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De:
Chipo Jorge Nguluve
Maputo
Junho de 2021
De:
Chipo Jorge Nguluve
Orientador(a):
Dr. Luís Manjate
Maputo
Junho de 2021
Dedicatória
i
Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar à Deus, por ter-me iluminado desde os primeiros anos da minha
vida até hoje, e em segundo lugar a minha mãe Catija que me deu Esperança de alcançar este
objectivo, também agradeço a minha esposa Emília que com toda paciência me aturou, os
meus Filhos Jorge, Catija, Helena, Monasse, Tocote que me acompanharam a minha
formação e me encorajaram a seguir com o curso.
Ao meu supervisor, Dr. Luís Manjate, pela orientação, sugestões durante as nossas aulas,
paciência, disponibilidade e apoio moral durante a elaboração deste trabalho.
ii
Declaração de honra
Declaro por minha honra que este trabalho de fim de curso nunca foi apresentado, na sua
essência, para a obtenção de qualquer grau, e que ele constitui o resultado da minha
investigação pessoal, estando indicadas no texto e na bibliografia as fontes que utilizei para a
sua materialização.
O Autor
__________________________________________
O Orientador
______________________________________________
iii
Resumo
O assédio moral nas relações de trabalho é um dos temas mais discutidos nos últimos anos
em todo o mundo, apesar de não ser um assunto tão recente. É um dos problemas mais sérios
enfrentados pela sociedade, fruto da globalização e do capitalismo, voltados para a alta
produtividade, pela busca do poder a todo o custo, e pela actual organização do trabalho,
onde o individualismo prevalece, reflexo da alta competitividade, gerada pelo alto índice de
desemprego. A metodologia ora empregada para a realização deste trabalho, recorreu-se a
pesquisa documental e bibliográfica. Para efeito foram consultadas obras e artigos
disponíveis nas diferentes plataformas electrónicas, obras jurídicas, legislação Laboral e
Código Penal.
iv
ÍNDICE
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Lista de Figuras
Lista de Tabelas
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1 CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende mostrar o assédio moral no actual contexto histórico e jurídico
averiguando a lenta valorização mundial do trabalho, seus fundamentos e formação história,
sua definição e relação de emprego em meio ao direito do trabalho como também as relações
actuais.
Conforme Hirigoyen (2002, p. 17), “o assédio moral no trabalho é definido como qualquer
conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude) que atende, por sua repetição ou
sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física da pessoa, ameaçando
seu emprego ou o clima de trabalho”.
O assédio moral é um tema relativamente novo em Moçambique. Ele é abordado com mais
veemência em sindicatos e, ainda, no âmbito do Legislativo. É um fenómeno bastante grave
que vem atingindo um grande número de organizações. Devido a alguns factores como o
medo, a vergonha e o desemprego, o assunto ainda é pouco discutido, principalmente no
contexto sócio-organizacional moçambicano.
O assédio moral é uma violência que pode ser observada tanto no ambiente de trabalho,
quanto na família, na escola e outros locais. Vislumbram-se nuances dessa perversa realidade,
por exemplo, no caso de atitudes do parceiro que não concorda com a separação, vendo o
outro como uma “conquista que lhe pertence” (GUEDES, 2004, p. 19), bem como na relação
entre pais e filhos. Verifica-se, também, a prática do assédio moral no recinto escolar, tendo
como figurantes funcionários, empregados, professores e alunos. (GUEDES, 2004, p. 19-22).
Diante disso, é necessário que as organizações adoptem um contexto de trabalho que busque
o bem-estar e a satisfação dos trabalhadores, para que, ao se buscar alcançar os resultados
desejados da organização, práticas de gestores referenciadas na tirania, no medo, na
agressividade e na coacção não sejam dominantes na gestão.
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Hoje, as organizações estão trocando sua força de trabalho por pessoas mais jovens e
inexperientes e pagando salários inferiores. Para Hirigoyen (2005), o assédio moral é mais
predominante em indivíduos com idade mais avançada, uma vez que são considerados
improdutivos, não aceitam mudanças com facilidade e até se submetem mais às agressões
pelo “(...) receio de ficar desempregado, ou de não perceber seus salários, além da alarmante
diminuição na oferta de postos de trabalho, que deixa o trabalhador em condição de
desigualdade com o empregador” (RUFINO, 2006, p. 29).
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1.1 Contextualização do Estudo
O assédio moral é caracterizado por condutas frias e repetitivas que têm por objectivo,
desqualificar, humilhar e abalar psiquicamente um indivíduo. Com base nestes pressupostos,
objectivou-se com o estudo, conhecer as consequências psicológicas causadas pelo assédio
moral nas relações de trabalho.
Segundo Hirigoyen (2010), o assédio moral nas relações de trabalho é caracterizado por
condutas abusivas, manifestadas por actos, gestos, escritos e palavras que possam trazer
danos à dignidade ou a integridade física e psicológica da vítima. Trata-se de uma violência
fria, verbal ou não verbal, feita de depreciação e injúrias. Que seu efeito pode degradar o
ambiente de trabalho.
Hirigoyen (2010a) coloca que assim surge a desqualificação, que significa tirar de alguém
todas as suas qualidades e dizer-lhe que não vale nada, até que a própria vítima acabe
acreditando no mesmo. Acrescenta, que quando o assédio se estabelece, atribui-se a
personalidade do sujeito algo que é consequência do conflito e se esquece do que era antes.
Barreto (2003) acrescenta ainda que, com o tempo, a dor interior domina e desfigura a
própria vida, podendo transformar a actividade em sacrifício e a relação de trabalho como
conflito explícito. Assim, repreensões e ironias, discriminações e rebaixamentos acabam por
dominar a jornada de trabalho.
Deste modo, considera-se que o fenómeno assédio moral, causa no trabalhador danos á saúde
psicológica, além de sérias consequências nas relações interpessoais e no desenvolvimento
das actividades no trabalho. Neste sentido, objectivou-se com o estudo, conhecer os danos
causados pela violência na saúde psíquica da vítima, e verificar como a mesma, significa o
trabalho e as relações interpessoais no ambiente de trabalho em sua vida após a agressão.
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1.2 Justificativa
Este estudo surgiu motivado, para além do interesse pessoal em tema que aborda acerca do
Assédio Moral nas Relações de Trabalho, um fenómeno que tem ocorrido nas organizações e
na sociedade em geral, como também por ser um tema pertinente na realidade a que se insere.
Ademais, nota-se actualmente vários estudos de diferentes autores neste âmbito, daí que
achou-se pontual e relevante abordar este tema no contexto organizacional, de modo a
enriquecer as abordagens já existentes. O tema tem contribuído para o melhor entendimento
do ambiente funcional das organizações, e outro motivo que levou-me na escolha do tema foi
por este tema ser polémico e inovador, além de se ter um apreço especial pelas questões que
envolvem o relacionamento entre pessoas e que, de algum modo, trará uma contribuição
social. É sabido e notório que o assédio moral traz muitos problemas tanto para quem é
assediado como para a organização.
Porém é necessário um estudo mais aprofundado de cada caso para conseguir delimitar até
onde os problemas apresentados tem correlação com o assédio moral ou não, pois
actualmente existe uma tendência exagerada de protecção e com isso um simples facto
isolado pode ser confundido com assédio moral, assim sendo necessitamos de conhecer muito
bem as características do assédio moral para que possamos avaliar cada caso e identificar os
reais casos de assédio e trabalhar de forma a tentar extingui-los.
1.4 Problemática
Para Rufino (2006), o assédio moral afecta a relação social e familiar da vítima, podendo
provocar diversas doenças ou até mesmo suicídio.
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Para Hirigoyen (2005), quando os funcionários começam a se sentir coisificados, o
desempenho de suas tarefas tendem a ficar prejudicado. Os trabalhadores perdem a
motivação para desenvolver suas actividades, o que acarreta uma queda de produtividade e
reduz a qualidade do serviço. Dependendo do perfil do funcionário assediado, este pode,
inclusive, perder o interesse pelo trabalho, ficar doente, preso a uma situação constrangedora,
suportada apenas pela necessidade de se manter no emprego. A partir deste problema,
levanta-se a seguinte questão:
1. Quais os possíveis males causados pelo assédio moral nas relações de trabalho,
bem como sua interferência na vida do trabalhador e da organização?
1.5 Hipótese
1.6.1 Geral
Analisar as medidas a ser tomada para que o assédio moral no trabalho seja
combatido, de modo a reduzir os casos de assédio moral que podem trazer problemas
sérios tanto à saúde quanto sociais para o individuo que sofre o assédio, bem como
problemas também para as organizações.
1.6.2 Específicos
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Avaliar as consequências do assédio moral nas relações de trabalho;
Indicar as consequências jurídicas do assédio moral nas relações de trabalho com base
na legislação moçambicana;
Listar os tipos de assédio moral nas relações de trabalho.
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2 CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA
As várias facetas do assédio moral, tais como, afrontas, brincadeiras, existem desde que o
homem viu necessidade de fazer uso de sua mão-de-obra para auferir renda. Os estudos nesta
área, todavia, tardaram a começar. (CAIXETA, 2005).
O fenómeno do assédio moral não é um problema recente, muito menos se restringe a países
considerados em desenvolvimento. Esse mal é um problema globalizado, que não conhece
fronteiras e nem classe social.
Em que pese o assédio moral esteja presente na sociedade desde que o homem se dedica ao
trabalho, ou seja, desde os primórdios da humanidade, apenas nas últimas décadas do século
XX que o assédio moral passou a ser estudado pela psicologia e sociologia, o que foi
considerado um avanço por todos, dado os reiterados casos denunciados por inúmeras
pessoas.
Foi no começo de 1984 Heinz Leymann pública, num pequeno ensaio científico contendo
uma longa pesquisa feita pelo National Board of Occupational Safety and Health i Stokolm,
no qual demonstra as consequências do mobbing, sobretudo na esfera neuropsíquica, sobre a
pessoa que é exposta a um comportamento humilhante no trabalho durante certo lapso de
tempo, seja por parte dos superiores, seja por parte dos colegas (GUEDES, 2003, p. 35).
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julgamento de uma pessoa que se diz assediada, sem prova de problemas em sua saúde, por
exemplo, não é assédio, pode ser um dano moral decorrente de situação vexatória, por
exemplo, mais não é assédio, porque o assédio traz reflexos na saúde psíquica e/ou mental do
assediado. (ZANETTI, 2008).
Segundo Hirigoyen (2002, p. 65), o assédio moral traduz-se em toda e qualquer conduta
abusiva manifestando-se sobretudo por comportamento, palavras, actos, gestos, escritos que
possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma
pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho.
Conforme a exposição supra, Barreto (apud AGUIAR, 2005, p. 28) estabelece que o assédio
moral pode ser definido como violência moral ou tortura psicológica, geralmente realizado
por superior hierárquico, com o objectivo de desqualificar e desmoralizar o indivíduo
profissionalmente, desestabilizá-lo emocional e moralmente, tornando, dessa forma, o
ambiente de trabalho hostil, insuportável, e forçando-o a desistir do emprego.
Após a análise de conceitos de diversos autores sobre o tema, Soares (2006, p. 41) concluiu
que nenhum deles possuía uma definição completa do problema, com todos os elementos
suficientes para caracterizar o assédio moral, e propôs uma conceituação:
Aguiar (2005, p.59) aponta os níveis do assédio moral no que se refere à subordinação:
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destruidor da convivência pacífica, da coexistência harmónica e produtiva dos
indivíduos no ambiente de trabalho.
O assédio moral é uma violência que pode ser observada tanto no ambiente de trabalho,
quanto na família, na escola e outros locais. Vislumbram-se nuances dessa perversa realidade,
por exemplo, no caso de atitudes do parceiro que não concorda com a separação, vendo o
outro como uma “conquista que lhe pertence” (GUEDES, 2004, p. 19), bem como na relação
entre pais e filhos. Verifica-se, também, a prática do assédio moral no recinto escolar, tendo
como figurantes funcionários, empregados, professores e alunos. (GUEDES, 2004, p. 19-22).
A agressão enquanto uma “história natural do mal” é temática explorada por Konrad Lorenz
(1973) sob a perspectiva das Ciências Naturais – etologia –, para elaborar um dos primeiros
entendimentos sobre o mobbing, a chamada “guerra da perseguição”. A agressividade,
segundo este autor, é o instinto de combate do animal e do homem em direção aos próprios
congêneres, o que contribui para a conservação da vida e da espécie.
Esta pequena guerra, em ambiente natural ou pré-cultural sob a pressão da seleção natural, é
resultante de uma agressão intraespecífica e ou interespecífica e que atua também no sentido
da conservação e evolução da espécie mais resistente. A prática do mobbing entre animais,
para Lorenz, cria condições para a sobrevivência, em uma ação reativa e preventiva em
grupo, de modo a tornar impossível a vida do inimigo, o predador natural, ou dos rivais, para
a agressão intraespécie.
Quando se refere à sociedade humana, Lorenz acentua que o homem, produto da evolução
histórica, se encontra, particularmente, exposto aos mesmos efeitos nefastos da seleção
intraespecífica de outras espécies animais. Esta concorrência, pela sua espontaneidade e
temeridade, é considerada como a “raiz de todo mal da sociedade”, mas, para o autor, ela é
decorrente da “história natural da agressão” e a sua tese é que a agressão, enquanto
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verdadeiro instinto animal, não é um princípio diabólico nem destruidor e está muito além de
um produto patológico da nossa vida cultural e social em declínio. A agressividade entre
humanos, apesar desta aversão moral contra a determinação causal das leis da natureza, é
indubitavelmente uma parte essencial da organização dos instintos em vista da proteção da
vida, cujos desvios forçam os seus membros a uma observância absolutamente uniforme das
normas do comportamento social firmadas por uma moral racional. Ao pensar o mobbing
entre os animais, Lorenz pontua a agressão de um grupo contra um predador natural ou um
concorrente ou rival.
Quando relaciona o mobbing ao considerar a origem das espécies por meio da “seleção
natural”, Charles Darwin (2009), em 1859, enquanto naturalista e influenciado pela doutrina
de Malthus, elabora a “teoria da luta pela sobrevivência” no reino animal e vegetal. O que
Darwin quer ressaltar, neste estudo, é a probabilidade, em determinadas condições naturais,
de lutar para sobreviver e ser naturalmente selecionado, com a permanência dos mais
adequados em um processo de evolução das espécies.
Comportamento humano, Lorenz (1973, p. 92) inverte a lógica do posicionamento das partes
neste modelo de perseguição, enfatizando a agressividade a partir de um grupo de predadores
ou rivais a um indivíduo determinado, que se torna a presa, acuado e com medo, e que,
dificilmente, tem condições de reagir sozinho a este mecanismo violento e assediador.
Na análise do mobbing entre humanos, o estudioso afirma que “a agressividade, que cada
desvio das maneiras e das civilidades do grupo provoca, força todos os seus membros a uma
observância absolutamente uniforme das normas de comportamento social”. Para ele, visando
as interações sociais entre as diferentes culturas, “o não-conformista é posto de parte como
outsider e, nos grupos primitivos, é perseguido de maneira cruel”, a exemplo de turma escolar
ou pequena unidade militar. O mobbing, nesta concepção, é uma forma de controle social por
parte de quem detém o poder. A imposição da força de um grupo obriga o outsider a uma
adequação das normas para a própria sobrevivência: “não pode deixar de fazê-lo, se não
quiser ser perseguido pelos companheiros”.
O mobbing, visto também como uma luta pela sobrevivência do indivíduo agredido diante
dos seus assediadores, ocorre, de acordo com esta visão, quando nenhum tipo de freio é posto
em ação contra este tipo de hostilidade. O argumento final de Lorenz, cuja teoria influenciou
os recentes estudos sobre o assédio moral, é que o comportamento social humano não é
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determinado unicamente pela razão e pelas tradições culturais, mas pela submissão a todas as
leis predominantes no comportamento instintivo adaptado pela filogénese.
O autor defende a espontaneidade das pulsões instintivas, ou seja, a agressão como algo
inerente e essencial ao ser humano e vinculado à ambição cuja eliminação coloca a
humanidade ao abrigo de todas as situações estimulantes e pulsantes. As suas ideias sobre o
mobbing entre seres humanos, não obstante a sua preocupação sobre uma possível forma de
controle destes comportamentos em busca de uma coesão social, revelam a tendência de
considerar a agressão e a perseguição entre os pares como algo natural e decorrente da luta
pela sobrevivência da vida em um ambiente altamente competitivo.
Neste sentido, de acordo com a sua visão, toda e qualquer forma de violência praticada entre
seres humanos é derivada de fatores humanos irracionais ou instintivos, sem vinculação com
qualquer espécie de patologia ou hábitos culturais, mas resultante da seleção natural dos mais
aptos para sobreviver e para ocupar os espaços. Esta interpretação, bastante utilizada pela
Justiça do Trabalho, em nosso entendimento, não tem validade para a violência gerada no
ambiente de trabalho, o que nos leva a discordar de Lorenz e pontuar que o mobbing não é
proveniente de fatores naturais, instintivos e irracionais dos indivíduos, mas sim de uma
racionalidade imposta socialmente pela organização capitalista do trabalho para controlar os
trabalhadores e alcançar os seus objetivos.
O termo mobbing, anteriormente utilizado por Lorenz, em 1963, é recuperado, em 1972, por
Peter-Paul Heinemann, médico, estudioso do comportamento social infantil, na Suécia. Em
sua pesquisa, ele percebeu que em uma classe, uma parte dos seus alunos, normalmente,
partia para uma ação violenta contra um aluno em particular, aquele que se diferenciava do
grupo em função de algum aspecto atípico, tornando-se uma espécie de estranho ou outsider.
Diante de um quadro de agressão de um grupo a certo aluno, escolhido previamente para ser
o alvo da perseguição, o pesquisador emprega, também, a palavra mobbing para descrever
esta situação de agressividade altamente destrutiva entre crianças.
O mobbing, em sua visão, é similar à formulação pensada por Lorenz para os seres humanos,
mas ele ressalta que a agressividade entre os pares pode surgir quando não se obedece às
“normas e ritos desenvolvidos pela cultura” impostos aos grupos humanos.
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Para Heinemann, que analisou as situações comportamentais de alunos fora da sala de aula, o
ataque em grupo objectiva perseguir e agredir aquele considerado dissonante, visando sua
exclusão ou o seu enquadramento às normas vigentes naquele ambiente.
Sem adotar a vertente de que todo acto violento é oriundo de uma natural luta pela
sobrevivência, os estudos de Heinemann sobre o mobbing são importantes porque
demonstram, empiricamente, que a violência moral se transforma em uma racional e
poderosa arma para controlar, coagir, perseguir e expulsar os membros de um determinado
grupo com a imposição de regras comportamentais. Este tipo de perseguição, em estudos
mais recentes em escolas, é denominado também de bullying.
Na Grã-Bretanha, em 1966, com o título On agression. É nesta edição que aparece o termo
mobbing, que também é reproduzido na versão em português, de 1973. A análise sobre o
estudo de Heinemann, em 1972, foi baseada nos artigos The content and development of
mobbing at work, de Heinz Leymann (1996a, p. 167) e Group aggression among school
children in three schools, de Kirsti Lagerspetz et al. (1982, p. 23).
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físicas em acidentes de trabalho e, também, pela ocorrência de maus-tratos por parte de
empregadores, colegas de trabalho e consumidores ou por causa de exigências excessivas de
produção no trabalho.
O seu estudo objetiva determinar os parâmetros de assédio e pressão de trabalho para evitar a
sua ocorrência bem como ajudar os vitimados, de modo a prevenir e remediar os efeitos
trágicos das várias formas de assédio na saúde física e mental entre os trabalhadores, visando
consolidar harmoniosamente a estrutura social do trabalho.
Para Brodsky (1976), o assédio sempre existiu e, culturalmente, é uma forma natural de
interagir, o que nos leva a perceber certa influência das ideias de Lorenz em seus estudos. O
assédio, desta forma, é um mecanismo básico da interação humana e uma forma de controle
da sociedade. Claramente, faz parte do universo do trabalho, em uma espécie de jogo
interativo de humor e de provocação e não como uma aberração do comportamento humano.
O processo do assédio assume diversas formas e Brodsky (1976) isolou, entre os casos
estudados, quatro tipos principais: a escolha do bode expiatório, os xingamentos, as 191
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agressões físicas e o exercício seletivo da pressão do trabalho, também chamado de táctica
hurry up! que, em português, pode ser traduzida para a expressão “vamos! depressa!”.
A sua discussão sobre o assédio é realizada a partir das seguintes perspectivas: dentro do
sistema de trabalho (assédio por parte de colegas de trabalho e pelos superiores); e fora do
sistema de trabalho (assédio por parte do consumidor). O assédio engloba, conforme o autor,
uma série contínua e variada de formas de atos que vão desde piadinhas, brincadeiras,
sarcasmos até a indicação de alguém como bode expiatório, passando pela pressão no
trabalho, abuso físico e chiamentos.
Neste sentido, após a seleção de um alvo para tratamento violento, hostil e agressivo, o
assédio envolve um comportamento persistente e repetitivo praticado por uma pessoa para
torturar, esgotar, frustrar, importunar ou causar uma reação em outra pessoa, de forma
sistemática e inoportunamente. Apesar de acontecer de outras formas, normalmente o assédio
ocorre entre chefe e subordinado, este de status inferior e sem poder de enfrentar alguém de
status superior. Se o trabalhador demonstrar fraqueza e não reagir às investidas do agressor, o
assédio possivelmente continuará, assegura Brodsky (1976).
A manifestação deste comportamento agressivo e destruidor pode continuar por uma semana
ou por muitos anos. Para o autor, o assédio é uma forma de pressionar ou manter o sujeito em
um canto, encurralado, visto que o assediado é, em todos os momentos, provocado,
atormentado e insultado e sabe que tem pouca possibilidade de conter esta violência e os seus
efeitos negativos. Embora o propósito seja a disciplina e, supostamente seja um meio de
“conscientizar” o trabalhador a elevar a produtividade, o efeito do assédio, conforme
Brodsky, é sempre desagradável, visto que é uma agressão moral e psicológica e, geralmente,
provoca ressentimentos no assediado, com tendências a ser interpretado como ataque a sua
pessoa.
Ao fazer o diagnóstico das situações apresentadas em diversas ações, Brodsky (1976) ressalta
que o número de trabalhadores analisados em seu estudo constitui apenas a ponta de um
iceberg em relação à incidência real do assédio nos locais de trabalho, não sendo, portanto,
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uma amostra representativa de todos os trabalhadores assediados entre as empresas
envolvidas nos processos de indemnização.
Na terceira fase, um grupo continua confuso e alheio, com dificuldades de lidar com a
realidade; em outro grupo, os pacientes se tornam deprimidos e angustiados, aceitando, até
certo ponto, a maldade do assédio e com a sensação de que a natureza, Deus, o destino, as
pessoas os tratam mal e que são azarados; o terceiro grupo desta última fase, de maior
quantidade de trabalhadores indignados pela impotência diante de um poder externo, é
composto por aqueles que reagem com a raiva e, por isto, decidem empreender uma luta
contra o assédio, inclusive por meios de acções de indeminização.
A tipologia de assédio identificada por Brodsky (1976) contempla o assédio por pessoas, o
assédio por pressão de trabalho e o assédio pelo sistema, este no sentido do complexo
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organizacional. O assédio por pessoas tem características diferentes e dependerá da cultura
organizacional do ambiente de trabalho, sendo os seus principais tipos o assédio por parte dos
superiores; pelos pares ou colegas de trabalho; por consumidores; e o assédio por amigos.
A pressão de trabalho como assédio tem a ver com o exercício contínuo para manter a
máxima produtividade, mediante um forte stress sobre o trabalhador. Quanto ao assédio pelo
sistema, nele se enquadram todas as ocorrências de violência que não podem ser vinculadas
directamente ao assédio por pessoas e ao assédio por pressão de trabalho, mas que dizem
respeito à organização em si que, normalmente, possui uma cultura permissiva e
recompensadora da prática da agressão e da perseguição, a exemplo do assédio imposto pelo
medo, uma premissa subjacente de que os trabalhadores são mais produtivos quando
submetidos ao aguilhão como fator incitador do comportamento desejado.
Em suas conclusões, Brodsky (1976) afirma que o assédio contribui para o aumento dos
acidentes de trabalho bem como para a ampliação da incidência de distúrbios psíquicos e
fisiológicos, como hipertensão, sintomas gastrointestinais e doenças músculo esqueléticas,
sendo representativos, também, os casos de suicídio.
Entre os relatos de adoecimento por parte dos trabalhadores, alguns sintomas são comuns, a
exemplo de dores de cabeça, tonturas, fadigas e fraqueza. Dentre as queixas, além do
adoecimento, a intensa pressão e a imposição de condições inseguras de trabalho, a alegação
de assédio por parte dos supervisores, a discriminação racial e, também, a crença de que o
trabalho oferece um alcance limitado para os talentos do trabalhador.
Para lidar com o assédio no trabalho, o autor reconhece que a perseguição não pode ser
eliminada, mas acredita que podem ser reduzidas a frequência, duração e intensidade,
inclusive por meio de estudos das causas destes problemas, da educação e da legislação. Por
isto, sugere a disseminação de uma cultura que exponha, desencoraje e condene o assédio
bem como a intervenção do governo ou do empregador para atenuar os efeitos negativos do
seu processo, uma vez que o assédio cria problemas sociais, tais como desemprego,
alcoolismo e uso excessivo de drogas.
A análise dos casos de assédio entre trabalhadores efetuada por Brodsky, em 1976, é
imprescindível para a compreensão da violência moral no ambiente de trabalho em tempos
atuais. De forma pioneira, o autor procurou unir os elos existentes entre o sofrimento físico e
mental do trabalhador e o seu ambiente de trabalho, demonstrando que o assédio tem uma
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estreita relação com a pressão efectuada sobre o trabalhador para se produzir mais. Para
Brodsky, o assédio sempre existiu e, culturalmente, é uma forma natural de interação e
controle social dos indivíduos.
Em princípios dos anos 1980, Heinz Leymann (1990) adota, também, o termo mobbing para
determinar este “novo” fenômeno psicológico, a perseguição no trabalho, apropriando-se,
portanto, daquela denominação formulada por Lorenz, em 1963, após uma investigação
médica e psicológica sobre o estresse, em uma amostra representativa da população
trabalhadora sueca, e a identificação de um então “desconhecido” problema psicológico
relacionado ao trabalho, em situações de similitude com o comportamento social infantil,
realizada por Heinemann, em 1972, também na Suécia.
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Para a definição de mobbing, Leymann (1996a, p. 168) leva em consideração sua ocorrência,
“pelo menos, uma vez por semana, e em um período prolongado de, no mínimo, seis meses”.
Ao definir o tempo de duração do mobbing, o seu objectivo é excluir os conflitos temporários
e focalizar em um determinado ponto em que, para ele, a situação psicológica começa, de
fato, a se transformar, psiquiátrica ou psicologicamente, em condições patogênicas, ou seja: a
sua preocupação é saber, a partir da intensidade do estresse, quando as actividades do
“psicoterror” produzem enfermidades psicológicas ou psicossomáticas.
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A primeira se refere aos incidentes críticos que, normalmente, começam com um simples
conflito quotidiano, passando para um conflito mais escalonado que ocasiona,
posteriormente, o mobbing propriamente dito, que é a fase do psicoterror.
A terceira fase, quando ocorre, se refere à intervenção do poder diretivo daquele local de
trabalho. Neste momento, o problema adquire um caráter oficial e poderia ser plenamente
resolvido, mas, normalmente, a autoridade gestora tende a desconsiderar o processo do
mobbing, aceitando as denúncias como verdadeiras e como resultantes de características
pessoais da vítima – “personalidade anormal” –, e não de condições ambientais, visto que a
vítima já está marcada e estigmatizada. O foco, então, é livrar-se daquele “mal”, ou seja,
daquele trabalhador problemático.
Para Leymann (1990; 1996a; 1996b), a verdadeira razão pela qual o mobbing ocorre em
locais de trabalho ainda é desconhecida, embora haja uma série de hipóteses. Sem uma
resposta definitiva para a sua dúvida, o autor apresenta algumas possíveis causas, mas sem
considerar a preponderância de uma delas sobre as outras, ou melhor, não determinando
nenhuma das suas hipóteses como a causadora principal do mobbing. Entre elas,
primeiramente, indica a organização do trabalho como fator que ocasiona o mobbing. Em
seguida, aponta a gestão deficiente do conflito como segunda causa, possibilidade esta que
nos remete ao pensamento de Lorenz (1973) quando afirma que a violência pode ser evitada
quando há um freio à agressividade entre os homens. A personalidade da vítima é
mencionada como a terceira e última hipótese, mas o pesquisador considera como falsas as
afirmações que relacionam o mobbing aos problemas de carácter dos indivíduos.
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2.3 As Consequências do Assédio Moral
Para Rufino (2006), o assédio moral afecta a relação social e familiar da vítima, podendo
provocar diversas doenças ou até mesmo suicídio.
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incidência, entre os géneros, é maior entre as mulheres, com 55%, e, os homens, com
45% das suas ocorrências.
De acordo com Rufino (2006, p.57), “o assédio é um desrespeito à dignidade e aos direitos
individuais do empregado, o qual fica acuado diante da ideia da perda do emprego, tolerando
a violação desses direitos (...) ”.
De acordo com Peli e Teixeira (2006, p.170), “ (...) a marca da empresa pode sofrer danos
irreparáveis de forma directa, mediante acções indemnizatórias, ou indirectamente pelo dano
causado à sua imagem”. Ainda, segundo esses autores, o assediado passa por fases como:
tratamento injusto por parte dos superiores, comprometimento da saúde, desmotivação,
estresse, improdutividade e licenças por motivos de saúde.
Por que motivo um conflito degenera em mobbing? Segundo Leymann (1996, p. 179), esta
forma de terrorismo não tem ainda uma resposta definitiva, mas afirma que estes conflitos,
inicialmente vistos mais como sintomas e oriundos da organização das tarefas e não da
personalidade dos indivíduos, surgem a qualquer momento em um local de trabalho e, por
isto, precisam ser solucionados e não negligenciados pelas políticas organizacionais para não
se transformar em um processo escalonado de mobbing. Como medidas de combate, sugere
uma política preventiva para que os conflitos não degenerem em situações perigosas: que a
gestão seja capaz de entender os primeiros sintomas de um processo de mobbing de modo a
evitar a sua propagação e com a obrigatoriedade de manter políticas de protecção aos
assediados, oferecendo reabilitação profissional. Como já exposto, a análise de Leymann
sobre o mobbing levanta várias hipóteses para a sua motivação, mas não apresenta uma
resposta definitiva sobre a origem desta relação conflituosa no ambiente de trabalho. Neste
sentido, o autor coloca como possíveis causas a organização do trabalho, a gestão deficiente
do conflito e a personalidade da vítima.
21
Para tanto, ele exclui os conflitos temporários das suas análises e centra sua atenção apenas
em episódios com duração mínima de seis meses e com ocorrências repetidas semanalmente.
Com esta opção, pautada mais nas consequências do adoecimento do trabalhador do que na
origem do mobbing para provocar o seu adoecimento e a sua exclusão do local de trabalho, o
autor impôs um recorte temporal que impossibilita o reconhecimento do mobbing ou assédio
moral em atitudes de curta duração, mas de efeito devastador sobre o trabalhador.
Leymann não percebeu que a gestão deficiente do conflito é conduzida racionalmente para
prejudicar os trabalhadores e que faz parte da própria organização e gestão do trabalho, que
são pensados e implantados de maneira a assediar constantemente o trabalhador para produzir
cada vez mais. O limite principal de Leymann, em nossa compreensão, é que, ao definir
como uma das causas do mobbing a organização do trabalho, ele a considera como algo
“neutro”, sem pensá-la como produto social das relações de dominação e poder oriundas da
divisão capitalista do trabalho.
O termo assédio moral – harcèlement moral –, bastante utilizado no Brasil, foi formulado por
Marie-France Hirigoyen, em 1967, em seus estudos sobre a violência perversa no cotidiano
na França nos quais expõe tanto a violência privada – entre casais e familiares – quanto o
assédio moral em locais de trabalho, este entendido como conduta abusiva com o propósito
de degradar o ambiente ocupacional. Chamando a atenção para a cegueira da nossa sociedade
para com a violência indireta – subentendidos, menções malévolas, mentiras, humilhações –,
Hirigoyen (2001, p. 13) afirma que um indivíduo pode ser destruído por outro pelo processo
contínuo e atormentador do assédio moral, visto como um verdadeiro assassinato psíquico.
22
nas empresas, onde as pessoas não a levam em conta na época de muita oferta de emprego
porque as vítimas tinham a possibilidade de trocar por outro”.
Para Hirigoyen (2001, p. 66-67), o assédio moral é uma guerra psicológica que agrega dois
fenômenos: “o abuso de poder, que rapidamente é desmascarado e não é necessariamente
aceito pelos empregados”; e “a manipulação perversa, que se instala de forma mais insidiosa
e que, no entanto, causa devastação muito maior”. A sua compreensão é de “o assédio nasce
como algo inofensivo e propaga-se insidiosamente”. Em um primeiro momento, “as pessoas
envolvidas não querem mostrar-se ofendidas e levam na brincadeira desavenças e maus-
tratos”. Em seguida, “esses ataques vão se multiplicando e a vítima é seguidamente acuada,
posta em situação de inferioridade, submetida a manobras hostis e degradantes durante um
período maior”. Para a configuração do assédio moral, no entanto, “é a repetição dos
vexames, das humilhações, sem qualquer esforço no sentido de abrandá-las, que torna o
fenômeno destruidor” e, neste sentido, “trata-se de um fenômeno assustador, porque é
desumano, sem emoções e sem piedade”. O conflito, de acordo com Hirigoyen, “degenera
porque a empresa se recusa a intervir” e aqueles que estão por perto, “por preguiça, egoísmo
ou medo, preferem manter-se fora da questão”. Mas o assédio é um “fenômeno circular” e
“esse tipo de interação assimétrica e destrutiva quando se processa, só tende a crescer se
ninguém de fora intervier energicamente”.
23
Quando analisa o processo do assédio moral, de forma a identificar as características de quem
é visado, Hirigoyen (2001; 2002) desconsidera a possibilidade de que as pessoas agredidas
sejam portadoras de qualquer tipo de patologia, refutando a ideia de que são particularmente
frágeis, indecisas, inseguras e instáveis. Em seus estudos, a autora parte da premissa de que o
assédio moral é resultante de uma reação de um indivíduo ao autoritarismo adotado pelos
chefes em ambientes corporativos, em um embate conflituoso. Em sua interpretação sobre a
violência moral, o trabalhador se torna um alvo quanto não se submete à subjugação dos seus
superiores hierárquicos.
Quanto aos assediadores, a autora defende a ideia de que estes são indivíduos perversos,
narcisistas, frios e calculistas, em busca do poder corporativo cujas atitudes são pautadas pela
imposição do medo, do terror, da violência e pela exigência da obediência e submissão. As
ações destes assediadores constituem os seguintes tipos de assédio moral: o assédio vertical
descendente (que vem da hierarquia); o assédio horizontal (que vem de colegas); o assédio
misto (horizontal e descendente); o assédio ascendente (de um superior por um ou vários
subordinados).
24
Não existe nenhuma prova científica para explicar claramente e sem equívoco a relação entre
as causas e as consequências que levam ao assédio moral, porém, alguns factores servem
como referencial para serem levados em conta, já que muitos deles podem levar ao assédio.
Por outro lado, não existe dúvida que o assédio pode ser prevenido e desmontado antes que a
vítima tenha prejuízos a sua saúde, ou seja, ele pode se manifestar, mais também pode ser
desmontado e se não o for é porque foi um problema organizacional.
Assédio é o ato que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou
integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando o seu emprego ou degradando o
clima de trabalho. (NASCIMENTO, 2011, online).
25
Ele se caracteriza pela degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem
atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo uma
experiência subjectiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a
organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem explicações, passando a ser
hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada diante dos outros.
Estes, por medo de perder o emprego e por vergonha de serem também humilhados,
associado ao estímulo constante à competitividade, rompem os laços afectivos com a vítima
e, frequentemente, reproduzem acções e actos do agressor no ambiente de trabalho,
instaurando o ‘pacto da tolerância e do silêncio’ no colectivo, enquanto a vitima vai
gradativamente se desestabilizando e fragilizando, ’perdendo’ sua auto-estima.
Um ato isolado de humilhação não é assédio moral. Para que se configure o assédio moral
necessário se faz a repetição sistemática, intencionalidade, direccionalidade. Entretanto, quer
seja um ato ou a repetição deste ato deve-se combater firmemente por constituir uma
violência psicológica, causando danos à saúde física e mental, não somente daquele que é
excluído, mas de todo o colectivo que testemunha esses actos.
26
Segundo ZANETTI (página 28), para que a situação de desconforto no ambiente de trabalho
possa ser configurada como assédio moral, se faz necessário, que sejam observadas algumas
características essenciais, são elas:
Existem algumas práticas abusivas comuns cometidas por assediadores para fragilizar ainda
mais a vítima de assédio. Segundo Hirigoyen (2002, p.76):
27
possíveis. Quando o afastamento vem dos colegas de trabalho, consiste em deixá-lo
sem participar das actividades recreativas do grupo; quando a agressão vem da chefia,
a vítima escolhida é progressivamente privada de toda e qualquer informação
referente ao ambiente de trabalho e a empresa. Essa situação que se configura como
um “período de quarentena” ou isolamento é muito mais gerador de estresse do que a
sobrecarga de trabalho. Os gestores se sentem à vontade para servirem-se desse
sistema com a finalidade para levar à demissão alguém de quem não necessita mais.
Vexar – consiste em confiar a vítima tarefas inúteis ou degradante, ou fixar objectivos
impossíveis de serem atingidos.
Induzir ao erro – consiste em induzir a vítima a cometer uma falta não apenas para
critica – lá ou rebaixá-la, mas também para que tenha uma imagem distorcida de si.
Uma das formas preferidas pelo assediador é a via não-verbal, evitando que a vítima venha
tentar se defender de imediato de suas acções. Logo podemos utilizar como exemplo:
suspiros, risos, indiferença, olhar de desprezo, silêncio forçado, ou seja, tudo para ignorar a
presença da vítima.
A vítima escolhida é isolada dos demais sem nenhuma razão, passando a ser humilhada,
hostilizada, inferiorizada, diante de todos, que por medo de serem despedidos ou também
sofrerem com o assédio acabam por romper os laços de amizade com a vítima, que vai
gradativamente se fragilizando e se desestabilizando, acabando por perder sua auto-estima.
Segundo (FERREIRA, 2010, p.52), as causas que levam ao processo assediador são diversas,
tais como:
O objectivo puro e simples de eliminar-se a vítima para valorizar o próprio poder (do
agressor);
Finalidade de levar a vítima a pedir demissão, o que eliminaria custos adicionais e
impediria procedimentos judiciais;
28
Há própria gestão de empresa que incentiva e aprova o assédio moral como meio de
administrar seus empregados.
Segundo Hirigoyen (2005) e Peli e Teixeira (2006), o assédio moral pode ser de três tipos:
vertical descendente, vertical ascendente e horizontal.
Vertical Descendente
Cuja prática pode ser pelo sujeito activo no caso o empregador ou superior hierárquico
(assédio vertical descendente), um colega de serviço (assédio horizontal), ou por um
subordinado (assédio ascendente), com intenção de discriminar e perseguir, buscando
eliminar a vítima do ambiente de trabalho.
Vertical Ascendente
Essa modalidade pode ocorrer quando, hierarquicamente, o superior se sente ameaçado pelo
desempenho do subordinado como também quando o subordinado apresenta dificuldades de
adaptação à organização e por isso não apresenta o desempenho desejado pelo empregador.
29
pela competitividade e lucratividade a baixo custo, exigindo-se da
força de trabalho humano uma parcela de responsabilidade pelos
prejuízos e manutenção do emprego, devendo o moderno trabalhador
se ajustar às políticas de reestruturação e flexibilização, além de ter
uma performance polivalente para se ajustar ao mercado globalizado e
de escassez de emprego.”
A Forma Horizontal
A forma horizontal ocorre com pessoas do mesmo nível hierárquico dentro da organização. É
um tipo de assédio que encontra respaldo na teoria de Sennett (1999) e tem origem na disputa
entre iguais em busca de vitória em um ambiente competitivo. Por exemplo, um colega agride
ou humilha o outro com o intuito de conseguir se destacar na organização, que, em geral,
incentiva a disputa. Ou seja o assédio moral na modalidade horizontal acontece entre colegas
de trabalho de mesmo nível hierárquico. Pode acontecer quando há uma disputa de cargo ou
promoção.
Com base em pesquisa realizada na França, Hirigoyen (2005) demonstrou que 58% dos casos
de assédio moral vêm da hierarquia, ou seja, são “assédios verticais descendentes”. Em 29%
dos casos, eles decorrem de colegas e chefias imediatas e 12% constituem casos de assédio de
colegas. Apenas 1% dos assédios é proveniente de subordinados.
30
Para Dejours (1992), as relações de trabalho são os laços que criamos dentro da organização
entre todos os níveis hierárquicos. Contudo, esses laços podem-se tornar insuportáveis para
manter a convivência.
Para Hirigoyen (2005), quanto mais o ambiente for submetido ao estresse mais facilmente
poderá se desenvolver o assédio moral. Todavia, segundo a autora, os funcionários não
acham ruim desempenhar suas funções em ambientes muito estressantes, desde que sejam
motivados, reconhecidos e valorizados pelo trabalho que executam.
O responsável pelo assédio não é o excesso de trabalho. O que favorece o fenómeno são os
ambientes em que não existem regras, em que tudo é permitido e o abuso do poder não tem
limite, gerando uma verdadeira guerra psicológica no trabalho, que agrega dois fenómenos: o
abuso de poder e a manipulação perversa.
2.6.2 Sujeito
O Assédio Moral tem que ser praticado directamente sobre uma pessoa. Não são
considerados Assédio Moral os actos que são praticados contra uma globalidade de pessoas,
mesmo que esses sejam para perseguir o(s) assediado(s). A relação só existe quando alguém é
submetido por outro no local de trabalho a um tratamento vexatório e humilhante com o
31
intuito de violar a sua integridade moral. “É praticamente pacífico o entendimento sobre este
fenómeno no que diz respeito ao seguinte: trata-se uma relação assimétrica entre as partes,
entre assediado (s) e assediador (s).”1
Quem assedia, é o sujeito activo do Assédio Moral. Normalmente é quem possui mais poder
ou tem posição superior na hierarquia. Existem situações em que o assédio é direccionado ao
empregador mas, são “estatisticamente escassas (...) dada a proximidade exigida durante a
execução do contrato, especialmente manifesta nas situações em que o empregador é uma
pessoa singular ou nas situações em que o empregador apresente uma especial
vulnerabilidade, serem empregues pelos trabalhadores actos assediantes tendo em vista a
obtenção de um ascendente sobre o empregador.”1
O assediador parece para o exterior uma pessoa muito positiva, isso o torna bastante popular
e como tem quase sempre um estatuto de poder também contribui para a dificuldade de
comprovar a veracidade do fenómeno. Ele usa dessa “popularidade” para levar a cabo
comportamentos humilhantes e vexatórios ao assediado, criando um local de trabalho hostil e
intimidativo. Ao agir dessa forma, leva o grupo de trabalhadores a crer, que esta conduta é
aceitável, e estes outros trabalhadores não assediados, passam a constituir duas outras
“subfiguras” por assim dizer: “os Sighters ou Side Mobers , terceiros que assistem à prática
de actos lesivos e que optam não denunciar a sua constância, coadjuvando activa ou
passivamente o assediante na agressão compreendida”1
Assim, em uma análise psicológica rasa, os Assediadores são pessoas persuasivas, que tem
necessidade de controlar, humilhar e destruir para “mostrar quem manda” e suprir uma
necessidade de reafirmação pessoal às custas da integridade moral do outro.2
2.6.3 Actos
32
Moral só são relevantes os actos que violam a integridade moral da pessoa, enquanto
trabalhador quando são praticados em conjunto, por que somente nesse cenário é que
ofendem o bem jurídico de relevância constitucional.
2.6.4 O Objectivo
Assim como alguma parte da doutrina podemos chegar a conclusão que o objectivo do
assediador é que o assediado abandone o seu posto de trabalho. Isso é, na verdade o que
acontece na maioria dos casos. Entretanto, podemos perceber ao analisarmos casos concretos
que o assédio moral pode ter também outros fins “o assédio moral não se esgota numa
finalidade última e especial”. O assediador pode por exemplo usar da prática do Assédio
Moral para amedrontar o trabalhador ou o grupo de trabalhadores. Se fizesse parte do
conceito jurídico de Assédio Moral a finalidade do abandono da posição do trabalho, o
assediado não estaria legalmente protegido, “ou seja como a finalidade assinalada no domínio
da psicologia nem sempre se verifica, então, não pode ser consagrada como elemento
essencial do conceito jurídico, sob pena de tal conceptualização não abranger o fenómeno na
sua totalidade e, bem assim, produzir efeitos marcadamente perversos”. O abandono do
trabalho, apesar de comum é uma consequência do Assédio Moral, e não um critério
estruturante do seu conceito.
33
2.7 As Consequências Jurídicas do Assédio Moral
O ordenamento jurídico pátrio não traz lei específica de repressão e punição aos que praticam
assédio moral. O operador de direito ao trabalhar com tal tema tem que se valer de
instrumentos existentes na legislação vigente, fato este que as vezes o limitam a coibir a
prática do assédio moral.
Dessa forma, na esfera penal, de acordo com o caso concreto, pode se enquadrar o agressor
nos crimes contra a honra previstos no código penal nos artigos 233 a 234, quais sejam
difamação e injúria; ou ainda nos crimes contra a liberdade individual previstos no artigo 195
do Código Penal, onde quem, por qualquer meio, ameaçar outra pessoa com a prática contra a
integridade física, a liberdade pessoal, a liberdade e autodeterminação sexual ou bens
patrimoniais, de forma a causar-lhe medo ou inquietação ou prejudicar a sua liberdade de
determinação, é punido com pena de prisão até 1 ano e multa correspondente.
34
sua manutenção, por motivo de origem étnica, língua, sexo, origem, raça, cor, estado civil,
situação familiar ou idade, nos limites fixados por lei.
Lei nº23/2007, de 1 de Agosto, que aprova a Lei do Trabalho, consta no artigo 66 que, o
assédio, incluindo o assédio sexual, praticado no local de trabalho ou fora dele, que interfira
na estabilidade no emprego ou na progressão profissional do trabalhador ofendido, constitui
uma infracção disciplinar. Quando o assédio seja praticado pelo empregador ou pelo seu
mandatário, confere ao trabalhador ofendido o direito a ser indemnizado em vinte vezes o
salário mínimo, sem prejuízo de procedimento judicial, nos termos da lei aplicável (artigo
66/3 LT).
No (artigo 67/1 e 2), da Lei nº23/2007, de 1 de Agosto, que aprova a Lei do Trabalho, é
notável que aquele que comete uma infracção que ira comprometer as relações de trabalho, é
instruído a um processo disciplinar até mesmo a um despedimento, passamos a citar, “o
comportamento culposo do trabalhador que, pela sua gravidade e consequências, torne
imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho, confere ao
empregador o direito de fazer cessar o contrato de trabalho por despedimento”.
A aplicação da sanção disciplinar, nos termos do artigo 65, n.º 1 da LT, é obrigatoriamente
precedida da instauração de processo disciplinar que integra as seguintes fases:
35
ao órgão sindical existente na empresa uma nota de culpa, por escrito, contendo a
descrição detalhada dos factos e circunstâncias de tempo, lugar e modo do
cometimento da infracção que é imputada ao trabalhador;
b) Fase de defesa: após a recepção da nota de culpa, o trabalhador pode responder, por
escrito, e, querendo, juntar documentos ou requerer a sua audição ou diligências de
prova, no prazo de 15 dias, findo o qual o processo é remetido ao órgão sindical para
emitir parecer, no prazo de 5 dias;
c) Fase de decisão: no prazo de 30 dias, a contar da data limite para a apresentação do
parecer do órgão sindical, o empregador deve comunicar, por escrito, ao trabalhador e
ao órgão sindical, a decisão proferida, relatando as diligências de prova produzida e
indicando fundadamente os factos contidos na nota de culpa que foram dados como
provados.
O processo disciplinar pode ser precedido de um inquérito, que não excederá 90 dias,
nomeadamente nos casos em que não seja conhecido o autor ou a infracção por ele cometida,
suspendendo-se o prazo de prescrição da infracção. (artigo 67/3 LT)
Para todos os efeitos legais, o processo disciplinar considera-se iniciado a partir da data da
entrega da nota de culpa ao trabalhador. (artigo 67/4 LT)
36
Figura 1: Fases do Processo Disciplinar: Regra geral
Se o trabalhador se recusar a receber a nota de culpa, deve o acto ser confirmado, na própria
nota de culpa, pela assinatura de dois trabalhadores, dos quais, preferentemente, um deverá
ser membro do órgão sindical existente na empresa. (artigo 67/6 LT)
37
Assim, neste tópico buscaremos dar destaque para as principais consequências oriundas da
prática de assédio moral, desde a repercussão na espera cível e trabalhista, até na esfera
criminal.
Inicialmente, deve-se registar que o dano imediato ocasionado à empresa, diz respeito ao
déficit que o trabalhador acarretará a empresa. Isso porque, ao ser vítima de assédio moral, o
trabalhador inevitavelmente não produzirá da mesma forma que antes, podendo inclusive
pedir demissão, como ocorre em grande parte dos casos de assédio. (RAMOS, 2012)
Pamplona Filho (2006) nos lembra que situações assim são bastante prejudiciais à empresa,
ainda mais se o trabalhador for especializado na sua função, pois não existe a possibilidade de
ser substituído imediatamente, o que leva à conclusão de que quanto mais especializado o
trabalhador assediado, maior será o prejuízo para a empresa.
Insta salientar também que quando a empresa, através de seus responsáveis hierárquicos,
passa a praticar o assédio moral, está se desviando da função para a qual fora criada, é dizer,
estamos diante de um desvio da função social da empresa. (ZANETTI, 2008)
Destarte, a empresa deve respeitar os direitos fundamentais prescritos na nossa lei maior,
chamando para si o dever de respeitar a função social, de tal sorte que o empregador que
desrespeitar os trabalhadores e não valorizá-los, seja através da prática do assédio moral ou
qualquer outra conduta ilícita, não respeita sua função social, e descumpre a finalidade do
Estado. (RUFINO, 2006)
Contudo, a responsabilidade civil figura como uma das principais consequências que podem
advir do assédio moral. Quando se fala em responsabilidade civil, está-se falando ao dever
que todos têm de não prejudicar a outrem, sob pena de ser lhes aplicadas medidas com o
intuito de compeli-lo a reparar os danos causados por sua conduta. (DINIZ, 2002)
38
3 CAPÍTULO III: METODOLOGIA
Segundo Gil (2008:28) este tipo de pesquisa pode ser classificada em exploratória, descritiva
e explicativa. Portanto, para a elaboração deste estudo vamos privilegiar a pesquisa
exploratória, visto que, este tipo tem como objectivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, como forma de torná-lo mais explícito. Na maioria dos casos envolve entrevistas
com pessoas ligadas ao problema estudado e o levantamento bibliográfico.
No que diz respeito a este tipo, podemos identificar oito tipos de pesquisa, nomeadamente:
pesquisa bibliográfica, documental, experimental, levantamento, estudo de caso, participante,
de acção e finalmente a pesquisa ex-post-facto (idem). Importa referir, que neste trabalho far-
se-á o cruzamento da pesquisa bibliográfica. A primeira técnica consiste no uso do material já
publicado, constituído por livros, artigos e relatórios disponíveis e obtidos da internet.
39
3.4.2 Dados secundários
A colecta de dados secundários foi através de uma revisão bibliográfica em manuais e artigos
científicos disponíveis na internet, possibilitando assim uma base teórica sobre o tema.
40
4 CAPÍTULO IV: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
4.1 Conclusões
No entanto, mesmo com a conquista de vários direitos trabalhistas e outros direitos sociais, o
trabalhador ainda é vítima de um mal que teima em assolar o ambiente de trabalho no século
XXI: o assédio moral, entendido como um fenómeno cujo objectivo é reduzir o trabalhador a
uma condição de inferioridade, praticado por variadas formas, como bulling, cobranças
ásperas de resultado, podendo ser praticado através de palavras ou escritos, de forma a
submeter o obreiro a grandes humilhações e traumas. Logo conclui-se que o assédio moral
causa danos irreparáveis para a vida da vítima, sendo considerada uma forma de violência
grave, portanto ele deve ser banido do ambiente laboral. No âmbito do exercício da
actividade laboral o Assédio Moral, acontece normalmente em relações de hierarquia,
pressupondo a existência de pelo menos dois sujeitos: o sujeito passivo é o assediado, e o
sujeito activo o assediador.
O assédio moral existe desde que surgiram as primeiras relações de trabalho na sociedade,
sendo que hoje tem se manifestado de forma mais contundente, despertando a atenção dos
estudiosos do direito e das autoridades competentes. Conforme foi dito ao longo deste
trabalho, o assédio moral pode ser praticado pelos superiores hierárquicos, pelo empregador
ou mesmo por um funcionário de igual hierarquia. Essa desvalorização da dignidade da
pessoa humana pode ocorrer por um ataque de grupo ou individual, podendo ter um tom de
brincadeira que humilha e reduz a vítima, ela não só se apresenta no ambiente de trabalho
como também nas várias relações sociais do individuo.
O ordenamento pátrio ainda não tem uma legislação que enfrente o tema atinente ao assédio
moral, ficando a cargo da jurisprudência, com o aval da doutrina e da comunidade médica,
preencher essa lacuna legislativa.
41
obrigação de indemnizar pelos danos causados, podendo, em alguns casos, responder
criminalmente, a depender da conduta praticada, se porventura se enquadrar em um tipo
penal previsto na lei.
O assédio moral muitas vezes aniquila as vítimas, ocasionando sequelas psíquicas, físicas e
patrimoniais. É nesse momento que surge o Direito servindo como censor a destinar
instrumentos de prevenção, repressão e desestimulo a prática do assédio moral. Por isso que
podemos observar que o Assédio moral nas relações de trabalho, pode ser praticado por
colegas de trabalho (com o mesmo nível hierárquico), pelo superior hierárquico e contra o
mesmo de maneira perversa com o intuito de desqualificar a vítima. Nos dias actuais
infelizmente isso acontece muito, em decorrência da competitividade e em busca do
profissional ideal no mercado de trabalho, torna-se atitudes quotidianas no ambiente laboral.
Como em diversos países, o essencial seria a aprovação de uma lei para responsabilizar de
maneira civil, administrativa e penalmente os agressores, em busca de um ambiente de
trabalho saudável e para melhor qualidade de vida aos trabalhadores.
Este fenómeno tem consequências nefastas não só para o assediado como também para sua
família, seus reflexos são sentidos no próprio local onde a actividade profissional é
desenvolvida. Toda esfera envolta do sujeito passivo é atingida de alguma forma pelas
consequências do Assédio Moral que ele vem sofrendo.
4.2 Recomendações
Esta violência de cunho psicológico pode ser praticada de diversas formas, tais como, a
limitação da comunicação do assediado, o isolamento, a humilhação por meio de piadas,
risos, sussurros e brincadeiras, a busca por desqualificar a vítima e por demonstrar sua
incapacidade para o trabalho, bem como a submissão do assediado à situações vexatórias.
As referidas condutas geram imensos prejuízos para a vítima e para a empresa. Esta além de
estar vinculada a rescindir o contrato de trabalho da vítima, pagando-lhe todas as verbas
rescisórias, perderá eficiência, assiduidade por parte dos empregados, tempo ante a
necessidade de buscar e seleccionar novos trabalhadores, dinheiro, em razão do custo dos
embates judiciais e das licenças relativas às doenças do trabalho, bem como reputação em
face do seu mercado consumidor.
42
E nesta senda é recomendável que, seja criadas leis especificas sobre o assunto inerente ao
assédio moral no trabalho, de modo a proteger as vitimas, e no nosso país (Moçambique),
ainda não existe uma lei especifica que trata sobre o assédio moral, a não ser que quando se
chegue a casos extremos, seja utilizada o código penal, onde ira-se tratar o assunto, como
calunia, injuria, abuso de poder entre outras infracções, de modo a punir o agressor
permitindo, por um lado, que os assediadores conheçam o conteúdo do comportamento
proibido e a concreta penalidade a que estão sujeitos, e, por outro lado, fazendo com que os
assediados possam saber a partir de que momento sua integridade moral e estabilidade no
empregado passariam a ser protegidas pela lei penal, com o fim de prever o direito do
trabalhador a não ser vítima de assédio, e de proclamar seus efeitos e consequências jurídicas
no caso de sua prática no âmbito da empresa e, igualmente, da função pública, razão pela
qual, como já destacado, também os Estatutos dos funcionários públicos das diversas esferas
dos Poderes Públicos deveriam prever normas e medidas de idêntico teor.
43
4.3 Referências
1. AGUIAR, André Luiz Souza. Assédio moral nas organizações: estudo de caso dos
empregados demitidos e em litígio judicial trabalhista no Estado da Bahia. 2003. 16 f.
Dissertação (Mestrado em Administração Estratégica) – UNIFACS, Universidade
Salvador, Salvador, 2003.
2. AGUIAR, André Luiz Souza. Assédio Moral: o direito à indenização pelos maus-
tratos e humilhações sofridos no ambiente do trabalho. São Paulo: Ed. LTr., 2005.
3. AGUIAR, André Luiz Souza. Assédio moral: o direito à indenização pelos maus-
tratos e humilhações sofridos no ambiente do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2006.
4. AGUIAR, Maria Aparecida Ferreira de. Psicologia aplicada à administração. 3ª
edição. São Paulo: Excelius Editora Ltda, 2002.
5. ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de trabalho. 2. ed. Curitiba:
Juruá, 2008.
6. ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de trabalho. Curitiba: Juruá,
2005.
7. BARRETO, M. A. Assédio moral no trabalho. São Paulo: LTr, 2007.
8. BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2006.
9. CAIXETA, Sebastião. Guerra psicológica: O assédio moral é tão antigo quanto o
próprio trabalho. 2005.
10. DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São
Paulo: Cortez, 1992.
11. Dieter Zapf, Cameron Knorz, Matthias Kulla, “On the relationship between Mobbing
factors, and job content, social work environment and health outcomes”, European
Journal of Work and Organisation Psychology, vol 5, 1996, issue 2.
12. DlNIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro -Responsabilidade Civil, v,7.
16 Edição.Editora Saraiva 2002.
13. FERREIRA, Hádassa Dolores Bonilh. Assédio Moral nas relações de trabalho. 2. ed.
Campinas: Russell editores, 2010.
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