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Universidade Pedagógica
Nampula
2019
ii
Universidade Pedagógica
Nampula
2019
iii
Índice
Declaração ........................................................................................................................ 6
Dedicatória........................................................................................................................ 7
Agradecimentos ................................................................................................................ 8
Resumo ............................................................................................................................ ix
Introdução ...................................................................................................................... 10
Capítulo I: Procedimentos
metodológicos…………………………………………………………………………….11
1.5.1 Objectivo
Geral…………………………………………………………………………...13
1.7. 2 Quanto a
Abordagem……………………………………………………………………..16
1.8 Métodos de
pesquisa………………………………………………………………………...16
1.8.1 Análise de
conteúdo……………………………………………………………………….16
iv
1.8. 2 Técnicas e instrumentos de recolha de dados ........ Error! Bookmark not defined.
1.8.3 Consultas
Bibliográfica…………………………………………………………………...17
1.8.4
Observação………………………………………………………………………………..17
1.8.5
Entrevista………………………………………………………………………………….17
1.8.6
Questionário………………………………………………………………………………17
1.8.8
Amostra…………………………………………………………………………………...18
2.2
Adolescência………………………………………………………………………………..19
2.3 Sexualidade: discussões no ambiente escolar ............ Error! Bookmark not defined.
2.4 Identidade e confiança: um início de conversa .......... Error! Bookmark not defined.
2.5 Consequências e riscos de uma gravidez precoce ..... Error! Bookmark not defined.
2.5.1 Formas de encarar positivamente uma gravidez precoceError! Bookmark not defined.
2.5.2 Estratégias de prevenção da gravidez precoce ....... Error! Bookmark not defined.
2.5.3 Causas da gravidez precoce na adolescência .......... Error! Bookmark not defined.
Capítulo III: Apresentação, análise e discussão dos dadosError! Bookmark not defined.
Recomendações…………………………………………………………………………………
39
Bibliografia……………………………………………………………………………………..
40
Apêndices………………………………………………………………………………………4
2
6
Declaração
Declaro por minha honra que esta Monografia Cientifica é resultado da investigação pessoal e
das orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as obras consultadas
constam no texto e na respectiva bibliografia.
Declaro ainda que, este trabalho nunca foi apresentado em qualquer outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.
______________________________________
Dedicatória
8
Agradecimentos
Em primeiro lugar agradeço a Deus pela vida que me concedeu e para enfrentar com sucesso
as dificuldades que o mundo me impõe.
O meu especial agradecimento vai para meu supervisor MA. Gil Pedro Licaneque pelo apoio
na orientação incansável e pela motivação que foi dando ao longo da realização deste
trabalho.
Os meus agradecimentos são extensivos também para todas aquelas pessoas que durante os
meus estudos deram seu apoio moral e material e partilharam comigo alegrias e tristezas.
Resumo
O trabalho tem como tema: o impacto da gravidez precoce em adolescentes nas escolas
públicas, caso da Escola Primária Completa de Namuatho “A” (2018-2018). Porém, a
frequência em adolescentes grávidas, com sérios problemas de saúde tanto para a Mãe como
para o bebe é considerada como um factor agravante que resulta tanto para o fraco
aproveitamento pedagógico quanto da mortalidade materna e fetal, levando a questão a
seguinte reflexão: quais são as estratégias que devem ser usadas para minimizar a gravidez
precoce em adolescentes nas escolas públicas com objectivo de analisar as causas que levam a
gestação precoce em adolescentes nas escolas públicas. Aplicou-se a pesquisa qualitativa-
explicativa, sendo as técnicas de recolha de dados a consulta bibliográfica, a observação, a
entrevista e o questionário, através de um roteiro de perguntas abertas e fechadas dirigidas a
50 participantes dentre adolescentes, professores e pais/encarregados de educação. Os
resultados mostram que o índice da gravidez precoce em adolescentes cresce
assustadoramente, tendo suas implicações no fraco aproveitamento pedagógico e na
mortalidade materna e fectal, aliada a falta de comunicação (diálogo) em casa, más amizades,
pobreza. Os retractos permitiram mostrar ainda que as gestantes na sua maioria não
continuaram com seus estudos devido a vergonha, a saúde e a falta de informação. Também
constata-se uma preocupação para os inquiridos ao facto do aumento do risco associado a
gravidez precoce. As considerações finais apontam a sexualidade ser uma questão de difícil
de ser tratada, é como se fosse um atestado de que as adolescentes possuem uma vida
sexualmente activa. No tocante a recomendação a responsabilidade é de todos em oferecer
apoio e condições para que diminua o índice da gravidez precoce, através de meios de
comunicação, sistema de ensino, campanhas de prevenção do governo e do interesse e
vontade de cada um.
Palavras-chave: Adolescentes, Alunas, Gravidez precoce, Processo de Ensino e
Aprendizagem.
10
Introdução
O Plano de Acção e Redução da Pobreza Absoluta PARPA (2000-2004), por sua vez prevê
uma atenção especial a rapariga em assegurar o acesso a escola e a manutenção desta dentro
do sistema educacional através da sensibilização dos pais e encarregados de educação e a
comunidade educativa sobre os benefícios da escola.
O presente trabalho tem como tema: Causas da Desistência da Rapariga nas Escolas do
Ensino Básico, Caso da Escola Primária Completa do 1º e 2º Grau de Nampuro, Distrito de
Malema, 2016-2018. Para a realização deste trabalho e para compreender o fenómeno da
desistência naquela instituição optou-se pelo estudo do tipo exploratório, com base numa
abordagem do tipo qualitativa por considerarmos mais apropriada para alcançar os objectivos
pretendidos.
Neste capítulo são apresentadas as metodologias usadas para a realização desta pesquisa,
desde a delimitação do local e tema de estudo, a problematização da qual consta a descrição e
apresentação do problema em estudo, a justificativa sob forma de motivação em relação ao
estudo; as hipóteses, os objectivos que conduziram o estudo; o universo da população que
envolveu o estudo e a respectiva amostra. No mesmo capítulo são descritas as técnicas e
instrumentos que permitiram o processo de recolha de dados e os procedimentos de recolha e
técnicas de análise e interpretação dos dados obtidos das entrevistas realizadas.
O estudo sobre as Causas da Desistência da Rapariga nas Escolas do Ensino Básico foi
realizado na Escola Primária Completa do 1º e 2º grau de Nampuro, na vila Municipal de
Malema, distrito de Malema, província de Nampula no período compreendido entre 2016 a
2018. A escolha desta escola deve-se pela natureza do curso que o autor deste estudo
frequenta. Como futuro especialista em Ensino Básico com Habilitações em AGE e professor
em exercício na escola em estudo o qual observou que o número de alunas que entram em
cada ano escolar tende a crescer. Entretanto, o mesmo não se regista em relação ao número de
alunas que concluem o ensino primário e comprometem assim os objectivos educacionais.
no sistema escolar a alta taxa de acesso da 1ª classe torna-se muito menos significante. As
fracas taxas de sobrevivência ao longo das classes subsequentes no EP1 é baixa. E a situação
é ainda alarmante no EP2 com maior índice de desistência das raparigas. Esta situação
também caracteriza o ambiente escolar na EPC de Nampuro pois o número de alunos
matriculados em cada ano é maior entretanto, nem todos alunos chegam a concluir o ano
lectivo escolar e os que chegam na sua maioria são rapazes.
Na escola onde o estudo foi realizado verificou-se que ano de 2018, cerca de 5.7% das
raparigas matriculadas abandonaram a escola, sendo a 2ª e 7ª classe com maior taxas de
desistência na EPC-Nampuro, tal como mostra os quadro a seguir:
1.3. Justificativa
A oferta de uma educação de qualidade para todos constitui estratégia para o desenvolvimento
do país e por conseguinte a redução da pobreza. A retenção dos alunos no Sistema de
Educação até a conclusão do ensino primário obrigatório e a progressão para o nível seguinte
é o principal desafio para as autoridades de educação em Moçambique.
É nesta perspectiva que o autor escolheu estudar a problemática de desistência de alunas na
EPC de Nampuro dada a necessidade de promoção da igualdade e equidade de oportunidade
no acesso a educação. Como futuro especialista em ensino básico com habilitações em
Administração e Gestão Educacional neste estudo pretendeu-se trazer medidas concretas que
visam criar um ambiente escolar sensível ao género, através da identificação e definição das
modalidades de organização do processo educativo, sensibilização da sociedade para a
redução da carga de trabalho doméstico da rapariga providenciando o acesso a educação às
raparigas de igual modo aos rapazes.
Espera-se com este estudo contribuir no contexto social, para alertar os pais e encarregados de
educação e sociedade no geral sobre as verdadeiras causas da desistência escolar da rapariga
no ensino primário.
A importância da escolarização da mulher justifica-se pelo facto dela ser uma das bases para o
desenvolvimento e crescimento da família. Para tal facto, é imperioso que tenha um certo grau
de escolaridade para que não ponha em risco a saúde e a vida dos seus filhos e outros
parentes. Em casos de doenças para interpretar as indicações médicas, a gestão do lar, a
educação dos filhos mediante a transmissão de conhecimentos claros e coesos acerca da vida
passa necessariamente pela sua escolarização. O nível de instrução da mãe quase sempre
reflecte-se nos filhos e finalmente com o crescimento e desenvolvimento do país pois os
filhos são o garante da continuidade de uma sociedade.
1.4. Objectivos:
Os objectivos indicam o que se pretende conhecer, medir ou provar no processo da pesquisa,
ou seja, as metas que se desejam alcançar, (Ivala, 2007:119). Neste estudo, os objectivos
foram desenhados em dois grupos: geral e específico.
1.5. Hipóteses
Segundo Gil (2004:31), “hipótese é uma preposição estável que pode vir a ser a solução do
problema, para que a hipótese seja aceitável, teve ser clara específica, parcimoniosa, ter
referências empíricas, relacionada a uma teoria e com as técnicas disponíveis”. Para o
presente estudo foram tracadas as seguintes hipóteses:
Fraco conhecimento das comunidades sobre a importância da escola leva a desistência
da rapariga na EPC de Nampuro.
1.6. Metodologias
A metodologia deve ajudar a explicar não apenas os produtos da investigação científica, mas
principalmente seu próprio processo, pois suas exigências não são de submissão estrita a
procedimentos rígidos, mas antes da fecundidade na produção dos resultados (Bruyne,
1991:29). Assim, neste ponto do trabalho são descritas as tipologias da pesquisa, os
instrumentos usados no processo de recolha de dados, o universo e amostra da pesquisa e as
técnicas de análise de dados obtidos no trabalho de campo.
Pesquisa aplicada: objectiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos solução de
problemas específicos, envolve verdades e interesses locais.
Quanto aos objectivos, a pesquisa foi descritiva, pois para este caso, a sua finalidade foi de
dar uma visão geral e aproximada das causas que concorrem para a desistência da rapariga no
ensino básico. Tal como afirma Gil (1999), a pesquisa descritiva busca uma visão ampla de
informações para que de outro aspecto do problema possam ser alcançados mediante outros
procedimentos. Com este tipo de pesquisa foi possível descrever as causas que levam as
alunas a deixar de ir a escola sem no entanto terminar pelo menos o ensino básico.
Para a efectivação da pesquisa foi usada a técnica de entrevista. Ruiz (2002), refere que a
entrevista “consiste num diálogo com objectivo de colher de determinada fonte, de
determinada pessoa ou informante dados relevantes para a pesquisa em andamento”.
16
Com esta técnica pretendeu-se obter fielmente as opiniões dos interlocutores em relação a
temática, através perguntas pré-elaboradas para exprimir os seus sentimentos que se julgam
serem importantes no esclarecimento ou não das hipóteses levantadas. Com base em
perguntas semi-fechadas foi possível dar maior liberdade na expressão e a evitar reservas por
parte dos entrevistados.
Neste sentido Bogdan e Biklen, (1994) afirmam que para existir confiança entre o
investigador e o objecto de estudo, deve-se “negociar a autorização para efectuar um estudo.
O investigador deve, ainda, ser claro e explícito com todos os intervenientes relativamente aos
termos do acordo e respeitá-los até à conclusão”. Assim, o encontro com os entrevistados foi
feito em dias diferentes e envolveu membros de direcção, professores, pais ou encarregados
de educação e alunas da EPC de Nampuro, no período do intervalo e no caso dos pais nas
reuniões da escola. Antes da entrevista era-lhes pedido a permissão e apresentados a
credencial e de forma consentida forneciam a informação pretendida para evitar que se
sentissem intimidados e forçados a responder as questões por coacção ocultando assim
algumas informações pertinentes para a pesquisa. Os dados obtidos a partir da entrevista
possibilitou actualização de certos indicadores que permitiram a verificação das hipóteses
previamente elaboradas face ao problema colocado.
Para análise dos dados foi utilizada a técnica de a análise de conteúdo. Esta técnica refere
Bardin (2010) é como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. Neste
contexto foi feita a descrição das entrevistas e agrupadas em categorias de acordo com a
aproximação das respostas dadas respeitando-se a originalidade e finalmente fez-se a
inferência e as respectivas conclusões.
condições de estudo, nesse caso para o nosso estudo apenas seleccionamos professores, pais
ou encarregados de educação e alunos que fazem parte da Escola Primária Completa de
Nampuro.
Quadro 3: Definição da amostra e as técnicas de recolha de dados
Nome da Amostra Quantidade Técnica de recolha de
dados
Direcção Escola 2
Professores 5
Alunos 10 Entrevista
Pais ou encarregados de educação 5
2.1. Educação
Cotrim e Parisi (1985:21), “consideram educação como um processo de adquirir experiências
que actuam sobre a mente e o seu físico. Essas experiências influenciam no comportamento
do individuo em termos de ideias ou acções, enquanto outros poderão ser rejeitados e não
assimilados.”
Nesta perspectiva visa a educação visa essencialmente integrar a pessoa no meio social onde
ela vive, convive, trabalha e se diverte; por meio da educação a pessoa socializa-se, adquire
conhecimentos que poderão ser úteis no presente e no futuro.
Assim a educação da rapariga torna-se necessária na medida em que possibilita a sua inserção
nas actividades e tomada de decisão na sociedade a que estiver inserida contribuindo deste
modo para o desenvolvimento da mesma.
Marchesi e Perez (2004) defendem que o termo de desistência escolar é ainda mais discutível
por enquanto encerra algumas ideias: em primeiro lugar, a ideia de que o aluno “fracassado”
não progrediu praticamente nada em âmbito dos seus conhecimentos escolares, nem a nível
pessoal e social, o que não corresponde em absoluto a realidade. Em segundo lugar, porque o
termo “fracasso” oferece uma imagem negativa do aluno ao mesmo tempo que centra neste,
toda a responsabilidade do insucesso escolar, esquecendo a responsabilidade de outros
agentes e instituições como condições sociais, a família, o sistema educativo ou a própria
escola”. Depois de discutido a terminologia da desistência escolar, os autores acima encaram
o presente termo de forma unânime ao considera-lo como sendo um acto de deixar ou
abandonar os estudos ou a escola antes do término do período/ciclo, sem atingir os objectivos
pretendidos.
Esta teoria contribui para o processo de ensino e aprendizagem a medida que explica a
importância do ciclo motivacional, pois quando este não existe no ambiente escolar, causa
20
desde comportamento ilógico até passividade e não colaboração por parte do aluno. A teoria
de Maslow por enfatizar que o aluno tem a capacidade de aprender tendo como base as suas
necessidades pois vê no aluno potencialidades que o levam a aprender sem no entanto estar
sujeito a conteúdos e condições de aprendizagem que não resolvem seus problemas e os da
sua comunidade. Neste sentido, o fenómeno de desistência pode ter explicação pois a rapariga
não encontra motivação para aprender optando por abandonar a escola.
O aluno precisa de ter as necessidades fisiológicas satisfeitas plenamente para que consiga
entender as aulas, a necessidade de estima é relevante pois o sucesso e o insucesso do aluno
depende muito de como ele se sente na sala de aula e na escola. Através das necessidades
sociais, o aluno sente-se integrado num certo grupo oque motiva ainda mais a sua vontade de
ir a escola.
Por sua vez, Jimerson et all (2000), apontam que a qualidade do meio familiar e atenção ou
cuidados nas fases iniciais (12-24 meses de vida) diminuem a probabilidade de evasão. Com
isso o actor afirma que devemos considerar a desistência como um processo de
desenvolvimento, em que eventos ocorridos no passado têm efeitos significativos na decisão
de evasão presente.
Os problemas financeiros das famílias ainda são um factor preponderante para as saídas dos
jovens do período diurno da escola.
Os alunos dos turnos nocturnos também das camadas trabalhadoras chegam as escolas
exaustos da maratona diária de trabalho e desmotivado pela baixa qualidade de ensino acabam
desistindo.
Dupont e Ossandom (1987:121), identificaram o perfil de um potencial desistente, apontando
para o seguinte:
Algumas crianças não manifestam qualquer curiosidade, as tarefas escolares não lhes
interessam, não possuem uma disciplina favorita e muitas vezes são desprovidas de
expectativas futuras.
Santos (2009:11), defende “que a desistência escolar nem sempre está ligada a falta de
vontade, motivação ou preguiça dos alunos. Além dos factores escolares, sócio económicos e
culturais o autor aponta algumas disfunções cognitivas, sensor ou motora, como contribuintes
para que o aluno não alcance os objectivos esperados”.
Por sua vez, Montegner (1996), afirma que não é possível culpar sistematicamente a criança e
os seus possíveis défices cognitivos pela dificuldade de aprendizagem, acrescentado que o
obstáculo em aprender pode ser resultado de construção cognitivas inacabadas ou mal
consolidadas, desde o nascimento, ou mesmo antes deste, e de acordo com Guerreiro (1998),
leva a deteorização progressiva das atitudes com o avanço da idade.
Aprender supõe esforço, e afirma que aprendizagem tem como base a actividade mental do
aprendiz, deve ser o mais consciente possível e inclusive deve ser feito um esforço para
relacionar a nova informação com a já existente atribuindo-lhes um significado valido. Para o
23
autor, o dinamismo do processo, com avanços e recuos constantes provoca no sujeito uma
reestruturação cognitiva que leva a criação de modelos mentais ou remodelações dos
existentes.
Benavante e Correia (1980), citados por Sil (2004:38), acrescentam ainda que uma das
explicações para a problemática das desistências escolares é a própria escola, e os
mecanismos que operam nela, o seu funcionamento e organização, onde a necessidade de
diversidade e diferenciação pedagógica é sublinhada pela teoria sócio institucional que
evidencia o carácter da escola na produção da desistência escolar do aluno.
Segundo Vaz (1994), a escola produz:
A violência em seu quotidiano; uma violência subtil e invisível, ou violência
simbólica, que se esconde também sob o nome de abandono, pode ser
inconscientemente promovida pelos próprios educadores, através de
regulamentos opressivos, currículos e sistemas de avaliação inadequados a
realidade onde esta inserida a escola, medidas e posturas que estigmatizam e
descriminam e afastam os alunos.
Lopez e Menezes (2002), afirmam que as reprovações sucessivas têm peso significativo na
decisão de continuar ou não os estudos, pois geralmente a repetência é seguida pelo abandono
escolar.
24
Segundo Costa e Menezes (1995), sejam quais forem as razoes, a repetência e a reprovação
constituem o primeiro passo em direcção a evasão escolar.
Numa análise do sistema educacional americano Bridgeland et al (2006), alertam para as
elevadas taxas de abandono escolar nos Estados Unidos, e os motivos para isso através de
uma pesquisa com os próprios estudantes, e obtiveram as seguintes respostas:
Bourdieu (1998), acrescenta que a escola não considera a contribuição que os alunos trazem
de casa, ou seja, o seu capital cultural.
Nerci (1989), advoga que,
“…os professores que se dispõe a orientar a aprendizagem de outrem para
que alcance objectivos que sejam úteis à sua pessoa ou a sociedade ou
mesmo a ambos…” enquanto Pilletti (2003), diz que os melhores
professores estão profissionalmente em alerta, não vivem suas vidas
confinados ou isolados do meio social, tentam fazer da comunidade e
particularmente da escola o melhor ambiente para os jovens.
Da mesma maneira Libanêo (1994), afirma que o processo de ensino e aprendizagem e uma
actividade de interacção activa entre professores e alunos, organizada sob a direcção do
professor, com a finalidade de prover as condições e modos pelos quais os alunos assimilam
activamente conhecimentos habilidades, atitudes e convicções.
Do ponto de vista pedagógico, os autores dizem o mesmo que Piletti (2003) que defende que
“… o professor deve ser capaz de criar um ambiente melhor para os
jovens…”. Isto significa que o professor deve ser capaz de criar um
ambiente agradável e acolhedor dentro da sala de aula, capaz de fazer com
que o aluno se adapte facilmente, e se sinta enquadrado dentro da sala de
aula, permitido assim ao aluno desenvolver as suas capacidades e
habilidades do saber. Criando assim um ambiente próspero que vai
transmitir segurança ao aluno e vai permitir-lhe conhecer o quão importante
é a escola para a sua vida no presente e que benefícios trarão no futuro em
especial a rapariga, mostrando que ao invés de desistir para optar pelo
casamento ou trabalhos domésticos lucrativos continue optando pela escola.
Folquiè (1971), defende que a rapariga inadaptada é sempre frustrada como produto da
própria inadaptação, que pode ser devido a várias causas (pedagógicas erróneas, insatisfação
das suas reais necessidades, vivencias negativas, desconhecimento das contingências da
inadaptação, etc.) onde a soma de tantas frustrações origina a medida de sentimentos de
inferioridade.
Calda (2000), diz que a desistência escolar é um problema complexo e se relaciona com
outros importantes temas pedagógicos como forma de avaliação, reprovação escolar, currículo
e disciplinas escolares.
O autor complementa dizendo que para combater a desistência escolar é preciso atacar as duas
frentes: uma de acção imediata que busca resgatar o aluno evadido, e a outra de reestruturação
interna que implica na discussão na e avaliação das diversas questões acima enumeradas.
E se a criança não tem carácter forte ou tolerância com a frustração, acaba desistindo as aulas,
e esta reacção trará efeitos até sobre a sua vida adulta, pois as suas reacções serão
26
Portanto, as respostas obtidas das entrevistas dirigidas aos membros de direcção, professores,
pais ou encarregados de educação e alunos da EPC de Nampuro foram agrupadas de acordo
com a aproximação das mesmas no conteúdo que apresentam. Assim, os dados obtidos são
apresentados em três grupos: dados dos membros de direcção e professores; dados dos alunos
e finalmente dados dos pais ou encarregados de educação.
Para saber as causas das desistências da rapariga naquela escola foi colocada a terceira
questão “O que leva as raparigas a desistir de estudar nesta escola?” A questão foi dirigida
igualmente a 7 entrevistados. Destes cerca de 4 informantes apontam a distância entre a escola
e a casa da rapariga e também as raparigas casam cedo e 2 entrevistados disseram que as
raparigas vivem longe da escola. Ainda sobre a mesma questão 1 entrevistado disse que as
28
alunas desistem porque ajudam aos pais nos trabalhos de casa. As respostas dos entrevistados
realçam que as alunas desistem por factores externos sendo as distâncias – escola residência
destas e os casamentos prematuros as que mais casos provocam.
Na questão “o que a escola tem feito que ajuda as alunas a continuarem a estudar” pretendia-
se saber se a escola tem estratégias para superar o fenómeno de desistência das raparigas na
escola. Desta questão cerca de dois entrevistados disseram “Sensibilizamos sobre a
importância de estudar. Afectamos 2 professoras nas classes mais altas como o caso da 7ª
classe para motivar as alunas.” Os restantes 5 entrevistados disseram também que
“Sensibilizamos sobre a importância da escola mostrando exemplos de mulheres que são
chefes graças a estudos.” As respostas dos entrevistados convergem nas estratégias usadas ao
apontarem a sensibilização sobre a importância da escola.
A entrevista com as alunas teve 7 questões. Na questão inicial “que classe frequentas?”
pretendia-se saber se a classe que a aluna frequenta faz parte da pesquisa. Das respostas
obtidas com esta questão cerca de 4 alunas responderam que estão a frequentar a 2ª classe e as
restantes 6 disseram que frequentam a 7ª classe.
Com o propósito de saber a idade de cada menina que constituiu alvo de nossa entrevista fez-
se a questão “quantos anos tens?” Desta questão cerca de 2 alunas disseram que tinham 7
anos, 2 alunas com 9 anos e outra 1 disse também que tinham 12 anos de idade e estão na 7ª
classe. Ainda sobre a mesma questão 3 alunas disseram que frequentavam a 7ª classe e tinham
14 anos de idade e 1tinha 15 anos na 7ª classe. As respostas das entrevistadas mostram que as
idades que as meninas têm são elevadas em relação à classe que frequentam com exceção de 2
alunas que estão na 2ª classe com 7anos de idade e outas 1 na 7ª classe com 12 anos. Este
facto pode influenciar na desistência das raparigas pois sentem-se adultas e aptas para formar
uma família, isto é, podem casar-se e ter o seu lar.
Na terceira questão “com quem vives” procurava-se saber grau de parentesco dos seus
educadores. Nesta questão cerca de 3 alunas disseram que os pais estão divorciados e vivem
com a mãe; outras 4 alunas disseram que vivem com os pais e as restantes 3 alunas disseram
que viviam com a mana. As respostas das entrevistadas mostram que a maior parte das alunas
vivem com parentes e não pais o que pode estar na origem das desistências pois as pessoas
29
com quem vivem não sendo empregadas elas podem deixa-las em casa e não incentiva-las a
estudar por falta de recursos financeiros para custear os estudos.
Com o propósito de saber se as pessoas com quem as meninas vivem são empregadas ou
trabalhadoras fez-se a questão “as pessoas com quem vives trabalham?” Desta questão cerca
de 7 alunas afirmaram que os seus encarregados “não trabalham só tem machambas e também
ajudam nas machambas dos outros para ganhar dinheiro”; 2 alunas falaram que “a mana vai a
machamba e o cunhado vende no mercado” e finalmente 1 aluna disse que “papa vende numa
barraca enquanto a mama vai a machamba.” As entrevistas são claras nas suas respostas pois
é visível a população que vive na região em que se situa a escola vivem basicamente de
produção agrícola. A produção obtida das machambas é repartida e vendida uma parte para
obter dinheiro e sustentar a família em bens como roupa, material escolar entre outros.
Questionados sobre as razões que lhes levam a ir a escola cerca de 6 meninas responderam
“para saber escrever meu nome, ler e também para ser professor ou enfermeiro quando eu
crescer.” Outras 4 alunas responderam “porque as pessoas que vivem comigo me
matricularam.” Tendo em conta as respostas das entrevistadas pode-se perceber que ainda não
existe o significado sobre o papel da escola na vida das alunas. Elas não vão a escola porque
gostam de estudar mas sim porque os seus encarregados de educação as matricularam e por
obediência eles dirigem-se à escola diariamente para saber ler e escrever.
Para saber o nível de assiduidade das alunas fez-se a questão “todos os dias vais a escola?”
Com esta questão foi possível saber que cerca de 6 alunas não são assíduas pois disseram
“Não. As vezes fico em casa com meus irmãos quando os meus pais vão a machamba” e as
outras 4 também responderam “Não. Quando chove o rio que atravesso fica com muita água.”
Destas respostas pode-se perceber que as dificuldades que as meninas enfrentam contribuem
para que elas possam perder o interesse de estudar alia do ao medo de as águas do rio levarem
consigo e não poderem voltar a viver. Os trabalhos domésticos a que são sujeitas também
podem influenciar as alunas a deixar de estudar porque devem cuidar dos irmãos enquanto os
encarregados de educação vão a machamba produzir algo para poderem se alimentar.
Na sétima questão “que tem a dizer àquelas meninas que não estudam?” As respostas obtidas
desta questão mostram que todas as alunas entrevistas sabem que estudar é bom porque
aprendem a ler e escrever ao afirmarem “aconselho que elas estudem. Na escola eu aprendo a
ler e escrever. Também sei fazer contas. É bom estudar para ter emprego.”
30
A entrevista com pais e encarregados de educação dos alunos da EPC de Nampuro teve 6
questões. Na primeira questão “quantos meninos e meninas têm a estudar nesta escola”
pretendia-se saber se o pai tem menina ou menino a estudar naquela escola. Desta questão
cerca de 2 pais disseram que tem apenas 1 menino; 2 pais também disseram que tinham 2
meninas e por último 1 pai disse que tinha 3 filhos dos quais 2 meninos e uma menina. Das
respostas obtidas dos entrevistados pode-se perceber que existe muitas meninas a estudar
naquela escola embora algumas delas não terminem pelo menos o ensino primário.
Na segunda questão “que classes frequentam seus filhos nesta escola” tinha-se como intenção
saber a classe que cada filho ou filha frequenta naquela escola. Das respostas obtidas revelam
que cerca de 3 pais disseram que o filho está na 1ª classe, 3 a filha está na 7ª classe. Ainda
sobre a mesma questão dois pais responderam que tem 1 menina que frequenta a 2ª classe e 1
pai também disse que o menino está na 2ª classe.
Para saber se os filhos são assíduos fez-se a terceira questão “o seu filho/a vai a escola todos
os dias?” A questão foi dirigida a 5 pais e encarregados de educação e cerca de 4 responderam
“Não. A escola fica um pouco longe de casa e tem um rio que quando chove não é possível
atravessar. Também existem dias que vou a machamba e as crenças pequenas ficam com os
mais velhos.” Na mesma questão 1 entrevistado disse “Sim meu filho nunca falta a escola.
Fico perto da escola”. Estas respostas revelam que as desistências das alunas resultam da
distância entre escola-casa. No tempo de chuva a via de acesso a escola também dificulta aos
alunos facto que leva a faltar as aulas.
Na quarta questão “o que faz para sustentar os estudos dos seus filhos?” procurava-se saber a
fonte de rendimento das famílias, se trabalham ou não. Nesta questão todos entrevistados
disseram “Tenho machamba. O que tenho produzido vendo uma parte e também ajudo nas
machambas dos outros para ter dinheiro. ” Estas respostas revelam que os entrevistados são
desempregados sendo a única fonte de rendimento a machamba. O dinheiro obtido pelos
trabalhos feitos nas machambas e da venda dos excedentes não é suficiente para atender as
necessidades da casa e por conseguinte encontram dificuldades em fazer acompanhamento
escolar por causa de pobreza.
Com a quinta questão “porque levou os seus filhos a escola?” pretendia-se saber dos
entrevistados a importância de levar os filhos a escola. Cerca de 3 entrevistados responderam
31
que “o líder comunitário na reunião disse que o governo quer todas as crianças na escola para
saber ler e escrever. Não se paga matricula. Mas na nossa actualidade as crianças estudas e
não têm emprego.” E os restantes 2 disseram que “levei a escola para saberem ler, escrever
para quando crescerem serem professor, enfermeiro ou chefe.” As respostas dos entrevistados
mostram que os pais e encarregados de educação levam seus filhos a escola pelo facto de o
governo ter apelado a todos a levar seus filhos escola. A maior parte dos entrevistados ainda
não tem noção sobre a importância de seus filhos estudar porque na escola a criança não
produz como na machamba que em pouco tempo ela traz milho, mandioca, mapira e outros
produtos que são vendidos e outra parte serve para alimentação familiar.
Para saber as estratégias que os pais recorrem quando os filhos desistem da escola fez-se a
última questão “O que tem feito quando seu filho/a deixa de ir a escola?” Nesta questão 2
entrevistados disseram “eu bato e mando voltar a escola” e outros 2 afirmaram “eu quase lhe
bato, zango com ele muito e lhe mando de volta a escola” e o restante 1 disse “não faço nada
porque ele não quer. Mas eu não gosto de criança que não estuda”. As respostas dos
entrevistados mostram que apesar de muitas crianças desistirem de estudar os pais não ficam a
favor pois têm procurado incentiva-los a estudar de modo que no futuro tenham uma vida
melhor.
A validação das hipóteses foi baseada na análise das respostas obtidas das entrevistas
realizadas com os membros de direcção, professores, alunas e pais ou encarregados de
educação, respectivamente.
Na primeira hipótese no qual se faz menção que “Fraco conhecimento das comunidades sobre a
importância da escola leva a desistência da rapariga na EPC de Nampuro” pode-se afirmar que foi
validada pelas respostas dadas na questão “porque levou os seus filhos a escola?” dirigida aos pais
e encarregados de educação. Os dados mostram que a maior parte dos pais levam as crianças a escola
porque os líderes comunitários os disseram que o governo quer todas as crianças a estudar e escola não
se paga para se matricular. A mesma questão foi colocada às alunas as quais responderam que vão a
escola “porque as pessoas que vivem com elas as matricularam”. As alunas não vao a esxcola
porque gostam mas sim por obediência às pessoas adultas que as colocaram a estudar facto
que contribui para as desistências no seio escolar.
alunas não vão todos os dias a escola por causa da longa distância entre a escola-casa onde
elas moram e a existência de um rio que no tempo de chuva impede que elas estudem por
muitos dias e isto cria algum desinteresse.
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Conclusão
Sugestões
Referências bibliográficas
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Caldas, E. L. (2000). Combatendo a evasão escolar. São Paulo : instituto Polis Dica nᵒ 172
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34
Cotrim, G. & Parisi, M.(1985). Fundamentos da educação. São Paulo. 10ª edição. Saraiva
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aprendizagem. (1990). Jomtien 40
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Fukui, L. (1982). Educação e meio rural: breve contribuição visando a proposição de termos
para a pesquisa sócio-educacional em aberto. Brasília, V.I
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Guerreiro, S. (1998). Insucesso e abandono escolar. Porto: centro social e paroquial nossa
senhora da vitória.
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Lakatos, E. M & Marconi. (1992). Metodologia de trabalho cientifico.4ª edição. São Paulo:
atlas editor
Marchesi, A. (2006). O que será de nós, os maus alunos. Porto Alegre. Artned
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Apêndice
quendo eu crescer.
A4,8,9 Porque as pessoas que
vivem comigo me
matricularam.
5. Todos os dias vais a A1,2,4,6,8,10 Não. As vezes fico em casa
escola? com meus irmãos quando os
meus pais vão a machamba.
A3,5,7,9 Não. Quando chove o rio
que atravesso fica com
muita água.
6. Que tem a dizer àquelas A1…10 Que elas estudem. Na escola
meninas que não eu aprendo a ler e escrever.
estudam? Também sei fazer contas. É
bom estudar para ter
emprego.