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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000902926

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1087167-34.2020.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante BANCO
AGIBANK S/A, é apelado KOOKI TAGUTI.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 13ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso, majorada a verba honorária. V.U., de conformidade com
o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ANA DE


LOURDES COUTINHO SILVA DA FONSECA (Presidente) E HERALDO DE
OLIVEIRA.

São Paulo, 5 de novembro de 2021.

CAUDURO PADIN
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

V O TO Nº: 3 2 .9 8 0
A P EL. Nº : 1 0 8 7 1 6 7 - 3 4 .2 0 2 0 . 8 .2 6 .0 1 0 0
CO MA R CA : SÃ O P A U L O
A P TE. : B A NC O A GIB A NK
A P DO. : K OOK I T A GU TI

“Ação revis ional de contrato bancár io de crédit o


pess oal em razão de juros abusi vos ”. Alegação de
jur os abusivos aci ma da média de mer cado.
Sentença de procedência. Apelo do réu. Jur os
rem unerat óri os abusivos. Reconhecimento.
Redução para a t axa média de mercado.
Devol ução dos val ores pagos em excesso, de
f orm a s imples . Sent ença m ant ida. Recurso
despr ovi do.

Vistos.

Trata-se de apelação contra sentença de fls.


133/137 que julgou procedente a ação, “resolvendo o mérito da
causa, nos termos do art. 487, inciso I do Código de Processo Civil,
para limitar os juros remuneratórios à taxa média de mercado
divulgada pelo BACEN do Brasil, condenando a ré à restituição do
valor de R$ 15.164,83 (quinze mil, cento e sessenta e quatro reais e
oitenta e três centavos), atualizado de acordo com os índices da tabela
prática do Egrégio TJSP, desde o ajuizamento da ação, e com juros de
mora de um por cento ao mês a partir da citação ex vi do preconizado
pelo artigo 405 do Código Civil. Sucumbente, arcará a ré com custas,
despesas processuais e honorários advocatícios fixados em quinze por
cento sobre o valor da condenação atualizado na forma
supramencionada, com amparo nos respectivos critérios a propósito
estabelecidos pelo artigo 85, parágrafo segundo do CPC.”

Recorre o réu (fls. 140/155), requerendo,


preliminarmente, o recebimento do recurso no duplo efeito.
Apelação Cível nº 1087167-34.2020.8.26.0100 -Voto nº 32980 2
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Sustenta, em breve síntese, que “o recorrido


firmou não apenas um, mas quatro empréstimos não consignados com
forma de pagamento o débito em conta corrente”; que “o apelado
ESTAVA CIENTE E ANUIU, que os descontos fossem realizados a em
sua conta corrente, de acordo com o saldo existente, até ser atingido o
valor da parcela vencida ou saldo devedor. Assim, os débitos em conta
realizados, não se trataram de nenhuma surpresa para o autor”; que
“os bancos não possuem limite legal para estipular o percentual de
cobrança das taxas de juros. A fonte de referência são as taxas médias
de juros divulgadas pelo Banco Central do Brasil (BACEN ou BCB).
Elas são utilizadas como mero parâmetro”; que “. Era prerrogativa da
contratante antes de firmar a avença pesquisar a taxa de juros com a
instituição bancária que melhor atendesse suas expectativas e lhe fosse
mais favorável, prevalecendo no presente caso o pacto como celebrado”;
que “verifica-se que os mútuos envolvem crédito de alto risco, pois
destinado a pessoas com restrições cadastrais e, por isso, com histórico
de inadimplência. Ainda, são créditos fornecido de forma rápida e sem
a contratação de garantia ou mesmo de seguro de proteção financeira,
apenas com a previsão de desconto das prestações em conta corrente (e
não em folha de pagamento, conforme alegou a parte autora na petição
inicial)”; que “Assim a imutabilidade dos contratos (pacta sunt
servanda) é a regra, sendo exceção a possibilidade de revisões”. Por
fim, requer a reforma da sentença.

Em juízo de admissibilidade, verifica-se que o


recurso é tempestivo e foi regularmente processado, com preparo
(fls. 156/160), com resposta as fls. 161/169.

É o relatório.

Apelação Cível nº 1087167-34.2020.8.26.0100 -Voto nº 32980 3


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Relativamente ao pedido de atribuição de efeito


suspensivo, recebo a apelação em ambos os efeitos, pois insere-se
na regra do caput do artigo 1.012 do CPC.

Cuida-se de “Ação revisional de contrato bancário


de crédito pessoal em razão de juros abusivos” ajuizada sob o
argumento de cobrança de juros abusivos acima da média de
mercado em contrato de empréstimo pessoal não consignado.
Requer a redução da taxa de juros remuneratórios ao patamar da
média de mercado apurada pelo Banco Central, com devolução
do excesso de forma simples devidamente atualizada
monetariamente.

A sentença julgou procedente a ação para


limitar os juros remuneratórios à taxa média de mercado
divulgada pelo BACEN do Brasil, condenando a ré à restituição
do valor de R$15.164,83 (quinze mil, cento e sessenta e quatro
reais e oitenta e três centavos), atualizado de acordo com os
índices da tabela prática do Egrégio TJSP, desde o ajuizamento
da ação, e com juros de mora de um por cento ao mês a partir da
citação ex vi do preconizado pelo artigo 405 do Código Civil (fls.
133/137).

O recurso não prospera.

Por primeiro, ressalta-se que outros eventuais


contratos de crédito pessoal firmados entre o autor e réu não são
objeto desta demanda e não serão analisados.

Depreende-se dos autos que as partes


celebraram contrato na modalidade crédito pessoal em
11.12.2017, no valor financiado de R$15.317,03 a ser quitado em
12 parcelas de R$3.148,22, com juros de 18,00% a.m. e 528,70% ao

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ano e Custo Efetivo Total anual de 683,33%, vencendo-se a


primeira parcela em 07.01.2018 e a última em 07.12.2018 (fls.
28/30).

É certa a aplicação do Código de Defesa do


Consumidor nas relações bancárias, nos termos da Súmula nº 297
do Superior Tribunal de Justiça: “O Código de Defesa do
Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.

Os contratos de adesão, amplamente utilizados


nas múltiplas relações do cotidiano, não são por si só, ilegais ou
abusivos, até porque expressamente previstos no art. 54 do
Código de Defesa do Consumidor.

Vê-se, portanto, que o autor aderiu de forma


livre e consciente ao contrato firmado, não tendo alegado e
provado a ocorrência de vício de consentimento de modo a
invalidar toda a avença.

Também se sabe que a jurisprudência do


Egrégio Superior Tribunal de Justiça admite a mitigação do
princípio do pacta sunt servanda em relação a cláusulas abusivas.
Confira-se:

“[...] 6. O princípio do pacta sunt servanda não


constitui óbice à revisão contratual, mormente ante os princípios da
boa-fé objetiva, da função social que os embala e do dirigismo que os
norteia. Precedentes. [...]” (STJ, AgRg no REsp nº 1.363.814/PR,
Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, j.
17.12.2015, DJe 03.02.2016). E ainda: AgRg no AREsp nº
649.895/MS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, j.
05.05.2015, DJe 25.05.2015.

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JUROS

A taxa de juros não está limitada a 12% ao ano.

A questão há tempos encontra-se superada com


o advento da Emenda Constitucional nº 40/03, que nada fez
senão institucionalizar sedimentada jurisprudência dos tribunais
quanto à inaplicabilidade do art. 192, § 3º da Constituição
Federal, sem prévia regulamentação por lei complementar,
dando nova redação:

“Art. 2°- O art. 192 da Constituição Federal passa


a vigorar com a seguinte redação:

Art. 192. O sistema financeiro nacional,


estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do
País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o
compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis
complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do
capital estrangeiro nas instituições que o integram”

Depois, as instituições financeiras não estão


submetidas aos regramentos da Lei de Usura, consoante a
Súmula nº 596 do Supremo Tribunal Federal: “As disposições do
Decreto 22.626/33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros
encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas
ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional”.

E, de acordo com a Súmula nº 648 da Suprema


Corte: “A norma do § 3º do art. 192 da Constituição, revogada pela
Emenda Constitucional 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a
12% ao ano, tinha sua aplicabilidade condicionada à edição de lei
complementar”; disposição reproduzida na Súmula Vinculante nº
7.

Apelação Cível nº 1087167-34.2020.8.26.0100 -Voto nº 32980 6


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Todavia, embora não se possa falar em


limitação da taxa de juros remuneratórios, há casos em que
possível a sua revisão, quando se tratar de relação consumerista
e quando comprovadamente houver abuso na pactuação, ou seja,
somente com a demonstração nos autos da excessividade do
lucro e desequilíbrio contratual. A abusividade deve ser
analisada caso a caso. O controle jurisdicional da abusividade
dos juros remuneratórios foi tratado com maestria por ocasião
do precedente abaixo. Confira-se:

“ DIREITO
PROCESSUAL CIVIL E
BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL
DE CLÁUSULAS DE CONTRATO BANCÁRIO.
INCIDENTE DE PROCESSO REPETITIVO. JUROS
REMUNERATÓRIOS. CONFIGURAÇÃO DA MORA.
JUROS MORATÓRIOS. INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO EM
CADASTRO DE INADIMPLENTES. DISPOSIÇÕES DE
OFÍCIO (...) “Orientação 1 - JUROS REMUNERATÓRIOS.
a)As instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos
juros remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto
22.626/33), Súmula 596/STF; b) A estipulação de juros
remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não
indica abusividade; c) São inaplicáveis aos juros
remuneratórios dos contratos de mútuo bancário as
disposições do art. 591 c/c o art. 406 do CC/02; d) É
admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em
situações excepcionais, desde que caracterizada a relação de
consumo e que a abusividade (capaz de colocar o consumidor
em desvantagem exagerada art. 51, §1º, do CDC) fique
cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do
julgamento em concreto. (...) II - JULGAMENTO DO
RECURSO REPRESENTATIVO (REsp 1.061.530/RS) (...)
Devem ser decotadas as disposições de ofício realizadas pelo
acórdão recorrido. Os juros remuneratórios contratados
encontram-se no limite que esta Corte tem considerado
razoável e, sob a ótica do Direito do Consumidor, não
merecem ser revistos, porquanto não demonstrada a
onerosidade excessiva na hipótese. (...) Necessário tecer,
ainda, algumas considerações sobre os parâmetros que podem
ser utilizados pelo julgador para, diante do caso concreto,
perquirir a existência ou não de flagrante abusividade.

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Inicialmente, destaque-se que, para este exame, a meta


estipulada pelo Conselho Monetário Nacional para SELIC
taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia é
insatisfatória. Ela apenas indica o menor custo, ou um dos
menores custos, para captação de recursos pelas instituições
que compõem o Sistema Financeiro Nacional. Sua adoção
como parâmetro de abusividade elimina o 'spread' e não
resolve as intrincadas questões inerentes ao preço do
empréstimo. Por essas razões, conforme destacado, o STJ em
diversos precedentes tem afstado a taxa Selic como parâmetro
de limitação de juros. Descartados índices ou taxas fixos, é
razoável que os instrumentos para aferição da abusividade
sejam buscados no próprio mercado financeiro. Assim, a
análise da abusividade ganhou muito quando o Banco
Central do Brasil passou, em outubro de 1999, a divulgar as
taxas médias, ponderadas segundo o volume de crédito
concedido, par aos juros praticados pelas instituições
financeiras nas operações de crédito realizadas com recursos
livres (conf. Circular nº 2957, de 30.12.1999). As
informações divulgadas por aquela autarquia, acessíveis a
qualquer pessoa através da rede mundial decomputadores
(conforme http://www.bcb.gov.br/?ecoimpom no quadro X
LVIII da nota anexa; ou
http.//www.bcb.gov.br/?TXCREDMES, acesso em
06.10.2008), são segregadas de acordo com o tipo de encargo
(prefixado, pós-fixado, taxas flutuantes e índices de preços),
com a categoria do tomador (pessoas físicas e jurídicas) e
com a modalidade de empréstimo realizada ('hot money',
desconto de duplicatas, desconto de notas promissórias,
capital de giro, conta garantida, financiamento imobiliário,
aquisição de bens, 'vendor', cheque especial, crédito pessoal,
entre outros). A taxa média apresenta vantagens porque é
calculada segundo as informações prestadas por diversas
instituições financeiras e, por isso, representa as forças do
mercado. Ademais, traz embutida em si o custo médio das
instituições financeiras e seu lucro médio, ou seja, um
'spread' médio. É certo, ainda, que o cálculo da taxa média
não é completo, na medida em que não abrange todas as
modalidade de concessão de crédito, mas, sem dúvida, presta-
se como parâmetro de tendência das taxas de juros. Assim,
dentro do universo regulatório atual, a taxa média constitui
o melhor parâmetro para a elaboração de um juízo sobre
abusividade. Como média, não se pode exigir que todos os
empréstimos sejam feitos segundo essa taxa. Se isto
ocorresse, a taxa média deixaria de ser o que é, para ser um
valor fixo. Há, portanto, que s e admitir uma faixa razoável

Apelação Cível nº 1087167-34.2020.8.26.0100 -Voto nº 32980 8


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para a variação dos juros. A jurisprudência, conforme


registrado anteriormente, tem considerado abusivas taxas
superiores a uma vez e meia (voto proferido pelo Min. Ari
Pargendler no REsp 271.214/RS, Rel. p. Acórdão Min.
Menezes Direito, DJ de 04.08.2003), ao dobro (REsp
1.036.818, Terceira Turma, minha relatoria, DJe de
20.06.2008) ou ao triplo (REsp 971.853/RS, Quarta Turma,
Min. Pádua Ribeiro, DJ de 24.09.2007) da média. Todavia,
esta perquirição acerca da abusividade não é estanque, o que
impossibilita a adoção de critérios genéricos e universais. A
taxa média de mercado, divulgada pelo Banco Central,
constitui um valioso referencial, mas cabe somente ao juiz,
no exame das peculiaridades do caso concreto, avaliar se os
juros contratados foram ou não abusivos. (...) A questão
final atinente a este tópico procura responder ao seguinte
problema: constatada a abusividade, qual taxa deve ser
considerada adequada pelo Poder Judiciário? Muitos
precedentes indicam que, demonstrado o excesso, deve-se
aplicar a taxa média para as operações equivalentes, segundo
apurado pelo Banco Central do Brasil (vide, ainda, EDcl no
AgRg no REsp 480.221/RS, Quarta Turma, Rel. Min. Hélio
Quaglia Barbosa, DJ de 27.3.2007; e REsp 971853/RS,
Terceira Turma, Rel. Min. Pádua Ribeiro, DJ de
24.09.2007). Esta solução deve ser mantida, pois coloca o
contrato dentro do que, em média, vem sendo considerado
razoável segundo as próprias práticas do mercado. Não se
deve afastar, todavia, a possibilidade de que o juiz, de acordo
com seu livre convencimento racional, indicar outro patamar
mais adequado par aos juros, segundo as circunstâncias
particulares de risco envolvidas no empréstimo. (STJ-2ª
Seção, REsp 1.061.530 RS, rel. Min. Nancy Andrighi, j.
22/10/2008, DJe 10/03/2009, julgamento para efeitos
do art. 543-C, do CPC, visando unificar o entendimento
e orientar a solução de recursos repetitivos, relativos a
relações de contratos de mútuos bancários comuns sem
abranger as “Cédulas de Crédito Rural, Industrial,
Bancária e Comercial; os contratos celebrados por
cooperativas de crédito, os que se incluem sob a égide
do Sistema Financeiro da Habitação, bem como os que
digam respeito a crédito consignado”)

Ainda merecendo destaque precedente do


Egrégio Superior Tribunal de Justiça, em voto proferido pela
Minª. Maria Isabel Gallotti:

Apelação Cível nº 1087167-34.2020.8.26.0100 -Voto nº 32980 9


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“No tocante aos juros remuneratórios, registro,


ainda, que o simples fato de a taxa efetiva cobrada no
contrato estar acima da taxa média de mercado, tal como
consignou o acórdão à fl. 186, não significa, por si só, abuso.
Ao contrário, a média de mercado não pode ser considerada o
limite, justamente porque é média, incorpora as menores e
maiores taxas praticadas pelo mercado. O que impõe uma
eventual redução é justamente o abuso, ou seja, a
demonstração cabal de uma cobrança muito acima daquilo
que se pratica no mercado. Assim, deve ser afastada a
referida limitação imposta pela corte de origem” (AgRg no
REsp 1309365, j. 07.08.2012)

É necessário lembrar que a taxa prevista no


contrato não indica apenas o lucro, mas nela se inclui os custos
operacionais, taxas, impostos, índice de inadimplência, custos de
recuperação de créditos, custos de manutenção, não podendo
buscar parâmetro na mera composição dos juros e lucros da
instituição financeira.

Deste modo, a simples cobrança em


porcentagem superior à taxa média de mercado não implica,
necessariamente, em reconhecimento de abusividade.

A jurisprudência de nosso Tribunal menciona


que:

“Não se pode falar de abusividade na pactuação dos


juros remuneratórios só pelo fato da estipulação ultrapassar 12% ao
ano ou de haver estabilidade inflacionária no período. Ao contrário, a
abusividade destes só pode ser declarada, caso a caso, à vista de taxa
que comprovadamente discrepe, de modo substancial, da média do
mercado na praça do empréstimo, salvo se justificada pelo risco da
operação. Ou seja: a limitação da taxa de juros em face da suposta
abusividade somente se justificaria diante de uma demonstração cabal
da excessividade do lucro da intermediação financeira, porém sem
desconsiderar todos os demais aspectos que compõem o sistema

Apelação Cível nº 1087167-34.2020.8.26.0100 -Voto nº 32980 10


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financeiro e os diversos componentes do custo final do dinheiro


emprestado, tais como o custo de captação, a taxa de risco, os custos
administrativos (pessoal, estabelecimento, material de consumo, etc.) e
tributários e, finalmente, o lucro do banco. [...]” (Apelação nº
0023911-10.2000.8.26.0562, rel. Des. Gilberto dos Santos, j.
18.12.2014, destaquei)

“CONTRATO BANCÁRIO - JUROS


REMUNERATÓRIOS As instituições financeiras podem cobrar juros
remuneratórios livremente, salvo se verificado o abuso - Taxa de juros
remuneratórios que não pode ser superior ao dobro da média de
mercado para o período - Cláusula abusiva que coloca o consumidor em
desvantagem exagerada (art. 51, IV, e § 1º, CDC) - Taxa dos juros
remuneratórios que deve corresponder à taxa média de mercado nas
operações da espécie, divulgada pelo "Bacen" para os períodos em que
for constatada a abusividade [...]” (Apelação nº
4002947-18.2013.8.26.0320, rel. Des. Sérgio Shimura, j. 21.10.2015,
destaquei)

“[...] Taxa de juros. Divergência não constatada.


Percentual aplicado que corresponde àquele efetivamente contratado.
Juros remuneratórios. Sistema jurídico que não prevê limite. Súmula
Vinculante n.º 7 do STF. Controle jurisdicional. Critério negativo da
não abusividade. Compete ao devedor demonstrar a discrepância
substancial entre a taxa praticada, na ocasião do negócio, e eventuais
taxas inferiores negociadas por outras instituições financeiras,
observando-se o parâmetro da média do mercado informada pelo
BACEN (www.bcb.gov.br). Hipótese descartada. [...]” (Apelação nº
0002223-33.2011.8.26.0650, rel. Des. Rômolo Russo, j. 24.09.2015)

In casu, porém, como bem demonstrou a


apelante, a taxa aplicada ao contrato (18,00% a.m. e 528,70% ao

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ano) é muito superior à média praticada pelo mercado à época da


contratação (6,52% a.m. e 113,28% a.a.) informação que pode
ser obtida por simples consulta junto ao endereço eletrônico do
Banco Central (séries 25464 e 20742) 1.

Como já dito, as peculiariedades de cada caso


poderiam justificar o aumento acima da taxa média; no entanto,
nada neste sentido foi demonstrado pela ré.

Assim, havendo prova de que a taxa de juros


cobrada estava em flagrante descompasso com a média do
mercado financeiro para a mesma operação, caracterizada a
abusividade, tem-se por imperiosa a redução da taxa de juros do
contrato à média do mercado (para (6,52% a.m. e 113,28% a.a.),
em respeito aos princípios da eticidade e boa-fé objetiva, que
devem reger todos os negócios jurídicos.

Por tais motivos, de rigor a condenação da ré à


devolução, ao autor, dos valores por ela pagos em excesso.

Ressalta-se que ainda que tenha havido a


cobrança de juros remuneratórios abusivos, a devolução deve ser
de forma simples, tal como requereu o autor e como fixou a
sentença, e não em dobro, pois não restou caracterizada a má-fé
da ré.

De rigor a manutenção da sentença tal como


lançada.

Ante o exposto, o meu voto nega provimento ao


recurso, majorada a verba honorária para o patamar de 17%
sobre o valor da condenação (art. 85, §11º do CPC).

https://www3.bcb.gov.br/sgspub/consultarvalores/consultarValoresSeries.do?method=consultarValore
s
Apelação Cível nº 1087167-34.2020.8.26.0100 -Voto nº 32980 12
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CAUDURO PADIN
Relator

Apelação Cível nº 1087167-34.2020.8.26.0100 -Voto nº 32980 13

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