CRÍTICAS-REPRODUTIVISTAS E TEORIAS CONTRA HEGEMÔNICAS Prof. Josavias Anthony Oshiro Costa E-mail: josavias.costa@umfg.edu.br Conteúdo ■ Organizando os retalhos pós avaliação; ■ O que são teorias pedagógicas? ■ Teorias não críticas; ■ Teorias crítico-reprodutivistas; ■ Teorias contra-hegemônicas: Pedagogia da Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica. Organizando os retalhos: o pós-avaliação O que estudamos até o momento? ■ Fundamentos da Educação: a natureza do processo educativo; ■ Fundamentos da Psicologia Escolar e Educacional: as relações constitutivas entre psicologia e educação; ■ Reestruturação produtiva, reformas do Estado e reforma educacional; ■ Tendências educacionais, ou teorias pedagógicas. O que são teorias pedagógicas? Primeiro o que é pedagogia? Em uma breve definição a pedagogia é a ciência que busca compreender os aspectos que constitui o que denominamos como educação e o processo ensino-aprendizagem. ■ Nesse sentido, uma teoria pedagógica vai fundamentar os fenômenos descritos pela ciência pedagógica; ■ Assim como ocorre na Psicologia, existe uma série de teorias, ou escolas teóricas que visam dar conta desses fenômenos; ■ Por isso Saviani (1982) abre o texto apresentando alguns dados sobre a evasão escolar no ano de 1970: De acordo com estimativas relativas a 1970, "cerca de 50% dos alunos das escolas primárias desertavam em condições de semianalfabetíssimo ou de analfabetismo potencial na maioria dos países da América Latina" (Tedesco, 1981: 57). Isto sem levar em conta o contingente de crianças em idade escolar que sequer têm acesso à escola e que, portanto, já se encontram a priori marginalizadas dela. (p. 8) O que são teorias pedagógicas? ■ A pergunta posta é como interpretar esses dados, quais são as teorias pedagógicas que visam explicar esse tipo de problemática a da marginalização? ■ A ideia de marginalização aqui é das crianças que estão à margem da escolarização! E não o termo coloquial de marginal como bandido. ■ Segundo Saviani (1982) há dois grupos: – 1º Num primeiro grupo (teorias não-críticas), temos aquelas teorias que entendem ser a educação um instrumento de equalização social, portanto, de superação da marginalidade. – 2º Num segundo grupo (teorias crítico-reprodutivistas), estão as teorias que entendem ser a educação um instrumento de discriminação social, logo, um fator de marginalização. ■ Em síntese o primeiro grupo visa a compreender a sociedade a partir de uma coesão, neste sentido a marginalização é algo que pode ser corrigido; ■ O segundo grupo entende que a sociedade é conflituosa e que a marginalização é produto deste sistema educacional; Teorias não-críticas ■ Veremos três tipos de teorias não-críticas: – A pedagogia tradicional; – A pedagogia nova (escolanovismo); – A pedagogia tecnicista. A Pedagogia Tradicional ■ Conforme já discutido em aulas anteriores, A constituição dos chamados "sistemas nacionais de ensino" data de meados do século passado. Sua organização inspirou-se no princípio de que a educação é direito de todos e dever do Estado. (p. 8) ■ O desenvolvimento da burguesia enquanto classe dominante e seu aspecto “democrático” promovem a escola a um local de transformação do súdito (escravo) em cidadão: Teorias não-críticas A Pedagogia Tradicional Como realizar essa tarefa? Através do ensino. A escola é erigida, pois, no grande instrumento para converter os súditos em cidadãos, "redimindo os homens de seu duplo pecado histórico: a ignorância, miséria moral e a opressão, miséria política" (Zanotti, 1972: 22-3) (p. 9) ■ O conhecimento como chave a para o rompimento com o “antigo regime”, ou o feudalismo; ■ Deste modo, a explicação da marginalização para a pedagogia tradicional era: Nesse quadro, a causa da marginalidade é identificada com a ignorância. É marginalizado da nova sociedade quem não é esclarecido. A escola surge como um antidoto à ignorância, logo, um instrumento para equacionar o problema da marginalidade. (p. 9) ■ E como era o antídoto da Pedagogia/escola tradicional para a marginalização segundo Saviani (1982)? Teorias não-críticas A Pedagogia Tradicional Seu papel é difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente. O mestre-escola será o artífice dessa grande obra. A escola se organiza, pois, como uma agência centrada no professor, o qual transmite, segundo uma gradação lógica, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que lhes são transmitidos. (p. 9) ■ Coube a Pedagogia o seguinte papel: À teoria pedagógica acima indicada correspondia determinada maneira de organizar a escola. Como as iniciativas cabiam ao professor, o essencial era contar com um professor razoavelmente bem preparado. Assim, as escolas eram organizadas na forma de classes, cada uma contando com um professor que expunha as lições que os alunos seguiam atentamente e aplicava os exercícios que os alunos deveriam realizar disciplinadamente. (p. 9) ■ Porém, esta escola/pedagogia tradicional sofreu críticas, pois não cumpriu o seu papel em encerrar os problemas da marginalização da população. Teorias não-críticas A Pedagogia Nova (Escolanovismo) ■ Essa teoria pedagógica nasce das críticas à pedagogia tradicional; ■ Mantém a escola como referência no processo de encerramento da marginalização e no seu papel de correção dessa problemática social; ■ Porém, compreende que o problema do não cumprimento do papel da escola está na teoria pedagógica que a antecede; ■ O centro do ensino se desloca da relação professor-aluno, para o aluno-professor; ■ A marginalidade segundo o Escolanovismo: Segundo essa nova teoria, a marginalidade deixa de ser vista predominantemente sob o ângulo da ignorância, isto é, o não domínio de conhecimentos. O marginalizado já não é, propriamente, o ignorante mas o rejeitado. Alguém está integrado não quando é ilustrado, mas quando se sente aceito pelo grupo e, através dele, pela sociedade em seu conjunto. É interessante notar que alguns dos principais representantes da pedagogia nova se converteram à pedagogia a partir da preocupação com os "anormais" (ver, por exemplo, De-croly e Montessori). A partir das experiências levadas a efeito com crianças "anormais" é que se pretendeu generalizar procedimentos pedagógicos para o conjunto do sistema escolar. (p. 10) Teorias não-críticas
A Pedagogia Nova (Escolanovismo)
■ Para a Pedagogia Nova, os marginalizados eram os anormais, os desadaptados, os desajustados; ■ Saviani (1982) denomina esse movimento como biopsicologização da educação e sociedade; ■ Por se datar do fim do século XIX ao início do século XX este tipo de teoria pedagógica foi extensamente influenciada pela Psicologia Diferencial e pela medicina; ■ Se deu ênfase as “anormalidades” biológicas/psicológicas. Teorias não-críticas A Pedagogia Nova (Escolanovismo) ■ Com isso: Compreende-se então que essa maneira de entender a educação, por referência à pedagogia tradicional tenha deslocado o eixo da questão pedagógica do intelecto para o sentimento; do aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não-diretivismo; da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração experimental baseada principalmente nas contribuições da biologia e da psicologia. Em suma, trata-se de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é aprender, mas aprender a aprender. (p. 10) ■ A escola da pedagogia nova seria: Para tanto, cada professor teria de trabalhar com pequenos grupos de alunos, sem o que a relação interpessoal, essência da atividade interpessoal, essência da atividade educativa, ficaria dificultada; e num ambiente estimulante, portanto, dotado de materiais didáticos ricos, biblioteca de classe etc. Em suma, a feição das escolas mudaria seu aspecto sombrio, disciplinado, silencioso e de paredes opacas, assumindo um ar alegre, movimentado, barulhento e multicolorido. (p. 10) Teorias não-críticas A Pedagogia Nova (Escolanovismo) ■ As críticas ao escolanovismo se difundiram em duas: – 1º Foi um tipo de “escola experimental” que não se popularizou, principalmente pelo alto custo de sua organização; – 2º Acentuou o problema da marginalização, pois influenciou os educadores que a atuavam na escola tradicional de modo negativo, do qual, eles passaram a afrouxar e desdenhar dos conteúdos o que fez decair a qualidade de ensino. E por outro lado, aprimorou as condições de ensino das elites, por se tratar de uma experiência que pode ser aplicada nos setores privados da educação. Teorias não-críticas A Pedagogia Tecnicista ■ Considerando novamente houve a falha da melhoria da “marginalização” dos sujeitos no campo educativos, a partir do escolanovismo; ■ Uma nova teoria pedagógica se formou: O fenômeno acima mencionado nos ajuda a entender a tendência que se esboçou com o advento daquilo que estou chamando de "pedagogia tecnicista". Buscou-se planejar a educação de modo a dotá-Ia de uma organização racional capaz de minimizar as- interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua eficiência. Para tanto, era mister operacionalizar os objetivos e, pelo menos em certos aspectos, mecanizar o processo. Dar a proliferação de propostas pedagógicas tais como o enfoque sistêmico, o microensino, o teleensino, a instrução programada, as máquinas de ensinar etc. Daí também o parcelamento do trabalho pedagógico com a especialização de funções, postulando-se a introdução no sistema de ensino de técnicos dos mais diferentes matizes. Daí, enfim, a padronização do sistema de ensino a partir de esquemas de planejamento previamente formulados aos quais devem se ajustar as diferentes modalidades de disciplinas e práticas pedagógicas. (p. 11) Teorias não-críticas A Pedagogia Tecnicista ■ Esse movimentou foi semelhante à formulação científica do trabalho, tal como ocorreu nos moldes do taylorismo e fordismo; ■ Como explicação da marginalidade, a pedagogia tecnicista compreende: Compreende-se, então, que para a pedagogia tecnicista a marginalidade não será identificada com a ignorância nem será detectada a partir do sentimento de rejeição. Marginalizado será o incompetente (no sentido técnico da palavra), isto é, o ineficiente e improdutivo. A educação estará contribuindo para superar o problema da marginalidade na medida em que formar indivíduos eficientes, portanto, capazes de darem sua parcela de contribuição para o aumento da produtividade da sociedade. (p. 11) ■ Saviani (1982) destaca: Do ponto de vista pedagógico conclui-se, pois, que, se para a pedagogia tradicional a questão central é aprender e para a pedagogia nova aprender a aprender, para a pedagogia tecnicista o que importa é aprender a fazer. (p. 11) Teorias não-críticas A Pedagogia Tecnicista ■ A escola e os processos educativos nesse tipo de pedagogia foram extensamente burocratizados: O controle seria feito basicamente através do preenchimento de formulários. O magistério passou então a ser submetido a um pesado e sufocante ritual, com resultados visivelmente negativos. Na verdade, a pedagogia tecnicista, ao ensaiar transpor para a escola a forma de funcionamento do sistema fabril, perdeu de vista a especificidade da educação, ignorando que a articulação entre escola e processo produtivo se dá de modo indireto e através de complexas mediações. (p. 12) ■ A pedagogia tecnicista também sofreu com o insucesso do fim da marginalização escolar; ■ Muito por conta da tomada pelo escolanovismo pelo senso comum educacional, muito pela própria impossibilidade de aplicar de modo consistente este projeto: Nessas condições, a pedagogia tecnicista acabou por contribuir para aumentar o caos no campo educativo gerando tal nível de descontinuidade, de heterogeneidade e de fragmentação, que praticamente inviabiliza o trabalho pedagógico. (p. 12) Teorias crítico-reprodutivistas ■ Retomando: Teorias não-críticas: aquelas que entendem o papel da educação como equalizadora do fenômeno da marginalidade, teorias que consideram apenas a ação da educação sobre a sociedade. Desconhecem as determinações sociais. ■ Já as teorias crítico-reprodutivistas: Fenômeno educativo eu as denominei de "teorias não-críticas". Inversamente, as teorias do segundo grupo - que passarei a examinar - são críticas, uma vez que postulam não ser possível compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes sociais. Há, pois, nessas teorias uma cabal percepção da dependência da educação em relação à sociedade. Entretanto, como na análise que desenvolvem chegam invariavelmente à conclusão de que a função própria da educação consiste na reprodução da sociedade em que ela se insere, bem merecem a denominação de "teorias crítico-reprodutivistas". (p. 27) ■ Saviani (1982) destaca três que alçaram maior receptividade: – "teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica"; – ''teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado (AlE)"; – "teoria da escola dualista". Teorias crítico-reprodutivistas Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica Por que violência simbólica? Os autores tomam como ponto de partida que toda e qualquer sociedade estrutura-se como um sistema de relações de força material entre grupos ou classes. Sobre a base da força material e sob sua determinação erige-se um sistema de relações de força simbólica cujo papel é reforçar, por dissimulação, as relações de força material. É essa a ideia central contida no axioma fundamentai da teoria. Senão vejamos o seu enunciado: "Todo poder de violência simbólica, isto é, todo poder que chega a impor significações e a impô-Ias como legítimas, dissimulando as relações de força que estão na base de sua força, acrescenta sua própria força, isto é, propriamente simbólica, a essas relações de força" (Bourdieu & Passeron, 1975: 19). (p. 29) ■ Em linhas gerais o domínio material (econômico) imposto pela sociedade se torna como consequência um domínio simbólico (cultural); ■ Como definição mais direta da violência simbólica: Teorias crítico-reprodutivistas Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica ■ Como definição mais direta da violência simbólica: Portanto, a teoria não deixa margem a dúvidas. A função da educação é a de reprodução das desigualdades sociais. Pela reprodução cultural, ela contribui especificamente para a reprodução social. (p. 31) ■ Como funciona o sistema de ensino desta teoria? ■ Existe a distinção entre o: – Trabalho pedagógico primário: educação familiar; – Trabalho pedagógico secundário: educação escolar; ■ O segundo é a forma pela qual a violência simbólica ocorre: AP (autoridade pedagógica) escolar que reproduz a cultura dominante, contribuindo desse modo para reproduzir a estrutura das relações de força, numa formação social onde o sistema de ensino dominante tende a assegurar-se do monopólio da violência simbólica legítima" (Bourdieu & Passeran, 1975: 20-1). (p. 31) Teorias crítico-reprodutivistas Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica ■ Qual a resposta para a marginalidade dentro desta teoria? De acordo com essa teoria, marginalizados são os grupos ou classes dominados. Eis a função logicamente necessária da educação. Não há, pois, outra alternativa. Toda tentativa de utilizá-la como instrumento de superação da marginalidade não é apenas uma ilusão. É a forma através da qual ela dissimula, e por isso cumpre eficazmente, a sua função de marginalização. Todos os esforços, ainda que oriundos dos grupos ou classes dominados, reverte sempre no reforçamento dos interesses dominantes. (p. 32) Teorias crítico-reprodutivistas Teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado (AIE) ■ Essa teoria se apoia inicialmente em sistematizar como nossa sociedade funciona: ■ Aparelhos Repressivos de Estado: o Governo, a Administração, o Exército, a Polícia, os Tribunais, as Prisões etc.; ■ Aparelhos ideológicos de Estado: Religião, escola, família, política, cultural, etc. A distinção entre ambos assenta no fato de que o Aparelho Repressivo de Estado funciona massivamente pela violência e secundariamente pela ideologia enquanto que, inversamente, os Aparelhos Ideológicos de Estado funcionam massivamente pela ideologia e secundariamente pela repressão (Althusser, s.d.:46-7). (p. 33) ■ Como funciona o sistema de ensino desta teoria? ■ A escola/educação cumpre o papel de reproduzir as relações de Estado e de funcionamento da sociedade capitalista, com isso: Teorias crítico-reprodutivistas Teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado (AIE) Uma grande parte (operários e camponeses) cumpre a escolaridade básica e é introduzida no processo produtivo. Outros avançam no processo de escolarização mas acabam por interrompê-lo passando a integrar os quadros médios, os "pequeno-burgueses de toda a espécie" (Althusser, s.d.: 65). Uma pequena parte, enfim, atinge o vértice da pirâmide escolar. Estes vão ocupar os postos próprios dos "agentes da exploração" (no sistema produtivo), dos "agentes da repressão" (nos Aparelhos Repressivos de Estado) e dos "profissionais da ideologia" (nos Aparelhos Ideológicos de Estado) (Althusser, s.d.: 65) (p. 34) ■ Qual a resposta para a marginalidade dentro desta teoria? ■ Nesse sentindo, o problema da marginalidade não pode ser resolvido pela escola, pois essa cumpre com a reprodução das relações sociais especificas do capitalismo; ■ Significa que a partir desta teoria, a reprodução do próprio capital cria a marginalização principalmente da classe trabalhadora; Teorias crítico-reprodutivistas Teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado (AIE) ■ Nesse contexto, como se coloca q problema da marginalidade? O fenômeno da marginalização se inscreve no próprio seio das relações de produção capitalista que se funda na expropriação dos trabalhadores pelos capitalistas. Marginalizada é, pois, a classe trabalhadora. O AlE escolar, em lugar de instrumento de equalização social, constitui um mecanismo construído pela burguesia para garantir e perpetuar seus interesses. (p. 34) Teorias crítico-reprodutivistas Teoria da Escola Dualista ■ Essa teoria compreende que a escola assim como em nossa sociedade há uma divisão de classes sociais: Chamo de "teoria da escola dualista" porque os autores se empenham em mostrar que a escola, em que pese a aparência unitária e unificadora, é uma escola dividida em duas (e não mais doque duas) grandes redes, as quais correspondem à divisão da sociedade capitalista em duas classes fundamentais: a burguesia e o proletariado. (p. 35) ■ Ou seja, a escola também reproduz a divisão de classes sociais existentes; ■ Neste sentido, para essa teoria a escola também apresenta um papel ideológico de reprodução do capitalismo; ■ Como funciona o sistema de ensino desta teoria? Teorias crítico-reprodutivistas Teoria da Escola Dualista Enquanto aparelho ideológico, a escola cumpre duas funções básicas: contribui para a formação da força de trabalho e para a inculcação da ideologia burguesa. Cumpre assinalar, porém, que não se trata de duas funções separadas. Pelo mecanismo das práticas escolares, a formação da força de trabalho se dá no próprio processo de inculcação ideológica. Mais do que isso: todas as práticas escolares, ainda que contenham elementos que implicam um saber objetivo (e não poderia deixar de conter, já que sem isso a escola não contribuiria para a reprodução das relações de produção). são práticas de inculcação ideológica. A escola é, pois, um aparelho ideológico, isto é, o aspecto ideológico é dominante e comanda o funcionamento do aparelho escolar em seu conjunto. Conseqüentemente, a função precípua da escola é a inculcação da ideologia burguesa. Isto é feito de duas formas concomitantes: em primeiro lugar, a inculcação explícita da ideologia burguesa; em segundo lugar, o recalcamento, a sujeição e o disfarce da ideologia proletária. (p. 37) ■ Recalcamento = conceito que advém da Psicanálise – ato ou efeito de recalcar, tornar inconsciente as lutas sociais dos trabalhadores. Teorias crítico-reprodutivistas Teoria da Escola Dualista ■ Neste sentido, a escola produz a marginalização: Consequentemente, a escola, longe de ser um instrumento de equalização social, é duplamente um fator de marginalização: converte os trabalhadores em marginais, não apenas por referência à cultura burguesa, mas também em relação ao próprio movimento proletário, buscando arrancar do seio desse movimento (colocar à margem dele) todos aqueles que ingressam no sistema de ensino. (p. 39) Teorias crítico-reprodutivistas Teoria da Escola Dualista ■ Neste sentido, a escola produz a marginalização: Consequentemente, a escola, longe de ser um instrumento de equalização social, é duplamente um fator de marginalização: converte os trabalhadores em marginais, não apenas por referência à cultura burguesa, mas também em relação ao próprio movimento proletário, buscando arrancar do seio desse movimento (colocar à margem dele) todos aqueles que ingressam no sistema de ensino. (p. 39) Teorias crítico-reprodutivistas ■ Saviani (1982) traça algumas críticas a essas tendências pedagógicas: – Não são teorias pedagógicas, no máximo compreendem a organizada da sociedade e como isso reflete na escola; Na verdade estas teorias não contêm uma proposta pedagógica. Elas se empenham tão- somente em explicar o mecanismo de funcionamento da escola tal como está constituída. Em outros termos, pelo seu caráter reprodutivista, estas teorias consideram que a escola não poderia ser diferente do que é. Empenham-se, pois, em mostrar a necessidade lógica, social e histórica da escola existente na sociedade capitalista, pondo em evidência aquilo que ela desconhece e mascara: seus determinantes materiais. (p. 40) ■ Como crítica geral a ambas as tendências podemos sintetizar: Se por um lado as teorias não-críticas reduzem o problema da marginalidade à uma compreensão de resolução ingênua, por outro, as teorias crítico-reprodutivistas não se fundamentam em teorias educacionais. Além disso, jogam a água do banho junto com o bebê quando afirmam que não é possível no centro da política educacional trabalhar para dar um qualidade formativa e emancipadora a partir da escola. Teorias crítico-reprodutivistas ■ Saviani (1982) traça algumas críticas a essas tendências pedagógicas: – Não são teorias pedagógicas, no máximo compreendem a organização da sociedade e como isso reflete na escola; Na verdade estas teorias não contêm uma proposta pedagógica. Elas se empenham tão- somente em explicar o mecanismo de funcionamento da escola tal como está constituída. Em outros termos, pelo seu caráter reprodutivista, estas teorias consideram que a escola não poderia ser diferente do que é. Empenham-se, pois, em mostrar a necessidade lógica, social e histórica da escola existente na sociedade capitalista, pondo em evidência aquilo que ela desconhece e mascara: seus determinantes materiais. (p. 40) ■ Como crítica geral a ambas as tendências podemos sintetizar: Se por um lado as teorias não-críticas reduzem o problema da marginalidade à uma compreensão de resolução ingênua, por outro, as teorias crítico-reprodutivistas não se fundamentam em teorias educacionais. Além disso, jogam a água do banho junto com o bebê quando afirmam que não é possível no centro da política educacional trabalhar para dar uma qualidade formativa e emancipadora a partir da escola. Teorias contra hegemônicas: Pedagogia da Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica ■ Saviani (2008) demonstra que, além das teorias descritas até aqui, houveram tentativas não hegemônicas ao longo da história; ■ Principalmente aquelas que não trabalharam com esse embate entre escola x sociedade - ou na impossibilidade de transformação das condições atuais da própria escola/educação; ■ Houveram outras, porém podemos considerar as principais; – Pedagogia da Libertação; – Pedagogia Histórico-Crítica. Grosso modo, poderíamos agrupar as propostas em duas modalidades: uma, centrada no saber do povo e na autonomia de suas organizações, preconizava uma educação autônoma e, até certo ponto, à margem da estrutura escolar (VASCONCELOS, 1989); e, quando dirigida às escolas propriamente ditas, buscava transformá-las em espaços de expressão das idéias populares e de exercício da autonomia popular; outra, que se pautava pela centralidade da educação escolar, valorizando o acesso das camadas populares ao conhecimento sistematizado. (SAVIANI, 2008, p. 19) Teorias contra hegemônicas: Pedagogia da Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica Pedagogia da Libertação ■ Fundada por Paulo Freire no ano de 1960 se organizou a partir da seguinte concepção pedagógica: A proposta contra-hegemônica que emerge na década de 1960 é a concepção pedagógica libertadora (SCOCUGLIA, 1999) formulada por Paulo Freire (1971 e 1976). Essa proposta suscita um método pedagógico que tem como ponto de partida a vivência da situação popular (1o passo), de modo a identificar seus principais problemas e operar a escolha dos “temas geradores” (2o passo), cuja problematização (3o passo) levaria à conscientização (4o passo) que, por sua vez, redundaria na ação social e política (5o passo). (SAVIANI, 2008, p. 32) ■ Este estritamente ligada a ideia da educação popular, ligada aos movimento populares, geralmente a margem da escola comum. Teorias contra hegemônicas: Pedagogia da Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica Pedagogia Histórico-Crítica ■ Pedagogia Histórico-Crítica tem como marco fundante o ano de 1979; ■ Desenvolveu longo trabalho da sistematização das teorias pedagógicas existentes, além de sua constante revisão teórica; ■ Parte dos pressupostos filosóficos do materialismo histórico-dialético; ■ Estabelece um intrínseco diálogo com a Psicologia Histórico-Cultural, porém trilhando um caminho próprio na ciência Pedagógica; ■ Conforme Saviani (2008, p. 20) explica: Teorias contra hegemônicas: Pedagogia da Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica Pedagogia Histórico-Crítica Numa síntese bastante apertada pode-se considerar que a pedagogia histórico-crítica é tributária da concepção dialética, especificamente na versão do materialismo histórico, tendo fortes afinidades, no que ser refere às suas bases psicológicas, com a psicologia histórico-cultural desenvolvida pela “Escola de Vigotski”. A educação é entendida como o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Em outros termos, isso significa que a educação é entendida como mediação no seio da prática social global. A prática social se põe, portanto, como o ponto de partida e o ponto de chegada da prática educativa. Daí decorre um método pedagógico que parte da prática social onde professor e aluno se encontram igualmente inseridos ocupando, porém, posições distintas, condição para que travem uma relação fecunda na compreensão e encaminhamento da solução dos problemas postos pela prática social. Aos momentos intermediários do método cabe identificar as questões suscitadas pela prática social (problematização), dispor os instrumentos teóricos e práticos para a sua compreensão e solução (instrumentação) e viabilizar sua incorporação como elementos integrantes da própria vida dos alunos (catarse). (p. 20) Referências SAVIANI, D. As teorias da educação e o problema da marginalidade. Cad. Pesq., v. 42, p.8-18, 1982. SAVIANI, D. Teorias contra-hegemônicas no Brasil. Unioeste, v. 10, n.2, p. 11-28, 2008.