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Manual Caseiro - Direito Constitucional II - 2020
Manual Caseiro - Direito Constitucional II - 2020
Sumário
Conteúdo 01: Organização Político-Administrativa do Estado ................................................................................... 2
DIREITO CONSTITUCIONAL II
Conteúdo 01: Organização Político-Administrativa do Estado
1. Introdução
Está definida no art. 1º de nossa Constituição a adoção do princípio federativo como critério ordenador da
organização político-administrativa do Estado. Isso significa dizer que o poder constituinte originário optou pela
descentralização no exercício do poder político. 2
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
2. Forma de Estado
A forma de Estado relaciona-se com a distribuição do exercício do poder político em razão de um território.
Em alguns países haverá um único centro emanador de comandos decisórios, com a consequente convergência do
poder para esse único núcleo central. Em contrapartida, em outro países teremos vários núcleos no exercício do
poder político, de modo que a descentralização será a marca da sua composição política.
Sua nota marcante a é a centralização política. É a forma baixa de organização política, cuja característica
essencial é a centralização do poder por um único homem ou órgão. Admite a descentralização administrativa o que
torna o Estado governável, pois um Estado unitário puro, absolutamente centralizado, é inviável.
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Forma de Estado na qual há a descentralização do poder político, estando este presente em mais de um ente
político, todos funcionando como centros emanadores de poder normativo e comandos decisórios.
Pode-se conceituar a federação como a reunião, feita por uma Constituição, de entidades política autônomas
unidas por um vínculo indissolúvel, havendo completa intolerância com movimentos separatistas, que serão
firmemente controlados. A forma federada é a que rege nosso Estado desde o Decreto nº 01 que proclamou a
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República como forma de Governo.
i) descentralização no exercício do poder político, cada entidade possuirá competência para estabelecer sua
organização política, mediante a edição de um documento constitucional, absolutamente conformado com a
Constituição Federal. Essa descentralização da autonomia aos entes federados e não ha hierarquia entre eles.
ii) Indissolubilidade do vínculo federativo, ou seja, não há o direito de secessaõ, sob pena e a entidade que a
intentar ser submetida ao processo interventivo.
iii) rigidez constitucional, pois o legislador ordinário não terá a capacidade de tocar no núcleo essencial da
federação .
iv) existência e um tribunal constitucional, isto é, de uma corte suprema (STF) responsável pela interpretação
e proteção da Constiuição.
v) previsão de um órgão legislativo que representa os poderes regionais, essa característica da origem ao
“princípio da participação” exercido pelo Senado Federal.
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A doutrina aponta, ainda, outras forma de Estados, criadas a partir de diferentes formas de organização política
e presentes no direito comparado.
● Estado Unitário: Marcado pela centralização política, pois o poder encontra-se concentrado em um único
núcleo estatal, do qual emanam toda as decisões. Exemplos: França, Portugal, etc.
● Estado Regional: Não possui descentralização política, mas somente administrativa e legislativa. Exemplo:
Itália. 4
Nesta classificação estão as federações que surgiram “por agregação”, e as que surgiram “por segregação”. A
federação que surge por agregação é a união de alguns Estados Nacionais, até então soberanos, até que decidem se
unir pelo vínculo federativo e cedem essa soberania para o conjunto, tornando-se unidades “apenas” autônomas
dentro da federação. Por sua vez as federações que surgem por segregação decorrem do desfazimento ou repartição
de um Estado unitário, ou seja, esse Estado que entre centralizador pulveriza as atividades atinentes ao exercício do
poder político, levando a descentralização política.
Dentro deste critério, as federações podem ser centrípetas (centralizadoras), quando concentram o maior
número de atribuições no plano federal (é o caso do brasil); ou centrífugas (descentralizadoras) nas quais as
competências são mais abundantes nas entidades regionais do que no plano central (é o caso dos EUA).
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A federação pode ser Dual ou Clássica, quando repartir atribuições isoladas para cada ente federado,
entregando-lhes competências privativas que serão exercidas de forma independente sem o apoio ou cooperação das
demais entidades.
Pode, também, ser neoclássica ou de Cooperação, quando a tarefas forem repartidas de modo a possibilitar a5
atuação conjunta dos entes, em regime de parceria ou condomínio.
Nossa atual Constituição prevê atribuições próprias e muitas tarefas comuns, estando bem marcado em nosso
ordenamento o federalismo cooperativo.
4.4. Quanto ao equacionamento das desigualdades, as federações podem ser simétricas ou assimétricas
Simétricas quando a repartição de competências e receitas é feita de forma equânime entre os entes federados,
dando primazia a igualdade entre eles. Assimétricas, quando há um desequilíbrio no tratamento dado aos entes,
tendo em vista grandes desigualdades regionais que precisam ser superadas ou diferenças culturais tão marcantes a
ponto de ensejar um tratamento não equânime.
Em nossa federação, o tratamento entre os entes federados é identico, na medida em que todas as unidades
federativas que estejam no mesmo grau, possuem a mesma gama de atribuições, sendo portanto simétrica.
4.5. Quanto às esferas integrantes da federação, temos o federalismo de segundo e de terceiro grau
O federalismo de segundo grau ou bidimensional é típico nas federações, e para se constituir basta uma ordem
jurídica central (primeiro grau) e das ordens jurídicas regionais (segundo grau).
No Brasil, com as Constituição de 1988, os municípios passaram a ser categorizados como entes federados,
fazendo com que uma terceira ordem, a local, fosse somadas as duas ordens ja existentes, a central representada pela
União e a regional representada pelos Estados-membros). Nesse contexto, nosso federalismo é de terceiro grau ou
tridimensional.
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5.1. Introdução
A federação brasileira resulta do desfazimento do Estado unitário, através da transformação das províncias em
Estados-membros, sendo hoje considerada cláusula pétrea presente no art. 60, §4º da nossa Constituição.
Os entes que a compõem são a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos entre si, não subordinados hierarquicamente um ao outro, mas subordinados a Constituição Federal.
5.2. União
A União é o ente central da federação, possui total autonomia em relação às demais entidades federadas e
concentra um grande volume de atribuições legislativas, tributárias e administrativas enunciadas em todo o texto
constitucional. Sua “matriz” está entre dos artigos 20 e 24 da CF/88 (leitura importante).
Podemos dizer que a União é um ente autônomo e central, formado pela junção das demais demais partes
integrantes da federação. Por seu turno, a República Federativa do Brasil, é o todo resultante da União de todos os
entes federados, quais sejam, União, Estados-Membros, Distrito Federal e Município.
Dentre suas funções, possui grande importância, a de representar a República Federativa do Brasil nas relações
internacionais.
Quanto a personalidade jurídica, possui uma natureza peculiar, pois atua como pessoa jurídica de Direito
Constitucional interno agindo como entidade federada, e em outras situações atua como pessoa jurídica de direito
internacional, representando a República Federativa do Brasil.
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5.3. Estados-membros
São as organizações políticas típicas da forma federativa de Estado, pois materializam a descentralização do
poder político.
Como unidades autônomas, os Estados organizam-se através das Constituições estaduais e pelas demais leis
que compõem o ordenamento estadual, devendo sempre estar em harmonia com as Constituição e seus princípios,
tais como os princípios constitucionais sensíveis , os extensíveis e os estabelecidos.
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Sendo autônomos, possuem competências para organizar seus Poderes, sem as interferência federal ou
subordinação ao poder central. Organizam seu Poder Legislativo de acordo com o art. 27, CF/88, o Executivo de
acordo com o art. 28, CF/88 e o Judiciário conforme o art. 125, CF/88. Por fim, seus bens estão previstos no art. 26,
CF/88.
5.4. Municípios
Os municípios não possuíam a condição de entes federados até a Constituição de 1988, garantiu a eles
autonomia plena, dando-lhes capacidade de auto-organização, de autogoverno e autoadministração.
De acordo com o art. 29, CF/88, os municípios organizam-se através de Lei Orgânica e seu autogoverno
decorre da capacidade de elegerem a chefia do Poder Executivo (Prefeitos) e os integrantes do Poder Legislativo
(Vereadores). A Constituição autoriza que conduzam com independência as tarefas legislativas, materiais e
tributária, demonstrando sua autoadministração.
O Distrito Federal foi criado pela Constituição de 1891 em substituição ao Município neutro que funcionava
como capital do Império e sede do Governo Nacional. Foi a Capital Federal, mas atualmente não o é, pois Brasília,
que se situa dentro do território do Distrito Federal, ostenta esse posto (art. 18, § 1º, CF/88).
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger- se-á por lei orgânica,
votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da
Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
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Atualmente nossa federação não possui nenhum Território Federal, pois com a entrada em vigor da CF/88 lhes
foi suprimida tal condição. Os Territórios até então existentes, foram transformados em Estados-membros (Roraima
e Amapá, conforme o art. 14, ADCT) e Fernando de Noronha foi incorporado ao Estado de Pernambuco (art. 15,
ADCT).
Ainda que não existam, podem vir a ser criados, em conformidade com o art. 18, parágrafos 2º e 3º da CF/88.
Entretanto, ainda que sejam criados, não serão entes federados, sendo apenas descentralizações administrativo-
territoriais não possuindo autonomia política.
Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios.
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do Governador
nomeado na forma desta Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda
instância, membros do Ministério Público e defensores públicos federais; a lei disporá sobre
as eleições para a Câmara Territorial e sua competência deliberativa.
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6.1. Introdução
Uma das características fundamentais da federação é a inadmissibilidade do direito a secessão, pois o vínculo
entre as unidades federadas é indissolúvel, mas nada impede que a organização interna da República Federativa do
Brasil seja alterada.
Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou
formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através
de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar (art. 18, §3º, CF/88).
Note-se que três são os requisitos para que haja a incorporação a subsivisão ou mesmo o desmembramento
entre Estados.
i) Prévia consulta a população diretamente interessada, através de plebiscito, sendo a aprovação prévia da
população condição indispensável a continuidade do procedimento;
ii) oitiva das Assembléias Legislativas dos Estados envolvidos, sendo esta meramente opinativa, não
vinculando o Congresso Nacional que se manifestará livremente.
iii) aprovação do Congresso Nacional, materializada através da edição de uma lei complementar.
Evitar a manipulação da fragmentação das unidades federadas foi o intuito da EC15/1996, que alterou o art.
18, §4º da CF/88. Atualmente temos quatro requisitos constitucionais para que haja a criação, a incorporação, a
fusão e o desmembramento de municípios;
i) edição de lei complementar federal que fixará de modo genérico o período em que poderão ocorrer.
ii) aprovação de lei ordinária federal, prevendo genericamente os requisitos a serem respeitados, bem como a10
publicação dos estudos de viabilidade municpial.
Vale destacar que a lei complementar federal, mencionada como primeiro dos requisitos, ainda não foi
elaborada.
7. Vedações constitucionais
8.1. Introdução
A divisão constitucional de competências é uma das marcas do federalismo. No Estado federal o poder político
está necessariamente descentralizado, ou seja, os entes que compõem a federação podem estabelecer comandos
normativos dentro de suas próprias competências.
Nesse contexto em que todos os entes possuem autonomia e capacidades próprias, todos são igualmente
capazes politicamente, o que afasta a subordinação de uns aos outros.
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Temos o princípio da preponderância dos interesses. Compete à União tratar das matérias nas quais predomina
o interesse nacional. Aos Estados outorga-se de preponderante interesse regional, restando aos Municípios os
interesses preponderantemente locais.
Importante atentar que referido princípio tem por base a preponderância e não a exclusividade, pois via de
regra nenhum interesse será exclusivo de uma unidade, pois todas as matérias repercutiram entre todos.
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A doutrina aposta outro princípio estruturante , os dos poderes implícitos. Por ele, todas as vezes que a
Constituição outorgar uma tarefa a um ente, a ele estará concedendo implicitamente o poder de empregar os meios
adequados a alcançar o fim pretendido. Exemplo: Entendeu o STF que a outorga de poderes explícitos ao Ministério
Público para promover a ação penal pública, supõe que se reconheça, ainda que implicitamente, aos seus membros
a titularidade dos meios a viabilizar a adoção das medidas vocacionadas a conferir efetividade às suas atribuições.
São atribuições indelegáveis, ou seja, não podem ser transferidas para outra entidade da Federação, sendo
prestadas necessariamente pela União. Para este estudo vale a leitura da integra do artigo.
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem
pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do
Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a
execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos
e mediante aprovação do Congresso Nacional;
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b) sob regime de concessão ou permissão, é autorizada a utilização de radioisótopos para
a pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e atividades análogas;
Apresenta competências que são próprias da União. São as atribuições legislativas privativas, vale dizer, não
partilhadas com os demais entes. Contudo não são indelegáveis.
A delegação das referidas competências é possível aos Estados e Distrito Federal, desde que preenchidos três
requisitos;
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i) formal: a União somente poderá delegar por meio da edição de uma lei complementar;
ii) material: a União não poderá delegar toda a matéria contida no inciso, mas tão somente questões específicas
da matéria relacionada.
iii) a delegação não pode beneficiar somente um ou alguns Estados. Pelo princípio da Isonomia, deve se
estender a todos os Estados e ao Distrito Federal.
II - desapropriação;
V - serviço postal;
XI - trânsito e transporte;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização
nacional;
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo.
Além das competências materiais exclusivas, previstas no art. 21, há também as competências materiais
comuns presentes no art. 23, CF/88, que serão cumpridas em conjunto com os demais entes da federação.
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São atribuições tidas como cumulativas, exercidas por todos os entes concomitantemente , ou seja, a atuação
de um ente não restringe a atuação dos demais, sendo necessária a instituição de diretrizes para a harmonizar essa
atuação, o que é feito pelo parágrafo único do art. 23.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar
o patrimônio público;
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II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras
de deficiência;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
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A União ainda possui competências legislativa concorrentes. Estas competências são não cumulativas havendo
determinação expressa da limites à atuação dos entes. Á União compete à edição de normas gerais (art. 24, § 1º,18
CF/88) e aos Estados Membros e Distrito Federal compete a edição de normas específicas.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente
sobre:
II - orçamento;
V - produção e consumo;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos
naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual,
no que lhe for contrário.
Esta expresso no art. 25, CF/88 que são reservados aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas
pela Constituição.
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição.
Na realidade, a competência dos Estados-membros, é bastante esvaziada pelo grande número de competências
legislativas e materiais dados a União. A regra é a atribuição de copetências legislativas residuais aos Estados.
i) Materiais exclusivas: são competências remanescentes, ou seja, são aquelas tarefas não enumeradas no art. 21
para a União, e dissociadas dos assuntos de interesse locais, cuja atribuição é dos Municípios.
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Há, no entanto, no art. 25, § 2º a atribuição expressar de uma competência material exclusivar aos Estados, qual
seja, a de explorar diretamente ou mediante concessão os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada
a edição de medida provisória para a sua regulamentação.
ii) Legislativas privativas: Os Estados legislarão sobre temas que não tenham sido atribuídos a União, nem para
os Municípios. Como exemplo temos a edição de leis sobre transporte público intermunicipal.
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Suas principais competências estão no art. 30, CF/88, que reservou a competência municipal, legislar sobre
assuntos de interesse local, suplementar a legislação federal e estadual no que couber e certas atribuições
administrativas.
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas,
sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados
em lei;
O Distrito Federal cumula as competências dos Estados e as dos Municípios, mas com estes não se confunde.
Suas competências estão previstas nos artigos 32 e 147 da CF/88.
No entanto há atribuições legislativas estaduais que não cabem ao Distrito Federal, pois algumas de suas
instituições serão mantidas e organizadas pela União (Poder Judiciário, Ministério Público, polícias civil e militar,
corpo de bombeiros - art. 22, XVII, CF/88)
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Por legislar sobre matérias Estaduais e Municipais, suas leis podem vir a ser objeto de questionamento via
ADI perante o STF (art. 102, I ,”a”, CF/88), caso editadas no exercício de atribuição legislativa estadual.
O Distrito Federal também exerce competências materiais comuns (art. 23, CF/88) e legislativas concorrentes
(art. 24, CF/88), e se poderão legislar sobre temas específicos elencados no art. 22m CF/88, caso a União delegue
por lei complementar.
a decisão, quando o processo superasse as instâncias ordinárias e chegasse aos Tribunais Superiores, seria apreciado
pelo STJ em sede de recurso especial. Não caberia, no caso, recurso extraordinário ao STF, razão pela qual esta
Corte não seria competente para julgar o pedido de intervenção relacionada com o desatendimento da decisão.
Quanto ao mérito, na situação concreta envolvendo ocupação de sítio pelo MST, tendo sido deferida decisão judicial
para a retomada do imóvel há muitos anos, o que nunca foi cumprido, deverá ser deferida a intervenção federal?
Prevalece que sim. Deve ser deferido pedido de intervenção federal quando verificado o descumprimento pelo
Estado, sem justificativa plausível e por prazo desarrazoado, de ordem judicial que tenha requisitado força policial22
para promover reintegração de posse em imóvel rural ocupado pelo MST, mesmo que, no caso, tenha se consolidado
a invasão por um grande número de famílias e exista, sem previsão de conclusão, procedimento administrativo de
aquisição da referida propriedade pelo Incra para fins de reforma agrária. É certo que a ocupação de grande número
de famílias é sempre um fato que merece a consideração da autoridade encarregada da desocupação, mas não é em
si impeditiva da intervenção. A inércia do Estado-executivo em dar cumprimento à decisão do Estado-juiz
enfraquece o Estado de direito, que caracteriza a República brasileira. STJ. Corte Especial. IF 107-PR, Rel. Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 15/10/2014 (Info 550). STJ. Corte Especial. IF 116/PR, Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 16/12/2015.
➢ É necessária a edição de LC federal para que possam ser criados novos municípios
Para a criação de novos Municípios, o art. 18, § 4º, da CF/88 exige a edição de uma Lei Complementar Federal
estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios poderão ser criados, incorporados, fundidos ou
desmembrados. Como atualmente não existe essa LC, as leis estaduais que forem editadas criando novos Municípios
serão inconstitucionais por violarem a exigência do § 4º do art. 18. STF. Plenário. ADI 4992/RO, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 11/9/2014 (Info 758).
voluntário e intencional. Se ficardemonstrado que o ente não pagou por dificuldades financeiras não há intervenção.
STF. Plenário. IF 5101/RS, IF 5105/RS, IF 5106/RS, IF 5114/RS, rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 28/3/2012.
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DIREITO CONSTITUCIONAL II
Conteúdo 02: Poder Legislativo
1. Noções Introdutórias
O Ordenamento Jurídico Brasileiro adotou a chamada “Teoria da Tripartição dos Poderes” ao teor de seu art. 2º da
Constituição Federal, o qual proclama “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo
e o Judiciário”.
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Nesse contexto, a separação dos poderes tem por finalidade estabelecer uma estrutura em que cada poder do Estado,
permitindo o exercício de suas funções inerentes, evitando a concentração de poder em um único órgão. Possibilita-se, portanto,
uma maior efetividade no exercício daquela função e maior controle no exercício dessas mesmas funções.
Nesse sentido, o Poder Constituinte Originário outorgou a cada um dos órgãos estatais competências que se traduzem
em funções típicas ou predominantes e atípicas ou secundárias.
O papel que cabe ao Legislativo é a função típica de legislar, bem com, a de controlar e fiscalizar os atos dos demais
Poderes.
Na função de legislar →o Poder Legislativo deve elaborar as normas jurídicas, inovando no ordenamento, observando
as regras do processo legislativo.
Na função de fiscalizar →o Poder Legislativo realizará o controle externo contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta.
Cumpre ressalvar que estas duas funções do Legislativo não estão hierarquizadas, ambas possuem a mesma
importância.
Por fim, e não menos importante, cumpre destacar que o Legislativo desempenha ainda funções atípicas “de
administrar” e “julgar”.
O Legislativo exerce função de administrar quando define sua organização interna, criando cargos e definindo o
plano de carreira, por outro lado, exerce a função jurisdicional quando o Senado Federal julga o Presente da República por
crime de responsabilidade.
Vamos Esquematizar?
Em nível federal, o Poder Legislativo é bicameral, sendo representado pelo Congresso Nacional, que é composto de
duas Casas Legislativas (o Senado Federal e a Câmara dos Deputados). Vejamos:
Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal.[
A Câmara dos Deputados é composta por representantes do povo (os Deputados Federais), já o Senado Federal é
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composto por representantes dos Estados e do Distrito Federal (os Senadores).
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema
proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.
Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos
segundo o princípio majoritário.
No tocante a adoção do sistema bicameral em âmbito federal, a professora Nathália Masson faz uma importante
observação. Vejamos:
A forma de estado federativa foi fator decisivo para determinar a estrutura do Poder Legislativo no
plano federal, haja vista termos adotado um bicameralismo federativo, no qual uma Casa (a Câmara
dos Deputados) representa o povo, enquanto a outra (o Senado Federal) compõe-se de representantes
das ordens jurídicas parciais, ou seja, dos Estados-membros e do Distrito Federal.
Por outro lado, em nível estadual e municipal, o Poder Legislativo é unicameral. Nos estados, é exercido pela
Assembleia Legislativa (integrada pelos Deputados Estaduais), ao passo que nos Municípios é exercido pela Câmara
Municipal (composta dos Vereadores).
Dessa forma, temos que nos Estados-membros, no Distrito Federal e nos Municípios, o Poder Legislativo é
unicameral, composto assim por uma única Câmara, respectivamente:
- Assembleia Legislativa;
- Câmara Legislativa; e
- Câmara Municipal.
Vamos Esquematizar?
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de REPRESENTANTES DO POVO, eleitos, pelo
sistema PROPORCIONAL, em cada Estado e no Distrito Federal.
*Sistema proporcional → sistema eleitoral no qual o resultado é obtido através da força política apresentada pelo partido.
Partidos mais fortes farão o maior número de Deputados eleitos. Em decorrência disso, é que se transcende a ideia do dever
de fidelidade partidária.
Serão eleitos os Deputados de acordo com o número de habitantes de cada Estado e do Distrito Federal, ou seja, serão
eleitos proporcionalmente à população de cada Estado.
Nesse sentido, o número total de Depurados, de acordo com o previsto no art. 45, § 1°, CF/88, varia
proporcionalmente ao número de habitantes de cada Estado e do Distrito Federal, e será determinado, para cada
legislatura, no ano que antecede às eleições, por meio de lei complementar, de forma que nenhum Estado (ou o Distrito
Federal) tenha menos que oito ou mais que setenta representantes.
*Legislatura → Cada legislatura terá a duração de quatro anos (art. 44, parágrafo único, CF).
Esquematizando
Número de Parlamentares
Mínimo Máximo
8 70
Obs.: Os Territórios Federais têm o número fixo de 4 Deputados Federais, previsto na Constituição Federal. Assim, está
errado dizer que o número de Deputados Federais é proporcional à população dos Territórios.
Art. 46. O Senado Federal compõe-se de REPRESENTANTES DO ESTADO e do Distrito Federal, eleitos segundo o
sistema MAJORITÁRIO.
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*Representantes do Estado → os Senadores, não representam o povo, mas cada Estado e o DF.
*Sistema majoritário →será eleito o Senador que obtiver o maior número de votos.
§ 1º - Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito anos.
*Número de parlamentares → 3 senadores por Estado ou DF (eleito com 2 suplentes), independe da população;
§ 2º - A representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em quatro anos,27
alternadamente, por um e dois terços.
*Cada Senador é eleito com dois suplentes, sendo que sua eleição implica a dos substitutos (chapa única). Nesse sentido,
freme à vacância do cargo, o Senador não será sucedido pelo segundo colocado mais votado, mas por seu suplente.
Esquematizando
CÂMARA DOS DEPUTADOS SENADO
I – representação popular; representa o I – representação federativa; representa
POVO. os ESTADOS.
Por outro lado, quanto aos requisitos de elegibilidade para o indivíduo ocupar uma cadeira no Senado Federal, tem-
se os seguintes:
➢ Nacionalidade brasileira;
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No tocante as atribuições da Câmara os Deputados, o art. 51 da CF enumera o rol de tarefas que são privativas da
Casa, e serão, via de regra, exercidas através de RESOLUÇÃO, dispensando sanção ou veto presidencial.
Com relação a iniciativa para apresentação de projeto de lei para remuneração dos servidores, é definida por Decreto
Legislativo.
Vejamos as atribuições:
Por outro lado, as atribuições privativas do Senado estão listadas no art. 52 da CF, sendo mais extensas que as da29
Câmara, sendo disciplinadas igualmente por meio de RESOLUÇÕES. Vejamos as atribuições:
III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a escolha de:
c) Governador de Território;
e) Procurador-Geral da República;
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição em sessão secreta, a escolha dos
chefes de missão diplomática de caráter permanente;
VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e interno
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais
entidades controladas pelo Poder Público federal;
VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em operações
de crédito externo e interno;
XIV - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do
Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois
terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para
o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.
Assim como o Judiciário e o Executivo, o Poder Legislativo é autônomo e independente, o que lhes garante seu poder
de auto-organização, explicitada na Constituição Federal quando esta determina competir a cada Casa Legislativa elaborar
seu regimento interno e dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos
cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os
parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias.
31
Nos termos do art. 57 da Constituição Federal, “o Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal,
de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro”, esse período que abrange o ano é denominado de sessão
legislativa.
- 2 de Fevereiro → 17 de Julho.
Nessa esteira, contemplamos que a definição de legislatura é de suma importância, primeiro porque equivale ao
mandato do Deputado Federal, em segundo plano porque delimita o tempo em que cada Casa legislativa pode desempenhar
suas atividades, bem como, compor suas comissões permanentes e prosseguir com o funcionamento das chamadas
“comissões temporárias”, essas últimas sempre devem se extinguir com o término da legislatura.
No período da sessão legislativa, dizemos que os parlamentares se reúnem “ordinariamente”, pois é a sessão
legislativa ordinária. Por outro lado, fora desse período, temos o chamado “recesso parlamentar”, que compreende o
período de 18 a 31 de Julho, e, posteriormente, de 23 de dezembro a, em regra, 01 de Fevereiro.
Recesso parlamentar:
- 18 a 31 de Julho.
- 23 de Dezembro a 01 de Fevereiro.
Cumpre destacarmos que, durante o período do recesso parlamentar, caso se mostre necessário os parlamentares
serão extraordinariamente convocados.
Desse modo, contemplamos no funcionamento das casas três importantes definições, e que devem ficar bem
conceituados esses períodos, que são eles: legislatura; sessão legislativa ordinária e recesso parlamentar.
Vamos Esquematizar?
Quórum de Deliberação
O quórum de deliberação, por sua vez, tanto na Câmara quanto no Senado, é de maioria absoluta, conforme prevê o
art. 47 da Constituição Federal.
Art. 47. Salvo disposição constitucional em contrário, as deliberações de cada Casa e de suas
Comissões serão tomadas por maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros.
Maioria 50% + 1 do número total de membros (quórum exigido para a realização das
deliberações, bem como aprovação de determinadas matérias, como lei
Absoluta
complementar).
Na Câmara, esse número corresponde a 257 Deputados Federais. Já no Senado, é 41 Senadores. Desse modo,
contemplamos que o quórum de instalação é distinto do de deliberação.
O regramento constitucional a respeito das sessões legislativas extraordinárias vem esculpidas ao teor do art. 57, §§6º
a 8º. Vejamos:
Art. 57.
II - pelo Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
ou a requerimento da maioria dos membros de ambas as Casas, em caso de urgência ou interesse
público relevante, em todas as hipóteses deste inciso com a aprovação da maioria absoluta de cada
uma das Casas do Congresso Nacional.
33
§ 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente deliberará sobre a matéria
para a qual foi convocado, ressalvada a hipótese do § 8º deste artigo, vedado o pagamento de
parcela indenizatória, em razão da convocação.
Obs.: o dispositivo constitucional acima tem alta incidência de cobrança nas provas, sugiro fazer leitura atenciosa.
Na sessão legislativa extraordinária os parlamentares somente poderão deliberar sobre a matéria para o qual foram
convocados, ou seja, não poderá deliberar sobre nenhuma outra matéria, a não ser aquela que ensejou a convocação. O texto
constitucional, porém, consagra uma exceção, qual seja, se houver medida provisória em vigor na data da convocação
extraordinária, neste caso, elas serão apreciadas.
Outra observação relevante referente as convocações extraordinárias, diz respeito a vedação imposta pela
Constituição Federal de pagamento de parcela indenizatória proveniente das convocações realizadas no recesso.
Nos termos da Constituição estar vedado o pagamento de parcela indenizatória, em razão da convocação. A
Jurisprudência, por sua vez, compartilha do mesmo entendimento. Vejamos:
No que tange as hipóteses que autorizariam a convocação extraordinária e como deve ser feita, o art. 57, §6º específica
que será feita:
Vamos Esquematizar?
34
“Autoridade” “Cabimento”
Pelo Presidente do Senado Federal Em caso de:
- decretação de estado de defesa;
- decretação de intervenção federal;
- solicitação de autorização para a decretação de
estado de sítio;
- para o compromisso e a posse do Presidente e do 34
Vice-Presidente da República.
Pelo Presidente da República Em caso de urgência ou interesse público relevante,
sendo necessária a aprovação da maioria absoluta de
cada uma das Casas Legislativas do Congresso
Nacional.
Pelo Presidente da Câmara dos Deputados Em caso de urgência ou interesse público relevante,
sendo necessária a aprovação da maioria absoluta de
cada uma das Casas Legislativas do Congresso
Nacional.
Pelo Presidente do Senado Federal Em caso de urgência ou interesse público relevante,
sendo necessária a aprovação da maioria absoluta de
cada uma das Casas Legislativas do Congresso
Nacional.
A requerimento da maioria absoluta dos Em caso de urgência ou interesse público relevante,
membros de ambas as Casas do Congresso sendo necessária a aprovação da maioria absoluta de
Nacional. cada uma das Casas Legislativas do Congresso
Nacional.
Não obstante já tenhamos observado que a sessão legislativa ordinária só começa em 2 de fevereiro, cada uma das
Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de l.° de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus
membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição
imediatamente subsequente.
Art. 57. § 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro,
no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para
35
mandato de 2 (dois) anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente
subsequente.
No tocante as mesas diretoras, a Mesa do Congresso Nacional é presidida pelo Presidente do Senado Federal e os
demais cargos são exercícios, alternadamente, pelos membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal (art. 57,
CF/88). Conforme Regimento Interno do Congresso Nacional, da Câmara dos Depurados e do Senado Federal, a
composição da Mesa do Congresso Nacional se da seguinte maneira: 35
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, estas são eleitas, nesta ordem, pelos Deputados e
Senadores, havendo uma representação proporcional dos partidos políticos ou dos blocos parlamentares que participam da
respectiva Casa (respeito ao colorido partidário da Casa - art. 58, § 1°, CF/88).
A Mesa da Câmara é composta por sete membros: um Presidente, dois Vice-Presidentes e quatro secretários; o mesmo
se passa com a Mesa do Senado Federal.
Art. 57. § 3º Além de outros casos previstos nesta Constituição, a Câmara dos Deputados e o Senado
Federal reunir-se-ão em sessão conjunta para:
Em nosso sistema, como fora adotado o Bicameralismo, a regra é que as Casas Legislativas funcionem em separado.
Inobstante a regra, a CF prevê situações em que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal deverão se reunir em sessão
conjunta, quais sejam:
➢ inaugurar a sessão legislativa;
➢ elaborar o regimento comum e regular a criação de serviços comuns às duas Casas;
➢ receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da República;
➢ conhecer do veto e sobre ele deliberar.
36
5. Comissões Parlamentares
Segundo preleciona Nathália Masson (Manual de D. Constitucional, 2015): A CPI é uma comissão parlamentar
necessariamente temporária, que pode ser criada, em conjunto ou separadamente pelas Casas Legislativas. Sua função,
de apurar fatos certos em prazo previamente estipulado, é de acentuada importância para o Estado Democrático, na
medida em que compõe uma das funções típicas do Poder Legislativo, qual seja, a de vigilância e controle dos negócios
públicos, com vistas a coibir eventuais atos indecentes, criminosos, marcados pela incompetência e desonestidade, que
tanto comprometem a boa e hábil gestão do Estado.
a) Natureza do órgão; é comissão temporária, isto porque são criadas para investigação de fato determinado, com
estipulação de prazo certo para a apuração do referido fato.
b) Natureza da função; a investigação feita pelo Legislativo pode ser de dois cunhos: (!) financeiro-orçamentária
(legislativo com auxilio do TCU) e (!) politico-administrativa (discute matéria política e de administração).
Obs.: O TCU auxilia o poder legislativo no controle externo; não compõe a estrutura do Poder Legislativo.
→O trabalho das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI’s) é uma das formas pelas quais o Poder Legislativo
exerce sua função típica de fiscalização. Trata-se de controle político-administrativo exercido pelo Parlamento com a
finalidade de, em busca da verdade, apurar acontecimentos e desvendar situações de interesse público (MENDES, Gilmar
Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional, Ain6ª edição, 2011. pp. 886.)
A Constituição Federal estabeleceu os requisitos necessários para a instauração das comissões parlamentares de
inquérito. Assim, somente poderão ser criadas se observadas as seguintes exigências:
a) subscrição de requerimento;
Vejamos:
37
Art. 58. § 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios
das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão
criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por
prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que
promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
37
Assim, constitucionalmente, a inauguração do inquérito parlamentar vincula-se, tão somente, ao preenchimento
destas três condições que, satisfeitas, impõem a constituição da comissão, independentemente da submissão a qualquer
outro requisito. Ademais, vale frisar que referido preceito é de observância compulsória pelas Casas Legislativas estaduais
e municipais, em virtude do princípio da simetria.
É cediço que não existe uma lista precisa de atribuições das Comissões Parlamentares de Inquérito, contudo,
conforme o Poder Judiciário foi precisando delimitar o campo de atuação conforme análise do caso concreto, foi-se
estipulando quais são os poderes e quais são os limites incidentes na atuação das CPIs, passaremos ao estudo delas.
5.2.1 Poderes
São atribuídas as comissões parlamentares de inquérito poderes para ampla investigação, bem como, meios de torna-
los efetivos, devendo, contudo, o seu exercício ocorrer com a devida observância aos direitos e garantias individuais, ou
seja, respeitando os direitos.
Assim, contemplamos que embora sejam esses poderes bastante amplos, não são ilimitados, absolutos e nem
superiores aos da autoridade judicial.
5.2.2 Limites
Os direitos e garantias individuais atual, de forma geral, como limites a serem observados pelas comissões
parlamentares de inquérito.
Vejamos.
38
De acordo com o texto constitucional as CPIS possuem os “poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais”, mas não todos, pois a própria Constituição reserva com exclusividade certas atribuições aos juízes.
Da incidência desta cláusula resulta que às CPls é vedado: (i) determinar a medida de busca e apreensão domiciliar;
(ii) determinar a quebra do sigilo das comunicações telefônicas; (iii) decretar a prisão, salvo a situação de flagrante delito;
38
(iv) decretar medidas acautelatórias.
Nenhuma autoridade pública – donde se incluem as CPls - está autorizada a constranger qualquer pessoa a narrar ou
confirmar fatos que importem em
prejuízo pessoal.
A interpretação mais correta da abrangência do direito ao silêncio é extensiva, abarcando todo e qualquer indivíduo
submetido a procedimento persecutório, sendo indiferente a condição de preso ou solto, de indiciado ou testemunha.
Os advogados devem se fazer presentes perante as Comissões Parlamentares, participando das inquirições ou
interferindo no curso dos trabalhos ante às desobediências legais ou constitucionais;
O sigilo profissional é requisito estruturante da vida em sociedade. Por isso, nem o Poder Judiciário,
consequentemente tampouco as CPls, dispõem de força cogente para determinar a sua revelação.
As CPls não possuem poderes que não estejam elencados dentro das atribuições do Poder Legislativo.
Em consequência, não podem: i) promover a responsabilização de quem quer que seja; ii) anular atos de qualquer
outro Poder da República; iii) convocar magistrado para investigar sua atuação jurisdicional; iv) subverter, revogar, cassar,
alterar decisões jurisdicionais proferidas nos processos, dentre as quais se inserem as que decretam o chamado segredo de
justiça.
Em deferência à autonomia dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios, se veda às CPls instaladas
na esfera federal a investigação de assuntos de interesse acentuadamente regional ou local e que não tenham qualquer
impacto digno de destaque no plano nacional.
39
Encerrada a atividade investigativa da comissão deve ser apresentado um relatório final com a descrição detalhada
do trabalho que foi realizado e das conclusões alcançadas.
As proposições finais apresentadas pela CPI não são dotadas de autoexecutoriedade. Por isso, caso conclua pela
ocorrência de ilícitos, deve o relatório ser encaminhado ao Ministério Público, para adoção das medidas ou providências
tidas por necessárias.
40
Foi promulgada e publicada em 05/12/2016, com o objetivo de alterar a Lei 1.579/52, que dispõe sobre Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPI).
Vejamos:
Art. 1o O art. 1o da Lei no 1.579, de 18 de março de 1952, passa a vigorar com a seguinte
redação:
Art. 2o O art. 2o da Lei nº 1.579, de 18 de março de 1952, passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 3o ..........................................................................
...................................................................................” (NR)
Art. 4o A Lei nº 1.579, de 18 de março de 1952, passa a vigorar acrescida do seguinte art.
3o-A:
A Constituição Federal contempla um conjunto normativo especial referente ao regime jurídico empregado aos
parlamentares, relativamente a suas prerrogativas, proibições e impedimentos, esse conjunto normativo de regras é
denominado de “Estatuto dos Congressistas”.
O Estatuto dos Congressistas compreende as imunidades, que são regras protetivas à função parlamentar, atribuídas
aos membros do Poder Legislativo para que estes possam executar suas atribuições com liberdade, independência frente
aos demais Poderes e sem pressões externas.
É importantes termos em mente que essas prerrogativas/imunidades não conferem aos parlamentares privilégios de
ordem pessoal, são em verdade, regras que visam assegurar o livre exercício do mandato, são prerrogativas de caráter
institucional, vinculados ao cargo.
Candidato, os suplentes de Deputados, Senadores e Vereadores possuem imunidades material e formal e prerrogativa de
foro? Excelência, “não existe Senador suplente, Deputado suplente ou Vereador suplente. O que existe é suplente de
Senador, suplente de Deputado e suplente de Vereador” (Carmén Lúcia). Assim, o suplente não é parlamentar, mas
42
suplemente de parlamentar. Por conseguinte, não tem nenhuma dessas garantias ou foro por prerrogativa de função. Ele só
as possuirá se assumir efetivamente o cargo.
➢ Sendo prerrogativas de ordem institucional e não se ordem subjetivas, não podem ser renunciadas, ou seja,
são irrenunciáveis;
Obs.: As garantias são atribuídas ao Poder Legislativo e não ao parlamentar individualmente. Portanto, não são garantias
individuais, mas institucionais. Daí a razão pela qual são irrenunciáveis, ou seja, mesmo que o parlamentar queira, de
alguma forma, abrir mão das imunidades que lhe são atribuídas, não poderá fazê-lo.
42
➢ São mantidas até mesmo no curso de circunstâncias excepcionais, de crise institucional;
➢ Caso o parlamentar se licencie para ocupar outros cargos (como por exemplo, de Ministro de Estado, de
secretário de Governo, de Governador de Território Federal, de chefe de missão diplomática temporária) ou
por razões de doença ou a fim de cuidar de algum interesse particular, suas imunidades ficam suspensas.
Contudo, cumpre destacarmos que mesmo licenciado o parlamentar deve manter o decoro, sob pena de se
sujeitar à perda do cargo, afinal a licença não cem o condão de romper os laços que o unem, organicamente,
ao Poder Legislativo;
➢ Apesar de licenciado, o parlamentar manterá o foro por prerrogativa de função.
Obs.: Atualmente, o Supremo entende que se o parlamentar se afasta do cargo para exercer qualquer outra função, deixará
de ter a imunidade material e a formal. Assim, deixa de ser inviolável em relação às suas opiniões, palavras e votos e de ter
imunidade em relação ao processo e à prisão, embora mantenha a prerrogativa de foro.
Feitas as considerações iniciais, passaremos ao estudo das imunidades dos congressistas – imunidade material e
imunidade formal (relativa à prisão e relativa ao processo).
Vamos esquematizar?
Segundo ensina a professora Nathália Masson, a imunidade material também denominada de inviolabilidade,
43
imunidade substancial ou real, possui o condão de neutralizar, na esfera penal e civil, a responsabilização do parlamentar
por suas opiniões, palavras e votos.
A imunidade material tem a finalidade de permitir que os congressistas, no exercício de seu mandato legislativo ou
em função dele, opinem, discursem e possam votar com total liberdade sem que sofram pressões e eventuais
constrangimentos.
A imunidade parlamentar penal implica na inviolabilidade dos membros do Poder Legislativo por suas opiniões,
palavras e votos, na medida em que exclui a caracterização da infração penal, não havendo a instalação de inquérito e
processo penal.
1 – causa de exclusão da ilicitude. CRÍTICA: excludentes de ilicitude não obstam inquérito e ação penal, não se
coadunando com a circunstância da imunidade material.
2 – causa de isenção de pena. CRÍTICA: casos de isenção de pena não obstam inquérito e ação penal, não se
coadunando com a circunstância da imunidade material.
3 – causa de exclusão de tipicidade. Por ser fato atípico, impede a instauração de inquérito policial ou ação penal. É
O ENTENDIMENTO QUE TEM PREVALECIDO NO STF:
“Não há justa causa para o exercício da ação penal se o fato increpado ao acusado (detentor de foro por
prerrogativa de função) está estreitamente ligado ao exercício do mandato parlamentar (...). Torna-se imperioso, portanto,
o reconhecimento da manifesta ausência de tipicidade da conduta descrita na inicial acusatória. No caso, as palavras
proferidas pelo querelado (senador da República) estão acobertadas pela inviolabilidade parlamentar, descrita no art. 53
da CF de 1988. E passa ao largo de qualquer dúvida a compreensão de que tal inviolabilidade significa insusceptibilidade
de cometimento de crime. Noutros termos: os fatos objeto da queixa-crime se encontram imbricados com a função
parlamentar do senador da República acionado. Fatos que, de imediata percepção, se enquadram no contexto da disputa
política, por ocasião das eleições para o Senado Federal, no Estado do Amapá. Em suma: o quadro fático-probatório
demonstrou o deliberado intento do querelado de defender a legitimidade de sua própria investidura no cargo de senador
da República, fazendo para os seus eleitores em particular e o público em geral um amplo retrospecto da disputa eleitoral
44
do ano de 2002. Muito mais para o efeito de registro histórico do que propriamente externar propósito violador da honra
do querelante.” (Inq 2.674, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 26-11-2009, Plenário, DJE de 26-2-2010.)
A posição majoritária defende que haveria uma causa de exclusão de tipicidade, não haveria sequer a subsunção do
fato a norma, é a posição seguida pelo STF.
Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal o tema já foi expressamente mencionado em votos por duas vezes (Inq. n.
2.273 e Pet. n. 4.934). Em ambos os casos o STF adotou o entendimento de que a imunidade material consubstancia causa
44
excludente de tipicidade.
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos.
No tocante a essa imunidade, importante fazermos uma observação no que tange as ofensas que são irrogadas dentro
do plenário e fora do plenário.
O entendimento dos Tribunais é no sentido de que pronunciamentos ofensivos realizados no interior da Casa
Legislativa a qual a parlamentar pertença estão presumivelmente amparados pela imunidade, independentemente de
qualquer comprovação de conexão com o mandato; já as ofensas perpetradas fora do recinto parlamentar só estarão
acobertadas pela prerrogativa se houver demonstração de que se relacionam com a atividade parlamentar.
Assim:
Pronunciamento DENTRO do Plenário Pronunciamento FORA do Plenário
Em se tratando de ofensas irrogadas em plenário, A imunidade acompanha o parlamentar extra
presume-se a imunidade, não cabendo indagar muros, ou seja, em seus pronunciamentos fora do
acerca do conteúdo das ofensas proferidas ou plenário, contudo nesse caso é preciso que haja
mesmo da conexão com o mandato. inequívoca confirmação de que o ato está
relacionado com a função parlamentar, ou seja,
deve-se comprovar a conexão.
A imunidade material de parlamentar (art. 53, “caput”, da CF/88) quanto a crimes contra a honra só
alcança as supostas ofensas irrogadas fora do Parlamento quando guardarem conexão com o
45
Candidato, o congressista na mera condição de candidato a qualquer cargo eletivo possui a imunidade material?
R.: Excelência, a garantia constitucional da imunidade parlamentar em sentido material não se estende ao congressista,
quando, na condição de candidato a qualquer cargo eletivo, vem a ofender, moralmente, a honra de terceira pessoa, inclusive
a de outros candidatos, em pronunciamento motivado por finalidade exclusivamente eleitoral, que não guarda qualquer
conexão com o exercício das funções congressuais (Nathália Masson).
Observações pontuais:
➢ Não obstante o texto constitucional mencionar a imunidade material atrelada as esferas penal e civil, a doutrina
estende também para o âmbito político-administrativo;
Candidato, as imunidades também abrangem o âmbito administrativo e o político, não obstante a ausência de previsão
expressa na Constituição em relação a elas? Excelência, alguns doutrinadores sustentam que as imunidades não são apenas
penal e civil, mas também administrativa e política, embora não estejam expressamente previstas no texto constitucional. Mesmo
antes de a imunidade civil ter sido acrescentada pela EC n. 35/01, o Supremo Tribunal Federal já estendia a imunidade material a esta
esfera.
➢ A imunidade material possui eficácia temporal permanente, permanente e absoluta, o que significa que mesmo
depois de extinto o mandato, os parlamentares não poderão ser investigados, processados e condenados pelas
palavras proferidas a época do mandato quando atuaram protegidos pelo manto da imunidade;
➢ A incidência da imunidade material tem o condão de excluir a tipicidade do fato praticado pelo Deputado Federal
ou Senador;
➢ Se alguém é injuriado por um parlamentar beneficiado pela imunidade e imediatamente retruca (resposta imediata
à injúria), pode também se ver livre de repressão criminal;
Esquematizando
Imunidade material (art. 53, CF)
46
Art. 29. VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do
mandato e na circunscrição do município.
As imunidades formais asseguram aos congressistas a prerrogativa de não ser preso e a possibilidade de suspensão
do processo penal que esteja tramitando contra a sua pessoa.
Dessa forma, temos que a imunidade formal subdivide-se em imunidade formal relacionada à prisão e imunidade
formal relativa ao processo.
Art. 53. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser
presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de
vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva
sobre a prisão.
§ 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o
Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político
nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
andamento da ação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001).
47
a) Relativa à prisão
Art. 53. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser
presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de
vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva
sobre a prisão.
A imunidade formal relativa à prisão importa na impossibilidade de o parlamentar federal ser preso, salvo em flagrante
de crime inafiançável. Em havendo a prisão, os autos deverão ser encaminhados à Casa Legislativa respectiva, para que,47
pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre o tema.
Dessa forma, contemplamos que o parlamentar não poderá ser submetido a nenhuma das prisões processuais (prisão
preventiva, prisão temporária), somente podendo ser preso em flagrante e pela prática de crimes muito específicos, ou seja,
aqueles para os quais a Constituição da República ou o Código de Processo Penal tenham estabelecido a inafiançabilidade.
Assim, apenas no caso de flagrante e nos crimes acima é que poderá o parlamentar ser preso (prisão processual).
Nesses casos, uma vez efetivada a prisão em flagrante pela prática de crime inafiançável pelo parlamentar, a Casa
Legislativa respectiva deverá ser comunicada no prazo de 24h para deliberar (por maioria de seus membros) se mantém ou
se rechaça a prisão.
Por outro lado, caso afaste a prisão por entendê-la inconveniente, libertará o agente, expedindo por força própria alvará
de soltura, em hipótese que se assemelha à concessão de liberdade provisória incondicionada, onde o parlamentar se livrará
solto - ou seja, será posto em
Esquematizando
Imunidade formal relativa à prisão
Regra geral: impossibilidade de prisão do Congressista.
ÚNICA EXCEÇÃO: o congressista poderá ser preso em FLAGRANTE por CRIME INAFIANCÁVEL.
Neste caso, os autos serão encaminhados para a respectiva casa que pelo voto da maioria dos
membros resolva sobre a prisão.
Cumpre destacarmos ainda que, o STF já consignou o entendimento no sentido de ser possível a prisão do parlamentar
federal também em decorrência da prolação de sentença condenatória (prisão pena).
48
Observações pontuais:
➢ É a DIPLOMAÇÃO o termo inicial da imunidade formal quanto à prisão;
➢ É possível a prisão do parlamentar federal em decorrência de sentença condenatória.
b) Relativa ao processo
Art. 53. § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a
diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de
48
partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão
final, sustar o andamento da ação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001).
A imunidade formal relativa ao processo passou por alterações. No início, o STF somente iniciativa o processo
criminal contra o parlamentar se fosse concedida uma licença (autorização) da respectiva Casa Legislativa.
Sucede que a EC 35 tratou de pôr fim a exigência de prévia autorização, sendo que a partir de sua publicação
Deputados e Senadores puderam vir a ser processados criminalmente independente de prévia deliberação da Casa a qual o
parlamentar pertencia. A doutrina186 aponta ter havido a substituição do princípio da improcessabilidade, previsto no texto
originário da Constituição, pelo princípio da processabilidade (ou condição de prosseguibilidade).
No contexto atual, a imunidade formal ao processo refere-se a possibilidade de a Casa Legislativa respectiva
SUSTAR, a qualquer tempo antes de prolatada a decisão final pelo STF, o trâmite da ação penal proposta contra Deputado
federal ou Senador em razão de crime praticado após o ato de diplomação.
Essa sustação deverá haver provocação de um partido político nela representado e, quando esta provocação for feita,
a Casa terá o prazo improrrogável de quarenta e cinco dias para decidir. Caso se decida pela sustação da ação, suspensa
ficará a prescrição. Desse modo, temos que a sustação não pode ser feita pela Casa de ofício.
O texto constitucional é expresso ao mencionar “Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime
ocorrido após a diplomação” – temos com isso que se ato criminoso foi cometido antes da diplomação não incidirá a
imunidade formal, o que se justifica pela própria natureza da prerrogativa: proteger o Poder Legislativo (e não os
parlamentares nas suas relações privadas, criando privilégios pessoais, verdadeiros escudos protetores de condutas ilícitas).
A imunidade formal em estudo não aproveita ao eventual corréu não parlamentar, por incidência da súmula 245 do
STF. Desse modo, se o crime houver sido cometido em concurso de agentes, entres réus parlamentares e outros não
parlamentares, se a Casa Legislativa sustar o andamento da ação do réu parlamentar, deverá o processo ser desmembrado
para que siga seu trâmite no juízo competente para o julgamento dos demais réus (os não parlamentares) que não possuem
prerrogativa de foro no STF.
Os inquéritos policiais contra parlamentares só podem ser desenvolvidos sob os cuidados da Corre, de forma que seja
imprescindível, para a instauração do inquérito ou para o indiciamento do congressista, a autorização do STF.
Observações pontuais:
49
➢ A antiga licença da Casa Legislativa, enquanto pressuposto necessário à instauração do processo, deixou de existir
com a edição da EC nº 35/2001. Atualmente o STF está autorizado a iniciar o processo por meio do recebimento
da denúncia ou da queixa-crime, independentemente de haver autorização da Casa.
➢ Independentemente da natureza do crime, a imunidade formal relativa ao processo é prerrogativa somente válida
para atos praticados pelos parlamentares após a diplomação, nunca antes.
➢ A possibilidade de sustação da ação será apreciada e terá que ser decidida pela maioria absoluta.
LEMBRE-SE! A imunidade formal sofreu profundas alterações com a EC n. 35/01. Até então os parlamentares s só
49
poderiam ser processados pelo Supremo Tribunal Federal se houvesse uma autorização da respectiva Casa. Atualmente, ao
receber a denúncia o STF comunicará à Casa do parlamentar, a qual poderá sustar o processo até o julgamento final.
O §6º, do art. 53 assegura aos parlamentares a escusa da obrigação de testemunhar sobre informações recebidas ou
prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.
Vejamos:
Art. 53. § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações
recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram
ou deles receberam informações.
O §1º cuida do privilégio de foro por prerrogativa de função, em virtude do qual os Deputados e Senadores, desde a
expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-
lhe:
7. Incompatibilidades
Em decorrência de sua nobre função, aos parlamentares é vedado o exercício de algumas atividades, bem como
determinados comportamentos, desde a expedição do diploma e, posteriormente, após tomarem posse, essas vedações foram
denominadas de “incompatibilidades”.
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública,
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o
contrato obedecer a cláusulas uniformes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis
"ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior;
II - desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato
com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades referidas no inciso
I, "a";
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, "a";
Vamos esquematizar?
Incompatibilidades
51
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões
ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos
Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da
respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada
ampla defesa. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 76, de 2013) 52
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa
respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
O texto constitucional teve a preocupação e achou por bem delimitar de forma expressa as hipóteses em que não
haverá a perda do mandado do Deputado ou Senador.
II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem remuneração, de
interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias por
sessão legislativa.
Por fim, e não menos importante, a CF determinou ainda que o suplente será convocado nos casos de vaga, de
investidura em funções previstas neste artigo ou de licença superior a cento e vinte dias (art. 56, § 1º).
Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais de quinze meses para o
término do mandato (art. 56, § 2º).
53
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do
Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores
53
públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas
e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda,
extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer
título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo
Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como
a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias
posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório;
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas
Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções
realizadas;
IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
JÁ CAIU CESPE. (DPE-PE. CESPE. 2018). No âmbito do Poder Legislativo Federal, as comissões parlamentares
de inquérito:
a) podem investigar fatos referentes a questões de interesse de um estado-membro, ou seja, sem relevância nacional.
c) têm poderes para determinar medida de busca e apreensão domiciliar e interceptação telefônica.
JÁ CAIU CESPE. (Delegado de Polícia. MT. 2017). De acordo com o entendimento dos tribunais superiores, a
condenação criminal de um parlamentar federal em sua sentença transitada em julgado resultará na
a) perda de seus direitos políticos, cabendo à casa legislativa a decisão acerca da manutenção de seu mandato legislativo.
b) suspensão de seus direitos políticos, mas a perda de seu mandato legislativo dependerá de decisão da Câmara dos
Deputados.
c) suspensão de seus direitos políticos, com a consequente perda automática de seu mandato.
d) cassação de seus direitos políticos, o que levará também à perda automática de seu mandato legislativo.
e) perda de seus direitos políticos, o que acarretará a perda automática de seu mandato legislativo.
55
JÁ CAIU CESPE. (Delegado de Polícia. PE. 2016. CESPE). No que se refere a CPI, assinale a opção correta.
a) CPI proposta por cinquenta por cento dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal não poderá ser
instalada, visto que, conforme exige o texto constitucional, são necessários dois terços dos membros do Congresso Nacional
para tanto.
b) As CPIs, no exercício de suas funções, dispõem de poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, tais como
os de busca domiciliar, interceptação telefônica e decretação de prisão. 55
c) A CF só admite CPIs que funcionem separadamente na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal.
d) Não poderá ser criada CPI que versar sobre tema genérico e indefinido, dada a exigência constitucional de que esse tipo
de comissão deva visar à apuração de fato determinado.
e) As conclusões de determinada CPI deverão ser encaminhadas ao TCU para que este promova a responsabilidade civil
ou administrativa dos que forem indicados como infratores.
JÁ CAIU CESPE. (Delegado de Polícia. PE. 2016. CESPE). Assinale a opção correta acerca do processo
a) A criação de ministérios depende de lei, mas a criação de outros órgãos da administração pública pode se dar mediante
decreto do chefe do Poder Executivo.
b) Se um projeto de lei for rejeitado no Congresso Nacional, outro projeto do mesmo teor só poderá ser reapresentado, na
mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal.
c) Uma medida provisória somente poderá ser reeditada no mesmo ano legislativo se tiver perdido sua eficácia por decurso
de prazo, mas não se tiver sido rejeitada.
d) Somente após a posse, deputados e senadores passam a gozar do foro por prerrogativa de função, quando deverão ser
submetidos a julgamento perante o STF.
e) Os deputados e os senadores gozam de imunidades absolutas, que não podem ser suspensas nem mesmo em hipóteses
como a de decretação do estado de defesa ou do estado de sítio.
56
JÁ CAIU CESPE. (Delegado de Polícia. PE. 2016. CESPE). Com base na disciplina constitucional acerca dos
tratados internacionais, da forma e do sistema de governo e das atribuições do presidente da República, assinale a opção
correta.
a) Insere-se no âmbito das competências privativas do Senado Federal resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.
b) O sistema presidencialista de governo adotado no Brasil permite que o presidente da República, na condição de chefe56
de Estado, decrete o estado de defesa e o estado de sítio, independentemente de autorização do Congresso Nacional.
c) Da forma republicana de governo adotada pela CF decorre a responsabilidade política, penal e administrativa dos
governantes; os agentes públicos, incluindo-se os detentores de mandatos eletivos, são igualmente responsáveis perante a
lei.
d) Na condição de chefe de governo, cabe ao presidente da República editar atos administrativos que criem e provejam
órgãos públicos federais, na forma da lei.
e) Tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, para que sejam equivalentes a emendas constitucionais,
deverão ser aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, por maioria absoluta de votos, em dois turnos de discussão e
votação.
JÁ CAIU CESPE. (Defensor Público – RN. 2015. CESPE). Com relação ao regime constitucional das imunidades
parlamentares, assinale a opção correta.
a) Para que incida a inviolabilidade do vereador, é necessário que suas opiniões, palavras e votos sejam expressos na
circunscrição do município em que ele exerça seu mandato, não se exigindo a demonstração de conexão com o efetivo
exercício da vereança.
b) Deputados distritais desfrutam de imunidade formal apenas quanto aos fatos de competência da justiça local.
c) Não perderá o foro por prerrogativa de função o parlamentar federal que estiver licenciado para exercer cargo de
ministro de Estado.
d) Vereadores não poderão ser presos desde a expedição do diploma, salvo em caso de flagrante de crime inafiançável
cometido fora da circunscrição do município em que forem eleitos.
e) Enquanto deputados federais e senadores compartilham de um regime de imunidades abrangente tanto da chamada
inviolabilidade como da imunidade formal, deputados estaduais e vereadores são detentores tão somente da inviolabilidade.
2017
➢ Possibilidade de juiz afastar vereador da função que ocupa
É possível que o Juiz de primeiro grau, fundamentadamente, imponha a parlamentares municipais as medidas cautelares de
afastamento de suas funções legislativas sem necessidade de remessa à Casa respectiva para deliberação. STJ. 5ª Turma.
RHC 88804-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 07/11/2017 (Info 617).
➢ Judiciário pode impor aos parlamentares as medidas cautelares do art. 319 do CPP, no entanto, a respectiva57
Casa legislativa pode rejeitá-las (caso Aécio Neves)
O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade própria, as medidas cautelares
previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão em flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem
medidas individuais e específicas menos gravosas; seja autonomamente, em circunstâncias de excepcional gravidade.
Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas cautelares é do STF (art. 102, I,
“b”, da CF/88). Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF impossibilitar, direta ou
indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu mandato, então, neste caso, o Supremo deverá encaminhar
a sua decisão, no prazo de 24 horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere
se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida. Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou
Senador qualquer das medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou
indiretamente, que esse Deputado ou Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a Câmara ou o Senado poderá rejeitar
(“derrubar”) a medida cautelar que havia sido determinada pelo Judiciário. Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art.
53 da CF/88 também para as medidas cautelares diversas da prisão. STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson
Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/10/2017 (Info 881).
➢ Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada "não merece ser estuprada"
deve pagar indenização por danos morais
O Deputado Federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) afirmou que a também Deputada Federal Maria do Rosário (PT-RS), “não
merece ser estuprada por ser muito ruim, muito feia, não faz meu gênero”. E acrescentou que, se fosse estuprador, "não iria
estuprá-la porque ela não merece". O STJ entendeu que a conduta do parlamentar não está abrangida pela imunidade
parlamentar e que, portanto, ele deveria ser condenado a pagar indenização por danos morais em favor da Deputada. Decidiu
o Tribunal: As opiniões ofensivas proferidas por deputados federais e veiculadas por meio da imprensa, em manifestações
que não guardam nenhuma relação com o exercício do mandato, não estão abarcadas pela imunidade material prevista no
art. 53 da CF/88 e são aptas a gerar dano moral. STJ. 3ª Turma.REsp 1642310-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/8/2017 (Info 609).
58
➢ Quando a condenação do Deputado Federal ou Senador ultrapassar 120 dias em regime fechado, a perda do
mandato é consequência lógica
Se o STF condenar um parlamentar federal e decidir que ele deverá perder o cargo, isso acontece imediatamente ou depende
de uma deliberação da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal respectivamente? • Se o Deputado ou Senador for
condenado a mais de 120 dias em regime fechado: a perda do cargo será uma consequência lógica da condenação. Neste
caso, caberá à Mesa da Câmara ou do Senado apenas declarar que houve a perda (sem poder discordar da decisão do STF),
nos termos do art. 55, III e § 3º da CF/88. • Se o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto ou
58
semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo. O Plenário da Câmara ou do Senado irá deliberar,
nos termos do art. 55, § 2º, se o condenado deverá ou não perder o mandato. STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 2/5/2017 (Info 863). STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info
866). Obs: existem decisões em sentido diverso (AP 565/RO - Info 714 e AP 470/MG - Info 692), mas penso que, para fins
de concurso, deve-se adotar o entendimento acima explicado (AP 694/MT).
➢ Imunidade material alcança o delito do art. 3º da Lei 7.492/86 (“divulgar informação falsa ou
prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira”)
Deputado Estadual que, ao defender a privatização de banco estadual, presta declarações supostamente falsas sobre o
montante das dívidas dessa instituição financeira não comete o delito do art. 3º da Lei nº 7.492/86, estando acobertado pela
imunidade material. STF. 1ª Turma. HC 115397/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 16/5/2017 (Info 865).
2016
➢ Processo de cassação de mandato parlamentar e autocontenção do Poder Judiciário
O ex-Deputado Federal Eduardo Cunha impetrou mandado de segurança no STF pedindo a suspensão do processo de
cassação que tramitava contra ele na Câmara dos Deputados por quebra de decoro parlamentar. O pedido do impetrante foi
negado. O STF só pode interferir em procedimentos legislativos (ex: processo de cassação) em uma das seguintes hipóteses:
a) para assegurar o cumprimento da Constituição Federal; b) para proteger direitos fundamentais; ou c) para resguardar os
pressupostos de funcionamento da democracia e das instituições republicanas. Exemplo típico na jurisprudência é a
preservação dos direitos das minorias, onde o Supremo poderá intervir. No caso concreto, o STF entendeu que nenhuma
dessas situações estava presente. Em se tratando de processos de cunho acentuadamente político, como é o caso da cassação
de mandato parlamentar, o STF deve se pautar pela deferência (respeito) às decisões do Legislativo e pela autocontenção,
somente intervindo em casos excepcionalíssimos. Dessa forma, neste caso, o STF optou pela técnica da autocontenção
(judicial self-restraint), que é o oposto do chamado ativismo judicial. Na autocontenção, o Poder Judiciário deixa de atuar
(interferir) em questões consideradas estritamente políticas. STF. Plenário. MS 34.327/DF, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 8/9/2016 (Info 838).
59
A imunidade parlamentar material (art. 53 da CF/88) protege os Deputados Federais e Senadores, qualquer que seja o
âmbito espacial (local) em que exerçam a liberdade de opinião. No entanto, para isso é necessário que as suas declarações
tenham conexão (relação) com o desempenho da função legislativa ou tenham sido proferidas em razão dela. Para que as
afirmações feitas pelo parlamentar possam ser consideradas como "relacionadas ao exercício do mandato", elas devem ter,
ainda de forma mínima, um teor político. Exemplos de afirmações relacionadas com o mandato: declarações sobre fatos
59
que estejam sendo debatidos pela sociedade; discursos sobre fatos que estão sendo investigados por CPI ou pelos órgãos de
persecução penal (Polícia, MP); opiniões sobre temas que sejam de interesse de setores da sociedade, do eleitorado, de
organizações ou grupos representados no parlamento etc. Palavras e opiniões meramente pessoais, sem relação com o debate
democrático de fatos ou ideias não possuem vínculo com o exercício das funções de um parlamentar e, portanto, não estão
protegidos pela imunidade material. No caso concreto, as palavras do Deputado Federal dizendo que a parlamentar não
merecia ser estuprada porque seria muito feia não são declarações que possuem relação com o exercício do mandato e, por
essa razão, não estão amparadas pela imunidade material. STF. 1ª Turma. Inq 3932/DF e Pet 5243/DF, Rel. Min. Luiz Fux,
julgados em 21/6/2016 (Info 831).
O STF entendeu que a manutenção de Eduardo Cunha na função de parlamentar e de Presidente da Câmara dos Deputados
representaria risco para as investigações penais instauradas contra ele e, por essa razão, determinou a suspensão do exercício
do seu mandato de Deputado Federal e, por consequência, da função de Presidente da Câmara dos Deputados que era por
ele ocupada. A decisão foi baseada na medida cautelar prevista no art. 319, VI, do CPP. Esse inciso VI do art. 319 do CPP
pode ser utilizado como fundamento para se afastar do cargo Deputados Federais e Senadores. Os §§ 2º e 3º do art. 55 da
CF/88 outorgam às Casas Legislativas do Congresso Nacional a competência para decidir a respeito da perda do mandato
político. Isso não significa, no entanto, que o Poder Judiciário não possa suspender o exercício do mandato parlamentar. A
legitimidade do deferimento das medidas cautelares de persecução criminal contra Deputados e Senadores encontra abrigo
no princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF/88) e no fato de que as imunidades parlamentares não
são absolutas, podendo ser relativizadas quando o cargo não for exercido segundo os fins constitucionalmente previstos.
Vale ressaltar que os membros do Poder Judiciário e até o chefe do Poder Executivo podem ser suspensos de suas atribuições
quando estejam sendo acusados de crime. Desse modo, não há razão para conferir tratamento diferenciado apenas aos
Parlamentares, livrando-osde qualquer intervenção preventiva no exercício do mandato por ordem judicial. STF. Plenário.
AC 4070/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/5/2016 (Info 824).
2015
➢ Imunidade material
60
A imunidade parlamentar é uma proteção adicional ao direito fundamental de todas as pessoas à liberdade de expressão,
previsto no art. 5º, IV e IX, da CF/88. Assim, mesmo quando desbordem e se enquadrem em tipos penais, as palavras dos
congressistas, desde que guardem alguma pertinência com suas funções parlamentares, estarão cobertas pela imunidade
material do art. 53, “caput”, da CF/88. STF. 1ª Turma. Inq 4088/DF e Inq 4097/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
1º/12/2015 (Info 810).
➢ Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários
60
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito, ele perderá o cargo que
ocupa? a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO A perda do mandato em razão de mudança de partido não se
aplica aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo
eleitor. No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando o quociente eleitoral
nem o quociente partidário. Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político. Desse
modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade partidária é antagônica (contrária) à
soberania popular. b) Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM O mandato parlamentar conquistado no sistema
eleitoral proporcional pertence ao partido político. Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de partido político, ele
sofrerá um processo na Justiça Eleitoral que poderá resultar na perda do seu mandato. Neste processo, com contraditório e
ampla defesa, será analisado se havia justa causa para essa mudança. O assunto está disciplinado na Resolução 22.610/2007
do TSE, que elenca, inclusive, as hipóteses consideradas como “justa causa”. STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).
Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o Prefeito, um Vereador passou a
proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O Vereador ofendido ajuizou ação de indenização por danos morais
contra o ofensor. A questão chegou até o STF que, julgando o tema sob a sistemática da repercussão geral, declarou que o
Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o manto da imunidade material. Na oportunidade, o STF definiu a
seguinte tese que deverá ser aplicada aos casos semelhantes: Nos limites da circunscrição do Município e havendo
pertinência com o exercício do mandato, garante-se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores. STF.
Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 25/2/2015
(repercussão geral) (Info 775).
2014
Determinada Lei estadual, de iniciativa parlamentar, obrigava que alguns agentes públicos estaduais (Magistrados,
membros do MP, Deputados, Procuradores do Estado, Defensores Públicos, Delegados etc.) apresentassem, anualmente, a
declaração de todos os seus bens à ALE. O STF entendeu que a referida lei é inconstitucional já que essa competência de
fiscalização conferida pela lei à Assembleia Legislativa não tem amparo na CF/88, que não previu semelhante atribuição
ao Congresso Nacional no âmbito federal. Não poderia a Assembleia Legislativa outorgar-se a si mesma competência que
não encontra previsão na Carta Federal. Os Ministros consideraram que a Lei somente seria válida quanto aos servidores
do próprio Poder Legislativo que administrem ou sejam responsáveis por bens e valores, sendo constitucional que se exija
61
que estes apresentem sua declaração de bens à ALE por se tratar de uma forma de controle administrativo interno. STF.
Plenário. ADI 4203/RJ e ADI 4232/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 30/10/2014 (Info 765).
A imunidade material de parlamentar (art. 53, “caput”, da CF/88) quanto a crimes contra a honra só alcança as supostas
ofensas irrogadas fora do Parlamento quando guardarem conexão com o exercício da atividade parlamentar. No caso
concreto, determinado Deputado Federal afirmou, em seu blog pessoal, que certo Delegado de Polícia teria praticado fato
definido como prevaricação. A 1ª Turma do STF recebeu a denúncia formulada contra o Deputado por entender que, no
caso concreto, deveria ser afastada a tese de imunidade parlamentar apresentada pela defesa. A Min. Rel. Rosa Weber
ressaltou que a imunidade parlamentar material (art. 53 da CF/88) só é absoluta quando as afirmações de um parlamentar
sobre qualquer assunto ocorrem dentro do Congresso Nacional. No entendimento da Ministra, fora do parlamento é
necessário que as afirmações tenham relação direta com o exercício do mandato. Na hipótese, o STF entendeu que as
declarações do Deputado não tinham relação direta com o exercício de seu mandato. STF. 1ª Turma. Inq 3672/RJ, Rel.Min.
Rosa Weber, julgado em 14/10/2014 (Info 763).
➢ Vedação ao pagamento de qualquer valor a parlamentar por participação em sessão extraordinária
É inconstitucional lei estadual que estabelece que a remuneração dos Deputados Estaduais será um percentual sobre o
subsídio dos Deputados Federais. Tal lei viola o princípio da autonomia dos entes federativos. STF. Plenário. ADI 3461/ES,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 22/5/2014 (Info 747).
2013
➢ Parlamentares não têm imunidade formal quanto à prisão em caso de condenação definitiva
62
O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão
decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF.
STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, Rel.Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/6/2013 (Info 712).
Fonte: https://www.buscadordizerodireito.com.br/
62
63
DIREITO CONSTITUCIONAL II
Conteúdo 03: Poder Executivo
1. Introdução
O Ordenamento Jurídico Brasileiro adotou a chamada “Teoria da Tripartição dos Poderes” ao teor de seu art. 2º da
Constituição Federal, o qual proclama “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo
e o Judiciário”.
63
Nesse contexto, a separação dos poderes tem por finalidade estabelecer uma estrutura em que cada poder do Estado,
permitindo o exercício de suas funções inerentes, evitando a concentração de poder em um único órgão. Possibilita-se, portanto,
uma maior efetividade no exercício daquela função e maior controle no exercício dessas mesmas funções.
Nessa esteira, consagrado na Constituição Federal como um dos Poderes da União, o Poder Executivo é independente
e autônomo e tem por função primordial a de administrar a coisa pública, por meio de aros de chefia de Estado, chefia de
Governo e da administração.
A professora Nathália Masson explica que por não mais adotarmos a teoria clássica da separação dos Poderes -
pensada por Montesquieu, na obra “O Espírito das Leis”, segundo a qual cada Poder exerceria uma única função, isoladamente
- temos que, atualmente, o Poder Executivo também exerce funções que não compõem sua natureza intrínseca. Realiza
atribuições atípicas de natureza jurisdiciona1, quando há um dissídio administrativo, e de natureza legislativa, ao, por
exemplo, editar uma medida provisória.
Diante do exposto, contemplamos que o Poder Executivo desempenha funções denominadas de típicas e funções
atípicas.
Esquematizando:
Segundo explica Nathália Masson, o Sistema de Governo nos permite identificar o modo como se desenvolve a
relação entre os Poderes dentro de um Estado, especialmente entre os Poderes Executivo e Legislativo, e não pode ser
confundido com a Forma de Governo, que é conceito concebido para informar a maneira como se relacionam os governantes
e os governados.
64
Na hipótese em que houver completa independência política entre os dois poderes e as funções executivas estiverem
todas concentradas no próprio Poder Executivo, teremos o Presidencialismo.
Por outro lado, se os poderes se articularem com relativa interdependência, pois uma parcela da função executiva
será deslocada para ser exercida pelo Poder Legislativo, estaremos freme ao sistema parlamentarista.
Lembre-se, no Presidencialismo:
• O Presidente da República é chefe de Estado e chefe de governo.
• A chefia do Executivo é unipessoal.
• O Presidente da República é eleito por um prazo determinado.
Conforme se pode extrair da leitura do art. 76 da Constituição Federal, o Poder Executivo é unipessoal (ou
monocrático), sendo exercido unicamente pelo Presidente da República com auxílio dos Ministros de Estado.
Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de
Estado.
Ensina Nathália Masson, os Ministros se subordinam ao Presidente e são por ele nomeados e demitidos livremente, de
forma que a permanência do Ministro no cargo dependa, unicamente, da confiança que seu trabalho inspire no Presidente.
Serão escolhidos dentre (i) brasileiros, natos ou naturalizados - salvo o Ministro de Estado da Defesa que, necessariamente,
será nato -, (ii) maiores de vinte e um anos e (iii) no pleno exercício dos direitos políticos.
Nesse contexto, o Vice-Presidente auxilia o Presidente da República sempre que por ele for convocado para missões
especiais, participa dos Conselhos da República e da Defesa Nacional, além de exercer outras atribuições que lhe forem
conferidas em lei complementar; é, ainda, o substituto imediato do Presidente da República, no caso de impedimento, e seu
único sucessor legítimo, na hipótese de vacância definitiva do cargo, conforme art. 79, parágrafo único, da CF/88.
Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem
conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões
especiais.
Referente ainda ao Vice-Presidente, cumpre destacarmos que este é registrado com o Presidente e com ele será eleito,
pois não mais se admire a candidatura autônoma (avulsa) do Vice, exatamente para evitar eventuais dissensões entre as
concepções políticas de ambos em caso de substituição/sucessão.
Por fim, quanto aos requisitos de elegibilidade, eleição e posse do Vice, são os mesmos aplicáveis ao Presidente da
República.
Para que o indivíduo possa se candidatar ao cargo de Presidente da República são exigidos requisitos
constitucionalmente. Nesse sentido, deverá o candidato, necessariamente:
Nacionalidade originária (ser brasileiro nato);
Possuir alistamento eleitoral;
Estar em pleno exercício dos direitos políticos;
Estar filiado a algum partido político;
Ter idade mínima de 35 anos de idade, sendo necessária a sua comprovação na data da pose;
Não estar sujeito à incidência de uma das causas de inelegibilidade.
66
4.2 Eleição
No que concerne a eleição do Presidente e do Vice Presidente da República, esta será realizada no primeiro domingo
de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término
do mandato presidencial vigente. A eleição do Presidente acarretará, simultaneamente, a eleição do Vice-presidente com ele
registrado.
§ 2º Será considerado eleito Presidente o candidato que, registrado por partido político, obtiver a
maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos.
§ 3º Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, far-se-á nova eleição em
até vinte dias após a proclamação do resultado, concorrendo os dois candidatos mais votados e
considerando-se eleito aquele que obtiver a maioria dos votos válidos.
§ 4º Se, antes de realizado o segundo turno, ocorrer morte, desistência ou impedimento legal de
candidato, convocar-se-á, dentre os remanescentes, o de maior votação.
§ 5º Se, na hipótese dos parágrafos anteriores, remanescer, em segundo lugar, mais de um candidato
com a mesma votação, qualificar-se-á o mais idoso.
O Presidente da República e seu Vice são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário, pelo qual, valoriza-se o candidato
registrado por partido político. Dessa forma, o candidato que tiver o maior número de votos registrados será eleito.
Nesse contexto, indaga-se, em quais eleições adotamos no sistema eleitoral majoritário no Brasil? Presidente,
Governador, Prefeito de Municípios com mais de 200.000 eleitores e Senador.
Referentemente ao sistema eleitoral, a Professora Nathália Masson faz algumas considerações que são pertinentes:
(i) "sistema eleitoral" é expressão que identifica os diferences mecanismos pelos quais serão
definidos os critérios de contabilização dos votos e determinação dos candidatos eleitos; são
verdadeiras fórmulas de conversão de votos em cargos;
(ii) os dois sistemas eleitorais usuais adotados contemporaneamente no direito comparado são o
majoritário e o proporcional;
67
(iii) o sistema proporcional é utilizado nas eleições organizadas para o preenchimento de cargos
no Poder Legislativo, a saber, de Vereadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais e
Deputados Distritais (com exceção dos Senadores da República são eleitos pelo sistema
majoritário).
(iv) no sistema majoritário vence o candidato que obtiver a maioria dos votos, sendo que os votos
que os demais candidatos obtêm são completamente desconsiderados e não contribuem para a
composição dos Governos.
67
Este sistema pode ou não prever a realização de dois turnos. Se não o admite, temos o sistema
majoritário simples (ou puro); se o segundo turno é possível, temos o sistema majoritário absoluto.
Assim, pelo sistema majoritário simples, será eleito o candidato que obtiver o maior número de
votos, pouco importando a diferença de votos dele para o segundo colocado. Se houver empate entre
os candidatos, se qualifica para o cargo o mais idoso. É o sistema utilizado para a eleição dos
Prefeitos Municipais, nos Municípios que possuírem até duzentos mil eleitores e para a eleição dos
Senadores da República.
Por outro lado, pelo sistema majoritário absoluto (para parcela da doutrina, nomeado "sistema de
dois turnos"), é eleito o candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos válidos, descontados os
votos em branco e os nulos. Se nenhum candidato alcançar, em primeiro turno, a maioria absoluta
dos votos válidos, realizar-se-á um segundo turno com os dois candidatos mais votados. É o sistema
utilizado para o preenchimento dos cargos de Presidente e Vice Presidente da República, Governador
e Vice, bem como Prefeitos e Vices de Municípios que tenham mais de duzentos mil eleitores.
Esquematizando:
Sistemas eleitorais
Sistema proporcional Sistema majoritário absoluto Sistema majoritário simples
São eleitos por esse sistema: São eleitos por esse sistema: São eleitos por esse sistema:
- Vereador; - Presidente e Vice-Presidente; - Senador;
- Deputado Federal; - Governador e Vice-Governador; - Prefeito e Vice-Prefeito
- Deputado Estadual; -Prefeito e Vice-Prefeito (municípios com ATÉ 200 mil
- Deputado Distrital (municípios com mais de 200 mil eleitores).
eleitores).
Nesse sistema, a CF exige, para A Constituição Federal se
que o candidato seja eleito, que contenta com qualquer maioria.
ele atinja, no mínimo, a maioria Será eleito o candidato mais
absoluta dos votos válidos. Se, no votado, independentemente do
1º turno, nenhum dos candidatos percentual de votos.
atingir essa maioria, teremos,
necessariamente, 2º turno de
votação.
68
A posse do Presidente e do Vice-Presidente da República ocorrerá no dia 1º de Janeiro do ano subsequente, em sessão
do Congresso Nacional, na qual ambos irão na ocasião prestar o compromisso de “manter, defender e cumprir a Constituição,
observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil”.
Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-
Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.
Candidato, o que acontece se o Presidente e seu Vice não comparecer para tomar a posse?
R.: Não comparecendo o Presidente nem o Vice-Presidente da República para tomar posse os cargos na data fixada
(1° de Janeiro), estes serão declarados vagos depois de decorridos dez dias, salvo se houver motivo de força maior.
Assim, se há motivo de força maior, que impeça que o Presidente e o Vice-Presidente assumam os respectivos cargos,
a posse será efetivada ao cessar referido motivo. Isso significa que se houver justificativa para o não comparecimento,
os cargos não serão declarados vagos após o prazo de dez dias: aguardar-se-á a superação do motivo plausível que
impediu a posse. Por outro lado, se não houver justificativa que fundamente o não comparecimento do Presidente e
do Vice-Presidente para tomar posse dos cargos, após dez dias estes serão declarados vagos pelo Congresso Nacional,
em verdadeiro ato político, devendo o próprio Congresso convocar nova eleição (direta) em até noventa dias.
R.: Até 10 dias do dia 01/01, ou seja, até 11/01. Dessa forma, até o dia 11, um dos dois tem que tomar posse, sob
pena dos cargos serem declarados vagos, é o que proclama o texto constitucional. Vejamos:
Art. 78. Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo
motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago.
Por fim, e não menos importante, cumpre destacarmos que se por acaso somente o Presidente não comparecer na
data da posse, o Vice assumirá o cargo, de modo interino (se há justificativa vencível ao não comparecimento do
titular), ou de modo definitivo, caso não haja justificativa do Presidente para o não comparecimento (ou mesmo, em
havendo justificativa, se esta gerar a impossibilidade da assunção do cargo). Em sentido contrário, caso somente o
Presidente compareça e o Vice não se apresente nos dez dias subsequentes, sem motivo de força maior que justifique
o não comparecimento, o Presidente assumirá e governará sozinho; o cargo de Vice permanecerá vago até o final do
mandato (Nathália Masson, Manual de Direito Constitucional, 2017).
69
Existem duas formas de o Chefe do Executivo ficar impossibilitado de exercer o cargo, uma intitulada de
impedimento e a outra de vacância.
O impedimento tem natureza temporária, por exemplo, necessidade de se afastar em virtude de uma viagem ou
tratamento para a saúde.
Por outro lado, se for o Vice-Presidente que precise se ausentar provisoriamente ou de forma definitiva, não há
nenhum dispositivo na Constituição determinando assunção interina do cargo por outrem, o que nos permite concluir que o
Presidente governará sozinho enquanto durar o afastamento do Vice. Do mesmo modo, se o Vice deixa o cargo vago, o
Presidente seguirá governando, sozinho, até o encerramento do mandato, sem que novas eleições sejam feiras para preencher
o cargo de Vice.
ESQUEMATIZANDO
Linha sucessória do Presidente
Presidente da Câmara dos Deputados
Presidente do Senado Federal
Ministro Presidente do STF.
70
Tendo em vista que somente o Vice-Presidente da República possui legitimidade para suceder o Presidente, ou seja,
ocupar esse cargo de forma definitiva, as autoridades acima elencadas deverão assumir o cargo apenas de maneira provisória.
Desse modo, ocorrendo de ambos os cargos ficarem abertos temporariamente (Presidente está em viagem e o Vice
está licenciado para tratamento médico, por exemplo), as autoridades listadas ocuparão o cargo temporariamente, até que o
Presidente recome ou o Vice esteja liberado para assumir interinamente a vaga.
Da mesma forma, se ambos os cargos ficarem categoricamente vagos (vacância permanente dos cargos de Presidente
e de Vice-Presidente da República), os Presidentes da Câmara, do Senado ou do Supremo Tribunal Federal, somente assumirão70
a Presidência precariamente, até que ocorra a nova eleição. Nenhum deles se coroará Presidente da República em definitivo,
afinal não foram eleitos para este fim; somente assumirão o cargo de modo contingencial, para preencher momentaneamente
o vácuo de poder ocasionado pela dupla vacância; são, portanto, substitutos eventuais.
Assim, no caso de ambos os cargos ficarem vagos, a solução é a realização de novas eleições.
Esquematizando
Vacância dos dois cargos nos dois primeiros anos Vacância dos dois cargos nos dois ÚLTIMOS
do mandato presidencial anos do mandato presidencial
Ocorrendo a vacância dos dois cargos nos dois Ocorrendo de a vacância dos dois cargos se
primeiros anos do mandato presidencial, deverá efetivar nos últimos dois anos do mandato será
ser organizada nova eleição em até noventa dias feita nova eleição, trinta dias depois da última
depois de aberta a última vaga. Referida eleição vaga se abrir. Nesse caso a eleição será indireta,
será direta: os cidadãos são acionados para exercer realizada pelo Congresso Nacional (que
seu direito ao sufrágio universal, por meio do voto funcionará como um colégio eleitoral), sendo esta
direto e secreto a única hipótese em que a Constituição da
República permite a realização
de eleição indireta para um cargo eletivo.
Fundamento: Art. 81. Vagando os cargos de Fundamento: Art. 81. § 1º - Ocorrendo a vacância
Presidente e Vice-Presidente da República, far-se- nos últimos dois anos do período presidencial, a
á eleição noventa dias depois de aberta a última eleição para ambos os cargos será feita trinta dias
vaga. depois da última vaga, pelo Congresso Nacional,
na forma da lei.
Eleição direta em até 90 dias. Eleição indireta em 30 dias.
Obs.1: Mandato tampão – o Presidente e o Vice que forem escolhidos em qualquer dessas modalidades de novas eleições
deverão, tão somente, completar o mandato de seus antecessores, pois cumprirão o que doutrinariamente se habituou a
denominar “mandato tampão”. Assim, se as vagas se abrirem no terceiro ano do mandato, os novos eleitos pelo Congresso
Nacional irão cumprir somente um ano de mandato, assim mantém-se intacto o princípio da coincidência dos mandatos federais
e estaduais.
Candidato, réu em processo criminal pode assumir, como substituto, o cargo de Presidente da República?
R.: Os substitutos eventuais do Presidente da República a que se refere o art. 80 da CF/88, caso ostentem a posição de réus
criminais perante o STF, ficarão impossibilitados de exercer o ofício de Presidente da República. No entanto, mesmo sendo
71
réus, podem continuar na chefia do Poder por eles titularizados. Ex: o Presidente do Senado Renan Calheiros tornou-se réu em
um processo criminal; logo, ele não poderá assumir a Presidência da República na forma do art. 80 da CF/88; porém, ele pode
continuar normalmente como Presidente do Senado, não precisando ser afastado deste cargo. STF. Plenário. ADPF 402 MC-
REF/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/12/2016 (Info 850).
A Constituição Federal prevê uma regra determinando que o Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão
71
sair do país por mais de quinze dias, sem licença (autorização) do Congresso Nacional. Se assim o fizerem, se sujeitarão à
perda do cargo.
Art. 83. O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do Congresso
Nacional, ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo.
Diante do exposto, contemplamos que sempre que o Presidente ou Vice-Presidente quiserem se autorizar do país por
mais de 15 dias é obrigado a pedir autorização ao Congresso Nacional, sob pena de perder o cargo.
Cumpre destacarmos ainda que, essa regra trata-se de norma de observância obrigatória pelos Estados e municípios
e que deve ser reproduzida nas Constituições Estaduais e leis orgânicas municipais em razão do princípio da simetria (ADI
3647 e ADI 738).
Uma vez tendo sido adotado o presidencialismo como o sistema de governo, o Presidente da República,
desempenha, simultaneamente, as funções de Chefe de Estado, chefe de Governo e da Administração Federal.
Nessa esteira, vejamos o disposto na Constituição, a qual elenca de forma geral as atribuições do Presidente
da República.
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos
em lei;
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal
Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral
da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando
determinado em lei;
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII;
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem
pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; 73
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62;
Candidato, quais as funções do Presidente da República na condição de Chefe de Estado? E de Chefe de Governo? E Chefe da
Administração Pública?
Vamos esquematizar!
Atribuições do Presidente da República
Chefe de Estado Chefe de Governo Chefe da Administração Pública
• Convocar e presidir o • Nomear e exonerar os • Exercer, com o auxílio dos
Conselho de Defesa Nacional; Ministros de Estado; Ministros de Estado, a direção
• nomear Ministros do STF e dos • Iniciar o processo superior da administração federal;
Tribunais Superiores, por ser legislativo, na forma e nos • dispor, mediante decreto, sobre:
função de magistratura suprema; casos previstos na a) organização e funcionamento
• nomear um terço dos membros Constituição; da administração federal, quando
do TCU; • sancionar, promulgar e não implicar aumento de despesa
• nomear magistrados: TRF, fazer publicar as leis, bem nem criação
TRT, TRE, órgãos de outro como expedir decretos e ou extinção de órgãos públicos;
Poder; regulamentos para sua fiel b) extinção de funções
• declarar guerra, no caso de execução; ou cargos públicos, quando
agressão estrangeira; • vetar projetos de lei, total vagos;
• celebrar a paz; ou parcialmente; • nomear o Advogado-Geral da
• conferir condecorações e • decretar o estado de defesa União;
distinções honoríficas; e o estado de sítio; • prestar, anualmente, ao Congresso
74
Fonte: Quadro esquematizado retirado do Manual de Direito Constitucional, Nathália Masson, 2017. 74
Nos termos do art. 86, §3º da CF, o Presidente da República “enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas
infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão”.
Dessa forma, a prerrogativa em relação a prisão impede que o Presidente da República seja submetido a qualquer
modalidade de prisão processual (flagrante, preventiva e provisória), o que significa que ele, nas infrações penais comuns, não
poderá ser preso enquanto não sobrevier sentença condenatória prolatada pelo STF.
No tocante ao processo, o Presidente da República possui imunidade formal, o que significa que para que este seja
processado, seja pela prática de crime comum ou quanto a prática de crimes de responsabilidade, deve haver autorização da
Câmara dos Deputados (por 2/3 de seus membros).
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos
Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações
penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.
R.: Imunidade do art. 51, I, e art. 86 da CF/88 não se estende para codenunciados que não sejam Presidente da República, Vice
ou Ministro de Estado
A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, caput, da CF/88 não se estende para os codenunciados que não se
encontrem investidos nos cargos de Presidente da República, Vice-Presidente da República e Ministro de Estado. A finalidade
dessa imunidade é proteger o exercício regular desses cargos, razão pela qual não é extensível a codenunciados que não se
encontrem ocupando tais funções. STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson
Fachin, julgados em 14 e 19/12/2017 (Info 888).
75
A professora Nathália Masson explica ainda que o Presidente é detentor, ainda, de uma relativa e temporária
irresponsabilidade penal (e não cível ou administrativa) pela prática de atos estranhos ao exercício das funções presidenciais
enquanto durar o mandato.
Art. 86. § 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado
por atos estranhos ao exercício de suas funções.
Isso significa que ele só poderá ser responsabilizado, durante a vigência do mandato presidencial, pela prática de
crimes que estão relacionados ao exercício de suas funções.
Assim, o Presidente da República, durante o seu mandato, não pode ser denunciado, processado ou condenado por
infrações penais (crimes/contravenções) que não tenham relação com seu cargo, ou seja, com as funções por ele
desempenhadas.
Dessa forma, não havendo conexão entre o crime praticado e a atividade presidencial, ou se o crime foi praticado
antes do início do mandato, a responsabilização somente ocorrerá após o encerramento deste (perante a Justiça Comum, já que
com o término do mandato esgotase, igualmente, o foro por prerrogativa de função).
De se notar que esta prerrogativa não é uma imunidade penal, mas sim uma imunidade temporária à persecução
penal, afinal o Presidente não ficará irresponsável pelos atos não funcionais praticados no curso do mandato, somente não
poderá, por cais crimes, ser responsabilizado enquanto não cessar à investidura na Presidência.
Candidato, os Governadores e Prefeitos gozam da imunidade penal relativa prevista no § 4º do art. 86, da CF/88?
R.: NÃO. "Por se tratar de exceção ao princípio republicano, esta prerrogativa somente pode ser contemplada pela Constituição
da República, não podendo ser estendida pelas Constituições estaduais a Governadores e Prefeitos. A nosso ver, o caráter
excepcional desta norma impõe uma exegese estrita, o que impede a extensão desta imunidade temporária ao Vice-Presidente."
(NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Método, 2014, p. 1326).
76
Candidato, é possível a aplicação do art. 86, § 4º, da CF/88 a outras autoridades que não o Presidente da República?
R.: Não é possível aplicar o art. 86, § 4º, da CF/88 para o Presidente da Câmara dos Deputados, considerando que a garantia
prevista neste dispositivo é destinada expressamente ao chefe do Poder Executivo da União (Presidente da República). Desse
modo, por se tratar de um dispositivo de natureza restritiva, não é possível qualquer interpretação que amplie a sua incidência
a outras autoridades, notadamente do Poder Legislativo. STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02
e 03/03/2016 (Info 816). 76
Esquematizando
Imunidades do Chefe do Executivo
Imunidade Formal
Em relação a Em relação ao Cláusula de irresponsabilidade
prisão processo penal relativa
O presidente não será É necessária autorização da O Presidente da República só
submetido a nenhuma CÂMARA DOS DEPUTADOS, poderá ser responsabilizado,
modalidade de prisão por 2/3 de seus membros, para que o durante a vigência do mandato
processual (flagrante, Presidente seja processado por crime presidencial, pela prática de atos
preventiva e provisória); comum ou de responsabilidade; que estejam ligados ao exercício de
só poderá ser PRESO suas funções.
quando sobrevier Foi concedida ao Presidente da
SENTENÇA República na qualidade de chefe de Foi concedida ao Presidente da
CONDENATÓRIA, Governo, estendendo-se aos República na qualidade de chefe de
prolatada pelo STF. Governadores - autorização da Estado, o que a torna
Assembleia Legislativa para que o INAPLICÁVEL para
Foi concedida ao Governador seja processado por Governadores e Prefeitos.
Presidente da República crime comum ou de responsabilidade;
na qualidade de chefe de
Estado, o que a torna NÃO se estende aos PREFEITOS.
INAPLICÁVEL para
Governadores e Prefeitos.
Fonte: Quadro esquematizado retirado do Manual de Direito Constitucional, Nathália Masson, 2017.
Inicialmente, cumpre recordarmos que uma das características centrais da forma republicana de Governo é a
possibilidade de responsabilização dos governantes.
Assim, o Presidente da República pode ser responsabilizado tanto pela prática de crimes comuns (são as chamadas
infrações comuns), quanto por crimes de responsabilidade (são as infrações políticas-administrativas).
Segundo Nathália Masson, os “crimes de responsabilidade” são as infrações político-administrativas nas quais o
Presidente pode incorrer no desempenho de suas atribuições e que acarretam o impedimento para exercer a função pública
(impeachment), estando elas apresentadas ao teor do art. 85 da Constituição Federal, em um rol de natureza exemplificativa.
77
Esquematizando
Fonte: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Crimes de responsabilidade envolvendo Governadores de Estado. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fc221309746013ac554571fbd180e1c8>. Acesso em:
06/04/2018.
Para que o Presidente da República seja processado, seja pela prática de crime comum ou de responsabilidade, é
necessária a autorização concedida pela Câmara dos Deputados para o seu processamento.
Desse modo, contemplamos que Presidente da República somente poderá ser processado por crime comum ou de
responsabilidade, se houver anuência da Câmara dos Deputados (CD), por 2/3 de seus membros.
Esquematizando o Procedimento
78
78
Obs.: Compete ao Senado decidir se deve receber ou não a denúncia cujo prosseguimento foi autorizado pela Câmara. O Senado não
está vinculado à decisão da Câmara.
No caso de crime comum, o inquérito será distribuído a um dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, que se
tornará o relator. Este terá como primeira tarefa a de avaliar se o fato foi cometido no exercício das funções presidenciais ou
se o ato não possui qualquer conexão com o mandato presidencial e suas atribuições.
Essa análise é imprescindível e deve-se ao fato de a competência do STF para processar e julgar o Presidente pela
prática de crimes comuns somente alcançar os delitos cometidos durante o mandato presidencial e que guardem relação com
o exercício da função.
Dessa forma, se o relator concluir que o fato não foi cometido no exercício funcional – ou que o deliro é anterior ao
mandato (foi praticado antes da assunção do cargo) -, deverá decidir-se pela incidência da relativa e temporária
79
irresponsabilidade penal suspendendo, provisoriamente (enquanto durar o mandato), a possibilidade de o Presidente ser
processado pela prática do fato. Em havendo referida determinação, por consequência, ter-se-á a suspensão da prescrição - o
que não inviabiliza o eventual seguimento das investigações.
Por outro lado, caso o relator entenda que o fato é conexo ao exercício das funções presidenciais, deverá dar
andamento ao trâmite. Se o crime é de ação penal pública, o inquérito será encaminhado ao Procurador-Geral da República,
que decidirá, em quinze dias, se oferece a denúncia ou se pede o arquivamento; se o crime é de ação penal privada o STF ficará
na espera de o ofendido (diretamente ou por seu representante legal) apresentar a queixa-crime.
79
Mesmo com a apresentação da denúncia ou da queixa-crime, o STF ainda não poderá instaurar o processo, pois
deverá, antes disso, comunicar à Câmara dos Depurados, que fará o juízo de admissibilidade da acusação.
Se a Casa Legislativa autorizar, aquele que a preside comunicará a decisão ao Presidente do STF, sendo que a Corte
fará nova análise da admissibilidade da acusação (verificando se deve ou não receber a denúncia ou a queixa-crime, já que, ao
contrário do Senado, o STF não fica vinculado pela decisão tomada pela Câmara dos Depurados).
Os crimes de responsabilidade são infrações político administrativas (STF), que só podem ser praticadas por pessoas
investidas em determinadas funções. Não são penais nem civis.
Podem vir a incidir duas penalidades, quais sejam, a perda do cargo e inabilitação para o exercício de função pública
por oito anos.
80
O rol do art. 85 (traz alguns crimes de responsabilidade), CF é exemplificativo, devendo estar regulamentado
especificamente na lei. Além destes, a lei pode prever outras hipóteses de crime de responsabilidade. Vejamos:
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
80
constitucionais das unidades da Federação;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo
e julgamento.
Conforme preleciona José Afonso da Silva os crimes de responsabilidade podem ser classificados em dois grupo:
infrações políticas e crimes políticos. Vejamos:
ESQUEMATIZANDO
Infrações políticas Crimes políticos
São condutas que impliquem atentado contra a São atos que atentem contra a probidade na
existência da União, contra o livre exercício do administração, a lei orçamentária e o cumprimento
Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do das leis e das decisões judiciais.
Ministério Público e dos Poderes Constitucionais
das unidades da federação, contra o exercício dos
direitos políticos, individuais e sociais e contra a
segurança interna do país.
Em ambos os casos, o fato praticado será julgado pelo SENADO FEDERAL, desde que:
PROCEDIMENTO:
• Tenha sido concedida autorização provisória da Câmara dos Deputados, por 2/3 de seus membros;
• O Senado Federal tenha admitido, um novo juízo de admissibilidade, o pedido de impeachment contra o Presidente da
República. Nessa votação, exige-se o voto da maioria simples dos Senadores, cm a presença da maioria absoluta;
Até dezembro de 2015, o entendimento doutrinário era o de que se a câmara admitir a acusação, o
senado não poderia emitir novo juízo de admissão. Deve promover o julgamento. Na Câmara, deveria ser assegurado ao
81
Presidente o direito de defesa, pois quando há autorização, o Presidente é suspenso das suas funções por 180 dias, bastando
que o processo seja instaurado.
Contudo, por maioria, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou parcialmente procedente a Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 378, que discute a validade de dispositivos da Lei 1.079/1950 que
regulamentam o processo de impeachment de presidente da República. Com o julgamento, firmou-se o entendimento de que a
Câmara dos Deputados apenas dá a autorização para a abertura do processo de impeachment, cabendo ao Senado fazer juízo
inicial de instalação ou não do procedimento, quando a votação se dará por maioria simples; a votação para escolha da comissão
81
especial na Câmara deve ser aberta, sendo ilegítimas as candidaturas avulsas de deputados para sua composição; e o
afastamento de presidente da República ocorre apenas se o Senado abrir o processo.
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele
submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado
Federal, nos crimes de responsabilidade.
§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;
II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal.
82
✓ O Presidente ficará suspenso pelo prazo MÁXIMO de 180 dias. Caso o julgamento não finde em até 180 dias, cessa o
afastamento do Presidente, o qual retornará ao exercício de suas atividades presidenciais, sem prejuízo do regular
prosseguimento do feito.
✓ Durante o transcorrer do processo, ao SF é permitida a adoção das medidas necessárias à apuração do crime de
responsabilidade , a fim de produzir provas que instruam devidamente o processo;
✓ O interrogatório do Presidente, deve ser o último ato de instrução do processo de impeachment.
✓ No transcorrer de todo o processo de impeachment, o Senado se torna um Tribunal Político de colegialidade
82
heterogênea, pois é composto por todos os membros do SF, mas presidido por autoridade externa ao Poder Legislativo,
vale dizer, pelo Ministro Presidente do STF.
✓ O Presidente do STF, na condição de Presidente do Processo de impeachment, ao tem participação na decisão do SF.
Isso porque ele não tem o poder de discutir, votar ou julgar o Presidente da República, cabe a este tão somente resolver
as questões concernentes ao procedimento, habilitando o Tribunal a bem decidir.
✓ Concluída a instrução, o Presidente do SF enviará ofício ao Presidente do STF, o qual marcará a data do julgamento.
✓ No Senado, a condenação somente poderá ser proferida por 2/3 dos membros da Casa Legislativa, formalizada em
uma resolução e importará na aplicação das penas de perda do cargo e inabilitação por 8 anos para o exercício das
funções públicas, s em prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.
✓ No tocante a inabilitação, por 8 anos, para o exercício das funções públicas, essa abrange todas as funções públicas,
incluindo as derivadas de concurso pública, de confiança e os mandatos eletivos.
✓ O julgamento final prolatado pelo Senado Federal tem natureza política, sendo irrecorrível e definitivo, não havendo
possibilidade de o Poder Judiciário alterá-lo, em homenagem ao princípio da separação dos poderes.
✓ Nos casos de condenação pela prática de crimes de responsabilidade, o art. 52 parágrafo único da CF determina a
aplicação das seguintes penas:
Art. 52. Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal
Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda
do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais
cabíveis.
✓ A perda do cargo e a inabilitação para o exercício da função são penas cumulativas, embora sejam autônomas.
Os Governadores de Estado e do Distrito Federal, assim como os Prefeitos Municipais, possuem também prerrogativa
de foro.
83
NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF entendia válida a norma prevista83
em Constituição estadual que exigia autorização prévia da Assembleia Legislativa.
Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
12/2/2015 (Info 774).
O Min. Edson Fachin afirmou que era necessário superar o antigo entendimento do STF
“diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência deliberada pelas assembleias
legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a deferir o processamento de
governadores”.
Entendimento atual:
STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min. Celso de Mello, red.
p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 4/5/2017 (Info 863).
Cumpre destacarmos ainda que o STJ não será foro especial do Governador quando o crime houver
sido cometido ANTES de o mandato se iniciar ou, se praticado no curso do mandato, não guardar relação
com a função.
As autoridades listadas no art. 105, I, “a”, da CF/88 somente terão foro por84
prerrogativa de função no STJ para os crimes cometidos durante o exercício do cargo
e relacionados às funções desempenhadas
As hipóteses de foro por prerrogativa de função perante o STJ restringem-se àquelas em que
o crime for praticado em razão e durante o exercício do cargo ou função. STJ. Corte Especial.
AgRg na APn 866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/06/2018 (Info 630).
Quanto à prática de crime de responsabilidade, o processamento e julgamento serão feitos por um Tribunal especial
formado por cinco membros da Assembleia Legislativa e cinco Desembargadores, sob a presidência do Presidente do Tribunal
de Justiça local.
No que tange aos Prefeitos Municipais, esses poderão ser processados e julgados perante o Tribunal de Justiça,
quando o crime for de competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a competência será originária do respectivo
Tribunal de segundo grau.
Nesse contexto, o Tribunal Regional Eleitoral será competente para o processamento e julgamento dos crimes
eleitorais, enquanto o Tribunal Regional Federal será o Tribunal competente quando o crime for praticado em detrimento de
bens, serviços ou interesses da União, suas autarquias e empresas públicas. Vale reafirmar que a instauração do processo
independe de qualquer autorização concedida pela Câmara Municipal.
Quando a conduta do prefeito implicar desvio de verbas públicas, recorre-se às duas súmulas do STJ que foram
editadas com a finalidade de solver qualquer dúvida quanto ser a esfera de julgamento federal ou estadual. Vejamos:
Súmula 208. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação
de contas perante órgão federal.
Súmula 209. Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao
patrimônio municipal.
85
2018
Imunidade do art. 51, I, e art. 86 da CF/88 não se estende para codenunciados que não sejam Presidente da
República, Vice ou Ministro de Estado
A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, caput, da CF/88 não se estende para os codenunciados que não se
encontrem investidos nos cargos de Presidente da República, Vice-Presidente da República e Ministro de Estado. A85
finalidade dessa imunidade é proteger o exercício regular desses cargos, razão pela qual não é extensível a codenunciados
que não se encontrem ocupando tais funções. STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel.
Min. Edson Fachin, julgados em 14 e 19/12/2017 (Info 888).
2017
Não é possível que o STF examine questões jurídicas formuladas a respeito da denúncia antes do seu envio à Câmara
dos Deputados para o juízo político de que trata o art. 86 da CF/88
Imagine que foi formulada denúncia contra o Presidente da República por infrações penais comuns. O STF deverá
encaminhar esta denúncia para a Câmara dos Deputados exercer o seu juízo político. É possível que, antes desse envio, o
STF analise questões jurídicas a respeito desta denúncia, como a validade dos elementos informativos (“provas”) que a
embasaram?
NÃO. Não há possibilidade de o STF conhecer e julgar qualquer questão ou matéria defensiva suscitada pelo Presidente
antes que a matéria seja examinada pela Câmara dos Deputados.
O juízo político de admissibilidade exercido pela Câmara dos Deputados precede a análise jurídica pelo STF para conhecer
e julgar qualquer questão ou matéria defensiva suscitada pelo denunciado.
A discussão sobre o valor probatório dos elementos de convicção (“provas”), ou mesmo a respeito da validade desses
elementos que eventualmente embasarem a denúncia, constitui matéria relacionada com a chamada “justa causa”, uma das
condições da ação penal, cuja constatação ou não se dará por ocasião do juízo de admissibilidade, a ser levado a efeito pelo
Plenário do STF após eventual autorização da Câmara dos Deputados.
STF. Plenário. Inq 4483 QO/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20 e 21/9/2017 (Info 878).
Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia criminal contra o Governador
do Estado
Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ receba denúncia ou queixa e instaure
ação penal contra Governador de Estado, por crime comum. Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização
da ALE para que o Governador do Estado seja processado por crime comum. Se a Constituição Estadual exigir autorização
da ALE para que o Governador seja processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional. Assim, é
vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração de ação penal contra Governador por crime
comum à previa autorização da Casa Legislativa. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele
ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá
de forma automática. O STJ, no ato de recebimento da denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há
necessidade de o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo, o
STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas cautelares penais (exs: prisão preventiva, proibição de ausentar-se da
comarca, fiança, monitoração eletrônica etc.). STF. Plenário. ADI 4777/BA, ADI 4674/RS, ADI 4362/DF, rel. orig. Min.
Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2017 (Info 872). STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel.
86
Min. Edson Fachin, julgado em 3/5/2017 (Info 863). STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel.
Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 4/5/2017 (Info 863).
2016
Réu em processo criminal não pode assumir, como substituto, o cargo de Presidente da República
Os substitutos eventuais do Presidente da República a que se refere o art. 80 da CF/88, caso ostentem a posição de réus
criminais perante o STF, ficarão impossibilitados de exercer o ofício de Presidente da República. No entanto, mesmo sendo
réus, podem continuar na chefia do Poder por eles titularizados. Ex: o Presidente do Senado Renan Calheiros tornou-se réu
em um processo criminal; logo, ele não poderá assumir a Presidência da República na forma do art. 80 da CF/88; porém,86
ele pode continuar normalmente como Presidente do Senado, não precisando ser afastado deste cargo. STF. Plenário. ADPF
402 MC-REF/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/12/2016 (Info 850).
Ordem de votação dos Deputados Federais na fase de juízo de admissibilidade do processo de Impeachment
Caso o Presidente da República seja "acusado" de ter praticado um crime de responsabilidade, a Câmara dos Deputados é
que irá decidir se autoriza ou não a instauração de processo, nos termos do art. 51, I, da CF/88. O art. 187, § 4º do Regimento
da Câmara dos Deputados prevê que, na votação que autoriza ou não a instauração de processo, cada Deputado Federal será
chamado nominalmente e deverá responder "sim" ou "não". Ainda segundo este § 4º, a chamada dos Deputados Federais
para votar deverá ocorrer, "alternadamente, do norte para o sul e vice-versa". Segundo decidiu o STF, não existe nenhuma
inconstitucionalidade nesta previsão, não havendo ofensa aos princípios do contraditório, da ampla defesa, da
impessoalidade, da moralidade e da República. Qualquer tipo de votação nominal, independentemente do critério adotado,
jamais poderá afastar a possibilidade de "efeito cascata". O STF afirmou, ainda, que não se pode exigir isenção e
imparcialidade dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na realidade, o “impeachment” é uma questão
política que deve de ser resolvida com critérios políticos. A garantia da imparcialidade está no alto quórum exigido para a
votação. STF. Plenário. ADI 5498 MC/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado
em 14/4/2016 (Info 821). STF. Plenário. MS 34127 MC/DF, MS 34128 MC/DF, Rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o
acórdão Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2016 (Info 821).
Impossibilidade de aplicação do art. 86, § 4º, da CF/88 a outras autoridades que não o Presidente da República
Não é possível aplicar o art. 86, § 4º, da CF/88 para o Presidente da Câmara dos Deputados, considerando que a garantia
prevista neste dispositivo é destinada expressamente ao chefe do Poder Executivo da União (Presidente da República).
Desse modo, por se tratar de um dispositivo de natureza restritiva, não é possível qualquer interpretação que amplie a sua
incidência a outras autoridades, notadamente do Poder Legislativo. STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 02 e 03/03/2016 (Info 816).
2015
Decisão do STF que definiu o rito do processo de impeachment da presidente Dilma
Principais conclusões do STF na decisão que definiu o rito do processo de impeachment da Presidente Dilma: 1) Não há
direito à defesa prévia antes do recebimento da denúncia pelo Presidente da Câmara. 2) É possível a aplicação subsidiária
dos Regimentos Internos da Câmara e do Senado que tratam sobre o impeachment, desde que sejam compatíveis com os
preceitos legais e constitucionais pertinentes. 3) Após o início do processo de impeachment, durante a instrução probatória,
a defesa tem o direito de se manifestar após a acusação. 4) O interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória. 5)
O recebimento da denúncia no processo de “impeachment” ocorre apenas após a decisão do Plenário do Senado Federal.
Assim, a Câmara dos Deputados somente atua no âmbito pré-processual, não valendo a sua autorização como um
recebimento da denúncia, em sentido técnico. Compete ao Senado decidir se deve receber ou não a denúncia cujo
87
prosseguimento foi autorizado pela Câmara. O Senado não está vinculado à decisão da Câmara. 6) A decisão do Senado
que delibera se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria simples, presente a maioria absoluta de seus membros.
7) É possível a aplicação analógica dos arts. 44, 45, 46, 47, 48 e 49 da Lei 1.079/1950 — os quais determinam o rito do
processo de “impeachment” contra Ministros do STF e o PGR — ao processamento no Senado Federal de crime de
responsabilidade contra o Presidente da República. 8) Não é possível que sejam aplicadas, para o processo de impeachment,
as hipóteses de impedimento do CPP. Assim, não se pode invocar o impedimento do Presidente da Câmara para participar
do processo de impeachment com base em dispositivos do CPP. 9) A eleição da comissão especial do impeachment deve
ser feita por indicação dos líderes e voto aberto do Plenário. Os representantes dos partidos políticos ou blocos parlamentares
que irão compor a chapa da comissão especial da Câmara dos Deputados deverão ser indicados pelos líderes, na forma do
Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Assim, não é possível a apresentação de candidaturas ou chapas avulsas para
a formação da comissão especial. STF. Plenário. ADPF 378/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 16, 17 e 18/12/201587
(Info 812).
I — O Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso
porque a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85
da CF/88. II — As Constituições estaduais não podem prever que os Governadores serão julgados pela Assembleia
Legislativa em caso de crimes de responsabilidade. Isso porque o art. 78, § 3º da Lei 1.079/50 afirma que a competência
para julgar os Governadores de Estado em caso de crimes de responsabilidade é de um “Tribunal Especial”, composto
especialmente para julgar o fato e que será formado por 5 Deputados Estaduais e 5 Desembargadores, sob a presidência do
Presidente do Tribunal de Justiça. STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki; ADI 4800/RO e ADI 4792/ES,
Rel. Min. Cármen Lúcia, julgados em 12/2/2015 (Info 774).
Fonte: Manual de Direito Constitucional, Nathália Masson, 2017 e http://www.dizerodireito.com.br/
88
DIREITO CONSTITUCIONAL II
Conteúdo 04: Poder Judiciário
1. Introdução
O Ordenamento Jurídico Brasileiro adotou a chamada “Teoria da Tripartição dos Poderes” ao teor de seu
art. 2º da Constituição Federal, o qual proclama “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. 88
Nesse contexto, a separação dos poderes tem por finalidade estabelecer uma estrutura em que cada poder
do Estado, permitindo o exercício de suas funções inerentes, evitando a concentração de poder em um único órgão.
Possibilita-se, portanto, uma maior efetividade no exercício daquela função e maior controle no exercício dessas
mesmas funções.
Nesse sentido, o Poder Constituinte Originário outorgou a cada um dos órgãos estatais competências que
se traduzem em funções típicas ou predominantes e atípicas ou secundárias.
Já passamos pelo estudo do Poder Legislativo e Executivo, agora nos debruçaremos sobre o Poder
Judiciário.
É cediço que os poderes possuem funções típicas e atípicas, as funções típicas são aquelas em que o Poder
exerce com prevalência, porém não com exclusividade, pois conforme estudado, os demais poderes também poderão
exercer a função que é típica e inerente ao outro poder.
Nesse sentido, a função típica e primordial do poder judiciário é a atividade jurisdicional. É o Judiciário o
poder responsável pelo exercício da jurisdição, consistente na atividade por meio do qual o Estado presta a tutela
jurisdicional, mediante provocação, no intuito de promover imparcialmente a composição dos conflitos.
Assim, temos que o Poder Judiciário é a estrutura estatal que tem a função de resolver os conflitos de
interesse, porquanto responsável pelo exercício da função jurisdicional.
A jurisdição, por sua vez, pode ser entendida como a atuação estatal visando a aplicação do direito objetivo
ao caso concreto, resolvendo-se com definitividade uma situação de crise jurídica e gerando com tal solução a
pacificação social.
O professor Luiz Flávio Gomes, por sua vez, amplia o leque de funções, afirmando serem cinco as funções
do Poder Judiciário:
e) garantir o Estado Constitucional Democrático de Direito. Tais funções estão relacionadas à construção
de um modelo democrático e independente de Poder Judiciário.
No que tange a atividade jurisdicional, é salutar destacarmos as características que lhes são próprias,
vejamos: 89
▪ Imparcialidade: ao julgar os conflitos que lhes são postos para alcançar um consenso, os órgãos do
Poder Judiciário deverá fazê-lo com isenção, pois situam-se com equidistância da parte. Dessa
forma, é característica intrínseca do Judiciário a imparcialidade.
▪ Substitutividade: o Estado através da prolação de uma decisão consonante com o ordenamento
jurídico, substitui a vontade dos envolvidos no confronto levado à sua análise, daí falarmos que é
uma atividade com caráter de substitutividade, pois substitui a vontade das partes pela sua, ou
melhor, pelo seu entendimento disposto na decisão judicial.
▪ Inércia: a atividade jurisdicional fica condicionada a prévia provocação da parte, ao menos, via de
regra. Assim, é necessário que as partes envolvidas provoque a atuação do órgão.
▪ Definitividade: a decisão proferida no Judiciário, após o trânsito em julgado tem caráter definitivo.
Assim, aquela questão que foi ensejadora do conflito depois de acobertada pela coisa julgada formal
e material, não poderá mais ser alterada.
▪ Unidade: a jurisdição é una, embora tenha a divisão dos órgãos e da competência, a jurisdição em
si é una.
Conforme destacado acima, a função típica do Poder Judiciário é a de julgar, leia-se, de exercer a função
jurisdicional. Para além da função típica, o Judiciário possui ainda funções que são desenvolvidas de forma atípica,
sendo elas de natureza executivo-administrativa e de natureza legislativa.
Vamos Esquematizar!
Poder Judiciário
Função Típica Função Atípica
Exercer a função Natureza Executivo Natureza Legislativa:
jurisdicional, dizendo o Administrativa: manifesta-se pela elaboração
direito no caso concreto, de materializa-se em atos
maneira definitiva e em
90
90
2. Órgãos do Poder Judiciário
O Poder Judiciário subdivide-se em órgãos, os quais encontram-se listados ao teor do art. 92 da Constituição
Federal. Nesse sentido, vejamos:
Vamos Esquematizar!
Com exceção do CNJ, o Poder Judiciário exerce suas atribuições jurisdicionais através dos demais órgãos
estruturados no quadro. O CNJ limita-se a cumprir funções administrativas, porém não possui funções jurisdicionais
não impede a constatação de que é é um órgão do poder judiciário, haja vista ter sido incluído pela EC 45/2004 no
rol do art. 92 da CF/88.
91
O STF, os tribunais superiores e o CNJ possuem sede na Capital Federal, sendo que o STF e os Tribunais
possuem jurisdição em todo o território nacional conforme o art. 92 da CF. Lembrando que o STF não é um tribunal
superior, mas sim o Tribunal Supremo.
Parágrafo único. O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal e jurisdição
em todo o território nacional.
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital
Federal.
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional.
Para ser indicada e integrar certos õrgaõs do Poder Judiciário há certos limites mínimos e máximos etários que
devem ser observados. É o chamado “padrão de idade de ingresso.
Deve-se esclarecer que o referido padrão de idade deve ser observado da indicação e reingresso, nunca para
permanência no referido órgão.
2.4. Aprovação prévia pelo Senado Federal como requisito para a posse
Para determinados cargos a posse exige prévia aprovação do Senado Federal (art. 52, III, “a”, CF), em sabatina.
Para que os indicados possam assumir seus cargos no STF, STJ, TST e CNJ dependerão da aprovação da maioria
absoluta dos membros e Senado. O STM difere pois os indicados dependerão de aprovação por maioria simples.
Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos
Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério
Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de
reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista
sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.
93
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao
Poder Executivo, que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus integrantes para
nomeação.
Importante observar que o magistrado indicado pelo Quinto Constitucional é desde logo vitalício, ou seja, não adquirirá
a vitaliciedade somente após os dois anos exigidos dos integrantes da carreira em primeiro grau.
Com a EC 45/2004 essa regra passou a ser aplicada aos Tribunais do Trabalho (art. 111-A, I e art. 115, I ambos da
CF/88).
Com relação ao STJ , há discussão doutrinária, pois contrariamente ao art. 94 da CF, o art,. 104 paragrafo único determina
que somente um terço dos membros do tribunal seja composto por membros do Ministério Público e por Advogados. Para
Nathalia Masson, a regra do art. 94 não se aplica ao STJ. STF, TSE, TRE’s e STM, também não aplicam a regra do Quinto
Constitucional.
Vale destacar, que caso ao calcular as vagas do tribunal o número referente a ⅕ dos seus membros não dê um número
inteiro, esse número sempre será arredondado para mais.
O STF teve que se utilizar do “pensamento do possível” para sanar uma questão surgida em decorrência de
lacuna na regra do quinto constitucional. O art. 94 trás de forma bem clara a regra do Quinto Constitucional ao
determinar que um quinto das vagas de alguns tribunais deverá ser preenchida por membros do Ministério Público
e da Advocacia, com mais de dez anos de carreira, indicados em lista sêxtupla.
Na ADI 1.289-DF o STF enfrentou a questão da inexistência temporário de membros do MP para compor a
referida lista. Na ausência de membros do MP com mais de dez anos de carreira, discutiu-se se poderiam concorrer
a vaga no TRT outros membros que não cumprissem o mencionado requisito constitucional. O STF entendeu que
sim, harmonizando os princípios constitucionais em jogo.
94
Optou a Corte pela interpretação que mais aproximou-se do “pensamento do possível”, qual seja, dentre todos
os possíveis caminhos decisórios, optou por aquele que melhor realizava a Constituição em sua integralidade. Se
votasse pelo “não” poderia ocorrer até mesmo de não haver membros do MP na composição do tribunal ou de haver
menos opções de escolha do tribunal e do poder executivo, por ter a lista sido formada por menos de seis membros.
5.1. Introdução
A Constituição atribuiu ao Poder Judiciário garantias que o resguardam de pressões e asseguram sua
imparcialidade, reforçam a separação dos poderes e, consequentemente o próprio Estado Democrático de Direito.
Referidas garantias tornam possível a plena independência que a ordem constitucional pretendeu conceder à
atividade judiciária.
Ressalte-se que todas as garantias e prerrogativas não são privilégios pessoais dos magistrados, ao contrário,
são conexas ao exercício da função. Podem ser subdivididas em garantias institucionais, que protegem o Judiciário
como um todo e garantias funcionais, que recaem sobre seus membros (magistrados), visando garantir sua
independência e imparcialidade no exercício de suas atribuições.
Foram constituídas para tutelar as interações do Poder Judiciário com os demais Poderes assegurando a sua
autonomia. Referidas garantias possuem duas perspectivas;
a) Orgânico-administrativas: Concretizam-se por meio das competências privativas que são atribuídas aos
órgãos do Poder Judiciário (art. 96, I a III, CF/88)
b) Autonomia Financeira: Garante recursos e certa discricionariedade na utilização, assegurando que outro
Poder não tenha ingerência na solução de quaisquer questões sobre suas finanças (art. 99, CF/88).
Estas garantias são perceptíveis na estruturação e gestão dos órgãos pertencentes ao Poder Judiciário e
concretizam-se através das competências privativas, presentes no art, 96,I a III da CF/88, que a eles são atribuídas.
95
São concernentes à capacidade que os Tribunais possuem de estruturação, gestão, administração e funcionamento
desempenhadas sem que haja interferências dos demais Poderes. Manifestam-se no âmbito administrativo e
legislativo.
Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os
demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias, sendo que seu encaminhamento, ouvidos os outros tribunais
interessados, compete:
a) no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a
aprovação dos respectivos tribunais;
b) no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com
a aprovação dos respectivos tribunais.
96
Se os órgãos referidos não encaminharem as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido
na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária
anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente.
Vale destacar que, se as propostas orçamentárias forem encaminhadas em desacordo com os limites
estipulados na Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de
consolidação da proposta orçamentária anual.
96
Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de
obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente
autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.
A Constituição determina em seu art. 168 que o repasse de recursos por parte do Poder Executivo ao Poder
Judiciários, seja feito até o dia 20 de cada mês.
Permitem aos juízes o exercício de suas atribuições com imparcialidade, além de desassombro e liberdade ante
eventuais intromissões externas. Por não constituírem privilégios pessoais dos magistrados, não ferem o princípio
da igualdade e são compreendidas como prerrogativas asseguradas pela ordem constitucional em favor do próprio
Poder Judiciário.
(A) Vitaliciedade
Trata-se de da garantia que vincula o titular do cargo para o qual foi nomeado, de modo que, uma vez
alcançada, torna o sujeito detentor do cargo por toda a vida, de modo que ele somente poderá perder o referido cargo
em virtude de sentença judicial transitada em julgado.
Excelência, no primeiro grau de jurisdição a vitaliciedade somente é adquirida após o magistrado exercer
efetivamente o cargo por dois anos - desde que tenha, claro, superado o estágio probatório. Por outro lado, nos
Tribunais, todos os membros adquirem a garantia da vitaliciedade com a assunção do cargo, independentemente da
forma de acesso. Isso significa que mesmo que o ingresso tenha se dado por meio da regra do quinto constitucional,
não há que se falar no requisito temporal de dois anos, exigência exclusiva para aqueles que ingressaram na carreira
por meio do concurso público para juiz substituto. Desse modo, nos Tribunais a garantia da vitaliciedade é adquirida
automaticamente com a posse. 97
(B) Inamovibilidade
Trata-se da garantia que o magistrado possui de somente ser removido por iniciativa própria. Assim, temos
que a inamovibilidade impede que o membro do Poder Judiciário seja removido, transferido de um local para outro,
nem mesmo através de promoção, salvo de houver interesse público.
Exceção: quando houver interesse público, nesse caso, seu deslocamento poderá se dar pelo voto da maioria
absoluta dos membros do Tribunal a que ele esteja vinculado ou do CNJ, sendo sempre assegurada a ampla defesa,
nos termos do art. 93, VIII, CF/88.
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o
Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
III o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigüidade e merecimento,
alternadamente, apurados na última ou única entrância;
7. Súmulas Vinculantes
É a garantia que os magistrados possuem de que seus subsídios não poderão ser reduzidos (salvo em
decorrência da incidência de tributos), evitando assim pressões externas, que impediriam a liberdade no exercícios
de suas atribuições.
Segundo o STF, trata-se de garantia nominal, e não real, ou seja, os valores percebidos pelos magistrados não
estão livre da deterioração causada por eventual inflação.
● art. 42, § 1º, CF/88, para os militares dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
Aos juízes foram impostas vedações com o objetivo de garantir a sua imparcialidade enquanto órgão julgador.
O rol dessas vedações é taxativo e esta no art. 95, parágrafo único da CF/88.
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
O CNJ exerce apenas atribuições administrativas, sendo desprovido de competências jurisdicionais. Suas
principais funções são, controlar a atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, e fiscalizar os juízes no
cumprimento de seus deveres funcionais.
O Conselho é formado por 15 membro,com mandato de dois anos, sendo admitida, apenas, uma recondução.
Os membros do CNJ são nomeados pelo Pres. da República, após a aprovação da escolha pela maioria absoluta
do Senado Federal, com exceção do Pres. do STF que é membro nato.
XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela
Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
§ 1º O Conselho será presidido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, que votará em
caso de empate, ficando excluído da distribuição de processos naquele tribunal.
§ 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha
ao Supremo Tribunal Federal.
100
Não são exaustivas as competências constitucionalmente atribuídas ao CNJ, no art. 103-B, § 4º da CF/88, haja
vista a possibilidade de ampliação que pode ser efetuada pelo Estatuto da Magistratura.
Vejamos:
III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário,
inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços
notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem
prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos
disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com
subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções
administrativas, assegurada ampla defesa;
VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a
situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar
101
Vale registrar a solução dada pelo STF quanto a discussão acerca da subsidiariedade ou autonomia do CNJ no
que concerne ao exercício de sua competência disciplinar e correcional: Deveria o CNJ aguardar a atuação (ou
omissão) do Tribunal de origem antes de poder agir? A resposta foi negativa. Entendeu o STF que o CNJ possui
101
competência originária e concorrente com os Tribunais para instaurar procedimentos administrativos disciplinares
aplicáveis a magistrados.
Os atos do CNJ poderão ser revistos pelo STF, que além de ser o órgão jurisdicional máximo, apresenta-se
também como órgão de cúpula administrativa, financeira e de controle do cumprimento dos deveres funcionais dos
juízes.
Assim sendo, está previsto no art. 102, I,”r”, da CF/88, que todas as decisões do CNJ são passíveis de revisão
pelo STF.
Vale informar que o STF, por ser órgão supremo, não se submete às deliberações do CNJ.
A Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), propôs no STF uma ADI na qual questionava a
compatibilidade da EC45/2004 quanto a criação do CNJ. Seu principal argumento era a ofensa ao princípio da
separação dos poderes em razão da composição heterogênea do Conselho comportar membros externos ao Poder
Judiciário.
102
O STF afirmou a constitucionalidade do CNJ, pois este não exercer qualquer função jurisdicional, capaz de
interferir na independência e autonomia do Poder Judiciário. Ademais, fixou que a presença de membros externos
ao Poder Judiciário oxigenava as percepções do Poder1.
7.1. Introdução
Súmulas são enunciados que trazem de maneira concisa a interpretação de um Tribunal sobre determinados
temas. Visam descongestionar o trabalho do Tribunal, através da fixação de entendimentos sobre determinados102
assuntos.
O cenário de crise no Poder Judiciário, quanto a morosidade e o alto custo para se obter uma resposta
institucional, ganhou forças no direito pátrio a pretensão pode precedentes judiciais vinculantes.
Tem influência no instituto em estudo o direito anglo-saxão(common law), no qual os precedentes judiciais
possuem força cogente, e o direito romano-germânico (civil law), no qual a primazia é do direito codificado.
O modelo anglo-saxão, confere prevalência ao caso concreto, firmando um modelo jurisprudencial com base
na primazia da decisão judicial. Por sua vez o sistema romano-germâmico constrói premissas normativas genéricas,
na busca por instituir a primazia da lei, dos comandos genéricos e abstratos aplicáveis às situações fáticas.
Como a súmula vinculante surge a partir de um caso concreto, fala-se da influência do stare decisis na sua
elaboração.
As súmulas vinculantes foram incluídas pela EC 45/2004 na Constituição em seu art. 103-A, e posteriormente
foi regulamentada pela Lei 11.417/2006.
1
ADI 3.367-DF, STF, Rel. Min. Cezar Peluso, noticiada no informativo 383, STF.
103
Somente o Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, editar enunciado de súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas
federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma prevista nesta Lei (art.
103-A da CF/88 e art; 2º da Lei 11.417/2006).
103
7.3.3. Pressupostos (requisitos constitucionais)
O texto constitucional indica que a utilização da da súmula vinculante depender da observância dos seguintes
requisitos;
a) Reiteradas decisões sobre matéria constitucional;
b) Controvérsia atual entre órgãos do Poder Judiciário ou entre estes e a Administração Pública que acarrete
grave insegurança jurídica ou a multiplicação de processos idênticos;
c) Aprovação por dois terços dos membros da corte.
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à
sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre
esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante
multiplicação de processos sobre questão idêntica.
7.3.4. Objeto
As súmulas vinculantes terão por objeto a interpretação, eficácia e validade de normas jurídicas determinadas.
7.3.5. Legitimidade para provocar a edição, revisão ou cancelamento do enunciado de súmula vinculante
Os mesmos legitimados para a propositura de ADI podem provocar o STF a editar o enunciado de súmula,
proceder à sua revisão ou evetual cancelamento.
104
I - o Presidente da República;
A súmula com efeito vinculante tem eficácia imediata, mas o Supremo Tribunal Federal, por decisão de 2/3
(dois terços) dos seus membros, poderá restringir os efeitos vinculantes ou decidir que só tenha eficácia a partir de
outro momento, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse público.
Revogada ou modificada a lei em que se fundou a edição de enunciado de súmula vinculante, o Supremo
Tribunal Federal, de ofício ou por provocação, procederá à sua revisão ou cancelamento, conforme o caso.
Importante frisar que, a proposta de edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula vinculante não
autoriza a suspensão dos processos em que se discuta a mesma questão. 105
Com fundamento principalmente no princípio da igualdade, as súmulas vinculantes ofertam pautas normativas
que estabilizam e uniformizam o ordenamento.
Nesse sentido, conforme o art. 103-A, caput da CF/88, todos os demais órgãos do Poder Judiciário e a
administração pública direta e indireta, de todas as unidades da federação, estão vinculados pelo teor do enunciado
da súmula.
O pleno do STF não fica vinculado pelo teor da súmula, haja vista estar autorizado a revê-la ou cancelá-la
quando não ela não mais representar a posição jurídica da Corte.
O cabimento da reclamação está previsto no art. 7º da Lei 11.417/2006 e no art. 103-a, § 3º da CF/88.
Da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência
ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros
meios admissíveis de impugnação. Contra omissão ou ato da administração pública, o uso da reclamação só será
admitido após esgotamento das vias administrativas.
Ao julgar procedente a reclamação, o Supremo Tribunal Federal anulará o ato administrativo ou cassará a
decisão judicial impugnada, determinando que outra seja proferida com ou sem aplicação da súmula, conforme o
caso.
106
8.1. Introdução
No presente tópico cuidaremos do tratamento constitucional dado ao poder Judiciário e a cada um dos seus
órgãos, especificamente.
O STJ é o órgão de convergência da Justiça Federal e da justiça comum, sendo que em matéria constitucional
as referidas justiças convergem ao STF.
Além de serem órgãos de convergência, o STF e o STJ são, também, órgãos de superposição jurisdicional,
isso porque suas decisões se sobrepõem àquelas preferidas pelos órgãos inferiores da justiça comum e das justiças
especiais.
A Constituição ainda prevê em seu art. 98, I e II, que a União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os
Estados deverão instituir, juizados especiais e a justiça de paz.
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a
conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações
penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo,
permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por
turmas de juízes de primeiro grau;
II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e
secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar107
casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de
habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras
previstas na legislação.
9.1. Introdução
Em respeito ao art. 92, CF/88, o STF posssui sede na capital Federal, impondo sua competência sobre todos o
território nacional, por ser a Corte Suprema, articula-se simultaneamente com a Justiça Comum e com as Justiças
Especiais.
9.2. Composição
O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e
cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Os Ministros do
108
Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal (art. 101. CF/88)..
9.3. Atribuições
As competência originárias foram enumeradas de forma taxativa na Constituição, o que significa que não se
pode ampliá-las nem mesmo por analogia.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
3, de 1993)
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado, ressalvado o disposto
no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão
diplomática de caráter permanente;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores,
os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
109
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de
segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o
Território;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive
109
as respectivas entidades da administração indireta;
h) a homologação das sentenças estrangeiras e a concessão do "exequatur" às cartas rogatórias, que podem ser
conferidas pelo regimento interno a seu Presidente; (Revogado pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)
i) o habeas corpus, quando o coator ou o paciente for tribunal, autoridade ou funcionário cujos atos estejam
sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em
uma única instância;
i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou
funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime
sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
22, de 1999)
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para
a prática de atos processuais;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que
mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente
interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais
Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público;
10.1. Introdução
O STJ é órgão de convergência e superposição, com sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território
nacional, nos termos do art. 92, parágrafos 1º e 2º da CF/88.
10.2. Composição
É composto por no mínimo 33 Ministros, nomeados pelo Pres. da República, dentre brasileiros com mais de
35 anos e menos de 65 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal.
111
Nessa composição, um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre
desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal, um terço, em
partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios,
alternadamente, indicados na forma do art. 94.
Apesar da formação do STJ não se submeter a regra do Quinto Constitucional, o procedimento de indicação
dos membros do MP e da Advocacia segue os trâmites definidos pelo referido art. 94 da CF/88.
111
A EC 45/2004 estabeleceu que irão funcionar junto ao STJ a Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento
de Magistrados e o Conselho da Justiça Federal.
10.3. Competências
O STJ possui competências originárias e recursais, conforme o art. 105 da CF/88. Antes de elencar as
competências do referido tribunal, vale fazer duas observações;
● Não é competência do STJ mas sim do STF julgar o conflito negativo de atribuições entre
distintos MP’s estaduais, ou entre o MPF e o MP Estadual.
● o STJ se reconhece competente para o julgamento de ações de improbidade administrativo
contra autoridades possuidoras de prerrogativa especial de foro perante o próprio Tribunal.
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos
de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito
Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público
da União que oficiem perante tribunais;
c) os habeas corpus, quando o coator ou o paciente for qualquer das pessoas mencionadas
na alínea "a", ou quando o coator for Ministro de Estado, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral;
c) os habeas corpus, quando o coator ou o paciente for qualquer das pessoas mencionadas
na alínea "a", quando coator for tribunal, sujeito à sua jurisdição, ou Ministro de Estado,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
112
c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na
alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou
Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral;
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos
113
Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão recorrida:
b) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
i) Será do STJ quando o crime for praticado por Governador de Estado dou do DF;
ii) Será do STF quando o crime for praticado pelo Pres. da República, pelo Vice Pres. da República, por
Congressista, por Min. do STF, pelo Procurador Geral da República.
i) Será do STJ quanto o crime for praticado por desembargador dos Tribunais de Justiça, por membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e DF, por membros dos Tribunais Regionais Federais, por membros dos Tribunais
Regionais eleitorais, por membros dos Tribunais Regionais do Trabalho, por membros dos Conselhos ou Tribunais
da União que oficiem perante tribunais.
ii) Será do STF quando for praticado por Min. de Estado, por Comandantes da Marinha, Exército e
Aéronauticca, Por membros dos Tribunais Superiores, Por membro do Tribunal de Contas da União, por chefe de
missão diplomática de caráter permanente.
c) Quanto a competência para processar e julgar litígios envolvendo Estado estrangeiro ou organismos
internacional
114
i) Será o ATF quando envolver: Estado estrangeiro ou Organismo Internacional x União, Estado, DF ou
Território Federal;
ii) Será da Justiça Federal quando envolver: Estado Estrangeiro ou Organismo Internacional x Município ou
pessoa domiciliada ou residente no país (dessa decisão caberá recurso Ordinário ao STJ).
A Justiça do Trabalho somente foi criada como órgão integrante do Poder Judiciário na Constituição de 1946.
Atualmente, e após duas EC a 24/1999 e a 45/2004 ela sofreu várias modificações;
São órgãos da Justiça do Trabalho, o Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho, as
Juntas de Conciliação e Julgamento e os Juizes do Trabalho.
O Tribunal Superior do Trabalho é composto de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais
de trinta e cinco anos e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, nomeados pelo
Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal. Sendo que, dentre seus membros
teremos um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do
Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94 (Quinto
Constitucional), e oss demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da
carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.
Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na
respectiva região, e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta
e cinco anos, sendo um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros
do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94. Os
demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antigüidade e merecimento, alternadamente.
Compete ao Tribunal Superior do Trabalho processar e julgar, originariamente, a reclamação para a preservação
de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões.
115
As varas da Justiça do Trabalho serão criadas através de Lei, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua
jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho. Também
caberá a lei dispor sobre a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos
órgãos da Justiça do Trabalho.
a) as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração
115
pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
c) as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e
empregadores;
d) os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver matéria sujeita
à sua jurisdição;
e) os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;
g) as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das
relações de trabalho;
h) a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais,
decorrentes das sentenças que proferir;
A Justiça do Trabalho também é competente decidir sobre o conflito coletivo. Recusando-se qualquer das partes
à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de
natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de
proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. O, mesmo se aplica ao dissídio instaurado pelo
MP em caso de greve.
A Justiça Eleitoral foi instituída em 1932 com o Código Eleitoral, e constitucionalizada em 1934. Algumas
peculiaridades da Justiça Eleitoral merecem atenção.
116
Quanto a sua composição, são órgãos da Justiça Eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral, os Tribunais Regionais116
Eleitorais, os Juízes Eleitorais e as Juntas Eleitorais.
O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos mediante eleição, pelo
voto secreto, sendo três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dois juízes dentre os Ministros do
Superior Tribunal de Justiça, e por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de
notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. O Tribunal Superior Eleitoral
elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o Corregedor
Eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.
Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de cada Estado e no Distrito Federal.Os Tribunais Regionais
Eleitorais serão compostos mediante eleição, pelo voto secreto, por dois juízes dentre os desembargadores do
Tribunal de Justiça, dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça, de um juiz do Tribunal
Regional Federal com sede na Capital do Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido,
em qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo, e, por nomeação, pelo Presidente da República, de
dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça.
O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente- dentre os desembargadores.
Quanto a possibilidade recursal a Constituição estabelece, no parágrafo 3º do art, 121, que são irrecorríveis as
decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de habeas
corpus ou mandado de segurança. Estabelece, também, que das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente
caberá recurso quando forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de le, ocorrer divergência
na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais, versarem sobre inelegibilidade ou expedição de
diplomas nas eleições federais ou estaduais, anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais
ou estaduais, denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção.
117
A justiça Militar fraciona-se em Justiça Militar da União e Justiça Militar dos Estados e do Distrito Federal.
São órgãos da Justiça Militar da União, o Superior Tribunal Militar eos Tribunais e Juízes Militares instituídos
por lei.
O Superior Tribunal Militar será composto por de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da
República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha,117
quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto
mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.
Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco
anos, sendo três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional, dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça
Militar.
À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei que disporá sobre a
organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar. Nota-se que as competências da Justiça Militar
não foram delimitadas pelo poder constituinte originário, restando ao legislador definir os crimes militares.
Quanto a Justiça Militar Estadual, em primeiro grau é constituída pelos Conselhos de Justiça e pelos Juizes de
direito do Juízo Militar. Em segunda instância a Constituição facultou a criação de um Tribunal de Justiça Militar
naqueles Estados Membros que possuírem efetivo da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros superior a 20 mil
integrantes. Importante frisar que das decisões dos TJM’s, ou dos TJ’s (nos Estados em que os TJM’s não foram
instituídos) cabe recurso para o STJ e/ou STF, nunca para p Superior Tribunal Militar, pois este é um Tribunal com
competência para julgar unicamente as causas da Justiça Militar da União.
14. Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais (arts. 106 a 110, CF/88)
Compõem a Justiça Federal, Justiça Federal os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais
118
Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na
respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta
e cinco anos, sendo um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros
do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira e os demais quatro quintos, mediante promoção de
juízes federais com mais de cinco anos de exercício, por antigüidade e merecimento, alternadamente.
II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes
estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.
Segundo a doutrina é de competência implícita da dos TRF’s, processar e julgar as ações rescisórias movidas
por ente federal contra aórdãos dos Tribunais de Justiça ou mesmo sentenças de Juízes de Direito.
Nos termos da súmula 150 do STJ, compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico
que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas.
Quanto aos Juizes Federais, ester ingressam na carreira através de concurso público de provas e títulos e são
lotados nas varas federais que fazem parte da jurisdição de cada Tribunal Regional Federal.
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição
de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;
119
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União
ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado
tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; VI - os crimes contra a organização
do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais;
As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde tiver domicílio a outra parte. Já as
causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela
onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito
Federal.
Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas
em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do
juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e
120
julgadas pela justiça estadual. Nessas hipóteses, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na
área de jurisdição do juiz de primeiro grau.
Segundo o STJ, é de competência da Justiça Federal julgar o Mandado de Injunção em decorrência de omissão
do Conselho Nacional de Trânsito e, de acordo com a súmula 208, também do STJ Compete à Justiça Federal
processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal.
120
Não caracterizada a competência de nenhum dos órgãos da Justiça Especializada acima listados, nem da
Justiça Federal, a atribuição será da Justiça Estadual, que possui competência residual.
Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos na Constituição Federal, mas a
competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa
do Tribunal de Justiça.
Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou
municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão.
Para finalizar nosso estudo, é importante que façamos alguns comentários sobre a competência da Justiça
Estadual;
a) de acordo com a súmula 209 do STJ, compete a Justiça Estadual, o processamento e julgamento dos Prefeitos
Municipais por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio da municipalidade;
b) segundo a súmula 27 do STF, Compete à Justiça Estadual julgar causas entre consumidor e concessionária
de serviço público de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva necessária, assistente, nem
opoente.
c) é competente a Justiça Estadual para processar e julgar as ações que envolvam honorários advocatícios
arbitrados em favor do advogado nomeado como defensor dativo.
121
A competência originária do CNJ para a apuração disciplinar, ao contrário da revisional, não se sujeita ao parâmetro
temporal previsto no art. 103-B, § 4º, V da CF/88. STF. 2ª Turma. MS 34685 AgR/RR, rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 28/11/2017 (Info 886).
121
➢ CNJ não pode examinar controvérsia que está submetida à apreciação do Poder Judiciário
Não cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente administrativas, o controle
de controvérsia que está submetida à apreciação do Poder Judiciário. STF. 1ª Turma.MS 28845/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 21/11/2017 (Info 885).
É ilegal a limitação de duas diárias e meia semanais, à luz do art. 5º da Resolução CJF nº 51/2009, quando o
deslocamento de juiz federal convocado para substituição em tribunais regionais for superior a esse lapso. STJ. 2ª
Turma.REsp 1536434-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 17/10/2017 (Info 614).
CNJ pode determinar que Tribunal de Justiça exonere servidores nomeados sem concurso público para cargos em
comissão que não se amoldam às atribuições de direção, chefia e assessoramento, contrariando o art. 37, V, da
CF/88. Esta decisão do CNJ não configura controle de constitucionalidade, sendo exercício de controle da validade
dos atos administrativos do Poder Judiciário. STF. Plenário. Pet 4656/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
19/12/2016 (Info 851).
➢ Análise da constitucionalidade de resolução que permite reeleição para cargos de direção no TJ
É inconstitucional norma do Tribunal de Justiça que permite a reeleição de desembargadores para cargos de direção
após o intervalo de dois mandatos. Esta previsão viola o art. 93, caput, da CF/88, segundo o qual a regulamentação
da matéria afeta à elegibilidade para os órgãos diretivos dos tribunais está reservada a lei complementar de iniciativa
do Supremo Tribunal Federal. Além disso, esta norma afronta o tratamento que foi dado à matéria pelo art. 102 da
LOMAN (LC 35/79), que regulamenta o art. 93 da CF/88. STF. Plenário. ADI 5310/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgado em 14/12/2016 (Info 851).
122
➢ Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da CF/88
A lei orçamentária anual do Estado do Rio de Janeiro foi aprovada e nela previsto o orçamento do Poder Judiciário.
Ocorre que o Poder Executivo estadual não estava cumprindo seu dever de repassar os recursos correspondentes às
dotações orçamentárias do Poder Judiciário em duodécimos. Diante disso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
impetrou mandado de segurança, com pedido de tutela de urgência, contra o ato omissivo do Governador do Estado
122
do Rio de Janeiro no atraso do repasse dos referidos recursos. O Governador argumentou que o Estado passa por
uma crise muito grave e que no ano de 2016 houve um déficit orçamentário de 19,6% em relação ao orçamento que
foi previsto na Lei orçamentária anual. O STF deferiu parcialmente a medida liminar, assegurando-se ao Poder
Judiciário do Estado do Rio de Janeiro o direito de receber, até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, os recursos
correspondentes às dotações orçamentárias, sendo, contudo, facultado ao Poder Executivo fazer um desconto de
19,6% da Receita Corrente Líquida prevista na LOA. A crise do Estado e a queda na arrecadação não justificam que
o Poder Executivo deixe de repassar o duodécimo ao Poder Judiciário. No entanto, deve ser autorizado que o
Executivo diminua os valores a serem entregues ao TJ de forma proporcional à redução que houve na arrecadação
inicialmente prevista pela Lei Orçamentária Anual. Não faz sentido que, diante de uma situação de déficit
orçamentário (a realização do orçamento foi muito inferior ao previsto), o Poder Executivo reduza seu orçamento e
o Poder Judiciário continue com seu duodécimo calculado com base na previsão da receita que não foi a verificada
na prática. Havendo frustração de receita, o ônus deve ser compartilhado de forma isonômica entre todos os Poderes.
Em suma, a base de cálculo dos duodécimos deve observar o valor real de efetivo desempenho orçamentário e não
o valor fictício previsto na lei orçamentária. STF. 1ª Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
22/11/2016 (Info 848).
Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do Conselho Nacional de Justiça, por não se
tratar de ato que importe a substituição ou a revisão do ato praticado por outro órgão do Judiciário. Assim, o STF
não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ. Como o
conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, o Conselho não decidiu nada. Se não decidiu nada, não praticou
nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser atacado no STF. Em razão do exposto,
não compete ao STF julgar MS impetrado contra decisão do CNJ que julgou improcedente pedido de cassação de
um ato normativo editado por vara judicial. STF. 2ª Turma. MS 33085/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
20/09/2016 (Info 840).
123
Salvo em situações graves e excepcionais, não cabe ao Poder Judiciário, sob pena de violação ao princípio da
separação de Poderes, interferir na função do Poder Legislativo de definir receitas e despesas da Administração
Pública, emendando projetos de leis orçamentárias, quando atendidas as condições previstas no art. 166, §§ 3º e 4º,
123
da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5468/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 29 e 30/6/2016 (Info 832).
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais desde
que observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de um ano. Essa medida pode ser
instaurada de ofício ou mediante provocação de qualquer interessado e admite que o CNJ agrave ou abrande a
decisão disciplinar revista (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88). STF. 1ª Turma. MS 33565/DF, Rel. Min. Rosa Weber,
julgado em 14/6/2016 (Info 830).
➢ Lei estadual que concede ressarcimento de despesas de saúde a magistrados não viola a CF/88 nem a
LOMAN
O art. 65, § 2º da LOMAN (LC 35/1979), ao vedar a concessão de adicionais ou vantagens pecuniárias nela não
previstas, não proíbe que as leis estaduais prevejam o pagamento de verbas de natureza indenizatória aos magistrados
estaduais. Com base nesse entendimento, o STF considerou válida previsão de lei estadual que concede aos
magistrados o direito de serem ressarcidos pelos cofres públicos em relação às despesas médicas, cirúrgicas e
odontológicas que realizem e que excedam o custeio coberto pelo Instituto de Previdência do Estado. STF. 1ª Turma.
MS 27463/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825).
A comprovação do triênio de atividade jurídica exigida para o ingresso no cargo de juiz substituto, nos termos do
art. 93, I, da CF, deve ocorrer no momento da inscrição definitiva no concurso público. STF. Plenário. RE
655265/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 13/4/2016 (repercussão geral)
(Info 821).
124
➢ Férias coletivas de 60 dias para serventuários da Justiça não são compatíveis com a CF/88
É correta decisão do CNJ que considera indevida a existência de férias coletivas para servidores de Tribunal de
Justiça, mesmo que estas estejam previstas em lei ou ato normativo estadual. Isso porque a EC 45/2004 incluiu o
inciso XII ao art. 93 da CF/88 proibindo as férias coletivas de juízes e Tribunais de 2º grau. Com a edição da EC
45/2004, as leis e atos normativos que previam férias coletivas nos Tribunais de 2º grau foram considerados não
recepcionados ("revogados") pela nova redação do art. 93, XII, da CF/88. STF. 2ª Turma. MS 26739/DF, Rel. Min.
124
Dias Toffoli, julgado em 1º/3/2016 (Info 816).
Em regra, o órgão interno do Tribunal que decide as questões administrativas é o Plenário, chamado de "tribunal
pleno" e que é formado, como o próprio nome diz, pela totalidade dos julgadores. Ocorre que nos Tribunais maiores
(exs: TJ/SP, TJ/MG) existem centenas de membros, o que dificulta a reunião para decidirem as questões
administrativas. Diante disso, a fim de facilitar o funcionamento, a CF/88 previu que, se o Tribunal possuir mais
que 25 membros, ele poderá criar um "órgão especial" para exercer algumas atribuições administrativas e
jurisdicionais que seriam originalmente de competência do tribunal pleno (art. 93, XI). Compete aos Tribunais de
Justiça definirem quais as competências que serão delegadas ao órgão especial, desde que aprovadas pela maioria
absoluta de seus membros. STF. Plenário. MS 26411 MC/DF, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão
Min. Teori Zavascki, julgado em 26/11/2015 (Info 809).
O CNJ possui a competência para rever, de ofício ou mediante provocação, as decisões das Corregedorias locais que
julgam, a favor ou contra, juízes e membros de Tribunais. No entanto, essa competência revisora deverá ser exercida
no prazo máximo de 1 ano depois da decisão proferida (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88). STF. 2ª Turma. MS 32724/DF,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).
Para admitir-se a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante, é necessário demonstrar que houve: a) evidente
superação da jurisprudência do STF no tratamento da matéria; b) alteração legislativa quanto ao tema; ou c)
modificação substantiva de contexto político, econômico ou social. Vale destacar que o mero descontentamento ou
eventual divergência quanto ao conteúdo da súmula vinculante não autoriza que o legitimado ingresse com pedido
125
para cancelamento ou rediscussão da matéria. STF. Plenário. PSV 13/DF, julgado em 24/9/2015. Em um caso
concreto, o STF negou o pedido feito pela Confederação Brasileira dos Trabalhadores Policiais Civis – Cobrapol
para cancelar a SV 11 por entender que a autora não provou nenhum dos requisitos acima listados.
É regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do Judiciário estadual ou federal, para a condução de
125
sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de Justiça, ainda que o investigado seja magistrado federal. A
autoridade delegada atua em nome do CNJ, sendo irrelevante, portanto, se é Juiz Estadual ou Federal. STF. 2ª Turma.
MS 28513/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).
A CF conferiu competência originária e concorrente ao CNJ para aplicação de medidas disciplinares. A competência
constitucional do CNJ é autônoma (e não subsidiária). Assim, o CNJ pode atuar mesmo que não tenha sido dada
oportunidade para que a corregedoria local pudesse investigar o caso. STF. 1ª Turma. MS 30361 AgR/DF, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 29/8/2017 (Info 875). STF. 2ª Turma. MS 28513/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado
em 15/9/2015 (Info 799).
➢ PEC da Bengala
No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou jocosamente conhecida como “PEC da Bengala” em
virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria compulsória dos Ministros de Tribunais Superiores. Foi
proposta uma ADI contra essa EC, tendo o STF julgado a medida liminar. Veja o que foi decidido: O art. 100 do
ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU irão se aposentar compulsoriamente,
aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, “nas condições do art. 52 da Constituição Federal”. O que quer dizer essa
parte final? O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70 anos somente
possa continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública (“sabatina”) e votação no Senado Federal. Em
outras palavras, o Ministro, quando completasse 70 anos, poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso,
seu nome precisaria ser novamente aprovado pelo Senado. Essa exigência é compatível com a CF/88? NÃO. Essa
exigência é INCONSTITUCIONAL. O STF suspendeu a aplicação da expressão “nas condições do artigo 52 da
Constituição Federal”, contida no final do art. 100 do ADCT. Essa exigência de nova sabatina acaba “por vulnerar
as condições materiais necessárias ao exercício imparcial e independente da função jurisdicional, ultrajando a
separação de Poderes, cláusula pétrea inscrita no artigo 60, parágrafo 4º, inciso III, da Constituição Federal”. Em
126
simples palavras, o STF entendeu que há violação ao princípio da separação dos Poderes. Desse modo, os Ministros
do STF, dos Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) e do TCU possuem o direito de se aposentar
compulsoriamente somente aos 75 anos e, para isso, não precisam passar por uma nova sabatina e aprovação do
Senado Federal. O STF entendeu que seria possível estender essa regra da aposentadoria compulsória aos 75 anos
para juízes e Desembargadores mesmo sem a edição de lei complementar? NÃO. O STF afirmou que o art. 100 do
ADCT da CF/88 não poderia ser estendido a outros agentes públicos até que fosse editada a Lei Complementar
Nacional a que se refere o art. 40, § 1º, inciso II, da CF/88. STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux,126
julgado em 21/5/2015 (Info 786).
➢ CE não pode criar regras novas para a escolha do Desembargador pelo quinto constitucional
A Assembleia Legislativa de determinado Estado aprovou emenda constitucional afirmando que, após o Governador
escolher um dos candidatos da lista tríplice para ser Desembargador pelo quinto constitucional, ele deveria ainda
submeter esse nome à apreciação da ALE. Assim, o candidato escolhido pelo chefe do Poder Executivo somente
seria nomeado se a Assembleia aprovasse a indicação pelo voto da maioria absoluta dos Deputados. Dessa forma,
foi criada mais uma etapa na escolha dos Desembargadores pelo quinto constitucional, que não está prevista no art.
94 da CF/88. O STF julgou essa emenda inconstitucional. A exigência de submissão do nome escolhido pelo
governador à Casa Legislativa, para preenchimento de vaga destinada ao quinto constitucional, invade a atuação do
Poder Executivo. O procedimento para a escolha dos Desembargadores foi tratado de forma exaustiva pelo art. 94
da CF/88, não podendo o constituinte estadual inovar e estabelecer novas etapas que não estejam expressamente
previstas na Carta Federal. STF. Plenário. ADI 4150/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/2/2015 (Info 775).
É nulo o acórdão que se limita a ratificar a sentença e a adotar o parecer ministerial, sem sequer transcrevê-los,
deixando de afastar as teses defensivas ou de apresentar fundamento próprio. Isso porque, nessa hipótese, está
caracterizada a nulidade absoluta do acórdão por falta de fundamentação. A jurisprudência admite a chamada
fundamentação per relationem, mas desde que o julgado faça referência concreta às peças que pretende encampar,
transcrevendo delas partes que julgar interessantes para legitimar o raciocínio lógico que embasa a conclusão a que
se quer chegar. STJ. 6ª Turma. HC 214049-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Maria
Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 557).
O CNJ, ao iniciar um processo disciplinar contra o magistrado, pode determinar o seu afastamento cautelar das
funções por ele desempenhadas, caso a continuidade do exercício do ofício judicante possa interferir no curso da
apuração ou comprometer a legitimidade de sua atuação e a higidez dos atos judiciais. O CNJ pode instaurar processo
disciplinar contra juiz para apurar eventual parcialidade de suas decisões. A prerrogativa da intangibilidade dos atos
de conteúdo jurisdicional não é absoluta e não autoriza a prática de ilegalidades. Ademais, a análise dos fatos a
serem apurados pelo CNJ não avança sobre o mérito das decisões judiciais prolatadas pelo magistrado, mas sobre
sua conduta, supostamente parcial. Embora os atos judiciais e a parcialidade de magistrado na condução do processo127
estejam sujeitos a medidas processuais específicas, como recursos, a atuação do juiz pode e deve ser objeto de exame
disciplinar quando houver indícios de violação dos deveres funcionais impostos pela lei e pela Constituição. STF.
2ª Turma. MS 32721/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/11/2014 (Info 767).
Não se aplica a prescrição punitiva em perspectiva, sendo imprescindível a instauração do competente processo
administrativo disciplinar, no qual serão apurados os fatos e indicada a infração para a qual teria concorrido o
magistrado para, só então, verificar se houve a prescrição. STF. 1ª Turma. MS 28918 AgR/DF, Rel. Min. Dias
Tofoli, julgado em 4/11/2014 (Info 766).
É desnecessário esgotar as vias ordinárias para que o CNJ instaure processo de revisão disciplinar. STF. 1ª Turma.
MS 28918 AgR/DF, Rel. Min. Dias Tofoli, julgado em 4/11/2014 (Info 766).
É inconstitucional provimento editado pela Corregedoria do Tribunal de Justiça dispondo sobre o expediente dos
magistrados estaduais e exigindo autorização do Presidente da Corte para que o juiz possa se ausentar da comarca.
Esse ato normativo padece de inconstitucionalidade formal já que tal matéria é reservada à lei complementar de
iniciativa do STF (art. 93, VII, da CF/88). STF. Plenário. ADI 2880/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
30/10/2014 (Info 765).
A antiguidade entre magistrados deve ser aferida em razão do tempo no cargo e, no caso de posse no mesmo dia,
deve ser respeitada a ordem de classificação no concurso como critério de desempate. A CF/88 determina que uma
Lei Complementar, de caráter nacional, deverá reger a magistratura (art. 93 da CF/88). Logo, a norma local não
pode dispor de forma diferente do que disciplinado pela LOMAN. Justamente por isso, o STF tem declarado a
inconstitucionalidade de leis estaduais que, a pretexto de esmiuçarem questões referentes à magistratura, modificam
o critério de desempate escolhido pela LOMAN. STF. 1ª Turma. MS 28494/MT, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
2/9/2014 (Info 757). 128
Cabe recurso administrativo contra a prova oral nos concursos da magistratura? Depende: • Se o recurso tiver por
objetivo impugnar os critérios de correção aplicados pelo examinador para as respostas dadas (discutir o acerto das
respostas): NÃO • Se o recurso tiver por objetivo impugnar alguma questão que esteja fora do conteúdo programático
ou suscitar outras violações formais ao edital ou à Resolução: SIM. STF. 2ª Turma. MS 32042/DF, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 26/8/2014 (Info 756).
A CF/88 prevê que a promoção por antiguidade do juiz mais antigo somente pode ser negada se ele for recusado
pelo voto fundamentado de 2/3 (dois terços) dos membros do respectivo Tribunal, assegurada a ampla defesa (art.
93, II, “d”). Segundo o STF, o quórum de votos para um tribunal recusar a promoção do juiz mais antigo não deve
computar os cargos vagos ou os desembargadores afastados. A vontade de um tribunal é manifestada por seus
membros juridicamente aptos. Desfalcado o tribunal, deve-se computar apenas os magistrados em atividade, a não
ser que afastados em caráter meramente eventual. Assim, os cargos vagos, bem como os cargos providos, mas cujos
ocupantes estejam afastados cautelarmente do exercício da função jurisdicional, não devem ser computados para o
129
fim de determinação do referido quórum. STF. 1ª Turma. MS 31357/DF e MS 31361/MT, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgados em 5/8/2014 (Info 753)
A LC 35/1979 (LOMAN) prevê, em seu art. 65, I, o pagamento de indenização para custeio de despesas com
transporte e mudança: Apesar de a LOMAN estabelecer que a matéria será regulada em lei, esse diploma legal nunca
129
foi editado. Por conta disso, o STF afirmou que é possível aplicar, de forma subsidiária, a norma que rege os
servidores públicos federais (Lei 8.112/1990) que, em seu arts. 53 e 54, disciplina a ajuda de custo para transporte e
mudança. STF. 2ª Turma. AO 1656/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).
CNJ não pode declarar inválido artigo do Regimento Interno do Tribunal de Justiça que trate sobre competência
jurisdicional. Isso porque o CNJ tem a competência de exercer o controle da atuação administrativa e financeira do
Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. No caso em análise, o Conselho interferiu em
matéria de competência jurisdicional do TJ, matéria que é estranha às suas funções. STF. 2ª Turma. MS 30793/DF,
Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).
Se a lei eleva a comarca para outra instância superior (ex.: de entrância intermediária para final), o juiz que lá é
titular não pode ser removido compulsoriamente em virtude dessa transformação. Aplica-se, no caso, a Súmula 40
do STF: A elevação da entrância da comarca não promove automaticamente o Juiz, mas não interrompe o exercício
de suas funções na mesma comarca. Logo, mesmo tendo havido essa transformação, o TJ não pode abrir edital para
remoção ou promoção dessa comarca. Deve-se aguardar o magistrado decidir deixar a vaga. STF. 1ª Turma. MS
26366/PI, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/6/2014 (Info 752).
O Conselho Nacional de Justiça não pode decidir, em procedimento administrativo, matéria que já foi judicializada,
ou seja, que está sendo discutida em uma ação judicial. O CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente
administrativa, razão pela qual não lhe é permitido decidir questões que estejam submetidas à análise judicial. Se a
130
questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao CNJ conhecer e apreciar a matéria, sob pena de ele
estar assumindo funções jurisdicionais. Se a parte interessada não concorda com a decisão judicial, ela dispõe de
recursos para impugná-la, não podendo provocar o CNJ para interferir no assunto. STF. 2ª Turma. MS 27650/DF,
Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014 (Info 752).
Não existe óbice a que o julgador, ao proferir sua decisão, acolha os argumentos de uma das partes ou de outras
decisões proferidas nos autos, adotando fundamentação que lhe pareceu adequada. O que importa em nulidade é a
absoluta ausência de fundamentação. A adoção dos fundamentos da sentença de 1ª instância ou das alegações de
uma das partes como razões de decidir, embora não seja uma prática recomendável, não traduz, por si só, afronta ao
art. 93, IX, da CF/88. A reprodução dos fundamentos declinados pelas partes ou pelo órgão do Ministério Público
ou mesmo de outras decisões proferidas nos autos da demanda (ex: sentença de 1ª instância) atende ao art. 93, IX,
da CF/88. A motivação por meio da qual se faz remissão ou referência às alegações de uma das partes, a precedente
ou a decisão anterior nos autos do mesmo processo é chamada pela doutrina e jurisprudência de motivação ou
fundamentação per relationem ou aliunde. Também é denominada de motivação referenciada, por referência ou por
remissão. STJ. Corte Especial. EREsp 1021851-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgados em 28/6/2012. STJ. 2ª Turma.
EDcl no AgRg no AREsp 94942-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 5/2/2013 (Info 517).
É obrigatória a promoção do Juiz Federal ao cargo de Juiz Federal do TRF (“Desembargador Federal”) se ele figurar
por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento (art. 93, II, a, da CF). STF. Plenário. MS
30585/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, jugado em 12/9/2012 (Info 679).
O juiz substituto também goza da garantia da inamovibilidade, mesmo que ainda não seja vitalício. Vale ressaltar
que a inamovibilidade não é absoluta, podendo ser afastada por motivo de interesse público segundo decisão
131
motivada da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa.
STF. Plenário. MS 25747/SC, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/5/2012 (Info 666).
O inciso X do art. 93 da CF é AUTOAPLICÁVEL, sendo desnecessária lei complementar para dar eficácia ao seu
comando. STF. Plenário. MS 25747/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/5/2012 (Info 666).
131
O Conselho Nacional de Justiça, embora seja órgão do Poder Judiciário, nos termos do art. 103-B, § 4º, II, da
Constituição Federal, possui, tão somente, atribuições de natureza administrativa e, nesse sentido, não lhe é
permitido apreciar a constitucionalidade dos atos administrativos, mas somente sua legalidade. STF. Plenário. MS
28872 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/02/2011.
17. Bibliografia
• Manual de Direito Constitucional, Nathália Masson, 2017.
• https://www.buscadordizerodireito.com.br/
132
DIREITO CONSTITUCIONAL II
Conteúdo 05: Teoria geral do controle de constitucionalidade: Controle difuso de constitucionalidade
1. Introdução
A professora Nathália Masson explica que a locução “controle de constitucionalidade” deve ser
entendida, pois, como uma verificação de compatibilidade, de adequação entre normas: as leis (e os demais atos
normativos) e a Constituição (Manual de Direito Constitucional, 2017, pág. 1157).
132
Assim, contemplamos que realizar o controle de constitucionalidade significa analisar se as normas
presentes no Ordenamento Jurídico (ou incorporadas a este) estão compatíveis com a Constituição Federal, seja
em seu conteúdo ou em sua forma, conforme estudaremos mais a frente algumas classificações.
Imprescindível ainda compreendemos o fundamento da existência do controle de constitucionalidade, dito
de outra forma, porque o OJ Brasileiro prevê esse mecanismo?
O Ilustre Doutrinador Pedro Lenza explica:
Observação pontual:
2. Supremacia Constitucional
2.1. Supremacia Material: trata-se de uma consequência lógica do objeto da Constituição, das chamadas
matérias constitucionais (os fundamentos do Estado de Direito). Segundo a doutrina essas matérias
constitucionais (normas que estabelecem os direitos e garantias fundamentais, a organização e estrutura
do Estado e dos poderes) encontram-se acima das matérias abordadas na lei. Dessa forma, temos que a
Constituição possui o conteúdo superior ao das demais leis. Nessa esteira, a Constituição é dotada de
supremacia material, independentemente do tipo de Constituição, rígida ou flexível. Contudo, não é essa
a supremacia considerada relevante para o tema do controle de constitucionalidade, e sim a supremacia
formal.
Assim:
- Supremacia material é atributo de toda Constituição: não existe Constituição que não tenha essas matérias
constitucionais e que não tenha, consequentemente, essa supremacia material (conteúdo em relação as leis).
134
- Supremacia formal é aquela que realmente importa efetivamente para o Controle de Constitucionalidade.
2.2. Supremacia Formal: presente nas constituições dotadas de rigidez, isso porque ac constituição rígida
é a única que possui um procedimento de formação mais solene, mais complexa do que a forma de
elaboração da legislação ordinária. Nessa linha, temos que quando a Constituição não é rígida ela tem o
mesmo processo de alteração que as demais leis. Se o processo é o mesmo, qualquer lei pode alterar a
Constituição. 134
Cumpre recordarmos que não será a existência de cláusulas pétreas que caracterizam a rigidez
constitucional.
- A supremacia formal é típica das constituições formais.
- A supremacia formal pressupõe uma superioridade hierarquia (forma e conteúdo) das normas
constitucionais.
*Forma: uma norma infraconstitucional deve observar o procedimento estabelecido na Constituição – deve
observar as formalidades previstas na Constituição.
*Conteúdo: as normas devem obedecer ao conteúdo da Constituição em virtude do princípio da unidade do
Ordenamento Jurídico, sendo vedado a existência de normas conflitantes.
Parâmetro (ou paradigma) consiste na norma ou no conjunto de normas que se tem como
referência numa análise comparativa. Parâmetro para o controle de constitucionalidade
são as normas da Constituição que podem ser referenciadas para constatarmos a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade dos demais diplomas. Em nosso ordenamento
jurídico o paradigma para o controle é a própria Constituição Federal, o que significa que
todas as suas normas (ainda que só formalmente constitucionais) podem determinar a
inconstitucionalidade de uma lei inferior.
Candidato, quais são as normas presentes no texto constitucional que podem ser objetos do parâmetro?
135
A Constituição Federal foi dividida em três partes: preâmbulo, normas permanentes e ADCT. Vejamos:
Constituição
Preâmbulo Parte Permanente ADCT
Nesse sentido, será que todas essas partes servem de parâmetro para o controle?
a) Preâmbulo: a Jurisprudência do STF já se manifestou no sentido de que o preâmbulo não possui caráter
normativo, e assim sendo, não serve como parâmetro para o controle de constitucionalidade. Foi adotada a Teoria135
da Irrelevância Jurídica.
Segundo a tese da irrelevância jurídica, o preâmbulo não participa das características jurídicas da
Constituição, situando-se no domínio da política ou da história, como mera diretriz (ou norte) interpretativo.
Doutrina e jurisprudência entendem que o preâmbulo é simples proclamação, logo, não obrigatório, não
possui força normativa, não pode ser fonte do controle de constitucionalidade e não veicula norma de reprodução
obrigatória nas constituições estaduais.
STF e Preâmbulo: II. - Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação
da proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição
estadual, não tendo força normativa. III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada
improcedente. (STF, ADI 2076/AC, Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Velloso, j. 15/08/2002,
p. DJ 08/08/2003).
Embora o preâmbulo não possa ser utilizado como parâmetro do controle de constitucionalidade, ele possui algumas
funções. Vejamos:
Observação Pontual
O preâmbulo não pode ser fonte única de objeto para declaração de inconstitucionalidade de uma lei, porém,
é um vetor interpretativo das normas da própria constituição.
136
b) Parte Permanente
São normas constitucionais que ocupam grau hierárquico mais elevado no sistema normativo brasileiro.
Contempla o texto normativo básico da constituição, cujos dispositivos possuem uma pretensão de
permanência, sendo isso que o distingue das disposições transitórias (também possui força normativa, mas não
possui pretensão de permanência).
Segundo Novelino, todas as normas da parte permanente, sem exceção, são normas formalmente136
constitucionais e, consequentemente, servem como parâmetro para o controle de constitucionalidade.
c) ADCT
As normas do ADCT possui como objetivo regular a transição entre a realidade existente no momento da
promulgação da constituição ou emenda e a realidade projetada pela parte dogmática da constituição ou da parte
principal da emenda da constituição. Regula o que acontecerá no processo de transformação: realidade existente
x realidade futura projetada.
O ADCT, tal qual a parte dogmática, possui força normativa, cogente, servindo de parâmetro de controle
de constitucionalidade.
Segundo o Supremo, apenas as normas de eficácia exaurível do ADCT é que servem como parâmetro,
ou seja, apenas aquelas normas que ainda não exauriram a sua eficácia, ou seja, seus efeitos. As que tem eficácia
exaurida (já exauriram seus efeitos), não podem servir como parâmetro.
*As normas transitórias após regular, cumprindo sua função, tem a sua eficácia exaurida, ainda que isso
não signifique revogação: norma de eficácia exaurida.
3.2. Princípios Implícitos: tratam-se dos princípios consagrados na Constituição, mas não de maneira
expressa, e sim de forma indutiva/implícita como decorrência das normas expressamente consagradas
no texto da constituição, por exemplo, princípio da razoabilidade.
Os princípios implícitos da Constituição Federal podem servir como parâmetro.
Art. 5º. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
Assim, contemplamos que se exige um requisito material (ser de direitos humanos) e um requisito formal
(ser aprovados por 3/5 dos votos dos membros da Câmara e do Senado e em dois turnos).
Exemplo: Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 137
b) Por OMISSÃO: ocorre na situação em que não foram adotadas (total), ou ainda adotadas de modo
insuficiente (parcial), medidas que são necessárias para tornar plenamente aplicáveis normas constitucionais
carentes de intermediação, leia-se, normas que necessitam de regulamentação para serem aplicadas.
→ Inconstitucionalidade por omissão ocorre quando o poder público deixa de praticar uma conduta exigida
por uma norma constitucional não autoaplicável. Um exemplo é o MI 712, que tratou do art. 37, VII,
relacionado ao direito de greve dos servidores público. É esse um tipo de norma não autoaplicável. No
entanto, até hoje a lei que regulamentaria o direito de greve dos servidores público não foi editada. 138
Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações visando a resolver o
problema e monitorar os resultados alcançados.
Diante disso, o STF, em ADPF, concedeu parcialmente medida cautelar determinando que:
• juízes e Tribunais de todo o país implementem, no prazo máximo de 90 dias, a audiência de custódia;
• a União libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para
utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos.
Na ADPF havia outros pedidos, mas estes foram indeferidos, pelo menos na análise da medida cautelar.139
STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015 (Info 798).
a.1) fático: violação generalizada e sistemica de direitos fundamentais a afetar um número elevado e
indeterminado de pessoas.
a.2) político: exige-se um conjunto de ações e omissões reiteradas tendentes a perpetuar ou agravar o quadro
de inconstitucionalidade.
a.3) jurídico: necessidade de se adotar medidas estruturais para a superação das violações constatadas. Para
que o Estado de Coisas Inconsitucional possa ser solucionado, é preciso que sejam adotadas medidas
estruturais. Ex.: sistema carcerário.
- A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma verdadeira
“falha estrutural” que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e do agravamento da
situação.
b) Medidas judiciais
As medidas judiciais são voltadas a proteger a dimensão objetiva dos direitos fundamentais – perspectiva
da sociedade como um todo. Segundo Novelino, são medidas voltadas a resolver um “litígio estrutural”, o
qual é caracterizado pelo alcance a número amplo de pessoas e órgãos e por implicar ordens de execução
complexa – medidas não ortodoxas. Ex.: revisão dos gastos públicos, debates entre os Poderes.
Atuação proativa do Poder Judiciário: formulação de ordens flexíveis de execução, isto é, o Poder Judiciário
não detalha a política pública a ser implementada – limita-se a estabelecer balizadas/parâmetros de atuação
dos Poderes. E, dentro dessas balizadas, os Poderes adotarão as medidas necessárias para tentar resolver o
Estado de Coisas Inconstitucionais.
140
a.2) orgânica: ocorre quando há violação da norma definidora do órgão competente para tratar a matéria.
Segundo Nathália Masson, tem-se a inconstitucionalidade formal orgânica quando há desobediência a
regra de competência para produção do ato, como, por exemplo, quando um Estado-membro edita norma
exercendo competência que, pela previsão do art. 22, 1, CF/88, está destinada a ser regulamentada pela
União, de modo privativo. Manual de Direito Constitucional, 2017, pág. 1160).
Observação pontual:
A inconstitucionalidade formal orgânica decorre da inobservância da competência legislativa para a
elaboração do ato (ex.: lei municipal que discipline o uso do cinto de segurança, já que se trata de
competência da União, nos termos do art. 22, XI, legislar sobre trânsito e transporte).
a.3) por violação aos pressupostos objetivos: ocorre diante da inobservância de requisitos
constitucionalmente exigidos para elaboração de determinados atos normativos.
141
b) Material (nomoestática): segundo Pedro Lenza, o vício material (de conteúdo, substancial ou
doutrinário) diz respeito à “matéria”, ao conteúdo do ato normativo. Assim, aquele ato normativo que
afrontar qualquer preceito ou princípio da Lei Maior deverá ser declarado inconstitucional, por possuir um
vício material. Não nos interessa saber aqui o procedimento de elaboração da espécie normativa, mas, de
fato, o seu conteúdo. Por exemplo, uma lei discriminatória que afronta o princípio da igualdade.
Exemplo: Lei de Crimes Hediondos que vedava a progressão de regime – foi declarada inconstitucional141
(inconstitucionalidade material) – violava a garantia da individualização da pena.
Assim, temos que a inconstitucionalidade material decorre da ofensa a normas constitucionais de fundo
(direitos e deveres).
Vamos Esquematizar?
a) Total: ocorre quando toda a lei ou todo o dispositivo são incompatíveis com a norma constitucional. A
lei pode ser parcialmente inconstitucional, mas o dispositivo ter inconstitucionalidade total. Tem q se
analisar a referência, se em relação à lei ou ao dispositivo.
→ Atinge a lei, o ato normativo ou o dispositivo em sua integralidade, não restando partes válidas a serem
aplicadas.
b) Parcial: ocorre quando parte de uma lei ou de um dispositivo é incompatível com a Constituição. O STF
pode declarar a inconstitucionalidade de apenas uma palavra ou expressão, desde que sejam autônomas e
não alterem o sentido da norma (ADI 2645-Medida Cautelar), de modo diverso do que ocorre no veto parcial
142
do Presidente da República (art. 66, §2º), onde só há a possibilidade de se vetar o texto integral de artigo,
parágrafo, inciso e alínea.
Não se deve confundir a declaração de inconstitucionalidade parcial (admissível) com o veto parcial
(inadmissível).
142
→ Os poderes públicos deixam de adotar medidas suficientemente adequadas para tornar efetiva normas
constitucionais (omissão parcial) ou parte da lei/dispositivo legal afronta a constituição.
Exceção: quando as relações fáticas são alteradas, ocorrendo nos casos de mutação constitucional (processo informal143
de alteração da constituição sem modificação do seu texto)
Mutação Constitucional
A lei originariamente é considerada constitucional por ser compatível com a interpretação dada ao dispositivo no
momento em que foi elaborada. No entanto em virtude de uma mutação constitucional (nova interpretação), aquela
lei originariamente constitucional passa a ser incompatível com o novo sentido atribuído à norma constitucional.
Neste caso, poder-se-ia falar em inconstitucionalidade superveniente. O sentido da norma muda, mas o texto
constitucional permanece intacto.
Exemplo: HC 82959 – a Lei 8072/90 foi questionada em dois momentos diferentes, em relação ao princípio da
individualização da pena, no primeiro tendo sido considerada constitucional (em 90). No entanto, diante do
fenômeno da mutação constitucional ocorrida com o princípio da individualização da pena, a norma foi declarada
inconstitucional. Nesse contexto se admite falar em inconstitucionalidade superveniente.
STF. HC 82.959/SP: [...] Conflita com a garantia da individualização da pena – art. 5º, inciso
XLVI, da Constituição Federal – a imposição, mediante norma, do cumprimento da pena em
regime integralmente fechado. Nova inteligência do principio da individualização da pena,
em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do art. 2º, §1º da Lei nº
8.072/90”.
No caso da mutação constitucional, embora a norma constitucional seja posterior, embora o resultado da
interpretação nova seja posterior a lei, é uma hipótese considerada como “inconstitucionalidade superveniente”.
A mutação constitucional é uma das formas de alteração do texto constitucional. É cediço que embora a Constituição
Federal tenha por característica a sua “supremacia” e seu caráter rígido, admite a ela alterações. Nesse sentido, a
alteração pode ser feita alterando o seu texto, nos moldes e limitações do art. 60, da CF. Todavia, existe a
144
possibilidade também de termos alteração da constituição sem modificação de seu conteúdo formal, a esse fenômeno
intitulamos de mutação constitucional.
Assim, mutação constitucional pode ser compreendida como meio informal de alteração da Constituição. Cabe a
ele, portanto, alterar o conteúdo, o alcance e o sentido das normas constitucionais, mas de modo informal, sem
qualquer modificação na literalidade do texto da Constituição (Marcelo Alexandrino).
A mutação constitucional pode decorrer da alteração dos costumes, da interpretação doutrinária e especialmente, da
144
interpretação jurisdicional (feito pelo órgão de cúpula: STF).
O texto continua o mesmo, mas o sentido da norma fora alterado. A mudança ocorre no significado, permanecendo
o texto inalterado.
Nessa linha, Barroso afirma que “... a mutação constitucional consiste em uma alteração do significado de
determinada norma da Constituição, sem observância do mecanismo constitucionalmente previsto para as emendas
e, além disso, sem que tenha havido qualquer modificação de seu texto”.
→ A Constituição poderá ser alterada através de processos formais, assim como, de processos informais, esse último
denominado e conhecido corriqueiramente como mutação constitucional.
Inconstitucionalidade Progressiva
Assim, a norma não é considerada totalmente inconstitucional, mas também não é considerada compatível com a
Constituição, mas que em decorrência da situação fática do momento, o Poder Judiciário opta por manter a norma
ao invés de declarar a sua inconstitucionalidade.
Exemplo 1:
Art. 5º, §5º (incluído em 89) da Lei 1.060/50 – Lei de Assistência Judiciária Gratuita -
estabelece o prazo em dobro para a Defensoria Pública. O STF, analisando a situação fática
entre as estruturas da Defensoria e do Ministério Público, declarou que a norma ainda seria
constitucional. Na medida em que a Defensoria adequasse o seu quadro de pessoal e sua
estrutura funcional, a norma irá se tornar inconstitucional.
Exemplo 2:
Considera-se interpretação progressiva (adaptativa ou evolutiva) como aquela que busca
ajustar a lei às transformações sociais, jurídicas, científicas e até mesmo morais que se
145
sucedem no tempo e que acabam por interferir na efetividade que buscou o legislador com a
edição de determinada norma processual penal. Vejamos um exemplo: com o advento da
Constituição Federal, outorgando ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CF, art. 127, caput),
e à Defensoria Pública a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados
(CF, art. 134), houve forte discussão quanto à recepção do art. 68 do CPP, já que, ao
promover a ação civil ex delicto em favor de vítima pobre, o Ministério Público estaria
agindo em nome próprio na defesa de interesse alheio, de natureza patrimonial e, portanto,
disponível. Chamado a se pronunciar a respeito do assunto, o Supremo entendeu que o
dispositivo seria dotado de inconstitucionalidade progressiva (ou temporária), ou seja, de145
modo a viabilizar o direito à assistência jurídica e judiciária dos necessitados, assegurado
pela Constituição Federal de 1988 (art. 5º, LXXIV), enquanto não houvesse a criação de
Defensoria Pública na Comarca ou no Estado, subsistiria, temporariamente, a legitimidade
do Ministério Público para a ação de ressarcimento e de execução prevista no art. 68 do CPP,
sendo irrelevante o fato de a assistência vir sendo prestada por órgão da Procuradoria Geral
do Estado, em face de não lhe competir, constitucionalmente, a defesa daqueles que não
possam demandar, contratando diretamente profissional da advocacia, sem prejuízo do
próprio sustento. (Renato Brasileiro, Manual de Processo Penal, 2017).
b) reflexa (ou oblíqua): ocorre quando da presença de norma interposta entre o objeto e o dispositivo
constitucional, diferentemente da inconstitucionalidade direta, em que não há norma interposta. Ex.: entre
um decreto e a Constituição há uma lei.
Essa espécie poderá ocorrer de duas formas:
de inconstitucionalidade da acessória, ainda que o pedido tenha se limitado à norma principal. Isso porque
não faz sentido retirar do ordenamento a norma principal, deixando a norma secundária (dependente da
primeira) que, sozinha, não tem sentido normativo. Dessa forma, como a norma secundária dependente
absolutamente de outra (a principal), deve ser arrastada ou atraída para a inconstitucionalidade a fim de
evitar que tenhamos no ordenamento uma norma sem efeitos e sem sentido, pois isso feriria a coerência
sistêmica, a lógica e a segurança jurídica (Nathália Masson).
146
Exemplo: o decreto é inconstitucional em razão da inconstitucionalidade da lei por ele regulamentada. Esta
lei, por violar a Constituição, pode ser objeto de uma ADI. Se o STF declarar a inconstitucionalidade desta
lei e não mencionar o decreto, este ficará perdido no ordenamento jurídico e não poderá ser objeto de
nenhuma ação abstrata. Portanto, nos casos de inconstitucionalidade consequente, a lei poderá ser objeto da
ADI e o decreto - mesmo que não tenha sido impugnado - poderá ser declarado inconstitucional pelo STF
através da técnica de inconstitucionalidade por arrastamento ou por atração – pode ocorrer com normas de
níveis distintos (arrastamento vertical) e normas com dispositivos interdependentes (arrastamento
horizontal) – ex. o art. 1º é dependente do art. 2º.
→O vício de uma norma (principal) atinge outra norma que dela é dependente (acessória).
A inconstitucionalidade por reverberação normativa, apesar do pomposo nome, é um mero sinônimo da
inconstitucionalidade por arrastamento, que ainda possui como sinônimos: inconstitucionalidade por
atração, consequencial, consequente ou derivada.
b.2) inconstitucionalidade reflexa: resulta da violação a normas infraconstitucionais interpostas. Ex.: a lei
é constitucional. Contudo, o decreto é incompatível com a lei (ilegal). Portanto, o decreto é inconstitucional
por via reflexa, pois há violação da Constituição Federal, art. 84, VI. Novelino explica que mesmo quando
o decreto vai além do conteúdo da lei (exorbita os limites da regulamentação legal) a violação é tão somente
147
indireta. Para ser direta é necessário que não exista um ato interposto entre o decreto e a Constituição
Federal. ou seja, o decreto deve ser autônomo – regulamentador de assunto tratado na Constituição Federal.
CF, art. 68, § 3º: “As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que
deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional; (...). § 3º Se a resolução determinar a
apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada
qualquer emenda”.
a.2) Controle preventivo realizado pelo Poder Executivo: realiza o controle preventivo através do
veto “jurídico” - art. 66, §1º da CF.
A situação acima trabalhada não deve ser confundida com hipótese em que os partidos políticos ajuízam
ADI, ADC e ADPF.
149
Os partidos políticos, para que ajuízem essas ações, precisam possuir um representante no Congresso
Nacional. Caso percam esse representante, depois de ajuizada a ação, a ADI, ADC e ADPF prosseguem até
o final – a legitimidade é aferida no momento da propositura.
b) repressivo: é aquele realizado após a conclusão do processo legislativo com o objetivo de reparar ofensa
à Constituição. Nessa linha, cumpre destacarmos que os três Poderes poderão exercer tanto o controle
preventivo quanto o repressivo. Distinção: controle preventivo: precipuamente exercido pelo Poder149
Legislativo (Poder Judiciário, excepcionalmente); controle repressivo (controle típico): precipuamente
exercido pelo Poder Judiciário (Poderes Legislativo e Executivo, excepcionalmente). Razão da expressão
“controle jurisdicional”.
Corroborando ao exposto, preleciona Pedro Lenza:
O controle posterior ou repressivo será realizado sobre a lei, e não mais sobre o projeto de
lei, como ocorre no controle preventivo. Vale dizer, os órgãos de controle verificarão se a
lei, ou ato normativo, ou qualquer ato com indiscutível caráter normativo, possuem um vício
formal (produzido durante o processo de sua formação), ou se possuem um vício em seu
conteúdo, qual seja, um vício material. (Direito Constitucional Esquematizado).
Em regra, mas não de forma exclusiva, o controle repressivo é realizado pelo Poder Judiciário. Em virtude
dessa regra, se diz que o sistema de controle adotado é o Sistema Jurisdicional.
→ O controle posterior ou repressivo será realizado sobre a lei, e não mais sobre o projeto de lei, como
ocorre no controle preventivo, podendo ser político, jurisdicional, ou híbrido.
b.1) Controle repressivo realizado pelo Poder Legislativo: CF, art. 49, V e art. 62 e Súmula 347
do STF.
Comentários: O CN pode sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem o poder regulamentar ou
no caso de ultrapassar os limites de delegação de legislativa.
O congresso edita um decreto legislativo sustando o ato normativo naquele que exorbitou os limites conferidos.
É um controle de legalidade, mas indiretamente, reflexamente é um controle de inconstitucionalidade.
150
Obs.: Esse decreto legislativo elaborado para sustar o ato do executivo que exorbitou os limites do poder
regulamentar ou da delegação legislativa pode ser objeto de ADI. (CAIU MP/RJ).
Corroborando ao exposto, preleciona Pedro Lenza: é de competência exclusiva do Presidente da República
expedir decretos e regulamentos para a fiel execução da lei (art. 84, IV). Portanto, ao Chefe do Executivo
compete regulamentar uma lei expedida pelo Legislativo, e tal procedimento será feito por decreto presidencial.
Pois bem, se no momento de regulamentar a lei o Chefe do Executivo extrapolá-la, disciplinando além do limite
nela definido, este “a mais” poderá ser afastado pelo Legislativo por meio de decreto legislativo. Cabe alertar150
que, no fundo, esse controle é de legalidade e não de inconstitucionalidade, como apontado por parte da
doutrina, pois o que se verifica é em que medida o decreto regulamentar extrapolou os limites da lei.
CF, art. 62: “Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar
medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso
Nacional”.
Comentários: em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias,
com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional (Poder Legislativo). Entendendo-a
inconstitucional (vejam: as medidas provisórias têm força de lei), o Congresso Nacional estará realizando controle
de constitucionalidade. Trata-se de exceção à regra geral, haja vista que, nessa hipótese, o controle não é exercido
pelo Judiciário (lembrem: o Brasil adotou o sistema de controle jurisdicional misto), mas sim pelo Legislativo
(Pedro Lenza, Direito Constitucional Esquematizado).
Súmula 347, STF. “O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a
constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público”.
Comentários: O TCU dentre outras competências previstas no art. 71 da CF/88, auxilia o Congresso Nacional
no controle externo. Daí, ao exercer as suas atividades poderá, sempre no caso concreto e de modo incidental,
apreciar a constitucionalidade de uma lei e, se for o caso, deixar de aplicá-la.
b.2) Controle repressivo realizado pelo Poder Executivo: o poder executivo pode negar
cumprimento a uma lei que entenda ser inconstitucional. Trata-se da única hipótese em que o Poder Executivo
pode realizar controle repressivo.
- O chefe do Poder Executivo (Presidente/Governador e Prefeito) pode negar cumprimento a uma lei, desde que
motive e dê publicidade ao seu ato. Cumpre destacarmos que essa negativa pode perdurar apenas até o momento
em que o STF dê uma decisão com efeito vinculante.
Essa possibilidade do não cumprimento da lei não é pacifica, existindo divergência na doutrina.
151
Vejamos:
a) Difuso (ou aberto): é aquele exercício por qualquer órgão do poder judiciário. É também conhecido como
Sistema norte-americano.
- Origem histórica: Marbury versus Madison, Sessão de fev. de 1803 (I, repertório de Cranch, 137-180). 152
- Introduzido na Constituição brasileira em 1891 (constituição republicana) – adoção do modelo
estadunidense (Poder Judiciário como guardião da Constituição).
O controle difuso, é também chamado de controle pela via de exceção ou defesa, ou controle
aberto, sendo realizado por qualquer juízo ou tribunal do Poder Judiciário. Quando
dizemos qualquer juízo ou tribunal, devem ser observadas, é claro, as regras de competência
processual, a serem estudadas no processo civil.
No Ordenamento Jurídico Brasileiro, o controle concentrado foi introduzido pela Constituição de 1934, art.
12 (representação interventiva). A representação interventiva era proposta pelo PGR para que o Presidente
decretasse a intervenção nos Estados, em determinadas situações. A competência para processá-la e julgá-
la era atribuída exclusivamente ao STF.
153
a) Concreto (incidental, por via de defesa ou por via de exceção): aqui a pretensão é deduzida em juízo
através de processo constitucional subjetivo, exercido com a finalidade principal de solucionar controvérsia
envolvendo direitos subjetivos. Observação: Indiretamente, estará protegendo a supremacia da Constituição.
153
O processo constitucional subjetivo é regido pelos princípios e regras do processo civil/processo penal.
O controle concreto é realizado a partir de um caso concreto. O indivíduo recorre ao Poder Judiciário para
proteger direitos subjetivos. Em outras palavras, a preocupação daquele que provoca o controle concreto
não é com a supremacia da Constituição, mas com a proteção de direitos subjetivos.
Exemplo: indivíduo que, ao seu ver, está sendo tributado excessivamente em razão de uma lei federal, a
qual aumentou a alíquota de um determinado imposto – a preocupação deste indivíduo é: não pagar o
imposto majorado e ser restituído. Para isso, incidentalmente, no curso do processo, o Poder Judiciário
deverá declarar a inconstitucionalidade da lei, a qual majorou o imposto.
b) Abstrato (por via de ação, por via direta ou por via principal): aqui a finalidade, precipuamente, é a
de assegurar a supremacia da Constituição. Contudo, ainda que indiretamente, estará protegendo direitos
subjetivos.
- Fundo Histórico
Pode-se afirmar que a noção e ideia de controle difuso de constitucionalidade, historicamente, deve-se ao
famoso caso julgado pelo Juiz John Marshall da Suprema Corte norte-americana, que, apreciando o caso
Marbury v. Madison, em 1803, decidiu que, havendo conflito entre a aplicação de uma lei em um caso concreto
e a Constituição, deve prevalecer a Constituição, por ser hierarquicamente superior
- Definição
154
O controle difuso de constitucionalidade é também conhecido como controle incidental, concreto,
descentralizado ou, ainda, controle aberto. É exercido diante de ocorrências fáticas a serem solucionadas pelo
Poder Judiciário no desempenho comum de sua típica função jurisdicional, na qual se controla a
constitucionalidade de modo incidental - portanto prejudicialmente ao exame do mérito - gerando efeitos
tradicionalmente retroativos e inter partes.
Nessa modalidade de controle, em que se faz a fiscalização concreta de constitucionalidade, qualquer juiz
ou Tribunal do Poder Judiciário possui competência para verificar a legitimidade constitucional dos atos estatais,
não havendo nenhuma restrição quanto ao tipo de processo. Segundo o STF, “Todo e qualquer órgão investido
do ofício judicante tem competência para proceder ao controle difuso de constitucionalidade”. Assim, o
controle difuso, segundo o modelo norte-americano, realiza-se no caso concreto, em qualquer ação,
incidentalmente (Nathália Masson, Manual de Direito Constitucional, 2017).
Cumpre destacarmos que nessa via de controle, o juízo de verificação da compatibilidade da norma com o
texto constitucional não é a questão principal (objeto da ação), mas, tão somente, uma questão prejudicial, isto
é, um antecedente lógico a ser resolvido antes de se passar a questão principal.
Exemplo: um sujeito aciona o Poder Judiciário na tentativa de paralisar a cobrança de certo tributo, ao
argumento de que o mesmo é incompatível com a Lei Maior. Antes mesmo de verificar se o pagamento da
obrigação tributária é, ou não, devido, o órgão jurisdicional terá que resolver, como premissa lógica que permitirá
solucionar a questão central, se o tributo é compatível com a Constituição (a constitucionalidade ou
inconstitucionalidade) funcionará como questão prejudicial, sendo necessária a sua análise para posterior análise
do mérito da demanda.
- Legitimidade
Diferentemente do controle concentrado, no controle difuso é extenso o rol de autores, sendo eles: quaisquer
pessoas, no exercício do seu Direito Constitucional de ação, o Ministério Público, sendo possível, ainda, que o
juiz ou Tribunal suscite a inconstitucionalidade ex officio (independentemente de provocação das partes).
- Objeto
155
Nathália Masson disciplina que é válido manejar essa via de controle para verificar a compatibilidade com
a Constituição de qualquer ato emanado dos Poderes Públicos, não importando a esfera federativa que o
produziu, isto é, se o ato normativo é federal, estadual, distrital ou municipal, tampouco se sua natureza é de ato
normativo ou não, primário ou secundário.
- Parâmetro
O controle difuso permite a fiscalização dos atos emanados do Poder Público perante qualquer norma
constitucional, ainda que ela já tenha sido revogada, sendo unicamente necessário verificar se essa norma155
constitucional estava em vigor no momento da criação do ato. Nesse sentido, no controle difuso é perfeitamente
factível provocar o Poder Judiciário para solucionar uma ocorrência fática que somente poderá ser decidida
depois da analisada a compatibilidade de, por exemplo, uma lei promulgada em 1982 em face da Constituição
em vigor na época de sua edição (Constituição de 1967, com a redação da pela EC nº 1 /1969).
Observações Pontuais
Qual órgão do Poder Judiciário pode exercer o controle difuso, pois não existe restrição em relação à
competência. Dito de outra forma, o controle difuso é aberto, o qual pode ser feito qualquer juiz ou
Tribunal dentro de sua esfera de competência.
No controle difuso a finalidade principal é a proteção de direitos subjetivos - a pretensão é deduzida em
juízo através de um processo constitucional subjetivo.
Como o objeto principal da ação é a proteção de direitos e não da ordem constitucional objetiva, a
legitimidade dependerá do interesse de agir. Portanto, aquele que se afirmar titular do direito possuirá
legitimidade ativa e aquele a quem for atribuída a titularidade do dever figurará no polo passivo.
No controle abstrato não importa se a norma (parâmetro e/ou objeto) está em vigor ou se foi revogada.
Quando o fato ocorreu, a norma estava em vigor? Ela foi violada por uma lei vigente à época? Se a
resposta for positiva, houve violação a um direito subjetivo a justificar o controle incidental. Portanto,
em relação ao parâmetro é aplicado o princípio “tempus regit actum”. Isto é, devem ser analisadas quais
as normas vigentes no momento em que o fato ocorreu. Não interessa se a norma foi posteriormente
revogada. Assim, qualquer norma formalmente constitucional, vigente à época do fato, poderá ser
invocada como parâmetro no controle difuso-concreto de constitucionalidade. (Marcelo Novelino).
Quanto ao objeto, não há nenhum requisito específico em relação ao objeto. Basta que seja um ato
emanado dos poderes públicos incompatível com a Constituição.
CF, Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do
respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público.
No controle difuso, a exigência existe só para a declaração de inconstitucionalidade da lei. Dessa forma,
caso o órgão fracionário opte pela constitucionalidade do diploma, ele mesmo poderá prolatá-la, pois só estará
reforçando a presunção de constitucionalidade que a norma já possui.
→ A Constituição Federal prevê que a cláusula de reserva de plenário seja observada nos casos de
declaração de inconstitucionalidade, ou seja, se for para declarar a lei constitucional não é necessário observá-
la.
Candidato, a cláusula de reserva de plenário aplica-se às Turmas Recursais dos Juizados Especiais? Não
Excelência, isso porque, embora órgão recursal, as Turmas de Juizados não são consideradas “tribunais” (STF,
ARE 792.562-AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 18.03.2014, 2.ª T., DJE de 02.04.2014).
Súmula Vinculante nº 10
Súmula Vinculante 10/STF. “Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a
decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no
todo ou em parte”.
Segundo o Professor Marcelo Novelino, a súmula vinculante nº 10 foi criada para evitar declaração
escamoteada de inconstitucionalidade – o Tribunal não aplica a lei por considerá-la incompatível com a
157
Constituição, mas não declara a inconstitucionalidade expressamente com o único intuito de não ter que submeter
a questão ao Pleno.
Assim, depois que o plenário (ou órgão especial) do Tribunal ou plenário do STF já tiver decidido o
incidente de inconstitucionalidade, não será mais necessário que os órgãos fracionários, nos casos
subsequentes, submetam a mesma questão ao pleno ou ao órgão especial. Bastará que eles apliquem a
decisão anteriormente prolatada pelo órgão pleno ou especial do Tribunal, ou pelo plenário do STF.
➢ Quando o Tribunal utilizar a técnica da interpretação conforme a Constituição: não se aplica o Full Bench.
O STF adotou o entendimento de que no caso de interpretação conforme, por veicular um juízo de
constitucionalidade - a lei é constitucional, desde que interpretada naquele sentido –, não se exige a
observância da cláusula de reserva de plenário
➢ Nas hipóteses de decisão em sede de medida cautelar: não se aplica o Full Bench.
158
6.3 Efeitos da decisão
→ Para o Supremo Tribunal Federal, a lei inconstitucional é um ato nulo. Se a lei possui um vício de origem
(nasce morta), o efeito da decisão, em regra, é retroativo (“ex tunc”).
→ Cumpre destacarmos que, embora a lei seja um ato nulo, admite-se a modulação temporal dos efeitos da
decisão. Os princípios da segurança jurídica ou os manifestados sob a forma de interesse social relevante, podem
justificar que o princípio da nulidade seja afastado em determinadas circunstâncias. Assim, excepcionalmente,
o STF conferir à decisão efeito “ex nunc” (suspensão a partir da decisão) ou “pro futuro” (estabelecimento
159
de um momento futuro a partir do qual a decisão começará a produzir efeitos). Tal possibilidade de modulação
está prevista nas Leis nº 9.868/99 e nº 9.882/99, as quais exigem dois requisitos básicos:
➢ Quórum de 2/3 dos Ministros (oito) – não é maioria absoluta.
➢ Razões de segurança jurídica ou ao excepcional interesse social.
Lei n. 9.882/99, art. 11: “Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no
processo de argüição de descumprimento de preceito fundamental, e tendo em vista razões
de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal
Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de
outro momento que venha a ser fixado”.
Se uma lei ou ato normativo é declarado inconstitucional pelo STF, incidentalmente, ou seja,
em sede de controle difuso, essa decisão, assim como acontece no controle abstrato, também
produz eficácia erga omnes e efeitos vinculantes. O STF passou a acolher a teoria da
abstrativização do controle difuso. Assim, se o Plenário do STF decidir a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em
controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja,
eficácia erga omnes e vinculante.
160
Houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88. A nova interpretação deve ser a
seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional, mesmo em sede de controle difuso,
a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica ao Senado com o
objetivo de que a referida Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido. STF.
Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017 (Info
886).
160
Pela teoria tradicional, em regra, a decisão que declara incidentalmente uma lei inconstitucional produz efeitos
inter partes e não vinculantes.
Após declarar a inconstitucionalidade de uma lei em controle difuso, o STF deverá comunicar essa decisão ao
Senado e este poderá suspender a execução, no todo ou em parte, da lei viciada (art. 52, X):
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: X - suspender a execução, no todo ou
em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal
Federal;
A decisão do Senado de suspender a execução da lei seria discricionária. Caso ele resolva fazer isso, os efeitos
da decisão de inconstitucionalidade do STF, que eram inter partes, passam a ser erga omnes. Assim, pela teoria
tradicional a resolução do Senado ampliaria a eficácia do controle difuso realizado pelo Supremo.
Dessa forma, pela teoria tradicional, a eficácia da decisão do STF que declarou, incidentalmente, a Lei estadual
nº 3.579/2001 inconstitucional produziria efeitos inter partes e não vinculante.
Ocorre que o STF decidiu abandonar a concepção tradicional e fez uma nova interpretação do art. 52, X, da
CF/88.
- “Novo Entendimento”
O STF decidiu que, mesmo se ele declarar, incidentalmente, a inconstitucionalidade de uma lei, essa decisão
também terá efeito vinculante e erga omnes.
A fim de evitar anomias e fragmentação da unidade, deve-se atribuir à decisão proferida em sede de controle
incidental (difuso) a mesma eficácia da decisão tomada em sede de controle abstrato.
Nessa esteira, o § 5º do art. 535 do CPC/2015 reforça esse tratamento uniforme:
Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por
carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos
próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:
161
O Min. Gilmar Mendes afirmou que é preciso fazer uma releitura do art. 52, X, da CF/88. Essa nova interpretação
deve ser a seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional, mesmo em sede de controle difuso, a decisão
já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida
Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido.
Mutação constitucional
O Min. Celso de Mello afirmou que o STF fez uma verdadeira mutação constitucional com o objetivo de expandir
os poderes do Tribunal com relação à jurisdição constitucional.
Assim, a nova intepretação do art. 52, X, da CF/88 é a de que o papel do Senado no controle de
constitucionalidade é simplesmente o de, mediante publicação, divulgar a decisão do STF. A eficácia vinculante,
contudo, já resulta da própria decisão da Corte.
Candidato, pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da abstrativização do controle difuso?
SIM. Apesar de essa nomenclatura não ter sido utilizada expressamente pelo STF no julgamento, o certo é que
a Corte mudou seu antigo entendimento e passou a adotar a abstrativização do controle difuso.
Em uma explicação bem simples, a teoria da abstrativização do controle difuso preconiza que, se o Plenário do
162
STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle
difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante.
Para essa corrente, o art. 52, X, da CF/88 sofreu uma mutação constitucional e, portanto, deve ser reinterpretado.
Dessa forma, o papel do Senado, atualmente, é apenas o de dar publicidade à decisão do STF. Em outras
palavras, a decisão do STF, mesmo em controle difuso, já é dotada de efeitos erga omnes e o Senado apenas
confere publicidade a isso.
Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da transcendência dos motivos determinantes?
NÃO. Segundo a teoria da transcendência dos motivos determinantes, além do dispositivo, os motivos
determinantes (ratio decidendi) da decisão também seriam vinculantes.
Com a decisão acima explicada, o STF chega mais próximo à teoria da transcendência dos motivos
determinantes, mas não se pode afirmar categoricamente que esta passou a ser adotada pelo Tribunal. Penso que
não seja uma posição segura para se adotar em provas, considerando que não houve afirmação expressa nesse
sentido.
Fonte: http://www.dizerodireito.com.br/2017/12/informativo-comentado-886-stf.html
Conforme estudado acima, qualquer órgão do Poder Judiciário, desde que dotado de jurisdição, pode
realizar o controle difuso, sendo justamente essa possibilidade que o diferencia do chamado controle
concentrado. Em assim sendo, o controle difuso pode ser engendrado por meio de qualquer tipo de ação judicial.
Dessa forma, roda vez que a solução de uma causa específica depender do cotejo preliminar entre um
dispositivo e a Constituição, estaremos diante do controle difuso que se realiza, pois, independentemente do
exemplar de ação proposta.
163
Em um primeiro momento, por construção jurisprudencial, tinha-se por inviável a efetivação do controle
difuso em sede de ação civil pública, no intuito de evitar a suposta invasão do campo de atuação das ações diretas
de inconstitucionalidade, bem como impedir a subtração de competência do STF.
Contudo, evoluiu a jurisprudência do STF para admitir o manejo da ação civil pública no controle difuso
de constitucionalidade, desde que o objeto central da ação seja a tutela de uma pretensão concreta, jamais163
a declaração de inconstitucionalidade em tese de uma lei, sendo a controvérsia constitucional suscitada como
mera questão prejudicial, cuja análise seja imprescindível à solução do litígio posto no pedido principal.
Nessa linha, a finalidade da imposição desse requisito foi impedir a utilização da ACP como sucedâneo a
ADI, com o nítido propósito de subversão do sistema de controle de constitucionalidade brasileiro. Nesse
sentido, são as palavras do Min. Celso de Mello:
Assim, temos que o debate constitucional não poderá se forma alguma ser colocada como pedido principal
da ação, sob pena de, usurpada indevidamente a competência do STF. Nesse sentido, vejamos:
Vamos Esquematizar?
Fonte: esse material teve como base para a sua construção – Manual de Direito Constitucional, Nathália Masson,
2017; Direito Constitucional Esquematizado, Pedro Lenza; Curso de Direito Constitucional, Marcelo Novelino,
blog do Dizer o Direito (http://www.dizerodireito.com.br/) e anotações pessoais de aula.
165
DIREITO CONSTITUCIONAL II
1.1. Legislação
A ação direta de inconstitucionalidade e a ação direta de constitucionalidade possuem caráter dúplice (ou
ambivalente) que significa dizer que são da mesma natureza. A diferença fundamental é que a ADI busca a
declaração que aquela lei é incompatível com a Constituição Federal, ao passo que a ADC busca reafirmar a
presunção de constitucionalidade de determinada lei perante a Constituição Federal.
O caráter dúplice das referidas ações pode ser atestado da análise do art. 24 da Lei nº 9.868/99. Vejamos:
Nessa linha, cumpre destacarmos que quando uma mesma lei é objeto de uma ADI e de uma ADC elas são
reunidas e julgadas em conjunto, julgando uma procedente e outra improcedente. O que as diferencia é o
objetivo de quem as propõe.
166
Quando a ADC surgiu se criou uma polêmica sobre sua constitucionalidade, sob o argumento de que essa
ação não teria utilidade, com base no princípio da presunção da constitucionalidade das leis.
Inobstante o argumento lançado, devemos recordar que a presunção de constitucionalidade das leis é166
relativa.
Nessa esteira, visando evitar que se recorra de forma constante ao Supremo para declarar a
Constitucionalidade de uma norma que já se presume constitucional (presunção relativa), é que se exige como
pressuposto para seu ajuizamento a existência de “controvérsia judicial relevante”.
Assim, temos que a ADC tem um requisito de admissibilidade de suma importância – EXISTÊNCIA DE
CONTROVÉRSIA JUDICIAL RELEVANTE.
A controvérsia tem que ser judicial, não podendo ser meramente doutrinária. Nessa linha, cumpre
destacarmos que o Supremo já se pronunciou dizendo que seis ou sete julgados questionando a
constitucionalidade da lei não seriam suficientes. Vale lembrar que a controvérsia precisa ser efetiva, não
bastando ser potencial.
Candidato,
A ADPF, assim como a ADC possui um pressuposto/requisito específico, qual seja, caráter subsidiário.
Assim, a ADPF só é cabível quando inexistir outro meio eficaz para sanar a lesividade.
167
Esse caráter subsidiário está previsto no art. 4º, §1º da Lei 9882. Vejamos:
Art. 4º. §1º Não será admitida arguição de descumprimento de preceito fundamental quando
houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.
Candidato, e o que significa outro meio eficaz de sanar a lesividade? O STF interpreta no sentido de que deve
ter a mesma efetividade, imediaticidade e amplitude da ADPF, ou seja, que ele substitua aquilo que a ADPF
poderia fazer. Um exemplo disso foi o da decisão da ADPF 128/DF, que tinha como objeto uma súmula
167
vinculante. O STF decidiu que existia o pedido de cancelamento ou revisão de súmula vinculante. É um
mecanismo que tem a mesma imediaticidade, amplitude e efetividade, de forma a não se observar o caráter
subsidiário da ADPF.
É cediço que nem todo princípio ou regra do processo civil aplica-se as ações de controle concentrado. Contudo,
o princípio da fungibilidade é aplicável as referidas ações, segundo o STF, salvo se for erro grosseiro.
Exemplos:
- ADPF 132.
- ADI 4.163/SP.
– ADI 378/DF.
Antes da Constituição Federal de 1988 a legitimidade era só do Procurador Geral da República. Atualmente,
o rol de legitimados está no art. 103 da CF e é bem mais extenso, sofrendo uma ampliação, não se restringindo
mais ao PGR.
O rol do art. 103 deve ser interpretado restritivamente, ou seja, trata-se de um rol taxativo (numerus
clausus).
I – o Presidente da República;
VI – o Procurador-Geral da República;
No tocante aos legitimados, cumpre destacarmos que o Supremo Tribunal Federal criou uma classificação
que não tem previsão nem na Constituição Federal nem na lei infraconstitucional.
Nessa linha, dividiu os legitimados em legitimados universais, que podem questionar qualquer lei ou ato
normativo e em legitimados especiais, que teriam que comprovar a pertinência temática, ou seja, teria que provar
que aquele objeto impugnado viola algum interesse do grupo ou classe que representam.
No tocante ainda aos legitimados, como os referidos não estão protegendo direito subjetivo e sim a
supremacia da Constituição, não se admite a desistência dessas ações, a assistência e por fim, a intervenção de
terceiros. Vejamos:
I. Desistência;
II. Assistência;
É aquele que não precisa demonstrar pertinência temática, pode questionar qualquer lei ou ato normativo
169
sem ter que demonstrar a Corte qualquer nexo de causalidade entre a legislação impugnada e o interesse que ele
representa.
→ não precisam provar a pertinência temática, ou seja, não precisa demonstrar qual o interesse deles em
promover a ação.
I – o Presidente da República;
Candidato, o vice-presidente também tem legitimidade? Só pode ajuizar essas ações se estiver em exercício, leia-
se, se estiver substituindo o Presidente de fato, posto que nesse caso estará na condição de Presidente. Esse
mesmo entendimento aplica-se ao “Vice Governador”. Por fim, cumpre destacarmos que a legitimidade deve
ser auferida no momento da propositura.
Candidato, a mesa do Congresso Nacional (formada por membros da Mesa do Senado e da Mesa dos Deputados)
tem legitimidade ativa? Não, pois a interpretação deve ser restritiva. Assim, se não há previsão da Mesa do
Congresso Nacional, essa não poderá propor.
VI – o Procurador-Geral da República;
O STF entende que a legitimidade do Partido Político deve ser analisada no momento da propositura da ação. A
perda superveniente de representação no Congresso Nacional não obsta a continuidade da ação.
Vamos Esquematizar?
170
Legitimados Ativo Universal
Presidente da República
Mesa do Senado Federal
Mesa da Câmara dos Deputados
Procurador Geral da República
Conselho Federal da Ordem dos Advogados
Partido Político com representação no Congresso Nacional
É aquele que precisa demonstrar pertinência temática, que significa dizer que precisa demonstrar o nexo
entre o conteúdo do objeto impugnado e suas finalidades ou interesses.
→ devem provar pertinência temática para entrar com a ação, ou seja, tem que demonstrar o motivo que
entraram com a ação.
I – o Presidente da República;
VI – o Procurador-Geral da República;
Observação Pontual:
A entidade de classe para ser considerada de âmbito nacional deve estar presente em pelo menos 1/3 dos
Estados da Federação, sendo essa a regra. Contudo, temos uma exceção! No caso da relevância nacional da
atividade, o STF admitiu a legitimidade.
171
Assim, temos que para ser considerada de âmbito nacional, a entidade deve estar presente em pelo menos um
terço dos estados (nove estados) da federação, tendo como base a lei dos partidos políticos que considera esse
numerário para considerar o partido político como de âmbito nacional. AD1 385 – AgR.
Exceção - ADI 2866-MC: pode ocorrer dependendo da relevância nacional da atividade exercida pela entidade.
Foi o que ocorreu na ADI citada quando o STF admitiu a legitimidade dos produtores de sal mesmo sem estarem
presentes em nove estados da federação em decorrência da relevância da atividade.
Vamos Esquematizar?
Candidato, quais desses legitimados precisam ser representados por advogado por não possuírem capacidade
postulatória?
➢ Partidos Políticos
➢ Confederações Sindicais
➢ Entidades de Classe
Lembre-se: os únicos legitimados que não tem capacidade postulatória são os partidos políticos, as confederações
sindicais e as entidades de classe.
172
A causa de pedir nessa espécie de processo é aberta, isso significa que inobstante o legitimado tenha
indicado determinada dispositivo X inconstitucional, o Supremo poderá reconhecer a inconstitucionalidade de
outro dispositivo que não foi levantado a sua inconstitucionalidade.
Na peça o legitimado indica o dispositivo violado. O STF, contudo, não fica vinculado ao dispositivo172
alegado, podendo declarar a inconstitucionalidade com base na violação a outro dispositivo. O STF não fica
vinculado ao parâmetro invocado. ADPF 139.
Qualquer norma formalmente constitucional pode ser invocada como parâmetro para ADI ou ADC – parte
permanente / ADCT – nas normas de eficácia exaurível / princípios implícitos / tratados e convenções
internacionais de Direitos Humanos (os aprovados por 3/5 em dois turnos de votação).
3.3. ADPF
Preceito fundamental (norma imprescindível à identidade da Constituição e ao regime por ela adotado).
Exs.: título I, II (direitos e garantias fundamentais), art. 34, VII (princípios constitucionais sensíveis),
cláusulas pétreas. Há outros espalhados pela CF: direito à saúde, ao meio ambiente. (* Exemplos de preceito
fundamental Na ADPF 405 MC/RJ, a Min. Rosa Weber afirmou que poderiam ser considerados preceitos
fundamentais: • a separação e independência entre os Poderes; • o princípio da igualdade; • o princípio
173
• Cláusulas pétreas
4. Objeto
a) Pedido: a regra é adstrição ao pedido. Fica vinculado ao dispositivo que foi impugnado na inicial. Exceção:
situações em que mesmo que o Supremo não tenha sido provocado a analisar determinado dispositivo, ele poderá
fazê-lo:
1ª situação: no caso de interdependência entre dois dispositivos (dois dispositivos que são dependentes). –
inconstitucionalidade por arrastamento ou por atração – ADI 4451/MC/REF).
b) Perspectivas:
b.1) Material
b.2) Temporal
b.3) Espacial
174
Perspectiva Material
ADI e ADC: para que seja objeto do controle deve ser LEI ou ATO NORMATIVO vigente e eficaz que viole
diretamente a Constituição.
• O ato normativo deverá ser ainda GERAL e ABSTRATO.
• É necessário ainda que a lei ou ato estejam vigente e sejam eficazes.
• A violação a Constituição Federal deve ser direta.
Atos que não podem ser admitidos como objeto de ADI ou ADC:
• Atos tipicamente regulamentares;
• Normas constitucionais originárias – não pode ser objeto de controle em razão do princípio da unidade
da Constituição.
Normas elaboradas pelo Poder Constituinte Originário: não poderá ser objeto de controle em razão
do princípio da unidade da Constituição – afasta a tese da hierarquia entre normas constitucionais.
Ex.: ADI n. 4097
Normas elaboradas pelo Poder Derivado Reformador ou Poder Derivado Revisor: devem observar as
limitações previstas na CF (temporais, circunstancias, formais e materiais). Em caso de não observância
poderão ser objeto de controle de constitucionalidade.
• Lei ou normas de efeitos concretos de eficácia já exaurida;
• Leis temporárias: segundo Marcelo Novelino, leis temporárias são aquelas que vigem apenas durante
um prazo pré-fixado. Caso o período de vigência já tenha se esgotado, não poderá a lei temporária ser
objeto de ADI ou ADC porque não estará mais produzindo efeitos e, portanto, não ameaçará a
supremacia da Constituição.
175
Contudo, existe uma exceção: se a lei temporária ainda estiver em seu período de produção de efeitos e
for impugnada em tempo adequado – ADI ou ADC for proposta enquanto a lei temporária ainda estiver
produzindo efeitos - o STF admite que tal lei seja objeto de controle de constitucionalidade, mesmo que
a sua eficácia fique exaurida posteriormente (ADI n. 4426).
• Normas revogadas: a norma revogada não produz mais efeitos e, portanto, não ameaça a supremacia da
Constituição. Portanto, em regra, não são admitidas como objeto de controle de constitucionalidade. 175
Contudo, o STF admite duas exceções:
I. no caso de fraude processual:
II. na hipótese do julgamento de mérito ser realizado sem que o Tribunal seja informado da revogação da
lei (ADI n. 951-ED).
ADI 3147-ED: decreto autônomo objeto de impugnação em ADI, mas revogado por outro
decreto. Distinção em relação à ADI n. 951-ED: o segundo ato possuía conteúdo idêntico
ao do primeiro. STF decidiu que embora o decreto tenha sido revogado, o novo decreto
possuía conteúdo idêntico ao anterior e, portanto, o julgamento deveria ser aplicado para
ambos. Em outras palavras, quando um ato normativo é revogado por outro, de idêntico
conteúdo, a decisão pode abranger ambos.
ADPF: o objeto da ADPF não encontra-se previsto na CF, mas na Lei nº 9.882/99, art. 1º. Vejamos:
Art. 1º A arguição prevista no § 1o do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante
o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental,
resultante de ato do Poder Público.
O objeto da ADPF é ato do poder público que viole diretamente preceito fundamental da Constituição.
A expressão “ato do Poder Público” é mais ampla que “lei ou ato normativo”. Portanto, há possibilidade de que
um ato do Poder Público possa ser impugnado em ADPF mesmo não sendo lei ou ato normativo.
Conclusão: o objeto da ADPF é ato do Poder Público que viole, diretamente, preceito fundamental da
Constituição.
• Decisão judicial transitada em julgado: nesse caso, seria utilizado como espécie de sucedâneo da ação
rescisória. Porém, se a decisão ainda não tiver transitado em julgado, poderá ser objeto da ADPF.
• Leis revogadas (não há entendimento consolidado).
ADPF n. 49: não admissão, pelo relator (Min. Menezes Direito), de ADPF que tinha como
objeto lei revogada. Foi utilizado o mesmo raciocínio aplicado à ADI e à ADC: estando
revogada não há ameaça à supremacia da Constituição.
ADPF n. 33: Em seu voto, o Min. Gilmar Mendes afirmou ser possível (questão obter dicta
– não fez parte da ratio decidendi).
Perspectiva Temporal
Conforme já estudamos, o Ordenamento Jurídico brasileiro não se admite, via de regra, a inconstitucionalidade
superveniente.
- ADC: normas posteriores ao parâmetro invocado. Para que um ato possa ser objeto de ADC é preciso que ele
seja produzido após o parâmetro invocado.
Leis e atos normativos anteriores a Emenda 3/93 (emenda que critou a ADC) podem ser objetos de ADC,o que
não pode ser é anterior ao parâmetro constitucional.
- ADPF: é peculiar, pois admite tanto normas anteriores quanto posteriores ao parâmetro, é o que disciplina a
Lei n. 9.868/99, art. 1º, parágrafo único, I. Vejamos:
Perspectiva Espacial
Obs.: o DF possui competência híbrida (acumula a competência estadual ou municipal). Caso a lei ou o ato
normativo do DF possua conteúdo estadual poderá ser objeto de ADI. No entanto, caso possua conteúdo
municipal, não. Nesse sentido, a Súmula do STF. Vejamos:
Súmula 642/STF: “Não cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal
derivada da sua competência legislativa municipal”.
O “amicus curiae”, em tradução literal, seria espécie de “amigo da Corte”, ou seja, o “amicus curiae” é
alguém que pode contribuir para a decisão a ser dada pelo Tribunal.
O “amicus curiae” exerce importante papel no âmbito do controle de constitucionalidade em razão da ausência
de partes formais - dificuldade na elaboração de uma síntese por não possuir argumentos antagônicos. Contribui
para:
• Pluralizar o debate constitucional.
• Conferir maior legitimidade democrática à decisão.
Assim, o “amicus curiae” traz ao Tribunal argumentos, os quais contribuem para pluralizar o debate e conferir
maior legitimidade democrática à decisão porque são órgãos ou entidades representativas da sociedade. Tal papel178
está relacionado ao método concretista da constituição aberta de Peter Häberle.
➢ Natureza do Amicus Curiae
Conforme o professor Fredie Didier Jr., o “amicus curiae” é auxiliar do juízo. No entanto, tal concepção
não é majoritária, pois se entende que o “amicus curiae” seria uma espécie de intervenção de terceiros
(entendimento adotado pela maioria dos Ministros do STF, p. ex.).
Cumpre destacarmos que, embora a previsão legal, no âmbito do controle abstrato, seja apenas à ADI,
aplica-se a figura do “amicus curiae”, por analogia, à ADC e à ADPF.
Por fim, a figura do “amicus curiae” é admita no controle difuso-concreto. Atualmente, está regulamentada
no CPC, art. 138, o qual se encontra no capítulo referente às intervenções de terceiro.
➢ Admissibilidade
A participação do amicus curiae pode ser decorrente de requerimento pelo próprio amicus curiae, além
disso, pode ser solicitada pelo Supremo.
Assim:
o Requerida pelo “amicus curiae”: cabe ao Relator admiti-lo ou não – o despacho de admissão é
irrecorrível. O que é irrecorrível é se for o despacho de admissão. Se não admitir, cabe agravo para o
Supremo.
o Solicitada pelo STF de ofício.
➢ Requisitos de Admissibilidade
Para que se admita a participação do amicus curiae, é necessário a observância de dois requisitos, um de
natureza objetiva e outro de natureza subjetiva.
179
Na jurisprudência, além desses dois requisitos, no âmbito do controle abstrato, tem se exigido que seja pessoa
jurídica (órgão ou instituição) - não são admitidas pessoas físicas.
E por fim, a existência de pertinência temática – ou seja, demonstrar que o conteúdo impugnado afeta, de
alguma forma, o seu interesse. 179
➢ Forma de manifestação
- é possível de manifestar oralmente;
- através de memoriais (por escrito);
Lei n. 9.868/99, art. 7º. “Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta
de inconstitucionalidade [regra].
(...)
§ 1º: A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza180
a interposição de recursos [regra – aplicada ao controle concentrado abstrato], ressalvadas
a oposição de embargos de declaração [não é aplicado ao controle concentrado abstrato]
e a hipótese do § 3º.
§ 2º: Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir
os poderes do amicus curiae.
§ 3º: O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de
demandas repetitivas”
Diferenças:
a) Legitimados:
Na Lei nº 9.868/99 não se admite a participação de pessoa física/natural, ao passo que no CPC admite-se também
a pessoa natural.
Assim:
b) Recursos:
• ADI/ADC/ADPF: “amicus curiae” não tem legitimidade para requerer medida cautelar nem para interpor
recurso.
• CPC: pode opor embargos declaratórios e recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas
repetitivas.
181
Art. 103, § 1º: “O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações
de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal
Federal”.
O STF interpreta a regra da Constituição Federal, com temperamentos no sentido de que não é necessário181
que o PGR seja formalmente intimado a se manifestar em todos os processos, mas, sim, que possua conhecimento
da tesa discutida.
O Procurador-Geral da República pode ser intimado em todos os processos de competência do STF, ocasião
em que atuará como “custos constitutionis”.
O Advogado-Geral da União possui importante função pelo fato de não ter autor e réu nessas espécies de ações.
A Constituição Federal atribui ao AGU uma função distinta da que ele exerce normalmente (CF, art. 131).
Portanto, além de chefe da Advocacia Geral da União, exerce a função especial de “defensor legis” – o AGU
defende a presunção de constitucionalidade das leis.
CF, art. 103, § 3º: “Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade,
em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União,
que defenderá o ato ou texto impugnado”.
A função do AGU é diferente da exercida pelo PGR, o qual emite pareceres objetivando a proteção da ordem
constitucional objetiva. O AGU é obrigado a defender o ato impugnado – curador da presunção de
constitucionalidade.
Candidato, sabendo que o AGU é o chefe da Advocacia-Geral da União, questiona-se: estaria ele obrigado a
defender também as leis estaduais? Excelência, O AGU, embora possua função geral de chefe da Advocacia-
Geral da União, ao atuar no âmbito do controle abstrato, estará atuando com uma função especial: “defensor
legis”. Por isso, o entendimento é de que cabe a ele defender a lei ou o ato normativo federal ou estadual.
182
O STF adota o entendimento de que o AGU não estaria obrigado a defender o ato impugnado em determinadas
hipóteses.
6. Liminar
Existem dois quóruns diferentes, que é o de presença de votação (se esse número mínimo não estiver presente
não há o julgamento dessas ações) e o quórum de julgamento (quórum necessário para declarar a referida lei
constitucional ou inconstitucional).
Vamos Esquematizar?
Lei n. 9.868/99, art. 21: “O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de
seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de
constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam
o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da
183
ação até seu julgamento definitivo”. No caso da ADC, não há exceções, somente a maioria
absoluta é que pode conceder a liminar.
- ADI: Presidente (recesso) – concessão monocrática pelo Presidente do Tribunal durante o período de recesso,
se houver a necessidade de concessão da liminar. Relator (em caso de extrema urgência).
Assim: 183
Lei n. 9.868/99, art. 10: “Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta
será concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do Tribunal, observado o
disposto no art. 22, após a audiência dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou
ato normativo impugnado, que deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias”.
Lei n. 9.882/99, art. 5º: “O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de
seus membros, poderá deferir pedido de medida liminar na argüição de descumprimento de
preceito fundamental.
Erga omnnes – efeitos contra todos: trata-se de uma circunstância inerente ao controle concentrado em que não
há partes formais (autor e réu), assim a decisão não poderá ser somente entre as partes. Assim, temos que pela
sua própria natureza os efeitos é erga omnes.
Efeito vinculante.
184
Art. 21. Parágrafo único. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará
publicar em seção especial do Diário Oficial da União a parte dispositiva da decisão, no
184
prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de cento e
oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia.
Obs.1: a publicação é necessária para que todos possam ter conhecimento da concessão daquela liminar, posto
que não se trata de um processo apenas com partes. Essa publicação deverá ser feita no prazo de 10 dias.
Obs.2: se em 180 dias o Supremo não decidir o mérito, a liminar exaure a sua eficácia.
Cumpre destacarmos que, embora a Lei n. 9.868/99 não possua nenhuma previsão específica sobre a suspensão
de processos, no caso de ADI, o STF, por analogia, tem aplicado o artigo 21.
ADPF → o efeito da concessão da liminar é suspensão da tramitação de processos, de efeitos de decisões judiciais
ou de medidas, salvo se decorrentes da coisa julgada.
Lei n. 8.882/99, art. 5º, § 3º: “A liminar poderá consistir na determinação de que juízes e
tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de
qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto da argüição de
descumprimento de preceito fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada”.
Obs.: efeitos da negativa da liminar. Negá-la significa dizer que os pressupostos de cabimento da liminar não
estão presentes. Não produz nenhum tipo de efeito.
ADC →no caso da ADC, não há que se falar na eficácia temporal porque a ADC, o efeito da liminar é a de
suspender o julgamento de processos daquele momento em diante.
Na ADI e na ADPF essa questão é relevante para sabermos se a lei que será suspensa daquele momento em diante
ou com efeitos retroativos, ou seja, desde que foi criada.
185
ADI → em regra, a liminar possui efeito ex nunc (daquele momento da concessão em diante). Contudo, temos
exceção, possibilidade de modulação temporal dos efeitos da decisão no tempo.
Art. 11. § 1º A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito
ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.
Dessa forma, temos que Em regra, a legislação revogada pela nova lei impugnada voltará a produzir efeitos
novamente – efeito repristinatório tácito.
ADPF → por analogia, o efeito da concessão da liminar é o mesmo da ADI. Assim, a liminar possui efeito ex
nunc (daquele momento da concessão em diante) – a lei ficará suspensa daquele momento para frente.
Lei n. 9.868/99, art. 11: “Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará
publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União a
parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo solicitar as informações à
autoridade da qual tiver emanado o ato, observando-se, no que couber, o procedimento
estabelecido na Seção I deste Capítulo”.
A obrigatoriedade de tais decisões ocorre após a publicação. Razão: o processo objetivo não possui partes formais
– é preciso dar publicidade.
7. Decisão de mérito
7.1. Quórum
De forma diferente da liminar, em que pode ocorrer uma decisão monocrática pelo relator ou pelo
presidente, na DECISÃO DE MÉRITO, não existe essa possibilidade.
186
Na decisão de mérito sempre o plenário do STF precisa se manifestar. A única exceção a essa regra, é
quando o relator não admite a ação. O relator pode de forma monocrática indeferir, hipótese em que será cabível
a interposição de agravo.
Lembre-se: Ao contrário da liminar, em que pode ocorrer uma concessão monocrática, a decisão de mérito
é analisada exclusivamente pelo Plenário do STF - exceção: Relator não admite a ação.
Obs.1: Se o quórum mínimo de seis ministros não é alcançado para proclamar a constitucionalidade ou a
inconstitucionalidade, a decisão não produzirá efeitos “erga omnes” e efeitos vinculantes em relação àquele
ponto.
STF – ADI 4.165/DF. [...] O Tribunal julgou a ação improcedente, por maioria. Quanto à
eficácia erga omnes e ao efeito vinculante da decisão em relação ao §4º do art. 2º da Lei nº
11.738/2008, o Tribunal decidiu que tais eficácias não se aplicam ao respectivo juízo de
improcedência, contra os votos dos Senhores Ministros Joaquim Barbosa (Relator) e Ricardo
Lewandroswki.
Obs.2: a decisão de mérito é uma decisão irrecorrível, exceto embargos declaratórios – esclarecimento
de um ponto omisso, contraditório ou obscuro.
Obs.3: não cabe ação rescisória contra decisão proferida em ADI, ADC e ADPF:
187
Diferenças:
CF, art. 102, § 2º: “As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas
federal, estadual e municipal”.
Lei n. 9.882/99, art. 10, § 3º: “A decisão terá eficácia contra todos e efeito vinculante
relativamente aos demais órgãos do Poder Público.
Art. 102, §2º. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal,
nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade
produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do
Poder Judiciário (retira o STF) e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal.
188
Obs.1: O STF não fica vinculado a sua decisão, podendo mudar futuramente o seu posicionamento. A não
vinculação do STF é apenas em relação ao Plenário do Tribunal, de forma que os Ministros e as Turmas ficam
vinculados.
Obs.2: o poder legislativo em Estado de Direito não pode ser impedido de legislar. Ademais a não vinculação do
legislativo e do STF tem por objetivo evitar a “fossilização da Constituição.” Essas são as duas premissas. O
188
Estado de Direito é pautado pela lei. Todos devem se submeter a ela. A rigor a não vinculação ocorre em relação
à atividade legiferante e não ao poder legislativo em si, de modo que suas funções atípicas são atingidas pelo
efeito vinculante. Ex.: Súmula vinculante nº 13. O legislador pode fazer uma lei contrariando a súmula. O
Presidente pode sancioná-la e o STF pode declará-la constitucional.
Obs.3: no tocante ao Poder Executivo, o Chefe do Poder Executivo não fica vinculado no exercício da função
legiferante - ex.: apresentação de projeto de lei, sanção de projeto de lei, edição de medida provisória e de lei
delegada e celebração de tratados internacionais. Vincular-se-á, todavia, em suas funções jurisdicional e
administrativa.
II. Quanto à eficácia objetiva: trata-se das partes da decisão proferida pelo Supremo que produz esses efeitos.
Relatório
Fundamentação
Dispositivo – ergma omnes e vinculante
De acordo com a tese da “transcendência dos motivos” (“efeito transcendente dos motivos determinantes”), não
apenas o dispositivo da decisão é vinculante, mas também os motivos determinantes que levaram o Tribunal
àquele resultado. Para os adeptos desta teoria, tais motivos devem transcender à decisão na qual foram suscitados,
de modo a atingir também as decisões de casos futuros sobre o mesmo tema.
O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes (Info 887,
STF).
189
Dispositivo
Assim, temos que o efeito erga omnes e vinculante atinge o dispositivo da decisão. Nesse sentido, a Jurisprudência
do STF. Vejamos: 189
O STF não admite a “teoria da transcendência dos motivos determinantes”. Segundo a teoria
restritiva, adotada pelo STF, somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante. Os
motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes.
A reclamação no STF é uma ação na qual se alega que determinada decisão ou ato:
Não cabe reclamação sob o argumento de que a decisão impugnada violou os motivos
(fundamentos) expostos no acórdão do STF, ainda que este tenha caráter vinculante. Isso
porque apenas o dispositivo do acórdão é que é vinculante. Assim, diz-se que a
jurisprudência do STF é firme quanto ao não cabimento de reclamação fundada na
transcendência dos motivos determinantes do acórdão com efeito vinculante. STF. Plenário.
Rcl 8168/SC, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
19/11/2015 (Info 808).
STF. 2ª Turma. Rcl 22012/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 12/9/2017 (Info 887).
A obrigatoriedade para o cumprimento de uma decisão proferida em ADI, ADC e ADPF é sempre a partir
da publicação do dispositivo da decisão.
190
Nesse sentido, é necessário que o dispositivo da decisão seja publicado no Diário da Justiça (DJ) ou no
Diário Oficial da União (DOU), assim como ocorre com a liminar. Razão: as decisões das ações do controle
concentrado, as quais não possuem partes formais, atingem a todos como se fossem uma lei – segundo Kelsen, o
Tribunal atua como um legislador negativo ao declarar uma lei inconstitucional.
Assim, para que as pessoas tenham conhecimento (ainda que “ficto”) da “lei revogadora” é necessário que
ela seja publicada.
190
Lei n. 9.868/99, art. 28: “Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão,
o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário da Justiça e do Diário
Oficial da União a parte dispositiva do acórdão”.
Observação n. 1: outro problema da adoção da tese da transcendência dos motivos determinantes: somente o
acórdão é publicado.
Para compreender a regra adotada quanto à eficácia temporal, é oportuno lembrar a teoria adotada pelo STF
em relação à natureza da lei declarada inconstitucional: é um ato inexistente, nulo ou anulável?
Para o Supremo Tribunal Federal, a lei inconstitucional é um ato nulo. Se a lei possui um vício de origem
(nasce morta), o efeito da decisão, em regra, é retroativo (“ex tunc”):
STF – ADI 875/DF: [...] O princípio da nulidade continua a ser a regra também no direito
brasileiro. O afastamento de sua incidência dependerá de um severo juízo de ponderação
que, tendo em vista análise fundada no princípio da proporcionalidade, faça prevalecer a
191
Exceções: conforme o precedente acima transcrito, embora a lei seja um ato nulo, admite-se a modulação
temporal dos efeitos da decisão.
Dessa forma, temos que os princípios da segurança jurídica ou os manifestados sob a forma de interesse
social relevante, podem justificar que o princípio da nulidade seja afastado em determinadas circunstâncias.
191
Assim, excepcionalmente, o STF conferir à decisão efeito “ex nunc” (suspensão a partir da decisão) ou “pro
futuro” (estabelecimento de um momento futuro a partir do qual a decisão começará a produzir efeitos). Tal
possibilidade de modulação está prevista nas Leis nº 9.868/99 e nº 9.882/99, as quais exigem dois requisitos
básicos:
Vejamos a legislação:
Lei n. 9.868/99, art. 27: “Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo
em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo
Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de
outro momento que venha a ser fixado”.
Lei n. 9.882/99, art. 11: “Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no
processo de argüição de descumprimento de preceito fundamental, e tendo em vista razões
de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal
Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de
outro momento que venha a ser fixado”.
STF – ADI 4.029/ AM: (...) O Tribunal acolheu a questão de ordem suscitada pelo
Advogado-Geral da União, para alternando o dispositivo do acórdão da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4.029, ficar constando que o Tribunal julgou improcedente a ação,
com declaração incidental de inconstitucionalidade do art. 5º, caput, artigo 6º, §§1º e 2º, da
192
Na ADI n. 4029, que tinha como objeto a medida provisória que criou o Instituto Chico Mendes, o STF declarou,
de ofício e incidentalmente, a inconstitucionalidade de uma resolução do Congresso Nacional que contrariava o
disposto no artigo 62, § 9º (“Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias
e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas
do Congresso Nacional”). Para evitar que mais de quinhentas medidas provisórias também fossem questionadas,192
por terem sido aprovadas com o mesmo procedimento, o STF, por razões de segurança jurídica, modulou os
efeitos temporais da decisão, conferindo-lhe eficácia “ex nunc”.
STF – ADI 508/MG: “Ação direta julgada procedente, pelo STF, para declarar a
inconstitucionalidade das expressões “e da Constituição da República” e “em face da
Constituição da República”, constantes do art. 106, alínea “h”, e do parágrafo 1º do art.
118, todos da Constituição de Minas Gerais...”
Obs.: o STF decidiu que o controle realizado pelo TJ poderá ter, como parâmetro, norma da Constituição
Federal, desde que seja uma norma de observância obrigatória pelos Estados. 193
Pontos distintos:
• Utilização:
194
Declaração de nulidade sem redução de texto: utilizada no controle concentrado abstrato (técnica de
decisão). O juiz, no âmbito do controle difuso incidental, não poderá declarar a inconstitucionalidade sem
redução de texto porque o objeto do pedido é a proteção de um direito subjetivo. A declaração de nulidade
sem redução de texto é uma técnica exclusiva do controle concentrado abstrato.
Interpretação conforme a Constituição: utilizada no controle concentrado abstrato e no controle difuso
incidental. Razão: a interpretação conforme é técnica de decisão e princípio de interpretação da
Constituição. 194
• Sentido:
Obs.1: afastar um sentido e permitir os demais e conferir um sentido e afastar os demais são situações
distintas. Serão iguais somente se o dispositivo possuir apenas duas interpretações possíveis.
Vejamos exemplos de precedentes:
ADI 3.685/DF (Julgamento: 22/3/2006): “Pedido que se julga procedente para dar
interpretação conforme no sentido de que a inovação trazida no art. 1º da EC 52/06 [“fim da
verticalização”] somente seja aplicada após decorrido um ano da data de sua vigência.
A declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade ocorre quando há uma modulação dos
efeitos da decisão – a decisão é dada com efeitos “pro futuro”. Assim, embora a lei seja inconstitucional não
há uma pronúncia de nulidade desta lei, pois continua a ser aplicada por um determinado tempo.
Objetivo da técnica da declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade: evitar que o vácuo
jurídico seja mais prejudicial que a violação da Constituição.
Vejamos exemplo de precedente:
ADI 429/CE: [...] 12. Pedido de inconstitucionalidade julgado parcialmente procedente para195
declarar: (I) inconstitucional o parágrafo 2º do art. 192, sem a pronúncia de nulidade, por um
prazo de doze meses; (II) parcialmente inconstitucional o caput do art. 193, dando-lhe
interpretação conforme para excluir de seu âmbito de incidência o ICMS”.
Assim, a fim de combater esse gravíssimo comportamento estatal que inviabiliza a fruição
de direitos e liberdades constitucionais, o poder constituinte originário fez constar, no texto
constitucional de 1988, dois instrumentos jurídicos tendentes a resguardar a supremacia
196
8.1. Finalidade
8.3. Competência
Por tratar-se de espécie de controle concentrado, na esfera federal a competência é reservada ao STF, já na
esfera estadual a competência é reservada ao TJ.
A legitimidade ativa da ADO encontra-se prevista na CF, art. 103 e Lei n. 9.868/99, art. 12-A.
Lei n. 9.868/99, art. 12-A: “Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade por omissão os legitimados
à propositura da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade [norma
remissiva]”.
I – o Presidente da República;
VI – o Procurador-Geral da República;
Nessa esteira, cumpre destacarmos que todas as explicações dadas em sede de ADI e ADC são aplicáveis
à ADO com uma única ressalva: não terá legitimidade para propor a ação a autoridade que for responsável pela
omissão inconstitucional, por caber-lhe supri-la.
A ação direta de inconstitucionalidade por omissão pode ser proposta no STF pelos
legitimados ativos inscritos no art. 103, CF/88, isto é, pelas mesmas autoridades, entidades
e Mesas que acionam a Corte em ADI, ADC e ADPF.
Uma ressalva, porém, faz-se necessária. Muitos dos legitimados ativos listados pelo art.
103, CF/88 são, por vezes, responsáveis (ou co-responsáveis) pela omissão, isto é, pela
ausência de regulamentação da norma constitucional. Neste caso, não se há de conferir a
eles o direito de provocar a Corte a fim de constatar uma omissão que é própria.
Na ADO, pode ser parâmetro qualquer norma formalmente constitucional não autoaplicável (norma
constitucional de eficácia limitada) – depende de uma vontade intermediadora para ser aplicada ao caso concreto.
8.7. Objeto
É objeto da ADO a ausência total ou parcial de norma (Lei n. 9.868/99, art. 12-B, I). Vejamos a legislação:
Omissão parcial: ocorre quando há medida regulamentadora/intermediadora, mas esta é insuficiente para conferir
a devida efetividade à norma constitucional e proteger o direito adequadamente.
Ex.: Lei que estipulava salário-mínimo insuficiente para atender as necessidades vitais básicas do trabalhador e
de sua família conforme CF, art. 7º, IV.
Nota-se, pois, que o objeto da ação direta de inconstitucionalidade por omissão são as
normas constitucionais de eficácia limitada não regulamentadas.
(i) uma omissão total, quando a abstenção do Poder Público é plena, não havendo qualquer
indício de efetivação da norma;
(ii) uma omissão parcial, quando há uma regulamentação tendente a concretizar a norma
constitucional, todavia esta é insuficiente ou deficiente.
199
8.8. Liminar
Inicialmente a jurisprudência do STF não admitia liminar em sede de ADO e de MI – na ADO o Supremo
abria uma exceção em caso de omissão parcial, ou seja, quando existia a lei, mas ela era insuficiente para tornar
efetiva norma constitucional. O argumento do Supremo era o mesmo para o MI: à época em que tal jurisprudência
se formou, o STF conferia ao MI o mesmo efeito da ADO, ou seja, o de dar ciência ao Poder competente de sua
omissão.
199
Contudo com o advento da Lei n. 12.063/09 passou a existir previsão expressa de cabimento de liminar em
ADO. Vejamos:
Lei n. 9.868/99, art. 12-F: “Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o
Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto no art.
22, poderá conceder medida cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades
responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de 5
(cinco) dias.
O principal efeito da ADO é dar ciência ao Poder competente de sua omissão (CF, art. 103, § 2º e Lei n.
9.868/99, art. 12-H e § 1º).
Obs.1: o legislador infraconstitucional relativizou o prazo previsto no texto constitucional. Conforme o professor,
não há nenhuma inconstitucionalidade, pois o Poder Judiciário, em circunstâncias excepcionais, certamente teria
que flexibilizá-lo. Se o Poder Judiciário pode proceder à ponderação de princípios no caso concreto, nada impede
200
que o legislador se antecipe e o faça criando uma regra geral.
Obs.2: ADI n. 3.682 (ADO): o STF havia fixado um prazo de 18 meses para que uma omissão fosse suprida. O
Congresso Nacional não concordou com a fixação do prazo. Em resposta, o Min. Gilmar Mendes declarou que o
prazo era apenas uma sugestão – portanto, o prazo não era peremptório. Em 2017, o STF proferiu uma nova
decisão (ADO n. 25), a qual é polêmica e inovadora, pois adotou um entendimento semelhante ao previsto pela
Lei n. 13.300/16 para o MI. Precedente:
ADO 25/DF.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, julgou procedente a
ação para declarar a mora do Congresso Nacional quanto à edição da Lei Complementar
prevista no art. 91 do ADCT, fixando o prazo de 12 meses para que seja sanada a omissão,
vencido, no ponto, o Ministro Marco Aurélio. Na hipótese de transcorrer in albis o
mencionado prazo, o Tribunal, por maioria, deliberou que caberá ao Tribunal de Contas da
União: a) fixar o valor do montante total a ser transferido aos Estados-membros e ao DF,
considerando os critérios dispostos no art. 91 do ADCT para fixação do montante a ser
transferido anualmente, a saber, as exportações para o exterior de produtos primários e
semielaborados, a relação entre as exportações e as importações, os créditos decorrentes de
aquisições destinadas ao ativo permanente e a efetiva manutenção e aproveitamento do
crédito do imposto a que se refere o art. 155,§ 2º, X, a, do texto constitucional; b) calcular o
valor das quotas a que cada um deles fará jus, considerando os entendimentos entre os
Estados-membros e o Distrito Federal realizados no âmbito do Conselho Nacional de
Política Fazendária - CONFAZ; e que se comunique ao Tribunal de Contas da União, ao
Ministério da Fazenda, para os fins do disposto no § 4º do art. 91 do ADCT, e ao Ministério
do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, para adoção dos procedimentos orçamentários
necessários para o cumprimento da presente decisão, notadamente no que se refere à
oportuna inclusão dos montes definidos pelo TCU na proposta de lei orçamentária anual da
União, vencidos os Ministros Marco Aurélio, Teori Zavascki e Cármen Lúcia (Presidente),
que, no ponto, não acompanharam o Relator. Plenário, 30.11.2016.
2018
Alteração da Lei impugnada antes do julgamento da ADI
201
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação? Neste caso, o autor
da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova redação do dispositivo impugnado apresenta
o mesmo vício de inconstitucionalidade que existia na redação original.
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de apresentar eventual
pedido de aditamento, caso considere subsistir a inconstitucionalidade na norma que promoveu a alteração ou
revogação.
201
Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido em razão da perda
superveniente do objeto. STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/2/2018 (Info
890).
2017
O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes
O STF não admite a “teoria da transcendência dos motivos determinantes”. Segundo a teoria restritiva, adotada
pelo STF, somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão
(fundamentação) não são vinculantes.
A reclamação no STF é uma ação na qual se alega que determinada decisão ou ato:
• usurpou competência do STF; ou
• desrespeitou decisão proferida pelo STF.
Não cabe reclamação sob o argumento de que a decisão impugnada violou os motivos
(fundamentos) expostos no acórdão do STF, ainda que este tenha caráter vinculante. Isso porque apenas o
dispositivo do acórdão é que é vinculante.
Assim, diz-se que a jurisprudência do STF é firme quanto ao não cabimento de reclamação fundada na
transcendência dos motivos determinantes do acórdão com efeito vinculante.
STF. Plenário. Rcl 8168/SC, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
19/11/2015 (Info 808).
STF. 2ª Turma. Rcl 22012/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
12/9/2017 (Info 887).
Se uma lei ou ato normativo é declarado inconstitucional pelo STF, incidentalmente, ou seja, em sede de
controle difuso, essa decisão, assim como acontece no controle abstrato, também produz eficácia erga omnes e
efeitos vinculantes.
202
O STF passou a acolher a teoria da abstrativização do controle difuso. Assim, se o Plenário do STF decidir
a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa
decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante.
Houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88. A nova interpretação deve ser a
seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional, mesmo em sede de controle difuso, a decisão já tem
efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida Casa
Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido.
STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017 (Info 886).
202
Se a maioria dos Ministros votou pela procedência da ADI, mas não se obteve maioria absoluta dos votos,
a lei não deverá ser declarada inconstitucional
Imagine a seguinte situação: é proposta uma ADI contra determinada lei. Cinco Ministros votam pela
inconstitucionalidade da lei. Quatro Ministros votam pela constitucionalidade. Dois Ministros declaram-se
impedidos de votar. Qual deverá ser a proclamação do resultado? Pode-se dizer que esta lei foi declarada
inconstitucional por maioria de votos? NÃO. Não foi atingido o número mínimo de votos para a declaração de
inconstitucionalidade da lei (6 votos). Assim, como não foi alcançado o quórum exigido pelo art. 97 da CF/88,
entende-se que o STF não pronunciou juízo de constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei. Isso significa
que o STF não declarou a lei nem constitucional nem inconstitucional. Além disso, esse julgamento não tem
eficácia vinculante, ou seja, os juízes e Tribunais continuam livres para decidir que a lei é constitucional ou
inconstitucional, sem estarem vinculados ao STF. STF. Plenário. ADI 4066/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado
em 23 e 24/8/2017 (Info 874).
Não se admite ADI contra lei que teria violado tratado internacional não incorporado ao ordenamento
brasileiro na forma do art. 5º, § 3º da CF/88
Em regra, não é cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um tratado internacional.
Em regra, os tratados internacionais não podem ser utilizados como parâmetro em sede de controle concentrado
de constitucionalidade. Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção
internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra do § 3º do art. 5º, da
CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao ordenamento brasileiro como se fosse uma
emenda constitucional. STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/8/2017 (Info
872).
Cabimento de ADPF contra conjunto de decisões judiciais que determinaram a expropriação de recursos
do Estado-membro
O Estado do Rio de Janeiro vive uma grave crise econômica, estando em débito com o pagamento de
fornecedores e atraso até mesmo no pagamento da remuneração dos servidores públicos. Os órgãos e entidades
também estão sem dinheiro para custear os serviços públicos. Diante disso, diversas ações (individuais e
coletivas) foram propostas, tanto na Justiça comum estadual como também na Justiça do Trabalho, pedindo a
realização desses pagamentos. Os órgãos judiciais estavam acolhendo os pedidos e determinando a apreensão
de valores nas contas do Estado para a concretização dos pagamentos. Neste cenário, o Governador do Estado
203
ajuizou ADPF no STF com o objetivo de suspenderos efeitos de todas as decisões judiciais do TJRJ e do TRT
da 1ª Região que tenham determinado o arresto, o sequestro, o bloqueio, a penhora ou a liberação de valores
das contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro. O STF afirmou que a ADPF é instrumento processual
adequado para esse pedido e deferiu a medida liminar. O conjunto de decisões questionadas são atos típicos do
Poder Público passíveis de impugnação por meio de APDF. STF. Plenário. ADPF 405 MC/RJ, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 14/6/2017 (Info 869).
Havendo três amicus curiae para fazer sustentação oral no STF, o prazo deverá ser considerado em
dobro, dividido entre eles
Nos processos que tramitam no STF, o amicus curiae pode fazer sustentação oral. Em regra, o amicus curiae
dispõe de 15 minutos para a sustentação oral no STF. Se houver mais de um amicus curiae, o prazo para
sustentação oral no STF será o mesmo? NÃO. Havendo mais de um amicus curiae, o STF adota a seguinte
sistemática: o prazo é duplicado e dividido entre eles. Assim, em vez de 15, os amici curiae (plural de amicus
curiae) terão 30 minutos, que deverão ser divididos entre eles. Dessa forma, se são três amici curiae para fazer
sustentação oral, o prazo deverá ser considerado em dobro, ou seja, 30 minutos, devendo ser dividido pelo
número de sustentações orais. Logo, cada um deles terá 10 minutos para manifestação na tribuna. STF. Plenário.
RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/5/2017 (Info 863).
204
É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em recurso extraordinário com repercussão geral
reconhecida. Para que seja realizada esta modulação, exige-se o voto de 2/3 (dois terços) dos membros do STF
(maioria qualificada). STF. Plenário. RE 586453/SE, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Dias
Toffoli, julgado em 20/2/2013 (Info 695). É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em sede de
controle incidental de constitucionalidade. STF. Plenário. RE 522897/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 16/3/2017 (Info 857).
204
O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está vinculado aos fundamentos
jurídicos invocados pelo autor. Assim, pode-se dizer que na ADI, ADC e ADPF, a causa de pedir (causa petendi)
é aberta. Isso significa que todo e qualquer dispositivo da Constituição Federal ou do restante do bloco de
constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico para declarar uma lei ou ato
normativo inconstitucional. STF. Plenário. ADI 3796/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 8/3/2017 (Info
856).
TJ pode julgar ADI contra lei municipal tendo como parâmetro norma da Constituição Federal?
Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando como
parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos
estados. STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgado em 1º/2/2017 (repercussão geral) (Info 852).
2016
Se é proposta ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a MP é convertida em lei com
o mesmo texto que foi atacado, esta ADI não perde o objeto e poderá ser conhecida e julgada. Como o texto da
MP foi mantido, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Isso porque não há a convalidação ("correção")
de eventuais vícios existentes na norma, razão pela qual permanece a possibilidade de o STF realizar o juízo de
constitucionalidade. Neste caso, ocorre a continuidade normativa entre o ato legislativo provisório (MP) e a lei
que resulta de sua conversão. Ex: foi proposta uma ADI contra a MP 449/1994 e, antes de a ação ser julgada,
houve a conversão na Lei nº 8.866/94. Vale ressaltar, no entanto, que o autor da ADI deverá peticionar
informando esta situação ao STF e pedindo o aditamento da ação. STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851).
205
Cabe ADI contra Resolução de Tribunal de Justiça STF. Plenário. ADI 5310/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgado em 14/12/2016 (Info 851).
O ICMS é um imposto estadual. A CF/88 e a LC 87/96 determinaram que não deveria incidir ICMS nas
operações e prestações destinadas ao exterior. Como isso causou uma perda de arrecadação, foi prevista uma
forma de compensação por meio da qual a União deveria transferir recursos aos Estados. Os critérios para
compensar os Estados por conta das desonerações de ICMS sobre as exportações estão previstos no art. 91 do
ADCT. O caput do art. 91 exige que seja editada uma nova lei complementar para regulamentar os critérios de
compensação dos Estados. No entanto, o § 3º prevê que, até a edição da nova lei complementar, devem ser
adotados para o repasse os critérios estabelecidos no Anexo da LC 87/96, com a redação da LC 115/2002. Como
já se passaram muitos anos sem que o Congresso Nacional tenha editado a lei complementar de que trata o art.
91 do ADCT, foi proposta uma ADI por omissão por conta desta lacuna. O STF julgou procedente a ação e
declarou haver mora, por parte do Congresso Nacional, em editar a aludida lei complementar. Diante disso, o
STF fixou um prazo de 12 meses para que o Legislativo faça a lei. Na decisão, o STF consignou que, se for
ultrapassado o prazo de 12 meses sem que a lei seja editada, o Tribunal de Contas da União (TCU) deverá: a)
fixar o valor total a ser transferido anualmente aos Estados-Membros e ao Distrito Federal, considerando os
critérios dispostos no art. 91 do ADCT, a saber, as exportações para o exterior de produtos primários e
semielaborados, a relação entre as exportações e as importações, os créditos decorrentes de aquisições
destinadas ao ativo permanente e a efetiva manutenção e aproveitamento do crédito do imposto a que se refere
o art. 155, § 2º, X, “a”, do texto constitucional; b) calcular o valor das quotas a que cada um fará jus, levando
em conta os entendimentos entre os Estados-Membros e o Distrito Federal realizados no âmbito do Conselho
Nacional de Política Fazendária (Confaz). STF. Plenário. ADO 25/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
30/11/2016 (Info 849).
Órgão do tribunal que afasta a aplicação da legislação federal para a situação analisada
Não viola a Súmula Vinculante 10, nem a regra do art. 97 da CF/88, a decisão do órgão fracionário do Tribunal
que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a
incidência normativa seja resolvida mediante a sua mesma interpretação, sem potencial ofensa direta à
Constituição. Além disso, a reclamação constitucional fundada em afronta à SV 10 não pode ser usada como
sucedâneo (substituto) de recurso ou de ação própria que analise a constitucionalidade de normas que foram
objeto de interpretação idônea e legítima pelas autoridades jurídicas competentes. STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP,
rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848).
Revogação do ato normativo que estava sendo impugnado e julgamento da ação sem comunicar este fato
ao STF
206
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes do julgamento
da ação? Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI 1203).
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique demonstrado que
houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma proposital a fim de evitar que o STF a
declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos (STF ADI 3306). Exceção 2: não haverá
perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido, em sua essência, em outro
diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há
obstáculo para o conhecimento da ação (ADI 2418/DF). Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação
sem ter sido comunicado previamente que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será
possível reconhecer, após o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada. STF. Plenário. ADI 2418/DF,206
Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016 (Info 824). STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 27/10/2016 (Info 845).
Não viola o art. 97 da CF/88 nem a SV 10 a decisão de órgão fracionário do Tribunal que declara
inconstitucional decreto legislativo que se refira a uma situação individual e concreta. Isso porque o que se
sujeita ao princípio da reserva de plenário é a lei ou o ato normativo. Se o decreto legislativo tinha um
destinatário específico e referia-se a uma dada situação individual e concreta, exaurindo-se no momento de sua
promulgação, ele não pode ser considerado como ato normativo, mas sim como ato de efeitos concretos. STF.
2ª Turma. Rcl 18165 AgR/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/10/2016 (Info 844).
Impossibilidade de intervenção de partido político como amicus curiae em processo criminal de seu
filiado
Determinado Deputado Federal estava respondendo a ação penal no STF pela suposta prática do crime de
peculato. O partido político que ele integra requereu a sua intervenção no feito como amicus curiae. O STF
indeferiu o pedido afirmando que a agremiação partidária, autoqualificando-se como amicus curiae, pretendia,
na verdade, ingressar numa posição que a relação processual penal não admite, considerados os estritos termos
do CPP. STF. 2ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado
em 9/8/2016 (Info 834).
Associação que abranja apenas uma fração da categoria profissional não possui legitimidade para
ADI/ADPF de norma que envolva outros representados*
As associações que representam fração de categoria profissional não são legitimadas para instaurar controle
concentrado de constitucionalidade de norma que extrapole o universo de seus representados. Ex: a
ANAMAGES, associação que representa apenas os juízes estaduais, não pode ajuizar ADPF questionando
dispositivo da LOMAN, considerando que esta lei rege não apenas os juízes estaduais, mas sim os magistrados
de todo o Poder Judiciário, seja ele federal ou estadual. STF. Plenário. ADPF 254 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 18/5/2016 (Info 826).
207
Revogação do ato normativo que estava sendo impugnado e repetição de seu conteúdo
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes do julgamento
da ação? Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI 1203).
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique demonstrado que
houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma proposital a fim de evitar que o STF a
declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos (STF ADI 3306). Exceção 2: não haverá
perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido, em sua essência, em outro
diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há207
obstáculo para o conhecimento da ação (STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
4/5/2016 (Info 824).
O conflito entre lei complementar e lei ordinária não se resolve com base no princípio da hierarquia, mas pela
análise do campo material delimitado pela Constituição. A CF/88 reservou determinadas matérias para serem
tratadas por meio de complementar, não sendo permitido que, em tais casos, seja editada lei ordinária para
regulá-las. As matérias que não forem reservadas à lei complementar poderão ser tratadas por lei ordinária
(matérias residuais). Assim, não existe relação hierárquica entre lei ordinária e lei complementar, mas sim
campos de atuação diferentes. Vale ressaltar, no entanto, que, se lei ordinária tratar sobre matéria reservada à
lei complementar, haverá inconstitucionalidade. STF. Plenário. RE 509300 AgR-EDv, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 17/03/2016.
A Fazenda Pública possui prazo em dobro para interpor recurso extraordinário de acórdão proferido pelo
Tribunal de Justiça em sede de representação de inconstitucionalidade (art. 125, § 2º, da CF/88)? Aplica-se o
prazo em dobro do art. 188 do CPC/1973 (art. 183 do CPC/2015) aos recursos extraordinários interpostos em
ações diretas de inconstitucionalidade no âmbito dos Tribunais de Justiça? SIM. 1ª Turma. ARE 661288/SP,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/5/2014 (Info 745). NÃO. 2ª Turma. ARE 753432 ED, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 06/05/2014. Obs: penso que prevalece no STF o entendimento negativo, ou seja, o de que
não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos prazos em dobro. Nesse
sentido: STF. Plenário. ADI 2674 MC-AgR-ED, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 17/03/2016. Obs: veja
a redação do art. 183 do CPC/2015, que não mais prevê prazo em quádruplo para contestar: Art. 183. A União,
os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público
gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da
intimação pessoal.
extraordinário. STF. Plenário. ADI 5449 MC-Referendo/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/3/2016
(Info 817).
2015
208
Em regra, a decisão proferida pelo STF em processos individuais (ex: recurso extraordinário, reclamação) possui
eficácia inter partes. No entanto, no caso do RE 567.985/MT, do RE 580963/PR e do Rcl 4374/PE é diferente.
Isso porque o Plenário da Corte Suprema, no julgamento desses processos não apenas resolveu o conflito
individual deduzido naquela causa, mas realizou, expressamente, a reinterpretação da decisão proferida pelo
STF na ADI 1.232/DF. Em outras palavras, a decisão proferida no processo individual ganhou eficácia erga
omnes e efeito vinculante porque reinterpretou e modificou uma decisão proferida em ADI, que possui tais
atributos. Logo, por ter "substituído" um entendimento do STF que tinha eficácia erga omnes e efeito vinculante,
a nova decisão proferida em sede de controle concreto ganhou contornos de controle abstrato. Dessa forma, se
uma decisão proferida por outro órgão jurisdicional violar o que foi decidido pelo STF no RE 567.985/MT, no
RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE caberá reclamação para o Supremo. Obs: apenas para esclarecer, em 1998, na
ADI 1.232/DF, o STF havia decidido que o § 3º do art. 20 da Lei nº 8.742/93 era constitucional. Em 2013, ao
apreciar novamente o tema no RE 567.985/MT, no RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE, processos individuais
julgados em conjunto, o STF mudou de entendimento e afirmou que o referido § 3º é parcialmente
inconstitucional. STF. Decisão monocrática. Rcl 18636, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 10/11/2015 (Info
813).
Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra decisão judicial transitada em
julgado. Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade não tem como função desconstituir a coisa
julgada. STF. Decisão monocrática. ADPF 81 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 27/10/2015 (Info
810).
As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou ADPF possuem eficácia
contra todos (erga omnes) e efeito vinculante (§ 2º do art. 102 da CF/88). O Poder Legislativo, em sua função
típica de legislar, não fica vinculado. Assim, o STF não proíbe que o Poder Legislativo edite leis ou emendas
constitucionais em sentido contrário ao que a Corte já decidiu. Não existe uma vedação prévia a tais atos
normativos. O legislador pode, por emenda constitucional ou lei ordinária, superar a jurisprudência. Trata-se de
uma reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão jurisprudencial. No caso
de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda constitucional, a invalidação
somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60, e seus §§, da CF/88. Em
suma, se o Congresso editar uma emenda constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo STF para
determinado tema, essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender uma cláusula pétrea
209
ou o processo legislativo para edição de emendas. No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária,
a lei que frontalmente colidir com a jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de
inconstitucionalidade, de forma que caberá ao legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a
correção do precedente se afigura legítima. Assim, para ser considerada válida, o Congresso Nacional deverá
comprovar que as premissas fáticas e jurídicas sobre as quais se fundou a decisão do STF no passado não mais
subsistem. O Poder Legislativo promoverá verdadeira hipótese de mutação constitucional pela via legislativa.
STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/10/2015 (Info 801).
Nova ADI por inconstitucionalidade material contra ato reconhecido formalmente constitucional
A Lei “X” foi questionada no STF por meio de ADI. Na ação, o autor afirmou que a lei seria formalmente
inconstitucional. O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei constitucional. Quatro anos mais tarde,
outro legitimado ajuíza nova ADI contra a Lei “X”, mas desta vez alega que ela é materialmente
inconstitucional. Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei
materialmente inconstitucional? SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da
Lei “X” (nem disse que ela era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material). Logo, nada
impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a inconstitucionalidade material da lei e nada
impede que o STF decida declará-la inconstitucional sob o aspecto material. O fato de o STF ter declarado a
validade formal de uma norma não interfere nem impede que ele reconheça posteriormente que ela é
materialmente inconstitucional. STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015
(Info 787).
O legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a inconstitucionalidade
do art. XX da Lei ZZZ e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja declarado constitucional? É possível, em
uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI com pedido típico de ADC? SIM. O STF entendeu que é
possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em uma única demanda de controle concentrado. A
cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção dos fins a que destinado
o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, destinado à defesa, em tese, da harmonia do
sistema constitucional. A cumulação objetiva permite o enfrentamento judicial coerente, célere e eficiente de
210
questões minimamente relacionadas entre si. Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer
de fundamento expresso na Lei 9.868/1999, traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor
novamente a demanda, com pedido e fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por prevenção. STF.
Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos da petição inicial.210
Um desses requisitos exigidos é que se demonstre que existe controvérsia judicial relevante sobre a lei objeto
da ação. Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a
constitucionalidade daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais decidindo que aquela lei
é inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não há razão para se propor a ADC. É possível
que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher o requisito da “controvérsia
judicial relevante” com poucos dias de vigência do ato normativo? SIM. Mesmo a lei ou ato normativo
possuindo pouco tempo de vigência, já é possível preencher o requisito da controvérsia judicial relevante se
houver decisões julgando essa lei ou ato normativo inconstitucional. O STF decidiu que o requisito relativo à
existência de controvérsia judicial relevante é qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar
se existe a controvérsia não se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas
decisões em sentido contrário à lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando inconstitucional a lei já
pode ser possível o ajuizamento da ADC se o ato normativo impugnado for uma emenda constitucional
(expressão mais elevada da vontade do parlamento brasileiro) ou mesmo em se tratando de lei se a matéria nela
versada for relevante e houver risco de decisões contrárias à sua constitucionalidade se multiplicarem. STF.
Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei é inconstitucional. No dia que ocorreu o julgamento,
havia apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se se deveria haver ou não a modulação dos
efeitos da decisão. 7 Ministros votaram a favor, mas como são necessários, no mínimo, 8 votos, a proposta de
modulação foi rejeitada e o resultado final do julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava
ausente compareceu à sessão e afirmou que era favorável à modulação dos efeitos da decisão que declarou a lei
inconstitucional no dia anterior. Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a
modulação? NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado concluído e
encerrado e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da
decisão proferida. A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica: a) primeiro,
o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-
se a possibilidade de modulação dos efeitos. Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado,
inclusive com a votação sobre a modulação (que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa
a possibilidade de reabertura para deliberação sobre a modulação dos efeitos. STF. Plenário. ADI 2949 QO/MG,
rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 8/4/2015 (Info 780).
A ADPF e a ADI são fungíveis entre si. Assim, o STF reconhece ser possível a conversão da ADPF em ADI
quando imprópria a primeira, e vice-versa. No entanto, essa fungibilidade não será possível quando a parte
autora incorrer em erro grosseiro. É o caso, por exemplo, de uma APF proposta contra uma Lei editada em
2013, ou seja, quando manifestamente seria cabível a ADI por se tratar de norma posterior à CF/88. STF.
Plenário. ADPF 314 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/12/2014 (Info 771).
211
212
DIREITO CONSTITUCIONAL II
Conteúdo 07: Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas
Antes de trabalharmos de forma pontual os temas a seguir, sugiro uma leitura prévia dos artigos do tema
no texto constitucional, posto que ao analisarmos as questões que já caíram, fica evidente uma maior incidência da
cobrança do teor literal dos artigos.
Assim, fazer leitura dos art. 136 até 144 da Constituição Federal.
212
Segundo ensinamentos da Professora Nathália Masson, para a defesa das instituições democráticas, a
Constituição prevê instrumentos - medidas excepcionais - que possuem a finalidade de manter ou restabelecer a
ordem em momentos de anormalidades constitucionais, configurando, com isso, o denominado “sistema
constitucional de crises”, composto pelo estado de defesa e pelo estado de sítio.
A doutrina ensina que referido sistema é um mecanismo presente nas democracias modernas que visa
assegurar os regimes democráticos, com a mínima onerosidade para os direitos e garantias fundamentais.
Desse modo, temos que o chamado Estado de Defesa e Estado de Sítio são mecanismos constitucionais de
defesa do Estado brasileiro, previstos ao teor do art. 136 a 141 da Constituição Federal.
Só podem ser decretados pelo Presidente da República, conforme prevê o art. 84, IX da Constituição
Federal.
Importante destacarmos ainda que o Estado de Sítio e o Estado de Defesa não podem configurar situações
de arbítrio, porque são medidas constitucionalmente regradas. Ambas estão sujeitas ao controle político (Congresso
Nacional) e jurisdicional (art. 5º, XXXV).
Além disso, a CF assegura o direito de qualquer pessoa prejudicada por medidas ou providências fruto do
Estado de Defesa ou de Sítio feitas com inobservância das prescrições constitucionais não excepcionadas e das
constantes do arts. 136 a 139 o direito de recorrer ao Poder Judiciário para responsabilizar os agentes públicos e
pedir a reparação do dano que lhe tenha sido causado.
a) Previsão Constitucional
b) sigilo de correspondência;
§ 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser
prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua
decretação.
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida, será por este214
comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado
ao preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial;
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez dias, salvo
quando autorizada pelo Poder Judiciário;
b) Definição
Segundo Marcelo Novelino (Curso de Direito Constitucional), o estado de defesa compreende as medidas
temporárias destinadas a preservar ou restabelecer, em área restrita e determinada, a ordem pública ou a paz social
ameaçadas de fatores políticos, sociais ou por fenômenos naturais de grandes proporções.
c) Pressupostos
Para que ocorra a decretação do Estado de Defesa, devem ser observados alguns pressupostos, pressupostos
esses que são divididos em duas espécies, os chamados “pressupostos materiais e os pressupostos formais”.
215
Os pressupostos materiais são as condições fáticas exigíveis para a decretação do estado de defesa, quais
sejam, a existência de grave e iminente instabilidade institucional ou de calamidade de grandes proporções da
natureza.
Dessa forma, os pressupostos materiais são (A) a grave e iminente instabilidade institucional e (B) a
calamidade de grandes proporções na natureza - não são requisitos concomitantes, mas sim alternativos.
Por outro lado, os pressupostos formais dizem respeito aos procedimentos exigíveis para a legitimidade
215
das medidas a serem adotadas. A CF, prevê cinco requisitos cumulativos. Vejamos:
• Prévia manifestação do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional;
• Decretação do Estado de Defesa pelo Presidente da República;
• Previsão do prazo da medida de, no máximo, de 30 dias, podendo ser prorrogado uma única vez;
• Especificação das áreas abrangidas;
• Indicação das medidas coercitivas.
Desse modo, temos que os pressupostos são condições que necessariamente devem se apresentar no plano
fático, pois, se inexistentes, a aplicação dessa medida excepcional será constitucionalmente inadequada.
Titularidade – O Presidente da República é o único titular apto a decretar a medida, conforme se depreende da
leitura dos ares. 84, IX, c/c o 136, caput, ambos da CF/88.
d) Procedimento
O estado de defesa será instaurado por iniciativa exclusiva do Presidente da República, após a oitiva dos
Conselhos da República e da Defesa Nacional.
Uma vez emitidos os pareceres consultivos (não vinculante! Lembre-se, os pareceres são não vinculantes)
dos Conselhos, o Presidente da República é quem decide se o caso enseja, ou não, a decretação da medida.
Se a decisão for pela instauração da medida, o decreto presidencial será submetido ao Congresso Nacional
em até vinte e quatro horas, que o aprovará, ou não (art. 136, § 4°,CF/88). Caso a decretação do estado de defesa se
dê em período de recesso parlamentar o Congresso Nacional será convocado pelo Presidente do Senado Federal,
extraordinariamente, em até cinco dias, para se reunir e decidir acerca da correção constitucional do decreto.
216
O CN terá o prazo de dez dias para apreciar o decreto, sendo que a decisão será tomada pela maioria absoluta
dos membros. Em sendo o decreto rejeitado, cessa imediatamente o estado de defesa (arr. 136, § 7°, CF/88), e todas
as medidas que tiverem sido empregadas deverão ser de imediato suspensas. Caso a rejeição do Congresso Nacional
não seja acatada pelo Presidente, ele poderá ser responsabilizado por infração político-administrativa, sujeitando-se
à perda do cargo pelo processo de impedimento (impeachment).
Na hipótese do CN validar o decreto instituidor da medida, segue vigorando o estado de defesa, lembrando
que durante todo o período de funcionamento da medida o Congresso manter-se-á em funcionamento. 216
Cumpre destacarmos que deve ser respeitado o prazo constitucional de trinta dias, que pode ser prorrogado,
uma única vez, por mais trinca dias (Art. 136, §2º. O tempo de duração do estado de defesa não será superior a
trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua
decretação).
Por fim, se a decretação do estado de defesa e a sua eventual prorrogação não se apresentarem suficientes
para corrigir as circunstâncias deflagradoras da medida, a solução será recorrer a um instrumento bem mais rigoroso,
como, por exemplo, ao Estado de Sítio.
Medidas coercitivas
As medidas coercitivas cabíveis no estado de defesa consistem em restrições, nunca supressão, a alguns
direitos fundamentais. Conforme determina o artigo 136, § 1°, CF/88, num rol taxativo, poderão ser decretadas
medidas restritivas que alcançam os direitos de:
b) sigilo de correspondência;
Controle
Nas lições de Novelino, o controle político é realizado e dois momentos. No controle simultâneo, cabe ao
CN decidir, por maioria absoluta, acerca da decretação do estado de defesa ou de sua prorrogação (CF, art, 136,
217
§4º), assim como criar comissão de 5 membros, designados por sua mesa diretora, para acompanhar e fiscaliza as
medidas referentes ao estado de defesa (art. 140). No controle posterior a cessão do estado de defesa, o CN deverá
avaliar, após receber mensagem do Presidente da República especificando e justificando as providências adotadas
(art. 141, parágrafo único), se houve algum tipo de arbítrio ou excesso para fins de responsabilização dos executores
ou agentes pelos ilícitos cometidos (art. 141, CF).
Vejamos:
217
Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará
Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das
medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio.
Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão também seus efeitos, sem
prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes.
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado de sítio, as medidas
aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao
Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências adotadas, com
relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas.
Por outro lado, temos o controle jurisdicional, coincidentemente, também se realiza em duas etapas. O
controle simultâneo é exercido nas hipóteses de prisão por crime contra o Estado, cabendo ao executor da medida
comunica-la ao juiz competente, mencionando o estado físico e mental do detido no momento da autuação, sendo
vedada a incomunicabilidade do preso. Caso a prisão seja considerada ilegal ou ultrapasse dez dias, sem autorização
do juízo competente, deve haver o relaxamento.
O controle posterior envolve a responsabilização dos agentes e executores pela prática de atos ilícitos (CF,
art. 141).
a) Previsão Constitucional
Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as normas necessárias a sua
execução e as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o
Presidente da República designará o executor das medidas específicas e as áreas218
abrangidas.
§ 1º O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta
dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado
por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.
Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão
ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas:
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a difusão de pronunciamentos de
parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva
Mesa.
219
b) Definição
Conforme ensinamentos do professor Marcelo Novelino, o estado de sítio consiste na adoção de medidas
temporárias durante situação de extrema gravidade ocasionadas por comoção grave de repercussão nacional,
conflito armado com Estado estrangeiro ou, ainda, quando as medidas adotadas durante o estado de defesa se
mostrarem insuficientes.
Para que o Estado de Sítio seja decretado, exige-se a autorização prévia do Congresso Nacional para que o
219
Presidente da República proceda com a medida, salvo nos casos de agressão estrangeira ocorrida o intervalo das
sessões legislativas, quando deverá haver o referendo do Legislativo.
c) Pressupostos
A decretação do estado de sítio, assim como, o estado de defesa, também depende da existência de alguns
pressupostos materiais, quais sejam, a comoção grave de repercussão nacional, caracterizada por série crise capaz
de colocar em risco as instituições democráticas ou o governo legitimamente eleito; ocorrência dos fatos
comprovatórios da ineficácia de medida adotada durante o estado de defesa; declaração de estado de guerra pelo
Presidente da República ou resposta a agressão armada estrangeira.
Além dos pressupostos materiais, é necessário a observância dos pressupostos formais, esses dizem respeito
ao procedimento que deve ser seguido quando da decretação do estado de defesa.
Vejamos:
I. Oitiva do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional, órgãos consultivos, não vinculam
o Presidente;
II. Solicitação ao CN de autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, com seus
fundamentos;
IV. Edição de decreto pelo Presidente da República indicando a duração do estado de sítio, as medidas
necessárias à sua execução e as garantias constitucionais a serem suspensas. Após a publicação do decreto, o
Presidente da República designará o executor das medidas especificas e as áreas abrangidas (CF, art. 137 e 138).
A decretação do estado de sítio também se submete ao controle dos demais poderes, sendo objeto de um
controle político e de um controle jurídico.
220
O controle político, exercido pelo CN, poderá realizar-se em três momentos distintos: prévio, simultâneo e
posterior.
O controle prévio consistirá na análise das circunstâncias a fim de se autorizar a decretação da medida. O
controle simultâneo, por sua vez, é realizado por comissão de 5 parlamentares, designados pela Mesa do CN para
acompanhar e fiscalizar a execução das medidas adotadas. Por fim, o controle posterior a cessação do estado de
sítio, ocorre através da análise das medidas e restrições aplicadas durante sua vigência, devendo o Presidente da
República especificar e justificar as providencias que foram adotadas, bem como, deverá apresentar a relação220
nominal dos atingidos. Nesse sentido, o art. 141 p. único. Vejamos:
Art. 141. Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o estado de sítio, as medidas
aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao
Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências adotadas, com
relação nominal dos atingidos e indicação das restrições aplicadas.
Por fim, temos o controle jurisdicional que poderá ocorrer simultaneamente à execução do estado de sítio,
caso seja cometida alguma arbitrariedade por seus agentes e executores, ou em momento posterior à cessação, para
fins de responsabilização por eventuais ilícitos praticados.
Inicialmente, ressalta-se que o Estado de Sítio é mais gravoso que o Estado de Defesa. Para melhor
compreensão do tema e distinção dos mesmos, vejamos o quadro esquematizado abaixo.
Vamos Esquematizar?
O prazo de duração não será superior a 30 Se o Estado de Sítio tiver sido decretado com
dias, mas pode ser prorrogado por igual base no art. 137, I, terá prazo de 30 dias,
período (art. 136, § 2º) admitindo prorrogações sucessivas (sem
limite).
Se for com base no art. 137, II, o Estado de
Sítio não tem prazo de duração
determinado na CF.
Restrições: Restrições:
221
Art. 136, § 1º O decreto que instituir o estado Estado de Sítio baseado no art. 137, I:
de defesa determinará o tempo de sua Art. 139. Na vigência do estado de sítio
duração, especificará as áreas a serem decretado com fundamento no art. 137, I,
abrangidas e indicará, nos termos e limites só poderão ser tomadas contra as pessoas
da lei, as medidas coercitivas a vigorarem, as seguintes medidas:
dentre as seguintes:
I - obrigação de permanência em localidade
I - restrições aos direitos de: determinada;
a) reunião, ainda que exercida no seio das II - detenção em edifício não destinado a
associações; acusados ou condenados por crimes
b) sigilo de correspondência; comuns;
c) sigilo de comunicação telegráfica e III - restrições relativas à inviolabilidade da
telefônica; correspondência, ao sigilo das
comunicações, à prestação de informações
II - ocupação e uso temporário de bens e
e à liberdade de imprensa, radiodifusão e
serviços públicos, na hipótese de
televisão, na forma da lei;
calamidade pública, respondendo a União
pelos danos e custos decorrentes. IV - suspensão da liberdade de reunião;
§ 3º Na vigência do estado de defesa: V - busca e apreensão em domicílio;
I - a prisão por crime contra o Estado, VI - intervenção nas empresas de serviços
determinada pelo executor da medida, será públicos;
por este comunicada imediatamente ao juiz VII - requisição de bens.
competente, que a relaxará, se não for
legal, facultado ao preso requerer exame de Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do
corpo de delito à autoridade policial; inciso III a difusão de pronunciamentos de
parlamentares efetuados em suas Casas
II - a comunicação será acompanhada de Legislativas, desde que liberada pela
declaração, pela autoridade, do estado
respectiva Mesa.
físico e mental do detido no momento de
sua autuação; Estado de Sítio baseado no art. 137, II:
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa Não há previsão do rol de direitos que poderão
não poderá ser superior a dez dias, salvo sofrer restrições → Deve respeitar a
quando autorizada pelo Poder Judiciário; proporcionalidade em face da situação que
ensejou a decretação.
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
222
3. Forças Armadas
Estabelece a Constituição que as Forças Armadas, integradas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
Poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem (Vicente de Paulo e Marcelo
Alexandrino, Direito Constitucional Descomplicado, 2017).
222
a) Previsão Constitucional
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e
na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa
da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei
e da ordem.
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são conferidas pelo
Presidente da República e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou
reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os demais
membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 18, de 1998)
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente,
ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", será transferido para a
reserva, nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
77, de 2014)
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou função
pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta, ressalvada a
hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", ficará agregado ao respectivo quadro e
somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por antiguidade,
contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência para a
reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a
reserva, nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 77, de 2014)
223
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele
incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou
de tribunal especial, em tempo de guerra; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de
1998) 223
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior
a dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no
inciso anterior; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV,
e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da
atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea "c"; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 77, de 2014)
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e
outras condições de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a
remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideradas as
peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos
internacionais e de guerra. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18,
de 1998)
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em
tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal
o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de
atividades de caráter essencialmente militar. (Regulamento)
b) Definição Constitucional
Nos moldes do art. 142 da Constituição Federal, as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na
hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria,
à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
224
c) Punições disciplinas
Art. 142. § 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.
Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino explicam que a razão dessa vedação é que o meio militar segue
regras próprias de conduta, de hierarquia e disciplina, bem mais rígidas do que as que imperam no âmbito civil, e,224
portanto, não faria sentido o magistrado, alheio às peculiaridades das corporações militares, substituir a avaliação
da autoridade militar acerca do cabimento da imposição de uma punição disciplina.
Não obstante a referida regra, a doutrina e jurisprudência do STF, de forma consensual admitem a
possibilidade de impetração de habeas corpus para questionar os pressupostos de legalidade da imposição da punição
constritiva da liberdade.
Significa dizer que a Constituição não impede a impetração de habeas corpus para que o
Poder Judiciário examine os pressupostos de legalidade da medida adotada pela autoridade
militar, tais como à competência da autoridade militar, o cumprimento dos procedimentos
estabelecidos no regulamento militar, a pena suscetível de ser aplicada ao caso concreto
dentre outros. (Direito Constitucional Descomplicado, 2017).
d) Regime Jurídico
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;
3. As patentes militares são concedidas pelo Presidente da República, nos termos do are. 142,
§ 3°, I, CF/88);
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica,
são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da
Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da225
ordem.
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além
das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são conferidas
pelo Presidente da República e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da
reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente
com os demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas.
4. O militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente será
transferido para a reserva (art. 142, § 3°, II, CF/88);
Art. 142, §3º, II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil
permanente, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", será transferido
para a reserva, nos termos da lei.
5. O oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele
incompatível, por decisão de Tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou
de Tribunal especial, em tempo de guerra (are. 142, § 3°, VI, CF/88);
Art. 142, §3º, VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato
ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo
de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra.
6. O oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a
dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento de indignidade
(art. 142, § 3°, VII, CF/88);
7. Em exceção expressa ao previsto no are. 5°, LXVIII, CF/88, e com base no ideal de
hierarquia, não cabe habeas corpus para desafiar punições disciplinares aplicadas aos
militares, nos termos do are. 142, § 2°, CF/88.
8. O serviço militar é obrigatório, nos termos do are. 143, caput, CF/88 (regulamentado pela
Lei nº 4.375/1964), a rodos os brasileiros, com exceção das mulheres e eclesiásticos, em
226
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em
tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal
o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de
atividades de caráter essencialmente militar.
Conforme Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino, o serviço militar é obrigatório nos termos da lei (art.
143). Contudo, como a Constituição Federal reconhece a escusa de consciência no art. 5º, VIII, que desobriga o
alistado do serviço militar obrigatório, desde que cumpra prestação alternativa, compete às Forças Armadas, na
forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de
consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para
se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.
Nesse sentido, o dispositivo constitucional em comento encontra-se regulamentado pela Lei 8.239/1991,
que dispõe sobre o serviço alternativo ao serviço militar obrigatório. Determina a lei que cabe ao Estado-Maior
das Forças Armadas, em coordenação com o Ministério da Defesa e os Comandantes militares, atribuir serviços
alternativos aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência decorrente de crença
religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.
Por fim, interessante destacarmos que ao final do período de atividade alternativa, será conferido certificado
de prestação alternativa ao serviço militar obrigatório, com os mesmos efeitos jurídicos do certificado de
reservista, conferido àqueles que cumprem o serviço militar propriamente dito.
227
4. Segurança Pública
a) Previsão Constitucional
IV - polícias civis;
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos
órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na
forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014).
b) Finalidade
A Constituição declara ser a segurança pública um dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
e determina que ela será exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, sendo efetivada por meio do poder de polícia, no seu aspecto especial de assegurar a segurança.
Nessa linha, a política de segurança será implementada tanto pela polícia administrativa, quanto pela
polícia judiciária (Nathália Masson, Direito Constitucional, 2017).
229
A polícia ostensiva tem por objetivo prevenir os delitos de forma a se preservar a ordem pública. A
polícia judiciária, por sua vez, exerce atividades de investigação, de apuração das infrações penais e de
indicação de sua autoria, a fim de fornecer os elementos necessários ao Ministério Público em sua função
persecutória das condutas criminosas.
A polícia ostensiva, assim como a polícia administrativa (preservação da ordem pública) ficaram a cargo229
das polícias militares, forças auxiliares e reserva do Exército.
Por outro lado, o papel de polícia judiciária na esfera estadual é exercido pelas polícias civis, dirigidas
pelos delegados de polícia de carreira, as quais incumbem a investigação e a aferição de infrações penais,
excetuando-se os militares e as de competência da polícia federal.
5. Já Caiu
1. (Ano: 2018. Banca: CESPE. Órgão: PC-MA. Prova: Delegado de Polícia Civil). Conforme a CF, às
polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, cabe
c) apurar as infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses
da União.
d) exercer as funções de polícia judiciária e apurar as infrações penais, excetuadas as de natureza militar.
e) responder pelo policiamento ostensivo, pela preservação da ordem pública e pela defesa civil.
230
2. (Ano: 2017. Banca: FCC. Órgão: PC-AP. Prova: Delegado de Polícia). Lei municipal atribuiu à Guarda
Municipal as funções de Polícia Judiciária e a apuração de infrações penais, com exceção das militares
e daquelas sujeitas à competência da União. Contra a referida lei foi ajuizada ação direta de
inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça do Estado, que foi julgada procedente, por
maioria absoluta dos membros do Tribunal, sob o fundamento de que a Constituição Federal atribui
à polícia civil dos Estados as funções disciplinadas na lei municipal. Nessa situação, a lei municipal
I. não poderia ter sido declarada inconstitucional com fundamento em norma da Constituição Federal, uma vez230
que ao Tribunal de Justiça compete exercer o controle de constitucionalidade apenas em face da Constituição
do Estado.
II. não poderia ter sido declarada inconstitucional, uma vez que não foi atingido o quórum de 2/3 dos membros
do Tribunal, quórum esse também exigido para a aprovação de súmulas vinculantes pelo Supremo Tribunal
Federal.
III. é incompatível com a Constituição Federal por violar competência atribuída à polícia civil do Estado.
a) I, II e III.
b) I e III, apenas.
c) II e III, apenas.
d) III, apenas.
e) I, apenas.
3. (Ano: 2014. Banca: ACAFE. Órgão: PC-SC. Prova: Delegado de Polícia). A segurança pública, dever
do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio. Nesse sentido é correto afirmar, exceto:
a) Aos corpos de bombeiros militares cabem as atribuições definidas em lei, salvo a execução de atividades de
defesa civil.
b) Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
231
c) A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado
em carreira, destina-se, dentre outras atribuições previstas constitucionalmente, a exercer as funções de
polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras.
d) As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-
se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
4. (Ano: 2014. Banca: ACAFE. Órgão: PC-SC. Prova: Delegado de Polícia). As Forças Armadas,
constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes
e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e,
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Considerando o previsto constitucionalmente
acerca do assunto, analise as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta.
I Ao militar são permitidas a sindicalização mas, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos
políticos.
II O oficial perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível por decisão
de tribunal militar especial, em tempo de paz ou de guerra.
III As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de guerra, sujeitos,
porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir.
5. (Ano: 2014. Banca: UESPI. Órgão: PC-PI. Prova: Delegado de Polícia). Tratando-se da organização
constitucional da segurança pública, é CORRETO afirmar que
a) as funções de polícia judiciária da União são exercidas pela polícia federal, pela polícia rodoviária federal, e
pela polícia ferroviária federal
b) às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, inclusive as militares.
232
c) a polícia militar, o corpo de bombeiro militar, bem como com a polícia civil do Distrito Federal estão
subordinadas à União, sob a direção do Presidente da República.
d) os municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção dos seus bens, serviços e
instalações, não lhes cabendo o exercício de funções de polícia judiciária.
e) a coordenação das atividades de segurança pública é atribuição do Conselho de Segurança Militar, órgão de
assessoramento do Presidente da República.
6. (Ano: 2014. Banca: VUNESP. Órgão: PC-SP. Prova: Delegado de Polícia). Nos termos da Constituição
Federal, os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas
7. (Ano: 2012. Banca: CESPE. Órgão: PC-AL. Prova: Delegado de Polícia). Em relação às normas
constitucionais relativas à segurança pública, julgue o próximo item.
A segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos, sendo exercida pela polícia
federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos de
bombeiros militares.
233
8. (Ano: 2018. Banca: VUNESP. Órgão: PC-BA, Prova: Delegado de Polícia) Assinale a alternativa que
corretamente trata do sistema constitucional de crises.
a) Na hipótese extrema do estado de defesa, quando medidas enérgicas devem ser tomadas para preservar a
ordem pública, o preso pode ficar, excepcionalmente, incomunicável.
b) O Estado de Sítio pode ser defensivo, tendo como pressuposto material a ocorrência de uma comoção grave,
cuja repercussão é nacional e que não pode ser debelada com os instrumentos normais de segurança.
233
c) Logo que cesse o Estado de Defesa ou o Estado de Sítio, as medidas aplicadas em sua vigência pelo
Presidente da República serão relatadas em mensagem ao Supremo Tribunal Federal, pois cumpre ao
Judiciário o controle de legalidade dos atos praticados.
d) Cessado o Estado de Sítio, cessam imediatamente seus efeitos, de modo que os atos coercitivos autorizados
em decreto, executados pelos delegados do Presidente da República, são imunes ao controle judicial.
e) Os pareceres emitidos pelos Conselhos da República e de Defesa Nacional não são vinculantes, cabendo a
decretação do estado de defesa ao Presidente da República, que expedirá decreto estabelecendo a duração
da medida.]
9. (Ano: 2017. Banca: FCC. Órgão: PC-AP. Prova: Delegado de Polícia). Ao disciplinar a Defesa do Estado
e das Instituições Democráticas, a Constituição Federal prescreve que
a) o estado de sítio e o estado de defesa podem ser decretados pelo Presidente da República, desde que
previamente autorizados pelo Congresso Nacional, por maioria absoluta dos membros de cada Casa
Legislativa.
b) o estado de sítio pode ser decretado para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e
determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional
ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza.
c) o decreto que instituir o estado de defesa deve, dentre outros requisitos, especificar as medidas coercitivas
que vigorarão no período de sua vigência, dentre as quais são admissíveis restrições aos direitos de sigilo
de correspondência, de sigilo de comunicação telegráfica e telefônica e de reunião.
d) o estado de sítio é uma limitação circunstancial ao poder constituinte reformador, uma vez que a Constituição
Federal não pode ser emendada durante sua vigência, ao contrário do estado de defesa, que não impede a
aprovação de emendas constitucionais no período.
234
e) o decreto que instituir o estado de sítio deve indicar as garantias constitucionais que ficarão suspensas no
período de sua vigência, sendo vedado, contudo, o estabelecimento de restrições relativas à liberdade de
imprensa, radiodifusão e televisão.
10. (Ano: 2014. Banca: ACAFE. Órgão: PC-SC. Prova: Delegado de Polícia). O Presidente da República
pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa
234
para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou
a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades
de grandes proporções na natureza. Sobre o tema e de acordo com a Constituição da República
Federativa do Brasil - CRFB/88 é correto afirmar, exceto:
a) Na vigência do estado de defesa a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida,
será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao
preso requerer exame de corpo de delito à autoridade policial.
b) Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de vinte e quatro horas,
submeterá o ato com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta.
c) Na vigência do estado de defesa a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do estado
físico e mental do detido no momento de sua autuação.
d) Na vigência do estado de defesa a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a trinta
dias, estando vedada, ainda, a incomunicabilidade do preso.
e) O tempo de duração do estado de defesa não será superior a trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez,
por igual período, se persistirem as razões que justificaram a sua decretação.
Gabarito
1–D
2–D
3–A
4–B
5–D
235
6–D
7–C
8–E
9–C
10 – D
235
6. Bibliografia
• Manual de Direito Constitucional, Nathália Masson, 2017.
• Direito Constitucional Descomplicado, Vicente de Paulo e Marcelo Alexandrino, 2017.
• Curso de Direito Constitucional, Marcelo Novelino, 2017.
236
DIREITO CONSTITUCIONAL II
Conteúdo 08: Da Ordem Social
Analisando as questões já cobradas pelas bancas examinadoras no tocante ao conteúdo do presente módulo,
constatamos uma incidência elevada do texto constitucional puramente. Dessa forma, reforço a importância do
estudo dos dispositivos constitucionais.
A seguridade social pode ser definida como uma “técnica de proteção social, custeada solidariamente por
toda a sociedade segundo o potencial de cada um, propiciando universalmente a todos o bem-estar das ações de
saúde e dos serviços assistenciários em nível mutável, conforme a realidade socioeconômica, e os das
prestações previdenciárias” (MARTINEZ, 2001).
Nos termos da Constituição Federal, a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
e à assistência social.
Na busca de assegurar esses direitos, compete ao Poder Público, organizar a seguridade social, com base
nos seguintes objetivos:
➢ universalidade da cobertura e do atendimento;
➢ uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;
➢ seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
➢ irredutibilidade do valor dos benefícios;
➢ eqüidade na forma de participação no custeio;
➢ diversidade da base de financiamento;
➢ caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com
participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos
colegiados.
1.1 Saúde
Segundo Marcelo Novelino, por ser indissociável do direito à vida e da dignidade da pessoa humana, o
direito à saúde possui um caráter de fundamentalidade que o inclui, não apenas dentre os direitos fundamentais
sociais (CF, art. 6.º), mas também no seleto grupo de direitos que compõem o mínimo existencial.
Nesse sentido, prevê o texto constitucional ser a saúde direito de todos e dever do Estado. Vejamos:
237
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Para fins de assegurar este direito, a Constituição impôs aos poderes públicos a adoção de políticas sociais
e econômicas de caráter preventivo (redução do risco de doença e de outros agravos) e reparativo.
237
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público
dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua
execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica
de direito privado.
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos
serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
§ 1º. O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do
orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
além de outras fontes. (Parágrafo único renumerado para § 1º pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000)
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações
e serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais
calculados sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
I - no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo exercício financeiro, não
podendo ser inferior a 15% (quinze por cento); (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 86, de 2015)
II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que
se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso
II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos
Municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a
que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e §
3º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos,
estabelecerá: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de
2000) Regulamento
I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do § 2º; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos
Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
238
III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas
federal, estadual, distrital e municipal; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de
2000)
IV - as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União .(Incluído
pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)
IV - (revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de
saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo
com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua
atuação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 51, de 2006) 238
§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial profissional nacional, as
diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamentação das atividades de agente
comunitário de saúde e agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos da
lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, para o cumprimento do referido piso salarial. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 63, de 2010) Regulamento
§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no § 4º do art. 169 da Constituição
Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou
de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos
requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 51, de 2006)
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e
participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e
outros insumos;
II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do
trabalhador;
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;
IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;
V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a
inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem
como bebidas e águas para consumo humano;
VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de
substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;
239
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (Vide Emenda Constitucional nº239
20, de 1998)
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no § 2º.
§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos
de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei
complementar.
§ 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho
do segurado terá valor mensal inferior ao salário mínimo.
§ 3º Todos os salários de contribuição considerados para o cálculo de benefício serão
devidamente atualizados, na forma da lei.
§ 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter
permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei.
§ 5º É vedada a filiação ao regime geral de previdência social, na qualidade de segurado
facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência.
§ 6º A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o valor dos
proventos do mês de dezembro de cada ano.
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei,
obedecidas as seguintes condições:
I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se
mulher;
II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido
em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam
suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o
garimpeiro e o pescador artesanal.
§ 8º Os requisitos a que se refere o inciso I do parágrafo anterior serão reduzidos em cinco
anos, para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções
de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio.
§ 9º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de
contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em
que os diversos regimes de previdência social se compensarão financeiramente, segundo
critérios estabelecidos em lei.
240
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua
integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência
e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei. 241
Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com
recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e
organizadas com base nas seguintes diretrizes:
I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à
esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e
municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social;
II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das
políticas e no controle das ações em todos os níveis.
Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio
à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida,
vedada a aplicação desses recursos no pagamento de:
I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida;
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações
apoiados.
2.1 Da educação
Segundo Nathália Masson, a educação é um dos mais importantes direitos sociais da Constituição. Isso
porque é o direito que permite a plena fruição dos demais direitos: é a educação que permite o desenvolvimento
do indivíduo para exercer a cidadania, é a educação que o prepara e qualifica para o trabalho, que o informa para
fazer suas escolhas filosóficas e políticas, que o ensina a proteger sua saúde e também atuar em prol do meio
ambience, em suma, que o capacita para exercer na inteireza suas liberdades constitucionais.
Nessa linha, a Constituição Federal prevê “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”(art. 205, CF).
a) educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive
sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.
b) progressiva universalização do ensino médio gratuito.
c) atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino.
d) educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade.
e) acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada242
um.
f) oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
g) atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de
material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (art. 208, CF).
O ensino será regulado por determinados princípios, estando eles previstos ao teor do art. 206 da
Constituição Federal. Vejamos:
a) igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
b) liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
c) pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de
ensino;
d) gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
e) valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com
ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;
f) gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
g) garantia de padrão de qualidade.
h) piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei
federal.
Segundo ensina Marcelo Novelino, a educação é dever imposto ao Estado em todas as esferas da federação,
devendo os entes organizar seus sistemas de ensino em regime de colaboração. Nesse sentido, o art. 211 da CF
“a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas
de ensino”.
243
No tocante a União, compete a esta organizar o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as
instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de
243
forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante
assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
Por fim, o Estado e o Distrito Federal, devem atuar prioritariamente no ensino fundamental e médio.
Esquematizando
Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão
formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório.
➢ A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
➢ A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos
do plano nacional de educação.
244
➢ Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão
financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários.
➢ A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário-
educação, recolhida pelas empresas na forma da lei.
➢ As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social do salário-educação serão
distribuídas proporcionalmente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas
redes públicas de ensino. 244
c) Recursos Públicos
Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
a) comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação;
b) assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao
Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades.
Os recursos poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei,
para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede
pública na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na
expansão de sua rede na localidade.
Nos termos da Constituição Federal, a lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal,
com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes,
objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em
seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes
esferas federativas que conduzam a:
a) erradicação do analfabetismo;
b) universalização do atendimento escolar;
c) melhoria da qualidade do ensino;
d) formação para o trabalho;
245
2.2 Da cultura
Nos termos da Constituição Federal, o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
Além disso, o Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das
de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. Para promover estas manifestações, a lei disporá
sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do
País e à integração das ações do poder público que conduzem à:
a) defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
b) produção, promoção e difusão de bens culturais;
c) formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões;
d) democratização do acesso aos bens de cultura;
e) valorização da diversidade étnica e regional.
a) Patrimônio Público
Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos
quilombos.
É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco
décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais,
vedada a aplicação desses recursos no pagamento de:
a) despesas com pessoal e encargos sociais;
b) serviço da dívida;
c) qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados.
2.3 Do desporto
A cutela do desporto, estrutura no art. 217, CF/88, é realizada constitucionalmente de forma ampla,
abarcando não só o esporte, mas também a recreação, o lazer e o divertimento.
247
Não por ou era razão, o§ 3° do are. 217 dispõe que o Poder Público deve incentivar o lazer como forma de
promoção social.
Nos termos da Constituição Federal, é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais,
como direito de cada um.
➢ O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se
as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.
➢ A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir
decisão final.
➢ O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social.
Por outro lado, a tecnologia, pane da aplicação prática das informações teóricas reunidas pela ciência,
associa novas pesquisas (científicas e tecnológicas), com o intuito de produzir e criar. Nesse sentido, “a ciência
descobre; a tecnologia usa essa descoberta e lhe acrescenta os processos de aferição de sua validade pela produção
de resultados concretos, de aperfeiçoamento e reprodução no interesse do desenvolvimento econômico e social”.
(Nathália Masson, Manual de Direito Constitucional, 2017).
248
Por ser um tema de pouca incidência, vamos nos preocupar apenas com o estudo do texto constitucional.
Vejamos:
Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a
capacitação científica e tecnológica e a inovação. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 85, de 2015)
§ 1º A pesquisa científica básica e tecnológica receberá tratamento prioritário do Estado,
tendo em vista o bem público e o progresso da ciência, tecnologia e inovação.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
§ 2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas248
brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.
§ 3º O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência, pesquisa,
tecnologia e inovação, inclusive por meio do apoio às atividades de extensão tecnológica, e
concederá aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a
viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-econômico, o bem-estar da população e a
autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal.
Parágrafo único. O Estado estimulará a formação e o fortalecimento da inovação nas
empresas, bem como nos demais entes, públicos ou privados, a constituição e a manutenção
de parques e polos tecnológicos e de demais ambientes promotores da inovação, a atuação
dos inventores independentes e a criação, absorção, difusão e transferência de tecnologia.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
Art. 219-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão firmar
instrumentos de cooperação com órgãos e entidades públicos e com entidades privadas,
inclusive para o compartilhamento de recursos humanos especializados e capacidade
instalada, para a execução de projetos de pesquisa, de desenvolvimento científico e
tecnológico e de inovação, mediante contrapartida financeira ou não financeira assumida
pelo ente beneficiário, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 85, de 2015)
Art. 219-B. O Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) será organizado
em regime de colaboração entre entes, tanto públicos quanto privados, com vistas a
promover o desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
249
4. Comunicação Social
De forma a complementar à proteção constitucional prevista ao teor do art. 5°, em que se enuncia a liberdade
de expressão do pensamento (art. 5°, IV), o direito de resposta (art. 5°,V), à proibição à censura (art. 5°, XI), o
249
acesso à informação, resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional (art. 5°, XIV), a
Constituição destina um capítulo próprio à comunicação social.
Vejamos:
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer
forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta
Constituição.
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de
informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto
no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a
natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua
apresentação se mostre inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto
no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser
nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4º A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e
terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e
conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.
§ 5º Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de
monopólio ou oligopólio.
§ 6º A publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de autoridade.
Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos
seguintes princípios:
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive
sua divulgação;
III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais
estabelecidos em lei;
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
§ 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das
empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta
ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão
obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002)
§ 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação
veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, em
qualquer meio de comunicação social. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 36, de 2002)
§ 3º Os meios de comunicação social eletrônica, independentemente da tecnologia utilizada250
para a prestação do serviço, deverão observar os princípios enunciados no art. 221, na forma
de lei específica, que também garantirá a prioridade de profissionais brasileiros na execução
de produções nacionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de
2002)
§ 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata o § 1º
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002)
§ 5º As alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1º serão comunicadas
ao Congresso Nacional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002)
5. Meio Ambiente
A Política Nacional do Meio Ambiente - Lei 6.938/81 é considerada o marco de nascimento do direito
ambiental no Brasil, como um conjunto de regras e princípios harmônicos com campo próprio de estudo.
A definição legal de meio ambiente consta do art. 3º da lei 6938/81, considerando-o como “o conjunto de
condições, leis, influencias e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida
em todas as suas formas”.
251
Entende-se que o meio-ambiente é uno e indivisível, mas, para fins didáticos, pode ser subdividido em 4
segmentos: natural, cultural, artificial e do trabalho.
Segundo o texto constitucional, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Nos termos da CF, aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
Por outro lado, as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.
nome. A jurisprudência não mais adota a chamada teoria da "dupla imputação". STJ. 6ª
Turma. RMS 39173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 (Info
566). STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013 (Info
714).
A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Terras devolutas
São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias
à proteção dos ecossistemas naturais.
Em se tratando de um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, TODOS são
destinatários do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
No tocante ao dever de proteção, conforme prevê a Constituição Federal, compete à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios, seja no âmbito administrativo ou legislativo através da competência
concorrente.
Os princípios fundamentais delineadores do direito ambiental capitulados pela doutrina, em geral, são:
➢ Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana;
➢ Princípio da natureza pública da proteção ambiental;
➢ Princípio do controle do poluidor pelo Poder Público;
253
Art. 225 (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
254
A Constituição Federal preconiza que o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos
que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Nos moldes do art. 2º do ECA, considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de
idade incompletos. Por outro lado, adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata o Estatuto da Criança e do Adolescente, assegurando-se-lhes, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público
e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às
pessoas portadoras de deficiência.
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art.
7º, XXXIII;
§ 8º A lei estabelecerá:
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da
legislação especial.
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores
têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
6.4 Do idoso
A Constituição Federal determina que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas
idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o
direito à vida.
Para fins de efetivação desse direito, prevê que os programas de amparo aos idosos serão executados
preferencialmente em seus lares.
259
Corroborando, o art. 2º do Estatuto do Idoso, proclama que o idoso goza de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhe, por lei
ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos
259
urbanos.
7. Índios
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas
para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-
estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
260
As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o
usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas,
imprescritíveis.
260
➢ O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma
da lei.
➢ É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional,
em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do
País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo
que cesse o risco.
➢ São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o
domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos
rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser
lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União,
salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
➢ Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de
seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.
8. Já Caiu
1. (2016, FUNCAB, PC-PA/ Delegado). De acordo com a Constituição Federal de 1988, a educação, direito
de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho. Sobre o tema, é correto afirmar que:
c) o ensino religioso, de matrícula obrigatória, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de
ensino fundamental.
d) o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direto público subjetivo, sendo que o seu não oferecimento, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
e) a União aplicará, anualmente, nunca menos de vinte e cinco por cento da receita resultante de impostos,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
261
2. (2015, Funiversa, PC-DF/Delegado). No que diz respeito à ordem social, é correto afirmar que
a) a CF assegura expressamente às crianças, aos adolescentes e aos jovens a garantia de pleno e formal
conhecimento da atribuição de ato infracional, a igualdade na relação processual e a defesa técnica por
profissional habilitado, segundo lei específica.
b) os índios merecem toda a proteção do Estado e da sociedade, devendo ser representados, na defesa dos seus
direitos e em juízo, não por suas próprias comunidades, mas sim por meio de fundação especialmente criada para
cuidar dos seus interesses.
c) a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos da União,
dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, bem como por meio de contribuições das empresas e dos
trabalhadores, incluindo-se os aposentados pelo regime geral de previdência.
d) o ensino religioso é disciplina obrigatória no ensino fundamental, não podendo o Estado impor uma religião
específica diante dos princípios da liberdade de consciência e de crença.
e) as pessoas jurídicas não estão sujeitas a sanções penais, mas sim seus dirigentes, quando praticarem condutas
e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente, sem prejuízo do dever de reparar o dano.
3. (2018, FCC). Segundo a Constituição Federal brasileira, o dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de
4. (CESPE, 2018). Em relação aos direitos e às garantias fundamentais e às funções essenciais à justiça,262
julgue o item a seguir, considerando a jurisprudência dos tribunais superiores.
O Supremo Tribunal Federal firmou posição no sentido de que o ensino religioso nas escolas públicas deve ter
caráter não confessional, sendo vedada a admissão de professores na qualidade de representantes das religiões
para ministrar os cursos.
a) que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a
assegurar a universalização do ensino infantil.
d) que o ensino religioso, de matrícula facultativa, será oferecido em horários suplementares nas escolas públicas
de ensino básico.
e) a progressiva universalização do ensino público gratuito, fundamental e médio, para o regime de escolas de
tempo integral.
6. (2018, FCC). Sob a ótica da proteção e da disciplina atual da Constituição Federal a respeito do direito
à educação, assinale a alternativa correta.
b) O ensino é livre à iniciativa privada, mediante o cumprimento das normas gerais da educação nacional e a
autorização e avaliação de qualidade pelo poder público.
c) A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, de forma independente, seus sistemas de
ensino.
263
d) A União deverá aplicar, anualmente, nunca menos de quinze, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
7. (2017, IDECAN, Agente Penitenciário). Nos termos da Constituição Federal, é dever da família, da263
sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito,
à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. São proteções constitucionais à criança e ao
adolescente, EXCETO:
a) Idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, permitida a jornada noturna, mas vedado o trabalho
perigoso ou insalubre aos menores.
c) Garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e
defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica.
d) Estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao
acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado.
8. (2015, CESPE, Juiz Federal). No que se refere à proteção constitucional à família, à educação, à ciência
e tecnologia e à comunicação social, assinale a opção correta.
a) De acordo com a CF, lei federal pode, entre outros objetivos, regular as diversões e espetáculos públicos,
cabendo ao poder público informar sobre a natureza desses eventos, as faixas etárias a que não se recomendem,
locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada.
b) Conforme previsão constitucional, reconhece-se como entidade familiar apenas aquela constituída pelo
casamento civil ou religioso com efeitos civis, ainda que garantias constitucionais protejam as diversas formas
de relacionamento familiar.
264
d) Na organização dos sistemas de ensino, cabe aos municípios atuar prioritariamente no ensino fundamental e
médio.
e) A CF veda genericamente a vinculação de receitas orçamentárias, mas admite que a União, os estados, o DF e
os municípios vinculem parte de sua receita a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e
264
tecnológica.
9. (2015, VUNESP, PC-CE. Escrivão). Assinale a alternativa que está de acordo com o disposto na
Constituição Federal a respeito da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso.
a) São civil e penalmente inimputáveis os menores de vinte e um anos, sujeitos às normas da legislação especial.
b) O casamento é civil e gratuita a celebração, mas o casamento religioso não terá efeito civil
c) Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus
direitos e interesses, intervindo o Poder Executivo em todos os atos do processo.
d) Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
e) A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua
efetivação por parte de brasileiros natos e naturalizados, vedada a adoção por estrangeiros.
10. (2015, VUNESP, PC-CE. Inspetor de Polícia). É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar
à criança, ao adolescente e ao jovem o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Nos termos do artigo 227 da Constituição Federal, esse dever é assegurado
a) com prioridade relativa, uma vez que outros grupos vulneráveis, como idosos e deficientes físicos, têm
prioridade sobre os direitos das crianças e dos adolescentes
b) com prioridade relativa, uma vez que pode deixar de ser praticado em razão do uso de verba pública na área
da saúde em prol de toda a população
c) com a máxima efetividade possível, assegurada a discricionariedade do Poder Executivo quanto à execução
das ações sociais.
265
GABARITO
265
Nosso gabarito trouxe a indicação do fundamento de cada resposta, e todas elas estavam descritas na
Constituição. Ante o exposto, embora seja cansativo, reitero a relevância do estudo dos artigos da Constituição.
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
Art. 7º, XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho
a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos.
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou
veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles, as
faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de
ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
266
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei nº 9.656/98, o qual é aplicável aos procedimentos
médicos, hospitalares ou ambulatoriais custeados pelo SUS e posteriores a 4.6.1998, assegurados o contraditório e
a ampla defesa, no âmbito administrativo, em todos os marcos jurídicos. O art. 32 da Lei nº 9.656/98 prevê que, se
um cliente do plano de saúde utilizar-se dos serviços do SUS, o Poder Público poderá cobrar do referido plano o
ressarcimento que ele teve com essas despesas.Assim, o chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32, é
uma obrigação legal das operadoras de planos privados de assistência à saúde de restituir as despesas que o SUS
teve ao atender uma pessoa que seja cliente e que esteja coberta por esses planos. STF. Plenário.RE 597064/RJ, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 7/2/2018 (repercussão geral) (Info 890).
➢ Constitucionalidade do sistema de cotas raciais em concursos públicos
Constitucionalidade do sistema de cotas raciais em concursos públicos A Lei nº 12.990/2014 estabeleceu uma cota
aos negros de 20% das vagas em concursos públicos realizados no âmbito da administração pública federal, das
autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela
União. O STF declarou que essa Lei é constitucional e fixou a seguinte tese de julgamento: "É constitucional a
reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos
no âmbito da administração pública direta e indireta.” Além da autodeclaração, é possível que a Administração
Pública adote critérios de heteroidentificação para analisar se o candidato se enquadra nos parâmetros da cota A Lei
nº 12.990/2014 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos da administração pública
federal, direta e indireta. Segundo o art. 2º da Lei, poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles
que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público, conforme o quesito cor ou raça
267
utilizado pelo IBGE. Trata-se do chamado critério da autodeclaração. O STF afirmou que este critério é
constitucional. Entretanto, é possível também que a Administração Pública adote um controle heterônomo,
sobretudo quando existirem fundadas razões para acreditar que houve abuso na autodeclaração. Assim, é legítima a
utilização de critérios subsidiários de heteroidentificação dos candidatos que se declararam pretos ou pardos. A
finalidade é combater condutas fraudulentas e garantir que os objetivos da política de cotas sejam efetivamente
alcançados. Vale ressaltar que tais critérios deverão respeitar a dignidade da pessoa humana e assegurar o
contraditório e a ampla defesa. Exemplos desse controle heterônomo: exigência de autodeclaração presencial perante267
a comissão do concurso; exigência de apresentação de fotos pelos candidatos; formação de comissões com
composição plural para entrevista dos candidatos em momento posterior à autodeclaração. Essa conclusão do STF
foi resumida na seguinte tese de julgamento: "É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios
subsidiários de heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório
e a ampla defesa". STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/6/2017 (Info 868). Vale
ressaltar as Forças Armadas integram a Administração Pública Federal, de modo que a vagas oferecidas nos
concursos por elas promovidos sujeitam-se à política de cotas prevista na Lei 12.990/2014. STF. Plenário. ADC 41
ED, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12/04/2018.
➢ O ensino religioso nas escolas públicas brasileiras pode ter natureza confessional
A CF/88 prevê que “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental.” (art. 210, § 1º).
Diante disso, nas escolas públicas são oferecidas aulas de ensino religioso, normalmente vinculadas a uma religião
específica. É o chamado ensino religioso confessional.
O PGR ajuizou ADI pedindo que fosse conferida interpretação conforme a Constituição ao art. 33, §§ 1º e 2º da
LDB e ao art. 11, § 1º do acordo Brasil-Santa Sé. Na ação, o PGR afirmava que não é permitido que se ofereça
ensino religioso confessional (vinculado a uma religião específica). Para o autor, o ensino religioso deve ser voltado
para a história e a doutrina das várias religiões, ensinadas sob uma perspectiva laica e deve ser ministrado por
professores regulares da rede pública de ensino, e não por pessoas vinculadas às igrejas.
O STF julgou improcedente a ADI e decidiu que o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras pode ter
natureza confessional, ou seja, pode sim ser vinculado a religiões específicas.
A partir da conjugação do binômio Laicidade do Estado (art. 19, I) e Liberdade religiosa (art. 5º, VI), o Estado
deverá assegurar o cumprimento do art. 210, § 1º da CF/88, autorizando na rede pública, em igualdade de condições
268
o oferecimento de ensino confessional das diversas crenças, mediante requisitos formais previamente fixados pelo
Ministério da Educação.
Assim, deve ser permitido aos alunos, que expressa e voluntariamente se matricularem, o pleno exercício de seu
direito subjetivo ao ensino religioso como disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, ministrada de acordo com os princípios de sua confissão religiosa, por integrantes da mesma,
devidamente credenciados a partir de chamamento público e, preferencialmente, sem qualquer ônus para o Poder
Público. 268
Dessa forma, o STF entendeuque a CF/88 não proíbe que sejam oferecidas aulas de uma religião específica, que
ensine os dogmas ou valores daquela religião. Não há qualquer problema nisso, desde que se garanta oportunidade
a todas as doutrinas religiosas.
STF. Plenário.ADI 4439/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
27/9/2017 (Info 879).
➢ Lei estadual que concede ressarcimento de despesas de saúde a magistrados não viola a CF/88 nem a
LOMAN
O art. 65, § 2º da LOMAN (LC 35/1979), ao vedar a concessão de adicionais ou vantagens pecuniárias nela não
previstas, não proíbe que as leis estaduais prevejam o pagamento de verbas de natureza indenizatória aos magistrados
estaduais. Com base nesse entendimento, o STF considerou válida previsão de lei estadual que concede aos
magistrados o direito de serem ressarcidos pelos cofres públicos em relação às despesas médicas, cirúrgicas e
odontológicas que realizem e que excedam o custeio coberto pelo Instituto de Previdência do Estado. STF. 1ª Turma.
MS 27463/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825).
O programa “Mais Médicos”, instituído pela MP 691/2013, posteriormente convertida na Lei nº 12.871/2013, é
constitucional. STF. Plenário.ADI 5035/DF e ADI 5037/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgados em 30/11/2017 (Info 886).
O Poder Judiciário pode condenar universidade pública a adequar seus prédios às normas de acessibilidade a fim de
permitir a sua utilização por pessoas com deficiência. No campo dos direitos individuais e sociais de absoluta
269
prioridade, o juiz não deve se impressionar nem se sensibilizar com alegações de conveniência e oportunidade
trazidas pelo administrador relapso. Se um direito é qualificado pelo legislador como absoluta prioridade, deixa de
integrar o universo de incidência da reserva do possível, já que a sua possibilidade é obrigatoriamente, fixada pela
Constituição ou pela lei. STJ. 2ª Turma. REsp 1607472-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016
(Info 592).
São constitucionais o art. 28, § 1º e o art. 30 da Lei nº 13.146/2015, que determinam que as escolas privadas ofereçam
atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com deficiência sem que possam cobrar valores adicionais
de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas para cumprimento dessa obrigação. STF.
Plenário. ADI 5357 MC-Referendo/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2016 (Info 829).
O Poder Judiciário pode obrigar o Município a fornecer vaga em creche a criança de até 5 anos de idade. A educação
infantil, em creche e pré-escola, representa prerrogativa constitucional indisponível garantida às crianças até 5 anos
de idade, sendo um dever do Estado (art. 208, IV, da CF/88). Os Municípios, que têm o dever de atuar
prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil (art. 211, § 2º, da CF/88), não podem se recusar a
cumprir este mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi conferido pela Constituição Federal.
STF. Decisão monocrática. RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 12/05/2016 (Info 827).
O art. 210 da Lei nº 8.112/90, assim como outras leis estaduais e municipais, prevê que o prazo para a servidora que
adotar uma criança é inferior à licença que ela teria caso tivesse tido um filho biológico. De igual forma, este
dispositivo estabelece que, se a criança adotada for maior que 1 ano de idade, o prazo será menor do que seria se ela
tivesse até 1 ano. Segundo o STF, tal previsão é inconstitucional. Foi fixada, portanto, a seguinte tese: Os prazos da
licença-adotante não podem ser inferiores ao prazo da licença-gestante, o mesmo valendo para as respectivas
prorrogações. Em relação à licença-adotante, não é possível fixar prazos diversos em função da idade da criança
adotada. STF. Plenário. RE 778889/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/3/2016 (repercussão geral) (Info
817).
270
É inconstitucional a possibilidade de um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) pagar para ter acomodações
superiores ou ser atendido por médico de sua preferência, a chamada "diferença de classes". Existe uma portaria do
Ministério da Saúde (Portaria 113/1997) que proíbe a diferença de classe. Este ato estava sendo questionado e o
STF, em recurso extraordinário submetido à repercussão geral, declarou que ele é constitucional, firmando a seguinte
tese, que vale de forma ampla para todos os casos envolvendo diferença de classe: "É constitucional a regra que
veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde — SUS, a internação em acomodações superiores, bem como o270
atendimento diferenciado por médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o pagamento da
diferença dos valores correspondentes." STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
3/12/2015 (repercussão geral) (Info 810).
A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a manter estoque mínimo de
determinado medicamento utilizado no combate a certa doença grave, de modo a evitar novas interrupções no
tratamento. Não há violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa decisão o Poder
Judiciário não está determinando metas nem prioridades do Estado, nem tampouco interferindo na gestão de suas
verbas. O que se está fazendo é controlar os atos e serviços da Administração Pública que, neste caso, se mostraram
ilegais ou abusivos já que, mesmo o Poder Público se comprometendo a adquirir os medicamentos, há falta em seu
estoque, ocasionando graves prejuízos aos pacientes. Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento
em tempo hábil a dar continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à saúde
daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário. STF. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 25/6/2014 (Info 752).
➢ Lei estadual pode conceder meia-entrada em eventos culturais e desportivos para menores de 21 anos
É constitucional lei estadual que concede o desconto de 50% no valor dos ingressos em casas de diversões, praças
desportivas e similares aos jovens de até 21 anos de idade. STF. Plenário.ADI 2163/RJ, rel. orig. Min. Eros Grau,
red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 12/4/2018 (Info 897).
➢ Estado-membro pode legislar sobre a concessão, por empresas privadas, de bolsa de estudos para
professores
271
É constitucional lei estadual que preveja a possibilidade de empresas patrocinarem bolsas de estudo para professores
em curso superior, tendo como contrapartida a obrigação de que esses docentes ministrem aula de alfabetização ou
aperfeiçoamento para os empregados da empresa patrocinadora. Essa lei insere-se na competência legislativa do
Estado-Membro para dispor sobre educação e ensino, prevista no art. 24, IX, da CF/88. STF. Plenário. ADI 2663/RS,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 8/3/2017 (Info 856).
➢ Lei estadual pode fixar número máximo de alunos por sala de aula 271
A competência para legislar sobre educação e ensino é concorrente (art. 24, IX, da CF/88). No âmbito da legislação
concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as normas gerais (§ 1º e os Estados podem
suplementar (complementar, detalhar) a legislação federal (§ 2º). As normas gerais sobre educação foram editadas
pela União na Lei 9.394/96 (LDB). Determinado Estado-membro editou uma lei prevendo o número máximo de
alunos que poderiam estudar nas salas de aula das escolas, públicas ou particulares, ali existentes. O STF entendeu
que essa lei é constitucional e que não usurpa a competência da União para legislar sobre normas gerais de educação.
STF. Plenário. ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/2/2015 (Info 775).
É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre veiculando normas
favoráveis ao meio ambiente. Normas que importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem
ser editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade civil e dos órgão e
instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado. Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção ao meio
ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de unidades de conservação, com
consequências potencialmente danosas e graves ao ecossistema protegido. A proteção ao meio ambiente é um limite
material implícito à edição de medida provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações
previstas no art. 62, § 1º, da CF/88. STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018
(Info 896).
➢ Compete aos Municípios legislar sobre meio ambiente em assuntos de interesse local
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição, quando se tratar de interesse
local. Ex: é constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de multas para os
proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões considerados aceitáveis. STF.
272
Plenário.RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 29/6/2017
(Info 870).
É inconstitucional lei estadual que regulamenta a atividade da “vaquejada”. Segundo decidiu o STF, os animais
envolvidos nesta prática sofrem tratamento cruel, razão pela qual esta atividade contraria o art. 225, § 1º, VII, da
272
CF/88. A crueldade provocada pela “vaquejada” faz com que, mesmo sendo esta uma atividade cultural, não possa
ser permitida. A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a
valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância do disposto no inciso VII do § 1º do art.
225 da CF/88, que veda práticas que submetam os animais à crueldade. STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min.
Marco Aurélio, julgado em 06/10/2016 (Info 842).
➢ Constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para titulação das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos
O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.” Em 2003, foi
editado o Decreto nº 4.887, com o objetivo de regulamentar o procedimento para identificação, reconhecimento,
delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. O STF
entendeu que este Decreto não invadiu esfera reservada à lei. O objetivo do Decreto foi tão somente o de regular o
comportamento do Estado na implementação do comando constitucional previsto no art. 68 do ADCT. Houve o
mero exercício do poder regulamentar da Administração, nos limites estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição.
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto nº 4.887/2003 prevê como deve ser o critério utilizado pelo Poder Público para a
identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da autoatribuição (autodefinição). O STF entendeu que a
escolha do critério desse critério não foi arbitrária, não sendo contrária à Constituição. O art. 2º, §§ 2º e 3º, do
Decreto preconiza que, na identificação, medição e demarcação das terras dos quilombolas devem ser levados em
consideração critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. O STF
afirmou que essa previsão é constitucional. Isso porque o que o Decreto está garantindo é apenas que as comunidades
envolvidas sejam ouvidas, não significando que a demarcação será feita exclusivamente com base nos critérios
indicados pelos quilombolas. O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá realizar a
desapropriação de determinadas áreas caso os territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos
quilombos estejam situados em locais pertencentes a particulares. O STF reputou válida essa previsão tendo em vista
273
que, em nenhum momento a Constituição afirma que são nulos ou extintos os títulos eventualmente incidentes sobre
as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. Assim, o art. 68 do ADCT, apesar de
reconhecer um direito aos quilombolas, não invalida os títulos de propriedade eventualmente existentes, de modo
que, para que haja a regularização do registro em favor das comunidades quilombolas, exige-se a realização do
procedimento de desapropriação. Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente poderiam ser consideradas terras
de quilombolas aqueles que estivessem sendo ocupadas por essas comunidades na data da promulgação da CF/88
(05/10/1988). Em outras palavras, mesmo que, na data da promulgação da CF/88, a terra não mais estivesse sendo273
ocupada pelas comunidades quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito previsto no art. 68 do
ADCT. STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em
8/2/2018 (Info 890).
➢ Não se exige que eventuais interessados na remarcação das terras indígenas sejam notificados
diretamente a respeito da existência do procedimento
A demarcação de terras indígenas é realizada mediante processo administrativo disciplinado pelo Decreto nº
1.775/96. Este Decreto não exige que eventuais interessados na demarcação (ex: pessoas que possuem títulos de
propriedade da área a ser demarcada) sejam notificados diretamente a respeito da existência do procedimento. Basta
que seja publicado um resumo do relatório circunstanciado nos Diários Oficiais da União e da unidade federada
onde se encontra a área sob demarcação - publicação essa que também deve ser afixada na sede da Prefeitura
Municipal da situação do imóvel (art. 2º, § 7º do Decreto nº 1.775/96). Isso já é suficiente para garantir o
contraditório. Vale ressaltar, no entanto, que nesta publicação deverá constar o nome do interessado ou de sua
propriedade rural (ex: Fazenda Terra Boa). Assim, não há nulidade em processo de remarcação de terras indígenas
por ausência de notificação direta a eventuais interessados, bastando que a publicação do resumo do relatório
circunstanciado seja afixada na sede da Prefeitura Municipal da situação do imóvel. STJ. 1ª Seção.MS 22816-DF,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/9/2017 (Info 611).
O processo de demarcação de terras indígenas, tal como regulado pelo Decreto nº 1.775/1996, não vulnera os
princípios do contraditório e da ampla defesa, uma vez que garante aos interessados o direito de se manifestarem.
STF. 1ª Turma. RMS 27255 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/11/2015.
O procedimento de demarcação das terras indígenas é regulado pelo Decreto 1.775/96, que estabelece, em seu art.
2º, a necessidade de ser elaborado um estudo técnico antropológico e levantamento da área demarcada. A realização
da etapa de levantamento da área a ser demarcada é imprescindível, ainda que já tenham sido realizados trabalhos
de identificação e delimitação da terra indígena de maneira avançada. O descumprimento dessa etapa configura
violação do devido processo legal administrativo e enseja vício de nulidade da demarcação. STJ. 2ª Turma. REsp
1551033-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/10/2015 (Info 571).
274
O simples fato de o acusado ser sócio e administrador da empresa constante da denúncia não pode levar a crer,
necessariamente, que ele tivesse participação nos fatos delituosos, a ponto de se ter dispensado ao menos uma
sinalização de sua conduta, ainda que breve, sob pena de restar configurada a repudiada responsabilidade criminal
objetiva. STJ. 6ª Turma. HC 224728/PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/06/2014 (Info 543).