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Faculdade de Direito

A FAMÍLIA DO COMMON LAW

O DIREITO INGLÊS
O DIREITO NORTE- AMERICANO

Uso exclusivamente reservado


aos estudantes do 5.º Ano da
Faculdade de Direito da UCAN

08-02-2024 Hernani Lúcio André Cambinda


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CONSIDERAÇÕES GERAIS
• Impossibilidade de efectuar a comparação histórica
entre os sistemas jurídicos

• Um desses sistemas ( o Inglês) é antecedente do


outro

A Colonização

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DIREITO INGLÊS
I- Evolução histórica

II- Organização Judiciária e sistema de recursos

III - Profissões Jurídicas

IV - Fontes de Direito

V - A descoberta do direito aplicável

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I - Evolução histórica

Período Anglo-saxónico ( séc. V – 1066)

Período da Formação do common law na Inglaterra ( 1066 –


séc. XV)

Período do desenvolvimento do common law e formação da


equity ( séc XV – 1832)

Período Moderno ( a partir de 1832)

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1. Período Anglo-saxónico
• Até princípios do séc. V d.c. as ilhas britânicas foram
colónia romana, mas o direito romano não se
enraizou profundamente e foi erradicado pelas
sucessivas invasões de anglos, saxões e
dinamarqueses;
• O costume era a principal fonte de direito
• Inexistia um direito comum a toda Inglaterra, uma vez
que a descentralização politica, a escassez de leis
escritas e a vigência do direito consuetudinário
impediam a sua formação.

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2- Formação do common law na Inglaterra

• Origens do moderno direito Inglês: a


conquista normanda ( batalha de hastings de
1066)
• Promessa do Rei Guilherme I de respeito às
“leis” anglo-saxónicas e concentração das
funções correspondentes aos poderes
legislativos, executivos e jurisdicionais na cúria
regis ( king´s Council)

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2. Cont.
• A partir do séc. XII os poderes jurisdicionais
autonomizaram-se da Cúria Regis, devido a
criação dos tribunais reais

- Court of Exchequer ( Tribunal do tesouro);

- Court of Common Pleas (Tribunal dos pleitos comuns)

- Court of Queen's Bench ( Tribunal do Banco da Rainha)

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2. Cont.
• Que direito aplicavam esses tribunais Reais?
• Aplicavam o direito comum da Inglaterra (?), que em
bom rigor eram algumas regras consuetudinárias
inspiradas pelos direitos canónicos e romano.
• Mais do que tais regras, os tribunais guiavam-se
sobretudo por critérios de razoabilidade e bom
senso. Tendência para decidir um litigio do mesmo modo que
Um caso anterior semelhante

• O precedente estabilizou e deu coerência ao direito


aplicado.
• O Common Law é originariamente um direito
jurisprudencial e não consuetudinário.

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3- Desenvolvimento do common Law e a
formação da equity
• O precedente consolidou o common law,
conferindo-lhe a natureza de um sistema coerente
de normas jurídicas;
• Contudo, o common law revelou

Insuficiências

O âmbito limitadas
O risco das influências
soluções:
Dos mais poderosos
O excessivo formalismo o Trust e o
sobre
incumprimento
O Júri.
dos contratos
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3- Cont.

Para suprir as No decurso do séc. XIV O Rei encaminhava tais O Chancellor começou O Chancellor foi
ressurgiram as petições petições para um por resolver tais casos de autonomizando-se como
insuficiências dirigidas directamente eclesiástico da sua acordo com a equidade Juiz e nos finais do Séc.
ao Rei para resolução de grande confiança e ( equity); XV foi criado um novo
do Common Law litígios. influência, o Chancellor tribunal real: O Tribunal
surgiu a Equity; ( Keeper of king`s da Chancelaria (Court of
consciênce); Chancery)

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3-Cont.
• O Tribunal da Chancelaria era diferente dos outros tribunais
em dois aspectos

A Natureza e fonte das decisões


A Forma do Processo
iniciava através de um Writ comum a todos
Conteúdo inovador ( admissibilidade da
os casos, escrito, Inquisitório e secreto
execução Especifica como meio de
, sem intervenção do Júri.
cumprimento coercivo do Contrato;
As decisões eram fundamentadas em
reconhecimento no trust do beneficiary)
Regras jurídicas extraídas das decisões
Anteriores. Formou-se um sistema de
Decisões de origem equitativa e de
Regras formadas a partir do precedente.
inspiração Religiosa.

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3 – Cont.
• O Direito inglês passou a ser dualista

Regras de Common
Law Regras de Equity

Geradas e aplicadas por


Tribunais Reais diferentes
• Era inevitável o conflito entre ambos, resolvido por intervenção
do Rei Jaime I.
• A partir de 1616 a equity foi reconhecida pacificamente como
sistema complementar do Common Law

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4- Período Moderno
• Este período é caracterizado por dois
factores:

1. A reforma Judiciária iniciada em 1832


2. A crescente importância da legislação

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4. Cont.
• A reforma judiciária incidiu sobre três aspectos:
a) Reorganização dos tribunais Reais
b) Institucionalização do Comité de Apelação da Câmara dos Lordes
c) Eliminação da separação entre tribunais reais e tribunais da equity.

- Court of Appeal
Supreme Court of - Queen`s Bench Division
Judicature - Hight Court of - Common Pleas Division
Judice - Exchequer Division
- Crown Court - Chancery Division
- Probate, div. and Admiralty

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4- Cont.
2- A crescente importância da legislação
• Anteriormente, a jurisprudência ( case law) era fonte de
direito quase exclusiva
• Alguns factores estiveram na base da crescente importância
da lei (statute; act of paliamment):
- O welfare state
- A transposição das Directrizes Comunitárias.

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II- Organização Judiciária Inglesa


• Tribunais superiores (Superior Courts)
 SUPREME COURT OF THE UNITED KINGDOM
 SENIOR COURTS OF ENGLAND AND WALES.

• Court of Appeal
– Civil Division
– Criminal Division
• High Court of Justice
» Chancery Division: competência em materia cível: contracts e torts
» Family Division: divórcios e anulação de casamentos
» Queen's Bench Division: competência em matérias de equity: sucessões, trusts,
specific perfomance de obrigações contratuais e falências)
» Administrativ Court: autonomizou-se desde 2000 e é competente para a judicial review
das decisões administrativas.
• Crown Court: materia exclusivamente criminal

• Tribunais Inferiores (Inferior Courts)


– County Courts
– Magistrates Courts

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Sistema de Recursos

• Dos Magistrates courts cabe recurso para o Crown Court


( matéria criminal) e para a High Court of Justice ( questões
cíveis)
• Das decisões dos County Courts é competente o Court of
Appeal, excepto em processos de falência em que a
competência é do High Court of Justice;
• Das decisões das divisões do High Court of Justice pode
recorrer-se para o Court of appeal ou para o Supreme Court
( recurso directo):
• Das Sentenças condenatórias proferidas pelo Crown Court,
pode o Réu recorrer para ( matéria de direito) o Court of
Appeal;
• O Supreme Court of the U.K. conhece recursos de decisões do
Court of Appeal e do High Court of Justice ( recurso directo
ou leap-frog)
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III- Profissões Jurídicas


• Barristers e Solicitors
• Tradicionalmente exercem as
• Pleitam nos tribunais
funções de advogados nos tribunais
superiores
• Estão organizados em inferiores
• Estão organizados numa única
quatro associações
associação profissional (Law
profissionais ( Inns of
Society).
Courts).

Não há carreiras autónomas de magistrados judiciais e do MP e


os juízes são, em princípio, nomeados entre os Barristers e
Solicitors.

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Os Solicitors
• O Solicitor é caracterizado como um advogado generalista e que lida
directamente com os clientes. É uma espécie de “clinico geral” e quando
for necessário um conhecimento especializado , contrata um Barrister.
• A origem do Solicitor remota ao chamado attornatus, que era um
funcionário medieval da corte cuja função era auxiliar o cliente no início
do processo. Os funcionários que desempenham tais funções no Tribunal
da Chancelaria tornaram-se conhecidos como “Solicitors”.
• O termo deriva da função de solicitar ou processar as acções nos Tribunais
em que eles não eram funcionários nem advogados.
• Tradicionalmente os Solicitors apenas pleiteavam nos tribunais inferiores
mas desde 1999 estabeleceu-se que os Solicitors podem pleitear nos
tribunais superiores desde que obtenham uma qualificação de advocacia
em tribunais superiores

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Os Solicitors : acesso e exercício da profissão


1. O acesso a profissão de Solicitor requer uma licenciatura em direito
seguida de um curso de prática jurídica com a duração de um ano. O
curso de pratica jurídica pode ser substituído por um estágio junto de
um Barrister.
2. As pessoas não formadas em direito podem ter acesso ao Curso de
Pratica Jurídica desde que obtenham um Diploma de Pós – Graduação
em Direito.
3. Após a conclusão do Curso de Pratica Jurídica (LPC) ou do estágio junto
do Barrister, o Solicitor Trainee poderá requerer a sua admissão na Law
Society.
4. Para exercer a profissão de Solicitor, o candidato admitido na Law Society deve
obter um certificado de prática emitido pela LS e efectuar uma contribuição para
um fundo de compensação aos clientes que sofram perdas resultantes do
negligente exercício da profissão. Para além disso os Solicitors devem pagar um
seguro anual de responsabilidade civil.

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Os Solicitors : Regulação da Profissão


1. Law Society é o órgão que visa defender os interesses dos seus associados,
promover, formar e aconselhar os Solicitors.
2. Autoridade de Regulação dos Solicitors ( SRA): Foi criada em 2007 e tem como
função regular e disciplinar todos os Solicitors do Reino Unido com o objectivo da
transmitir ao público confiança na profissão, mediante as seguintes acções:
1. Fixar os padrões para a qualificação dos Solicitors e as regras de aperfeiçoamento profissional;
2. Monitorar o desempenho das organização que prestam treinamento jurídico;
3. Monitorar os Solicitors e os seus escritórios para garantir o cumprimento das regras profissionais;
4. Propor processos disciplinares contra os Solicitors;
5. Administrar o fundo de compensação
6. Elaboração das regras de conduta profissional
3. Serviço de Reclamações Jurídicas (LCS): é um órgão independente criado atender
as reclamações dos consumidores dos serviços jurídicos prestados pelos Solicitors
4. Tribunal Disciplinar dos Solicitors: é independente da Law Society, tendo por
função o julgamento dos processos disciplinares e a aplicação de sanções aos
Solicitors

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Os Barristers
1. Os Barristers são geralmente definidos como advogados que actuam em
juízo, embora passem mais tempo na redacção de contratos, petições e
elaborando pareceres para o Solicitors.
2. Os Barristers apenas podem ter contacto com o cliente quando o Solicitor
ou o seu representante estiver presente.
3. Ao contrário da aparência, os Barristers são advogados juniores e só os
que adquirem o título de Advogados da Rainha são seniores. Para
adquirir o título de Advogado da Rainha os Barristers devem possuir pelo
menos 10 anos de experiência. Os candidatos à advogados da rainha são
escolhidos pelo Lord Chanceler mediante recomendação de um painel
independente organizado pela Law Society e pela Ordem dos Barristers.
4. O título de Advogado da Rainha é concedido pela Rainha mediante
proposta do Lord Chanceler. Uma vez nomeado o Advogado será
chamado de Leader e deverá actuar nos tribunais sempre acompanhado
por um advogado júnior.
5. Os advogados da Rainha, usam toga de seda e peruca, sendo o seu
trabalho mais complexo, raro e por isso mais caro.
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Os Barristers : acesso e exercício da profissão


1. O aspirante a Barrister deve se registar numa das quatro
Inns of Court em Londres. O candidato deve ser formado ou
um estudante qualificado.
2. Geralmente o Barrister é um licenciado em direito que
realizar uma formação profissional de um ano no fim da qual
se submete a exame na ordem profissional.
3. Porém, pessoas não formadas em direito podem estudar
para o exame profissional comum durante um ano e se
forem aprovadas nos exames podem submeter-se ao exame
da Ordem.
4. Para além da formação vocacional, o estudante deve
comparecer regularmente na sua Inns of Court para se
familiarizar com os costumes profissionais.
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Os Barristers : Regulação
1. As Inns Of Courts: são administradas por Barristers Seniores (advogados da
rainha e juízes). As Inns of Courts tem a responsabilidade de administrar o
sistema de estágio. É igualmente responsável pela convocação de estudantes
para a Ordem.
2. Conselho Geral da Ordem: é o órgão regulador da profissão, sendo
administrador por dirigentes eleitos. Elabora o código de conduta, aprecia
questões disciplinares e representa os interesses dos seus membros perante o
Departamento do Lord Chanceler, o Governo e a Law Society.
3. A Comissão de ética da Ordem (BSB): É um órgão independente do Conselho
Geral e tem por objectivo promover e manter a excelência na qualidade dos
serviços jurídicos prestados pelos Barristers na defesa do Estado de direito,
mediante a elaboração de normas sobre a admissão na profissão.
4. A Câmara dos Barristers: os Barristers não podem formar sociedade de
advogados e trabalham agrupados em Câmaras geridas de modo empresarial por
Secretários que negoceiam os honorários e gerem as agendas dos Barristers.
Apesar de trabalharem agrupados em Câmaras, os Barristers são autónomos.

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O “Ministério Público” Inglês


• Existe no U.K um “Crown Prosecution Service” (CPS) ou Serviço de
Promotores da Coroa, que funciona como um serviço processual nacional
dirigido por um Director.
• Os Promotores actuam na qualidade de advogados empregados que tem
por missão processar os cidadãos suspeitos da pratica de crimes. A
investigação dos crimes e a acusação dos suspeitos é feita de modo
autónomo pela Polícia.
• Os Promotores e a polícia trabalham juntos, mas a responsabilidade final
pela decisão de prosseguir ou não com o caso recai sobre os Promotores.
A decisão de acusar exige que sejam satisfeitos dois requisitos: a
existência de uma probabilidade séria e realística de condenação e a
acusação deve ser “no interesse público”.
• Os promotores não têm o estatuto equiparado a Magistrados, são meros
funcionários do Estado que actuam como Advogados da Coroa.

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III- Recrutamento dos Juízes – até 2005


• Nos Superior Courts os juízes eram recrutados entre os
Barristers com um mínimo de 10 anos de experiência,
sendo nomeados pela Rainha, sob parecer do 1.º Ministro;
• Nos County Courts eram recrutados para Juízes os
Solicitors. São nomeados pela Rainha, sob parecer do Lord
Chancellor;
• Nos Magistrates Courts, os juízes (Justices of Peace) são
em geral leigos que desempenham essas funções em
tempo parcial e sem remuneração. São nomeados pelo
Lord Chancellor. Nalguns Magistrates
Courts eram nomeados
Stipendiary Magistrates

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III- Recrutamento de Juízes após a
reforma de 2005
• A reforma constitucional de 2005 criou uma Comissão de Nomeações
Judiciais independente que assumiu a responsabilidade pela selecção de
todos os juízes. Nenhum juíz pode ser nomeado sem uma prévia selecção
da Comissão.
• Os membros da Comissão de Nomeações Judiciais são nomeados pela
Rainha mediante indicação do Lord Chanceler (Juíz mais antigo na
estrutura judicial e que é igualmente Presidente da Camara dos Lordes e
Membro do Gabinete/Executivo).
• A Comissão de Nomeações Judiciais é constituída por 15 comissários: 6
membros leigos; 5 juízes; 2 Advogados e 2 Membros dos Tribunais
inferiores;
• O Presidente da Comissão é sempre um dos membros leigos.
• As reclamações sobre o processo de seleção e a apreciação das questões
de natureza disciplinar dos juízes são apreciadas por um Ombudsman de
Nomeações Judiciais e de Conduta.
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IV – O Júri
O Júri representa a prestação de um dever cívico. Cada jurado presta
um juramento de “julgar fielmente o réu e proferir um veredicto real de
acordo com as provas”.
Função do Júri: julgamento da matéria de facto e da culpabilidade do
Réu. Os juízes podem determinar que os júris absolvam o acusado se
não houver provas suficientes . Entretanto nenhum Juiz pode instruir o
Juri a condenar o acusado ainda que existam provas suficientes.
A decisão do júri que absolve o acusado não admite recurso, salvo em
alguns casos em meteria cível quando a decisão seja absolutamente
contrária às provas dos autos.
Vereditos Maioritários: até 1967 as decisões do júri deviam
ser unânimes, porém depois deste ano passaram a ser
admitidas decisões maioritárias.

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IV – O Júri
Dispensa dos Jurados ou do Juri: o juíz pode dispensar os jurados em
caso de doença ou qualquer outra razão ou o próprio júri quando, por
exemplo os antecedentes criminais do reu forem inadvertidamente
revelados durante o julgamento.
Selecção do Juri: o serviço de júri é um dever público e qualquer pessoa
entre as idades de 18 a 70 anos que tenha registo eleitoral e que tenha
vivido no Reino Unido pelo menos 5 anos está qualificada para servir
como jurado. O procedimento de constituição abrange três etapas:
1. O oficial de justiça sorteia e convoca um número de pessoas
qualificadas extraídas do registo eleitoral;
2. Do grupo formam-se painéis de jurados potenciais para vários
processos;
3. Os painéis de jurados potenciais são sorteados por meio de votação
publica que decorre no Tribunal

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IV- As Fontes de Direito


• Fontes Principais No plano hierárquico está acima
– A Lei (statute) do case law ( eficácia revogatória)

– A Jurisprudência (case law)


• Fontes Subsidiárias
– O costume (custom)
– A doutrina ( doutrine, books of authority)

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A Jurisprudência
• O Case Law é a principal fonte de direito.
• O stare decisis esteve na base da formação do
direito Inglês.
• A importância do case law enquanto fonte de
direito deve-se a regra do precedente
vinculativo (doutrine of binding precedent)

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A Jurisprudência
• Para a compreensão clara da regra do
precedente devemos ter em conta os
seguintes aspectos:
• A estrutura das sentenças inglesas
• A natureza do tribunal que proferiu a decisão
bem como a relação hierárquica entre esse
tribunal e aquele perante o qual se apresenta o
litigio actual.

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Jurisprudência
• Quanto à estrutura as sentenças inglesas
dividem-se em quatro partes:
1. Os factos ( provados)
Regras ou considerações que não
2. Obiter dicta Foram decisivas para a decisão final

3. A ratio decidiendi
4. decisão Argumento de direito
decisivo para a
resolução do caso ( C.
Mendes).

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A Jurisprudência
• Quanto à natureza do tribunal a sua relação hierárquica:

– O precedente das decisões do Supremo Tribunal do Reino Unido


vinculam todos os tribunais ingleses, excepto o próprio Supremo
Tribunal
– Os precedentes das sentenças do Court of Appeal vinculam os
tribunais hierarquicamente inferiores e, salvo em matéria criminal, o
próprio Court of Appeal;

– Os precedentes das decisões do High Court of Justice vinculam os


tribunais inferiores e o próprio High Court quando tal decisão tenha
sido proferida em sede de recurso;

– Os precedentes extraídos das sentenças do Crown Court só


excepcionalmente são vinculativas para os tribunais inferiores e para o
próprio tribunal

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Jurisprudência
• O precedente vinculativo é o pilar do sistema jurídico
inglês e apresenta as seguintes vantagens:
– Consistência: casos similares são julgados de forma
similar;
– Certeza: é possível prever o resultado de uma contenda
jurídica com base nas decisões anteriores;
– Eficiência: Os tribunais decidem mais rapidamente os
casos;
– Flexibilidade: As decisões anteriores podem ser revogadas
ou não seguidas com base na técnica da diferenciação.

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Jurisprudência
• Assim, atendendo aos dois aspectos, a regra
do precedente (precedent rule) forma-se
sobre a ratio decidiendi da decisão de um
tribunal superior sobre um caso anterior
semelhante.
• Apenas nessas circunstâncias precedente será
vinculativo.
• As decisões dos tribunais inferiores
constituem precedente persuasivo.

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Jurisprudência
• Excepções à regra do precedente:

Existência de dois precedentes inconciliáveis, com


a mesma autoridade;

 A sentença emitida per incuriam.

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Jurisprudência
• Estilo das sentenças:
– São constituídas por opinions formuladas em
separado por cada um dos julgadores.
– Descrição pormenorizada da matéria fáctica e
analise profunda da matéria de direito;
– Abundam referencias a casos anteriores

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A Jurisprudência
• Publicação das Sentenças
– A efectividade da aplicação de precedentes
vinculativos exige a publicação das sentenças.
– Actualmente as sentenças são publicadas pela
Council of Law Reporting em quatro séries ( Law
Report)

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A Lei (statutory Law)
• Actualmente o Parlamento legisla cada vez
mais;
• Assiste-se também ao fenómeno da
governamentalização da legislação;
• Não existe fiscalização da constitucionalidade
das leis devido a inexistência de uma
constituição escrita

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A Lei (statute)
• Âmbito de incidência: matérias excluídas do
case law:

• Direito da Administração Pública


• Direito Fiscal
• Direito Social
• Direito Económico
• Transposição de Directivas

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A Lei
Técnicas Legislativas

CODIFYING ACTS CONSOLIDATING


ACTS
Textos legislativos que Revogação de uma
traduzem em normas ou varias leis dispersas
legais as normas do sobre determinada
Case Law matéria e a sua
concentração num
único texto

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A Lei
Regras de Interpretação da Lei
1. Regra Literal (literal rule): O juíz deve
interpretar o que diz de facto a lei e não o
que devia dizer.
2. Regra de Ouro (golden rule): Visa afastar o
sentido literal conduz a um resultado
absurdo ou âmbiguo.

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O Costume (Custom)
• O costume não tem especial relevância no
Direito Inglês, salvo no domínio dos direitos
constitucional e comercial

LAW MERCHANT
CONVENÇÕES
CONSTITUCIONAIS

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A DOUTRINA
• Não tem uma influência semelhante à
doutrina no países da civil law.
• Os textos doutrinários susceptíveis de
constituírem fonte de direito tem que fazer
parte dos Books of authority, entre os quais se
destacam os seguintes:
- Institutes, do Juíz Coke;
- Comentaries on the laws of England, do
Professor Blackstone.

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V- A Descoberta do Direito Aplicável


• A descoberta do direito aplicável consiste na busca de
um ou mais precedentes vinculativos aplicáveis ao caso
concreto;
• A interpretação da lei ocorre apenas nos casos em que
esta é aplicada pela primeira vez;
• A expressão lacunas da lei não faz muito sentido no
Direito Inglês uma vez que o sistema jurídico é
constituído pelo case law e pelo statutory law.
• Não é admissível a aplicação analógica de uma norma
legal
• Os leading cases são resolvidos por inovação
jurisprudencial

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O Direito Norte - Americano

47
Estrutura Complexa do Sistema
• Os EUA constituem um Estado Federal, formado pela
federação ( ou união) e 50 Estados Federados, para além do
Distrito de Columbia e de alguns territórios ultramarinos;
• A Federação dispõe de uma Constituição e de uma
organização política própria;
• Cada um dos 50 estados tem a sua própria constituição e
instituições que exercem os poderes executivo, legislativo e
judicial;
• Por isso o Direito dos EUA constitui um sistema complexo que
compreende 51 ordens jurídicas: a ordem jurídica federal e as
50 ordens jurídicas estaduais.

48
Organização Judiciária
- Tribunais Federais
- U.S District Courts 1ª instancia; existe pelo menos um em
cada território federal
- U.S. Courts of Appeals
-U.S. Supreme Court Tribunal de recurso; a sua area de
jurisdição “circuito” abrange vários
estados. Até 1998 eram 11.

É o tribunal do topo da hierarquia e o único criado pela


constituíção federal
- Tribunais Estaduais: cada estado define a sua própria org. judicíaria; a
estrutura mais comum compreende três graus de jurisdição

49
Organização Judiciária
• A competência dos tribunais federais é determinada
com base em dois critérios:
a) Em razão da matéria, quando ao caso seja aplicável
direito federal;
b) Em razão das pessoas: quando, qualquer que seja o
direito aplicável, as partes sejam cidadãos de
diferentes estados, ou uma delas seja cidadão
estrangeiro, salvo as acções de divorcio e aquelas
cujo valor seja inferior a 75 mil USD.

50
Organ. Judiciária
• O U.S. Supreme Court, julga recursos interpostos de
decisões do U.S. Courts of Appeals em qualquer
matéria;
• Julga em recurso as decisões proferidas pelos
supremos tribunais estaduais quando esteja em
causa aplicação do direito federal ou a
compatibilidade da decisão com o direito federal
• O recurso incide apenas sobre matéria de direito e o
sistema é de substituição.

51
O JÚRI
• O direito ao júri é uma garantia constitucionalmente consagrada,
quer a nível federal, quer a nível estadual
• Em processos crimes o direito federal e o direito de alguns estados
exige que a acusação seja precedida de uma apreciação sobre a
suficiência das provas perante um grand jury ( 23 cidadãos);
• Nos crimes mais graves o julgamento realiza-se perante um júri ( 12
pessoas) que decide, em regra por unanimidade, a matéria de facto
• Em matéria civil o direito ao julgamento por um júri é garantido
desde que o valor da causa exceda 20 USD a ao caso seja aplicável o
Common Law;
• O juiz exerce algumas vezes o poder excepcional de proferir a
sentença em desconformidade com a deliberação do júri

52
As Profissões Jurídicas
a) Unidade da profissão
- A profissão de jurista é unitária; desde que admitido numa Bar Association, o
jurista pode exercer a sua actividade como Advogado, , Promotor público, na
administração publica, numa empresa, no ensino universitário, ou num cargo
governamental;
- Existe uma American Bar Association, de âmbito federal , que exerce uma
importante protecção dos seus associados e na acreditação das faculdades de
direito;
B) Formação dos Juristas
- A profissão de jurista exige formação universitária em direito;
- A admissão às Faculdades de Direito (Law Schools) pressupõe a anterior
obtenção de um diploma superior de qualquer natureza;
- A duração normal dos cursos de direito é de três anos
- O acesso à profissão depende da aprovação em provas prestadas perante uma
Bar Association Estadual (bar examination)

53
As Profissões Jurídicas
C) Recrutamento e estatuto dos Juízes
- Os juízes são recrutados entre os Lawyers que
exercem outra actividade jurídica
- Os juízes federais são nomeados vitaliciamente pelo
Presidente os EUA e confirmados pelo senado;
- Os Juízes Estaduais na maioria dos estados são
eleitos para exercício do cargo por tempo
determinado, geralmente renovado. Noutros estados
são nomeados pelo Governador

54
As Fontes de Direito
a) Elenco
- Fontes Primárias: a Lei e a jurisprudência
- Fontes Secundárias: A doutrina e os Restatments of the Law
b) Hierarquia:
i. Constituição federal e a jurisprudência do tribunal federal sobre a
constituição federal
ii. Outras Leis Federais e Jurisprudência à elas relativas;
iii. Constituições estaduais e jurisprudência dos tribunais supremos
estaduais sobre a mesma;
iv. Outras Leis estaduais e respectiva jurisprudência;
v. Jurisprudência estadual autónoma em ralação a legislação estadual

55
A Lei
• Codificação: As publicações que recebem o nome de códigos
são de varia origem e natureza;
• A adopção de códigos em sentido técnico foi feita em apenas
alguns estados:
- Louisiana, onde a codificação civil deveu-se à influência francesa e
espanhola, anteriores à independência
- New York, onde foram aprovadas um Cód. de Proc. Civ. ( 1848); Código
Penal e de Processo Penal ( 1881), por iniciativa do Advogado David
Dudley Field.
- Existem ainda códigos em sentido impróprio, que tem um
carácter compilatório, organizados de acordo com vários
critérios ( cronológico ou alfabético), combinados ou não com
alguma combinação por assuntos. Ex: o United States Code,
reeditado de 6 em 6 anos, que é uma compilação das leis
aprovadas pelo congresso.

56
Leis Uniformes e Leis Modelos
• A National Conference of Commissiones na Uniform
State Laws, criada em finais do sec. XIX pela
American Bar Association, prepara e publica textos
que servem de base à uniformização dos direitos
estaduais. Exemplo: O Uniform Commercial Code,
aprovado por 49 estados;
• A harmonização dos direitos estaduais tem sido feita
por outras instituições de carácter privado através da
proposta de leis modelos: Model Penal Code

57
Leis Uniformes e Leis Modelos
• As leis uniformes e leis modelos não
constituem direito federal. São textos com
vocação legislativa, que uma vez aprovados
livremente pelos órgãos legislativos federais
passam a constituir direito estadual

58
A Interpretação da Lei
-o método tradicional de interpretação das leis baseia-se nas
regras restritivas do direito inglês.
- Porém, existe uma maior flexibilidade e a consideração de
elementos sistemáticos na interpretação da constituição dos
EUA.
- Existem dois princípios de interpretação, sem paralelo nos
países da civil law:
a) A atitude de Stare Decisis abrange o sentido relevante tanto do
statutory law como o das normas de pura criação jurisprudencial;
b) Os tribunais só se pronunciam sobre a inconstitucionalidade da
norma contido num statute, depois deste ter sido interpretado e
aplicado por um tribunal.

59
A Jurisprudencia
• O Case Law é fonte de direito no âmbito da doutrina do stare
decisis. O tribunais inferiores sentem-se vinculados a decidir
do mesmo modo que casos semelhantes foram decididos por
tribunais superiores;
• Os tribunais estaduais consideram-se geralmente vinculados:
a) Por precedentes contidos em anteriores decisões dos tribunais
hierarquicamente superiores do mesmo estado;
b) Por precedentes contidos em decisões de tribunais federais que
apliquem direito federal ou direito do respectivo estado.

60
A Jurisprudência
• Os tribunais federais consideram-se
vinculados :
a) por precedentes de decisões de tribunais federais
hierarquicamente superiores;
b) Por precedentes contidos em decisões anteriores
do Supremo Tribunal Estadual de determinado
Estado, quando apliquem direito do respectivo
Estado;

61
A Jurisprudência
Os tribunais estão inclinados a seguir os seus próprios
precedentes. Contudo admite-se que os tribunais
situados no topo da hierarquia judiciaria federal ou
estadual, alterem a orientação anterior através de
dois meios:
a) Overruling: revogação da norma aplicada em casos
analogos anteriores
b) Prospective overruling: declaração que considere
inadequado o precedente, aplicando-o ainda ao caso
análogo actual. A declaração destina-se a evitar a
rectroactividade do precedente e tem valor
meramente persuasivo.

62
A jusrisprudencia
• O stare decisis é mais flexível que a doutrina inglesa do
precedente, pois, excepcionalmente um tribunal pode não
aplicar o precedente que o vincularia, na convicção se que o
tribunal superior também não o aplicaria
• As técnicas usadas na descoberta do precedente são
semelhantes às do direito inglês. Apenas a nomenclatura
varia. No direito norte americano a ratio decidendi é
designada por holding of the case.
• As regras do case law estadual constituem apenas direito dos
respectivos estados, mas é possível a invocação do case law
de um estado noutro estado diferente (Jurisprudência
paralela).
• A jurisprudência paralela tem valor meramente persuasivo
(persuasive authority), dependendo muito do Estado de onde
provêm
63
Estilo das Sentenças
• Não existem, diferentemente do direito inglês,
opinions emitidas por cada um dos julgadores.
• A sentença e geralmente redigida por um só relator
que exprime a opinião comum ou maioritária,
podendo ser complementada por votos de vencido
( dissentig opinions) ou mesmo pela exposição de
pontos de vista que só diferem na base
argumentativa (concurring opinions).
• É frequente a citação de doutrina, não se verificando
qualquer objecção à citação de autores vivos

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As Colectânias de Jurisprudencia
• As sentenças dos tribunais federais são
publicadas em varias colectâneas.
• As decisões do Supremo Tribunal são
publicadas no U. S. Reports
• As decisoes dos tribunais estaduais são
publicadas em cada estado, em edições
oficiais e não oficiais: Exemplo, a Atlantic
Report

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A Doutrina
• A doutrina americana é enorme em
quantidade, completude, diversidade de
estilos e modelos editoriais
• Compreende enciclopédias, tratados, lições
universitárias e monografias, textos de
actualização periódica através de folhas soltas
(looseleaf series), jurisprudência comentada
(case books); manuais abreviados (nutshells) e
revistas.

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Os Restatements of the law
• Os Restatements of the law são fontes
secundárias de natureza doutrinaria.
• Consistem na pesquisa e publicação do “
direito comum” estadual nas áreas onde o
case law é mais denso.
• A estrutura e estilo dos Restatements of the
law inspiram-se no modelo dos códigos
romano-germanicos, mas não são verdadeiros
códigos;

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A descoberta do direito aplicavel
• Determinar se ao caso é aplicável direito
federal ou direito estadual e que direito
estadual.
• Busca de precedentes
• A noção de lacuna e seu preenchimento por
analogia não se incluem nos mecanismos do
common lawyer norte americano

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Factores de Unidade do Direito dos EUA

• A constituição dos EUA e a Jurisprudência do


Supremo Tribunal, sobretudo em matéria de
fiscalização da constitucionalidade;
• O progressivo alargamento do direito federal
• As leis uniformes;
• A jurisprudência paralela
• Os restatments of the law
• O ensino universitário unitário

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