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A ÉTICA SOBRE Eutanásia,

Distanásia e a Ortotanásia

PROF. ESP. ALINE PAULA PEREIRA


Uma citação – Ruben Alves

 (...) Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores,
humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem
que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém
tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo
de que a passagem seja demorada.
 Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe
dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza. (...)
Outra citação – Heloise Zanelato
 Antigamente o paciente em fase terminal, morria lentamente em sua própria
casa, onde tinha tempo para despedir-se e passar seus últimos momentos com
seus familiares. Com o desenvolvimento científico o morrer tornou-se mais
solitário e desumano. Geralmente o doente é confinado em um hospital,
estando as pessoas mais preocupadas com o funcionamento de seus pulmões,
secreções e não com o ser humano que há nele. Estando muitas vezes sofrendo
mais emocionalmente que fisicamente. (...)
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
 CAPÍTULO I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus
ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas
de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos
por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente
reconhecidas.

XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a


realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e
propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos
apropriados.
RESOLUÇÃO CFM Nº 1.805/2006
(Publicada no D.O.U., 28 nov. 2006, Seção I, pg. 169)
 RESOLVE:

 Art. 1º - É permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos e


tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de enfermidade
grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de seu representante legal.

 § 1º - O médico tem a obrigação de esclarecer ao doente ou a seu representante


legal as modalidades terapêuticas adequadas para cada situação.
 § 2º - A decisão referida no caput deve ser fundamentada e registrada no
prontuário.
 § 3º - É assegurado ao doente ou a seu representante legal o direito de solicitar
uma segunda opinião médica.
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA
CAPÍTULO V -RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES
 É vedado ao médico
 Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante
legal.

 Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer
todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou
 terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa
do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal.
Terminalidade da Vida
Paciente Terminal

 É aquele que está em fase final por evolução da sua doença, sem
mais condição de reversibilidade, mesmo que parcial e
temporária, frente a qualquer medida terapêutica conhecida e
aplicada.

 Silva e Schramm, 2007


Terminalidade da Vida
Cuidado Paliativo

 É um cuidado ativo e integral direcionado aos pacientes (e


familiares) cuja doença não responda mais ao tratamento
curativo, priorizando-se o controle dos sintomas e a preservação
da qualidade da vida, sobre a preservação pura e simples do
prolongamento dessa vida.
SEGUNDO A OMS
Conceito definido em 1990, atualizado em 2002 e reiterado no
Atlas Global de Cuidados Paliativos de 2014. :
“Cuidados paliativos consistem na assistência promovida por
uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da
qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de
uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e
alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação
impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos,
sociais, psicológicos e espirituais".
Considerações iniciais:
que é a Eutanásia?;
Referências da Bioética;
Eutanásia quanto ao tipo de ação;
 Eutanásia quanto ao consentimento do
paciente;
O que é a Distanásia?;
 O que é a Ortotanásia?;
O que é Eutanásia?

 Terminalidade da Vida Eutanásia

 Na tradução etimológica literal boa morte, significa a facilitação da morte,


engendrada pelos profissionais da área da saúde. A eutanásia se dá por meio
de utilização de técnicas que permitam a ocorrência da morte, de modo a ser
menos dolorosa quanto possível ao paciente.

 Trata-se de HOMICÍDIO, ato ilícito não admitido pelo Direito, nem pela Ética
Médica.
 É a prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de maneira controlada e assistida
por um especialista. Prática esta proibida no Brasil e considerada homicídio.

 Atualmente, a morte assistida é permitida em quatro países da Europa Ocidental: Holanda, Bélgica,
Luxemburgo e Suíça;
 em dois países norte-americanos: Canadá e Estados Unidos, nos estados de Oregon, Washington,
Montana, Vermont e Califórnia;
Reflexão sobre a morte

 A morte sempre existiu e sempre existirá entre nós porque morrer


é parte integral da vida e da existência humana, tão natural e
previsível como nascer. Por que, então, é tão difícil morrer?
 Por que, na sociedade moderna, a morte transformou-se num tema
a ser evitado de todas as maneiras?
Argumentos a favor:

 As pessoas que julgam a eutanásia um mal necessário tem como


principal argumento poupar o paciente terminal irreversível de seu
sofrimento e aliviar a angústia de seus familiares. São raciocínios
que participam na defesa da autonomia absoluta de cada ser
individual, direito a escolha pela sua vida e pelo momento da
morte. Uma defesa que assume o interesse individual acima da
sociedade que, nas leis e códigos, visa proteger à vida.
Argumentos contra:
 Muitos são os argumentos contra a eutanásia, desde os religiosos,
éticos até políticos e sociais. Ponto de vista religioso: a eutanásia é
tida como uma usurpação do direito á vida humana, ou seja só
Deus pode tirar a vida de alguém.
 Ponto de vista da ética médica: tendo em conta o juramento de
Hipócrates, segundo o qual considera a vida como um dom
sagrado, sobre o qual o médico não pode ser juiz da vida ou da
morte de alguém.
O dilema ético
 para os profissionais da área da saúde:
 A eutanásia representa atualmente uma complicada questão de
bioética e biodireito, pois enquanto o estado tem como princípio a
proteção da vida dos seus cidadãos, existem aqueles que, devido ao
seu estado precário de saúde, desejam dar fim ao seu sofrimento
antecipando a sua morte. E nesse caso:
 como agir perante o princípio de autonomia do doente?
 Como agir perante o direito de viver?
Bioética
 É uma disciplina nova no campo da filosofia e surgiu em função da
necessidade de discutir moralmente o avanço tecnológico das
ciências na área da saúde, bem como aspectos da relação de
profissionais e pacientes.
 A Bioética pode ser definida como “o estudo sistemático das visões
morais, decisões, condutas e políticas das ciências da vida e
cuidados com a saúde, empregando uma variedade de
metodologias éticas em um ambiente multidisciplinar”.
Classificação da Eutanásia
 quanto ao tipo de ação:
 Não se pensa em eutanásia sem lembrar do Código de Ética. Vale
repensar a conduta questionando se estamos prestando assistência
de enfermagem com qualidade ou se estamos apenas tendo ações
piedosas e se tais ações se resume a um prolongamento
desnecessário. O que nos faz repensar e colocar em dúvida alguns
conceitos como o de vida ou morte no seu contexto dentro do
aspecto de qualidade de vida e o morrer dignamente. Atualmente a
eutanásia pode ser classificada de várias formas, de acordo com o
critério considerado.
Eutanásia Ativa
 o ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente,
por fins misericordiosos. Trata- se da ação pela qual se põe fim a
vida de uma pessoa enferma, por um pedido do paciente ou a sua
revelia. O exemplo típico seria a administração de uma overdose de
medicamentos com a intenção de por fim a vida do enfermo. É
também chamada de morte piedosa ou suicídio assistido. Refere-se
ao profissional.
Eutanásia passiva (ortotanásia)

 a morte do paciente ocorre, ou porque não se inicia uma ação


médica ou pela interrupção de medidas como suspender ou retirar
a alimentação, a hidratação ou a oxigenação, com o objetivo de
diminuir o sofrimento. Por exemplo a retirada de um equipamento
essencial como um respirador em um paciente terminal, sem
esperanças de vida. Refere-se ao profissional.
Eutanásia de duplo efeito

 quando a morte é acelerada como uma consequência indireta das


ações médicas que são executadas visando o alívio do sofrimento
de um paciente terminal. Refere-se ao profissional.
 Ex: Morfina
Eutanásia voluntária:
 quando a morte é provocada atendendo a uma vontade do
paciente. Refere-se ao paciente.
 Eutanásia involuntária: quando a morte é provocada contra a
vontade do paciente. Refere-se ao paciente.
 Eutanásia não voluntária: quando o paciente ou qualquer
responsável não é consultado ou não manifesta qualquer
posicionamento sobre a decisão. Refere-se ao paciente.
O que é a Distanásia?
 Significa o prolongamento do processo de morte, por meio artificial, o que traz
sofrimento ao paciente.
 Há, portanto, um prolongamento exagerado, uma obstinação terapêutica, que se
mostra, na maioria das vezes, totalmente inútil (futilidade terapêutica).
 Trata-se de medida que deve ser evitada, tanto pelos profissionais da área da saúde
quanto pelos componentes do meio social, pois distorce os objetivos da medicina
(Hipócrates).

 A distanásia é um termo pouco conhecido, porém, muitas vezes, praticada no campo da saúde. É conceituada
como uma morte difícil ou penosa, usada para indicar o prolongamento do processo da morte, por meio de
tratamento que apenas prolonga a vida biológica do paciente, sem qualidade de vida e sem dignidade. Também
pode ser chamada de obstinação terapêutica.
 Nesse sentido, enquanto, na eutanásia, a preocupação principal é com a qualidade de vida remanescente, na
distanásia, a intenção é de se fixar na quantidade de tempo dessa vida e de instalar todos os recursos possíveis
para prolongá-la ao máximo.
O direito de morrer

morrer de forma digna diz respeito a uma morte natural,


com humanização, sem que haja o prolongamento da vida
e do sofrimento, através da instituição de intervenções
fúteis ou inúteis, que se reporta à distanásia.
O que é a Ortotanásia
 Na etimologia significa morte correta e é justamente a situação oposta à
distanásia, ou seja, representa o não prolongamento, de forma artificial,
do processo de morte.
 A ortotanásia é prática utilizada para não gerar ao paciente um
sofrimento físico, psicológico e espiritual, presente, por exemplo, no uso
de técnicas terapêuticas inúteis.
 Ortotanásia é deixar que o paciente siga seu caminho natural para a morte
sem aumentar-lhe a vida de forma artificial, ou seja, apenas o
acompanhamento para que a morte seja menos sofrível possível e de forma
natural.
AS DIFERENÇAS DA EUTANÁSIA,
ORTOTANÁSIA E DISTANÁSIA JusBrasil
Terminalidade da Vida
Testamento Vital
 O Testamento Vital é um documento, redigido por uma pessoa no pleno gozo de
suas faculdades mentais, com o objetivo de dispor acerca dos tratamentos e não
tratamentos a que deseja ser submetida quando estiver diante de um diagnóstico
de doença terminal e impossibilitado de manifestar sua vontade.

 Tal direito está consagrado no Código Civil em seu artigo 15, que dispõe
que “ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico, ou intervenção cirúrgica”.
 Ademais, esse direito de decisão do paciente foi regulamentado na Resolução
1.1995 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que apresenta as diretrizes
para se concluir o testamento vital.
O relacionamento com a família e o respeito
às diferenças

 Principal problema ético na esfera emotivo-relacional refere-se à comunicação do


diagnóstico e do prognóstico, à informação ao doente sobre sua patologia e
respectiva evolução.
 É indispensável um comportamento do profissional de saúde que preze o respeito às
decisões intimas da pessoa e à sua dignidade; que evite a mentira piedosa; que
acompanhe com delicadeza e compreensão cada pedido de apoio, sobretudo no
acompanhar o paciente à morte.
Conhecimento ético e legal da atuação
do enfermeiro frente à eutanásia
 Neste sentido, o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, prevê em seu art.
29, a proibição dos profissionais de enfermagem em interromper a vida do paciente
através da eutanásia ou antecipar sua morte, já no campo da bioética, acredita-se
que é possível através de recursos terapêuticos praticar uma morte tranquila ao
paciente, indo contra o Código de Ética do enfermeiro.
 Tal fato é tão complexo que o Conselho Federal de Enfermagem introduziu no CEPE,
em seu Artigo 48, o dever de “Prestar assistência de enfermagem promovendo a
qualidade de vida à pessoa e família no processo do nascer, viver, morrer e luto”, e
no Parágrafo único, “Nos casos de doenças graves incuráveis e terminais com risco
iminente de morte, em consonância com a equipe multiprofissional, oferecer todos os
cuidados paliativos disponíveis para assegurar o conforto físico, psíquico, social e
espiritual, respeitando a vontade da pessoa ou de seu representante legal”.
 Da mesma forma, proíbe no Artigo 74 do mesmo Código, a promoção ou
participação do profissional em prática destinada a antecipar a morte da
pessoa, pois tal atitude seria contrária ao propósito e missão da profissão1
(COFEN, 2017).
 Há de se observar que a Resolução Cofen nº 564/2017 traz em seu Artigo
42 o dever do profissional de enfermagem em “Respeitar o direito do
exercício da autonomia da pessoa ou de seu representante legal na
tomada de decisão, livre e esclarecida, sobre sua saúde, segurança,
tratamento, conforto, bem-estar, realizando ações necessárias, de acordo
com os princípios éticos e legais”, além de no Parágrafo único, “Respeitar
as diretivas antecipadas da pessoa no que concerne às decisões sobre
cuidados e tratamentos que deseja ou não receber no momento em que
estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, suas
vontades”.
Percepção do enfermeiro

 em relação à ortotanásia: Na prática profissional, é necessário que se esteja atento ao compromisso de


proporcionar uma morte digna, mantendo o paciente assistido e confortável.
 Atualmente, a distanásia é um problema ético que interfere no desejo do paciente e da família, bem como no
cotidiano dos profissionais da saúde, ignorando o momento de parar de se investir no tratamento. Em
contraposição, na ortotanásia, o paciente deve ser atendido de maneira individualizada, sendo auxiliado em
suas necessidades físicas, emocionais e espirituais, respeitando seu tempo de vida.
video
 https://www.youtube.com/watch?v=D5v3q-fZmTM
 https://www.youtube.com/watch?v=ctna13CwylE
 https://www.youtube.com/watch?v=l_TW5S-cmnQ
 https://www.almg.gov.br/comunicacao/tv-
assembleia/videos/video?id=1508231&tagLocalizacao=85
 LEITURA COMPLEMENTAR
 https://g1.globo.com/bemestar/noticia/conselho-federal-de-medicina-
estabelece-novas-regras-para-determinar-morte-cerebral.ghtml
 https://www.folhape.com.br/noticias/apos-morte-cerebral-confirmada-
homem-acorda-pouco-antes-de-aparelhos/279523/
 https://www.youtube.com/watch?v=J0b52ZipfrU
Questões
 1- Qual definição de eutanásia, ortotanásia e distanásia?
 2- Elaborar uma lista dos argumentos pró e contra a eutanásia, distanásia
e ortotanásia.
 3- Pode uma concepção de vida e morte, de caráter religiosa, ser imposta
para quem não acredita na religião específica ou em nenhuma religião?
Como compreender a eutanásia neste contexto: ela deve ser proibida
para pessoas que não compartilham valores religiosos que definem a vida
como um bem em si?
 4- O que é o amor?
 5- Amar é possuir o outro, mesmo contra sua vontade, ou deixar que ele
parta quando for de sua vontade?
 6- Pode ou deve, o médico ajudar um paciente que sofre de modo
irreversível, a morrer?
 7- A eutanásia pode ser considerada uma ação médica ética?
Bibliografia

 https://portal.coren-sp.gov.br/wp-
content/uploads/2023/03/Parecer_006_2023_Processo-de-morte-
Ortotanasia.pdf
 https://www.jusbrasil.com.br/artigos/o-que-e-testamento-
vital/240255230#:~:text=Testamento%20Vital%20%C3%A9%20um%20docum
ento,para%20expressar%20livremente%20sua%20vontade.

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