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A TERAPIA DO ESQUEMA

Jeffrey Young

JJJ
A TERAPIA DO ESQUEMA

Modelo teórico prático, unificador e inovador


desenvolvido por Jeffrey Young em 1990 ampliando
a TCC

* A terapia do esquema enfatiza fortemente a dinâmica familiar e os estilos parentais como sendo aspectos

importantes para o desenvolvimento de uma infância saudável ou patológica dentro de uma perspectiva

emocional e comportamental.

* Os padrões desadaptativos adquiridos ao longo da vida do paciente, técnicas de mudança afetiva e a

construção de uma robusta relação terapêutica por meio de confrontação empática e o reparentamento

limitado, caracterizam fortemente a Terapia do Esquema.


OS CONSTRUCTOS BÁSICOS DA TERAPIA DO ESQUEMA

A evolução do termo“*esquema”(representação abstrata das


características distintivas de um evento).

- A filosofia grega (Crisipo, 279 a 206 a.C.), apresenta os princípios da lógica como
“esquemas de inferência”.
- Para Kant, esquema é uma concepção do comum a todos os membros de uma classe.
- Piaget descreveu os esquemas mentais em diferentes etapas do desenvolvimento
cognitivo da infância.
- Para a Psicologia Cognitiva, o termo esquema refere-se a um plano cognitivo
abstrato que serve de guia para resolver problemas e interpretar situações.
- Em seus primeiros trabalhos, Beck (1967), definiu o termo esquema como um
princípio organizativo amplo que um indivíduo usa para entender a própria experiência.
A DEFINIÇÃO DE ESQUEMA DE YOUNG (1990,1999)

Esquemas desadaptativos remotos são padrões cognitivos disfuncionais difusos


desenvolvidos durante a infância e adolescência, formado por memórias, sensações e
emoções que influenciam a maneira de pensar, agir e relacionar com os outros, perpetuando-
os por toda a vida.
O para sobreviver e constituem o núcleo do
Os esquemas desadaptativos lutam
autoconceito e da concepção de mundo sendo a mudança vista como ameaçadora, já que o
esquema é aquilo que o individuo conhece como verdade, algo capaz de avaliar os
acontecimentos cotidianos. Os pacientes adultos recriam e repetem as condições da infância
que foram mais prejudiciais como se fossem familiares, proporcionando a eles um
sentimento de segurança (coerência cognitiva).

Os esquemas são dimensionais, ou seja, quanto mais grave um esquema, maior o


número de situações que podem ativá-lo.
“Esquemas são questões da vida que lembram icebergs, embora você
possa ver a ponta, a maior parte está abaixo da superfície, e essa parte
invisível é capaz de causar um dano significativo.”

(Loose,2011)
O
TERAPIA DO ESQUE

ORIGEM DOS ESQUEMAS

Temperamento
Emocional

ESQUEMA

Necessidades
As primeiras
emocionais não
Experiências
satisfeitas na
de vida
Infância
A ORIGEM DOS ESQUEMAS

AS NECESSIDADE EMOCIONAIS FUNDAMENTAIS

- Segurança, estabilidade, cuidado e aceitação.


- Autonomia, competência e sentimento de identidade.
- Liberdade de expressão, necessidades e emoções válidas.
- Limites realistas e autocontrole.
O
AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS DE VIDA

Frustação nociva das


necessidades

Traumatização ou
vitimação

Exagero de
“experiências boas”

Internalização com
pessoas importantes
O TEMPERAMENTO EMOCIONAL

O
O temperamento emocional(ansioso-calmo, tímido-sociável) interage
com eventos dolorosos da infância na formação de esquemas.

O ambiente favorável ou adverso podem sobrepujar o temperamento


emocional. Por exemplo: Um ambiente seguro pode tornar uma criança tímida
bastante amigável.
Domínios de esquemas e os esquemas desadaptativos remotos
desadaptativos remotos e os domínios de esquemas associados

DOMÍNIO I – Desconexão e Rejeição

Os pais ou responsáveis são ou eram frios, individualistas, rejeitadores, explosivos


ou abusivos. Esses esquemas criam a expectativa que as necessidades de
segurança, cuidado e respeito não oserão atendidas, desenvolvendo os
sentimentos de isolamento e crenças de não ser merecedor do amor e cuidado
dos outros.

Esquemas relacionados
- abandono/instabilidade
- desconfiança/abuso
- privação emocional(CUIDADOS,EMPATIA E PROTEÇÃO)
- defectividade/vergonha
- isolamento social e alienação
DOMÍNIO II- Autonomia e Desempenho prejudicados

Os pais ou responsáveis são ou eram geralmente emaranhados afetiva e


comportamentalmente aos filhos, prejudicando a confiança da criança, superprotegendo ou
não a estimulando adequadamente para que esta tenha um desempenho competente. Sendo
assim, o indivíduo desenvolve crenças de que é incompetente para lidar com as
responsabilidades cotidianas, crenças de fracasso e medo exagerado de catástrofe iminente.

Esquemas relacionados

- dependência/incompetência
- vulnerabilidade ao dano ou à doença

- emaranhamento/self subdesenvolvido

- fracasso
DOMÍNIO III- Limites prejudicados

A família se mostra mais permissiva, existe uma falta de orientação e direção adequada.
Dessa forma, são desenvolvidas crenças que envolvem sentimentos de superioridade,

indisciplina às regras, dificuldade de autocontrole e tolerância à frustração.

Esquemas relacionados

- arrogo/grandiosidade
- autocontrole/autodisciplina insuficientes
DOMÍNIO IV- Direcionamento para o outro

Nesse caso, os desejos dos pais são mais valorizados que as necessidades e sentimentos
dos filhos. Dessa forma, os filhos suprem aspectos importantes de si mesmos para ganhar
amor e aprovação. Desenvolve-se um foco excessivo em cumprir as necessidades alheias
em lugar das próprias necessidades. Existe uma ênfase exagerada na obtenção de
aprovação e reconhecimento enfatizando exageradamente o status, dinheiro, aparência e
aceitação social à custa de um desenvolvimento do self verdadeiro e mais seguro.

Esquemas relacionados

- subjugação
- auto sacrifício
- busca de aprovação/reconhecimento
DOMÍNIO V - Supervigilância e Inibição

A origem familiar é exigente, severa e punitiva. O dever, o perfeccionismo, a evitação


de erros predominam sobre o prazer, a alegria e relaxamento. Desenvolvem-se assim padrões
inflexíveis a fim de evitar críticas causando a inibição da ação e comunicação evitando uma
possível desaprovação alheia.

Esquemas relacionados

- negativismo/ pessimismo
- inibição emocional
- padrões inflexíveis / postura crítica exagerada
- postura punitiva
Operações dos esquemas

A Perpetuação

Refere-se aos comportamentos, sentimentos e pensamentos do paciente que reforçam os


esquemas disfuncionais.

Mecanismos que perpetuam os esquemas:

- as distorções cognitivas: há uma percepção equivocada das situações, reforçando o


esquema.

- padrões de vida auto derrotistas: escolha inconsciente por situações e relacionamentos que
ativam e perpetuam o esquema.

- estilos de enfrentamento: começam a desenvolver na infância como uma maneira de se


adaptar às experiências prejudiciais e com o passar do tempo, tornam-se desadaptativos.
Operações dos esquemas

A Cura

“É desagregador renunciar a um esquema...O mundo inteiro balança. Renunciar a um


esquema é abrir mão do conhecimento de quem se é ou de como é o mundo.” (Young,
2008)

O principal objetivo da terapia do esquema é que terapeuta e paciente “declarem


guerra” contra o esquema. Através de intervenções cognitivas, afetivas e
comportamentais, o paciente aprenderá a substituir estilos de enfrentamento
desadaptativos por padrões comportamentais mais saudáveis (a mudança
comportamental).
Os estilos de enfrentamento desadaptativos

Conceito

É uma resposta para lidar com a ativação de um esquema. Desenvolvem-se na infância


como uma maneira de se adaptar às experiências prejudiciais e com o passar do tempo,
tornam-se desadaptativos, perpetuando os esquemas.

As respostas comportamentais de um indivíduo não fazem parte do esquema e


sim da sua resposta de enfrentamento. Cada paciente utiliza diferentes estilos de
enfrentamento para enfrentar o mesmo esquema.

O temperamento é um dos principais fatores para determinar os estilos de


enfretamento desenvolvidos pelo paciente.
Os estilos de enfrentamento

Resignação: aceitam o esquema


como verdadeiro. Repetem padrões
evocados pelo esquema.

Evitação: evitam situações que


possam ativar os esquemas.

Hipercompensação: Comportam-se e
relacionam-se como se o oposto do
esquema fosse verdade
As respostas de enfrentamento

São os comportamentos específicos exibidos diante a uma ameaça, através

dos quais os estilos de enfrentamento são expressados. O estilo de

enfrentamento consiste em um conjunto de respostas de enfrentamento

que um indivíduo costuma usar para evitar a resignação ou

hipercompensação. Podemos dizer que o estilo de enfrentamento é um

traço e a resposta de enfrentamento é um estado.


Exemplos de respostas de enfrentamento desadaptativas

Esquemas Exemplos de Exemplos de evitação Exemplos de


desadaptativos remotos resignação hipercompensação
Abandono/Instabilidade Escolhe parceiros com Evita relacionamentos “Agarra-se” ao parceiro e
os quais não consegue íntimos. o “sufoca” a ponto de
estabelecer afastá-lo. Ataca
compromisso e se veementemente o parceiro
mantém no até mesmo por pequenas
relacionamento. separações.
Dependência/ Pede a pessoas Evita assumir novos Torna-se tão auto
Incompetência importantes que tomem desafios, como aprender suficiente que não pede
todas suas decisões a dirigir. nada a ninguém.
financeiras.
Arrogo/Grandiosidade Pressiona os outros para Evita situações nas quais Presta atenção excessiva
que tudo aconteça à sua é médio, e não superior. ás necessidades alheias.
maneira.
Subjugação Deixa que os outros Evita situações que Rebela-se contra a
controlem situações e possam envolver conflito autoridade.
tomem decisões com outros indivíduos.
Negativismo/ Pessimismo Concentra-se no Bebe para dissipar É exageradamente
negativo. Ignora o sentimentos pessimistas otimista.(tipo “Poliana”).
positivo. Preocupa-se e a infelicidade. Nega realidades
constantemente. Faz desagradáveis.
muitos esforços para
evitar qualquer resultado
negativo possível.
Modos de operação dos esquemas

Conceito

São considerados como o estado emocional e respostas de enfrentamento predominantes


em um determinado momento, tanto adaptativos como desadaptativos ativados pelos “botões
emocionais”.

O conceito de modos de esquema foi desenvolvido a partir do trabalho com pacientes


portadores do transtorno de personalidade bordeline e hoje já se aplica à outras categorias de
diagnóstico psicológico como a ansiedade, depressão e outros transtornos de personalidade.

No processo de cura do esquema, o terapeuta ajuda o paciente a “cambiar”, passar de um


modo disfuncional a um modo funcional
Os dez modos de esquemas

Young e cols(2008) identificaram dez modos de esquemas que foram agrupados em


quatro categorias:

1 - Modos Criança

Os modos criança são estão ativos tanto em adultos como crianças e são considerados os
mais importantes para se trabalhar. São descritas quatro possibilidades em relação ao modo
criança:
- Criança Vulnerável: geralmente apresenta a maioria dos esquemas nucleares e por isso está
no centro dos esforços terapêuticos. É caracterizado pela criança abandonada, abusada, privada
ou rejeitada.

-Criança Irritada: age com raiva por não ter suas necessidades emocionais atendidas, é a
criança irritada, furiosa, frustrada e impaciente.
-Criança Indisciplinada: expressa emoções e age a partir de desejos, de maneira
negligenciada sem considerar as consequências, é a criança impulsiva, indisciplinada e egoísta.

- Criança Feliz: as necessidades básicas são atendidas de maneira saudável, é a criança


protegida, satisfeita, realizada, autoconfiante.
2 - Modos enfrentamento disfuncional

São estados emocionais que envolvem emoções, cognições e respostas

comportamentais ativados quando os esquemas desadaptativos são ativados. Um modo, apesar

de se apresentar destrutivo, foi uma maneira que a criança encontrou para lidar com um problema

sério e difícil no passado, tornando-se agora obsoleto, prejudicial e devastador.

Os modos de enfrentamento disfuncional correspondem aos três estilos de

enfrentamento (evitação, resignação e hipercompensação), e são responsáveis por perpetuar

os esquemas.
- O capitulador complacente: há uma submissão ao esquema, tornando-se a criança passiva
que deve submeter aos outros.

- O protetor desligado: há um afastamento emocional utilizando formas de escape como o


abuso de substâncias.

- O hipercompensador: há uma tentativa disfuncional em refutar o esquema através do mal


comportamento.

3 - Modos pais disfuncionais

O paciente torna-se semelhante ao pai ou mãe internalizado:

- o pai/mãe punitivos

- o pai/ mãe exigentes


4 - Modo adulto saudável

É o modo que o terapeuta tenta fortalecer no processo terapêutico ensinando o


paciente a moderar, cuidar e curar os outros modos.
O processo terapêutico

A fase da avaliação e psicoeducação

Objetivos

- Ajudar o paciente a identificar os esquemas e suas origens na infância.

- Educar o paciente quanto seu modelo de esquemas, os estilos de enfrentamento,


modos de esquemas e respostas de enfrentamento.

- Desenvolver com o paciente a conceituação do caso e definir um plano de


tratamento focado nos esquemas.
A fase da avaliação e psicoeducação

Instrumentos para a avaliação:

- Entrevista anamnese

- Questionário dos Esquemas de Young (QEY)

- Inventário Parental de Young (IPY)

- Genograma familiar

- Exercícios imagens mentais


A Fase da mudança

Objetivo

Estimular o paciente a ativar os esquemas desadaptativos,discutí-los e tentar


neutralizá-los, substituindo-os por formas mais saudáveis de comportamento.

“O terapeuta do esquema não adere a um protocolo ou a um conjunto


rígido de procedimentos.” (Young e cols, 2008).

Técnicas utilizadas:

- Técnicas cognitivas

- Técnicas vivenciais
A relação terapeuta paciente

Na terapia do esquema a relação terapeuta paciente é o elemento


essencial para o processo de avaliação e mudança de esquemas.

Dois aspectos dessa relação são característicos da terapia do esquema:

- O Confronto Empático: é uma abordagem em relação ao paciente que envolve um


vínculo emocional verdadeiro. O terapeuta enfantiza e confronta o esquema.

- A Reparação Parental Limitada: “O terapeuta faz, dentro dos limites da terapia,


o que os pais deveriam ter feito e não fizeram, conseguindo sucesso na modificação dos
esquemas mais profundos” (Young, 2008).
OBRIGADA!

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