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Teorias de Piaget, Vygotsky e

Wallon e a relação com o e-learning


LEARNING THEORIES AND THE DESIGN OF E-LEARNING ENVIRONMENTS - EDU620-1.2
Teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon e a relação com o e-learning • 2/16

Teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon e a relação


com o e-learning
Conteúdo organizado por Tatiana dos Santos em 2018 do livro Learning
Environments by Design, publicado em 2015 por Catherine Lombardozzi. Revisão
2020

Objetivos de Aprendizagem
• Refletir sobre a importância das teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon para o
desenvolvimento de e-learning.
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Introdução
Uma das principais responsabilidades
do design educacional é preocupar-
se com o modo como as pessoas
aprendem, para, consequentemente,
pensar um ambiente de aprendizagem
que contemple essas necessidades.
Uma das estratégias é desenvolver
ferramentas que apoiem os designers
no momento de considerar uma
ampla gama de opções relacionadas
ao modo de aprender e internalizar o
conhecimento, tendo em vista uma lista
abrangente de componentes potenciais,
e um processo para a concepção
de abordagem também abrangente
para lidar com as necessidades
de aprendizagem que incorpore
questão informal, social, atividades
de desenvolvimento e experiencial,
juntamente com atividades formais de
desenvolvimento.
No entanto, pensar em como as
pessoas aprendem é complexo! Para
tanto, faz-se necessário compreender
estudos que envolvem as teorias de
aprendizagem.
Estudar essas teorias de aprendizagem
é necessário para compreender o
modo como o estudante aprende; ou
seja, convém pensar estratégias para
fazer uso da tecnologia em prol da
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aprendizagem.
O contexto contemporâneo nos permite afirmar que os estudantes cada vez mais
apresentam domínio das tecnologias; contudo, apenas o uso das novas tecnologias
não basta como suporte de todo processo de ensinar e aprender. Trata-se de um
recurso que agrega valor a esse processo e aproxima os estudantes aos conceitos
que devem ser apropriados.

Mas, como o estudante se apropria desses conceitos?


Mundialmente, fala-se em teorias de aprendizagem e de diferentes autores que
discutem essas teorias. Historicamente, essas teorias contribuíram para ampliar e até
nortear o olhar pedagógico para o processo de ensino e aprendizagem à luz dos
aspectos psicológicos e cognitivos, gerando diferentes possibilidades para conduzir
a educação, principalmente nas questões que envolvem a formação docente, o
desenvolvimento de currículos para educação básica e superior, sendo também,
base para desenvolvimento de propostas curriculares e projetos pedagógicos de
ensino.
Nesta reflexão, abordaremos as teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon, atualmente
muito utilizadas como elemento norteador de propostas pedagógicas que
envolvem o ensinar e o aprender.
Para Piaget (1991), é por meio da interação com o meio físico e social que o sujeito
constrói o conhecimento. O autor entendeu que a lógica implicada na relação
organismo–meio poderia ser estendida para o estudo dos processos intelectuais
e afetivos, trazendo noções como a de adaptação biológica para o estudo das
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funções cognitivas.
O autor desenvolveu uma pesquisa com crianças e adolescentes, buscando
compreender a forma como o ser humano constrói o conhecimento. Assim, levantou
características sobre o modo de agir, pensar, falar, o que resultou na sua teoria dos
estágios de desenvolvimento.
Esses estágios descritos por Piaget são: o sensório-motor; o pré-operatório; o
operatório concreto; e o operatório formal; etapas para cuja definição o autor toma
como base a idade biológica da criança.
Quadro 2.1 – Estágios de desenvolvimento infantojuvenil segundo Piaget

ESTÁGIO CARACTERÍSTICAS
Está dividido em três subestágios, sendo marcado inicialmente
por coordenações sensoriais e motoras de fundo hereditário
(reflexos, necessidades nutricionais). Na sequência, ocorre
a organização das percepções e dos hábitos. Por último, é
Sensório-motor caracterizado pela inteligência prática, que se refere à utilização
(0-2 anos) de percepções e movimentos organizados em esquemas de ação
que, gradativamente, vão se tornando intencionais, dirigidos a um
resultado. A criança começa a perceber, gradativamente, que os
objetos à sua volta continuam mesmo se não estiverem sob seu
campo de visão.

Surgimento da função simbólica, aparecimento da linguagem oral.


Pré-operatório Característica egocêntrica em termos de pensamento (centrado
(2-6 anos) nos próprios pontos de vista), linguagem e modos de interação. A
lógica do pensamento depende da percepção imediata, não sendo
possíveis operações mentais reversíveis.
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Pensamento mais compatível com a lógica da realidade, embora


Operatório ainda preso à realidade concreta. Reversibilidade de pensamentos
Concreto (uma operação matemática, por exemplo, pode ser reversível).
Compreende gradativamente noções lógico-matemáticas de
(6-11 anos)
conservação de massa, volume, classificação. O egocentrismo
diminui, surgindo uma moral de cooperação e de respeito mútuo
(moral da obediência).
Operatório
Pensamento hipotético-dedutivo. Capacidade de abstração.
Formal
Egocentrismo tende a desaparecer. Construção da autonomia, com
(a partir dos 11-12 avanços significativos nos processos de socialização.
anos)

Fonte: adaptado de Nunes (2009).

Para Piaget, a aprendizagem se processa por meio de dois movimentos simultâneos


e integrados, mas de sentido contrário: a assimilação e a acomodação (Bordenave &
Pereira, 2002).
O processo de assimilação envolve a noção de que conhecer consiste numa
significação, dada pelo sujeito, àquilo que é percebido. Ou seja, pelo contato com
o objeto ou determinado fato, o ser humano procura dar-lhe sentido por meio de
suas percepções.
O mecanismo de acomodação, um conceito também explorado pelo autor,
exige uma modificação dos esquemas mentais assimilados, a fim de que um novo
conhecimento seja construído.
A equilibração é um momento em que ocorre um certo conflito no sujeito, tendo
em vista que deve se adaptar ao novo. Trata-se do ponto de equilíbrio entre os
processos de assimilação e acomodação.
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Uma das grandes contribuições de problemas) se mediados, mas ainda


Piaget para a educação, certamente, foi não são capazes de fazê-lo sozinhos. O
a ideia de construção do conhecimento. autor sugeriu que os docentes devem
Ou seja, o sujeito constrói o seu trabalhar na Zona de Desenvolvimento
conhecimento a partir da realidade Proximal de modo a fazer avançar a
externa, e as interações entre os sujeitos fronteira da Zona de Desenvolvimento
são um fator primordial para seu Real, ou seja, na qual o aluno pode
desenvolvimento intelectual e afetivo. trabalhar sozinho.
Para o autor, até o erro caracteriza-se Uma das grandes contribuições do autor
como momento de aprendizagem. está nos estudos sobre a mediação e
Um pouco diferente de Piaget, sobre a aprendizagem por meio das
Vygotsky define a aprendizagem relações sociais colaborativas entre
como um processo central no pares.
desenvolvimento humano, como Enquanto a ênfase da aprendizagem
apropriação de conhecimentos, no construtivismo de Piaget estava
habilidades, signos, valores e linguagem, no desenvolvimento biológico e na
envolvendo a interação do sujeito com construção do saber influenciada pelo
o mundo cultural no qual se insere. ambiente, na teoria sociointeracionista
Vygotsky defendia o desenvolvimento estão o sujeito histórico e suas relações
humano, desde o início da vida, sociais.
influenciado pelo meio ao seu redor, ao Wallon, por sua vez, compreende o
se apropriar de significados culturais e desenvolvimento humano de forma
históricos que o cercam. integrada, por meio das dimensões
Defendia a Zona de Desenvolvimento intelectual, afetiva e motora, bem como
Proximal (ZDP), ou seja, um estágio da alternância funcional entre razão e
cognitivo no qual os estudantes são emoção. Compreende o sujeito como
ainda capazes de trabalhar (solucionar biológico-social.
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[...] para Wallon, o ser humano é organicamente social, isto é, sua estrutura
orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar.”
(DANTAS, 1992, p. 36)

A teoria de Wallon busca explicar a relação entre o sujeito e o meio social e as


mudanças que acontecem em diferentes momentos do próprio desenvolvimento,
tendo como base as necessidades, os interesses e o ambiente social em que está
inserido. O autor dá ênfase aos processos emocionais e afetivos. Acredita que é na
ação sobre o meio humano que deve ser buscado o significado das emoções.
De acordo com essa teoria, as experiências educacionais devem propiciar a visão de
mundo, a construção do eu, a subjetividade, por meio de interações entre grupos,
possibilitando a expressão verbal, corporal e emocional.
O autor divide em cinco os estágios de desenvolvimento, conforme quadro a seguir.

Quadro 2.2 – Estágios de desenvolvimento infantojuvenil segundo Wallon

ESTÁGIO CARACTERÍSTICAS
Momento marcado por inabilidade motora (e simbólica),
dependência de cuidados maternos, movimentos desordenados.
Comunica-se por meio da emoção (choro, medos, sons que vão se
Impulsivo- diferenciando). Inicialmente, a criança não percebe diferenciação
emocional entre seu corpo e os objetos do mundo externo. As manifestações
(1 ano) emocionais iniciais produzem efeitos no ambiente, mobilizam
a presença do outro, já sendo um contato de caráter social. Os
adultos vão introduzindo gradativamente a criança no contexto
cultural em que vivem.
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A criança começa a explorar o mundo físico, a manipulá-lo. Maior


autonomia de movimentos. Utilização de uma inteligência prática
Sensório-motor
(conhecimento perceptivo e motor da realidade). O pensamento
projetivo
está atrelado aos gestos/movimentos. Há uma projeção do pensar
(1-3 anos) em manifestações motoras. Início do desenvolvimento da função
simbólica (movida pela ação).
Momento de formação da personalidade/construção da
subjetividade. Há o predomínio dos aspectos afetivos na relação
da criança com o ambiente. Busca de autonomia, negação do
Personalista outro, contraposição a ordens, comportamentos arredios em
(3-6 anos) determinadas situações, mas ainda com forte vínculo com a família
e necessidade de aprovação. Pensamento sincrético, fabulação,
contradição, incoerências na fala e na escrita. Função simbólica
consolidada. Tentativa de autoconstituição, de construção de si.

Categorial A criança começa a perceber que existe uma diferenciação


( 7 a 10 anos) entre si próprio e o mundo externo. Suas potencialidades serão
determinadas pelo meio em que vivem.

Inicia-se a puberdade e, com ela, iniciam-se mudanças no plano


afetivo nas relações consigo e com os outros. O componente
afetivo é mais racionalizado, em virtude de mudanças no campo
Adolescência
intelectual. Momento de construção de si, de busca de novos
(11 anos em diante) sentidos. Depara-se com o desafio (conflito) de buscar sua
identidade, de ampliar seus vínculos afetivos, sem com isso perder
a afeição de pessoas significativas, como, por exemplo, os pais.

Fonte: adaptado de Nunes (2009).

Para Wallon (1995), a afetividade é essencial para o desenvolvimento e precede a


inteligência, tendo em vista que a criança é um ser social e as relações afetivas são
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anteriores a qualquer tipo de comportamento de outra natureza. O autor defende


que a expressão emocional possibilita mediação nas relações interpessoais, bem
como a afetividade permite compreender o sentido da realidade para si e para os
outros.
A construção de Piaget, a interação social de Vygotsky e a emoção e afetividade de
Wallon são elementos fundamentais para a compreensão do modo de aprender
dos indivíduos. São, além disso, primordiais para pensarmos em metodologias e
recursos que oportunizem o processo de ensino e aprendizagem.

Estudo de Caso

Uma escola está construindo o seu projeto pedagógico, e uma das abordagens
já utilizadas é a do construtivismo, que se baseia na teoria de Piaget. Contudo,
alguns educadores questionam essa abordagem, tendo em vista o alto teor
dado à maturidade biológica nela constante. Como um dos projetos é a
escola de tempo integral, que propicie contato entre crianças de diferentes
idades, sugeriu-se aprofundar os estudos nas teorias de Vygotsky e Wallon,
sem desconsiderar as contribuições de Piaget, complementando, portanto, os
estudos dos três autores.
Quais pontos devem ser levados em consideração? Como cada abordagem
poderá contribuir com o olhar pedagógico e com o planejamento dos
professores?
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Saiba Mais
Para aprofundamento do tema, leia o seguinte artigo:

Relações entre aprendizagem e desenvolvimento em Piaget e em


Vygotsky: dicotomia ou compatibilidade? Disponível em: <http://www2.
pucpr.br/reol/pb/index.php/dialogo?dd1=1840&dd99=view&dd98=pb>.
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Na ponta da língua

Referências Bibliográficas
BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. D. Estratégias de ensino-aprendizagem. São Paulo:
Vozes, 2002.
DANTAS, H. Para conhecer Wallon: uma psicologia dialética. São Paulo: Brasiliense,
1992.
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LOMBARDOZZI, Catherine. Learning Environments by Design. Alexandria:


Association for Talent Development, 2015.
NUNES, Ana Ignez Belém Lima. Psicologia do desenvolvimento: teorias e temas
contemporâneos. Brasília: Liber Livro, 2009.
PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e
Paulo Sérgio Lima Silva. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.
WALLON, H. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1968.
______. Psicologia e educação da criança. Lisboa: Vega, 1979.
______. Objetivos e métodos da psicologia. Lisboa: Estampa, 1995.
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Você pode acessar o livro base deste tema


na Biblioteca Lirn:

Learning Environments by Design


Catherine Lombardozzi
Alexandria: Association for Talent Development, 2015

Imagens: Shutterstock

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