você não ficará sozinha em
momento algum, Valente, eu prometo.
O que eu podia fazer? Inventar uma dor de barriga
para não ir? Nunca fui covarde e sabia que esse
momento chegaria cedo ou tarde, portanto, apenas
concordei com a cabeça. Quanto antes eu conhecesse o
Sr. Miller II, melhor. Esperava que aquele fosse o nosso
primeiro e último encontro como “nora e sogro”. O
próximo seria quando eu alcançasse um lugar bem alto
dentro do seu escritório de advocacia e passasse a
trabalhar diretamente com ele — isso se eu conseguisse
ser admitida depois de me “separar” do seu filho.
Logan ficou por mais um tempo conosco, beliscando
os ovos e o bacon que Aubrey fez. Eu sentia que ele
também estava tenso, mas pelo menos minha irmã
conseguiu fazer com que ele risse com as besteiras que
dizia. O jogador se despediu logo depois do café da
manhã, avisando que me pegaria uma hora em ponto.
Assim que ele saiu, eu fui direto para o chuveiro.
Precisava pelo menos dar um jeito naquele cabelo, para
chegar de forma apresentável na casa do pai de Logan.

Talvez eu tenha tirado todas as minhas roupas do


armário e jogado sobre a cama, em busca do look
perfeito. Depois de muitas combinações que não me
agradaram em nada, acabei optando por uma calça jeans
de lavagem clara, com a cintura alta. Arrematei com um
cinto preto e um cropped branco, que deixava um
pedaço pequeno da minha barriga de fora. Nada vulgar.
Nos pés, coloquei uma sandália de salto alto e ouvi a
minha irmã assobiar enquanto eu me olhava no espelho.
— Você está uma gata, Ava! Nossa, eu amo essa
argola prateada no seu cinto — disse ela, apontando para
o acessório. A argola ficava perto do passador da calça e
dava mesmo um charme.
— Acho que vou tirar a sandália.
— Por quê?
— Estou achando exagerado... E não combina muito
comigo.
Aquela sandália era da minha mãe e nunca
consegui me desfazer. Era um modelo clássico, que
nunca saía de moda. Só optei por ela porque eu tinha
apenas coturnos, botas e All Stars em minha sapateira.
— Acho que um tênis branco ficaria perfeito!
— Boa ideia!
Eu tinha um tênis branco de plataforma que só
tinha usado duas vezes. Troquei a sandália por eles e,
além de ficar mais confortável, me senti muito mais
como eu mesma. Optei pela maquiagem de sempre,
mantendo o batom vermelho, e deixei o meu cabelo
solto. Estava pronta para conhecer, de verdade, o Sr.
Logan Segundo.
O quarterback chegou no horário marcado e Aubrey
me desejou sorte antes de eu sair para encontrá-lo.
Como já tinha se tornado um costume, Logan me
esperava do lado de fora do carro, mexendo no celular e
usando aqueles óculos incríveis. O filho da mãe estava
lindo com uma calça jeans preta e uma blusa de botões
azul. Assim que percebeu a minha presença, Logan
guardou o celular e tirou os óculos, soltando um assobio
longo como Aubrey.
— Puta merda, Valente. Quer me matar do coração?
— Você não é um atleta? Deveria ser mais
resistente.
— Não sei se meu coração resiste à sua beleza.
Desculpa. — O idiota sorriu e se aproximou, me pegando
de surpresa ao tocar em minha cintura e se inclinar para
deixar um beijo em meu rosto. — Você está linda.
— Obrigada. Você também caprichou hoje — falei,
passando a mão pelo seu peitoral. Era bem firme e eu
fiquei toda arrepiada. — Ficou um gato com essa blusa.
— Você está mesmo me fazendo um elogio?
— Acho que acordei de bom humor hoje.
— Você sabe o porquê, não é? — Sacudi a cabeça,
sem entender aonde ele queria chegar. — Porque você
dormiu a noite toda ao meu lado.
Eu ri e me desvencilhei do seu toque, sem querer
que ele percebesse que estar em seus braços me
deixava abalada. Logan veio logo atrás de mim, abrindo
a porta do carona como o cavalheiro que eu sabia que
ele não era, pois se lembrava raramente de fazer aquele
gesto.
— Quem disse que eu dormi ao seu lado? —
perguntei assim que ele ocupou o lugar do motorista. —
Posso muito bem ter dormido com a minha irmã.
— Duvido que você fosse perder a oportunidade de
passar uma noite grudada em mim.
— Grudada em você? Me poupe, Logan terceiro.
Ele riu e colocou o carro em movimento, me dando
uma olhadinha rápida.
— Dormiu comigo ou não?
— Você nunca vai saber.
— Não seja malvada, Valente! Conta, por favor.
— Talvez, se você implorar um pouquinho mais, eu
conto. Você pode se ajoelhar também, se quiser.
— Quer saber? Não precisa me responder, vou
perguntar à sua irmã. — Ele deu de ombros e eu estreitei
os olhos, vendo o seu sorriso sacana.
— Ela vai responder o que eu disser para ela
responder.
— Sua irmã jamais me enganaria, não cabe
mentiras na nossa relação.
— É um saco saber que ela realmente não mentiria
— falei, cruzando os braços e ouvindo a gargalhada de
Logan.
— Está com ciúmes, Valente?
— Claro que não! Entre mim e você, é claro que
minha irmã me escolheria.
— Hm, eu não tenho tanta certeza disso.
— Cala a boca! — Mandei, dando um tapinha em
seu ombro enquanto o idiota ria. — Se você me irritar,
vou dizer ao seu pai que você é um péssimo namorado.
— Ele já acredita nisso, meu bem, nós precisamos
provar o contrário.
Meu bem.
Obriguei meu cérebro a fingir que aquelas duas
palavrinhas não tinham saído da boca de Logan.
— É sério?
— Sim. Meu pai não leva muita fé em mim, pode ter
certeza de que ele vai nos receber com certa
desconfiança.
— O que quer dizer? Que ele acredita que o nosso
namoro é falso?
— Não sei se ele chegou a pensar tão longe. Acho
que, talvez, ele acredite que a nossa relação não vai
durar.
— Por isso que ele nos chamou para almoçar? Para
te colocar contra a parede, de certa forma? — Logan
apenas concordou com a cabeça e eu me senti mal por
ele. — Sinto muito, Logan.
— Está tudo bem. Meu pai e eu temos uma relação
difícil. Ele não aceita a minha escolha de ser jogador e
acredita que eu vou falhar. Se isso acontecer, vou
realmente precisar usar o meu diploma e trabalhar no
escritório da família.
— Pelo menos você já tem um emprego garantido —
brinquei só para aliviar o clima e Logan riu um pouco. —
Mas não acredito que você vai falhar. Vem se esforçando
bastante, fez um jogo incrível ontem. Não vai precisar
usar o seu diploma de Direito, o diploma de “estrelinha
dourada” vai garantir o seu futuro.
— Que bom que você tem fé em mim, Valente —
disse, parando em um sinal vermelho. — Sei também que
deve estar pensando que esse é um problema de menino
rico.
— Sim, esse é um problema de menino rico —
confirmei, porque era mesmo. Só famílias ricas tinham
problemas tão “difíceis” quanto aquele.
— Mas o futebol é a minha vida. Sempre fui
apaixonado pelo campo, pela adrenalina, até mesmo
pela violência que você temeu ontem. Acho que eu
ficaria perdido se tivesse que parar.
— Você não vai precisar parar, Logan — falei,
tocando em sua perna. Ele pousou a mão sobre a minha
e entrelaçou os nossos dedos. — A não ser que você
queira.
— Eu não quero — disse com muita certeza.
— Então é a isso que você precisa se agarrar, a essa
paixão que você nutre pelo esporte. Foque no seu
objetivo e você vai conseguir. Nunca pensei que eu diria
isso, mas, estou aqui para te ajudar. Até virei a sua
namorada de mentirinha por causa disso.
— Nunca pensei que eu diria isso, mas você é a
melhor namorada do mundo, Valente. — Ele deu um beijo
na junção dos meus dedos e sorriu para mim. — O cara
que conseguir o seu coração de verdade vai ser um
sortudo do caralho.
— Que coração? Acho que não tenho um.
— Ah, você tem, sim. — Logan riu e voltou a colocar
o carro em movimento. Eu olhei discretamente para a
minha mão e passei o polegar por cima do local onde ele
beijou, sentindo a minha pele ficar arrepiada.
Nós logo mudamos de assunto e começamos a falar
sobre o seminário. Nossa pesquisa estava bem
adiantada, mas concordamos que seria melhor mostrar o
que já tínhamos pronto para a Sra. O’Born, apenas para
confirmarmos que estávamos seguindo pelo caminho
certo.
Logo chegamos a um bairro rico, que eu só havia
visitado uma vez, e Logan virou em inúmeras ruas, todas
compostas por mansões, até parar em frente aos portões
pretos e enormes, que se abriram sem que ele sequer
precisasse se identificar. O jogador buzinou para os
seguranças assim que passou pelos portões abertos e
dirigiu por pelo menos mais três minutos antes de chegar
a uma mansão monstruosa, daquele estilo que tinha
quatro colunas brancas e que exalava muito dinheiro.
— Caralho — murmurei sem conseguir conter o
xingamento.
Eu não sabia absolutamente nada sobre arquitetura,
portanto, jamais poderia dizer se a mansão era em estilo
vitoriano ou qualquer coisa assim, mas era linda. Toda
pintada de branco, com uma escadaria de mármore que
levava à entrada principal e cercada por um jardim muito
bem-cuidado. Coisa de milionário. Nunca me senti tão
pobre em toda a minha vida.
— É, também acho um exagero — Logan disse ao
meu lado enquanto tirava o cinto de segurança. — Mas
meu avô comprou essa casa para a minha avó como
presente de casamento. Creio que vai ser aquele tipo de
imóvel que vai passar de geração para geração.
— Acho que a sua próxima geração vai ser muito
feliz morando aqui.
Logan riu baixinho.
— Não sei se eu moraria aqui, caso tenha filhos
algum dia, mas a minha irmã com certeza adoraria. Ela
ama essa casa.
— Eu posso chamar o meu apartamento de casa,
isso aqui está em um outro nível, Logan. — Bufei ao ouvir
a sua risada. — Você é muito riquinho, jamais entenderia
o que quero dizer.
— Desculpa, eu sei que é uma mansão, mas nasci e
vivi aqui até ir para a faculdade, portanto, só consigo
chamar esse lugar de casa.
— Sim, acho que estou cobrando muito de você. —
Apertei levemente a sua bochecha, como uma tia chata
faria. — Pobre menino rico.
O idiota pegou a minha mão e mordeu de leve os
meus dedos, me fazendo soltar um gritinho de susto, não
porque doeu, mas porque eu senti aquela mordida em
lugares inapropriados do meu corpo.
— Você é insuportável às vezes, Valente — brincou.
— Está pronta?
— Eu nasci pronta, estrelinha dourada — menti.
— É bom que pelo menos um de nós esteja
preparado.
Que ótimo discurso motivacional. Se Logan, que
convivia com o pai desde o nascimento, estava daquele
jeito, como eu deveria me sentir? Nós saímos do carro e
ele segurou a minha mão, me levando até as escadas. A
porta se abriu antes mesmo de chegarmos perto dela e
Norah apareceu com um sorriso enorme. Ela me abraçou
com entusiasmo depois que encurtamos a nossa
distância.
— Como é bom te ver de novo, Ava! Obrigada por
ter cuidado do idiota do meu irmão.
— Eu ouvi isso, Norah — Logan disse. Ele não tinha
soltado a minha mão, portanto, precisei retribuir o abraço
de sua irmã com um braço só.
— Mas era para você ouvir mesmo. — Ela se afastou
e deu um soquinho em seu ombro. — Nunca mais fique
sem atender o celular, entendeu? Você quase nos matou
do coração, Logan!
— Vocês ainda não tinham se visto? — perguntei,
pois sabia que Logan tinha ido para casa se arrumar para
o almoço.
— Não, eu vim cedo para tomar café da manhã com
a minha avó. Inclusive, ela está louca para te conhecer,
Ava! Venham!
Norah saiu andando e eu senti um frio na barriga.
Não tinha mais como fugir, eu estava prestes a conhecer
toda a família de Logan como sua namorada.
Que Deus me ajudasse.
Passamos por um hall onde facilmente caberia a
minha sala e a minha cozinha e seguimos para a enorme
sala de estar, de onde era possível ver a escada que
levava ao segundo pavimento daquela casa monstruosa.
O porcelanato do piso brilhava tanto, que eu podia ver o
meu reflexo, o que me permitiu perceber que eu estava
boquiaberta. Logo cerrei os meus lábios, com medo de
que o pai de Logan pensasse que eu era uma idiota que
nunca tinha visto uma mansão na vida. Bom,
pessoalmente, eu nunca tinha visto mesmo, mas não
precisava deixar isso tão claro para ele, certo?
Uma senhora muito bem-vestida com um vestido
comportado entrou na sala, acompanhada por uma
mulher uniformizada, que logo percebi que deveria ser a
governanta da casa. Elas conversavam amigavelmente e
sorriam uma para a outra, até que a senhora mais velha
bateu os olhos em Logan. Seu semblante se transformou
em pura felicidade e tive a certeza de que ela era a avó
do quarterback.
— Meu querido, como é bom ver você!
Logan se aproximou da avó, me levando pela mão,
e se abaixou para dar um beijo em sua testa. A senhora
era muito bonita e, apesar das rugas espalhadas em
lugares estratégicos do seu rosto, parecia ainda ser
muito jovem. Seus cabelos eram castanho-claros, quase
loiros, com pouquíssimos fios brancos. Ela deveria tingi-
los. Também usava pouca maquiagem, apenas um batom
nude e um pouco de blush nas bochechas.
— É muito bom ver a senhora também, vovó. Como
tem se sentido?
— Como se eu tivesse vinte anos de novo. Já falei
para você e sua irmã pararem de ficar se preocupando
comigo. — Seus olhos claros bateram em mim e seu
sorriso pareceu duplicar de tamanho. — Não vai me
apresentar à sua namorada?
— Claro. Vovó, essa é Avalon Banks e, Valente, essa
é minha avó Meredith Miller.
— É um prazer conhecer a senhora — falei,
apertando a mão que estendeu para mim.
Para a minha surpresa, a Sra. Miller me puxou para
um abraço muito entusiasmado. Logo me dei conta de
que ela e Norah eram muito parecidas na personalidade,
as duas eram efusivas e simpáticas. O pai de Logan
podia ser assim, mas algo me dizia que ele não era e eu
havia trocado apenas poucas palavras com o homem.
— Você é ainda mais bonita do que no vídeo que vi
no Twitter! — Ela passou a mão pelo meu rosto e me
olhou com um carinho que aqueceu o meu coração. —
Finalmente Logan trouxe uma garota para casa! Estou
feliz pela sua escolha, querido.
— Obrigado, vovó. Agora, que história é essa de que
a senhora viu um vídeo no Twitter?
— Norah fez uma conta para mim na semana
passada.
— É verdade e a ensinei a usar a rede social —
Norah disse, passando o braço pelo ombro da avó. —
Agora nossa avó está conectada, Logan.
— Nada vai passar despercebido por mim. — Ela
olhou para nós dois e eu senti o meu rosto ficar quente
pelo sorriso que nos deu. — O beijo foi lindo e muito
romântico.
— Vovó! — Logan resmungou e percebi que estava
prestes a ficar vermelho assim como eu.
— O que foi? Só estou falando a verdade. Se seu
avô fosse jogador de futebol, eu o faria me dar um beijo
como aquele, principalmente depois de um jogo incrível
como o que você fez ontem, querido. Estou muito
orgulhosa de você.
Logan sorriu como um menino e eu mal consegui
piscar. Era nítido como ele amava a avó e fiquei muito
feliz por ter uma boa relação com ela. Ele logo me
apresentou a Grace, que era mesmo a governanta da
casa, mas não pudemos esticar muito a conversa, pois
uma voz masculina e bem forte tomou conta de toda a
sala:
— Que bom que estão todos reunidos!
O pai de Logan. Soube antes mesmo de me virar em
sua direção. Ele estava terminando de descer a escada,
enquanto enrolava a manga da blusa social cinza que
usava. Mesmo usando jeans o homem continuava
elegante e o fato de não sorrir o tornava meio
intimidante. Norah foi correndo em sua direção e ele a
abraçou pelos ombros, dando para ela um sorriso
amistoso. Percebi rapidamente que os dois não pareciam
ter qualquer problema de relacionamento.
— Pai, Logan e Avalon acabaram de chegar. Grace já
pode servir o almoço?
— Claro. — Ouvi Grace pedir licença antes de se
retirar da sala depois que o patrão respondeu, mas não
olhei em sua direção, pois fiquei com medo de piscar e o
Sr. Miller II achar errado. Ele se afastou gentilmente de
Norah para poder puxar Logan para um abraço rápido. —
É bom ver você, filho.
Logan parecia ainda mais tenso do que antes. Sua
mão continuou na minha e a forma como deu dois
tapinhas nas costas do pai deixou isso bem claro. Eles
logo se afastaram e os olhos do Logan mais velho caíram
sobre mim sem qualquer discrição, me analisando como
se eu fosse um rato de laboratório.
— Então, você é a famosa Avalon Banks.
— Não sei se sou famosa. — Tentei brincar,
apertando a mão que me estendeu e lutando para não
tremer. — É um prazer conhecer o senhor.
— O prazer é meu.
— Ela não é linda? — perguntou a Sra. Miller,
apontando para mim e sorrindo. — Logan arrumou uma
princesa!
— Avalon é linda mesmo e Logan é um sortudo por
ela ter se apaixonado por ele.
— Ei! Você é minha fã ou minha hater? — Logan
perguntou para a irmã, fazendo-a rir.
— Acho que sou um pouco dos dois.
— O que é hater? — A matriarca da família Miller
perguntou.
— Hater é um termo usado na internet para se
referir às pessoas que não gostam “gratuitamente” de
alguém, vovó.
— Ah, sim. Como aquelas pessoas que falavam mal
do seu irmão?
— Exatamente.
— Mas elas tinham razão no que falavam. O
comportamento de Logan dava brechas para que as
pessoas comentassem coisas ruins sobre ele —
comentou o Sr. Miller, cortando completamente o clima
descontraído na sala. Por sorte, Grace apareceu dizendo
que o almoço estava servido e a conversa se encerrou
por ali.
Logan me guiou até a sala de jantar com o
semblante fechado. Eu queria me inclinar e sussurrar em
seu ouvido que estava tudo bem, mas preferi ficar
quieta, porque eu não sabia se, de fato, estava tudo
bem. Pela forma como seu pai o abraçou para
cumprimentá-lo, cheguei a pensar que o quarterback
podia ter exagerado um pouco quando disse que seu
relacionamento com o homem mais velho era difícil, mas
agora eu já não sabia mais o que pensar.
Concordava que Logan tinha um comportamento
duvidoso algumas semanas atrás. Eu mesma não
gostava dele e dava razão aos comentários que diziam
que o jogador era arrogante, mimado e prepotente, mas
eu não o conhecia. Convivendo com ele, percebi que
Norah tinha razão quando dizia que Logan usava uma
máscara na frente das pessoas. Ele também estava,
claramente, passando por um momento difícil depois da
morte da mãe. Se eu, que o conhecia há tão pouco
tempo, era capaz de perceber isso, como seu pai, que o
havia visto nascer, não percebia?
Ele realmente acreditava que Logan merecia todo o
julgamento que recebia na internet? Se sim, era por que
aquele tipo de situação era favorável a ele? Logan deixou
bem claro que o pai o queria no escritório, dando
seguimento ao legado da família. Talvez, o Sr. Miller II
acreditava que o filho poderia desistir do futebol se
continuasse a alimentar todo o hate que recebia na
internet.
Sacudi discretamente a cabeça, espantando o
pensamento. Não, aquilo era cruel demais. Um pai de
verdade jamais desejaria o mal do filho, ainda mais por
causa de um capricho. Muitas empresas, que começaram
de forma familiar, seguiam até hoje com um prestígio
enorme sendo gerenciadas por terceiros. O fato de Logan
ou Norah não quererem se envolver com os negócios da
família, não queria dizer que todo o legado viraria
fumaça.
O Sr. Miller II tomou a cabeceira da mesa de doze
lugares, enquanto sua mãe e Norah se sentaram ao seu
lado direito e Logan e eu nos sentamos do lado esquerdo.
Grace anunciou o que prato principal seria carne de
cordeiro e eu fiquei mais tranquila por não ser algo difícil
de comer, como uma lagosta inteira, por exemplo.
Começamos a nos servir e o pai de Logan voltou falar
enquanto todos comiam:
— Conte mais sobre você, Avalon. Logan chegou a
comentar comigo que você cursa Direito.
Precisei engolir rapidamente o pedaço da carne que
estava comendo para poder responder:
— Sim, é verdade. Assim como Logan, também
estou no terceiro ano.
— E como vocês se conheceram? Foi durante
alguma aula?
Tentei me lembrar do plano que armamos semanas
atrás para o caso de recebermos aquele tipo de
pergunta, mas minha mente deu um branco. Como se
soubesse disso, Logan respondeu por mim:
— Nós já nos conhecíamos de vista, mas nos
aproximamos por causa do trabalho acadêmico que
estamos fazendo juntos.
— O que “conhecer de vista” significa? Se
conheceram em algumas dessas festas malucas que
você participa?
— E se for? Logan é jovem e Avalon também, filho.
Eles precisam aproveitar a vida — Sra. Miller disse,
dando uma piscadinha para mim e para Logan.
— Logan participava dessas festas, pai. Ele deixou
isso de lado e agora está focando no futebol, na
faculdade e no namoro com Avalon — Norah partiu em
defesa do irmão.
— Na verdade, nós nos conhecemos na biblioteca.
Logan estava devolvendo um livro que eu precisava
pegar emprestado, então, trocamos algumas palavras —
inventei, tocando no joelho de Logan por debaixo da
mesa, pois percebi que ele balançava a perna sem parar.
Ele tomou a minha mão discretamente e a apertou em
um sinal de gratidão.
— Interessante — respondeu o seu pai. Fiquei
tentando imaginar o que aquele comentário significava,
mas os olhos sérios de Logan Miller II eram uma
incógnita. — Fiquei sabendo que você trabalha em um
bar... É verdade?
— Como ficou sabendo disso? — Logan perguntou
com uma seriedade que foi estranha para mim.
— Ouvi sua irmã comentar com a sua avó.
— Sim, é verdade — confirmei. — Existe algum
problema em trabalhar em um bar?
— Não, claro que não. — Sua voz formal não me
deixou brechas para saber se estava falando a verdade
ou se estava debochando discretamente. Ele parou por
um momento e olhou para Logan. — Não vai comer?
— Não estou com muita fome.
Algo mudou na expressão do pai de Logan. Talvez,
se eu o conhecesse há mais tempo, saberia o que aquele
olhar para cima do quarterback significava, mas por
nunca ter convivido com ele, não soube o que pensar. Só
percebi que ele pareceu se armar um pouco mais,
ajeitando a postura impecável sobre a cadeira e cortando
a carne de cordeiro como uma precisão impressionante.
— Imagino que você já deva ter visto Logan
diversas vezes no bar em que trabalha...
— Algumas vezes, sim, como qualquer outro
universitário — cortei-o e sua sobrancelha se arqueou
ligeiramente.
Eu estava nervosa, era verdade, mas a arrogância
do pai de Logan fez com que o tremor leve em meu
corpo fosse substituído por uma espécie de raiva
silenciosa. Queria entender aonde aquele homem
elegante queria chegar com todos aqueles comentários
ácidos.
— Logan não deveria ser como qualquer outro
universitário.
— Pai, por favor — Norah pediu, mas Logan ergueu
a mão.
— Não, deixe-o falar. Todos nós já conhecemos esse
discurso, mas Avalon ainda não. Acredito que meu pai
queira mostrar a sua linha de raciocínio para ela.
— O que quero dizer, é que meu filho tem uma
reputação e um nome a zelar. Não acho certo que esteja
envolvido em tantas fofocas na internet, principalmente
se quer mesmo ser um jogador profissional.
— Talvez o senhor esteja desatualizado — falei,
vendo não apenas os seus olhos, mas o de todos à mesa
sobre mim. — Desde ontem, as únicas coisas que vejo na
internet sobre o seu filho, são elogios. Todos estão
comentando sobre Logan, é verdade, mas estão
parabenizando-o pela sua atuação no jogo contra o Utah
State, inclusive, perfis oficiais de esporte. Acho que a
imagem de Logan já não é mais atribuída a algo ruim, o
que é bom, pois mostra que ele está, sim, zelando pelo
seu nome e construindo um legado incrível, que com
certeza vai inspirar inúmeros jogadores pelo país.
Norah sorriu discretamente, diferente da sua avó,
que me mostrou praticamente todos os dentes depois
que me calei. Não tive coragem de me virar para ver a
reação de Logan, pois a adrenalina por ter respondido o
seu pai durante um rompante de indignação estava
passando e eu estava quase com vergonha, apesar de
saber que eu não tinha errado em nada do que falei. Vi o
pomo de Adão de Miller II subir e descer antes de ele
dizer:
— É, Logan fez um bom jogo ontem à noite.
— Não. — Logan cortou o pai e apertou rapidamente
a minha mão antes de entrelaçar os nossos dedos. — Eu
teria feito um bom jogo se não tivesse feito aquele
touchdown nos últimos minutos. Depois daquela jogada,
eu fiz um jogo excelente, pai, ainda que o senhor não
reconheça.
Foi a minha vez de sorrir, mesmo que
discretamente, como Norah. Estava orgulhosa. Depois de
tudo o que Logan havia passado na última noite, era
muito bom ver que estava dando valor à sua participação
no jogo e dizendo em alto e bom tom que tinha feito algo
incrível em campo.
— É verdade. — Seu pai pareceu finalmente
reconhecer – ou fingir que reconhecia. — Eu devo
parabéns a você, filho.
— Deve mesmo! — comentou a Sra. Miller, dando
um olhar severo ao filho. Foi bonitinho ver que, mesmo
com a idade avançada e tendo um filho adulto, ela ainda
agia como se ele fosse uma criança.
Sr. Miller pousou a mão sobre o braço de Logan e
disse com sinceridade:
— Você realmente fez um jogo incrível ontem à
noite. Parabéns.
Aquele homem me confundia. Ao mesmo tempo em
que parecia pronto para cobrir o filho de críticas,
realmente era sincero no elogio em que fazia. Qual era o
problema dele?
— Obrigado — Logan disse simplesmente,
desvencilhando do toque do pai para poder comer. Eu
imaginava que a ressaca ainda estava deixando-o
enjoado, por isso, estava comendo pouco.
Norah logo puxou um assunto qualquer à mesa e o
clima foi se tornando menos pesado. Foi durante a
sobremesa — uma mousse de chocolate meio amargo
que estava deliciosa — que o pai de Logan voltou o seu
foco para mim.
— No que quer se especializar, Avalon?
— Quero lutar pelo direito das mulheres e defender
aquelas que sofrem violência doméstica.
— Isso é incrível, Avalon! — Norah disse e Logan
apertou a minha mão debaixo da mesa.
— É uma área que combina muito com você — disse
o jogador.
— Precisamos de mais mulheres que lutem por nós.
Estou feliz por ver o futuro bem na minha frente, querida.
— A avó de Logan me deixou emocionada e eu sorri, sem
ter muito o que dizer.
— É uma área muito promissora — disse o pai de
Logan.
— Sim, mas eu não viso o dinheiro. Quer dizer, não
viso apenas o dinheiro. Essa é uma luta especial para
mim.
Eu poderia dizer pessoal, mas não queria me expor
demais na frente da família de Logan. Assim que os
empregados vieram recolher à louça, eu pedi licença
para ir ao banheiro e Grace me guiou até o lavabo que
ficava perto da escada que levava ao segundo andar da
mansão. Enquanto me aliviava, permiti que os meus
músculos relaxassem e tentei me livrar completamente
da tensão que ainda sentia.
Não sabia o que pensar sobre o pai de Logan. Ele
não era conhecido como um tubarão à toa, eu sabia, mas
pensei que dentro de casa ele seria alguém mais
relaxado e simpático. O homem era arrogante, mas, ao
mesmo tempo, parecia se preocupar com os filhos. Logan
Miller II era, definitivamente, uma pessoa estranha, que
fazia perguntas que pareciam ser sem sentido, mas que,
para alguém que se interessava pela área do Direito,
sabia que fazia parte de um quebra-cabeça montado por
ele.
Ele jogava iscas para pescar informações, como
qualquer advogado esperto. Um passo em falso e ele
com certeza pegaria a mentira que Logan e eu
estávamos contando. Pelo menos, eu acreditava que
tinha me saído bem, principalmente quando fiz aquela
defesa ferrenha do quarterback — que havia sido
totalmente intencional, eu precisava ressaltar. Só senti
que eu precisava mostrar a Logan II que seu filho estava
melhorando e que, mesmo não querendo, ele precisava
admitir isso.
Lavei as mãos e retoquei o meu batom
rapidamente, tomando um susto ao me deparar com as
vozes de Logan e seu pai vindo de algum cômodo perto
dali assim que saí do lavabo. Percebi que eles estavam
na sala, perto da janela, e fiquei sem saber o que fazer.
Deveria me aproximar e interromper a conversa dos dois
ou ir direto para a sala de jantar procurar por Norah ou
sua avó?
— Acha que eu não sei que está de ressaca, Logan?
— Ouvi o seu pai perguntar em um tom bravo. — Já te vi
assim muitas vezes! Juro que cheguei a pensar que você
estava mesmo mudando esse comportamento típico de
moleque sem responsabilidade, mas acho que me
enganei!
— Não vou mentir, realmente bebi ontem à noite.
— Por quê? Se está tão feliz por ter feito um jogo
excelente, por que exagerou na bebida?
Lá estava, a versão preocupada do pai de Logan.
Escondi-me perto da escada para poder observar a
interação entre eles. Seu pai estava de braços cruzados,
enquanto o jogador olhava pela janela, com as duas
mãos nos bolsos da calça jeans.
— Porque eu me lembrei da mamãe. — Não pensei
que Logan seria sincero, mas percebi que sua confissão
fez a postura do Miller mais velho mudar. Ele descruzou
os braços e tocou o ombro do filho. — Não sei o que falar
além disso.
— Não precisa falar mais nada, eu entendo. Isso não
quer dizer que eu acho que agiu de forma correta.
— Sei que não agi, pai, e prometi que foi a última
vez.
— Sua namorada estava com você?
— Não, mas ela me ajudou a ficar melhor depois.
— Você confia nela? Realmente a conhece, Logan?
— Sim para as duas perguntas. — Ele se virou para
o pai e eu engoli em seco, sentindo o meu coração
disparar. Eles podiam mudar de assunto. Eu odiava ser o
centro de uma conversa. — Eu... gosto da Valen... Da
Avalon. Eu a chamo de Valente e às vezes me confundo.
— Ele riu e eu senti a mousse de chocolate se revirar em
meu estômago. — Na verdade, eu gosto muito dela, pai.
Desde o dia em que nos conhecemos, Valente tem me
ajudado a mudar a forma como eu enxergo as coisas. Ela
não tem medo de me enfrentar e me dar uma série de
esporro se eu faço alguma besteira, também tem estado
ao meu lado nos momentos mais importantes, me
incentivando a melhorar e manter o foco no que
realmente importa. Avalon me faz muito bem.
— Ela também parece gostar muito de você. — Seu
pai ainda estava sério, enquanto eu sentia que minhas
pernas poderiam falhar a qualquer momento. — Só não
quero que você se machuque, ok? Tenha cuidado.
Certo, seu pai não tinha ido muito com a minha
cara, aquilo ficou bem claro. Mas quem se importava?
Logan havia acabado de fazer um discurso falando que
gostava de mim e não parecia ter sido apenas para
convencer ao seu pai. Eu poderia estar me iludindo, mas
achei que o jogador havia sido sincero. Será que estava
sendo uma boba? Eu esperava que não. Decidida a sair
do meu esconderijo, entrei na sala e Logan se virou para
mim, saindo de perto do pai para encurtar a nossa
distância.
Ele me deu um sorriso caloroso e o meu coração
ameaçou explodir no peito. Sem que eu esperasse, o
quarterback se inclinou e deixou um selinho demorado
em meus lábios, me fazendo estremecer. O filho da mãe
sentiu, eu soube no momento em que sorriu com a boca
ainda na minha e apertou a minha cintura, me deixando
arrepiada da cabeça aos pés.
Tinha sido um simples selinho! Eu precisava
aprender a me controlar melhor, pelo amor de Deus!
— Minha avó e Norah estão esperando por nós dois
na área da piscina — ele avisou.
Pensei que iríamos embora, mas, ao contrário do
seu pai, a sua avó era uma companhia muito mais
agradável, portanto, eu apenas concordei com a cabeça.
O Logan mais velho disse que precisava fazer uma
ligação, mas logo nos encontraria do lado de fora, e
seguiu em direção a algum cômodo daquela casa
gigantesca. Quando me vi sozinha com Logan, dei um
soquinho na altura das suas costelas.
— Você não me disse que teria beijo na boca! —
sussurrei.
— Se você chama esse selinho de beijo na boca,
então, ontem nós trepamos em público — ele disse
baixinho em meu ouvido, fazendo meu clitóris pulsar.
Jesus Cristo!
— Meu Deus, você é nojento, Logan!
Ele riu alto e me puxou em sua direção quando
ameacei andar em direção à piscina — que eu sequer
sabia onde ficava. Suas mãos voltaram a cercar a minha
cintura e eu precisei jogar a cabeça um pouco para trás
para poder olhar em seus olhos.
— Obrigado por tudo o que disse ao meu pai
durante o almoço. Poucas pessoas conseguem deixar
aquele homem sem palavras.
— Eu o deixei sem palavras?
— Sim, deixou. — Ele sorriu de forma carinhosa e
subiu as mãos até a faixa nua de pele em minha barriga,
um pouco abaixo das costelas. Se Logan conseguia sentir
a minha pele arrepiada, não demonstrou, mas com
certeza sentiu a forma como apertei os músculos duros
dos seus braços entre os meus dedos. — Mas me deixou
sem palavras também. Estou até agora sem saber direito
o que dizer.
— Não precisa dizer nada, eu só falei tudo aquilo,
porque queria que seu pai visse que você tem se
esforçado, Logan. Ele precisava reconhecer aquilo e acho
que deu certo.
— Meu pai é uma pessoa difícil, mas não é alguém
ruim.
— Não estou aqui para dizer que ele é ou não, mas
de uma coisa eu sei, o homem é arrogante.
— Ele é.
— E um pouco chato, também.
— Isso com certeza. — Logan riu baixinho. — Mas
acho que ele gostou de você.
— Hm, eu duvido muito. Talvez, se eu fosse uma
garota rica, que não trabalha em um bar, as coisas
fossem um pouquinho diferentes, mas eu não ligo. Seu
pai pode pensar o que quiser de mim, não vai mudar em
nada na minha vida.
— Mesmo?
Concordei com a cabeça, pois estava falando a
verdade. Eu poderia ter um sonho bobo de um dia
trabalhar em um dos seus escritórios conceituados? Com
certeza, mas sabia que eles não eram os únicos no
mundo e eu lutaria para crescer em qualquer lugar que
me desse uma oportunidade.
— Eu deveria saber disso. Você não se abala por
pouca coisa, Valente. A não ser por um selinho meu —
sussurrou, abaixando um pouco a cabeça em minha
direção.
— Eu não me abalei!
— Se abalou, sim. — Logan olhou para além de mim
e sorriu discretamente, antes de voltar a me encarar e
sussurrar: — E vai se abalar novamente, porque minha
avó está olhando em nossa direção e eu vou te beijar de
novo.
Eu ainda quis me virar para ver se estava falando a
verdade, mas Logan segurou a minha nuca com uma
mão e me beijou delicadamente. A pressão em meus
lábios foi aumentando aos poucos, conforme ele foi
tomando mais espaço, até que pediu a passagem da sua
língua em minha boca. Eu dei sem pensar duas vezes,
suspirando quando o beijo começou de verdade.
Eu não deveria estremecer. Meu coração, com toda
certeza, não deveria ficar acelerado, mas não consegui
impedir nenhuma dessas reações, porque Logan dominou
cada espaço dentro da minha cabeça e se tornou o
centro de tudo enquanto mantinha a boca sobre a minha
e me fazia enlouquecer no meio da mansão chique do
seu pai.
Era oficial: todos sabiam que eu estava em um
relacionamento sério.
Acabei confirmando os boatos ao postar uma foto
com Avalon no domingo, em frente à piscina da casa do
meu pai. Minha avó era apaixonada por água, quando
jovem, praticava natação e havia até mesmo participado
de alguns campeonatos, por isso, quando meu avô
comprou a mansão, pediu para que o arquiteto fizesse
um oásis particular para ela.
A área da piscina era muito bonita, cercada por
muito verde e uma cascata que elegante. Avalon ficou
encantada e eu aproveitei o momento para abraçá-la
pelo ombro e contar a história do ato romântico do meu
avô. Norah, que deveria estar muito atenta a nós dois,
tirou a foto enquanto estávamos distraídos e me mostrou
apenas quando chegamos em casa. Eu fiquei estático
enquanto observava nós dois na tela do seu celular.
Valente sorria com o rosto inclinado em minha
direção e eu a olhava com uma cara de bobo. Demorei a
me reconhecer na foto e quase acusei Norah de ter feito
alguma manipulação digital na imagem, mas desisti
antes de falar qualquer coisa, porque eu sabia que minha
irmã jamais faria algo do tipo. O Logan estranho naquela
fotografia era só um reflexo de quem eu me tornava ao
lado de Avalon, um cara mais relaxado, sorridente e
encantado pela ruiva abusada e feroz.
Antes de postar a foto, enviei para ela por
WhatsApp e esperei que me desse o aval para postar.
Avalon demorou a me responder e cheguei a pensar que
não permitiria, mas me surpreendeu ao fazer uma
chamada de vídeo ao invés de responder um simples
“sim” ou “não”. Comecei a rir ao me deparar com Aubrey
do outro lado da tela quando aceitei a ligação.
— Pode postar, cunhado! Eu deixo!
— Onde está a sua irmã?
— Tomando banho. — Estava explicado o porquê de
a pestinha estar falando baixo e olhando para algo além
do celular a cada poucos segundos. — Eu juro que não
fico bisbilhotando as mensagens de Ava, é que o meu
celular está carregando e eu estava usando o dela para
ver um vídeo de receita no YouTube. Vou fazer cookie e
mandar para você pela minha irmã.
— Tenho certeza de que vão ficar deliciosos! Você
gosta de cozinhar, Aub?
— Eu achava que não, mas agora que posso me
aventurar mais na cozinha, estou percebendo que amo!
Às vezes eu deixo alguma coisa queimar ou passar muito
do ponto, mas Ava diz que é normal, pois ainda estou
aprendendo.
Ela era muito novinha, então, Valente tinha mesmo
razão. Inclusive, acreditava que só agora estava
deixando que a irmã fosse mais independente e
preparasse algumas refeições. Avalon parecia ser bem
protetora com Aubrey, o que lembrava a forma como eu
mesmo tratava Norah.
— Sua irmã tem razão, mas não diga a ela que eu
falei isso.
— Eu já ouvi, estrelinha dourada! — Aubrey
arregalou os olhos e soltou uma risada enquanto perdia a
posse do celular. Avalon apareceu na tela com o colo nu
e salpicado de gotas de água, deixando a minha
garganta seca. Percebi que começou a se afastar da irmã
e entrou em seu quarto, fechando a porta. — Posso saber
o que você e minha irmã estavam conversando pelas
minhas costas?
— Claro que não, era um assunto particular. Você
está apenas de toalha ou é impressão minha?
Avalon estreitou os olhos e, de repente, trocou a
câmera frontal pela traseira. Tive uma visão ampla da
sua cama arrumada, sem entender ao certo o que ela
estava fazendo, até que uma toalha branca apareceu na
tela, caindo diretamente sobre a colcha.
— Estava. Agora, não estou mais.
— Avalon! — Desencostei-me da cabeceira da
minha cama e aproximei o celular para mais perto do
meu rosto, ficando chocado com a ousadia da garota. —
Você está... Está...
— Nua? Sim.
Meu pau sofreu um espasmo muito forte dentro do
meu short de dormir. Podia jurar que o filho da puta
ficaria duro em tempo recorde e eu nem mesmo tive um
vislumbre do seu corpo nu. Ao fundo, pude ouvir a risada
de Valente ante o meu silêncio.
— O gato comeu sua língua, QB?
A danada trocou novamente a câmera e apenas o
seu rosto lindo e livre de maquiagem apareceu em meu
campo de visão.
— Desce o celular e me prova que está pelada —
desafiei, encontrando a minha voz.
— É claro que eu vou te dar o gostinho de me ver
nua. — Ela sacudiu a cabeça, fazendo algumas mechas
de seu cabelo escaparem do coque frouxo. — Só nos
seus sonhos isso vai acontecer, estrelinha dourada.
Agora eu preciso desligar.
Avalon me soprou um beijo e simplesmente
encerrou a chamada, deixando a tela do meu celular
voltar para a nossa conversa no aplicativo. Ainda
chocado, deixei o celular sobre a cama e passei a mão
pelo cabelo, confuso pra caralho com aquele rompante
da garota. Avalon nunca havia feito qualquer insinuação
sexual para cima de mim. Quer dizer, eu sabia que não
poderia chamar aquilo de insinuação sexual, mas,
mesmo assim, era uma brincadeirinha perigosa e que
encurtava um pouco os limites que estabelecemos
previamente.
Será que Valente estava querendo me passar algum
recado? Estaria me enviando sinais de que estava,
realmente, a fim de mim? Ou eu estava maluco e vendo
coisa onde não existia?

Valente: Pode postar a foto. Eu fiquei muito bonita,


aliás.
Li a mensagem assim que a tela do meu celular se
acendeu com a notificação. Meu pau estava semiereto e
eu ainda estava confuso, mas respondi mesmo assim:

Eu: E o que tem a dizer sobre mim?


Valente: Você está ok.

Minha risada soou mais alta do que a série que


coloquei para passar na TV. Aquela, sim, era a Valente
que eu conhecia, mas precisava confessar que estava
muito animado para conhecer a sua versão desinibida,
que ficou nua para mim do outro lado da tela, mesmo
sem me deixar ter um único vislumbre do seu corpo
bonito.
— QB, se eu não soubesse que tudo isso não passa
de uma encenação, eu acreditaria que você está de
quatro pela ruiva gostosa.
O comentário de Benjamin ao meu lado me fez
voltar para o presente. Estávamos na sala de vídeo do
centro de treinamento, esperando o treinador Coben
chegar para estudarmos o último jogo do Texas
Longhorns. Nós o enfrentaríamos no sábado, em um jogo
fora de casa, o que fazia com que a tensão aumentasse
um pouco, principalmente porque o time adversário
também não havia perdido o primeiro jogo no último
sábado.
Benjamin soltou um gemido quando dei um tapa na
sua nuca. Talvez tenha sido mais forte do que nós dois
esperávamos, mas o babaca mereceu.
— Já falei para você parar com essa merda, porra!
Respeite a minh... Respeite a Avalon!
— Você ia falar minha garota. — O idiota sorriu e eu
sacudi a cabeça. Por sorte, a sala ainda estava vazia e
dois jogadores reservas conversavam perto da porta,
longe de nós dois.
— Não ia nada.
Eu ia, sim, da mesma forma que falei com James
durante o treino na semana passada. A diferença
daquele dia para o agora, era que ali eu tinha plena
consciência de que estava apenas testando as palavras
na minha boca para que elas começassem a soar de
forma natural na frente das outras pessoas. Aqui, com
Benjamin, o pronome possessivo simplesmente surgiu
sem que eu precisasse pensar uma segunda vez.
Porra, eu estava ferrado. Eu sentia que estava.
Avalon estava alugando um tríplex na minha cabeça e
tomando conta de tudo aos poucos, sem que eu tivesse o
menor controle para impedi-la. Sentia que estava
piorando desde ontem, com aquela videochamada em
que tirou a toalha e a deixou sobre a cama.
A manhã de hoje foi uma tortura. Buscá-la em casa,
sentir o seu cheiro dominando o meu carro, andar ao seu
lado de mãos dadas pelo campus, sentar-me ao seu lado
na aula da Sra. O’Born, ouvir sua voz sensual enquanto
mostrávamos para a professora toda a pesquisa que
fizemos para o seminário... Eu mal consegui prestar
atenção nas pessoas que nos olhavam de forma ainda
mais curiosa e cochichavam sobre nós dois pelos
corredores do prédio de Direito, porque só tinha olhos
para ela. Sentia-me um bobo, sem qualquer controle
sobre as minhas emoções.
A verdade, era que eu estava impressionado com
Avalon. O almoço na casa do meu pai foi difícil, cheguei a
pensar que ele estragaria tudo com aquela ladainha de
sempre, mas Valente me surpreendeu ao falar tudo
aquilo na cara dele, sem medo de enfrentar o homem
que fazia com que qualquer pessoa de fora tremesse na
base. Até eu me sentia sufocado em sua presença, mas
Avalon, com aquela sua personalidade forte, fez algo que
nem mesmo eu estava fazendo por mim de maneira
adequada.
Valente me defendeu, praticamente da mesma
forma que eu a defendi daquele filho da puta que estava
ameaçando a sua vida e a vida da sua irmã. Eu ainda
estava sem palavras, sentia que não havia agradecido o
suficiente. Acreditava que nada do que eu falasse,
poderia demonstrar como fiquei surpreso e grato pelo
que havia feito por mim.
— Tá me ouvindo? — Benjamin estalou os dedos na
frente do meu rosto e eu pisquei, saindo do transe. Ao
seu lado, vi James rindo, e percebi que a sala estava
praticamente lotada. — Eu não acredito que estou
perdendo a batalha de novo.
— Que batalha? — Do que o babaca estava falando?
— Mais um soldado será abatido... — Ben lamentou
se jogou contra o encosto da cadeira, passando a mão
pelo rosto. — Vou perder mais um amigo.
— Não estou entendendo nada, Benjamin.
— Ele acha que você está gostando mesmo da
Valente — James disse baixinho, sem querer chamar a
atenção dos outros meninos do time. — Tipo, gostando
de verdade.
— Eu não estou achando, eu tenho certeza! Olha a
cara dele! — Benjamin apontou para mim de forma
indignada. — Está igualzinho a você quando começou a
se apaixonar por aquela que não deve ser nomeada.
— É bom mesmo que não fale o nome dela — James
resmungou.
— Ele está igual a você, não está?
— Quer parar de falar como se eu não estivesse
aqui? — pedi, dando uma olhada geral na sala. — Não sei
o que estou sentindo, ok? Só acho que Valente é uma
garota muito foda, linda, gostosa e que vem mexendo
comigo... Mas isso não quer dizer que estou me
apaixonando.
Eu nunca tinha me apaixonado na vida e não queria
que o sentimento surgisse tão cedo. Eu precisava focar
exclusivamente na minha carreira. Depois do que havia
acontecido nos últimos meses, tinha medo de me distrair
com qualquer outra coisa e falhar de novo.
O futebol sempre foi o meu sonho e, agora, ele
estava trazendo um novo sentido para a minha vida. Era
algo real ao qual eu poderia me agarrar, a única coisa
que eu tinha certeza de que dependia exclusivamente de
mim para dar certo. Não queria que nada tirasse o meu
foco.
— Não cabe a nós dois dizermos se você está se
apaixonando ou não, irmão, mas, quer um conselho? —
James perguntou e eu apenas concordei com a cabeça.
De nós três, ele sempre foi o mais calmo e centrado, o
que tinha a melhor opinião sobre assuntos sentimentais.
— Não dê as costas para o que vem sentindo por Avalon.
Eu não te vejo tão bem assim há longos meses e sei que
ela está te fazendo muito bem. Isso é importante e muito
especial, cara.
— É, James tem razão. — Benjamin disse meio
contrariado, quase me fazendo rir. — Se for para você
ficar bem de verdade, eu aceito perder mais um amigo
para as algemas douradas.
— Algemas douradas? — Eu ri de verdade, sem
acreditar no que estava ouvindo.
— Sim. As alianças.
— Cala a boca, idiota! — James sacudiu o cabelo de
Ben enquanto ria. — Não acho que Logan vai se casar tão
rápido.
— Esse babaca parece ser mais emocionado do que
você, James! Desde que a ruiva gost... Desde que Avalon
surgiu — ele consertou o termo, olhando rapidamente
para mim. Deve ter visto o desgosto em meu olhar pela
forma como se referia a ela —, Logan vem se tornando
um cachorrinho adestrado!
— É assim que começa! — David, um dos nossos
reservas, apontou para o dedo anelar direito. — E então,
em um piscar de olhos, você vai estar com isso aqui no
dedo e uma lista de padrinhos de casamento. Acredite,
escolher os padrinhos é difícil pra caralho!
Ótimo, Benjamin havia falado alto demais e, agora,
o time todo estava olhando para a minha cara. Pela
forma como me encaravam, percebi que não tinham
ouvido nada sobre o namoro falso, o que me deixou
aliviado.
— Para Logan não será difícil, os dois padrinhos dele
estão bem aqui — Benjamin apontou para si mesmo e
depois para James, que concordou com a cabeça.
— É oficial, então? Já está pensando em casamento,
Logan? — Alguém perguntou.
— Porra, nunca pensei que o QB se amarraria tão
rápido! Até ontem ele estava passando o rodo em todas
as festas que ia — outro babaca comentou.
— O amor é assim, chega de forma inesperada...
— Deus me livre passar por isso, tenho só vinte
anos!
— Olha só o que vocês fizeram! — resmunguei
entredentes, praticamente me deitando no banco para
fugir dos olhares curiosos. Benjamin e James riram alto
do meu lado.
— Pensa bem, é melhor que fofoquem sobre um
suposto casamento do que sobre sua fama de pegador
sem limites — Benjamin sussurrou.
Revirei os olhos, endireitando a postura quando o
treinador entrou na sala. Ele logo mandou que todos se
sentassem e ligou o refletor para passar as principais
jogadas do Texas no telão. Desliguei a mente e foquei
nas táticas para o próximo jogo, pensando que era
melhor me agarrar ao que eu poderia controlar — como
as jogadas e as principais formas de desarmar o time
adversário — do que ao que eu não podia controlar.
Nesse caso, estava me referindo muito mais ao que
sentia sobre Avalon do que sobre os comentários dos
meus companheiros de time.

Eu deveria ter ido direto para casa depois que saí


do centro de treinamento, mas acabei desviando o
caminho e, agora, estava entrando no bar da Maeve. O
movimento estava fraco, mas apenas porque era
segunda-feira e ainda não havia passado das sete horas
da noite. Encontrei Avalon com o olhar, do outro lado do
balcão, servindo duas canecas de cerveja e rindo de
alguma coisa que Maeve havia comentado baixinho em
seu ouvido. Ela estava linda usando uma calça cargo de
cintura alta e um cropeed preto nada vulgar. Os cabelos
estavam presos naqueles dois coques divididos ao meio
no topo da cabeça.
O que antes poderia parecer estranho aos meus
olhos, agora, só parecia ressaltar ainda mais a beleza e a
personalidade de Avalon. Eu não conseguia imaginá-la
usando qualquer coisa cor-de-rosa ou calçando algo
diferente dos sapatos e botas pesadas que tanto
adorava. Era uma droga ter que admitir que eu adorava
até mesmo aqueles coques que ela amava fazer.
— Como é bom ver você, Logan! — Maeve me viu
antes de Avalon, por isso, pude acompanhar a reação da
ruiva ao descobrir que eu estava ali. Valente se virou em
minha direção com os olhos arregalados e os lábios
pintados de vinho entreabertos. Quis morder cada um
deles antes de enfiar a língua em sua boca. Puta merda,
eu só havia beijado a garota duas vezes e já parecia um
viciado! — Estávamos falando de você, acredita?
— Acredito, porque Avalon é louca por mim e não
consegue ficar sem o meu nome na boca — provoquei,
vendo os olhos de Valente se estreitarem para cima de
mim.
Maeve riu e colocou as duas canecas de cerveja
sobre o balcão, entregando-as para um casal que estava
ali de pé. Eles se afastaram e eu me sentei na banqueta
mais próxima de Avalon.
— Vocês estão namorando, então, isso é normal —
disse Maeve, dando um olhar sorridente para nós dois. —
Inclusive, formam um casal lindo.
Logo percebi que Avalon não havia contado para
Maeve sobre o nosso acordo e sorri mais amplamente,
apoiando meus braços no balcão para poder me inclinar
em sua direção.
— Eu concordo — falei, sem tirar os olhos de cima
da minh... De cima de Avalon. — Senti saudades, Valente.
— E nem estava mentindo.
Avalon mordeu a pontinha do lábio inferior, me
deixando hipnotizado e dando um olhar rápido para
Maeve. Percebi que parecia meio insegura, o que não era
típico dela, pois sabia que sempre tinha uma resposta na
ponta da língua para me dar.
— Também senti saudades — respondeu, dando um
passo para frente.
— Beija logo ele, garota! — Maeve disse de repente,
batendo com o pano de prato na bunda de Avalon. —
Não precisa ficar com vergonha, você sabe que, antes de
ser sua chefe, sou sua amiga!
As bochechas de Avalon coraram e eu sorri,
resolvendo parar de provocá-la. Para que voltasse a ficar
confortável, tomei apenas as suas mãos nas minhas e
beijei os nós dos seus dedos, observando a forma como
respirou fundo.
— Avalon é um pouco tímida — falei e Maeve
concordou com a cabeça.
— É, eu sei, por isso que vou deixar os pombinhos
em paz. Volto daqui a pouco.
A dona do bar piscou para mim, como se dissesse
que era para eu aproveitar o momento sozinho com
Avalon, e eu sorri em agradecimento. Não que fosse
puxar a garota e dar um beijo de desentupir pia na sua
boca — algo que eu queria muito, tinha que confessar —,
mas queria mesmo ficar a sós com ela por um tempinho.
Queria fazer um pedido para Avalon e não podia esperar
mais.
— Ela não sabe que o nosso namoro é de
mentirinha — Avalon sussurrou, mesmo que
estivéssemos sozinhos ali na área do balcão.
— Eu percebi.
— Achei que... — Ela limpou a garganta e apertou
os dedos nos meus. — Pensei que iria me beijar.
Aquilo me surpreendeu e eu sorri um pouco mais.
— Queria que eu te beijasse, Valente?
Como se tivesse acordado de um transe, Avalon
sacudiu a cabeça e tentou tirar as mãos das minhas, mas
não deixei.
— Claro que não.
— Queria, sim. Admita.
— Óbvio que eu não queria. Não seja tão
convencido, estrelinha dourada.
Ela podia mentir o quanto quisesse, mas eu tinha
certeza de que queria, sim, que eu a beijasse. Quase
joguei tudo para o alto e segui os meus instintos, mas
resolvi me acalmar. Nem mesmo eu sabia ao certo o que
estava sentindo, não podia confundir Avalon também.
— Quer beber alguma coisa? — perguntou, mas eu
sacudi a cabeça, negando. — Quer comer algo?
Sim, você.
Ah, merda!
Engoli em seco ante o pensamento e sacudi a
cabeça com mais força. Puta que pariu, precisava me
controlar!
— Vim até aqui, porque quero te fazer um convite.
— Um convite? — Ela me olhou meio desconfiada.
— Sim. — Parei por um momento, me sentindo um
pouco inseguro. Avalon aceitaria ou acharia que era uma
péssima ideia? Eu só descobriria se perguntasse. — Nós
vamos jogar contra o Texas no sábado e eu queria que
você fosse comigo.
— Ah, sim, é claro que vou. — Ela aceitou
prontamente, me deixando surpreso. — Eu posso tentar
trocar a minha folga de novo com a Cindy ou com o
Donovan, caso ela não possa me substituir aqui no bar. O
jogo vai começar no mesmo horário de semana passada?
Sua irmã também vai? Eu fico um pouco perdida e Norah
acaba me explicando a maior parte das jogadas.
Claro que Avalon tinha aceitado. Ela não entendeu
onde o jogo aconteceria.
— Minha irmã não vai, porque, dessa vez, não
jogaremos em casa. — Valente me olhou sem entender e
eu esclareci: — Vamos jogar no Texas.
Avalon arregalou os olhos e abriu e fechou a boca
duas vezes antes de responder:
— Você quer que eu vá com você para o Texas?
— Isso mesmo.
— Mas... É permitido levar namoradas? Eu nem
tenho dinheiro para fazer uma viagem dessas.
— Você não precisaria arcar com nada, eu vou
pagar por tudo. Sobre levar namoradas, você não vai
oficialmente com o time, viajará sozinha, só que vou
conseguir uma suíte para você no mesmo hotel em que
vamos ficar.
Talvez o treinador Coben fosse me matar, caso
descobrisse, mas valeria a pena.
— Por que você quer que eu vá?
— Porque... Eu não quero ficar sozinho quando o
jogo terminar. Tenho medo de... sabe, acontecer aquilo
comigo de novo.
Era ruim admitir aquilo em voz alta, mas eu estava
com receio de surtar mais uma vez. De alguma forma,
Avalon havia se tornado um porto seguro para mim
desde que bati em sua porta completamente bêbado e
eu não queria abrir mão disso. Se ela estivesse ao meu
lado, eu me sentiria mais confiante para não deixar que
as memórias surgissem.
Uma parte minha ficou esperando que Avalon
dissesse que ela não era psicóloga ou qualquer coisa
assim para lidar com as minhas merdas — até porque, foi
a primeira coisa que eu disse para mim mesmo quando a
ideia surgiu enquanto eu tomava banho no vestiário do
centro de treinamento —, mas ainda mantive a
esperança de que ela fosse aceitar.
— Eu só preciso confirmar se a mãe da amiga de
Aubrey não se importa de ficar com ela no final de
semana. Se ela confirmar que minha irmã pode dormir lá,
eu vou com você.
Não havia nenhum tipo de julgamento nos olhos
límpidos de Valente e o nó em meu peito começou
gradativamente a diminuir. Grato, voltei a beijar as suas
mãos e me segurei muito para não tomar a sua boca na
minha.
— Obrigado, Valente.
— Não precisa agradecer, estrelinha dourada.
Os torcedores do Texas estavam enfurecidos por
estarem perdendo para o Crimson Tide. Eu sentia as
arquibancadas tremerem enquanto eles pulavam e quase
rugiam feito animais. Podia imaginar como devia ser
horrível perder dentro de casa, mas não conseguia tirar o
sorriso do rosto enquanto via o ataque do Crimson
desarmar a defesa deles e marcar um novo touchdown.
O Crimson estava vencendo com trinta pontos
contra os dezenove do Texas e o relógio deixava bem
claro que o time adversário não teria mais qualquer
chance de virar aquele placar tão desigual. O fim da
partida coroou mais uma vitória de Logan ao lado do seu
time e eu avancei em sua direção quando ele apareceu
correndo em meu campo de visão, vindo para mais perto
de mim.
Daquela vez, eu já estava preparada para o beijo.
Pelo menos, foi o que pensei, mas logo percebi que
estava sendo muito inocente. Eu nunca estaria preparada
o suficiente para o ímpeto com o qual Logan me beijava
após uma partida. Ele parecia transferir toda a sua
euforia para mim enquanto me abraçava e enfiava a
língua em minha boca, me deixando mole em seus
braços e sem qualquer capacidade de formar um
pensamento coerente.
— Vocês arrasaram, estrelinha dourada — me
esforcei para falar quando ele deixou o meu lábio inferior
escapar do cativeiro formado pelos seus dentes.
Cada pelo do meu corpo ficou arrepiado e eu senti a
minha calcinha ficar molhada. Decidi não lutar contra
aquilo. Meu corpo jamais seria indiferente a um beijo
como aquele, eu não poderia cobrar muito de mim
mesma naquele momento.
Senti que Logan falaria alguma coisa, mas alguém
da comissão técnica do time começou a gritar o seu
nome e o jogador precisou me soltar. Antes de se afastar
completamente, ele acabou sussurrando em meu ouvido:
— Amo ver minha camisa em você. Fica gostosa
demais, Valente.
Eu fiquei estática que nem uma idiota enquanto
Logan corria de volta para o centro do campo para
encontrar com o time. Sabia que deveria acompanhar a
multidão até a saída do estádio e pedir um Uber
diretamente para o hotel, mas senti medo de que minhas
pernas não conseguissem suportar o peso do meu corpo,
caso eu me movesse — e ainda havia o peso da umidade
em minha calcinha.
Boceta traidora!
Respirei fundo e coloquei a minha cabeça no lugar,
começando a acompanhar as pessoas para fora do
estádio. Por sorte, os torcedores enfurecidos do Texas se
acalmaram um pouco mais e eu consegui passar longe
de um ou dois grupinhos que pareciam loucos para
arrumar confusão. Seguindo a recomendação de Logan,
pedi um Uber e fui direto para o hotel, pois, segundo o
jogador, eles demorariam um pouco mais para deixar o
estádio e não seria seguro ficar ali sozinha.
Assim que entrei na minha suíte, liguei para Aubrey
e me certifiquei de que estava tudo bem. Eu confiava em
deixar que ela passasse o final de semana na casa de
Hannah, porque a mãe da menina era solteira, portanto,
não havia homem algum para colocar a segurança da
minha irmã em risco. Aub comentou que tinha visto o
jogo e ficou chateada quando eu disse que não estava
com Logan, pois queria parabenizá-lo. Por fim, agradeci
mais uma vez a mãe da sua amiguinha por ficar com ela
naquela noite e fui direto tomar um banho.
O voo para o Texas me deixou ansiosa durante toda
a manhã. Eu nunca havia entrado em um avião antes e
fazer isso sozinha me deixou apreensiva, mas até que
curti a viagem. Agora, o que estava me deixando com
um frio na barriga era a expectativa idiota de ver Logan
mais uma vez. Será que conseguiria falar com ele
pessoalmente ainda hoje? E por que eu estava tão
ansiosa para isso?
— Avalon Banks! — Chamei a minha atenção em
frente ao espelho do banheiro bonito enquanto me
secava, mas acabei rindo da minha própria cara. — Você
está muito ferrada, garota!
Eu vinha fazendo — e sentindo — coisas por Logan
que acreditei que nunca mais sentiria por ninguém, mas
o que me assustava de verdade, não era nem o fato de
estar mexida pelo quarterback. Logan era um homem
lindo, charmoso, com um sorriso safado que me
desestabilizava e um olhar intenso que me desarmava.
Ter uma quedinha por ele seria considerado normal,
certo? Estávamos convivendo diariamente,
compartilhando toques, sorrisos e, o principal e mais
preocupante de todos, beijos. Beijos que não deveriam
ser nada mais do que parte do nosso acordo.
Então, ficar sensibilizada, de certa forma, não me
surpreendia. Nem o fato de o meu corpo corresponder,
pois atração física era algo que não dava para controlar.
O que me assustava no meio de tudo isso, era a
intensidade e a rapidez com a qual eu estava me
envolvendo com Logan Miller III.
Eu esperava ter algum tipo de tolerância para os
seus toques e beijos, não me sentir tão brutalmente
atraída por cada um deles. Achei que nossa convivência
se tornaria mais fácil, porque nos acostumaríamos um
com o outro, não que eu fosse me sentir à vontade ao
seu lado e que riria das besteiras que saíam da sua boca.
Cheguei a acreditar que precisaria acompanhar
Logan em um dos jogos fora de casa, apenas porque,
para o mundo, eu era a sua namorada. Nunca pensei que
o quarterback me chamaria, porque confiava em mim e
acreditava que, tendo a minha presença por perto, ele
não teria uma outra crise de ansiedade e acabaria
recorrendo à bebida de novo.
Eram aquelas pequenas coisas que vinham me
afetando muito mais do que deveriam. Junto com elas,
vinha o medo de acabar me envolvendo de uma maneira
irreversível e o receio do que isso resultaria no final do
nosso acordo. Eu sairia apaixonada que nem uma idiota
no final daqueles dois meses? Ou pior, ficaria com o
coração partido?
Logan deixou bem claro que não queria um
relacionamento e eu estava cem por cento de acordo
com ele. Meu coração não podia se envolver naquele
trâmite todo, porque nós dois sabíamos que não
tínhamos sorte no quesito romântico e sempre
quebrávamos a cara. Achei que a última experiência pela
qual passamos tinha sido o estopim para que o órgão
idiota parasse de vez de se iludir, mas, talvez, eu
estivesse enganada.
Passei a próxima hora jogada na cama e ignorando
a curiosidade de entrar no Twitter e ver se alguém havia
gravado o novo beijo que Logan me deu. Para me
distrair, fiz login na minha conta da Netflix e fiquei
zapeando pelas inúmeras opções, até ouvir o meu celular
apitar com uma notificação de mensagem. Meu coração
deu uma acelerada idiota quando identifiquei que era
Logan.

Babaca de Uniforme: Se eu levar hambúrguer e


milk-shake, você me deixa bater na porta do seu quarto?
Leve em consideração que eu estou sendo educado e
pedindo, ao contrário de você, que simplesmente invadiu
os meus aposentos que nem uma fã desesperada.

Era um fato: Logan nunca se esqueceria daquela


porcaria.

Eu: Não sei. O milk-shake é de morango com


Nutella?
Babaca de Uniforme: Esse é o seu sabor
preferido?
Eu: Sim.
Babaca de Uniforme: Ok, anotado. Chego aí em
poucos minutos.
Eu: Não me lembro de ter permitido nada, QB.
Babaca de Uniforme: Você não me deixaria
trancado, sozinho e solitário do lado de fora, Valente. Sei
que aí dentro desses peitos bonitos, tem um coração.
Eu: Você nunca viu os meus peitos, não tem como
saber se são bonitos ou não.
Babaca de Uniforme: Nunca vi, mas tenho
criatividade de sobra para imaginar. Tenho certeza de
que eles são lindos, assim como a dona.

Afundei no colchão, sentindo que eu poderia me


tornar uma poça, tal qual um sorvete sob o sol. Nunca
me senti tão brega e tão excitada na vida.

Babaca de Uniforme: Te deixei sem palavras?


Eu: Lógico que não!
Babaca de Uniforme: Não acredito que te deixei
sem palavras, Valente! Saiba que o meu arsenal de
putaria é enorme, posso ficar a noite inteira sussurrando
cada palavra no seu ouvido.
Eu: Bom saber, vou deixar você mofando do lado
de fora do meu quarto.
Babaca de Uniforme: Hahaha, vou fingir que
acredito! Agora é sério, daqui a pouco estou batendo aí.
Beijos e me espere nua.

Ele não podia estar falando sério. Era lógico que


Logan estava apenas brincando com a minha cara. Um
pouco nervosa, fui até o banheiro e molhei a nuca para
ver se o calor que se alastrava sobre a minha pele
diminuía um pouco, bem como a vermelhidão em minhas
bochechas. Não queria dar o braço a torcer e dar razão
ao que Logan disse para Maeve, mas, sim, eu era um
pouco tímida, pelo menos no que dizia respeito a toques,
beijos e até mesmo sexo. Estava longe de ser virgem,
mas minhas experiências sexuais não foram boas e eu
sentia que era um pouco atrasada naquele aspecto.
Se Logan soltasse aquelas piadinhas sexuais na
minha frente, como eu iria reagir? Na verdade, como eu
deveria reagir? Não sabia como incentivar aquele tipo de
coisa e tinha medo de ser grossa demais ao responder.
Também não tinha certeza se eu deveria incentivar,
sendo que, uma hora atrás, eu estava justamente
pensando que não poderia me envolver com Logan.
Mas sexo e sentimentos eram coisas diferentes,
certo? Talvez, eu pudesse me agarrar a coisa física e
deixar o meu coração de fora do jogo.
— Não foi você que colocou o sexo como um item
proibido, Avalon? — sussurrei para mim mesma, dando
um tapa em minha testa. — O que está acontecendo com
você?
Aceitar vir para o Texas foi um erro. No Alabama,
pelo menos, eu tinha o bar para me refugiar, tinha a
minha irmã para cuidar e um monte de matéria para
estudar. Ali, naquela suíte de hotel, a muitos quilômetros
de distância da minha casa, eu estava com a cabeça
vazia e o corpo com hormônios demais em ebulição para
pensar com clareza.
Estava decidida a mandar uma mensagem para
Logan, avisando que eu estava cansada da viagem e que
iria dormir, quando ouvi o barulho da campainha soar
pela suíte. Um arrepio desceu pela minha coluna, me
fazendo morder o lábio com força. Percebi que, se eu
recuasse e me escondesse, acabaria agindo da forma
que mais odiava no mundo: com covardia. Já tinha
passado por muita coisa para não ter coragem de passar
apenas algumas horas ao lado de Logan. Eu daria conta.
Saí do banheiro e sequei as palmas das mãos
levemente suadas no meu short do pijama. Não
esperava, de fato, pela visita do jogador, mas pelo
menos o conjunto não era indecente. O cetim preto
moldava a minha bunda e a curva dos meus seios, mas
não deixava nada de mais à mostra. Respirei fundo e abri
a porta, dando de cara com Logan segurando dois sacos
de papel e ostentando um sorriso no rosto.
— Por um momento, achei que realmente me
deixaria aqui fora.
— Eu deveria — respondi, encontrando um pouco da
Avalon durona dentro de mim, só para disfarçar que eu
estava nervosa. Logan abriu ainda mais o sorriso e
entrou na suíte. — Mas, como estou com fome, pensei
melhor e decidi te receber.
— Se não consigo te conquistar com a minha
personalidade encantadora, farei isso pelo estômago.
— E por que você quer me conquistar, estrelinha
dourada?
Logan pousou os sacos com o lanche sobre a mesa
no canto da suíte e se virou para mim, me olhando de
cima a baixo com uma lentidão que me deixou com os
nervos agitados. Realmente, meu corpo estava decidido
a ser um traidor naquela noite. Sem conseguir me
conter, acabei olhando-o também, notando como estava
bonito usando uma regata branca e uma calça de
moletom azul-escura.
— Quero conquistar a sua amizade — disse com a
voz levemente rouca e com um olhar que parecia falar
mais do que as palavras que escaparam da sua boca. —
Porque gosto de você, Valente.
— Já sou sua amiga, Logan — confidenciei, me
aproximando dele. Sem conseguir manter mais daquele
contato visual intenso, mexi dentro do saco de papel e
peguei um pouco de batata frita. — Achei que isso
estivesse claro.
— Você nunca disse com todas as letras.
— Você gosta de me ouvir falar o óbvio, não é? —
Eu ri, vendo-o concordar com a cabeça e me dar um
novo sorriso. — De alguma forma, você fez com que os
meus sentimentos mudassem. Ainda é um babaca
irritante? Sim, mas é um babaca que eu gosto.
— Porra, Valente! — Logan me puxou em direção ao
seu peito pela cintura, me fazendo arfar de susto.
Precisei apoiar minhas mãos em seus ombros largos para
poder manter o equilíbrio. — Você não pode falar esse
tipo de coisa e achar que eu vou ficar indiferente. Esse
babaca aqui — ele apontou para si mesmo com o
polegar, antes de voltar a pousar a mão grande em
minha cintura. — está muito feliz por saber que se
infiltrou nesse seu coraçãozinho de pedra.
— Não foi isso o que eu disse...
— Mas foi o que eu entendi, é o que importa. — Seu
sorriso irritantemente bonito desapareceu das minhas
vistas quando o jogador se inclinou e deixou um beijo
longo em minha bochecha, perto demais dos meus
lábios. — Obrigado por estar aqui, Valente.
— Você já me agradeceu — murmurei, sentindo o
meu coração disparar.
Logan tocou a testa na minha e percebi que já não
sorria mais. Ele não parecia triste, pelo contrário. Parecia
quase emocionado, apesar de eu não conseguir olhar em
seus olhos por estar com o rosto praticamente colado ao
meu.
— Nunca será o suficiente — sussurrou, tocando o
nariz levemente no meu. Senti meus olhos ficarem
pesados, tão pesados, que precisei fechá-los. Tudo aquilo
era... intenso demais. Ao ponto de eu quase não
conseguir respirar. — O time não entendeu o motivo de
você ter vindo para cá, o treinador meio que me comeu
no esporro por causa disso, achando que eu não iria me
concentrar antes do jogo por ter a sua presença aqui,
mas eu ignorei todos eles, porque sabia que ter você ao
meu lado hoje era o que me daria forças para fazer um
bom jogo e não cair em tentação depois. Ainda não é
fácil, Valente. Eu sinto que não mereço comemorar mais
essa vitória, porque não é justo eu estar feliz depois de
ter perdido a minha mãe, mas eu estou tentando. Tenho
certeza de que era isso que ela iria querer.
— Não, Logan, é isso que ela quer — afirmei,
tocando em sua nuca e em seus cabelos. Não tive
coragem de abrir os olhos e algo me dizia que os dele
estavam fechados também. — Sua mãe continua dentro
de você. Sente isso? Sente o amor dela dentro do seu
coração? — Senti quando concordou com a cabeça, seu
nariz tocando o meu para cima e depois para baixo. —
Isso é tudo o que importa. Eu sei que a distância física
machuca, sei que é difícil aceitar que nunca mais vamos
ver aquela pessoa que nós tanto amamos, mas quando
começamos a compreender que os sentimentos nunca
morrem, a dor se torna mais suportável e o medo e a
raiva começam a desaparecer lentamente.
Logan não disse nada, apenas respirou fundo, como
se estivesse contendo as lágrimas, e me abraçou bem
forte pela cintura. Eu sentia todo o seu corpo forte colado
ao meu, sua respiração ainda agitada em meu rosto e
sua boca muito perto da minha. Eu o queria ainda mais
próximo de mim. Naquele momento, o meu próprio medo
desapareceu, qualquer dúvida que eu tinha antes, sumiu
completamente, e um ímpeto que surgiu do fundo do
meu peito, me fez acabar completamente com aqueles
ínfimos centímetros que nos separavam.
Pela primeira vez, eu beijei a boca de Logan.
Na verdade, pela primeira vez, eu tomei a decisão
de beijar a boca de um homem.
A constatação foi como um murro diretamente no
meu peito. Por um segundo, eu quase vacilei, mas o
gemido rouco e a necessidade com a qual Logan me
agarrou, me fizeram seguir em frente. Seus braços fortes
impulsionaram o meu corpo e, assim como aquela
primeira vez no campo de futebol, eu cerquei a sua
cintura estreita com as minhas pernas, enquanto nossas
línguas se encontravam com um desespero que eu nunca
senti antes.
Era para ter sido um beijo calmo e emocionante,
mas, quando me dei conta, estava sendo um beijo
intenso e dilacerante. Era como eu me sentia. Dilacerada
por Logan, mas de uma forma boa. Não havia medo ou
qualquer ameaça, não havia voz alguma no fundo da
minha mente, me alertando para fugir, deixando claro
que aquele era um sentimento perigoso, porque eu
confiava em Logan. Contra todas as possibilidades, eu
aprendi a confiar naquele garoto irritante, que me
provocava, me tirava do sério, mas que havia sido o
único a me dar a segurança que eu sequer sabia que
precisava.
Senti Logan caminhar pelo quarto comigo ainda
sobre o seu colo e se ajoelhar na cama, até colocar o
meu corpo sobre o colchão. Os travesseiros tocaram a
parte de trás da minha cabeça e o seu corpo pesou sobre
o meu quando o jogador se deitou sobre mim. A emoção
ainda me deixava com um nó na garganta, mas o gemido
baixo que soltei quando Logan mordeu o meu lábio
inferior começou a dissipá-lo. Eu pulsava. Sentia os meus
músculos estremecerem enquanto as mãos pesadas e
masculinas desenhavam a curva da minha cintura e
subiam em direção às minhas costelas.
— Valente... — Logan sussurrou, parando por um
momento e tocando a testa na minha. Não quis abrir os
olhos. Senti medo de que aquela magia fosse acabar,
caso o fizesse. — Olhe para mim.
— Não.
— Por favor.
Havia uma súplica dolorosa no tom de Logan e eu
não pude mais recusar. Abri os olhos devagar, encarando
os dele quando distanciou um pouco o rosto do meu.
— O que estamos fazendo? — perguntou e eu
sacudi a cabeça, querendo rir. Estávamos perdidos.
Puta merda, estávamos completamente perdidos.
— Eu não sei. — Fui sincera e Logan soltou um
suspiro de alívio quando me viu sorrir. Toquei em seus
braços fortes e subi até o seu pescoço, sentindo a veia
grossa pulsar desesperadamente ao ritmo do seu
coração. — Eu só quero... Só quero viver isso, Logan.
Quero viver o agora.
— Quer transar comigo?
— Por que você tem que ser tão explícito?
Ele deu de ombros e riu, tocando a testa na minha.
— Não sei, eu só... Caramba, eu já fiz isso inúmeras
vezes, mas parece que essa é a primeira.
— Obrigada por esfregar na minha cara a sua vida
sexual ativa, Logan terceiro.
— Não! — Ele levantou a cabeça e arregalou os
olhos, parecendo apavorado. — Não foi o que eu quis
dizer, eu... Droga, Valente, estou nervoso! Viu como eu
só falo merda? Eu sou um tapado mesmo!
Logan saiu de cima de mim e se deitou ao meu
lado, colocando o braço sobre os olhos. Isso me deu
tempo para olhar para todo o seu corpo e, bem, para o
seu pau muito duro sob a calça de moletom. Minha
boceta piscou de forma meio desesperada, quase me
matando de vergonha. Se ela pudesse gritar, estaria
implorando para que o quarterback a fodesse.
— Logan... — Toquei em seu braço, mas ele sacudiu
a cabeça.
— A gente vai estragar tudo se fizer isso, não é?
— Nós não precisamos fazer nada.
— Mas eu quero. — Ele tirou o braço da frente dos
olhos e desceu a mão até a ereção, fazendo uma careta
ao ajeitar o membro enrijecido. — Merda, eu quero pra
caralho.
— Talvez a gente devesse comer.
— Acho que eu deveria comer, sim. Deveria comer
você — murmurou e eu ri. Meu Deus, que caos era
aquele que estava acontecendo naquele quarto de hotel?
Logan sacudiu a cabeça e riu também. — Desculpa. Eu
sou um idiota.
— Sim, você é — concordei, tocando em seu rosto.
— Mas é um idiota que me deixou excitada. — Droga, eu
podia sentir o meu rosto prestes a pegar fogo.
— Você não pode falar esse tipo de coisa, Valente.
Não agora, por favor.
— Só não queria que você pensasse que está
sozinho nessa — falei, olhando rapidamente para o seu
pau ainda duro debaixo da sua mão. Logan estava
segurando o pobre coitado como se ele fosse saltar de
dentro da calça a qualquer momento. — Vou pegar o
lanche.
Levantei-me da cama com as pernas bambas, ainda
tentando entender o que havia acabado de acontecer
entre nós dois. Esperava que o gelado do milk-shake e a
sensação de barriga cheia, fizessem com que o clima
entre nós dois voltasse ao normal.
Eu era um idiota!
Puta que pariu, eu era o maior idiota de todos os
tempos!
Estava de pau duro, sentindo as pernas trêmulas
como se tivesse acabado de sair do campo, e com uma
vontade imensa de bater com a minha cabeça na parede.
Por que eu fui abrir a minha boca e falar que eu já
tinha trepado inúmeras vezes? Porra, Logan! Ok, Valente
sabia que eu não era virgem, mas que garota gostaria de
ouvir isso da boca de um homem? Se fosse Avalon me
falando aquela merda, eu teria brochado com toda
certeza.
Com que cara eu tocaria nela de novo agora?
Eu queria me matar.
Queria que o colchão formasse um vácuo e me
engolisse para sempre.
— Milk-shake de chocolate? Não achei que você
fosse tão previsível.
Arrisquei abrir os olhos e encontrei Avalon
caminhando em minha direção, segurando o saco de
papel com o meu lanche em uma mão e o milk-shake na
outra. Decidi parar de ficar lamentando a minha gafe e
me sentei na cama, pegando os itens da sua mão. Ela
logo retornou à mesa para pegar a sua parte e voltou
para a cama, se sentando ao meu lado.
— Desculpa por eu ter falado aquilo, Valente, juro
que...
— Logan, está tudo bem. Eu não fiquei chateada. —
Pude ver em seus olhos que estava sendo sincera e
fiquei um pouco mais aliviado. — Você não me deve nada
e é um homem solteiro, apesar da nossa mentirinha.
Dei uma mordida no hambúrguer, pensando em ser
sincero com ela enquanto mastigava e engolia.
— Eu sei disso, mas, se fosse você me falando
aquilo, eu ficaria meio puto.
— Por quê?
— Não sei, eu apenas ficaria.
Avalon sorriu com o canudo do milk-shake entre os
lábios, me fazendo imaginar como aquela boca bonita
ficaria maravilhosa no meu pau. O filho da mãe, que
parecia se recusar a amolecer, deu uma fisgada dolorosa
dentro da minha calça.
— Está me dizendo que sente ciúmes de mim,
Logan?
— Não é ciúmes, é só... Não sei ao certo. — Senti-
me um idiota de marca maior. Eu sequer sabia explicar
como me sentia. — Não gosto de pensar que algum
babaca já beijou a sua boca.
— Você não acha que eu sou virgem, acha?
— Apesar de não estar escrito na sua testa, eu
acredito que não seja.
— Não sou mesmo — respondeu e eu fiquei sem
saber o que dizer. Que bom para ela. E para o idiota que
tirou a sua virgindade. Por que aquilo estava me
incomodando? — Mas também não sou muito experiente
no quesito sexual. Acho que é por isso que eu nunca
senti vontade de transar com ninguém desde que
terminei com o meu ex.
Era a primeira vez que Avalon me contava algo
realmente pessoal sobre a sua vida e aquilo me deixou
animado. Valente estava começando a confiar em mim.
Era bom saber que nossa relação de amizade estava
tomando novas proporções.
— Foi um relacionamento curto?
— Durou quase três anos.
Conhecia casais que se separaram com um mês de
namoro, então, quase três anos, a meu ver, era tempo
pra caramba. Quis saber mais sobre aquela história,
perguntar o motivo do término, mas me segurei.
Conhecia Valente o suficiente para saber que ela não
gostava de ser pressionada e eu queria esperar o seu
tempo para que me contasse os detalhes da sua vida
antes de se mudar para o Alabama.
— E o sexo com ele era... estranho — ela continuou.
— Estranho como?
— Ele foi o meu único parceiro, então, não sei ao
certo como explicar isso, mas eu sentia que era meio
mecânico. Ele só fazia a parte dele e pronto, não se
preocupava muito comigo.
— Desculpa falar isso, mas ele era um filho da puta
então, Valente.
Para a minha surpresa, Avalon riu.
— Ah, isso ele era com certeza.
— Sexo tem que ser bom para todos os envolvidos.
Não faz o menor sentido um lado sentir prazer e o outro
não. Ele te deu um orgasmo alguma vez na vida?
Suas bochechas ficaram coradas, mas Avalon
respondeu mesmo assim:
— Não. Hoje, eu me sinto uma idiota ao pensar
sobre isso, porque agora alcanço o orgasmo sozinha e sei
como é, mas, quando namorei com ele, eu era
inexperiente e acreditei que sexo era apenas aquilo.
— Você não é idiota, ele que é um babaca —
afirmei, vendo-a terminar de comer o seu hambúrguer.
Eu já tinha devorado o meu segundos atrás. — Estou
falando sério, Valente. Você mesmo disse que era
inexperiente, então, não tem que se culpar por ter
confiado na forma como ele conduzia o sexo entre vocês.
— Eu me culpo sobre muitas coisas em relação a ele
— disse baixinho, desviando os olhos dos meus. — Hoje,
o meu maior medo, é que minha irmã se envolva com
algum homem como ele no futuro.
— Ele te machucou? — Avalon apenas concordou
com a cabeça e eu senti vontade de esmurrar alguma
coisa. A cara do filho da puta do seu ex, para ser mais
exato. Como não podia, me controlei e coloquei as
embalagens vazias dos nossos lanches no chão, para
poder me aproximar dela e pegar a sua mão. — Aubrey
não vai se envolver com nenhum idiota assim, porque
estaremos ao lado dela para protegê-la, ok? Se algum
filho da puta ousar tocar em um fio de cabelo dela, eu
vou acabar com a raça dele.
— Você vai, é? — Avalon sorriu, mas pude perceber
que estava um pouco emocionada.
— Claro que sim. Na verdade, acredito que nem
precisarei partir para a violência. Eu protejo muito bem a
Norah, nenhum idiota ousa chegar perto dela na
faculdade.
— Foi muito bom você ter tocado nesse assunto! —
Seus olhos se estreitaram para cima de mim e eu senti
no fundo do meu ser que tomaria algum esporro. — Não
é certo a forma como você age com a sua irmã, Logan!
Precisa parar de tentar afastar todos os homens do
caminho dela. Norah é adulta, se não percebeu, merece
encontrar algum cara bacana e iniciar um
relacionamento.
— Blá-blá-blá, não vou dar ouvidos a isso — falei,
deixando as suas mãos para poder voltar a me deitar na
cama. Avalon deu um soquinho em minha costela e eu fiz
uma careta. — Eu conheço os homens, Valente. Nenhum
deles presta!
— Isso inclui você, então?
— Talvez, apesar de eu nunca ter enganado
qualquer garota com quem já me envolvi. O problema, é
que são poucos os homens que agem como eu. A maioria
parece sentir algum tipo de prazer mórbido em iludir
uma garota... Não quero que minha irmã passe por isso.
— Eu entendo que você quer protegê-la, assim
como eu quero proteger a minha irmã, mas precisa
entender que o máximo que pode fazer por Norah, é
aconselhá-la para que não se envolva com algum idiota.
Não pode proibir a sua irmã de viver, Logan!
Esfreguei os olhos com as duas mãos, quase
sentindo dor de cabeça. Eu sabia que Avalon tinha razão,
mas era difícil simplesmente parar de agir daquela
maneira. Norah era minha irmãzinha, porra! Como eu iria
respirar em paz, sabendo que poderia estar conhecendo
algum babaca por aí, correndo o risco de ter o coração
partido? Senti o colchão afundar um pouco ao meu lado e
retesei de leve quando Avalon tocou em meu peito.
— Você é um bom irmão, Logan, e Norah te ama
muito. Ela vai saber te ouvir, caso você perceba que ela
pode estar se envolvendo em alguma furada. Se eu
tivesse um irmão mais velho como você, com certeza o
escutaria.
— Deus me livre ser seu irmão, Valente!
— Nossa, acha que sou uma irmã ruim? — Ela riu,
sem entender aonde eu queria chegar.
— Claro que não, sei que você é uma irmã
maravilhosa. O que estou querendo dizer, é que eu
jamais ia querer ser seu irmão, porque seria muito
doentio ficar de pau duro por sua causa.
Ela fez uma careta enquanto ria, fazendo o meu
coração acelerar de forma esquisita no peito.
— É, tem razão.
— Geralmente, eu tenho mesmo.
— Não seja um idiota, estrelinha dourada. — Seu
dedo indicador tocou a ponta do meu nariz, antes de ela
se afastar e tocar no interruptor ao lado da cama. Apenas
a luz do abajur ficou acesa e a tela da TV. — Vamos
assistir um filme?
— Está cansada de ouvir a minha voz?
— Um pouco — brincou, me entregando o controle.
— Vou confiar no seu gosto, Sr. Amo Filmes de Romance.
Animei-me e acabei escolhendo uma comédia
romântica chamada Casa Comigo, estrelada por Amy
Adams e Matthew Goode. Havia assistido apenas uma
vez, anos atrás, e acreditava que Avalon iria gostar. Ela
se acomodou ao meu lado e resolvi aproveitar o
momento para poder tocá-la com um pouco mais de
intimidade.
— Vem aqui, Valente — pedi, estendendo o meu
braço por baixo da sua cabeça para que ela se deitasse
sobre ele e ficasse de conchinha comigo.
Pensei que Avalon iria retrucar, mas acho que
realmente avançamos muitos passos naquela noite, pois
ela se acomodou sem reclamar. Nunca pensei que
admitiria isso, mas aquela posição era perfeita — não
sabia se continuaria a pensar assim depois que meu
braço ficasse dormente. Eu podia sentir a parte de trás
do corpo de Avalon sem qualquer impedimento,
enquanto passava meu braço livre pela sua cintura e
respirava o cheiro suave da sua pele na região do
pescoço. A parte ruim, era a luta para não ficar de pau
duro, mas eu confiava que venceríamos aquela batalha.
Ri baixinho quando algo cruzou a minha mente.
Logan Miller III de conchinha com uma garota, sem nem
ao menos ter transado com ela. Aquilo era inacreditável.
James e Benjamin iam gargalhar da minha cara quando
eu contasse.
— O filme nem começou direito e você já está
rindo? Francamente, Logan — Avalon comentou baixinho,
mas senti um tom de risada em sua voz.
Decidi deixar que ela pensasse que eu estava
achando graça do filme, porque não queria dar outra bola
fora com a ruiva depois da besteira que falei momentos
atrás.
— Eu gosto de comédia romântica. Acostume-se
com isso, Valente.
— Não sei se vou conseguir me acostumar.
— Eu sei que tenho um estereótipo...
— Acho bonitinho o fato de você ter consciência. —
Ela riu mais alto quando subi minha mão pela sua barriga
e fiz cócegas em suas costelas. — Para com isso!
Desculpa, eu vou deixar você falar, juro!
— Continuando... — Voltei a tocar em sua barriga,
sentindo seus músculos ainda trêmulos. — Eu sei que
tenho um estereótipo, mas vou muito além do que as
pessoas acham que sabem sobre mim.
— Eu percebi. — Avalon virou um pouco o rosto em
minha direção e pude observar o seu sorriso bonito sob a
luz fraca do abajur. — Você é legalzinho.
— Legalzinho? Ah, não. Eu sei que você pode me
fazer um elogio melhor, Valente.
— Hm, deixa eu pensar...
— Não demore muito, ou vou sair daqui com o
coração partido.
Valente tocou de leve a minha mão sobre a sua
barriga, subindo com as pontas dos dedos pelo meu
pulso até o meu braço. A carícia leve me deixou todo
arrepiado.
— Você é muito intenso, Logan. Gosto de observar o
seu jeito e venho fazendo isso desde que a gente se
conheceu. Você é muito leal aos seus amigos, carinhoso
com a sua irmã, preocupado com as pessoas a sua volta,
inclusive comigo e com a minha irmã. É muito talentoso
e dedicado, protetor e corajoso... E agora eu vou parar de
falar, porque acho que já amaciei demais o seu ego.
Precisei respirar fundo, porque tive a sensação de
que o meu coração ia parar na garganta. O filho da mãe
estava batendo tão rápido, que cheguei a acreditar que
ele pensava que estávamos em campo, no meio da
adrenalina do jogo. Avalon me deu um sorriso um pouco
sem graça, talvez se dando conta de que havia falado
demais, e voltou a olhar para a TV, mas eu puxei o seu
rosto na direção do meu para que voltasse a encarar os
meus olhos.
— Valente?
— Sim?
— Eu preciso te beijar. Preciso te beijar agora
mesmo.
Ela arfou e o ar quente que escapou da sua boca
tocou a minha bochecha.
— Então me beija.
Sabia que depois do que havia acontecido
momentos antes entre nós dois, eu deveria me controlar
e apenas assistir ao filme ao lado dela, mas não pude
mais segurar o desejo que Valente fez transbordar em
meu sangue depois de ouvir tudo aquilo que me disse,
por isso, sequer cogitei hesitar. Simplesmente colei os
meus lábios nos dela, procurando a sua língua com a
minha e sentindo o meu pau endurecer de novo ao ouvir
o seu gemido baixinho de encontro a minha boca.
Minha mente me alertou para a nossa conversa e o
seu desabafo sobre a forma como o filho da puta do seu
ex-namorado a negligenciava durante o sexo, por isso,
não me movi sobre o seu corpo ou insinuei que iria despi-
la. Tendo o controle do beijo e sentindo a sua respiração
arfante, desci minha mão do seu rosto e contornei de
leve os seios por cima do tecido liso do seu pijama,
sentindo na ponta do meu polegar o mamilo teso. Avalon
gemeu mais alto e tentou se virar de frente para mim,
mas enrosquei minhas pernas nas dela e a deixei na
mesma posição, apenas com o rosto virado minha
direção, e mordi de leve o seu lábio inferior para poder
seguir para o seu pescoço.
— Quero ir devagar com você, Valente — sussurrei,
prendendo o lóbulo da sua orelha entre os meus dentes.
Ela estremeceu, roçando a bunda gostosa no meu pau e
me arrancando um gemido. — Confia em mim?
Era importante que sua resposta fosse positiva,
porque, se Avalon hesitasse, eu pararia naquele
momento. Algo me dizia que aquele babaca nunca se
importou com o que ela queria e eu jamais agiria como
ele.
— Confio. — A certeza em sua voz entrecortada fez
com que o meu pau babasse de encontro ao tecido da
minha calça. Senti tanto tesão, que pensei que iria
explodir.
Graças a Deus eu era bem mais alto do que Avalon,
assim, fiquei na altura perfeita para voltar a beijar a sua
boca sem que ela precisasse ficar com o rosto muito
virado em minha direção. Dei uma utilidade perfeita para
o braço que estava debaixo da sua nuca, usando a mão
para tocar de leve em seus seios por cima da blusa,
enquanto a outra, passeava pela curva sensual da sua
cintura até o quadril. Avalon gemeu quando voltei a tocar
em sua barriga, erguendo apenas um pouco a barra da
sua blusa para poder tocar a sua pele arrepiada.
Eu queria deixá-la nua, queria ver em detalhes cada
cantinho do seu corpo, decorar cada marquinha, cada
pinta, tocar em seus seios e puxar os mamilos, explorar a
sua pele com a minha boca e chupar a sua boceta, mas
não menti quando disse que iria devagar. Queria engolir
Avalon, mas, ao mesmo tempo, queria conquistá-la aos
poucos.
Já havia feito sexo desenfreado durante toda a
minha vida e era sempre a mesma coisa. Cair na cama —
quando havia uma por perto —, ficar pelado, chupar, ser
chupado e, então, meter de verdade. Era gostoso, mas
não era aquilo ali. Não era sentir o gosto de Avalon
profundamente, perder o fôlego em meio ao beijo e parar
por uns segundos para poder começar tudo de novo,
sentir o tremor do seu corpo com o meu toque em seus
seios, apertar a sua cintura nua entre os meus dedos,
sentir sua pele arrepiada, quase enlouquecer de desejo
com a sua bunda roçando em meu pau devagar, me
fazendo melar pra caralho o tecido da calça.
Não me lembrava de já ter curtido algo assim, nem
mesmo quando era adolescente. Provavelmente, Avalon
também nunca vivenciou algo igual, então, aquela seria
uma primeira vez para nós dois, de certa forma.
— Diga-me até onde eu posso ir — sussurrei de
encontro a sua boca.
Avalon lambeu meu lábio inferior devagar, abrindo
os olhos pesados de desejo para me olhar. Sua mão
tocou a minha por cima da sua cintura e um arquejo
deixou a sua boca antes de ela falar.
— Quero que me toque no lugar em que quiser.
Boceta.
Foi a palavra que brilhou em minha mente como se
fosse a porra de um letreiro em néon. Senti-me meio
idiota, mas pelo menos fiquei aliviado por não ter
deixado o pensamento escapar em voz alta.
— E o que você... quer que eu faça? — ela
perguntou em meio a um gemido quando chupei a pele
do seu pescoço.
— Quero que curta o momento.
— Mas... e você?
— Eu estou curtindo pra caralho a sua bunda. — Fui
sincero, sorrindo ao ouvir a sua risada baixinha. Subi com
a boca até a sua orelha e mordi novamente o lóbulo
antes de sussurrar: — Esta noite, eu vou gozar roçando
nela.
Meu pau e eu concordamos que ele não precisava
dar as caras naquela noite. A sarrada na bunda de Avalon
estava deliciosa e eu queria me concentrar
exclusivamente em explorar o seu corpo com as minhas
mãos e fazê-la gozar.
Eu seria o primeiro homem a dar um orgasmo para
aquela garota.
Meu peito inflou de orgulho e me senti como um
homem das cavernas, pois quis muito dizer que eu seria
não apenas o primeiro, mas o único, porque Valente era
só minha. Reprimi o sentimento ao beijá-la, porque ainda
não entendia o que tudo aquilo significava e não queria
perder tempo analisando naquele momento. Meu foco
era Avalon.
— Mostra esses peitos lindos para mim, Valente —
pedi, levando a sua mão até a alça fina da blusa que
vestia.
Avalon respirou fundo e se sentou na cama,
arrancando a blusa do pijama em um safanão. Eu engoli
em seco, obrigando-me a ficar deitado no mesmo lugar e
não partir para cima dela como um ogro faminto, louco
para chupar aqueles mamilos rosas. Agradeci
mentalmente a Deus pela luz do abajur estar acesa e me
dar o privilégio de ver aquele par de seios perfeitos
quando Avalon voltou a se deitar ao meu lado.
Eles eram mais cheios do que pensei e
infinitamente mais bonitos, também. Os mamilos
durinhos pareciam implorar pela minha língua, mas
engoli o desejo naquela noite e os toquei com a minha
mão, preenchendo a palma com seio direito, roçando o
polegar no bico intumescido e ouvindo Avalon gemer
mais alto o meu nome. Mordi seu ombro de leve e fiz o
que estava doido para fazer desde que toquei em seu
peito por cima da blusa: belisquei o mamilo e puxei com
delicadeza, apreciando o seu gemido entrecortado
enquanto movia de leve meu quadril de encontro a sua
bunda.
— Logan... Faz de novo. — Repeti o gesto, só que no
seio esquerdo. Avalon choramingou, enfiando o rosto em
meu braço abaixo da sua cabeça e estremecendo. — Ah,
meu Deus. Isso é gostoso...
— Você que é gostosa. — Minha voz saiu rouca pelo
desejo. Encaixei minha mão em seu pescoço e deixei a
outra brincando com os seus mamilos, enquanto
procurava a sua boca com a minha. Avalon me deu o que
eu queria, mas só toquei meus lábios nos dela, enquanto
roçava meu pau com mais pressão. — Acho que no fundo
eu sempre te quis aqui, Valente. Na cama comigo,
gemendo pra mim.
— Então o seu ódio era tesão reprimido? — Não
seria Avalon se não tivesse uma resposta afiada na ponta
da língua.
— Talvez. Mas se o meu era, então o seu também
era.
A safada sorriu entre os meus lábios, me fazendo
gemer ao morder o inferior com um pouco mais de força
do que eu esperava.
— Você nunca vai saber, estrelinha dourada.
Ela jamais iria admitir, mas não tinha importância,
pois, no fundo, eu já sabia a verdade. Tomei a sua boca
na minha e larguei o seu pescoço para poder tocar os
seus seios com as duas mãos. Brinquei com eles até
sentir que pressionava demais as coxas, provavelmente
cheia de tesão naquela bocetinha, e não consegui mais
me conter. Deixei a mão esquerda cuidando dos mamilos
duros e desci a direita por sua barriga, até chegar na
barra do seu short curto de dormir.
Não precisei falar nada. Sem qualquer discrição,
Avalon afastou as coxas, jogando a perna por cima da
minha e deixando o caminho livre para que eu
explorasse. Meus dedos invadiram o seu short e a
calcinha, encontrando a bocetinha livre de pelos e com
os lábios babados de lubrificação. Meu próprio pau ficou
melado, quase me fazendo esquecer do nosso acordo de
que ele deveria ficar dentro da calça naquela noite.
— Caralho, Valente... — Desci o dedo médio entre
os lábios delicados, roçando no clitóris inchado e
arrancando um gemido longo da sua boca. — Que delícia
de boceta... Tá toda meladinha.
— Nunca fiquei... desse jeito antes — ela sussurrou
em meio a um gemido quando pressionei mais forte o
clitóris. Meu dedo deslizava de tão excitada que ela
estava. Eu estava salivando, puta que pariu.
— E não vai ficar para mais ninguém — afirmei
entre os seus lábios, apertando um peito e roçando sua
entrada encharcada com a ponta do dedo. Avalon
arquejou quando penetrei a pontinha. — Só para mim. —
Mordi seu lábio e meti o dedo lentamente, sendo sugado
para dentro pelo seu canal vaginal. — Essa bocetinha
apertada vai ser só minha a partir de hoje.
Foda-se, eu era um homem das cavernas em
relação a Valente!
Ela se contorceu quando meti mais um dedo e
deixei a minha palma calejada roçar em seu clitóris. Sua
bocetinha era pequena e minha mão era grande demais.
Nunca pensei que algo tão desproporcional pudesse ter
um encaixe perfeito, mas era como eu sentia, pois podia
tocar toda aquela região, dando atenção ao grelinho
enquanto metia os dois dedos na boceta gostosa e toda
babada. Avalon gritou e eu pressionei meu pau com mais
força em sua bunda, sentindo que nenhum de nós dois
demoraria muito para gozar.
— Ah, minha nossa, Logan! — Valente gemeu,
franzindo o cenho e praticamente respirando o ar que eu
soprava em sua boca.
Meu coração estava disparado e meu pau doía
dentro da calça. Deixei que meus dedos formassem um
leve gancho dentro de Avalon e ela gritou, estremecendo
com força.
— Me deixa ser o seu primeiro, Valente... — pedi
entre os seus lábios, metendo em sua bunda e em sua
boceta ao mesmo tempo. — Goza gostoso pra mim...
Belisquei seu biquinho duro e aumentei a pressão
em seu clitóris, finalmente sentindo Avalon se desfazer
entre os meus braços. Ela gemeu o meu nome tão alto,
que chegou a perder a voz, enquanto pulsava ao redor
dos meus dedos e gozava sem controle. Foi lindo. Nunca
na vida eu me senti tão realizado ao fazer uma mulher
gozar, nem fiquei tão vidrado em suas reações. O rosto
de Valente era como uma pintura, contorcido em prazer,
com as bochechas vermelhas e os lábios inchados pelos
meus beijos. Seu ventre tremia, sua pele estava
arrepiada e a boceta completamente melada. Tudo aquilo
por minha causa.
Caralho.
A constatação me bateu com tanta força, que eu
comecei a gozar sem nem mesmo me dar conta. Foi a
minha vez de gemer mais alto, enquanto movia meu
quadril em direção a sua bunda gostosa e esporrava em
grande quantidade em minha calça, sentindo o pau
pulsar e doer levemente por estar tão excitado e
sensível. O fato de ainda estar com os dedos na
bocetinha de Valente, sentindo-a piscar daquela forma
gostosa, só tornou tudo mais intenso.
Mal podia esperar para sentir tudo aquilo estando
dentro dela. Queria sentir Avalon gozando na minha
língua, sentada em minha cara, depois em meu pau,
quicando sobre mim. Queria chupar seus peitos, lamber o
seu cuzinho, comer ela de quatro... Puta merda. Valente
iria me enlouquecer.
Queria retomar meu fôlego, mas não pude deixar de
beijar a sua boca enquanto ainda sentia o torpor
delicioso do orgasmo. Foi um beijo lento, gostoso,
enquanto eu tirava os dedos de dentro dela e tocava de
leve o seu clitóris, sentindo-a estremecer e resmungar.
— Está sensível? — perguntei baixinho perto da sua
boca e Valente concordou com a cabeça. Pude sentir que
ela sorria e respirei aliviado. Por um segundo, senti medo
de que ela tivesse se arrependido. Com o coração partido
por ter que parar de tocar a boceta gostosa, tirei minha
mão de dentro do seu short e não me contive. Chupei
meus dedos com desejo, vendo Avalon me encarar
boquiaberta. — Hm, você é uma delícia, Valente.
— Meu Deus! — Ela escondeu o rosto com as mãos
e riu baixinho, fazendo os seios gostosos sacudirem de
leve. Aquilo era demais para o meu coração. Meu pau
ainda estava semiereto e não parecia dar sinais de que
iria amolecer tão cedo. — Você é safado demais, Logan!
Puxei suas mãos para longe e finalmente saí de trás
do seu corpo, apenas para partir para cima dela. Valente
abriu as coxas para me receber e mordeu de leve o lábio
quando rocei no meio das suas pernas.
— Eu disse que tinha um arsenal enorme de putaria.
É melhor que você se acostume. — Toquei seu nariz com
o meu e Avalon enfiou os dedos em meus cabelos,
arranhando de leve a minha nuca. — Da próxima vez,
vou provar o seu gosto diretamente aqui — pressionei
por cima do seu short com o meu pau. —, lambendo a
sua bocetinha até você gozar.
— Quem disse que vai ter próxima vez? —
provocou.
— Nós dois sabemos que vai.
Aquilo poderia complicar muito as coisas, eu sabia.
Sexo não fazia parte do nosso acordo e Avalon mexia
comigo de uma maneira que eu não conseguia entender,
mas decidi que não ia recuar. Queria experimentar tudo
aquilo, porque confiava em Valente, da mesma forma
que ela confiava em mim.
Beijei a sua boca devagar, sentindo a textura macia
da sua língua e o seu sabor delicado em meus lábios,
praticamente perdendo a noção do tempo e querendo
começar tudo de novo. Foi o toque estridente do seu
celular que nos tirou daquele transe. Sem querer me
distanciar dela, beijei o seu pescoço e deixei que
tateasse sobre a cama até achar o aparelho. Ela atendeu
com a voz ofegante e, por eu estar perto demais, acabei
ouvindo uma voz masculina do outro lado da linha:
— Oi, Avalon, é o James, tudo bem? Logan ainda
está aí?
Levantei a cabeça e Avalon respondeu com os olhos
levemente arregalados:
— Hã, sim, ele está sim.
— Não queria atrapalhar vocês, mas Logan precisa
voltar. Pode avisar a ele para mim?
Merda. Avalon franziu o cenho, mas respondeu que
me avisaria e eles se despediram.
— Como James tem o meu número?
— Eu passei para ele e para Benjamin hoje de
manhã. Achei melhor que nós três tivéssemos o seu
contato, caso acontecesse alguma coisa. — Fiz uma
careta e encostei minha testa na dela. — Não queria ir,
mas meio que temos um toque de recolher quando
estamos em outra cidade. Cada jogador precisa estar em
seu quarto às onze horas.
— Ah... — Vi em seus olhos que estava
decepcionada, mas ela logo franziu o cenho. — Mas
você... Você, hm...
— O quê?
— Você... — Ela olhou para a junção dos nossos
corpos e ficou vermelha. Finalmente entendi o que queria
saber, mas deixei que falasse em voz alta, quase
provocando-a e perguntando onde estava a Avalon
confiante que eu conhecia. — Você gozou?
Achei melhor mostrar ao invés de responder.
Tomando a sua mão na minha, fiz com que Valente se
sentasse enquanto eu me ajoelhava na frente do seu
corpo. Nem precisava fazer com que ela me tocasse, só a
mancha na frente da calça já era suficiente, mas não
perderia jamais aquela oportunidade. Avalon reprimiu um
sorriso ao morder os lábios quando coloquei a sua mão
por cima do meu pau.
— Isso responde a sua pergunta?
— Sim, mas... Você ainda está duro.
— Porque estou morrendo de tesão por você,
Valente. Acho que só vou voltar a amolecer depois que te
comer umas cem mil vezes.
— Como você é idiota! — Ela riu e deu uma
apertadinha no meu pau, me fazendo gemer. — Vai
embora, não quero ser acusada de sequestrar a
estrelinha dourada do time.
— Esse seria um crime bem grave — falei, me
apoiando melhor na cama para poder aproximar minha
boca da dela. — Mas eu faria uma visita íntima todos os
dias enquanto você estivesse presa.
— Eu iria recusar.
— Depois de ter gozado desse jeito na minha mão?
Duvido.
Engoli a sua resposta com um beijo longo, querendo
prolongar os minutos em sua presença. Como não podia
mais demorar, me afastei depois de deixar um selinho
em sua boca e me despedi. Avalon vestiu rapidamente a
blusa do pijama, escondendo os seios perfeitos de mim,
e me acompanhou até a porta do seu quarto.
— Vai mesmo sair andando por aí assim? —
perguntou ao abrir a porta, apontando para a frente da
minha calça.
Estava bem óbvio o que havia acontecido, mas eu
pouco me importei.
— Pode ter certeza de que eu estou melhor do que
os outros babacas do time, que com certeza estão
gozando agora batendo punheta no banheiro.
— Logan, você é um porco! Vai logo.
Ri e dei um outro beijo nela antes de finalmente
partir. Não encontrei com ninguém dentro do elevador
nem nos corredores, mas James me esperava acordado e
mexendo no celular. Nosso quarto era compartilhado e a
luz estava acesa. Senti que ele ia falar alguma coisa,
talvez me dar um esporro por eu ter demorado tanto,
mas, ao notar a mancha em minha calça, o babaca
simplesmente interrompeu o que iria dizer e começou a
rir.
— Você gozou nas calças? Puta merda, Logan, eu
não acredito!
— Cala a boca — pedi, mas estava rindo.
— Quantos anos você tem, cara? Treze?
— Vai se foder, babaca. — Fui direto para o
banheiro, enquanto erguia o dedo do meio para ele. —
Você ainda vai encontrar alguma garota que vai te deixar
com tanto tesão, que também vai gozar na calça.
— Duvido!
Fechei a porta do banheiro, mas continuei a sorrir,
não por causa de James, mas por ainda estar com a
mente e o corpo — talvez o coração também, já que ele
se recusava a desacelerar — ligados em Valente.
Demorei tanto a pegar no sono, que acabei
acordando um pouco atrasada, mas qualquer pessoa no
meu lugar também não conseguiria dormir depois de
tudo o que havia acontecido enquanto Logan ainda
estava em meu quarto.
Parecia que o jogador havia marcado o meu corpo
com ferro em brasa. Se eu fechasse os olhos, conseguia
sentir a pressão das suas mãos em minha pele, a forma
como acariciou os meus seios, os seus dedos dentro do
meu short, me deixando louca enquanto me tocava e me
fazendo gozar tão intensamente pela primeira vez na
vida. Eu me masturbava de vez em quando,
principalmente quando não conseguia relaxar o
suficiente para dormir e precisava dos hormônios
liberados pelo orgasmo para poder apagar, mas nunca
havia sido nada tão forte daquele jeito.
Era como se eu fosse uma faísca e Logan fosse o
álcool. Juntos, nós dois explodimos.
Não fazia ideia de como ficaríamos a partir de
agora, estava até com um pouco de vergonha em olhar
para ele depois de tudo o que fizemos na noite passada,
mas conversei comigo mesma enquanto estava no banho
e coloquei em minha cabeça que nós dois éramos
adultos e que não havíamos feito nada de errado.
Conseguiríamos lidar com as consequências daquela
noite, caso houvesse alguma.
Arrumei todos os meus pertences na mala pequena
que havia levado comigo, pois precisava ir para o
aeroporto logo depois do café da manhã, e desci para a
área do restaurante, onde sabia que Logan estava me
esperando. Estava saindo do elevador quando ouvi o
alarme do meu celular tocar no bolso, me lembrando de
que Aubrey precisava tomar a sua medicação diária.
Como sabia que minha irmã às vezes se esquecia
de tomar o remédio — principalmente quando estava na
companhia das amigas — liguei para ela. A pestinha com
certeza estava dormindo, pois só foi me atender quando
insisti pela terceira vez, já entrando no restaurante e
vendo uma mesa grande ocupada por todo o time do
Crimson.
— Oi. — Sua voz de sono me fez revirar os olhos.
— Você não colocou o celular para despertar, Aub?
Logan se levantou da mesa e veio em minha
direção. Os meninos do time os zoaram em meio a
risadas, me fazendo ficar um pouco envergonhada, mas
ele deu o dedo do meio para todo mundo e logo me
alcançou, me dando um beijo rápido nos lábios. Ignorei
minhas pernas trêmulas e sorri para ele enquanto ouvia
Aubrey do outro lado da linha:
— Hannah e eu fomos dormir tarde e eu acabei
esquecendo, Ava. Desculpa.
Eu sabia que isso iria acontecer, mas decidi não
chamar a sua atenção naquele momento. Deixaria para
conversarmos em casa. Aubrey precisava ser mais
responsável, já não era mais uma criança.
— Tudo bem, mas vai tomar o remédio agora, ok? Já
se levantou? Já pegou o comprimido na mochila? Só vou
desligar depois que você tomar.
Ouvi o seu bufar do outro lado da minha e segurei
uma risada, vendo Logan me olhar com o semblante
confuso.
— Estou indo agora.
— Sua irmã está doente?
Apenas Maeve e algumas poucas amigas de Aubrey
sabiam sobre a sua condição de saúde. Desde que
chegamos no Alabama, decidi que não contaria detalhes
sobre a minha vida para qualquer pessoa, apenas para
aqueles em quem eu realmente confiava. Depois da noite
de ontem, em que Logan e eu nos aproximamos de
forma mais íntima, percebi que eu já confiava no
quarterback e sequer havia me dado conta.
Não pensei antes de falar alguns detalhes sobre o
meu antigo relacionamento, as palavras simplesmente
escaparam sem que eu percebesse. Logan me deixava
confortável e não ter visto julgamento em seu olhar
acabou me dando um empurrãozinho para me abrir um
pouco mais. Sentia que eu podia fazer isso mais vezes,
principalmente em relação a minha irmã, já que ela e o
jogador se davam tão bem.
— Ava? Já tomei o remédio. Posso voltar a dormir
agora?
— Pode, mal-humorada. Amo você.
— Também te amo. Manda um beijo para o Logan.
— Sua fã número um te mandou um beijo — falei
para ele, que sorriu e se inclinou para falar perto do
celular:
— Um beijo, Aub.
Ela riu do outro lado da linha — para Logan, não
para mim, afinal, era uma puxa-saco dele — e nos
despedimos.
— Os meninos querem te conhecer. Vem cá.
Logan pegou a minha mão e me levou em direção à
mesa ocupada por todos os integrantes do time — o que
significava que tinha gente pra caramba reunida e
falando alto. Nem se eu quisesse, conseguiria gravar o
nome de todos, mas foi divertido passar alguns minutos
ao lado de todos eles, principalmente porque todo
mundo ali zoava com a cara de Logan. Percebi que eles
se tratavam como família e até o treinador, que o
jogador disse que tinha dado um esporro nele por ter me
convidado para assistir ao jogo na noite anterior, me
tratou muito bem.
James e Benjamin deixaram claro que queriam me
conhecer melhor e Logan prometeu que me levaria na
casa deles na próxima semana. Os dois pareciam ser
bem divertidos, como Logan, e fiquei ansiosa para me
aproximar um pouco mais deles e, claro, rever Norah
quando eu fosse à casa do quarterback.
— Vamos pegar uma mesa só para nós dois? Se nos
sentarmos com eles, não vamos conseguir ouvir nem os
nossos próprios pensamentos — Logan disse ao meu lado
e eu concordei com a cabeça.
Os meninos do time estavam animados demais
depois de terem vencido na noite passada e
comentavam sobre o jogo. Eu me sentiria um peixe fora
d’água se me sentasse com eles, pois não teria qualquer
comentário para fazer sobre o assunto. Depois de me
servir no buffet junto com Logan, nos sentamos em uma
mesa mais afastada e o jogador voltou a falar:
— Você não me respondeu sobre a sua irmã. Está
tudo bem com ela?
— Sim. Quer dizer, agora realmente está tudo bem
com ela, mas os últimos anos foram difíceis.
— Como assim? — Ele deixou de lado a xícara de
café e me olhou com mais atenção.
— Aubrey nasceu com uma malformação no trato
urinário — expliquei, vendo a surpresa e a preocupação
tomarem a expressão do seu rosto. — Por isso, desde
muito pequena, sempre viveu em hospitais, fazendo
inúmeros tratamentos para que os seus rins não
perdessem completamente a capacidade de funcionar.
— Nossa, eu não podia imaginar. Ela ainda faz esse
tratamento? Por isso que você estava com ela no hospital
naquele dia?
Surpreendi-me com o fato de Logan se lembrar
disso. Na época, nós ainda não éramos amigos e ele
sequer conhecia Aubrey, não achei que tinha dado
importância ao que falei por mensagem.
— Não mais. Aubrey acabou tendo uma
complicação muito severa e seus rins passaram a
funcionar com apenas quinze por cento da sua
capacidade. Por causa disso, minha irmã entrou na fila do
transplante aos doze anos. Foi a época mais difícil da
minha vida. Eu estava completamente sozinha, pois
minha mãe já tinha falecido na época, e precisei vender
a nossa casa para poder custear o tratamento dela.
Aubrey estava sobrevivendo por causa da hemodiálise e
eu estava desesperada.
Lembrar daquela época acabou me fazendo perder
a fome, por isso, empurrei para o lado o prato com pão
de forma e ovos mexidos.
— O valor que recebi pela venda da casa
simplesmente evaporou em menos de um ano com todos
os custos do hospital. Foi por isso que eu peguei o
dinheiro com Charles, pois não sabia mais o que fazer e
minha irmã dependia das sessões de diálise para ficar
viva.
— Puta merda, Valente! — Logan pegou a minha
mão entre as suas e deu um beijo nos nós dos meus
dedos, me encarando com os olhos arregalados. — Agora
eu entendi o porquê de você ter pegado o dinheiro com
um homem como ele. Vinha tentando imaginar o motivo,
mas nenhum deles parecia ser plausível o suficiente. Não
passou pela minha cabeça que poderia ser por causa de
alguma doença, pois você e Aubrey são saudáveis,
aparentemente.
— Ela é saudável agora, porque conseguiu fazer o
transplante de rim. — Era impossível falar sobre aquilo e
não me emocionar. Logan abriu aquele sorriso bonito,
que tirou um pouco do meu fôlego. — Nós morávamos na
Califórnia até o início desse ano, mas como eu não tinha
um emprego fixo lá e passei a morar de aluguel após a
venda da casa, minha situação financeira ficou muito
apertada. Maeve era uma grande amiga da minha mãe e
disse que eu poderia trabalhar em seu bar e morar no
apartamento do andar de cima se viesse para o
Alabama, por isso, pedi transferência da UCLA para cá.
Aquele não havia sido o único motivo, mas decidi
deixar para contar o resto da história depois.
— Então, para continuar dando conta do tratamento
da minha irmã no Alabama, peguei o dinheiro com
Charles antes de partir. Nunca imaginei que ao chegar
em Tuscaloosa, receberia uma ligação do hospital onde
Aubrey continuaria o tratamento, avisando que havia
chegado a hora de ela realizar o transplante, pois havia
um rim de um doador compatível com ela. Com o
dinheiro que peguei com Charles, consegui custear a
internação e a cirurgia da minha irmã. Agora, ela leva
uma vida normal, só precisa ir às consultas mensais e
tomar os imunossupressores todos os dias para que não
ocorra qualquer rejeição do órgão transplantado.
— Valente, isso é incrível! — O sorriso de Logan era,
de longe, o maior e mais bonito que me deu. E o mais
emocionado, também. — Alguém já disse como você é
foda? Espero que já tenham dito, porque é verdade. Tudo
o que você fez pela sua irmã... Eu nem sei o que dizer
além disso. Você é foda, forte e muito corajosa.
— Ou louca, né? Já que peguei aquele dinheiro todo
com Charles sem nem saber como iria pagar. — Ri,
sentindo meu coração bater acelerado. — Mas eu faria
tudo de novo por ela. Aubrey é muito mais do que minha
irmã. Quando minha mãe morreu, ela era muito novinha
e eu tive que criá-la, mesmo sem saber como educar um
outro ser humano... Eu a amo como se fosse minha filha.
— Tenho certeza de que ela te ama da mesma
forma, consigo ver isso nos olhos dela.
— É bom que ela me ame mesmo, pois sou a única
irmã que ela tem — brinquei, apertando o canto dos
olhos com a mão que Logan não segurava. — Desculpa,
eu fico um pouco emocionada quando falo sobre isso.
— Não precisa se desculpar, eu imagino como deve
ter sido difícil, mas você conseguiu, Valente. — Seus
olhos brilhavam de admiração, me deixando um pouco
envergonhada. — Sua mãe com certeza está muito
orgulhosa de você.
— Isso foi golpe baixo — murmurei, sentindo meus
olhos marejarem. — Espero que ela saiba que dei o meu
melhor para cuidar de tudo.
Logan arrastou a sua cadeira para mais perto e
tocou o meu rosto com as mãos, secando a lágrima boba
que escapou pelo cantinho do meu olho.
— É claro que ela sabe. Inclusive, tenho certeza de
que foi ela que me colocou no seu caminho, para que
você não precisasse se preocupar com mais nada. —
Como o bobo que era, Logan olhou para o alto e disse: —
Valeu, sogrinha. Prometo não decepcionar a senhora.
— Seu idiota! — Foi impossível não rir e Logan me
acompanhou. Ele estava leve naquela manhã, bem
diferente de como ficou uma semana atrás após o
primeiro jogo. — Mas talvez isso possa ser verdade. Se
não fosse por você, acho que nunca teria me livrado
daquela dívida com Charles, ou melhor, Alfred — citei seu
nome verdadeiro.
— Eu já te conheço muito bem, você daria um jeito,
Valente. — Ele piscou para mim e precisou olhar para
trás quando alguém do time o chamou. — Droga, preciso
ir. O seu voo é daqui a pouco, certo?
— Sim. Já deixei tudo arrumado, vou só pegar a
minha mala e fazer o check-out.
— Tudo bem. — Nós ficamos alguns segundos em
silêncio, acho que sem saber o que falar depois da noite
de ontem, mas Logan sacudiu a cabeça e sorriu de leve,
espantando a tensão. — Nos vemos mais tarde? Ou
apenas amanhã, se você achar melhor.
— Podemos nos ver mais tarde, mas estarei
trabalhando no bar.
— Não tem problema, eu fico sentado em frente ao
balcão, te fazendo companhia. — Pegando-me de
surpresa, Logan tocou em minha nuca e me puxou para
mais perto do seu rosto, passando o nariz levemente
pelo meu. — Estou com saudade da sua boca, Avalon.
Posso te beijar?
— Acho que você já não precisa mais pedir para me
beijar, estrelinha dourada.
Eu não sabia de onde tinha surgido a coragem para
falar aquilo, mas me parabenizei mentalmente ao sentir
o sorriso de Logan perto dos meus lábios antes de ele me
beijar. Por um momento, esqueci completamente que
estávamos dentro do restaurante do hotel, tendo, muito
provavelmente, os olhos do seu time em cima de nós
dois. Apenas me entreguei ao beijo delicioso de Logan,
lamentando baixinho quando ele precisou se afastar.
Senti que ele também queria mais, no entanto, não
tínhamos mais tempo.
Despedimo-nos com mais um beijo e eu respirei
fundo depois que ele partiu, me dando conta de que
aqueles dois dias no Texas pareciam ter mudado
completamente a minha vida.

Cheguei em casa no início da tarde e fui direto de


carro até a casa de Hannah buscar a minha irmã. Ela veio
tagarelando durante todo o caminho, contando como foi
divertido passar aquela noite ao lado da melhor amiga.
Quando finalmente se acalmou, expliquei a ela que eu
havia contado para Logan sobre o seu histórico de saúde,
mas Aubrey não se preocupou. Diferente de mim, ela não
tinha problemas em falar sobre a sua vida para outras
pessoas, principalmente para aquelas de quem gostava.
— Só não quero que ele mude a forma como me vê.
Não sou mais uma garotinha doente.
— Acho que Logan jamais faria isso, Aub.
Ela sorriu, satisfeita, e foi logo colocando alguma
música das suas bandas — ou melhor, grupos —
favorito=as para tocar quando chegamos em casa. Fiz
um wrap para comer, já que Aubrey havia almoçado na
casa da amiga, e avisei que passaria o resto da tarde
fazendo trabalhos da faculdade. A maior parte estava
adiantada, pois eu usava qualquer hora vaga para
estudar e fazer pesquisas, mas gostava de estar dentro
do prazo e ter os trabalhos finalizados bem antes da data
de entrega estipulada pelos professores.
Mal vi a hora passar, só percebi que estava prestes
a anoitecer, quando meu celular tocou o alarme que eu
havia programado para me lembrar de tomar banho e
me arrumar para o trabalho. Após deixar meus livros e
cadernos organizados, fui direto para o chuveiro e me
deparei com uma mensagem de Logan assim que peguei
meu celular sobre a bancada, depois de tomar banho e
me enrolar na toalha. Era uma foto sua na cama, apenas
de cueca boxer branca e cara amassada de sono.
Talvez eu tenha dado um zoom na sua região
pélvica, pois o volume muito considerável me deixou
curiosa e com o clitóris pulsando.

Babaca de Uniforme: Acabei de acordar. Sonhei


que estava chupando a sua bocetinha e agora estou de
pau duro, Avalon.
Eu ri e decidi trocar o nome do seu contato em meu
celular. Logo após a alteração, abri o aplicativo da
câmera e posicionei em um ângulo que pegasse da
minha boca para baixo, dando uma visão privilegiada do
meu corpo coberto pela toalha.

Eu: Fiquei molhadinha ao ler isso.

Havia ficado nítido na foto que eu ainda estava com


a pele molhada por causa do banho, então, eu jamais
perderia a chance de fazer aquele trocadilho. A resposta
de Logan chegou em poucos segundos.

Estrelinha Dourada: Você não pode brincar assim


comigo, Valente. Não tem pena de mim?
Eu: Por que eu teria pena de você?
Estrelinha Dourada: Porque eu estou sozinho
nessa cama, com uma ereção gigantesca e, mesmo
assim, você fica zoando com a minha cara.
Eu: Eu não fiz nada disso, realmente estou
molhada. Não viu na foto?
Estrelinha Dourada: Eu vi. Se estivesse aí, estaria
lambendo cada gota da sua pele até chegar na sua
boceta. Ela estaria meladinha para mim de novo?

Encostei-me contra a bancada pequena da pia,


precisando apertar as coxas para conter o tesão que me
percorria lá embaixo. O que eu deveria responder? Nunca
tinha trocado mensagens daquele estilo antes.

Eu: Sim.
Aquilo parecia muito pouco, por isso, enviei:

Eu: Na verdade, acho que ela está ficando melada


agora.

Minha nossa. Senti minha pele ficar ainda mais


úmida e não era mais por causa da água do chuveiro. De
repente, a temperatura no banheiro ficou alta demais.

Estrelinha Dourada: É mesmo? Toca ela para


mim. Quero que você tenha certeza.

Resolvi sair do banheiro, pois só tinha um no


apartamento e Aubrey poderia querer usar, e fui direto
para o meu quarto, passando a chave discretamente.
Deixei a toalha sobre o encosto da cadeira em frente à
minha mesa de estudos e me sentei na cama, sentindo a
pele sensível ao tocar o edredom. Com um pouco de
vergonha, como se Logan estivesse bem ali, me vendo,
afastei as coxas e toquei a minha boceta, soltando um
suspiro quando resvalei no clitóris inchado e, como eu
acreditava, molhado pela minha lubrificação.
Afastei minha mão do meio das minhas pernas e
tirei uma foto dos meus dedos melados, enviando para o
quarterback.

Estrelinha Dourada: Puta merda, Valente. Toca


bem gostoso essa bocetinha e goza pensando em mim.
Estrelinha Dourada: Não lave esses dedos depois.
Estrelinha Dourada: Quando eu chegar no bar,
vou chupá-los na frente de todo mundo e ficar com o seu
gosto na minha boca pelo resto da noite.
Ah, meu Deus.
Eu ri, nervosa, e fiquei boquiaberta quando Logan
me enviou uma foto do seu pau ainda dentro da cueca,
bem maior do que antes. Havia uma mancha da sua
lubrificação perto do cós da roupa íntima, moldando
perfeitamente a sua cabeça robusta. Senti que eu
poderia gozar só observando aquela obra-prima.
Tomando coragem, digitei:

Eu: Vou me tocar pensando que é a cabeça do seu


pau no lugar dos meus dedos.
Estrelinha Dourada: É isso que você quer,
Valente? Quer gozar roçando no meu pau?
Eu: Sim.
Estrelinha Dourada: Vamos fazer isso em breve.
Agora, eu vou gozar pensando em você.

Queria pedir para que ele gravasse, mas eu estava


excitada demais e quase atrasada para o trabalho, por
isso, deixei o celular de lado e me acariciei com vontade,
chegando ao orgasmo tão rápido, que precisei morder a
minha mão esquerda para não gemer alto demais e
chamar a atenção de Aubrey na sala.
Levei alguns minutos para me recuperar, jogada de
costas na cama, olhando para o teto e sorrindo como
uma idiota, dopada de endorfina e ocitocina. Só voltei a
me sentar quando o celular vibrou com uma nova
mensagem.

Estrelinha Dourada: Espero que esteja viva,


Valente. Nos vemos daqui a pouco.
Sorri e deixei o celular de lado, correndo para me
arrumar.
Logan entrou no bar chamando a atenção de
praticamente todos os clientes. A maior parte se
aproximou dele para parabenizá-lo pelo jogo da noite
anterior e tirar algumas fotos, o que me deu tempo para
apreciar a sua beleza de longe.
— Será que eu preciso pegar um babador para
você? — Maeve perguntou ao meu lado, rindo baixinho.
Sacudi a cabeça e voltei ao trabalho, arriscando um
olhar para a minha chefe e amiga.
— Está tão na cara assim que eu estou gostando
mesmo dele?
— Está escrito na sua testa, Ava! — Ela sorriu com
alegria e eu fiz uma careta. Que ótimo! Agora todo
mundo podia ver o que o quarterback estava fazendo
comigo. — E isso é muito bom! Você merece se
apaixonar de novo e ter um relacionamento saudável e
feliz.
Maeve sabia sobre o meu passado com Tucker, meu
ex-namorado. Quando liguei para ela, perguntando se
não teria como me ajudar, caso eu me mudasse para o
Alabama, contei toda a minha história com aquele
babaca. Acreditava que era por isso que Maeve nunca
tinha me pressionado a aceitar qualquer convite que eu
recebia dos clientes que frequentavam o bar, pois sabia
que eu não tinha um bom histórico e que era difícil de
me abrir para qualquer pessoa.
— E aquele garoto ali — ela apontou para Logan,
que olhava para mim enquanto um torcedor usando a
camisa do Crimson falava com ele. —, parece mesmo
gostar de você. Conheço o Logan, de longe, é claro, mas
ele sempre foi um cliente assíduo aqui do bar. Senti que
ele se perdeu depois da morte da mãe, mas parece estar
se encontrando novamente agora que está com você. É
muito bom que estejam dando uma chance para o amor.
Amor? Meu Deus, Maeve precisava ir com calma,
com muita calma.
— Não chegamos nesse nível ainda — comentei,
separando três copinhos de shots para que Donovan
servisse a mesa três.
— Mas chegarão em breve, acredite em mim. — Ela
apertou o meu ombro, me dando um olhar confiante.
— Você está muito romântica desde que começou a
namorar com Harlan, Maeve.
Ela e o cantor de rock haviam oficializado o
relacionamento quase na mesma época em que Logan e
eu começamos a namorar de mentirinha. Estava feliz por
ela, principalmente porque sentia que Harlan gostava de
Maeve de verdade.
— O amor nos deixa assim, querida! É inevitável. —
Seu sorriso se ampliou quando olhou além de mim. —
Inclusive, meu namorado acabou de chegar. Não é
incrível falar isso? Meu namorado. Me sinto como uma
adolescente de novo!
Animada, ela me deixou sozinha atrás do balcão e
foi de encontro ao cantor robusto, que deu um beijo
apaixonado em sua boca. Eles foram direto para a porta
que dava acesso ao corredor, onde ficava o escritório de
Maeve, e eu sacudi a cabeça, sem querer pensar no que
fariam quando estivessem a sós.
“O mesmo que você quer fazer com Logan, Avalon”,
uma vozinha soou em minha cabeça, mas logo a
espantei, colocando os shots na bandeja de Donovan e
sendo surpreendida com a chegada de Logan assim que
o funcionário se afastou. O quarterback se sentou à
minha frente no balcão, todo sorridente, com os cabelos
levemente desarrumados e uma correntinha bonita no
pescoço, se destacando sobre a blusa preta que usava.
— Como é a sensação de ser famoso? — perguntei,
me aproximando e apoiando os braços no balcão.
Logan tomou as minhas mãos nas suas e levou a
direita até o seu rosto, dando um beijo no dorso.
— É boa — respondeu, olhando em meus olhos
enquanto pegava os meus dedos médio e indicador e os
levava até os seus lábios. Eu prendi a respiração quando,
discretamente, ele os colocou na boca, chupando de
forma sensual. Precisei apertar as coxas, porque, de uma
forma muito louca, eu senti aquela chupada bem na
minha boceta. — Mas o seu gosto é melhor do que
qualquer outra coisa, Valente. — Sua voz saiu rouca,
afetando ainda mais o meu coração disparado.
Logan deixou um beijinho singelo em meus dedos
antes de abaixar a minha mão e se apoiar com um
cotovelo no balcão, encurtando completamente a
distância entre as nossas bocas. Ele me beijou com
intensidade, sem se importar com o fato de que
estávamos no meio de um bar lotado, com praticamente
todos os olhos virados em nossa direção, já que ele era
conhecido por todo mundo e chamava a atenção por
onde passava.
Seu objetivo parecia ser me deixar louca em pleno
horário de expediente. Eu havia gozado antes de descer
e já sentia vontade de começar tudo de novo com
apenas um beijo. O que Logan estava fazendo comigo?
Ele deixou o meu lábio inferior escapar depois de dar
uma mordidinha nele, gemendo baixinho.
— Acho que vou precisar de pelo menos uns cem
beijos como esse para poder aguentar a tortura que vai
ser te ver desse lado do balcão e não poder te agarrar.
— Veja isso como um exercício para treinar a sua
paciência, QB.
— Ou como um estudo de caso sobre como
disfarçar uma ereção no meio de um bar lotado — disse
ele, me fazendo rir. — Preciso de uma cerveja para tentar
me acalmar, Valente.
— Tem certeza?
— Sim, vou tomar apenas uma enquanto fico
babando em você.
Concordei com a cabeça tentando, inutilmente,
conter um sorriso bobo, e peguei uma caneca de cerveja
para o jogador.
Passamos as próximas horas conversando,
provocando um ao outro e trocando alguns beijos. Em
certo momento da noite, Maeve se juntou a nós dois
atrás do balcão e eles começaram um papo animado
sobre o jogo de ontem à noite. Ao contrário de mim,
Maeve era apaixonada por futebol, fã de carteirinha do
Crimson Tide — por isso, inclusive, que o bar era todo
decorado nas cores do time — e havia sido cheerleader
na sua época de faculdade.
— Acho que você ficaria linda em um uniforme de
cheerleader, Valente — Logan me provocou, dando um
gole em sua água com gás. Ele cumpriu com a promessa
e ficou mesmo apenas com uma cerveja, partindo para a
água logo depois.
— Só nos seus sonhos eu me vestiria de vermelho e
branco e balançaria pompons, Logan terceiro.
Ele riu por trás da garrafa de água e voltou a
prestar atenção em Maeve, que perguntou algo sobre o
ataque do próximo time que o Crimson enfrentaria. Eu os
deixei conversando e mandei mensagens para Aubrey,
pedindo para que fosse dormir, pois já passava das onze
da noite e ela precisaria acordar cedo no dia seguinte
para ir para a escola. Depois de receber o seu ok, voltei a
minha atenção para Logan, segurando a mão que me
estendeu por cima do balcão enquanto ele e Maeve
ainda conversavam.
Foi inevitável me lembrar daquela mesma mão
entre as minhas pernas na noite passada. Os dedos de
Logan eram elegantes e longos e a palma era levemente
calejada por causa do esporte que praticava. Do dorso da
sua mão até o cotovelo, subiam veias grossas, que o
deixavam ainda mais sexy. Fiquei imaginando se havia
veias saltadas em seu pau também. Naquela noite em
seu quarto, eu só consegui constatar que ele era grande
e grosso, pois o quarterback logo o escondeu dos meus
olhos com a almofada.
— Não cabe — Logan disse de repente, chamando a
minha atenção.
Olhei rapidamente a nossa volta, vendo que Maeve
tinha se afastado para conversar com Harlan na ponta do
balcão. Dei-me conta de que Logan estava falando
comigo.
— O que não cabe?
— O meu braço na sua boceta. Sei que ele é bonito,
mas não cabe, Valente.
— Pelo amor de Deus, Logan! — Ele riu quando dei
um tapa em sua mão e se aproximou um pouco de mim.
— Mas o meu pau cabe com certeza, mesmo a sua
boceta sendo pequena e apertadinha — sussurrou, me
dando uma piscadinha.
— Cala a boca — pedi, pousando dois dedos em
seus lábios e tentando não sorrir feito uma idiota. Ele se
desvencilhou para voltar a falar:
— Maeve deixou escapar que você tem um intervalo
de meia hora para tirar daqui a pouco. Estava pensando
que a gente poderia comer alguma coisa rapidinho.
— Na verdade, meu intervalo começa agora — falei,
dando uma olhada no relógio em meu celular. —
Podemos ir, se você quiser.
Logan assentiu e eu avisei a Maeve que estava
tirando meu intervalo. Saímos juntos do bar, sentindo o
vento mais frio do outono enquanto atravessávamos a
rua em direção ao seu carro. Como eu não tinha muito
tempo, passamos em um drive-thru de comida mexicana
e pedimos tacos para a viagem, começando a comer
depois que Logan estacionou em uma rua pouco
movimentada naquele início de madrugada.
Devoramos tudo em poucos minutos, conversando
por cima da música que tocava no sistema de som do
seu carro. Quando Stuck With You, de Ariana Grande e
Justin Bieber, começou a tocar, eu sorri, surpresa.
— Não sabia que você gostava desse estilo de
música.
Logan deixou no banco de trás as embalagens
vazias de comida e se virou para mim, pegando em
minha mão e me puxando em sua direção com
delicadeza.
— Viu como eu continuo te surpreendendo? —
perguntou, olhando rapidamente para as próprias coxas.
— Vem aqui.
— Estamos no meio da rua, seu doido.
— Não sabia que você era tão medrosa. Estou te
chamando de Valente à toa?
Estreitei os olhos para e ele subi em seu colo,
sentando-me de frente para o seu corpo. A saia xadrez
que eu usava subiu um pouco, quase mostrando a minha
calcinha. Toquei o seu pescoço largo, dividida entre
estrangulá-lo por ser tão perturbado ou acariciá-lo por
viver colocando um sorriso bobo no meu rosto nos
últimos dias.
— Satisfeito?
Suas mãos subiram lentamente pelas minhas coxas,
me fazendo respirar fundo para tentar conter o arrepio
que se espalhou pelo meu corpo.
— Vou ficar quando você colocar essa boca na
minha.
Lentamente, aproximei meu rosto do dele,
resvalando os nossos lábios e fugindo quando ele tentou
me beijar. Logan riu baixinho, tentando de novo, mas fugi
mais uma vez, até que ele pareceu perder a paciência
com o meu joguinho e me agarrou firme pela bunda, por
baixo da minha saia, me puxando para mais perto em
seu colo e tomando a minha boca em um beijo profundo.
Foi impossível conter um gemido quando senti a sua
ereção sob a minha boceta, crescendo rapidamente
dentro da bermuda jeans que ele usava. Rebolei devagar,
curtindo o momento enquanto o quarterback apertava a
minha bunda entre os dedos e me deixava comandar
toda a ação, inclusive, o ritmo do nosso beijo, que se
tornou menos violento e mais sensual, me tirando o
fôlego.
Mordi o seu lábio e desci com a boca pela linha do
seu maxilar, sentindo sua barba por fazer me arranhar de
leve, até chegar em seu pescoço cheiroso. Logan xingou
baixinho com a voz rouca quando o lambi e depois
chupei, apertando mais forte a minha bunda e fazendo
mais pressão com o seu pau duro no meio das minhas
pernas. Eu sentia o meu clitóris pulsar e a minha calcinha
ficar toda molhada de encontro a sua bermuda.
— Dá esses peitos para mim, Valente — Logan
pediu, subindo as mãos pela minha cintura por debaixo
da blusa. — Está escuro aqui, ninguém vai ver.
Realmente, estávamos debaixo de uma árvore
grande, que nos escondia da iluminação pública. Além
disso, os vidros do carro de Logan eram protegidos por
uma película muito escura, que impedia que vissem o
interior do veículo. Concordei com a cabeça e deixei que
erguesse a minha blusa até a altura dos seios. O tecido
era grosso, por isso, eu não usava sutiã. Logan gemeu
quando eles ficaram bem no seu campo de visão,
praticamente tocando o seu rosto.
— Porra, como eles são lindos. — Joguei a cabeça
para trás quando suas mãos se encheram com os meus
seios. Eu era bastante sensível ali e Logan parecia saber
exatamente como tocá-los para me deixar louca. — Abre
a minha bermuda e esfrega essa bocetinha em mim
enquanto eu chupo seus peitos, meu bem. Quero que
goze enquanto eu mamo neles.
Meu clitóris pulsou a cada palavra que escapou da
boca de Logan.
— Acho que a minha boceta ama a sua boca suja —
confidenciei enquanto levava meus dedos até a sua
bermuda.
O jogador riu baixinho e me ajudou a despi-lo,
abrindo o fecho ao mesmo tempo em que eu descia o
zíper. Mordi o lábio com força ao ver a ereção marcando
a sua cueca. O líquido pré-ejaculatório manchava o
tecido, me deixando com água na boca. Sem conseguir
tirar os olhos daquela região, enrolei a minha saia e me
sentei em cima do se pau, gemendo junto com Logan ao
rebolar lentamente sobre ele.
— Que delícia — sussurrei, arranhando a sua nuca e
me contorcendo ao sentir sua barba por fazer arranhar a
pele do meu pescoço. Logan deu um tapinha estalado em
minha bunda e eu me sobressaltei, rebolando mais forte.
— Coloca a calcinha de lado, quero só a minha
cueca entre nós dois.
— Você está limpo? — perguntei, sondando os seus
olhos.
— Sim. Faço exame regularmente por causa do
time.
— Eu também estou e tomo anticoncepcional —
informei, vendo os seus olhos quase brilharem no meio
da penumbra do carro. — Quero sentir você.
Confiava em Logan de uma forma que nunca pensei
que faria. Queria viver aquela experiência com ele.
— Puta merda, Valente! Só não vou te comer agora,
porque, quando eu fizer isso, quero que seja na minha
cama, com você bem aberta para mim e sem ter hora
para ir embora. — Ele me beijou com força rapidamente,
quase me arrancando uma risada. — Afasta a calcinha
para mim.
Levei a mão até o meio das minhas pernas e
coloquei a peça íntima de lado, vendo Logan abaixar a
cueca e deixar o pau pular para fora. Lamentei por estar
escuro demais e não poder ver o membro
completamente. O jogador tocou uma punheta rápida
com a mão direita e me tocou lentamente com os dedos
da mão esquerda, me fazendo soltar um suspiro muito
alto.
— Meu Deus, Avalon. Vem cá, esfrega essa
bocetinha babada em mim.
Ele me guiou, segurando-me pela cintura, e
gememos juntos quando comecei a subir e descer em
seu pau. Era uma delícia e, por ser bem grosso, manteve
os lábios da minha boceta abertos, com ele encaixadinho
no meio.
— Ah, Logan... — Joguei a cabeça para trás mais
uma vez, gemendo de forma meio alucinada quando ele
meteu um mamilo em sua boca. A pressão me fez
estremecer e aumentar a velocidade dos quadris. — Não
para!
Seus dedos apertaram a minha bunda com força e o
meu clitóris escorregou com facilidade pela base do seu
pau até a cabeça desenhadinha e robusta. Eu já não
sabia mais se o que me mantinha tão melada era apenas
a minha lubrificação ou se a de Logan também escorria
pelo seu pau, mas a questão era que o roçar dos nossos
sexos era delicioso demais. Seria difícil segurar o
orgasmo, principalmente quando os quadris de Logan
começaram a acompanhar os meus movimentos.
— Encoste as costas no volante. — Sua voz saiu
quase irreconhecível. Fiz o que pediu, e franzi o cenho
quando ele me deu o seu celular. — Acenda a lanterna
para mim. — Minhas mãos estavam trêmulas, mas
consegui pressionar o ícone da lanterna na tela. — Agora
ilumina aqui, Valente.
Senti seus dedos voltarem a colocar minha calcinha
de lado e iluminei a região. Precisei pressionar os lábios
um contra o outro quando Logan guiou o pau bonito — e
com veias salientes, do jeitinho que imaginei — até o
meio das minhas pernas e tocou a minha boceta de baixo
para cima com a glande rosinha e bruta, toda melada
pela minha lubrificação e a dele também. O contato com
o meu clitóris me fez resfolegar e estremecer com
violência.
— Eu disse que iria realizar o seu desejo, não disse?
— perguntou ele, voltando a sondar a minha entrada e
subindo muito lentamente até o clitóris. — É bom?
— Sim... Muito, meu Deus!
O nervo pulsou de forma dolorosa e eu
choraminguei, rebolando contra a cabeça do seu pau em
busca de mais contato. Logan massageou meu clitóris
com mais força, sem conseguir tirar os olhos do meio das
minhas pernas.
Era uma visão pornográfica. A cabeça bruta do seu
pau ocupando todo o espaço entre os lábios da minha
boceta, me masturbando da mesma forma que imaginei
mais cedo enquanto me tocava. Era estímulo demais e
me senti ficar cega por alguns segundos quando o
orgasmo atravessou o meu corpo e pareceu se
concentrar especificamente em meu clitóris, que pulsava
sem parar.
Acho que gritei, mas só consegui voltar a ter foco
quando Logan bateu com o pau em cima do grelinho
inchado e sensível, dando golpes sucessivos, até o
primeiro jato de porra cobrir os meus lábios vaginais.
— Caralho, Valente! — Ele gemeu entredentes, se
tocando bem rápido e gozando sem parar.
O líquido branco e espesso cobriu a minha boceta
inteira e deixou todo o interior do carro cheirando a sexo.
Eu tremia de forma quase incontrolável e acabei
deixando o seu celular cair em algum lugar quando ele
me puxou de encontro ao seu peito, tocando as minhas
costas com as mãos abertas.
— Eu queria ter gravado isso para rever toda hora.
— Deixei escapar, escondendo meu rosto em seu
pescoço. Logan riu abaixo de mim, dando um tapinha em
minha bunda.
— Devo realizar essa sua fantasia também ou não?
— Vai querer colocar em prática tudo o que eu
disser?
— Se você quiser, sim. — Afastei meu rosto do seu
pescoço para poder olhar em seus olhos sob a penumbra
do carro. — Eu não sei o que significa tudo isso que está
acontecendo entre nós dois, Valente, mas quero que
saiba que estou gostando. Não porque está rolando sexo,
mas porque eu sinto que estou criando com você uma
conexão que nunca criei com ninguém.
Eu não esperava que Logan fosse falar algo tão
sério naquele momento, com nós dois praticamente nus
e seu esperma ainda escorrendo pelos meus lábios
vaginais, mas gostei do que ouvi. Gostei muito.
— Eu me sinto da mesma forma.
— De verdade? Sei que já namorou antes e...
Logan parou de falar quando sacudi a cabeça em
negação.
— Tucker era um idiota que se aproveitou de mim
em um momento que eu estava muito frágil, Logan. —
Desabafei, tentando impedir que um nó se formasse em
minha garganta. — Eu tinha acabado de perder a minha
mãe e achei que podia confiar nele, acreditei que ele me
ajudaria e seria um porto seguro para mim naquele
momento, já que eu precisava ser forte por mim e pela
minha irmã, mas eu apenas me enganei. Sabe tudo o
que você fez por mim quando soube da minha dívida
com Charles? — Logan apenas assentiu. — Ele não fez
nem meio por cento para me ajudar. Não falo sobre
dinheiro, mas sobre se importar e se preocupar comigo.
Você, que não era nada meu, fez muito mais do que ele
jamais ousou fazer.
— Onde ele está agora? — Logan perguntou,
tomando meu rosto em suas mãos. — Juro por Deus que
se esse filho da puta ousar chegar perto de você de
novo, eu vou...
— Você não vai fazer nada — falei, vendo-o bufar. —
Estou falando sério, Logan. Tucker faz parte do meu
passado e é lá que ele vai ficar. Eu estou começando a
viver de verdade pela primeira vez desde que cheguei ao
Alabama... Não quero que a sombra dele fique pairando
sobre mim. Quero me libertar de verdade das amarras
que ele colocou a minha volta.
Logan me puxou de volta para o seu peito e me
abraçou muito forte durante longos minutos. Eu podia
sentir o seu coração disparado e a forma como parecia
tentar controlar o que sentia ao respirar fundo. Seus
lábios tocaram a minha testa com delicadeza e ele disse
baixinho:
— Não sei o que esse desgraçado fez com você,
Valente, mas quero que saiba que eu jamais te
machucaria de qualquer forma. Ao contrário dele, eu me
importo e me preocupo com você.
— Eu sei disso. Se não confiasse em você, jamais
estaria aqui agora, Logan. — Ergui minha cabeça e tomei
seu rosto em minhas mãos, dando um beijo carinhoso na
sua boca. — Obrigada por se importar de verdade
comigo.
Ele sacudiu a cabeça, como se dissesse que eu não
precisava agradecer, e voltou a me beijar delicadamente,
desacelerando as batidas do meu coração.
Pela primeira vez em longos e tortuosos meses,
havia apenas comentários bons sobre mim na internet.
Após a vitória do terceiro jogo com um placar de 63
pontos contra 7 do UL Monroe, o medo dos torcedores de
que eu fosse fazer uma temporada ruim havia ficado
para trás. Os canais de esporte teciam apenas elogios à
minha atuação em campo e os perfis de fofoca da
faculdade davam destaque para o meu namoro com
Avalon.
Também era a primeira vez em muito tempo que eu
me sentia verdadeiramente bem.
A última semana havia sido uma loucura, com
alguns trabalhos e provas, portanto, Valente e eu não
tivemos nenhum momento a sós, mas ficamos juntos no
campus e curtimos de verdade a companhia um do outro
sem estar encenando na frente dos alunos. Não sabia
dizer se eles tinham sentido alguma diferença entre nós
dois, mas, com certeza, a nossa sintonia ficou mais clara
para eles da mesma forma que ficou para mim.
Quando eu não estava com Avalon, pensava nela e
sentia a sua falta. Quando estava com ela, perdia a
noção do tempo e lamentava ter que me afastar.
Chegava a ser estranho lembrar de como eu me sentia
quando nos conhecemos, a antipatia que nutrimos um
pelo outro, o fato de que eu a achava estranha, apenas
por não se vestir ou se portar como as outras garotas.
Valente tinha a língua afiada e aquele nariz empinado de
dona da razão, mas, agora que a conhecia de verdade,
percebia que ela se escondia um pouco atrás de toda
aquela atitude, como eu fazia ao me esconder atrás das
bebidas, das festas e das garotas com quem ficava.
Avalon tinha apenas vinte e um anos, mas já havia
enfrentado tanta coisa. A morte da mãe, a doença da
irmã, o relacionamento ruim com aquele filho da puta
chamado Tucker, que havia me deixado sem dormir por
algumas noites, preocupado com o que ele podia ter feito
contra ela, a mudança para outra cidade, sozinha com a
sua irmã mais nova, a dívida com aquele traficante
desgraçado.
A garota era forte por tudo o que já havia vivido e
me inspirava, mesmo sem saber.
O treinador Coben entrou no vestiário e eu me
levantei, deixando de lado qualquer distração, preparado
para entrar em campo com o meu time. Jogaríamos
contra o Arkansas naquela noite e eu me sentia
confiante, mesmo sem Avalon na arquibancada, pois
aquele jogo seria na casa do time adversário.
Após repassar conosco as falhas da defesa do
Arkansas, o treinador nos desejou um bom jogo,
deixando claro que confiava no nosso time. Olhei para
James e Benjamin, vendo que estavam tão confiantes
quanto Coben e eu.
Aquele jogo era nosso e só sairíamos do campo com
uma vitória.

— Nós somos fodas, puta que pariu!


James bateu com o punho no meu e no de
Benjamin, antes de encostarmos nossas long necks em
um brinde animado. Estávamos no quarto de hotel
depois da partida contra o Arkansas, da qual saímos
vencedores em um placar de 49 pontos contra 26 do
time adversário. O treinador Coben provavelmente
comeria o nosso fígado se soubesse que estávamos
bebendo escondido no quarto, mas valia a pena correr o
risco para poder comemorar com os meus melhores
amigos.
— Essa temporada é nossa, vocês sabem disso, não
é? — Benjamin perguntou, enfiando uma porção de
amendoim na boca.
— Com certeza, cara — James concordou.
— Essa temporada precisa ser nossa — falei, dando
mais um gole na minha cerveja. — Perder não é uma
opção.
— Sabemos como essa vitória é importante para
você, irmão.
— Ben está certo. O time inteiro está lutando por
esse objetivo, Logan. Você sabe que ninguém ali te
julgou por você não ter comparecido ao último jogo da
temporada passada, não sabe?
Virei o rosto em direção à janela, pensando em me
esquivar da pergunta de James, mas como estava
cansado de agir de forma covarde em relação àquele
assunto, voltei a encarar os meus melhores amigos.
— Eu sei, mas é impossível não me culpar, de certa
forma. Sei que aquela derrota aconteceu por culpa
minha.
— Claro que não, Logan...
— Eu sumi sem dar qualquer explicação, James.
— Sua mãe morreu naquela tarde, Logan. Quer
explicação maior do que essa? — Benjamin questionou,
me dando um olhar sério que era atípico da sua
personalidade. — Você precisa parar de se cobrar tanto,
irmão. Ninguém ali esperava que você fosse comparecer
depois que soubemos da notícia. Nenhum de nós culpa
você por aquela derrota.
Tomei mais um pouco da cerveja, querendo que,
junto com ela, descesse o nó que começava a apertar a
minha garganta. Depois de segundos em silêncio,
ouvindo apenas a música que tocava pela TV, James
perguntou:
— Essa é a primeira vez que você fala abertamente
sobre aquele dia. Percebeu isso?
Olhei para ele, surpreso. James tinha razão. Eu
sempre me esquivei de falar sobre aquele dia terrível,
que considerava como o pior da minha vida. Lembrava-
me de ter acordado com uma sensação boa no peito,
pois havia sonhado com a minha mãe. Ela estava bem e
dizia que tinha muito orgulho de mim, que sabia que eu
conquistaria todos os meus sonhos e que jamais iria me
abandonar. Senti esperança de que ela acordaria do
coma em breve e passei o início daquela manhã no
hospital, conversando com ela, tendo a certeza de que
estava ouvindo tudo o que eu dizia.
Até aquele momento, eu não tinha dado certeza de
que iria jogar ou não. Minha mãe havia sofrido um
acidente de carro gravíssimo em Los Angeles três
semanas antes e tinha sido transferida para o Alabama
há poucos dias. Eu não tive cabeça para focar nos
treinos, preocupado demais com o seu estado de saúde e
cobrando junto com o meu pai respostas das
autoridades, porque tudo o que sabíamos, era que um
carro desgovernado havia batido no dela por trás.
Minha mãe perdeu o controle do veículo, que se
chocou contra uma árvore. O impacto foi muito forte,
pois, ao que tudo indicava, ela havia apagado ao bater a
cabeça contra o volante e o seu pé tinha afundado no
acelerador. O airbag não funcionou e a parte da frente do
seu carro ficou completamente destruída. As pernas da
minha mãe ficaram presas nas ferragens e ela sofreu um
traumatismo cranioencefálico.
Depois de ter passado aquela manhã com ela, senti
que eu poderia dar o meu melhor no jogo, porque sabia
que era aquilo que minha mãe queria de mim. Prometi
em seu leito que conquistaria a temporada ao lado do
meu time e que dedicaria aquela vitória para ela.
Cheguei a avisar ao treinador que eu iria jogar, mas,
antes de sair de casa para ir para a concentração, meu
pai recebeu uma ligação do hospital avisando que minha
mãe havia sofrido morte cerebral.
Foi como se o mundo tivesse desabado sobre a
minha cabeça. Eu perdi completamente a minha
capacidade de compreensão, o choque me paralisou,
nem mesmo o choro alto de Norah alcançou os meus
ouvidos. Eu me senti... oco. Não consegui chorar, não
consegui gritar, não consegui pensar. Só me lembrava de
ter pegado a chave do meu carro e dirigido por horas, até
parar em um bar sujo na beira de uma estrada e beber
até praticamente perder a consciência.
A partir daí, minha memória era uma confusão de
imagens sem sentido, barulho de chuva, gritos de guerra
do time e uma garota desconhecida ao meu lado, me
impedindo de me jogar de uma ponte. Não sabia o que
era real ou não, mas acreditava que a última parte era só
fruto de um sonho louco, produzido pela minha mente
bêbada.
Só fui descobrir sobre a derrota do time dias depois
e a culpa por ter deixado os meus companheiros na mão
se acumulou ao lado da dor de perder a minha mãe. Meu
lado racional sabia que eu não podia me culpar pela
derrota do Crimson, mas eu não conseguia evitar. Os
sentimentos negativos que me sufocavam, apenas
colaboraram para que eu entrasse no ciclo ruim que me
levou a ganhar a fama da qual estava lutando para me
livrar agora.
Era engraçado perceber que eu finalmente estava
me sentindo leve pela primeira vez em muito tempo.
Ainda havia certa culpa por estar me desprendendo de
hábitos ruins, pois parte de mim acreditava que estar me
afundando no poço era o que eu merecia, mas eu vinha
lutando para me convencer de que eu merecia mais do
que aquilo.
Minha mãe não ia querer ver o seu filho se perder
da forma como eu vinha me perdendo. Tinha certeza de
que, se pudesse, ela estaria dando um puxão em minha
orelha e me comendo no esporro se estivesse ao meu
lado. Era por ela que eu estava me reerguendo, pois
queria que se orgulhasse de mim, pelo menos um pouco,
onde quer que estivesse.
— Sim, eu percebi — respondi à pergunta de James,
percebendo que havia ficado os últimos minutos em
silêncio.
Como sabiam que aquele assunto era difícil para
mim, meus amigos não me cobraram, apenas me
esperaram começar a falar. Era por isso que eu amava
aqueles dois babacas como se fossem meus irmãos.
— Eu sinto que estou, aos poucos, me libertando
daquela dor terrível que me paralisava ao pensar na
minha mãe. Ainda não consigo aceitar a sua... A sua
morte. — Era até difícil falar. — Mas a raiva que eu sentia
já não tem a mesma força de antes, e aquele sentimento
de que eu não merecia me sentir bem ou feliz, também
já não me sufoca com a mesma intensidade. Isso não é
estranho? Vocês não acham que eu deveria me culpar
por estar vivendo sem... sem tê-la ao meu lado?
— Claro que não, Logan. É o contrário, cara, você
precisa viver, precisa dar valor ao homem que a sua mãe
criou com tanto carinho — Benjamin disse, colocando a
garrafa vazia de cerveja na mesinha de centro da suíte
que estávamos ocupando. Daquela vez, o quarto era
triplo, por isso, conseguimos ficar juntos.
— Acha que ela ia querer que você fosse infeliz? —
James perguntou. — Nenhuma mãe quer isso para um
filho, irmão. Era isso que nós vínhamos tentando te dizer
há meses e você se recusava a escutar. Sua mãe, onde
quer que esteja, quer te ver bem e feliz, Logan, como
tem estado nas últimas semanas.
— Eu já não me lembrava mais da última vez que
você tinha sorrido ou gargalhado de verdade, sem estar
sob a influência do álcool. Você se lembrava, James?
— Não. — James limpou a garganta, como se
estivesse emocionado, e me deu um sorriso. — Mas,
então, uma certa ruiva apareceu... Lembra disso, Ben?
— É, eu me lembro bem. Uma ruiva gostosa que
tirou esse babaca do sério.
— Cadê o respeito, porra? — Benjamin se esquivou
quando joguei uma almofada em sua direção, rindo da
minha cara. — Idiota.
— Viu como você fica quando falamos sobre
Valente?
— É Avalon, James! Puta que pariu!
Os dois riram de mim e eu cruzei os braços, me
sentindo um pouco idiota por estar com ciúmes. No
fundo, eu sabia que os dois só queriam me provocar e eu
estava caindo como um bobo.
— Você fica todo irritadinho. Assume logo que a
garota mudou a sua vida nesse mês em que ficaram
juntos e que você está louco por ela, QB. — Ben arqueou
a sobrancelha em minha direção.
​ lhei para os meus dois melhores amigos,
O
tentando entender como eu havia chegado ali, naquele
momento fatídico, sendo colocado contra a parede.
— Talvez eu esteja — murmurei, vendo os dois
gargalharem. — Eu disse talvez! Nunca senti nada disso
antes, ok? Estou confuso.
— Isso é normal. A gente demora a perceber que
está apaixonado, Logan — James disse, terminando a sua
cerveja.
Percebi que a minha ainda estava acima da metade,
em cima da mesinha de centro. Sequer me lembrava de
ter a deixado sobre o móvel. Demorei a me dar conta do
que James disse.
— Será que estou apaixonado? — Meus olhos
estavam arregalados. Benjamin deu de ombros.
— James disse que você gozou nas calças, então,
deve estar.
— Você contou essa porra para ele? — Peguei outra
almofada, que estava no chão, e joguei em James, que
agarrou no ar enquanto ria de mim. — Seu filho da puta!
— Eu não podia guardar aquela cena só para mim!
— Você é um babaca. — Sacudi a cabeça, tentando
não rir. Se eu estivesse no lugar de James, também
contaria, então, nem pude fingir por mais tempo que
estava com raiva. — Mas o que a gozada na calça tem a
ver com paixão, Benjamin?
— Para mim, é bem óbvio. Você gosta dela e não
quer apressar as coisas, sente um tesão do caralho, mas
não pode transar ainda... Gozar nas calças foi a solução
que você encontrou para não ficar com as bolas roxas.
— É uma boa analogia — James concordou e eu
revirei os olhos. Eu tinha péssimos amigos.
Péssimos.
Os piores.
— Não posso acreditar em você, Ben. Nunca se
apaixonou na vida.
— Graças a Deus. — O babaca riu, safado. — Mas
James já se apaixonou e concorda comigo.
— Mas eu nunca gozei nas calças.
— Então não foi uma paixão de verdade — Benjamin
respondeu, recebendo o dedo do meio de James.
Os dois começaram a discutir como dois
adolescentes e eu aproveitei para pegar o celular e ligar
novamente para Avalon. Havia tentado falar com ela
ainda no ônibus do time, a caminho do hotel, mas tinha
chamado até cair na caixa postal. Como era sábado e eu
sabia que a maioria dos torcedores se reuniam no bar da
Maeve para ver o jogo, deixei para tentar falar com ela
depois, pois sabia que devia estar louca atendendo um
monte de clientes.
Daquela vez, Valente atendeu no terceiro toque,
aparecendo toda linda na tela do meu celular. Não pude
deixar de sorrir quando ela afastou um pouco a câmera e
mostrou que vestia a minha camisa.
— Valente, não acredito que está usando a camisa.
Pensei que só vestiria quando fosse me assistir jogar.
— Mas eu te assisti jogar, só que pela TV. — Virei o
celular quando James e Benjamin começaram a
cumprimentá-la. — Oi, meninos! Parabéns, vocês
arrasaram hoje. Ben, o que foi aquele touchdown? Pensei
que as paredes do bar iam cair, de tanto que todo mundo
aqui comemorou.
Benjamin sorriu de orelha a orelha.
— Gostou, Valente? Ei, espera, babaca, eu não
terminei de falar com ela! — Benjamin reclamou quando
virei o celular em minha direção de novo.
— Quando você aprender que o nome dela é Avalon,
deixo que volte a falar com a minha garota.
— Está com ciúmes, estrelinha dourada?
— Hm, estrelinha dourada... Posso roubar, Valente?
— James perguntou, me olhando com deboche.
— Acho melhor não. Talvez, eu seja um pouco
ciumenta com apelidos também.
— Puta que pariu, vocês são bregas demais. Acho
que estou com diabetes — Benjamin comentou.
Avalon ia responder, mas olhou além da câmera do
celular quando alguém chamou por ela. Apesar do
falatório e da música que tocava no bar, pude perceber
que era uma voz masculina. Podia ser um cliente
qualquer pedindo uma bebida, mas quando Valente
sorriu e foi simpática demais, entendi que era alguém
que ela conhecia.
— Dylan! Minha nossa, o que você está fazendo
aqui no Alabama? — Os olhos de Avalon estavam
arregalados, mas ela não parava de sorrir daquela forma
espontânea e animada, como quando sorria para mim.
Franzi o cenho, sentindo um gosto amargo na boca.
— Vim aqui te ver. Você sumiu, Avalon Banks!
Ele foi vê-la? Quem era aquele idiota?
— Valente?
Avalon voltou a olhar para mim e fez um sinal, como
se pedisse para o idiota esperar.
— Logan, um colega da UCLA acabou de chegar
aqui, acredita? Com certeza você o conhece! — Avalon
virou o celular e se filmou perto de um cara ruivo. Ele
estava atrás do balcão, onde eu sempre me sentava,
perto demais da minha garota, enquanto Valente estava
do lado de dentro, como sempre. — Esse é o Dylan [11]!
Ele jogava basquete no UCLA Bruins, mas agora está
jogando no Golden State Warriors!
Finalmente o reconheci. Dylan Ferrazzo, o ala
armador que havia sido draftado naquele ano. Como ele
e Valente se conheciam? Podiam estudar na mesma
faculdade, mas, assim como a Universidade do Alabama,
a UCLA era enorme.
— Prazer, cara! Porra, que jogaço foi esse? Vocês
foram fodas demais em campo! Essa temporada tá no
papo!
— Valeu. Foi um prazer te conhecer também — falei,
mas, no fundo, queria fazer uma série de perguntas ao
idiota.
Que história era aquela de que ele havia ido ao
Alabama apenas para ver a minha garota?
Que interesse tinha em Avalon?
Será que os dois haviam ficado em algum
momento, quando ela morava na Califórnia?
Será que mantinham contato?
O que ele queria com ela?
E o principal: por que Avalon não me apresentou
como seu namorado para ele?
— Logan? — Voltei o meu foco para o celular e
percebi que Avalon tinha se afastado do babaca e estava
perto da parede com prateleiras de bebidas. — Está tudo
bem? Você ficou calado de repente.
Não estava nada bem. Eu estava do outro lado do
país, longe de Avalon, enquanto um filho da puta
qualquer estava perto dela, com certeza, interessado e
doido para colocar as mãos na minha mulher! Quer
dizer... Avalon era minha, certo? Nós estávamos juntos,
pelo menos, para o mundo todo.
Mas não para aquele babaca, pois Avalon não disse
a ele que estávamos namorando. Por que ela não disse?
— Preciso desligar, Avalon. Estou com sono.
Ela piscou, parecendo surpresa, mas logo olhou
para trás quando alguém a chamou. Será que era o tal
do Dylan? Porra!
— Claro, você precisa descansar mesmo, imagino
que esteja quebrado depois do jogo de hoje. Quer dizer,
você não se machucou, não é? Sempre fico chocada com
a forma como aqueles brutamontes vão para cima de
você.
— Eu estou bem, não se preocupe. Vai atender o
seu amigo. Beijos!
Acenei para ela e desliguei, sentindo o meu coração
disparar de forma violenta no peito. Minhas pernas e
mãos tremiam. Puta merda, o que estava acontecendo
comigo? E por que eu tive que encerrar a chamada de
vídeo daquele jeito tão escroto? Porra!
— Eu não acredito. — A voz risonha de James me
fez lembrar que ele e Benjamin continuavam ali, bem na
minha frente. — Você acabou de ter uma crise de
ciúmes, Logan Miller III?
Senti o impacto das suas palavras bem em meu
estômago, como se fosse um soco. A dimensão do que
eu havia acabado de fazer e da forma como estava me
sentindo, me fez arregalar os olhos.
— Não — neguei, sem veemência alguma. — É claro
que não!
— Cara, você está tremendo de ciúmes! —
Benjamin riu alto, jogando a cabeça para trás. — É oficial,
você está de quatro por essa garota!
— Não estou tremendo! — falei, me levantando e
fechando as mãos em punhos para disfarçar. — Eu só não
entendi o que aquele babaca foi fazer lá! Vocês o
ouviram falando que tinha ido ao Alabama apenas para
ver a Avalon? Quem ele pensa que é? O que quer com
ela?
— Eu acho que foi apenas uma maneira de dizer,
Logan. O Golden State jogou ontem à noite no Alabama,
provavelmente, Dylan sabia que Avalon trabalhava no
bar da Maeve e foi lá cumprimentá-la. Até onde eu sei, o
cara tá namorando uma menina chamada Kim e parece
ser louco por ela — James disse, me estendendo o seu
celular. — Olha aí o Instagram dele. Eu o sigo na rede
social, porque você sabe que adoro basquete.
Dei uma olhada no perfil do idiota, fazendo uma
careta. A cada seis fotos, pelo menos quatro eram com
uma garota muito bonita, sempre com declarações
apaixonadas. Sem conseguir me segurar, cliquei em seus
stories e vi uma série de vídeos sobre a sua atuação na
noite passada e a localização do Alabama. Então, em um
story postado há menos de dois minutos, vi ele e a
namorada no bar da Maeve, em um boomerang, dando
um beijo na boca.
Ele não havia ido até o Alabama apenas para ver
Avalon ou porque estava interessado nela. O cara tinha
levado a namorada dele para o bar, porra!
Puta que pariu. Eu era um idiota.
Entreguei o celular para James e cocei a cabeça, me
dando conta de que, além de ter sido dominado pelo
ciúme, havia sido um babaca ao desligar na cara de
Valente daquele jeito.
Precisava consertar aquela merda, antes que a
garota geniosa resolvesse me dar um chute na bunda.
Eu tinha planos de dormir até mais tarde naquele
domingo, mas Aubrey me acordou às oito da manhã,
toda entusiasmada para se despedir de mim. Era
aniversário de uma das suas amigas e elas iriam se
reunir para passar a manhã e a tarde juntas em um
parque, sob a supervisão dos pais da garota, claro.
Acabei perdendo o sono depois que Aubrey saiu com os
pais da amiguinha e fiquei jogada no sofá, tentando
prestar atenção em um episódio de Friends enquanto
tomava café da manhã.
Era difícil me concentrar em qualquer coisa depois
da forma estranha como Logan se despediu de mim na
noite passada. Tinha ficado rolando na cama ao me
deitar de madrugada, tentando entender se eu tinha dito
algo de errado. Aquela sensação me deixava um pouco
sufocada e insegura, com certa culpa, também, ainda
que eu não soubesse o que de fato tinha acontecido ou
se eu havia feito alguma coisa para causar aquela
situação.
Resquícios que um relacionamento ruim deixavam
para trás.
Cheguei a pensar em enviar uma mensagem para
Logan, só para perguntar se estava tudo bem, mas
desisti. Talvez, ele estivesse mesmo cansado e eu que
estava agindo como uma boba, me preocupando à toa.
Foi o que repeti constantemente para mim mesma para
me convencer de não havia nada de errado, mas o
aperto em meu peito insistia em me fazer sentir o
contrário.
O barulho de duas batidas em minha porta me fez
deixar a tigela de cereal quase vazia sobre a mesinha de
centro e me levantar. Achei estranho que estivessem
batendo diretamente na porta do meu apartamento
àquela hora da manhã, mas talvez fosse Maeve querendo
pedir alguma coisa.
Meu coração deu um pulo assustado quando vi
Logan assim que abri a porta, com uma mochila do time
nas costas e uma mala de mão ao seu lado. Ele me deu
um sorriso de desculpas e olhou em direção à escada.
— Encontrei com Maeve ali embaixo e ela abriu a
porta para que eu subisse. Fiz mal?
— Não! Entra, por favor. Você veio direto do
aeroporto? — Era a única explicação para ele estar com
aquela mala.
— Sim, eu não podia esperar nem mais um segundo
para vir te ver, Valente.
Logan entrou e deixou a mochila e a bagagem em
um canto. Eu ainda estava confusa com a sua presença
ali e demorei para fechar a porta e passar a chave,
olhando para ele como se fosse uma miragem. Meu
coração se apertou um pouco mais. Sabia que havia
alguma coisa errada!
— Por... Por quê? — questionei, ficando nervosa.
Logan se aproximou de mim e me surpreendeu ao
tocar em meu rosto. Por um milésimo de segundo eu
quase me encolhi. Senti cada pelo do meu corpo ficar
arrepiado pelo sentimento repentino que cruzou o meu
peito. Não causado por Logan, mas por tudo o que eu
havia vivenciado no passado e que parecia ter saltado
em minha mente após a forma abrupta com que o
quarterback rompeu a nossa ligação.
— Você está tremendo? — Logan tocou o meu rosto
com a outra mão e me deu um olhar preocupado. —
Avalon, o que houve?
— Na... nada.
— Como nada? Vem aqui. — Ele me puxou
delicadamente em direção ao seu peito e me deu um
abraço bem forte, fazendo com que lágrimas idiotas
enchessem os meus olhos. — Valente...
Logan parou de falar quando um soluço escapou do
fundo do meu peito. Foi como se a parede forte que
construí ao redor do meu peito e da minha mente tivesse
ruído, não conseguindo suportar a avalanche de emoções
que simplesmente transbordou sem que eu tivesse
qualquer controle da situação.
Eu queria parar de chorar, mas não consegui.
Queria parar de me lembrar daquela época terrível,
mas minha mente não me obedecia.
Queria me livrar do medo e da sensação de
impotência, mas meu coração não colaborava.
Queria me livrar da culpa, mas ela se recusava a ir
embora.
Agarrei-me a Logan com uma força que eu nem
sabia que tinha, cruzando meus braços em sua cintura e
encharcando seu peito com as minhas lágrimas. Era
difícil respirar, minha garganta pinicava como se mil
agulhas estivessem enfiadas nela e o meu peito doía.
Meu Deus, eu odiava aquela sensação. Odiava me
sentir tão fraca e inútil outra vez!
— Eu estou aqui, meu amor. — A voz grave de
Logan ultrapassou a pressão em meus ouvidos, atingindo
diretamente o meu coração. — Estou aqui, Valente, nada
de ruim vai acontecer, eu prometo.
— Des... Desculpa.
— O quê?
— Descul... culpa — solucei, tentando fazer com que
ele me entendesse, tentando repetir aquela palavra
milhares e milhares de vezes. De novo. — Desculpa,
desculpa...
— Não! Pare com isso. — Logan me afastou do seu
peito e voltou a tomar o meu rosto em suas mãos. Eu
mal conseguia enxergá-lo através das lágrimas, mesmo
assim, ele secou cada uma que caía. — Você não tem
que se desculpar por nada, Valente. Não sei o que
aconteceu, mas não foi culpa sua, entendeu? Não foi
culpa sua.
— Mas vo... Você ontem... Você desligou o tele...
telefone e... E...
Eu não conseguia parar de soluçar e tremer. Logan
voltou a me puxar em direção ao seu peito e passou as
mãos devagar pelas minhas costas. Eu podia sentir como
seu coração estava acelerado, quase tanto quanto o
meu.
— Preste atenção nisso aqui — pediu muito
baixinho. — Tente respirar na velocidade do meu toque.
Assim... Isso, meu bem.
Ele subiu e desceu as mãos pelas minhas costas
muito devagar, em uma carícia que me fez chorar de
novo, mas sem ser de desespero. As lágrimas
começaram a cair porque aquela era a primeira vez em
muito tempo que alguém cuidava de mim. A última vez
que fui tocada daquele jeito, foi quando minha mãe
estava viva. Eu quase não conseguia me lembrar mais.
Lentamente, minha respiração foi desacelerando,
assim como as batidas frenéticas do meu coração. Eu
podia ouvir os batimentos de Logan e aquilo também
serviu para me distrair do turbilhão de pensamentos,
lembranças e emoções que minha mente parecia jogar
de um lado para o outro, como uma bolinha de ping
pong. Não saberia dizer quanto tempo se passou
enquanto ficamos ali, parados no meio da minha sala,
apenas com o volume baixo da TV interrompendo o
silêncio, misturado aos soluços esporádicos que eu não
conseguia controlar.
Sem falar nada, Logan me levou até o meu quarto e
fez com que eu me deitasse, se deitando ao meu lado
em seguida e se virando em minha direção. Ficamos de
frente um para o outro e olhar em seus olhos me
transmitiu paz, apesar de ele estar visivelmente
preocupado e carregando um outro sentimento que não
entendi o que era. Esperei ser invadida pela vergonha
após o meu rompante, mas o fato de não haver qualquer
julgamento em seus olhos me deixou
surpreendentemente calma. Ainda assim, a sensação de
que eu deveria pedir desculpas não me deixou em paz.
— Logan, eu... Eu preciso me descul...
— Não. — Ele pousou dois dedos sobre a minha
boca e franziu levemente o cenho. Só naquele momento
percebi que seu nariz estava levemente vermelho e que
seus cílios estavam úmidos. Logan havia chorado junto
comigo? Por quê? — Não posso deixar que você diga isso
de novo. Simplesmente não posso, Avalon.
— Por quê? — Minha voz não era nada mais do que
um sussurro.
— Porque a culpa é claramente minha, não sua.
— Não é. Fui eu que...
— O quê? O que você fez?
— Eu... Eu...
Parei por um momento, tentando explicar o porquê
de a culpa ser minha, o que eu havia feito, mas percebi
que eu não sabia. E era por isso que me sentia tão mal,
porque, ainda que eu não soubesse o que havia feito,
sentia que se ele tinha agido daquela forma antes, era
por minha causa.
Porque, antigamente, sempre foi por minha causa,
mesmo quando eu não sabia o motivo.
— Você não sabe, não é? — Logan perguntou e eu
engoli em seco, sem querer confirmar ou negar. — Você
não sabe, porque não fez nada, Valente. Eu que fiz. Fiquei
com ciúmes de você por causa daquele jogador de
basquete e acabei agindo como um idiota, desligando
daquele jeito. Foi por isso que vim direto para cá do
aeroporto, porque precisava me desculpar com você.
Nunca imaginei que te encontraria assim. Pensei que
estaria com raiva de mim.
— Por que eu estaria com raiva de você?
— Porque a Avalon que eu conheço, estaria dando
um chute no meu saco e deixando bem claro que eu agi
feito uma criança. — Ele tocou em meu rosto e trincou a
mandíbula, como se estivesse com raiva, mas percebi
que não era de mim. — Só que a Avalon que eu conheço
ainda não tinha me mostrado essa versão machucada e
traumatizada por aquele filho da puta.
Como ele sabia daquilo? Senti meu queixo tremer e
as lágrimas voltarem a inundar os meus olhos.
— Logan...
— Quantas vezes aquele desgraçado culpou você
por algo que ele mesmo havia feito, Valente? —
perguntou, franzindo o cenho novamente. — Quantas
vezes ele te machucou e conseguiu se infiltrar na sua
cabeça?
Eu queria fechar os olhos e fingir que não
estávamos prestes a ter aquela conversa, mas sabia que
eu precisava falar. Eu precisava falar com alguém, pelo
menos uma vez, e Logan era a pessoa em que eu mais
confiava naquele momento.
— Muitas vezes — confidenciei baixinho, sentindo
Logan tentar secar as minhas lágrimas. — Ele era
ciumento de uma forma doentia e sempre quando vinha
para cima de mim, deixava claro que a culpa era minha.
Porque eu havia falado com alguém, dado um sorriso, um
aperto de mão... Qualquer coisa. Não era como você age
com os seus amigos, era... Diferente.
— Ele ia para cima de você? — Concordei com a
cabeça e Logan fechou os olhos com força, como se
soubesse o que eu queria dizer e não suportasse o peso
da resposta. — Valente... Aquele filho da puta tocou em
você?
— Uma vez.
— Puta que pariu! — Logan estava com o rosto
vermelho de raiva, mas parou de xingar para me ouvir.
— Depois disso, eu o denunciei para a polícia. Eu fiz
isso porque... Ele me bateu enquanto minha irmã estava
no cômodo ao lado, praticamente dopada por causa dos
remédios para dor depois de uma crise e eu pensei....
Pensei que se ele teve coragem de fazer aquilo mesmo
sabendo que ela estava ali, do nosso lado, se eu desse
qualquer outra chance para ele, em qualquer outro lugar,
ele ia... Ele poderia me...
— Não! — Logan me puxou para mais perto,
colocando minha cabeça sobre seu peito. Ele beijou a
minha testa repetidas vezes e voltou a passar a mão
trêmula pelas minhas costas. — Não diga isso. Acabou,
Valente. Ele não vai fazer nada com você. Nunca mais.
— É o que eu falo para mim mesma desde o dia em
que cheguei ao Alabama.
— Foi por isso que você resolveu sair da Califórnia,
então?
— Não foi o único motivo, mas foi o principal. Eu
soube que ele seria liberado, pois a família tem certa
influência, então, liguei para Maeve e pedi ajuda. Eu não
tenho qualquer parente além da Aubrey e Maeve era
uma amiga de infância da minha mãe.
Logan me abraçou mais forte, com o coração
batendo acelerado de novo. Ficamos minutos daquele
jeito, até que ele falou:
— É engraçado pensar que, mesmo bêbado, eu
consegui dar para você o apelido perfeito. Acho que
enxerguei a sua força mesmo antes de te conhecer,
Avalon. Você é, com certeza, a pessoa mais valente e
corajosa que eu já conheci na vida.
— Eu sou? — Ri baixinho, ainda chorando um pouco.
Logan voltou a colocar a minha cabeça no travesseiro ao
seu lado e me olhou com uma admiração que me tirou o
fôlego.
— Você é. E eu tenho certeza de que esse é apenas
um dos motivos para eu ter me apaixonado por você.
Os meus lábios se separaram sem qualquer
controle, destruindo o sorriso que eu estava dando para
o quarterback.
— O... O quê?
— Você ouviu bem, Valente. — Ele me deu um
sorrisinho, ficando com as bochechas vermelhas de novo.
Não era de raiva. Não, estava bem longe disso. — Eu
poderia dizer que não sei como isso aconteceu, mas,
pensando agora, eu acho que sei, sim. Aconteceu no
momento em que encontrei uma ruiva doida dentro do
meu quarto. Ela me falou umas verdades, apontou o
dedo na minha cara e saiu pisando duro. Depois desse
dia, qualquer passo que eu dava, me levava até ela. Tudo
conspirou para que eu a reencontrasse infinitas vezes,
mesmo quando eu dizia para mim mesmo que ela era
insuportável.
— Acho que ela também te achava um insuportável.
— E eu era mesmo. — Ele riu. — Eu fazia de tudo
para ser insuportável, porque era a única forma que eu
encontrei para suportar a minha dor. Só que essa ruiva
me mostrou, através da sua valentia, que eu também
poderia ser forte para lidar com aquilo que me
machucava. Ela me inspirou, mesmo sem saber. E me
inspira cada vez mais.
— Ah, meu Deus. — Passei a mão pelo meu rosto,
precisando tirar o rastro de lágrimas que ainda o
banhava. — Para com isso, meu coração vai explodir,
estrelinha dourada.
— Espero que seja de sentimentos bons.
— Claro que é. Não percebeu ainda, Logan? — Ele
franziu o cenho. Meu Deus, era um tapado mesmo, mas
eu gostava dele mesmo assim. — Mesmo dizendo para
mim mesma que eu nunca mais confiaria em qualquer
outro homem, comecei a confiar em você sem nem
perceber. Deixei você entrar na minha vida, na minha
casa, na vida da minha irmã, sem em momento algum
colocar em dúvida as suas ações ou intenções. Tudo isso
porque, antes de a minha parte racional entender, o meu
coração já confiava em você.
— Puta merda! Tá querendo dizer que está
apaixonada por mim, Valente?
— O que você acha?
Não era possível que depois de todo aquele
discurso, Logan ainda não tivesse entendido. Estava
prestes a dar um tapinha em sua cabeça, para ver se seu
cérebro começava a funcionar, quando o quarterback
abriu aquele sorriso que me tirava o fôlego e
simplesmente se deitou sobre mim, jogando seus mais
de noventa quilos de puro músculo sobre o meu corpo
pequeno.
— Logan! — Eu ri, sentindo seu rosto em meu
pescoço, me fazendo cócegas com a sua barba por fazer.
— Para com isso, seu doido!
— Não consigo! — Logan fez uma trilha de beijos da
minha orelha até alcançar a minha boca. Esperei que me
beijasse, mas ele voltou falar: — Tem noção de que eu
passei o caminho inteiro até aqui, pensando em como iria
sobreviver depois que você risse da minha cara e
dissesse que jamais iria se apaixonar por mim?
— Então, já estava nos seus planos se declarar?
— Sim. Eu passei praticamente a noite toda
acordado, pensando na forma como havia agido. Os
meninos fizeram questão de esfregar na minha cara que
eu estava com ciúmes e me mostraram que o jogador de
basquete tinha uma namorada. Na minha cabeça, ele
tinha vindo até aqui porque estava interessado em você.
— Dylan? Interessado em mim? Não! — Sacudi a
cabeça, fazendo careta só em pensar naquilo. — Ele é
apenas um colega... Quer dizer, acho que posso chamá-
lo de amigo, o único que realmente me ajudou quando
precisei. Nós tínhamos pouco contato na faculdade, mas
quando ele soube que eu havia perdido a minha mãe e
que minha irmã estava doente, quis me ajudar. Eu
recusei, é claro, mas nos aproximamos um pouco...
Quando resolvi vender a minha casa para poder
conseguir manter o tratamento de Aubrey, Dylan se
prontificou a comprar, mesmo sem precisar. Foi para ele
que vendi. Na época, ele ainda queria que eu
continuasse na casa, mas eu não quis, porque não queria
morar de favor em uma casa que um dia havia sido da
minha mãe... Enfim, tenho carinho e gratidão por Dylan,
nada mais.
— Não precisava me explicar nada disso, Valente.
Eu fui um idiota agindo daquela forma, percebi assim que
desliguei o telefone. Se soubesse que o que eu havia
feito, iria fazer você reagir desse jeito, tinha fretado um
jatinho ontem à noite para vir te ver.
— Meu Deus, Logan, você é muito riquinho mesmo!
— Ri, vendo-o dar de ombros. — Você não tinha como
adivinhar. Foi um gatilho, só isso. — Toquei em seu rosto,
finalmente me sentindo bem depois do que havia
acontecido. — Quando eu tiver com uma condição
financeira melhor, vou procurar um psicólogo.
— Jura?
— Sim. Alguns traumas a gente não consegue
vencer sozinho.
— Talvez eu faça isso também. Um dia.
— Vai ser muito bom para você, Logan.
Ele concordou com a cabeça e passou o nariz de
leve no meu, me arrancando um suspiro.
— Sabe o que seria muito bom para mim agora,
Valente?
— O quê?
— Um beijo seu.
Sorri, sentindo meu coração bater forte de novo,
mas por um motivo completamente diferente.
— Então me beija e não pare nunca mais.
Logan não hesitou em fazer o que pedi.
Ter a boca de Valente na minha naquele momento
era, realmente, a única coisa capaz de fazer com que a
raiva que eu sentia pelo filho da puta do seu ex, parasse
de borbulhar em minhas veias.
Havia a raiva que eu sentia por mim mesmo,
também. O arrependimento pela forma como agi com ela
e a culpa por saber que eu havia despertado um gatilho
tão forte, que fez com que se desesperasse daquele jeito.
Enquanto eu vivesse, não conseguiria esquecer a reação
de Avalon. E eu realmente não queria que aquele
momento escapasse da minha memória, usaria como
aprendizado para nunca mais ser um idiota com a minha
garota.
Senti meu pau endurecer entre nós dois enquanto
descia meus lábios pela linha da sua mandíbula até o
pescoço. Era um momento inapropriado pra caralho para
aquele idiota lá embaixo começar a se animar, por isso,
não segui o ímpeto de chupar a pele de Valente como eu
queria e apenas espalhei beijos até a sua orelha, ouvindo
seu suspiro abaixo de mim. Suas mãos se infiltraram em
minhas costas por debaixo da blusa, mas me afastei um
pouco, deixando um beijo em sua boca antes de me
deitar ao seu lado.
— O que houve? Por que parou?
Meu pau pulsou ao notar a respiração ofegante de
Avalon e os mamilos duros sob a blusinha fina que usava.
Merda.
— Porque eu não quero atropelar as coisas, Valente.
Sei que você está sensível agora, não seria certo a
gente...
As palavras ficaram presas em minha garganta
quando Avalon se sentou em meu colo e tirou a blusa,
ficando nua na minha frente da cintura para cima. As
cortinas do seu quarto estavam levemente afastadas, o
que permitia que a luz do dia iluminasse parcialmente o
cômodo e me desse uma visão privilegiada daqueles
peitos lindos, com os biquinhos duros que pareciam
implorar pela minha boca. Engoli em seco, sentindo meu
pau babar na cueca quando Valente se movimentou
lentamente sobre ele.
— Eu quero você — ela sussurrou, levantando
minha blusa aos poucos. O contato dos seus dedos com a
minha pele me deixou todo arrepiado. — Preciso de você,
Logan.
— Valente...
— E sim, eu tenho certeza. — Ela parou quando a
minha blusa ficou enrolada abaixo do meu peitoral e
olhou em meus olhos. — A não ser que você não queira.
Porra, como eu não ia querer? Percebi aquele raio
de insegurança em seu olhar e me sentei na cama,
tomando a sua cintura em minhas mãos para fazer com
que sentisse com mais intensidade o meu pau duro de
encontro a sua bocetinha.
— Parece que eu não quero? — Ela sorriu de leve e
rebolou sobre o meu colo, me fazendo respirar mais
forte. — Eu quero você pra caralho, Valente.
— Então está esperando o que para me pegar?
A certeza em sua voz me fez ficar ainda mais duro.
Dei-me conta de que depois da troca que tivemos
naquela manhã, seu desabafo sobre o que sofreu nas
mãos daquele filho da puta e as declarações que fizemos
um para o outro, estávamos prontos para dar aquele
passo. Eu me sentia um pouco nervoso, pois era a
primeira vez que ia para a cama com uma garota por
quem eu realmente nutria sentimentos, mas o sorriso de
Avalon me fez esquecer de tudo. Ou quase tudo.
— E a sua irmã? — Olhei meio alarmado para a
porta, notando que não a havia fechado quando a trouxe
para o quarto.
— Aubrey não está em casa. É aniversário de uma
amiga dela e só deve voltar à noite.
— Graças a Deus! — Porra, as coisas que o tesão
me fazia falar! — Quer dizer, nada contra a sua irmã,
mas...
— Eu sei. — Avalon riu baixinho, aproximando o
rosto do meu e dando uma mordida em meu lábio
inferior. — Só fique quieto e me beije, estrelinha dourada.
— Está com pressa? — Avalon concordou com a
cabeça e soltou um suspiro quando subi minhas mãos
pelo seu corpo. Alcancei os seus seios e toquei de leve os
mamilos com o meu polegar, vendo-a fechar os olhos. —
É uma pena, pois não estou com a menor pressa essa
manhã. Eu quero degustar você, Valente. Devagar. Quero
conhecer cada cantinho do seu corpo com as minhas
mãos e a minha língua. Só depois eu vou te comer e te
fazer gritar até perder a voz.
Seu gemido soou abafado quando a beijei,
explorando lentamente a sua boca com a minha língua,
enquanto circulava os biquinhos duros bem devagar. Eu
sentia sua pressa conforme rebolava em meu pau, mas,
apesar do tesão que me enlouquecia, eu realmente
queria ir devagar naquela primeira vez, pois sabia que
Avalon nunca tinha sido venerada como merecia. Queria
cuidar dela, fazê-la enlouquecer de prazer e garantir que
nunca mais se sentiria insegura de novo.
Controlei a intensidade do nosso beijo, dando
mordidinhas em seus lábios enquanto a colocava
novamente deitada de costas na cama. Suas pernas se
abriram para mim, fazendo com que o short que usava
se enrolasse no alto das suas coxas. Eu quase podia
sentir a sua bocetinha piscar de encontro a minha calça
jeans, que incomodava um pouco a minha ereção. Deixei
que Valente puxasse a minha blusa e desabotoasse
minha calça, ajudando-me a me livrar em tempo recorde
das peças de roupas, meias e sapatos, ficando apenas de
cueca para poder voltar à minha atenção para a ruiva
deliciosa deitada à minha frente.
Sua respiração ofegante fazia os seios descerem e
subirem, chamando a minha atenção, mas explorei
primeiro o seu pescoço, roçando devagar o meu pau na
sua boceta ainda escondida pelo short e a calcinha.
Valente gemeu mais alto em meu ouvido quando
pressionei na altura do seu clitóris, ao mesmo tempo em
que deixava um chupão na curva do seu pescoço e
ombro. Puta merda, meu pau estava babando e pulsando
pra caralho. Era como se o filho da mãe soubesse que,
daquela vez, não ficaríamos apenas na sarrada e que
finalmente comeríamos a bocetinha gostosa de Avalon.
— Logan... Você vai me matar assim — Valente
choramingou, mordendo o lábio com força quando passei
a língua pelo biquinho duro e sensível do seu seio. —
Chupa logo!
Garota impaciente.
Sorri e lambi mais uma vez, partindo para o outro
seio e repetindo o processo até nós dois não
aguentarmos mais de tesão. Quando coloquei o mamilo
gostoso em minha boca e dei a primeira chupada, Avalon
pareceu se desmanchar sob mim. Observar as suas
reações era um prazer à parte, pois Valente não escondia
nada. Ela era receptiva, gostosa pra caralho e seus
gemidos me deixavam louco para gozar.
Mamei gostoso em seus seios, até os biquinhos
dobrarem de tamanho e ela se contorcer abaixo de mim,
rebolando como dava em meu pau. Cumprindo com a
minha promessa, beijei cada cantinho exposto da sua
barriga, mordiscando abaixo do umbigo, até chegar ao
seu short. Tirei a peça junto com a calcinha e precisei
engolir o excesso de saliva em minha boca quando
Avalon voltou a separar as coxas e me mostrou a
bocetinha toda melada, com o clitóris inchado e a
entrada piscando.
— Puta merda, Valente. — Abaixei-me e beijei a
parte interna da sua coxa direita, sentindo seus músculos
estremecerem sob a pele arrepiada. — Afaste mais os
lábios da boceta. Deixe-a bem abertinha para eu chupar.
Um gemido escapou da sua boca quando
mordisquei sua pele macia perto da virilha. Com os
dedos trêmulos, Avalon fez o que pedi, separando os
lábios magrinhos da boceta e ficando ainda mais
exposta. Seu cheiro era tudo o que eu conseguia sentir,
me deixando maluco de tanto tesão. Sem conseguir me
conter mais, esfreguei meu nariz em seu osso púbico,
guardando seu cheiro mais íntimo em minha memória, e
passei a língua pela xoxota gostosa, lambendo uma parte
da sua lubrificação desde a entrada até o clitóris durinho.
Avalon gritou o meu nome e se contorceu
violentamente sobre a cama quando comecei a chupar.
Fui devagar, mas ela estava excitada e sensível demais.
Segurei sua cintura para que não saísse do lugar e dei
lambidinhas lentas em seus lábios vaginais, esperando
que se acalmasse para poder começar tudo de novo.
— Essa boceta é minha. Sabe disso, não sabe? —
Avalon se ergueu, apoiando os cotovelos no colchão para
poder me olhar. Suas bochechas estavam vermelhas de
tesão e os lábios inchados pelos meus beijos. —
Responda, Valente.
— Eu... Eu sei.
— Ótimo. Agora, sempre que eu quiser, você vai
tirar a calcinha... — Passei a língua devagar pelo
grelinho, sem tirar meus olhos do rosto dela. — Vai abrir
essas pernas bonitas... — Outra lambida. — E vai me
deixar te chupar e te comer sem reclamar.
Avalon sorriu e me surpreendeu ao movimentar o
quadril de encontro ao meu rosto, roçando a boceta
melada em minha boca.
— Espero que você tenha bastante disposição e que
queira me comer sempre.
— Eu sou um atleta, Valente. O que mais tenho é
disposição.
Seu sorriso desapareceu quando mordeu o lábio
com força, gemendo abafado ao me sentir voltar a
chupar a sua boceta. Meu pau doía dentro da cueca e eu
sentia que podia gozar apenas mamando naquele
grelinho inchado, mas me controlei, afastando meu
quadril do colchão para não cair em tentação e ficar
roçando ali enquanto estava com o rosto entre as coxas
de Avalon.
Caprichei na língua e na chupada, deixando meu
nariz e meu queixo participarem da brincadeira, até
sentir seus lábios inchados pela fricção com a minha
barba e a sua lubrificação escorrer lentamente em
direção ao meu pescoço. Quando enfiei dois dedos em
seu canal apertado e meti curtinho, sugando o clitóris
para dentro da minha boca, Avalon perdeu
completamente a compostura e começou a gozar forte,
rebolando de encontro ao meu rosto e nos meus dedos,
permitindo que eu provasse o sabor único do seu
orgasmo na ponta da minha língua.
Foi delicioso. Memorável. Seu rosto jogado para
trás, uma das suas mãos em minha cabeça, os seios
gostosos balançando de leve, sua pele ficando toda
arrepiada, o tremor forte em suas coxas e a boceta
babando bem na minha boca. Caralho. Eu precisava
comer aquela garota. Precisava gozar dentro dela e não
parar nunca mais.
Esperei que se acalmasse, dando beijinhos longos
em seus lábios vaginais e virilha, até me ajoelhar entre
as suas coxas e puxar a minha cueca para baixo. Meu
pau estava enorme, duro e com a cabeça toda melada.
Eu sabia que não duraria muito na primeira rodada, mas
recompensaria Valente na próxima.
— Vem aqui — pedi, sentando-me no meio da sua
cama e tocando o meu pau. A forma como Avalon
lambeu os lábios enquanto me olhava quase me fez
perder a cabeça. — Nem pense nisso. Se me pagar um
boquete agora, eu vou durar meio segundo.
Valente riu e se ergueu, vindo para perto de mim.
Ela entendeu o que eu queria, pois logo passou as pernas
pelas minhas e esfregou a bocetinha molhada em minha
coxa. Senti seus beijos em meu pescoço e estremeci
quando tomou o meu pau na mão, batendo uma punheta
devagar.
— Eu quero que você goze na minha boca —
sussurrou em meu ouvido. Meu pau sofreu um espasmo
na sua mão e uma gota generosa escapou da frestinha
da cabeça. Precisei apertar a sua cintura com força para
não cair em tentação.
— Não. Quero que a nossa primeira vez seja comigo
gozando dentro de você. — Avalon me olhou e eu a beijei
lentamente por um segundo, antes de voltar a falar: —
Nunca transei com ninguém sem camisinha, Valente.
— Também nunca fiz sem camisinha, mesmo
quando ele insistia.
Porra, não queria que Avalon se sentisse
pressionada por mim.
— Eu quero fazer da forma como você preferir.
Tenho camisinha na mochila, se quiser transar com
preservativo.
— Não quero. Eu confio em você, Logan, da mesma
forma que está confiando em mim para fazer isso. —
Gememos juntos quando ela passou a cabeça do meu
pau pela sua entrada encharcada. — Quero que você
goze enterrado dentro de mim... Que me deixe toda
melada com a sua porra que nem fizemos no carro
naquela noite.
Puta merda.
Caralho.
Foi por muito pouco — por muito pouco mesmo —
que eu não gozei assim que Avalon se calou e começou a
se sentar no meu pau. Sua careta de desconforto me fez
pensar rápido e beijá-la, enquanto levava minha mão
direita até a sua bocetinha, tocando de leve o clitóris.
Gememos juntos conforme ela me engolia apertado e
descia até o talo, provando que éramos como duas peças
de um quebra-cabeça. O encaixe perfeito. Ela ficou
parada quando chegou ao fim, pulsando gostoso à minha
volta e me fazendo respirar fundo para conter o orgasmo
que ameaçava explodir.
Nunca havia sido tão intenso. Meu coração nunca
disparou daquele jeito e meus sentidos nunca ficaram
tão aflorados como naquele momento. Foi inevitável me
questionar como eu tinha passado vinte e um anos sem
vivenciar algo como aquilo. Era sublime, gostoso,
irresistível.
Lentamente, Valente começou a rebolar com meu
pau no fundo da sua boceta, sem desgrudar a boca da
minha. Ajudei-a com uma mão em sua cintura e a outra
ainda em seu clitóris, masturbando-a devagar para que
curtisse o máximo possível. Seus gemidos se tornaram
meu combustível e me fizeram inflamar conforme ela
aumentava os movimentos e me apertava em seu
interior, indo para frente e para trás, dando umas
reboladinhas gostosas, realmente fazendo amor com o
meu pau e apreciando o momento como se fosse a
primeira vez.
E realmente era, pois Avalon havia deixado bem
claro que nunca tinha sentido prazer com outra pessoa
antes. Aquilo só me deu mais orgulho de ter conquistado
a sua confiança e me fez sentir um pouco mais
possessivo sobre ela. Aquela garota era minha, porra, e
filho da puta nenhum no mundo mudaria aquilo.
— Quero quicar em você — ela sussurrou em meus
lábios, colocando uma de suas mãos sobre a minha em
sua cintura. — Me ajuda.
Impulsionei seu quadril para cima bem de leve,
guiando-a para subir e descer em meu pau. Apoiada
sobre os seus joelhos, Avalon começou devagar, mas
logo aumentou a velocidade quando levei uma mão a
sua bunda, apertando a nádega macia e dando um
tapinha de leve, antes de voltar a ajudá-la com o
movimento.
— Caralho, Valente — gemi com a voz rouca,
sentindo uma pressão deliciosa bem na cabeça do meu
pau conforme ela subia e descia. — Que delícia comer
você.
Ela riu baixinho e me apertou de leve conforme
subia, aumentando a pressão e me fazendo gemer mais
alto.
— Acho que sou eu que estou comendo você.
— Tem razão. E tá me comendo gostoso pra caralho
— falei, dando outro tapa em sua bunda. — Quica bem
gostoso pra mim, vai.
Avalon subiu e desceu mais rápido quando tirei os
dedos do seu clitóris e passei a ajudá-la com as mãos em
sua cintura. Senti minhas bolas ficarem mais pesadas e a
pressão em meu pau se tornar quase insuportável com a
chegada iminente do orgasmo quando comecei a
acompanhá-la mais forte com o quadril, metendo bem
fundo e rápido em seu interior.
— Minha nossa, Logan... — Avalon sussurrou,
tocando o nariz no meu e fechando os olhos. — Acho que
vou gozar de novo. Não queria que fosse tão rápido...
— Não segura — pedi, descendo meus lábios pelo
seu pescoço até chegar em seus seios. — Eu vou gozar
também, Valente. Preciso encher essa bocetinha gostosa
com a minha porra.
Senti quando explodiu antes que começasse a gritar
o meu nome. Seu canal vaginal me apertou com força
conforme ela gozava, me fazendo perder a batalha e
esporrar bem forte dentro dela. Gozei como nunca antes,
apertando a sua cintura com força enquanto a fazia subir
e descer pelo meu pau e metia de forma desenfreada ao
movimentar meu quadril de encontro ao seu corpo.
Só parei quando Avalon enterrou o rosto em meu
pescoço e perdi as forças, me jogando de costas no
colchão. Sentia nossa pele suada e sua respiração tão
ofegante quanto a minha. Nós dois tremíamos e sua
boceta ainda me apertava delicadamente. Passei as
mãos lentamente pela sua bunda e subi pelas costas até
chegar em sua nuca e infiltrar meus dedos em seu
cabelo, puxando seu rosto para perto do meu. Beijei-a
devagar, sentindo a safada rebolar no meu colo.
— Seu pau ainda está duro — sussurrou,
esfregando-se sobre mim. Pude sentir o seu clitóris roçar
o meu osso púbico e pulsei em seu interior.
— Está. — Virei na cama, colocando-a debaixo de
mim. Lentamente, saí um pouco da sua boceta e meti de
novo, ouvindo o seu gemido. — Quero te comer mais,
Avalon.
Não menti quando disse que estava cheio de tesão
por ela. A prova, era a forma como a minha ereção se
recusava a ceder. Avalon cruzou as pernas em minha
cintura e apertou com força, se tornando mais estreita
em torno do meu pau. Minha porra em seu interior tornou
tudo mais escorregadio e gostoso. Podia sentir que o
meu esperma escapava um pouco mais a cada vez que
eu metia, melando as minhas bolas.
— Eu quero continuar dando pra você —
confidenciou, me fazendo perder a cabeça.
Acelerei um pouco mais o movimento do meu
quadril, entrando e saindo de dentro da sua bocetinha
melada e roçando meu osso púbico em seu clitóris.
Avalon gemeu de encontro a minha boca, arranhando
minha nuca, minhas costas, até descruzar as pernas da
minha cintura e chegar em minha bunda. Afastei bem as
suas coxas com uma mão e a comi bem gostoso, sem
querer parar nem mesmo para respirar.
— Vou cuidar de você, Valente — garanti, olhando
em seus olhos enquanto metia. — Nunca mais você vai
se sentir insegura ou sozinha de novo.
Era uma promessa e aquela eu faria questão de
cumprir. Os olhos de Avalon marejaram, mas ela piscou
algumas vezes e dispersou as lágrimas, abrindo um
sorriso que fez o meu coração disparar.
— Eu sei. Confio em você, Logan terceiro.
Cobri seu sorriso com os meus lábios e gememos
juntos quando o orgasmo chegou de repente, atingindo
nós dois quase ao mesmo tempo. Marquei-a como minha
naquele final de manhã, gozando mais uma vez dentro
dela e tendo a certeza de que nada no mundo iria nos
afastar.
Fechei os olhos, sentindo a água morna do chuveiro
começar a cair em minhas costas. Durante longos
segundos, apenas apreciei a temperatura gostosa,
enquanto minha mente não fazia qualquer esforço para
tentar parar de se lembrar do que havia acontecido em
minha cama momentos atrás.
Logan e eu juntos, da forma mais íntima que dois
seres humanos poderiam ficar.
Sua boca em toda parte do meu corpo, sua mão em
minha pele, seu pau dentro de mim, me deixando louca.
Eu ainda estava melada entre as pernas com os seus
fluidos e os meus, sentindo uma dorzinha gostosa de
quem havia sido bem-fodida. Era uma sensação nova,
que eu estava doida para explorar cada vez mais. Será
que conseguiria transar com ele de novo ainda naquele
dia? Do jeito que estava excitada, com certeza.
Ri de mim mesma, me sentindo uma boba. Era
como se eu fosse uma adolescente de novo, só que,
dessa vez, sem toda a pressão e responsabilidade que eu
tinha quando era mais nova.
— Está sorrindo desse jeito porque está pensando
em mim?
Abri os olhos, vendo Logan entrar no box junto
comigo, completamente nu. Perdi o fôlego por um
segundo, observando cada nuance daquele corpo alto,
enorme e gostoso, com o peitoral musculoso, a barriga
trincada, o V pronunciando na cintura estreita e o pau
bonito que, mesmo relaxado, ainda era grande e com as
veias levemente pronunciadas. O quarterback abriu
ainda mais aquele sorriso convencido, dando um passo
em minha direção e me pegando pela cintura com as
mãos grandes até colar os nossos corpos.
— Nem precisa responder, seu olhar já disse tudo,
Valente.
— Disse? Então ele mentiu. Não estava pensando
em você.
— É mesmo? E no que estava pensando?
— Estava pensando no seu pau. — Sua sobrancelha
se arqueou e aquele sorriso pareceu se expandir ainda
mais. — Ele é muito mais interessante do que você.
— Tem certeza disso? Porque, antes de gozar sobre
ele, você gozou nos meus dedos e na minha língua.
— Eles também são excelentes.
— Como o dono — salientou, encostando-me contra
a parede. Fiquei toda arrepiada quando passou a barba
por fazer em meu pescoço. — Mas tudo bem, não me
importo se você preferir o meu pau, afinal, ele fez um
ótimo trabalho aqui — sussurrou, tocando entre os meus
lábios vaginais com o dedo médio e indicador. — Além de
te fazer gozar duas vezes, ainda deixou essa bocetinha
ainda mais deliciosa toda melada de porra.
Seu dedo médio me penetrou de leve, me fazendo
gemer baixinho e apertar as coxas. Percebi que eu
estava com tesão de novo, mesmo estando sensível.
Logan me beijou com intensidade, enquanto me comia
devagar com o dedo e massageava meu clitóris com o
polegar, me fazendo estremecer. Minhas pernas ficaram
bambas, mas ele me manteve estável ao me segurar
pela cintura, acariciando-me devagar e esfregando de
leve o pau duro em minha virilha.
— Quero você de novo — murmurou entre os meus
lábios, tirando o dedo de dentro de mim para poder
esfregar a palma da mão em toda a minha boceta. —
Está muito sensível?
Sacudi a cabeça, lutando para manter os olhos
abertos enquanto ele me enlouquecia lá embaixo.
— Aguento mais uma — avisei, abrindo mais as
coxas. — Aguento quantas você quiser.
Aquilo, na verdade, era mentira, porque eu já me
sentia um pouco assada, mas uma terceira rodada com
certeza eu aguentaria. Logan sorriu entre os meus lábios,
como se soubesse que eu estava prometendo transar
mais vezes apenas porque estava empolgada, e me deu
mais um beijo intenso e gostoso antes de me virar de
frente para a parede. Apoiei a testa no azulejo frio,
enquanto o quarterback afastava o meu cabelo molhado
das costas e beijava a minha nuca bem devagar, me
deixando toda arrepiada.
— Prometo fazer com carinho — sussurrou,
descendo as mãos até a minha cintura. Mordi o lábio com
força quando ele separou as minhas nádegas e roçou a
cabeça robusta do pau em meu cuzinho até chegar em
minha entrada, flexionando os joelhos para ficar mais ou
menos da minha altura. — Mas depois que essa
bocetinha gostosa estiver recuperada, vou te colocar de
quatro no meio da minha cama e te foder sem piedade,
Avalon.
Precisei levar minha mão até a sua nuca para poder
puxar o seu cabelo, jogando a cabeça em seu ombro
quando ele beijou o meu pescoço. Logan me provocou,
roçando aquela glande gostosa em minha entrada,
enquanto descia uma mão pela minha barriga e
alcançava o meu clitóris. O jogador massageou o feixe de
nervos bem devagar, enquanto agredia a pele sensível
do meu pescoço com a sua barba e os dentes, dando
mordidinhas que me faziam ficar cada vez mais excitada.
— Logan... Me come logo.
— Pede por favor.
Eu ri, sacudindo a cabeça.
— Nunca.
— Então não vou te comer. — Eu podia sentir o seu
sorriso em minha pele, me deixando cada vez mais
arrepiada. — Você sabe que eu gozo fácil quando estou
com você, não é? Posso chegar ao orgasmo em segundos
só sarrando na entrada apertadinha da sua boceta.
— Faça isso, contanto que continue me
masturbando — falei, virando o pescoço o máximo que
podia para poder olhar em seu rosto. — Vamos gozar os
dois.
Logan estreitou os olhos para mim e subiu a mão
esquerda até o meu pescoço, apertando de uma forma
deliciosa. Seus lábios se chocaram com os meus, mas ele
não me beijou.
— Você é geniosa pra caralho, garota — sussurrou,
tirando a mão do meio das minhas pernas para poder
ajustar o encaixe do seu membro em minha entrada.
Sem que eu esperasse, Logan meteu tudo de uma vez,
me fazendo perder o ar. — Da próxima vez, vou te fazer
implorar.
Sorri entre os seus lábios e calei a sua boca com um
beijo, sentindo-o me comer com mais força do que na
nossa primeira vez, esquecendo-se completamente da
promessa que havia me feito minutos atrás. Não
reclamei. Foi tão gostoso, que perdi completamente a
noção do tempo e espaço. Eu sentia Logan em todo o
meu corpo, na minha boca com a sua língua incansável,
sob o meu nariz com o seu cheiro delicioso, em minha
pele com o seu toque forte e dentro de mim com o seu
pau me fodendo de forma insaciável.
Seus dedos voltaram a tocar o meu clitóris e não
consegui conter o gemido quando o jogador deixou os
meus lábios e começou a sugar a pele da minha nuca,
ainda me segurando firme pelo pescoço. Logan investiu
pesado, respirando ofegante, gemendo abafado e
estocando em meu interior. A cabeça do seu pau
massageava um lugar específico dentro de mim que me
fazia estremecer e implorar para que não parasse nunca.
Podia sentir a pressão do orgasmo se construindo
em toda a minha região pélvica e se concentrando em
meu clitóris, onde Logan masturbava suavemente, em
um contraste poderoso com a forma com que me comia.
Os músculos da minha barriga começaram a tremer,
deixando bem claro que eu não aguentaria mais.
— Vou gozar — avisei, sentindo os dentes de Logan
se fecharem em minha nuca em uma mordida gostosa.
Minhas pernas vacilaram, mas ele me manteve mais
apertada contra o seu corpo pelo agarre em meu
pescoço e parou bem fundo dentro de mim, rebolando
intensamente. — Ah, meu Deus, puta que pa...
Não consegui terminar o gemido, pois gozei tão
forte, que senti a minha cabeça rodar. Logan me puxou
para um beijo, continuando a rebolar daquela forma
sensual e estarrecedora em meu interior, prolongando o
meu orgasmo por segundos que pareceram não ter fim.
A sensação maravilhosa se expandiu por todo o meu
corpo, me fazendo perder a força nas pernas e quase
cair. Logan me segurou firme pela cintura e voltou a
meter curtinho em minha boceta, chamando o meu
nome de forma desesperada, prestes a chegar ao
orgasmo.
— Goza na minha boca — pedi, sentindo-me salivar
para provar o seu sabor.
Eu não era fã de sexo oral, mas, até me envolver
intimamente com Logan, eu sequer era fã de sexo. Com
ele, eu sentia que estava vivendo tudo pela primeira vez
e queria colecionar todas as experiências possíveis. Ele
desacelerou o movimento e perguntou baixinho em meu
ouvido:
— Tem certeza?
— Sim. Não me faça implorar, QB.
— Não por isso.
O safado sorriu e, delicadamente, saiu de dentro de
mim, virando-me pela cintura para que eu ficasse de
frente para o seu corpo. Sem que ele precisasse pedir,
me ajoelhei, tomando seu pau longo e grosso em minhas
mãos. Ele estava todo babado por minha causa e eu
estava louca para sentir o seu gosto misturado ao meu.
Logan tocou em meu cabelo, formando um rabo de
cavalo, e me olhou de cima com a expressão cheia de
tesão.
— Bota a língua pra fora, Valente — ordenou e eu
obedeci. Talvez, na cama, eu pudesse ser submissa a ele
de vez em quando. Logan tomou a ereção das minhas
mãos e se tocou, enquanto ainda me mantinha cativa
pelo cabelo com os dedos da mão esquerda. Bem de
leve, ele deu batidinhas em minha língua com a glande
robusta do seu pau, me fazendo gemer. — Chupa só a
cabeça.
Olhando em seus olhos, apoiei minhas mãos em sua
coxa e fechei os meus lábios sobre a glande melada,
controlando um gemido ao sentir o seu sabor e o meu na
ponta da minha língua. Logan mordeu o lábio inferior
com força e fincou os pés afastados no chão quando
desci pela base do seu pau até onde conseguia aguentar.
O gemido escapou da sua boca ao me sentir aumentar a
pressão do boquete.
— Não sabe quantas vezes eu imaginei essa
boquinha em volta do meu pau, Valente — confidenciou,
pegando a minha mão direita e colocando-a em torno da
sua ereção. — Masturba a parte que não consegue
chupar. Vou gozar muito rápido, meu bem.
Eu sabia que iria, pois ele estava quase tendo um
orgasmo dentro de mim minutos antes. Fiz como me
pediu e masturbei a base do seu pau, enquanto chupava
a cabeça e descia até onde conseguia. Sua glande
transbordou em minha língua o líquido pré-ejaculatório e
me preparei para o primeiro jato quando Logan gemeu
mais alto e os músculos da sua barriga tremeram
visivelmente.
Engoli quando ele começou a esporrar em minha
boca, sentindo seu sabor levemente salgado e amargo.
Não era o melhor gosto do mundo, mas tomei cada gota,
me sentindo poderosa por deixar aquele homem de
1,90m, todo lindo e gostoso, tão louco por mim enquanto
o chupava. Passei a língua pela cabeça bonita quando
Logan terminou e deixei que me puxasse para cima pelas
axilas segundos depois, tomando minha boca na sua.
— Porra, eu posso me viciar em sentir o meu gosto
na sua língua — sussurrou depois de deixar meu lábio
escapar por entre os seus dentes. Suas mãos tocaram
gentilmente as minhas costas e eu sorri.
— Você é um safado, Logan Miller III.
— E você não fica atrás, Avalon Banks. Fui muito
bruto com você?
— Não, mas talvez eu não consiga andar direito pelo
resto do dia.
Logan gargalhou, fazendo o barulho da sua risada
formar um eco no banheiro.
— Isso significa que eu não vou poder te comer de
novo antes de ir embora?
— Acho que não. — Sacudi a cabeça, sendo levada
para debaixo do chuveiro por ele.
— Mas uma chupadinha eu vou poder te dar, não
vou?
Bom, aquilo eu jamais iria negar.

Eu queria impressionar Valente de alguma forma.


Como aquela seria a primeira vez que ela iria à minha
casa — a que eu dividia com meus amigos e minha irmã
— oficialmente como minha namorada, acabei
exagerando um pouco e comprei quase todo o cardápio
do restaurante de comida mexicana onde compramos
tacos naquela vez em que quase transamos em meu
carro.
Em minha defesa, cheguei a perguntar à Aubrey
qual era a comida favorita de Avalon e ela disse que era
macarrão à carbonara. Eu não queria que Valente
comesse exatamente a mesma comida que fez para mim
quando fui ao seu apartamento pela primeira vez —
também desisti de tentar cozinhar quando percebi que a
receita era complexa para um total amador como eu, que
seria capaz de queimar até mesmo a água de cozimento
do macarrão.
Esperava que Valente gostasse de outras belezinhas
mexicanas além dos tacos que comemos naquela noite.
Era a primeira vez que ficaríamos juntos de verdade
depois daquele domingo fantástico em sua casa. Com a
correria dos treinos e da faculdade, mal conseguimos
passar um tempo de qualidade juntos. Como Avalon
estava de folga naquela quinta-feira, resolvi chamá-la
para jantar comigo, com meus amigos e minha irmã e,
de quebra, passar a noite. Ela não aceitou em um
primeiro momento, mas, quando Maeve disse que levaria
Aubrey para sua casa, Valente concordou.
Estava ansioso para vê-la, como se eu não tivesse
beijado a sua boca ainda naquela manhã. Puta merda, eu
estava parecendo um menino desesperado pelo presente
de Natal.
Acomodei todas as bolsas com comida no banco
traseiro do meu carro e saí do drive-thru do restaurante.
Estava quase chegando em casa quando meu celular
tocou. Cheguei a pensar que poderia ser Avalon avisando
que tinha chegado mais cedo, mas parei rente à calçada
quando vi o nome de Philipe Ward no visor.
— Philipe, enfim retornou às minhas ligações!
— Desculpa, Logan, eu estava fora do país e acabei
precisando usar um outro número para fazer e receber
ligações. Só agora estou conseguindo retornar todas as
chamadas que recebi nesse número. Do que você
precisa?
Philipe era o investigador que coloquei na cola de
Charles na época em que paguei a dívida de Avalon. Nós
não éramos propriamente amigos, mas eu o considerava
um colega e sabia que era um ótimo profissional. Acima
de tudo, ele era discreto e respeitava o sigilo de cada
cliente para quem prestava serviço.
— Preciso que você descubra tudo sobre um cara
chamado Tucker. Infelizmente, eu não tenho o seu
sobrenome, mas sei algumas informações básicas sobre
ele.
— Certo. Diga-me tudo o que você sabe.
— A principal informação, é que ele é o ex-
namorado de Avalon Banks, minha atual namorada. Pelo
que entendi, eles estudaram juntos na UCLA e se
relacionaram entre 2019 e 2021. Acredito que até o início
ou meado de 2021 — falei, me baseando na informação
que Valente me passou ainda no hotel, quando disse que
o namoro durou quase três anos. — Ele tem passagem na
polícia, porque ela o denunciou por agressão.
— Por um momento, achei que você seria aquele
tipo de namorado que gosta de saber todo o passado da
garota, mas acho que agora entendi o porquê de você
querer saber sobre a vida desse cara. Quer ter certeza de
que ele vai se manter distante da Avalon, certo?
— Sim. Também quero saber como está a sua vida
no momento e se ainda mora na Califórnia.
Queria estar mil passos a frente daquele filho da
puta. Se Avalon tinha saído de Los Angeles quando ele
estava prestes a ser solto, ele poderia muito bem querer
encontrá-la. Agora que estávamos juntos e que o nosso
relacionamento era de conhecimento de todos, o babaca
podia facilmente descobrir onde ela estava morando e vir
atrás dela.
— Quero fotos dele, também. Todo material
fotográfico ou em vídeo que você encontrar. Preciso
gravar as feições desse filho da puta.
— Pode contar comigo, Logan. Vou começar a
investigação hoje mesmo e logo retorno o contato te
passando tudo o que descobri. Se ele tem mesmo
passagem pela polícia, vai ser mais fácil encontrá-lo.
— Foi o que pensei. Não insisti para que Avalon me
dissesse o seu sobrenome, porque não quero que ela se
preocupe com o fato de eu estar investigando a vida do
seu ex. Só estou fazendo isso para protegê-la, nada mais.
Queria descobrir o paradeiro do idiota para ir atrás
dele e quebrar a sua cara? Com certeza, mas não faria
isso porque, primeiro, eu sabia que Avalon odiaria se eu
agisse dessa forma e, segundo, eu não me sujaria por tão
pouco. Valente estava comigo agora, eu poderia protegê-
la daquele desgraçado. Aquilo era tudo o que importava.
Philipe e eu nos despedimos e fui direto para casa.
Aproveitei que Benjamin e James estavam na sala e fiz
com que os dois me ajudassem a pegar todas as
embalagens de comida do carro.
— Quantas pessoas virão para a festa? — James
questionou quando terminamos. Nossa mesinha de
centro estava lotada e ainda tinha algumas embalagens
em cima da mesa de jantar.
— Acho que exagerei um pouco — comentei,
coçando a cabeça. — Ainda bem que tenho três dragas
em casa, sei que não desperdiçarão toda essa comida.
— Você está se incluindo nessa conta, no caso? Não
conte comigo para comer nem vinte por cento de tudo
isso — disse Norah enquanto descia a escada. Ela se
aproximou de mim com um sorriso no rosto e me
abraçou forte pela cintura. — Mas achei muito fofo da
sua parte montar esse banquete para Avalon.
— Quando você vai assumir que esse namoro não é
mais de mentira? — Benjamin perguntou, me xingando
quando dei um tapa em sua mão ao tentar pegar um
burrito. — Que droga, cara, eu estou com fome! Não
comi nada desde o treino, porque você disse que ia ter
um jantar especial.
— Um jantar que só será servido quando a minha
garota chegar, porra!
— Sua garota? Você acabou de assumir, Logan —
James riu da minha cara, jogando-se no sofá. —
­ Game
over para você, irmão.
Dei de ombros e desisti de responder quando ouvi o
barulho da campainha.
— Acho que a sua garota chegou — Norah sorriu
para mim.
— Graças a Deus, porque estou com fome.
Ben retribuiu o dedo do meio que ergui em sua
direção e fui direto para a porta. Estava um pouco
nervoso, mesmo sem saber ao certo o porquê. Meu
coração disparou quando girei a maçaneta e vi Avalon do
lado de fora, usando um vestidinho curto na cor vinho,
que combinava perfeitamente com o batom em seus
lábios, e aqueles coturnos que quase nunca deixavam os
seus pés.
— Valente, você está linda. — Puxei-a para mim
pela mão, sabendo que havia três pares de olhos
curiosos sobre nós dois. Não liguei, tomando a sua boca
em um beijo curto e sentindo seu cheiro delicioso.
— Ah, meu Deus, então o namoro agora é de
verdade mesmo? — Norah soltou um gritinho e bateu
palmas, fazendo Avalon sorrir enquanto se afastava de
mim.
— Eles ainda não sabiam?
— Deixei para contar quando nós dois estivéssemos
juntos.
— Avalon! — Minha irmã surgiu do nosso lado de
repente e deu um abraço forte em Valente, toda
animada. — Não acredito que agora você é minha
cunhada de verdade! Estou tão feliz! O que o panaca do
meu irmão fez para merecer uma garota incrível como
você?
— Porra, Norah. Pensei que você me amasse.
— Eu te amo, irmãozinho. — A peste apertou a
minha bochecha. — Mas precisa concordar comigo que
Avalon é muita areia pro seu caminhão.
— Eu não me importo em dar mil viagens — falei,
passando o braço pelos ombros de Avalon.
— E foi por isso que ele me conquistou. Apesar de
ser irritante, seu irmão é persistente — Valente piscou
para Norah, que não conseguia tirar aquele sorriso
enorme do rosto.
— Estou muito feliz por vocês, de verdade. Agora,
nós podemos comer? Diz que sim, Valente, por favor.
Esse idiota está matando a gente de fome há horas!
— Podemos processá-lo por maus-tratos, o que
acha? — Avalon perguntou para Benjamin, que deu um
soquinho no ar.
— É exatamente por isso que minha avó sempre
dizia que precisávamos ter um advogado na família!
— Eu também estudo Direito — falei.
— Você não conta — James respondeu.
— E por que você já está do lado daquele idiota e
contra mim? Seu namorado sou eu, Valente.
— Porque você eu já conquistei, agora, preciso
conquistar a confiança dos seus amigos.
Benjamin e James riram alto, acompanhados por
Norah.
— Já confiamos em você de olhos fechados, ruiva —
James disse. — Agora é sério, também estou morrendo
de fome. Vamos comer, por favor!
Fui com Avalon até o sofá e nos sentamos lado a
lado, começando a comer, enquanto Benjamin foi pegar
as cervejas. Prometemos que só tomaríamos duas,
porque teríamos treino em campo no dia seguinte para o
jogo de sábado contra o Texas A&M. Fiquei quieto por
alguns minutos, só observando o entrosamento dos meus
melhores amigos com a minha namorada, gostando
muito de saber que estavam realmente se dando bem.
Benjamin já não reclamava mais por eu ter perdido
a minha carteirinha de solteiro e James não se
incomodava por eu estar namorando, mesmo tendo
passado por uma desilusão fodida com a sua ex. Eu
realmente tinha os melhores caras ao meu lado e a
melhor irmã do mundo também, que sempre me apoiava
em tudo e que tinha toda razão quando dizia que eu
precisava de uma garota ao meu lado. Não que Avalon
fosse a cura dos meus problemas — eu tinha plena
consciência de que não era esse caso —, mas me
aproximar dela e começar a me apaixonar mudou o meu
foco e a forma como eu estava vivendo a minha vida.
Ainda queria curtir algumas festas com a minha
namorada e uma boa cerveja com os meus amigos, mas
meu objetivo não era mais esquecer a dor que eu sentia
e, sim, aproveitar cada momento ao lado das pessoas
que eu realmente amava e que se importavam comigo.
Esperava que minha mãe estivesse orgulhosa de
mim, onde quer que estivesse.
Foi um jogo difícil pra caralho.
Novamente no Texas, sem Avalon dessa vez, nosso
time de defesa teve dificuldade ao lidar com o ataque do
Texas A&M. Eles terminaram o primeiro e o segundo
quarto com alguns pontos de vantagem e só
conseguimos empatar no terceiro quarto, deixando a
decisão para o último tempo de jogo. Perder realmente
não era uma opção, pelo menos não para mim, por isso,
dei o meu sangue para ter aquela vitória nas mãos.
Terminamos o jogo com 24 pontos contra 20 do
Texas A&M. Não foi a nossa melhor noite como um time,
sabíamos, mas pelo menos saímos de campo sem o
gosto amargo da derrota e tendo em mente os pontos
francos onde precisávamos melhorar, principalmente o
nosso time de defesa.
— Logan Miller?
Estava saindo do vestiário junto com o time para ir
para o ônibus, quando dois homens mais velhos vestidos
em ternos caros se aproximaram de mim. O treinador
Coben, que parecia saber que os dois estavam me
aguardando, disse que me esperaria no ônibus e se
afastou junto com o resto do time. O homem mais alto,
de cabelos grisalhos e olhos escuros me deu um sorriso
animado e estendeu a mão em minha direção.
— É um prazer finalmente poder falar com a estrela
da temporada! Eu me chamo Teddy Smith e esse é meu
sócio, Graham Kennedy.
Fiquei paralisado por um momento, apertando as
mãos dos dois homens no automático. Eles não eram
quem eu pensava que eram... Certo?
— Teddy e Graham da SK Sports?
— Exatamente — Graham respondeu, sorrindo tão
amplamente quanto Teddy. — É bom saber que já nos
conhece.
— Quem não os conhece? São simplesmente os
maiores agentes da atualidade! Caramba, é realmente
um prazer falar com os senhores.
A SK Sports havia se tornado uma das gigantes do
mundo esportivo há mais ou menos um ano, se tornando
a responsável pelo agenciamento dos maiores atletas
dos Estados Unidos. Tudo mudou quando Smith e
Kennedy resolveram fazer a fusão das suas empresas e
criaram uma nova marca, se reinventando no mercado.
Eles haviam fechado um contrato milionário com o
quaerterback draftado pelo Clemson Tigers no ano
passado e vinham aumentando a sua cartela de atletas a
cada dia. Ter os dois ali na minha frente parecia um
sonho.
— Por favor, nos chame apenas de Teddy e Graham
— Sr. Smith insistiu. — Sei que deve estar cansado
depois da atuação impecável no jogo de hoje, mas
queríamos marcar uma reunião com você. Nada muito
sério, apenas para conversarmos.
— É claro que eu aceito! — Eu queria pular como
um menininho de quatro anos, mas me segurei, tentando
acalmar as batidas loucas do meu coração.
— Estaremos no Alabama na próxima semana. Dê-
me o número do seu telefone e meu assistente entrará
em contato para que possamos marcar um horário e
local — Sr. Kennedy pediu.
Dei a ele o meu contato, ainda sem acreditar que
aquilo realmente estava acontecendo. Trocamos mais
algumas palavras e eles se afastaram após se
despedirem, acompanhados por um segurança enorme.
Demorei um pouco para me lembrar do que eu deveria
fazer naquele exato momento. Ir para o ônibus do time.
Ok, eu podia fazer isso. Só não podia acreditar na minha
sorte por ter chamado a atenção de homens tão
importantes quanto Teddy e Graham.
— Acho que você gostou da surpresa — disse o
treinador Coben assim que me aproximei.
O time já estava no ônibus, mas ele me esperava ali
fora com um sorriso orgulhoso.
— Eu ainda não consigo acreditar! Quer dizer, não
conversamos nada de mais, mesmo assim... Estamos
falando de Teddy Smith e Graham Kennedy, treinador!
— Eu sei, filho. — O treinador tocou em meu ombro
com carinho. Ele era duro quando precisava ser, mas era
aquele seu jeito expansivo que fazia com que
levássemos cada uma das suas palavras em
consideração. — Teddy e Graham estão acompanhando
os jogos desde o início da temporada.
Eu arregalei os olhos, completamente em choque.
— Por que o senhor não me disse?
— Porque não queria que você se distraísse
pensando na presença deles. Sabia que estavam de olho
em você e sentia que queriam ver o seu desempenho,
principalmente depois do seu touchdown fantástico no
primeiro jogo. É muito bom ver que você vem
contrariando as estatísticas depois da última temporada,
Logan. É por isso que eles querem conversar com você,
pois sabem do seu potencial e veem em você o mesmo
que eu, o futuro do esporte. Você tem um dom, garoto, é
muito talentoso. Vai longe, mas é preciso manter o foco e
continuar a ter disciplina.
— Eu... Eu nem sei o que dizer. — Não sabia mesmo.
Estava mais do que chocado, as palavras do treinador
me atingiram como um tapa, não de uma forma ruim,
mas de uma forma que me fez despertar.
Tornar-me um jogador profissional sempre foi o meu
maior sonho e aquilo estava muito perto de se tornar
real, caso eu continuasse me dedicando e dando tudo de
mim. Era o que eu continuaria fazendo,
independentemente de qualquer coisa.
— Não precisa dizer nada, só continue fazendo um
excelente trabalho. Agora, vai para o ônibus.
Agradeci e me juntei ao meu time no veículo, vendo
alguns olhares curiosos em minha direção,
principalmente de Benjamin e James. Como eles sabiam
que eu contaria tudo quando estivéssemos no hotel, logo
voltaram a conversar com os outros jogadores. Ocupei
uma das poltronas e sorri, tirando o celular do bolso.
Precisava contar aquela novidade para Valente. Tinha
certeza de que ela iria surtar junto comigo!

— Estou tão feliz por você!


Avalon me abraçou com força assim que entramos
em seu apartamento na noite seguinte. Como ela tinha
apenas trinta minutos de intervalo — e nós nos
atrasamos para voltar naquela vez que saímos de carro
— decidimos que ficaríamos em seu apartamento
mesmo. Aubrey já devia estar dormindo, pois passava
das onze da noite, por isso, encontramos a sala
silenciosa e com a luz apagada.
Não fizemos alarde e fomos direto para o seu
quarto. Eu sabia que não podíamos extrapolar muito do
horário permitido por Maeve, mas não consegui controlar
a reação do meu pau conforme caminhava com Valente
em direção à sua cama, após trancar a porta. Ela sorriu
entre os meus lábios quando caímos no colchão,
afastando as coxas deliciosas para que eu me
acomodasse entre elas, bem perto da sua boceta
escondida pela calcinha. Naquela noite, Avalon usava a
mesma saia xadrez amarela da primeira vez em que a vi
dentro do meu quarto.
— Sabia que, mesmo estando bêbado pra caralho
na festa do James e agindo como um escroto com você
no meu quarto, eu te achei linda com essa saia? —
confidenciei, subindo a saia curta pelas suas coxas.
— Isso é mentira, eu sei que você me achou
esquisita.
— Um pouco, mas te achei uma grande gostosa
também. Eu era um idiota naquela época, Valente, não
leve meus comentários ruins em consideração.
— Acho que não levei, afinal, me apaixonei por você
do mesmo jeito. — Ela riu e passou as unhas pelas
minhas costas quando pressionei sua boceta com a
minha ereção. — Me conta melhor sobre os agentes!
Você disse que recebeu a ligação de um deles, mas não
me deu os detalhes.
Ok, se iríamos conversar, eu precisava sair de cima
dela, ou não iria me concentrar. Deitei-me ao seu lado e
Avalon apoiou queixo sobre o meu peito para poder olhar
em meus olhos.
— O assistente do Sr. Kennedy me ligou hoje para
marcarmos a reunião. Será amanhã, às sete da noite, em
um restaurante. Estou muito animado, Valente! Pela
forma como me cumprimentaram no sábado, eles
pareciam realmente interessados em mim, e depois do
que o treinador Coben disse, acho que talvez eles
possam me fazer alguma proposta.
— Isso é tão incrível, Logan! E você pode ser
agenciado por eles mesmo ainda fazendo parte do time
da faculdade?
— Sim. As regras da NCAA [12] mudaram no ano
passado e, agora, os atletas podem ser agenciados e
patrocinados por algumas marcas, só não pode haver
divergência com nenhuma marca que patrocina o nosso
time.
— Tem noção de que você está cada vez mais perto
de realizar o seu maior sonho? — Valente perguntou com
um sorriso emocionado. Ela se apoiou melhor na cama e
tocou em meu rosto com a mão direita. — Estou muito
orgulhosa de você e muito feliz por estar ao seu lado.
— Eu não conseguiria nada disso sem você, Avalon.
— Eu não fiz nada, só fingi que era sua namorada.
— Não, você fez muito mais e sabe disso. Seus
conselhos, seu apoio, essa sua língua afiada que nunca
me deixou sem resposta e a forma como se infiltrou na
minha vida, me ajudaram a mudar o meu foco. Desde o
momento em que você entrou em meu caminho, eu sinto
que a minha vida tem mudado de direção.
Avalon sorriu e escondeu o rosto em meu pescoço,
soltando um gritinho quando a puxei para cima do meu
corpo.
— Não vale me fazer chorar nos meus trinta
minutos de intervalo, Logan terceiro.
— Segundo os meus cálculos, não temos mais trinta
minutos.
Valente ergueu o rosto e passou o nariz no meu,
rebolando de leve em minha ereção.
— Então acho melhor nós aproveitarmos esse
tempinho que ainda resta.
Eu concordei com todo prazer, ajudando-a a colocar
a calcinha de lado, enquanto Avalon liberava o meu pau
da calça. Devagar, ela se acomodou sobre ele, abafando
um gemido em meu pescoço quando me levantei da
cama com ela em meu colo, com o meu pau todo em seu
interior, e caminhei até a sua mesa de estudos. Coloquei-
a sentada sobre o tampo de madeira e afastei seu cabelo
do rosto, começando a comer a sua bocetinha devagar
enquanto tomava os seus gemidos em minha boca.
Eu sabia que tínhamos apenas alguns minutos, mas
fiz deles a nossa eternidade enquanto fazia amor com a
minha garota.
Voltamos para o bar dez minutos atrasados, mas
Maeve não se importou muito, pois estava ocupada
demais beijando a boca do seu namorado fortão com
pinta de roqueiro. O bar estava relativamente calmo, já
que era domingo e já passava da meia-noite, mas
percebi que a área dos banheiros estava movimentada
quando precisei ir até lá para mijar. Havia três mulheres
esperando do lado de fora, enquanto os homens se
beneficiavam do mictório e faziam a porta do banheiro
masculino abrir e fechar em velocidade recorde.
Eu estava prestes a entrar quando um cara usando
um casaco preto com capuz esbarrou em mim ao sair. Ele
se virou e se desculpou, me dando um vislumbre de uma
tatuagem em seu pescoço e mechas do cabelo platinado
caindo um pouco sobre a testa. Acenei para avisar que
eu havia recebido seu pedido de desculpas e entrei no
banheiro, sentindo meu celular vibrar no bolso da calça
enquanto usava o mictório. Após lavar as mãos, peguei o
aparelho e vi que era uma mensagem de Benjamin.
Tomei um susto ao ver uma foto de James jogado em
uma cama que eu não conhecia.

Ben: Megan estava aqui na festa, cara. Resultado?


James bebeu todas para não ter que encarar a ex e agora
eu preciso levá-lo para casa. Pode vir me ajudar? Não
quero que aquela vaca o veja assim.

Não me sentia culpado ao ler o insulto à ex-


namorada do meu melhor amigo. Nesse caso, ela
merecia ser chamada de coisa pior. Avisei a Ben que
estava a caminho e pedi para que me enviasse o
endereço da festa. Encontrei com Avalon no balcão,
servindo duas meninas animadas e que falavam alto
demais, certamente embriagadas.
— Valente, vou precisar ir. James bebeu demais e
vou ajudar Ben a levá-lo para casa.
— Meu Deus. Ele está bem?
— Está. Quer dizer, espero que esteja. Ele viu a ex-
namorada e acabou enchendo a cara.
— Norah me contou sobre a história deles dois.
James não merecia aquilo. Cuide dele, ok?
— Pode deixar. — Estiquei-me e dei um beijo em sua
boca por cima do balcão, já lamentando ter que ir
embora. — Venho te buscar amanhã para ir pra
faculdade.
Avalon concordou com a cabeça e eu parti, indo
salvar o meu melhor amigo, do mesmo jeito que ele
sempre me salvou quando precisei.

Norah ficou meio desesperada quando chegamos


em casa arrastando um James apagado de tanto álcool.
Cheguei a pensar que deveríamos levá-lo para o hospital,
mas como ele acabou vomitando quando o tiramos do
carro, percebi que só estava bêbado demais e não em
coma alcoólico. Ela nos ajudou a colocá-lo na cama e se
prontificou em passar a noite com ele depois que o
despimos e limpamos o rastro de vômito em sua boca.
— Era assim que eu ficava quase todo final de
semana? — perguntei a Ben quando deixamos o quarto
de James.
— Exatamente assim. A diferença, é que você ainda
conseguia aguentar a ressaca no dia seguinte por já
estar acostumado com tanto álcool, já James... Porra, ele
vai sofrer — falou enquanto pegava uma garrafa de água
de dentro da geladeira. — É por isso que eu nunca quero
me apaixonar. Olha o que acontece depois que você
quebra a cara.
— Você fala como se todo relacionamento fosse
terminar mal, o que não é verdade.
— Pode até não ser, mas eu não vou dar sorte para
o azar.
Encarei meu melhor amigo, vendo-o secar a garrafa
de água. Diferente de James, que era um homem negro e
bem alto, Benjamin era alguns centímetros mais baixo do
que nós dois e tinha a pele mais clara, como a minha, e
os cabelos pretos, que combinavam com os olhos
castanhos. O babaca era boa-pinta e fazia muito sucesso
com as garotas. Perguntava-me se, um dia, ele deixaria
de se influenciar pelo passado ruim com os pais e daria
uma chance para gostar de alguém.
Agora que sabia que o amor fazia bem a nossa
alma, queria que meus amigos também vivenciassem
aquela experiência com uma garota incrível, que
merecesse de verdade aqueles dois babacas.
Logo subimos para o segundo andar e, depois de
dar uma nova olhada em James, que continuava
apagado, fomos direto para a cama. Fiquei um tempinho
atualizando Valente sobre o estado do meu amigo e
acabei pegando no sono rapidamente depois que nos
despedimos, sentindo a sua falta ao meu lado depois que
dormiu comigo naquela quinta-feira.
O dia seguinte foi tumultuado, primeiro com a aula
da Sra. O’Born e a pressão que estávamos sentindo por
estar tão perto de apresentarmos o trabalho, depois, com
uma prova surpresa que o professor de Direito Penal
aplicou no último tempo. Acreditava que havia tirado
uma boa nota, mas era difícil ficar cem por cento
confiante. Os treinadores resolveram suspender o treino
em campo para podermos analisar o último jogo e os
pontos fracos do nosso time de defesa.
Foi bom não ter muito desgaste físico naquele dia,
pois estava nervoso para o jantar com os donos da SK
Sports. Tentei liberar parte da ansiedade na academia,
sendo acompanhado de perto pelo nosso preparador
físico, e ainda consegui alguns minutos com Avalon em
seu apartamento antes de ter que ir para casa me
arrumar.
Aluguei Valente em uma chamada de vídeo para
que me ajudasse a escolher a roupa perfeita e logo
estava pronto, usando o meu jeans mais novo da Ralph
Lauren, uma blusa branca de botões e um par de sapatos
de couro que havia ganhado do meu pai — em sua vã
esperança de que, um dia, eu fosse usá-los com um
terno de três peças inglês dentro de um escritório.
Meus amigos e minha irmã me desejaram boa sorte
e parti para o restaurante, chegando alguns minutos
adiantado. Fiquei esperando no bar, tomando uma água
com gás e uma rodela de limão, tentando relaxar ao
ouvir a música ambiente que tocava pelo salão. Era um
restaurante fino, um dos preferidos do meu pai. Não tive
como evitar a lembrança dele e da minha mãe quando
jantávamos juntos ali, mas logo dispersei a memória,
pois não queria ficar emotivo.
— Logan, como é bom revê-lo!
Virei-me no banco ao ouvir a voz de Teddy e me
levantei, apertando a sua mão e a de Graham. Percebi
que havia um outro homem com eles e que não era o
segurança que os acompanhou no sábado. Ele
aparentava ter a minha idade e a tatuagem no pescoço e
o cabelo platinado me pareciam vagamente familiar.
— Este é meu enteado, Aaron Young — disse Teddy,
tocando nas costas do rapaz.
Cumprimentei-o e logo percebi de onde o
reconhecia.
— Você estava no bar da Maeve ontem à noite, não
estava?
Aaron sorriu, simpático, e concordou com a cabeça.
— Sim, eu estava.
— Estamos hospedados no hotel Hilton e um dos
funcionários disse que o Maeve’s Bar era o ponto de
encontro dos torcedores do Crimson Tide. Aaron ficou
curioso para conhecer — disse Teddy.
— Você é bom em gravar fisionomias. — Aaron
sorriu.
— Acho que foi a tatuagem no pescoço.
— Ou o cabelo platinado. Aaron gosta de mudar o
visual de tempos em tempos, igual ao meu filho. Não é à
toa que são amigos — disse Graham.
O maître se aproximou para poder nos acompanhar
até a mesa e Graham foi contando que Gabe, seu único
filho, estava viajando fazendo uma especialização em
Londres. Não comentou o que ele estava estudando, mas
também não me interessei muito, pois meu foco estava
em outro lugar naquela noite.
— Espero que não se importe por eu estar presente,
Logan — disse Aaron assim que nos sentamos. — Agora
que me formei, estou começando a trabalhar com o meu
padrasto.
— Claro que não me importo. — Na verdade, ter à
mesa alguém da minha idade me deixava menos tenso.
— Aaron jogava na mesma posição que a sua no
Ensino Médio, mas sofreu uma lesão no joelho esquerdo
e precisou desistir da carreira — disse Teddy.
— Nossa, eu sinto muito, Aaron. Sofrer uma lesão
grave é o maior pesadelo de qualquer atleta.
— É, eu sei bem disso. Foi difícil aceitar no começo,
mas Teddy me fez enxergar que eu ainda poderia
trabalhar com esporte, se era realmente o que eu
amava. Por isso, estou aqui.
Fiquei feliz por ver o seu otimismo. Em seu lugar, eu
estaria completamente perdido e com certeza não
conseguiria me livrar do sentimento de frustração por
não poder mais jogar. Um atendente veio anotar os
nossos pedidos e o assunto à mesa começou a se
encaminhar para o que eu ansiava quando Teddy e
Graham passaram a falar sobre seus atletas agenciados
e os resultados do último ano da SK Sports — o que eu já
sabia, pois acompanhava de perto o crescimento da
agência.
Nossa comida chegou e Teddy perguntou se eu já
tinha recebido alguma proposta de outros agentes ou
publicidade. Fui sincero ao responder não para a primeira
pergunta e sim para a segunda.
— Uma marca de suplementos entrou em contato
comigo no início do ano, mas eu não levei adiante o
contato.
— Se importaria de falar o porquê? — Aaron
perguntou.
— Eu havia acabado de perder a minha mãe e não
tive cabeça para pensar em assuntos profissionais.
— Nós soubemos do que aconteceu. Sentimos
muito, Logan — disse Graham. Eu apenas concordei com
a cabeça e tomei um gole do vinho para poder me livrar
da sensação incômoda de aperto na garganta.
— É por isso que é tão importante que você tenha
um profissional ao seu lado, que cuide de toda essa parte
para você. Tem interesse em ter um agente, Logan? —
Teddy perguntou. — Nós da SK Sports com certeza temos
um enorme interesse em agenciá-lo.
— Seu desempenho na temporada está impecável e
aquela imagem ruim que caiu sobre você no semestre
passado parece ter ficado totalmente para trás —
Graham comentou.
— Eu acompanhava de perto a sua vida pelas redes
socais, sem estar do lado dos haters, é claro — salientou
Aaron. — E concordo com Graham. Você conseguiu
transformar completamente a sua fama nesses últimos
dois meses. Foi impressionante, cara.
— Obrigado. — Não consegui conter o sorriso
orgulhoso que se abriu em meus lábios. — Dediquei-me
muito em minha carreira e na minha vida pessoal para
isso acontecer. Sei que perdi o controle da situação no
início desse ano, mas prometi a mim mesmo que não
deixaria a minha carreira afundar por irresponsabilidade
minha. Foquei na faculdade, me dediquei ao máximo ao
meu time e me cerquei de pessoas que realmente se
importavam comigo. Isso fez toda diferença.
— É essa a imagem que um atleta tem que passar.
Você é a inspiração para a nova geração que está
chegando, Logan. Precisa mesmo dar um bom exemplo.
— Graham sorriu. — Seria um prazer e uma honra ter
você no nosso time de agenciados. Sei que prometemos
que essa seria uma conversa informal e realmente é,
mas queremos muito que se torne uma parceria incrível
entre a SK Sports e Logan Miller III.
Porra, finalmente! Achei que esperariam chegar à
conta para falar o que eu tanto queria ouvir.
— Eu que me sinto honrado por receber esse
convite de uma empresa que tem crescido tão
rapidamente quanto a SK Sports. É claro que podemos
nos reunir para uma conversa formal e pensar em todos
os detalhes para, quem sabe, fecharmos uma parceria.
Jamais diga sim de imediato a qualquer proposta.
Havia aprendido aquilo desde cedo com o meu pai e
cursar Direito vinha me preparando para momentos
como aquele. Teddy e Graham sorriram, satisfeitos com a
minha resposta e Aaron propôs um brinde.
— Acredito que esse será apenas o primeiro de
muitos jantares em que estaremos juntos — disse ele,
erguendo a taça de vinho.
Eu sorri, animado, e brindei com os homens à mesa,
sentindo algo diferente em meu peito. Entusiasmo e uma
outra coisa que não entendi muito bem. Parecia
apreensão, mas percebi que aquilo era normal, pois eu
estava prestes a dar um grande passo em minha carreira
depois de ter passado os últimos meses no fundo do
poço. O novo assustava, mas eu estava mais do que
pronto para viver aquela nova fase da minha vida.
Era noite de festa. Tudo bem que a comemoração
era bem intimista em um canto do bar da Maeve, tendo
apenas Norah, James, Benjamin, Logan e eu, mas não
deixava de ser uma festa. Ben propôs um brinde,
sorrindo de orelha a orelha.
— Ao futuro agenciado da SK Sports! — disse
baixinho só entre a gente, para não chamarmos ainda
mais atenção.
Era noite de quarta-feira e o bar estava cheio, mas
ninguém parecia realmente preocupado com o fato de as
estrelas do Crimson Tide estarem ali, pois já era comum
ver jogadores do time no Maeve’s Bar. Brindamos e eu
sorri ao ver o entusiasmo de Logan. Ele estava tão feliz!
Ainda precisava marcar de fato a reunião e conversar
com o seu pai para que ele o acompanhasse durante
toda a negociação do contrato, mas isso era mero
detalhe. Sua felicidade era contagiante, eu só não
conseguia relaxar totalmente por pura paranoia da
minha cabeça.
Olhei a nossa volta discretamente, procurando por
algo que eu sequer sabia o que era. Só tinha a sensação
ruim de que estava sendo observada, o que era um
absurdo porque a fase de curiosidade dos alunos da
faculdade já havia terminado há algumas semanas,
desde que se conformaram que Logan e eu estávamos
juntos. Cheguei a pensar que, talvez, alguém poderia
estar desconfiando de que estávamos mentindo, mas
isso também não tinha qualquer cabimento, pois agora
estávamos juntos de verdade.
Era apenas coisa da minha cabeça. Eu tinha
certeza. Logan me puxou para que eu me sentasse em
seu colo, arrancando um gritinho de susto do fundo da
minha garganta.
— Por que está tão quieta, Valente? — sussurrou no
pé da minha orelha, me deixando arrepiada com o
contato da sua barba em meu pescoço.
— Não estou quieta, é impressão sua. — Tomei seu
rosto em minhas mãos e dei um beijo rápido em sua
boca, vendo o seu sorriso. Era muito bom ver Logan tão
animado daquele jeito.
— Tem certeza? Você parece preocupada.
— Estou preocupada, sim, mas com o trabalho que
me aguarda ali — falei, apontando para o balcão onde
Maeve servia alguns clientes. Ela havia me dado alguns
minutos para comemorar com Logan, mas eu não queria
abusar. — Prometo escapar de tempos em tempos para
vir aqui ficar com vocês.
— Nós não vamos demorar muito, parece que não,
mas os meninos e eu estamos mais responsáveis.
Observei Ben e James conversando com Norah e
percebi que estavam apenas na segunda cerveja da
noite — exceto James, que disse que beberia apenas
uma, pois ainda se sentia nauseado por conta da ressaca
que o atingiu no dia anterior. Ele parecia até meio
constrangido enquanto falava aquilo e eu achei bem fofo.
Dos três amigos, James parecia ser o mais passional,
enquanto Benjamin demonstrava ser totalmente racional.
Logan ficava entre os dois, como o equilíbrio perfeito.
— Isso é muito bom. — Maeve me olhou do balcão e
eu senti que estava precisando de mim. — Vou voltar ao
trabalho. Estou muito feliz por você, estrelinha dourada.
Logan me segurou firme pela bunda e meteu a
outra mão em minha nuca entre os fios do meu cabelo.
Eu podia sentir seu pau começando a se animar de
encontro as minhas nádegas, o que me fez rir.
— Olha o que você faz comigo, Valente. Estou
ficando de pau duro e nem posso te comer.
— Deixe para amanhã. É minha noite de folga,
talvez você possa dormir comigo.
— Talvez? Não existe talvez. Eu vou dormir com
você e engolir cada um dos seus gemidos para que
Aubrey não ouça nada.
Fiquei toda arrepiada, ansiando por aquele
momento. Estava viciada em Logan e na forma como o
quarterback me deixava louca quando me tocava ou me
beijava. Como se soubesse disso, ele capturou a minha
boca na sua, silenciando o mundo a nossa volta
enquanto me beijava de forma sedutora e me deixava
excitada. Precisei interromper o beijo quando senti meus
mamilos começarem a despontar sob o sutiã que eu
usava.
— Preciso ir — sussurrei entre os seus lábios antes
de dar mais um selinho em sua boca e me levantar.
Avisei ao pessoal na mesa que iria trabalhar um
pouco e me afastei, olhando mais uma vez para os rostos
dos clientes no bar. Não havia ninguém ali que
justificasse aquele sentimento estranho em meu peito.
Alguns clientes eu já conhecia por serem assíduos, outros
eu me lembrava da fisionomia por serem estudantes da
faculdade e alguns eu nunca tinha visto, mas que não
apresentavam qualquer periculosidade. O que estava
acontecendo comigo, afinal?
Sacudi a cabeça e tomei um copo enorme de água
para me livrar de qualquer torpor causado pela cerveja
que tomei com Logan. Logo me concentrei no trabalho,
sempre mantendo um olho em meu namorado e seus
amigos enquanto atendia aos clientes. Em certo
momento, minha bexiga apertou por eu ter tomado tanto
líquido e pedi licença a Maeve para usar o banheiro. Fui
ao do bar mesmo, porque estava mais perto, e me
tranquei em uma das cabines depois de esperar na fila
pequena do lado de fora.
Levei poucos minutos para voltar para o salão, mas
acabei sendo interceptada no meio do caminho pelos
braços fortes do quarterback. Logan riu baixinho quando
dei um tapinha em seu peito por quase ter me matado
de susto e me empurrou em direção à porta do corredor
que levava ao escritório de Maeve e à porta que dava
acesso ao meu apartamento.
— Precisei te sequestrar só um pouquinho para
poder me despedir — disse ele de encontro ao meu
pescoço, me fazendo soltar um suspiro nada discreto.
O corredor estava parcialmente iluminado pela luz
fraca acesa no teto e não havia ninguém ali, pois Maeve
estava no bar. Logan deixou uma trilha de beijos do meu
pescoço até a minha boca, me deixando com as pernas
bambas quando enroscou a língua lentamente na minha,
quase fazendo amor com os lábios nos meus.
— Você está me torturando — sussurrei quando
afastou o rosto para voltar a beijar o meu pescoço.
— Você que está me torturando toda linda desse
jeito, Valente. — Ele mordeu o lóbulo da minha orelha,
fazendo minha calcinha ficar encharcada. — Será que
não dá tempo para uma rapidinha?
— Não.
— Tem certeza? Prometo te fazer gozar em cinco
minutos. — O safado encaixou o pau duro bem no meio
das minhas pernas, massageando meu clitóris por cima
da minha calça jeans.
— Sabia que tem câmeras aqui no corredor?
— Hm... É mesmo? Será que Maeve vai se importar
muito em ver um pornô nosso?
— Acho que ela vai se importar, sim. Talvez até me
demita.
— Ela não faria isso, sei que te ama. — Logan sorriu
e me deu mais um beijo antes de dar um passo para trás.
— Amanhã você não vai escapar de mim, Valente.
— Não vou querer escapar.
Ficamos só mais alguns segundos ali, dando mais
alguns beijos longe de todo mundo, antes de Logan
precisar ir. Havia passado um pouco da meia-noite
quando ele, Norah e os amigos deixaram o bar, e pude
me concentrar melhor no trabalho. O fluxo de clientes só
começou a diminuir depois de uma da manhã, mas
aquela sensação de estar sendo observada persistiu até
pouco depois das duas, quando apenas um grupo de
amigos ficou bebendo perto do balcão.
Eles só deixaram o bar perto das três horas e eu me
sentia esgotada enquanto ajudava Cindy, Maeve e
Donovan a limpar o salão e deixar tudo o mais adiantado
possível para a noite seguinte, já que eu estaria de folga.
— Ava, pode subir aqui por dentro mesmo,
Christopher e eu fechamos o bar — Maeve disse assim
que Cindy e Donovan foram embora.
Despedi-me dela e de Christopher, que estava ali
dentro desde que os rapazes saíram, ajudando-nos a
colocar tudo em ordem. Passei pelo corredor, distraída
enquanto tateava o bolso da minha calça em busca do
meu celular e do meu chaveiro. O aparelho eu encontrei
rapidamente no bolso lateral, mas o molho de chaves eu
não achei em lugar algum.
— Será que deixei cair? — perguntei a mim mesma
assim que abri a porta que dava acesso à escada que
levava ao meu apartamento.
Olhei para trás, pensando em voltar ao bar para
procurar, mas paralisei com a mão na maçaneta assim
que ouvi um assobio que eu conhecia muito bem. O
barulho de chaves se chocando uma contra a outra se
tornou abafado em meus ouvidos quando a sua risada
ecoou pelas paredes que me cercavam.
— Procurando por isso, princesa?
Os nós dos meus dedos ficaram brancos diante da
força com que apertei a maçaneta. Eu não queria me
virar. Mal conseguia respirar.
— Não me diga que te assustei! Desculpa, princesa,
realmente não foi a minha intenção. Você parecia tão
animada enquanto beijava o jogadorzinho... Achei que
ficaria feliz também ao me ver. Ou ao ouvir a minha voz,
já que até agora não se virou para me olhar.
Girei a maçaneta com mais força, pensando
rapidamente nas opções que eu tinha. Não eram muitas,
na verdade. Eu poderia correr pelo corredor, gritando por
Maeve e Christopher, na esperança de que ainda
estivessem no bar para me ajudar, ou poderia usar o
celular que estava na minha mão e ligar para alguém.
Para Logan. Ele viria correndo, eu sabia.
— Se eu fosse você, não faria nada imprudente,
Avalon. — Sua voz soou mais alta, mas percebi que ele
não estava tão perto de mim. — Você já foi descuidada
demais ao não perceber quando peguei a chave no seu
bolso enquanto estava na fila para ir ao banheiro. Não se
arriscaria em fugir de mim agora e me deixar aqui
sozinho, tão perto da sua irmãzinha... Se arriscaria?
Eu não pude evitar. Estava apavorada, tremendo
dos pés a cabeça, mas senti o meu sangue ferver quando
aquele filho da puta citou a minha irmã. Tucker, que
estava sentado no terceiro degrau da escada, riu da
minha cara quando parti para cima dele e empurrei o seu
peitoral com toda a minha força. Ele mal se moveu.
Parecia esperar pelo meu ataque e estava mais forte do
que a última vez em que o vi. E mais tatuado, também.
— Não ouse falar da minha irmã! Nem pense em
chegar perto dela, ouviu? — Gritei na sua cara, fazendo
uma careta de dor quando puxou o meu pulso com força,
quase torcendo-o em um ângulo estranho.
— Não grite comigo. Você sabe que nunca gostei
dos seus escândalos, Avalon.
Ao contrário de mim, Tucker não gritava. Era
impressionante como ele conseguia controlar o tom de
voz, mesmo quando estava com raiva. Aquilo me
apavorava ainda mais; a sua confiança ao fazer o que
queria, como queria, sempre que queria, sem sequer
elevar o tom de voz. Puxei o meu pulso do agarre dos
seus dedos e consegui me livrar, mas apenas porque ele
deixou. Ter consciência disso quase me fez perder o
controle da bexiga.
— Eu só quero conversar, princesa. — Tucker abriu
aquele sorriso perverso de novo. Quem não o conhecia,
acharia que estava sendo apenas simpático, mas eu
sabia muito bem o que existia por trás de todo aquele
charme. Ele bateu no espaço ao seu lado no degrau. —
Sente-se aqui.
— Vá embora! — ordenei, apontando para a porta
atrás de mim, por onde ele provavelmente havia entrado,
já que roubou a minha chave. — Eu já te denunciei uma
vez, não vou hesitar em fazer isso de novo, Tucker!
— Eu acho que você vai, sim. — Ele continuou a
sorrir, me causando mal-estar. — A não ser que você
queira prejudicar aquele filho da puta que estava
tocando no que me pertence.
Tucker se levantou e eu dei um passo para trás,
depois mais outro e outro, tentando encontrar uma rota
de fuga que não existia. Seu corpo largo ocupava quase
todo o espaço entre a escada e a porta que dava acesso
ao bar. Àquela altura, Maeve e Christopher com certeza
já tinham ido embora e eu não teria como me trancar em
nenhum cômodo do salão, pois Maeve mantinha o
escritório trancado depois que saía, bem como a cozinha.
Teria só o banheiro como esconderijo, mas sabia que
Tucker me pegaria antes mesmo que eu chegasse ao
salão do bar. Ele era mais alto, mais forte e, mesmo
depois de ter sofrido uma lesão no joelho, ainda corria
como ninguém.
Eu também jamais o deixaria sozinho aqui, sabendo
que poderia entrar em meu apartamento e machucar a
minha irmã. Por isso, só pude virar o meu rosto para o
lado quando ele me cercou de encontro à porta que dava
para a rua, fechando os olhos com força quando seu
hálito com cheiro de álcool tocou a minha bochecha.
— Ele sabe que fui eu que tirei o seu cabaço,
Avalon? — perguntou com a voz baixa e rouca de raiva.
Seu punho se chocou contra a porta, bem ao lado da
minha cabeça, me fazendo estremecer. — Sabe que fui o
primeiro a violar o seu corpo? A beijar essa sua boca
atrevida? Ele sabe que você é minha? — Sua língua tocou
a minha bochecha e eu senti vontade de vomitar. Tucker
riu ao pé do meu ouvido. — Não, com certeza ele não
sabe. Você é uma putinha que gosta de enganar caras
populares como ele e eu. No fundo, Logan é uma vítima.
Ele caiu no seu papinho de menina indefesa assim como
eu caí!
— Sai... Sai de pert...
— Sair de perto de você? Depois de tanto tempo
longe? Nunca, princesa. — O ar ficou preso em minha
garganta quando Tucker agarrou o meu pescoço. Os
dedos da sua outra mão tocaram o meu queixo com
força, puxando o meu rosto em sua direção. — Estou
decepcionado, Avalon. Achei que estaria com saudade de
mim, no entanto, quando cheguei aqui dois dias atrás,
cheio de saudade de você, a encontrei com aquele
jogador... Claro que eu sabia que estavam juntos, afinal,
o cara é conhecido e todo mundo ama comentar sobre a
vidinha de merda que ele tem, mas pensei que seria algo
passageiro. Fiquei triste quando o vi beijando a sua boca.
Beijando a sua boca várias vezes!
Sua voz saiu entredentes e eu gemi entrecortado
quando me puxou pelo pescoço apenas para bater a
parte de trás da minha cabeça contra a porta. O mundo
rodou por um minuto inteiro e pensei que eu fosse
desmaiar. Tentei puxar em minha memória algum golpe
de autodefesa que vi em vídeos na internet, mas nada
apareceu. Eu estava apavorada, confusa, com dor e mal
conseguia respirar. Lágrimas tomaram os meus olhos
quando entendi que estava sozinha à mercê daquele
homem. De novo.
Eu sabia que não estava louca. Aquela sensação de
estar sendo observada não era apenas paranoia da
minha cabeça. Tucker estava por perto, algo dentro de
mim tentou me alertar, mas não dei atenção suficiente.
Como pude ser tão burra? Por que não percebi a sua
presença antes?
— Estou com nojo de você — Tucker cuspiu,
literalmente. Sua saliva atingiu o meu rosto e eu ofeguei,
quase agradecendo por estar prestes a chorar e as
lágrimas me impedirem de olhar na sua cara. — Tenho
vontade de tirar a sua roupa agora e te foder só para
tirar o cheiro daquele filho da puta da sua pele!
— Na... não! — Implorei, tremendo tanto, que temi
cair aos seus pés. — Por... por favor, na-não, Tucker...
— Não vou fazer isso. Não quero ser o responsável
por desintoxicar você. Quero que faça isso sozinha.
Ele me largou de repente e eu respirei fundo,
preenchendo os meus pulmões com o máximo de
oxigênio possível, enquanto me apoiava contra a porta.
Observei-o dar alguns passos para trás e se encostar na
parede ao seu lado, ainda de frente para mim. Tucker
cruzou os braços e voltou a sorrir.
— Você vai largar aquele filho da puta. — Sacudi a
cabeça com violência, sentindo meu rosto ficar banhado
pelas lágrimas que começaram a cair sem que eu fizesse
qualquer esforço. Tucker arqueou uma sobrancelha e me
olhou como se sentisse graça do meu desespero. — Não
sei se você continua tão burra quanto era antes, mas isso
não foi uma pergunta, Avalon. Você vai largar aquele
jogador de merda ou ele nunca mais vai entrar em um
campo de futebol de novo.
Eu ofeguei, paralisada. Ele não... Tucker não podia...
Não. Não!
— Você não vai encostar nele! — Falei, mas queria
gritar. Queria arranhar aquele rosto debochado e
arrancar seus olhos maldosos com as minhas unhas, mas
não consegui fazer nada. Sua presença, sua voz, me
paralisavam.
— Eu realmente não vou. Não é socando a cara dele
que eu sinto prazer. — Ele olhou bem para o meu rosto e
entendi o que quis dizer. Por muito pouco, não me curvei
para vomitar em seus sapatos caros. — Mas conheço
alguém que conseguirá foder com a vida do seu
namoradinho com um estalar de dedos.
Seu sorriso foi se tornando maior conforme ele
voltou a falar. Cada palavra que saía da sua boca parecia
me atingir como um soco, bem do jeito que Tucker
gostava, me fazendo quase fundir o meu corpo à porta
às minhas costas. Assim que se calou, ele voltou a se
aproximar, tocando o meu queixo com uma gentileza que
apenas me machucou mais.
— Você tem quarenta e oito horas para se livrar
dele. Se eu o vir tocando em você, beijando você, não
vou hesitar em cumprir com a minha ameaça, Avalon.
Entendeu? — Meu queixo tremeu e Tucker o apertou com
força, me fazendo gemer de dor. — Diga se entendeu.
— Enten... entendi — solucei, vendo-o voltar a sorrir
e dar um novo passo para trás.
Tucker deixou o meu chaveiro cair no chão e me
puxou pelo braço para me tirar de perto da porta. Meu
coração ameaçou explodir de medo e de alívio quando
ele tocou a maçaneta.
— Foi muito bom te ver de novo, princesa. Dessa
vez, eu não vou deixar você escapar de mim, tenha isso
em mente.
Tucker saiu e eu caí no chão, perdendo
completamente a força nas pernas e chorando tão alto,
que o barulho da minha voz ecoando pelas paredes
machucou o meu ouvido. Em pânico, ainda consegui
pegar o chaveiro do chão e trancar as duas portas com
as mãos trêmulas, mas, após isso, a minha mente
simplesmente desistiu de me fazer pensar ou agir com
clareza.
Ele estava de volta.
Meu monstro particular estava de volta e, dessa
vez, nada o impediria de me destruir.
Estava prestes a sair do carro, assim que estacionei
em frente ao bar da Maeve, quando Avalon saiu pela
porta ao lado do bar junto com a sua irmã. Estava uma
manhã fria naquele meado de outubro, mas me assustei
ao ver que Avalon usava um cachecol ao redor do
pescoço. Pelo menos para mim, um casaco estava
suficiente para me proteger da baixa temperatura, mas
Valente parecia estar sofrendo mais do que qualquer
outra pessoa naquela manhã.
— Bom dia! — saudei as duas, recebendo um
abraço rápido e animado de Aubrey, antes de me
aproximar de Valente. Ela ficou tensa quando a puxei
pela cintura e se esquivou discretamente quando tentei
beijá-la. — O que houve?
Avalon desviou os olhos dos meus e tentou me
afastar, tocando em meu peito, mas não deixei que
escapasse.
— Eu... Eu acho que estou um pouco gripada. Não
quero passar nenhum vírus para você.
Estranhei. Valente estava ótima ontem à noite. No
entanto, aquilo explicava o porquê de estar usando
aquele lenço no pescoço.
— O que você está sentindo? — perguntei, tocando
em sua testa. Não parecia estar com febre. — Quer ir
para o hospital?
— Não. Eu só quero deixar a minha irmã na escola
antes de ir para a faculdade. — Avalon conseguiu
escapar dos meus braços e ergueu a mão para me
mostrar uma chave. — Vou levá-la de carro.
— Isso é completamente desnecessário, Ava. A
escola é aqui perto e sempre vou sozinha! Posso saber o
que deu em você hoje?
— Já falei para não discutir comigo, Aubrey! — A
resposta irritada de Avalon me assustou um pouco.
Nunca a tinha visto falar daquele jeito com a irmã.
— Ei, fique calma, ok? — Passei a mão em suas
costas e Avalon ficou dura sob o meu toque, sem olhar
para mim. — Não precisa ir dirigindo, podemos deixar a
sua irmã na escola e depois seguimos para a faculdade.
— Não precisa, eu vou pegar o carro e...
— Na verdade, essa é uma ótima ideia! — Aubrey
disse, quase batendo palminhas no meio da calçada. —
Chegar com Logan vai ser bem melhor do que chegar
apenas com você, Ava. Ao invés de rirem de mim por
estar sendo levada para a escola pela minha irmã mais
velha, vão ficar com inveja ao ver que o motorista é o
quarterback do Crimson Tide.
Eu ri, erguendo o punho para que Aubrey o tocasse
com o seu. Era bom ver o seu entusiasmo por uma coisa
tão boba. Na época em que era adolescente, me sentia
da mesma forma quando queria impressionar o pessoal
da escola. Avalon não respondeu nada, apenas
concordou com a cabeça e saiu de perto de mim,
marchando em direção ao carro. Ela tomou o lugar do
carona, enquanto Aubrey se sentou no banco de trás.
Demorei um pouco mais para dar a volta e ocupar o lugar
atrás do volante, dando uma olhada questionadora para
Valente.
Que merda estava acontecendo?
Aubrey me guiou até a sua escola — um percurso
que durou, literalmente, menos de cinco minutos de
carro — e se esticou para dar um beijo na bochecha de
Avalon.
— Eu te amo, sua chata, mesmo quando acorda de
mau humor. Obrigada pela carona, cunhadinho!
Aubrey acenou e saiu do carro, sorrindo de orelha a
orelha quando desci o vidro da janela e acenei para ela.
A calçada estava lotada de alunos, portanto, eu sabia
que o assunto daquela manhã seria o fato de ela ter sido
levada para a escola por mim. Gostei de fazer a sua
alegria naquela manhã estranha de outono. Voltei a
colocar o carro em movimento, dando uma olhada
novamente em Avalon. Ela estava com os braços
cruzados e o rosto virado para a janela. Parecia fingir que
eu não estava ao seu lado e perdi completamente a
paciência.
— Agora que estamos sozinhos, você vai me contar
o que está acontecendo? — Percebi quando ela fechou os
olhos por um tempo longo demais e acrescentei: — A
verdade, Valente, não uma desculpa qualquer.
Eu poderia acreditar naquela história de resfriado,
se Avalon não estivesse agindo de forma tão estranha —
para não dizer fria. O modo como enrijeceu quando a
toquei, sua resposta atravessada para Aubrey, seu
silêncio tortuoso e sua fuga do meu olhar deixavam bem
claro que a garota estava mentindo para mim. Eu só
queria saber o porquê.
— Nosso acordo termina no sábado — disse de
repente, olhando para frente ao invés de me encarar.
— Que acordo? — Eu realmente estava confuso,
mas Avalon me deu aquele olhar como se dissesse que
eu sabia muito bem sobre o que ela estava falando.
Então, eu entendi. — O nosso acordo sobre o namoro
falso?
— Não me lembro de nenhum outro.
— Porra, dois meses passaram voando. — Ri um
pouco ao me dar conta. Tanta coisa havia acontecido
naquelas quase oito semanas. Puta merda. — E o que é
que tem?
— Não é óbvio?
— Não para mim.
— Não vamos mais precisar fingir, Logan. No
sábado, tudo vai acabar.
Eu voltei a rir, sem levar fé alguma naquela besteira
que Valente estava falando.
— Aubrey disse que você acordou de mau humor,
mas acho que estava enganada, meu bem. Você acordou
cheia de disposição para fazer piadas.
— Não estou brincando. — Avalon finalmente me
olhou e eu parei de rir ao ver a seriedade em seus olhos
levemente vermelhos e inchados. — Você cumpriu com a
sua parte no acordo, eu vou cumprir com a minha, depois
disso, acabou.
— Avalon... O quê?
— Não me lembro de você ter algum problema de
audição.
— Mas... Que porra é essa? — Dei seta para entrar
em uma rua residencial e parei o carro rente à calçada,
virando-me para Avalon. Ela ainda estava de braços
cruzados, mas agora olhava fixamente para frente. —
Avalon, olhe para mim — pedi, tocando em seu joelho.
Ela moveu a perna para longe e entendi, finalmente, que
não queria o meu toque. — Valente, apenas olhe para
mi...
— Para com isso, ok? — Ela me encarou e fiquei
confuso ao ver seu rosto vermelho e os olhos rasos
d’água. — Não é difícil de entender, Logan! Nós fizemos
um acordo, o prazo termina no sábado e não
precisaremos mais mentir para ninguém. Simples assim!
— Eu não estou mentindo sobre nada, Avalon! Achei
que estivesse bem claro que estávamos juntos de
verdade agora.
— Achou errado.
— Achei errado? — Aquela porra continuava sem
fazer sentido algum, mesmo comigo falando em voz alta.
— Mesmo depois de eu ter falado para você que estou
apaixonado e de você ter me dito que retribuía os meus
sentimentos, eu entendi tudo errado? É isso?
Avalon soltou uma risadinha debochada que me
deixou puto pra caralho.
— Não acho que você esteja apaixonado por mim,
Logan. Sabe do que me dei conta? — Ela não esperou
pela minha resposta. — De que estávamos nos
enganando. É isso. Ficar tanto tempo perto um do outro
acabou mexendo com a nossa cabeça. Percebi que não
sinto por você tudo o que eu acreditava que sentia e que
ter a sua presença ao meu lado todos os dias está me
sufocando. Quero voltar a viver sozinha, como eu era
antes de aceitar esse acordo idiota.
Eu olhava para Avalon e ouvia as suas palavras,
mas não as compreendia. Nada daquilo fazia o menor
sentido.
— Nós estávamos bem ontem. O que foi que
aconteceu para você chegar com esse discurso idiota
hoje?
— Acho que eu tive um momento de lucidez. — Ela
deu de ombros, como se tudo aquilo não significasse
nada, e voltou a olhar pela janela. — Nós conseguimos o
que queríamos, certo? Eu me livrei da dívida, a sua
imagem está brilhando de tão limpa... Podemos encerrar
tudo por aqui.
— Valen...
— E você pode parar de me chamar por esse
apelido estúpido também — cortou-me, me dando um
olhar sério. — Isso é vício de linguagem, sabia? Quanto
antes começar a me chamar pelo meu nome, melhor
será.
— Melhor para quem? — Talvez eu tenha falado um
pouco alto demais, mas não consegui me controlar. Meu
coração batia de forma descompensada e minha mente
tentava procurar algum motivo plausível para aquela
merda estar acontecendo. — Puta merda, Valente! O que
tudo isso significa?
— Você ainda não entendeu? — Ela falou mais alto
também, ficando com o rosto vermelho e se virando em
minha direção. — Eu não quero mais, Logan! Acabou!
— Por quê?
— Por quê? Não... Não precisa ter um porquê!
Sua voz vacilou e percebi que estava prestes a
chorar. Mil alarmes soaram em minha cabeça. Sem me
importar se estava ou não irritada comigo, toquei em
seus ombros, com medo de que tivesse um outro ataque
de pânico como o que teve em seu apartamento naquele
dia.
— Aquele babaca está te ameaçando de novo? É
isso?
Avalon quase ficou pálida e seus olhos se
arregalaram.
— O... O quê?
— Charles! Alfred, ou qualquer que seja o nome
dele — citei o agiota. — Ele está te ameaçando de novo?
É por isso que está nervosa desse jeito? Meu amor, se for
isso, a gente vai para a polícia agora. Meu pai tem
muitos contatos, a gente coloca esse filho da puta na
cadeia em um piscar de olhos, já que a ameaça que fiz
de entregá-lo ao traficante de Nova York não valeu de
nada.
— Não. — Avalon sacudiu a cabeça de forma
veemente. — Não tem nada a ver com Charles.
— Então o que é? Meu Deus, Avalon, depois de todo
esse tempo juntos, eu achei que você confiasse em mim!
O queixo dela tremeu e seus olhos voltaram a se
encher de lágrimas, mas Valente não deixou que
nenhuma caísse. Como se estivesse incomodada com o
meu toque, ela empurrou as minhas mãos para longe do
seu corpo e voltou a se afastar, quase encostando as
costas contra a porta do carona do meu carro.
— O problema não é você, eu só... Eu não quero
mais. — Ela sacudiu de novo a cabeça e passou a mão
pela bochecha quando uma lágrima caiu. — Eu não gosto
de você como pensa, Logan. Acho que eu nunca vou
conseguir gostar, porque... Eu ainda gosto dele.
— Dele quem? — Percebi que eu estava com muito
medo daquela resposta.
— Do meu ex. Eu ainda sou apaixonada por ele. Sei
que ele não merece, mas não posso mandar na forma
como me sinto.
Não consegui falar nada por longos segundos,
observando Avalon voltar a limpar as bochechas
vermelhas e desviar os olhos dos meus. Ela tremia, mas
percebi que eu me sentia da mesma forma. Os músculos
do meu corpo simplesmente trepidavam, como se eu não
tivesse qualquer controle sobre eles. E eu realmente não
tinha.
Naquele momento, percebi que eu não tinha
controle sobre nada.
— Você... — Limpei a minha garganta quando minha
voz saiu embargada. — Você está mentindo.
— Não estou.
— Está.
— Não, eu não...
— Você está mentindo! Está mentindo, porra! —
Soquei o volante e Avalon deu um pulo ao meu lado. —
Eu posso nunca ter me apaixonado antes, mas sei
reconhecer quando alguém está sentindo o mesmo que
eu. Até ontem, você estava louca por mim, Avalon! Você
se desmanchava com o meu toque, beijava a minha boca
de forma apaixonada, fazia planos comigo, e agora vem
com toda essa merda para cima de mim? Eu não acredito
em você, porra!
— Até ontem você trepava com um monte de
garotas e curtia cada momento com elas. Por que eu não
posso ter feito o mesmo com você?
— Quer saber o que eu curtia? — perguntei, vendo-
a engolir em seco e arregalar um pouco os olhos. — Eu
curtia a sensação do orgasmo. Era só isso que eu curtia,
Avalon, como uma necessidade fisiológica. Por alguns
segundos, a minha mente conseguia se desligar de toda
merda que vinha acontecendo e eu relaxava, mas isso
durava exatamente o que eu falei: alguns segundos. Era
por isso que eu bebia, porque o álcool era bem mais
eficiente em me manter entorpecido por mais tempo.
— Então, você trocou tudo isso por mim. — Sua voz
soou trêmula enquanto ela forçava uma risada. — Que
saudável, Logan! Parabéns!
— Não, eu não troquei por você. Eu mudei, Avalon.
— Não consegui impedir que a porra dos meus olhos
ficassem marejados, mas não deixei que lágrima alguma
ousasse cair. — Eu mudei quando comecei a me
apaixonar por você. Minha mente se expandiu e eu
percebi que não precisava de álcool ou festas, nem
precisava de sexo, porque aquela necessidade cega de
não querer sentir nada, começou a sumir antes mesmo
de eu tocar em você desse modo. O meu amor por você,
Valente, me fez ver que eu não precisava mais me
autodestruir, me fez entender que, mesmo sofrendo a
dor do luto, eu ainda poderia sentir coisas boas, ainda
poderia lutar para ser feliz.
Ao contrário de mim, Avalon não conseguiu conter
as lágrimas por mais tempo. Ela começou a chorar de
forma quase desesperada, tentando conter os soluços,
enquanto seus ombros tremiam. Ainda de olhos
arregalados, ela juntou as mãos na altura do queixo e
implorou baixinho:
— Você não pode... não pode... falar isso para
mim... não pode...
— Por que não? — Tomei seu rosto em minhas
mãos, já me preparando para a sua luta, mas Avalon me
surpreendeu ao fechar os olhos e se render ao meu
toque. Sentir as suas lágrimas sob os meus dedos
quebrou o meu coração. — Eu amo você, Avalon. Amo
cada parte sua. A teimosa, a debochada, a de língua
afiada, a corajosa, a forte, que enfrentou um mundo de
problemas e nunca pensou em desistir. Eu também amo
a parte medrosa, a tímida, a que fica vermelha quando
falo sacanagem e a que precisa de carinho e cuidado,
mesmo quando você diz que não. Eu simplesmente amo
você por inteiro, Valente, e mesmo que você não me ame
de volta, acredito que esse sentimento nunca vai mudar.
Avalon ofegou, separando os lábios molhados de
lágrimas para respirar, ainda tremendo e soluçando. Era
como naquela manhã em sua casa, mas, ao mesmo
tempo, era diferente. Naquele dia, ela estava com medo,
hoje, ela parecia estar sofrendo e carregando o mundo
em suas costas. Eu não conseguia entender. Queria
poder olhar em seus olhos e encontrar todas as respostas
que precisava, mas ela simplesmente encostou o rosto
em meu peito e chorou mais um pouco, estremecendo
quando passei minha mão na parte de trás da sua
cabeça.
— O que foi? — Passei os dedos de leve no mesmo
local, sentindo-a estremecer de novo. — Avalon, você
está com dor?
Que merda era aquela?
Tentei afastar o seu rosto do meu peito, mas ela me
impediu, afundando-se mais contra ele. Bem baixinho,
Valente disse:
— Eu não posso deixar que ele destrua essa
oportunidade que você está tendo. Eu sei o quanto você
está feliz por ter chamado a atenção daquela agência... É
o seu sonho, Logan. Eu sinto muito.
— O quê? — Finalmente consegui olhar em seus
olhos ao afastar o seu rosto do meu peito. Avalon estava
com os olhos mais inchados ainda, vermelhos assim
como o seu nariz e as bochechas. — Do que você está
falando?
— Não importa, eu só... Eu só preciso ficar longe de
você.
— O caralho que precisa! Olha para mim — pedi
quando tentou fechar os olhos. — Explica isso direito,
Avalon.
— Não posso...
— Sim, você pode. A Avalon que eu conheço
enfrenta qualquer coisa. Por que está se escondendo
agora?
— Porque eu não quero estragar o seu futuro! — Ela
chorou mais. — Será que não entende?!
Meu celular começou a tocar, assustando a nós
dois. Por estar conectado ao sistema de som do carro, o
barulho alto fez com que Avalon escapasse das minhas
mãos e voltasse a se afastar, passando as mãos pelo
rosto. Silenciei a ligação, vendo na tela do console que
era meu pai quem estava querendo falar comigo, e voltei
minha atenção para Avalon. Antes que eu pudesse dizer
qualquer coisa, ela foi mais rápida:
— Precisamos ir, já perdi a primeira aula, não quero
perder a segunda.
— Estou pouco me fodendo para a aula. Quero
saber que merda está acontecendo, Valente. Se tem algo
a ver comigo, você não pode esconder.
— Não tem nada a ver com você.
— Não? E toda essa história sobre a agência? Sobre
destruir o meu futuro? — Ela ficou pálida e o meu celular
tocou de novo. Voltei a silenciar a ligação, esperando
pela sua resposta. — Você disse que não pode deixar que
ele destrua essa oportunidade que estou tendo... Quem é
ele? — Insisti. — Charles? É ele? Sei que disse que não
era, mas, se for ele, você pode me dizer e...
— É o meu ex-namorado! — disse baixinho, mas eu
ouvi. Eu ouvi nitidamente e senti o meu coração disparar.
— Ele... Ele é...
Meu celular tocou de novo e fiquei tentado a jogar a
porcaria do aparelho para fora do carro, mas resolvi
atender de uma vez por todas, só para deixar bem claro
para o meu pai que eu não podia falar naquele momento.
— Pai, estou ocupado! Ligue depois e...
— Logan, você precisa vir agora para casa. — Seu
tom de voz nervoso ecoou pelo veículo e me impediu de
desligar. — Descobrimos quem estava no outro carro
naquela noite.
— Porra! E qual é o nome do filho da puta? —
perguntei, já colocando o Audi em movimento.
— Tucker Aaron Young.
A única coisa que rompia o silêncio dentro do carro,
era o motor suave do Audi enquanto Logan passava feito
um raio pelos portões enormes da mansão do seu pai. Os
pneus cantaram quando ele parou de forma abrupta, me
fazendo estremecer, antes de ouvir o baque da porta se
fechando. Um segundo depois, Logan abriu a minha
porta, me puxando pela mão para que eu saísse do
veículo.
Ele me olhava de forma séria e assustada, quase
com raiva, mas eu não sabia se era de mim ou por toda
aquela situação. Imaginava que Logan também
conseguia ver o medo em meus olhos, apesar de eu não
conseguir falar nada. Ainda estava presa na voz
imponente do seu pai falando aquele nome que me
aterrorizou nos últimos anos.
Tucker Aaron Young.
O que ele havia feito contra a família de Logan? De
que noite o Sr. Miller II estava falando? Eu me sentia
completamente perdida.
Entramos na casa luxuosa e Logan seguiu
diretamente para a sala, ainda segurando a minha mão.
Seu pai, sua avó e Norah estavam no cômodo,
acompanhados por um homem que eu não conhecia. A
senhora de idade segurava a mão da neta, que estava
visivelmente nervosa. O que estava acontecendo ali?
Logan se aproximou das duas, dando um beijo na
testa de cada uma, antes de ir para perto do pai, que
estava de pé ao lado do sofá. Eles se abraçaram muito
rapidamente, apesar de o Sr. Miller ter prolongado o
aperto no ombro do filho. Logan logo voltou a pegar a
minha mão assim que seu pai deu um passo para trás.
— Logan, sabia que estava esperando por uma
ligação minha. — O homem que eu não conhecia se
aproximou, apertando rapidamente a mão de Logan e me
dando um aceno com a cabeça. — Mas, dada as
circunstâncias do que descobri, achei que seria melhor
se eu conversasse com você e com o seu pai ao mesmo
tempo.
— Talvez seja melhor você se sentar antes de ouvir
o que Philipe tem a dizer, filho — aconselhou o Sr. Miller.
Logan balançou a cabeça.
— Não quero me sentar. Quero saber qual é a
probabilidade desse Tucker ser o mesmo Tucker que
namorou com a Avalon. — Sua voz saiu entredentes, mas
seu aperto em minha mão não se tornou mais forte. — E
se ele é enteado de Teddy Smith.
— Minha resposta é sim para todas as perguntas. —
O homem desconhecido respondeu de forma direta,
quase fria, como um profissional faria. Ele pegou um iPad
em cima do sofá e estendeu para Logan. — Tenho
algumas fotos dele.
Senti a minha respiração ficar ofegante quando
Logan soltou a minha mão para segurar o aparelho e
começou a passar as fotos. Tucker estava bem ali, em
vários momentos da sua vida, cercado de amigos e em
meio a festas, do jeito que ele gostava quando
estávamos juntos. Então, de repente, surgiu na tela uma
foto dele atual e eu senti minhas pernas ficarem bambas.
Era como se ele estivesse na minha frente de novo, com
o pescoço cheio de tatuagens e o cabelo platinado, como
na noite anterior.
— Filho da puta!
Eu dei um pulo para trás quando Logan jogou o iPad
contra a parede da sala, quase atingindo a TV enorme
em cima da lareira. Sua avó e Norah soltaram um grito
assustado e o seu pai tentou o segurar pelo ombro, mas
foi em vão.
— Esse desgraçado... Esse filho da puta desgraçado
jantou comigo duas noites atrás! Ele se sentou à mesa ao
meu lado, caralho! — Gritou, furioso, dando um chute na
mesinha de centro. O arranjo de flores bonito caiu com
tudo no piso de porcelanato. — Ele bateu na minha
garota e matou a minha mãe, porra! Mesmo assim, teve
a coragem de olhar na minha cara e apertar a minha
mão! Como se nunca tivesse feito nada contra duas das
mulheres que eu mais amo no mundo!
— Logan, fica calmo...
Eu precisei me sentar. Vi de relance o Sr. Miller
tentar acalmar Logan junto com Norah e sua avó, mas
não consegui ter qualquer reação. Suas palavras se
repetiam em minha mente como um disco arranhado.
“Ele bateu na minha garota e matou a minha mãe.”
“Matou a minha mãe.”
Como? Por quê? Eu não conseguia respirar. Minha
mente tentava freneticamente juntar as peças daquele
quebra-cabeça enorme. Não consegui ter sucesso,
simplesmente porque faltavam peças. Parte de toda
aquela história era desconhecida para mim.
— Como que ele... — Respirei fundo para tentar
fazer com que minha voz soasse menos trêmula. —
Como Tucker matou a sua mãe?
Logan parou de repente ao ouvir a minha voz e se
virou em minha direção, assim como seu pai, sua avó e
sua irmã. Nenhum deles conseguiu me explicar nada. Foi
o homem chamado Philipe que tomou a palavra. Eu
sentia que já tinha ouvido aquele nome em algum lugar,
mas não me lembrava de onde.
— Ele estava conduzindo o veículo que se chocou
contra a traseira do carro da mãe de Logan. Pelas
filmagens das câmeras de segurança da rodovia em que
aconteceu o acidente, ficou nítido que ele estava sem o
controle da direção, mesmo assim, conseguiu fugir do
local.
Eu tinha conhecimento de que a mãe de Logan
havia sofrido um acidente de carro e ficado em coma por
algumas semanas antes de morrer, mas não sabia que
aquele desastre havia sido provocado por alguém.
Por Tucker.
Meu Deus do céu.
Precisei tirar o cachecol do meu pescoço e me livrar
do casaco que vestia, sentindo minha pele comichar. Um
suor gelado desceu pela minha nuca e minha boca ficou
seca. Qual era a probabilidade de ser justamente ele o
culpado pela morte da mãe de Logan e Norah? O que
tudo aquilo significava?
— Avalon? — Norah se aproximou de mim a passos
largos, me dando um olhar alarmado. — O que é isso?
— O quê? — Do que ela estava falando?
— No seu pescoço. Você está toda roxa.
Toquei a região no automático, estremecendo ao me
dar conta de que eu tinha tirado o cachecol em um ato
impulsivo. Minha pele machucada protestou quando a
esfreguei, querendo fugir dos olhos de todo mundo.
Logan não deixou. Ele parou na minha frente assim que
me levantei do sofá e olhou dentro dos meus olhos ao
tomar o meu rosto em suas mãos.
— Ele esteve lá ontem à noite, não esteve? — Eu
queria dizer que não, mas só pude concordar com a
cabeça e tentar lutar contra as lágrimas que tomaram os
meus olhos. Logan tocou a testa na minha e disse
baixinho entredentes: — Eu vou matar aquele filho da
puta!
— Logan, não!
Eu ainda tentei segurá-lo pelos pulsos, mas ele
escapou de mim com muita facilidade, saindo de casa
em uma velocidade quase impossível de alcançar. O Sr.
Miller e Philipe pediram para que ficássemos ali e foram
atrás dele, mas, mesmo de dentro da sala, pude ouvir o
barulho dos pneus do carro de Logan cantando.
— Meu Deus, ele não pode fazer isso! — falei,
pegando nas mãos de Norah ao meu lado. — Ele não
pode matar o Tucker, não pode destruir a sua vida por
causa daquele infeliz!
— Fica calma, Ava. Meu pai foi atrás dele, vai ficar
tudo bem.
A Sra. Miller também disse alguma coisa, mas eu
não consegui ouvir, sentindo um aperto ruim demais em
meu peito e querendo ir atrás de Logan.
Nunca odiei tanto Tucker como naquele momento.

Logan
“Estamos hospedados no hotel Hilton.”
A voz de Teddy ficava se repetindo em minha mente
em um looping que não cessava, enquanto eu acelerava
pelas ruas. Não sabia se ainda estavam na cidade, mas
resolvi arriscar mesmo assim, pois algo me dizia que
Philipe não me passaria a localização daquele filho da
puta caso eu pedisse. Desliguei o meu celular na
segunda vez que meu pai insistiu em me ligar e ignorei o
seu Bentley vindo logo atrás do meu Audi, metendo o pé
no acelerador.
“Estamos hospedados no hotel Hilton.”
O sorriso simpático demais de Aaron surgiu em
minha memória, sendo ofuscado pelo momento em que
ele esbarrou em mim na porta do banheiro do bar. Há
quanto tempo aquele desgraçado vinha observando
Avalon? Toda aquela história de agenciamento fazia parte
de algum plano dele? O que havia falado para ela ontem,
que a deixou tão assustada a ponto de tentar terminar
comigo? Como teve coragem de tocar nela de novo?
Vislumbrei o hotel a alguns metros à frente e parei
de supetão logo atrás de um carro luxuoso, que havia
estacionado segundos antes de mim. Saí sem me
preocupar em fechar a porta, quase empurrando uma
senhora que estava na minha frente para poder passar
por aquelas portas giratórias ridículas. Um segurança me
olhou e tentou se aproximar, mas logo alcancei o balcão,
chamando um dos atendentes. Uma mulher uniformizada
se aproximou.
— Como posso ajudá-lo, senhor?
— Tucker Aaron Young. Preciso saber se tem alguém
com esse nome hospedado aqui. Se sim, me informe o
número da suíte.
— Desculpa, senhor, mas receio não poder ajudá-lo.
Nós não passamos esse tipo de informação.
— Eu estou exigindo que verifique. Agora!
— Logan! — Senti o toque do meu pai em meu
ombro, mas me desvencilhei.
— Se o senhor insistir, terei que chamar o
segurança.
— Não será necessário — meu pai disse, tentando
me puxar de novo.
— Me solta! — Saí de perto dele, olhando para o
lobby imenso do hotel. Onde estava aquele filho da puta?
— Seja racional, Logan, por favor! — Meu pai pediu,
parando na minha frente. — Acha que eu também não
quero socar a cara desse garoto? — Seus olhos pareciam
estar prestes a soltar faíscas de tão puto que estava,
mas sua voz soava baixa e controlada para não chamar
ainda mais atenção. — Acha que não estou louco para
me vingar? Ele matou a mulher que eu mais amava na
vida, porra! Mas não podemos perder a razão. Temos
tudo na mão para colocar esse desgraçado atrás das
grades para sempre!
— Por causa de um acidente de trânsito? Tá bom.
Eu ri, mesmo sabendo que não havia sido apenas
um acidente de trânsito, ainda assim... Era muito pouco e
o padrasto daquele desgraçado tinha muito dinheiro.
— Não apenas por isso. Philipe descobriu outras
coisas — meu pai sussurrou, prendendo a minha atenção.
— Mas não posso falar sobre isso aqui. Venha comigo,
filho, por favor. Pense em Avalon, a garota ficou
assustada com a forma como você saiu. Ela precisa de
você.
Lembrei do seu pescoço roxo e do medo em seus
olhos, o choque em sua expressão ao descobrir como
Tucker havia invadido não apenas a sua vida, mas a
minha também. Eu queria muito meter a porrada
naquele desgraçado até ele perder a consciência, mas
meu pai tinha razão. Avalon precisava de mim e, para ser
sincero, eu também precisava dela. Deixei que ele me
guiasse em direção à porta giratória do hotel, ainda
sentindo a raiva aquecer o meu sangue, mas uma voz às
minhas costas nos fez parar no meio do caminho.
— Logan, como é bom ver você de novo! — Virei-me
junto com meu pai e vi Teddy Smith caminhar em nossa
direção. Ele sorria animado, como na primeira vez em
que nos vimos, e fechou completamente a nossa
distância. — Parece que estava lendo o meu
pensamento. Ia pedir para que meu assistente entrasse
em contato com você amanhã de manhã para
marcarmos uma reunião formal. Graham precisou viajar,
mas eu ficarei no Alabama até segunda-feira e...
— Onde está o seu enteado?
Teddy franziu o cenho e meu pai apertou o meu
ombro em um aviso mudo. Ignorei. Não sabia se teria
outra chance de chegar perto daquele filho da puta de
novo. Jamais desperdiçaria aquela chance.
— Aaron? Ele está no bar tomando um drinque com
uma garota...
Não esperei ele terminar. Já tinha ido àquele hotel
algumas vezes e sabia muito bem onde ficava o bar. Meu
pai gritou o meu nome, mas não dei ouvidos, passando
por alguns hóspedes, atravessando totalmente o lobby
até chegar ao bar luxuoso que ficava perto dos
elevadores que levavam às suítes. Não demorei muito a
encontrar o desgraçado, pois reconheceria em qualquer
lugar do mundo aquele cabelo platinado e o pescoço
tatuado que seria esmagado por mim em menos de um
segundo.
— Seu filho da puta!
Ao contrário dele, que era um covarde, eu o peguei
de frente, empregando no soco que dei em seu rosto, a
mesma força que utilizei ao jogar o iPad contra a parede
na casa do meu pai. Tucker só conseguiu segurar o nariz
que sangrava antes de tombar com tudo do banco em
frente ao balcão do bar e cair no chão. A loira que o
acompanhava gritou, alarmada, mas não perdi meu
tempo olhando para ela. Parti para cima daquele
desgraçado com toda a fúria que eu sentia.
Soquei-o por ter empurrado a minha mãe para a
morte. Soquei-o por todas as vezes que machucou a
minha garota. Soquei-o por deixá-la com medo, por ter a
assustado, por ter partido o seu coração e a sua alma no
momento em que esteve mais frágil. Soquei-o por ter
ousado se aproximar dela mais uma vez, por ter a
deixado com marcas roxas, por ter a feito chorar.
Seu sangue espirrava no chão escuro do bar, as
falanges dos meus dedos estavam arrebentadas, pessoas
gritavam à minha volta, mãos tentaram me tocar, mas
me desvencilhei de todas elas, desfigurando a cara
daquele filho da puta que havia tocado em dois dos meus
bens mais preciosos.
Ele estava quase apagando quando o peguei pelo
pescoço e apertei. Seus olhos inchados tentaram me
encarar, mas fiz questão de chegar bem perto, para que
ele nunca mais se esquecesse do meu rosto ou das
palavras que eu estava prestes a dizer na sua cara:
— Ontem foi a última vez que você chegou perto da
minha mulher. — Ele tentou abrir a boca, mas apertei o
seu pescoço com mais força, rompendo a passagem de
ar. — Foi a última vez que você ousou machucar alguém
que é importante para mim. Só estou te deixando vivo
hoje, porque não quero perder nenhum dia da minha vida
longe de Avalon, mas se você apenas pensar em chegar
perto da sombra dela, uma vez que seja, eu juro que não
vou ser tão condescendente. Você vai morrer, e vai ser
de uma forma tão dolorosa, que vai implorar para nunca
ter nascido.
Alguém finalmente conseguiu me tirar de cima de
Tucker e ele caiu praticamente desmaiado. Senti que
meu pai me abraçou por trás pela cintura, como se
estivesse com medo de que eu fosse terminar o que
comecei, e o deixei me afastar dali. Muitos hóspedes se
aproximaram, alguns filmavam, mas eu não me importei.
— Meu Deus! Olha o que você fez com o meu
menino! — Teddy se ajoelhou ao lado de Tucker. — Seu
jogadorzinho de merda! Sua carreira está arruinada!
Entendeu? Eu vou te afundar, seu filho da puta! Ninguém
vai se lembrar que um dia existiu um Logan Miller III
dentro de campo! Alguém chama a porra de uma
ambulância!
Meu pai me tirou de perto de todo mundo junto com
Philipe, mas não registrei quase nada a minha volta. Me
colocaram dentro do banco traseiro de um carro depois
de pedirem para que os curiosos se afastassem e o
veículo saiu da frente do hotel em tempo recorde. Os
próximos minutos se tornaram um borrão. Senti como se
eu tivesse apagado, apesar de estar de olhos abertos,
encarando meus dedos arrebentados e sujos de sangue.
Sem que eu esperasse, meu pai pegou a minha mão
e começou a passar o lenço, que sempre carregava em
seu paletó, em cima dos meus dedos sujos. A maior parte
do sangue estava seca, mas ele não parou, limpando tão
cuidadosamente quanto fazia quando eu era criança e
ralava o joelho.
— Eu tenho tanto orgulho de você. — Sua voz grave
e levemente embargada soou pelo carro. — Sei que
nunca falei isso, sei que acabei me tornando um pai duro
demais, exigente demais e que acabei perdendo
momentos importantes da sua vida desde que entrou
para a faculdade. Acho que acabei fazendo com você o
mesmo que meu pai fez comigo. Ele queria que eu fosse
o seu reflexo e eu queria que você fosse o meu. Me
arrependo por ter ignorado todas as vezes que sua mãe
tentou me alertar sobre o modo como eu estava agindo,
por eu não ter parado para enxergar que vinha te
afastando cada vez mais. Depois que ela se foi, eu
apenas... Me perdi. Eu me perdi como você, Logan, só
que de forma diferente. Você se perdeu em meio às
bebidas e às festas e eu me perdi dentro de mim mesmo,
no trabalho, no meu modo irritantemente exigente, como
sua mãe dizia.
Ele parou por alguns segundos e percebi que seus
olhos estavam cheios de lágrimas, assim como os meus.
— Estou falando tudo isso agora, porque não quero
que se torne tarde demais entre nós dois também. Não
quero perder o meu filho como perdi a minha esposa. —
Meu pai chorou baixinho pela primeira vez desde o
enterro. Quantas vezes ele havia chorado sozinho? Por
mim, pela minha mãe, por tudo? — E eu senti muito
medo de perder você até aquela menina chegar.
— Avalon?
— Quem mais seria? — Ele sorriu de leve por entre
as lágrimas. — Ela te salvou uma vez e então, te salvou
de novo. Eu não queria enxergar, mas essa é a verdade.
— Do que está falando? — Meu pai voltou a limpar
os meus dedos, mas vi que ainda chorava. — Pai?
— Eu o ouvi perguntar para a sua irmã sobre uma
garota no dia do enterro da sua mãe. Você falou algo
sobre a chuva e sobre ter estado em uma ponte.
— Não. Eu não falei sobre a ponte. Eu falei sobre a
garota e a chuva, mas não sobre a ponte. — Aquela era
uma das poucas certezas que eu tinha sobre aquele dia.
Guardei a história sobre a ponte para mim, pois
Norah vivia me enchendo o saco para procurar um
psicólogo. Mesmo acreditando que tudo aquilo não havia
passado de um sonho, preferi não contar, pois não queria
que minha irmã se preocupasse com a possibilidade de
eu cometer alguma loucura contra a minha vida, apesar
de ter sentido essa vontade naquela noite em que soube
da morte da nossa mãe.
— É, acho que você não falou mesmo.
— Então como você sabe? — Tirei minha mão
debaixo da dele, obrigando-o a me encarar. — Como
você sabe sobre a ponte, pai?
— Avalon me contou. — Ele soltou a bomba
desarmada sobre o meu colo e a senti explodir bem na
minha cara. — Foi ela que te fez desistir de pular e que te
levou para casa naquela noite. — Seu soluço ecoou pelo
carro e, sem que eu esperasse, suas mãos me puxaram
em sua direção em um abraço apertado. — Eu não
conseguia me lembrar direito da menina que bateu no
meu portão de madrugada, alegando que estava com
você dentro do carro, porque... Meu Deus, Logan, eu
senti tanto medo! Você estava completamente apagado,
molhado pela chuva, sujo de vômito... Eu só conseguia
me lembrar que ela tinha os cabelos ruivos e do seu
pedido para que eu cuidasse de você. Ela me contou o
que você queria fazer e eu... Eu acho que nunca soube
como lidar com aquilo. Eu preferi acreditar que era
mentira... Eu fui um pai terrível. Eu sou um pai terrível,
Logan!
Eu estava atordoado. O peito do meu pai tremia
pelo choro incontido e minha cabeça rodava, tentando
processar toda aquela informação e puxar as memórias
daquela noite. Eu me lembrava da chuva e da ponte.
Lembrava-me da garota ao meu lado e da forma como foi
insistente e cuidadosa. Lembrava-me perfeitamente das
suas palavras:
“Foi uma noite difícil para mim também.”
“Sabe do que eu tenho medo? De viver o resto da
minha vida sentindo medo. Creio que seria um
desperdício e tanto.”
“— Só... Fica quieta — pedi.
— Para deixar que as vozes na sua cabeça falem
mais alto do que eu? Não mesmo. Eu sei como elas
podem ser poderosas, mas, sabe de uma coisa, atleta
cheio de equilíbrio? Somos mais fortes do que ela. Somos
mais fortes do que tudo. E mesmo que hoje você se sinta
fraco e que amanhã ou depois você continue achando
que não tem força, você vai perceber que tem, sim. E
então, quando você se der conta disso, ninguém vai
poder te parar.
— Isso é quase um parágrafo de livro de autoajuda.
— Bem brega, por sinal.
— Muito.
— Mas funciona, acredite em mim.
— Por que eu faria isso? Eu nem te conheço.
— Por isso mesmo. Se nós dois conhecêssemos um
ao outro, você poderia pensar que estou aqui porque
tenho medo de te perder, mas não é esse o caso.
— E por que você está aqui?
— Porque não quero que você se perca, pelo menos
não definitivamente. Vamos lá, estrelinha dourada,
mostre para mim que você tem equilíbrio de sobra e
desça do guarda-corpo comigo.”
Estrelinha dourada. Meu Deus, Avalon!
“— Você vai se encontrar com ela um dia. E então,
você vai ter várias histórias para contar a ela. Coisas
incríveis, que eu tenho certeza de que ela vai querer
saber com detalhes. Vocês vão sorrir juntos e se abraçar
de novo. Vai ser muito especial, eu juro. Confie em mim.”
Eu confiei.
Eu confiei naquela noite e vinha confiando todos os
dias desde então. Desde que a vi dentro do meu quarto e
fui um cara escroto do caralho com ela.
Antes mesmo de eu saber, meu coração confiou em
Avalon, porque, de alguma forma muito louca, ele
sempre soube que ela era nossa. Nossa garota para
amar, cuidar e confiar.
— Por que não me contou isso antes, pai? —
perguntei, me afastando do seu peito. Ele tocou a minha
nuca e apertou de leve.
— Porque, como eu disse, eu não tinha certeza se
era ela ou não. Só descobri naquele almoço lá em casa. A
forma como me encarou... Foi bem peculiar, da mesma
forma como falou comigo naquela noite.
— Você devia ter me contado. Esse almoço
aconteceu semanas atrás!
— Eu sei, mas percebi que Avalon não tinha contado
para você também, então decidi deixar nas mãos dela a
decisão de te falar ou não.
Ela não tinha falado nada. Puta merda, fui um
babaca com ela no começo de tudo e Valente nunca deu
a entender que tinha cuidado de mim em um momento
tão particular. Eu deveria saber que Avalon jamais faria
isso. Não era do seu feitio usar a dor de alguém em
benefício próprio.
— Por que mudou de ideia?
— Porque, depois de hoje, eu entendi que a vida de
vocês está mais interligada do que nunca. Eu não
acreditava em destino, mas acho que agora acredito. Sua
mãe estaria rindo da minha cara agora e falando “eu te
avisei”. — Contra todas as possibilidades, meu pai riu.
Ele riu de verdade. E foi bom pra caramba assistir.
Puxei-o para um outro abraço, sentindo toda a nossa
animosidade ficar para trás.
— Na verdade, ela deve estar rindo de você — falei
ao me afastar.
— Com certeza, mas acho que ela está feliz,
principalmente. Afinal de contas, ela também salvou uma
vida muito importante depois que partiu.
— Do que está falando?
Percebi que estávamos entrando em casa e só
então me dei conta de que alguém estava guiando o
carro. O Bentley do meu pai tinha aquela frescura de
separar a parte de trás do veículo, dando privacidade ao
passageiro, por isso, não fazia ideia se ele tinha ido até o
hotel com algum segurança ou se era Philipe quem
estava ao volante.
— Sei que vai ficar puto comigo, mas investiguei a
vida de Avalon depois daquele almoço.
— Pai! Puta que pariu, não acredito!
— Fica calmo, eu só queria ter certeza de que ela
era mesmo uma boa garota. Não ia usar nada do que
descobri contra ela. — Revirei os olhos ao ouvir aquilo e o
Sr. Miller II prosseguiu. — Enfim, acabei descobrindo que
a Aubrey passou por um processo de transplante de rim.
— Sim, eu sei disso. O que é que tem?
— A data da cirurgia da menina foi muito próxima
da morte da sua mãe, Logan. Realmente muito próxima,
algo em torno de dois dias depois. Então, entrei em
contato com Richard, diretor do hospital onde sua mãe
ficou internada aqui no Alabama e onde ocorreu a
cirurgia da irmã de Avalon. Sei que o tipo de informação
que pedi a ele é confidencial, mas, como somos amigos
de longa data, Richard abriu uma exceção e me
confirmou ontem de manhã que o rim que Aubrey
recebeu, era da sua mãe.
— O... O quê?
A pergunta havia escapado de forma automática,
pois eu estava completamente em choque. O carro parou
em frente à nossa casa e vi Avalon pela janela. Ela
estava sentada nos degraus que levavam à porta da
mansão e se levantou toda desajeitada, ainda chorando
e parecendo estar desesperada.
— Sua mãe salvou a vida da irmã de Avalon, Logan
— meu pai tocou em meu ombro, mas não consegui tirar
os olhos de Valente. Ela desceu a escada correndo,
parecendo louca para me ver. — Se você tinha alguma
dúvida de que essa garota é a mulher da sua vida, é
melhor que não tenha mais.
Eu não tinha. Desde que beijei Avalon pela primeira
vez, eu sabia. Porra, no fundo do meu ser, minha alma já
sabia no momento em que ela me encontrou na porcaria
daquela ponte!
Não consegui responder ao meu pai, apenas saí do
carro e encurtei completamente a distância que me
separava de Avalon, tomando-a em meus braços. Nosso
beijo teve gosto de lágrimas, desespero, amor, saudade
e esperança.
Ah, Valente...
Minha Valente.
Agarrei a minha garota entre os meus braços e
prometi a mim mesmo que não a soltaria nunca mais.
— Nunca mais me dê um susto como esse, ouviu?
— Tomei o rosto de Logan em minhas mãos e beijei cada
centímetro de pele que minha boca conseguiu alcançar.
Ele estava suado, mas não me importei. — Você ouviu,
Logan?
Afastei seu rosto do meu e ele concordou
lentamente com a cabeça. Percebi que chorava, assim
como eu, e que me olhava de forma diferente. Era como
se quisesse me falar um monte de coisas, mas estivesse
exausto. Eu imaginava que realmente estava.
— Por que vocês não vão lá pra cima? — O pai de
Logan parou ao nosso lado de repente. Eu estava tão
desesperada, que havia me esquecido completamente
de que ele também estava dentro do carro. — Seu quarto
está arrumado, Logan. Tome um banho, enquanto
providencio remédio e gazes para cuidar das suas mãos.
Dei um passo para trás, ficando assustada ao tomar
as mãos de Logan nas minhas. Sua pele estava suja de
sangue e as falanges estavam praticamente em carne
viva.
— Meu Deus, Logan... O que você fez?
— O que você acha que eu fiz? — murmurou. Senti
o meu coração disparar e olhei para o Sr. Miller em busca
de uma resposta mais clara.
— Ele... Ele matou...
— Não. — Soltei o ar que estava prendendo,
sentindo minhas pernas ficarem bambas de alívio. — Mas
deu uma lição naquele filho da puta que ele nunca mais
vai esquecer. Agora, eu vou cuidar pessoalmente para
que ele pague na justiça por todo crime que já cometeu,
inclusive, o que fez com você ontem à noite. — O pai de
Logan me pegou de surpresa ao acariciar gentilmente as
minhas costas. — Você foi muito corajosa ao denunciá-lo
da primeira vez, Avalon. Quero que saiba que você não
está mais sozinha.
— Obrigada. — Agradeci sinceramente, tentando
parar de chorar.
Como vítima de um relacionamento abusivo e de
violência doméstica, eu sabia como era difícil dar o
primeiro passo e pedir por ajuda. Na primeira vez, o fiz
muito mais por Aubrey do que por mim, mas, agora, eu
denunciaria Tucker novamente tendo a certeza de que
estava fazendo aquilo para me proteger. E para proteger
outras mulheres que tivessem o azar de cruzar o seu
caminho e despertar a sua obsessão.
Sr. Miller apertou o ombro do filho e voltou a
reforçar que deveríamos ir para o seu quarto. Logan
estava meio aéreo, por isso, eu tomei as rédeas da
situação, pegando em seu pulso, pois seus dedos
estavam machucados, e levando-o para dentro de casa.
Norah veio correndo abraçar o irmão e sua avó veio logo
atrás. As duas o encheram de perguntas, mas o Sr. Miller
disse que explicaria tudo a elas e pediu para que
deixassem Logan tomar um banho.
Subimos a escada e, no segundo pavimento, Logan
me guiou até o seu antigo quarto. Ainda tinha a
aparência de um quarto de adolescente — um
adolescente bem rico —, com as paredes pintadas de
azul e cinza, vários troféus em prateleiras e pôsteres de
jogadores de futebol americano. Não consegui prestar
mais atenção no ambiente, pois Logan logo me levou
para o banheiro da suíte. Havia uma banheira no canto,
perto do box.
— Como faço para ligar aquilo ali? — perguntei,
apontando para ela.
Logan foi me passando as instruções e eu liguei a
banheira, usando uma essência de banho para perfumar
a água, já que sais estavam fora de cogitação por conta
dos seus dedos machucados. Assim que começou a
encher, voltei a me aproximar dele e o ajudei a tirar a
camisa suada, percebendo, apenas naquele momento,
que estava respingada de sangue, e parti para a calça
enquanto ele chutava os sapatos para longe.
Tentei imaginar como ele havia conseguido
encontrar Tucker e como tinha deixado a cara daquele
idiota. Pelo estado da sua mão, com certeza o rosto dele
havia ficado pior, e eu fiquei feliz, apesar de estar muito
preocupada com Logan e morrendo de medo de que
aquilo o prejudicasse de alguma forma.
Ouvi duas batidas na porta e me afastei do jogador,
encontrando com a sua irmã no quarto. Norah me
estendeu uma maleta pequena de primeiros socorros e
me abraçou rapidamente, sussurrando em meu ouvido:
— Obrigada por cuidar dele.
Ela se afastou antes que eu pudesse responder e
saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Voltei para o
banheiro, encontrando Logan fazendo uma careta ao
lavar as mãos na pia.
— Não quero que você fique suja com o sangue
daquele filho da puta quando entrar na banheira comigo
— explicou quando me aproximei.
— Não vou entrar na banheira com você. Quero que
você relaxe enquanto eu limpo os seus machucados.
— Você pode fazer isso depois — disse Logan,
virando-se para mim. Suas mãos ainda molhadas
tocaram a minha cintura e me puxaram de encontro ao
seu corpo alto e forte. — Preciso ficar perto de você
agora, Valente. O máximo que eu puder.
Eu jamais conseguiria negar um pedido como
aquele, mesmo me sentindo um pouco envergonhada
por estarmos na casa do seu pai. Deixei que Logan me
ajudasse a me despir e fomos juntos para a banheira,
que estava cheia pela metade. O jogador se sentou e me
puxou para o seu colo, de frente para o seu corpo, me
dando um abraço apertado e escondendo o rosto entre
os meus seios. Não havia nada sexual ali, era como se
Logan estivesse buscando o conforto que precisava em
mim, assim como eu fazia com ele.
Não queria mais chorar, mas algumas lágrimas
teimosas encheram os meus olhos e molharam a minha
bochecha, conforme eu acariciava o cabelo macio de
Logan. Ainda naquela manhã, eu acreditei que nunca
mais estaria desse jeito com ele. Pensei que Tucker ia
estragar mais uma parte da minha vida e arrancar o
quarterback de mim. Sua ameaça ficou soando de forma
clara em meus ouvidos durante toda a madrugada,
espalhando o seu poder sobre a minha mente como fazia
quando estávamos juntos. Senti-me dominada por ele de
novo, só que daquela vez, foi de uma forma bem mais
cruel.
— Sinto muito — sussurrei entre os cabelos de
Logan, sentindo sua respiração entre os meus seios. —
Sinto muito por tudo, Logan.
Sentia-me culpada, mesmo sabendo que eu não
tinha nada a ver com a morte da sua mãe. O fato de
Tucker ser o responsável pesava muito forte sobre mim.
Com certeza tudo aquilo não havia passado de uma
coincidência, afinal, eu sequer conhecia Logan naquela
época, mas Tucker era meu ex-namorado e agora eu
estava envolvida com o quarterback. Tudo aquilo era
muito confuso. Tinha certeza de que o destino deveria
estar rindo da nossa cara naquele momento, achando
muito engraçado entrelaçar as nossas vidas daquela
maneira.
— Não se desculpe, você não tem culpa de nada,
Valente, pelo contrário.
Os lábios de Logan subiram pelo meu tórax até
alcançarem o meu pescoço. Ele beijou cada hematoma
provocado pelos dedos de Tucker, com uma delicadeza
que quase me fez chorar novamente.
— Você é uma vítima daquele desgraçado —
sussurrou, passando as mãos pelas minhas costas. —
Pode ter certeza de que cada soco que dei nele, foi
pensando em você. Queria ter feito muito mais, Valente.
Queria ter te conhecido bem antes. Eu nunca deixaria
que ele se aproximasse. Eu teria cuidado de você e da
sua irmã quando mais precisaram, faria de tudo para que
você nunca se sentisse sozinha ou acuada, assustada por
aquele verme. Ele jamais teria tocado em você.
Tomei seu rosto em minhas mãos e beijei sua boca
bem devagar, sentindo meu coração bater forte no peito.
Deus sabia como eu também queria ter conhecido Logan
antes. Tudo teria sido tão diferente.
— Você já fez muito por mim hoje — falei, passando
meu nariz sobre o dele. — Me desculpe por ter agido
daquela forma no carro, por ter falado todas aquelas
coisas. Era tudo mentira, Logan. Eu fiquei desesperada
quando Tucker me contou que o padrasto dele era dono
da SK Sports. Ele disse que se eu não me afastasse, faria
com que o padrasto dele arruinasse a sua carreira. Senti
medo de acabar prejudicando você de alguma forma. Eu
nunca iria me perdoar se isso acontecesse, porque sei
que o seu maior sonho é ser um jogador profissional.
— Eu imaginei que ele tivesse te chantageado de
alguma forma quando você confirmou que ele tinha
aparecido no bar ontem.
— Ele fez mais do que isso. Tucker conseguiu roubar
o meu chaveiro e ficou esperando por mim na escada.
Maeve já tinha ido embora àquela altura e eu fiquei
sozinha com ele.
— Poderia ter me ligado, Valente.
— Pensei em fazer isso, mas ele me cercou, eu
fiquei sem reação. — Revirei os olhos para mim mesma,
como fazia na época em que estávamos juntos, me
sentindo uma estúpida. — Geralmente, eu sempre fico
sem reação perto dele e Tucker sabe disso.
— Ele é um covarde! — A voz de Logan saiu
entredentes. — Sequer reagiu quando parti para cima
dele, porque, com certeza, só sabe agir de forma violenta
com as mulheres. Com os homens, coloca a porra
daquele rabinho mimado entre as pernas.
— Ele é exatamente assim. — Tinha lembranças dos
seus ataques de ciúmes e de como partia apenas para
cima de mim, mas agia de forma alegre perto dos seus
amigos.
— Enquanto ele estiver solto, você e sua irmã vão
ficar na minha casa, ok?
— Tudo bem. — Não ia discutir sobre aquilo, pois
realmente não me sentia segura depois do que havia
acontecido ontem. — Você acha que o padrasto de
Tucker se aproximou de você por minha causa?
— Eu não sei, Valente. Talvez sim. Você não sabia
que a família dele era envolvida com esporte?
— Na época em que estávamos juntos, seu padrasto
tinha uma agência pequena e o nome era outro. Não me
lembro exatamente qual era agora.
— Smith Sports. — Concordei com a cabeça. Era
exatamente aquele o nome. — Teddy e Graham Kennedy
se tornaram sócios no ano passado, por isso, a agência
agora se chama SK Sports.
— Provavelmente, eu já não estava mais com Tucker
quando isso aconteceu. Eu tive poucas semanas para
arrumar a minha mudança depois que o denunciei. Só
queria sair de uma vez por todas de Los Angeles, pois
sabia que ele seria solto em breve e não queria mais
estar na cidade quando isso acontecesse. Não adiantou
muito, porque eu ainda estava morando lá quando ele
ganhou a liberdade, mas pelo menos não se aproximou
de mim até eu sair da cidade.
— Ficar comigo te colocou na mira dele de novo —
Logan concluiu.
— Eu sabia que isso poderia acontecer, mas pensei
que depois de todos esses meses, Tucker já teria se
esquecido de mim. Ele é popular na UCLA, vivia cercado
por garotas. Sua família conseguiu abafar a minha
denúncia e, quando ele ficou afastado da faculdade,
espalharam pelo campus que ele estava viajando. Ou
seja, mesmo preso, nada respingou nele.
— Eles não vão poder fazer isso agora, pode ter
certeza. Meu pai vai cuidar de tudo, Valente. Aquele filho
da puta vai pagar por tudo o que fez.
— Descobriram mais alguma coisa sobre ele, além
de ter causado o acidente da sua mãe?
— Meu pai disse que sim, mas não conseguiu me
dar os detalhes ainda. Espero que sejam crimes
suficientes para deixá-lo mofando na cadeia para
sempre.
— O padrasto dele tem muito dinheiro, Logan. Você
sabe que rico não fica preso por muito tempo.
— Eu concordaria com você se meu pai não fosse
Logan Miller II. — Logan me deu aquele sorriso de
moleque convencido, aquecendo o meu peito. — O velho
não vai descansar enquanto não fizer Tucker pagar por
todos os seus crimes.
— Seu pai nem é tão velho assim.
— Ah, não? — O quarterback arqueou uma
sobrancelha. — Está de olho no meu pai, Avalon?
— O quê? Claro que não! Seu nojento! — Logan riu
quando joguei água em sua cara, afastando-se um pouco
de mim. — Só estou falando que seu pai não é nenhum
idoso.
— Estou brincando, Valente. Sei que você gosta de
um novinho. — Apontou para si mesmo. —
Principalmente de um novinho que dá trabalho, afinal de
contas, você já vem me aturando há bastante tempo.
— Isso é verdade — concordei, sorrindo.
— Desde aquela noite na ponte. — Logan soltou de
repente, quase me fazendo engasgar com a minha
própria saliva. Ele passou a ponta dos dedos pelo meu
rosto, contornando desde a minha sobrancelha até o meu
queixo. — Por que não me disse que era você comigo
naquela noite, Valente?
— Você... Você se lembrou?
— Eu achava que era um sonho. Aquela noite ainda
é muito confusa na minha cabeça, lembro muito mais
das suas palavras do que da sua fisionomia.
— Então, como sabe que era eu?
— Meu pai me contou hoje.
Fitei-o, boquiaberta, lembrando-me do momento em
que parei em frente aos portões da sua casa pela
primeira vez. Eu tinha certeza de que Logan tinha me
dado o endereço errado, porque estávamos claramente
diante de uma mansão. Chovia muito e os seguranças
não me deram qualquer atenção quando eu disse que
estava com um morador daquela casa no meu carro. Na
época, eu não sabia o nome de Logan e ele estava
completamente apagado no banco do carona, portanto,
nenhum dos homens que falou comigo pelo interfone me
levou a sério, até um carro chique parar do nosso lado.
— Era o seu pai naquela noite?
— Sim.
— Eu não o reconheci. — Já tinha visto algumas
poucas fotos de Logan Miller II na internet naquela
época, mas não tinha gravado a sua fisionomia ainda. —
Aquela noite foi uma loucura. Eu tinha acabado de
chegar na cidade e precisava passar por aquela ponte
para poder ir para o bar da Maeve. Foi a minha irmã que
te viu sentado no guarda-corpo. Eu parei no acostamento
e tentei ligar para a polícia, mas meu celular estava
descarregado, então, fui até lá.
— Você nem sabia quem eu era?
— Não. Eu não fazia a menor ideia, só queria te
impedir de cometer aquela loucura. Eu estava me
borrando de medo, Logan. Toda vez que penso que me
sentei ao seu lado e que você poderia se jogar... Sinta
isso. — Peguei a sua mão com cuidado e encostei a
palma em meu peito. — Meu coração dispara.
— Tem ideia de que você me salvou naquela noite,
Avalon? — Ele continuou a sentir as batidas do meu
coração, que ficaram ainda mais aceleradas. — Eu estava
tão perdido, tão desolado... A única coisa que eu queria,
era me livrar daquele sentimento horrível e me encontrar
com a minha mãe, mas, de alguma forma, você
conseguiu transpassar a dor que eu sentia e me
convenceu a desistir. Eu confiei em você naquela noite,
Valente. Confiei cegamente e venho confiando desde
então, mesmo sem saber que era você comigo naquela
ponte.
Eu não sabia o que dizer, pelo menos não naquele
momento, por isso, tomei a boca de Logan na minha,
querendo que ele sentisse o quanto eu estava
emocionada através daquele beijo. Ele retribuiu
intensamente, acariciando de leve o meu pescoço e
descendo em direção aos meus seios e costelas, até
chegar em minhas costas e puxar o meu corpo para
ainda mais perto do seu. Pude sentir o início da sua
ereção, mas não fizemos nenhum avanço sexual, apenas
nos beijamos por longos minutos, até ele deixar o meu
lábio inferior escapar por entre os seus dentes.
— Eu nunca mencionei aquela noite, porque não
queria que você revivesse aquela dor. Confesso que
cheguei a pensar que você iria me reconhecer quando
descobri quem você era e que estudava na UA,
principalmente depois que nos aproximamos, mas como
nunca deixou transparecer nada, achei melhor ficar
quieta.
— Se eu tivesse te reconhecido, nunca teria sido o
cuzão que fui com você... Ou talvez eu fosse, porque
estava em um momento péssimo da minha vida. —
Logan sacudiu a cabeça, fazendo uma careta. — Sinto
muito por ter sido tão idiota, Valente.
— Eu também não facilitei.
— Sei que me tratava daquele jeito porque eu fui
um escroto primeiro.
— Verdade. — Sorri, vendo-o revirar os olhos. — Não
é muito louco que nós estejamos juntos agora, depois de
tudo isso? Parece que os nossos caminhos foram feitos
para se cruzarem, Logan.
— Eu acho que é exatamente isso, pelo menos, foi
no que passei a acreditar depois do que o meu pai me
contou quando estávamos no carro.
— Sobre a ponte?
Logan balançou a cabeça e simplesmente soltou a
informação na minha cara, sem ao menos me preparar
antes.
— Sobre a sua irmã ter recebido o rim da minha
mãe.
Minha boca caiu aberta, conforme eu sentia a minha
mente travar. Meus olhos se arregalaram tanto, que
cheguei a pensar que eles saltariam do meu rosto.
— O que você disse?
Não era possível. Aquilo simplesmente não era
possível... Ou era?
— Foi o que você ouviu. Meu pai é um pouco
paranoico sobre a nossa segurança e investigou a sua
vida. Sim, eu o xinguei por causa disso, pode ficar
tranquila — comentou rapidamente, mas não me
importei com nada daquilo. — Ele descobriu sobre o
transplante da sua irmã e desconfiou de que ela poderia
ter recebido o órgão da minha mãe por conta da
proximidade do falecimento dela e da cirurgia de
transplante. Minha mãe sempre deixou muito claro que
queria que todos os seus órgãos fossem doados, caso
houvesse essa possiblidade, então, o meu pai atendeu ao
seu pedido.
— Que ato bonito — falei, me sentindo tocada. A
mãe de Logan era, com certeza, uma mulher muito
especial. — Mas como o seu pai pode ter certeza de que
Aubrey recebeu o rim dela? Ninguém tem acesso a esse
tipo de informação.
— Meu pai é amigo do diretor do hospital e ele
confirmou tudo. Aubrey realmente recebeu o rim da
minha mãe, Valente.
— Meu Deus...
Eu estava chocada. Queria falar mais alguma coisa,
mas, o que eu poderia dizer diante de tudo aquilo? Não
havia palavras. Não havia nada que pudesse expressar o
que eu estava sentindo naquele momento, por isso,
abracei Logan bem forte. Meu coração estava tão
acelerado, que senti medo de que ele pudesse escapar
da minha caixa torácica. Em minha mente, só consegui
visualizar os momentos em que Aubrey e Logan
estiveram juntos, a rapidez com que se conectaram, o
carinho que o quarterback sentia pela minha irmã e que
ela retribuía de forma tão genuína. Lágrimas tomaram os
meus olhos, tamanha a emoção que senti.
— Acho que isso explica a ligação tão bonita que
você tem com a minha irmã — falei bem baixinho em seu
ouvido, antes de me afastar para poder olhar em seus
olhos. — Não sei se percebeu isso, mas vocês se
tornaram amigos tão rapidamente! E ela sempre gostou
de você, Logan. Lembra daquela noite em que fui atrás
de você depois que saiu do bar da Maeve?
— Aquela noite em que você me impediu de ir
embora dirigindo e ligou para James ir me buscar?
— Sim — respondi e Logan concordou com a
cabeça, deixando claro que se lembrava. — Foi Aubrey
que insistiu para que eu não te deixasse ir embora
sozinho. Mesmo sem nunca ter trocado uma única
palavra com você, minha irmã já se importava. Ela é
muito especial, eu sei disso, mas depois de toda essa
história... Não sei, só consigo pensar que vocês têm uma
ligação que nada neste mundo pode explicar. É algo
maior do que a nossa compreensão.
Os olhos de Logan ficaram marejados, mesmo
assim, ele sorriu.
— Eu amo a Aubrey da mesma forma que amo a
Norah e acho que agora consigo entender o porquê. —
Logan tomou o meu rosto em suas mãos. — Essa é a
primeira vez que eu vejo que houve algum propósito na
morte da minha mãe, Valente. É a primeira vez que eu
sinto que ela não partiu em vão.
— Logan...
— Também é a primeira vez que eu sinto que ela
está feliz, onde quer que esteja. Tenho certeza de que ela
está sorrindo de alegria por ter salvado a vida de Aubrey
e por vocês duas estarem comigo agora. Sua irmã ter
recebido o rim dela é uma forma de mostrar que minha
mãe sempre vai estar ao meu lado.
— É claro que ela vai estar sempre ao seu lado, meu
amor. — Beijei as suas bochechas banhadas por
lágrimas. — Obrigada por vocês terem realizado esse
pedido dela. Vocês salvaram a vida da minha irmã,
Logan. Se eu a perdesse... Eu nem sei o que seria de
mim. Nunca conheci o meu pai, e o de Aubrey morreu
antes mesmo de ela nascer. Ele e minha mãe tinham
apenas um caso, então, mesmo se estivesse vivo e a
reconhecido como filha, não acredito que eu teria muito
vínculo com ele. Aubrey é tudo o que eu tenho, é a
minha única família.
— Agora vocês têm a mim e a minha família
também, aos meus amigos... Nunca mais estarão
sozinhas, Valente. Eu prometo.
Eu sabia que era verdade. Nossas vidas estavam
entrelaçadas e algo me dizia que eu nunca mais me
sentiria sozinha de novo.
De um segundo para o outro, todo o esforço que fiz
para limpar a minha imagem nos últimos meses foi
jogado no lixo. Tudo isso porque alguém filmou a surra
que dei em Tucker e postou na internet. O vídeo viralizou
em poucas horas e a hashtag “quarterback agressor”
entrou nos trending topics do Twitter.
Logicamente, todos aqueles que estavam
compartilhando a porcaria do vídeo e dando a sua
opinião sobre o caso, não faziam a menor ideia do motivo
por trás daquela agressão, mas isso não significava nada
no mundo da internet. Uma mentira, quando contada
muitas vezes, acabava se tornando verdade, e a fofoca
se tornava muito mais interessante para os internautas
quando eles podiam inventar uma história por trás
daquilo que estavam compartilhando.
Muita gente estava falando besteira. Alguns
inventaram que eu e Tucker já tínhamos uma rixa na
época da adolescência, por ele ter jogado na posição de
quarterback em Los Angeles — sendo que eu sequer o
conhecia —, outros, descobriram que ele e Avalon tinham
namorado no passado e postaram que eu havia dado
uma surra nele por causa de uma crise de ciúmes. A SK
Sports se posicionou a favor de Tucker — claro — e
postou um tweet onde deixou claro que tomariam
medidas judiciais contra o que eu havia feito.
Pedi para que um dos nossos funcionários buscasse
Aubrey na escola, pois com certeza não seria seguro que
ela fosse para casa sozinha naquele momento, e passei o
resto da tarde reunido com o meu pai, Philipe, Avalon,
meus amigos, minha avó e Norah em casa, junto com
alguns de nossos melhores advogados e o meu social
media [13].
Philipe contou que havia descoberto que Tucker
havia cometido uma série de agressões e assédio contra
mulheres desde que saíra da cadeia e que uma modelo
chamada Elle Davis estava tentando processá-lo por tê-la
dopado e estuprado em uma festa. Sua amiga a havia
encontrado desmaiada e nua em um quarto, após ter
sido levada até o cômodo por Tucker.
Teddy vinha tentando abafar todos aqueles casos,
comprando o silêncio de algumas vítimas e tentando
fazer o mesmo com Elle, mas não estava obtendo o
resultado esperado. Meu pai logo montou uma estratégia
para entrar em contato com Elle e com as outras vítimas,
junto com Avalon, para que entrassem com uma ação
conjunta contra Tucker, sendo representadas por ele.
Para tentar diminuir, pelo menos um pouco, os
comentários sobre mim na internet, ficou decidido que eu
faria um vídeo explicando o motivo pelo qual agi daquela
maneira. Foi Avalon quem deu a ideia, reforçando que
poderia estar ao meu lado para explicar que Tucker era
um agressor, agindo daquela forma corajosa que eu
tanto amava. Como não queria que ela tivesse que se
expor tanto, preferi gravar o vídeo sozinho, citando
Avalon e o fato de ela já ter denunciado Tucker antes por
agressão e, mesmo assim, ele ter tido a coragem de se
aproximar dela mais uma vez.
Não foi fácil ter que falar tudo aquilo na frente de
uma câmera, mas o fiz sem hesitar. Por recomendação
do meu pai, deixei claro que a forma como agi não foi
correta, mas não consegui falar que tinha me
arrependido, pois não queria mentir. Qualquer pessoa
que tivesse ao menos um pingo de caráter e empatia, se
colocaria em meu lugar e teria feito o mesmo que eu —
talvez, teria feito até pior e matado Tucker de uma vez.
Will, meu social media, editou rapidamente o vídeo
e o publicou em todas as minhas redes sociais ainda
naquela noite. Decidi que eu só veria o resultado de tudo
aquilo no dia seguinte, pois estava exausto e precisava
ficar quieto um pouco, longe de toda aquela confusão.
Deixei que meu pai decidisse a melhor maneira de
conduzir todo o resto do plano e fui embora com Avalon,
Aubrey, Norah e meus amigos. A irmã de Avalon estava
visivelmente nervosa com tudo aquilo, por isso, assim
que chegamos em casa, fiz questão de abraçá-la
rapidamente e dar algum conforto para a garota.
— Não precisa ficar com medo, ok? Você e sua irmã
não estão mais sozinhas, nós vamos cuidar de vocês.
— Eu sei, só não acreditava na possibilidade de
Tucker se aproximar e tentar machucar Ava de novo. —
Aubrey olhou para Valente, que estava conversando com
Norah alguns metros à nossa frente. — Agora eu entendi
por que ela estava tão nervosa hoje de manhã. Eu
deveria ter ficado acordada até mais tarde ontem à
noite, se estivesse na sala, eu teria ouvido os dois juntos
lá embaixo e poderia ter ligado para você. Ele não teria
machucado a minha irmã mais uma vez.
— Não, Aubrey, não pense assim. ­— Voltei a abraçá-
la quando vi seus olhos ficarem marejados. — Você não
teve culpa de nada, assim como Avalon também não
teve. Aquele filho da pu... Aquele infeliz — achei melhor
não xingar muito na frente da menina. — é o único
culpado, entendeu? E agora, ele vai pagar.
— Promete, Logan? Promete não deixar Tucker
chegar perto da minha irmã de novo?
— Eu prometo. — Garanti, dando um beijo rápido
em seus cabelos antes de afastá-la para que Aubrey
pudesse limpar as lágrimas que molhavam as suas
bochechas. — Pode confiar em mim, Aub.
— Eu confio — ela sussurrou, me dando um
sorrisinho triste.
— Ei. — Avalon se aproximou e arregalou um pouco
os olhos ao notar a irmã. — Aub, por que está chorando?
— Porque ela está emocionada por estar aqui
conosco. — Foi James quem respondeu. Ele estava por
perto, devia ter ouvido a minha conversa com Aubrey.
— Fiquei sabendo que você gosta de cozinhar,
Aubrey — Benjamin disse ao entrar na sala.
— Sim, eu gosto. Não sei fazer muita coisa, mas
gosto de me arriscar seguindo receitas da internet.
— Eu também! — disse ele, me fazendo franzir o
cenho. Benjamin na cozinha era um desastre. O babaca
mal sabia bater um shake de proteína, sempre errava as
medidas.
— Adoro cozinhar também — James comentou.
Outro mentiroso do caralho.
— Que tal se a gente tentasse fazer uma pizza? —
Propôs Benjamin.
— Ah, meu Deus! Eu posso filmar? — Norah
perguntou ao se aproximar. — Preciso guardar esse
momento para a posteridade!
— Só se a Aubrey aceitar nos ajudar — disse Ben.
Aubrey tentou conter um sorriso animado e encarou
Avalon com os olhos parecidos com os do gato do Shrek.
— Eu posso, Ava?
— Contanto que não coloque fogo na casa, é claro
que pode.
— É mais fácil aqueles dois atearem fogo na casa,
acredite em mim — falei, abraçando Valente pela cintura.
— Idiota! Só por causa disso, não vai comer nem um
pedaço! — Benjamin me deu a língua ao invés de me dar
o dedo do meio, provavelmente, em respeito a Aubrey. —
Vamos lá, Aub! Vamos mostrar para esse babaca que nós
somos Masterchefs!
Foi bom ver a tristeza de Aubrey sendo substituída
por um sorriso enorme enquanto seguia para a cozinha
com os meus dois amigos idiotas e a minha irmã. Fiz uma
nota mental de agradecer aos três por terem tido aquela
ideia, pois sabia que só estavam tentando se aventurar
na cozinha, para distraírem a menina de toda aquela
situação.
— Seus amigos e sua irmã são incríveis. — Avalon
me abraçou pela cintura, com certeza, pensando a
mesma coisa que eu.
— Claro que são. Eu sou incrível, não poderia estar
cercado por pessoas diferentes de mim.
— Cala a boca, estrelinha dourada. — Ela riu e me
olhou nos olhos. Era bom ver que, assim como Aubrey,
Avalon já não carregava o mesmo peso de horas atrás. —
Logan?
— Sim?
— Eu amo você.
Eu nunca tinha levado um tiro — graças a Deus —,
mas o impacto que aquelas palavras causaram em meu
peito, com certeza, era bem parecido com o impacto de
uma bala penetrando o corpo e atingindo o coração. Fui
pego completamente de surpresa, no meio da minha
sala, por uma Avalon que me fitava com os olhos
levemente rasos d’água. Porra!
— Valente...
— E não estou falando isso só porque você me disse
hoje de manhã. Estou falando porque, depois de tudo o
que eu já passei, tinha certeza de que nunca mais
permitiria que outra pessoa mexesse com os meus
sentimentos ou entrasse no meu coração, mas você,
estrelinha dourada, acabou fazendo isso sem que eu
percebesse.
— E quando você percebeu que me amava?
— Ontem de madrugada, quando senti a dor de
perder você.
Olhei em direção à cozinha, ouvindo a risada dos
quatro reunidos no cômodo, e decidi deixá-los se virando
com a pizza para aproveitar aquele momento com a
minha garota. Já que Norah estava gravando tudo, eu
poderia rir da cara deles depois ao assistir o vídeo. Tomei
Avalon pela mão e fui com ela para o meu quarto,
pressionando-a de encontro à porta fechada depois que
girei a chave na fechadura. Meus dedos estavam
cercados por band-aids, mas isso não me impediu de
infiltrá-los nos cabelos de Valente e puxar o seu rosto
para perto do meu.
— Você nunca vai me perder — garanti baixinho.
Passei meu nariz levemente pelo de Avalon, sentindo a
sua respiração tocar os meus lábios. — Posso não ter o
dom de prever o futuro, Valente, mas de uma coisa eu
sei. — Dei uma mordidinha em seu lábio inferior,
ouvindo-a ofegar. — O destino fez de tudo para nos
colocar de frente um para o outro. Ele te reservou para
mim e eu me sinto um sortudo do caralho por conta
disso. Nunca vou desperdiçar o presente que me deu.
Jamais abrirei mão de você.
— Mas eu tenho medo, Logan. O pai de Tucker é
muito poderoso e ele te ameaçou. Eu vi no vídeo que
está rolando pela internet.
— Não importa. Eu largaria tudo, Avalon, inclusive a
minha carreira no futebol, apenas para ter você para
sempre na minha vida.
Aquilo, realmente, era algo que nunca pensei que
sentiria um dia. O futebol era a minha vida, sempre foi o
meu maior sonho, mas Avalon havia se tornado maior do
que qualquer coisa dentro de mim. Logicamente, eu
queria ter os dois, mas entre a minha carreira e aquela
garota... A minha escolha era óbvia.
— Você não vai precisar desistir da sua carreira —
Avalon garantiu, me olhando toda emocionada. — Vamos
lutar juntos para que isso não aconteça. Foi por causa
disso que nos aproximamos pela primeira vez, lembra?
Você vai ser um jogador de muito sucesso, Logan, eu
estarei na primeira fila para te aplaudir.
— Sim, eu tenho certeza disso, e estará carregando
um filho meu. É isso que eu quero para o nosso futuro,
Valente. Uma carreira de sucesso para nós dois e um
monte de filhos para nos deixar de cabelo em pé.
Avalon riu e eu beijei o seu pescoço delicadamente,
querendo muito que aqueles hematomas horríveis
deixassem a sua pele o mais rápido possível.
— Contanto que os filhos venham daqui a muitos
anos, está tudo bem.
— Quando você quiser, meu bem. Enquanto isso, a
gente vai praticando, afinal, essa com certeza é a melhor
parte de fazer um filho.
— Fica quieto, Logan.
Silenciei a sua risada com um beijo e senti a
necessidade de liberar toda a frustração daquele dia da
melhor forma possível: comendo a minha garota. Acho
que Avalon sentia o mesmo que eu, pois foi rápida em
me ajudar a tirar todas as roupas e soltou um gemido
arfante quando a levei para a cama, completamente nua.
Tive cuidado ao deitar a sua cabeça no travesseiro,
pois ela me confidenciou que a parte de trás doía um
pouco depois do que o filho da puta havia feito com ela
na noite anterior, e abri as suas pernas para mim,
observando a boceta linda ficando toda melada pela sua
lubrificação.
Nós dois gememos quando coloquei um mamilo na
boca e toquei entre os seus lábios delicados até acariciar
o clitóris. Infelizmente, eu não poderia penetrá-la com os
meus dedos, mas Avalon não pareceu se importar nem
um pouco com isso enquanto rebolava de leve o quadril
e arranhava minha nuca, pedindo para que eu
aumentasse a pressão no biquinho duro e delicioso do
seu seio. Mamei com vontade em cada um deles, até
sentir a minha ereção doer de tão dura que estava.
— Vem, Logan — Valente pediu, erguendo o quadril
em direção ao meu. — Eu quero você.
— Quanto? — perguntei, segurando meu pau duro
com uma mão e passando a glande babada pela sua
bocetinha gostosa. Avalon estremeceu quando
massageei a cabeça em seu clitóris inchado.
— Muito. Não me torture demais.
Não conseguiria nem se quisesse. Tomando seus
lábios nos meus para que seu gemido saísse abafado,
meti o meu pau em sua boceta, penetrando até restar
apenas as minhas bolas para fora. Avalon pareceu me
sugar em seu canal estreito, estremecendo e arranhando
minhas costas enquanto eu começava a comê-la
devagar. Minha língua acariciava a sua com paixão e
meus quadris comandavam o espetáculo lá embaixo,
ondulando para frente e para trás, metendo o meu pau
na boceta apertadinha de Valente.
Mordi seu lábio inferior com mais força do que
pretendia ao aumentar a velocidade das investidas. O
prazer me deixou cego por alguns segundos e apenas o
instinto me guiou, enquanto Avalon tentava controlar o
volume dos gemidos e acompanhava os movimentos
com os seus quadris. Senti seus espasmos em volta do
meu pau, ficando ainda mais estreita e me
enlouquecendo, massageando a glande sensível e todo o
meu comprimento enquanto eu entrava e saía.
Quando senti que estava prestes a gozar, saí do seu
interior e me ajoelhei aos pés da cama, puxando-a com
força pelo quadril. Avalon gritou de susto, mas acabou
mordendo a própria mão para controlar o gemido quando
caí de boca em sua boceta, enfiando minha língua em
sua entrada gostosa e esfregando meu nariz em seu
clitóris. Seu orgasmo chegou com força, fazendo-a fechar
as coxas em volta da minha cabeça e se contorcer pelo
colchão. Meu pau pulsava incontrolavelmente enquanto
eu a comia com a boca, a língua, os lábios e o nariz,
bebendo o seu prazer e quase gozando sem nem estar
metendo em seu interior.
Senti meu queixo e as minhas bochechas ficarem
melados enquanto roçava minha barba em seus lábios
sensíveis e sentia o tremor dos seus músculos. Dei uma
lambida longa em seu clitóris ainda durinho, chupando-o
delicadamente por alguns segundos, até sentir que eu
não poderia aguentar mais. Eu iria explodir se não
voltasse a estar dentro de Avalon.
Ergui-me e a virei de bruços, deixando-a com as
pernas para fora da cama e apenas a parte de cima do
seu corpo sobre o colchão. Mantive suas coxas fechadas
entre as minhas pernas e me masturbei rapidamente ao
observar os seus cabelos espalhados sobre o meu
edredom, as costas nuas e a bunda gostosa ficando
empinadinha para mim. Avalon virou o rosto em minha
direção e se empinou um pouco mais, apertando o
edredom entre os dedos.
— Vem — pediu manhosa. Seu rosto estava
vermelho e a sua expressão de estar sendo bem-fodida
me deixou ainda mais louco para gozar. Apesar do tesão,
decidi não meter de uma vez. Voltei a me abaixar e
separei as suas nádegas com as mãos, dando um tapinha
em cada uma antes de apertá-las entre os meus dedos e
lamber o seu cuzinho gostoso, que piscava todo excitado.
— Ah... Meu Deus, Logan!
Avalon tentou separar as coxas, mas não deixei,
descendo com a língua até a entradinha perfeita da sua
boceta. Penetrei ali de novo, metendo e tirando a ponta
dura da minha língua, até sentir a sua lubrificação descer
com mais força, preparando a sua bocetinha para um
novo orgasmo. Quando ela chamou desesperadamente
pelo meu nome de novo, me ergui e mirei a cabeça bruta
do meu pau entre os seus lábios vaginais por trás,
entrando apertado em sua boceta gostosa enquanto
mordia de leve a sua nuca.
— Como eu amo comer você — gemi baixinho em
seu ouvido, rebolando todo enterrado em seu interior,
quase gozando tamanha a pressão que sentia com as
suas coxas delicadas apertadas entre as minhas, bem
maiores e mais fortes. — Como eu amo você, meu amor.
Minha Valente gostosa.
— Só sua — ela gemeu baixinho, levantando um
pouco a cabeça e gemendo de olhos fechados. — Sou só
sua, Logan. Para sempre.
Eu sabia. Porra, como eu sabia!
Tomei a sua boca na minha e apertei seu quadril
com uma mão, apoiando a outra na cama para poder
foder a sua boceta com mais força. Engolimos os
gemidos um do outro enquanto o baque do meu quadril
em sua bunda ecoava pelo quarto, junto com o barulho
gostoso de coisa melada a cada vez que eu entrava e
saía do seu canal apertado. Avalon choramingou,
desesperada, e eu gemi mais alto, sentindo que não
poderia segurar mais.
O primeiro jato de porra a atingiu bem fundo na
boceta, no momento em que me enterrei ao máximo,
com toda a minha força. Não consegui ser delicado, mas
acho que Valente não queria que eu fosse, pois começou
a gozar junto comigo, puxando o edredom e mordendo o
meu lábio inferior. Meti sem parar, prolongando o meu
orgasmo e o dela, sentindo meu pau pulsar em
desespero e sua bocetinha me sugar até o fundo.
Gostoso pra caralho. Porra, comer aquela garota
sempre seria gostoso pra caralho.
Parei todo enterrado na xoxota gostosa, respirando
fundo ao lamber a pele suada do seu pescoço. Valente
sorriu, relaxando completamente, enquanto eu voltava a
meter devagar, ainda duro e, com certeza, pronto para
mais uma rodada.
— Vou te comer de novo no chuveiro — avisei,
dando um tapinha em sua bunda. Valente riu de olhos
fechados.
— Você sabe que a gente precisa descer, não sabe?
— Você está ansiosa para comer aquela pizza? Se é
que vai sair alguma pizza daquela cozinha.
— É melhor que saia, porque você me deixou com
fome, Logan terceiro.
— Deixei? — Passei meu nariz pela sua bochecha,
sentindo o seu rosto subir e descer em um “sim” mudo.
— Meu pau também está com fome, então, vamos fazer
o seguinte: ele te come mais uma vez e, depois, eu te
alimento. O que acha?
— Acho que é uma ótima ideia.
Graças a Deus.
Saí de dentro de Valente e a peguei em meu colo,
ouvindo a sua risadinha enquanto a levava para o
banheiro da minha suíte, com o pau duro pra caralho,
doido para voltar para o casulo da sua boceta de novo.
Após o desastre feito na cozinha por Aubrey,
Benjamin e James, tivemos que pedir uma pizza por
aplicativo. Devoramos na sala, rindo ao assistir o vídeo
gravado por Norah. Era como se estivessem no meio de
uma guerra, com farinha de trigo para todo lado, James e
Benjamin brigando e Aubrey tentando colocar um pouco
de ordem naquela bagunça, ficando irritada por eles
estarem medindo tudo errado. Acho que, depois daquela
experiência, minha irmã com certeza descobriu que
trabalhava muito melhor sozinha.
Apesar de tudo, foi bom ver que ela se divertiu e
que estava mais leve. Sua tensão durante o dia foi nítida,
mas passar aquele momento na cozinha com os amigos
de Logan a distraiu completamente. Se aquele era o
objetivo dos dois, alcançaram com sucesso. Assim que
Aubrey subiu com Norah para dormir — ela ficaria no
quarto da irmã de Logan, pois a casa possuía quatro
suítes —, eu me aproximei de Benjamin e James e dei um
abraço apertado em cada um, agradecendo pelo que
haviam feito naquela noite pela minha irmã. Poderia não
ter muita intimidade com os dois ainda, mas já eram
muito especiais para mim.
Logan também os abraçou, agradecendo não só
pelo cuidado com Aubrey, mas por terem largado tudo
para passar aquela tarde ao seu lado. O treino em campo
foi cancelado por conta de toda aquela situação
envolvendo Logan, mas soube que os outros jogadores
ficaram no centro de treinamento para trabalharem na
academia com o preparador físico. Ben e James
simplesmente faltaram para poderem dar apoio ao
melhor amigo, me deixando com o peito aquecido ao ver
a união tão bonita que existia entre os três.
Conversei com Maeve por telefone, explicando
melhor tudo o que havia acontecido para ela e
agradecendo por seu apoio. Ela disse que eu poderia
ficar afastada o tempo que fosse necessário até tudo se
ajeitar e que poderia contar com ela para o que
precisasse.
Antes de dormir, já aconchegada a Logan, fiz uma
prece silenciosa, agradecendo a Deus por ter protegido a
nós dois e pedindo que não deixasse nada de ruim
acontecer com a carreira do quarterback. Pedi também
para que a justiça fosse feita e que Tucker pagasse por
tudo o que havia feito contra mim e todas as outras
mulheres que seu padrasto vinha tentando silenciar nos
últimos meses.
Ele era claramente um predador. Se continuasse
livre, com certeza chegaria longe demais e poderia
acabar com a vida de alguma mulher inocente —
inclusive a minha, já que ainda parecia ser obcecado por
mim.
Entendi que Deus havia ouvido a minha oração
quando acordei com a voz agitada de Logan falando pelo
celular. Tomei um susto, mas o seu sorriso animado fez
com que o meu coração começasse a desacelerar.
— Tudo bem! Claro, vou passar o recado para
Valente. Obrigado por tudo, pai. Também te amo. —
Logan desligou e se aproximou da cama a passos largos,
sentando-se ao meu lado e segurando as minhas mãos.
— Valente, o meu vídeo viralizou e um dos jornais mais
importantes do país publicou uma reportagem sobre o
Tucker, finalmente trazendo a público a sua prisão por ter
agredido você!
Eu fiquei em choque, mas Logan me mostrou a tela
do celular. Minha boca caiu aberta ao ver que seu vídeo
já tinha mais de dez milhões de visualizações em menos
de quinze horas de publicação apenas no Instagram. Ele
mudou a página e me mostrou a reportagem do jornal. O
jornalista conseguiu acesso à denúncia que fiz contra
Tucker no ano passado e à sua detenção que,
infelizmente, durou muito menos tempo do que deveria,
graças à influência do seu padrasto.
— Meu Deus! — Tomei um susto ao ouvir o toque do
meu celular. Logan me entregou o aparelho e vi que era
um número desconhecido.
— Provavelmente, são jornalistas querendo que
você dê alguma entrevista. Meu pai aconselhou para que
não os responda por enquanto, disse que é melhor
entrarmos primeiro com a ação conjunta com as outras
vítimas de Tucker. Todas com quem ele entrou em
contato, aceitaram denunciá-lo. Algumas já estão vindo
para o Alabama hoje mesmo.
— Claro. Eu não estava pensando em dar entrevista
alguma, acho que não vou querer me expor tanto assim.
Quero apenas que a justiça seja feita e que todos
conheçam quem é o Tucker de verdade.
— Isso vai acontecer, meu bem. — Logan me deu
um beijo longo e carinhoso, tocando o meu rosto ao se
afastar. — O fato de ele ter sido denunciado antes por
você, com certeza deu coragem para que essas mulheres
aceitassem o denunciar agora. É por sua causa, Valente,
que tudo isso está acontecendo. Você já está começando
a ajudar muitas mulheres que são vítimas de filhos da
puta como Tucker, sei que vai inspirar muitas pessoas
com a sua coragem e a sua força.
Não podia acreditar que Logan ia fazer eu começar
o dia chorando como uma doida, mas não pude conter as
lágrimas ao abraçá-lo.
— Eu sempre soube que era isso que eu queria
fazer, ajudar mulheres que passam por qualquer situação
de vulnerabilidade. Eu cresci vendo minha mãe lutar
sozinha para cuidar de duas filhas, Logan. Ela batalhou
muito e sempre me disse que eu não deveria ter medo
de nada, que eu deveria ser forte e corajosa para
enfrentar qualquer adversidade. Foi o que fiz quando ela
se foi, quando me vi sozinha com a minha irmã doente e
quando Tucker chegou ao ápice da sua violência e me
bateu pela primeira vez. Não quero que mais mulheres
passem por isso sozinhas. Quero ajudar quantas eu
puder.
— E você vai, porque você é a mulher mais forte
que eu conheço. É a minha Valente — ele sussurrou,
emocionado, dando um beijo carinhoso em meus lábios.
— A garota mais foda do mundo.
Não sabia se eu era, mas, com certeza, continuaria
lutando para um dia ser.
As semanas seguintes poderiam ser definidas com
uma única palavra: caos.
Conheci todas as seis mulheres com quem Tucker se
relacionou nos últimos meses e que se tornaram sua
vítima. Elle Davis era a que tinha a denúncia mais grave
contra Tucker. Sua amiga a havia encontrado
desacordada no quarto e a levado direto para o hospital,
onde foi feito um exame que comprovou a substância em
seu organismo e o estupro. Havia câmeras no local da
festa, que gravaram Tucker entrando com Elle no quarto
— praticamente sendo arrastada por ele, pois mal
conseguia ficar de pé — e saindo vinte minutos depois,
sozinho.
Entramos com a ação conjunta e, diante de tantas
provas, a prisão de Tucker foi decretada. Vê-lo sendo
surpreendido na casa de Teddy em Los Angeles e saindo
algemado me fez gritar, literalmente, de felicidade. Uma
emissora de TV passou tudo ao vivo e não pude conter as
lágrimas de alívio.
Na internet, não se falava sobre outra coisa. Eu
ainda evitava dar entrevistas, mas algumas vítimas
quiseram contar tudo o que haviam sofrido nas mãos
daquele infeliz. A SK Sports sofreu inúmeras quebras de
contrato e Kennedy, sócio de Teddy, deixou bem claro
que a parceria entre eles estava desfeita. Inclusive, ele
conversou pessoalmente com Logan, se desculpando por
tudo e deixando bem claro que não sabia que Tucker era
meu ex-namorado, muito menos que havia tentado usar
o nome da empresa para ter qualquer tipo de vantagem.
Acreditamos nele, porque não achávamos que um
homem sério como Graham Kennedy iria se sujeitar a
participar de uma chantagem feita pelo enteado do seu
sócio. Sobre Teddy, não sabíamos se ele estava ciente ou
não dos planos de Tucker, mas eu não duvidava que
estivesse, já que o protegia de tudo e sempre dava um
jeito de abafar qualquer denúncia contra ele.
O homem mais velho não tinha filhos e, pelo que eu
sabia, era casado com a mãe de Tucker desde que o
infeliz era adolescente. Com certeza, o via como um
filho, o que, claro, não justificava o fato de passar a mão
pela cabeça daquele abusador, mas explicava a sua
atitude de sempre dar um jeito de abafar as merdas que
ele fazia.
Em meio a tudo isso, a temporada de futebol
continuou avançando e algo surpreendente aconteceu: o
pai de Logan começou a ir em cada jogo do filho. A
relação dos dois vinha melhorando cada dia mais e a
felicidade do quarterback era genuína. Seu pai estava
finalmente aceitando que ele queria ser um jogador
profissional e apoiando a sua escolha. Eu estava
imensamente feliz por Logan, pois sabia que ele merecia
reconstruir a sua relação com o pai e estreitar cada vez
mais os laços que tinha com ele.
Com a prisão de Tucker e o seu julgamento prestes
a ser marcado, pude voltar para o meu apartamento com
Aubrey — apesar da insistência de Logan para que eu
fosse morar de vez com ele — e focar na faculdade, pois
as provas estavam chegando. Aubrey e eu passamos o
Dia de Ação de Graças com a família de Logan e nos
divertimos muito durante o almoço em frente à piscina.
Sentia que Miller — única forma que encontrei para
me referir ao pai do quarterback, pois eu simplesmente
não conseguia chamá-lo de Logan e ele havia insistido
para que eu deixasse o “senhor” de lado — gostava
verdadeiramente de mim e da minha irmã. Nossa
proximidade se tornava cada dia maior e Aubrey, com o
seu jeitinho todo expansivo e simpático, logo conquistou
a todo mundo. Talvez, por ela carregar um pedacinho de
Agatha Miller — mãe de Logan —, todos ali sentissem por
ela um carinho ainda mais especial.
— Valente!
Eu estava concentrada, terminando de ler o último
parágrafo do texto que escrevi para apresentar o
seminário ao lado de Logan — o que aconteceria dali a
exatamente quarenta e cinco minutos —, quando o
quarterback surgiu de repente em frente à mesa que eu
ocupava na biblioteca. Os poucos alunos a nossa volta o
encararam, uns com curiosidade, outros com raiva por
ele estar atrapalhando o silêncio. Eu estava ansiosa com
a apresentação do seminário, portanto, ver a agitação de
Logan só me deixou mais nervosa ainda. Sem conseguir
me conter, me levantei.
— O que houve? Por favor, não me diga que
esqueceu de imprimir a parte escrita do trabalho, Logan!
— Claro que não, está aqui. — Ele colocou o
trabalho impresso sobre a mesa e me puxou pela mão.
Senti a sua palma suada e fiquei preocupada.
— Você está se sentindo bem? Está tremendo e
suando frio, Logan!
— Shiu! — Um menino murmurou com a cara
amarrada. Segurei-me para não dar o dedo do meio para
ele.
Recolhendo rapidamente as minhas coisas de cima
da mesa, Logan me puxou pela mão e me levou para os
fundos da biblioteca, entrando na sala pequena que era
usada como almoxarifado. O jogador passou a chave e
deixou todas as nossas coisas sobre uma mesa que havia
ali perto, aproximando-se de mim em seguida com o
celular na mão.
— Saiu a lista, Valente!
— Lista? Que lista?
— A lista de indicados para o prêmio Heisman!
Pensei que meu coração ia parar na boca.
— Ah, meu Deus! Logan! E então? Você foi indicado,
não foi? — perguntei, quase arrancando o celular da sua
mão. — Fala logo!
Seu sorriso enorme foi a minha resposta. Antes que
ele abrisse a boca, eu já estava me jogando sobre o seu
colo, ouvindo-o soltar uma risada alta enquanto eu o
prendia pela cintura com as minhas pernas.
— Eu fui indicado, Valente! Eu fui indicado, porra!
Graças a Deus estávamos trancados naquela sala,
ou seria capaz de o aluno chato partir para cima de nós
dois com o escândalo que estávamos fazendo. Tomei o
rosto do quarterback em minhas mãos e o beijei mil e
uma vezes, na testa, nas sobrancelhas, na ponta do
nariz, nas bochechas, até alcançar a sua boca. Eu estava
tão feliz por Logan, que sentia que meu coração poderia
explodir!
Semanas atrás, se alguém me perguntasse se eu
sabia o que significava o prêmio Heisman, eu com
certeza diria que não. No entanto, quando se namora um
quarterback tão incrível quanto Logan e vê o jogador
fazer uma temporada tão impecável quanto ele vinha
fazendo, você começa a entender melhor sobre todas as
nuances do esporte.
O Troféu Heisman era o prêmio anual dado para o
melhor jogador de futebol universitário da temporada. A
atuação de Logan estava impecável e ele havia
conseguido repetir aquele touchdown incrível do primeiro
jogo em uma das suas últimas partidas. As chances de
ele ser um dos indicados ao prêmio eram enormes e
estávamos ansiosos para que a lista saísse logo.
— Eu ainda não consigo acreditar, Valente! — Logan
me colocou no chão e tocou a testa na minha. Ele estava
ofegante e o sorriso não saía do seu rosto. — Depois de
tudo o que aconteceu no último ano, acreditei que eu
faria uma temporada mediana, apesar de saber que
daria o meu melhor. Nunca pensei que eu conseguiria
jogar tão bem, menos ainda que seria indicado para o
prêmio.
— Sempre soube que você seria indicado. Você
merece demais, meu amor. — Beijei de novo a sua boca,
mal conseguindo me conter de tanta felicidade. — Se
dedicou muito, vem dando um show em campo a cada
jogo, está chamando cada vez mais a atenção da mídia
com o seu talento. Achou mesmo que não seria indicado?
— Não queria nutrir falsas esperanças, mesmo com
a Dra. Samantha tentando trabalhar essa parte comigo.
Logan finalmente havia aceitado a começar a
frequentar um psicólogo há algumas semanas. A Dra.
Samantha Stuart era psicóloga do time do Crimson Tide e
alguém que Logan já conhecia, por isso, se sentiu
confortável em começar a se consultar com ela. Eu tinha
finalmente conseguido estabilizar as minhas finanças e
comecei a me consultar com uma psicóloga incrível
chamada Penelope Lovell.
Era bom estar sendo acompanhada por uma
profissional naquele momento tão conturbado da minha
vida, tendo que lidar com o assédio da mídia — que
ainda não tinha desistido de me fazer dar entrevista — e
a ansiedade pelo julgamento de Tucker, que só
aconteceria em meado de janeiro. Ele seguia preso, o
que me deixava aliviada, mas sentia que só conseguiria
ficar em paz depois que ele fosse julgado e condenado a
muitos anos de prisão.
— Acho melhor você deixar tudo isso de lado e
começar a aceitar que é um jogador espetacular.
Inclusive, é melhor que deixe um espaço reservado
naquela sua prateleira de troféus, pois eu tenho certeza
de que esse prêmio vai ser seu.
Logan sorriu e caminhou comigo até encostar as
minhas costas na parede ao lado da porta. Havia uma
estante cheia de pastas de documento ao nosso lado e a
poeira quase me fez espirrar.
— O melhor prêmio de todos já está bem aqui, nos
meus braços — sussurrou, dando um beijo em meu
pescoço e me arrancando uma risada.
— Ah, não! Isso foi tão brega, Logan Miller III!
— O amor me deixa brega, o que eu posso fazer?
— Nesse momento? Você pode me beijar —
respondi, erguendo o meu rosto em sua direção. — Estou
um pouco nervosa com o seminário, acho que um beijo
seu vai diminuir a minha ansiedade.
— Não sei por que está nervosa, se nós vamos
arrasar hoje. — Seus lábios tocaram os meus, me
deixando toda arrepiada. — Mas eu posso ser o seu
remédio e curar a sua ansiedade, Valente.
Brega.
Brega demais.
Mas eu amava aquele quarterback gostoso,
abusado e que tinha um jeito todo peculiar de ser
romântico.
Logan me beijou, lentamente no começo, mas foi
aumentando a intensidade até me deixar louca de tesão.
Senti a sua ereção no pé da minha barriga, gemendo em
sua boca quando levantou a minha saia e colocou a
minha calcinha de lado, tocando-me devagar.
— Vou te deixar bem calminha, Valente —
sussurrou, dando uma mordidinha no meu lábio inferior
antes de me virar de frente para a parede. Segurei forte
em uma das prateleiras da estante quando o senti
pressionar a cabeça do pau em minha entrada.
— Logan... E se alguém nos pegar? — Ainda tive a
clareza de perguntar.
— Se você gemer bem baixinho, ninguém vai
descobrir que eu estou te comendo gostoso aqui dentro.
Sua mão grande tampou a minha boca assim que
começou a me penetrar. Fechei os olhos com força,
quase me desmanchando de encontro ao seu corpo
conforme Logan começou a me comer. Seus lábios em
meu pescoço e minha nuca me deixaram louca e o
barulho do seu quadril batendo contra a minha bunda
começou a ecoar pela sala pequena.
— Porra! Que delícia, Valente.
Logan saiu de dentro de mim e me virou de frente,
segurando meu pescoço com uma mão e levantando
minha coxa com a outra antes de voltar a me penetrar.
Adorava quando me comia por trás, mas daquele jeito
era, com certeza, o meu preferido. Eu poderia beijá-lo e
sentir o seu osso púbico roçar em meu clitóris quando ele
rebolava em meu interior, me deixando doida.
O quarterback engoliu todos os meus gemidos e
meteu curtinho em minha boceta, mantendo-me presa
pelo pescoço da forma que sabia que eu gostava.
Precisei arranhar as suas costas ao sentir a pressão
iminente do orgasmo, pressionando meus seios sensíveis
em seu peitoral.
— Goza pra mim, Valente, e geme bem baixinho, só
para eu ouvir — pediu e eu obedeci.
Seu nome escapou abafado dos meus lábios em
direção aos seus, enquanto eu gozava bem gostoso no
seu pau. Logan não parou de meter, me beijando forte e
apertando o meu pescoço a cada investida em meu
interior.
— Vou gozar e você vai apresentar o trabalho com a
minha porra dentro dessa boceta. Ouviu, meu bem? —
Concordei com a cabeça, quase gozando de novo só com
o som rouco da sua voz. Logan aumentou o movimento
do quadril, estremecendo quando começou a gozar forte
em meu interior. — Caralho! Nossa, como eu amo você,
Valente...
Engoli os seus gemidos e estremeci junto com ele
quando parou no fundo da minha boceta, pulsando bem
gostoso e me deixando toda melada.
Foi maravilhoso, como sempre. Ainda mais sensual
por conta de onde estávamos. Logan me beijou devagar,
quase me fazendo esquecer de tudo e pedir por uma
próxima rodada, quando tive um estalo. O seminário!
Puta merda!
— Logan! Nós vamos nos atrasar!
Ele arregalou os olhos e saiu de dentro de mim,
colocando a minha calcinha no lugar antes de puxar o
celular do bolso.
— Puta merda, temos cinco minutos!
Nem tive tempo de ajeitar o cabelo ou desamassar
a minha roupa. Pegamos todas as nossas coisas e saímos
do almoxarifado correndo. Agradeci mentalmente por
não encontrarmos ninguém pelo caminho até a saída e
corremos até o prédio de Direito — Logan bem mais
rápido do que eu, mas ele pelo menos estava carregando
a maior parte das nossas coisas.
Fomos direto para a sala onde aconteceria a
apresentação dos trabalhos e paramos ofegantes ao
encontrarmos com Norah, Benjamin, James, a avó e o pai
de Logan na porta, prestes a entrar. Os cinco nos
olharam de forma esquisita e eu senti o meu rosto
queimar de vergonha. Ainda bem que tínhamos chegado
correndo, isso explicaria a vermelhidão que com certeza
tomava conta das minhas bochechas.
— Onde vocês estavam? — O pai de Logan
perguntou.
Ótimo dia para o seminário ser aberto aos familiares
dos alunos!
— Tinha esquecido a parte escrita no carro e fomos
correndo buscar — Logan inventou uma desculpa e eu
esperava que tivesse sido convincente o bastante.
Passamos na frente deles, afinal, éramos os alunos
atrasados, e ocupamos o nosso lugar na primeira fileira.
A sala de apresentação se assemelhava a uma sala de
teatro, só que bem menor, com um palco pequeno onde
apresentaríamos o trabalho.
— Como eu estou? — perguntei a Logan,
aproveitando que todas as luzes ainda estavam acesas.
O quarterback sorriu e passou a mão pelos fios
bagunçados do meu cabelo.
— Com cara de quem acabou de ser bem-fodida.
— Seu idiota!
Logan riu, mas não pôde falar mais nada pois a Sra.
O’Born tomou a palavra e chamou a primeira dupla que
iria se apresentar. Graças a Deus, não começava por nós
dois. Discretamente, o quarterback arrumou o meu
cabelo e se aproximou para sussurrar em meu ouvido:
— Você está linda, Valente, como sempre. Estou
louco para limpar essa bocetinha gozada com a minha
língua quando sairmos daqui.
Sorri, afundando-me um pouco na poltrona
enquanto cruzava as pernas. De repente, me vi ansiosa
de novo, mas por um motivo completamente diferente.
Mais duas duplas se apresentaram e logo a Sra. O’Born
nos chamou. Do palco, pude ver nossos amigos e os
familiares de Logan. Seu pai estava orgulhoso, apesar de
já saber que o filho não seguiria os seus passos no
futuro.
Senti o nervosismo me deixar quando comecei a
falar a minha parte e fiquei toda boba ao ver a confiança
de Logan quando tomou a palavra. Juntos, fizemos uma
apresentação impecável que durou mais ou menos
quinze minutos, tempo estipulado previamente pela
professora. Ela se aproximou com um sorriso orgulhoso e
nos deu um abraço animado.
— Parabéns, meus queridos! Vocês foram incríveis!
Eu não sabia se a professora estava dizendo aquilo
para cada aluno que terminava de se apresentar, mas
não pude conter a minha euforia. Logan e eu havíamos
conseguido! Minha nossa! Encontramo-nos com todo
mundo do lado de fora, quando todas as apresentações
terminaram, e recebemos abraços apertados de todos.
— Tem certeza mesmo de que não quer ser um
advogado? Você fez uma apresentação incrível, filho — o
pai de Logan ainda tentou insistir, mas vi em seus olhos
que só estava querendo perturbar o filho mais velho.
— Tenho certeza, pai. Eu só dou o meu melhor em
tudo o que me proponho a fazer — respondeu, todo
convencido.
— Você é um Miller, querido! Não podia ser
diferente! — Sua avó comentou com orgulho.
O pai de Logan se aproximou de mim e tocou em
meu ombro gentilmente, me dando um olhar um pouco
mais sério, apesar de manter o sorriso no rosto.
— Você foi formidável, Avalon. Gostei de ver a
seriedade em seu tom, seu domínio sobre o tema. Ficou
bem claro que você não havia apenas decorado o texto,
mas que entendia sobre o que estava falando. Foi
empolgante te assistir.
— Nossa, muito obrigada, Miller. Sua opinião é
muito importante para mim.
Tinha que confessar, eu ainda era um pouco tiete
de Logan Miller II. O cara era um dos melhores
advogados do país! E ele era meu sogro! Aquilo não era
incrível?
— Quero saber se posso ter você como estagiária
em meu escritório. — Ele soltou o convite de repente,
como se estivesse me chamando para ir com ele na
esquina comer um cachorro-quente e não me fazendo a
proposta da minha vida. — Quero que trabalhe
diretamente comigo. Não pense que estou te chamando
apenas porque é namorada do meu filho, pois sou muito
ético e responsável quanto a assuntos profissionais.
Estou te chamando porque vejo em você um potencial
gigantesco e quero que seja parte do meu time o quanto
antes.
Eu olhei boquiaberta para Logan, que me encarava
com um sorriso enorme e quase gritava para que eu
aceitasse. Seus amigos, sua irmã e sua avó me olhavam
do mesmo jeito, enquanto eu me sentia a maior boba da
história, com a sensação de que estava sonhando.
— Está mesmo falando sério?
— Lógico que sim. Não costumo brincar quando o
assunto é trabalho.
— Você não costuma brincar em momento algum,
pai — comentou Norah, rindo baixinho. — Aceita logo,
Avalon!
— Eu... Meu Deus, é claro que eu aceito! Desculpa,
é que sempre foi o meu sonho conseguir um estágio em
seu escritório, mas nunca pensei que isso fosse
acontecer um dia.
O pai de Logan sorriu e apertou o meu ombro mais
uma vez antes de se afastar.
— Seja bem-vinda ao meu time, Avalon.
Pensei que eu fosse desmaiar, mas Logan se
aproximou de mim e me pegou no colo, rodopiando feito
um doido no meio do corredor.
— Parabéns, Valente! Você merece essa
oportunidade! — Ele deu um beijo estalado em minha
boca e se virou para Miller. — Você vai ter ao seu lado a
estagiária mais foda do mundo, pai!
— Imagino que sim — respondeu ele.
Acho que Norah disse algo sobre estar atrasada
para a aula, mas Logan me beijou de novo, dispersando a
minha atenção. Bem baixinho, ele disse entre os meus
lábios:
— Podemos ir embora para comemorarmos as
conquistas de hoje na cama?
Nós tínhamos mais duas aulas, mas, depois de tudo
aquilo, eu não ligava para mais nada.
— Vamos logo, estrelinha dourada. Nos leve para
bem longe daqui.
Logan sorriu e atendeu ao meu pedido.
Janeiro de 2023

— Um, dois, três e já!


O time do Crimson Tide ergueu o troféu de
campeões da temporada de 2022 do futebol
universitário. Fogos soaram no céu e eu comemorei ao
lado de Norah, abraçando bem forte a minha cunhada ao
ver meu namorado e nossos amigos lado a lado, junto
com os outros jogadores.
Estava tão orgulhosa! Depois de conquistar o Troféu
Heisman em dezembro, Logan merecia encerrar aquela
temporada com chave de ouro. A vitória do Crimson em
cima da Georgia era a cereja do bolo. Ele deixou o troféu
com os meninos e se aproximou de mim, dando um beijo
intenso em minha boca.
— Parabéns mais uma vez, estrelinha dourada!
— Eu não teria conquistado nada disso sem você —
disse ele. A música começou a tocar bem alto, pois
aquela era a festa oficial de comemoração do time, mas
a voz de Logan soou bem clara em meus ouvidos. — Foi
a sua presença ao meu lado, Valente, que me
impulsionou a chegar até aqui. Eu te amo.
— Nós ajudamos um ao outro, meu amor. Eu
também te amo demais.
Seu beijo me deixou sem fôlego, mas logo tivemos
que nos separar quando fãs se aproximaram para pedir
foto com Logan. Eu me afastei um pouco, observando o
movimento intenso em sua casa e rindo baixinho ao me
lembrar da primeira vez que havia ido a uma festa
naquele lugar. Minha vida mudou completamente depois
daquela noite louca e eu era extremamente grata por
isso.
— Avalon? — Virei-me ao ouvir uma voz feminina
me chamando. Uma garota um pouco mais alta do que
eu, com os cabelos pretos e cacheados, se aproximou me
dando um sorriso tímido. Ela segurava um drinque e
estava linda com um vestido vermelho. — Desculpa te
incomodar. Eu me chamo Zoe.
Ela me estendeu a mão e eu a apertei, retribuindo o
seu sorriso.
— É um prazer, Zoe. Nós nos conhecemos?
— Não. Quer dizer, eu me sinto próxima de você, de
certa forma, apesar de não nos conhecermos
pessoalmente. — Ela fez uma pausa, parecendo respirar
fundo, e eu me aproximei um pouco mais. — É que a sua
história me encorajou a pôr um fim no meu último
relacionamento. O meu ex-namorado era abusivo, mas
eu sempre aceitava as suas desculpas após cada
discussão e agressão. Foi ao começar a acompanhar
você nas redes sociais, que encontrei forças para romper
aquele ciclo e denunciá-lo para a polícia.
Não consegui falar nada, apenas puxei Zoe para um
abraço, pois sabia que em momentos como aquele, um
gesto de carinho era mais importante do que qualquer
coisa que alguém poderia dizer. Assim que iniciei o
estágio com o pai de Logan, tive a ideia de criar uma
página no Twitter e abrir o meu perfil no Instagram para
poder ajudar outras mulheres a saírem de
relacionamentos abusivos.
A ideia deu muito certo, talvez pelo meu nome
ainda estar em evidência por conta da denúncia contra
Tucker. Consegui milhares de seguidores rapidamente e
vinha recebendo cada vez mais relatos de mulheres que
estavam se empoderando e criando coragem para sair
de relacionamentos abusivos. Como eu ainda não podia
advogar por ser estudante, Miller e eu começamos a criar
um projeto juntos. Uma ação social, onde reuniríamos
vários advogados para ajudar as vítimas que me
procurassem através das redes sociais e que não
tivessem condições de pagar por um profissional sério e
competente para defendê-las.
Ainda não havíamos começado, pois estávamos
vendo os últimos detalhes, mas em breve, anunciaríamos
o projeto para todo mundo. Eu estava animada e muito
confiante de que daria certo, principalmente agora que
Tucker havia sido condenado por assédio sexual, estupro,
violência doméstica e homicídio culposo, quando não
havia intenção de matar, pelo acidente da mãe de Logan.
— Fico muito feliz que você tenha dado esse passo,
Zoe — falei ao me afastar. — Espero que muitas
mulheres também tomem essa iniciativa. Se precisar de
qualquer coisa, basta falar comigo.
— Muito obrigada, Avalon. No momento, eu só
quero aproveitar a minha liberdade e ajudar outras
mulheres que passaram pelo mesmo que eu.
A empatia era o que movia o mundo. Pelo menos,
era o que eu acreditava. Zoe e eu conversamos por mais
um tempo, até ela precisar se afastar quando suas
amigas chegaram. Logan me puxou para um beijo e eu
deixei para contar sobre Zoe para ele no dia seguinte,
pois sabia que aquela seria a noite em que ele iria
extravasar pela primeira vez em longos meses. O
quarterback merecia. Afastei-me rapidamente dele para
usar o banheiro no andar de cima e acabei parando em
frente ao quarto de Norah quando ouvi a sua voz e outra
masculina.
— Essa é uma péssima ideia, Norah! Ficou louca? Se
seu irmão descobre, ele me mata!
Era a voz de James. Eu tinha certeza!
— James, por favor! Eu juro que Logan não vai nem
desconfiar! Eu só preciso que você me ajude a ser uma
garota normal!
— Você é uma garota normal.
— Uma garota normal estaria aproveitando essa
festa para beijar na boca, mas os garotos têm medo de
chegar perto de mim por causa do meu irmão!
— Seu irmão nem tem os ameaçado mais.
— Eu sei, mas todos eles parecem estar
traumatizados. Se você me ajudar, acho que isso vai
mudar. — Ela ficou alguns segundos em silêncio, mas
logo voltou a falar. — Eu só quero ser um pouco mais...
Sexy. Você podia me dar umas dicas, já que agora é
solteiro e vive ficando com meninas por aí. O que te atrai
nelas? Não é só a beleza física, tenho certeza!
Coloquei a mão na frente da boca, impedindo que
uma risada escapasse. Norah estava pedindo para que
James a ensinasse a seduzir os garotos da faculdade? Ah,
meu Deus!
Afastei-me antes de ouvir a resposta dele e entrei
no quarto de Logan, puxando o meu celular do bolso da
calça jeans. Digitei uma mensagem rápida para a minha
cunhada preferida:

Eu: Ouvi sem querer a sua conversa com James. Eu


AMEI! Estou preparada para te ver passando o rodo na
faculdade inteira, cunhada. Conte comigo!

Aquilo seria incrível. Logan iria morrer e eu iria me


divertir horrores, tinha certeza. Mal podia esperar para
acompanhar aquela história!
Que coisa boa saber que você chegou até o final
desse romance! É muito bom ter você aqui comigo mais
uma vez.
Estou fazendo essa segunda nota, porque quero
reforçar as mensagens passadas nesse livro.
A doação de órgãos é extremamente importante! Se
você quer ser um doador, deixe isso bem claro para os
seus familiares. Não estamos pensando em morte, mas,
sim, em vida. Há milhares de pessoas na fila de
transplante neste momento e eu acredito que a nossa
missão na Terra é sempre ajudar ao próximo. Espero que
a história da Aubrey tenha tocado o seu coração.
A violência doméstica é, infelizmente, um tema que
parece ter se tornado comum na nossa sociedade. Todos
os dias nos deparamos com casos de feminicídio e,
apesar do choque de saber que inúmeras mulheres
passam por isso, às vezes, fechamos os olhos quando
vemos alguma situação de abuso em nosso convívio. Não
ignore os sinais! Se você conhece alguma mulher que
está passando por essa situação, ofereça ajuda. Se por
um acaso você está passando por algo parecido, não
tenha medo, converse com alguém da sua confiança,
procure a polícia. Precisamos nos proteger e, claro,
protegermos umas as outras.
O luto é um tema delicado e muito sensível. Se você
conhece alguém que está passando por essa situação,
ofereça seu carinho e apoio. Se está percebendo que a
pessoa precisa de alguma ajuda em especial, converse
com ela e a ajude a procurar um profissional.
Espero que a história de Logan e Avalon tenha te
tocado para além do romance e das cenas quentes. Que
ela tenha te ajudado a ampliar os seus horizontes.
Muito obrigada por estar ao meu lado em mais uma
aventura. Até a próxima!
Com amor, Tamires Barcellos.
Sinto que agradecer sempre é fundamental,
principalmente neste livro, que está sendo lançado no
final de 2022, um ano que foi tão incrível para mim em
todos os sentidos!
Meu primeiro agradecimento vai para Deus, porque
eu sei que sem Ele, nada seria possível. Obrigada por
estar sempre ao meu lado, iluminando a minha mente,
me dando inspiração, me abençoando com esse dom e
me guiando por um caminho melhor. Te amo, Deus.
Mãe, obrigada por estar sempre ao meu lado,
mesmo estranhando quando eu te deixo vendo filme
sozinha aos domingos para poder escrever, hahaha. Te
amo muito, obrigada por todo o apoio e ser a minha
melhor amiga.
Luana, obrigada por estar comigo em todos os
momentos, aturando os meus surtos quando eu chego te
contanto sobre um novo enredo, mesmo sabendo que eu
só devo escrever em 2050. Te amo, migs!
Minha família, sei que vocês não vão ler isso aqui
(só minhas tias têm o hábito de leitura, mas só leem livro
físico, hahaha), mas agradeço mesmo assim por todo o
apoio e carinho. Amo vocês!
Bruna Pallazzo e Laryssa, minhas betas
maravilhosas e amigas, obrigada por estarem comigo e
por terem lido cada linha dessa história enquanto estava
sendo escrita e sem uma única revisão. Vocês são
guerreiras! Amo vocês!
Minhas parceiras maravilhosas, obrigada por todo o
apoio, divulgação e surtos! Ter vocês ao meu lado tornou
esse lançamento ainda mais especial.
Minhas meninas do WhatsApp, amo vocês!
E a você, leitor, que chegou até aqui. Muito
obrigada por estar sempre comigo, acompanhando e
divulgando cada lançamento. É por você que escrevo.
Espero te encontrar novamente muito em breve.
Com amor, Tamires Barcellos.
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universitário.
O que eu e Raymond King tínhamos em comum?
Isso mesmo que você pensou, nada.
Além de ele ser o popular da faculdade e eu ser uma estudante que
gostava de passar despercebida — apesar de fazer parte de uma
fraternidade —, Ray King se achava a última garrafinha de água do deserto
e fazia questão de alimentar a fama de pegador.
Eu só queria distância de caras assim.
O problema, é que o destino sempre gostou de brincar com a minha
cara e acabou me fazendo acordar na cama de King, no dia do almoço de
Ação de Graças. Como se isso não fosse a pior coisa que poderia ter
acontecido comigo, nossos pais nos flagraram juntos naquela situação
constrangedora.
Agora, por causa de uma impressão errada, eu estava no meio de
uma mentira, com Raymond King fingindo que era o meu namorado.
Tinha como piorar? Claro que sim, afinal, meu nome é Chloe
Davidson, sou uma azarada de marca maior e, talvez, eu esteja me
apaixonando por Ray King.
E esse era o pior — ou o melhor — erro que eu poderia cometer.
- Best Mistake é um livro único
- Romance para maiores de dezoito anos;
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A Chama Entre Nós
Criado desde os cinco anos de idade por Bruce Harlow, o Vice-
Presidente dos Flame Wolves MC, Damon Christ cresceu aprendendo a amar,
proteger e lutar pelo moto-clube que o acolheu quando ainda era uma
criança. Sua lealdade para com o patch que carregava era inabalável, só
não era maior do que uma única coisa: o seu amor por Madison, filha de
Bruce.
Dez anos mais nova do que ele, Damon viu Maddy nascer e se tornou
o seu protetor e melhor amigo. O sentimento genuíno que nutriam um pelo
outro servia de porto seguro para a vida violenta que Damon levava dentro
do moto-clube e era na companhia de Madison que ele conseguia encontrar
o seu equilíbrio, até começar a perceber que o amor que sentia pela
princesinha dos Flame Wolves estava se transformando em um sentimento
proibido.
Dividido entre a culpa por estar apaixonado pela filha do homem que
considerava como seu pai de coração e o desejo de assumir o que
verdadeiramente sentia por Madison, Damon se vê acorrentado pelo medo
de perder as duas coisas que mais importavam em sua vida: o clube e sua
garota.
Quando uma onda de ataques ao MC se inicia e uma guerra se
instaura entre os Flame Wolves e seus inimigos, Damon tem sua lealdade
posta em prova e se vê prestes a lutar a maior batalha da sua vida, da qual
tinha certeza de apenas uma coisa: ele sairia como um vencedor pelo clube
e pela sua garota. Ou morreria tentando.
- "A Chama Entre Nós" é o primeiro livro da série Flame
Wolves MC. Cada livro contará a história de um casal, no entanto, é
aconselhável que leia na ordem de lançamento;
- A história contém linguagem gráfica de violência, sexo e
palavras de baixo calão. Não recomendada para menores de 18
anos;
- Leia a nota da autora no início do e-book.
Leia aqui
Christian Wolf foi criado pelo seu pai para se tornar
o Prez dos Flame Wolves MC, perdendo boa parte da sua infância para a
violência e sendo moldado para lidar e exterminar qualquer tipo de ameaça
que pudesse colocar o seu clube em risco. Convicto de que sabia
exatamente como seria o seu futuro, Christian vivia para proteger o seu MC,
seus irmãos de patch, sua avó e Connor, seu irmão caçula, até Maya Cooper
aparecer em sua vida e despertar sentimentos que ele não sabia e não
queria lidar.
Mesmo sabendo que poderia ser um risco se envolver com qualquer
pessoa próxima aos Flame Wolves, Maya não consegue se afastar de
Connor, seu melhor amigo da faculdade. E, em um piscar de olhos, o que
era para ser apenas uma amizade entre ela e o caçula dos Wolf, se
transforma em uma teia quando ela se vê dentro do moto-clube, próxima de
todos os irmãos e, principalmente, de Christian, o Vice-Presidente do MC.
Christian não queria romance e Maya também não, no entanto, o
desejo intenso que começa a os envolver se torna mais forte do que tudo e
logo se transforma em uma paixão avassaladora e incontrolável, que
poderia ser vivida intensamente se Maya não carregasse um segredo que
pode transformá-la em uma traidora perante o moto-clube.
Em meio a uma guerra travada entre os clubes rivais, segredos do
passado que podem destruir tudo o que conhecem e a iminência de uma
traição, seria o amor de Christian e Maya forte o bastante para resistir?
É chegada a hora do MC travar mais uma batalha, onde a vitória pode
custar um preço mais alto do que qualquer um poderia imaginar.
- "Chamas na Escuridão " é o segundo livro da série Flame
Wolves MC. Cada livro contará a história de um casal, no entanto, é
aconselhável que leia na ordem de lançamento;
- A história contém linguagem gráfica de violência, sexo e
palavras de baixo calão. Não recomendada para menores de 18
anos;
- Leia a nota da autora no início do e-book e atente-se aos
gatilhos.
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À Sua Espera
Dono de uma das maiores fazendas de criação de cavalos do Brasil,
Ramon Baldez estava acostumado a comandar o seu império com punhos de
ferro. Reconhecido como um profissional sério e respeitado, pensava que
tinha todos os âmbitos da sua vida sob controle, até descobrir que o seu
sócio, Abraão Rodrigues, havia sofrido um grave acidente de carro.
Com o sócio em coma, Ramon se vê diante de um enorme dilema:
tomar para si a responsabilidade de lidar com Gabriela, a filha de Abraão,
que se vê sem o pai, seu único parente vivo. Sabendo que não poderia dar
às costas para a jovem de dezenove anos, ele a acolhe em sua fazenda,
enquanto Abraão está em estado grave no hospital.
Ramon acreditava que cumpriria o papel de amigo da família ao estar
ao lado de Gabriela naquele momento tão difícil para a menina. O que ele
não poderia imaginar era que, ao assumir a responsabilidade de cuidar dela,
iria descobrir que esteve durante toda a sua vida à espera de conhecê-la,
para encontrar o seu verdadeiro amor.
Mas como ele poderia aceitar que estava perdidamente apaixonado por
uma menina? Seria ele capaz de se entregar a esse sentimento, sendo
quase dezenove anos mais velho do que ela.
E o mais importante: conseguiria lidar com o fato de Gabriela
reascender um passado que, para ele, já estava enterrado?
Ramon irá descobrir que, às vezes, a vida toma caminhos inexplicáveis
para juntar dois corações que se amam.
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Todas as Suas Cores


Advogado renomado e muito conhecido no território nacional, Caio
Alcântara leva uma vida sem complicações. Acostumado a enxergar o lado
bom e simples de tudo, tem como lema aproveitar cada oportunidade que a
vida estiver disposta a lhe dar e isso reflete, também, no modo como
enxerga as pessoas ao seu redor.
Ao perceber que o seu melhor amigo está apaixonado, mas que não
quer dar o braço a torcer por conta de segredos do passado, Caio coloca na
cabeça que fará de tudo para que ele não perca a oportunidade de se
entregar a esse sentimento. É então que, por um acaso do destino, seu
caminho se cruza com o de Luna, uma jovem cheia de vida, que começa a
despertar a sua curiosidade.
O que era para ser apenas uma conversa para armarem um presente
surpresa para a mulher por quem o seu melhor amigo está apaixonado, se
transforma em algo mais, depois que Caio presencia uma conversa em que
Luna deixa bem claro que o vê como algo além do advogado e amigo do
patrão da sua mãe.
Conhecido por nunca deixar de lado algo que desperte a sua atenção e
o seu sorriso, Caio se aproxima de Luna e uma grande amizade nasce entre
eles, mas ele logo perceberá que o seu coração clama por algo mais e fará
de tudo para conquistar a menina de cabelos coloridos, olhar intenso e
personalidade forte, que esconde parte da sua alma por trás de todas as
suas cores.
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Rage
Amber Bloom só tem um objetivo na vida: destruir o seu pai.
Filha de um dos empresários mais prestigiados e ricos do mundo,
Amber foi criada sob regras rígidas, consciente de que seu futuro estava nas
mãos de seu pai, um homem frio e arrogante, que nunca fez questão de lhe
demonstrar carinho ou afeto.
No entanto, quando começa a desconfiar de que a fortuna e o poder de
seu pai não são provenientes apenas da empresa que havia fundado
décadas atrás, Amber decide começar a investigá-lo e o que o descobre a
faz conhecer um homem que desperta e rouba completamente o seu
coração.
Rage só tem uma coisa em mente: matar o homem que é obrigado a
chamar de Mestre.
Sequestrado ainda na infância e jogado em um quarto escuro, Rage vê
sua vida passar em meio a torturas, enquanto é obrigado a se submeter a
um homem que o humilha de todas as formas. Completamente destruído,
sem saber há quantos anos está preso, ele só pensa em uma coisa, matar o
Mestre. As consequências que encararia depois não lhe faria a mínima
diferença; ele não se importava, pois sabia que já estava morto por dentro.
Pelo menos era o que pensava, até uma mulher com olhos de anjo
aparecer em seu caminho.
A vida une uma alma corrompida pela maldade humana a uma alma
com sede de justiça e o amor nasce entre eles.
Mas seria o amor forte o suficiente para derrotar um inimigo impiedoso, que
fará de tudo para destruí-los?
- "Rage" é um romance dark;
- Contém cenas sensíveis como violência e estupro sem romantização;
- Proibido para menores de 18 anos.
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A Morte de um Solteirão

Gosto de pensar que sou um homem livre, um verdadeiro solteirão e


nada nunca abalou essa minha convicção. Veja bem, aos trinta anos, bem-
sucedido, com tempo livre para sair, curtir e transar, a palavra
“relacionamento” pode ser tão fria quanto um iceberg ou tão ruim quanto a
própria morte.
Sem contar que, sabemos, romance, amor e paixão, são verdadeiras
baboseiras. Um casamento é muito lindo na hora do sim, mas, depois do
sim? A palavra “divórcio” brilha tão forte quanto o sol no verão do Rio de
Janeiro. Sem contar as traições, que, convenhamos, não existiriam se as
pessoas não se escondessem atrás de um amor falso.
É por isso que sou totalmente contra a qualquer tipo de relacionamento
sério. Sexo é muito bom, mas fica melhor ainda quando se pode ir embora
na manhã seguinte sem ressentimentos ou cobranças. Foi para isso que
nasci — sim, nasci, pois se falar que fui criado para isso, mamma me corta a
cabeça — e estava muito bem com a minha vidinha do jeito que era, até
Alice Carvalho aparecer em meu caminho e me desestabilizar
completamente. Nem se eu pudesse, conseguiria explicar o que senti
quando a vi pela primeira vez e quando, inesperadamente, ela reapareceu
em minha vida.
Por isso, soube que precisava tê-la em minha cama, mas ela disse
“não”. E persistiu no “não”. Mas eu estava louco para ouvir um “sim” e, em
meio ao desespero, fiz algo impensável: prometi a ela que, se aceitasse ficar
comigo, poderíamos passar um tempo tendo sexo casual, sem nos
envolvermos com outra pessoa. “Ficantes fixos”, nomeei.
Não, não era um relacionamento. Não tinha nada de romantismo. Era
apenas dois adultos se encontrando algumas vezes por semana para
fazerem sexo.
Mesmo assim, nunca pensei que essa inocente proposta poderia promover
uma morte...
A minha morte.
A morte de um solteirão.
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A Voz do Silêncio
A vida simples que Marina Alencar levava sendo professora, muda
drasticamente em uma tarde que deveria ter sido normal como todas as
outras. Ao ser atropelada, Marina é socorrida por um homem que havia
testemunhado o acidente. Mas ele não era um homem comum.
Alto, bonito e com lindos olhos azuis, ele era encantador. Bem-
humorado e com um coração enorme, o homem que a ajudou no momento
em que ela mais precisou, acabou se tornando o centro do seu mundo.
Apaixonar-se por ele foi inevitável, assim como entregar o seu coração
em suas mãos e confiar em cada uma de suas palavras.
Marina nunca acreditou em contos de fadas, mas quando se viu
vivendo um, achou que príncipes encantados realmente existiam.
Mas quando o amor começa a ser sufocado pela dor e pelo medo, tudo
muda de figura e resta apenas o silêncio.
Um silêncio ensurdecedor.
Um silêncio que precisa ser ouvido.
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O Astro Pornô

Emma Glislow é uma mulher de vinte e dois anos. Cursa faculdade de


odontologia, ama ler e é apaixonada por seu noivo, Frederick. Tudo em sua
vida sempre foi perfeito e em ordem, até que seu noivo a trai de forma
descarada.
Seu mundo magnífico é destruído em um segundo, enquanto ela passa
uma semana inteira trancada no quarto, sem falar ou ver ninguém.
Quando finalmente resolve sair da fossa, uma noite de bebedeira e
balada com sua melhor amiga parecia ser o lance perfeito para tirar da
cabeça, a cena de seu noivo trepando com uma vadia.
Mas o que ela não sabia, era que em meio a essa noite super divertida,
uma proposta lhe seria feita e em meio a todas as tequilas e margaritas
ingeridas por ela e sua amiga, ela aceitaria e assinaria um contrato.
O contrato que a colocaria de cara com o maior astro pornográfico do
momento.
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A Paixão do Rei
O misterioso Dominick Andrigheto Domaschesky, Príncipe de Orleandy,
país que se estende por boa parte da Europa, se vê diante do trono de Rei
muito mais cedo do que gostaria.
Com o falecimento de seu pai, o Rei Patrick, Dominick com seus trinta
anos de idade, assume o reinado como principal sucessor ao trono. Se sentia
preparado e firme para assumir o poder, seu pai o havia preparado para
aquilo e ser Rei já estava em seu sangue.
Se sentia confiante para tudo, menos para o que seus conselheiros lhe
propuseram: achar a Rainha ideal.
Totalmente adverso a relacionamentos, Dominick tinha colocado em
sua cabeça que jamais se casaria. Tinha gostos diferentes, não tinha
paciência para cortejar uma mulher fora da cama e ao menos pensava em
colocar uma aliança no dedo, mas, segundo a filosofia de seu pai, "um Rei
não é nada perante a sociedade, sem uma Rainha ao seu lado".
Com tudo conspirando contra seu favor, Dominick chega à conclusão
de que sim, iria se casar, mas seria do seu jeito. Com a ajuda de seu melhor
amigo e conselheiro, Dimir, ele entra em um mundo diferente, desaparece
por algumas semanas e volta com a Rainha perfeita ao seu lado.
Kiara Neumann era uma mulher sem opções na vida. Em um dia não
tinha nada, não tinha uma história para contar e nem um futuro para
imaginar. No outro, havia se tornado noiva do Rei de Orleandy e era amada
e ovacionada por todo um povo que amava seu país.
Mas como ela era noiva se ao menos se lembrava de sua vida? Poderia
confiar na palavra de Dominick, que não fazia a mínima questão de ser
cortês com ela? Como poderia se casar se ao menos o amava? Ou melhor...
Seria ela capaz de amar um homem tão frio quanto aquele Rei? Em meio a
segredos, sedução e todo um reino a ser comandando, Dominick seria capaz
de se apaixonar por sua doce esposa? Talvez sim, mas se segredos do
passado começassem a rondar o casal, o mundo frágil de contos de fadas
seria abalado para sempre.

[1]
Alabama Fight Song (grito de guerra).
[2]
Universidade da Califórnia em Los Angeles.
[3]
Universidade do Alabama.
[4]
Protagonista do livro Best Mistake, de Tamires Barcellos.
[5]
Biblioteca do curso de Direito da Universidade do Alabama.
[6]
Preconceito, intolerância ou discriminação contra pessoas com idade
avançada.
[7]
A grande pontuação do esporte, garante 6 pontos ao time e uma
tentativa de ganhar um ponto extra.
[8]
O Field Goal acontece quando a equipe opta por chutar a bola. Se ela
passar pelo goal poast (Y gigante que fica na end zone do time adversário)
três pontos são marcados. Se o chute sair errado, o time adversário começa
a sua jogada no ponto do campo em que o field goal foi chutado.
[9]
Faz parte da defesa do time. É o responsável por ocupar a parte central
do campo e comandar o restante da equipe.
[10]
Estágios do luto.
[11]
Dylan é personagem secundário do livro Best Mistake.
[12]
NCAA – National Collegiate Athletic Association é uma associação
composta de 1281 instituições, conferências, organizações e indivíduos que
organizam a maioria dos programas de esporte universitário nos Estados
Unidos.
[13]
Profissional responsável pela gestão dos perfis de redes sociais.

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