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Problema 2 – “Não posso acreditar!

Dona Benedita, 73 anos, é quem movimenta o Hiperdia! Sempre chega no posto


cantando ou fazendo piada. Ela não tem diabetes, mas tem HAS bem controlada com
dieta, atividade física e medicação. A cada reunião chega cantando: “diabetes ok,
hipertensão ok... A losartana apaga todo mal que já me fez”. Viúva há 15 anos, teve
alguns namorados neste período e conta: “conheci todos no baile da melhor idade!”.
Mas hoje cedo chegou à UBS com quadro de herpes zoster no hemitórax direito e
contou que também apresentou um episódio de candidíase oral há dois meses. Dona
Benedita foi atendida pela Dra. Ana que realizou teste rápido para HIV (figura abaixo).
Depois do resultado, positivo, a equipe da ESF e a D. Benedita reuniram-se para
esclarecer sobre como serão os próximos exames confirmatórios e acompanhamentos
profissionais. Mas Dona Benedita desconfia do resultado positivo: “Oxe!! Como que
peguei essa doença? Só esse exame que parece um teste de gravidez e já tem um
resultado?”
Depois de alguns meses, a equipe nota que a adesão ao tratamento estava difícil –
Benedita já não mantinha a empolgação e queixava-se: “são muitos remédios...eu me
atrapalho: tomo um esqueço o outro...minha vida mudou demais, esse tratamento me
deixa esquisita...”

Palavras Desconhecidas
Não encontramos nenhuma.

Tempestade de Ideias
1. ISTs;
2. Saúde do idoso;
3. Saúde da mulher;
4. Saúde da comunidade;
5. Sem apresentação de sintomas;

Hipótese diagnóstica
HIV/AIDS

Levantamento de Questões e Hipóteses de Explicação


1. Qual relação do Herpes zoster e candidíase com HIV/AIDS?
H: Imunossupressão devido à queda nas células de defesa (TCD4) propiciar o
surgimento de infecções oportunistas.

2. Qual a relação da quantidade de parceiros e a contaminação pelo HIV?


H: Relações sexuais desprotegidas se constitui fator de risco para a contaminação pelo
HIV. Falta de educação em saúde.

3. Qual a confiabilidade de um único teste rápido positivo para diagnóstico do HIV?


H: Não há confiabilidade no teste rápido positivo, visto que o MS preconiza mais um
teste de novo método (ELISA + CONTAGEM DE CD4 + teste molecular) para
comprovação.

4. Por que é importante a realização de outros exames para comprovação do HIV?


H: Eliminar a possibilidade de falsos positivos. Melhorar a adesão ao tratamento.
5.Por que a polifarmácia do tratamento retroviral traz a idosa mudança de
comportamento?
H: Efeitos colaterais. Senescência do idoso. Questão psicológica de ante do resultado.
Estigma do HIV na sociedade.

Objetivos de Aprendizagem
1. Levantar os fatores de risco para a contaminação pelo HIV.
2. Diferenciar HIV de AIDS.
3. Compreender a fisiopatologia do HIV.
ESTRUTURA MOLECULA DO HIV
Quando falamos em estrutura do HIV, precisamos dividir em 3 porções bem distintas.
A primeira é o seu conteúdo interior. Dentro do seu conteúdo interior ele vai ter o seu
material genético e as suas enzimas. Esse material genético e enzimas é revestido por
um material que chamamos de capsídeo. Esse capsídeo é responsável por guardar o
material genético do vírus HIV.
Esse vírus também é revestido por um envelope que tem vários receptores na sua porção
externa e esse envelope serve primeiro para proteger o vírus e segundo para fazer
diversas funções de conexão, de adesão, de reconhecimento ao redor desse vírus.
O que é que ele tem no seu interior? No seu interior ele tem o seu material genético que
pro HIV é do tipo RNA fita simples, e além disso, ele vai ter diversas enzimas que
fazem o processo de transcrição reversa.
Vamos voltar um pouco para biologia celular. Como é que o DNA vira DNA? Ele faz
isso por uma série de moléculas que fazem o processo de replicação (duplicação). Como
é que eu faço para um DNA virar RNA? Eu tenho moléculas que fazem o processo de
transcrição, ele lê o DNA em RNA. Como é que eu faço em uma célula pro RNA virar
DNA? Eu não faço! Não existe isso para uma célula. Obrigatoriamente todo DNA pode
ser transcrito para RNA, mas o inverso não. Aí que o vírus do HIV tem um papel
diferenciado. Porque? Porque ele possui uma enzima de fazer RNA virar DNA, porque?
Porque com o DNA ele vai produzir novos RNAs e esse processo ele só acontece
porque ele tem essa enzima chamada de TRANSCRIPTASE REVERSA, porque ela faz
esse processo de transcrição reversa.
Por isso que o nome “retro” não significa que é um vírus antigo. Retro é porque ele faz
um processo retardado, reverso, ao contrário. Então retrovírus é porque ele faz um
processo reverso de transformar RNA em DNA.
Como eu disse anteriormente, ele é tipo RNA fita simples positivo e ele em forma de
vírion ele tem um formato esférico. O que que é um vírion? O vírion é quando o HIV
ele ta aí pela natureza. Ele não ta infectando alguém ou ele até está dentro do
organismo, mas ele não está atuando como ele deveria atuar, ele ta na sua forma inativa,
a sua forma disseminativa. Por isso que eu falei que o vírion ele serve, essas proteínas
ao seu redor, como reconhecimento, adesão e proteção. Porque ele serve literalmente
para proteger, até o vírus encontrar uma célula para poder invadir.
Por fim, ele tem um tamanho extremamente pequeno, cerca de 100 nanômetros, e ele é
um vírus do tipo envelopado.
COMPONENTES ESTRUTURAIS
Quanto aos componentes estruturais vamos ver molécula por molécula do HIV.
Observem que aqui eu tenho por inteiro. Dentro, os componentes internos RNA e
enzimas. Aqui nessas bolinhas é o capsídeo, aquilo que eu falei do primeiro envelope do
conteúdo do vírus que seria entre muitas aspas, o núcleo de uma célula, e por fora eu
tenho um envelope que é a estrutura do vírion, a estrutura analogamente a uma célula, a
membrana plasmática.
Vamos falar de estrutura por estrutura.
Começamos pelo envelope que seria análogo a membrana plasmática. O envelope ele
tem principalmente duas proteínas chamas GP41 e GP120. Se são estruturas de
envelope, são estruturas que atuam parecidas com a membrana plasmática. O que uma
membrana plasmática faz? Adesão, proteção e reconhecimento. O que a GP41 e a
GP120 fazem? Adesão, proteção e reconhecimento.
Matriz
Na matriz vamos ver principalmente a proteína chamada de P17 e no capsídeo a
proteína chamada de P24. Elas são utilizadas para diagnóstico mais precoce da infecção
pelo HIV.
E por fim, o que é que eu tenho dentro da estrutura do capsídeo? Eu tenho a
TRANSCRIPTASE REVERSA (que faz com que o DNA vire RNA), tenho a
INTEGRASE VIRAL (que faz com que o DNA pro viral se integre ao DNA da célula
humana), e eu tenho a PROTEASE VIRAL (que serve para quebrar as proteínas que a
célula infectada ta produzindo para que essas proteínas se tornem proteínas especificas
do vírus).
4. Entender os sinais e sintomas do HIV.
5. Conhecer os métodos de diagnóstico para o PV/HIV e da AIDS.
6. Conhecer as formas de tratamento clínico para o HIV/AIDS.
7. Descrever as medidas de prevenção e profilaxia para o HIV/AIDS.
8. Conhecer a rede de cuidados e citar os indicativos da necessidade de atenção
especializada.

PALAVRAS PRA ENTENDER MELHOR O ASSUNTO:

 Retrovírus - é um tipo de vírus que contém como material genético o RNA


associado à enzima transcriptase reversa.
 DNA – é responsável pelo armazenamento da informação genética.
 RNA – permite que toda a informação contida no DNA possa ser copiada e
transportada até as estruturas responsáveis pela elaboração de proteínas.
 Proteínas - determinam a forma e a estrutura das células e coordenam quase
todos os processos vitais.
 Antígeno - é toda substância estranha ao organismo que desencadeia a
produção de anticorpos.
 Linfócitos T - são células do sistema imunológico responsáveis pela defesa do
organismo contra agentes desconhecidos (antígenos).
 Linfócitos T CD4 - as funções das células T CD4+ efetoras são recrutar e ativar
os fagócitos (macrófagos e neutrófilos) e outros leucócitos que destroem os
microrganismos intracelulares e alguns extracelulares, e ajudar os linfócitos B a
produzir anticorpos.
 GP 120 – glicoproteína do HIV que atua como uma chave para abrir o CD4 e o
CCR5 (são receptores que ficam na superfície dos linfócitos T – O CCR 5 é um
receptor menor que o CD4).
 Capsídeo – cápsula de proteínas existente no HIV, tem a função de proteger as
partículas essências do HIV.
 Viremia – a viremia é caracterizada pela presença de partículas virais no
sangue.
 Mononucleose – é uma infecção causada pelo vírus Epstein-Barr, transmitida
pela saliva, além de objetos contaminados e por transfusão de sangue.
 Soroconversão - é a positivação da sorologia para o HIV.
 Latência clínica – uma das 3 fases em que a infecção por HIV pode se
apresentar.
 Trombocitopenia – é o termo utilizado para designar uma doença das plaquetas,
células que compõem o sangue, mas em quantidades reduzidas neste caso.
 Profilaxia - é o termo utilizado para denominar as medidas utilizadas na
prevenção ou atenuação de doenças.

PASSOS PARA INFECÇÃO PELO VÍRUS HIV – FISIOPATOLOGIA

VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA

1. O vírus do HIV vai se ligar aos linfócitos T por meio da glicoproteína GP120
presente no vírus e dos receptores presentes no linfócito T (principalmente o
CD4 e CCR 5 – a menor). Após isso o vírus começa a se fundir com o linfócito
T (o envelope externo é descartado) e o capsídeo (conteúdo interno do vírus)
penetra no citoplasma. Esse capsídeo é digerido pela célula e após a quebra do
capsídeo os principais componentes do HIV (o RNA, a enzima transcriptase
reversa, a enzima integrase e a enzima protease) são liberados. Cada um dos
componentes tem uma função especifica, mas o objetivo em comum é terminar
de invadir a célula.
2. O HIV não tem DNA no material genético (sem o DNA o vírus não consegue se
reproduzir). O HIV possui apenas uma fita de RNA (o DNA possui duas fitas na
sua composição) por isso é chamado de retrovírus. O RNA vai ser traduzido para
DNA através da enzima transcriptase reversa (1º a transcriptase
reversa cria uma fita de DNA, depois faz uma cópia dessa fita fazendo com que
surja o DNA de dupla hélice – duas fitas). A forma de DNA em dobro vai ser a
única capaz de se confundir com o material genético do linfócito T.
3. Em seguida a enzima integrase apara as extremidades do novo DNA do
vírus pra ele se encaixar no meio do material genético do linfócito T que foi
invadido, é a enzima integrase que vai levar o DNA do HIV que estava solto no
citoplasma até o núcleo da célula (lá a enzima “solda” o DNA do vírus - que
passa a ser chamado de provírus - ao DNA do linfócito). É assim que o linfócito
fica oficialmente infectado.
4. O linfócito T que foi modificado, passa a “obedecer” aos comandos do vírus.
Esses comandos vão ser enviados através de um RNA mensageiro que sai do
núcleo e vai de volta pro citoplasma. Esse RNA mensageiro vai alcançar os
ribossomos (responsáveis por fabricar cadeias de proteínas) presentes na célula.
Depois de receber o comando, os ribossomos produzem as proteínas que vão
servir de base para a formação das novas cópias de HIV.
5. A protease corta as cadeias de proteínas que saíram dos ribossomos em
sequências menores ajustadas aos tamanhos e as necessidades da reprodução do
vírus. Com isso são produzidas novas cópias de RNA, transcriptase reversa,
integrase e protease. Com o conteúdo (material) pronto, é formado o capsídeo. O
novo HIV está preparado para se espalhar!
6. O vírus recém-criado vai em direção a borda da célula, empurrando a membrana
para sair, o que faz com que ganhe um envelope novo. Nas primeiras fases da
infecção são produzidos 100 bilhões de novas cópias de HIV por dia e cada
cópia do vírus está apta para encontrar um novo linfócito e repetir todo o
processo.

COISAS IMPORTANTES PARA SABER SOBRE O HIV

1. O tempo entre a exposição e os sintomas, é de 5 a 30 dias.


2. O tempo decorrido para que a sorologia anti-HIV torne-se positiva é de 6 a 12
semanas após a aquisição do vírus, com o período médio de aproximadamente 2
meses.
3. Os pacientes podem apresentar sintomas de infecção viral, como: febre,
adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, rash cutâneo maculopapular
eritematoso; ulcerações mucocutâneas, envolvendo mucosa oral, esôfago e
genitália; adinamia, cefaléia, fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso,
náuseas e vômitos.
4. A candidíase oral da paciente é um dos sintomas do HIV presente no corpo dela
(processo oportunista de menor gravidade – infecção).
5. A queda progressiva da contagem de linfócitos T-CD4+ está diretamente
relacionada à velocidade da replicação viral e progressão para a aids.
6. A hipertensão arterial da paciente pode complicar ou ser agravante em alguma
fase de desenvolvimento da doença pelo HIV.
7. Pacientes com história prévia de infecção pelo vírus das hepatites B e C podem
experimentar reativação viral durante o curso da infecção crônica pelo HIV,
levando à progressão para estados de hepatite clinicamente ativa. Vale ressaltar
que a hepatite C apresenta uma progressão mais acelerada em indivíduos co-
infectados pelo HIV.
8. Em crianças menores de 2 anos, o resultado dos testes sorológicos é de difícil
interpretação, em virtude da presença de anticorpos maternos transferidos
passivamente através da placenta. Nesses casos, em virtude dos testes
imunológicos anti-HIV não permitirem a caracterização da infecção, recomenda-
se que a avaliação inicial de diagnóstico seja realizada por testes de biologia
molecular para detecção direta do vírus (PCR, NASBA, bDNA1 – exames de
detecção da carga viral)

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