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PROCESSO

CONSTITUCIONAL
Ação Direta de
Inconstitucionalidade Genérica
(ADI/ADIn)

Profa. Iasmim Barbosa Araújo


ADI
● O termo “genérica” é adotado apenas doutrinariamente
○ Não consta na CF ou legislação
● Mecanismo de controle concentrado de constitucionalidade
○ Via da ação
○ Controle abstrato
● Nesse caso, falamos da ADI por ação
○ ADI por omissão e a ADI interventiva serão tratadas em outro momento
○ Seu foco [por omissão] é tornar efetiva norma constitucional, que impõe o dever de legislar sobre determinado tema.
Ocorre diante da inércia do legislativo
○ Na interventiva, o intuito é analisar, de forma técnica, a possibilidade de intervenção federal
● Natureza jurídica da ADI
○ Natureza jurídica de ação
○ Fundamentada no processo objetivo: não há discussão de litígio subjetivo
○ Objeto: tutela da ordem constitucional em sentido abstrato
■ Não há defesa de direito subjetivo
■ Ofensas subjetivas, ainda que indiretas, não autorizam ajuizamento de ADI, que se limita à análise abstrata da norma
● Competência para processar e julgar: exclusiva do STF
● Controle de leis e atos normativos
○ Leis: atos primários, escritos, abstratos, gerais e imperativos, elaborados pelo legislativo
○ Atos normativos: pautas descritivas de comportamento, encerrando juízo de dever ser. Originam-se de fora do legislativo ou
dentro dele. Ex: resolução administrativa emanada pelo judiciário
MATÉRIAS AFETAS À ADI
● Leis ou atos normativos estaduais
○ Constituições Estaduais
○ Leis e decretos estaduais
○ Isso em face da CF/88
■ Se forem julgados atos ou leis em face da CE, a competência originária é do TJ. Há possibilidade de chegar
ao STF se a própria constituição estadual ou a norma em si for questionada em face da CF/88 (controle
difuso ou ADI) ou se a norma da CE se tratar de norma de reprodução (coloca em seu texto teor da CF
que já era obrigada a cumprir) (controle difuso com possibilidade de RE). Se for norma de imitação
(prevê algo que não era obrigação do Estado prever, a decisão do TJ é irrecorrível)
● Leis ou atos normativos distritais
○ Não há previsão expressa do constituinte, mas, em se tratando de ente sui generis, que acumula competências
de Estado e Município, entende-se que é possível o controle concentrado de Lei Orgânica Distrital, leis e
decretos distritais em face da CF/88 (se forem de competência estadual)
○ Caso a norma diga respeito a competência municipal, limita-se a competência ao TJDFT, que irá fazer a análise
perante a Lei Orgânica do DF (que não possui Constituição Estadual - já que não é estado-membro)
● Decisões normativas de tribunais
○ Resoluções, portarias, deliberações internas etc.
○ São atos abstratos, que devem observância à CF/88. Ex: normas processuais
● Espécies normativas do art. 59: EC, LC, LO, MP, DL, Res.
MATÉRIAS AFETAS À ADI
● Emendas constitucionais
○ Normas constitucionais derivadas
● MP
○ Se a MP for convertida em Lei ainda no curso da ADI, não há prejuízo: caso tenha sido
acatada sem modificações, a decisão do STF irá se estender ao texto legal em que a MP
foi convertida
● Tratados internacionais
○ Podem ser objeto de ADI, a partir do momento que se incorporem ao ordenamento
jurídico
○ Se houver incompatibilidade entre tratados internacionais e leis ordinárias (não há
hierarquia entre eles), aplica-se o princípio da especialidade (lei especial derroga lei
geral) ou o critério cronológico (lei posterior derroga lei anterior)
MATÉRIAS ALHEIAS À ADI
● Lei ou ato normativo municipal em face da CF/88
○ A constitucionalidade dessas leis deve se dar, de modo concentrado, em face da Constituição do
respectivo Estado (ou da Lei Orgânica, se for DF)
■ Logo, a competência é exclusiva do TJ e não cabe RE, caso o procedimento seja de controle
concentrado
○ Apenas podem chegar ao STF via controle difuso (RE) ou ADPF (cujo processo é diferenciado, seguindo
um rito subjetivo)
■ E apenas se questionado em face da CF/88
■ Ou, via controle concentrado estadual (ADI no TJ), em que se discuta em face da carta
estadual, em se tratando de norma de reprodução da CE. Nesse caso, cabe RE ao STF.
○ OBS: a constituição do Estado não pode prever que o TJ irá realizar o controle concentrado dos atos
municipais em face da CF/88. Apenas o STF é autorizado a isso. O controle do TJ se dá no âmbito da
apreciação da Constituição Estadual
● Leis ou atos normativos revogados (anteriores à CF)
○ Não admissível, pois se trata de revogação (dispositivos não recepcionados), não inconstitucionalidade
■ Também não cabe o controle difuso
○ Caso a norma ainda esteja surtindo efeitos e viole preceito fundamental, é possível ingressar com ADPF
MATÉRIAS ALHEIAS À ADI
● Atos normativos privados
○ Ex: convenção de condomínio
○ Apenas podem ser objeto de controle difuso, pois não derivam do poder público
● Leis e atos de efeitos concretos
○ O objeto da ADI é o controle abstrato da norma. Caso ela não possua densidade jurídica
suficiente, não cabe ADI
○ Ex: Decreto que consagra doação de bens públicos a entidades privadas
● Súmulas: não são ato normativo
ADI. Legitimidade
● Não significa que são partes do processo (do ponto de vista material, apenas processual)
● Ativa: art. 103, I a IX, CF; Art. 2º, Lei 9.868/99
● I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos
Deputados; IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou a Mesa da Câmara Legislativa do Distrito
Federal; V - o Governador de Estado ou o Governador do Distrito Federal; VI - o Procurador-
Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido
político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de
classe de âmbito nacional
● Legitimidade concorrente: qualquer um pode propor
● A pertinência temática é exigida para alguns dos legitimados (legitimados especiais)
○ Precisam demonstrar a pertinência temática entre o ato normativo arguido inconstitucional e os
interesses específicos da agremiação
○ É o interesse de agir
○ São eles: mesa da assembleia legislativa ou câmara do DF; Governador de estado ou DF; entidades de
classe de âmbito nacional; e confederação sindical
● Legitimidade passiva: órgão ou autoridade do qual emanou o ato que se busca impugnar.
Não há um litígio contra uma pessoa privada, sem atuação estatal
ADI. Legitimidade ativa universal (sem pertinência)
● Presidente
○ Inclusive em atos que ele tenha contribuído para existir, mediante iniciativa
ou sanção
● Mesas da Câmara dos Deputados e Senado Federal
○ Seus próprios atos
○ Não se estende à Mesa do Congresso Nacional
● PGR
○ Representante máximo do MPF
● Partido político com representação no Congresso
○ Não pode ser ajuizada por diretório regional do partido, só nacional
○ Se há perda superveniente da representação, há divergências no STF: para
alguns, desqualifica a ação, que deve ser extinta por perda da legitimidade;
para outros, deve continuar.
ADI. Legitimidade ativa especial (com pertinência)
● Mesa de Assembleia do Estado ou DF
○ Mediante pertinência temática
○ Vínculo entre a norma debatida e os interesses da Assembleia
○ Não se estende às mesas da Câmara Municipal
● Governador
○ A legitimidade é da pessoa do governador, não do ente federado, nem do procurador do Estado-
membro
● Entidade de classe de âmbito nacional
○ Refere-se à classe profissional, não social
○ A atuação em âmbito nacional fica demonstrada se houver associados ou membros em pelo
menos 9 estados
○ Ex: associação de magistrados
○ Deve ser demonstrada a relação entre a ADI e as funções da entidade
○ Necessário interesses homogêneos. Não diz respeito a pessoas aleatórias, cujas atividades
profissionais sejam distintas
● Confederação sindical
○ Replica-se o que vale para as entidades de classe
○ A confederação sindical será formada com a reunião de três entidades de classe locais
ADI. AGU e PGR
● AGU
○ O Advogado-Geral da União participa da ADI, obrigatoriamente, como curador da constitucionalidade
○ Seu papel é defender a constitucionalidade da norma, independentemente da sua percepção pessoal sobre o
tema: é curador da presunção de constitucionalidade das leis
■ Nesse sentido, não há independência na sua atuação: sequer pode manifestar seu posicionamento de
discordância, comprometendo a sua atuação
● Diz-se que seu papel é figurativo, pois, ainda que a norma seja nitidamente inconstitucional, é seu dever
defendê-la
■ Há dever institucional de defender a validade jurídica da norma ou ato impugnado
● Exceto se a matéria em questão já tiver sido debatida no STF em outro momento e entendida
inconstitucional norma que tratava daquela forma.
● PGR
○ O Procurador-Geral da República, representante máximo do MPF, participa da ADI, como fiscal da lei ( custos legis)
■ Ou como autor, se for ele quem ajuizar (tem legitimidade)
○ Há absoluta independência funcional: pode se manifestar pela constitucionalidade ou inconstitucionalidade da
norma impugnada
○ Prazo: 15 dias (AGU e PGR)
○ Não possui, assim como qualquer legitimado ou interessado, poder de desistir da ADI
■ Embora possa mudar de posicionamento no curso da Ação, inclusive naquelas que tenha proposto
ADI. Procedimento
● Segue a Lei nº 9.868/99
○ Subsidiariamente, aplicam-se os preceitos do Regimento Interno do STF
● Requisitos da petição inicial:
○ Deve ser apresentada em duas vias (quando do processo físico), além de cópia da lei ou ato normativo
impugnado e de documentos necessários para demonstrar a inconstitucionalidade alegada
○ Deve conter a indicação do dispositivo da lei onde reside a suposta inconstitucionalidade
○ Também deve ser apresentado o pedido, com suas especificações
● São permitidas emendas à inicial, desde que ocorra antes da remessa dos autos com pedido de
informações por parte do órgão ou autoridade de que emanou a norma ou ato
● O STF pode declarar a inconstitucionalidade por motivos diversos dos alegados na petição
● Existindo duas ou mais petições com total identidade de objeto, serão apensadas e julgadas conjuntamente
● Os partidos políticos, entidades de classe e confederação sindical precisam de assistência jurídica, com
procuração outorgada com poderes especiais para impugnar a norma em questão
○ Os demais legitimados possuem capacidade postulatória
○ A CF prevê legitimidade ad causam a todos os legitimados, mas o STF entendeu que foi conferida
capacidade postulatória aos demais
ADI. Procedimento
● Recebida a inicial, o relator tem o prazo de 30 dias para requisitar informações da autoridade ou
órgão de onde proveio a norma/ato
○ Esse prazo pode ser diminuído, em caso de urgência
○ Fica suspenso no recesso forense
○ Com essa requisição de informações, o autor perde o direito de emendar a inicial
● Após, AGU e PGR, sucessivamente e nessa ordem, terão prazo de 15 dias cada para se manifestar
● Com as manifestações, o relator apresentará relatório, enviará cópia a todos os ministros e será
agendado dia do julgamento
○ Caso o relator entenda que precisa de informações adicionais, pode requerer que sejam fornecidas, em mais
30 dias
○ Podem ser marcadas audiências públicas, ouvidas pessoas com experiência na matéria, designar perícia etc.
● Litisconsórcio: possível, entre os legitimados
● Amicus curiae (amigo da Corte): terceiro interessado, que pode contribuir para a compreensão dos
julgadores
○ Cabe sua participação nos controles difuso e abstrato
○ Possui imparcialidade e rigor técnico e deve, espontaneamente, se oferecer para atuar como tal
○ Cabe ao relator admitir ou não a presença dessa figura, pois pode ser desnecessária ao andamento
○ Só cabe seu pedido de entrada no processo até antes do processo ser incluído em pauta. Ou seja: até que o
relator elabore o relatório
ADI. Procedimento
● Já a intervenção de terceiros não é admitida
○ Nesse caso, estaria-se tratando de uma situação de intervenção de um particular, para
discutir uma demanda subjetiva
○ Tal não é possível no processo objetivo do controle concentrado de constitucionalidade
● Impossibilidade de desistência
○ Após protocolada a ADI, nenhuma das partes pode desistir, pelo princípio da
indisponibilidade da instância
○ Pedidos de medida cautelar também não comportam desistência
● Suspeição: não se aplica, pois não se trata de um processo em que haja interesses subjetivos das
partes
● Impedimento: entende o STF que pode ocorrer, se o julgador tiver participado do processo em
momento prévio como requerente, requerido, AGU ou PGR
● Prescrição e decadência: a propositura da ADI não se sujeita a prazo prescricional ou decadencial
○ A norma inválida não se convalida no ordenamento jurídico. Sempre será inconstitucional
● Não se admite o processamento de ADI no TJ local e no STF. Caso ocorra, a ação do TJ será
suspensa e o processo será julgado no STF
○ Ex: norma estadual analisada no TJ sob o prisma da CE e pelo STF sob a ótica da CF/88
ADI. Medida Cautelar
● Medidas cautelares são possíveis na ADI, com os requisitos de
○ Plausibilidade do direito (fumus boni juris)
○ Possibilidade de prejuízo com a demora (periculum in mora)
○ Irreparabilidade dos eventuais danos oriundos dos atos impugnados
● A medida cautelar é concedida em caráter excepcional
○ As normas presumem-se constitucionais
● Apresenta eficácia erga omnes
○ Portanto, a decisão que defere a medida deve ser pública
● Pode ser reapresentado o pedido, na ocorrência de novos fatos, supervenientes, que
ensejem os requisitos para a sua concessão
● Caso exista direito anterior, ele volta a ser aplicado (ainda que temporariamente, por
se tratar de cautelar)
○ Repristinação
ADI. Decisão final.
● Quórum mínimo: 8 ministros para instalar a sessão
● Quórum mínimo para julgar procedente ou improcedente: 6 ministros (maioria absoluta: metade + 1)
● A decisão deve ser comunicada à autoridade ou órgão responsável e publicada em 10 dias
● Contra a decisão apenas cabe recurso de embargos de declaração
○ Atribuição do polo ativo ou passivo: não cabe ao PGR, AGU ou qualquer outro ator processual
● A natureza jurídica é declaratória: não se constitui um direito novo. Apenas se reconhece a constitucionalidade ou
inconstitucionalidade de certa norma ou ato
● Efeitos da decisão:
○ Vinculatórios: atrelam as decisões dos juízes e tribunais à decisão do Supremo, sob pena de serem passíveis de
Reclamação (art. 102, I, l) - aplicável para decisões de constitucionalidade e in.: enquanto o STF não se manifestar em
outro momento sobre o tema, os juízes devem aplicar sua decisão
■ Também é aplicada obrigatoriamente aos órgãos da Administração Pública Federal, Estadual, Municipal e Distrital
■ OBS: entende-se que os efeitos não se aplicam apenas à norma questionada, mas também a outras que tenham os
mesmos fundamentos. Mas isso deve ser previsto na decisão - teoria da transcendência dos motivos
determinantes
○ erga omnes
● Modulação de efeitos:
○ Regra: retroativos (ex tunc)
■ Mas a retroatividade não é automática. Ex: para cessar os efeitos de uma sentença, é necessária a ação rescisória
○ Exceção: “Lei 9.868/99 - Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de
segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de
seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em
julgado ou de outro momento que venha a ser fixado”

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