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AMENORREIA SECUNDÁRIA

Amenorreia Secundária: ausência de menstruação A investigação diagnóstica pode ser iniciada


por um período mínimo de 3 meses ou menos de 9 da seguinte forma:
ciclos menstruais, no período de um ano (definição • Afastar gestação.
FEBRASGO). • Dosar FSH: se diminuído, pensar em causas de
As etiologias são divididas didaticamente SNC e solicitar neuroimagem. Se aumentado,
em 4 compartimentos, tendo como base a pensar em causas ovarianas ou uterinas, mas
fisiologia do ciclo menstrual: antes, investigar possíveis alterações nos
• I - Úterovaginal: Síndrome de Asherman hormônios prolactina e função tireoidiana.
• II - Ovário: SOP, IOP, Síndrome de Savage O tratamento varia de acordo com a
• III - Hipófise: Hiperprolactinemia, Síndrome de causa, mas sempre considerar evitar as
Sheehan consequências do hipoestrogenismo (saúde
• IV - Hipotálamo: Amenorreia funcional óssea, risco cardiovascular), potencial
reprodutivo e risco de tumores gonadais.

1. DEFINIÇÃO

1.1 Conceitos e considerações gerais: 1.3 Define-se


Amenorreia é um sintoma que caracteriza a ausência • De acordo com a FEBRASGO:
de menstruação. Nem sempre precisa ser investigada, • Ausência de menstruação por um período mínimo
visto que existem causas fisiológicas de ausência de de 3 meses OU;
menstruação. • Menos de 9 ciclos menstruais, no período de um ano.
• De acordo com outras referências em Ginecologia:
1.2 Causas Fisiológicas de amenorreia: • Ausência de menstruação por mais de seis meses
(mulheres com ciclos irregulares);
Situações em que se espera ausência de • Ausência de menstruação por mais de três ciclos
menstruação: Gestação; Amamentação; Período da (mulheres com ciclos regulares)
menopausa. • Criptomenorréia: falta de exteriorização do fluxo menstrual.

2. CICLO MENSTRUAL FISIOLÓGICO


• Para entendermos as causas da amenorreia, é
importante relembrar acerca da Fisiologia do Ciclo
Menstrual;
• No núcleo hipotalâmico é liberado o GnRH de
maneira pulsátil → Á depender do padrão de
pulsatilidade do GnRH irá atuar na hipófise anterior
com a liberação de FSH e LH;
• Pulsos de GnRH com amplitude baixa e frequência
elevada estimulam o FSH;
• Pulsos de GnRH com amplitude alta e redução da
frequência estimulam a liberação de LH;
• O FSH/LH atuam em nível ovariano com a
liberação de hormônios esteroides (estrogênio
e a progesterona) a depender da fase do ciclo
ovulatório;
• O estrogênio e a progesterona terão ação
sistêmica e no útero, levando ao ciclo menstrual da
forma como conhecemos.

Eixo hipotálamo-hipófise-ovário-útero

Maria Júlia Carvalho de Souza - mariajucarvalhodesouza@gmail.com - 06616963594-921


2 GINECOLOGIA ENDÓCRINA

3. COMPARTIMENTOS
Alterações na função de cada compartimento deste • Culmina no Hipogonadismo Hipogonadotrófico (já
eixo (hipotálamo-hipófise-ovário-útero/endométrio) que as gonadotrofinas — LH e FSH — estão baixas)
resultam em diferentes etiologias de amenorreia.

3.3 II - Ovariano:
3.1 IV - Hipotalâmico:
• Ocorre por defeito das gônadas, onde apesar da
• O defeito na liberação de GnRH produção das gonadotrofinas pela hipófise, ou seja,
consequentemente leva à diminuição da produção com a secreção adequada de LH e FSH, não ocorre
das gonadotrofinas (LH e FSH). a resposta ovariana esperada.
• Culmina no Hipogonadismo Hipogonadotrófico (já • É o que leva ao chamado Hipogonadismo
que as gonadotrofinas — LH e FSH — estão baixas). Hipergonadotrófico (já que as gonadotrofinas — LH
e FSH — estão aumentadas, como tentativa de
estimular a produção ovariana).
3.2 III - Hipofisário:
• Com o defeito no funcionamento da hipófise 3.4 I - Úterovaginal:
anterior, não ocorre a produção de LH e FSH.
Com isso, não ocorre a estimulação gonadal e, • Em geral, por alteração estrutural ou de via de
consequentemente, não ocorre a produção de saída não ocorre a menstruação.
estrogênio e progesterona.

4. PRINCIPAIS ETIOLOGIAS DE AMENORREIA SECUNDÁRIA


Gestacional; Lactacional; Menopausa; SOP;
Hiperprolactinemia; IOP; Sinéquias intrauterinas;
Hipotalâmica.

4.1 Compartimento Útero-Canalicular


Síndrome de Asherman:
FISIOPATOLOGIA:
• Ocorre a formação de sinéquias intrauterinas
secundárias a procedimentos intra-útero (ex.:
curetagens, miomectomia histeroscópica), ou
outros processos inflamatórios pélvicos.
• As aderências são compostas por faixas de tecido
conjuntivo fibromuscular, que podem ou não estar
circundadas por epitélio superficial ou tecido glandular.

CLÍNICA: Sinéquias uterinas vistas pela histeroscopia.


• Dor pélvica, disfunção menstrual, infertilidade, CIRUGIAREPRODUCTIVA. Adherencias Intrauterinas.
abortos de repetição. Disponível em: <https://cirugiareproductiva.
blog/2021/08/20/adherencias-intrauterinas/>.
DIAGNÓSTICO:
4.2 Compartimento Ovariano
• Definitivo: histeroscopia mostrando a localização e
a extensão das aderências intrauterinas. Síndrome dos Ovários Policísticos:
• Todas as dosagens hormonais estão normais, visto • Manifesta-se clinicamente com disfunção ovulatória
que o problema não é gonadal (ovariano), mas (ciclos menstruais longos ou amenorreia com
canalicular. anovulação), sinais de hiperandrogenismo e presença
de ovários com aspecto policístico à ultrassonografia.
TRATAMENTO: • É frequente a associação com síndrome
• O tratamento envolve a lise de aderências através metabólica nessas pacientes.
da realização de histeroscopia. • Na investigação hormonal, os níveis de LH
encontram-se superiores aos de FSH.
• São utilizados os critérios de Rotterdam para
diagnóstico.
• É a principal causa de amenorreia secundária
anovulatória.

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AMENORREIA SECUNDÁRIA 3

Obs.: A SOP é abordada em detalhes em aula de uma mutação em determinada região do gene
específica à parte. FMR1, que se localiza no cromossomo X. Essa
mutação é bastante peculiar e se caracteriza por
Insuficiência Ovariana Prematura (IOP): aumento no número de repetições de trincas de
DEFINIÇÃO: bases (citosina- guanina-guanina). Em meninas é
uma causa importante de IOP.
• Perda da função ovariana antes dos 40 anos de idade. • Pesquisa de autoanticorpos para investigar uma
possível ooforite autoimune: em geral, é secundária
FISIOPATOLOGIA: a algumas doenças como adrenalite ou pós-
• Por causas variadas, que incluem defeitos caxumba. Nessas situações, há a produção de
cromossômicos e genéticos, deficiências enzimáticas, autoanticorpos contra os ovários.
processos autoimunes, consequências de radio ou
quimioterapia sobre os ovários, infecções ou cirurgias, TRATAMENTO:
ocorre a depleção e a disfunção folicular.
• A depleção folicular é a mais comum e pode ser
• Os objetivos do tratamento da IOP são reverter
os sintomas e reduzir as repercussões do
consequência de redução do número inicial de
hipoestrogenismo.
folículos primordiais, aumento da apoptose (atresia
folicular acelerada) ou
Perda de óvulos destruição
ao longo da vida folicular. Na
• Envolve principalmente a reposição hormonal
(Dinâmica ovariana)
para preservar a saúde óssea dessas pacientes e
disfunção folicular, há falha na resposta do folículo
Número de
folículos
6 a 7 milhões reduzir seu risco cardiovascular.
às gonadotrofinas. Esse mecanismo é mais raro e
1.000.000
Nascimento

Fertilidade Ótima

está associado preferencialmente a deficiências


Diminuição da Fertilidade

Síndrome de Savage/Síndrome de Resistência


100.000
Fim da

enzimáticas (17α-hidroxilase, 17,20-desmolase, Fertilidade

Ovariana
10.000

aromatase) e mutações em receptores (FSH, LH,


Idade

• Cariótipo 46 XX.
1.000

proteína G). Menopausa

• Pode ainda permanecer como causa idiopática na


maioria das vezes. FISIOPATOLOGIA:
• As gônadas são funcionantes porém não há
esteroidogênese por conta de uma mutação
em nível de receptor ou pós-receptor das
gonadotrofinas, não permitindo a ação destes
hormônios.

CLÍNICA:
• Ausência de caracteres sexuais secundários.
• Em geral, o que ocorre é uma resistência parcial à
ação das gonadotrofinas manifestando-se, mais
frequentemente, como amenorreia secundária.

DIAGNÓSTICO:
Decréscimo folicular ao longo da vida da mulher. • Elevados níveis de gonadotrofinas, sem depleção
folicular.
CLÍNICA: • Avaliação histológica dos ovários: presença de
• Alteração menstrual tipo oligo/amenorreia por folículos, ausência de infiltrado linfocitário.
pelo menos 4 meses, não sendo obrigatório que
apresente sintomas de hipoestrogenismo (como, TRATAMENTO:
por exemplo, fogachos).
• Reposição hormonal.
• Obs.: quando existem causas genéticas para IOP,
em geral manifesta-se como amenorreia primária.
4.3 Compartimento Hipofisário
DIAGNÓSTICO: Hiperprolactinemia:
• História clínica + dosagem de FSH > 25 mUI ∕ FISIOPATOLOGIA:
mL (ou > 40 mUI/ml), persistindo esse valor • Níveis elevados de prolactina alteram a secreção
aumentado em duas dosagens com intervalo de pulsátil do GnRH, interferindo na liberação de
30 dias entre elas. gonadotrofinas e na esteroidogênese gonadal. A
• A investigação diagnóstica é obrigatória no dopamina é o principal regulador da biossíntese e
surgimento de amenorreia anteriormente aos 30 secreção da prolactina. Diante de níveis elevados
anos de idade, com a realização de: de prolactina, ocorre uma elevação reflexa nos
• Cariótipo (Síndrome de Turner; cromossomo Y) níveis de dopamina, que por sua vez contribui para
• Pesquisa do X frágil: a síndrome do X frágil resulta alteração da função neuronal do GnRH.

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• Leva a um hipogonadismo hipogonadotrófico. • Déficit corticotrófico → corticoide oral.


ETIOLOGIAS: Anorexia nervosa Exercícios
Estresse
• Medicamentos: antagonistas dopaminérgicos e Bulimia extenuantes
(metoclopramida, tricíclicos, haloperidol);
• Tumores produtores de prolactina (adenomas
hipofisários); Leptina CRH Endorfinas
• Hipotireoidismo: o hormônio liberador da
tireotrofina (TRH) é um dos mais potentes
estimuladores da síntese de prolactina; Pulsatilidade
Sendo assim, quando há hipotireoidismo (com NPY
CnRH
consequente elevação de TSH e TRH), poderá
haver hiperprolactinemia;
• Insuficiência renal (levando à redução da Amenorreia
depuração do hormônio prolactina e consequente
aumento de seu nível circulante).
4.4 Compartimento Hipotalâmico:
CLÍNICA:
• Amenorreia Funcional
• Galactorréia associada à oligomenorreia e
amenorreia.
• É mais frequentemente observado como causa de FISIOPATOLOGIA:
amenorreia secundária. • Algumas situações como transtornos alimentares,
exercícios físicos extenuantes, estresse podem
TRATAMENTO: levar à supressão da secreção pulsátil de GnRH,
além de reversão da secreção pulsátil do LH
• O tratamento é feito com agonistas para os padrões pré-púberes, com supressão da
dopaminérgicos.
produção hipofisária de LH e do FSH.

Síndrome de Sheehan:
TRATAMENTO:
FISIOPATOLOGIA:
• Guiado pela causa: exemplo: na anorexia nervosa,
• Ocorre um pan hipopituitarismo por necrose a recuperação da nutrição e do peso favorecem a
hipofisária após hemorragia pós-parto. resolução da amenorreia.
• Isso ocorre já que durante a gestação é comum
a ocorrência de ingurgitamento hipofisário. Em
caso de sangramento exuberante no parto, ocorre Fisiopatologia da amenorreia funcional em esquema.
consequentemente uma hipovolemia. A hipófise, Roteiro Diagnóstico de Amenorreia Secundária
que tinha um fluxo sanguíneo aumentado por conta
do ingurgitamento gestacional, fica sem irrigação.

CLÍNICA:
• Amenorreia, agalactia, perda de pelos pubianos e
axilares;
• Manifestações de Hipotireoidismo;
• Insuficiência suprarrenal.

TRATAMENTO:
• As deficiências hormonais em pacientes com
síndrome de Sheehan devem ser tratadas como
em qualquer outro paciente com hipopituitarismo.
• Disfunção tireoidiana → levotiroxina.
• Deficiência de gonadotrofinas → reposição de
estrogênio e progesterona.

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FSH normal
FSH baixo

Dosagem de Prolactina
Disfunção Hipotalâmica ou Hipofisária

Prolactina NORMAL
Neuroimagem

Dosagem de TSH

Estrutura SNC Teste GnRH


TSH alterado
Tireoidopatia
FSH normal

Dosagem de Prolactina

Prolactina ALTA

HIPERprolactinemia

5. CONCEITOS GERAIS PARA TRATAMENTO


• O objetivo é o tratamento da causa! Lembre-se: a
amenorreia é um sintoma!;
• Elucidação diagnóstica;
• É possível a reversão da causa?;
• Evitar as consequências do hipoestrogenismo;
• Pode afetar a saúde óssea e aumentar o risco
cardiovascular;
• Avaliar o potencial reprodutivo;
• Avaliar o risco do desenvolvimento de tumores
gonadais.

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