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Introdução
Exercícios de força, realizados de forma regular, promovem diversas
mudanças adaptativas, especialmente no sistema musculoesquelético.
Isso ocorre, principalmente, em resposta ao estímulo mecânico causado
pela contração muscular com sobrecarga, a qual estimula diversas vias
de sinalização intracelular. Como consequência, inúmeras respostas são
geradas, como o aumento na síntese proteica, que cronicamente pode
resultar em adaptações hipertróficas no tecido muscular. Para a avaliação
dessas alterações estruturais na musculatura, diversos métodos podem
ser utilizados, sejam eles considerados diretos ou indiretos.
Neste capítulo, você vai conhecer as principais adaptações morfo-
lógicas em resposta ao treinamento de força, especialmente na mus-
culatura como um todo, nas fibras musculares e no tecido conectivo,
os mecanismos básicos do processo de hipertrofia, bem como os possí-
veis métodos de avaliação do tecido muscular com o objetivo de verificar
as respostas morfológicas ao treinamento de força.
2 Adaptações morfológicas ao treinamento de força
1 Adaptações morfológicas ao
treinamento de força
O treinamento de força pode ser definido como a progressiva sobrecarga do
músculo esquelético, caracterizada por grande força de contração muscular
e ressíntese anaeróbica de adenosina trifosfato (ATP). Esse tipo de exercício
é geralmente usado para melhorar o desempenho atlético, aumentar a saúde
musculoesquelética e alterar a estética corporal. Por outro lado, em termos
de saúde, o treinamento de força também tem influência positiva na função
metabólica e esquelética (SCHUMANN; RØNNESTAD, 2018; FOLLAND;
WILLIAMS, 2007).
Cronicamente, o treinamento de força gera diversas adaptações fisiológicas
que contribuem para mudanças na função muscular. De modo específico, esse
tipo de treinamento estimula a maquinaria responsável por aumentar a força
contrátil máxima da musculatura, resultado primário dos efeitos combinados
da melhora da ativação muscular e hipertrofia das fibras musculares. Por-
tanto, os ganhos de força oriundos do treinamento podem ser considerados
resultados adaptativos de fatores morfológicos e neurológicos (SCHUMANN;
RØNNESTAD, 2018; FOLLAND; WILLIAMS, 2007).
O músculo esquelético é capaz de exibir notável plasticidade em resposta
ao treinamento de força. Dentre as variadas respostas, a principal adaptação
morfológica específica do treinamento de força é o aumento na área de seção
transversa dos músculos exercitados e das fibras musculares individuais,
em razão de um aumento no tamanho e no número de miofibrilas. Porém,
o planejamento do treinamento, incluindo volume, intensidade, frequência,
recuperação, estímulos, dentre outros fatores, influenciam diretamente na
subsequente resposta adaptativa. Além disso, fatores como hereditariedade,
gênero, idade e estado de saúde também podem influenciar nos resultados
crônicos relativos a essa modalidade (SCHUMANN; RØNNESTAD, 2018).
Veja a Figura 1.
Adaptações morfológicas ao treinamento de força 3
Figura 3. Fibras musculares retiradas do músculo vasto lateral antes (a) e após (b) 8 semanas
de treinamento de força, demonstrando o processo de hipertrofia (aumento do tamanho
das fibras musculares).
Fonte: Fleck e Kraemer (2017, p. 77).
8 Adaptações morfológicas ao treinamento de força
Por fim, para que todos esses processos relacionados à hipertrofia ocor-
ram, proteínas contráteis adicionais devem ser produzidas e funcionalmente
integradas às fibras e miofibrilas existentes. Esse acúmulo de novas proteínas
musculares claramente requer um maior estímulo de síntese sobre a degradação
proteica e, portanto, o treinamento de força é um conhecido meio de promover
sobrecarga mecânica, no qual corresponde a um dos estímulos relacionados à
ativação das vias de síntese proteica. A síntese de proteínas aumenta após uma
sessão de exercícios de força e pode permanecer elevada. Quando a quantidade
de proteínas sintetizadas excede a quantidade degradada, o acréscimo “líquido”
de proteína é positivo e a hipertrofia pode ocorrer (FLECK; KRAEMER, 2017).
Em resumo, as adaptações morfológicas primárias ao treinamento de
força envolvem, em especial, um aumento na área de secção transversa das
fibras musculares individualmente (principalmente nas do tipo II) e de todo
o músculo. Além disso, o treinamento é capaz de promover outros processos
adaptativos como alterações no tipo das fibras musculares, hiperplasia dessas
fibras, ativação das células satélite, mudanças na arquitetura muscular e alte-
rações na estrutura do tecido conjuntivo. Para que os processos hipertróficos
ocorram, diversos mecanismos hormonais e intracelulares são estimulados
pelo treinamento de força, gerando respostas específicas que resultam em
tais adaptações.
por atividade contrátil. Por sua vez, mTORC1 ativa p70 proteína ribossômica S6
quinase (p70 S6K1), que é um regulador-chave da síntese proteica (COFFEY;
HAWLEY, 2007; SCHUMANN; RØNNESTAD, 2018).
Por outro lado, a ativação da família de fatores de transcrição de forquilha
(FOXO) está envolvida no processo de degradação de proteínas. Porém, o me-
diador da atividade da mTORC1 chamado Akt, que é ativado pelo treinamento
de força, é capaz de inativar FOXO e, assim, ocorre a inibição da proteólise
(SCHUMANN; RØNNESTAD, 2018). Veja a Figura 5.
Figura 5. As principais vias de sinalização ativadas pelo treinamento de força que regulam
o tamanho muscular.
Fonte: Adaptada de Schumann e Rønnestad (2018).
Ultrassonografia Perimetria
Ressonância magnética Antropometria
Tomografia computadorizada Impedância bioelétrica
Biópsia muscular DEXA
Por outro lado, os métodos indiretos são técnicas que não utilizam medidas
específicas do local de interesse, portanto, são baseadas em estimativas:
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