Você está na página 1de 10

ESTRUTURA JURÍDICA DAS

NORMAS CONSTITUCIONAIS: A
CONSTITUIÇÃO COMO SISTEMA
ABERTO DE REGRAS E
PRINCÍPIOS.
PROF. ESP. HWDSON CHAVES DOS SANTOS
LIMA
A CONSTITUIÇÃO COMO SISTEMA
ABERTO
■ Para a compreensão da Constituição como sistema aberto, indispensável será a conceituação de sistema e sua
classificação.

■ A visão Sistêmica

O termo sistema, com sua classificação em sistema aberto e fechado, aparece pela primeira vez na obra “Teoria
Geral dos Sistemas” elaborada pelo cientista alemão Ludwing Von Bertalanffy.

sistema é um complexo de elementos em interação recíproca, que, reunidos, se relacionam entre si, formando um
todo diverso da soma dos elementos isoladamente considerados. O todo é mais do que a soma das partes,
apresentando características próprias que não são encontradas nos elementos sistêmicos isolados, afinal, o sistema
é o complexo resultante das interações e relações entre as partes.
Sistemas Abertos e Sistemas Fechados
■ Segundo Bertalanffy, “um sistema é fechado se nenhum material entra nele ou sai dele. É
aberto se há importação e exportação de matéria”.
■ Para Bertalanfy, os sistemas abertos possuem as seguintes propriedades: entrada (input),
processador ou transformador (throughput), saída ou resultado, retroação, ambiente,
fronteira, abertura do sistema, codificação de sistema.
A Constituição como Sistema Aberto
■ A Constituição, Lei Magna, possui papel essencial à configuração sistêmica do Direito. Iniciando o
ordenamento jurídico e emanando validade para as demais normas, a Constituição inaugura a ordem
jurídica de um dado povo soberano e se põe como suporte de validade a todas as demais regras de direito.
É ela em si também um sistema, um sistema aberto, que possibilita a abertura do sistema jurídico.

■ A Constituição é um sistema aberto, pois reflete e está sujeita a influxos dos fatos e expectativas sociais.
Ela processa as informações recebidas de seu ecossistema, adequando-se às necessidades deste. É um todo
funcional diverso da soma de suas partes, o que permite respostas normativas sistemáticas.
■ Nas palavras de Carlos Ayres Britto e Celso Ribeiro Bastos:

Na medida em que se põe como ‘o estatuto jurídico do fenômeno político’, a Constituição transplanta para o seu
próprio bojo normativo toda a ideologia que permeia os objetos e valores políticos (...)

A Constituição traz princípios e institutos que não podem ser traduzidos pela estrita observância da análise vernacular,
já que padecem de uma imprecisão conceitual ontológica (...)

A absorção normativa de tal vaguidade conceitual se revela, pragmática e logicamente, como o mais eficiente meio de
proteção dos bens jurídicos nelas substanciados (...)

A interpretação das normas constitucionais passa a solicitar, num grau bem maior que o direito comum, o aporte
complementar de elementos extrasistemáticos, em certa medida, hospedados muito mais na dinâmica dos fatos que na
estática da positivação formal (...)

A interpretação constitucional demanda do intérprete uma sensibilidade metajurí- dica. Essa sensibilidade se volta para
um trabalho permanente de conciliação entre ideologia vigente, substanciada na alma coletiva, e aquela que
transparece na expressão lingüística da norma(...)

Vemos, assim, mais uma peculiaridade do direito constitucional que obriga o intérprete a abrir as janelas do direito
para o mundo circundante e exercer a chamada ‘sensibilidade metajurídica’, resultante da própria direção axiológica
da Constituição que é o fenômeno político.
A eficácia jurídica e aplicabilidade das
normas constitucionais.

■ A teoria tripartida: José Afonso da Silva


A) Normas constitucionais de eficácia plena.
B) Normas constitucionais de eficácia contida.
C) Normas constitucionais de eficácia limitada ou reduzida.
■ A) As normas constitucionais de eficácia plena seriam aquelas que desde o momento de sua entrada em vigor
na Constituição estariam plenamente aptas a produzir todos os seus efeitos jurídicos essenciais. São
autoaplicáveis e têm incidência direta, imediata e integral.

■ Exemplo: Arts. 1°, 2° e 5°, III da CF/88

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da
pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o
poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

 Os remédios constitucionais também são apresentados por meio de normas plenas (art. 5°, LXVIII e LXXIII).
■ B) À semelhança das normas plenas, as contidas também estão plenamente aptas a realizar todos os seus efeitos
jurídicos essenciais desde a sua entrada em vigor, produzindo, igualmente, incidência direta, imediata, mas não
integral, pois podem sofrer restrições ou condicionamentos futuros por parte do Poder Público.
■ Exemplos: Arts. 5°, XIII e XV, e art. 93,IX.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer;
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele
entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios:
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação;
 É importante destacar que esse condicionamento pode ser feito por lei, por atos administrativos ou até mesmo
por outra norma constitucional.
■ C) Já as normas constitucionais limitadas produzem efeitos jurídicos reduzidos, tendo em vista que
dependem da atuação futura por parte do Poder Público. Dividem-se em: Programáticas ou Institutivas (ou
organizacionais). As primeiras traçam objetivos, metas ou ideais que deverão ser delineados pelo Poder
Público para que produzam seus efeitos jurídicos essenciais. Estão vinculadas normalmente aos direitos
sociais de segunda geração.
■ Exemplos: Arts. 196, 205 e 211 da CF/88.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e cincentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho.
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de
ensino. [...]

 As últimas criam novos institutos, serviços, órgãos ou entidades que precisam de legislação futura para
que ganhem vida real.
 Exemplos: Art. 134, § 1°, e art. 93, caput, ambos da CF/88.
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos
individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do Inciso LXXIV do art. 5º
desta Constituição Federal .

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e
prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe
inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da
inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios:

Você também pode gostar