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Anais do ZOOTEC’2005 - 24 a 27 de maio de 2005 – Campo Grande-MS

Formulação de Rações para Cães

Cristina Maria Lima Sá Fortes1

Introdução

O cão é um animal de estimação muito apreciado no mundo, com um


crescimento constante de sua população. Atualmente, existem 38 milhões de
animais de estimação no Brasil, sendo 27 milhões de cães (Háfez, 2002). Os
produtos destinados a estes animais estão em ampla expansão no mercado
mundial, e a alimentação vem sendo a área com maiores investimentos. No
Brasil, segundo Háfez (2002), considerando o consumo médio diário de ração,
o potencial do mercado de “petfood” é de mais de três milhões de
toneladas/ano. O segmento cresceu no Brasil 530% nos últimos 10 anos.
Hoje, as dietas comerciais para cães são compostas basicamente de
carboidratos que representam 40 a 55% da matéria seca das rações. No ano
de 2002 a indústria de alimentos para cães e gatos consumiu cerca de 583.000
de carboidratos, oriundos de cereais in natura e farelos, evidenciando a grande
importância desses ingredientes (SNIAA, 2003).
Além dos carboidratos ingredientes protéicos, suplementos vitamínicos
minerais e aditivos compõem as dietas dos cães. Apesar do interesse
econômico, poucas pesquisas existem caracterizando a digestibilidade dos
ingredientes, as necessidades nutricionais e o manejo alimentar adequado
desses animais, dificultando o desenvolvimento de dietas que atendam os
principais objetivos de um alimento para animais de estimação: crescimento
harmonioso, longevidade e resistência a doenças (Borges, 1998).
Esta revisão tem como objetivo orientar sobre os principais pontos para
formulação de dietas para cães.

1
Estudante de Doutorado em Zootecnia da UNESP Jaboticabal, SP.
Nutricionista da Imbramil Indústria e Comércio Ltda. Tel: (11) 4035-7600
e-mail: crissafortes@yahoo.com.br

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Pontos importantes para formulação de ração para cães

Antes de iniciar a formulação da ração alguns itens importantes devem


estar bem definidos:

1. Conhecimento da legislação vigente;


2. Classificação mercadológica dos alimentos pet;
3. Características fisiológicas do animal;
4. Exigências nutricionais;
5. Processamentos de ração.

A regulamentação básica para os alimentos industrializados para cães


está prevista no Decreto no 76.986, de 06 de janeiro de 1976. O Decreto é
regulamentado por meio de Instruções Normativas que vêm sendo atualizadas
periodicamente.
A Instrução Normativa publicada pelo MAPA que proporcionou um grande
avanço na regulamentação do mercado Pet Food foi a número 8, publicada em
2002, onde fixa e identifica as características mínimas de qualidade a que
devem obedecer aos alimentos completos e especiais para cães e gatos. Os
níveis de garantia exigidos para os alimentos completos estão descritos nas
Tabelas 1 e 2.

Tabela 1 – Níveis de garantia para alimentos completos para cães em


crescimento
Itens (%) Seco Semi-úmido Úmido
Umidade (máx) 12 30 84
Proteína bruta (mín) 22 18 4
Extrato etéreo* (mín) 7 6 1,3
Matéria fibrosa (máx) 6 5 2
Matéria mineral (máx) 12 10 2,5
Cálcio (máx) 2 1,6 0,4
Fósforo (mín) 0,8 0,6 0,1
*Extrato etéreo hidrólise ácida

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Tabela 2 – Níveis de garantia para alimentos completos para cães em adultos

Itens (%) Seco Semi-úmido Úmido


Umidade (máx) 12 30 84
Proteína bruta (mín) 16 13 3
Extrato etéreo (mín) 4,5 3,6 1,0
Matéria fibrosa (máx) 6,5 5,2 2
Matéria mineral (máx) 12 10 2,5
Cálcio (máx) 2,4 2 0,4
Fósforo (mín) 0,6 0,5 0,1
*Extrato etéreo hidrólise ácida

Classificação dos Alimentos Industrializados para Cães

Os alimentos industrializados para cães podem ser classificados quanto:

1. Função
• Completos
• Complementares
• Especiais
2. Tipo de processamento;
• Úmido
• Semi-úmido
• Seco
3. Segmentação de mercado
• Econômico
• Premium
• Super premium

1. FUNÇÃO
Alimentos completos – São aqueles que garantam todos os níveis
nutricionais necessários à correta alimentação diária de cães e gatos
saudáveis;

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Alimentos complementares – ossinhos, petiscos e biscoitos;


Alimentos especiais – Prescrição para cães e gatos com distúrbios
fisiológicos ou metabólicos, em cuja formulação é incondicionalmente privada
de qualquer agente farmacologicamente ativo.

2. Processamento
Úmidos – São aqueles encontrados em latinhas ou saches. Este tipo de
alimento tem por objetivo fornecer uma refeição individual para o animal.
Este tipo de alimento completo é formulado a base de proteínas e
gorduras, com pequena concentração de carboidratos.
Os principais ingredientes são: carnes, carnes mecanicamente separada,
vísceras de frango, peixes, farinha de soja, amido de milho, pectinas, gomas,
etc.
Os alimentos úmidos são processados em cozimento sobre pressão
semelhante a uma autoclave e seu principal meio de conservação é a
esterilização do próprio processo. São alimentos com alta digestibilidade (80 a
85%) e palatabilidade. São produtos caros tendo em vista seu alto teor de água
e o tipo de embalagem.

Semi-Úmido – São produzidos através de extrusão e caracterizam-se por


apresentarem peletes macios.
Os principais ingredientes são:
Carboidrato - Milho, sorgo, quirera de arroz, farelo de arroz, farelo de trigo.
Protéico - farelo de soja, farinha de carne e ossos, farinha de vísceras de
frango, carne fresca.
Gordura - Gordura animal, óleos vegetais.
Outros - minerais, vitaminas, corantes, palatabilizantes, antioxidantes,
antifúngicos (benzoatos e sorbatos), umectantes (sacarose, sal, propileno
glicol), ácidos orgânicos (ácido cítrico).
A conservação destes produtos são através de baixo pH, antifúngicos,
antioxidantes, umectantes e baixa atividade de água. A umidade do produto
varia de 15 a 50%. As embalagens dos produtos semi-úmidos são mais caras
que as das rações secas, uma vez que é produzida para uma maior proteção

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contra a perda de água, pois a desidratação afeta sua plasticidade e


palatabilidade, tornando-os mais duros e mais secos que os alimentos secos.

Secos – Representam a maior parte do que é produzido e vendido. São


produzidos pelo processo de cozimento por extrusão. Os ingredientes são
semelhantes ao das dietas semi-úmidas, sendo que neste caso os carboidratos
compreendem mais de 50% da fórmula. São responsáveis por 30 a 60% da
energia metabolizável do produto.
A conservação do produto é devida à baixa umidade aliada a
antioxidantes, antifúngicos e acidificantes. As embalagens têm como função
impedir a entrada de água, oxigênio e luz no produto, aumentando o tempo de
prateleira das dietas.

Processo de extrusão

Extrusão é o processo de cozimento, realizado pela combinação de


umidade, pressão, calor e atrito mecânico no interior de um tubo. Através da
extrusão houve a possibilidade de crescimento do mercado pet, pois permitiu a
inclusão de ingredientes mais baratos como os carboidratos nas dietas dos
cães.
As principais vantagens do processo são: melhoria da digestão, redução
de níveis de toxinas; controle de crescimento de microrganismos e controle de
formatos e densidades. Dentre as desvantagens podemos citar a degradação
de nutrientes e custo do processamento. O diagrama do processo por extrusão
encontra-se representado na Figura 1.

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Ingredientes grãos Pré-moagem Mistura

Extrusão Pré-condicionamento Moagem

Corte Secagem Recobrimento

Acondicionamento Resfriamento
Figura 1 – Fluxo do processo de extrusão

3. Segmentação comercial

Quanto à segmentação comercial as dietas podem ser classificadas


basicamente em três segmentos: econômica, premium e super premium. Na
Tabela 3 estão descritas as principais características de cada segmento.

Tabela 3 – Características das dietas de acordo com sua classificação


comercial
Itens Econômico Premium Super Premium

Formulação Variável Variável Fixa


Apelo de venda $ Palatabilidade e Qualidade
digestibilidade
Produtos Genéricos Técnicos e Técnicos e
afetivos específicos
Fontes de 1a2 2a3 4a6
proteína
Nível de proteína Mínimo AAFCO AAFCO
Fibras Farelos Farelos e Específicas
específicas
Digestibilidade Até 75% Até 84% > 84%
Cão 60 kg de PV 800 g/dia 700 g/dia 500 g/dia

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Características Fisiológicas dos Cães

Para Nunes (1998), o conhecimento do aparelho digestório do animal a


ser estudado é muito importante devido à estreita relação entre trato
gastrointestinal (TGI) e utilização dos alimentos e nutrientes. As funções
primárias do TGI e seus órgãos acessórios são a digestão e absorção de
nutrientes essenciais aos processos metabólicos dos animais (Argenzio, 1996).
O TGI de cada espécie é adequado ao seu hábito alimentar e dessa forma são
classificados em: herbívoros (ruminantes e não-ruminantes), onívoros e
carnívoros (Borges, 1998).

Os cães são carnívoros, apresentando TGI curto e relativamente simples,


dentes caninos muito desenvolvido, adaptados a este tipo de alimentação. Sua
digestão é principalmente enzimática, com mínima digestão microbiana, com
ação digestiva orientada principalmente para digestão de proteínas e gorduras
(Case et. al., 1995).
Apesar da baixa digestão microbiana nos cães, ocorre uma colonização
de microrganismos em toda as áreas do trato digestório, e o maior papel desta
flora residente é auxiliar a digestão alimentar e a exclusão de patógenos. Os
principais microrganismos presentes no TGI dos cães são: anaeróbios
facultativos na porção superior do intestino delgado (Lactobacilos e
Estreptococos) e uma população de anaeróbios estritos no intestino grosso
(Bacterióides, Eubacterium, Bifidobacterium, Propionobacterium,
Fusibacterium, Clostridium) (Buddington, 1996).

Outra questão a ser considerada, e muito própria dos cães, é a


diversidade de raças, com pesos adultos variando de um a 100 quilogramas,
padrões de crescimentos distintos, com conseqüente influência na relação
entre peso corporal e TGI, tornando os requisito nutricionais e manejos
alimentares muito diferentes entre as raças (Meyer et. al., 1993).

Desta forma, o conhecimento da fisiologia do TGI torna-se fundamental


para o desenvolvimento de dietas e manejo alimentar que proporcionem uma
vida mais saudável aos cães.

Exigências Nutricionais

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As exigências nutricionais para cães foram inicialmente reunidas pelo


Nutrient Requirements of dogs de 1974 e posteriormente em nova atualização
em 1985. Nessas publicações encontram-se estudos clássicos de nutrição,
onde são descritos os níveis mínimos de nutrientes biodisponíveis necessários
para que os animais não apresentem deficiências nutricionais e apresentem
crescimento satisfatório.
As maiores críticas apresentadas pelos nutricionistas a estas publicações
são devidas as tabelas referenciarem apenas aos nutrientes em forma
biodisponível, ou seja, prontamente utilizável pelo animal. No entanto a sabe-se
que a digestibilidade dos nutrientes pode variar dependendo de sua
composição nutricional, interações e diversos outros fatores. Sendo assim para
a utilização das exigências descritas no NRC faz-se necessário uma adoção de
margens de segurança na formulação para que tenha a garantia de
fornecimento dos nutrientes em níveis adequados para uma nutrição ótima.
Em final de 2003 o Conselho Nacional de Pesquisa Norte Americana
lançou a última atualização de suas tabelas onde se encontram compiladas as
exigências de cães e gatos.
Para facilitar a formulação e controle das indústrias a Associação
Americana de Controladores de Alimentos (AAFCO, 2003) fornecem tabelas
com as exigências nutricionais de cães e gatos desde de 1994.
Nestas compilações houve a preocupação de fornecer os níveis
nutricionais já com uma margem de segurança, considerando os efeitos citados
acima. Sendo assim as tabelas da AAFCO tem sido as mais utilizadas pela
indústria Pet para formulação das dietas. Na Tabela 4 encontram-se as
recomendações descritas pela AAFCO (2003) para cães.

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Tabela 4 – Recomendações nutricionais para cães (3500 kcal EM/kg)

Crescimento e Adulto
Nutrientes Unidade Reprodução Manutenção Máximo
(Mínimo) (Mínimo)
Proteína Bruta % 22 18
Arginina % 0,62 0,51
Histidina % 0,22 0,18
Isoleucina % 0,45 0,37
Leucina % 0,72 0,59
Lisina % 0,77 0,63
Met + Cistina % 0,53 0,43
Treonina % 0,58 0,48
Triptofano % 0,20 0,16
Valina % 0,48 0,39

Gordura % 8 5
Ácido Linoleico % 1 1
Cálcio % 1 0,6 2,5
Fósforo % 0,8 0,5 1,6
Sódio % 0,3 0,06
Magnésio % 0,04 0,04 0,3
Cobre mg/kg 7,3 7,3 250
Manganês mg/kg 5 5
Zinco mg/kg 120 120 1000
Yodo mg/kg 1,5 1,5 50
Adaptado de AAFCO (2003)

Formulação da ração

Uma ração é composta basicamente de carboidratos, proteínas,


vitaminas, minerais e aditivos. A escolha de cada ingrediente determinará a
qualidade da ração e o seu objetivo mercadológico.

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Fontes de carboidrato

Alguns parâmetros devem ser verificados nos ingredientes energéticos,


pois estes são os ingredientes que entrarão em maior proporção na fórmula de
um alimento seco e influenciam diretamente na qualidade estrutural do pelete e
digestibilidade da ração.
Os carboidratos possuem três funções básicas em dietas para cães:
atender às necessidades energéticas, o aporte mínimo de fibra para o
funcionamento normal do trato digestório e é essencial para o processo de
extrusão utilizada na preparação da maioria dos alimentos industrializados.
Não existe uma fonte de carboidrato ideal, mas a combinação delas pode
produzir um perfil nutricional e de produção desejado.
Em geral as características nutritivas dos carboidratos estão relacionadas
com a composição dos seus açúcares, das suas ligações químicas,
conformações espaciais, de fatores físico-químicos de digestão e do
processamento que são submetidos.
Sendo assim os principais pontos de definição de uma fonte de
carboidrato são:
¾ Quantidade de amido

¾ Qualidade do amido

¾ Concentração e característica das fibras

¾ Fatores antinutricionais

¾ Energia metabolizável

¾ Disponibilidade no mercado

Os carboidratos são os principais componentes dos tecidos vegetais,


representando até 85% de alguns grãos (Pond et al., 1995). O amido
representa 70 a 80% do peso dos grãos e é composto por dois polímeros de
glicose, amilose e amilopectina que se apresentam em proporções variadas
nos cereais. Fatores tanto genéticos como ambientais influenciam no teor de

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amilose e amilopectina (Theurer, 1986), que repercutem na digestibilidade do


grão.
Dados obtidos com farinhas e amido demonstraram que os cães
apresentam grande capacidade de digeri-los (Hand et al. 1994). Murray et al.
(1999) verificaram que a digestão do amido no instetino delgado das farinhas
de cevada, milho, batata, arroz, sorgo e trigo é superior a 99%. Case et al.
(1995) constataram que a digestibilidade do amido dietético para cães é
afetada principalmente pelo tratamento térmico e pelo tamanho dos grânulos
de amido, onde o amido finamente moído é mais digerível do que em grânulos
grosseiros e que o aumento da temperatura proporciona uma maior
solubilização das moléculas de amilose e amilopectina melhorando a
digestibilidade.
No entanto, mesmo se considerarmos que o amido destes grãos, desde
que adequadamente gelatinizado e moído, apresente boa digestão no intestino
delgado, outras frações destas matérias primas como oligossacarídeos, fibras e
proteínas podem interferir positiva ou negativamente no processo digestivo dos
cães (Carciofi, 2000).

As fontes de fibra consistem de formas complexas de carboidratos tendo,


como principais componentes, a celulose, hemicelulose, pectina, gomas,
mucilagens e lignina. As duas características mais importantes da fibra, em
relação à nutrição de cães, é a solubilidade, que está correlacionada ao
aumento da viscosidade intestinal, com prejuízo ao contato entre as enzimas e
o substrato, interferindo no processo digestivo de alguns nutrientes e, sua
fermentabilidade que diz respeito à velocidade da degradação microbiana da
fibra e à correspondente produção de ácidos graxos voláteis (Carciofi, 2000).
Estes parâmetros segundo Reinhart e Sunvold (1999) estão diretamente
relacionados com as concentrações e os componentes das frações solúveis e
insolúveis da fibra da dieta.

Fontes Protéicas

As proteínas são componentes orgânicos essenciais às células e


constituem aproximadamente 18% do peso corpóreo dos animais. São

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compostos de alto peso molecular formados por unidades básicas de


aminoácidos ligadas por ligação peptídica (Beitz 1996). São importantes
nutrientes na alimentação dos cães, sendo fornecidos em maior proporção
através dos ingredientes protéicos que podem ser de origem vegetal, animal ou
uma combinação de ambos (Case et al. 1995).
O valor nutritivo de uma proteína depende de sua digestibilidade e de sua
composição de aminoácidos essenciais, que devem estar em quantidade e
proporções biodisponíveis adequadas (Sgarbieri, 1996).
Os ingredientes protéicos de origem vegetal caracterizam-se por
apresentarem composição bromatológica com menor variação que os de
origem animal, porém em geral são limitantes em aminoácidos sulfurados e
triptofano (Lowe, 1989). Já as fontes animais possuem um melhor balanço em
aminoácidos essenciais (Sgarbieri, 1996), no entanto sua qualidade nutricional
está diretamente relacionada com a origem e o processamento adotado
(Bellaver, 2001).
Dois fatores são importantes a serem considerados na qualidade
nutricional dos ingredientes de origem animal: o conteúdo de cinzas e a
temperatura de processamento a que são submetidos (Parsons et al. 1997).
Segundo Carciofi (2004), alguns derivados animais podem conter excesso de
matéria mineral, que, por conseguinte podem: diminuir a digestibilidade do
alimento; ressecar as fezes e elevar o conteúdo de cálcio, fósforo e magnésio,
dificultando a formulação de dietas equilibradas.
Vários autores (Johns et al. 1986; Batterham et al., 1986, Wang e Parsons
1998), verificaram efeito negativo de temperatura elevada no processamento
sobre a digestibilidade de aminoácidos para animais de produção. Johnson et
al. (1998), também verificaram menor coeficiente de digestibilidade de
aminoácidos totais em dietas para cães com farinha de carne e ossos
processada à 143oC, em relação à processada a 129oC. Sendo assim, faz-se
necessário um controle rígido do nutricionista sobre a origem desta matéria
prima e a qualidade bromatológica, pois a variação entre as diversas partidas
de ingredientes de origem animal pode influenciar na qualidade nutricional do
produto final.

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Fontes de Gordura

As gorduras contribuem com uma grande fração energética da ração.


Fornecem 2,25 mais energia que proteínas e carboidratos. Além disso, são
importantes palatabilizantes nas rações de cães e gatos.
As principais fontes de gordura utilizada nas rações de cães são o sebo
bovino, gordura de frango, óleo de milho, óleo de soja e óleo de girassol. Além
da energia as gorduras contribuem com o aporte de ácidos graxos essenciais e
sua qualidade está diretamente relacionada com sua proporção. Dietas para
cães possuem mais de 30% de gordura em sua formulação, logo a inclusão de
antioxidantes torna-se fundamental para manutenção da integridade nutricional
da ração.

Fontes de Vitaminas e Minerais

As vitaminas e minerais são normalmente atendidos pelos suplementos


específicos. O calcáreo e o fosfato bicálcico podem ser utilizados para atender
as exigências de cálcio e fósforo, mas como as rações de cães incluem fontes
de origem animal e vegetal normalmente não há necessidade dessa
suplementação.

Aditivos

Os principais aditivos encontrados em rações para cães são os


palatabilizanates, antioxidantes, antifúngicos, corantes, aromatizantes, gomas,
extratos com objetivos diversos, etc. Os níveis de inclusão estão de acordo
com os fabricantes e dependendo do aditivo do objetivo final almejado pelo
nutricionista.

Conclusão

Para formulação de ração para cães além dos conhecimentos básicos de


nutrição é fundamental o conhecimento do processo para que se atinja o
objetivo final da empresa, do consumidor e principalmente do cão.

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