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Exames de Processo II-cópia
Exames de Processo II-cópia
1.º É verdade que o Réu quer vender todas as frações autónomas do prédio a
Clotilde;
2.º É falso que António tenha direito a ser indemnizado, uma vez que o sinal
pago por efeito do contrato-promessa foi devolvido em singelo ao Autor,
como aí se previra na eventualidade do Réu encontrar melhor comprador
no prazo máximo de 60 dias, o que sucedeu;
3.º O Réu é que, ao invés, tem direito de ser indemnizado por António dado que
a ação judicial em causa é prejudicial ao seu bom nome e crédito no
mercado e perturba a conclusão do negócio com Clotilde, valor de
indemnização que, porém, não se consegue ainda quantificar, mas que se
peticiona desde já.
Direito Processual Civil II (Noite)
Prova Escrita – Época normal 2019-2020
1. Aprecie a admissibilidade dos pedidos deduzidos por António na sua petição inicial.
(2 v.)
Identificação dos requisitos do pedido (cf. art. 186.º do CPC), a sua necessidade (v.g.,
art. 3.º, n.º 1, e 552.º, n.º 1, e) do CPC) e função conformadora do objeto do processo,
em conjunto com a causa de pedir;
Identificação de dois pedidos em relação de cumulação subsidiária (cf. art. 554.º do
CPC);
Análise dos pressupostos de admissibilidade deste tipo de cumulação (art. 37.º,
aplicável ex vi art. 554.º, n.º 2, ambos do CPC), devendo concluir-se em sentido
afirmativo;
Em particular, é valorizada (e desvalorizada a afirmação contrária) a referência ao
facto de a incompatibilidade substantiva não ser entrave à cumulação, uma vez que
o pedido subsidiário somente será analisado em caso de improcedência do pedido
principal (554.º, n.º 2 do CPC).
2.º: O Réu invoca uma excepção perentória extintiva do direito alegado pelo Autor,
cuja consequência, caso seja procedente, é a absolvição (total ou parcial) do pedido.
O Autor tem direito ao contraditório sobre o referido facto, o qual deverá ser exercido
em sede de audiência prévia ou, não ocorrendo, em sede de audiência de discussão e
julgamento. Deve ser também referido que, face ao ponto 3, que corresponde a uma
reconvenção, a resposta às excepções deveria ser apresentada conjuntamente com a
resposta à reconvenção por meio de réplica, por ser este o último articulado
processualmente admissível (cf. art. 3.º, n.º 4 do CPC);
O ponto 3. da contestação corresponde a um pedido reconvencional, i.e., pedido
formulado pelo Réu contra o Autor. Sem prejuízo do pedido ser admissível em termos
substantivos, formalmente, a reconvenção deve ser deduzida separadamente (e
atribuído um valor), impondo ao Autor o ónus de apresentar réplica e impugnar os
factos e deduzir as excepções relevantes, sob pena de, tal como sucede com a falta de
contestação, se considerarem admitidos os factos não impugnados (deve ainda ser
discutida a possibilidade de a falta de apresentação de réplica gerar a confissão ficta
dos factos, à semelhança da revelia). Deverão ser desenvolvidos os pressupostos
processuais da Reconvenção;
C não contesta nem pratica qualquer acto no processo pelo que se encontra numa
situação de revelia absoluta (cf. art. 566.º e seguintes do CPC). A revelia é absoluta
devido à total inércia de C. Tendo esta omitido a apresentação da contestação, mas
tendo intervindo de alguma forma no processo, designadamente pela junção de
procuração a mandatário forense, estaria em causa uma revelia relativa. Uma e
outra conduzem a um idêntico efeito cominatório (semi-pleno), i.e., a (fictícia)
admissão dos factos alegados pelo autor e sobre os quais não recaia uma excepção
(por exemplo, os factos para os quais a lei, relativamente à sua prova, exija
documento escrito);
Análise dos efeitos da revelia, atendendo à defesa apresentada pelo Réu B;
Devem ser explicitadas as alterações de tramitação geradas pela revelia absoluta.
Direito Processual Civil II (Noite)
Prova Escrita – Época normal 2019-2020
4. Admita que o Tribunal notifica Bento para juntar aos autos o contrato promessa
celebrado e que este, apercebendo-se que não tem razão na sua alegação, se recusa a
fazê-lo. Como deve o Tribunal proceder? (3 v.)
5. Imagine que, após a audiência prévia, António vem a falecer. O que acontece à
instância e o que faria se fosse Daniela, cônjuge e única sucessora de António? (2 v.)
7. Após a apresentação da petição inicial, António descobre que Bento colocou à venda
no OLX todo o seu património. O que faria, se fosse mandatário(a) de António e que
fundamento(s) alegaria, nessa sede? (3 v.)
II
“O Código do Processo Civil recusa uma apreciação livre, ainda que racional, dos meios
de prova por parte do julgador”
Tópicos de Correção
i) Trata-se de uma impugnação de facto, nos termos do art. 574.º/3 CPC. A R. não tem
como saber se os AA. conseguem ou não dormir.
A impugnação de facto torna o facto controvertido.
Os AA. não têm direito de resposta.
ii) Trata-se de uma exceção perentória impeditiva, pois C invoca um facto novo (que
necessita do cão para sua segurança) e que está a exercer um direito que prevalece numa
colisão.
Os AA. têm direito a responder na réplica (art. 3.º/4 CPC), considerando que houve lugar
à dedução de pedido reconvencional.
Em princípio, esta defesa só seria admissível se fosse subsidiária do ponto i), porque esta
exceção implica o reconhecimento de que o direito dos AA. ao seu descanso estava a ser
violado.
1
Direito Processual Civil II (Noite)
Regente: Prof. Doutor José Luís Ramos
Prova Escrita – Época de Recurso
24 de julho de 2020 – 19:30 | Duração da prova: 2h
2. Já depois de proposta a ação, Ana descobre que está grávida e que o seu médico
desconfia que a ausência de um descanso adequado pode ser a causa de algumas
complicações que se estão a verificar na gravidez. Analise separadamente a
admissibilidade processual das seguintes pretensões de Ana:
Aquilo que Ana pretende seria conseguido através do decretamento de uma providência
cautelar comum (pois não se enquadra em nenhuma das providências especificadas),
com inversão do contencioso, para que a decisão se tornasse definitiva.
Verificar a existência de periculum in mora no caso concreto.
Referir a necessidade de fumus boni iuris e proporcionalidade para decretamento da
providência e verificar o seu preenchimento no caso concreto.
Não parece que a urgência seja tal que justifique que a providência seja decretada sem
audição da requerida nem sem audição das testemunhas arroladas por Carolina, mas
depende do caso concreto. São admissíveis ambas as posições, desde que devidamente
justificadas.
Referir a necessidade de que o juiz tenha a convicção plena de que o direito de Ana existe
para inverter o contencioso. É também necessário que a natureza da providência o
permita, o que se verifica, pois trata-se de uma providência antecipatória.
Alusão às posições doutrinárias que entendem não existir lugar à inversão do
contencioso, em virtude de a providência ter sido decretada já na pendência da ação
principal.
2
Direito Processual Civil II (Noite)
Regente: Prof. Doutor José Luís Ramos
Prova Escrita – Época de Recurso
24 de julho de 2020 – 19:30 | Duração da prova: 2h
3. Um dos temas da prova fixado pelo juiz é o seguinte: “Os latidos do cão impedem
os autores de dormir?”. Comente a inclusão deste tema da prova, e diga como
deve o juiz decidir se não conseguir formar convicção segura sobre a veracidade
deste facto. (3 valores)
II
3
Exame de Direito Processual Civil II (Noite)
Época Normal
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
05.06.2018
Duração: 2h
Tópicos de correção
Adérito está apaixonado por uma fantástica herdade nos arredores de Évora. O sonho de passar uma
velhice tranquila e longe do stress de Lisboa ajudou-o a formar a sua decisão de adquirir a herdade a
Benedita e a Carlos, seus velhos amigos, casados no regime de comunhão geral.
Como faltavam ainda umas formalidades, Adérito celebra com Carlos contrato-promessa de compra
e venda em março de 2018, tendo-se projetado a celebração do contrato definitivo para maio de 2018,
o que não veio a suceder.
Desta forma, Adérito agastado com a situação resolve demandar apenas Carlos exigindo-lhe a
restituição do montante de EUR 250.000,00 pagos a título de sinal, invocando a nulidade, por falta de
forma do contrato-promessa (este foi celebrado por mero escrito particular). Adérito aproveita ainda
esta ação para pedir o pagamento de uma dívida antiga de Carlos, emergente de um contrato de mútuo
no valor de EUR 35.000,00.
Adérito limita-se a requer na petição inicial a inquirição de Dália e Ernesto que assistiram a toda a
discussão sobre a compra da herdade e ainda estiveram presentes no dia da celebração dos contratos
e por isso poderão demonstrar a sua celebração.
Citado, Carlos vem apenas dizer que é parte ilegítima na ação, na medida em que é casado com
Benedita e que esta também deveria estar na ação. Quanto ao resto, limita-se a dizer que não recebeu
qualquer montante de Adérito.
Responda de forma suscita, mas fundamentada, às seguintes questões (as questões são
independentes entre si):
São formulados dois pedidos por Adérito: (i) restituição dos montantes pagos a título
de sinal na sequência da celebração do contrato de compra e venda e (ii) restituição dos
montantes devidos ao abrigo de um contrato de mútuo.
Identificação de uma situação de cumulação de pedidos ao abrigo do artigo 555.º do
CPC.
Análise da questão doutrinária respeitante à aplicabilidade (Conselheiro Abrantes
Geraldes) ou não (Professor Lebre de Freitas/ Prof. Isabel Alexandre) da conexão
objetiva por aplicação analógica do artigo 36.º do CPC. Consequências da assunção de
uma ou de outra das posições doutrinárias.
Identificação de dois tipos de defesa: (i) por exceção dilatória (ilegitimidade) [artigos
576º/1 e 2 e 577.º, alínea e), ambos do CPC] e (ii) por impugnação (neste caso,
impugnação por desconhecimento) [artigo 571.º do CPC].
5) Em plena audiência final, o tribunal apercebe-se de que existe uma contradição entre o
depoimento de parte prestado por Carlos e o depoimento de uma testemunha,
determinando a acareação. Poderia fazê-lo? (2 v.)
Está em causa a discussão da aplicação analógica do artigo 523.º do CPC, i.e., permitir
que seja realizada a acareação entre uma parte e a testemunha.
Mesmo concluindo pela admissibilidade em geral da aplicação de tal regime, sempre
cumpriria salientar que caso existisse confissão reduzida a escrito (assentada), nos
termos do artigo 463.º do CPC a diligência em causa seria inútil. Face a factos não
confessados, considerando as finalidades da prova por depoimento de parte, estes
estariam sujeitos à livre apreciação do tribunal, pelo que, quanto a estes, a pugnar-se
pela aplicação analógica do artigo 523.º do CPC, seria admissível a acareação.
6) O Tribunal não está ainda convencido da verdade dos factos e decide, oficiosamente,
chamar Adérito para que este esclareça alguns factos, através de prova por declarações
de parte, em sede de audiência final. Poderá fazê-lo? (2 v.)
Análise da querela doutrinária a respeito da possibilidade de o tribunal, oficiosamente,
determinar a prova por declarações de parte.
A respeito desta querela, colocar em confronto as posições do Prof. Lebre de Freitas que
pugna pela impossibilidade de ser determinada oficiosamente a prova por declarações
de parte, atendendo, nomeadamente, à atual redação do CPC fruto da alteração de 2013
(nomeadamente da redação do artigo 466.º do CPC) e a posição dos Drs. Paulo Ramos
de Faria/Ana Luísa Loureiro e Pires de Sousa que defendem tal possibilidade ao abrigo
do artigo 411.º do CPC.
A questão suscita a análise da exceção dilatória de caso julgado – artigos 577.º, alínea
i), 581.º e 619.º do CPC.
Neste caso em concreto, deverá ser identificada a necessidade de verificação da tríade
de pressupostos do caso julgado: (i) identidade de partes; (ii) identidade da causa de
pedir e (iii) identidade do pedido.
De acordo, nomeadamente, com a jurisprudência (cfr. Acórdão do Supremo Tribunal
de Justiça, de 09.11.2017 (aqui) não se verificaria a exceção de caso julgado na segunda
ação atendendo ao facto de não se verificar a identidade de causa de pedir: na primeira
ação o fundamento é a nulidade do contrato-promessa por falta de forma, na segunda
ação a causa de pedir seria a violação de deveres pré-contratuais.
II
Comente a seguinte afirmação (3 v.)
“Se o objeto da sentença, quer em sede de ação declarativa, quer em sede de procedimento
cautelar, deve coincidir com o objeto do processo, isso não abrange a convolação”.
Ponderação dos limites da condenação nos termos do artigo 609.º do CPC, com a necessária
identificação do conceito de objeto do processo (aqui se incluindo, nomeadamente, a
definição de pedido e de causa de pedir, com eventual recurso aos números 3 e 4 do artigo
581.º do CPC).
Em concreto, para os procedimentos cautelares, referir a possibilidade de convolação oficiosa
pelo tribunal ao abrigo do artigo 376.º, n.º 3, do CPC e os seus limites.
Exemplificação de situações em que, eventualmente, a convolação seja possível,
nomeadamente quanto esteja em causa uma diferente configuração jurídica da questão
(exemplo, o autor pede a condenação do réu por responsabilidade extra-contratual e o
tribunal considera existir responsabilidade contratual) e deveres do tribunal (nomeadamente,
se a convolação implica - ou não - o convite, pelo tribunal às partes para se pronunciarem
quanto à convolação ao abrigo do princípio do contraditório, nos termos do artigo 3.º, n.º 3,
do CPC).
Invocar, igualmente, a imposição legal do tribunal de conhecimento de questões oficiosas,
como é o caso da nulidade, ao abrigo do artigo 286.º do Código Civil (estando esta realidade
expressa no número 2 do artigo 608.º do CPC).
Exame de Direito Processual Civil II (Noite)
Época Normal (Coincidências)
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
25.06.2018
Duração: 2h
Tópicos de correção
Nesse mesmo dia, Bernardo, português, residente em Sevilha, lê o anúncio e telefona de imediato
a Andrew a dar conta do interesse na compra do veleiro, que conhecia bem das regatas em Portugal:
"Tal como conversado hoje pelo Whatsapp, reitero o compromisso de lhe comprar o seu magnífico
veleiro. Estarei em Cascais no dia 20.06.2018 e nessa altura poderemos tratar da entrega das
chaves e da burocracia.”
Bernardo instaura de imediato uma ação judicial na instancia local do tribunal de Lisboa, pedindo
a condenação de Andrew à entrega do veleiro de 20 pés, em virtude da celebração de um contrato
de compra e venda, por via telefónica (juntando à petição inicial cópia do email enviado a Andrew),
e bem assim a condenação de Andrew no pagamento das despesas de deslocação em que incorreu
na viagem de ida e volta que realizou no avião da TAP, entre Madrid e Cascais. E, se assim não se
entendesse, solicita ainda ao tribunal a condenação de Andrew na restituição do montante de €
150.000,00 (cento e cinquenta mil euros), preço que pagara pelo “magnífico veleiro”.
Cristiano aproveita esta ação para nela deduzir um pedido de condenação de Andrew no pagamento
de uma indemnização no valor de 200 mil euros por já não poder fazer as suas férias de sonho.
Responda de forma suscita, mas fundamentada, às seguintes questões (as questões são
independentes entre si):
Análise da figura da cumulação de pedidos apresentada por B.: indicação do tipo de cumulação
de pedidos em causa na hipótese: (i) cumulação de pedidos simples, real, entre os pedidos de
condenação na entrega do veleiro de 20 pés e no pagamento das despesas de deslocação
decorrentes da viagem de ida e volta no avião da TAP.
Verificação dos pressupostos de admissibilidade da cumulação simples: (i) compatibilidade
substantiva; (ii) existência de situação de impedimento à coligação: compatibilidade das formas
de processo e competência absoluta do tribunal (artigos 555.º e 37.º/1 e 2 CPC)
Análise do pedido apresentado por C.
Distinção dos conceitos de pedido e de causa de pedir.
Análise da figura da coligação e seus pressupostos: (i) conexão objetiva; (ii) compatibilidade
substantiva; (iii) inexistência de situação de impedimento a coligação: compatibilidade das
formas de processo e competência absoluta do tribunal (artigos 36.º e 37.º CPC). No âmbito da
compatibilidade processual analisar a competência internacional e aplicação do Regulamento n.º
1215/2012, de 12 de dezembro. Análise do artigo 7.º (local do cumprimento da obrigação) e do
artigo 4.º (domicílio do Réu).
Análise da conexão objetiva.
2. Suponha que Andrew contesta, alegando que a petição inicial é inepta; em momento algum
declarou vender o veleiro de 20 pés, e o email enviado apenas identifica um “magnífico veleiro”,
sendo que o seu veleiro de 14 pés é magnífico. Classifique a defesa de Andrew. (3 valores)
Análise da figura da contestação (artigo 573.º CPC), bem como caracterização do tipo de
defesa que pode ser apresentada (artigo 574.º), defesa por impugnação ou exceção (artigo 571.º
CPC), e ainda a discussão sobre a reconvenção (artigo 583.º CPC), enquanto meio de defesa
(contra-acção).
Identificação da invocação da ineptidão da petição inicial como defesa por exceção dilatória
(artigo 186.º/2 CPC). A petição inicial não é inepta, logo, a exceção dilatória invocada por A.
não é procedente. Acresce que o réu interpretou a petição inicial convenientemente, logo
aplica-se o artigo 186.º/3 CPC, e a eventual ineptidão seria sanada, não procedendo a exceção
dilatória invocada.
Quando o réu alega que em momento algum declarou vender o veleiro de 20 pés, está a
defender-se por impugnação de facto (artigo 571.º CPC).
3. No dia da audiência prévia, Bernardo lembra-se que Carolina, sua prima, escutara a conversa
telefónica que conduzira à compra e venda, e pretende arrolá-la como testemunha. Por seu turno,
Andrew pede para ser ouvido pelo tribunal e arrola Drew (seu pai) como testemunha, tendo em
vista provar que é um bom cidadão. Aprecie a admissibilidade dos meios de prova requeridos
por Andrew e Bernardo. (4 valores)
4. O Tribunal não está ainda convencido da verdade dos factos e decide, oficiosamente, chamar o
Bernardo para que este esclareça alguns factos, através de prova por confissão, em sede de
audiência final. Poderá fazê-lo? E, se determinasse antes a sua comparência para prestar
declarações de parte? (2 valores)
5. Suponha agora que o juiz dá como provado que o “magnífico veleiro” era, na realidade, o veleiro
de 20 pés. Mas como a ação judicial demorara imenso tempo, o veleiro de 20 pés tinha sido
vendido por Andrew à sua irmã mais nova, Ellen, exímia velejadora que, apesar de interpelada
repetidamente pelo tribunal, recusa-se entregar o veleiro, alegando que nada tem a ver com a
decisão do tribunal. Aprecie a admissibilidade desta alegação por parte de Ellen. (3 valores)
Análise dos conceitos de trânsito em julgado da decisão e de caso julgado material. Neste caso a
decisão tem força de caso julgado material.
Tendo Ellen adquirido o veleiro na pendência da causa, é uma parte em sentido material (uma
vez que não é um terceiro perante as partes da ação), ao abrigo do disposto no artigo 263.º/3
CPC.
As partes em sentido material ficam abrangidas pelo caso julgado por terem a mesma qualidade
jurídica das partes processuais (artigo 581.º/2 CPC).
II.
Distinção entre caso julgado material e formal (artigos 619.º e 620.º CPC).
Análise do alcance do caso julgado (artigo 621.º CPC).
Ver Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra disponível em
http://www.trc.pt/index.php/jurisprudencia-do-trc/processo-civil/6087-caso-julgado
Direito Processual Civil II – Noite (Época de Recurso / Coincidências)
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
27 de Julho de 2018
Duração: 2 horas
Critérios de correção
I
Artur acaba de adquirir, por EUR 500.000,00, a fantástica Herdade de Todos os Santos com o objetivo
de ali construir habitações de turismo rural e proporcionar um excelente retiro “para a confusão das
grandes cidades”.
Os vendedores, Bernardo e Catarina garantiram a Artur que, na Herdade, era possível a
concretização do seu projeto. Contudo, a Câmara Municipal de Beja rejeitou o pedido apresentado
por Artur porquanto era impossível a construção naquela área.
Artur está devastado: o seu projeto já não se vai concretizar e acaba de saber que Diogo arrombou
durante a noite o portão principal da Herdade e a porta de casa, subtraindo vários móveis estilo Luís
XIV que Artur tinha levado para lá.
Agastado com tudo isto resolve demandar (i) Bernardo e Catarina peticionado a resolução do
contrato de compra e venda e o pagamento de uma indemnização no valor de EUR 10.000,00 pelas
despesas que Artur teve com o projeto do alojamento; e (ii) Daniel peticionado a reparação dos danos
causados (no valor de EUR 5.000,00) e a restituição dos móveis que considera valerem, pelo menos,
EUR 100.000,00.
Não obstante ter sido regularmente citada, Catarina nada diz. Bernardo limita-se a dizer que
desconhece os factos relatados por Artur e que este é conhecido por ser um “néscio” nos seus
negócios. Daniel, na sua contestação, limita-se a dizer que invadiu a Herdade para resgatar a sua filha
que para ali tinha sido levada por Esmeralda, aproveitando para peticionar que Esmeralda seja
condenada a pagar-lhe uma indemnização por todos os danos causados com o rapto da sua filha.
Artur, notificado das contestações apresentadas, apresenta requerimento nos autos onde requerer que
Esmeralda seja condenada a restituir os móveis que se encontravam na Herdade já que, com toda a
certeza, foi ela que os roubou. Aproveita igualmente a ocasião para arrolar Filipe e Glória como
testemunhas alegando que desconhecia que eles tinham conhecimento sobre os factos em discussão
no litígio (razão pela qual não haveria arrolado qualquer testemunha na petição inicial).
Na audiência prévia Artur aproveita para requerer a realização de uma verificação não judicial
qualificada com o objetivo de determinar o valor concreto dos móveis que lhe foram subtraídos e,
bem assim, requerer que Catarina seja ouvida como testemunha para esclarecer as negociações
existentes até à formação do contrato. O Tribunal indefere ambos os pedidos, dizendo que a
verificação não judicial qualificada é dispendiosa e, no caso concreto, irrelevante e, ademais, que
Catarina não poderia depor como testemunha porque estando o contrato de compra e venda
corporizado em escritura pública é inadmissível o depoimento testemunhal sobre ele.
Na sentença o Tribunal julga improcedente o pedido de anulação alegando que não ficou provado que
Artur tivesse sido enganado, mas resolve condenar Bernardo e Catarina no pagamento da
indemnização peticionada “para não se ficarem a rir”. Artur fica chocado: Bernardo, chamado pelo
Tribunal a esclarecer algumas questões controvertidas reconheceu que ele e Catarina tinham mentido
a Artur e a declaração de Bernardo tinha ficado gravada no processo: “É um caso claro de prova plena”,
alega Artur.
Por sua vez, Bernardo e Catarina não percebem o sentido da decisão e pretendem reagir.
Responda de forma suscita, mas fundamentada, às seguintes questões (as questões são
independentes entre si):
II
Comente a seguinte afirmação (3 v.)
Sustentando-se a existência de caso julgado (ou por ter havido pedido nos
termos do art. 91º/2 CPC, ou por se seguir a 2ª orientação descrita), cumpre
analisar depois se, na 2ª acção, vale a autoridade de caso julgado a que
alude o art. 619º/1 CPC (por o seu objecto ser distinto, mas dependente, da
1ª), ocorrendo absolvição do pedido, ou, antes, se vale a excepção de caso
julgado constante do art. 577º i) (por o seu objecto ser idêntico ao da 1ª),
ocorrendo absolvição da instância. Aceitam-se ambas as soluções, desde que
fundamentadas.
Exacto, mas não totalmente: comparar os arts. 567º e 568º com o art. 574º, que
realmente consagram regimes diferentes; referir que, no caso de falta de contestação
à reconvenção, o regime aplicável é o do art. 574º, por força do art. 587º/1; referir
também que no caso de falta de contestação a que seja aplicável o art. 568º, a), aos
factos não impugnados é aplicável o art. 574º.
Exame de Direito Processual Civil II (Noite) – Época de Recurso
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
17.07.2017
Duração: 2 horas
Tópicos de correção
I
Adelaide adquiriu em 17 março de 2017 uma fabulosa herdade em Alagoa (Alentejo) a Bernardo,
no valor de EUR 400.000,00 com o objetivo de nela construir um hotel de charme.
Como se não bastasse, no dia em que Adelaide recebeu a notificação da Câmara Municipal de
Portalegre, soube pelas notícias que a herdade tinha sido assaltada, com o arrombamento da portão
principal (cujo valor ascendia a EUR 2.500,00) e com a remoção de várias árvores de fruto que ali se
encontravam (no valor de EUR 6.000,00). Agastada com o sucedido, desloca-se a Alagoa, onde
obteve a informação que o assalto tinha sido consumado por Daniel e sua mulher Esmeralda.
Considerando todo o sucedido, Adelaide intenta ação judicial na qual peticiona (i) contra Bernardo
a resolução do contrato de compra e venda da herdade por erro e igualmente uma indemnização no
valor de EUR 5.000,00 por danos morais e (ii) contra Daniel uma indemnização no valor de EUR
27.500,00 por danos patrimoniais e EUR 10.000,00 por não patrimoniais decorrentes do assalto.
Bernardo apresentou contestação alegando que nunca tinha sido acordado entre as partes que a
compra da herdade se destinaria à construção de um hotel de charme e pede ainda que Adelaide
seja condenada a pagar o preço da compra e venda do imóvel que nunca tinha pago.
Daniel contesta dizendo apenas “não tenho qualquer conhecimento dos factos que a Autora refere pelo que não
devo ser condenado”.
No decurso da Ação, Fernando que entretanto tivera conhecimento da ação judicial intentada por
Adelaide, e por se encontrar a explorar a herdade há mais de 30 anos, vem ao processo peticionar
ao tribunal que Adelaide e Bernardo sejam condenados a reconhecer que ele é o verdadeiro
proprietário por ter adquirido a herdade por usucapião.
II
Comente a seguinte afirmação:
“Por outras palavras, consumou -se uma evolução no sentido de a prova legal deixar de ser o elemento residual ou uma
simples excepção em face do abrangente ou preponderante modelo de livre apreciação da prova, ainda que na
modalidade de valoração racional, para assumir uma importância semelhante ou equivalente a ele” (3 v.)
A citação poderá encontrar-se em JOSÉ LUÍS BONIFÁCIO RAMOS, “O sistema misto de valoração da
prova” in O Direito 146.º (2014), III, p. 582.
• Função da prova – nomeadamente com a análise crítica do preceituado no artigo 341.º do CC.
• Evolução dos sistemas de prova, em particular dos modelos racionais (ou espirituais) e os
modelos racionais.
• No contexto dos modelos racionais, distinguir entre os modelos de prova legal (ou tarifada) e
os modelos de livre apreciação da prova.
• Abordagem das disposições legais exemplificativas da prova legal (v.g. arts. 347.º, 350.º, 358.º/
1 e 2, 371.º, 376.º/1, todos do CC) e de livre apreciação da prova (v.g. arts. 358.º/3, 366.º,
389.º, 391.º, 396.º, todos do CC).
• Evolução ocorrida no sistema processual civil português, em particular o confronto entre
redação anterior do CPC do artigo 355.º/ 1 e 2 e a atual redação do artigo 607.º/5 do CPC.
• Análise crítica da conclusão enunciada no texto em apreço, em particular a existência do
equilíbrio enunciado pelo Prof. Doutor José Luís Ramos ou a manutenção de um regime de
maior preponderância da prova livre.
Exame escrito de Direito Processual Civil II (NOITE) – Recurso – Coincidências –
24/7/2017 – Regência: Professor Doutor José Luís Ramos – Duração: 2 h
CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
Alberto celebrou com Macário, em abril de 2017, por escritura pública, contrato de compra e venda
de um Solar antigo e do seu recheio, localizado em Castro Verde pelo valor de EUR 310.000,00. Ficou
convencionado que Macário pagaria o preço em 31 de agosto de 2017 e que, nessa data, Alberto lhe
entregaria as chaves do Solar.
Contudo, na data aprazada, Macário que entretanto tinha casado com Benedita, não cumpre o
contrato.
Adicionalmente, Alberto descobre que Manuel, sabendo que o Solar se encontrava desocupado,
resolve fazer dele a sua habitação, recusando-se a sair.
Assim, agastado com todas estas situações, Alberto demanda, na mesma ação:
(i) Macário e Benedita pedindo que estes sejam condenados a pagar o valor de EUR
310.000,00, acrescidos de uma indemnização por danos morais no valor de EUR 6.000,00;
e
(ii) Manuel pedindo que este seja condenado a restituir o imóvel, livre de pessoas e bens.
Na petição inicial Alberto limita-se a juntar cópia da escritura pública e duas fotografias onde se vê
Manuel na piscina do Solar.
Macário, contesta alegando que nunca celebrou qualquer contrato de compra e venda com Alberto
e que, em todo o caso, este nunca lhe tinha entregado as chaves do Solar e que, por essa razão, Alberto
não lhe poderia pedir que pagasse o preço. Macário aproveita ainda para pedir que Alberto seja
condenado numa indemnização no valor de EUR 75.000,00 em virtude de Alberto o ter agredido
violentamente na sequência de Macário ter casado com Benedita, a quem Alberto chamava de
“mulher da sua vida”.
Benedita, que não se queria meter em confusões, resolve não contestar a ação.
Manuel também contestou e limitou-se a juntar aos autos procuração forense a favor do mandatário.
1) Analise e qualifique os pedidos formulados por Alberto na petição inicial e a sua admissibilidade
(4 valores)
Cumprirá identificar, no caso prático, a existência de uma potencial situação de coligação, na medida
em que Alberto dirige pedidos diferentes contra réus diferentes (pedidos discriminadamente
formulados). Ademais, a respeito dos pedidos deduzidos contra Macário e Benedita, cumprirá verificar
uma situação de cumulação simples de pedidos (art. 555.º).
Assim, em termos de análise da cumulação de pedidos, cumprirá salientar que Macário e Benedita são,
para o efeito, apenas uma parte processual, na medida em que os pedidos são formulados contra
ambos. Não existe qualquer situação que impeça a cumulação de pedidos nos termos do artigo 37.º
do CPC (por remissão do artigo 555.º). Mesmo para quem considere que o requisito da conexão
objetiva previsto no artigo 36.º se aplica (o que é discutível), este estaria verificado no caso concreto,
na medida em que o pedido de indemnização cível se encontrava relacionado com o incumprimento
contratual alegado.
Já a respeito da coligação, cumprirá salientar quem ainda que pudessem estar verificados os
pressupostos enunciados no artigo 37.º do CPC (não se verificava, nomeadamente, uma
incompatibilidade processual nem qualquer incompetência absoluta [competência internacional,
matéria ou hierarquia]) não estava preenchido o requisito da conexão objetiva enunciados no artigo
36.º do CPC. Seria necessário explicitar quais seriam os requisitos cujo cumprimento se impunha para
que a coligação fosse admitida.
Assim, não se admitindo a coligação – porque legalmente inadmissível – deveria o Tribunal dar
cumprimento ao estatuído no artigo 38.º, n.º 1, do CPC.
Macário defende-se por impugnação, por exceção e por dedução de pedido reconvencional.
Em concreto, (i) defende-se por impugnação ao alegar nunca ter celebrado qualquer contrato com o
autor, uma vez que contraria o facto constitutivo do direito do autor (cfr. artigo 571.º, n.ºs 1 e 2 (1.ª
parte); (ii) defende-se por exceção perentória modificativa (exceção do não cumprimento estabelecida
no artigo 428.º do CC – artigos 571.º, n.º 1 e 2 (2.ª parte), e 576.º, n.ºs 1 e 3, todos do CPC), uma vez
que o tribunal, se julgar a exceção procedente, condenará o réu in futurum, condicionadamente à
realização da prestação do próprio autor, e não, como o autor pedira, na satisfação imediata da
prestação pelo réu; e (ii) por dedução de pedido reconvencional nos termos dos artigos 583.º e 266.º,
ambos do CPC, uma vez que não se limita a pedir a sua própria absolvição do pedido, mas a
condenação do autor num outro pedido.
A respeito das defesas por impugnação e por exceção cumprirá salientar que Macário não poderia
defender-se simultaneamente por impugnação e por exceção (contradição intrínseca). Assim, deverá
entender-se que a defesa por exceção teria de ter sido deduzida subsidiariamente.
No que tange à reconvenção, cumprirá a verificação dos requisitos legais estabelecidos e respetiva
enunciação, em particular (i) dedução especificada (artigo 583.º, n.º 1, CPC), (ii) verificação de alguns
dos pressupostos de admissibilidade previstos no artigo 266.º, n.º 2.
Ainda que Macário tivesse deduzido especificadamente a reconvenção, parece que a única situação
onde poderia incluir-se o pedido por si formulado se enquadrava no âmbito da alínea c) do n.º 2, do
artigo 266.º do CPC (posição que todavia não parece ser a melhor, já que subjacente à compensação
se encontra o reconhecimento, pelo réu, do crédito do autor - a dependência dos pedidos -, que neste
caso não ocorre, porque o réu contestara a existência do crédito do autor). Assim, considerando que
o crédito que Macário alega é inferior ao peticionado pelo Autor convirá escalpelizar as diversas
doutrinas a este respeito (nomeadamente se, nestes casos, esta defesa deverá ser entendida como
defesa por exceção ou se, não obstante a compensação não extinguir o crédito do autor, o meio
processual adequado seria a reconvenção).
Para efeitos de resposta à questão colocada seria necessário que o aluno identificasse uma situação de
alteração (por cumulação) do pedido inicialmente formulado. Esta alteração, em concreto, não
derivada de acordo entre as partes, o que levaria à inaplicabilidade do artigo 264.º e a necessidade de
verificação dos pressupostos enunciados no artigo 265.º (em concreto, a verificação dos pressupostos
enunciados no número 2).
Assim, deverá entender-se (à semelhança do entendimento do Prof. Doutor Lebre de Freitas), que o
pedido de pagamento de juros corresponde ao desenvolvimento do pedido inicial (cfr. Lebre de
Freitas, Introdução do Processo Civil, 4.ª ed., Coimbra, Gestlegal, 2017, p. 166 (30)).
A respeito do momento processual, Alberto poderia, nos termos do artigo 265.º, n.º 2, do CPC,
proceder à ampliação do pedido até ao encerramento da discussão em 1.ª instância, o que se encontra
verificado, na medida em que o pedido foi formulado após a apresentação da contestação.
Cumprirá distinguir dois meios de prova: (i) cópia da escritura pública e (ii) fotografias.
A respeito da cópia da escritura pública esta constituiria prova documental (362.º do Código Civil),
contudo a sua natureza não se poderá confundir com a dos documentos autênticos previstos no artigo
369.º do Código Civil. Na verdade, no enunciado não se refere que foi junto o original da escritura
pública com a petição inicial, mas, tão somente, uma fotocópia desta. A este respeito, e na falta de
outra indicação, convirá salientar as diferenças entre os regimes estabelecidos nos artigos 387.º do
Código Civil (com a distinção entre os números 1 e 2). Apenas cumpridos os requisitos ali
mencionados se poderá dizer que a fotocópia, tendo o valor do original, goza da força probatória dos
documentos autênticos, estabelecida no artigo 371.º do Código Civil (isto sem prejuízo do estabelecido
nos artigos 385.º e 386.º, ambos do Código Civil).
Tratando-se de uma simples fotocópia, aplicar-se-ia o regime estabelecido no artigo 368.º do Código
Civil (cfr. neste sentido, Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 15.12.2005, processo 0536133,
disponível em www.dgsi.pt). Neste sentido, a força probatória seria plena, exceto se a parte contra
quem são apresentadas impugnar a sua exatidão (artigo 368.º do Código Civil).
No que diz respeito às fotografias, estas constituem prova documental e estão sujeitas às mesmas
regras enunciadas anteriormente para as reproduções mecânicas (artigo 368.º do Código Civil).
5) No decurso da audiência prévia, Alberto requer (i) ser ouvido como testemunha e (ii) que
Efigénia seja igualmente ouvida como testemunha. Pronuncie-se sobre o requerimento
apresentado e a sua admissibilidade (2 valores).
Em primeiro lugar salientar que do enunciado resultar que apenas foram juntos documentos com a
petição inicial, ou seja, não foi apresentada, nomeadamente, prova testemunhal – o que se impunha,
quanto à prova testemunhal, por força do artigo 552.º, n.º 3, do CPC.
Desta forma, não tendo sido apresentado anteriormente qualquer rol de testemunhas era, por
natureza, impossível alterá-lo ou aditá-lo, fazendo uso do artigo 598.º do CPC. Esta seria razão para
indeferir o requerimento apresentado a respeito da inquirição de Efigénia como testemunha. De
qualquer modo, esta posição não é consensual, havendo quem entenda que basta a apresentação de
prova documental com a p.i. para mais tarde se poder apresentar rol de testemunhas (ou seja, que o
essencial é ter-se juntado, no momento próprio, algum meio de prova): Primeiras Notas ao Novo
Código de Processo Civil, Vol. I, 2.ª ed., Coimbra, Almedina, 2014, p. 474. Admite-se que o aluno siga
esta posição, ou qualquer outra, desde que fundamentada.
Contudo, note-se que Alberto requereu igualmente ser ouvido na qualidade de testemunha. Estabelece
o artigo 496.º que estão impedidas de depor como testemunhas as partes na ação, o que se verificava
no caso.
O depoimento de Alberto poderia ser admitido, mas apenas como prova por declarações de parte,
nos termos do artigo 466.º do CPC, cumprindo salientar que deveriam ser indicados os factos sobre
os quais iria recair (artigo 452.º, n.º 2, aplicável ex vi do artigo 466.º, nº 2, do CPC). Salientar,
igualmente, a corrente jurisprudencial que admite que, mesmo que não sejam indicados os factos, ou
o tribunal convida a parte à sua concretização ou, em alternativa, admitindo o depoimento este cingir-
se-á aos factos pessoais.
Considerando que a prova por declarações de parte pode ser requerida até às alegações orais em 1.ª
instância (604.º, n.º 3, alínea e), do CPC), o requerimento apresentado seria tempestivo.
A resposta à questão colocada pressuponha a análise do regime estabelecido para a audiência prévia e,
em concreto, das alterações introduzidas, em 2013, na redação do CPC.
Em particular, na resposta a esta questão cumpre salientar que a audiência prévia poderá ser dispensada
com base em qualquer um dos pressupostos elencados no artigo 593.º do CPC. Considerando que
estaria em causa o conhecimento do mérito da ação, deveriam ser interpretadas, de forma conjunta,
as normas constantes do artigo 593.º, n.º 1 e 591.º, n.º 1, alínea d). Em concreto, resulta da parte inicial
do número 1 do artigo 593.º do CPC que apenas pode ser dispensada a audiência prévia “nas ações
que hajam de prosseguir”, o que, de acordo com a doutrina (v.g. Paulo Ramos de Faria e Ana Luísa
Loureiro, Primeiras Notas ao Novo Código de Processo Civil, Vol. I, 2.ª ed., Coimbra, Almedina,
2014, p. 536) deverá ser interpretado no sentido de não consentir que seja dispensada a audiência
prévia caso a ação haja de findar com o proferimento de saneador-sentença. Noutra aceção, a dispensa
de audiência prévia sempre teria de ser precedida de convite às partes para sobre tal dispensa se
pronunciarem, nos termos do artigo 3.º, n.º 2, do CPC (neste sentido, v.g.. Lebre de Freitas/Isabel
Alexandre, Código de Processo Civil Anotado, vol. 2.º, Coimbra, Almedina, 2017, pp. 650-651.
Assim, independentemente de qualquer uma das vias de argumentação seguidas, sempre existira
nulidade processual, nos termos e ao abrigo do artigo 195.º do CPC.
7) O tribunal proferiu sentença a declarar não provada a ação e absolveu os réus do pedido.
Alberto, não se conformando, resolve intentar nova ação judicial contra Macário e Benedita
alegando que o Solar em causa tinha sido por si doado a Macário e Benedita, peticionando,
desta forma, a revogação da doação com fundamento em que Macário e Benedita andam a
difamá-lo e já tentaram matá-lo em diversas ocasiões. É admissível esta nova ação? (3 valores)
A resposta à questão pressupõe a análise do conceito e extensão do caso julgado (artigos 619.º, 580.º,
n.ºs 1 e 2 e 581.º, todos do CPC).
Em concreto, será necessário verificar se existe a tríplice identidade necessária para que se possa falar
de caso julgado, com a consequente proibição de repetição de nova ação.
Na primeira ação o facto jurídico de onde emergia o fundamento da ação era composto pelo contrato
de compra e venda (eventualmente, pelo contrato de compra e venda e seu incumprimento, mas sendo
o cumprimento facto extintivo do direito, a primeira opinião é mais correcta), sendo o pedido
formulado o da condenação dos réus no cumprimento. Na segunda ação, o pedido formulado era o
da revogação da doação em virtude das difamações e alegadas tentativas de homicídio (que se
reconduzem ao conceito de “ingratidão do donatário” estabelecido no artigo 970.º do Código Civil).
Assim, não obstantes as partes ocuparem a mesma posição jurídica (de autor e réus), quer a causa de
pedir, quer o pedido, seriam distintos, o que implicava que não se verificassem os pressupostos da
exceção de caso julgado. Desta forma, não estando em causa a exceção de caso julgado, a nova ação
era admissível.
II
Comente a seguinte afirmação:
Com as inovações introduzidas na revisão de 2013 do Código de Processo Civil, deixou de existir uma tutela cautelar
antecipatória. Assim, todas as decisões passam a ser decisões de mérito no contencioso cautelar. (3 valores)
Na análise crítica que se pretende, deverá o aluno enunciar as alterações introduzidas na atual redação
do CPC na revisão de 2013.
Em concreto, cumprirá desenvolver o que deverá entender-se por tutela cautelar antecipatória e a sua
distinção da tutela cautelar conservatória.
Por outro lado, a questão das decisões de mérito pressupõe a análise do designado regime da inversão
do contencioso, devendo salientar que o mecanismo legal hoje constante, nomeadamente, do artigo
369.º do CPC, já antes se encontrava estabelecido no artigo 16.º do Regime Processual Civil
Experimental (Decreto-Lei n. º108/2006, de 8 de junho) [e igualmente no artigo 121.º, n.º 1, do
Código do Processo nos Tribunais Administrativos].
Cumprirá igualmente registar que a inversão do contencioso não poderá funcionar de forma
automática: carecerá sempre de requerimento da parte nesse sentido.
Por outro lado, a inversão do contencioso não poderá aplicar-se de forma indiscriminada a todas as
providências cautelares, isto é, apenas se poderá aplicar quando “a natureza da providência decretada
for adequada a realizar a composição definitiva do litígio” e, a respeito das providências cautelares
nominadas de acordo com o estabelecido no artigo 376.º, n.º 4, do CPC.
Ainda a respeito das providências cautelares nominadas, nem todas as antecipatórias são suscetíveis
de inversão do contencioso, bastante reparar que o arbitramento de reparação provisória está excluído
do elenco do artigo 376.º, n.º 4, do CPC (não obstante a inclusão de providências cautelares
conservatórias como o embargo de obra nova).
Assim, a frase em comentário não seria verdadeira.
Direito Processual Civil II
Exame de 1.ª Época – 3.º ano – Turma da noite
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
7 de junho de 2016
120 minutos
Entre Carlos e Abel existe listisconsórcio passivo, voluntário e comum (arts. 641.º CC e
32.º/2 CPC). A dívida emergente do contrato de compra e venda do automóvel era
comunicável (art. 1691.º, al. b) CC). Sendo Abel e Bernardete casados no regime da
comunhão de bens adquiridos, e de acordo com o sentido da doutrina dominante, este
seria um caso em que o credor pretenderia obter uma decisão susceptível de ser
executada sobre os bens do cônjuge que a não contraíu, para os efeitos previstos no art.
34.º/3, 2.ª parte CPC. Não tendo a ação sido proposta também contra Bernardete,
estaríamos diante a preterição de um litisconsórcio necessário, o que constitui uma
exceção dilatória nominada (art. 577.º, al. e)), de conhecimento oficioso (art. 578.º), e
sanável mediante a sua intervenção (espontânea ou provocada) no processo, sob pena de
absolvição dos réus da instância (art. 278.º/1, al. d)). Note-se que a intervenção de
Bernardete poderia ser suscitada até 30 dias após o trânsito em julgado da decisão que
houvesse posto termo ao processo com fundamento na exceção (não suprida até então)
de ilegitimidade (art. 261.º/2).
Importava, ainda, esclarecer que não existia aqui uma coligação, visto que os dois
pedidos foram deduzidos de forma indiferenciada contra ambos os réus.
Uma vez que o prazo importava apenas para o vencimento da obrigação, e que o autor
parece configurar a obrigação como imediatamente exigível, a situação em presença
parece recair na previsão da al. a) do n.º 2 do art. 610.º CPC (sentença de condenação in
futurum). Não tendo os réus impugnado a existência da obrigação, os RR. deveriam ser
condenados no pedido deduzido por Daniel, ficando as custas, no entanto, a cargo deste
(art. 610.º/3 CPC).
4. Suponha que, findo o julgamento, o tribunal se encontra em dúvida sobre a falta
de pagamento da prestação e, bem assim, sobre a existência de um defeito do
veículo objeto do contrato. Na sentença, o juiz condena Abel e Carlos no
pagamento da prestação em falta e Daniel no cumprimento da obrigação de
reparação do veículo. Aprecie o conteúdo da sentença proferida (4 valores)
Em primeiro lugar, o tribunal não deveria estar em dúvida sobre a falta do cumprimento
da obrigação, uma vez que esta acaba por ser tacitamente confessada, por Carlos quando
invoca o benefício da excussão prévia dos bens de Abel, mas também pelo próprio Abel,
ao alegar a exceptio non adimpleti contractus. A confissão, judicial e sob a forma escrita, tem
força probatória plena (art. 358.º/1 CC), e o tribunal não deveria ter deixado de dar este
facto como provado (arts. 596.º e 607.º/4 CPC).
Sem prejuízo do que acaba de dizer-se, o cumprimento constitui uma exceção perentória
extintiva e o ónus da prova competia ao réu (art. 342.º/2 CC); por conseguinte, a dúvida
sobre a sua verificação teria de resolver-se assumindo como verdadeiro o facto contrário,
ie., o facto de que não ocorrera o cumprimento (art. 414.º CPC). Também a prova da
existência de um defeito, como argumento para a invocação da exceção de não
cumprimento (excepção perentória modificativa), competiria a Abel (art. 342.º/2 CC). A
condenação de Abel e de Carlos no pagamento das prestações reclamadas por Daniel
seria, pois, justificada.
Relativamente à condenação de Daniel na eliminação do defeito, estar-se-ia diante de
uma violação do princípio do pedido (art. 609.º/1), visto que o defeito é invocado por
Abel como fundamento da absolvição do pedido de condenação no pagamento do
preço, ou seja, como exceção perentória modificativa, e não como causa de um pedido
reconvencional; logo, a sentença seria, nesta parte, nula (art. 615.º, al. e)).
5. Imagine que Abel e Carlos são condenados no pedido formulado por Daniel.
No entanto, como o defeito dos travões do automóvel não foi reparado, alguns
meses mais tarde, Abel propõe uma ação contra Daniel, pedindo uma
indemnização por não ter podido usufruir do automóvel (art. 798.º CC). Nesta
ação, porém, o tribunal julga improcedente o pedido, por não ter ficado
convencido quanto à celebração de um contrato entre as partes. Quid juris? (3
valores)
Não se verificava qualquer exceção dilatória de caso julgado, uma vez que o pedido e a
causa de pedir não são os mesmos nas duas ações (art. 580.º e 581.º). Acresce que a
existência de um contrato não se encontrava, à partida, coberto pelo caso julgado da
primeira decisão, visto que ele se esgota na parte dispositiva e nos fundamentos que são
dela indissociáveis; a existência do contrato não foi objeto de um pedido de simples
apreciação pelo Autor, nem o réu pedira a condenação do autor no cumprimento direito
à eliminação do defeito (art. 266.º/2, al. a)) ou a apreciação incidental da exceção
deduzida (art. 91.º/2). Por outro lado, as decisões não deixam de ser contraditórias (art.
625.º), visto que um dos pressupostos – a celebração do contrato – é apreciado de forma
contraditória: embora não se possa dizer que está em causa uma situação de
prejudicialidade (perfeita) da primeira decisão face à segunda, justifica-se, também neste
tipo de situações, a extensão do caso julgado aos fundamentos da decisão, de modo a
evitar que, por uma via processual, o contrato de compra e venda se convolasse num
contrato unilateral, não sinalagmático. A contradição seria evitada por via da autoridade
do caso julgado, que, diversamente da exçeção do caso julgado, impõe uma obrigação de
repetição da decisão anterior relativamente a um dos seus fundamentos.
«À luz do direito português, a revelia, mesmo a absoluta, não implica a condenação do réu no pedido» (3
valores)
Duração: 2h
Acácio vendeu a Bela, sua afilhada, uma moradia em Faro de que era proprietário, pelo preço de
30.000 euros.
Mais tarde, Acácio seria interditado por anomalia psíquica, pretendendo o respectivo tutor,
Carlos, anular a referida venda com fundamento em coacção moral, atendendo a que Bela várias
vezes havia ameaçado Acácio com o internamento num lar, caso não lhe vendesse a moradia de
Faro. Alega ainda que o preço da venda fora muito abaixo do preço de mercado, pelo que ainda
que a coacção moral não ficasse demonstrada, a venda devia ser anulada por aquele
fundamento.
Na contestação, requer o seu próprio depoimento de parte e, bem assim, arrola 20 testemunhas.
Acácio replica, apenas para dizer que o pedido de reconhecimento da relação de parentesco
entre ele e Bela era absurdo, uma vez que tinha 60 anos e Bela 50.
Na audiência final, todas as testemunhas arroladas por Acácio e Bela depõem no sentido de
desconhecerem a existência de qualquer contacto entre Acácio e Bela nos últimos 20 anos.
Acácio requer então ao tribunal para ser ouvido como testemunha, requerimento que o tribunal
defere.
Um ano depois, Bela intenta uma acção contra Acácio num outro tribunal, pedindo que fosse
declarada a validade da compra e venda da moradia de Faro.
FIM
Tópicos de correcção
Exame de Direito Processual Civil II – Turma da Noite – Regência: Professor Doutor José Luís
Ramos – Recurso (Coincidências) – 28/7/2016 – Duração: 2 horas
Abel é proprietário de uma moradia, circundada por um terreno que Bento, seu vizinho,
frequentemente atravessa no seu jogging matinal.
Certo dia, Bento decide entrar na casa de Abel para lhe pedir um copo de água e Dog, o cão de
Abel, supondo que se tratava de um ladrão, ataca-o violentamente, causando-lhe ferimentos
que motivaram o seu internamento hospitalar durante 15 dias, bem como a impossibilidade de
participação num campeonato de atletismo em que era o favorito para a medalha de ouro.
Na contestação, Abel alega que teria sido impossível Bento receber qualquer prémio de
atletismo, uma vez que eram conhecidos os seus problemas de doping e, bem assim, pede a
condenação de Bento e de Clotilde, mulher de Bento, no pagamento de uma indemnização no
valor de 10.500 euros pela súbita morte de Dog, por envenenamento que imputava ao casal.
Bento responde, dizendo que nunca se dopara e, bem assim, rejeitando qualquer
responsabilidade, sua ou da mulher, pela morte de Dog. Aproveita a resposta para alegar que,
entretanto, sofrera novo prejuízo, desta vez no montante de 5.000 euros, em virtude de uma
deslocação a Londres para um tratamento médico. Com a resposta, arrola 10 testemunhas,
junta facturas hospitalares, requer a inquirição de Abel pelo tribunal e, bem assim, a realização
de um exame de sangue a si próprio.
Na audiência prévia, Abel requer a inquirição do veterinário que atestara o óbito de Dog e,
bem assim, a sua própria inquirição pelo tribunal.
Na sentença, o juiz, entre o mais, condena Bento e Clotilde a pagar 10.500 euros a Abel.
I.
No dia 05.01.2016, Ana e Bernardo, casados no regime de comunhão de
adquiridos, adquiriram um imóvel denominado “Herdade Maravilha”, sito em
Évora composto por 10 hectares de terreno e um imóvel em bom estado e com
alguns bens móveis, pelo valor global de € 1.500.000,00, tendo em vista passar a
morar naquela Herdade.
Tentando perceber o que se tinha passado, o casal foi até a um dos mais
frequentados cafés da Praça do Giraldo, em Évora, e ficaram logo a saber que havia
sido Carlos que tinha invadido a Herdade e furtado os bens móveis da casa em
causa, tendo toda a atividade sido presenciada por Dolores, que comprara um
binóculo para contemplar as estrelas à noite e, acabou por visualizar todos os
movimentos de Carlos, tendo inclusivamente chamado as autoridades (que já não
foram a tempo de prender o larápio, ainda hoje em parte incerta).
No dia 01.09.2016, Ana instaurou uma ação judicial contra Carlos, na secção de
competência genérica de Elvas da instância local do tribunal de Portalegre,
pedindo o pagamento de uma indemnização no valor € 205.000,00,
correspondente ao valor dos danos patrimoniais acima descritos.
1/5
I.
Se Carlos estiver ausente em parte incerta nos termos previstos no art. 236.º, o
tribunal será forçado a realizar uma citação edital (arts. 225.º/6, 241.º, 242.º e
244.º CPC).
2/5
Como findo o prazo para a contestação o Réu nada faz, isso significa que a revelia é
absoluta (o réu não pratica ato algum – art. 566.º CPC) e inoperante (não se
consideram os factos admitidos por acordo, incumbindo à autora provar todos os
factos que alega na sua petição inicial - art. 568.º/alínea b) CPC).
Em relação à:
(i) À alegação de que não foi ele que arrombou a porta da casa da Herdade,
nem tão pouco retirou bens da casa – trata-se de uma defesa por
impugnação de facto (art. CPC), pois Carlos contradiz Ana, visando
obstar à admissão dos factos por acordo. A Autora mantém o ónus de
prova em relação aos factos que alegou (art. 342.º/1 CC).
3/5
(ii) Ao pedido ao tribunal a condenação de Dolores no pagamento de €
50.000,00 (cinquenta mil euros) seja condenada no pagamento de uma
indemnização – trata-se de uma defesa não admissível.
A dedução de pedidos pelo Réu é admissível se for efetuada contra o
Autor, apelidando-se de “reconvenção” (art. 583.º CPC) e estando sujeita
a apertados requisitos legais de admissibilidade: a) conexão objetiva
(art. 266.º/1 CPC); b) compatibilidade formal (art. 266.º/2 CPC) e c)
competência absoluta do tribunal (art. 93.º CPC).
Não se admite que o Réu aproveite o impulso processual do Autor para
formular pedidos contra as testemunhas do processo, devendo fazê-lo,
caso queira, em ação judicial autónoma.
5. Imagine que Ana é informada de que os bens móveis que haviam sido
retirados de sua casa se encontram escondidos numa determinada loja
sita em Arraiolos, de duvidosa frequência, e prestes a serem vendidos
num leilão clandestino. Existe algum meio que possa utilizar para
impedir que tal venha a acontecer e/ou que permita o rápido retorno dos
bens móveis furtados aos seus proprietários? (3 valores)
4/5
II.
Comente a seguinte afirmação:
“O efeito preclusivo das exceções que podem ser alegadas nas ações declarativas
dissolve-se no efeito geral do caso”.
(4 valores)
5/5
Tópicos de correcção
Exame escrito de Direito Processual Civil II – TN
Regência: Professor Doutor José Luís Ramos
4 de Junho de 2015 – Duração: 1h30m
http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/2fd3e829ec42dbb
1802572fe004f2a3e?OpenDocument
– Que o tribunal declarasse que Bento não era o proprietário da parcela de terreno
correspondente ao caminho que separava os prédios de Amílcar e de Bento, na medida
em que o mesmo não se integrava no prédio de Bento;
A petição inicial não foi, contudo, recebida pela secretaria, com o fundamento na falta
de constituição de advogado por Amílcar.
Desta recusa de recebimento reclamou Amílcar, tendo o juiz confirmado a recusa,
embora por outro fundamento: o de que Amílcar não indicara o valor da causa.
Amílcar apresentou então nova petição, atribuindo à causa o valor de 50.000 euros, a
qual foi recebida.
Apenas Bento contestou, dizendo que pelo assinalado caminho sempre haviam passado
os seus bisavós, avós, pais e ele próprio e seus irmãos, pelo que tal caminho pertencia
ao seu prédio, sendo consequentemente improcedente a acção que Amílcar lhe movera.
Bento formulou ainda, na contestação, o seguinte pedido: o de que o tribunal declarasse
que Amílcar não era o proprietário da parcela de terreno correspondente ao caminho, na
medida em que nunca os antepassados de Amílcar o haviam utilizado, nem o próprio
Amílcar, até há poucos anos, o fizera, ou tentara fazer.
Amílcar replicou, dizendo, por um lado, que era impossível os antepassados de Bento
terem atravessado o caminho, uma vez que Bento não tinha ascendentes conhecidos, e,
por outro lado, que o tribunal não devia admitir o pedido, formulado por Bento, de
declaração de que o autor (Amílcar) não era o proprietário da parcela de terreno
correspondente ao caminho, na medida em que esse pedido não se enquadrava em
qualquer das alíneas do artigo 266º, n.º 2, do CPC.
No despacho saneador, o juiz não deu razão ao autor quanto a esta última matéria da
réplica, e mandou prosseguir a acção
Na sentença, o juiz julgou procedente a acção, condenando Bento e Carlos nos pedidos
que Amílcar formulara. Quanto ao pedido de Bento, resolveu alterar o que havia
decidido no despacho saneador e, consequentemente, julgou-o inadmissível, absolvendo
Amílcar da instância.
Caso a reconvenção fosse admitida (eventualmente nos termos do art. 266º/2 d)),
ver as suas eventuais consequências processuais (direito de resposta do autor;
aumento do valor da causa – que na presente hipótese não se justificaria,
atendendo a que o pedido do réu não seria distinto do do autor; modificação
quanto à competência do tribunal – que neste caso também não ocorreria,
atendendo a que o valor da causa não se alterou).
Arts. 584º/1; 299º/2 e 3; 93º/2
c) Consequências da falta de contestação de Carlos; (3 valores)
O facto constitutivo alegado pelo réu havia sido impugnado pelo autor, pelo que
carecia de prova e, não resultando esse facto provado, devia a acção ser julgada
procedente (ou seja, o tribunal declararia que o réu não era o proprietário do
caminho).
Relativamente ao pedido de A em relação a C, caso ele tivesse sido
admitido, e caso a revelia de C não fosse operante: a A incumbiria, em tese,
provar os pressupostos da responsabilidade civil (facto constitutivo do seu
direito) e a C os factos impeditivos, modificativos e extintivos do direito à
indemnização (art. 342º, 1 e 2 do CC).
Ver função das regras do ónus da prova.
f) Possibilidade de, na sentença, o juiz julgar inadmissível o pedido de Bento. (3
valores)
Se o saneador já tivesse transitado em julgado (ver noção de trânsito em julgado:
art. 628º CPC), ter-se-ia produzido caso julgado formal quanto à questão da
admissibilidade do pedido reconvencional que tivesse sido concretamente
apreciada: a sentença violaria esse caso julgado, se apreciasse novamente a
questão concreta já decidida.
Se o despacho fosse genérico, não se colocava o problema da violação do caso
julgado.
Se ainda não tivesse ocorrido o trânsito em julgado, o problema que se
levantaria seria o da extinção do poder jurisdicional do juiz (quanto ao que já
tivesse sido decidido).
Arts. 595º/3, 1ª parte, 620º, 613º, todos do CPC.
Exame de Direito Processual Civil II – Turma da Noite
25 de Junho de 2015
Regência: Prof. Doutor José Luís Ramos
Duração: 90 minutos
António, empresário em nome individual, intentou uma ação contra a sociedade anónima
Y pedindo que esta seja condenada a pagar-lhe a quantia de 100 000 Euros decorrente de
um contrato de fornecimento que alega ter sido celebrado. Indicou na petição inicial
como sede da sociedade Y a morada da sociedade por quotas Z.
Bento é administrador e gerente das sociedades Y e Z que pertencem ao mesmo grupo
empresarial, embora tenham a sua sede em moradas diferentes. A secretaria do tribunal
enviou carta registada para a morada indicada na petição inicial e Bento recebeu a carta
dirigida à sociedade Y.
A sociedade Y apresentou contestação afirmando que não celebrou qualquer contrato
com António e que o fornecimento era dirigido à empresa Z, pelo que pediu a
intervenção da sociedade Z. Alegou, à cautela por ser também beneficiária dos bens
fornecidos por António, que, em qualquer caso, não foram fornecidos todos os bens,
formulando ainda no final da contestação um pedido reconvencional de indemnização
pelos danos sofridos em consequência. A contestação não fez a separação das diferentes
formas de defesa da Ré.
António, no prazo da réplica, pediu a junção ao processo das faturas emitidas em nome
da sociedade Y.
O juiz admitiu a intervenção da sociedade Z e ordenou a sua citação. A sociedade Z
juntou procuração a favor de mandatário.
Seguidamente o juiz proferiu despacho saneador, absolvendo os réus do pedido por não
terem sido requeridos quaisquer meios de prova e as faturas terem sido apresentadas
extemporaneamente e igualmente António do pedido reconvencional porque, tendo
absolvido as rés do pedido, não era necessário conhecer do pedido reconvencional.
d) O facto alegado pela sociedade Y de que os bens não foram todos fornecidos tinha
que ser impugnado e que momento? (2 valores)