Laura Monte Serrat Barbosa – Pedagoga, especialista Ivonilce de Fatima Rigolin Gallo – Pedagoga, especia
em Psicologia Escolar e da Aprendizagem, mestre em lista em Psicopedagogia e em Letras, Curitiba, PR,
Educação, formada em Clínica Psicopedagógica e em Brasil.
Teoria e Técnica de Grupos Operativos, Curitiba, PR, Larissa Maria Volcov Alves - Pedagoga, especialista em
Brasil. Psicopedagogia, Curitiba, PR, Brasil.
Carolina Koschnitzke Horst – Pedagoga, especialista Roberta Aparecida Uceda – Graduada em Ciências
em Psicopedagogia e em Psicomotricidade, Curitiba, Biológicas, especialista em Psicopedagogia e em Edu
PR, Brasil. cação, mestre em Gestão Educacional, Curitiba, PR,
Cristiane Corina Antunes – Pedagoga, especialista Brasil.
em Metodologia de Ensino Fundamental e Superior, Tauani Vieira – Estudante de Psicologia, Curitiba, PR,
em Organização do Trabalho Pedagógico, em Neuro Brasil.
psicologia, em Psicopedagogia, em Educação Especial
Correspondência
e em Altas Habilidades/Superdotação, Curitiba, PR,
Laura Monte Serrat Barbosa
Brasil.
Rua Mauá 838/1002 – Curitiba, PR, Brasil
Dyane da Silva – Graduada em Letras, especialista
CEP 80030-200 – E-mail: lauramserrat@hotmail.com
em Educação Especial, em Psicopedagogia, pós-gra
duanda em Neuropsicopedagogia, Curitiba, PR, Brasil.
Eugênia Chaves de Souza Pelogia – Pedagoga, es
pecialista em Psicopedagogia e em Tecnologias da
Educação, pós-graduanda em Psicanálise, Curitiba,
PR, Brasil.
96
Sistema simbólico focando o desenho
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Barbosa LMS et al.
P3 – Prancha que contém letras e pseudole relativa às nove pranchas e aos três objetos
tras agrupadas, como se formassem quatro (prato, pedras sem forma e pedras com formas):
palavras e uma frase.
P4 – Prancha que contém letras que a) Desenho Ação
formam seis palavras, umas abaixo das A criança desse nível de conceituação não
outras, com embasamento silábico-alfabé- percebe que o desenho pode variar ao longo
tico, sendo possível reconhecê-las, embora do crescimento das pessoas, que os desenhos
faltem alguns grafemas. de crianças mais velhas e de adultos são mais
P5 – Prancha que contém o desenho de elaborados.
um sol. A pessoa desse nível considera desenho a ação
P6 – Prancha que contém o desenho de que é realizada sobre uma superfície bidimen-
uma figura humana, com linhas tipo “pa- sional que apresente imagens pré-simbólicas
lito”. ou simbólicas. Normalmente, dá significados
P6a – Prancha que contém o desenho de às imagens pré-simbólicas que aparecem nessa
uma figura humana, no qual os traços superfície. No entanto, com o material tridimen-
representam o volume do corpo, colorido sional, só considera como desenho aquele que
como uma estampa. apresenta imagem simbólica. As pedras sem for-
P7 – Prancha que contém uma reprodução ma, por exemplo, não são consideradas desenho,
da obra Dom Quixote, de Pablo Picasso, mas as pedras que formam uma figura humana,
em preto e branco; esta mesma é utilizada
um sol, ou qualquer outra imagem, são consi-
no prato (descrito na sequência).
deradas desenho.
P8 – Prancha que contém um desenho
abstrato informal, com linhas pretas, pre- Para Iavelberg², o sujeito possui um conceito
enchido com várias cores em seus espaços. de desenho – ao qual denominou Desenho Ação
P9 – Prancha que contém desenho resul- – e responde “sim” à pergunta “Isso é desenho?”
tante de uma xilogravura, em sépia. em relação a quase todas as pranchas apresenta-
P10 – Prancha que contém o desenho de das, com exceção daquela que apresenta sinais
uma figura humana realizada por uma parecidos com letras e números e do cartão com
criança de 10 anos. as pedras soltas, sem formas.
P11 – Prancha que contém um desenho de Ela tende a imitar por meio de ação o que ob-
natureza morta, feito com lápis grafite, em serva nas pessoas que desenha.
tons de cinza. A criança não espera que a imagem tenha
Prato – Estampa de uma reprodução da que se parecer ao objeto para ser um desenho.
obra Dom Quixote, de Pablo Picasso (P7), Refere-se ao que existe e ao que não existe,
sobre um prato tamanho sobremesa. pautada por uma mistura entre fantasia e reali-
Pedrinhas com forma – Pedras soltas sobre dade. Diz, por exemplo, que Papai Noel existe e
um cartão com a intenção de representar pode ser desenhado, enquanto que dinossauros
uma figura humana. não existem e não podem ser desenhados. Isso
Pedrinhas sem forma – Pedras soltas sobre tem a ver com a sua experiência e a vivência.
um cartão sem a intenção de representação.
Em cada item, anotar sempre as respostas e b) Desenho Imaginação
observações do aprendiz. A pessoa que conceitua o desenho, nesse nível,
acredita que se desenha o que se deseja dese-
ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO ENTRE nhar, apesar de poder ainda se prender à ação
VISTADO em suas respostas.
Momentos conceituais são constatados na Mostra a ideia de representação e de uma re
entrevista, nas questões iniciais, na questão lação do desenho com a arte.
98
Sistema simbólico focando o desenho
Acha que tanto as coisas que existem como as no mundo interno, sem guardar semelhanças aos
que não existem podem ser desenhadas. objetos naturais.
Não mistura o universo imaginário com o dos Apresenta a ideia do desenho como projeto.
objetos naturais. Faz interagir com mais flexibilidade o seu
Não reconhece o rabisco como desenho, mas repertório com a produção já existente.
entende que essa é a forma de desenhar de Apropria-se das convenções e dos modelos
crianças bem pequenas. existentes, utiliza-os de forma mais sistemática,
Fica em dúvida diante de pseudoletras, para mas os transforma ao deixar interagir com o seu
afirmar ou não que são desenhos, mas considera repertório.
a escrita como diferente do desenho. Toma consciência da presença de um estilo
O desenho abstrato também lhe causa dúvida pessoal.
de que é ou não desenho. Projeta sentidos imaginados sobre as formas.
Distingue os desenhos, rabiscos, produzidos Acha que coisas que não existem podem ser
por uma criança bem pequena de desenhos desenhadas e dizem respeito a personagens
abstratos produzidos por adultos. imaginários.
Percebe a evolução do desenho de acordo Não compreende a abstração como algo que
com a idade. pode ser intenção de quem desenha.
Já pode comparar o seu desenho com o do Busca ajuda para fazer perspectiva e usar luz
outro e aprender com o outro. e sombra nos desenhos, no ambiente cultural a
Não considera as pedras soltas que formam que pertence.
imagem ou as que não formam imagem como de- Apresenta um empobrecimento no plano ex-
senhos; identifica-as como sendo uma montagem. pressivo e criativo, devido à preocupação com a
apropriação das convenções existentes.
Iavelberg² identifica esse nível de conceitua-
ção do desenho como Desenho Imaginação pelo Aí se encontra a justificativa pela qual Iavel-
fato de a criança já diferenciar rabisco de abs- berg² denomina este nível de conceituação do
trato, acreditando que o desenho sai da cabeça e desenho como Desenho Apropriação.
que tudo é possível de ser desenhado. No entanto,
não considera desenho a ação de desenhar com d) Desenho Proposição
material tridimensional. A criança que se encontra nesse nível de con-
ceituação já possui a consciência de que o dese-
c) Desenho Apropriação nho é uma forma de expressão individualizada
O sujeito que se encontra nesse nível situa e que traz a marca e o estilo de quem desenha.
o desenho como arte, percebe as convenções e Ao responder à entrevista, justifica falando de
classifica os tipos de desenhos de acordo com os desejo, sentimento e estado de espírito de quem
diferentes ambientes nos quais se apresentam. faz o desenho.
Reconhece como desenho o que é produzido, Não atribui significado às formas abstratas.
independentemente se por pessoas que conhece Apresenta a possibilidade da leitura de sen-
ou não. tido apenas formal; fala do pensamento artístico
Reconhece a abstração como desenho, mas relacionado àquela abstração como a proposição
projeta sentido às formas; ainda não reconhece de um modelo, sem colocar pareceres e senti-
a abstração como um desenho que fala por si mentos pessoais.
mesmo. Classifica as coisas que existem como sendo
Acredita que pode ser desenhado o que está na as coisas concretas, e as que não existem como
imaginação de quem desenha; conecta o dese- aquelas que são criadas pela imaginação, in-
nho com o desejo de desenhar o que está inscrito cluindo a abstração.
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Barbosa LMS et al.
Reconhece o rabisco como forma de desenho Piaget & Inhelder5 dizem que o desenho é uma
e diferencia da abstração do desenho adulto, das formas da função semiótica (simbólica) que
por existir a intenção de produzir algo abstrato. aparece entre o jogo simbólico (do faz de conta)
É capaz de interrelacionar e separar desenho e a imagem mental. Em seus estudos, Piaget &
de escrita, considerando a possibilidade de es- Inhelder5 comentam que Luquet, já em 1913,
crita também como uma forma de desenho. explicitou estágios de desenvolvimento e inter-
Aparece o modelo externo estando a serviço pretações do desenho, ainda dando direção aos
do aperfeiçoamento de seu trabalho individual. estudos da evolução cognitiva.
Já tem plena consciência de seu estilo. Tais estágios continuam sendo fundamentos
Pode classificar os cartões com pedras soltas, dos estudos atuais sobre o desenho e a evolução
com forma e sem forma, como escultura ou mon do sujeito que aprende e podem ser assim esque
tagem; no entanto, as pedras dispersas são consi- matizados:
deradas como uma imagem abstrata, mostrando – Realismo fortuito: trata-se do desenho por
a assimilação do conceito de abstração. meio de garatuja, que vai ganhando sig-
Este nível de conceituação foi chamado de nificado durante o desenrolar do desenho
Desenho de Proposição pelo fato do entrevistado (até 3 anos mais ou menos);
considerar os modelos externos como possibili- – Realismo gorado, ou fase de incapacidade
dades de enriquecimento da própria produção, sintética: é quando aparecem todos os ele-
oportunizando a proposição de novas criações. mentos a serem representados, mas sem
estarem articulados ou formando um todo;
II CONSIGNAS PARA A REALIZAÇÃO DE por exemplo, o cabelo fora da cabeça, os
DESENHOS braços descolados do tronco etc. (de 3/4 a
Após a aplicação do protocolo apresentado, 5/6 anos);
realiza-se um segundo momento da proposta – Realismo intelectual: o desenho aparece
de investigação com a aplicação das seguintes com os elementos que o desenhista sabe
consignas. que o objeto possui, mesmo que ele não os
1) Desenhe uma pessoa em um barco. Conte- veja em determinada perspectiva. Assim,
-me sobre o seu desenho. aparecem as transparências, ou seja, o
2) Desenhe uma casa. Conte-me sobre o seu coração é desenhado por cima da roupa,
desenho. assim como o umbigo, ou ainda os móveis
que estão dentro da casa são desenhados
ANÁLISE DA PRODUÇÃO DESENHADA sobre a parede, e as raízes de uma planta
DO APRENDIZ são traçadas embaixo da terra (6/7 anos);
a) Desenvolvimento cognitivo – Realismo visual: o desenho mostra apenas
O desenho, segundo Piaget & Inhelder 5, o que é possível ser visto e também assume
também pode ser objeto indicativo do desen- uma proporção métrica; o desenho é orga-
volvimento cognitivo. Para eles, a inteligência nizado de forma a coordenar um plano de
passa a ser de sensório-motora a representativa, conjunto em relação à perspectiva (8/9 anos).
e cada objeto pode ser evocado em imagem e re- A criança inicia a ação de desenhar guiada
presentado por uma função simbólica, observada pela imitação diferida, ou seja, imita o ato de dese-
na forma que a criança assume para evocá-los: a nhar na ausência de modelo; faz as suas garatujas
linguagem, a imitação diferida, a imagem mental, por volta de 2 anos.
o desenho e o jogo simbólico. Por volta dos 4/5 anos, ela usa o desenho como
O foco desse estudo é o desenho e, por isso, forma de representação de algo que não está pre-
discute-se como ele pode ser tido como um meio sente; desenha o que lembra, chamada a imagem
de expressão do desenvolvimento cognitivo em cópia; seu desenho parte da sua vivência, da sua
que a criança se encontra. realidade particular.
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Sistema simbólico focando o desenho
Já aos 5/7 anos, aparecem no desenho mais utilizada pela publicidade, pelas pessoas
generalizações e configurações representati- e pelos distintos grupos sociais. O mangá
vas, que denotam um pensamento imagístico. é um exemplo de desenho utilizado neste
A imagem substitui o objeto; o desenho passa a momento histórico, no qual o tipo de cabe-
ser uma representação estática do objeto. lo, de olhos, de nariz e boca são traçados
Aos 7/8 anos, a criança antecipa no desenho seguindo um forte padrão da cultura con-
como seria visto o objeto por um observador. temporânea japonesa. Pode-se encontrar
Para Piaget & Inhelder5 (p. 64), “a partir dos no desenho das crianças alguns tipos de
9/10 anos, o sujeito escolhe, com acerto, entre casas e embarcações ligadas à tradição
vários, o desenho correto que representa três ou aos novos conceitos de representação
montanhas ou três edifícios de tal ou tal ponto de desenhada desses elementos.
vista”, podendo fazer previsões relativas à linha
– Código subjetivo: é reconhecido a partir
horizontal e vertical, levando em conta referên-
das experiências que o desenhista passou
cias externas a ela.
na vida e caracteriza-se por um estilo
Já a partir dos 11 anos até a idade adulta, ela
pessoal, por meio do qual o sujeito dá
desenha articulando semelhanças, diferenças,
sentido às formas, às cores e ao material
proporções, medidas, dimensões, inclinações,
com o qual trabalha. É possível conhecer
iluminação e outros elementos que indicam a
complexidade cognitiva daquele que desenha. as projeções inconscientes presentes no
desenho, principalmente se for possível
ter, além do desenho, também o relato
b) Código utilizado
daquele que o criou.
Em um desenho, podem coexistir vários tipos
de códigos que ajudam a dar sentido, ou seja,
levam da significação objetiva às subjetivas. Para c) Construção da imagem
Pain & Jarreau³, os códigos são aspectos semió- A imagem é construída a partir da percepção
ticos da representação plástica. Elas descrevem de quem a desenha, da ação do sujeito sobre o
três tipos de códigos: morfológico, simbólico e objeto a ser desenhado, da forma como ele re-
subjetivo, todos possíveis de serem encontrados solve representá-lo, das relações com um arranjo
na produção desenhada das crianças. imaginário e da relação estreita de dependência
– Código morfológico: está relacionado às entre as imagens e as palavras.
questões topológicas do desenho, ou seja, Nos desenhos das crianças, a partir da ima-
a como a representação de um objeto ou
gem desenhada, é possível inferir a sua relação
cena distribui traços e elementos para que
com aquele que a desenhou, no que diz respeito
aquela representação passe a ter sentido
à percepção, ação, representação, imaginação e
ao espectador sobre o que foi desenhado.
linguagem.
Diante de um desenho em forma de ra-
bisco, por exemplo, têm-se poucos dados
a respeito desse código, enquanto que um Imagem e percepção
desenho na fase do realismo gorado, por A imagem indica a posição real a partir da
exemplo, pode mostrar indícios do código qual o sujeito percebe o objeto desenhado?
morfológico quando o desenhista desenha A imagem indica uma escolha subjetiva em
o chapéu acima da cabeça, mas sem tocá- relação ao objeto desenhado?
-la. Isso mostra que tem ideia da topologia, A imagem indica uma sensação contempo-
mas ainda não consegue representá-la. rânea ou passada?
– Código simbólico: está relacionado ao mo- Que referências indicam o que nessa imagem
mento histórico, à forma de representação é fundamental para o sujeito que a desenhou?
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Barbosa LMS et al.
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Sistema simbólico focando o desenho
3) Que coisas existem e podem aparecer nos P10 – É. Parece uma pessoa com roupa co-
desenhos? Por quê? lorida.
– Casas, barcos e as casinhas felizes; vela do P11 – É um quadro porque têm pintores
barco. Porque você deixou. que pintam assim.
4) Que coisas não existem e podem aparecer Prato – É desenho. Você já me mostrou,
nos desenhos? Por quê? mas cortou ao redor.
– Zumbi, planta do jogo. Porque eu posso Pedras com forma – É desenho. Desenho
inventar e desenhar. de pedras que parece pessoa.
5) Rabisco é desenho? Pedras sem forma – Não. São pedras. Ah!
– É. Porque tem umas crianças que fazem É um desenho de um sol com pedras.
um rabisco desenhando uma coisa. Tipo
meus colegas que desenham um jogo; Análise da entrevista
quer dizer, não é um jogo, é um desenho Em relação ao conceito que possui do dese-
que elas assistem, que primeiro eles fazem nho, as respostas de OSC evidenciam uma tran-
a pessoa no desenho e depois uma bolota sição entre o conceito de desenho imaginação e
gigante e depois um rabisco. o conceito de desenho apropriação. Identifica o
6) Você observa o desenho de outras pessoas rabisco como desenho; compreende o desenho
e escolhe elementos para enriquecer o como a representação de algo que foi imagina-
seu? Dê um exemplo. do. Apresenta também algumas características
– Sim. Não me lembro. do nível seguinte: faz relações do desenho com
E de onde tirou as imagens que desenhou? a arte e acredita que pode ser desenhado o que
– Já vi em livros. está na imaginação de quem desenha.
Usou no seu desenho?
– Sim.
7) Olhando as pranchas e outros elementos**,
me diga: Isso é desenho? Por quê?
P1 – É uma arte, porque tem alguns pin-
tores que pintam deste jeito.
P2 – É uma arte mais bonita.
P3 – Não. É uma criança que escreveu.
P4 – Não, você escreveu isso de novo.
P5 – É o desenho de um sol.
P6 – É o desenho de uma pessoa.
P6a – Não. Isso é um quadro. Têm pintores
que pintam coisas que parecem realidade.
P7 – É porque tem uma pessoa arrancando
uma cenoura e montando um cavalo, ou Relato do desenho
em outra coisa, e tem o sol. – É o papai em um barco, que a gente vai para
P8 – É uma arte porque têm pintores que uma sorveteria que papai vai levar a gente em
pintam assim. um barco. E tem uma palafita.
P9 – É um quadro que parece a realidade, O que é?
com cores diferentes: marrom, preto e – É um tipo de casa que fica nos rios e no mar.
cinza.
Análise do desenho
** As pranchas e outros elementos, construídos pelo Grupo de
Estudos (P) e entregues a OSC e HSM (outro caso), seguiram
Considerando o desenvolvimento cognitivo, o
a sugestão da pesquisa original de Iavelberg². desenho de OSC representa o que imaginou por
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Barbosa LMS et al.
meio do realismo intelectual, ou seja, ainda se Outro entrevistado foi HSM, com 8 anos e
utiliza da transparência em sua representação, 6 meses. Analisa-se apenas a entrevista, sem
mas denota estar caminhando para o realismo o desenho solicitado no início. Na sequência,
visual, pois o homem representado está em pé analisam-se os desenhos decorrentes das duas
no barco e a parte do corpo que está dentro dele consignas que lhe foram apresentadas depois.
não foi representada. No Protocolo, HSM respondeu às questões
Quanto ao código utilizado por OSC, fica da seguinte forma:
bem clara a morfologia da cena, simbolizando as 1) O que é desenho?
pessoas, com a localização das partes do corpo – Quando você faz uma coisa mentalmente,
representadas de acordo com a realidade; os não copia, ou às vezes olha e faz com a mão
traços para desenhar o barco e a casa e outros livre, não copia.
elementos do desenho ficam em tal posição 2) O que pode aparecer nos desenhos? Por
que o espectador os identifica sem dificuldade; quê?
representa um espaço no mar ou rio, no qual se – Brincadeiras, filmes, desenhos, séries, coi-
navega e também se constroem casas palafitas, sas que não existem, abstrato. Assim não
denotando a presença de um código simbólico é nada, tipo só linhas. Às vezes, você faz
que está relacionado aos saberes que resultam com formas porque quer mostrar alguma
da convivência com esse tipo de paisagem; outro coisa.
código utilizado por OSC foi o subjetivo, pois 3) Que coisas existem e podem aparecer nos
denota no desenho seu estilo pessoal e, pelo
desenhos? Por quê?
relato, é possível identificar algumas projeções
– Carrinhos, motos, casas, flores, jardim,
inconscientes em relação à figura do pai.
ruas, garagem que às vezes eu fazia quando
Quanto ao estudo da imagem, o desenho de
era pequeno. Você desenha, pode imaginar
OSC evidencia o uso da imagem imaginação,
e recriar do seu jeito.
pois é resultado de um arranjo imaginário, a
4) Que coisas não existem e podem aparecer
partir das vivências no cotidiano. No que tange
nos desenhos? Por quê?
às pautas gráficas para análise dos vínculos afe-
– Séries, qualquer série que tenha. Exem-
tivos com as situações de aprendizagem, pode-se
plo: de zumbi, dragão, trolls. Porque você
considerar que OSC ainda necessita de limites
externos. Apresenta um vínculo dissociado com desenhou, gosta e tenta recriar o máximo
as situações de aprendizagem, se for conside- de vezes. Às vezes, coloco dois jogos jun-
rado que ele, a mãe e a irmã encontram-se em tos ou jogo e série.
uma casa palafita e o pai encontra-se no barco. 5) Rabisco é desenho?
Porém, seu relato fala da possibilidade de arti- – Também é!
cular os dois elementos, quando diz que o pai vai 6) Você observa o desenho de outras pessoas
levá-los a uma sorveteria. Coloca-se, assim como e escolhe elementos para enriquecer o
sua mãe e irmã, na porção espacial da folha que seu? Dê um exemplo.
pode indicar progresso em suas aprendizagens e – Às vezes, bem poucas vezes. Não! É tão
coloca a figura do pai, que representa o conhe- poucas vezes que não lembro. Às vezes,
cimento e a lei, na porção espacial da folha que olho meu amigo do lado esquerdo, só pra
pode indicar equilíbrio. Assim, é possível dizer ver como está o desenho.
que, embora ele esteja em uma casa, no mar, sem 7) Olhando as pranchas, me diga: Isso é
condições de ir à terra firme, pode contar com desenho? Por quê?
o pai, que representa a figura capaz de veicular P1 – Sim. (move a cabeça). Dá pra ver al-
os saberes, movimentando-se nos espaços e guns personagens aqui: um cavalo que está
possibilitando a sua aprendizagem. andando com bengala e mala de viajar.
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Sistema simbólico focando o desenho
P2 – Sim. Dá pra ver um passarinho, por- desenho. Suas respostas evidenciam o conceito
que quando você desenha um passarinho de desenho ação, pois dá significado às imagens
não dá pra desenhar bem, daí você faz pré-simbólicas e simbólicas. O conceito de de-
como consegue. Coração... menino. senho imaginação aparece quando reconhece
P3 – Sim. Vi duas pessoas bem magrinhas, o abstrato como diferente de rabisco, e somente
uma risada, um retrovisor, um cara assim! para essa prancha não dá um significado. Pode-se
(imita a expressão). dizer que seu conceito se encontra em transição
P4 – Sim. Já vi um cajado, mais uma pes- entre desenho ação e desenho imaginação.
soa bem magra, só a parte de baixo dos
pés... três pés, prancha para surfe, porta.
Consignas apresentadas a HSM
Você não acha que parecem letras?
a) Desenhe uma pessoa em um barco. Fale
– Também. (lê como pode)
sobre este desenho.
P5 – Sim. O sol às vezes a gente faz como
desenho.
P6 – É um homem palito, que a gente tanto
faz.
P6a – É uma pessoa. Parece uma pessoa
fazendo assim. Quando acerta uma coisa
difícil – Superman.
P7 – Sim. Parece alguém que está com ca-
valo, escudo, lança, galinha, casa, cabeça
de boi, sol. Só isso.
P8 – É abstrato. Porque não tem nenhuma
forma certa, um desenho certo. Não tem
padrão, é um monte de linha que forma
um desenho. Relato do desenho
P9 – Sim. Porque tem forma padrão, tem casa, – O barco está no mar.
uma mulher, capacete de cavaleiro, lugar – Tem um pirata muito bravo, reclamando
onde vende coisas, mercado. Essa mulher com tudo, se tropeça já fica bravo, odeia ficar
está como se fosse um palco e uma escada. feliz, gosta de ficar bravo, usa tampão no olho,
P10 – Sim. Porque é como se fosse um ho- tem um gancho, como pirata.
mem segurando fone ou celular, qualquer
– Tem... não lembro o nome. (mostra com as
coisa.
mãos como um volante)
P11 – Sim. Em preto e branco, mas dá pra
– Tem convés (inicia uma parte do desenho
ver garrafa, chaleira.
que não havia, com transparência), porta aqui
Prato – Sim. Esse eu já vi. É igual aquele
(mostra), pra quando entrar enchente eles ficam
outro.
Pedras com forma – Sim, porque parece seguros, e comida e tudo mais.
uma pessoa.
Pedras sem forma – Sim. Parece um nariz Análise do desenho
e uma boca se você vira de lado, também Seu desenho apresenta o perfil do objeto,
um minipedaço de pizza. algo esperado para garotos da sua idade. Porém,
ainda aparecem elementos do realismo intelec-
Observação tual, pois desenha utilizando transparência; por
Pelas respostas de HSM, embora não se tenha exemplo, desenhou o que há dentro do barco
nem o desenho, nem o relato, arrisca-se a concluir (camas, lâmpada, porta, fechadura). Transita
em que nível se encontra o seu conceito sobre o entre o realismo intelectual e o realismo visual.
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Barbosa LMS et al.
CONCLUSÃO
Assim foi apresentado o estudo realizado pelo
Grupo de Estudos Refletir, promovido pela Sínte
se – Centro de Estudos, Aperfeiçoamento e De
senvolvimento da Aprendizagem, em Curitiba.
Além de seus conhecimentos anteriores, o gru-
po descobriu que o desenho oferece ao psicope-
dagogo muitas possibilidades para compreender
o funcionamento de um sujeito para aprender.
É um elemento importante para o conheci-
mento do sistema simbólico, um dos sistemas
que se desenvolve ao longo da vida humana, o
qual dialoga com outros três sistemas envolvidos
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Sistema simbólico focando o desenho
no seu processo de aprender: sistema afetivo, aprendiz a respeito das proporções, da posição
sistema motor e sistema operativo. No diálogo dos objetos representados, da perspectiva, dentre
do sistema simbólico com o sistema afetivo, é outras possibilidades.
possível entender questões vinculares no pro- A partir desse estudo, o Grupo de Estudos
cesso de aprendizagem; com o sistema motor, Refletir construiu um conjunto resumido de pran-
vê-se nascer a brincadeira, o jogo do faz de con- chas desenhadas, com o objetivo de conhecer o
ta, uma evolução na representação desenhada; conceito de desenho que as crianças possuem.
com o sistema operativo, produzem-se várias Este conjunto foi criado com imagens que podem
formas de linguagem. Uma delas é o desenho ser reproduzidas e que darão origem a novas
que conta histórias em sequências lógicas, que pesquisas e ao aperfeiçoamento dessa forma de
anuncia capacidades de previsão, observação e avaliar a aprendizagem por meio do desenho, no
imaginação no espaço, que mostra o domínio do espaço da clínica.
SUMMARY
Study on the symbolic system with a focus on drawing –
the construction of an evaluative look
107
Barbosa LMS et al.
6. Oliveira VB, Bossa NA, orgs. Avaliação psi 8. Visca J. Técnicas proyectivas psico pe
da
copedagógica da criança de zero a seis anos. gógicas y las pautas gráficas para su in
Petrópolis: Vozes; 1996. p. 41-56. ter
pretacíon. Buenos Aires: AG Servicios
7. Visca J. Pautas graficas para la interpreta Gráficos; 1995. p. 11-20.
ción de las técnicas proyectivas psicope 9. Di Leo JH. A interpretação do desenho in
dagógicas. Buenos Aires: ET Servicios Grá fantil. Porto Alegre: Artes Médicas; 1991. p.
ficos; 1998. p. 15-8. 11-59.
108