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FIXAÇÃO DE TECIDOS

Curso: Anatomia Patológica

Docente: Framinga
20.02.2019
I. FIXAÇÃO DE TECIDOS
 A Fixação é uma operação destinada a acabar com a
actividade vital dos componentes tecidulares,
preservando-os, dentro do possível, com a forma e a
estrutura que tinham em vida.
I. FIXAÇÃO DE TECIDOS
 Também os endurece, permitindo que sejam mais
perfeitamente talhados na forma e dimensões ideias
para o processamento.
 Ainda se considera, como vantagem adicional, a
resistência que confere aos tecidos para que suportem
melhor a acção dos reagentes e processos técnicos
usados.
I. FIXAÇÃO DE TECIDOS
1.1. AUTÓLISE
 Qualquer fragmento de tecido removido de um ser vivo -
ou todo ele, após a morte – se não for fixado,
desintegra-se mais ou menos rapidamente. A essa
desintegração dos tecidos dá-se o nome de AUTÓLISE.
I. FIXAÇÃO DE TECIDOS
1.2. PUTREFAÇÃO
 No processo de degradação após a morte, os tecidos
autólisados podem vir a ser colonizados por
microrganismos pertencentes a flora intestinal ou
proveniente do exterior do corpo. Estes germes
desencadeiam reacções fermentativas que libertam
gases e calor. Tal fenómeno designa-se de
PUTREFAÇÃO.
I. FIXAÇÃO DE TECIDOS
1.3. METODOS DE FIXAÇÃO

 PROCESSOS FÍSICOS:
 Frio
 Calor e
 Dessecação.

 PROCESSOS QUÍMICOS
 Produtos químicos.
1.3.1. PROCESSOS FÍSICOS:

 Frio: a temperatura baixas, o processo enzimático da


autólise é atrasado e a proliferação bacteriana é inibida,
o que retarda a putrefacção; se a temperatura descer
abaixo do ponto de congelação de água, ficam
profundamente alteradas as características físicas do
meio onde as reacções enzimáticas têm lugar, o que
acrescenta mais um bloqueio à actividade enzimática e,
adicionalmente, endurece os tecidos.
1.3.1. PROCESSOS FÍSICOS:

 Calor: as temperaturas elevadas, as cadeias proteicas


das enzimas perdem a sua estrutura quaternária, num
processo de desnaturação proteica, chamado
Coagulação.
 O uso do calor deve ser evitado, uma vez que cria nos
tecidos muitas alterações; ele pode ser usado, em
certos laboratórios, na aceleração do processo de
fixação e para eventual fixação de esfregaços.
1.3.1. PROCESSOS FÍSICOS:

 Dessecação: o bloqueio da autólise, nestes casos, é


devido a perda da água das soluções em que as
reações enzimáticas têm lugar; com uma tão grande
alteração do meio, a actividade enzimática não podem
ter lugar e, consequentemente, a degradação autolítica
fica bloqueada; é pouco usada em Anatomia Patológica.
1.3.2. PROCESSOS QUÍMICOS

 É o mais usado em histologia; usam-se produtos


químicos em soluções simples (FIXADORES PUROS)
ou em soluções complexas (MISTURAS
FIXADORAS).
 Este processo baseia-se na capacidade que estas
substâncias têm para penetrar nos tecidos e desnaturar
os componentes proteicos, seus constituintes, incluindo
enzimas lisossómicos – impedindo a autólise.
1.3.2. PROCESSOS QUÍMICOS

O fixador ideal deve:


 Penetrar no tecido de uma forma rápida e uniforme.
 Provocar uma desnaturação proteica rápida e
conveniente.
 Conservar o mais possível a estrutura existente em vida.
 Possibilitar qualquer método de coloração.
1.3.2. CLASSIFICAÇÃO DE FIXADORES QUÍMICO

Fixadores Químicos

São os mais importantes em Anatomia Patológica e


subdividem-se em:
 Ácidos inorgânicos
 Sais metálicos
 Ácidos orgânicos
 Redutores orgânicos
1.3.2. CLASSIFICAÇÃO DE FIXADORES QUÍMICO

 De entre estes grupos, o mais importante e o mais


usado é o dos redutores orgânicos, representados por:
 Formaldeído (popularmente chamado formol)
 Etanol ou Álcool etílico
 Metanol
 Acetona
 Glutaraldeido
1.3.2. CLASSIFICAÇÃO DE FIXADORES QUÍMICO

 Atualmente, com frequência se utiliza a classificação de fixadores


descrita por Leong (1996), que teve como base a classificação
desenvolvida por Hopwood (1977), sem muitas alterações. Leong
classificou as substȃncias fixadoras da seguinte maneira:
 Fixadores aldeídos: formaldeído, glutaraldeído e paraformaldeído
comercial.
 Agentes oxidantes: tetróxido de ósmio, dicromato de potássio,
permanganato de potássio e ácido crómico.
 Agentes desnaturantes ou coagulantes de proteínas:
metanol, etanol, acetona e ácido acético;
 Mecanismo desconhecido: cloreto de mercúrio, ácido
pícrico e sais de zinco;
 Combinação de reagentes: tetróxido de ósmio e
glutaraldeído, tetróxido de ósmio e iodeto de zinco,
glutaraldeído e carbodiamida, formaldeído e
glutaraldeído.
1.4. O Formaldeído – Fixador Universal

 O formaldeído é um gás incolor e inflamável, que em


solução aquosa a 40 por cento recebe a designação de
FORMALINA ou “FORMOL”. Tal designação não é
correcta, seguindo a terminologia química geralmente
aceite, pois não se trata de um álcool, mas sim de um
aldeído. No entanto, ela está de tal modo generalizada
que continua a ser usada.
1.4. O Formaldeído – Fixador Universal

 O “FORMOL”liberta vapores muito irritantes para a pele


e para as vias respiratórias, podendo ter efeitos mais
graves ao fim de longos períodos de exposição a
concentrações muito superiores as que se usam na

prática laboratorial.
1.4. O Formaldeído – Fixador Universal

 Transforma-se facilmente, sob acção da luz e em


contacto com o ar, em ÁCIDO FÓRMICO.

A acidez torna-se prejudicial por duas razões:


 Interfere coma acção dos corantes, dependendo do seu
grupo auxocromo.
 Promove a formação de um pigmento artefactual,
derivado da hemoglobina denominado pigmento de
“formol”
1.4. O Formaldeído – Fixador Universal

 Esta acidez pode ser evitada neutralizando o “formol”


com o carbonato de cálcio. O ”formol”, sobretudo em
concentrações mais elevadas, sofre um processo de
polimerização. O produto resultante – o
PARAFORMALDEIDO – não tem acção fixadora e
apresenta tendência a depositar-se na forma de um pó
esbranquiçado, o qual pode interferir com a fixação
correcta dos produtos.
1.4. O Formaldeído – Fixador Universal

 Uma terceira perturbação do “formol” é a que ocorre,


com a passagem do tempo, quando ele se encontra em
solução aquosa, resultando na formação de um
composto de adição denominado METILENOGLICOL,
também sem acção fixadora.
1.4. O Formaldeído – Fixador Universal

 O “formol” comercial, isto é, o aldeído fórmico a 40 por


cento em solução aquosa é denominado “formol” puro
ou “formol” a 100 por cento, mas a solução fixadora, de
trabalho, é de “formol” a dez por cento (aldeído fórmico
a 4 por cento) ou seja, para obtenção de solução de
trabalho dilui-se dez vezes a solução comercial
(formaldeído a 40% ou “formol” puro a 100%.
1.4. O Formaldeído – Fixador Universal

 Dissemos que o “formol” é o fixador Universal porque,


além de ser económico, reúne quase todos os requisitos
de um fixador ideal.
 Para evitar a ocorrência daqueles artefactos, aconselha-
se a usar “formol” tamponado a 10 por cento que se
prepara de seguinte forma:
1.4. O Formaldeído – Fixador Universal

“Formol” tamponado a 10 por cento

“Formol” concentrado (100%) -------------------------------------- 10 ml

Fosfato monossódico anidro (NaH2PO4) / (K H2PO4) ---- -------------0,35gr

Fosfatodissódico anidro (Na2HPO4) ------------------------------ 0,65gr

Água Destilada perfazer até --------------------------------------- 100 ml


1.5. Outros Fixadores

 O Etanol (ou álcool etílico) é usado como um fixador Universal em


Citologia; em histologia, não deve ser usado como fixador, porque
provoca artefactos. Deve ser sim usado como agente desidratante.

 O Metanol (ou álcool metílico) é um fixador usado às vezes como


fixador, nos cortes de congelação e em algumas técnicas
citológicas para fixação de certos esfregaços.

  A Acetona é um fixador normalmente usado para


histoenzimologia.
1.5. Outros Fixadores
 O Ácido Ósmico e o Glutaraldeido, são fixadores usados na
Microscopia Electrónica. Os seus vapores são muito tóxicos, facto
que obriga a que sejam cuidadosamente manipulados.

 O Liquido de BOUIN está contraindicado na fixação de órgãos


hematopoéticos e das lesões hemorrágicas porque deforma os
eritrócitos; de igual modo não se deve usar em material em que vai-
se fazer a coloração de Fite-Faraco, pois os bacilos da lepra ficam
alterados pelo fixador e podem originar-se falsos negativos.
1.5. Outros Fixadores
 Líquido de Bouin também conhecido por picro-formol
aquoso é um excelente fixador para detecção de fibras
de reticulina, melanina e células argentafins. Pode ser
usado como descalcificador, e é ideal para a fixação de
peças ósseas.
1.5. Outros Fixadores
Líquido de Bouin é constituido por:
 Ácido pícrico (produto amarelado que deve estar em
Solução aquosa por ser explosivo).
 Formaldeído.
 Ácido acético glacial.
1.6. Factores da Qualidade de Fixação

 Intervalo entre a colheita e o início da fixação.


 Volume do fixador.
 Espessura da amostra.
 Contacto da amostra com o fixador.
1.6.1. Intervalo entre a colheita e o início da
fixação

 Seja qual for o método de colheita do produto, a autólise dos


tecidos é progressiva enquanto o material não for fixado.
 Desta maneira deve-se ter como regra geral fixar imediatamente o
material após a sua obtenção, salvo no caso de exames de
congelação.
 Na enfermaria ou na sala de operações o material deve ser
colocado no recipiente já com o fixador. Caso contrário, o material
deve ser enviado imediatamente ao Laboratório para ser fixado.
1.6.1. Intervalo entre a colheita e o início da
fixação

 Recomenda-se para nunca usar o soro fisiológico ou


água para fins de transporte sob pena de se pensar que
seja um verdadeiro fixador. Se a entidade responsável
da colheita não se dispor de recipientes de vidro ou
sacos plásticos para o transporte, recomenda-se que o
material seja envolvido em algodão embebido com
fixador e nunca em gaze, porque esta provoca
alterações artefactuais na amostra.
1.6.2. O Volume do fixador e a Espessura da
amostra

 Volume do Fixador – Deve ser de dez a vinte vezes


maior que o volume da peça. De contrário a fixação será
defeituosa.
 Espessura da Amostra - Quanto menor for a espessura
da amostra, mais rápida e eficiente será a fixação.
Recomenda-se que a espessura máxima da amostra
para o processamento seja de 6 mm.
1.6.3. Contacto da Amostra com o Fixador

• Para se conseguir um contacto total e imediato da


amostra com o líquido fixador deve-se:
 Colocar o material em recipientes contendo já o fixador
e não em recipientes secos.
 Agitar de vez em quando o recipiente que conte a
amostra para renovar o fixador em contacto com a
amostra.
1.6.3. Contacto da Amostra com o Fixador

 Usar recipientes bem maiores que o volume da amostra,


e de boca larga.
 No caso de órgãos cavitários, abrir numa das margens e
introduzir o fixador ou algodão embebido com fixador;
também se pode prender o órgão, já aberto, a uma
placa de madeira ou de cortiça usando alfinetes, a qual
é virada ao contrário e colocada, dentro de uma bandeja
contendo o fixador.
FIM...
Obrigado!

 Proxima aula: Registo Macroscópico e


descalcificação de tecidos.

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