Você está na página 1de 68

PSICOLOGIA

INSTITUCIONAL

Uma das maneiras de pensar e fazer um trabalho institucional

JOSÉ BLEGER
BLEGER: psiquiatra, psicanalista argentino (1922-1972).
Marxista, militante comunista. Desenvolveu o pensamento
kleiniano sobre a clínica e contribuiu para ampliar o papel do
psicanalista no contexto social.

Ligado também a Pichon-Rivière.


Teoria do Vínculo: estrutura complexa que inclui um sujeito,
um objeto e sua mútua inter-relação com processos de
comunicação e aprendizagem - veículo das primeiras
experiências sociais.
Bleger formula sua Psicologia Institucional como uma prática da
Psicologia nas instituições para além dos limites do consultório.

“O psicólogo deve intervir intensamente em todos os aspectos e


problemas que concernem à psico-higiene e não esperar que a pessoa
adoeça para recém poder intervir” (BLEGER,1984, p.20)
Psicólogo: definido como um profissional de saúde. Envolve-se
com “saúde e vida” e deve ocupar-se das relações
interpessoais e do desenvolvimento da personalidade em
torno dessas tarefas, visando o bem estar

PSICO – HIGIENE
Psicologia Institucional: não é um ramo da Psicologia
campo no qual há que se “aplicar” a psicologia.

É ciência: campo de investigação e de desenvolvimento da


profissão. Práxis (ação-reflexão-ação)

Supõe uma intervenção em nível dos grupos da instituição,


através de uma dinâmica intra e inter-grupal
Questões

1- Quais os dois princípios básicos que devem ser considerados


em uma estratégia de intervenção institucional?

2 - Diferencie o papel do psicólogo nos contextos abaixo:

Psicologia NA instituição: aplicação de procedimentos técnicos


x
Psicologia DA instituição: intervenção sócio-política.
Dois princípios inter-relacionados, na intervenção:

• Toda tarefa deve ser empreendida e compreendida em função da


unidade e totalidade da instituição;

• O psicólogo deve considerar a diferença entre a psicologia


institucional X o trabalho psicológico em uma instituição
Psicologia da instituição Psicologia na instituição
O psicólogo deduz a sua tarefa de O psicólogo trabalha a partir de
seu próprio estudo e diagnóstico. funções já fixadas.
Age sobre os fatores que detecta Realiza tarefas que se lhe
como sendo realmente de encomendam realizar e geralmente
necessidade para a instituição . em um setor da instituição.
Pode-se ocupar de parte da É empregado da instituição.
instituição, mas visa-se sua
Cumpre ordens
totalidade.
Não realiza suas tarefas dentro do
Há a necessidade de uma distância
enquadramento da psicologia
entre dependência econômica e
institucional.
profissional
Fator tranqüilizante
Papel do psicólogo enquanto
consultor (independência
profissional). Agente de mudança.
Psicologia Institucional: diferente das práticas que envolvem
aplicações de testes, ou feitura de diagnósticos e relatórios,
ou das práticas terapêuticas com pessoas e grupos,
perdendo-se de vista o todo das relações.

Tem por objetivo a psico-higiene: promover saúde e o bem


estar dos integrantes da instituição.

Psicólogo: técnico da relação interpessoal, dos vínculos humanos. Um


técnico da explicitação do implícito.
Psicólogo: sua função não será a de decidir ou resolver os problemas da
instituição , nem de executar as ações decididas nos grupos.

Tem um lugar diferenciado dos demais lugares na


instituição: um assessor/ consultor economicamente
vinculado à instituição e profissionalmente independente.
Fora do organograma formal.

Busca-se uma distância necessária do(s) imaginário(s) do(s)


grupo(s) para assinalar, pontuar e interpretar as defesas, as
fantasias e as ideologias dos mesmos.

A psicologia institucional para Bleger só pode ser levada a


cabo quando o psicólogo não é empregado da instituição.
Detalhes de sua inclusão à instituição são relevantes: são índices
das características da instituição e das situações que deverá
enfrentar.

Importante: marcar o enquadramento da tarefa e explicitar


qualquer ambigüidade ou mal entendido:
* Fixar horário global para a tarefa diagnóstica inicial, delimitada
previamente em sua duração.
* Fixar horários e dias de trabalho em função do número de pessoas
que vão intervir na tarefa, inclusive fora do horário institucional.
* Fixar honorários antes e não depois do trabalho estabelecido
No enquadramento da tarefa também faz-se referência aos
objetivos do psicólogo e da psicologia institucional.

Toda instituição tem objetivos e uma organização própria que


devem ser estudados pelo psicólogo – como ponto de partida
para o ingresso (ou não) no trabalho.
Objetivos institucionais implicam em conteúdos:
explícitos ou manifestos – objetivos para os quais se solicita
ou aceita o trabalho do psicólogo
implícitos ou latentes (conscientes ou inconscientes)
Questão

Qual o mínimo de informação que devemos ter sobre a


instituição quando aceitamos um trabalho de
intervenção?
a. Finalidade ou objetivo da instituição
b. Instalações e procedimentos que utiliza para conseguir seus
objetivos
c. Situação geográfica e relações com a comunidade
d. Relações com outras instituições
e. Origem e formação
f. Evolução, história, crescimento, mudanças, flutuações, suas
tradições
g. Organização e normas que a regem
h. Contingente humano que nela intervém, estratificação social e
de tarefas
i. Avaliação dos resultados de seu funcionamento, itens
utilizados.
Síntese
Bleger: Psicologia Institucional para designar o trabalho junto a
instituições. Trabalho político e científico inserido na realidade
social.

 Ligado à saúde da população, perspectiva de lidar com as


relações de poder que crivam a vida dos grupos. “Necessidade
social” – compromisso social da profissão.

 Busca proporcionar condições para a vida e a saúde, bem estar


(psicohigiene).
Síntese
Ciência: envolve a construção de saber teórico/metodológico:
estudo dos grupos, das instituições. Investigação das leis que
regem as condutas (relacionais). Difere das C Naturais,
considera a subjetividade

Intervenção investigadora. Ocupa-se das relações interpessoais e


desenvolvimento da personalidade.

fantasias, desejos, ansiedades, defesas – conflitos


Psicanálise: para compreender a dinâmica inconsciente das
relações grupais/institucionais – entender o funcionamento dos
conflitos/defesas/ansiedades.
Síntese
Trabalho com recursos da Psicologia - técnicas psicológicas,
grupo operativo. Ação: plano manifesto, ideológico - lida com
preconceitos, hábitos, atitudes (situações cotidianas/ crise).

 Método clínico: observação/levantamento hipóteses/


conclusões parciais ratificadas ou retificadas/novas
hipóteses/confirmação/ conclusão/devolução.

Enquadre: garantir a distância instrumental visando


compreender/analisar as relações grupais/institucionais. Dá as
constantes a partir das quais se controla variáveis do
fenômeno investigado – quadro referencial.
Síntese
Dois pressupostos: a forma de atuação da Psicologia Institucional
é diferente do trabalho psicológico em uma instituição porque
lida com a instituição enquanto totalidade.

A quem cabe o papel da solução e execução dos problemas


levantados a partir de uma intervenção?
Lugar institucional do psicólogo: assessor, consultor que projeta
a sua tarefa. Sem decidir/resolver os problemas, executar
ações.

Autonomia profissional para não prejudicar o manejo técnico das


situações vivenciadas desde os primeiros contatos até a
intervenção.
Objetivos psicólogo institucional

• demarcação dos objetivos gerais de sua tarefa;


• explicitar objetivos da psico-higiene;
• explicitar o implícito, ajudar a compreender os problemas.
• realizar diagnóstico dos objetivos particulares, específicos.

Referem-se a aspectos do problema central, estudados e


manejados em função da unidade e totalidade da instituição.
Implica em examinar os pontos de urgência sobre os quais
intervir
Objetivos instituição

nível explícito: motivo da solicitação da intervenção.


nível implícito: não dito, revelado, inconsciente.

De forma geral, o que se apresenta como motivo da solicitação


do trabalho do psicólogo não é o problema da situação e sim
um sintoma dele.
Questão

Considerando que a ética é parte do enquadramento da tarefa,


em que situações não se deve aceitar um trabalho de
intervenção institucional?
Não se aceita um trabalho quando:

• não se esteja de acordo com os seus objetivos ou meios para


alcançá-los;

• não se tem distância operativa e instrumental da mesma, ou seja,


se está demasiado incluído ou participante da organização,
movimento ideológico da instituição;

• se intenta mudar seus objetivos e procedimentos “em ânimo


oculto” , porque a rejeita;

• têm se que abrir mão de seus objetivos para enquadrar-se nos


objetivos institucionais.
Psicologia Institucional

Ao se aceitar um trabalho institucional deve-se explicitar isso, ou


seja, não se deve ocultar do contratante seu propósito de
desenvolver um trabalho que vai atingir o conjunto das relações que
ali se estabelecem.
Questão

Qual o método e a referência teórica utilizado por Bleger para o


trabalho em psicologia institucional?
Método da psicologia institucional: clínico. Psicanálise.

Se caracteriza por uma indagação operativa:


a.Observação de acontecimentos e seus detalhes, com a
continuidade ou sucessão em que se dão;
b.Compreensão dos significado dos acontecimentos e da forma
como interagem;
c.Interpretação, assinalamento ou reflexão dos resultados da
compreensão;
d.Consideração do passo anterior como uma hipótese que, ao ser
emitida, torna-se variável. O registro de seu efeito leva à sua
confirmação, correção, enriquecimento, ratificação.
MÉTODO CLÍNICO

Interação permanente entre observação, compreensão e ação

Práxis

Gradualmente ocorre uma meta-aprendizagem: os implicados na


tarefa aprendem a observar e refletir sobre os acontecimentos e a
encontrar seu sentido, seus efeitos e integrações.

A função do psicólogo não é a de ser educador, contudo, a instituição


vai sendo capacitada a enfrentar situações problemáticas,
refletindo sobre as mesmas ( primeiro passo para a solução)
Questões

O que é enquadramento ?

Qual o conjunto de operações e condições que


conduzem ao seu estabelecimento e que também
constituem parte do mesmo?
Enquadramento: conjunto de ações que regem a ação do
psicólogo.

Regras que configuram a técnica:

1- o psicólogo deve cumprir a atitude clínica: equilíbrio entre


implicação e distanciamento; manejo da dissociação instrumental;

2- esclarecimento de tudo o que corresponde à função


profissional no que diz respeito a tempo de trabalho, honorários,
dependência econômica x independência profissional - papel de
consultor
3- esclarecimento sobre caráter da tarefa profissional no sentido
do não atendimento de exigências que não podem ser cumpridas
ou que estão fora da tarefa;

4- esclarecimento sobre o caráter da tarefa para todos os grupos,


níveis em que se vai agir – alcançando a aceitação explícita do
profissional e da tarefa;

5- esclarecimento sobre o caráter da informação dos resultados,


tanto como os grupos e pessoas a quem será dirigida – nunca fora
do contexto institucional e da tarefa;
6. Segredo profissional e lealdade: o que corresponde a cada
grupo, nível será só tratado com eles. Um relatório só pode ter o
que tenha sido previamente submetido à elaboração do grupo;

7. Limitar os contatos extra-profissionais ao mínimo ou excluí-los


totalmente;

8. Ser abstinente quanto à relação entre os grupos: não tomar


partido;

9. Limitar-se ao assessoramento e à atividade profissional. Não


educar, não administrar;
10. Compartilhar responsabilidades no que diz respeito à sua
tarefa de assessoramento, mas não assumir as alheias;

11. Não formar superestruturas que desgostem ou se


sobreponham com as autoridades formais e informais;

12. Não fomentar a dependência psicológica e sim demovê-la


(intra/intergrupal);
13. Estabelecer controle sobre informação no sentido de que a
mesma não ultrapasse o que realmente se conhece ou deduz
cientificamente. Não à onipotência;
14. Tomar como índice de avaliação da tarefa o grau de
compreensão, de independência e de melhoramento das
relações e não o progresso da instituição em seus objetivos;
15. Forma de operar: fazer compreender e não somente
informar. Graduar a informação, atentar para sua veracidade e
momento em que é dada. Não se trata de informar, e sim, de
fazer compreender os fatores em jogo (insight)

16. Contar com a presença de resistências: investigá-la.

O que indica o grau de patologia é a ausência de conflitos ou a


ausência de recursos para resolvê-los, bem como sua expressão
na forma de dilema e ambigüidade (não há problemas)
Sinais de dificuldades para o trabalho do psicólogo:

Estereotipia: uma das defesas institucionais frente ao conflito,


implica em forma rígida e repetitiva para lidar com as ansiedades
(paralisação)

Dilema: forma defensiva extrema dos conflitos onde opções


irreconciliáveis deixaram de estar em jogo.

Ambigüidade: defesa que busca amortizar e encobridor conflitos.

CONFLITO É DE DIFÍCIL ENFRENTAMENTO POIS NÃO ATINGE A


CONOTAÇÃO DE PROBLEMA - PASSÍVEL DE SOLUÇÃO.
Importante para o trabalho: transformar a ambigüidade em
conflito e conflito em problema.

Para essa mobilização: necessário instituição ter insight de


seus conflitos: “ algo está acontecendo”. Se não houver
demanda ou houver de forma precária o profissional não deve
aceitar o trabalho.

Conflito - forças controvertidas em interjogo geralmente


encobrindo os verdadeiros conflitos ou problemas

Problemas - se apresentam variáveis de uma situação que


requerem ser orientadas e dirigidas em alguma direção.
O psicólogo é agente de mudanças e catalizador ou depositário de
conflitos, por isso , forças operantes na instituição vão agir no
sentido de anular ou amortizar sua função e ação.
A função do mesmo é reconhecer todos estes mecanismos e não agir
em função deles , mas sim agir sobre eles, tratando de modificá-los.

Quanto mais baixo o grau de dinâmica de uma instituição mais o


enquadramento do psicólogo se verá atacado – por isso é
importante que um mínimo de insight e colaboração se torna
indispensável para a aceitação ativa do psicólogo.
17. Considerar a instituição como sadia (com um grau de dinâmica
saudável) quando pode-se constatar que está em condições de
explicitar seus conflitos e construir meios de resolvê-los.
A inexistência de conflitos não é fator de saúde na dinâmica da
mesma.

18. Não aceitar prazos fixos para tarefas e resultados. Aceitar


somente para o resultado diagnóstico. Nem aceitar exigências de
soluções urgentes (evasões de insights)
Inserção do psicólogo na instituição
Contatos e relações: são materiais que se deve registrar e avaliar,
para conhecer fatores negativos, positivos que enfrentará.

A forma como a instituição lida com o psicólogo é índice do grau de


insight de seus problemas, defesas e resistências, esforços e
direções em que se tentou a solução ou encobrimento até o
momento.
Nos primeiros contatos, deve-se buscar:

- o estabelecimento do enquadramento da tarefa;

- o conhecimento das ansiedades frente à mudança;

- o grau de aceitação ou rejeição do psicólogo;

- as dissociações entre grupos que aceitam e rejeitam,


-as fantasias projetadas no profissional;

-o grau de realidade e adequação das expectativas.


Psicologia das instituições: estudo dos fatores psicológicos que se
acham em jogo na instituição.

Toda a vida dos seres humanos ocorre em instituições:


encontram apoio, suporte, identidade, elementos de inserção
social, pertença.
Toda instituição é instrumento de organização, regulação e
controle social, mas também de regulação e equilíbrio da
personalidade.

Seu funcionamento se acha regulado pelas leis objetivas de sua


realidade social e pelo o que seres humanos nela projetam.
Questão

Em que medida a instituição pode ser fonte de


empobrecimento ou enriquecimento humano?
Sobre relações e vínculos : compreensão de Bleger sobre as
relações instituídas

Duas hipóteses sobre a origem dos processos grupais (Simbiose e


Ambigüidade):
1ª hipótese : o indivíduo não nasce no isolamento para vir
desenvolver uma sociabilidade. A princípio o que existe como
ponto de partida para o desenvolvimento é uma indiferenciação
entre eu e o outro
posição gliscrocárica: anterior às posições esquizo-paranóide e
depressiva, postuladas por M Klein.
Desenvolver: é um processo de transformar esse vínculo
chamado de simbiótico ou sincrético numa relação cada vez
mais diferenciada, que permita a construção da identidade e
do sentido de realidade enquanto sujeitos, distinguindo-os do
mundo e dos demais.
2ª hipótese: o vínculo simbiótico (sincrético) se dá por vias
corporais, pré-verbais.

Quando, mais tarde, a palavra já for o modo prevalente de


comunicação, os remanescentes desse núcleo de indiscriminação
primitiva (núcleo aglutinado) ainda permanecerão – sendo
eventualmente verificados a partir dos comportamentos dos
indivíduos.
Sincretismo: forma de comunicação na expressão pré-verbal ou
como linguagem factual. Sem valor simbólico.

Núcleo aglutinado: sua permanência vai determinar sempre em


algum nível graus de sincretismo/simbiose e, portanto, de
ambigüidade na relação social, grupal.

Identidade: dois níveis: sincrético e organizado


(de relação, implicando sempre 2 sujeitos)
O grupo: é resultante dessa possibilidade de:
- se vincular (pela sociabilidade sincrética)
- se relacionar (pela sociabilidade organizada, interativa).
Bleger supõe uma identidade grupal que pode ser percebida nos
mesmos dois níveis da dinâmica com que se compreende a
identidade do sujeito:
de um lado, a relação é a condição para um trabalho e comum ,
pautado por normas e regras (aspectos institucionalizados do
grupo)
e de um outro – o vínculo expressa-se na anulação de limites e
diferenças entre os participantes e as tarefas (identidade grupal
sincrética)
O grupo e a organização são a personalidade de seus integrantes
Conforme o grau de relação entre os dois níveis da estruturação
da personalidade e do grupo tem-se diferentes configurações
grupais:

1. compõe-se de indivíduos predominantemente simbióticos ou


dependentes. Grupo primário: forte ambigüidade de papéis e
status dentro da instituição - déficit na diferenciação e
identidade de seus membros.
Molde é o grupo familiar: grupo de pertença forte, mas de tarefa
débil. Comprometido frequentemente por situações
conflituosas fortemente emocionais. Imaturidade. A direção da
tarefa: transformá-los em secundário
2. compõe-se de indivíduos neuróticos ou normais, que alcançaram
uma certa individuação e que tenderão a desenvolver a
sociabilidade por interação, apresentando-se como grupos
produtivos e motivados: Grupos formalizados ou estereotipados.

Segundo Bleger, nesses grupos as coisas “acontecem para não


acontecer nada”. O nível sincrético esta sob controle e apartado da
produção consciente. Criam-se estereotipias muito rígidas e o grupo
acaba se burocratizando.

Tarefa: elaborar e ultrapassar sua rigidez (estrutura de grupo 1º


fortemente reprimida)
3. compõe-se de indivíduos para os quais o grupo parece
desempenhar um papel subsidiário e pouco importante, na
medida em que se esquivam dos vínculos simbióticos (tendem a
ele de forma não manifesta).

Grupos secundários sem estereotipias


Tarefa do psicólogo institucional:

atuar sobre a totalidade da instituição tendo em vista as


relações entre os grupos da instituição,

visar o enriquecimento e o desenvolvimento da


personalidade, permitindo uma relação e uma produção que
inclua a subjetividade (integrar os níveis de sociabilidade
sincrética sem com isso impedir a individuação e a interação)

Deve fazê-lo a partir do enquadre que define uma postura de


independência técnica e que permite a dissociação
instrumental.
BLEGER, J. Psico-Higiene e Psicologia Institucional. Porto
Alegre:Artes Médicas,1984.

YOUNG, G. Métodos científicos de investigação social.


México,1953.(Cap.16)

GUIRADO,M. Psicologia Institucional. São Paulo: EPU,1978.


( Coleção Temas Básicos de Psicologia)
Análise Institucional
George Lapassade

Uma das maneiras de pensar e fazer (estratégias) um trabalho


institucional
Reunindo recursos teóricos que provêm da Sociologia, da Psicologia
Social e Pedagogia formula-se um discurso sobre as instituições .
ANÁLISE INSTITUCIONAL : considerada como um movimento
(intervenções em instituições/organizações caminharam
conjuntamente com as teorizações a respeito).

Origem na França na década de 60 , com Lapassade e René Lourau.


No Brasil, seu pensamento tornou-se mais conhecido na década de
70. Este originou-se da Psicossociologia (estudo e trabalho com
pequenos grupos) e da Psicologia dos grupos. Abordagem
predominantemente sociológica e política ao trabalho
institucional
Suas bases concretas encontram-se nas experiências da Pedagogia
Institucional , que criticando uma pedagogia autoritária, procurou
constituir uma outra que redimensionasse o espaço, tempo e a
relação educador – educando;

Encontram-se ainda essas bases nas práticas da Psicoterapia


Institucional , que aponta para uma ação sobre as instâncias
institucionais que impedem a cura a que se propõem.

A maioria dessas práticas tinha em comum a crítica às instituições


forma de análise política da realidade social e institucional
Análise institucional nomeia, de um lado, uma concepção do que
seja a instituição e uma teoria para sua análise e, de outro lado,
uma forma de intervenção que visa a transformá-la, provocando-
a, revelando sua estrutura, subvertendo-a.
Os três níveis da realidade social

 1º nível: GRUPOS
 2º nível: ORGANIZAÇÕES
 3º nível: INSTITUIÇÕES

Toda relação social se faz sempre nos grupos e estes, por sua
vez, podem vir a configurar organizações. São, ambos,
sobredeterminados pelas instituições.
Grupo: base da vida cotidiana
família, classe (escola), escritório

Já tem a marca da instituição nos horários, nos ritmos de


operação, nas normas, nos sistemas de controle, estatutos e
papéis. Seu objetivo é manter a ordem, organizar o aprendizado e
a produção.

Assim, submetidos que estamos nos grupos nos quais


vivemos, convivemos cotidianamente com instituído no
contato face a face, na fala direta a outro elemento do mesmo
grupo.
O segundo nível da realidade ou sistema social é o da organização
com seus regimentos e regulamentos. Existem normas jurídicas
fazendo a ligação entre a sociedade civil e o Estado.
Exemplos: estabelecimento de ensino ou administrativo, fábrica.

Nesse nível fala-se do equipamento, das condições materiais, do


espaço físico, do estabelecimento e do organograma, que distribui
pessoas e grupos em contato direto nos diferentes papéis e regiões
de poder.
Nesse nível está situada a burocracia em sua dimensão mais
concreta.
O terceiro nível é o Estado: conjunto de leis que regem a conduta
social, criva a organização e o grupo.
É a instituição propriamente dita porque legitima toda e qualquer
outra instituição.

Lapassade, ao definir dessa maneira os 3 níveis da realidade social,


redefine o conceito de instituição que no senso comum é identificada
com a organização, o estabelecimento.
Instituição: conjunto do que está instituído e, enquanto jurisdição e
política, pauta toda e qualquer relação.

É algo como “o inconsciente de Freud (...) não localizável e (...)


imediatamente problemático” ( El encuentro institucional, p.203).
Está presente nas ações aparentemente menos significativas e isso
não nos é dado à consciência.
INSTITUÍDO: tudo que está estabelecido, tem caráter de fixidez e
cristalização das formas de relação.
INSTITUINTE: significa o movimento de criação, a capacidade de
inventar novas formas de relação.

Lapassade ressalta que o instituinte é também um movimento da


instituição – garantindo a possibilidade de mudança.
Da relação entre as duas forças nasce a necessidade de luta e de
ação dos grupos sociais.
Estado: instituição primeira, legitima toda e qualquer outra instituição.
Enquanto instrumento privilegiado das classes dominantes é a Lei, e por
ela, a repressão.
Lapassade afirma que o que o Estado reprime permanentemente é o
sentido daquilo que se faz, o sentido da ação. Não se trata de repressão
física, policial necessariamente.
Ideologia: mecanismo coletivo de repressão, determinante do
desconhecimento social. “Não será uma simples ignorância das
estruturas e do funcionamento da sociedade” e sim um
“desconhecimento do sentido estrutural de seus atos, do que determina
suas opções , suas preferências, rejeições, opiniões e aspirações, pela
ação do Estado, através das mediações institucionais que penetram em
toda a sociedade”. ( Grupos, ... p.22/23)
 Estado reprime a revolução.
 Seu discurso sobre a revolução: como libertação da palavra social
dos grupos, propõe a construção de um novo sistema institucional.
 O Estado seria substituído por uma “sociedade polimorfa”,
revolucionária – que não se permitiria a cristalização em instituições
dominantes e nem a centralização do domínio.
 instituições da revolução: clubes, associações: tudo o que permite
a expressão e o exercício da ação coletiva.

Tal proposta prevê que os grupos se regulem, tenham suas normas,


mas, não voltadas para as exigências da instituições dominantes
centralizadas no Estado e, sim , para garantir sempre o movimento
de continuar instituindo e possibilitando a criação
Burocracia: para além do trabalho mecanizado , padronizado
(memorando, esperas...) é situada como uma questão política:
relação de poder que atravessa toda a vida social, desde as relações
de produção até o lazer, passando pela pesquisa científica, partidos
políticos e pela educação.

Existe onde quer que se separe a decisão da execução e o pensar do


fazer. “ é a organização da separação”

Seu traço definidor: uma forma de organização do poder, em que há


uma alienação da condição de decisão sobre o fazer cotidiano, em
favor de grupos ou indivíduos executores.

A relação burocratizada é uma relação entre desiguais quanto ao


poder para definir o que deve ser feito , bem assim o como deve ser
feito
 excursões programadas: burocratizam o lazer por planejar o prazer
do turista fora e antes dele

 partidos políticos: quando se tornam tão organizados que os eleitos


se excedem na autoridade sobre os eleitores, esquece-se objetivos
iniciais e tudo passa a ser “pelo partido”

 Educação: traço burocrático aparece na resistência a que os alunos


assumam o processo como deles.
Características fundamentais da burocracia
• Não é uma doença ou mau funcionamento de uma gestão. O
conflito não é uma desordem na auto-regularão do corpo social
(modelo biológico do social)
• É uma forma determinada de estruturação das relações de poder
• Implica na alienação das pessoas nos papéis – sempre previstos e
distribuídos de maneira impessoal, ganhando sentido apenas em
função da organização para a qual foram definidos
• As decisões são sempre tomadas por instâncias anônimas e as
comunicações se dão , via de regra, de cima para baixo
• Desenvolve-se o conformismo, preserva-se a falta de iniciativa e
ratifica-se a separação nos dois níveis da organização burocrática.
• Autonomia da organização: indivíduos e grupos heterônomos;
• Impõe resistência à mudança;
• Fonte do comportamento desviante e dos grupos
fragmentários ou informais - transforma grupos que não
pertençam a esta em subgrupos que acabam por dedicar-se a
objetivos particulares;
• Produz um movimento dos que se servem da organização para
configurar uma “carreira” – profissional procura subir fazendo
concessões aqui e ali para obter uma boa posição.

Viver a ordem burocrática é viver a dimensão oculta e,


portanto, determinante do que se dá a nível dos grupos e das
organizações.
O destino do mundo seria o da burocratização?

Lapassade:Seu pensamento aponta para a definição de uma


burocracia tradicional mas acena para a possibilidade de uma
neo-burocracia: mais flexível, tendente à mudança.
Considera irrealizável o sonho da burocracia segundo o qual é
possível a existência de formas sociais acabadas que se recusem
à transformação e que se preservem em seu ser
Análise institucional

Proposta com vista à suspensão das instituições dominantes


provocando as relações de poder rígidas e hierarquizadas, ou
seja , ao rompimento do ciclo burocrático.

Você também pode gostar