Você está na página 1de 9

Imunologia

Caio Gomes - 2019.2

Receptores clonais dos linfócitos


→ São receptores presentes nos linfócitos responsáveis pelo reconhecimento de antígenos,
e que conferem especificidade aos linfócitos

Anticorpos ou Imunoglobulinas - Linfócitos B


→​ São os receptores clonais encontrados em linfócitos B, mas também podem ser
encontrados no corpo na forma solúvel no plasma sanguíneo.
Os anticorpos, que também são conhecidos como Imunoglobulinas, podem ser encontrados
na forma solúvel ou na forma de membrana. Na forma de membrana, seria o receptor da
célula B, e também quando o linfócito B ativado/maduro quando entra em contato com o
antígeno vai proliferar e dará origem à sua célula efetora, que é o plasmócito que é capaz
de secretar anticorpos. Ou seja, o anticorpo pode funcionar como receptor ou ser secretado
pelos plasmócitos.
Os anticorpos podem reconhecer uma diversidade de moléculas, tais como proteínas,
polissacarídeos, lípideos, ácidos nucleicos, moléculas químicas e etc, o que torna ele bem
diversificado no reconhecimento de moléculas.
O anticorpo ao reconhecer uma molécula não a reconhece inteiramente. Por exemplo, uma
proteína que é reconhecida pelo anticorpo mas não inteiramente porque não cabe na região
de contato do anticorpo, e o que vai caber é apenas um pedaço e esse pedaço que vai se
ligar ao anticorpo. Esse pedaço que liga-se ao anticorpo é chamado de epítopo ou
determinante antigênico, que são fragmentos do antígeno reconhecidos pelo anticorpo. Em
caso de proteínas, o anticorpo liga-se à uma sequência linear de aminoácidos dessa
proteína como pode também haver anticorpos que só vão se ligar ao epítopo do antígeno se
estiver na estrutura enovelada da proteína. Ou seja, às vezes o anticorpo pode reconhecer
um epítopo que dependa da estrutura tridimensional da proteína como também pode
reconhecer um epítopo que só dependa da estrutura primária da proteína.
Estrutura básica de um Anticorpo ou Imunoglobulina
→ ​O anticorpo é formado por duas cadeias leves e duas cadeias pesadas. A região de
contato com o antígeno é entre uma cadeia leve e uma cadeia pesada no qual o antígeno
se liga e varia muito de um indivíduo para o outro. Se cada anticorpo que um indivíduo
possua interage com um antígeno diferente, essa região variável no qual o antígeno se liga
deve ser diferente. A região que determina a qual antígeno o anticorpo vai se ligar é
chamada de ​região variável​ e ele ainda apresenta uma ​região constante​, que é bem
parecida na maioria dos anticorpos. Então, a região variável vai ser responsável por
determinar a especificidade do anticorpo enquanto que a região constante vai determinar a
função daquele anticorpo. O anticorpo ainda possui uma região como se fosse uma espécie
de dobradiça, o que lhe confere uma certa mobilidade na hora da interação com o antígeno.

A região constante da cadeia leve apresenta dois tipos diferentes, chamadas de cadeia κ
(kappa) e cadeia λ (lambda). Existem anticorpos que tenham a cadeia leve do tipo κ porque
têm a região constante chamada de κ e existem anticorpos com a região constante da
cadeia leve do tipo λ. Não se conhece nenhuma diferença relacionada à funcionalidade com
esses dois tipos de região constante da cadeia leve.
Na cadeia pesada é diferente. A região constante da cadeia pesada que vai ser responsável
por determinar a classe do anticorpo. ​IgG, IgE, IgA, IgM​ e ​IgD​ são as cinco classes de
anticorpos existentes. Essas classes ou isotipos são determinadas de acordo com a região
constante da cadeia pesada, e elas vão determinar a função de determinado anticorpo. Em
humanos e camundongos existem cinco tipos principais de regiões constantes de cadeia
pesada, que são γ, μ, α, δ e ε. Quando a região constante da cadeia pesada é do tipo γ
(gama), essa imunoglobulina é do tipo IgG. Quando a região constante é do tipo μ (mi),
essa imunoglobulina é uma IgM. Se a cadeia pesada é α (alfa), ela é um IgA. Se a cadeia
pesada é δ (delta), ela é uma IgD e se a cadeia é do tipo ε (epsilon) ela é uma IgE.
Em mamíferos existem esses cinco isotipos de imunoglobulinas, havendo apenas diferença
de proporção de acordo com o animal. Em outras espécies existem outros isotipos de
imunoglobulinas. Em aves existe a IgY, em anfíbios existem a IgX e a IgY, em tubarão
existe a IgW.
As ligações entre antígeno + anticorpo são ligações fracas, do tipo Van der Waals, ligações
eletrostáticas, ou seja, ligações que são fracas e sejam possíveis serem desfeitas a partir
de alterações no pH do meio por exemplo, ou seja, é uma ligação reversível.

→BCR
O anticorpo além de ser secretado funciona como receptor da célula B (BCR). É através do
anticorpo que a célula B reconhece o antígeno de acordo com sua especificidade. O BCR é
o receptor da célula B juntamente com a associação de duas moléculas que estão sempre
juntas, que são importante para sinalização quando o linfócito entra em contato com o
antígeno. O anticorpo de membrana é muito pequeno, não possuindo a porção
intraplasmática de sinalização e essa sinalização vai ser feita através dessas outras duas
moléculas, que são a Igβ e a Igα que estão sempre juntas, sendo fosforiladas quando a
célula B entra em contato com antígeno e sinaliza para ele ser ativado. Essas moléculas
são iguais em todos os linfócitos (Igβ e Igα).
→​TCR
No caso do linfócito T, ele também possui receptor para reconhecimento do antígeno (TCR).
Esse TCR é uma molécula parecida com o anticorpo, sendo que ele é menor e só possui
uma região variável e uma região constante e são duas cadeias, uma cadeia α e outra
cadeia β. Importante ressaltar que o TCR não é secretado, só havendo TCR de membrana,
ou seja, quando o linfócito T é ativado ele não ser capaz de secretar TCR.

Existem dois tipos de região constante de TCRs, que seriam o linfócito T que tem TCR do
tipo αβ e linfócitos T que têm TCR do tipo γδ (gama-delta). Esses linfócitos T em si vão
apresentar diferentes funções. Existe uma proporção muito variada entre esses tipos de
linfócitos nas espécies. Em camundongos e humanos, a maior parte é de linfócitos T do tipo
αβ e uma pequena parte de linfócitos γδ. Diferentemente de bovinos, suínos e ovinos, que a
quantidade de célula T- γδ é grande.
O receptor da célula B é o anticorpo e o receptor da célula T é o TCR. O TCR é como se
fosse uma pequena imunoglobulina, como se fosse a ponta dela.
O TCR também não sinaliza, necessitando sempre estar acoplado à outras moléculas,
formando um complexo de proteínas, chamado de CD3, formado por uma série de
proteínas. Todo linfócito T tem CD3, que está sempre acoplado ao TCR. Esse CD3 também
vai ser importante para sinalização e ativação do linfócito T.

Diversidade dos receptores clonais


Cada linfócito possui uma especificidade diferente. Como é produzido esses linfócitos com
especificidades diferentes? Quando um organismo entra em contato com determinado
antígeno, haverão linfócitos que vão entrar em contato com este antígeno pois possuem
especificidade para ele. Esses linfócitos com especificidade à esse antígeno são formados
no momento do encontro com o antígeno? Os linfócitos reconhecem o antígeno via receptor
de membrana, que é uma proteína. Como essa proteína seria formada no momento do
encontro com o antígeno? Não forma no momento do encontro, essa especificidade já é
produzida antes e o linfócito só vai interagir com o antígeno para o qual ele tenha
especificidade. Existem mais de 10^9 diferentes especificidades, e acreditava-se que para
isso deveriam existir 10^9 genes só para região variável (que determina a especificidade do
anticorpo), porém não teria como isso tudo ser armazenado no DNA.
A partir de vários estudos realizados (TONEGAWA, 1987) foi descoberto que o DNA de
uma célula tronco é maior que o DNA de um linfócito maduro. Imaginava-se que o DNA de
todas as células seria igual, tendo diferença apenas na expressão dos genes de acordo
com o tipo celular. Tonegawa conseguiu comprovar que o DNA dos linfócitos é diferente do
DNA das outras células, ele tem um DNA menor. Por que esse DNA encurta durante a
maturação dos linfócitos? Tonegawa viu que na verdade esses genes não são herdados
completamente, eles são vão ser recombinados, o que vai gerar o elevado número de
especificidades diferentes. Como é produzida toda essa especificidade?
→ Para cadeia pesada, são herdados três segmentos gênicos e para cadeia leve dois
grupos de segmentos gênicos. No nosso gene então têm vários segmentos V, vários
segmentos De vários segmentos J. Para formar o gene que vai codificar a região variável da
cadeia pesada vai unir uma parte do segmento V, outra do D e outra do J, isso em cada
linfócito que vai ter um rearranjo diferente. No caso da cadeia leve vai unir um segmento V e
um J. Essa recombinação é o princípio básico que vai propiciar toda essa diversidade de
especificidade dos anticorpos.

Foi descoberto que quem permite essa recombinação é uma enzima, chamada de RAG,
que só está ativa durante a maturação dos linfócitos B e T. A RAG que é a responsável pela
clivagem aleatória das regiões entre os genes em cada linfócito que está amadurecendo
para que as regiões distantes do gene depois possam ser unidas e a parte clivada é
degradada, fazendo com que o DNA diminua de tamanho.
O gene para região variável da cadeia pesada é formado por um V (variável), um D
(diversidade) e um J (juncional). Os segmentos V são os mais variáveis. Imagine que um
linfócito pegue o segmento V1, D2 e J3 e outro linfócito aleatoriamente combine o V3, D2 e
J3, conferindo outra especificidade. Apenas a recombinação desses segmentos resulta em
diferentes especificidades.
O rearranjo acontece na região variável da cadeia pesada, a região constante se mantém
no linfócito maduro.

Mecanismos de geração de especificidade


→ Número de genes codificadores de cadeias pesadas e cadeias leves;

→ Número de combinações entre cadeias leves e cadeias pesadas;


Deve-se lembrar que a região de contato do antígeno com o anticorpo é entre uma cadeia
leve e uma cadeia pesada. Então x número de cadeias leves e y número de regiões
variáveis de cadeias pesada devem ser multiplicados um pelo outro.

Cadeias Leves X Cadeias Pesadas 2.8 x 10^7


860 cadeias diferentes 32400 cadeias diferentes ⇉ Igs diferentes

Tanto o número de genes quanto a combinação entre cadeias ainda não justifica o enorme
número de especificidades diversas que existem. Existem mecanismos adicionais de
diversidade.

→ Diversidade juncional
Esses mecanismos seriam a imprecisão do corte da RAG e a adição da enzima TdT.
A RAG é responsável pela clivagem da região do DNA entre os segmentos do genes
codificantes, porém a enzima não faz essa clivagem certinho. Essa imprecisão do corte da
RAG já gera especificidades diferentes. O linfócito 1 fez ,p. ex, o rearranjo de V1 com D3 e
outros linfócitos também fizeram esse mesmo rearranjo. Mesmo tendo feito rearranjos
iguais, eles vão apresentar especificidade diferente devido à essa imprecisão do corte da
RAG.

Além disso, tem a atuação da enzima TdT, que só é ativa no linfócito amadurecendo. Essa
TdT é responsável por adicionar nucleotídeos aleatoriamente fora da sequência de
pareamento de bases no DNA, aumentando ainda mais a especificidade.

Cada linfócito possui uma especificidade. A região variável da superfície dos anticorpos
presente na membranas de um linfócito vão ser todas iguais ou diferentes? Vão ser todas
as iguais. A região variável na superfície de um linfócito é constante, a diferença vai ser
entre os anticorpos do indivíduo no todo e não na superfície de um único linfócito.

Exclusão alélica
→ Deve-se lembrar que é herdado um cromossoma da mãe e outro cromossomo do pai. Se
o rearranjo é o acaso, teria-se um cromossomo de cadeia pesada da mãe e outro do pai,
assim como um cromossomo de cadeia leve da mãe e outro do pai. Se fosse ao acaso,
teria-se dois genes rearranjados, porém ocorre o que chamamos de exclusão alélica, onde
apenas um deles seria expresso. Caso fosse expresso em um linfócito tanto o cromossomo
da mãe quanto o do pai na cadeia pesada rearranjados apresentando proteína, esse
linfócito apresentaria duas especificidades diferentes para determinado antígeno. Uma vez
o linfócito fazendo o rearranjo, e esse rearranjo sendo funcional, ele começa a sintetizar o
anticorpo e inibe o rearranjo do outro cromossomo, fazendo a exclusão alélica. Por isso que
todos os anticorpos na superfície de um mesmo linfócito apresentam a mesma
especificidade. Devido a isso que também uma grande morte de linfócitos, cerca de 80%
dos linfócitos produzidos morrem nesse processo de fazer os rearranjos.

Por que existe uma diversidade de especificidade tão grande que em grande parte é contra
antígenos que nem existem? Deve-se lembrar que principalmente vírus, como também
bactérias, mutam muito rápido, e se fosse um repertório pequeno de anticorpos, tanto as
bactérias quanto os vírus sofrem escape e iriam mutar, sendo selecionadas aquela que não
reconhecidas pelo nosso repertório de anticorpos.
Esses três processos de geração de diversidade em especificidade ocorrem durante a
ontogenia de células B, ou seja, vão ocorrer durante a maturação. Existe um outro processo
que só ocorre em linfócitos B maduros. A​ hipermutação somática​ vai ocorrer no linfócito B
quando encontra o antígeno, ou seja, ele já está sendo ativado. Quando ele encontra com o
antígeno, ele já está com seu rearranjo feito porque ele já está maduro, porém ele pode
sofrer várias mutações. Ele começa a proliferar e sofre uma taxa de mutação muito além do
normal. Nessas mutações, vão ocorrer nuances na especificidade. O rearranjo vai continuar
o mesmo porque ele já é uma célula madura, mas devido a essas mutações pode ocorrer
adição de uma base nitrogenada diferente no DNA, desencadeando essas nuances na
especificidade, fazendo com que o linfócito tenha mais afinidade por determinado antígeno
por exemplo ou se ligando mais rápido a determinado antígeno. A hipermutação não ocorre
em células T. Esse mecanismo é importante na resposta do sistema imune adaptativo,
porque além de ter células que vão produzir uma memória a determinado antígeno, agora
também haverão células com maior afinidade por esse antígeno, aumentando a velocidade
de ação de resposta do sistema imune adaptativo.

Rearranjo VDJ ocorre principalmente em humanos e camundongos, ele não ocorre em


todas as espécies com a mesma intensidade. Nas outras espécies, o principal mecanismo
de geração de diversidade é o que chamamos de mecanismo de conversão gênica. A
hipermutação somática ocorre em humanos e camundongos para aumento de afinidade.
Em outras espécies, a hipermutação é muito importante e mais intensa para aumento da
diversidade de especificidade.

A conversão gênica é parecida, sendo que nela há poucos segmentos V. No caso de


humanos e camundongos têm vários segmentos V e cada linfócito pega um diferente. Na
conversão são poucos segmentos V e existem os pseudo-genes, que inserem-se no meio
do segmento V, formando o segmento V nesse animal. Ele é formado pelo VDJ do mesmo
jeito, mas ao invés de recombinar entre V1 ou V2, ele tem um segmento V e esses
pseudogenes inserem-se dentro do segmento. É um mecanismo diferente de recombinação
do segmento.
Organização dos segmentos gênicos do TCR na linhagem germinativa humana
A molécula de TCR é muito parecida com o anticorpo. No caso de humanos, ela é
recombinada por rearranjo gênico. Em TCR de cadeia β (beta) tem o segmento V, D e J,
que é semelhante à cadeia pesada da Ig, que também é VDJ mas a disposição do gene é
diferente. No caso das cadeias α (alfa) e δ (delta) é mais complicado porque um segmento
se encontra dentro do outro. Na cadeia γ (gama) é apenas o VJ, semelhante à cadeia leve
da Ig. Isso no caso de humanos e camundongos, nas outras espécies o rearranjo vai ser
por meio da conversão gênica. Em caso de TCR (células T), não ocorre hipermutação
somática, ocorre apenas o rearranjo ou conversão gênica dependendo da espécie.

Você também pode gostar