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TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS:

TEORIAS NÃO CRÍTICAS, TEORIAS


CRÍTICAS-REPRODUTIVISTAS E
TEORIAS CONTRA HEGEMÔNICAS
Prof. Josavias Anthony Oshiro Costa
E-mail: josavias.costa@umfg.edu.br
Conteúdo
■ Organizando os retalhos pós avaliação;
■ O que são teorias pedagógicas?
■ Teorias não críticas;
■ Teorias crítico-reprodutivistas;
■ Teorias contra-hegemônicas: Pedagogia da Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica.
Organizando os retalhos: o pós-avaliação
O que estudamos até o momento?
■ Fundamentos da Educação: a natureza do processo educativo;
■ Fundamentos da Psicologia Escolar e Educacional: as relações constitutivas entre
psicologia e educação;
■ Reestruturação produtiva, reformas do Estado e reforma educacional;
■ Tendências educacionais, ou teorias pedagógicas.
O que são teorias pedagógicas?
Primeiro o que é pedagogia?
Em uma breve definição a pedagogia é a ciência que busca compreender os aspectos que
constitui o que denominamos como educação e o processo ensino-aprendizagem.
■ Nesse sentido, uma teoria pedagógica vai fundamentar os fenômenos descritos pela
ciência pedagógica;
■ Assim como ocorre na Psicologia, existe uma série de teorias, ou escolas teóricas que
visam dar conta desses fenômenos;
■ Por isso Saviani (1982) abre o texto apresentando alguns dados sobre a evasão escolar
no ano de 1970:
De acordo com estimativas relativas a 1970, "cerca de 50% dos alunos das escolas
primárias desertavam em condições de semianalfabetíssimo ou de analfabetismo potencial
na maioria dos países da América Latina" (Tedesco, 1981: 57). Isto sem levar em conta o
contingente de crianças em idade escolar que sequer têm acesso à escola e que, portanto, já
se encontram a priori marginalizadas dela. (p. 8)
O que são teorias pedagógicas?
■ A pergunta posta é como interpretar esses dados, quais são as teorias pedagógicas que
visam explicar esse tipo de problemática a da marginalização?
■ A ideia de marginalização aqui é das crianças que estão à margem da escolarização!
E não o termo coloquial de marginal como bandido.
■ Segundo Saviani (1982) há dois grupos:
– 1º Num primeiro grupo (teorias não-críticas), temos aquelas teorias que entendem
ser a educação um instrumento de equalização social, portanto, de superação da
marginalidade.
– 2º Num segundo grupo (teorias crítico-reprodutivistas), estão as teorias que
entendem ser a educação um instrumento de discriminação social, logo, um fator
de marginalização.
■ Em síntese o primeiro grupo visa a compreender a sociedade a partir de uma
coesão, neste sentido a marginalização é algo que pode ser corrigido;
■ O segundo grupo entende que a sociedade é conflituosa e que a marginalização é
produto deste sistema educacional;
Teorias não-críticas
■ Veremos três tipos de teorias não-críticas:
– A pedagogia tradicional;
– A pedagogia nova (escolanovismo);
– A pedagogia tecnicista.
A Pedagogia Tradicional
■ Conforme já discutido em aulas anteriores, A constituição dos chamados "sistemas
nacionais de ensino" data de meados do século passado. Sua organização inspirou-se no
princípio de que a educação é direito de todos e dever do Estado. (p. 8)
■ O desenvolvimento da burguesia enquanto classe dominante e seu aspecto
“democrático” promovem a escola a um local de transformação do súdito (escravo) em
cidadão:
Teorias não-críticas
A Pedagogia Tradicional
Como realizar essa tarefa? Através do ensino. A escola é erigida, pois, no grande
instrumento para converter os súditos em cidadãos, "redimindo os homens de seu duplo
pecado histórico: a ignorância, miséria moral e a opressão, miséria política" (Zanotti, 1972:
22-3) (p. 9)
■ O conhecimento como chave a para o rompimento com o “antigo regime”, ou o
feudalismo;
■ Deste modo, a explicação da marginalização para a pedagogia tradicional era:
Nesse quadro, a causa da marginalidade é identificada com a ignorância. É
marginalizado da nova sociedade quem não é esclarecido. A escola surge como um
antidoto à ignorância, logo, um instrumento para equacionar o problema da marginalidade.
(p. 9)
■ E como era o antídoto da Pedagogia/escola tradicional para a marginalização segundo
Saviani (1982)?
Teorias não-críticas
A Pedagogia Tradicional
Seu papel é difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade
e sistematizados logicamente. O mestre-escola será o artífice dessa grande obra. A escola se
organiza, pois, como uma agência centrada no professor, o qual transmite, segundo uma
gradação lógica, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que
lhes são transmitidos. (p. 9)
■ Coube a Pedagogia o seguinte papel:
À teoria pedagógica acima indicada correspondia determinada maneira de organizar a
escola. Como as iniciativas cabiam ao professor, o essencial era contar com um professor
razoavelmente bem preparado. Assim, as escolas eram organizadas na forma de classes,
cada uma contando com um professor que expunha as lições que os alunos seguiam
atentamente e aplicava os exercícios que os alunos deveriam realizar disciplinadamente. (p.
9)
■ Porém, esta escola/pedagogia tradicional sofreu críticas, pois não cumpriu o seu papel
em encerrar os problemas da marginalização da população.
Teorias não-críticas
A Pedagogia Nova (Escolanovismo)
■ Essa teoria pedagógica nasce das críticas à pedagogia tradicional;
■ Mantém a escola como referência no processo de encerramento da marginalização e no
seu papel de correção dessa problemática social;
■ Porém, compreende que o problema do não cumprimento do papel da escola está na
teoria pedagógica que a antecede;
■ O centro do ensino se desloca da relação professor-aluno, para o aluno-professor;
■ A marginalidade segundo o Escolanovismo:
Segundo essa nova teoria, a marginalidade deixa de ser vista predominantemente sob o
ângulo da ignorância, isto é, o não domínio de conhecimentos. O marginalizado já não
é, propriamente, o ignorante mas o rejeitado. Alguém está integrado não quando é
ilustrado, mas quando se sente aceito pelo grupo e, através dele, pela sociedade em seu
conjunto. É interessante notar que alguns dos principais representantes da pedagogia nova
se converteram à pedagogia a partir da preocupação com os "anormais" (ver, por exemplo,
De-croly e Montessori). A partir das experiências levadas a efeito com crianças "anormais"
é que se pretendeu generalizar procedimentos pedagógicos para o conjunto do sistema
escolar. (p. 10)
Teorias não-críticas

A Pedagogia Nova (Escolanovismo)


■ Para a Pedagogia Nova, os marginalizados eram os anormais, os desadaptados, os
desajustados;
■ Saviani (1982) denomina esse movimento como biopsicologização da educação e
sociedade;
■ Por se datar do fim do século XIX ao início do século XX este tipo de teoria pedagógica
foi extensamente influenciada pela Psicologia Diferencial e pela medicina;
■ Se deu ênfase as “anormalidades” biológicas/psicológicas.
Teorias não-críticas
A Pedagogia Nova (Escolanovismo)
■ Com isso:
Compreende-se então que essa maneira de entender a educação, por referência à pedagogia
tradicional tenha deslocado o eixo da questão pedagógica do intelecto para o sentimento; do
aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos
pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a
espontaneidade; do diretivismo para o não-diretivismo; da quantidade para a qualidade;
de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência da lógica para uma
pedagogia de inspiração experimental baseada principalmente nas contribuições da
biologia e da psicologia. Em suma, trata-se de uma teoria pedagógica que considera que o
importante não é aprender, mas aprender a aprender. (p. 10)
■ A escola da pedagogia nova seria:
Para tanto, cada professor teria de trabalhar com pequenos grupos de alunos, sem o que a
relação interpessoal, essência da atividade interpessoal, essência da atividade educativa,
ficaria dificultada; e num ambiente estimulante, portanto, dotado de materiais didáticos
ricos, biblioteca de classe etc. Em suma, a feição das escolas mudaria seu aspecto sombrio,
disciplinado, silencioso e de paredes opacas, assumindo um ar alegre, movimentado,
barulhento e multicolorido. (p. 10)
Teorias não-críticas
A Pedagogia Nova (Escolanovismo)
■ As críticas ao escolanovismo se difundiram em duas:
– 1º Foi um tipo de “escola experimental” que não se popularizou, principalmente
pelo alto custo de sua organização;
– 2º Acentuou o problema da marginalização, pois influenciou os educadores que a
atuavam na escola tradicional de modo negativo, do qual, eles passaram a
afrouxar e desdenhar dos conteúdos o que fez decair a qualidade de ensino. E por
outro lado, aprimorou as condições de ensino das elites, por se tratar de uma
experiência que pode ser aplicada nos setores privados da educação.
Teorias não-críticas
A Pedagogia Tecnicista
■ Considerando novamente houve a falha da melhoria da “marginalização” dos sujeitos
no campo educativos, a partir do escolanovismo;
■ Uma nova teoria pedagógica se formou:
O fenômeno acima mencionado nos ajuda a entender a tendência que se esboçou com o
advento daquilo que estou chamando de "pedagogia tecnicista". Buscou-se planejar a
educação de modo a dotá-Ia de uma organização racional capaz de minimizar as-
interferências subjetivas que pudessem pôr em risco sua eficiência. Para tanto, era mister
operacionalizar os objetivos e, pelo menos em certos aspectos, mecanizar o processo. Dar a
proliferação de propostas pedagógicas tais como o enfoque sistêmico, o microensino, o
teleensino, a instrução programada, as máquinas de ensinar etc. Daí também o parcelamento
do trabalho pedagógico com a especialização de funções, postulando-se a introdução no
sistema de ensino de técnicos dos mais diferentes matizes. Daí, enfim, a padronização do
sistema de ensino a partir de esquemas de planejamento previamente formulados aos quais
devem se ajustar as diferentes modalidades de disciplinas e práticas pedagógicas. (p. 11)
Teorias não-críticas
A Pedagogia Tecnicista
■ Esse movimentou foi semelhante à formulação científica do trabalho, tal como ocorreu
nos moldes do taylorismo e fordismo;
■ Como explicação da marginalidade, a pedagogia tecnicista compreende:
Compreende-se, então, que para a pedagogia tecnicista a marginalidade não será
identificada com a ignorância nem será detectada a partir do sentimento de rejeição.
Marginalizado será o incompetente (no sentido técnico da palavra), isto é, o ineficiente e
improdutivo. A educação estará contribuindo para superar o problema da marginalidade na
medida em que formar indivíduos eficientes, portanto, capazes de darem sua parcela de
contribuição para o aumento da produtividade da sociedade. (p. 11)
■ Saviani (1982) destaca:
Do ponto de vista pedagógico conclui-se, pois, que, se para a pedagogia tradicional a
questão central é aprender e para a pedagogia nova aprender a aprender, para a pedagogia
tecnicista o que importa é aprender a fazer. (p. 11)
Teorias não-críticas
A Pedagogia Tecnicista
■ A escola e os processos educativos nesse tipo de pedagogia foram extensamente
burocratizados:
O controle seria feito basicamente através do preenchimento de formulários. O magistério
passou então a ser submetido a um pesado e sufocante ritual, com resultados visivelmente
negativos. Na verdade, a pedagogia tecnicista, ao ensaiar transpor para a escola a forma de
funcionamento do sistema fabril, perdeu de vista a especificidade da educação, ignorando
que a articulação entre escola e processo produtivo se dá de modo indireto e através de
complexas mediações. (p. 12)
■ A pedagogia tecnicista também sofreu com o insucesso do fim da marginalização
escolar;
■ Muito por conta da tomada pelo escolanovismo pelo senso comum educacional, muito
pela própria impossibilidade de aplicar de modo consistente este projeto:
Nessas condições, a pedagogia tecnicista acabou por contribuir para aumentar o caos no
campo educativo gerando tal nível de descontinuidade, de heterogeneidade e de
fragmentação, que praticamente inviabiliza o trabalho pedagógico. (p. 12)
Teorias crítico-reprodutivistas
■ Retomando: Teorias não-críticas: aquelas que entendem o papel da educação como
equalizadora do fenômeno da marginalidade, teorias que consideram apenas a ação da
educação sobre a sociedade. Desconhecem as determinações sociais.
■ Já as teorias crítico-reprodutivistas:
Fenômeno educativo eu as denominei de "teorias não-críticas". Inversamente, as teorias do
segundo grupo - que passarei a examinar - são críticas, uma vez que postulam não ser possível
compreender a educação senão a partir dos seus condicionantes sociais. Há, pois, nessas teorias
uma cabal percepção da dependência da educação em relação à sociedade. Entretanto, como na
análise que desenvolvem chegam invariavelmente à conclusão de que a função própria da
educação consiste na reprodução da sociedade em que ela se insere, bem merecem a
denominação de "teorias crítico-reprodutivistas". (p. 27)
■ Saviani (1982) destaca três que alçaram maior receptividade:
– "teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica";
– ''teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado (AlE)";
– "teoria da escola dualista".
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica
Por que violência simbólica? Os autores tomam como ponto de partida que toda e qualquer
sociedade estrutura-se como um sistema de relações de força material entre grupos ou
classes. Sobre a base da força material e sob sua determinação erige-se um sistema de
relações de força simbólica cujo papel é reforçar, por dissimulação, as relações de força
material. É essa a ideia central contida no axioma fundamentai da teoria. Senão vejamos o
seu enunciado: "Todo poder de violência simbólica, isto é, todo poder que chega a impor
significações e a impô-Ias como legítimas, dissimulando as relações de força que estão na
base de sua força, acrescenta sua própria força, isto é, propriamente simbólica, a essas
relações de força" (Bourdieu & Passeron, 1975: 19). (p. 29)
■ Em linhas gerais o domínio material (econômico) imposto pela sociedade se torna como
consequência um domínio simbólico (cultural);
■ Como definição mais direta da violência simbólica:
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica
■ Como definição mais direta da violência simbólica:
Portanto, a teoria não deixa margem a dúvidas. A função da educação é a de reprodução das
desigualdades sociais. Pela reprodução cultural, ela contribui especificamente para a
reprodução social. (p. 31)
■ Como funciona o sistema de ensino desta teoria?
■ Existe a distinção entre o:
– Trabalho pedagógico primário: educação familiar;
– Trabalho pedagógico secundário: educação escolar;
■ O segundo é a forma pela qual a violência simbólica ocorre:
AP (autoridade pedagógica) escolar que reproduz a cultura dominante, contribuindo
desse modo para reproduzir a estrutura das relações de força, numa formação social onde o
sistema de ensino dominante tende a assegurar-se do monopólio da violência simbólica
legítima" (Bourdieu & Passeran, 1975: 20-1). (p. 31)
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica
■ Qual a resposta para a marginalidade dentro desta teoria?
De acordo com essa teoria, marginalizados são os grupos ou classes dominados. Eis a
função logicamente necessária da educação. Não há, pois, outra alternativa. Toda tentativa
de utilizá-la como instrumento de superação da marginalidade não é apenas uma ilusão. É a
forma através da qual ela dissimula, e por isso cumpre eficazmente, a sua função de
marginalização. Todos os esforços, ainda que oriundos dos grupos ou classes dominados,
reverte sempre no reforçamento dos interesses dominantes. (p. 32)
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado (AIE)
■ Essa teoria se apoia inicialmente em sistematizar como nossa sociedade funciona:
■ Aparelhos Repressivos de Estado: o Governo, a Administração, o Exército, a Polícia, os
Tribunais, as Prisões etc.;
■ Aparelhos ideológicos de Estado: Religião, escola, família, política, cultural, etc.
A distinção entre ambos assenta no fato de que o Aparelho Repressivo de Estado funciona
massivamente pela violência e secundariamente pela ideologia enquanto que,
inversamente, os Aparelhos Ideológicos de Estado funcionam massivamente pela
ideologia e secundariamente pela repressão (Althusser, s.d.:46-7). (p. 33)
■ Como funciona o sistema de ensino desta teoria?
■ A escola/educação cumpre o papel de reproduzir as relações de Estado e de
funcionamento da sociedade capitalista, com isso:
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado (AIE)
Uma grande parte (operários e camponeses) cumpre a escolaridade básica e é introduzida
no processo produtivo. Outros avançam no processo de escolarização mas acabam por
interrompê-lo passando a integrar os quadros médios, os "pequeno-burgueses de toda a
espécie" (Althusser, s.d.: 65). Uma pequena parte, enfim, atinge o vértice da pirâmide
escolar. Estes vão ocupar os postos próprios dos "agentes da exploração" (no sistema
produtivo), dos "agentes da repressão" (nos Aparelhos Repressivos de Estado) e dos
"profissionais da ideologia" (nos Aparelhos Ideológicos de Estado) (Althusser, s.d.: 65) (p.
34)
■ Qual a resposta para a marginalidade dentro desta teoria?
■ Nesse sentindo, o problema da marginalidade não pode ser resolvido pela escola, pois
essa cumpre com a reprodução das relações sociais especificas do capitalismo;
■ Significa que a partir desta teoria, a reprodução do próprio capital cria a marginalização
principalmente da classe trabalhadora;
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado (AIE)
■ Nesse contexto, como se coloca q problema da marginalidade?
O fenômeno da marginalização se inscreve no próprio seio das relações de produção
capitalista que se funda na expropriação dos trabalhadores pelos capitalistas. Marginalizada
é, pois, a classe trabalhadora. O AlE escolar, em lugar de instrumento de equalização social,
constitui um mecanismo construído pela burguesia para garantir e perpetuar seus interesses.
(p. 34)
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria da Escola Dualista
■ Essa teoria compreende que a escola assim como em nossa sociedade há uma divisão de
classes sociais:
Chamo de "teoria da escola dualista" porque os autores se empenham em mostrar que a
escola, em que pese a aparência unitária e unificadora, é uma escola dividida em duas (e
não mais doque duas) grandes redes, as quais correspondem à divisão da sociedade
capitalista em duas classes fundamentais: a burguesia e o proletariado. (p. 35)
■ Ou seja, a escola também reproduz a divisão de classes sociais existentes;
■ Neste sentido, para essa teoria a escola também apresenta um papel ideológico de
reprodução do capitalismo;
■ Como funciona o sistema de ensino desta teoria?
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria da Escola Dualista
Enquanto aparelho ideológico, a escola cumpre duas funções básicas: contribui para a
formação da força de trabalho e para a inculcação da ideologia burguesa. Cumpre assinalar,
porém, que não se trata de duas funções separadas. Pelo mecanismo das práticas escolares,
a formação da força de trabalho se dá no próprio processo de inculcação ideológica. Mais
do que isso: todas as práticas escolares, ainda que contenham elementos que implicam um
saber objetivo (e não poderia deixar de conter, já que sem isso a escola não contribuiria para
a reprodução das relações de produção). são práticas de inculcação ideológica. A escola é,
pois, um aparelho ideológico, isto é, o aspecto ideológico é dominante e comanda o
funcionamento do aparelho escolar em seu conjunto. Conseqüentemente, a função
precípua da escola é a inculcação da ideologia burguesa. Isto é feito de duas formas
concomitantes: em primeiro lugar, a inculcação explícita da ideologia burguesa; em
segundo lugar, o recalcamento, a sujeição e o disfarce da ideologia proletária. (p. 37)
■ Recalcamento = conceito que advém da Psicanálise – ato ou efeito de recalcar, tornar
inconsciente as lutas sociais dos trabalhadores.
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria da Escola Dualista
■ Neste sentido, a escola produz a marginalização:
Consequentemente, a escola, longe de ser um instrumento de equalização social, é
duplamente um fator de marginalização: converte os trabalhadores em marginais, não
apenas por referência à cultura burguesa, mas também em relação ao próprio movimento
proletário, buscando arrancar do seio desse movimento (colocar à margem dele) todos
aqueles que ingressam no sistema de ensino. (p. 39)
Teorias crítico-reprodutivistas
Teoria da Escola Dualista
■ Neste sentido, a escola produz a marginalização:
Consequentemente, a escola, longe de ser um instrumento de equalização social, é
duplamente um fator de marginalização: converte os trabalhadores em marginais, não
apenas por referência à cultura burguesa, mas também em relação ao próprio movimento
proletário, buscando arrancar do seio desse movimento (colocar à margem dele) todos
aqueles que ingressam no sistema de ensino. (p. 39)
Teorias crítico-reprodutivistas
■ Saviani (1982) traça algumas críticas a essas tendências pedagógicas:
– Não são teorias pedagógicas, no máximo compreendem a organizada da
sociedade e como isso reflete na escola;
Na verdade estas teorias não contêm uma proposta pedagógica. Elas se empenham tão-
somente em explicar o mecanismo de funcionamento da escola tal como está constituída.
Em outros termos, pelo seu caráter reprodutivista, estas teorias consideram que a escola não
poderia ser diferente do que é. Empenham-se, pois, em mostrar a necessidade lógica, social
e histórica da escola existente na sociedade capitalista, pondo em evidência aquilo que ela
desconhece e mascara: seus determinantes materiais. (p. 40)
■ Como crítica geral a ambas as tendências podemos sintetizar:
Se por um lado as teorias não-críticas reduzem o problema da marginalidade à uma
compreensão de resolução ingênua, por outro, as teorias crítico-reprodutivistas não se
fundamentam em teorias educacionais. Além disso, jogam a água do banho junto com o
bebê quando afirmam que não é possível no centro da política educacional trabalhar para
dar um qualidade formativa e emancipadora a partir da escola.
Teorias crítico-reprodutivistas
■ Saviani (1982) traça algumas críticas a essas tendências pedagógicas:
– Não são teorias pedagógicas, no máximo compreendem a organização da
sociedade e como isso reflete na escola;
Na verdade estas teorias não contêm uma proposta pedagógica. Elas se empenham tão-
somente em explicar o mecanismo de funcionamento da escola tal como está constituída.
Em outros termos, pelo seu caráter reprodutivista, estas teorias consideram que a escola não
poderia ser diferente do que é. Empenham-se, pois, em mostrar a necessidade lógica, social
e histórica da escola existente na sociedade capitalista, pondo em evidência aquilo que ela
desconhece e mascara: seus determinantes materiais. (p. 40)
■ Como crítica geral a ambas as tendências podemos sintetizar:
Se por um lado as teorias não-críticas reduzem o problema da marginalidade à uma
compreensão de resolução ingênua, por outro, as teorias crítico-reprodutivistas não se
fundamentam em teorias educacionais. Além disso, jogam a água do banho junto com o
bebê quando afirmam que não é possível no centro da política educacional trabalhar para
dar uma qualidade formativa e emancipadora a partir da escola.
Teorias contra hegemônicas: Pedagogia da
Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica
■ Saviani (2008) demonstra que, além das teorias descritas até aqui, houveram tentativas
não hegemônicas ao longo da história;
■ Principalmente aquelas que não trabalharam com esse embate entre escola x sociedade -
ou na impossibilidade de transformação das condições atuais da própria
escola/educação;
■ Houveram outras, porém podemos considerar as principais;
– Pedagogia da Libertação;
– Pedagogia Histórico-Crítica.
Grosso modo, poderíamos agrupar as propostas em duas modalidades: uma, centrada no
saber do povo e na autonomia de suas organizações, preconizava uma educação autônoma
e, até certo ponto, à margem da estrutura escolar (VASCONCELOS, 1989); e, quando
dirigida às escolas propriamente ditas, buscava transformá-las em espaços de expressão das
idéias populares e de exercício da autonomia popular; outra, que se pautava pela
centralidade da educação escolar, valorizando o acesso das camadas populares ao
conhecimento sistematizado. (SAVIANI, 2008, p. 19)
Teorias contra hegemônicas: Pedagogia da
Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica
Pedagogia da Libertação
■ Fundada por Paulo Freire no ano de 1960 se organizou a partir da seguinte concepção
pedagógica:
A proposta contra-hegemônica que emerge na década de 1960 é a concepção pedagógica
libertadora (SCOCUGLIA, 1999) formulada por Paulo Freire (1971 e 1976). Essa proposta
suscita um método pedagógico que tem como ponto de partida a vivência da situação
popular (1o passo), de modo a identificar seus principais problemas e operar a escolha dos
“temas geradores” (2o passo), cuja problematização (3o passo) levaria à conscientização
(4o passo) que, por sua vez, redundaria na ação social e política (5o passo). (SAVIANI,
2008, p. 32)
■ Este estritamente ligada a ideia da educação popular, ligada aos movimento populares,
geralmente a margem da escola comum.
Teorias contra hegemônicas: Pedagogia da
Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica
Pedagogia Histórico-Crítica
■ Pedagogia Histórico-Crítica tem como marco fundante o ano de 1979;
■ Desenvolveu longo trabalho da sistematização das teorias pedagógicas existentes, além
de sua constante revisão teórica;
■ Parte dos pressupostos filosóficos do materialismo histórico-dialético;
■ Estabelece um intrínseco diálogo com a Psicologia Histórico-Cultural, porém trilhando
um caminho próprio na ciência Pedagógica;
■ Conforme Saviani (2008, p. 20) explica:
Teorias contra hegemônicas: Pedagogia da
Libertação e Pedagogia Histórico-Crítica
Pedagogia Histórico-Crítica
Numa síntese bastante apertada pode-se considerar que a pedagogia histórico-crítica é
tributária da concepção dialética, especificamente na versão do materialismo histórico,
tendo fortes afinidades, no que ser refere às suas bases psicológicas, com a psicologia
histórico-cultural desenvolvida pela “Escola de Vigotski”. A educação é entendida como
o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que
é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Em outros termos, isso
significa que a educação é entendida como mediação no seio da prática social global. A
prática social se põe, portanto, como o ponto de partida e o ponto de chegada da prática
educativa. Daí decorre um método pedagógico que parte da prática social onde professor e
aluno se encontram igualmente inseridos ocupando, porém, posições distintas, condição
para que travem uma relação fecunda na compreensão e encaminhamento da solução dos
problemas postos pela prática social. Aos momentos intermediários do método cabe
identificar as questões suscitadas pela prática social (problematização), dispor os
instrumentos teóricos e práticos para a sua compreensão e solução (instrumentação) e
viabilizar sua incorporação como elementos integrantes da própria vida dos alunos
(catarse). (p. 20)
Referências
SAVIANI, D. As teorias da educação e o problema da marginalidade. Cad. Pesq., v. 42, p.8-18, 1982.
SAVIANI, D. Teorias contra-hegemônicas no Brasil. Unioeste, v. 10, n.2, p. 11-28, 2008.

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