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CAPÍTULO

Novas Tendências em Psicologia da Educação


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Objetivo geral de aprendizagem

Estudar o contexto dos movimentos educacionais no Brasil


e ver qual o papel da Psicologia na constituição desses
movimentos.

Seções de estudo
Seção 1 – Movimentos educacionais e a Psicologia
Seção 2 – A Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky: nova
tendência da Psicologia e Educação
Iniciando o estudo do capítulo

Agora você estudará a relação entre a Psicologia e a Educação ao longo


da história da educação brasileira. Você verá os principais movimentos
educacionais que constituíram a educação brasileira durante o século XX.
Ao final do capítulo, você compreenderá o papel ideológico do uso do
conhecimento psicológico na educação.

Seção 1 - Movimentos educacionais e a Psicologia


Objetivos de aprendizagem

»» Contextualizar os movimentos educacionais brasileiros.

»» Relacionar os movimentos educacionais à Psicologia.

A história da educação brasileira evidencia vários movimentos educacionais.


A Psicologia contribuiu de forma significativa para a estruturação de cada
movimento. Ao longo dos anos, a Psicologia e seus estudos foram a base
para “o fazer pedagógico” cotidiano. Cada reforma educacional inspirava-
se em uma corrente ou escola psicológica. É por essas razões que podemos
dizer que a evolução da educação brasileira é indissociável da Psicologia.
Logo, para explicarmos as novas tendências da Psicologia na educação,
faremos uma pequena retrospectiva histórica da relação da Psicologia com
a educação. Acompanhe!

A participação da ciência psicológica no processo educativo é mais visível


nos movimentos educacionais que se opõe ao Ensino Tradicional.

O Ensino Tradicional tinha como característica básica a educação particular


e era associado ao ensino religioso. O objetivo da escola era transmitir o
Psicologia da Educação I

CAPÍTULO 4
conhecimento por meio da autoridade do professor, o aluno era visto como
um receptáculo de informações, sendo assim, a aprendizagem consistia na
capacidade do aluno em armazenar informações. No Ensino Tradicional,
a memorização do conteúdo ensinado pelo professor era um requisito
fundamental para a verificação da aprendizagem.

O professor era a autoridade máxima em sala de aula, e como autoridade


ele podia tudo. No ensino tradicional, na relação entre professor e aluno, o
aluno não tinha voz e estava submisso a autoridade do mestre. O professor
ao avaliar o aluno considerava o produto ao invés do processo. O professor,
ao avaliar uma prova, não se preocupava com a forma pela qual o estudante
chegou a uma dada resposta, o importante era o resultado final: certo ou
errado. No ensino tradicional toda educação era baseada no rigor e na
disciplina.

O castigo corporal, no ensino tradicional, era tido como o caminho para


moldar o caráter do estudante indisciplinado. A escola era um ambiente
frio, austero, pois tinha a finalidade de fazer o aluno concentrar-se. Se o
ambiente escolar apresentasse muitos estímulos poderia levar o estudante
a pensamentos desnecessários ao processo educativo.

Pela ótica do ensino tradicional, o fracasso escolar era atribuído ao aluno.


Em caso de reprovação não se cogitava rever a estrutura pedagógica
nem mesmo o modo de ensinar da instituição de ensino.

No contexto da educação tradicional brasileira, a Psicologia estava


totalmente ausente. Mas no decorrer dos anos, a relação com a Psicologia
fica cada vez mais recorrente. Neste contexto, então surgem novas escolas
de pensamento no campo da educação. Acompanhe a seguir uma
explicação sobre cada uma delas.

Escola Nova

Nas primeiras décadas do século XX surgiu um movimento que buscava


superar o ensino tradicional: a Escola Nova.

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A Escola Nova foi um movimento baseado nas ideias de Jonh Dewey e na


Psicologia Americana. O maior expoente desse movimento no Brasil foi
Anísio Teixeira.

A Escola Nova se apresenta como uma inovação no processo educativo.


Para esse movimento, a escola deveria ser pública e gratuita; sua finalidade
é que todos tenham acesso à educação. Para a Escola Nova a educação
deveria ser igual para todos e separada da orientação religiosa; os alunos
receberiam o mesmo tipo de educação. Para os escolanovistas, as diferenças
entre os indivíduos são percebidas através das características particulares
de cada um.

O papel da educação, segundo a ótica escolanovista, era promover a livre


expressão, possibilitando a formação do cidadão livre e consciente para
que pudesse se adequar ao país que passava por transformações.

Na Escola Nova, a educação enfatiza o


aluno, procura valorizar a criatividade e
a curiosidade do estudante. Em sala de
aula, o aluno é estimulado a buscar o
conhecimento. Ao aluno é delegada a
responsabilidade pela iniciativa para a
aprendizagem e as salas de aula contêm
recursos para facilitar essa aprendizagem;
nesse sentido, os alunos são classificados
como interessados ou desinteressados.

Na pedagogia escolanovista, as
A expressão classe domi- diferenças de aprendizagem estão nas
nante é utilizada a partir diferenças individuais que se justificam
da teoria de Karl Marx e
designa a classe social nas diferenças sociais, étnicas e
que controla os meios cognitivas. No entanto, essa pedagogia
de produção e o sistema
econômico e político de
acabou por se restringir aos experimentos
Figura 4.1 - A Escola Nova
um país. pedagógicos que favoreceram e se
voltaram para as classes dominantes.

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Psicologia da Educação I

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Nesse contexto, a Psicologia realizava avaliações por meio dos testes
psicológicos. Esses testes são resultados de pesquisas científicas e somente
os psicólogos podem utilizá-los no processo de diagnóstico do sujeito. O Os testes psicológicos são
resultado desses testes eram desligados da história de vida do aluno e do instrumentos de avaliação
contexto social e cultural em que ele se desenvolvia. O resultado dos testes elaborados para medir o
funcionamento mental do
aplicados nos estudantes servia aos professores para classificar os alunos ser humano
em sala de aula.

A Escola Nova foi considerada como um movimento pedagógico não


crítico, pois perpetua a divisão social de classes no interior da escola e
contribui para a manutenção da desigualdade social. O sistema de avaliação
da Escola Nova, com atribuição de nota, reproduz a hierarquia social: os
melhores alunos serão os que controlarão o modo de produção e os piores
serão os operários cujo único bem que possuirão é a força de trabalho. Essa
situação cria uma organização social em que o rico aumenta sua riqueza e
o operário continua na pobreza.

A teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget

A partir da década de 60, a educação brasileira tomou a teoria psicológica


de Jean Piaget como referência para o trabalho educativo.
A teoria de Piaget será
estudada no caderno
dois de psicologia. Sua
Você sabe quem foi Piaget? apresentação aqui é para
não dissociá-lo da história
Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado biólogo da educação.
e psicólogo suíço, conhecido por seu trabalho
pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget
passou grande parte de sua carreira profissional
interagindo com crianças e estudando seu
processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um
grande impacto sobre os campos da Psicologia e
Pedagogia.
Figura 4.2 - Jean Piaget

A teoria de Piaget passou a ser pesquisada pelos educadores com objetivo


de aumentar a qualidade no processo de ensino. O resultado das pesquisas
foi a criação e o uso Método de Ensino Construtivista na maioria dos
estados brasileiros.

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Para o construtivismo, a aprendizagem é resultado de um processo


adaptativo em que o indivíduo interage com o objeto de aprendizagem
no meio ambiente. A escola construtivista realiza o seu trabalho de ensino
de acordo com o desenvolvimento cognitivo proposto por Piaget.

As Teorias Crítico-reprodutivistas

O contexto social e econômico brasileiro no final dos anos 70 levou os


educadores a repensar a educação. O Brasil vivia sob a ditadura militar e a
censura estava presente em todas as esferas da vida. A educação era então
o meio de difusão da ideologia que sustentava o a ditadura militar.

Em oposição à Escola Nova, surge a Pedagogia Crítico-reprodutivista. Essa


corrente de pensamento se opõe ao ideal pedagógico da Escola Nova e da
escola Tradicional.

A Teoria Crítico-reprodutivista toma como base as teorias sociológicas


principalmente no que se refere ao trabalho de Karl Marx. Para esse
movimento, as diferenças sociais, no contexto escolar, são uma reprodução
da divisão social. A escola acaba por marginalizar o aluno que apresenta
dificuldade de aprendizagem. O aluno marginalizado será o adulto que
não poderá ascender à classe dominante, dessa maneira as instituições
perpetuam o ideal burguês de dominação de uma classe social sobre a
outra.

Para a Teoria Crítico-reprodutivista, a escola é o local em que a ideologia


capitalista é reproduzida, ou seja, é possível observar, no contexto escolar,
a reprodução da ideologia dominante pelo sistema de avaliação. Para a
Pedagogia crítico-reprodutivista, a avaliação dos alunos promove a divisão
social no interior da sala de aula. Portanto, o sistema de avaliação, proposto
pela Escola Nova, no qual o aluno é avaliado por uma nota que representa
o quanto ele aprendeu é excludente. De acordo com a ótica escolanovista,
o aluno que não atinge uma nota considerada ideal para seu aprendizado
é considerado, perante a escola, como um fracassado e a tendência é que
ele reproduza esse fracasso na sua vida. Provavelmente esse aluno será o
operário do chão de fábrica na vida adulta.

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Teoria Histórico-crítica

Na década de 80, surge a Teoria Histórico-crítica. Essa concepção também


toma a teoria de Marx para constituir-se. Para essa Pedagogia, a educação
é o meio para a transformação social. No interior da escola, são valorizadas
as relações históricas e dialéticas no processo de ensino e aprendizagem.

Para a pedagogia Hitórico-crítica, a educação é vista como um agente


de transformação social. O objetivo da educação é a transformação da
consciência dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

De acordo com esta corrente, o homem é visto como um ser histórico que
ao mudar sua consciência, muda também a realidade. A educação é o
instrumento que irá tirar o sujeito do estado de alienação para promover
uma nova ordem social. É nesse contexto que a Teoria Psicológica de Lev
Vygotsky adentra ao contexto educacional brasileiro.

Seção 2 - A Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky: nova


tendência da Psicologia e Educação

Objetivos de aprendizagem

»» Conhecer a teoria de Vygotsky.

»» Compreender o papel social da escola.

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Nas ultimas décadas, a Psicologia da Educação passou a considerar o


contexto social como fundamental para se compreender o processo de
ensino e aprendizagem. O contexto social abrange condições materiais de
vida do aluno, a cultura a qual ele pertence e as suas relações sociais. As
relações no interior da escola são fundamentais para a compreensão do
fracasso escolar, porque há uma interdependência entre o professor e o
aluno, no processo de ensino aprendizagem; isso quer dizer que se o aluno
fracassa o professor também fracassa.

Na década de 80, as pesquisas na área de educação voltaram-se para


os trabalhos Vygotsky, porque se entendia que sua Psicologia atenderia
aos propósitos educacionais de formar cidadãos, que seriam agentes de
transformações sociais.

Você sabe quem foi Vygotsky?

Lev S. Vygotsky (1896 - 1934), foi professor e realizou pesquisas no campo da Psicologia.
Foi contemporâneo de Piaget, e nasceu e viveu na Rússia, quando morreu, de tuberculose,
tinha 37 anos. Vygotsky estudou arte e filologia. Suas pesquisas, na Psicologia, tiveram como
objetivo superar o dualismo cartesiano.

Vygotsky, ao formular sua teoria tomou como base epistemológica o


trabalho de Karl Marx. Sua Psicologia considera que o homem é resultado
das relações culturais e sociais do contexto onde vive.

Para Vygotsky, todas as aprendizagens do sujeito são mediadas pelo meio


social.

A mediação é o processo em que entre o objeto de aprendizagem e o


sujeito existe um elemento intermediário. Esse elemento intermediário
pode ser a comunicação oral, um instrumento como um livro. A
mediação permite ao aprendiz ampliar o seu conhecimento a partir do
seu conhecimento prévio.

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Psicologia da Educação I

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O conhecimento mediado socialmente possibilita a aprendizagem
pelo processo de apropriação do conhecimento. Apropriação de
um conhecimento significa que o aluno incorporou o objeto desse
conhecimento e poderá operar mentalmente com esse objeto.

O conhecimento apropriado constituirá uma parte do psiquismo do sujeito.


Uma vez que o conhecimento foi apropriado pelo sujeito, ele irá operar com
esse conhecimento e agirá no meio social e cultural de acordo com suas
apropriações. Esse processo é chamado de objetivação do conhecimento.

O papel da escola, do processo educativo é passar o conteúdo acadêmico e


levar o aluno a refletir acerca da organização social, política e econômica.
O aluno ao se apropriar do conhecimento acerca do processo histórico
que constitui a sociedade, mudará sua consciência e objetivará esse
conhecimento tendo como resultado a mudança do contexto histórico e
social em que ele vive.

Atualmente a teoria de Vygotsky é amplamente pesquisada e aplicada


ao contexto da Educação Brasileira. Essa teoria tem norteado o trabalho
educacional, principalmente nos estados do Sul do Brasil. (MONTE, 2008).

Os educadores viram no trabalho de Vygotsky, a oportunidade de mudar


os rumos da educação e modificar as relações no interior da escola. O
discurso das teorias sociais permeia as relações escolares, no entanto,
no espaço escolar coexistem teorias pedagógicas. Você encontrará na
escola professores que assumem as mais variadas posturas teóricas.
Por isso, alguns professores resistem à teoria de Vygotsky e fazem uma
leitura individualizante do aluno. O professor considera somente as
particularidades do educando e descarta o contexto escolar e social do
educando.

O Brasil é um país geograficamente imenso, por isso, não tem uma única
cultura, o que dificulta a adoção de um único referencial teórico para a
educação. A adoção de um único referencial teórico, como já aconteceu,
quando as cartilhas distribuídas pelo governo engessavam o trabalho

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pedagógico e desconsideravam as diferenças culturais e individuais no


processo de ensino. Nesse contexto, o aluno era obrigado a se adaptar
ao ambiente escolar, havia uma padronização do sujeito em termos de
desenvolvimento biopsicológico e ideológico. Assim, a teoria de Vygotsky
é utilizada para romper com essa forma de ensino por entender o sujeito
do processo educativo (professores e alunos) como agentes de construção
e transformação social.

Para os educadores, adeptos da teoria de Vygotsky e das teorias sociais,


o fracasso escolar não está somente no aluno. Está relacionado à forma
como a Educação é vista e tratada nas esferas governamentais, à gestão
escolar, ao trabalho, às relações no interior da sala de aula e ao contexto
histórico e social do aluno e de todos envolvidos no processo educacional.

Síntese do capítulo

»» Os movimentos educacionais brasileiros.

»» Pôde perceber a relação da Psicologia com a educação ao longo


de sua história.

»» Viu, também, um pouco da teoria de Vygotsky como uma teoria


crítica e como o eixo norteador do trabalho pedagógico em
alguns Estados brasileiros.

»» Você estudou, ainda, a crítica à educação feita pelas teorias sociais


e pôde perceber que a discussão sobre a organização educativa
brasileira continua sendo objeto de discussão da educação.

Você pode anotar síntese do seu processo de estudo nas linhas a


seguir:

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