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AVISO: Este é um livro que retrata a violência em diversos níveis, seja

na sua maneira física ou psicológica. É um livro não recomendado para

menores de 18 anos por conter cenas de sexo, linguajar vulgar.


Observação: A história narrada pela autora sobre a máfia Fratelli é
única e, exclusivamente, fictícia; fazendo com que as leis e regras (dentro da
trama) não existam de fato. Não condizem com a realidade.

Desejo que você tenha uma prazerosa leitura!


AVISO 2: A leitura do livro 1 (ANJO NEGRO) não é obrigatória, mas
caso você queria conhecer, poderá adquiri-lo aqui: https://amz.run/3vu3
Sinopse
Cinco irmãos. Um império criminoso.

Rossi, Fillipo, Luca, Mariano e Manuele são os temidos irmãos da


máfia FRATELLI. Para eles, a família vinha sempre em primeiro lugar e isso
jamais mudaria.
A ligação dos irmãos não se fazia apenas pelo laço de sangue, mas

também por um trauma que marcou o passado de cada um.


Rossi Ricci era o irmão mais velho. Como Capo, ele estava
acostumado a ter as suas ordens acatadas sem qualquer hesitação.
Mas isso mudou quando conheceu a sua futura esposa, Maya.
Maya Johnson não podia ser considerada a mulher ideal para estar ao
lado de um poderoso chefe como o Rossi, porque ela não sabia cumprir
ordens.
Ela era teimosa.

Tudo o que mais desejava era a liberdade de poder fazer as próprias


escolhas, longe de toda a aura de obscuridade trazida pela máfia.
Mas isso mudou quando conheceu o verdadeiro homem por trás da
função de líder.
Seu marido escondia segredos e traumas.
E ela mal podia esperar para descobrir cada um deles.
Copyright© 2020 Sara Ester
Capa: Barbara Dameto
Revisão: Sara Ester
Diagramação Digital: Sara Ester

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com fatos é mera coincidência
_______________________________________________________
Anjo Indomado
Livro 2 — Irmãos Fratelli
Sara Ester
1ª Edição
Dezembro — 2020
Imbituba — SC/ Brasil

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de
qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98


e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Sinopse
Prólogo
Rossi
Maya
Capítulo 1
Maya
Capítulo 2
Rossi
Capítulo 3
Maya
Capítulo 4
Rossi
Capítulo 5
Maya
Capítulo 6
Rossi
Capítulo 7
Maya
Capítulo 8
Rossi
Capítulo 9
Maya
Capítulo 10
Rossi
Capítulo 11
Maya
Capítulo 12
Rossi
Capítulo 13
Maya
Capítulo 14
Rossi
Capítulo 15
Maya
Capítulo 16
Rossi
Capítulo 17
Maya
Capítulo 18
Rossi
Capítulo 19
Maya
Capítulo 20
Rossi
Capítulo 21
Maya
Capítulo 22
Rossi
Capítulo 23
Maya
Capítulo 24
Rossi
Capítulo 25
Maya
Capítulo 26
Rossi
Capítulo 27
Maya
Capítulo 28
Rossi
Capítulo 29
Maya
Capítulo 30
Rossi
Capítulo 31
Maya
Capítulo 32
Rossi
Capítulo 33
Rossi
FIM
Epílogo
Maya
FIMBÔNUS
Prólogo de ANJO SELVAGEM
Paola
Prólogo
Rossi
Eu já havia enfrentado muitos criminosos perversos em minha vida. Já
fui torturado milhares de vezes, e de maneiras inimagináveis. Entretanto,
nunca me senti tão estranho como naquele momento.
Fazia poucas horas desde o enterro do Billy, então acreditei que a filha
dele já houvesse tido tempo o suficiente pra se preparar para a nossa saída de
Nova York. Era muito constrangedor imaginar que me casaria com uma
mulher que mal conhecia, a não ser por um único embate, meses atrás.
— A menina Maya está no quarto, senhor — disse a governanta da

casa, assim que tive a minha entrada liberada pelos seguranças.


Assenti com a cabeça, ajeitando o meu paletó preto.
Enquanto avançava os passos, o meu telefone começou a tocar.
Afundei a mão no bolso com a intenção de pegar o aparelho, porém mal tive
tempo de atender a ligação do Mariano, porque um rosnado tenebroso me fez
travar no lugar imediatamente.
Havia um cão robusto no pé da escada, rangendo os dentes para mim.
Todos os meus sentidos ficaram em alerta e minha mente começou a

trabalhar numa possível saída. Lentamente e sem movimentos bruscos, eu


levei a mão para a parte de trás das minhas costas, com a intenção de pegar a
minha pistola, mas antes que tivesse êxito, um segundo cachorro avançou em
minha direção, me derrubando no chão. Minha arma caiu longe. Fiquei a

mercê daquela fera, que rugia enraivecida contra o meu rosto.


Com os braços para cima, e com aquele cão em cima de mim — com
as patas sobre o meu peito — eu pude ouvir o som de saltos batendo contra o
piso. Ao espiar o alto da escada, me deparei com a minha futura esposa.
— Ora, ora... — murmurou ela. — Você veio realmente. — Parecia
estar ignorando o fato de eu estar sob o jugo daqueles malditos cachorros.
— Tire essa... coisa de cima de mim! — exigi entre dentes.
— Ele não é uma coisa! — ralhou, extremamente irritada com minha

forma de falar. — Meus cachorros não gostam de intrusos nem de estranhos.


E, infelizmente, você é os dois. O que quer?
Meu peito subia e descia conforme respirava com dificuldade por causa
da fúria diante de toda aquela situação inusitada. A paciência, quase
inexistente em mim, estava se esgotando.
— Eu... — cocei a garganta, tentando encontrar as palavras certas para
se dizer a pessoas em luto — Sei que perdeu o seu pai agora, e realmente
sinto muito, mas...
— Não, você não sente! — revidou, sem sequer me deixar terminar a

frase ensaiada. De repente, se aproximou um pouco mais e eu pude enxergá-


la melhor. Ainda usava a mesma roupa do enterro. Os cabelos escuros
estavam presos num rabo de cavalo, mas os seus olhos... eles me
fascinavam... grandes e intensos. — A verdade é uma só, capo.

Não me passou despercebida a maneira insolente como pronunciou o


meu título.
— E qual é?
— Que você não dá a mínima para nada e nem ninguém a não ser o
próprio umbigo — respondeu, dando de ombros. O rosnado dos seus cães não
parecia incomodá-la em nada, pelo contrário. Vi o instante em que se abaixou
e pegou a minha pistola, que havia sido arremessada para longe quando seu
cachorro pulou em mim. — Conheço muito bem essa fachada de bom moço.

— O que acha que escondo, Maya? — questionei, prestando atenção


em seu rosto e na forma como empunhava a minha pistola, com maestria.
— Não faço a mínima ideia, mas também não me interesso em saber
— respondeu, indiferente. Semicerrei os olhos quando ela simplesmente
guardou minha arma atrás da sua calça. — Eu quero apenas que você saia
daqui. Não temos nada um com o outro e nem iremos ter!
Dizendo isso, simplesmente se virou nos calcanhares.
— Odin! — exclamou uma única vez, e o cão que estava em cima de
mim se afastou, seguindo até ela.

Na mesma hora, eu me levantei, ajeitando o meu paletó. Foi impossível


não me sentir irritado e constrangido por ter sido dominado daquela forma
tão besta.
— Já percebi que você é uma mulher atraente e esperta — mencionei,

fazendo com que ela cessasse os passos. — Resta saber se é tão inteligente
quanto.
Seus cães ameaçaram me atacar novamente.
— Odin! Thor! — rosnou. — Fica! — Ela deu o comando, e isso fez
com que os dois obedecessem.
Sua atenção estava focada em mim, parado no meio do hall da casa.
Observei seus passos, atentamente. Desde a primeira vez que a vi, algo nela
me atraiu como a um imã. Era como se fôssemos iguais, mas diferentes ao

mesmo tempo.
— O que está tentando dizer, afinal?
— Não creio que seja ingênua ao ponto de não saber que tipo de
negócios o seu pai tinha — argumentei, analisando sua postura.
— Sei exatamente o que ele fazia — ditou, cruzando os braços. —
Inclusive a respeito do acordo que fez com você, sobre o casamento.
O canto dos meus lábios se abriu num sorriso discreto.
— Então deve conhecer as regras — declarei, gesticulando. — Sabe as
implicâncias sobre quebrá-las.

Sua postura baqueou. Nesse instante, eu decidi me aproximar um


pouco, visto que seus cães continuavam obedecendo ao seu último comando.
— Mas não tem o porquê ter implicâncias quando os dois lados não
querem — argumentou. — Meu pai não está mais entre nós e...

— Quem disse que eu não quero? — revidei, interrompendo suas


palavras. Seus olhos ficaram ainda maiores, o que me fez sorrir. — Sou um
homem de palavra, minha querida, e não tenho a mínima intenção de não
honrar a promessa que fiz ao seu pai, ainda vivo.
Ouvi quando seus dentes rangeram, diante da sua nítida contrariedade
com a situação.
— Você sabe que farei da sua vida um inferno, né? — perguntou, entre
dentes. As bochechas estavam rubras, demonstrando toda a sua fúria. Os

punhos fechados me diziam o seu claro desejo em me agredir, enquanto o


meu era de puxá-la contra os meus braços para aplacar a fome de beijá-la.
Essa rebeldia dela era extremamente excitante.
— Espero você no carro — avisei. — Partiremos de Nova York dentro
de poucos minutos.
***

Maya
Eu prometi a mim mesma e a minha mãe — em seu leito de morte —
que jamais me deixaria ser submetida a algo que eu não quisesse. Uma doce

ilusão, eu tinha consciência disso, uma vez que, tinha nascido no berço da
máfia. Entretanto o desejo de alçar voo sempre esteve presente dentro de
mim. Sendo assim, depois da morte da minha mãe, aos poucos, fui
construindo uma ponte para a minha liberdade; fui me preparando para o

futuro que almejava. Como filha única, meu pai costumava me presentear
com todas as minhas vontades, então tive a oportunidade de estudar todo tipo
de luta que eu quis, sem ele sequer se dar conta disso. Aprendi a manejar
diversas armas, além de lutas marciais. Me tornei uma verdadeira ninja,
entretanto ali... eu estava me sentindo uma inútil, visto que minhas mãos
estavam atadas.
A reunião de celebração era totalmente simbólica, já que os noivos não
se conheciam. Eu estava me casando com um homem estranho. Estava

morando com pessoas estranhas. Minha única família eram os meus


cachorros.
Nos últimos dias, antes da celebração do casamento, eu permaneci
trancada no quarto, porque não conseguia aceitar minha real situação. Sentia
que meu luto era duplo, considerando que não perdi apenas o meu pai, mas
também a minha liberdade, e sem nem ter tido a chance de alcançá-la.
— A partir de hoje, você se tornará carne da minha carne e sangue do
meu sangue — declarou o homem que se tornaria o meu marido.
Nossos olhos estavam fixos um no outro. Era como se ele sentisse

prazer em me desafiar.
A aliança foi colocada em meu dedo anelar.
Quase rosnei quando falei:
— A partir de hoje, eu me torno carne da sua carne e sangue do seu

sangue.
Eu quis chorar de pura raiva.
Eu quis trazer meu pai de volta a vida apenas para gritar com ele por
ter feito aquilo comigo.
Mas não tinha nada a ser feito.
Nada.
***
Mais tarde, eu e meus cachorros estávamos trilhando o corredor em

direção ao quarto que vinha utilizando nos últimos dias, mas parei quando
uma porta se abriu.
— Todas as suas coisas foram transferidas para cá — disse Rossi,
dando espaço num convite mudo para que eu entrasse, apesar de eu não ter
feito menção alguma. — E nem ouse complicar as coisas, porque eu sempre
venço, Maya. Sempre! — A força em seu tom me causou calafrios, e algo
que não soube explicar, mas que deixou o meio das minhas pernas, acalorado.
Droga!
Apesar de estar me sentindo derrotada — por ora — eu não o deixei

perceber. Ergui o queixo e passei por ele, que ainda estava usando o terno
branco do casamento. Aliás, eu o via constantemente com ternos brancos.
Parecia ser a sua marca registrada.
Dei alguns passos pelo quarto espaçoso, estudando o ambiente. Dei o

comando a Odin e Thor para que se deitassem na cama deles, preparada


como no quarto que estávamos antes. Depois da morte da minha mãe, o papai
me presenteou com os dois, como uma forma de amenizar o vazio que fora
deixado por ela; decidi treiná-los para que eles fossem tão bons quanto eu em
luta.
— Não se preocupe, porque irei dormir ali... — apontou para o chão,
onde havia um amontoado de cobertas e travesseiros. — Mas não desisto de
dividir o quarto com a mulher que me casei. Afinal de contas, fora destas

paredes, eu sou o capo da máfia Fratelli, e preciso manter a minha reputação.


Revirei os olhos, sem me dar ao trabalho de fingir insatisfação.
— Estou pouco me lixando para a porra da sua reputação — rosnei,
azeda. — Por mim, você e todo esse império podem explodir e...
Me calei no instante em que, subitamente, fui puxada contra uma
parede de músculos. Meus braços estavam sob a força das mãos firmes e
ásperas de Rossi.
Seus olhos frios me causaram arrepios na espinha.
— Enquanto estivermos aqui, eu não irei tocá-la — afirmou, sério,

enquanto olhava fixamente em meus olhos. — Não irei desrespeitá-la de


nenhuma forma. Não irei lhe dirigir a palavra, se isso lhe fizer feliz. Mas fora
deste quarto, eu sou o capo. Então para o seu bem... e espero que entenda o
que estou dizendo... — sibilou entre dentes —, eu espero que aja como uma

esposa digna a estar ao meu lado. Seja a mesma atriz que era perante o seu
pai.
Dizendo isso, ele me soltou e se afastou. Não tive tempo de falar nada,
porque ele foi até a porta dizendo que sairia e que só voltaria mais tarde.
Minha única reação foi bufar, indignada.
Caminhei até o closet, a fim de escolher uma peça de roupa para tirar
aquele vestido ridículo da cerimônia.
Surpresa comigo mesma, eu me peguei fuçando nas roupas do Rossi;

havia uma seleção imensa de ternos brancos. Tudo ali era muito bem
organizado e cheiroso. Não queria admitir, mas apreciava o perfume dele.
Depois de escolher a roupa que vestiria, fui ao banheiro da suíte e me
troquei rapidamente. Novamente no quarto, me joguei na cama e, em seguida,
apaguei a luz do abajur. Tudo o que minha mente queria era desligar e
esquecer, apenas por umas horas, a minha situação de merda.
***
Não fazia ideia do horário, mas acordei ao som de gemidos sofridos.
Assustada, eu me sentei, piscando para me acostumar com a fraca

iluminação. Os balbucios se tornaram ainda mais angustiantes, e então me


coloquei para fora da cama quando percebi que vinha do Rossi. Sequer me
lembrava de tê-lo visto entrar no quarto depois que dormi.
Nervosa, pensei em acordá-lo, mas fiquei com medo, já que ele parecia

estar tendo um pesadelo e daqueles bem desesperadores.


Pé por pé, eu me aproximei um pouco mais de onde ele estava
dormindo, e me ajoelhei perto do seu corpo trêmulo. Estava sem camisa, me
fazendo vislumbrar os músculos abundantes.
Os murmúrios que escapavam de sua boca eram uma mistura de choro
e súplica, mas também de raiva. Algo em meu peito se apertou, porque foi
impossível não sentir a sua dor. Era dilacerante.
De repente, meus olhos focalizaram um detalhe que quase passou

despercebido. Havia enormes cicatrizes em suas costas. Mas não eram marcas
fracas, pelo contrário, elas davam a impressão de serem um mapa de puro
terror e sofrimento.
Cobri os lábios, boquiaberta. A grossura daquelas cicatrizes me fazia
crer que foram criadas há anos.
— Quem fez isso com você? — questionei baixinho, mas para mim
mesma.
Incapaz de me conter, eu estiquei a mão e toquei a pele rosada das suas
costas. Dei um gritinho de susto quando Rossi abriu os olhos e, num

rompante, se virou e me jogou no chão. Arquejei, assim que me vi abaixo


dele tendo minhas mãos no alto da cabeça.
Odin e Thor se alteraram na mesma hora, ao me verem numa situação
de perigo, mas eu dei o comando:

— Não! Senta!
Rossi me encarava fixamente. Nossas respirações estavam
descompassadas. Vi que seus olhos estavam atormentados e vazios.
Segurei a respiração no instante em que ele inclinou a cabeça para
baixo.
— Nunca mais toque em minhas costas — rugiu contra o meu rosto. —
Nunca!
Em seguida, saiu de cima de mim, tropeçando em seus próprios pés

como se estivesse desnorteado.


Me ajeitei sob os cotovelos, ainda sentindo os efeitos do que acabou de
acontecer entre nós. Mais uma vez, ele não me deixou argumentar nada,
porque deixou o quarto batendo a porta com força.
Mordi os lábios, pensativa sobre tudo aquilo. Era mais do que certo,
que o meu marido guardava segredos.
E eu estava mais do que disposta a desvendar cada um deles, para
assim, poder barganhar sobre a minha liberdade.
Capítulo 1
Maya
O dia amanheceu, e assim que abri meus olhos tive a triste infelicidade
de descobrir que sim, eu tinha me tornado a esposa de um homem que não
conhecia. Um homem que não amava.
Tinha que engolir toda a dor pela perda do meu pai, e continuar
seguindo em frente. Precisava ir em busca da minha carta de alforria.
E para isso acontecer, eu tinha que me infiltrar na minha mais nova
família para ir descobrindo as rachaduras.

Com isso em mente, joguei meus pés para fora da cama e me


espreguicei. Uma rápida olhada no chão, onde meu querido marido preparou
sua cama, me fez perceber que tudo já estava organizado. Nem mesmo notei
quando ele esteve ali. Essa percepção me deixou furiosa. Uma pessoa
dormindo se tornava muito vulnerável.
Sem querer, me recordei do momento estranho que houve pela
madrugada. Ficou mais do que claro que Rossi carregava traumas dolorosos.
Longos minutos mais tarde, me analisei no espelho. Optei por um
vestidinho bem curto, apenas para provocar a ira do meu amado e, em

seguida, trilhei o caminho até a porta chamando meus cães para me


acompanharem.
Eu não ia a nenhum lugar sem eles desde que se tornaram meus.
Odin e Thor eram o meu coração fora do peito.

Assim que abri a porta, espiei o lado de fora e encontrei o corredor


totalmente vazio e silencioso.
Respirando fundo, saí do quarto e comecei a explorar a casa. Não que
todo aquele requinte me deslumbrasse, porque meu pai também possuía uma
boa estabilidade financeira graças aos seus negócios criminosos, mas tinha
que concordar que a mansão do Rossi era sensacional.
Desci as escadas, escaneando ao meu redor, atenta a tudo quanto fosse
ruído. Eu não confiava em ninguém.

Não confiava naquelas pessoas.


De repente, parei nos degraus quando uma bela mulher cruzou o hall e
se deparou comigo ali. O primeiro detalhe que chamou a minha atenção de
imediato foi suas roupas; eram de couro. Os cabelos curtos estavam presos
num rabo de cavalo bem apertado. Não havia dúvidas de que ela era uma
lutadora.
Só restava saber se melhor do que eu.
— Ora, ora... — cruzou os braços, dando alguns passos até estar mais
próxima da escada. — Então resolveu sair do quarto? — perguntou com

ironia.
— Espero que isso não seja um problema — fui sarcástica pela força
do hábito.
Sua risada me pegou de surpresa.

— Problema? — Ergueu as sobrancelhas. — Nenhum! Apenas se


decidir invadir o meu espaço. — Apontou para um corredor que ficava nos
fundos das escadas. — Porque lá, eu sou a mestre. Das lutas e das armas —
acrescentou. — Você teria que ter a minha autorização para entrar, e isso só
com um embate.
Desci os últimos degraus, ficando cara a cara com ela. Havia um brilho
divertido em seus olhos.
— O que vai acontecer se eu não acatar? — desafiei, adorando aquela

sensação de adrenalina percorrendo cada uma das minhas células.


Meus cães se colocaram ao meu lado, prontos para me defender.
A mulher soberana sorriu quando desviou o olhar para encarar Odin e
Thor.
— Acho que você não vai querer descobrir... — soou enigmática.
Depois disso, se afastou, ainda exalando aquele sorriso provocativo.
Peguei-me rindo junto, porque acabei gostando dela.
Éramos iguais.
Sacudindo a cabeça, massageei a pelagem dos meus cães e, em

seguida, voltei à exploração da casa.


No caminho, fui parada pela governanta, que avisou que o café logo
seria servido. Mas dispensei, porque não tinha o hábito de comer ou beber tão
cedo pela manhã.

Estava com intenção de visitar o lado de fora da casa, mas acabei


passando por uma sala de porta toda entalhada. Odin e Thor logo farejaram o
cheiro de alguém conhecido ali... certamente era o escritório do Rossi.
Pensei em ignorar e continuar seguindo meu caminho, já que o máximo
de distância que tomasse desse infeliz melhor seria para a minha sanidade
mental, mas algo chamou a minha atenção. Ou melhor, uma conversa.
Não pensei duas vezes antes de meter a mão na maçaneta da porta e
girar para abri-la. Todos os pares de olhos se voltaram em minha direção.

— Que porra é essa, psicopata? — gritou o irmão que eu conhecia


como sendo o Manuele. — O Billy não chegou a te ensinar boas maneiras? É
muita falta de educação entrar em lugares sem ser convidada.
— Vocês estão falando sobre os negócios do meu falecido pai, então
tenho todo o direito de estar aqui — sibilei, sentindo meus cães me
escoltarem.
— Por que esses sacos de pulgas precisam estar em todos os lugares
que você vai, garota? — perguntou o mais novo.
Meus olhos faiscaram de raiva.

— Como você se chama mesmo, criança? — zombei dele, que fechou


a cara na mesma hora.
— Não tem nenhuma criança aqui, cazzo! — rosnou, todo marrento. —
Sou capaz de fazer qualquer mulher ver estrelas.

— Já chega, Luca! — Mariano alertou, sombrio.


Revirei os olhos.
— Eu não me importo com as idiotas que aceitam você na cama delas,
garoto, porque isso não me interessa — murmurei, rangendo os dentes. — Só
não ouse destratar os meus cães. Odin e Thor fazem parte do pacote. —
Gesticulei para mim mesma.
— Odin e Thor? — repetiu o outro que eu não havia conhecido. —
Cazzo, já gostei dessa garota! — Piscou e, em seguida, encarou o Rossi, que

era o único que continuava em silêncio.


Mariano se colocou em minha frente, cobrindo minha visão do meu
amado marido.
— Maya, querida... — começou ele, usando um tom manso — Sei que
toda a sua vida mudou da noite para o dia, e que está sendo bem doloroso,
mas... — pausou, coçando a garganta ‫ —ؙ‬Há questões que as mulheres não
podem se intrometer. Entende?
Pisquei algumas vezes.
— Não! — respondi, sem pestanejar. — Não aceito ser rotulada como

uma inútil apenas pelo que tenho entre as pernas. Vocês estavam discutindo
algo sobre o meu falecido pai, e eu exijo participar da conversa.
— Você não exige nada aqui, sua...
— Calado, Manuele! — rugiu a voz de trovão. Não gostava de admitir,

mas a maneira como Rossi me encarava me deixava com uma sensação


estranha de vulnerabilidade. — Quero todos fora. Agora!
O silêncio reinou absoluto na sala, e, surpreendentemente, um a um
deixou o cômodo.
Assim que a porta se fechou atrás de mim, eu senti a necessidade de
respirar profundamente, mas não o fiz.
Jamais demonstraria fraqueza na frente dele.
— O que falei sobre me respeitar fora do nosso quarto?

Franzi a testa, incomodada pela forma como me encarava.


— Não vejo como falta de respeito querer fazer parte das reuniões e...
— EU SOU O CAPO, CAZZO! — gritou, batendo na mesa e me
fazendo pular de susto.
Recuperei-me rapidamente e marchei até estar de frente a sua mesa.
— Não ouse me tratar como se eu fosse um dos seus soldados de
merda. — Apontei o dedo em sua direção, pouco me lixando por estar o
desrespeitando. — Você não é a porra do meu dono para gritar comigo e nem
para me dar ordens.

Odin e Thor cercaram a mesa, prontos para o embate.


Eu podia ouvir seus dentes rangerem.
— Ah, eu sou sim, querida — zombou. — Estamos presos um ao
outro. Para sempre!

Arrepios me tomaram por completo.


Espantando a sensação estranha, indaguei:
— O que está acontecendo com os negócios do meu falecido pai,
afinal? O que há de errado? — Ele não disse nada, ao invés disso se jogou
para trás, tranquilamente. — Eu tenho o direito de saber — rugi.
— Fui nomeado o tutor dos negócios do Billy, então, tecnicamente, sou
o único responsável pela sua herança — respondeu, soberbo.
— Isto não existe — revidei. — Sou uma mulher adulta. Completei 21

anos, então já posso responder legalmente.


Sua risada me pegou de surpresa.
— Não seja ingênua, minha querida — comentou. — Você sabe muito
bem que dentro da máfia, as leis são outras. — Apesar de, basicamente, ter
aprendido o idioma italiano desde criança, às vezes, eu tinha dificuldade em
entender o que eles diziam por conta do forte sotaque.
Bufei, furiosa.
Virei em meus calcanhares, ansiando deixar a sala antes que cometesse
uma loucura, mas fui parada por sua voz:

— Alguém está sabotando os negócios. — Me voltei para ele,


interessada em mais detalhes. — Contratos sendo desfeitos; compras sendo
canceladas; portas sendo fechadas — explicou.
— Que estranho. — Cruzei os braços, pensativa. — Eu não me lembro

do meu pai tendo inimigos em potencial.


— Também acreditava que não, mas a realidade é outra — disse ele. —
Num primeiro momento, pensei que fosse algo sendo refletido da minha
organização, visto que estamos enfrentando uma guerra há meses, mas depois
cheguei a conclusão que não. São ataques direcionados aos negócios do Billy.
Mordi os lábios, preocupada.
— E o que nós vamos fazer?
Novamente riu, mas dessa vez jogando a cabeça para trás.

— Nós? — respondeu, sarcástico. — Eu poderia listar algumas opções,


mas não tenho certeza se você iria aprovar... — a conotação sexual ficou
nítida em sua voz.
— Pois tente! — Cerrei os punhos ao lado do meu corpo. — Você
estará no chão antes mesmo de chegar a sentir o meu cheiro.
Ele se inclinou, encarando-me com aqueles olhos de falcão.
— Tire os seus cães do caminho — ordenou. — Irei mostrar que sou
capaz de dobrá-la bem aqui... — bateu sobre o tampo da mesa.
O sangue em minhas veias ferveu. Não entendi se de raiva pela audácia

do infeliz, ou se de pura excitação pela promessa velada.


— Odin! Thor! — chamei. — Fica!
No instante seguinte, observei Rossi se levantando, sem tirar os olhos
dos meus. A tensão que se instalou começou a me sufocar, porque era uma

atmosfera puramente sexual.


Não queria ter que admitir, mas estava excitada.
Muito excitada.
Ele mal se aproximou, e eu ergui minha perna na sua frente, deixando-
a em linha reta. Seus olhos se desviaram para o meio das minhas pernas, que
ficou exposto, já que eu estava de vestido. Vi seus lábios formarem um bico
de apreciação pela visão.
— Isso já é golpe baixo — reclamou, tarando a minha calcinha.

Aproveitando da sua distração, girei o corpo com a intenção de usar o


impulso do giro para atingir-lhe o rosto com o meu pé, mas o golpe não surtiu
efeito, visto que Rossi barrou a minha perna.
Na mesma hora, usei o punho para lhe acertar um murro no rosto, o
que o deixou zonzo por alguns instantes. Me afastei, e iniciei uma sequência
de golpes — socos e chutes — mas o desgraçado conseguia barrar todos eles.
E o pior... não revidava.
— Revida, porra! — exclamei. — Eu não sou de porcelana!
Mal terminei de falar, e num movimento abrupto, ele segurou meus

braços e forçou meu corpo sobre a mesa. Meu vestido curto se ergueu, então
fiquei com o traseiro empinado, enquanto sentia a pressão do seu corpo em
minhas nádegas. Mesmo não querendo, minha pele reagia à proximidade com
ele.

— Me solta — rugi, odiando estar sob o seu jugo.


— Eu não deveria gostar dessa sua rebeldia, Maya, mas puta que pariu,
garota... — arquejei quando o senti esfregar-se contra meu traseiro. — Já
estou nos imaginando quebrando cada um dos infinitos cômodos desta
mansão... — se inclinou, apenas para passar a língua em meu pescoço.
De repente — enquanto minha mente ainda estava lenta — fui virada
de modo a ficar de frente para ele. Suas mãos enrolaram-se em minha cintura
e ele me puxou.

Não o toquei.
Mantive minhas mãos pressionadas na beirada da mesa.
— Um jantar — falei de supetão, fazendo-o me encarar sem entender.
Eu estava tão desnorteada com a nossa proximidade, que tudo o que pensei
foi em mudar o foco para ter tempo de reorganizar meus pensamentos. —
Marque um jantar para os aliados e associados do meu pai.
— Um jantar?
— Nada melhor do que uma recepção desse tipo para estreitar os laços
e, deixar claro as novas diligências e regras — expliquei. — Tenho certeza de

que os traidores ficarão estremecidos. Eu ficaria.


Empurrei seu corpo, ansiando a minha liberdade de volta.
Ajustei o meu vestido, ainda sob o olhar quente.
— Acho melhor colocar um gelo aí. — Apontei para sua boca, onde

estava inchado e avermelhado. — Ou os seus irmãos fodões vão pensar que


você apanhou da sua mulher.
Dei risada, antes de me virar chamando os meus cães.
Mas antes de ir, eu pude jurar ter tido o vislumbre de um sorriso no
canto dos lábios dele.
Capítulo 2
Rossi
— Você já contou pra ela?
Desviei os olhos dos documentos que estava analisando em minha
mesa, para poder encarar o Mariano. Estávamos em meu escritório.
— Contar o quê?
Vi quando seus olhos reviraram levemente.
— Não se faça de bobo, Rossi — alertou. — Maya não é como as
outras. Ela viu as cicatrizes em suas costas, e aposto que vai querer investigar

o motivo.
Na mesma hora, travei o meu maxilar, nervoso com a mera
possibilidade.
A verdade é que na ocasião, quando Maya ameaçou me tocar naquele
momento tão vulnerável meu — depois do maldito pesadelo — eu fiquei
assustado como nunca. Esse era um lado obscuro.
Um lado em que eu permitia a derrota me engolir e me mastigar com
todos os seus dentes grandes e feios.
Ninguém, além dos meus irmãos, sabia o que eu fazia na masmorra,

além de torturar os meus inimigos.


— Não é porque ela viu, que sou obrigado a contar alguma coisa —
revidei, incomodado. — Essa garota mal chegou e já está me causando
problemas com o fato de querer meter o narizinho onde não deve.

Sua gargalhada me deixou ainda mais irritado.


— Não finja que não está gostando — murmurou, cínico. — Maya se
tornou um desafio para você.
Sorrindo, abandonei a papelada e me joguei com tudo para trás, no
encosto da minha cadeira.
— Estou pensando em algo para castigá-la por ter me desafiado aqui,
mais cedo. — Cocei meu queixo, pensativo. Sem controlar, senti a excitação
me dominando apenas com a lembrança do nosso embate. Meus olhos se

fixaram no tampo da mesa, onde a prensei enquanto sentia a sua bundinha


empinada contra o meu pau. Porra!
Garota dos infernos!
— Tire os cães dela — opinou.
Sacudi a cabeça.
— Não, não — neguei com veemência. — Eles são a família dela.
Mariano suspirou, sentando-se em uma das cadeiras de frente para a
mesa.
— Tem razão. Seria cruel demais.

Travei o maxilar, tentando encontrar uma ideia.


De repente, alguém bateu na porta. Dispersei os meus pensamentos na
mesma hora.
— Entre — ordenei.

Manuele entrou.
— Boa noite — saudou, exalando uma felicidade que não existia antes
de a doce Beatrice entrar em sua vida.
— Alguma novidade? — intimei. Mais cedo, ele tinha ficado de se
reunir com o Angel.
— Eu quem pergunto — disse, apontando para meu rosto. — Que
merda é essa na tua boca? Andou levando porrada de alguém?
Mariano deu risada, o que chamou a atenção do seu gêmeo.

— Não?! — exclamou, incrédulo. — Vai dizer que... — se calou, rindo


descaradamente.
A porta foi rompida outra vez, mas dessa vez por Fillipo, que entrou
sendo seguido por Luca.
— Qual é a graça? — Luca quis saber.
— O Rossi apanhou da psicopata. — Manuele respondeu, entre risos.
Revirei os olhos, sentindo-me chacota.
A risada foi unânime.
— Há-há-há — murmurei, azedo. — Acho que já deu para a piada da

noite, hun? — Eles me encararam, zombeteiros.


— Foi mal, Rossi, mas estou tentando imaginar toda a cena aqui —
Fillipo argumentou. — Ela, literalmente, soltou os cachorros em você, então.
Novamente a risada foi geral.

Não me aguentei e ri também, contagiado por eles.


Depois de alguns instantes, Manuele comentou:
— Eu não sei qual a sua estratégia para dobrar essa garota, irmão, mas
precisa colocar em prática, ou terá problemas — alertou. — Maya precisa
saber o lugar dela. Precisa aprender a respeitá-lo, capo.
Travei o maxilar, absorvendo e analisando as suas palavras.
Ele estava certo, não havia como negar. Mas eu não precisava de
ninguém se metendo na minha vida particular.

— Como foi a conversa com o Angel? — mudei de assunto.


— Produtiva — respondeu. — Aceitou todos os termos para trabalhar
conosco, entretanto exigiu uma única condição.
— Já falei que odeio esse cara, né?! — Luca, praticamente, latiu. —
Sempre cheio de exigências. Por que não acabamos com ele de uma vez?
— Porque não temos condições de arcar com as consequências se
provocarmos mais alarde sobre nós — rugi. — Isso apenas pioraria a nossa
luta contra os Shadows.
— Mas e as informações que conseguimos? — insistiu.

— Elas serão usadas — respondi. — Mas com as pessoas certas, e na


hora certa.
Revirou os olhos.
— O que ele exigiu, afinal? — Mariano perguntou.

— Alejandro tinha sequestrado a irmã dele — explicou Manuele,


nervoso. Meu peito sufocou na mesma hora. — Angel sempre acreditou que
ela ainda poderia estar viva, e lutou para encontrar o paradeiro dela.
— Por isso, ele precisava do maldito — Mariano comentou. —
Alejandro saberia dizer para onde a mandou.
— Mas ele não soube dizer — Manuele lamentou. — Antes de morrer,
ele só disse que vendeu a garota para um turco. Não garantiu se ela estava
viva ou morta.

— O que houve com o maldito? — sibilei, entre dentes.


Minha mente ferveu, enquanto tudo o que sabia fazer era relembrar dos
meus malditos fantasmas. Minha boca se enchia de água apenas por me
recordar dos dias que mantive Alejandro em cativeiro. Nada do que eu fiz ou
tivesse feito com ele amenizaria a dor constante em meu peito, mas era um
alimento a mais para a fúria presente em mim.
— Alejandro teve o fim que mereceu — disse apenas.
— Como? — rosnei, encarando-o com intensidade. — Preciso saber
como foi.

— Por quê? Pra quê isso?


— Porque você o tirou de mim, Manuele — disse entre dentes. —
Você não me permitiu acabar com o infeliz da maneira como eu queria. Você
arrancou de mim o meu brinquedo tão aguardado. Então sim, eu quero

detalhes. Quero poder me deleitar com a história do fim de um dos


responsáveis pela tortura a nossa irmã.
Ninguém falou mais nada.
Instantes depois, suspirando, Manuele tomou um dos assentos e, em
seguida, acendeu um cigarro.
Fechei os olhos, inspirando profundamente quando meu irmão
começou a narrar tudo. Eu me sentia vingado.
Contudo, isso em nada melhorava aquela sensação de dor.

A verdade é que eu não fui capaz de proteger a Bianca. Não fui bom o
suficiente para mantê-la segura.
***
Como sempre acontecia, eu fui guiado ao santuário pelo lindo som do
piano. Desde a primeira vez que ouvi a Beatrice tocar, me senti sendo
transportado para uma época de paz interior. Uma época em que tudo o que
eu precisava ser era o irmão mais velho.
O protetor de todos eles.
No canto da sala, eu assistia a beleza da cena. Minha mente traidora

não me permitia enxergar a Beatrice ali, mas sim a minha irmãzinha.


O meu anjinho.
Bianca jamais seria esquecida. Eu jamais me sentiria totalmente
vingado, porque no fundo, era como se eu também fizesse parte dos culpados,

já que não a protegi o suficiente.


Que espécie de irmão mais velho não consegue garantir a segurança
dos seus?
Na época em que meu pai faleceu e eu fui nomeado o novo líder da
família, tudo o que eu ansiava fazer era trazê-lo de volta a vida apenas para
não ter que assumir uma responsabilidade que não tinha certeza se
conseguiria dar conta. Era fácil simular uma fachada de homem frio e
impiedoso, mas no fundo... eu apenas queria ser perdoado.

Eu queria poder pedir perdão a minha doce princesinha por não ter
conseguido impedir o que fizeram com ela.
— Rossi? — Pisquei, me deparando com o rosto delicado da mulher do
meu irmão. — Você está bem?
Respirei fundo, colocando as mãos nos bolsos da minha calça social.
— Por que não estaria? — revidei, não querendo demonstrar nenhuma
emoção.
Fazendo uma careta, ela se levantou do banco e caminhou até onde eu
estava, próximo a vidraça.

— Não sei — disse ela. — Você está sempre com cara de poucos
amigos, mas agora, enquanto eu estava tocando, eu o senti mais distante do
que o normal.
Sorri, sem mostrar os dentes.

— Foi impressão sua, querida — menti, porque não desejava carregá-la


com meus tormentos. — Eu gosto muito de ouvi-la tocar.
De repente, ela enfiou a mão no bolso do blazer que usava, e retirou de
lá um pequeno saquinho de veludo.
— O que é isso? — perguntei, curioso.
Ela abriu e o virou de boca para baixo, amparando o conteúdo com a
palma da sua mão.
— Eu pedi a permissão do Manuele para comprar um presente a você,

pois você salvou a minha vida. Duas vezes.


Franzi a testa.
— Não fiz isso por mérito — deixei claro. — Você é da família.
Seu sorriso lindo me fez querer desviar os olhos.
Honestamente, eu não me sentia merecedor de nada. Quando ela foi
raptada tudo o que minha mente conseguiu pensar foi numa forma de resgatá-
la; e de não permitir que a mesma história se repetisse.
— Esta aqui é uma pedra chamada Chrysoprase — mencionou, me
estendendo um cordão com a tal pedra como pingente. — Ela abre e ativa o

chakra do coração, permitindo que a energia flua para ele. Ao enviar energias
divinas para esse chakra, ela te preenche com o amor universal e o auxilia a
amar plenamente. A chrysoprase é a pedra da graça e compaixão que
promove o otimismo, diversão e o contentamento. Ela te encoraja a aceitar

mais quem você é, ao banir seus sentimentos de superioridade ou...


inferioridade. — Seus olhos se fixaram nos meus. — Sei que você acredita
que não é capaz de amar, por algo ruim que se instalou dentro do seu coração,
mas eu tenho certeza de que está errado. Está enganado, Rossi.
Meus batimentos cardíacos se tornaram ensurdecedores enquanto todo
o meu subconsciente esforçava-se para absorver e entender aquelas palavras.
Apertei aquela pedra em minha mão e, em seguida, passei pela Beatrice feito
um furacão rumando para a porta da sala.

Eu precisava me refugiar.
Precisava encontrar o alívio que somente uma coisa seria capaz de me
dar.
***
Eu não fazia ideia do horário quando entrei no quarto que vinha
dividindo com a Maya. A luz estava apagada, mas ainda podia enxergar a
bela mulher adormecida entre os lençóis de seda.
Freei os passos quando ouvi o rosnado dos seus cães. A presença deles
já não me incomodava tanto, apesar de ser obvio que eles me odiavam tanto

quanto a dona deles.


— Você me proibiu de sair do quarto — soou a voz sonolenta atrás de
mim. Olhei para Maya, que já estava sentada. — Mandou atirarem nos meus
cães se eu os incitasse a atacar os seus seguranças.

— Se espera que eu negue, isso não vai acontecer.


Seu rosnado me fez rir. Era gostosa a sensação de provocá-la.
— Por que está fazendo isso? Quer provar a sua autoridade sobre mim,
é isso?
— Quero que saiba o seu lugar — respondi. — Eu sou o capo desta
família, e querendo ou não, mesmo não gostando, você deve me respeitar.
Assim como respeitava o seu pai — declarei, firme. — E enquanto não
aceitar a sua nova realidade, o seu acesso ficará restrito a apenas este quarto.

Como uma leoa, ela marchou até mim, mas consegui segurar os seus
pulsos antes que me atingissem. Entretanto, ela conseguiu utilizar os pés, e
com o auxílio dos cães, logo eu estava no chão, com o seu corpo sobre o meu.
Suas unhas pressionaram o meu pescoço, bem em minha jugular.
— Eu deveria matá-lo aqui e agora — sibilou com rancor. — Odeio
você. Odeio esta casa. Odeio a sua família.
De repente, se inclinou, para sussurrar bem perto dos meus lábios.
— Eu.odeio.você — repetiu pausadamente.
Subitamente, eu segurei a sua cabeça com minhas duas mãos.

— O sentimento é recíproco, querida — rugi, em revolta.


No instante seguinte, movido por um sentimento novo, eu colei meus
lábios nos seus. Minha língua saiu para brincar, exigindo espaço no calor da
sua boca, que surpreendentemente se abriu para me aceitar. O suspiro que

escapou dos seus lábios foi o suficiente para me encorajar a continuar.


Eu não era um homem inexperiente, obviamente, mas jamais senti
tanto tesão por uma mulher antes.
Talvez fosse pela maneira como ela me desafiava.
Não sabia. A única coisa clara ali era o evidente desejo que me corroia
como a um maldito ácido.
Nossas bocas passaram a se devorar como se nunca fosse o bastante.
Agindo por instinto, eu nos virei trocando a posição; agora era eu a

estar por cima; eu a estar no controle.


Não havia um único som, além dos nossos gemidos.
Mas algo aconteceu...
Maya parou de me beijar de repente.
Abri os olhos e afastei a cabeça para poder encará-la. Seu olhar estava
em suas mãos... sujas de sangue.
A realidade me atingiu.
Como se tivesse cometido um crime, eu pulei para longe, saindo de
cima dela. Fiquei tão envolvido em nosso momento quente, que não percebi

que ela tocou em minhas costas...


— Mas... — gaguejou, confusa — Isso é...? Você está ferido...?
Pisquei, sentindo-me estranho.
O ar ameaçou deixar os meus pulmões.

— Rossi? — insistiu enquanto eu me levantava. — Rossi, por favor,


deixe-me ajudá-lo.
Não respondi.
Não tinha o que dizer.
Fui ao closet e peguei uma peça de roupa, fazendo uma nota mental de
nunca mais subir da masmorra sem tomar um banho antes.
— Ei... — bruscamente, eu me virei e agarrei o seu pulso. — Ai —
reclamou, fazendo uma careta de dor.

Rapidamente a soltei, sentindo-me um estúpido por tê-la ferido, mesmo


sem querer.
— Não é nada — sibilei. — É assunto meu apenas.
Dizendo isso, eu passei por ela como uma bala de canhão, seguindo em
direção ao banheiro. Certamente sabia que passaria mais uma noite em claro.
Capítulo 3
Maya
Quatro dias trancada.
Quatro dias sendo impedida de sair do quarto.
Eu não deveria me surpreender com esse inferno, porque já sabia que
seria exatamente isso que me aguardava quando soube desse casamento.
Antes de morrer, papai deixou claro que eu não teria escolha. Aliás, dentro da
máfia a mulher nunca tinha uma escolha.
Jogada na cama, fechei os olhos buscando calma e ideias para me livrar

dessa realidade. Por diversas vezes, eu quis pegar todas as roupas do meu
digníssimo e jogar para Odin e Thor dormirem, mas confesso que não quis
inflamar ainda mais a ira do homem.
No fundo, a minha irritação maior vinha do fato de me pegar
relembrando do beijo roubado; foi ridícula a maneira como o meu corpo
reagiu a ele.
Ridícula a forma como os meus lábios ainda pareciam estar dormentes
como se sentissem o toque e o gosto dele.
Sentei-me na cama, furiosa comigo mesma.

Odin e Thor sentiram a minha inquietação, pois se tornaram alertas.


— Está tudo bem, meus amores. — Estiquei o braço e toquei a
pelagem dos dois, considerando que dormiam ao lado da cama. — A mamãe
está bem.

Instantes depois, alguém bateu na porta.


— Pode entrar — falei, apesar da desconfiança.
Uma linda garota colocou a cabeça para dentro. Era loira e jovem.
Havia uma aura de pura delicadeza pairando sobre ela.
— Oi! — exclamou, entrando e fechando a porta atrás de si. — Talvez
você já tenha me visto perambulando vez ou outra por aqui, mas nunca nos
apresentamos formalmente. — Chegou mais perto, sorrindo amavelmente. —
Eu me chamo Beatrice, sou a esposa do Manuele.

— O insuportável? — perguntei.
— Hã? — Seu rosto se contorceu em confusão.
Sacudi a cabeça, achando graça, mas concordando que seria melhor
esconder dela que chutei, literalmente, o nariz do seu marido.
— Esqueça o que eu disse. — Apertei sua mão e, em seguida, a puxei
para um abraço. — É um prazer conhecê-la. Você já deve saber, mas eu me
chamo Maya.
Nos sentamos na cama, lado a lado.
— Eu nunca tive uma amiga — mencionei de repente, enquanto

observava a garota acariciando a cabeça de Odin. — Você também mora


aqui?
Beatrice negou.
— Venho de vez em quando apenas. Gosto de tocar piano no santuário

dos irmãos — revelou.


— Santuário dos irmãos? — Foi minha vez de ficar confusa.
— É — confirmou. — Um lugar especial para eles.
— Por quê?
Ela piscou.
— Tenho certeza de que o Rossi vai te contar a história um dia.
Fiz uma careta.
— Se não percebeu, eu estou presa aqui — gesticulei. — Então é óbvio

que eu e ele não nos damos bem — fui rude sem querer. — Desculpa.
— Tudo bem. — Deu de ombros, sorrindo. — Você parece ser bem
teimosa, assim como ele. — Havia um brilho divertido em seus olhos claros.
— Não sou teimosa — contrapus. — Eu só não aceito receber ordens.
— Infelizmente dentro da máfia, nós mulheres, somos erroneamente
taxadas como o sexo frágil. Quando conheci o meu marido, eu vinha de uma
história familiar de abuso frequente.
— Sério? — Estava chocada, e solidária ao seu trauma.
— Sim. Mas fui salva.

Apertei suas mãos, aliviada por ela.


— Você pode pensar que foi jogada na cova dos leões, Maya, mas não
faz ideia do homem incrível com quem se casou. — Franzi a testa, não
entendendo o seu tom enigmático. Suas bochechas ruborizaram, o que me fez

entender que a minha desconfiança ficou visível, porque ela acrescentou: —


Oh, não estou falando nesse sentido, céus! O único homem na minha vida é o
Manuele. Nunca houve outro.
— Então como pode afirmar isso sobre o Rossi?
— Ele salvou a minha vida duas vezes — respondeu. — Colocou-se
em perigo, apenas para me trazer de volta ao seu irmão. — Sorriu como se
estivesse se lembrando. — Ele não acredita que tem um bom coração; não
acredita que também é merecedor de amor e de cuidado.

— E você espera que eu faça isso? — Arqueei as sobrancelhas,


achando toda aquela conversa uma perda de tempo.
— Não — afirmou. — Apenas estou dizendo o que sinto. O casamento
é seu, então você deve saber o que é melhor.
Mordi os lábios, pensativa. Não queria parar pra pensar sobre nada do
que ela estivesse dizendo.
— Está casada há bastante tempo? — perguntei.
O lindo rosto se acendeu na mesma hora.
— Sim — disse. — Mês passado, eu comecei a fazer faculdade.

— Oh. — Minha boca se abriu em espanto.


Quis respondê-la sobre o assunto, mas alguém bateu na porta, nos
interrompendo.
A garota imponente e provocativa de dias atrás se fez presente.

— Temos que ir, querida — alertou ela, usando um tom doce para a
minha mais nova amiga.
Me perguntei o que havia de errado comigo para merecer o seu
sarcasmo.
— Tudo bem, Paola — disse Beatrice, se colocando de pé.
— Por que vai obedecê-la? Você não precisa ir.
Beatrice fez uma expressão fofa.
— Não é questão de obedecer ou de não obedecer, Maya —

argumentou —, mas de saber quando respeitar uma decisão. Ou de


compreender uma situação.
Pisquei, analisando e absorvendo as suas palavras.
Assim que a porta foi aberta, eu rumei em direção a elas, mas fui
barrada pela tal Paola.
— Opa, opa... — esticou o braço, freando os meus passos. — Você
ainda não está liberada para sair, querida. Sinto muito.
Rangi os dentes e cerrei os punhos.
— Você sente? — Ironia escorria do meu tom. — Não seja mentirosa.

Você e todos os outros estão adorando ver-me aqui, presa como a um animal.
— Então por que não experimenta deixar de agir como um? — Foi
extremamente dura.
Dizendo isso, ela simplesmente se afastou dando lugar aos seguranças

novamente.
Fechei a cara para eles e, em seguida, bati a porta com força.
Tentei segurar, mas as lágrimas embaçaram a minha visão fazendo-me
consciente de toda a pressão que se acumulou em meus ombros nos últimos
dias.
Não queria ter que suportar tudo sozinha
Era um fardo pesado demais.
***

Não sabia que horas eram quando Rossi entrou no quarto, usando o seu
rotineiro terno branco. Mal nos falávamos desde que aconteceu aquela
situação estranha do beijo. Na ocasião, eu quis ajudá-lo, mas porque percebi
que estava ferido. Faria isso por qualquer outra pessoa.
Sentei-me na cama e fiquei observando, em silêncio, enquanto ele
remexia em seu closet.
— Qual o seu problema? — Veio a pergunta dele, pegando-me
desprevenida.
— Por que está perguntando isso? Não falei nada.

Sua risada fez minha pele vibrar. Era um som poderoso.


— Por isso mesmo. Nos últimos dias, você vem enchendo a minha
cabeça com seus xingamentos por eu estar mantendo você aqui. Mas agora
está aí... Toda silenciosa... — De repente, ele me encarou. Os olhos

semicerrados em minha direção como uma águia. — Mostre as mãos —


exigiu, desconfiado.
Não aguentei e ri com vontade.
— É sério isso? Está com medo de mim? — questionei entre risos,
zombando dele.
— Pode rir — murmurou, incomodado. — Só eu sei o inferno que é
estar casado com uma mulher incompreensível.
— Não sou incompreensível — defendi-me, enxugando o canto dos

olhos por conta do ataque de riso. — Em minha defesa, eu digo: experimente


ser forçado a fazer algo que não queira.
Ele ficou mudo.
Aproveitei e me levantei da cama. Com passos indecisos e lentos, eu
fui até ele parando a centímetros do seu enorme corpo.
— Afinal, o que está aprontando, Maya?
— Você venceu. — Deixei os ombros caírem. — Prometo respeitar
você fora deste quarto. Saberei respeitar o meu lugar. Saberei a hora de falar
e a hora de ficar quieta.

— Está falando sério? Ou é uma brincadeira?


Senti-me quase ofendida.
— Claro que estou falando sério! Eu prometo que irei respeitá-lo.
Os lindos olhos verdes brilharam num tom selvagem.

— E aqui dentro? — quis saber, dando um passo mais perto.


— O que tem? — Dei um passo para trás, desconfiada e já
pressentindo que algo estava prestes a acontecer.
— Continuará sendo arredia, ou irá ceder o desejo crescente entre nós?
Num movimento súbito, ele me pegou pela cintura e girou meu corpo
de modo a colar minhas costas em seu peitoral.
— Não há nada crescendo aqui... — soprei, sem fôlego.
— Eu sou obrigado a discordar da sua afirmação, querida — insinuou,

enquanto cutucava o seu evidente desejo contra as minhas nádegas, trazendo


um rubor às minhas bochechas.
Eu era virgem, obviamente, mas nunca fui puritana ao ponto de não me
interessar pelos assuntos. Então eu entendia tudo sobre o sexo.
— Você sabe que posso me livrar do seu agarre facilmente, né? —
indaguei, incapaz de impor a força necessária em minha voz.
Novamente ouvi a sua risada, mas dessa vez bem próxima ao meu
ouvido, o que piorou o meu estado emocional.
Arquejei no instante em que a mão que estava em minha cintura

desceu, embrenhando-se por dentro do short curto que eu usava.


— Eu sei que é capaz de me afastar, querida... — lambeu meu pescoço,
seguido da minha orelha —, mas você não quer fazer isso.
Fechei os olhos, deixando a minha cabeça tombar e apoiar em seu

ombro, enquanto dava livre acesso ao meu pescoço.


Mordi os lábios com força para evitar o grito que quis escapar quando
Rossi avançou por dentro da minha calcinha.
Foi surreal aquela sensação.
Inexplicável.
A habilidade que ele tinha era tão assustadora quanto a maneira como
eu estava completamente rendida.
Seus lábios estavam em meu pescoço, lambendo minha pele quente e

suada como se fosse o melhor dos manjares.


Seus dedos reivindicando um lugar nunca explorado.
Eu queria empurrá-lo para longe.
Queria socar a cara linda dele.
Mas a verdade é que uma das qualidades que eu mais apreciava em
mim mesma era a honestidade com os meus próprios sentimentos e, vontades.
E eu o queria ali...
Queria as suas mãos em meu corpo desde a primeira vez que tive um
pequeno gostinho do que ele podia me fazer sentir.

Respirando com dificuldade, eu comecei a ficar assustada com a


intensidade do que acontecia na região sul do meu corpo. O calor aumentou.
Os espasmos se tornaram mais fortes e mais intensos.
— Liberte-se, minha leoa — soprou ele, sedutoramente, mordendo o

meu maxilar.
Estávamos tão conectados, que eu era capaz de sentir as suas vibrações.
Quando eu explodi em mil pedacinhos, fui segurada por ele, que
inspirou meu cheiro como a um viciado enquanto eu só sabia balbuciar
palavras desconexas.
Jamais tinha sentido algo do tipo.
Ainda sem conseguir sequer raciocinar, visualizei o momento em que
Rossi retirou os dedos encharcados de dentro da minha calcinha e os levou

aos lábios.
Afastei a cabeça para poder encarar toda aquela cena devassa. Apenas
o olhar safado dele, saboreando os próprios dedos, já bastou para me deixar
ensandecida.
Foi automático.
Simplesmente me virei de frente e avancei os lábios nos seus como
uma esfomeada. Não deveria, eu sei, mas foi mais forte do que pude suportar.
Com facilidade, Rossi me ergueu de modo a enrolar minhas pernas em
sua cintura.

Sem controlar, eu mordi seu lábio inferior sentindo o gosto de sangue


em minha língua. Ele fez o mesmo comigo.
— Aí! — reclamei, desacreditada. — Seu bruto.
Rindo, ele me jogou na cama e veio pra cima de mim.

— Só estou seguindo o seu ritmo, querida — declarou, aproximando o


rosto do meu. Sua língua saiu e lambeu meus lábios cheios. — Seja carinhosa
e, eu saberei ser carinhoso.
Aproveitando da sua distração, eu consegui nos rolar para ficar por
cima.
Minhas mãos arrastaram-se pelo seu peitoral. Podia sentir todos os
gominhos dos seus músculos sob meus dedos.
— Eu quero que você me deixe estudar — falei de repente. — Se a

Beatrice pode, eu também posso.


— Não, você não pode — rosnou, fechando a cara. A névoa de luxúria
se dissipou na mesma hora. — Era disso que se tratava o tempo todo?
Tirou-me de cima dele com agressividade.
— O quê? — Senti-me mal, mesmo tentando me manter firme. —
Claro que não! Acha que o deixar me tocar intimamente foi uma forma de
conseguir favores seus?
De pé, ele me encarou com aquele olhar superior que eu odiava.
O homem quente, de instantes atrás, já não existia mais.

— Não sei, me diz você.


— Mas é claro que não! — exclamei numa mistura de fúria e mágoa.
— Segure os seus cães — sibilou, assim que Odin e Thor começaram a
rosnar para ele.

— Odin! Thor! Fica.


Ignorando-me, Rossi voltou a revirar algo em seu closet, mas foi rápido
dessa vez.
— Você está livre para andar pela casa, desde que não me desrespeite
na frente dos demais — avisou, sem me olhar.
Rumou até a porta do banheiro, mas eu fui atrás e o parei.
— Então é assim? Você me ofende e quer sair de fininho?
Segurando o meu queixo, ele foi ainda mais duro:

— Não, querida, eu fiz você gozar nos meus dedos. Só isso.


Nunca me senti tão insignificante.
Mesmo depois que ele entrou no banheiro, eu continuei ali... Parada no
mesmo lugar, sem saber o que podia ser pior:
O fato de eu tê-lo permitido ir tão longe, ou eu ter gostado de como ele
me tocou.
Capítulo 4
Rossi
Passei longos minutos no banho, deixando a água fria levar consigo
toda a sensação de calor causada pela mistura de raiva e excitação. Mesmo
debaixo da ducha do chuveiro, eu ainda podia sentir o cheiro da Maya em
mim, em minha pele e em meus dedos. Nunca fiquei tão excitado.
Entretanto, a frustração ganhou a mesma proporção.
Ela era uma peste. Uma mulher que eu não sabia lidar, isso era um fato.
A verdade é que desde a minha mãe e a Bianca, a única mulher com

quem aprendi a conviver foi a Beatrice, o qual, eu criei um laço fraternal.


Não deveria ser tão difícil.
Olhei para baixo, para meu pau em riste. Tocar Maya apenas inflamou
o desejo que já vinha me corroendo desde a primeira vez que coloquei meus
olhos sobre ela. A garota era o oposto do que deveria ser a mulher de um
capo poderoso como eu.
Ela era desafiadora.
Manipuladora.
Provocadora.

Contudo, lá estava o meu pau... mais duro do que nunca apenas pelo
fato de não saber o que esperar. Maya era uma caixinha de surpresas, e era
isso que deixava tudo ainda mais excitante.
Saí do banheiro, já vestido. Maya estava encolhida na cama, com o

rosto coberto pelos cabelos negros. O som dos soluços estava audível,
fazendo algo em meu peito doer. Não tive a intenção de magoá-la, apesar da
frustração de toda a situação.
O fato é que eu não saber lidar com ela, e todas as suas nuances me
deixava confuso.
Muito confuso.
Abri a boca para falar, mas hesitei. Quando pensei em me aproximar da
cama, o rosnado dos seus cães me fez parar imediatamente.

Entendi o recado e recuei os passos, rumando em direção à porta de


saída.
Não precisava passar a noite ouvindo o choro de uma mulher.
***
O dia mal amanheceu e eu já estava agitado por causa de uma ligação
do Daniel Duran, do clube MC Lobos.
— O que ele falou afinal? — Mariano quis saber. Estávamos
acomodados em uma das salas de jantar para o café da manhã.
— Disse que um grupo de gangsteres atacou um dos nossos depósitos

na região de Austin, Texas — respondi. — Tencionavam roubar.


— Ainda não entendi a relevância. — Deu de ombros.
Servi-me com uma xícara fumegante de café.
— Daniel disse que todos tinham tatuagens.

— Shadows. — Mariano praticamente rosnou, entendendo o que eu


estava tentando dizer. — Malditos!
Mordi o maxilar, incapaz de controlar a fúria que atingia cada um dos
meus poros sempre que essa escória era mencionada. Há dez anos, nós
caçamos cada um deles para destruí-los, e conseguimos quando eu, enfim,
estourei a cabeça do líder.
— Mas ele está mantendo um como prisioneiro — complementei. —
Daniel está trazendo-o para cá. — Sorri, maquiavélico. — Mal posso esperar

para brincar com o meu mais novo bichinho enquanto tento extorquir
informações. — Praticamente espumei pela boca.
Mariano riu.
— Você não pode — mencionou. — Hoje é a noite da confraternização
com os negociantes do falecido Billy — lembrou-me.
Bufei, impaciente.
— Porra! — exclamei. — Não sei o porquê fui dar ouvidos para aquela
garota. Esse jantar vai ser uma total perda de tempo — desabafei.
— Não acho isso — apaziguou ele. — Concordo com ela quando disse

que esta pode ser uma boa oportunidade para descobrirmos quem realmente
vai querer continuar a negociar agora que nós tomamos a frente da
organização que foi do Billy.
Ponderei.

— Todos aceitaram comparecer ao jantar?


— Dos cinquenta nomes da lista, dois decidiram apenas em cima da
hora — respondeu.
Assenti, pensativo.
— Avise ao Fillipo e ao Luca — murmurei. — Eles irão comigo.
Meu subchefe sacudiu a cabeça.
Neste instante, nós ouvimos o som de passos; a figura da minha
digníssima esposa logo se fez presente.

— Oh, finalmente saiu do castigo? — Mariano parecia surpreso,


olhando dela para mim.
Inconscientemente, todo o meu corpo reagiu à presença dela,
relembrando as carícias que compartilhamos há poucas horas.
Fiquei esperando alguma resposta atrevida da parte dela, mas o que
ouvi saindo da sua boca me deixou chocado:
— Felizmente, o meu marido foi muito bondoso em me conceder o
perdão pelo meu atrevimento do outro dia — disse, parando ao lado da
cadeira e juntando as mãos na frente do corpo. — A partir de hoje, eu saberei

agradecer essa dádiva, e me tornarei a esposa perfeita para um capo assim...


— seus olhos brilharam nos meus — tão poderoso.
Meu pau ganhou vida na mesma hora. Foi impossível não me excitar
pela provocação contida por trás de suas palavras cínicas.

— Você está bem? — Veio a pergunta do Mariano, enquanto tocava a


testa dela com as costas da mão direita.
— Muito bem! — exclamou ela. — Obrigada por perguntar. — Sorriu.
Em seguida, ela me encarou.
Mariano também olhou para mim, sem entender.
— Você pode se sentar, querida. — Gesticulei, sorrindo para ela, que
deixou escapar um resquício de cinismo nos olhos.
— Caralho, isso aqui está sinistro demais! — Mariano comentou,

jogando as mãos ao ar e se afastando da mesa. — Vou trabalhar que eu ganho


mais.
— Qualquer novidade do Daniel, eu quero saber — gritei antes de ele
se afastar completamente.
Não ouvi sua resposta.
No instante seguinte, meu olhar se voltou para a garota na minha
frente. A selvageria estava ali... visível aos meus olhos.
— Como me saí, marido? — perguntou, sarcástica. — Minha atuação
foi do seu agrado, querido?

Ela estava com raiva; eu podia sentir.


— Se espera um pedido de desculpas meu, esqueça — avisei. — Não
obriguei você a nada ontem.
— Não obrigou de fato — reconheceu. — Mas depois agiu como se eu

fosse uma mulher sem valor — rugiu. — Eu já entendi que você é um


homem que gosta de impor a sua autoridade, Rossi, entretanto ainda não
sabia que, no fundo, escondia esse lado.
Franzi o cenho.
— Que lado? Do que está falando, mulher?
— Do seu ceticismo — respondeu, enfiando um pedaço de pão na boca
carnuda. Jogou-se para trás, fazendo meus olhos descerem para seus seios de
mamilos durinhos. — Realmente acredita que o deixei me tocar apenas

porque quero que você me dê autorização para estudar? — Sacudiu a cabeça.


Levantei-me, ajeitando o meu paletó branco. Todos os meus sentidos
estavam em alerta.
Parei ao lado de sua cadeira e me inclinei de modo a cochichar em seu
ouvido. O perfume que emanou de sua pele e de seus cabelos negros me fez
querer devorá-la ali mesmo.
— Então por que não experimenta me contar a sua versão da história,
minha querida esposa? — pedi, não resistindo à tentação de morder o lóbulo
da sua orelha. O gemidinho que ela soltou foi tão sexy que senti meu pau

pulsando.
— Porque não acho justo que você não saiba — revidou. — É
inadmissível um homem como você não saber.
— Não saber o quê? — indaguei, confuso.

Uma mistura de emoções tomou conta de seu rosto, dificultando a


minha leitura da sua expressão.
— Odin! Thor! — gritou ela, me fazendo pular para longe.
Os cães se colocaram ao seu lado, como guardiões.
Irritado, rangi os dentes também, sentindo a frustração me dominando
por completo.
Eu era um homem temido por muitos.
Mas não conseguia lidar com a minha própria mulher, nem mesmo

entendê-la.
— Prepare-se, porque viajaremos para Nova York dentro de algumas
horas — declarei, frio, mascarando qualquer emoção visível.
— Com que propósito? Se é que posso saber. — Rolou os olhos.
Sorri com cinismo.
— Digamos que eu e você serviremos de isca para um bando de
cobras, querida. — Não escondi o tom de diversão. — Espero que esteja
preparada para atuar um pouco mais. No jantar, você não será lembrada como
a órfã do Billy, mas como a esposa do capo da máfia Fratelli.

— Não se preocupe — garantiu. — Não o envergonharei se esse é o


seu medo. — Voltou a revirar os olhos.
— Sei que não — resmunguei, me encaminhando para fora da sala —
Você é esperta o bastante para saber com quem está mexendo — deixei a

ameaça no ar.
***
Fazia alguns longos minutos desde que as portas da mansão do velho
Billy se abriram para receber os associados e aliados da organização. A todo
o momento, eu olhava para as escadas, ansioso para ver a Maya. Quando
chegamos à Nova York, horas atrás, ela simplesmente subiu ao andar de cima
feito uma bala de canhão; parecia nostálgica. Não a impedi. Eu, mais do que
ninguém, conhecia a dor da saudade.

— Vejo que o velho Johnson soube escolher bem o braço para cuidar
do seu território — comentou um homem calvo em seu forte sotaque
americano, aproximando-se de mim. — O poderoso capo Rossi Ricci da
máfia Fratelli tem uma reputação invejável. A escuridão te precede, devo
admitir.
Entornei o líquido da minha taça, sentindo o delicioso ardor causado
pelo conhaque.
— É bom saber que tenho uma boa fama pelo submundo. — Ergui a
taça para ele, num cumprimento. — Assim consigo expulsar os traidores.

Os olhos claros semicerraram.


— Está insinuando que há traidores por aqui? — Gesticulou.
— Por favor, caro amigo Federico — chamei-o pelo nome, porque
havia estudado o perfil de cada um que trabalhava com o Billy —, não finja

que não está sabendo da sabotagem nos negócios desta organização. —


Encarei-o com desconfiança.
— Não nego que tenha ouvido os boatos, apesar de não fazer parte da
lista dos traidores — alegou na defensiva. — Eu sempre respeitei o velho
Billy e a aliança que tínhamos.
Mordi o maxilar.
— Espero que o respeito continue, agora que eu estarei à frente de
tudo.

— E a preciosa herdeira? — insinuou, fazendo o meu sangue ferver nas


veias.
Não medi a fúria que me apossou quando peguei o homem franzino
pelo colarinho.
— Maya se tornou a minha esposa — rugi, encarando o rosto
apavorado. — A filha do velho Billy agora usa o meu sobrenome. Ela é
minha, entendeu? Ou vou precisar usar uma lâmina para desenhar isso nessa
sua cara murcha?
Meu pequeno show, obviamente chamou a atenção dos demais

convidados, porque todos pararam para assistir.


Luca se aproximou, enquanto Fillipo conversava com o pessoal para
tentar apaziguar o clima tenso.
Arrastando-me para longe do homem idiota, Luca cochichou:

— Acho melhor guardar o seu ciúme para mais tarde, irmão...


— Que ciúme? — cortei suas palavras, irritado com algo que eu nem
mesmo sabia.
Bufou, impaciente.
— Argh! Que seja! — rosnou. — O que estou tentando dizer é que não
temos tempo para isso agora — alertou.
— O que foi? — Vi-me focado assim que notei a seriedade em seu
tom.

— Recebemos informações de que alguém espalhou explosivos dentro


da mansão — confidenciou, fazendo os meus olhos se arregalarem. Olhei ao
redor, estudando cada um dos rostos enquanto meu irmão continuava falando:
— Enzo e a nossa equipe estão fazendo uma intensa varredura em todos os
cantos. E mandamos chamar um especialista neste tipo de material.
— Vou dar um fim neste jantar agora mesmo e... — meu irmão
segurou a minha mão, que já ia avançando dentro do meu paletó para pegar a
pistola.
— Não podemos alertá-los sobre isso — disse ele, impedindo-me. — O

traidor está entre nós, isso é um fato. Mas se fazermos um estardalhaço antes
da hora poderá colocar todos nós em risco. Entendeu? — Me encarou, me
dando tempo para analisar suas palavras.
Meu maxilar tiquetaqueou.

Pensei em respondê-lo, mas a minha atenção foi desviada sem que eu


pudesse controlar, assim que meu corpo sentiu a presença da minha pequena
leoa.
Ela estava parada no alto das escadas, olhando para baixo com certo
temor. De onde eu estava, pude notar que ela parecia estar procurando por
algo, ou por alguém...
Quando nossos olhares se conectaram, eu soube... ela queria a mim.
Caminhei até parar nos primeiros degraus, esticando o braço para poder

amparar a linda garota. O vestido em tom azul ia até a altura dos joelhos e,
totalmente isento de decote. Os cabelos escuros escorriam, soltos por seus
ombros; e os olhos azuis evidenciados pela maquiagem suave e simples.
Magnífica. Ela conseguiu ficar ainda mais magnífica.
Tentei não demonstrar o meu desejo e admiração, mas foi quase
impossível.
— O que foi, marido? Por acaso eu não fiz a escolha certa de vestuário
para estar à altura do grande capo? — soprou, audaciosa como sempre.
Quis rir, mas engoli, porque precisava manter as aparências.

— Você se atrasou — rosnei, enlaçando o seu braço no meu. — Não


foi um bom começo — complementei, rude.
Dizendo isso, eu nos virei.
Havia muitos abutres, ansiosos para discutir os novos termos para os

negócios dali por diante.


— Eu posso ser boa com armas e com os meus punhos, mas ainda sou
uma mulher — revidou ela, incapaz de não ter a última palavra. — Mulheres
sempre se atrasam para se arrumar. Você deveria me elogiar. Deveria dizer
que estou bonita ao invés de agir com rispidez, seu grosso!
Não aguentei a risada que escapou dos meus lábios. Entretanto, não
tive tempo de comentar nada, pois logo fomos parados por curiosos.
— Minhas mais sinceras condolências, minha querida — disse o

homem conhecido por Antonio. Ele era o responsável por intermediar as


negociações com os chineses. — Billy era um homem de valor.
Maya apenas abaixou a cabeça.
— Obrigada.
— Precisamos discutir os novos termos, caro amigo — direcionou sua
atenção para mim. — Vou adorar trabalhar diretamente com os Fratelli.
Assenti com a cabeça, satisfeito com suas palavras bem colocadas.
Os minutos seguintes foram preenchidos com conversas proveitosas,
apesar de toda a minha inquietação interna cada vez que meus olhos se

conectavam com os dos meus irmãos. Estávamos agindo contra o relógio ali.
— O que há com você, afinal? — Maya quis saber, cochichando em
meu ouvido. Seu perfume me inebriou.
— Nada — resmunguei.

Estávamos afastados dos demais, então ela aproveitou para insistir ao


seu estilo “desafiadora”:
— Não me venha com essa, porque sei que tem alguma coisa errada.
Você está mentindo — ralhou. — Você e seus irmãos se encaram a cada
minuto, e a movimentação de todos os seguranças está bem suspeita também.
Tem alguma coisa acontecendo aqui e, eu quero saber.
Por um instante, eu pensei em continuar negando, mas já tinha
percebido que de nada adiantaria, considerando que minha amada esposa era

teimosa demais para engolir uma resposta qualquer.


— A mansão foi sabotada — falei, tomando o cuidado de não deixar
ninguém ouvir. — Alguém colocou explosivos, e estamos tentando descobrir
a identidade do meliante.
— Oh, meu Deus! — exclamou, cobrindo a boca com a mão. O pânico
invadiu seus lindos olhos. — Rossi, nós podemos morrer!
— Ninguém vai morrer, não seja ridícula! — sibilei, sem paciência
para chiliques. — Só precisamos encontrar uma maneira de entreter a todos
eles, de modo a deixar o culpado confiante para sair de fininho sem querer

chamar a atenção. Obviamente que ele não vai querer estar aqui quando
apertar o detonador.
Maya piscou algumas vezes.
— Eu tenho uma ideia, mas você terá que me ajudar — disse de

repente.
Minha testa ganhou alguns vincos.
— Do que está falando? — questionei.
Ela parou um dos funcionários, que perambulava pelo salão servindo
bebidas e petiscos, cochichou algo no ouvido dele, que assentiu e, em
seguida, falou com alguém através do sistema de comunicação em seu
ouvido.
Voltando a se aproximar de mim, ela espalmou o meu peito e encarou-

me nos olhos. A intensidade deles sempre me enfraquecia, porque eu sentia


que ela queria descobrir mais do que eu queria mostrar.
— Vamos dar um show a eles, marido — soprou, antes de segurar a
minha mão e esticá-la ao lado do corpo, enquanto a outra ajeitava a minha em
sua cintura. — Espero que saiba dançar Tango. — Piscou, marota.
Arqueei as sobrancelhas, mas não pude evitar o calor da adrenalina que
se espalhou por cada célula do meu corpo.
Pensei em recusar, mas nunca fui um homem de fugir de um bom
desafio... ainda mais sendo um tão quente e... sensual.
Capítulo 5
Maya
Honestamente, eu nunca me senti tão audaciosa em toda a minha vida.
Era certo o quanto o meu digníssimo marido me deixava ensandecida com
facilidade, considerando que ele parecia ter o nítido interesse em me domar.
Mas ele também conseguia me inebriar com toda essa aura negra e
enigmática. Suas palavras, na noite anterior, ainda martelavam em minha
mente, ferindo-me pelo significado da sua acusação descabida. Jamais o
deixaria me tocar apenas por ansiar a sua permissão para estudar. Entretanto,

não foi difícil concluir que Rossi era um homem traumatizado. A garota
Beatrice tinha comentado que ele, apesar de todo o peso do cargo que
exercia, carregava um enorme sentimento de inferioridade. Talvez fosse por
isso o fato de pensar tão mal da minha atitude.
Olhos nos olhos, nós nos encarávamos de perto ali. Posicionei-me um
pouco à sua direita. Nossos corpos estavam em contato; os joelhos
ligeiramente comprimidos e os pés juntaram-se verticalmente, ou seja, a
ponta do pé direito estava junto à parte interna do pé esquerdo.
Minha respiração tornou-se ruidosa sem que eu pudesse controlar.

Rossi levantou a sua mão esquerda e envolveu o seu braço direito ao


meu redor, posicionando sua mão em minhas costas, centrada levemente
abaixo das espátulas. Eu então levantei minha mão direita ao encontro da sua
esquerda e coloquei o braço esquerdo em volta dele, com a mão no meio das

suas costas também.


A música começou fazendo todos os meus poros vibrarem de pura
empolgação. Com um ritmo de cerca de 120 batidas por minuto, os sons
típicos do Tango são compostos por uma pequena orquestra de violino, piano,
guitarra, flauta e bandoneón — uma espécie de concertina que pode muito
bem ser a alma desta música.
O tango, dançado de perto, é o ombro esquerdo que conduz, enquanto o
resto do corpo se mantém ligeiramente inclinado. Os passos são bastante

fáceis de pegar, considerando que aprendi a algum tempo nas aulas de dança;
o mais difícil era conseguir manter a postura rígida que desencadeia os
movimentos intensos, dramáticos e muitas vezes arrastados.
Enquanto me via sendo conduzida pelo Rossi, eu sentia que precisava
ter calma para apenas seguir a onda; sentir o peso dele. Precisava sentir para
onde ele estava indo. Sentir onde ele estava "entre" os movimentos para
equilibrar-me com eles.
— Uau! — exclamei, quando em um movimento ousado, ele segurou e
ergueu minha perna, prendendo-a em seu quadril. — Dançando desse jeito,

eu vou acabar pensando que você quer me impressionar, marido — zombei,


num esforço falho para não o deixar perceber o quanto eu estava excitada.
Seus lábios se distenderam num sorriso sexy.
— Você acha, querida?

Dizendo isso, ele ficou direcionado para a lateral comigo. Com dois
passos lentos para a direita e, imediatamente depois do segundo passo — e
antes do terceiro, ele girou o meu torso para a esquerda. Então, concluiu o
movimento indo para frente.
— Na maioria das formas de tango, a mulher faz a maior parte do
trabalho sujo — comentei, utilizando as mãos para passeá-las em seu rosto
conforme o ritmo exigia.
De repente, ele incrementou, deixando-me ainda mais impressionada.

Rossi se virou em minha direção em 180 graus num passo rápido e, os


passos seguintes foram feitos cruzando os pés.
Éramos um par de predadores ali que, através da dança, procurávamos
captar e prender o outro. Era uma espécie de tortura dançante que começava e
acabava nos olhares fixados um no outro…
Mãos bobas...
Beijos quase roubados...
Olhares e sussurros...
Aromas e fungadas...

Quando a música acabou, Rossi me lançou no ar e, eu finalizei o passo


deslizando uma das pernas no chão.
Podíamos ouvir os aplausos, mas na realidade, nós estávamos presos
um no outro. Presos na névoa da luxúria que parecia nos chamar com uma

força sobre-humana.
Ajeitei-me, ainda agarrada a ele, captando o seu olhar no meu e, louca
para colar nossas bocas ali... na frente de todos aqueles idiotas bajuladores.
— Você me quer — declarou ele, num tom de voz carregado.
Sorri, mordendo os lábios em seguida. Senti-me feliz por ele,
finalmente ter percebido. Ter entendido.
Não respondi, e apenas sacudi a cabeça.
Sem que eu estivesse preparada, Rossi me lançou longe quando

disparos de tiros soaram perto de nós dois.


Pisquei, arrastando-me no chão, e tentando entender o que acontecia ao
meu redor.
Com o tumulto, eu consegui me levantar e me afastar por entre as
pessoas. Desde o instante em que chegamos à mansão em que nasci, eu notei
diversos funcionários diferentes dentre os que eu conhecia. Podia ser uma
simples troca de trabalhadores, visto que meu pai morreu e as coisas
mudaram, mas algo estalou em minha mente e me fez ficar alerta.
Mesmo em meio ao caos, eu enxerguei o vulto de uma figura muito

suspeita se esgueirando por uma porta que levaria ao labirinto do subsolo.


Peguei o meu apito ultrassônico — preso numa corrente em meu
pescoço — e chamei Odin e Thor.
Corri, concentrada e, completamente focada em chegar até o homem

que vi tentando fugir.


Assim que atingi a parte com pouca iluminação, eu fui atingida no
rosto por alguém. Era um homem, que vestia um dos uniformes dos
funcionários da casa. O punho se ergueu outra vez, mas eu já estava
preparada e consegui desviar, enquanto me abaixava e o socava na barriga.
A pistola brilhou em sua mão, mas Odin chegou a tempo e o atacou,
derrubando-o e rasgando a sua jugular com os dentes. Thor seguiu na frente,
atingindo outro alvo.

Peguei duas adagas dos corpos no chão, e fui seguindo e atacando


quem ousasse se atravessar em meu caminho.
A minha meta era uma só: Alcançar o homem que eu vi... que tentou
matar o meu povo.
Odin e Thor cercaram alguém, que estava se mantendo na escuridão.
Precavida, eu parei, mas sem baixar à guarda.
— Apareça e lute, seu covarde — rosnei entre dentes. — Ou os meus
cães farão picadinhos de você — ameacei.
A risada que ecoou pelo lugar, fez os meus pelos se arrepiarem.

— Estou surpreso com você, pequena Maya — soou a voz grave. O ar


ameaçou escapar dos meus pulmões assim que o desconhecido saiu do
escuro. O rosto dele parecia ter sido queimado, porque a pele era toda
retorcida de um lado. — Se tornou uma guerreira voraz... irmã.

Meus olhos se arregalaram e meu peito sufocou com suas palavras.


— O-o que disse? — gaguejei, incrédula, sentindo as minhas pernas
amolecerem.
Não tive reação. Nem mesmo quando ele escapou.
Chamei meus cães e, em seguida, eu caí, fraca demais emocionalmente
para continuar de pé.
Não demorou muito para eu começar a ouvir o som de passos. A voz
do Rossi me fez gritar:

— Aqui! Eu estou aqui.


Instantes depois, ele chegou até mim, ajoelhando-se e me acolhendo
em seus braços fortes.
— Estou bem, eu juro — cochichei, mas secretamente me sentindo
aliviada por estar nos braços dele.
Afastando o meu rosto, observei que seus olhos se anuviaram ao
encarar o canto dos meus lábios. Gemi quando os seus dedos tocaram a pele
dolorida.
— Você foi ferida — soou como um rosnado. — O que houve? Quem

fez isso com você?


Levantou-se, parecendo furioso comigo ou consigo mesmo, não deu
para entender.
Pegou a arma e disparou para o alto algumas vezes, fazendo-me pular

de susto. Foram cinco disparos ao todo, enquanto gritava aos quatro cantos:
— VOCÊ É UMA MULHER TÃO... TÃO... ARGH! — berrou. De
repente, se virou para mim, apontando o dedo com ferocidade: — Por que
saiu correndo se achando uma ninja, caralho?! Você poderia estar morta
agora, sabia? Morta!
Quando ele estava com raiva, o seu sotaque italiano se intensificava.
Tentei segurar, mas foi quase impossível controlar a enxurrada de
lágrimas que se aglomerou em meus olhos.

Eu estava assustada.
Estava confusa.
— E-eu... sinto muito — gemi, fazendo um beicinho. — Por favor, m-
me desculpe...
Como se eu houvesse o desarmado, o homem imponente deixou os
ombros caírem, assim como sua postura feroz. Voltou para perto de mim e,
sem nenhuma dificuldade, me pegou em seus braços e me ergueu.
— Está tudo bem — soprou, enquanto eu me aninhava em seu peito
quente e apertava o seu pescoço com meus braços. — Eu achei você, querida.

Achei você.
Não falei nada.
Apenas fiquei concentrada em absorver o seu cuidado e o seu calor,
enquanto os meus pensamentos me presenteavam com a imagem do homem

que afirmava ser o... meu irmão...?


Capítulo 6
Rossi
Tudo dentro e fora de mim parecia estar fervendo de puro ódio.
— O que aconteceu? — Luca quis saber, assim que atingi as escadas
da mansão. — Ela se feriu? — O temor ficou visível em sua voz.
— Procure o Fillipo e veja o que ele descobriu — exigi, sem parar de
caminhar. — Quero todos os infiltrados reunidos para interrogação.
— Não tenho certeza se sobrou alguém — comentou ele.
Neste momento, eu parei e virei a minha cabeça para poder encarar o

meu irmão mais novo.


— Eu estou segurando a minha mulher ferida, Luca — rosnei. — Um
desses malditos filhos da puta se achou no direito de entrar aqui e colocar as
mãos sujas na garota que está carregando o meu nome. Não vou aceitar ser
subjugado dentro do meu próprio território.
— E você quer que eu faça o quê? — desabafou. — Que traga os
malditos de volta a vida?
— DÁ UM JEITO, CARALHO! — gritei, furioso.
Maya se encolheu em meus braços, o que me fez praguejar

internamente. Soltei o ar de maneira áspera e, em seguida, continuei subindo


os degraus.
Estava me sentindo extremamente frustrado comigo mesmo por ter
permitido tal falha. A verdade é que fiquei ludibriado pela dança e isso

acabou ofuscando a minha concentração ao que realmente merecia a minha


atenção redobrada. Então, quando senti a ausência da Maya durante o ataque,
um medo aterrador tomou conta do meu peito. Foi uma sensação que eu
pensei que jamais sentiria de novo. Não depois da minha irmã.
Assim que entrei no quarto dela, eu delicadamente a depositei sobre o
colchão, entre as cobertas macias e perfumadas. Todo o seu corpo frágil
estava tendo espasmos por conta dos soluços, e isso, de certa forma, me
deixou ainda mais enraivecido. Maya era tão forte e imponente que vê-la

fragilizada assim me fez sentir-me esquisito.


— Rossi... — segurou a minha mão quando ameacei deixá-la.
Meu corpo todo estremeceu. Eu ainda não tinha me acostumado com
os seus toques e a sua proximidade.
— Eu tenho que ir agora, querida — murmurei com a voz controlada.
— Preciso descobrir quem cometeu o erro de pensar que tocaria no que é
meu e ficaria impune.
— M-mas... e-eu não sou... s-sua — fez um beicinho lindo.
Suas palavras me fizeram rir um pouco.

— Consegue ser abusada mesmo estando sem condições até mesmo de


ficar de pé — revidei, voltando para perto dela, que surpreendentemente se
agarrou a mim e se aninhou em meu peito. Estava trêmula. Soltei o ar aos
poucos, esforçando-me para engolir a sensação de impotência. — O que

aconteceu antes de eu chegar ao subsolo?


Senti quando ela fungou, escondendo o rosto na dobra do meu pescoço.
Foi impossível não me arrepiar.
— E-eu estava seguindo um homem — soluçou — Odin e Thor
conseguiram encurralá-lo, mas... — se calou por um instante.
— O que houve? O que ele disse?
— Nada — respondeu. — Não aconteceu nada, Rossi, ele só...
escapou.

Estalei os lábios, praguejando baixo.


— Não se preocupe — resmunguei, me ajeitando contra a cabeceira e
trazendo Maya comigo. — Eu vou atrás desse desgraçado nem que seja no
inferno. — A promessa estava em cada palavra.
Ela não disse mais nada, e o silêncio foi a nossa companhia por longos
minutos.
— Você já teve a sensação de ter vivido uma mentira? — Veio a
pergunta abrupta. Pisquei, espantado com o questionamento estranho. —
Quero dizer... — se ajeitou melhor para poder me encarar nos olhos —

aquela sensação de que há uma enorme lacuna em sua história?


— Por que está perguntando isso?
Vi quando baixou os olhos, pensativa e um pouco tristonha.
— Não é nada — resmungou, voltando a me abraçar forte.

— Está mentindo — declarei.


— Estou.
Em outras circunstâncias, eu viraria uma fera pela audácia, mas me
peguei rindo.
Ficamos ali, abraçados e silenciosos, apenas nos alimentando do calor
um do outro.
***
— Ele não sabe de nada. — Fillipo mencionou assim que entrei no

porão. — Já chamei a nossa equipe de limpeza; a casa está limpa.


— Foi o único que sobrou? — Apontei para o homem amarrado. Fui
até a pia, a fim de lavar as minhas mãos.
— Sim — respondeu Fillipo. — Ele e outros dez estavam entre os
funcionários extras. — Já mandei investigar a empresa contratada.
— E os explosivos?
— Todos desarmados — disse Luca. — E interrogamos todos os
convidados antes de deixá-los ir. Infelizmente ninguém soube dizer nada.
Ninguém viu nada também.

Rolei os olhos.
— O instinto de sobrevivência sempre fala mais alto, irmão —
comentei. — Eu ficaria surpreso se um daqueles homens comentasse algo.
Enxugando as mãos, eu finalmente me aproximei do homem preso.

Ele, além de estar nu e com as mãos e pés amarrados, também estava


vendado.
— Boa noite — saudei, esquadrinhando a cadeira em que ele tinha sido
amarrado.
— Quem é você? — perguntou ele, aterrorizado.
A primeira coisa que percebi foi que não havia nenhuma tatuagem, o
que descartava um envolvimento da máfia Shadows.
— A pergunta aqui não é essa, mio caro — concentrei-me na figura

trêmula diante de mim. — Mas quem é você e o que pretendia fazer aqui.
— E-eu já disse que não sei de nada — falou, rápido demais. — Eu e
meus amigos fomos pagos para espalhar explosivos e... — engasgou de
repente —, nos infiltrar entre os convidados. Só isso, eu juro.
— Você jura? — indaguei, sarcástico, enquanto tentava escolher entre
as diversas opções de ferramentas de tortura para usar.
— Sim, eu juro — repetiu.
— Acontece, caro, que vocês mexeram com a pessoa errada... — me
voltei para ele e me aproximei — Quem foi o mandante? Quem está por trás

deste ataque?
— Já disse que não sei.
Afundei a faca no seu joelho e forcei para baixo, rasgando a carne. O
grito ecoou pelo lugar causando-me aquele frenesi revigorante.

— Dê-me um nome — pedi, calmo.


Nada.
Arranquei a faca, apenas para afundá-la de novo, no mesmo lugar,
porém forçando-a para o lado interno da coxa. Os gemidos que soaram foram
como música para meus ouvidos.
— Não sei se foi você, caro, mas alguém agrediu a minha esposa. —
Rangi os dentes. — E ninguém toca no que é meu e sai impune. — Tirei a
venda dos seus olhos e, em seguida, apoiei as mãos nos braços da cadeira

impondo a ele a minha presença. Meu rosto colou no seu. — Todos os seus
amigos foram mortos, mas um deles escapou. Quem foi? Dê-me um nome.
O homem estava chorando de pura dor e desespero.
— Vá... se foder, porra! — Cuspiu contra o meu rosto.
Ergui-me, rindo enquanto limpava minha pele com as costas da mão.
— Eu quero uma investigação nas imagens das câmeras de segurança
— ordenei aos meus irmãos. — E qualquer novidade que conseguirem, eu
quero saber. Vocês podem ir agora. Vou demorar aqui — avisei, colocando
um “soco inglês” entre os meus dedos.

Meus irmãos não retrucaram e, felizmente, obedeceram ao meu


comando.
Novamente cara a cara com o meu novo brinquedo, eu sorri mostrando
todos os dentes.

Dentes de alguém ansioso para devorar pedacinho por pedacinho do


infeliz.
***
— O Mariano ligou e disse que o novo hóspede já está esperando por
você na masmorra. — Fillipo comentou quando me vi entrar no escritório,
horas depois. Estava cansado e com as roupas todas sujas de sangue. — E o
Angel quer uma reunião.
— Esse cara é muito folgado — resmungou Luca. — Não gosto de

todas essas exigências para alguém que não tem muito a oferecer.
— Ele foi primordial na caçada contra o Giuseppe, e tudo isso levou a
felicidade do nosso irmão — comentei, antes de beber um longo gole de
uísque. — Então sim, nós gostamos do Angel por enquanto. — Bati o copo
na bancada.
Em seguida, me encaminhei para a porta.
— Conseguiu arrancar alguma coisa do infeliz, afinal? — Fillipo quis
saber, referindo-se ao homem sob o meu jugo, horas atrás.
Neguei com a cabeça.

— Apenas a pele dele.


Dizendo isso, eu saí de lá e segui direto para o quarto.
***
De banho tomado, eu caminhei pé por pé dentro do quarto, tomando o

cuidado para não acordar a Maya, que parecia dormir serena apesar de todo o
susto que passou.
Enquanto eu preparava a minha cama, no chão, eu notei um movimento
atrás de mim, e logo ouvi a voz sonolenta:
— Por que não dorme aqui comigo?
Por um momento, eu travei no lugar. Meu coração começou a bater
velozmente no peito.
Eu tinha medo de dormir com alguém, porque meu sono se tornou

muito atormentado depois do que aconteceu com a Bianca.


Sem olhar para ela, eu só respondi:
— Prefiro dormir aqui.
Ela não disse nada e, em seguida, apagou a luz do abajur.
Depois disso, me ajeitei entre as cobertas suspirando baixo. Estava
cansado fisicamente e emocionalmente.
De olhos fechados, me concentrei em pensamentos bons, ansiando que
o sono me dominasse por apenas algumas horas, já que eu tinha certeza de
que uma noite toda seria impossível.

De repente, escutei um barulho. Mas antes que eu pudesse reagir, a


Maya veio para o meu lado e se embrenhou entre minhas cobertas.
— O que pensa que está fazendo? — soei ríspido sem querer.
— Deitando-me ao lado do meu marido — respondeu, bocejando.

Virou-se de costas para mim e levou o meu braço em sua cintura,


aninhando-se a mim completamente. O perfume de seus cabelos e de sua pele
entranhou em minhas narinas, fazendo-me inspirar com força.
Eu estava assustado.
Estático.
Tinha medo de feri-la durante os meus pesadelos.
Contudo, lá estava eu... novamente dominado. Reforcei o aperto em
sua cintura e a puxei um pouco mais enquanto afundava o nariz em seus

cabelos macios.
O suspiro que escapou de seus lábios me fez ciente de que ela estava
bastante confortável em meus braços, e essa percepção fez o selvagem em
mim vibrar.
Coincidência ou não, o cansaço me venceu e eu dei boas-vindas à
escuridão.
Capítulo 7
Maya
Entediada e frustrada.
Essa era a mistura perfeita que me traduzia naquele momento,
enquanto voltava para Palermo no jato da família Fratelli.
Eu estava tentando não pensar nos últimos acontecimentos, visto que
ainda não sabia o que fazer a respeito. Se aquele homem realmente fosse o
meu irmão, então toda a minha vida não passava de uma mentira.
Zanzando de um lado ao outro dentro da aeronave espaçosa, eu

inspirava e expirava lutando para esvaziar a minha mente. Rossi e os irmãos


estavam trancados dentro de uma salinha conversando sabe-se lá o quê,
enquanto eu tinha que ficar de fora de assuntos que, na mente deles, não era
da conta das mulheres.
Isso me irritava grandemente, porque eu também tinha um cérebro;
podia muito bem colaborar dentro da organização. Mas no fim das contas, ali
estava eu... sozinha e deixada de fora.
— Argh! — rosnei, batendo os pés.
— Algum problema? — Pulei de susto quando a porta de uma das salas

se abriu logo atrás de mim. Virei e me deparei com Luca. — Parece


estressada. Não trouxe as agulhas para tricotar?
Semicerrei os olhos para ele, que deu risada.
— Pois eu vou te mostrar o que pretendo tricotar, seu moleque... —

marchei até ele, mas antes de conseguir alcançá-lo, eu fui agarrada por mãos
fortes. Meu corpo reconheceu o toque imediatamente.
— Opa, opa — murmurou, enquanto o idiota do seu irmão caçula
continuava rindo. — Vamos acalmar os ânimos, querida.
Rugi, tentando me livrar do aperto enquanto era arrastada para longe.
— Eu ainda vou te pegar — ameacei o Luca, que piscou para mim.
Assim que Rossi abriu a porta do quarto, ele me colocou dentro e me
deixou livre do seu agarre.

— Não vou pedir desculpas — avisei, ainda irritada. Cruzei os braços,


revoltada. — Seu irmão sempre dá um jeito de me provocar, e você sabe que
não tenho sangue de barata.
Rossi sorriu, retirando a gravata.
— Ah, eu sei sim — comentou, me encarando com um olhar malicioso.
Todo o meu corpo esquentou. Eu queria perguntar o porquê ele não estava ao
meu lado quando acordei de manhã, mas acabei ficando quieta. — Você é
uma garota bem explosiva.
Mordi os lábios, achando todo aquele clima bem excitante.

Gritei quando ele agarrou a minha cintura, grudando os nossos corpos


febris. Já não era nenhuma novidade para mim que, um lado meu adorava
manter Rossi por perto, apesar da raiva por ter sido obrigada a casar com ele.
— Você gosta de como eu o provoco — murmurei, ficando na ponta

dos pés e oferecendo os lábios para que ele beijasse.


Num rosnado que arrepiou cada pelo existente em meu corpo, Rossi
me girou. Segurando os meus braços em minhas costas, ele utilizou a própria
gravata para amarrar meus pulsos. Pensei em reclamar, mas engoli tudo no
instante em que senti sua língua molhada passear pela pele do meu pescoço
exposto.
— Sabe do que eu gosto ainda mais, querida? — perguntou ele,
lentamente me empurrando em direção à cama. — Saber que você só faz isso

para chamar a minha atenção, porque adora me deixar maluco. — Me


empurrou contra o colchão. — Adora saber que fico excitado com a maneira
como você empina esse narizinho para me desafiar... — apoiou um joelho no
colchão, enquanto arrastava uma das mãos para erguer o meu vestido,
expondo minha calcinha pequena — e o mais importante... — embrenhou os
dedos entre minhas pernas, massageando-me por cima do tecido fino da
calcinha úmida — Fica toda molhadinha para mim.
Gemi, erguendo meu quadril em direção ao seu toque.
— Rossi... — fechei os olhos, mordendo os lábios para evitar gritar —

Solte-me.
— Não — decretou, enrolando os dedos na barra da minha calcinha e
descendo o tecido pelas minhas pernas. Meu coração batia descompassado.
— Você é uma garota desobediente e não confio que não tocará em minhas

costas.
Pegando-o desprevenido, eu consegui me virar ficando com as costas
contra o colchão. Com as pernas livres, eu as envolvi em seu pescoço e forcei
sua cabeça contra a parte do meu corpo que pulsava dolorosamente.
Sua risada piorou o meu estado, porque pude sentir a vibração; e o
contato de sua barba naquele local tão sensível me fez revirar os olhos de
pura satisfação.
— Que seja, marido — remexi-me, incomodada pela sensação

esquisita entre minhas pernas. — Só faça essa dor parar — implorei. — Ou


serei capaz de quebrar o seu pescoço, querido.
— Então se prepare para gritar, minha querida — avisou.
No instante seguinte, sua boca tocou em mim fazendo-me trancar a
respiração. Meu peito passou a subir e descer freneticamente conforme a boca
do Rossi, em conjunto com seus dedos hábeis, trabalhava em sincronia
naquela parte do meu corpo, antes intocada.
Esforcei-me para manter os olhos abertos, apesar de não poder ter uma
visão privilegiada, considerando que minhas mãos estavam amarradas em

minhas costas. Gemi rouca quando Rossi manteve o rosto entre minhas
pernas, lambendo-me com sofreguidão e amassando meus seios com suas
mãos fortes e pesadas. Eu o sentia esfregar o rosto em mim, como se ansiasse
me devorar inteira. Era como se ele quisesse se fundir a mim de alguma

forma.
— Porra de boceta gostosa!
A vibração da sua voz me fez arquear as costas, colando-me ainda mais
em seu rosto. Um redemoinho começou a se formar, tocando a ponta dos
dedos dos meus pés e subindo centímetro a centímetro do meu corpo febril e,
totalmente rendido.
— Rossi... Rossi... Rossi...
As palavras se embaralharam em minha mente; eu não sabia distinguir

mais nada. Os gritos que escaparam da minha garganta foram tão altos que eu
tinha certeza de que todos dentro da aeronave ouviriam.
Como se soubesse o meu frenesi interno, Rossi acelerou os
movimentos, avançando a língua em minha abertura enquanto pressionava o
meu clitóris com o polegar. Sem controlar, todos os meus músculos se
retorceram e eu passei a tremer incontrolavelmente.
Gozei tão forte que meus olhos se reviraram nas órbitas e todo o meu
corpo se arqueou exigindo mais. Exigindo tudo.
Rossi não parou de me chupar até que eu me acalmasse.

Afrouxei o aperto das minhas pernas em seu pescoço, o que o fez


arrastar os lábios para a parte interna da minha coxa e, em seguida, trazer o
rosto para perto do meu. Eu podia sentir o meu próprio cheiro através da sua
boca carnuda.

— Muito bem, marido — consegui dizer, sorrindo.


Ele também sorriu, pressionando a boca na minha. Nossas línguas se
enroscaram, o que fez o meu desejo se acender.
De repente, ele saiu de cima de mim e me puxou para sentar-se na
cama. Rapidamente desamarrou os meus pulsos.
— Foi um prazer, querida — disse ele.
Não tive tempo de reagir, porque Rossi simplesmente se levantou e
saiu do quarto feito um furacão. Bufei, me deixando cair no colchão. Estava

satisfeita, mas também estava frustrada, porque ele não me deixou retribuir o
carinho.
***
Assim que pisamos na mansão em Palermo, o telefone do Rossi
começou a tocar e ele saiu na frente. Os irmãos o seguiram e eu fiquei para
trás. Revirando os olhos, eu tencionei seguir as escadas, mas algo chamou a
minha atenção.
Sentindo-me sapeca, eu fui para a parte de trás, curiosa com algo que
me foi dito logo quando cheguei àquela casa.

Parei em frente a uma sala que tinha uma porta enorme de madeira,
toda entalhada com símbolos de luta. Eufórica, eu estiquei a mão para abrir,
mas ela foi atingida por um chicote.
— Ai! — reclamei, pulando para me defender de outro golpe do

chicote. — Ficou louca? — questionei a Paola, que me encarava pronta para


me matar.
— Estou apenas cumprindo a promessa que fiz a você, querida —
respondeu, sorrindo com excitação. — Eu disse que você teria que provar ser
digna para entrar em minha sala. — Colocou-se em posição de luta.
Ordenei aos meus cães para que ficassem quietos e, em seguida, me
preparei para a briga, já sentindo cada uma das minhas células vibrando.
Paola veio pra cima de mim e chutou, mas bloqueei seu chute com o

meu joelho, enquanto também bloqueava seu soco com o meu antebraço.
Abaixei-me e consegui golpeá-la no estômago.
Ao me erguer, impulsionei a perna para chutar a sua costela, mas fui
pega desprevenida quando Paola segurou meu joelho e golpeou minha coxa
com o cotovelo. Gritei de dor antes de tomar uma rasteira.
Irritada, eu me levantei e marchei até ela, golpeando sua barriga com a
minha cabeça, o que a desequilibrou por alguns instantes. Em posição de
predadora, ela sorriu.
— Uau! Tem alguém aqui que se acha uma lutadora — zombou.

Em seguida, veio em minha direção.


Ergui a perna, mas ela foi bloqueada pelo seu punho direito, enquanto
o esquerdo me atingia no estômago; o próximo golpe foi um gancho de
direita em meu rosto, que me deixou zonza. Paola atingiu a minha

panturrilha, o que me fez perder o equilíbrio e facilitou para que ela me


jogasse no chão com tudo.
— Argh! — gritei, batendo ambas as mãos no chão, furiosa por estar
apanhando.
De pé, eu enxuguei o resquício de sangue dos meus lábios.
Fui pra cima dela, que ameaçou me socar, mas segurei o seu braço e,
em seguida, atingi o seu peito com um soco forte. Enrolei a mão em seu
pescoço e girei o corpo junto com o seu de modo a jogá-la no chão e chutar o

seu estômago.
Sem que eu esperasse, ela simplesmente me deu uma rasteira.
O brilho de uma das suas adagas, que acabou caindo durante a luta,
chamou a minha atenção e eu a peguei. Paola e eu erguemos os troncos, e
ambas fixamos a lâmina no pescoço uma da outra.
Estávamos respirando com dificuldade.
Eu estava com o rosto ferido, mas ela também não ficava para trás.
— Mas que porra está acontecendo aqui? — Nos separamos quando
Mariano apareceu. Os olhos dele se arregalaram quando os fixou em meu

rosto machucado. — Paola você ficou louca, mulher? — Parecia


desesperado.
— Ela ameaçou entrar na minha sala.
— E por isso decidiu estourar a cara dela?

Franzi a testa, ofendida.


— Ei! — Bati na mão dele quando quis me ajudar a levantar. — Se não
notou, eu também fiz um bom estrago na carinha bonita dela.
Paola deu risada, também se levantando.
— Rossi não vai gostar nada quando descobrir o que houve aqui —
complementou ele.
Ignorando-o, Paola caminhou até mim e estendeu a mão. Havia um
sorriso leve em seus lábios cortados.

— Boa luta, garota! — Piscou, marota. — Até a próxima.


Passou por mim, se afastando.
— Então quer dizer que...?
Parou de caminhar, mas não se dignou a me olhar.
— Você passou no teste. É bem-vinda para conhecer o meu espaço de
luta.
Dizendo isso, ela sumiu no corredor, deixando-me sozinha com o
Mariano, que sacudiu a cabeça, incrédulo.
— Você é mais maluca do que pensei — resmungou.

Semicerrei os olhos para ele.


— Por mais maluca que me achem, nunca poderão me acusar de ser
covarde com os meus sentimentos — revidei, apontando o dedo em sua
direção. — O que é o seu caso.

— Quê? Do que está falando?


— Está na cara que é doido por aquela mulher. — Gesticulei,
referindo-me a Paola. — Mas prefere ficar aí, se intrometendo onde não foi
chamado! — rugi, batendo os pés e marchando para longe dele. — Odin!
Thor! Vem!
Em minhas veias, pairava aquele calor gostoso da adrenalina que eu
tanto gostava.
Meus dias naquela casa passariam a ser bem mais interessantes.
Capítulo 8
Rossi
Eu estava sentindo tudo.
Medo.
Dor.
Desespero.
Esperança.
Eu, meu pai, meus irmãos e nossa equipe de soldados, nos separamos
para que a emboscada fosse mais bem sucedida e, assim, talvez pudéssemos

encontrar a Bianca com vida.


O único som que eu conseguia discernir com precisão era o do meu
próprio coração, que batia descompassado. Todo o meu corpo tremia,
apesar da adrenalina. Nem mesmo os malditos que eu ia eliminando no
caminho amenizavam a sensação ruim o qual havia se instalado no meu
íntimo desde o sequestro da minha irmã.
O meu anjo de luz.
— Vocês chegaram tarde — zombou um homem, que guardava a única
porta que não invadi daquele lugar maldito. — A menina foi dilacerada...

Cortei a sua garganta sem sequer esperá-lo concluir a frase.


Com a mão trêmula, eu abri a porta. O local era sujo e inóspito. A
pouca iluminação fez com que meus olhos demorassem a se adaptar.
Contudo, eu desejei não ter enxergado a cena que vi. As lágrimas que

inundaram meus olhos quando visualizei o meu pequeno anjo, nua e


pendurada por ganchos como a um animal abatido foram de pura dor e
culpa.
Não fazia ideia de como reuni forças para ir até ela, e desamarrá-la.
— Eu cheguei, meu anjinho — murmurei, me debulhando. — O mano
chegou. — Minha voz não passava de um mero engasgo.
Arranquei o meu paletó e enrolei seu corpo desfalecido.
Uma vez em meus braços, eu fui vencido pela fraqueza das minhas

pernas e, simplesmente me deixei cair.


Desabei no chão como um derrotado.
Apertando Bianca em meu peito, eu trouxe sua cabeça próxima aos
meus lábios e beijei, fechando os olhos.
— Por favor, me perdoe — choraminguei, balançando o corpo para
frente e para trás, como se estivesse a ninando. — Me perdoe, Bianca.
Seu frágil e delicado corpo foi totalmente violado.
Ali, eu gritei.
Um grito que saiu do fundo da minha alma, que se tornou escura,

porque o meu anjo foi arrancado de mim.


Minha irmã estava morta, e eu nunca conseguiria me perdoar por não
a ter protegido.
***

Acordei num sobressalto, sentindo o toque de alguém.


Pisquei, enquanto sentia o suor escorrendo pelo meu corpo todo. A
sensação do maldito pesadelo ainda estava vívida em minha pele.
— Você está bem? — soou Maya, que estava deitada ao meu lado, no
chão.
Depois daquela noite, na mansão de Nova York, ela sempre dava um
jeito de se esgueirar entre minhas cobertas para dormir comigo. Não que eu
achasse ruim, longe disso, mas a verdade é que temia machucá-la durante

pesadelos como o que acabei de ter.


Nervoso, eu me levantei.
— Não estou, mas vou ficar — respondi a sua pergunta.
— Tem certeza de que não quer conversar? — insistiu, se levantando
também. Não olhei para ela, mas podia sentir a sua preocupação. — Eu já
ouvi dizer que em casos de traumas, se abrir com alguém sempre ajuda.
Rangi os dentes.
Não queria conversar com ninguém.
Não precisava de ajuda.

— Já disse que vou ficar bem — falei, mas rude do que gostaria.
Rumei até a porta e saí, sabendo exatamente para onde deveria ir.
***
Talvez algo dentro de mim houvesse se quebrado no instante em que

abracei o corpo sem vida da minha irmã.


Talvez eu houvesse perdido totalmente o senso de justiça, porque o
que, em minha opinião, é justo, com base nas leis da máfia, nos
fatos/evidências/provas e meus valores e crenças, por mais imparcial que a
situação exija, possa ter uma sentença diferente.
Eu não era mais o mesmo, isso se tornou evidente não apenas para
mim, mas para todos a minha volta. Havia uma chama de fúria em meu
interior que nunca se apagava. Ela não cessava.

Estalei os lábios assim que abri a porta de ferro, que trancava a


masmorra. Meu segundo local favorito em todo o mundo.
O primeiro era a sala de piano, porque me trazia paz. A masmorra
servia para alimentar a minha escuridão.
Voltei a estalar os lábios e, em seguida, o meu novo cão se arrastou até
estar aos meus pés.
— Bom menino. — Me inclinei e amassei os dedos em seus cabelos,
forçando a sua cabeça para trás. — Cadê o sorriso do papai?
O homem tentou sorrir, mas não havia tantos dentes enfeitando a sua

boca arrebentada.
Rolei os olhos, impaciente.
Soltei a sua cabeça e trilhei o lugar, inquieto. Eu precisava de algo para
levar aquela sensação ruim embora.

— Já está pronto para me agradar, cão? — questionei. — Conseguiu se


lembrar do nome do homem que contratou você e o restante da sua gangue
para roubar um dos meus depósitos, em Austin?
Ele continuava parado perto da porta, o que me deixou ainda mais
irritado.
Peguei a corrente, presa na coleira em seu pescoço, e a forcei para
mim. Seu rosto se esborrachou no chão.
— E-eu... ainda estou me esforçando, senhor — gaguejou.

Olhei para ele, furioso.


— Tenho a impressão de estar perdendo tempo com você, cão —
sibilei, pegando o meu chicote. — Você não merece a minha benevolência.
Dizendo isso, eu estalei o chicote atingindo as suas pernas; fiz isso
repetidas vezes.
— Por favor, se-senhor... — choramingou —, eu sei que conseguirei
le-lembrar...
— “O papa”... — sibilei entre dentes — Diga-me quem é ele.
Voltei a erguer o braço, pronto para chicotear o meu cativo, entretanto

o som do arquejo baixo de alguém me fez frear o movimento. Meus olhos se


arregalaram no instante em que olhei para a porta e visualizei a figura
paralisada da Maya.
Na mesma hora, o chicote caiu da minha mão e, eu dei passos para trás,

piscando freneticamente. Houve um reboliço dentro do meu peito, causando-


me náuseas.
Abri a boca para falar, mas não tive tempo, pois Maya deu meia volta e
saiu da masmorra, praticamente correndo.
Sem que tivesse controle dos meus pés, eu fui atrás dela feito uma bala
de canhão.
Minutos depois, mal abri a porta do quarto e Maya já instigou os seus
cães a se colocarem em sua frente, de guarda.

Ela estava claramente com medo de mim. Essa mera percepção me


enervou ainda mais.
— Aquilo que eu vi... — de olhos fechados, sacudiu a cabeça como se
quisesse espantar as lembranças — Você é um... — me encarou com terror
espantado, porém não teve coragem de concluir o raciocínio.
Travei o maxilar, aprumando o meu corpo tenso.
— Monstro? — completei por ela, com sarcasmo. — É isso que ia
dizer? — Endureci o rosto. — Por favor, querida, não haja como se vivesse
numa utopia. — Gesticulei, incomodado com a maneira assustada como ela

estava me encarando, embora eu não transparecesse isso.


— Você... — soltou o ar —, tem um homem preso na sua masmorra.
— Sim, eu tenho — concordei. — Não foi uma miragem.
— UM SER HUMANO ESTÁ ACORRENTADO NAQUELE

LUGAR COMO SE FOSSE UM ANIMAL — berrou, com lágrimas nos


olhos. — Eu nunca vou me esquecer daquela cena. Nunca!
A maldita imagem da Bianca invadiu a minha mente, e eu rugi
também:
— Talvez eu ainda não tenha dito isso... — virei às costas, mas parei,
com a mão na maçaneta. Sem encará-la, eu disse: — Mas... seja bem-vinda
ao meu inferno, minha querida.
Capítulo 9
Maya
— O que há de errado com você? — Paola quis saber, enquanto eu
erguia o joelho e, junto com o meu bastão, bloqueava o golpe dela.
— Nada — respondi num rosnado.
Impulsionando o corpo, eu fui pra cima dela, que se abaixou e me
atingiu na perna.
— Você está mentindo — declarou, resfolegante.
Furiosa, eu girei meu corpo no ar e tencionei atingi-la, juntamente com

o bastão, mas Paola foi mais ágil e conseguiu escapar. Não me preparei para
o seu próximo golpe, que me derrubou de cara no chão. Ao me virar, Paola
pressionou o bastão contra o meu pescoço, freando os meus movimentos.
— O que houve? — insistiu em tom duro.
Irritada, eu me sentei, sentindo toda a frustração me dominando por
inteiro. A última semana foi uma tortura, porque nada que eu fizesse era
capaz de me fazer esquecer a cena que vi na masmorra da mansão.
— Eu já disse que estou bem — resmunguei, me levantando.
Paola pegou nossos bastões e foi até o armário próprio para guardá-los.

Nós treinávamos todos os dias na parte da manhã. Salvo os dias que ela
precisava sair para alguma missão secreta.
— Você pode estar tudo, menos, bem — revidou. — Sei do seu
potencial de luta, porém, ultimamente, seus reflexos estão mais lentos. Você

está muito dispersa. Aconteceu alguma coisa, e você não quer me contar. É
um direito seu. — Deu de ombros.
Suspirei audivelmente, estalando os dedos e andando de um lado ao
outro. A inquietação parecia ter atingido o nível máximo dentro do meu
peito.
— Quer realmente saber o que aconteceu? — questionei, me virando
para ela, que veio em minha direção com uma garrafinha de água. Aceitei e
abri, antes de tomar um longo gole.

— Estou esperando. — Gesticulou, bebendo da sua própria água.


— Semana passada, eu segui o Rossi até uma espécie de masmorra —
comecei a contar, tendo a atenção total da morena —, e o que eu vi lá... —
fechei os olhos, sacudindo a cabeça numa tentativa de espantar a lembrança.
— O que você viu?
— Um homem sendo tratado como um animal — respondi. —
Acorrentado, magro e ferido. Aquilo foi assustador, Paola. — Tomei mais um
gole de água. —Eu não sei o que pensar. Sequer consigo encará-lo depois de
tê-lo visto agredindo covardemente aquele pobre sem chance alguma de

defesa.
Paola não disse nada.
Caminhei pelo espaço, sentindo todo o peso em meus ombros.
— E antes que me fale que a vida na máfia não é nenhum mar de rosas,

eu sei disso — argumentei. — Sei que nasci debaixo de um teto onde a


criminalidade era a base, mas... aquilo que eu presenciei... — voltei a sacudir
a cabeça. — Rossi é um homem ruim. E essa é uma verdade inquestionável.
A linda mulher continuou em silêncio, absorvendo as minhas palavras.
De repente, trilhou o espaço, chegando mais perto de onde eu estava.
— Não sei se você sabe, mas eu sou conhecida por contar histórias —
disse. Franzi a testa, sem entender aonde ela queria chegar com isso. — O
que vou contar para você agora, é uma história que mudou o equilíbrio de

toda uma família.


Não disse nada, porque no fim das contas, a minha curiosidade falou
mais alto.
Sentei-me ao seu lado, num sofá pequeno.
— Era uma vez, uma garotinha linda e cheia de vida — começou ela
— Ela era, sem dúvida alguma, a luz da casa em que vivia com os pais e
irmãos. Seu maior sonho era se tornar uma pianista famosa para encher os
corações das pessoas de amor, através da sua música. — Sorriu, mas notei
que foi um sorriso triste. — Entretanto, aos sete anos, a destruição atingiu

não somente a vida da linda garotinha, mas de toda a família. A menina foi
raptada por uma organização rival, que por pura maldade enxergou no
pequeno e frágil corpo, a oportunidade perfeita para descontar algo que não
foi feito por ela. Arrancaram não somente a sua luz e seus lindos sonhos, mas

também a sua vida. A partir deste dia, a escuridão entrou pela porta daquela
casa e nunca mais foi embora. Mesmo com o passar dos anos, a família não
se recuperou mais. A meta de vida dos irmãos era trabalhar para destruir
todos aqueles que foram responsáveis, direto ou indiretamente, pelo
sofrimento da única irmã deles.
Eu estava chocada.
— Esta história é... — engasguei — da família do Rossi?
Os olhos de Paola chisparam nos meus.

— Eu não sei. O que você acha?


Minhas sobrancelhas franziram, e eu abaixei a cabeça.
— Não faço ideia. — Mordi os lábios, remexendo os meus dedos. —
Não sei nada da história deles.
Assim que as palavras deixaram a minha boca, Paola estalou os lábios.
— Justamente — murmurou, séria. — Você não sabe. Não sabe de
nada! Não conhece o motivo por trás das atitudes de ninguém. Não sabe que
o homem que está sendo mantido refém na masmorra, é membro de uma
maldita facção conhecida por raptar garotinhas como a da história que acabei

de contar. Então para mim, aquele lixo merece todas as atrocidades possíveis.
Arquejei, boquiaberta.
Paola se levantou.
— O treinamento acabou — avisou, de costas.

Em seguida, se afastou, e logo deixou a sala.


Fiquei ali, absorvendo o que foi falado, e analisando tudo com cuidado
e calma.
***
Eu já tinha passado em frente aquela sala antes, mas nunca cheguei a
prestar atenção, porque ainda não havia escutado o lindo som que vinha de
dentro.
Sorrateiramente, eu empurrei a porta na intenção de apenas espiar, e

acabei levando um susto quando visualizei o Rossi em pé, parado em frente à


enorme vidraça. Ele estava de costas para o piano, que estava sendo tocado
pela Beatrice. Notei que segurava uma pedra numa das mãos, compenetrado
em seus próprios pensamentos.
Naquele instante, eu me lembrei de quando a Beatrice mencionou que
adorava vir até a mansão, porque podia tocar piano.
Semicerrei os olhos, estudando a postura do homem imponente.
Mesmo de longe, eu podia sentir a dor atrelada ao corpo do meu
marido, enquanto ouvia, em silêncio, a canção tocada.

Não precisava ser um gênio para chegar à conclusão de que a história


contada por Paola era sim, a história da família deles.
Meu coração doeu com o aperto.
Fechei a porta lentamente e, em seguida, olhei para os meus cães, que

me encaravam com aqueles olhinhos perspicazes.


— Que foi? Estão com fome? — Massageei a cabecinha dos dois.
Depois disso, eu me afastei com eles.
***
Já era tarde da noite quando percebi a chegada do Rossi no quarto.
Deitada na cama, eu observei o momento em que ele remexeu no closet e
depois seguiu direto para o banheiro.
Não estávamos nos falando desde o episódio da masmorra, mas algo

dentro do meu peito sentia com o nosso distanciamento.


Inquieta, eu saí da cama e fui atrás dele no banheiro.
Visualizei a sua silhueta através do Box fechado, mas o vapor da água
quente não me permitiu enxergar o seu corpo com clareza.
Meu coração começou a acelerar.
— O que quer? — ouvi sua voz de trovão, estremecendo-me por
completo.
Recostando as costas contra a porta fechada, eu inspirei e expirei.
— Por que não me contou sobre a sua irmã? — fui direto ao ponto. O

silêncio foi ensurdecedor, então insisti: — Por que não me disse que o
homem na masmorra tem relação com as pessoas que fizeram toda aquela
maldade com ela?
Dei um gritinho de susto quando a porta do Box foi aberta e Rossi

surgiu em meu campo de visão, nu e furioso.


— Quem te disse isso? — O tom usado soou perigosamente baixo.
— Ninguém me disse nada — respondi. — Eu que cheguei a essa
conclusão sozinha.
Segurei a respiração assim que ele encurtou o espaço entre nós dois.
Tentei manter o olhar em seu rosto, ignorando a sua nudez.
— Está errada — sibilou, quase colando nossos corpos. — Eu
realmente sou um homem mau. Gosto de ferir e causar dor às pessoas. Sou

um monstro.
Neguei com a cabeça.
— Talvez seja isto que queira me fazer acreditar, porque me quer longe
— argumentei, sentindo todo o meu corpo reagindo a nossa proximidade. —
Admito que num primeiro momento, foi exatamente isso que pensei de você.
Mas depois tudo fez sentido na minha mente — pausei. Ergui a mão e toquei
seu rosto ali... tão perto do meu — Você apenas reage ao que está no seu
coração.
— Não, você não me conhece! — rugiu, segurando a minha mão e a

erguendo no alto da minha cabeça. Seu rosto se colou ao meu e, eu pude


sentir a sua respiração. — O mais sensato seria você se afastar, Maya.
Mantenha-se longe de mim. Longe das minhas mãos, porque elas causam
dor.

— Mas também causam prazer — declarei, fechando os olhos e


tocando nossos lábios.
Com a mão livre, eu deslizei da sua barriga para suas costas, mas
novamente tive o meu movimento bloqueado.
Respirando com dificuldade, ele colou nossas testas.
— O que quer de mim? — Parecia dolorido.
Voltei a buscar sua boca com a minha.
— No momento? Eu quero você — respondi num mero sussurro

corajoso. — Quero as suas mãos em mim. Quero a sua boca em mim. —


Beijei seus lábios e me afastei para poder encarar os seus olhos brilhantes. —
Quero você, Rossi. E você? Me quer também?
Mal terminei de falar, e sua boca simplesmente esmagou a minha com
sofreguidão. O seu desejo evidente foi pressionado contra a minha barriga
quando soltou a minhas mãos e enlaçou a minha cintura me trazendo para
mais perto.
Arquejei, adorando o calor abundante que invadiu cada célula existente
em meu corpo.

Era fogo puro.


Puro e abrasador.
Capítulo 10
Rossi
Eu era um homem temido por muitos. Um homem com o propósito de
manter a paz e a estabilidade de toda uma organização. Meu nome circulava
pelas bocas de muitos criminosos como se fosse um ácido corrosivo e
tóxico...
Entretanto, quando a situação tinha a ver com a Maya, eu voltava a ser
um menino perdido e inexperiente.
Mesmo tendo um extenso histórico de mulheres em minha cama, e

sendo um excelente conhecedor do corpo feminino, eu me pegava inseguro


com a minha esposa.
Com facilidade, eu a ergui com um dos meus braços, e rapidamente ela
enrolou as pernas em minha cintura. Em seguida, me desencostei da porta e a
abri, indo para o quarto.
Nossos olhares estavam fixos um no outro, como se para ter certeza do
que estávamos fazendo.
Antes de chegar à cama, voltei a colocar Maya no chão.
Os últimos dias foram um maldito inferno torturante, porque tudo o

que minha mente me fazia assistir era o olhar aterrorizado da Maya. Nunca
me importei com o que pensavam a meu respeito, mas com ela foi diferente...
eu senti a dor do seu desprezo.
Pausei seus movimentos quando ela levou ambas as mãos na barra da

sua blusa de alças. Seu olhar subiu ao meu, confuso.


— Eu faço isso — soprei. Em seguida, eu a girei para que ficasse com
as costas em meu peito nu.
Lentamente, arrastei as mãos em seus braços, sentindo a textura da sua
pele e inspirando o perfume de seus cabelos conforme afundava o nariz em
sua nuca. Eu podia ouvir a sua respiração ruidosa.
De repente, deixei uma alça cair, apenas para poder passear com a
minha língua em sua pele febril. Suguei e mordi, repetidas vezes, enquanto

sentia Maya bagunçando os meus cabelos.


Quando finalmente arranquei a blusa por sua cabeça, eu a abracei por
trás, preenchendo minhas mãos com seus seios fartos. Minha boca não
abandonava sua pele, porque eu ansiava fazê-la sentir tudo.
Cada detalhe.
Forçando o corpo, ela se virou para ficar de frente a mim. Minha boca
se encheu de água quando visualizei os seus mamilos rosadinhos e túrgidos.
Não resisti à tentação e belisquei um, seguido do outro.
Curiosa, Maya espalmou o meu peito e arrastou as mãos para baixo.

Conhecendo.
Estudando.
Segurei a respiração no instante em que ela fechou a mão no meu pau,
atrevida.

Amassei seus cabelos e trouxe sua boca para mim, exigindo espaço
para a minha língua. O beijo foi esfomeado, refletindo a intensidade do meu
desejo por ela.
Lambi o seu queixo, trilhando para o seu pescoço e descendo com
beijos molhados e fortes. Inclinando-me, eu fui experimentando...
Explorando.
Sentindo.
Acariciei o seu seio com as mãos, sugando e lambendo como se fosse

um sorvete saboroso.
Ajoelhado, eu não perdi tempo em arrancar o seu short indecente — de
tão curto — junto com a calcinha, revelando a delícia que era a sua boceta
rosada.
— Desde a primeira vez que a provei, o seu gosto não saiu mais da
minha língua — confessei, como um viciado perto da sua droga.
Abri sua bocetinha lisa com os dedos e, simplesmente, afundei o rosto
entre suas pernas, devorando a sua carne molhada e macia. Maya gritou,
apoiando-se na cama logo atrás de si. De olhos fechados, me concentrei no

seu sabor, na sua textura e nos sons que saíam de sua boca. Em determinado
momento, eu olhei para cima, me deparando com os seus olhos nos meus.
Linda.
Ela estava simplesmente linda.

Eu sabia que não havia redenção para mim, contudo, ali, desejei ser
capaz de amar e ser amado de volta. Eu desejei não ter a mente e o coração
tão atormentados.
— Rossi... — seu gemido desesperado me fez intensificar os
movimentos da minha língua. Pressionei o polegar em seu clitóris inchado, e
isso foi o estopim para a sua explosão.
O orgasmo foi tão arrebatador que obrigou ela a se sentar na cama.
Aproveitei o momento para arrastar seu corpo mais para o meio do colchão,

procurando sua boca.


Eu nunca me sentia saciado com ela.
Sempre queria mais.
Segurando o meu pau com uma das mãos, eu o levei até sua entrada,
mas não forcei; apenas fiquei me esfregando em sua carne molhada e
apetitosa.
— Você está me provocando — Não foi uma pergunta.
Achei graça.
— Nada do que você não faça comigo, querida.

Dizendo isso, me ergui na cama e virei o corpo da bela garota de modo


a deixá-la de bruços. Com as mãos em seu quadril, eu a puxei para mim
fazendo com que a mesma ficasse na posição de quatro.
Lambi os lábios e, em seguida, voltei a encher o meu rosto com a sua

bocetinha, que ficou piscando diante dos meus olhos. Os gritos de Maya
ecoaram pelo quarto causando-me um frenesi nunca sentido. Cheguei a
conclusão de que dar prazer a ela acabou se tornando um vício.
Pressionei as suas nádegas, abrindo e fechando, conforme sugava o seu
mel; uma das minhas mãos deslizou pela sua barriga, encontrando os seus
seios durinhos.
Audaciosa, Maya passou a esfregar-se desavergonhadamente contra o
meu rosto.

Exigindo.
— E-eu... quero mais...
E eu dei.
Incansavelmente.
Longos minutos depois, quando eu, finalmente, me coloquei sobre ela,
já com a camisinha, perguntei num engasgo:
— Está pronta?
Em resposta, Maya segurou o meu rosto com ambas às mãos e o puxou
para si, tomando minha boca na sua.

Afastei suas pernas com as minhas e direcionei o meu pau pulsante em


sua entrada escorregadia. Eu tinha a feito gozar mais de três vezes, porque
queria prepará-la para me receber e ter uma experiência boa em sua primeira
vez.

Sem deixar de beijá-la, iniciei a penetração.


O aperto das suas paredes pélvicas no meu pau dificultava o meu
autocontrole, porque minha vontade era de me afundar com tudo e de uma
vez só.
— Ai!
— Está doendo? Estou machucando você? — Pausei o movimento do
meu quadril.
— É a minha primeira vez, Rossi — revidou, malcriada. — Claro que

vai doer.
Achando graça, escondi o rosto na dobra do seu pescoço e mordi a sua
pele.
— Ai! — voltou a gemer.
Fiz isso mais algumas vezes, apenas para distraí-la, enquanto
continuava encurtando a distância entre o meu pau e o seu hímen. No instante
em que me afundei completamente em seu interior, Maya soltou um grito.
Um rosnado feroz escapou da minha garganta quando senti as suas
unhas cravarem em minhas costas.

Desesperado pelo toque indesejado, eu peguei suas mãos e as ergui no


alto de sua cabeça.
Minha respiração estava ruidosa também, e eu me esforçava para
conseguir me manter ali... com ela.

— Agora estou todo enterrado em você, baby — sibilei, sem fôlego.


Meu corpo todo parecia aceso; ligado. O suor escorria da minha testa,
conforme eu ia, lentamente, impulsionando o quadril num movimento de vai
e vem.
Sua boceta estava apertando o meu pau, quase como um
estrangulamento. Obriguei-me a parar de me mexer.
— O que foi? — perguntou ela, remexendo-se abaixo de mim,
impaciente. Com os braços presos, ela não podia me tocar. — Por que parou?

— Porque a sua boceta está me estrangulando, e eu não quero gozar


ainda — revelei. — Não antes de fazê-la chorar no meu pau, querida.
Dizendo isso, abaixei a cabeça e abocanhei um dos seus seios. A mão
livre desceu, estabelecendo-se entre suas pernas, no seu clitóris duro. As
investidas retornaram, lentas, porém ritmadas. Aos poucos, pude notar que o
incômodo da Maya foi se dissipando e ela foi se soltando. Encarando-a,
enquanto chupava os seus seios deliciosos, eu admirei a maneira como seus
dentes massacravam os próprios lábios; ela estava perdida na sua névoa de
luxúria. As bochechas rubras deixaram a cena ainda mais deslumbrante.

Aumentando a pressão dos meus dedos em seu clitóris, e a força com


que investia contra ela com o meu pau, Maya começou a gemer cada vez
mais alto. Os gemidos pareciam música; uma música que eu estaria sempre
disposto a escutar.

Quando sua boceta começou a ordenhar o meu pau, eu soube que ela
estava perto, então acelerei os movimentos um pouco mais.
Seus olhos se reviraram nas órbitas, mas ela não deixou de me encarar
quando gozou lindamente.
— Rossi, eu... oh, Rossi... — meu nome saindo dos seus lábios numa
lamúria de puro tesão foi a minha deixa.
Foi a minha perdição.
Tudo dentro e fora de mim explodiu.

O orgasmo foi tão arrebatador que dissipou as minhas forças.


Deixei-me cair de lado, mas mantendo uma parte do corpo sobre o de
Maya.
O único som que ouvíamos era o da nossa própria respiração
descompassada.
De repente, ela virou a cabeça em minha direção, encarando-me com
aqueles olhos incrivelmente azuis e perspicazes.
Meus batimentos cardíacos acelerados me deixavam ciente da
adrenalina do sexo percorrendo cada uma das minhas células, mas também

causados pelo medo do que viesse a ouvir da garota em meus braços.


Maya era uma incógnita para mim, porque eu nunca sabia o que
esperar dela.
— Eu quero fazer de novo — declarou, me fazendo piscar os olhos,

espantado. — Só que dessa vez, eu quero ir por cima.


Sendo pego totalmente desprevenido, já que não esperava aquilo, eu
comecei a rir.
— O quê? — indagou ela, confusa, mas contagiada pela minha risada.
Voltando a prensá-la com o meu peso, declarei:
— Você sempre me desarma, garota — fechei os olhos e inspirei o
aroma que saía de suas narinas — Sempre.
***

— Posso te fazer uma pergunta? — Ouvi a voz rouca de Maya.


Sequer tinha noção do horário, mas podia notar, pela fraca claridade
das vidraças das janelas, que o dia já estava raiando. Depois da segunda
rodada de sexo, eu tinha levado ela para tomar um banho antes de voltar a
aninhá-la entre os lençóis para descansar em meus braços.
— Pode.
Remexendo-se em meu peito, ela me encarou.
— Algum dia você vai me deixar tocar em suas costas? — indagou,
cautelosa. — Vai confiar em mim para contar o que há de errado?

Na mesma hora, o meu peito sufocou de puro terror e agonia.


Pisquei, esforçando-me para espantar as lembranças... a dor... as
chamas do maldito inferno que adoravam se banhar em minha pele.
Reforçando o aperto em torno de seu corpo delicado, eu beijei sua

cabeça, inspirando o perfume delicioso de seus cabelos.


— Uma coisa de cada vez, Maya. Uma coisa de cada vez.
Capítulo 11
Maya
— Vejo que você está com uma carinha diferente hoje — comentou
Paola, encarando-me enquanto eu e Beatrice dávamos banho no Thor e Odin.
— Não vai me dizer que você e o Rossi...
Sacudi a cabeça, rindo da sua insinuação descarada.
— Fala sério, garota! — resmunguei. — Não é porque quebro a sua
cara de vez em quando que nos tornamos confidentes. Eu, hein!
A gargalhada foi sonora.

— Mas eu concordo com a Paola, Maya — foi a vez de Beatrice


comentar, meio sem jeito, claro. — É nítido o brilho nos seus olhos.
Ela parou de falar quando Thor começou a se sacudir, respingando
água por todos os lados.
— Thor! — exclamei, brava, mas acabei dando risada.
— Você pode negar, ou esconder de nós, mas o seu olhar de
contentamento te entrega, querida. — Paola argumentou, lixando as unhas
grandes, pintadas de preto. — Você foi comida. E muito bem comida por
sinal.

— Caramba, Paola! Que coisa rude de falar. — Beatrice ralhou com


ela, escandalizada, e eu ri. Ela era muito fofa.
— Vocês duas são hilárias, sério! — Sacudi a cabeça, achando graça.
— Mas, e então, Beatrice... — mudei o assunto, porque não tinha interesse

em me abrir com elas ainda — qual o curso que está fazendo?


Terminei de ensaboar o Odin, mas continuei a massagear o seu pelo.
Como eram da raça lobo Checoslovaco, os pelos eram altos.
— Serviço Social — respondeu, voltando a rir quando Thor quase a
derrubou por querer brincar com a água. — Foi a forma que encontrei de
poder ajudar aos mais necessitados, sabe? Meu pai deixou um império em
meus ombros, que eu jamais pedi, porque nunca foi o meu sonho viver,
rodeada por violência.

— Mas você está por dentro das coisas que o seu marido faz, né? —
indaguei, sem acreditar em tal ingenuidade.
— Claro que sim! — exclamou. Em seguida, soltou o Thor, depois de
pronto. — Não pense que sou ingênua, por favor.
— Beatrice já atirou contra o Rossi se você quer saber — revelou
Paola, pegando-me desprevenida.
Engasguei com a própria saliva.
— O-o quê? — O espanto ficou visível em meu rosto.
A delicada garota parecia nervosa e sem graça.

— Foi um acidente — respondeu, desligando a água da sua mangueira.


Estávamos numa parte do enorme jardim. — Eu não sabia que era ele, e
apenas agi movida pelo meu instinto de sobrevivência. — Deu de ombros. De
repente, encarou a Paola com cara de poucos amigos. — Você sabia que isso

foi algo feio, né? — Cruzou os braços. — Não é legal fazer esse tipo de
comentário, Paola, ainda mais se este for gerar um clima tenso.
A morena piscou, surpreendentemente acuada. Fiquei surpresa quando
visualizei um tom rubro em suas bochechas. Ela parecia verdadeiramente
envergonhada enquanto encarava a Beatrice. Ficou nítido o respeito e a
amizade entre as duas.
— Escapou, ora — defendeu-se, jogando as mãos. — Para o seu
governo, eu estava te defendendo. Ingrata!

Virou as costas, mas eu aproveitei para direcionar a mira da água nela,


que parou na mesma hora, dando um gritinho assustado. Beatrice cobriu a
boca, rindo.
Irritada, Paola foi até a outra mangueira, que Beatrice estava usando
antes, e a ligou.
A farra estava garantida.
***
Tinha acabado de tomar um banho quente, depois da brincadeira com
as garotas, e decidi descer para encontrar o meu excelentíssimo marido.

Ainda era estranho pensar nele de outra maneira — que não fosse ruim
— considerando que as últimas semanas vinham me fazendo enxergar a
minha atual realidade com outros olhos. Mas isso ainda não mudava o fato de
eu me sentir presa a alguém que parecia querer me comandar.

Eu ainda me sentia longe da minha tão sonhada liberdade.


Rossi parecia ter segredos, o que não me surpreendia, entretanto, eu
nem podia julgá-lo visto que também possuía os meus. Não contei a ninguém
sobre o homem de rosto desfigurado que se intitulou o meu irmão, porque
sabia que se soubessem, eles o matariam e eu ficaria sem respostas. Ficaria
sem saber a verdade.
A verdade sobre mim.
Sobre meus pais.

Sobre o meu passado.


Odiava depender da boa vontade dos outros para poder ter o meu livre
direito de ir e vir.
Respirando fundo, me aproximei da porta do escritório. Mordi os
lábios, encarando a madeira entalhada, sem coragem de bater. Foi ridícula
aquela minha falta de coragem de repente. Talvez tivesse a ver com as
lembranças da noite anterior que sobrevieram os meus pensamentos. Jamais
imaginei que a minha primeira vez pudesse ser tão... incrível. Rossi tinha
algo sombrio e, ao mesmo tempo, doce... delicado. Precisava ser honesta em

admitir que desejava desvendá-lo por inteiro. Desejava descobrir as suas


feridas, apenas para poder curá-las.
Droga!
Irritada com o rumo dos meus pensamentos, eu me virei para sair, mas

a porta foi aberta de repente. Caminhei até me deparar com o homem


imponente atrás da sua mesa, todo recostado na sua cadeira de couro e se
balançando lentamente. Havia uma expressão divertida em seu rosto que
possuía um resquício de barba por fazer.
— Por que está com essa cara? — intimei.
Entrei e fechei a porta.
— Que cara?
Revirei os olhos.

— Essa cara de bobo. — Gesticulei, enquanto me aproximava da sua


mesa.
— Porque você parecia estar falando sozinha ali na frente da porta.
Arregalei os olhos.
— Você estava me espionando? — Coloquei as mãos na cintura,
indignada com ele.
Rossi riu.
— Tem uma câmera lá fora — explicou, dando de ombros.
Olhei ao redor, procurando; acabei encontrando um pequeno monitor

na parede, no canto da sala espaçosa.


— Que sacana. — Balancei a cabeça, ainda espantada. Quando voltei a
encará-lo, obriguei-me a engolir em seco, porque não me preparei para a
maneira como ele olhava para mim, como se estivesse querendo me devorar

inteira.
Flashes dos nossos momentos íntimos voltaram a invadir a minha
mente, desestruturando-me e me fazendo refém do desejo súbito. Não dava
mais para controlar.
— Qual o problema? — quis saber.
Observando os seus olhos atentos a cada um dos meus movimentos, eu
dei a volta na mesa e me coloquei em sua frente, depois que ele afastou a
cadeira para me dar espaço.

— Você reparou que acabei de tomar banho? — perguntei num


sussurro, me sentando em sua mesa, e abrindo as pernas. Estava usando
apenas uma saia pequena, então os olhos dele logo chisparam para a minha
calcinha.
— E daí? — replicou, ríspido.
Ignorante!
— E daí que o meu fogo não foi saciado... — deixei cair as minhas
sandálias e, em seguida, ergui o pé e o apoiei em seu ombro. Rossi não se
moveu, apesar dos olhos não se desviarem do meio das minhas pernas — Eu

sou uma onça, Rossi... — dessa vez, seus olhos encontraram os meus,
brilhantes e carregados de pura luxúria — E ontem você me cutucou. —
Ergui o outro pé, fazendo questão de me arreganhar toda em sua frente. —
Agora, eu quero mais.

Mal terminei de falar, e o homem trouxe a cadeira para mais perto,


deslizando uma das mãos em minha nuca, enquanto a outra se embrenhava
entre as minhas pernas, massageando-me por cima da calcinha úmida.
— Você não sabe com quem está mexendo, garota... — alertou,
mordendo o meu queixo antes de lamber os meus lábios sedentos. Eu já
estava completamente perdida em puro desejo, apenas me deleitando com a
pressão do seu toque sobre o meu pontinho pulsante. — Eu posso garantir
que o melhor seria se você continuasse me odiando e me mantendo longe.

— Mas por que manter longe aquilo que eu quero dentro de mim? —
Levei a mão até a sua ereção.
O rugido que escapou dos seus lábios foi tão assustador quanto
excitante. Estremeci da cabeça aos pés.
Num rompante, ele pressionou os lábios nos meus num beijo cru e
quase cruel. Mas não me importei, pelo contrário, eu adorei. Senti quando
com agilidade, rasgou a minha calcinha de renda, antes de deixar os meus
lábios e abocanhar-me lá embaixo, fazendo-me gemer desavergonhadamente.
Me joguei para trás, na mesa, beliscando os mamilos enquanto me

deleitava de todas as sensações maravilhosas que aquela boca habilidosa


estava me proporcionando. Sem controle algum da minha mente traidora,
comecei a me questionar sobre quantas vezes ele já havia feito a mesma
coisa, mas com outras mulheres. Será que ele já chegou a se apaixonar? Será

que já permitiu que outra mulher tocasse as suas costas?


Merda!
De repente, eu fiquei com raiva e já não quis mais sentir as suas mãos
em mim.
Entretanto, antes que pudesse afastá-lo, ele me fez descer da mesa e me
virou bruscamente. Em seguida, me fez sentar sobre a sua ereção gigantesca e
cheia de veias proeminentes.
Oh, céus! Eu podia deixar para me afastar depois...

Devagar, e com o auxílio dele, eu fui me sentando... me preenchendo


da sua grossura e comprimento.
— Puta que pariu! Você é tão apertada... — gemeu gostoso contra o
meu ouvido, lambendo a minha pele no processo.
Assim que o senti por completo, Rossi me esperou acostumar-se com a
sua invasão, mas logo segurou em meus quadris e, lentamente, foi ditando um
ritmo de sobe e desce.
Mordi os lábios, engolindo os gemidos escandalosos que desejava
deixar escapar conforme o meu marido me fodia sem piedade.

— Era isso que você queria, baby? — sussurrou, forçando as minhas


pernas abertas e levando os seus dedos até o meu clitóris. Choraminguei, de
olhos fechados, adorando toda aquela selvageria. — Queria ser fodida pelo
meu pau desse jeito bruto?

— Argh! Cala a boca e... não para — resmunguei, perdida em


sensações.
Sua risada se fez presente, causando-me arrepios deliciosos.
Os dedos ágeis continuavam a trabalhar em meu pontinho sensível,
despertando-me para ondas maiores. Em determinado momento, percebi que
era eu a estar quicando feito uma amazona sobre o pau dele, incapaz de
controlar o desejo de gozar. Eu queria gozar desesperadamente.
Entretanto, algo aconteceu que nos fez parar. O insuportável do

Manuele abriu a porta, obrigando-nos a pausar os movimentos eróticos.


Nervoso, Rossi levou a cadeira mais para frente, para debaixo da mesa,
de modo a esconder que ainda estávamos conectados.
— Atrapalho? — O idiota perguntou, gesticulando de um para o outro,
semicerrando os olhos com desconfiança.
— Poderia ter batido na porta. — Rossi verbalizou o que eu desejava
ter dito. De repente, ele se remexeu, e eu precisei cobrir a boca e abaixar a
cabeça para abafar o gemido. — Pois que eu me lembre, a educação sempre
fez parte desta família.

— Wou! — exclamou ele, erguendo as mãos como se estivesse se


rendendo. — Entendi, ok? — Para a minha infelicidade, ele se sentou em
uma das poltronas. — Eu apenas precisava conversar algo urgente com você.
Meu corpo todo estava hiperventilando, porque, apesar de todo o

constrangimento, eu me sentia a beira da borda. Era como se a adrenalina


estivesse aumentando a minha excitação.
Novamente, Rossi, se mexeu, fingindo me ajeitar em seu colo. Sua mão
apertou a minha cintura, deixando claro o quanto estava excitado também.
— Se você preferir, eu posso sair para deixá-los a sós, querido... —
murmurei, apenas para provocá-lo, enquanto virava o rosto para ele, que me
encarou com um brilho intenso nos olhos. Para me castigar, sua mão voltou
para o meio das minhas pernas, pressionando os dedos na medida certa em

meu clitóris apenas para me deixar louca.


— Não se preocupe, meu bem, porque eu e você ainda temos negócios
inacabados aqui... — insinuou.
Não tinha certeza se o seu irmão insuportável estava percebendo
alguma coisa, porque até mesmo as nossas respirações estavam aceleradas.
Caramba! Estávamos fazendo sexo ali... debaixo da mesa.
— Vejo que vocês dois estão se entendendo. — Manuele sorriu,
apontando para nós. — Devo me preocupar?
Revirei os olhos.

— Você sabe o que pode acontecer quando fico irritada... — Não


resisti, o que fez com que ele fechasse a cara na mesma hora, provavelmente
se recordando da vez em que acertei o seu nariz com o meu joelho.
— Psicopata demais — rosnou.

— Insuportável demais — devolvi no mesmo tom.


Engoli a enxurrada de xingamentos quando comecei a sentir aquela
onda gigantesca de prazer. Era um pedido do meu corpo para se jogar do alto
da montanha.
Desesperada, me obriguei a fingir algo apenas para poder me deliciar
no pau do meu marido a vontade.
— Oh... — levei a mão à orelha — Acho que perdi um brinco.
Na mesma hora, me abaixei, fingindo procurar algo inexistente e

aproveitando para rebolar um pouco no colo dele, que mantinha as mãos na


minha cintura.
Não ouvi mais nada do que os dois diziam, porque simplesmente me
deixei levar pelo tesão.
Pelo desejo à flor da pele.
Pela devassidão que se apossou de cada poro do meu ser.
Mordi a minha própria mão para impedir que os gritos escapassem
quando o orgasmo me abateu, fazendo-me sentir espasmos violentos. Ainda
me recuperando, senti quando Rossi me ergueu para ele, castigando-me com

investidas duras antes de parar, me beijando feito um esfomeado, sem


controle algum.
Sequer notei o momento em que voltamos a ficar sozinhos na sala.
— Estou começando a concordar com o que os meus irmãos dizem

sobre você, baby — declarou, sem fôlego. — Você é maluca.


Sorri contra os seus lábios, ainda de olhos fechados e esfregando o meu
rosto em sua barba por fazer.
— Sou e não nego — resmunguei, arrancando-lhe uma gargalhada
sonora. — Não tenho motivos para ignorar a minha personalidade forte,
Rossi. — Abri os olhos para encarar os seus. — Assim como não vejo o
porquê ignorar os seus maravilhosos dotes... — remexi-me um pouco, o que
fez com que ele gemesse, pois ainda estávamos conectados. — Aliás, você

deveria deixar a sua barba crescer.


Decidi me levantar, sentindo uma sensação esquisita quando o retirei
de dentro de mim. No instante seguinte, olhei para baixo quando um líquido
branco passou a escorrer pela minha coxa.
— Me perdoe. — Olhei para ele quando ouvi o seu tom de lamento. —
Não consegui segurar devido a toda aquela situação com a invasão do
Manuele. Merda! — Abriu uma gaveta e retirou um rolo de papel toalha de
dentro. — Vem cá...
Obedeci, observando-o me limpar com delicadeza. Embora nem

parecesse notar esse detalhe tão contraditório a sua personalidade arrogante.


Mesmo tentando evitar, eu me vi ansiando conhecer o homem
escondido por trás de toda aquela casca feia.
— Vou mandar marcar uma consulta com essas médicas só de mulher

para que você tenha todo o suporte necessário agora que...


— Estamos transando feito dois coelhos? — indaguei, interrompendo-
o. Seu olhar encontrou o meu, e ele riu. Foi um sorriso lindo, porque não
pareceu forçado.
— Eu só não a quero grávida — decretou, terminando de me limpar.
Franzi a testa, abaixando a saia e me afastando um pouco.
— Por quê? Não é isso que todo o líder de uma organização como a
sua deseja? Ter um herdeiro?

Negou com a cabeça, e não me passou despercebido a sombra que


trespassou em seus olhos.
— Não é o meu caso — disse, quase ríspido. — Não quero esse tipo de
responsabilidade.
Não entendi o porquê as suas palavras me desestabilizaram, mas algo
em meu peito sufocou.
Nervosa, me ajeitei, aprumando o corpo e respirando profundamente.
De repente, me lembrei do verdadeiro motivo que me fez ir até ali.
— Eu quero pedir a sua permissão para sair — falei, mudando o foco

da conversa.
Rossi piscou, me encarando com desconfiança.
— Sair?
— Sim. — Enxuguei as mãos suadas na minha saia. — Quero visitar

uma pessoa. Pode deixar a Paola ir comigo, se quiser — acrescentei quando


vi as suas sobrancelhas arquearem em desconfiança.
— Ela já tem uma missão — replicou, jogando as costas contra o
encosto da cadeira. — A propósito, todas essas marcas roxas em seu corpo
foram causadas por ela? Devo me preocupar com esses treinamentos?
Meus lábios se distenderam em um sorriso cínico.
— Garanto que o corpo dela não está diferente do meu. — Ergui o
nariz, exibida.

Revirou os olhos, fingindo tédio, mas achando graça.


— Vou pedir para o Mariano te acompanhar — avisou, pegando o
celular. — Assim ficarei mais tranquilo.
Mordi o meu maxilar, lutando para não ser malcriada. Odiava ser
obrigada a ter uma sombra me seguindo o tempo todo.
Mas pelo menos não seria o insuportável do Manuele.
— A propósito, quem você vai visitar? Não conhece ninguém aqui. —
A desconfiança estava não somente em seu tom de voz, mas em seu olhar
também.

Respirei fundo.
— Uma mulher que conviveu comigo quando eu ainda era uma menina
e vinha para a Itália — respondi, evasiva. — Quero matar um pouco a
saudade da minha mãe, porque as duas foram muito próximas. É isso.

Rossi permaneceu me encarando por um tempo, como se estivesse me


estudando para descobrir se eu dizia a verdade ou não. Mas por fim, fez a tal
ligação para o irmão, e eu me vi respirando normalmente.
Era muito difícil, e cansativo, mascarar as minhas verdadeiras emoções
e intenções.
Ainda mais quando a fonte de toda a minha desestrutura emocional
estava por perto. Rossi não deveria ter tanto domínio sobre mim, além do que
o seu cargo exigia.

Mas então por que estava acontecendo justamente o contrário?


Capítulo 12
Rossi
Olhando para as imagens de segurança da mansão do velho Billy, eu
sentia o meu coração zumbindo, enquanto minha sede de sangue queria,
desesperadamente, ser saciada.
— A empresa contratada para o Buffet naquela noite, não soube dar
informações claras a respeito dos funcionários que compuseram a equipe —
comentou Manuele, sentado ao meu lado. Pausei a imagem quando um
homem surgiu na tela; o rosto não aparecia com um bom foco, mas era

possível visualizar as cicatrizes. Travei o maxilar, sentindo a força dos meus


impulsos sombrios.
— Como andam as investigações sobre este cara? — Apontei, me
deixando cair contra o encosto da cadeira.
Observei quando Manuele colocou um cigarro nos lábios, abriu a
tampa do seu isqueiro frio de metal, antes de queimar o cigarro e tragá-lo
longamente.
— Fillipo ficou de conversar com o Jack.
Jackson Davis era um americano que vivia na Itália há mais de dez

anos. Com habilidades que ninguém mais tinha, Jack era o melhor
investigador do submundo. Dotado de um cérebro excepcional, ele acabava
se tornando insubstituível. No entanto, estava sempre disposto a atender o
chamado dos Fratelli.

Levei os olhos para além da mesa, me deparando com Fillipo, se


servindo com uma dose de uísque.
— Infelizmente, ele não está na Itália, mas me garantiu que chegará na
próxima semana — disse. Em seguida, ambos olhamos na direção de sons
escandalosos. Luca estava sentado, deleitando-se com uma garota que
chupava o seu pau, enquanto ele bebia conhaque direto do gargalo da garrafa.
— Quer fazer o favor de mandar essa garota sair, caralho?! — Manuele
bradou, impaciente. — Guarde as suas obscenidades para quando estiver

sozinho.
Luca deu risada.
— Às vezes, eu me esqueço que agora vocês se tornaram homens
domados e comprometidos — Revirou os olhos, enquanto, gentilmente,
afastava a linda garota loira entre suas pernas. Sorriu, beijando-a nos lábios e
prometendo que depois voltaria a chamá-la.
— Vou ignorar a parte da sua frase em que me coloca como “domado”
— rosnei, sentindo-me inquieto.
Sem controlar, minha mente me levou para o momento de mais cedo,

no escritório. Não podia imaginar a mudança drástica que minha relação com
a Maya teria, e em tão pouco tempo.
Os sentimentos.
As emoções.

Os olhares.
Os toques.
Ela era sim, uma mulher difícil de lidar, entretanto isso a fazia ainda
mais surpreendente, porque eu nunca sabia qual seria o seu próximo passo e,
esse fato era excitante pra caralho. Um pequeno sorriso se fez presente no
canto dos meus lábios quando, um único pensamento se fixou em minha
cabeça...
Minha.

Maya era minha.


— E está tentando nos convencer disso, ou tentando se convencer? —
Veio o questionamento do Manuele.
Olhei para ele, que parecia divertido.
— Vá se foder! — exclamei, irritado.
— A propósito... — Luca olhou ao redor — Onde está o Mariano?
— Saiu com a Maya — respondi, voltando a encarar a tela do
computador onde a imagem do homem sem rosto estava pausada.
— Por quê?

— Porque aquela psicopata não é de confiança, Luca, é isso. —


Encarei Manuele com o meu olhar mais mortal.
— Wou! — Ergueu as mãos, rindo sem jeito. — Tá legal, parei aqui.
Entendi, capo.

Respirei fundo, aprumando o corpo sobre a poltrona.


— Não sou idiota ao ponto de acreditar que a Maya já se conformou
com a sua nova vida — murmurei num suspiro. — Ela pediu para passear,
mas algo em seu olhar me fez ficar em alerta. Por isso pedi ao Mariano para
acompanhá-la.
— Então não foi por que ficou com medo de a maluca fugir? —
zombou Luca, rindo feito uma hiena.
— Argh! Vocês são idiotas. — Levei os dedos às têmporas. — Aliás,

cadê o Angel, Manuele? Você me trouxe até aqui para encontrá-lo.


Estávamos em uma das nossas boates, que funcionavam dia e noite.
Ele verificou as horas em seu relógio de pulso.
— Já deve estar chegando — alegou.
— Ele já encontrou a irmã? — perguntei, angustiado.
Negou.
Inquieto, me levantei e caminhei pelo espaço, à prova de som. Cheguei
perto da vidraça, olhando para a pista de dança lá embaixo. Não era difícil
imaginar Bianca no meio de um grupinho de garotas que dançavam como se

não houvesse amanhã. Felizes e desfrutando dos prazeres da juventude.


Porém, infelizmente esse direito foi arrancado do meu anjinho.
— Durante a minha viagem, para resolver alguns problemas referentes
à máfia Unità, eu acabei descobrindo algumas coisas — declarou Manuele,

voltando a ter minha atenção. Sacudi a cabeça, dispersando as lembranças


dolorosas.
— Sobre o maldito Giuseppe? — intimou Fillipo.
— Também — respondeu, apagando o seu cigarro no cinzeiro em cima
da mesa. — A maior produção de Cannabis da organização, vinha de uma
fazenda da periferia de Medellín, na Colômbia, contudo, ela foi tomada pelo
Alejandro.
— O desgraçado tomou o controle dos negócios? — Luca indagou. —

Mas então o velho estava, literalmente, nas mãos do infeliz.


— Os trabalhadores me disseram que havia alguém por trás de todas as
ordens dadas pelo Alejandro.
Franzi o cenho.
— Como assim? Outro líder?
Manuele deu de ombros.
— Não souberam responder.
— Talvez esse “o papa” — argumentou Fillipo.
Eu ainda estava aéreo quando ouvi a voz do Enzo através da escuta em

meu ouvido:
— Senhor, há um homem querendo vê-lo — avisou.
Olhei para o Manuele, que cochichou o nome do Angel, gesticulando.
— Pode deixá-lo subir, Enzo — permiti.

Instantes depois, o mexicano adentrou a sala, exalando um sorriso


discreto.
— Espero que não se importem com os meus dois seguranças aqui. —
Gesticulou para trás de si, onde dois homens fortes permaneceram parados na
porta.
Luca, praticamente, rosnou.
— Você é bem folgado, hein, cara?!
Ergui o indicador para ele, forçando-o a calar a boca imediatamente.

— É um prazer finalmente conhecê-lo, capo Rossi. — Apertamos as


nossas mãos, e eu indiquei uma das poltronas.
— Aceita uma bebida? — Manuele quis saber.
— Por favor — respondeu.
Fillipo tomou um dos assentos, enquanto Luca resmungava baixinho.
Era nítido o seu descontentamento com a aliança, visto que a primeira
impressão não foi das melhores para ele.
— E então, Angel? — Me ajeitei, enquanto estudava o perfil do
homem a minha frente. — Está disposto a me contar toda a verdade a respeito

da sua família?
O homem arregalou os olhos, espantado com as minhas palavras.
— Faço o meu trabalho de casa, mio caro. — Sorri, enigmático. —
Você é herdeiro direto de Sebastian Herrera, o homem que estabeleceu uma

das maiores estruturas das organizações criminosas do México.


— Não vou negar isso. — Deu de ombros, despreocupado. — Tenho
orgulho de ter ficado no lugar dele, para continuar o seu legado.
Ponderei as suas palavras, visto que parecíamos ter pesos iguais no
quesito comando.
— O que houve com ele?
Seu maxilar travou.
— Foi morto numa emboscada, há dois anos, enquanto tentava

recuperar a minha irmã, quando ela foi sequestrada — respondeu num tom
áspero. — Nossa organização, na verdade, é a união de dezenas de pequenos
grupos — explicou. — E, certamente, meu pai foi traído por algum deles,
considerando que era o homem que comandava tudo.
— Então a emboscada foi feita não para a sua irmã, de fato, mas para o
seu pai — comentou Luca, deixando claro que estava prestando atenção a
conversa. — A garota foi apenas a isca.
O suspiro de Angel pareceu doloroso.
— Ela nunca foi encontrada. Nem viva nem morta.

Meus dentes rangeram.


— Quais foram as palavras do maldito Alejandro antes de ele morrer?
— Apenas confidenciou que a vendeu para um turco, mas sem maiores
detalhes — sibilou. — Ele não soube dizer como a minha irmã chegou até

ele, considerando que o desgraçado trabalhava com um grupo enorme de


aliciadores.
— Filho da puta! — rugiu Manuele. — Que apodreça no inferno!
— Com as minhas pesquisas e meus contatos, eu consegui uma pista,
mas não tenho certeza — confidenciou. — Um cliente meu, antes de morrer,
me disse ter estado numa boate em Istambul, Turquia. Ele pensou ter visto a
Rosa, minha irmã.
— Sendo obrigada? — questionei, desconfiado.

— Minha irmã tinha 16 anos quando foi raptada, capo — rugiu,


ofendido. — Então acredite em mim quando afirmo que se ela está se
prostituindo, obviamente está sendo obrigada a fazer isso.
— Por que ainda não foi até lá para conferir se é ela realmente? —
Fillipo quis saber.
Angel voltou a suspirar, mas dessa vez deixando visível a sua
expressão de derrota.
— Como chefe, eu preciso cumprir regras. — Olhou para mim e, eu
concordei, porque sabia do que ele estava falando. — Minha organização não

tem permissão, pois quando vivo, meu pai acabou criando inimizades. Há um
acordo e, eu sou proibido de colocar os pés na Turquia. Se isto acontecer e,
eu for pego, a guerra estará declarada.
— Mas eles já declararam guerra quando pegaram a sua irmã — sibilei,

sentindo o ódio emanando por cada um dos meus poros.


— Não posso provar nada.
Engoli em seco, pensativo.
O silêncio reinou, enquanto ambos parecíamos presos em nossos
próprios pensamentos.
— O que quer de mim, Angel? — perguntei no fim. — Como acha que
posso ajudar?
O mexicano me encarou com um olhar perdido.

— Eu acreditei que pudesse me dizer.


Levantou-se, aprumando o paletó. Fiz o mesmo, estendendo a mão em
sua direção.
— Prometo que pensarei numa solução, mio caro — garanti. — Se a
sua irmã realmente está sendo mantida refém, então iremos resgatá-la.
Sorrindo fraco, ele agradeceu.
Em seguida, cumprimentou os meus irmãos e saiu.
Me deixei cair no sofá novamente, analisando todas as possibilidades.
— O que está pensando, Rossi? — Veio a pergunta do Manuele.

— Ainda não sei, mas nós vamos atrás da garota.


— Por quê? — Luca perguntou, espantado. — Ela nem é nada nossa.
— Mas poderia ser a nossa irmã — soprei, encarando-o com rancor.
Na mesma hora, o seu semblante se anuviou e ele desviou o olhar.

O clima se tornou tenso, e só foi quebrado por causa do barulho do


meu celular.
— O que foi? — Atendi o Mariano.
— Rossi... — fiquei de pé na mesma hora quando notei a sua voz tensa.
Cheguei a ouvir, ao fundo, o rosnado baixo dos cães da Maya.
— O que houve? — indaguei, nervoso. — Cadê a Maya?
— Ela... — ficou em silêncio por alguns instantes — Ela escapou.
Capítulo 13
Maya
— Eu não entendo a necessidade de levar os seus cães junto, Maya —
resmungou Mariano, assim que ambos entramos no seu carro esportivo. —
Isso é chato pra caralho, sabia?
— Chatos são todos vocês que não perdem uma oportunidade para
falar de Odin e Thor — ralhei, colocando o cinto de segurança. — Eles são
como os meus filhos; então é mais do que óbvio que eu os levarei comigo
para onde for. — Rolei os olhos, impaciente.

Ouvi a sua bufada, mas apenas ignorei.


Quando o carro entrou em movimento, ainda dentro da propriedade, eu
encarei o meu cunhado, com curiosidade.
— Você está puto por ter que me acompanhar como uma babá, né?
Confesse! — Não escondi o tom zombeteiro. — Mas já adianto que a culpa
não foi minha.
Ele riu, enquanto prestava atenção a nossa frente.
— Admito que as circunstâncias do passeio não sejam algo que aprecio
muito — revelou, tranquilo. — Mas gosto da sua companhia, Maya. —

Sorriu para mim.


Arqueei as sobrancelhas, surpresa com a sua revelação.
— Isso é novidade — comentei, esforçando-me para me recuperar. —
Às vezes, acho que sou um estorvo nessa casa. — Respirei fundo, encarando

a paisagem fora da janela, assim que finalmente saímos da propriedade. — O


meu ideal de futuro nunca foi me tornar a esposa de alguém que me foi
imposto, Mariano. Eu sempre sonhei em conquistar a minha felicidade, mas
de outra maneira.
— E que maneira seria essa? — perguntou, curioso.
— Ah... — olhei para as minhas mãos, em meu colo — Estudar e
liderar a minha própria vida sem a intromissão de ninguém, por exemplo.
— O teu problema, querida, é que você idealiza um tipo de liberdade,

mas não se permite viver a sua realidade — disse ele.


— Como assim?
— A sensação de liberdade, para que não passe disso mesmo, de uma
sensação, deve fazer parte de um percurso, e um percurso tem que ser
construído e aperfeiçoado cada dia, possibilitando o amadurecer da liberdade
de cada um — explicou. — A liberdade é algo que se constrói. E é uma
sensação interna que dá vivacidade e alegria e impulsiona a concretizar os
verdadeiros sonhos! E ainda que a liberdade externa seja muito importante, a
liberdade interna é ainda mais, porque desenvolve a confiança, a resiliência e

dá poder à própria pessoa. É, portanto, importante cultivá-la e pô-la em


prática com maturidade e sabedoria!
Sacudi a cabeça, rindo de um jeito amargo.
— Palavras bonitas, eu devo salientar — declarei. — Mas para mim

não passam disso... palavras. — Rolei os olhos. — O seu irmão sequer me


deixa sair sozinha, como você quer que eu cultive este tipo de realidade
abusiva?
O idiota voltou a rir, com vontade dessa vez.
— O cuidado não pode ser confundido com abuso, Maya —
argumentou. — Você é a esposa do líder de uma organização imensa,
querida, então é óbvio que ele quer mantê-la segura. Aliás, quando se trata da
família, Rossi nunca mede esforços.

Tirei os olhos da estrada, interessada na conversa.


— Paola me contou uma história sobre uma família que perdeu a...
— É o que ela faz, Maya — cortou-me com impaciência. — Ela conta
histórias.
Franzi o cenho, achando graça da sua mudança repentina.
— Ah, vocês homens são tão óbvios — comentei, sacudindo a cabeça e
rindo.
— Não entendi. — Encarou-me de relance.
— Foi só eu mencionar a Paola que você já ficou todo inquieto. —

Gesticulei para ele. — Cuidado, hein?! Daqui a pouco vão começar a reparar
— insinuei, provocando.
— Não fale besteiras — advertiu, nervoso. — Não tem nada para ser
reparado. Paola e eu somos apenas colegas de trabalho, e membros da mesma

família.
— Uhum, sei — desdenhei. — Então aposto que você não vai ligar se
souber que ela e o Enzo estão tendo encontros quentes, hun?
— O quê? — A cor praticamente abandonou o seu rosto e, ele se
obrigou a frear o carro subitamente.
— Wou! Ficou louco? — Olhei para trás, preocupada com o fluxo da
rodovia. — Não pode parar no meio da pista, Mariano.
Palermo é uma cidade grande, mas com uma infra-estrutura um pouco

inadequada para seu tamanho, o que torna o trânsito um verdadeiro caos.


Trêmulo, ele engatou a marcha e, em seguida, voltou a movimentar o
carro, xingando os outros motoristas.
Seguimos o nosso percurso até o Centro Histórico, a parte mais antiga

da cidade, por causa dos monumentos[1].


— O que está dizendo? — insistiu, demonstrando toda a inquietação
que minhas palavras o causaram. — Como sabe disso? Por acaso, você viu os
dois juntos?
As perguntas simplesmente se atropelavam em sua boca.

— Perguntou o homem que acabou de dizer que é um poço de


sentimentos amigáveis apenas — zombei, me divertindo com a sua agonia.
Sua impaciência ficou visível quando ele bufou audivelmente.
— Oh, você pode parar aqui. — Levei os olhos para o prédio antigo a

nossa frente. — É aqui mesmo.


Talvez fosse por estar disperso por causa das coisas que falei sobre a
Paola, ou talvez por estar prestando atenção na manobra ao estacionar, mas
num movimento ágil, eu fechei a ponta de uma algema em seu pulso,
enquanto o outro lado foi fixado no volante.
— Mas o que... — ele parecia incrédulo.
— Eu sinto muito, Mariano, mas não estou a fim de tê-lo como a
minha sombra — murmurei, tranquilamente. — Prometo que não vou

demorar.
Sua mão livre segurou o meu braço, forçando-me para ele que, dessa
vez me encarava com irritação.
— Você sabe que uma simples algema não será capaz de me segurar
aqui, né? — ameaçou.
— Eu sei — confessei. — Mas os meus cães vão.
Em seguida, dei o comando aos dois, que se tornaram alertas e
concentrados.
Saí do carro ao som dos xingamentos do meu cunhado, mas ignorei

todos eles. Eu só não queria que ele soubesse as informações que eu estava
prestes a descobrir.
Caminhar por aquelas ruas estreitas e, repletas de prédios bonitos —
um tanto deteriorados, mas ainda com seus encantos — me fez lembrar as

vezes em que estive na Itália quando criança. Na maioria das visitas, eu


estava com a minha falecida mãe.
Ao chegar à porta do prédio, quase decrépito, eu respirei fundo,
limpando o meu interior das emoções bagunçadas. Eu precisava estar com a
mente limpa.
— Bom dia — saudei a mulher idosa que guardava a passagem. —
Estou procurando a Madame Carlota.
A mulher passou alguns segundos estudando-me da cabeça aos pés.

— Eu a conheci no passado, quando a minha falecida mãe vinha aqui


— acrescentei.
— A sala dela fica naquela porta ao final do corredor — apontou. —
Mas não sei se ela vai querer atendê-la, meu bem.
Dizendo isso, ela voltou a se concentrar no seu trabalho de artesanato,
fingindo que eu não estava ali.
Rolei os olhos diante da sua falta de educação, mas acabei
abandonando-a, visto que eu tinha pressa.
Pressa por informações.

Hesitante, ergui a mão e toquei a madeira da porta. Foram duas batidas


até escutar um grito do lado de dentro me mandando entrar.
Cautelosa, eu abri a porta, observando cada detalhe. O lugar era
espaçoso, mas cheio de móveis e artefatos esquisitos, além de muita fumaça

de incenso.
— Me perdoe, querida, mas você não marcou hora — ouvi, embora
ainda não estivesse vendo a mulher. — Madame Carlota só atende com
consulta marcada.
— Eu me chamo Maya — expliquei, olhando ao redor, em busca da
dona da voz. — Não sei se vai lembrar, mas eu estive aqui com a minha mãe,
há muito tempo. O nome Karen Johnson significa alguma coisa para você?
— Karen? — Me virei subitamente, me deparando com uma mulher de

pele escura e cabelos no estilo dreadlocks. — Karen Johnson? — Parecia


genuinamente surpresa. — Você é a filha dela?
Assenti, nervosa quando ela, simplesmente se aproximou, parecendo
fazer uma análise detalhada de mim.
— Uau! Agora eu me lembro de você, menina — alegou,
esquadrinhando-me por completo. — Lembro que sempre fui fascinada por
estes olhos enormes e incrivelmente azuis. — Apertou o meu queixo com a
sua mão, dando ênfase ao que dissera. — Olhos que herdou da sua mãe.
— Ela sempre foi uma mulher linda. — Afirmei, sorrindo.

— Afinal, o que faz aqui, menina? — quis saber, puxando-me pela


mão e me levando para onde tinha algumas cadeiras. O cheiro de mirra,
misturado a alguma erva diferente estava me deixando enjoada. — Pelo que
me lembro, a sua mãe já é morta.

Mordi os lábios, sentindo a dor atingir o meu peito.


— Sim, ela é — confirmei, num suspiro. — Mas acredito que a
senhora possa me ajudar. — Encarei o rosto de aspecto cansado. — Pode
parecer meio que ingenuidade da minha mente, mas por acaso a minha mãe
chegou a comentar sobre estar sendo traída pelo meu pai? — As sobrancelhas
se arquearam. — Talvez a respeito de algum filho que ele teve fora do
casamento...
Me calei, observando a expressão pensativa da mulher. Eu era muito

pequena quando a minha mãe passou a frequentar aquele lugar, mas me


recordava de ela dizer que estava em busca de uma cura espiritual.
— Sua mãe vinha sendo traída constantemente, minha querida —
mencionou. — E a começar por ela mesma, que não tinha coragem de acabar
com aquele casamento fracassado.
Franzi a testa, confusa.
— Mas eu nunca percebi nada de negativo — declarei. — Meus pais
pareciam felizes.
— As aparências enganam — mencionou, séria. — Sua mãe era uma

mulher linda, mas completamente infeliz.


De repente, se levantou e trilhou o espaço, remexendo em algo dentro
de pequenas caixas.
— Ah, aqui está! — exclamou, voltando a se sentar perto de mim. —

Em sua última visita, ela trouxe isto... — entregou-me uma espécie de cartão
postal.
O papel estava envelhecido e amarelado.
— Philadelphia, Pennsylvania. — Li em voz alta. Em seguida, virei o
papel para ler a parte de trás. — “Sempre serei a sua Oli. Estou com
saudades.”
Virei o cartão postal de um lado ao outro, tentando entender; tentando
juntar as peças.

— O que isso significa?


— Sua mãe acreditava que isso foi enviado pela amante do seu pai —
respondeu. — E que essa mesma mulher estava grávida dele — explicou. —
Karen ficou tão decepcionada na ocasião, e, juntando ao fato de que a sua
doença havia progredido, que acabou esquecendo esse cartão aqui. Nunca
mais voltei a vê-la.
Meus olhos se tornaram úmidos, pois pude imaginar a dor que a minha
pobre mãe sentiu; a dor da traição.
— Então é mesmo verdade! Eu tenho um irmão — falei mais para mim

do que para ela. — É possível que depois de tudo, a minha mãe tenha
morrido de puro desgosto.
A mulher deu os ombros.
— Não há como saber — disse.

— Céus! Não sei nem o que dizer. — Meus ombros tombaram


enquanto eu me deixava cair contra o encosto da cadeira. — Há algumas
semanas, estive frente a frente com um rapaz que se intitulou o meu irmão,
mas eu não quis acreditar. Aliás, é difícil acreditar, porque isso significa que
passei a vida toda vivendo uma ilusão. E que somente eu fui a enganada,
visto que o meu suposto irmão sabe quem eu sou.
— A única coisa que posso fazer por você, menina, e em respeito à
memória da sua mãe, é lhe mostrar o caminho — disse ela, anotando algo

num pedaço de papel. — Na época, eu cheguei a descobrir o endereço de


onde este cartão postal foi enviado.
Entregou-me.
— MAYA!
Estremeci na mesma hora, deixando cair o papel no chão.
— Droga! É o meu marido — falei, atropelando as palavras, enquanto
pegava do chão, o papel com as informações, junto com o cartão postal e
guardava dentro do meu sutiã. Ergui-me da cadeira. — Por favor, não fale
nada para ele. Por favor, madame Carlota.

A mulher de aparência quase caricata, também se colocou de pé. Abriu


a boca para falar, mas não teve tempo, considerando que no instante seguinte,
a porta foi rompida e, ambas acompanhamos a súbita entrada do homem
imponente.

Não precisava ser um gênio para saber o quanto ele estava furioso.
Engoli em seco, imaginando como eu estava fodida.
— Que porra é esse lugar aqui? — Gesticulou, olhando de mim para a
mulher, porém fixando os olhos frios apenas na pobre coitada. — Quem é
você?
— Mas o que é isso? — Me intrometi, colocando-me na frente dele. —
Guarde agora mesmo essa pistola, Rossi — sussurrei, sentindo o desespero
me dominar. Espalmei as mãos em seu peito, sentindo os meus dedos

vibrarem em decorrência dos batimentos acelerados do seu coração. — Sei


que a situação toda parece estranha, mas eu posso explicar.
— Então esse é o seu marido, querida? — perguntou a senhora,
fazendo Rossi voltar a fixar sua atenção nela. — Agora percebo o porquê
veio me procurar.
Rossi franziu o cenho.
— Como assim? Do que essa velha doida está falando? — rugiu. —
Aliás, por que prendeu o Mariano no carro, caralho?
— Argh! Pare de gritar, droga! — praguejei, envergonhada pelo seu

escândalo. — Se não percebeu, aqui é um lugar espiritual, e eu decidi vir até


aqui para buscar energias positivas para o nosso casamento — menti na cara
dura. — Fiquei com vergonha de deixar o teu irmão ver, por isso o deixei no
carro. Satisfeito?

A expressão dele ficou tão chocada que tive que me segurar ao máximo
para não rir.
Pegando-me desprevenida, ele agarrou o meu braço e, simplesmente,
me arrastou para fora do lugar.
No corredor vazio, me jogou contra a parede, prendendo a perna
esquerda entre as minhas, e espalmando as mãos ao lado da minha cabeça. Os
olhos eram como chamas nos meus.
— O que eu faço com você, garota? — A pergunta não passou de um

silvo.
Meu peito subia e descia devido ao misto de excitação e adrenalina.
Amparei o seu rosto com as minhas mãos, adorando o pinicar de sua
barba em minha pele.
— No momento, eu só quero que me beije, marido.
Não o esperei pensar muito. Colei a boca na sua, invadindo o vão com
a minha língua sedenta.
Incrivelmente, quando estávamos juntos desse jeito, eu conseguia me
esquecer de todo o resto e só sabia sentir e sentir e sentir...

Não deveria, mas pouco a pouco, eu vinha me permitindo mais e mais;


não apenas o meu corpo, mas o meu coração também.
E essa constatação me deixava extremamente apreensiva.
Capítulo 14
Rossi
Eu ainda podia sentir o resquício do pânico, misturado a irritação que
senti ao descobrir a pequena travessura da Maya. Desde a perda da Bianca, eu
simplesmente deixei de ter emoções; tais sensações apenas vinham à tona
quando eu causava dor a alguém. Entretanto, ali estava o meu coração,
cantarolando no peito.
— Eu sinto muito, Mariano — disse ela, assim que nos aproximamos
do meu irmão, minutos depois. Ele estava falando com alguém ao telefone,

mas desligou quando nos viu. — Juro que não foi pessoal — acrescentou,
sem jeito.
A palma da minha mão espalmava o meio das suas costas, enquanto
minha mente ainda tentava processar tudo o que acabara de acontecer.
— Definitivamente, você é maluca, garota — rosnou. — Odin e Thor
quase me mataram. Foi pura sorte, eu ter conseguido sair do carro.
Abrindo a porta de trás, ela deixou os seus cães livres, afagando a
cabeça de cada um, com amor.
— Argh, já pedi desculpas, oras — resmungou, impaciente, se

afastando com o nariz em pé.


Mariano praguejou baixo, visivelmente frustrado.
— Vou levá-la para casa — avisei, soltando o ar.
— Enzo irá com você, junto com mais alguns homens — decretou,

sério. Algo em seu tom de voz me fez franzir o cenho.


— Aconteceu alguma coisa? — perguntei com desconfiança. — Parece
mais irritado do que o normal, e sinto que não tem a ver, exclusivamente,
com o que a Maya fez.
Negou com a cabeça.
— Não é nada — alegou, claramente desconversando. — Vou para a
boate. — Abriu a porta do seu carro e tomou a direção. — Qualquer coisa, eu
estarei no telefone.

Fiquei parado por alguns instantes, pensativo.


— Ele ficou bem irritado, né? — Maya confidenciou, colocando-se ao
meu lado. — Não tive a intenção de chateá-lo, eu juro.
Sacudi a cabeça, rindo, enquanto olhava para ela, que me encarava com
uma expressão fingida.
— Se eu não soubesse do que você é capaz, até acreditaria.
Voltei a espalmar suas costas e, em seguida, trilhamos o curto espaço
até o meu carro blindado.
Maya tomou o assento do carona, enquanto eu assumi o volante.

— Como sabia sobre essa mulher? — questionei. — Você tinha dito


que visitaria uma mulher do passado da sua mãe.
— Estou sentindo um toque de julgamento nas suas palavras —
murmurou, embora parecesse divertida. — Eu fui buscar boas energias para

nós dois, Rossi. Você deveria se sentir feliz pela atitude linda que tive
Não me aguentei e gargalhei com vontade.
— Deixei de acreditar nessas coisas há muito tempo — fui sincero.
— Que coisas? Nas vibrações positivas?
Apenas assenti, sem falar nada.
Pelo retrovisor, eu podia notar o carro do Enzo me seguindo, assim
como mais dois logo atrás dele.
— Sim — respondi. — É cansativo acreditar. Assim como também é

cansativo confiar.
Notei o seu silêncio, então a encarei de soslaio.
— Como andam as investigações a respeito da invasão da mansão do
papai? — Mudou o assunto drasticamente.
Sacudi a cabeça.
— Não se preocupe, porque estamos trabalhando nisso — respondi,
evasivo. — Não há necessidade de encher a sua cabeça com isso.
Ouvi a sua bufada de pura frustração.
— Ah, claro que não! — exclamou. — Porque é mais gostoso encher a

minha boceta com o seu pau, né?


Arregalei os olhos, espantado com suas palavras.
— Caralho, garota!
— Não falei nenhuma mentira! — resmungou, cruzando os braços e

desviando o olhar para fora da janela. — Vocês têm o hábito de acreditar que
nós, mulheres, somos frágeis. Até existe algumas assim, como a Beatrice, por
exemplo, mas não é o meu caso.
Franzi o cenho.
Abri a boca para falar, mas acabei hesitando quando percebi uma
movimentação estranha no trânsito.
Apertei um botão no painel para me comunicar com o Enzo.
— Esse carro preto está me seguindo.

Maya se alvoroçou, nervosa com a minha declaração.


— Vou arrastá-lo para fora da pista, senhor — avisou ele.
— Não! — exclamei. — Apenas se afaste, junto com os outros, e deixe
comigo. Eu tenho um plano.
Desliguei.
— Como assim, Rossi? Que merda está acontecendo? — Maya gritou.
— Eu posso estar enganado, mas acredito que o homem no carro de
trás, é o mesmo que esteve na mansão do Billy naquela noite.
Desesperada, ela virou o corpo para poder olhar melhor.

— Ele pode nos ver? O que acha que ele quer?


O nervosismo parecia vibrar de seus poros, e isso me causou uma
sensação de impotência, pois não podia deixar que nada acontecesse a ela.
— Nós já vamos descobrir, querida — falei, fazendo uma manobra

arriscada, mas que nos tirou da pista de asfalto e nos colocou em uma estrada
de terra, estreita.
Como imaginei que aconteceria, o carro escuro continuou nos
seguindo.
Eu sabia para onde estava indo, então me esforçava, a todo custo, a
permanecer impassível, embora o pavor estampado nos olhos azuis de Maya
ameaçasse me desestabilizar a qualquer momento.
Pisei no acelerador, ganhando certa distância.

— Vá para a parte de trás, e segure os seus cães — pedi. — Nós vamos


bater.
— O quê? — gritou, apavorada.
— Só faça o que eu digo, Maya, pelo amor de Deus — murmurei,
cansado de ela sempre me desafiar.
Assim que fiz uma curva longa e tive certeza da distância que tomei, eu
parei o carro numa freada brusca e, em seguida, ordenei:
— Desça agora e se esconda atrás daquelas rochas! — Apontei.
— Mas você disse que...

— FAÇA O QUE ESTOU MANDANDO, CARALHO!


E ela fez, deixando-me aliviado, embora não menos apreensivo.
Poucos instantes depois, voltei a movimentar o carro. O perseguidor
logo surgiu no meu campo de visão, fazendo-me semicerrar os olhos.

A poucos metros de chegar ao penhasco, eu simplesmente acelerei e fiz


a típica manobra “cavalo de pau”, fazendo o veículo deslizar de lado e,
aproveitando um vácuo, eu abri a porta e pulei no mato. Meu corpo rolou, e
eu, rapidamente, me afastei para poder me esconder.
A explosão do meu carro, me fez pular de susto quando ele caiu do
cume.
Permaneci em silêncio assim que visualizei o carro do perseguidor
freando próximo ao despenhadeiro; o homem desceu e espiou lá embaixo.

Rapidamente pegou o seu celular e fez uma ligação, antes de voltar


para dentro do seu carro e sair dali.
Sorrateiro, eu me arrastei pela mata, tomando o cuidado de me manter
sempre escondido enquanto mandava a minha localização para o Enzo.
Minutos depois, encontrei Maya chorando, encolhida atrás da rocha,
exatamente como ordenei. Odin e Thor estavam ao seu lado, protegendo-a.
— Maya...
Mal me ouviu, e já ergueu o rosto em minha direção, se colocando de
pé.

— Oh, meu Deus, Rossi! — exclamou, se jogando em meus braços


abertos, quase me derrubando com o impacto do seu corpo no meu. — E-eu
vi o carro caindo do penhasco e... — soluçou, incapaz de controlar as
lágrimas e os tremores — Fiquei com ta-tanto medo.

Reforcei o aperto ao seu redor, aliviado por vê-la bem e segura.


De repente, ela se afastou e me encarou com desconfiança, enquanto
enxugava as lágrimas insistentes.
— Vo-você planejou isso?
— Sim.
Na mesma hora, seus olhos faiscaram e, eu não previ o movimento da
sua mão quando ela me estapeou, furiosa.
— Eu poderia estar morta agora, seu idiota! — rugiu, apontando o

indicador. — Você poderia estar morto! Que merda estava pensando?


— Não vem ao caso — falei, impaciente. — Agora nós...
— Nós? — indagou, sarcástica. — Que nós? Você não pensou nisso
quando decidiu agir pelas minhas costas.
— Maya... — tentei alcançá-la, mas ela se esquivou.
— Não me toque! — Pulou para trás como um gato. — Você é um
idiota. Um idiota incapaz de enxergar um palmo na frente do seu nariz. —
Voltou a chorar e, eu novamente tentei alcançá-la com as minhas mãos
sedentas, mas sem sucesso. — Não ouse chegar perto de mim. — Os soluços

aumentaram quando o seu rosto se contorceu diante dos meus olhos. — E-eu
vi... o carro caindo...
Ignorando o seu desejo de se manter longe de mim, eu me aproximei,
prendendo-a em meus braços e aguentando as suas pequenas agressões na

tentativa de se desvencilhar.
— Me perdoe — soprei. — Eu estou aqui.
Cansada, se deixou dominar e, eu, finalmente, a amparei.
— Pensei que estava morto — choramingou, demonstrando uma
vulnerabilidade que eu raramente via.
Levei os lábios a sua testa, beijando a pele repetidas vezes, enquanto
apertava o seu frágil corpo contra o meu.
Uma movimentação na estrada, logo chamou a minha atenção, e senti

Maya estremecer.
— Está tudo bem — garanti. — É o Enzo.
Rapidamente, caminhamos até o meu segurança.
— Senhor! — Estava pálido. — O que aconteceu?
Mantendo a Maya agarrada a mim, eu ditei:
— Tudo saiu como o planejado — avisei, abrindo a porta do carro e
incitando Maya a entrar, juntamente com os seus cães inseparáveis. — Deixe-
me com este carro. — Estiquei a mão pedindo a chave. — Não fale nada para
os meus irmãos, pois vou falar com eles assim que sair da cidade.

— O senhor pretende sair da cidade?


Assenti.
— Por poucos dias. — Dei a volta no veículo. — Obrigado, Enzo.
Antes de entrar, voltei a encarar o meu segurança:

— Por favor, limpe os meus rastros sobre o acidente do penhasco.


— Fique tranquilo.
No interior do carro, me deparei com a Maya chorando baixinho,
parecendo em choque ainda.
Eu sabia que meu plano iria assustá-la de qualquer maneira, mas vê-la
com tanto medo me causou remorso. Maya tinha o poder de me arrancar o
desejo de ferir a pessoa que se atravesse a magoá-la, mesmo que esta pessoa
fosse eu.

Optei pelo silêncio, enquanto girava a chave na ignição e colocava o


carro em movimento para nos tirar dali.
A viagem seria longa.
Capítulo 15
Maya
— Por que estamos aqui? — perguntei quando entramos no chalé,
praticamente, no meio do nada, em alguma parte de Florença. Aquela tinha
sido a primeira vez que abri a minha boca para falar, em todo o longo trajeto
de mais de doze horas. — Aliás, de quem é esse chalé?
— É meu — respondeu, cauteloso, logo atrás de mim. — E estamos
aqui para a nossa própria segurança, já que, tecnicamente, o meu carro caiu
de um penhasco.

— Ah, entendi. — Soltei um riso amargo, ainda de costas para ele,


porque não ia me segurar se o encarasse. Estava furiosa demais e acabaria o
agredindo. — Agora pretende simular a sua morte?
Ouvi o seu suspiro e isso me fez encará-lo. Todas as minhas emoções
estavam afloradas, apesar de eu não entender o motivo exato. Ou melhor, de
aceitar o que estava escrito na minha testa.
A partir do momento em que desconfiei que pudesse tê-lo perdido, o
meu coração doeu como nunca. Eu o amava. Tinha me apaixonado pelo meu
marido.

— Maya, eu já pedi desculpas. — Deixou os ombros penderem para


baixo. — O que mais quer que eu faça?
Travei o maxilar, sentindo a fúria me dominar por completo.
— Eu quero que você se foda! É isso que eu quero.

Dizendo isso, mirei as escadas e, em seguida, marchei até o andar de


cima.
Havia somente um quarto naquele andar, e assim que fechei a porta
atrás de mim, eu me recostei sobre ela, irritada por estar tão descontrolada
com as minhas emoções.
Busquei uma respiração profunda, esforçando-me para me acalmar. Era
ridículo que eu estivesse tão magoada com ele pela atitude que tomou, mas
estava. Estava ressentida por saber que ele sequer pensou em meus

sentimentos.
Droga!
Passando as mãos no rosto, a fim de enxugar as lágrimas, e nos cabelos
para alinhar os fios desarrumados, eu me concentrei no quarto enquanto
caminhava pelo cômodo. O guarda-roupa estava abarrotado de roupas
femininas e masculinas, o que não me surpreendeu nenhum pouco.
Sem ânimo algum, escolhi um vestido de malha, juntamente com uma
calcinha. Nada de sutiã.
O banheiro da suíte era tão luxuoso quanto todo o resto da propriedade,

entretanto, as minhas emoções — à flor da pele — não me permitiam


desfrutar de nada, além da irritação pelo Rossi.
Longos minutos depois, quase sentindo a minha pele murcha, resolvi
sair da água quente. Thor e Odin estavam adormecidos aos pés da cama

quando retornei ao quarto, terminando de enxugar os cabelos negros.


Minha cabeça estava doendo devido a toda crise de choro que tive
durante a viagem.
Por mais que desejasse continuar isolada e bem longe do alvo de toda a
minha fúria, eu decidi sair do quarto e procurá-lo no andar de baixo.
O aroma que circulava o ambiente fez o meu estômago reclamar,
porque apesar de todo o incômodo, eu estava faminta.
Na sala, parei quando vislumbrei a enorme e majestosa Lua me

brindando através das vidraças.


Tencionei chegar mais perto, mas a voz do Rossi me fez parar:
— Espero que esteja com fome. — Virei a cabeça em sua direção,
percebendo que ele também parecia ter tomado banho. Deduzi que deveria ter
outro banheiro ali embaixo. — Estou preparando algo para comermos.
— Não sabia que você cozinhava.
Deu de ombros, parecendo sem jeito. Era como se estivéssemos lá
atrás, no começo do relacionamento, sem saber como agir um com o outro.
— Pois é — gesticulou, dando passos em minha direção —, eu sei me

virar quando necessário. — Coçou a nuca.


— Não sabia que você cozinhava, Rossi — repeti, andando de um lado
ao outro. — Aliás, não sei nada sobre você e sua família. Nós não nos
conhecemos. E nós não confiamos um no outro.

— Maya...
— Juro que, por um momento, pensei que nós dois estávamos seguindo
para algo... diferente — declarei, cortando as suas palavras. — Caramba,
Rossi! Você não chegou a cogitar me contar sobre o maldito plano?
Ele travou o maxilar.
— Você sabe a resposta para essa pergunta.
Rosnei, ouvindo os meus dentes esfregarem-se um no outro.
— Eu não nasci para ser a sombra. — Caminhei até ele, apontando o

indicador contra o seu rosto estupidamente bonito. — Eu nasci para ser luz, e
a luz serve para guiar.
Parei a centímetros do seu corpo, sentindo a sua respiração banhando o
meu rosto. Seus olhos não abandonaram os meus em nenhum segundo.
— O que quer de mim? — repetiu a pergunta que tinha me feito logo
depois que deixamos a sala da madame Carlota, horas antes. Sua expressão
demonstrava todo o tormento presente em seu interior; eu podia sentir isso
emanando dele.
— Eu? — Gesticulei, apontando para mim mesma. As lágrimas

voltaram a inundar os meus olhos. — Eu quero que você me escolha. Quero


que me escolha para guiá-lo.
Permanecemos nos encarando, enquanto eu aguardava que ele me
dissesse alguma coisa, mas isso não aconteceu. Só recebi o seu silêncio.

Fechei o meu rosto numa carranca.


— Você é um idiota!
Soquei o seu peito com toda a força existente em mim e, em seguida,
marchei para longe, subindo as escadas quase correndo.
Novamente no quarto, fechei a porta e fui direto para a cama. Contudo,
não me permiti continuar chorando.
Engoli os soluços e me aninhei nas cobertas, praguejando até a última
geração do idiota que se intitulava o meu marido.

***
Acordei suando. Abri os olhos, tentando me acostumar com a pouca
iluminação.
Não fazia ideia do horário, mas parecia ser de madrugada ainda. Sequer
me recordava do momento em que peguei no sono.
Joguei as cobertas para o lado, ansiando aplacar o calor que me tomava
por inteiro naquele momento. A verdade é que acabei tendo um sonho erótico
com o Rossi, e meu corpo parecia estar sentindo as sensações.
Levei o olhar para os pés da cama e me deparei com o meu marido,

dormindo no chão. Seu sono aparentava estar tranquilo, o que me possibilitou


arrastar-me mais para a beirada a fim de observá-lo melhor. O homem era
lindo em toda a sua glória. O lençol cobria somente a parte de baixo, e eu
pude admirar seu abdômen cheio de gominhos, peito musculoso e ombros

largos. Por algum motivo, eu achava deslumbrante todas aquelas tatuagens;


talvez fosse porque o deixava com um ar de mau.
Céus! Eu estava derretendo de calor.
Ou seria de pura excitação?
Desesperada para acabar com aquele comichão entre as pernas, eu
simplesmente arranquei a calcinha e me deitei com o vestido erguido.
Esparramei as pernas, e desci uma das mãos, pressionando o meu clitóris.
Imediatamente fechei os olhos e deixei as sensações tomarem o meu corpo

febril. Imaginei o meu marido, com aquele corpo glorioso deitado sobre o
meu. Contorci-me contra os meus dedos inexperientes, mas sentindo a minha
excitação crescendo gradativamente.
De repente, passei a imaginar que não eram as minhas mãos ali, mas
sim as do Rossi; acariciando os meus seios, enquanto afundava a língua entre
as minhas pernas. Movi-me, arqueando as costas, aplicando um pouco mais
de pressão no clitóris. Gemi um pouco mais alto, imaginando o meu marido
sobre mim.
— Uhummm... Rossi, oh!

— Maya...?
Pisquei, olhando para baixo e me deparando com o Rossi, ajoelhado
aos pés da cama. De onde eu estava não era possível visualizar os seus olhos
com muita precisão, mas podia sentir o quanto ele estava excitado e

espantado por me ver naquele estado.


— Não! — bradei, assim que ele fez menção de se aproximar.
— Mas... — praticamente engasgou, enquanto massageava a si mesmo
por cima da calça — você está gemendo por mim, querida. Deixe-me ajudá-la
com isso...
Meu pulso estava acelerado.
Aumentei a intensidade dos movimentos.
— E-eu... ainda estou furiosa com você — avisei num silvo. — Seu

castigo será ficar aí... me... olhando.


Arqueei um pouco mais as costas, enquanto me aproximava da borda.
Aumentei a pressão das carícias, mais forte, mais rápido. Gemi
escandalosamente, sentindo o meu pulso acelerado.
Eu estava perto.
Agitei-me desesperadamente e movi o meu quadril mais rápido, tirando
e enfiando os dedos no meu canal, num ritmo frenético. Os golpes tinham um
ruído molhado, deixando claro o quanto eu estava encharcada.
Com os olhos semicerrados, eu procurei o Rossi e me surpreendi ao

encontrá-lo ao meu lado, nu, e se masturbando também.


Puta merda!
Por que ele tinha que ser tão deliciosamente gostoso?
Meu corpo passou a dar voltas, em uma espiral de prazer, preparando-

se para a libertação.
— Oh, Rossi...
— Estou aqui, querida... — respondeu ele, intensificando os próprios
movimentos, enquanto olhava diretamente para mim, com os olhos em
chamas.
Uma última onda de prazer correu pelo meu corpo quando as minhas
paredes pélvicas se apertaram em torno dos meus dedos, alguns segundos
antes do meu glorioso orgasmo me atingir.

Contorci-me toda, sem conseguir controlar os espasmos.


Sequer tive forças para impedir quando o Rossi se jogou no chão, sob
seus joelhos, e buscou a minha mão para si, lambendo os meus dedos como
um alucinado.
Fascinada, eu observei o momento em que, com mais alguns golpes do
seu punho, ele tambem se libertou, enquanto sugava os meus dedos, que
outrora estiveram dentro de mim.
Desejei lamber aquele líquido branco e pegajoso que espirrou em sua
barriga e em sua mão.

Me virei de lado e permaneci olhando para ele. Na verdade, eu e ele


parecíamos estar estudando um ao outro.
Eu queria tanto entendê-lo. Assim como acreditava que ele também
desejava me entender.

Éramos, nitidamente, uma bagunça.


Capítulo 16
Rossi
Em êxtase.
Eu estava mergulhado em puro êxtase.
Não me lembrava da última vez em que cheguei a ser surpreendido
dessa maneira, mas ali estava eu... estático, enquanto encarava a mulher que,
aos poucos, vinha se embrenhando em minha vida mais do que eu gostaria.
No fundo, eu sabia que ela queria mais... entretanto, não encontraria nada de
bom, porque não havia bondade dentro de mim. Maya certamente correria

para bem longe se conhecesse a minha escuridão.


Suspirando baixo, me coloquei de pé, orgulhosamente nu. Peguei a
minha camisa e esfreguei o tecido em minha barriga, limpando os vestígios
do melhor orgasmo da minha vida. Jamais esqueceria a sensação que tive ao
acordar e me deparar com ela, se tocando daquela maneira tão... intensa,
apesar de inexperiente. Tive que segurar a força animal dentro de mim para
controlar o ímpeto de me juntar a ela e cobrir o seu corpo delicioso com o
meu. Quase rugi de puro tesão ao ouvi-la clamando por mim, mesmo estando
irritada comigo.

— Quer tomar um banho? — perguntei, num convite baixo.


Maya continuou do mesmo jeito, largada sobre o colchão, mas
carregando aquela expressão de satisfeita no rosto lindo.
Os impressionantes olhos azuis não deixavam os meus.

Eu sentia um constante medo de ela conseguir enxergar a escuridão da


minha alma.
— Não vou transar com você debaixo do chuveiro — avisou, com a
voz rouca. Percebi quando desviou o olhar para o meu pau, ainda ereto.
— Você quem está dizendo, querida. Eu apenas convidei você para
tomar banho. — Soltei uma risadinha depois que visualizei o seu rubor.
Caminhei nu pelo quarto e me embrenhei no guarda-roupa em busca de
toalhas.

Maya já estava de pé quando me virei para ela. Apesar da intimidade


que acabamos de compartilhar, eu ainda sentia uma enorme lacuna entre nós
dois. E não a culpava por sentir raiva de mim, porque eu não sabia lidar com
sentimentos.
Em silêncio, fui ao banheiro, sendo seguido por ela.
Liguei o registro do chuveiro e suspirei quando a água fria ricocheteou
a minha pele quente.
— Ai! Está fria! — Maya reclamou, fazendo-me notá-la dentro do
Box.

Não controlei os meus olhos, que se arrastaram pelo seu corpo assim
que ela chegou mais perto, roçando os seios no meu braço quando regulou a
temperatura da água. — Pronto! — exclamou, assim que a água se tornou
morna.

— Deixe-me fazer isso — comentei, pegando o sabonete da sua mão.


Ficamos nos encarando enquanto eu ensaboava as mãos para, em
seguida, iniciar uma massagem em seus ombros.
Lentamente e, com delicadeza, desci as mãos até os seios redondos e
durinhos, aproveitando para beliscar os mamilos pontudos. Notei,
deslumbrado, a maneira como ela mordia os lábios, como se estivesse
segurando os gemidos.
— Você tem o poder de me desarmar, Maya — confessei de repente,

porém sem encarar os seus olhos. Continuei ensaboando o seu corpo. —


Você me acusa de ser egoísta, arrogante e frio, e talvez eu seja tudo isso
mesmo, porque faz parte da minha natureza.
— Natureza? — indagou. — Por que acredita nisso?
A fiz virar-se de costas para mim, e comecei a ensaboar os seus braços
e pescoço, jogando os seus cabelos úmidos para o lado.
— Porque fui criado para governar os negócios criminosos do meu pai.
Matei pela primeira vez quando tinha doze anos. — Deslizei as mãos por
seus seios e barriga, espalhando a espuma do sabonete em sua pele. — Passei

o dia todo vomitando depois disso, mas no fim das contas, acabei gostando.
Eu gostei da sensação de poder que isso me proporcionou. Gostei de visitar o
lado negro, Maya.
— Está tentando me assustar.

Sacudi a cabeça, rindo.


— Estou apenas me abrindo com você e a deixando me enxergar como
verdadeiramente sou.
Ela se virou para mim, me encarando com seriedade.
— Pelo contrário — argumentou — Está apenas me fazendo enxergar
aquilo que você quer que eu veja. É diferente.
Arregalei os olhos, espantado com a sua perspicácia, mas logo me
recuperei, voltando a usar minha expressão neutra.

— Por que acha isso?


— Eu não acho. Tenho certeza — ditou, confiante.
Em seguida, tomou o sabonete da minha mão quando eu tencionei
seguir para o meio de suas pernas.
— Você realmente é arrogante e egoísta — declarou, fazendo-me rir
quando ela rolou os olhos. — Também é estúpido e, constantemente, me faz
desejar matá-lo enquanto está dormindo... — arregalei os olhos, assustado, e
ela deu risada. — Mas, no fundo, consigo enxergar algo que você tenta, a
todo custo, esconder.

Meu coração começou a galopar no peito.


— O quê?
Suas mãos acariciavam os meus ombros, lentamente, enquanto
encarava os meus olhos sem desviar.

— Vulnerabilidade — respondeu sem pestanejar. — Você desconfia de


toda fagulha de afeto sincero que recebe, porque talvez não se ache
merecedor. No começo do nosso relacionamento, você não acreditou que eu
estivesse sentindo desejo por você, e me agrediu com palavras. A sua forma
de defesa é o ataque. Eu entendo, pois também faço isso.
Espalmei as mãos na cerâmica, prendendo a Maya e sentindo a forte
ducha da água direcionada apenas em minhas costas.
— Vejo que já tem a sua opinião formada, e que de nada vai adiantar

se eu disser que está errada — murmurei, incomodado com suas recentes


palavras, mas tentando não demonstrar. A verdade é que algo dentro de mim
se ouriçou, como se estivesse adormecido, apenas esperando o momento para
a liberdade. — Eu não quero magoá-la. Mas tenho certeza de que vou acabar
fazendo isso se você continuar insistindo em se aproximar de algo, dentro de
mim, que não existe mais.
— E do que você acha que eu estou tentando me aproximar?
Peguei a sua mão e a trouxe até o meu peito, sobre o coração acelerado.
Visualizei os seus olhos aumentarem de tamanho numa mistura de emoção e

incredulidade.
— Eu deixei de sentir a muito tempo, Maya — confessei. — Porque o
meu coração foi arrancado de mim.
— Mas eu estou sentindo — murmurou, juntando as duas mãos em

meu peito. — Estou o sentindo bater tão depressa quanto o meu.


Dizendo isso, ela me abraçou, apertado, esmagando os seios em meu
peitoral. Entretanto não foi isso que me deixou inquieto, mas a constatação
do que ela dissera; ambos estávamos com os nossos corações acelerados.
— Deixe-me ver — pediu de repente, ainda abraçada a mim.
Lentamente, se afastou, trazendo o rosto perto do meu novamente.
Franzi o cenho.
— Deixe-me ver as cicatrizes — foi mais clara em seu pedido.

Minha respiração ficou presa na garganta.


Ninguém nunca sequer tocou em minhas cicatrizes. Nunca deixei nem
meus irmãos tocarem em algo que era tão pessoal para mim.
Mas ali estava eu, cogitando dar essa permissão à mulher mais
obstinada e teimosa que já conheci.
— Por quê? — A pergunta mal soou audível.
— Porque sinto que elas possuem um significado para você —
explicou. — Não precisa me dizer nada agora, mas apenas me deixe senti-las.
Confie em mim, Rossi, por favor.

Uma sensação repentina veio enquanto olhava fixamente em seus


intensos olhos azuis. Eu não conseguia entender. Só sabia que acreditava
nela, confiava nela. Era... instintivo.
O sentimento estava lá desde que a conheci. Eu tinha,

inconscientemente, afastado a sensação intensa, porque me assustou, mas isso


apenas foi ficando mais forte, à medida que eu ficava mais tempo perto dela.
Respirei fundo por um segundo, antes de me virar de costas.
Fechando os olhos, minhas pálpebras caíram para as minhas
bochechas, esperando...
Senti quando Maya moveu a mão, pairando-a sobre o ombro direito.
Quando as pontas dos dedos tocaram, levemente, o início de uma das
minhas cicatrizes, eu fiquei mortalmente parado.

Travei o maxilar, e cerrei os punhos, fechando e abrindo conforme


lutava contra a tormenta dentro do meu peito.
Maya passou os dedos suavemente pelas minhas costas, sentindo as
minhas cicatrizes. O seu toque me fazia sentir como se fosse apenas o vento
me tocando.
Não calculei quanto tempo se passou, mas de repente, houve uma
pausa.
— Olhe para mim.
Abrindo os olhos, eu a encontrei em minha frente, me encarando com

aqueles enormes olhos azuis, paralisando-me, juntamente com a sua


presença.
— Desde o instante em que olhei para elas, na nossa primeira noite de
casados, eu senti algo em meu interior vibrar — disse, segurando o meu rosto

e acariciando os meus lábios com o seu polegar. — Não entendi essa


sensação na época, mas agora compreendo.
Minha mente acelerou com meu coração, enquanto eu tentava entender
o que Maya estava dizendo.
— O quê? — Sequer reconheci a vulnerabilidade em meu tom de voz.
— O que você compreende?
— A sensação de que você seria meu — respondeu. — E que eu seria
sua.

Alertas soaram por todos os lados, deixando-me zonzo por alguns


instantes, enquanto continuava encarando a mulher que insistia em me manter
refém emocionalmente, embora eu ainda não compreendesse os meus reais
sentimentos.
Não tinha certeza se um dia ia desejar entendê-los.
Desesperado para silenciar a minha mente, eu circulei a sua cintura e
pressionei os meus lábios nos seus.
O calor do meu corpo começou a aquecer o dela. Era como se a minha
escuridão estivesse fervendo no seu interior.

Mantendo-a presa com o meu corpo, ambas as minhas mãos agarraram


firmemente os seus quadris enquanto me inclinei para frente, apoiando a
cabeça na curva do seu pescoço e tomando respirações profundas.
Não havia palavras que pudessem descrever as sensações que ela me

fez e fazia sentir.


A verdade é que aquela garota, aos poucos, vinha derrubando com
chutes e pontapés, cada tijolo que ergui em torno de mim mesmo em busca de
me resguardar.
Eu só não queria que, o meu medo de perder, fosse mais forte do que a
minha vontade de vivenciar aquilo que vinha crescendo entre nós dois.
Capítulo 17
Maya
Abri os meus olhos, sendo brindada pelos raios solares, que
atravessavam as vidraças da janela do quarto. Não fazia ideia de que horas
eram, embora eu não me importasse com isso.
Olhei ao redor do quarto, em busca do Rossi, mas como sempre, não o
encontrei. Eu nunca o encontrava pela manhã. Desconfiava que ele não
conseguisse dormir mais do que cinco horas por noite.
Suspirando, me espreguicei na cama macia, rolando de um lado ao

outro e afundando o nariz no travesseiro usado por ele; o perfume ainda


estava ali... embebedando-me com o seu delicioso aroma.
Repassando as últimas horas em minha mente, recordei do que
fizemos, do que compartilhamos e do momento em que toquei as suas
cicatrizes. Mordi os lábios, me ajeitando de barriga para cima na cama.
Olhando para o teto, eu ergui as mãos na altura dos meus olhos. Era como se
ainda pudesse sentir as grossas e rosadas marcas da pele do Rossi em meus
dedos.
Foi, simplesmente, a sensação mais intensa que já experimentei na

vida.
Ficou claro para mim o caminho longo que o homem ainda precisava
percorrer para ser capaz de controlar a própria escuridão a fim de aprender a
lidar com os novos sentimentos. Mas eu estava disposta a ensiná-lo. Não

estava brincando quando disse que desejava ser a sua luz guia.
Animada com a constatação da minha nova realidade, dei um pulo da
cama e corri para o banheiro.
No banheiro, fui presenteada com o meu reflexo de mulher satisfeita e
feliz. Nunca senti dificuldade em assumir os meus sentimentos e emoções,
pois para mim, negar a si mesmo o que sente apenas causa um desgaste
desnecessário.
Desde o instante em que descobri que teria que me casar com o Rossi,

líder de uma poderosa organização, eu sofri; sofri, porque não fazia parte dos
meus planos de vida me casar com um homem estranho; sofri, porque os
meus ideais eram outros, embora sempre buscasse respeitar as regras
impostas pelo meu pai. A verdade é que eu sempre tive esperanças de
conseguir cumprir a promessa que fiz a minha falecida mãe, antes de ela
morrer, de que eu não permitiria viver uma vida a qual não escolhi,
entretanto, nada saiu como o planejado.
O Rossi não foi como eu imaginei que seria.
Tive um pequeno vislumbre do homem escondido por trás de todas

aquelas cicatrizes... e eu quero resgatá-lo.


Jogando uma água no rosto, voltei para o quarto, optando por colocar
somente uma camisa dele. Sacudi a cabeça, achando graça, porque até ali os
seus ternos eram todos na cor branca.

Depois de colocar uma calcinha e prender os meus cabelos, eu deixei o


quarto.
Desci as escadas, franzindo a testa por perceber o silêncio no andar de
baixo.
Caminhei pelos cômodos, procurando, até começar a ouvir a voz do
meu marido. Estava do lado de fora do chalé.
Abri a porta de trás, me deparando com o dia ensolarado e de um céu
lindamente azul e límpido. Por um momento, eu pisquei, tentando entender a

cena diante dos meus olhos incrédulos.


Rossi estava jogando gravetos, enquanto Odin e Thor corriam atrás,
feito dois desesperados, como se estivessem em busca de um tesouro.
Meu coração bateu descompassado ao ver que ele sentia carinho pelos
meus cães, que eram os meus bebês.
Sequer precisei me mostrar, porque seus olhos logo me encontraram, e
ele sorriu, me chamando com a mão.
— Você não me contou que se tornaram amigos. — Apontei dele para
Odin e Thor, que se deitaram, roendo os gravetos. Me joguei em seus

ombros, sentindo pequenos choques quando as suas mãos espalmaram as


minhas nádegas.
— E você não me disse que sairia do chalé usando somente uma
calcinha — retrucou, ranzinza.

— Pelo amor de Deus, Rossi, olhe a nossa volta — gesticulei — Não


há uma viva alma aqui, além de nós quatro.
Os lindos olhos semicerraram em minha direção.
— Está com ciúme? — brinquei, mordendo os lábios, mas me
aproximando um pouco mais para poder saborear os seus.
— Às vezes, eu tenho dúvidas se você é um anjo do bem, ou do mau,
sabia?
Soltei a língua, rapidamente, apenas para dar uma lambida generosa em

seus lábios semiabertos. Seus olhos aumentaram de tamanho, deixando claro,


a sua excitação.
— Qual você prefere?
Riu, jogando a cabeça para trás.
Um riso gostoso tomou conta dos meus lábios, porque me peguei
admirando a maneira como ele parecia relaxado.
— No momento, eu prefiro te alimentar, porque ontem já foi dormir de
estômago vazio e não quero vê-la doente.
Entrelaçou os dedos nos meus e, em seguida, começou a me levar para

dentro do chalé.
***
— Meu Deus! — exclamei com a boca cheia, fazendo Rossi rir. — Isto
aqui está divino. — Apontei para a minha panqueca doce. — Onde aprendeu

a cozinhar?
— Com a minha falecida mãe — confessou, fazendo-me arquear as
sobrancelhas pela informação gratuita. Jamais imaginei que ele diria isso. —
Ela sempre afirmou que, se dependesse dela, os seus filhos seriam bons
homens e bons maridos para as suas esposas.
Voltei a encher a boca com a massa recheada, deixando o doce escorrer
um pouco.
— E você acha que está fazendo um bom trabalho com a sua esposa?

— indaguei, atrevida.
Rossi estava recostado na bancada, me assistindo comer, mas se
aproximou e se inclinou sobre mim, trazendo os dedos para limpar o meu
queixo sujo de doce. Meu ar ficou preso na garganta.
— Não sei ao certo, mas acredito que terei que perguntar para ela...
Tremores, causados pela sua proximidade, misturados a maneira
intensa como ele estava me olhando deixaram-me desesperada por mais.
Terminei de comer e, em seguida, me ajeitei na cadeira.
Rossi deslizou o indicador pelo meu braço, piorando os meus arrepios.

— Ela acha que os seus dedos estão no caminho certo... — murmurei,


divertida.
Rossi deu risada, e eu aproveitei para segurar o seu rosto e colar as
nossas bocas num beijo avassalador. Eu desejei isso desde o momento em

que o vi brincando com meus cães.


Prestes a ficar de pé e, praticamente, forçá-lo a me tomar para si ali
mesmo, como uma desesperada, nós fomos interrompidos pelo toque do seu
celular.
Praguejando, Rossi me soltou enquanto procurava o aparelho em um
dos seus bolsos da calça.
— Mariano — disse ao atender, enquanto se afastava.
Fiz um muxoxo, porque a interrupção não poderia ter sido mais

incômoda.
Fiquei quieta, aguardando até ele encerrar a ligação, minutos depois.
— E então? — intimei, quando ele desligou e voltou a me dar atenção.
Estava com os dois botões da camisa abertos, deixando à mostra um pedaço
da pele que eu desejava lamber. — Vai me dizer o que está acontecendo?
Ele me encarou, sério e, pensativo ao mesmo tempo. Pensei até que não
me responderia nada, mas eu estava errada.
— O homem que nos perseguiu nas estradas de Palermo foi o mesmo
que sabotou a mansão do seu falecido pai naquela noite. — Arregalei os

olhos. No fundo, eu estava evitando pensar no assunto. — Acreditamos que


também seja ele a estar sabotando os negócios do Billy.
— Por-por quê? — gaguejei, nervosa. — Descobriram algo? — Eu
precisava saber.

Rossi deu de ombros.


— Não sabemos de muita coisa — respondeu num rosnado. — Ele é
bem esperto em se esconder.
— Mas então por que você não aproveitou para pegá-lo quando teve a
chance? — aproveitei a oportunidade para perguntar.
Os lindos olhos escureceram.
— Porque você estava junto — declarou sem um pingo de remorso. —
Eu jamais me perdoaria se acontecesse alguma coisa com você, Maya, e por

minha culpa. — Meu coração deu um solavanco. — Mas te garanto que quem
quer que seja esse homem, ele vai pagar por ter ousado tocar em você lá na
mansão. Eu prometo.
Fiquei sem ar, sentindo o desespero me dominar.
— Mas não foi... — tentei dizer que não havia sido o meu suposto
irmão quem me feriu naquela noite, mas fui impedida por ele, que me
interrompeu, claramente encerrando o assunto:
— Venha comigo. — Estendeu o braço para mim. — Quero te mostrar
uma coisa.

Engoli tudo o que ia falar sobre o meu suposto irmão, chegando a


conclusão de que o Rossi não entenderia. Por ora, percebi que seria melhor
continuar mantendo o segredo.
Dei asas a minha curiosidade e optei por segui-lo para o lado de fora do

chalé, ansiosa para saber o que ele desejava me mostrar.


Meus olhos se arregalaram, espantados pelo cenário que vi em nossa
frente. Havia um lindo lago de águas quase cristalinas.
— Oh, meu Deus! Que coisa mais linda! — exclamei, encantada.
Corri para a água, arrancando a minha camisa, mas sendo impedida por
mãos possessivas.
— O que pensa que está fazendo? — quis saber, nervoso.
Revirei os olhos.

— Rossi, não tem ninguém por perto — declarei, gesticulando ao


nosso redor. — É só mato em cima de mato — constatei. — Então, por favor,
pare de ser chato!
Mordendo os lábios, sapeca, finalmente arranquei a sua camisa do meu
corpo, deixando os meus seios à mostra para o seu olhar carregado de luxúria.
A calcinha minúscula foi o próximo alvo do seu olhar, entretanto, me afastei
de seu toque, me jogando na água fria, mas não menos deliciosa.
Pude ouvir a sua risada acalorada, aquecendo o meu peito.
Ao contrário do que pensei, ele optou por permanecer na beirada,

apenas me olhando.
Afundei o meu corpo por inteiro, e quando submergi, meus olhos se
chocaram com os do Rossi, ardentes e intensos.
Eu ficava impressionada com a facilidade que ele me desarmava,

embora não percebesse esse fato.


— Quanto tempo nós ficaremos aqui... de férias? — perguntei, ansiosa
para tirar o foco das fortes sensações que ele estava me fazendo sentir apenas
com os olhos.
— Férias? — repetiu, achando graça.
— E não é? — revidei, também rindo. — É quase como uma lua de
mel. — Lambi os lábios propositalmente.
Continuou rindo, daquele jeito leve que eu vinha aprendendo a amar.

Ele estava sob os joelhos, numa posição de predador.


— Não tenho certeza do tempo que ficaremos aqui, mas o plano é fazer
com que o sabotador finalmente dê as cartas.
Franzi o cenho, sem entender.
— Como assim?
Ele suspirou.
— Billy deixou a herança para você, querida, mas sou eu quem
administro tudo — respondeu. — Esse homem misterioso está sabotando os
negócios por algum motivo, e nada me tira da cabeça que, talvez, ele seja

algum desafeto do seu falecido pai.


Arregalei os olhos.
— Então você acha que...
— Das duas uma... — interrompeu-me — Ou ele quer destruir tudo o

que o Billy construiu. Ou quer roubar a sua herança.


Meu coração acelerou.
— Para ter certeza, nós precisaremos ficar aqui — continuou, alheio as
minhas reações chocadas. — Eu quero fazê-lo pensar que me desativou,
assim terá mais coragem de se mostrar para os aliados e associados do Billy.
Será nesse momento que o pegaremos.
Pisquei, absorvendo as suas palavras.
Pensei em confessar a ele que o tal sabotador, talvez pudesse ser o meu

irmão bastardo, mas desconfiei que as coisas pudessem ficar piores entre nós,
e eu acabasse estragando o progresso que custei para conquistar.
Ignorando todos os meus temores e emoções, guardei tudo dentro de
uma caixinha para remoer mais tarde quando estivesse sozinha.
Audaciosa, arranquei a minha calcinha e ergui a peça de modo a fazer o
Rossi enxergá-la em minha mão.
Seu olhar me queimou inteira. Por dentro e por fora.
— Estou cansada de conversar.
Não precisei falar mais nada, porque o homem simplesmente voou em

minha direção, pronto para me fazer ver estrelas mesmo perante aquele Sol
escaldante.
Capítulo 18
Rossi
Uma semana depois
— Vamos jogar um jogo — ditou Maya, fazendo minha testa franzir.
Estávamos dentro da banheira, um de frente para o outro e, eu
massageava os seus pés.
— Que tipo de jogo? — perguntei, desconfiado, mas sem esconder a
diversão que a sua expressão sapeca estava me causando.
A verdade é que a última semana, ao contrário do que imaginei que

seria, foi quase como um divisor de águas para nós dois; nos aproximamos
não apenas intimamente, mas emocionalmente também.
— O jogo dos porquês.
Achei graça, e me ajeitei um pouco melhor, porém mantendo o seu pé
em meu peito, sob minhas mãos.
— Não entendi a lógica, querida.
— É simples — disse, arrastando o pé pelo meu peito e deslizando-o
pelo meu rosto; aproveitei para morder o seu calcanhar, arrancando-lhe uma
risadinha — Cada um de nós terá o direito de fazer uma pergunta ao outro.

— Sobre o quê?
— Ah, sobre o que tem curiosidade, oras — respondeu. — Eu começo!
— exclamou, eufórica. Sentou-se, chegando mais perto. — Por que você
negociou a minha mão com o meu pai?

Fiquei surpreso pela pergunta.


— Na verdade não fui eu a negociar — fui sincero. — O Billy tinha
uma informação que eu precisava saber, então aproveitou disso para
conseguir o que queria, que era garantir o seu futuro.
— E por que você aceitou? — intimou. — Você não era o único
solteiro da família — insinuou, causando-me uma sensação incômoda ao
imaginá-la com algum dos meus irmãos.
— Porque você me desafiou — respondi, com os olhos cintilantes. O

sorriso que me ofereceu deixou claro que se lembrava do episódio na mesa do


jantar na mansão do seu falecido pai. — Nunca fiquei tão duro em toda a
minha vida.
Mordendo os lábios, ela sorriu, selvagem.
— Certamente se eu soubesse desse desrespeito, na ocasião, eu teria
cortado o seu pau na mesma hora.
Joguei a cabeça para trás, rindo, apesar dos tremores involuntários. Eu
não duvidava de que ela realmente fosse capaz disso.
— Mas a Maya de agora... — continuou, enquanto vinha até mim — só

sente vontade de montar nele.


Avançou os lábios nos meus, enquanto se ajeitava, com as pernas
abertas, sobre o meu colo.
— Agora é a minha vez... — soprei contra seus lábios, tentando

reformular o meu raciocínio, porque ela não parava de esfregar a sua doce
boceta no meu pau. — Como conseguiu convencer o Billy a deixá-la treinar?
Sua boca foi descendo, do meu queixo ao pomo de adão; arrastando a
língua pela minha pele úmida.
— Você pode se surpreender com o que vou dizer agora, querido, mas
há quem diga que sou manipuladora.
Gargalhei alto do seu cinismo.
— Isso é realmente surpreendente. — Ela me mordeu, fazendo-me

apertar a sua cintura.


Afastando o rosto, encarou-me nos olhos; havia um sorrisinho no canto
dos seus lábios.
— Meu pai sempre foi bom para mim, sabe? Mesmo errando, eu sabia
que ele queria acertar — disse. — Depois da morte da minha mãe, sei que ele
ficou sem rumo, porque acabou tendo que lidar com a filha única de doze
anos. Não foi difícil convencê-lo a me presentear com tudo o que desejei,
porque tudo o que ele queria era me ver feliz.
Ponderei as suas palavras.

— Faz sentido.
— É, eu sei que faz — resmungou, segurando o meu pau e me
encaixando em sua entrada.
— Maya, nós temos que... — me calei quando ela se preencheu com o

meu pau — colocar a camisinha. — Soltei o ar, incapaz de descrever a


sensação deliciosa.
De olhos fechados e com o lábio entre os dentes, ela apenas suspirou,
ignorando-me.
— Não tem problema, porque não estou no meu período fértil.
— Como sabe? — Segurei os seus cabelos com agressividade, trazendo
o seu rosto mais perto.
— Sabendo, oras — respondeu, atrevida. — Não sou nenhuma

desinformada. — Começou a impulsionar o corpo, fazendo com que a água


da banheira esparramasse pelos lados. — Não fale como se não gostasse de
me sentir sem a barreira do látex.
Seus olhos reviraram-se nas órbitas, fazendo-me enxergar todo o prazer
que nosso ato a estava proporcionando. Linda. Ela ficava ainda mais linda
quando se permitia desfrutar das nossas carícias.
Nunca me dei ao trabalho de prestar atenção nas reações que as
mulheres faziam durante a transa, porque era algo irrelevante para mim.
Não havia ligações.

Não havia sentimentos.


Não havia palavras.
Era somente um homem e uma mulher desfrutando do prazer através
do corpo um do outro, e ponto.

Mas com a Maya era diferente. Aliás, tudo era diferente com ela.
Desde a primeira vez que nos vimos, eu me senti estranho.
— A questão aqui não é essa, mas sim o risco de você...
— Argh! Cala essa boquinha linda, cala, querido — interrompeu-me,
colando nossos lábios e aumentando o ritmo.
Sua língua estimulou a minha, numa dança erótica e sensual enquanto
seus gemidos se intensificavam conforme movimentava o quadril com
velocidade assustadora.

Ignorando todos os alertas, eu apertei as suas nádegas, ditando um


novo ritmo e chocando nossos quadris. Nunca transei sem camisinha com
outra mulher, então era mais do que óbvio aquela sensação aterradora; eu
podia sentir tudo. As paredes pélvicas da sua vagina me apertavam com tanta
força que precisei de todo o meu alto controle para não gozar antes dela.
— Ah, Rossi...
Abandonei os seus lábios, apenas para descer ao seu mamilo.
— Goza, querida — pedi, mordendo o bico. — Goza no meu pau que
tanto te enlouquece.

— Se-seu... convencido — soprou, sem fôlego, fazendo-me rir.


Não levou nem cinco minutos e ela começou a tremer quando o
orgasmo a atingiu em cheio.
A cena foi tão excitante que não me aguentei e me derramei também.

Meu gemido foi assustador até mesmo para mim, porque me senti completo e
realizado como nunca. Definitivamente, estar dentro dela se tornou o meu
lugar favorito no mundo.
— Confesse, querida — comentei, buscando por ar — você está
viciada no meu pau. — Não escondi a satisfação no meu rosto.
Ela achou graça, mas também não negou. Ao invés disso, voltou a me
beijar.
Sua língua era sedenta sobre a minha, e eu não me fiz de rogado.

Éramos como pólvora e gasolina.

Bonnie e Clyde[2].
Estávamos tão envolvidos um com o outro naquele momento, que
demorei a perceber o som do meu celular.
Delicadamente, afastei a Maya, que reclamou:
— Deixa tocar, Rossi — pediu. — Está tão gostoso nós dois aqui...
Sorri, beijando o seu narizinho, achando a sua expressão fofa.
— Não posso, querida — expus. — Mesmo não gostando, eu ainda sou
o líder de uma organização imensa e poderosa, então preciso estar sempre

preparado e atento.
Me levantei, puxando uma toalha e me enxugando. O telefone tinha
parado de tocar, mas retornou, alguns segundos depois.
— Mariano? — Atendi. — Alguma novidade?

Desde que vim com a Maya para Florença, a dúvida sobre a minha
suposta morte foi implantada no submundo como uma maneira de chamar a
atenção, não somente do homem de rosto deformado, mas também dos
traidores.
— O Jack já iniciou as investigações — disse ele. — O homem se
chama Ryder Mitchell. Tem 25 anos e foi criado na Philadelphia,
Pennsylvania. Ao que tudo indica, ele recebeu somente o nome da mãe,
Olívia Mitchell.

— Qual a ligação dele com o Billy?


— Ainda não sabemos.
— E os aliados e associados?
— Já foram avisados — disse. — Qualquer movimentação suspeita,
nós saberemos. Vamos pegá-lo, capo.
Estávamos com esperança de que o sabotador, finalmente, se revelaria
por pensar que eu e Maya houvéssemos sido desativados no acidente. Nada
me tirava da cabeça que esse cara estava atrás da herança que o Billy deixou
para ela.

— Tá legal. — Suspirei, esfregando o rosto e os cabelos com a toalha.


— Qualquer informação nova, eu quero saber.
— Na verdade... tem — argumentou, parecendo nervoso.
— O-o quê? O que foi? — intimei, sentindo a sua inquietação, mesmo

a quilômetros de distância.
— Ele quer falar — respondeu num murmúrio. — O seu hóspede da
masmorra disse que está pronto para falar.
Todo o meu corpo sentiu o peso daquela revelação, e eu me obriguei a
inspirar fundo.
— Ele ainda está vivo? — A pergunta soou num tom tão baixo que
cheguei a ter dúvidas se realmente houvesse pronunciado as palavras.
— Sim — respondeu. — Estamos o mantendo confortável, ao menos até

você chegar.
— Estou indo — falei mais do que depressa, e já saindo do banheiro.
— Ei! — ouvi Maya reclamar, mas ignorei-a.
— Mas e o plano de se manter afastado para o sabotador pensar que
está morto?
— Foda-se esse maldito plano! — rugi, abrindo a porta do guarda-
roupa. — Se temos a chance de descobrir informações sobre o líder dos
Shadows, eu não vou perdê-la.
Desliguei o telefone, olhando para a minha mão trêmula.

— O que aconteceu? — Assustei-me com a pergunta abrupta da Maya.


Me virei para trás e a vi enrolada na toalha. Sua expressão estava preocupada.
— Você parece inquieto.
Travei o maxilar, desviando os olhos.

— Vamos voltar para Palermo.


— Por quê?
— Porque estou dizendo.
— Rossi, eu não entendo... momentos antes da ligação, nós dois
estávamos bem e...
— EU JÁ DISSE QUE PRECISAMOS VOLTAR! — berrei, incapaz
de controlar as minhas emoções deturpadas.
Ela deu um pulinho de susto, pois certamente não esperava pela minha

explosão.
— Idiota — resmungou, com os olhos cheios de água.
Caminhou até o guarda-roupa, onde, silenciosa, pegou as peças de
roupas.
Segurei o seu braço no instante em que ela tencionou voltar para o
banheiro.
— Maya...
— Não! — cortou-me, se soltando do meu aperto com um safanão. —
Não perca o seu tempo para me explicar o motivo da sua grosseria gratuita.

— Sua voz estava engasgada, demonstrando a sua completa mágoa. Droga!


— Apenas lembre-se que eu não sou um dos seus subordinados. Sou a sua
mulher. E não quero acreditar que sou apenas a mulher que você come.
Dizendo isso, ela se afastou, me deixando com uma sensação ruim no

peito.
Não tinha tido a intenção de magoá-la.
Merda!
***
Chegamos a Palermo de noite. E assim como na ida para Florença, o
trajeto de volta foi feito em silêncio absoluto. Eu sabia que Maya tinha os
próprios motivos para se sentir magoada comigo, mas o que ela não entendia
é que eu não fui moldado para os bons sentimentos, aliás, perdi isso há muito

tempo.
Por que ela não conseguia lidar comigo da maneira como eu era?
Mal estacionei o carro na garagem da mansão e, ela já saiu, batendo a
porta com força e me fazendo praguejar.
— O que houve com ela? — Mariano quis saber, assim que abri a porta
do motorista. — Passou por mim feito um furacão.
— Não é nada — menti, pois não queria comentar o assunto. — Estão
todos aí?
Começamos a andar.

— Manuele está na casa dele, e Fillipo e Luca estão na boate.


— Ótimo! — exclamei. — Eu acho que não fomos vistos, mas se puder
acessar as imagens das câmeras, presentes em algumas rodovias e, dar um
jeitinho, seria melhor para os nossos planos.

— Está certo, capo. Deixa comigo.


Assim que entramos na mansão, eu olhei para as escadas, pensando em
ir até a Maya, mas o clamor do sentimento de vingança existente em cada
célula do meu ser gritou mais alto.
— Não quer conversar primeiro? — Mariano questionou.
— Não com você — decretei, impaciente.
Abandonando-o, eu continuei seguindo rumo à masmorra.
***

A luz se acendeu automaticamente quando entrei. O cheiro podre da


morte estava ali... impregnado no ambiente inóspito.
— Cão? — chamei, visualizando o moribundo jogado no chão, no
canto pouco iluminado. As feridas ao redor de seus tornozelos, pulsos e
pescoço, causadas pelas correntes estavam totalmente infeccionadas.
Caminhei até ele, depois de retirar o meu paletó branco.
O infeliz se encolheu quando me viu com o único olho que ainda
funcionava.
— Sentiu saudades do seu dono? — Meu sorriso sinistro pareceu

causar-lhe pavor, porque ele começou a tremer descontroladamente.


Aguardei que sua crise passasse, mas isso não aconteceu. Parei de rir e
levei a mão para trás da sua cabeça, forçando o seu corpo sujo e magro para
mim.

— Ei, porra! Não é hora de morrer ainda, cazzo! — Estapeei o seu


rosto, irritado e frustrado. — Diga-me agora o nome do líder dos shadows!
Quem é o papa?
Balbucios escaparam da sua boca antes de ele, simplesmente, silenciar
em meus braços. Morto.
Estático, eu pisquei algumas vezes, chocado e decepcionado demais
para fazer ou dizer qualquer coisa, então apenas gritei.
Um grito de pura dor e fúria.

Jogando o cadáver para longe das minhas mãos, eu me coloquei de pé,


sentindo-me trêmulo e desnorteado. Minhas pernas pareciam moles e meu
coração em pedaços; tudo o que conseguia pensar naquele momento era na
imagem da Bianca pendurada por ganchos, nua e dilacerada.
Lágrimas inundaram os meus olhos quando ela chegou... a culpa.
Sobressaindo-se a todo e qualquer sentimento.
Arranquei a camisa e fui até o armário. Em seguida, abri a porta secreta
— ali mesmo, dentro da masmorra — que me levaria para um local pequeno,
porém sagrado para mim, porque guardava relíquias só minhas. Era uma

espécie de altar. Ali, eu me sentia redimir de toda a culpa, ao menos por


alguns minutos.
Com o chicote na mão, eu caí de joelhos. De olhos fechados, visualizei
a minha doce irmã sorrindo... por que ela foi a escolhida para sofrer tanto?

Não era justo!


O primeiro açoite chegou... queimando a minha pele, já marcada.
Entretanto, com a sensação de queimação, também veio o alívio. Era
agradável a dor da carne, porque assim, eu me esquecia da culpa que me
corroia por dentro.
Os golpes continuaram numa sequência firme e intensa.
Eu não me importava com as cicatrizes.
Não me importava com o sangue.

Não me importava com a dor intensa que cada açoite causava em mim.
Eu apenas queria esquecer o meu fracasso.
Queria esquecer que não fui bom o suficiente para manter a minha irmã
segura.
Capítulo 19
Maya
Eu estava magoada. Não, estava furiosa!
Era impressionante o quanto as coisas desandaram assim, tão rápido.
Os últimos dias ao lado do Rossi foram maravilhosos; eu pude sentir que aos
poucos estava conseguindo dobrá-lo... conhecê-lo.
Mas algo mudou.
Alguma coisa despertou o seu lado feio outra vez.
Num primeiro momento, me senti magoada, porém depois a mágoa deu

lugar à fúria.
E ali estava eu... pronta para brigar.
Andando de um lado ao outro no quarto, eu me sentia inquieta ao
extremo, enquanto esperava o meu excelentíssimo chegar; o alvo do meu
tormento pessoal.
A madrugada já havia avançado, mas as minhas emoções, à flor da
pele, não me permitiam descansar enquanto não voltasse a colocar os olhos
nele. Rossi precisava saber que eu não admitiria ser tratada de qualquer jeito.
Segurei a respiração quando ouvi o barulho na maçaneta da porta.

Visualizei o seu olhar de espanto quando colocou a cabeça para o lado de


dentro do quarto, espiando.
Firmei as mãos em minha cintura.
— Onde você estava? — intimei, observando a sua postura rígida. Ele

estava sem camisa, e pareceu ponderar a ideia de entrar ou não. — Estou há


horas te esperando, Rossi.
Ouvi o seu suspiro baixo, como se estivesse completamente exausto.
— Por quê?
— Como, por quê? — perguntei, incrédula com a sua falta de
sensibilidade. — Nós precisamos conversar! — revidei. — Não pense que me
esqueci da maneira como me tratou lá em Florença.
Ele não disse nada, e isso só serviu para me irritar um pouco mais.

— Juro que pensei que você estivesse melhorando e... — me calei,


assustada e cobrindo a boca com as mãos, assim que ele, finalmente, entrou e
se virou para fechar a porta. — Oh, meu Deus! As suas costas estão...
Ameacei ir até ele, mas a sua mão me parou.
— Não! — exclamou, parecendo desesperado. — Não se aproxime.
Não agora, Maya.
Meus olhos se encheram de lágrimas, porque eu podia sentir o seu
sofrimento, embora não pudesse fazer nada para ampará-lo. Seu olhar me
dizia que algo muito ruim acontecia dentro de si mesmo, entretanto havia

uma barreira invisível o impedindo de se encontrar. De me encontrar.


— Mas eu... — fiquei paralisada enquanto o via caminhando pelo
quarto — só quero... ajudar. — Minha voz não passou de um engasgo. —
Quem fez isso? — intimei, observando-o abrir o closet em busca de roupas

limpas. — Quem feriu você, Rossi?


Nada.
Ele continuou em silêncio.
— Rossi...
Passando por mim, ele parou. De cabeça baixa, soltou outro suspiro
doloroso.
— Vá dormir, Maya. Eu estou bem.
Dizendo isso, se fechou no banheiro, deixando-me com a sensação de

um peso maior do que antes de ele chegar ao quarto.


Funguei, passando as mãos no rosto para enxugar as lágrimas
insistentes. Aquilo não estava certo. Não podia estar.
De repente, a imagem das cicatrizes vivas das costas dele invadiu os
meus pensamentos... o sangue escorrendo através das feridas...
Não. Eu não ficaria quieta.
Rumando para fora do quarto, eu fui atrás da única pessoa que me
explicaria o que estava acontecendo.
***

Mariano estava na sala de jogos quando o encontrei. Bati a porta com


força, assustando-o ao ponto de apontar a arma em minha direção, porém se
desarmando quando viu que era eu.
— Foi você que fez aquilo com o meu marido? — indaguei, acusando-

o sem me importar com a sua postura.


— O quê? — revidou, confuso, enquanto depositava a pistola na
bancada. — Do que está falando, garota?
Cheguei mais perto, impulsionando a perna na intenção de chutar as
suas costelas, mas ele foi mais ágil em se afastar do meu golpe.
Eu estava cega. Totalmente furiosa.
— Não adianta negar, porque acabei de ver o estado das costas dele —
declarei, sentindo a dor me dominar, juntamente com a fúria. — Não há mais

ninguém aqui, além de nós e os seguranças, e certamente os seguranças não


fariam aquilo. Então só pode ter sido você.
— Maya... — se calou, voltando a se defender dos meus golpes — eu
entendo a sua frustração, mas garanto que não fui eu.
— Mentiroso! — exclamei, pulando como um gato e acertando o seu
rosto com um soco.
— Oh, porra, garota! — resmungou. — Para com isso.
— Ele estava bem — continuei tentando atingi-lo, sentindo o engasgo
do choro tomando conta das minhas emoções — Estava bem até você ligar.

De repente, ele segurou os meus braços, impedindo-me de atacá-lo.


— Não fui eu, Maya! — declarou olhando diretamente em meus olhos.
— Não.fui.eu — repetiu pausadamente.
O choro irrompeu a minha garganta, fazendo-me finalmente sentir o

impacto da cena. Das costas do meu marido escorrendo sangue.


Nervoso, Mariano me abraçou.
— Ele... estava sangrando, Mariano... oh, meu Deus! Eu tentei ajudá-
lo, mas ele é tão idiota! — rugi. — Eu odeio que ele me empurre para longe
quando sinto que, no fundo, deseja o contrário.
Afastando o rosto, Mariano me encarou, passeando os dedos abaixo
dos meus olhos chorosos.
— Eu sei, querida — afirmou. — Sei o quanto meu irmão consegue ser

teimoso e insuportável na maioria das vezes, mas posso lhe garantir que
existe um motivo que faz com que tudo isso seja despertado nele.
Pisquei, fungando.
— O-o quê? O que é? Me diz.
Negou com a cabeça.
— Não posso — alegou. — Só posso torcer para que, um dia, ele tenha
forças suficientes para te contar.
Respirei fundo, abaixando a cabeça e encarando as minhas próprias
mãos.

— Maya? — Voltei a olhar para ele. — O Rossi só está um pouco


perdido, mas posso garantir que ele é um bom homem — expôs. — Tenho
certeza de que com a sua ajuda, ele vai ser capaz de superar tudo o que o
atormenta.

— Por que diz isso?


Sorriu, sacudindo a cabeça.
— Ainda pergunta? — zombou. — Você acabou de me agredir em
defesa dele. O defendeu como uma leoa. — De repente, levou a mão ao rosto.
— Ainda estou sentindo o peso do seu punho aqui...
Foi minha vez de sorrir.
— Não sei como fazer para ajudar alguém que, aparentemente, não
quer ser ajudado — desabafei.

Inspirando fundo, ele segurou as minhas mãos nas suas.


— Ele quer, Maya — garantiu. — Só é teimoso demais para admitir.
Sacudi a cabeça, compreendendo.
— Obrigada — soprei, buscando respirar profundamente. — Acho
melhor eu... — pigarreei, apontando para a porta — Desculpa pelo... —
referi-me ao seu rosto, meio sem graça.
— Tudo bem, ninguém precisa saber disso — brincou.
Sorri um pouco mais, apesar do constrangimento.
Afastando-me, eu mirei a saída, mas a sua voz me parou:

— Deixe-o ver que se importa. — Me virei para encarar o seu rosto. —


Mostre a ele que se importa de verdade.
Assenti, pensativa. Saí de lá absorvendo as suas palavras.
***

Ao chegar no quarto, percebi que o Rossi ainda estava no banheiro;


segurei toda a vontade que senti de ir até ele e, simplesmente, me enfiei
debaixo das cobertas. Fiquei ali, quietinha, até que, minutos depois, Rossi
saiu.
Fingi estar dormindo, mas consegui espiar o momento em que ele veio
até a beirada da cama, no meu lado; pareceu ponderar as suas ações, como se
estivesse tendo uma luta interna. Segurei-me ao máximo para não abrir os
olhos e forçá-lo a se deitar comigo e me deixar cuidar dele. Mas me mantive

firme. No fim das contas, ele foi preparar a sua cama no chão.
Estaca zero de novo.
Engoli o choro e a decepção.
***
Acordei no susto, mas suspirei de alívio quando olhei para o chão, em
frente à cama e vi que o Rossi ainda dormia. Devagar, joguei as pernas para
fora do colchão e, em seguida, peguei o meu robe.
Pé por pé, eu caminhei pelo cômodo, silenciosamente, e com cuidado
para evitar acordá-lo. Soltei o ar assim que fechei a porta atrás de mim e me

vi no corredor, fora do quarto. Ainda era madrugada, mas eu sabia que o


Rossi não tinha o sono bom. Então precisava ser rápida.
No andar de baixo, me encaminhei até a cozinha. A cozinheira,
provavelmente, estaria dormindo, mas não me importei.

Parada em frente ao armário da despensa, comecei a selecionar os


ingredientes que precisaria para preparar a receita. Depois de tudo escolhido,
eu, literalmente, coloquei as mãos na massa.
***
Novamente no quarto — pouco mais de uma hora depois — eu fui até
o Rossi e me ajoelhei ao seu lado. Ele ainda dormia, então aproveitei para
admirá-lo um pouco. A expressão serena contradizia com o tormento que eu,
constantemente enxergava por trás dos seus olhos. Rossi era tão lindo... era

estranho admitir, mas eu me sentia dolorida por saber que ele estava
sofrendo.
Engolindo o desejo de chorar feito uma manteiga derretida — que eu
não era — levei a mão ao seu rosto. Porém, antes que eu tivesse a chance de
tocar a sua pele com os meus dedos sedentos, tive o meu pulso agarrado por
sua mão enorme e firme.
Dei um gritinho de susto, porque não estava esperando.
— Ui, que susto, homem! — exclamei, massageando o meu peito. —
Eu pensei que estava dormindo.

Ele franziu o cenho.


— E, eu estava — murmurou, sentando-se e esfregando o rosto. —
Que horas são?
Respirei forte.

— Não sei. Cinco da manhã talvez.


Ele me encarou com desconfiança.
— O que está fazendo acordada uma hora dessas? — questionou. — O
que está tramando?
Eu não podia culpá-lo pela desconfiança, visto que a minha arma
habitual sempre foi o ataque.
Era mais do que óbvio que eu ainda estava irritada com ele por ter
gritado comigo lá em Florença; e por constantemente me manter afastada.

Mas entendi que o Mariano tinha razão quando disse que eu precisaria
mostrar que me importava. Rossi precisava sentir o meu amor.
Como estávamos perto da cama, eu me inclinei e, rapidamente peguei a
bandeja que já tinha deixado ali.
— O que...
— Eu mesma preparei — expliquei, cortando as suas palavras quando
viu os biscoitos amanteigados. — É uma receita de família, sabe? — contei,
nostálgica. — A minha mãe aprendeu com a minha avó; e eu aprendi com a
minha mãe. — Sorri, me recordando. — Pensei que gostaria de tomar café da

manhã comigo para variar, já que sempre acordamos em horários diferentes.


Rossi permaneceu me encarando, em silêncio. Eu não conseguia ler a
sua expressão, então comecei a me sentir nervosa.
Pigarreei.

— Bem, não precisa comer se não quiser... — senti o meu rosto


vermelho — eu só pensei que... — me calei, começando a me arrepender de
ter feito aquilo — Argh! Esquece.
Ameacei me levantar, mas o Rossi me impediu, segurando o meu
braço.
— Foi você quem fez? — perguntou, ainda me encarando com
intensidade. Minha voz sumiu, então apenas assenti. — Por quê?
Sabia que ele estava confuso, porque certamente imaginou que eu o

atacaria, ou que passaríamos mais dias sem nos falar.


— Porque me importo com você — decidi ser honesta. — E porque eu
quero que confie em mim, Rossi. Não estava brincando quando falei que
desejava ser a sua luz.
Mordi os lábios, envergonhada.
Rossi soltou o ar, parecendo emocionado.
De repente, deslizou a mão para a minha nuca, acariciando os meus
cabelos.
— Você não cansa de me surpreender.

— Não, eu não canso — respondi, mesmo não tendo sido uma


pergunta.
Não o esperei tomar a iniciativa e, simplesmente, avancei minha boca
na sua, porque desejei fazer isso desde que entrei naquele quarto.
Capítulo 20
Rossi
Duas semanas depois

— Não é estranho que um investigador, queira conversar, justamente


num local público? Na porra de uma lanchonete?
— Eu ouvi isso, Luca. — Jack comentou, chegando exatamente
naquele momento. — Foi mal aí pela demora. — Estendeu a mão em minha
direção. — Mas peguei um trânsito do caralho.
Em seguida, cumprimentou o Mariano e o Luca, que rolou os olhos,

impaciente.
— Não tem problema, mio caro. — Me inclinei, apoiando os cotovelos
sobre a mesa. — Eu e meus irmãos temos todo o tempo do mundo para você.
O americano riu, chamando o garçom e pedindo uma cerveja.
Tive tempo o suficiente para observar a sua aparência, que, aliás,
estava sempre diferente a cada vez que nos víamos. No momento, ele estava
com os cabelos compridos, tingidos com mechas loiras, contrastando com
seus olhos verdes. Esquisito, mas certamente devia chamar a atenção de

algumas mulheres.

— Oh, por favor, Rossi, não seja tão ranzinza — disse, enquanto
remexia no conteúdo da sua bolsa. — Ambos sabemos que por mim, vocês
sempre esperam. — Piscou, abusado.
Não o corrigi, porque infelizmente ele estava certo. Não havia ninguém

melhor do que ele para descobrir informações.


— Olha só, cara... — Luca chamou a sua atenção — Qual o motivo da
mudança da vez? — Gesticulou para sua aparência. — Vai dizer que as
mulheres gostam... disso? — desdenhou.
— Isto, meu caro — apontou para os cabelos — é, com certeza,
enlouquecedor para elas, porque enquanto estou cavalgando e...
— Argh! Pelo amor de Deus, já chega, Jack. — Mariano sacudiu a
cabeça, como se quisesse espantar a visão da sua mente — Não estamos aqui

para ouvir a respeito das suas aventuras sexuais.


Ele riu.
— Ok. Entendi o recado, chefe! — Fez o sinal de continência. Em
seguida, retirou alguns papéis de dentro de uma pasta. — Aqui está o que
vocês queriam saber.
— Tudo? — perguntei, ansioso, pegando os papéis para olhar.
— Tudo — confirmou.
— O rapaz é um filho bastardo de Billy Johnson.
Pisquei, chocado.

— O quê? — indaguei, ainda tentando absorver a informação nova. —


Eu desconfiava que eles tivessem uma ligação, mas jamais imaginei que
fosse esse tipo de ligação.
— Será que a Maya...

— Ela não sabe — cortei as palavras do Mariano, nervoso. — E não


pode saber. Ao menos não ainda.
— Você sabe que ela é doida, né? — Luca lembrou. — Não vai gostar
de ser poupada de uma informação como essa.
Travei o maxilar, ignorando toda aquela preocupação.
— Sabe como encontrá-lo, Jack? — perguntei.
O garçom se aproximou da mesa, trazendo a bebida.
Aguardei, sem paciência alguma, enquanto Jack entornava a sua

cerveja.
— Ah, que delícia! — exclamou, bocejando o líquido em sua boca. —
Eu não sei — respondeu a minha pergunta — Ainda — acrescentou mais do
que depressa. — Ryder Michell foi criado sem a presença do pai; Billy teve
um caso com a Olívia Michell e quando descobriu a gravidez dela,
simplesmente a mandou para longe.
— Optou pelo mais fácil — Mariano deduziu.
— Pois é — Jack concordou. — Como uma garantia, ele mandou um
dos seus homens para tomar conta dela, durante os primeiros meses,

entretanto, contrariando as ordens do patrão, o homem acabou se


apaixonando pela mulher. Então, durante vários anos, os dois viveram como
um casal, aparentemente feliz, mas havia muitos conflitos na vida dessa
mulher, que nunca aceitou a rejeição do Billy.

— É sério que descobriu tudo isso? — Luca indagou, incrédulo.


Jack riu.
— Eu sou bom, cara! — exclamou, voltando a beber sua cerveja. —
Olívia se tornou alcoólatra e isso trouxe consequências graves. Quando Ryder
tinha dezessete anos, chegou em casa e encontrou a mesma em chamas;
desesperado, ele entrou para tentar salvar a mãe, mas...
— Não conseguiu — Luca falou o óbvio.
Jack assentiu com a cabeça.

— É por isso que ele tem parte do rosto queimado — deduzi.


— Sim.
— E o tal segurança que foi contratado pelo Billy? — Mariano quis
saber.
— Morto — respondeu. — Morreu há mais de dois anos.
Levei os dedos ao queixo, pensativo.
— Ryder quer a herança — murmurei mais para mim mesmo.
— Isso não faz sentido — Luca resmungou. — Por que ele sabotaria os
negócios que, supostamente, são dele?

— Como uma forma de mostrar que eu não sou bom o suficiente —


falei. — Porque ninguém confiaria nele logo de cara. Primeiro, ele precisa
queimar o meu filme, para depois mostrar o seu próprio.
— Faz sentido, capo — Jack apontou com a garrafa em sua mão —

Faz sentido.
Ficamos ali por mais algum tempo, até nos despedirmos do Jack. Luca
acabou indo direto para a boate, enquanto Mariano e eu continuamos juntos.
Não era comum, mas Enzo estava como o meu motorista naquele dia,
então Mariano e eu nos ajeitamos na parte de trás do carro blindado.
— O que está pensando em fazer? — Meu irmão quis saber assim que
o carro entrou em movimento.
— Ainda não sei.

— Tudo bem. Mas você sabe que a Maya...


Suspirei.
— Sei que ela precisa saber, mas ainda não estou a fim de contar que o
pai, que ela tanto idolatra, teve um filho fora do casamento.
Ele travou o maxilar.
O silêncio inundou o interior do carro por alguns segundos, mas logo
foi preenchido pela risada do Mariano.
Franzi a testa.
— O que foi? O que é tão engraçado?

Ele estava sacudindo a cabeça, rindo com vontade.


— Você — Gesticulou. — Está aí todo na defensiva por causa dela,
quando há duas semanas, ela fez o mesmo sobre você.
— Como? — Me ajeitei melhor, interessado no assunto. — Do que

está falando?
E nos próximos minutos, ele narrou todo o acontecimento em que a
Maya o agrediu por pensar que foi ele a me ferir daquela forma.
— Não acredito que ela fez isso — Eu estava em choque.
— Pois acredite, irmão — garantiu entre risos. — Aquela garota te
ama, e eu pude sentir isso na pele. Literalmente falando.
Ambos demos risada.
Enquanto ria, eu não conseguia parar de repetir as palavras do meu

irmão em minha mente: “aquela garota te ama.”


***
Assim que chegamos em casa, eu segui direto para a sala de treinos da
Paola, porque sabia que encontraria a Maya lá.
Quando entrei, ao contrário do que imaginei, as duas estavam sentadas
no colchonete, conversando.
— Ora, ora... a que devo a honra dessa visita tão ilustre? — Paola
zombou, atrevida.
Dei uma risadinha, olhando diretamente para a minha garota, que

também não tirava os olhos dos meus.


— Vim atrás da minha mulher.
— Oh, claro que veio. — Paola revirou os olhos, se levantando e se
afastando. — Todinha sua.

— Não sou nenhuma mercadoria, Paola — comentou Maya, se fazendo


de ofendida.
Mas bastou a Paola nos deixar a sós na sala, para que ela, praticamente,
pulasse em meus braços.
As pernas circularam a minha cintura enquanto a sua boca voraz
buscava pela minha com sofreguidão.
— Ei?! — Dei risada entre o beijo. — Isso tudo é saudade?
— O que eu posso fazer se você me viciou nesse gigante que carrega

entre as pernas.
Foi minha vez de me fingir de ofendido.
— Ah, então agora eu só presto para servir aos seus prazeres sexuais?
Ela jogou a cabeça para trás, rindo, e eu aproveitei para esconder o
rosto na dobra do seu pescoço e inalar o perfume.
— Eu não disse isso — defendeu-se, voltando a me encarar com aquele
sorriso lindo.
Era notório o brilho em seus olhos nos últimos dias. Desde o meu
momento sombrio no altar da minha irmã, Maya vinha se mostrando tão

carinhosa e amável que tudo o que eu passei a desejar era poder estar com
ela. A mulher, que outrora desejei manter longe, se tornou o meu refúgio.
— Você disse gigante? — questionei, arrogante.
— Sim, eu disse — afirmou, achando graça.

Voltamos a nos beijar, mas de repente, eu parei, porque me lembrei do


que o Mariano me contou.
Caminhei com ela, ainda no meu colo, e a pressionei em uma das
paredes.
— Você agrediu o meu irmão? — intimei de repente, fazendo-a parar
de me beijar.
— O quê? Que pergunta é essa?
— Agrediu ou não?

Com a testa franzida, ela pareceu pensar.


— Qual deles? — revidou, fazendo-me rir.
— O Mariano.
Arqueou as sobrancelhas.
— O fofoqueiro te contou, foi? — Assenti, sorrindo. — Está chateado
comigo por causa disso?
— Tá brincando? — Inspirei e soltei o ar, enquanto usava os dedos
para acariciar o seu lindo rosto. — Saber que você fez isso para me defender
deixou-me com tanto tesão que, na hora, tudo o que eu quis foi voltar para

casa apenas para me enterrar em você, querida.


Ela gemeu quando passei a me esfregar na sua bocetinha, por cima da
legging.
— Então a partir de hoje saiba que vou te defender mais vezes —

murmurou, divertida.
Pensei em dizer que dessa forma, eu ficaria em casa por mais tempo,
entretanto optei pelo silêncio, pois no fundo... bem lá no fundo, eu
desconfiava que o meu desejo de estar perto dela não tinha a ver somente
com o nosso sexo, mas com algo mais profundo.
Capítulo 21
Maya
Uma semana depois

— Qual o sentido desse jantar? — perguntei ao Rossi, que estava se


vestindo. Não sabia que horas eram, mas ainda era de manhã.
— Eles precisam ver que estou vivo, considerando os boatos da minha
morte — respondeu, revirando os olhos. Ficou claro que ele não estava
animado. — Essas pessoas estão conosco há anos, então, infelizmente, eu sou
obrigado a fazer o bom anfitrião, porque todos os meus clãs dependem de

mim, o seu líder.


— Entendi — resmunguei, me aninhando entre os lençóis. Levei a mão
para baixo, ao lado da cama, para acariciar o pelo de Odin e Thor. — Então,
tecnicamente, eu não sou obrigada a participar, porque sou apenas a esposa
— insinuei.
— Não começa, Maya.
— O quê? Estou brincando.
Ele riu, mas decidiu não fazer comentários.
Por alguns minutos, fiquei o observando se vestir.

— Por que você só usa terno branco? — perguntei, porque isso sempre
me deixou curiosa.
Terminando, ele me encarou com um olhar esquisito.
— Porque era o preferido da minha irmã.

Arqueei as sobrancelhas, espantada pela confissão.


Rossi não me deu tempo para comentar nada, porque veio até mim e
depositou um beijo em minha testa antes de sair do quarto.
Sequer tive chance de remoer a informação, porque alguém bateu na
porta do quarto logo em seguida, fazendo-me dispersar qualquer pensamento
a respeito dos mistérios do meu marido.

— Bom dia! — saudou Beatrice feito um alecrim dourado[3]. — O


Rossi me garantiu que você já estava acordada.

— Pois ele se enganou. — Ergui as cobertas até cobrir a minha cabeça.


— Estou dormindo ainda.
Ela deu uma risadinha, seguida de um muxoxo.
— Poxa, que pena! — lamentou. — Eu pensei que você gostaria de ir
às compras comigo.
Na mesma hora, eu descobri a minha cabeça para encarar a loira.
— O que disse?
O sorriso que me ofereceu deixou claro que ela sabia que tinha
acertado na isca.

***
— Não vejo graça alguma em sair do forte, mas continuar sendo
seguida por brutamontes— comentei numa bufada, referindo-me aos
seguranças atrás de nós. — A propósito, onde está a Paola?

— Ela está de folga — respondeu. — E sobre o seu comentário, você


precisa entender que estes homens... — apontou para trás — estão aqui para
garantir a nossa segurança. Então pare de ser tão dura e aprenda a ver as
situações por outros ângulos.
Olhei para ela com incredulidade.
— Você não cansa de ser tão fofa?
Beatrice franziu o cenho, mas pude visualizar o rubor em suas
bochechas.

— Engraçadinha — murmurou, ajeitando uma mecha do seu cabelo


loiro para trás da orelha. — Que tal aquela loja ali? — Apontou.
— Podemos ver se, talvez, conseguimos encontrar algo — comentei
sorrindo. — Minha vontade mesmo é de comparecer a esse jantar usando um
body e uma saia bem curta.
— Meu Deus, Maya! Só se quiser enlouquecer o Rossi — insinuou,
rindo.
Ri também.
— É o meu passatempo favorito — confessei dando uma piscadinha.

Dentro da loja, ambas nos entretemos nas diversas opções de vestidos


deslumbrantes e requintados, até que, em determinado momento, ouvi a voz
doce da Beatrice:
— Estou feliz por vocês dois. — Virei o rosto para ela, encontrando o

seu sorriso bobo. — Desde a primeira vez que vi vocês juntos, eu senti algo
especial; os olhos do Rossi brilharam como nunca.
Meu coração acelerou e se derreteu ao mesmo tempo.
— Você acha?
Seu sorriso aumentou.
— Tenho certeza — respondeu. — Tem sido lindo ver a maneira como
vocês dois estão se relacionando bem nas últimas semanas. — Ela parou de
falar para me mostrar um vestido, mas fiz uma careta indicando que não

gostei da escolha.
— Sim, tenho me esforçado bastante para fazer o nosso relacionamento
algo tragável.
A garota riu com vontade.
— Fala sério, Maya! Está escrito na sua testa o quanto está apaixonada.
— Ei! — reclamei, mas acabei rindo junto, porque não tinha como
negar o óbvio. — Hoje, ele me contou que tem o hábito de usar ternos
brancos, porque era o preferido da irmã.
Beatrice parou de sorrir na mesma hora e desviou o olhar.

— A Bianca tem uma influência muito grande na vida deles —


declarou. — É doloroso até mesmo mencionar o nome dela.
Arregalei os olhos, porque aquele ainda era um assunto que eu não
sabia os detalhes.

— Então fico feliz que o Rossi tenha te contado isso — acrescentou,


voltando a me encarar com um sorriso singelo nos lábios. — É sinal que ele
esteja, finalmente, conseguindo confiar em você.
— Será? — perguntei, sorrindo abertamente.
— Tenho certeza!
De repente, meus olhos encontraram o vestido perfeito. A peça tinha a
cor que lembrava a textura de uma cobra; o decote era discreto, porém a
fenda, logo abaixo, numa das pernas, era perigosíssima.

— É este! — exclamei, com os olhos brilhando, já imaginando o quão


louco o Rossi ficaria quando me visse dentro dele.
Beatrice não falou nada, mas deu um sorrisinho sem vergonha como se
estivesse lendo os meus pensamentos. Garota esperta!
***
— Maya, querida, eu preciso descer agora. — Ouvi o Rossi dizer,
enquanto eu dava os últimos retoques na minha maquiagem, dentro do
banheiro. — Gostaria de te esperar, mas...
— Já estou pronta! — exclamei rapidamente, cortando as suas

palavras. Em seguida, abri a porta. Seus olhos arrastaram-se pelo meu corpo,
causando calor extremo em cada uma das minhas células.
— Você está...
Corri até ele, cobrindo a sua boca com os meus dedos, impedindo-o de

falar o que pretendia dizer.


— Sim, estou sem calcinha — sussurrei, visualizando os seus olhos
aumentarem de tamanho e, ao mesmo tempo, um fogo abrasador tomar conta
das suas pupilas.
— E acha que vou permitir que saia deste quarto sem calcinha para
perambular no meio daquele mar de homens lá embaixo?
Sacudi a cabeça, sorrindo, enquanto enrolava os seus ombros com os
meus braços. Mordi os lábios ao sentir as suas mãos embrenhando-se por

baixo do vestido para sentir o meu traseiro. Gemi baixinho quando seus
dedos resvalaram no vão entre minhas nádegas.
— Você vai permitir, porque a arrogância de saber que é o único que
pode me tocar desta forma... — me calei com um gemido baixo, derretida
com as carícias ousadas — é você.
Suas mãos apertaram as minhas nádegas, moendo o seu quadril no
meu, e um rosnado selvagem escapou da sua garganta; eu pude sentir a
possessividade em sua postura.
— Minha — afirmou. — Você é somente minha.

Assenti, sentindo as minhas pernas moles. Eu adorava quando ele agia


dessa forma animalesca comigo.
— Sim, eu sou.
Travando o maxilar, ele se afastou. Não me beijou como eu gostaria,

mas o seu olhar faminto já serviu para me deixar quase sem fôlego.
— Vem. — Entrelaçou nossos dedos e começou a me arrastar para fora
do quarto. — Vamos acabar logo com isso, porque não vejo a hora de
afundar a cara nessa sua boceta deliciosa.
Arrepios invadiram cada centímetro do meu corpo febril.
***
Tédio.
Sensação que me descrevia perfeitamente enquanto estava sendo

obrigada a sorrir quando tudo o que desejava fazer era rosnar feito uma
cadela raivosa. Eu entendia o meu papel ali, assim como também
compreendia que era a função do Rossi “fazer a corte” àquelas pessoas, que
mais pareciam abutres. Mas por que tinha que ser tão chato?
— Quem diria que a psicopata chamaria mais atenção do que o próprio
capo?
— Manuele! — Beatrice ralhou com ele.
Eu ri.
— Não se preocupe, querida — murmurei, cínica. — Sou imune ao

veneno dele. — Fiz o som de um chocalho de cascavel antes de me afastar ao


som da risada deles.
Estava procurando pelo Rossi, considerando que precisei ir ao
banheiro, mas não o via em lugar algum.

— Maya? — Me virei para trás. — É esse o seu nome, estou certo? —


Era um homem de aparência sombria. Acreditei que não passava dos
quarenta anos, mas definitivamente não gostei dele.
— Sim, sou eu. — Obriguei-me a lhe estender a mão, apesar de quase
vomitar quando ele a segurou e a levou aos lábios.
— Você é, definitivamente, a mulher mais linda da festa. — Vi o
momento em que seu olhar desceu para a minha virilha, considerando a fenda
profunda do vestido. Senti o toque da pontinha da sua língua nos nós dos

meus dedos e isso foi a gota d’água para mim.


Na mesma hora, puxei minha mão das suas e, em seguida, a fechei em
punho. Mirei o soco bem em cima do seu nariz, pegando-o de surpresa.
No impulso, ele segurou o meu braço, encarando-me com fúria e
despeito.
— Olha aqui, sua...
— Algum problema aqui? — Luca surgiu, olhando para a mão do
homem ao redor do meu braço. — Você prefere tirar a mão daí? Ou quer que
eu mesmo tire, Caruso? — ameaçou sombriamente.

Com o maxilar travado, o desgraçado se afastou, erguendo as mãos em


sinal de rendição. Embora, em seguida, ele houvesse massageado o nariz,
provavelmente sentindo dor.
— Eu estava apenas tentando ajudá-la, só isso.

Rangi os dentes.
— É isso mesmo, Maya? — Luca quis saber.
Encarando o homem, eu ponderei toda a situação e cheguei a conclusão
de que de nada adiantaria causar uma briga naquele momento. Rossi não
precisava de uma mulher briguenta ao lado dele, mas de uma mulher sábia.
— Foi um mal-entendido, Luca. — Sorri para meu cunhado. —
Obrigada por se preocupar. — Assentiu, apesar de desconfiado. Seu olhar
para o tal Caruso foi tão assustador que até eu tive medo. — A propósito,

você viu o Rossi?


— Está lá. — Apontou.
Agradeci e me afastei.
Os olhos do Rossi me encontraram antes mesmo de eu me aproximar.
Dispensando o pessoal com quem conversava, ele veio até mim.
— Onde estava? Você demorou.
— Me desculpe. — Toquei os seus lábios com os meus. — Acabei me
esbarrando com o seu irmão e a mulher dele, e como você sabe, Manuele não
perde a chance de me irritar — comentei, divertida.

Ele também sorriu.


Nesse momento, mordi os lábios, encarando o seu rosto lindo.
— Que tal um escape? — convidei.
— O quê? Como assim?

— Um escape — repeti. — Vamos disfarçar e sair pela tangente,


porque é óbvio que nenhum de nós está gostando desta merda toda. —
Gesticulei ao redor.
Seus olhos se arregalaram, apesar da expressão divertida.
— Não sei se é uma boa ideia.
— É claro que é. — Me inclinei e voltei a beijar os seus lábios. —
Fazemos assim: eu vou indo na frente e espero você no seu carro.
— Maya...

Não esperei por resposta e, simplesmente, saí de perto dele.


Minutos mais tarde, tentei pegar a chave do carro com o Enzo, mas ele
se recusava a entregá-la.
— O Rossi sabe disso, Enzo — falei pela milésima vez. — Estou
dizendo.
— Me desculpe, senhora, mas preciso ouvir isso direto da boca do
chefe.
Nesse momento, o Rossi chegou fazendo os meus olhos brilharem de
alegria por ele ter concordado com a minha ideia.

— Está tudo bem, Enzo — estendeu a mão, pedindo a chave — ela está
comigo.
Em seguida, o carro foi destravado e, eu não perdi tempo em entrar.
Rossi entrou logo depois, buscando a minha boca para beijar. Parecíamos

duas crianças. Estávamos, claramente, eufóricos, uma vez que, ambos


pretendíamos fugir de um evento importante — para a organização — mas
igualmente chato.
— Para onde vamos? — perguntou quando deixamos a mansão.
— Para onde quiser me levar, marido — respondi.
Ele sorriu e pegou a minha mão levando-a aos seus lábios. Sua
expressão de felicidade aqueceu o meu coração.
***

Quando chegamos a Parco della Favorita[4], Rossi parou o carro e


desceu. Fiz o mesmo, olhando ao redor.
— Este parque é o único pulmão verde da cidade — comentou. — Foi

o “jardim privado” do rei Fernando[5], que adorava caçar e cavalgar pelos


caminhos do parque.
— Sério? — perguntei, dando a volta no veículo para me encontrar
com ele do outro lado. Seus braços logo me puxaram de encontro a sua
parede de músculos. — Adorei a ideia de cavalgar — sussurrei em seu
ouvido, mordiscando o lóbulo da sua orelha.

Excitado, ele me ergueu de modo a me fazer sentar sobre o capô do


veículo e, em seguida, o auxiliei a erguer a barra do meu vestido. Nossas
bocas não se desgrudavam em nenhum momento, enquanto suas mãos
trabalhavam no zíper da sua braguilha.

A penetração foi numa estocada só, porque eu estava encharcada. Gemi


escandalosamente quando suas investidas começaram... enlouquecendo-me
de puro tesão.
— Você me deixa louco, mulher — confessou ele. — Perdido.
Segurei sua cabeça, forçando nossos olhares um no outro. Eu queria
que ele visualizasse os mesmos sentimentos através dos meus olhos, porém
uma movimentação na mata me fez alerta.
Um vulto se materializou causando-me um medo aterrorizante.

Houve um disparo.
Na mesma hora, eu gritei e impulsionei o corpo para descer do capô e
me colocar na frente do Rossi.
Senti o impacto da bala em meu ombro.
A atmosfera parou ao meu redor e tudo o que eu consegui ver e ouvir
foram os olhos assustados do meu marido, juntamente com os batimentos
acelerados do seu coração.
Percebi quando ele retirou a pistola do paletó e começou a trocar tiros
com alguém, depois que me colocou no chão.

— Maya? — Se ajoelhou ao meu lado, instantes depois, erguendo-me


em seus braços — Querida? — Tocou o meu rosto, com desespero. — Vai
ficar tudo bem, eu vou te levar ao hospital; está perdendo muito sangue. —
Colocou-me no banco do passageiro. Eu podia sentir a sua agonia; o seu

medo. — Não deveria ter feito isso. Por que você se colocou na frente do
disparo? Por quê?
Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Por-porque eu não suportaria te perder — respondi com a voz fraca.
Segurando o meu rosto, ele me beijou com força, colando as nossas
testas.
— Então decidiu que seria mais fácil passar esse risco para mim? —
intimou com a voz engasgada.

O choro irrompeu, deixando-me descontrolada.


— E-eu te amo, seu idiota — declarei.
A resposta não veio verbalmente, mas eu pude sentir em cada gesto.
Ele também me amava.
Capítulo 22
Rossi
Desespero.
Medo.
Dor.
Agonia.
Não havia uma sequência exata das minhas emoções, porque era uma
mistura delas; era uma mistura fodida de tudo aquilo que eu jurei a mim
mesmo nunca mais sentir.

Eu não era um homem com um estômago fraco, contudo precisei me


esforçar ao máximo para segurar a bile na garganta enquanto olhava para o
ferimento da Maya.
Em todo o meu histórico de criminoso assassino e cruel, eu infligi as
torturas mais doentias a outros homens tão fodidos quanto eu, no entanto,
naquele momento era diferente. Ter que assistir a Maya se jogando na minha
frente para impedir que um tiro me atingisse fez com que os restos mortais, já
quebrados do meu coração conseguissem quebrar em pedaços ainda menores,
pois senti uma dor diferente de qualquer outra antes.

Com a mão trêmula, fiz uma chamada para o Manuele, enquanto ligava
o carro e acionava a ré para nos tirar dali.
— Rossi, aonde você...
— A Maya foi atingida por uma bala perdida — falei de uma vez,

esforçando-me para manter a minha voz limpa — Estou levando-a para a


clínica, mas... — engoli com dificuldade — você e a Beatrice podem... —
olhei para o lado, de relance, Maya estava gemendo baixinho.
— Pelo amor de Deus, irmão, o que aconteceu?
— O tiro era para mim, Manuele — declarei com um engasgo
atormentado — Você tem noção disso? Tem noção de que ela se jogou na
minha frente para me proteger?
— Puta que pariu! — exclamou, tão desnorteado quanto eu. Ouvi-o

falando com alguém, mas não consegui entender nada. — Vou avisar ao
Mariano e encontraremos vocês lá.
— Não! Deixem os outros aí, até o jantar acabar — ditei.
— Tá certo.
Encerrei a ligação e voltei a encarar a Maya. Minha mão trêmula foi
para o seu rosto e, em seguida, para a sua mão, que pressionava o seu
ferimento.
— Continue pressionando, querida — praticamente implorei —
Continue pressionando.

***
A clínica fazia parte do nosso pagamento, então não precisei de
explicações extremas a respeito do que aconteceu. Com Maya nos braços, eu
a entreguei nas mãos da equipe médica.

De todas as sensações existentes em mim naquele momento, o medo se


sobressaía, juntamente com a impotência. Eu era o líder de uma organização;
um homem poderoso, que podia fazer até o mais fodão se ajoelhar, mas ali...
eu me sentia um menino perdido.
Sem saber o que fazer, levei a mão ao bolso interno do meu paletó e
peguei a pedra com a qual Beatrice me presenteou, tempos atrás. Mesmo
tentando ignorar, eu me pegava, constantemente, pensativo a respeito do
significado de suas palavras e das tais energias que ela alegou que eu poderia

absorver da pedra. Era estranho, considerando que nunca acreditei em nada


disso, sobretudo, depois que perdi a Bianca e minha mãe. Porém, nas últimas
semanas, eu vinha me esforçando para acreditar não somente nas tais energias
boas, mas também que eu era merecedor da Maya.
***
Não fazia ideia de quanto tempo se passou desde que me vi sozinho
naquela maldita sala de espera, entretanto não era a solidão que estava
deixando o meu coração tão aflito, mas a incerteza. O medo de perder outra
vez.

Quando Manuele chegou com a Beatrice, eu me segurei para não


demonstrar o verdadeiro caos que se passava em meu interior.
— Que porra aconteceu? — Manuele perguntou, depois de se
aproximar e colar a testa na minha num cumprimento de cumplicidade.

— Estávamos na Parco della Favorita — respondi, esforçando-me


para continuar mantendo a voz neutra, embora as lembranças do momento do
disparo estivessem me causando uma dor insuportável. — Não vi quando
aconteceu, mas a Maya simplesmente... ela... — me calei, olhando para as
minhas próprias mãos, sujas com o sangue dela. Aliás, toda a minha roupa
estava manchada com o sangue dela.
— Você chegou a ver quem atirou?
Neguei.

— Trocamos tiros, mas acho que ele conseguiu fugir.


— E... como ela está? — Foi Beatrice quem perguntou, temerosa.
— Não... sei — respondi, aéreo.
Manuele se afastou, alegando que precisava fazer algumas ligações,
deixando, eu e Beatrice sozinhos.
— Vem, Rossi, sente-se aqui comigo, por favor. — Ela pediu,
apoiando uma das mãos em meu ombro.
Sem forças, somente me deixei ser guiado por ela.
Lado a lado, ambos permanecemos em silêncio por alguns segundos,

apenas perdidos em nossas próprias lamúrias.


— Você está em choque — decretou ela, quebrando o silêncio. — Está
tão surpreso com a atitude da Maya que não consegue raciocinar direito. —
Piscando freneticamente, eu a encarei: — É normal sentir medo, Rossi. É

normal extravasar as emoções quando, estas, são demais para guardar dentro
de si mesmo.
Voltei a piscar, absorvendo as suas palavras.
Meu coração batia tão depressa e tão alto que tudo ao redor parecia não
ter importância.
— Ela... ela disse que me ama — confessei baixinho, encarando as
minhas mãos — A mulher com quem eu me casei se apaixonou por mim,
Beatrice. Por quê? — Olhei para ela, sentindo os meus olhos úmidos depois

de muito tempo. A última vez que chorei foi quando perdi a minha irmã. —
Por que ela me amaria?
Beatrice se debulhou em lágrimas, buscando as minhas mãos nas suas.
— Porque você é bom — garantiu, chorosa. — Você é bom.
Puxando-me para um abraço, a garota frágil me amparou e, eu me
deixei ser consolado, porque sequer tinha forças para falar ou fazer qualquer
coisa que fosse.
Capítulo 23
Maya
Minha cabeça estava pesada, assim como todo o restante do meu corpo.
Abri os olhos, mas acabei piscando um pouco até conseguir me acostumar
com a claridade incômoda. Eu me lembrava do que tinha acontecido, só não
sabia há quanto tempo estava ali naquele quarto de hospital.
Olhei ao redor em busca de um rosto conhecido, mas só encontrei um
homem, anotando alguma coisa em sua prancheta enquanto observava as
informações da máquina barulhenta logo atrás de mim.

— Do-dou... tor — chamei, sentindo a minha garganta queimar.


O homem de olhos simpáticos me encarou com alegria.
— Oh, você acordou! — exclamou, largando a prancheta e se
concentrando em mim. — Como está se sentindo, querida? — quis saber,
jogando luz em minhas pupilas. — Sabe onde está?
— Sim... eu sei — murmurei, me acostumando com o meu timbre de
voz. — Meu marido e eu... sofremos um atentado e... acabei levando um tiro.
Sacudiu a cabeça.
— Uhum, isso mesmo — concordou, voltando a pegar sua prancheta.

— O projétil atingiu o seu ombro, mas felizmente a bala atravessou. Foi


limpo.
Pisquei, assustada com as minhas lembranças assombrosas.
— O mais importante que eu quero que você saiba é que está tudo bem

com o bebê — disse, me fazendo encará-lo tão rápido que cheguei a ficar
zonza. — Porque, geralmente, esse tipo de estresse em gestações de início
assim pode acarretar complicações, como o aborto, por exemplo.
— O-o que você disse? — eu não conseguia acreditar.
O médico me encarou com o semblante curioso.
— Você está grávida — repetiu quase pausadamente. — Não sabia
ainda?
Não consegui falar nada, então somente sacudi a cabeça, negando a sua

pergunta.
— Está com pouco mais de cinco semanas — explicou. — Mas ao que
tudo indica, o bebê está bem. Como médico, eu aconselho você a iniciar o
pré-natal o mais rápido possível para garantir uma gravidez saudável e sem
sustos. — Mexeu na bolsa de soro, ligada à minha veia. — Bem, agora vou
ali fora conversar com o seu marido, porque ele está extremamente
impaciente para saber notícias suas.
— Doutor... — segurei o seu braço — E-ele já sabe? — perguntei,
desesperada. — Sobre o... bebê? — fui mais específica quando notei que ele

não entendeu a pergunta.


— Não conversei com ele ainda.
Suspirei de puro alívio.
— Por favor, não conta — quase implorei. — É que... — cocei a

garganta, buscando encontrar uma desculpa plausível — e-eu quero... fazer


uma sur-presa. — Tentei sorrir, mas não tive certeza se consegui.
O homem balançou a cabeça.
— Está bem — concordou. — Vou explicar apenas sobre a sua cirurgia
então.
Dizendo isso, ele saiu do quarto, me deixando desesperada com a
bomba que soltou em meu colo.
Grávida.

Eu estava grávida.
Tanto trabalho que tive para fazer o Rossi confiar em mim, para
estragar com uma gravidez indesejada.
Sentindo os meus olhos úmidos, olhei para baixo, no meu corpo; estava
usando uma camisola de hospital.
Inconscientemente, deslizei a mão — do braço bom — até pairar sobre
o meu ventre plano.
Era difícil acreditar que havia uma pessoinha ali dentro.
Me assustei com a porta sendo rompida, e retirei a mão da barriga na

mesma hora. Minhas lágrimas se intensificaram quando me deparei com o


Rossi ali.
— Oi — murmurei, estudando a sua postura rígida enquanto ele ainda
continuava parado na porta. — Não vai se aproximar? — perguntei, achando

graça. — E-eu não vou te morder, querido.


Sacudindo a cabeça, ele me ofereceu um sorriso. Em seguida,
finalmente encurtou o espaço entre nós.
Suas mãos estavam frias quando as trouxe para segurar o meu rosto e
unir os nossos lábios.
— Você me deixou... tão... preocupado — confessou num murmúrio.
— E-eu sei — acariciei o seu rosto com a mão. — Me perdoe por isso.
Puxando a poltrona ao lado, ele se sentou, mas entrelaçou os dedos nos

meus, mantendo-se perto.


— Você está com... a aparência péssima — declarei, sorrindo. Seus
dedos voltaram para o meu rosto, contudo para limpar as lágrimas insistentes.
— Não deveria se... preocupar. E-eu sou... uma leoa, Rossi.
— Mas não é imbatível! — retrucou, nervoso. Pude sentir, através de
seu tom, que ele estava irritado. Respirou fundo. — Você poderia ter
morrido. Eu poderia tê-la perdido.
Tentei me ajeitar, mas acabei gemendo de dor.
— Não se mexa! — ordenou. — Vai acabar se machucando mais.

— Por que está tão irritado?


— Não estou irritado — resmungou, seco.
— Não... é o que estou se-sentindo.
— Pois está errada! — Suspirou, parecendo impaciente. — Estou há

horas ali fora, esperando pela sua cirurgia e torcendo para entrar aqui e poder
encontrá-la bem.
— E encontrou! — murmurei, engasgada. — E-eu estou bem.
— Mas poderia não estar! — revidou, encarando-me com aquele olhar
intenso. — Eu odeio essa sensação de impotência, Maya, e foi exatamente o
que você me fez sentir.
Franzi o cenho.
— Está... me culpando por ter salvado a sua vida?

Ele soltou o ar.


— Você não deveria ter feito o que fez — decretou com frieza cortante.
— Foi imprudente.
— Sai daqui — pedi, entre lágrimas.
— Maya...
— Você não cansa de ser um idiota? — indaguei, irritada com ele e
comigo. — Sinto muito se me apaixonar por você foi um erro, mas...
aconteceu. E foi justamente esse amor... que me fez atravessar o corpo na
frente do seu e levar o tiro no seu lugar. — Os lindos olhos estavam

arregalados e com lágrimas não derramadas. — Agora saia.


— Querida...
— Saia, Rossi — insisti, magoada. — E-eu quero ficar sozinha.
Respirando fundo, ele soltou o ar devagar. Não estava olhando para

ele, mas podia sentir o seu olhar em mim o tempo todo.


Estava magoada com as suas palavras, porque não esperava receber
uma bronca depois de ter levado uma maldita bala por ele e ainda ter
declarado o meu amor.
Não mesmo!
Só percebi que voltei a ficar sozinha no leito depois de ouvir o clique
da porta sendo fechada. A enxurrada de lágrimas que eu estava segurando
rompeu automaticamente.

Me debulhei, angustiada com a sensação de estar nadando, nadando e


nadando... mas sem conseguir chegar a lugar algum.
***
Dois dias depois, eu, finalmente recebi alta e pude ir para casa.
Não permiti a visita do Rossi depois da nossa briga, apesar de isso ter
ferido o meu coração mais do que eu gostaria de admitir.
Beatrice, Paola e os irmãos me fizeram companhia na maior parte do
tempo, então quase não pensei no alvo das minhas lamúrias.
— Ele está um caco. — Paola comentou, enquanto me ajudava a deitar

na cama do meu quarto da mansão. — Parece que trocou de lugar com a


própria sombra dele, porque está parecendo um vulto ambulante. — Deu uma
risadinha.
— Não me importo — menti, segurando o engasgo.

Paola riu.
— Não seja mentirosa — ralhou. — Sei que está magoada, pois o
Rossi não foi legal, mas você precisa entender que ele... — se calou,
franzindo o cenho. Era como se estivesse escolhendo as palavras certas.
— O quê? O que tem ele?
Ela buscou por ar.
— De todos os irmãos, Rossi é o mais problemático — disse.
— Por que diz isso?

— Ele não é bom em lidar com os sentimentos dele — respondeu. —


Você chegou aqui toda selvagem, desafiando tudo e todos; de repente,
começou a agir com mansidão, aprendendo a olhar para ele com outros olhos.
Você se apaixonou pelo Rossi, querida, e, isso foi perceptível. — Sorriu. —
Então, as suas ações passaram a mudar, e tal atitude confundiu a cabeça, já
confusa do capo. O que acha que ele sentiu quando você, simplesmente se
atravessou na frente da bala que era para ele? Eu imagino que, neste
momento, a mente dele esteja um completo caos, Maya, porque aquele
homem não entende o que está sentindo.

Pisquei, absorvendo as suas palavras.


— Faz sentido... eu acho.
— Só tenha paciência com ele — pediu.
— Por que está tão boazinha? — brinquei, fazendo-a rir.

— Porque sou uma mulher de fases, eu já disse.


Gargalhei alto.
Neste momento, alguém bateu na porta, atrapalhando o momento.
Paola e eu nos viramos a tempo de ver o Rossi, sem jeito.
— Bom... — Paola bateu as mãos — estarei lá embaixo se precisar.
— Obrigada. — Sorri para ela, que deu uma piscadinha antes de se
virar nos calcanhares e sair do quarto.
Rossi fechou a porta, mas permaneceu de costas para mim por um

tempo, o que me deixou nervosa.


— Rossi, pelo amor de Deus! Quer, por favor, sair daí de uma vez? —
soltei num fôlego só. Ele me encarou, receoso. — Vem aqui. — Bati no
colchão, ao meu lado.
Mesmo desconfiado, ele veio.
— Não está mais irritada comigo?
— Estou — falei, porque era a verdade. Busquei a sua mão,
percebendo-a fria. — Mas isso não anula o amor que eu sinto por você —
declarei isso olhando diretamente em seus olhos. — Sei que está assustado,

mas eu não vou permitir que me empurre para longe. Não mais! — Apertei a
sua mão. — Eu amo você, e precisa aceitar isso. Consegue aceitar isso?
Seus olhos estavam temerosos e perdidos.
— Amar o outro significa muitas coisas, eu sei — continuei assim que

percebi que ele continuaria me olhando sem falar nada. — Corremos riscos.
Mas é justamente isso, que nos faz mais ousados; mais felizes. Eu não escolhi
me apaixonar, mas aconteceu.
— Eu... — ele baixou a cabeça, olhando para as nossas mãos unidas —
estou... com medo. — Ergueu o olhar, e pude enxergar o tormento em seus
olhos. — Não gosto dessa sensação, Maya.
— Do que você tem medo?
Ele piscou várias vezes.

— De perdê-la.
Meu coração perdeu uma batida.
Ansiosa, levei a mão ao seu rosto barbudo, adorando a sensação do
pinicar em minha pele sensível.
— Aposto que se você me der um beijo esse medo vai passar rapidinho
— brinquei com ele, mordendo os lábios.
Sorrindo, ele se inclinou, amparando o meu rosto entre suas mãos.
Automaticamente, eu inspirei o seu perfume delicioso, e chupei a sua língua
quando ela invadiu o vão entre os meus lábios.

— Porra! Que saudade — gemeu ele, intensificando o beijo. — Você


foi tão malvada comigo ao me proibir de vê-la no hospital — comentou,
arrastando a língua do meu queixo ao pescoço.
— Porque você foi malvado comigo primeiro — revidei, resfolegante.

— Mas estou pensando em perdoá-lo.


— Ah, é? — Arrepios inundaram a minha pele toda quando ele mordeu
a minha orelha antes de, literalmente, chupá-la. — O que preciso fazer?
Segurando a sua cabeça, eu o forcei a me encarar. Minha respiração
estava descompassada.
— Que tal levar essa boca gostosa para o meio das minhas pernas? —
Circulei os seus lábios com meu polegar.
O sorriso que ele me ofereceu foi tão devasso quanto o meu convite.

E lá estava eu... outra vez no jogo.


Entretanto, não mais sozinha, porque havia outro coração batendo
dentro de mim.
Capítulo 24
Rossi
Meus olhos semicerraram assim que os direcionei ao homem a minha
frente. Logo atrás de mim estava Paola e Manuele, enquanto caminhávamos
pelo espaço da galeria de Caruso.
— Uau! Que honra imensa receber o grande capo Fratelli aqui em
minha humilde galeria — disse ele, vindo até nós com um sorriso enorme.
Era mais do que óbvio que aquele lugar era usado como fachada para os seus
negócios sujos. — Há que devo a visita? — Esticou a mão para me

cumprimentar, o que apenas olhei, sem qualquer intenção de tocá-la.


— Eu poderia fazer a mesma pergunta, Caruso, visto que você fez uma
visita um tanto quanto furtiva a mim, hun? — Ele franziu o cenho, parecendo
não entender.
Ignorei o seu nervosismo, e o esquadrinhei, sabendo exatamente que
Paola e Manuele estavam a postos, em minha retaguarda.
— Do que está falando? O que está acontecendo aqui? — Visualizei a
maneira como os seus seguranças se aproximaram, mas numa velocidade
assustadora, Paola cuidou deles, um a um. Os olhos de Caruso aumentaram

de tamanho.
— Há uma semana, você esteve na minha casa para socializar conosco
e com os outros associados — argumentei, calmo e neutro. — Entretanto,
você acabou desrespeitando a minha esposa.

— O-o quê? Quem disse isso está mentindo, capo, eu jamais faria algo
assim.
Parei de caminhar, e me virei para ele com as sobrancelhas erguidas.
— Então está me dizendo que o meu irmão mentiu para mim? É isso
que está insinuando?
Ele passou a gaguejar, enquanto dava passos para trás, mas parou
quando se deparou com o Manuele em suas costas.
— O capo te fez uma pergunta — rosnou ele.

— Ora, ora... — Paola sibilou, enquanto enrolava o chicote em suas


mãos — parece que o gato comeu a língua dele.
Eu soltei uma risadinha, porque adorava me deleitar com o medo das
minhas vítimas. Era uma sensação tão revigorante quanto o que eu vinha
sentindo cada vez que chegava em casa e encontrava a Maya me esperando.
— Você ficou nervosinho, porque a minha garota te agrediu, então
pensou que teria o direito de tocá-la — rugi, feroz, embora a minha voz se
mantivesse calma. — Luca chegou no exato momento, forçando você a
segurar o desejo de revidar a agressão.

— I-isso não é verdade — murmurou, erguendo as mãos, tentando me


convencer. — Por que eu seria louco de lhe faltar com respeito dentro da sua
própria casa?
— Foi isso que eu me perguntei também, mio caro — falei. — Assim

como também me perguntei o motivo de você ter sido visto saindo de Parco
della Favorita logo depois que a minha esposa foi atingida por um tiro. —
Travei o maxilar, observando as suas reações. — A única coisa que vem a
minha mente, Caruso, é que você não aceitou a recusa dela e, simplesmente,
nos seguiu assim que deixamos o jantar. Eu só não sei se o tiro realmente
deveria ter sido para ela, ou para mim.
— I-isso é um engano, capo — voltou a gaguejar, pálido feito um
pedaço branco de papel — E-eu não seria capaz... — se calou quando Paola

estalou o chicote, acertando um lado do seu rosto. O impacto fez com que um
corte se abrisse em sua pele.
— Por que tentou me matar? — questionei, me aproximando dele. —
Quem pagou você, Caruso? Não se esqueça que eu me lembro muito bem o
quanto meu pai gostava das suas habilidades de atirador.
Ele me encarou com os olhos injetados.
— Acha que vou contar alguma coisa sabendo que vocês vão me matar
de um jeito ou de outro? — indagou, cheio de cólera. — De longe, o seu pai
foi melhor líder que você, Rossi, considerando que sequer dá conta de manter

a sua mulher na linha. — Começou a rir, mas Paola o acertou novamente,


fazendo-o uivar de dor.
— Agora estamos nos entendendo. — Sorri. — É gratificante
conversar com sinceridade, sabe? — mencionei com cinismo. — O que

pensou, Caruso? Que eu ofereceria a minha mulher a você como em um


banquete?
Ele riu.
— Foi o que pareceu, já que a putinha sequer estava usando calcinha
naquela noite.
Meu punho cerrou na mesma hora e o impulsionei em direção ao seu
nariz, num golpe certeiro. Pude ouvir o estralo do osso se quebrando.
— Quem pagou você para tentar me matar? — voltei a perguntar, me

inclinando, visto que meu golpe o desequilibrou fazendo-o cair. — Aliás,


quanto você ganhou para trair a família para quem trabalha há tantos anos?
— Ele permaneceu em silêncio.
— Não adianta negar, figlio di puttana — Manuele sibilou, se
abaixando e colando o cano da sua pistola na cabeça dele — Existem provas;
imagens e filmagens.
— O-o que e-eu vou ganhar se revelar? Vocês vão me matar de
qualquer jeito — revidou, falando com dificuldade devido ao ferimento no
nariz.

— Depende — falei.
— Do quê?
Um sorriso sinistro abrilhantou os meus lábios, enquanto eu coçava a
barba grande.

— Se você colaborar, eu não o deixarei morrer nas mãos dela —


apontei para a Paola — Acho que você conhece a fama da “contadora de
histórias” ...
Pude notar o tremor em seu corpo todo, enquanto Paola batia a ponta
do da sua bota no chão, completamente impaciente.
— Darei a você um tiro de misericórdia, Caruso — acrescentei.
Ele ficou pensativo. Olhou ao redor do lugar, talvez com esperança de
alguém vir para salvá-lo.

— Ninguém virá — garantiu Manuele — Acabamos com toda a sua


frota de seguranças de merda.
Caruso praguejou baixo, inspirando fundo.
— E-eu realmente não sei quem quer a sua cabeça, Rossi —
argumentou no fim. — Há algumas semanas, eu fui procurado por um
homem que me propôs uma excelente recompensa pela sua morte. A
princípio, não aceitei, mas, dias depois da proposta, acabei fazendo uma
péssima jogada e perdi muito dinheiro, então... infelizmente voltei atrás da
minha decisão, considerando que a grana era muito boa.

— Por que afirma não saber quem quer a cabeça do capo se acabou de
dizer que foi procurado por um homem? — Manuele perguntou.
— Porque o homem também era um intermediário — respondeu. —
Ele é aquele tipo de pessoa que terceiriza os serviços sujos.

— Então você só teve acesso a ele? — indaguei.


— Sim — confirmou. — A ideia nem era matá-lo na noite do jantar.
Mas vê-lo saindo da fortaleza foi a oportunidade perfeita.
— Qual o nome desse cara, Caruso?
— Ele é conhecido por topo — respondeu.
— Rato — Paola murmurou enojada, traduzindo o apelido.
Olhei para o Manuele, enquanto aprumava o meu corpo.
— Entregue essa informação ao Jack — avisei a ele. Em seguida, olhei

para o meu relógio, vendo que estava quase perto das sete da noite. — Agora,
eu preciso ir. Divirtam-se!
Virando-me nos calcanhares, eu parei quando escutei a súplica do
Caruso:
— E-eu fiz o que você pediu — murmurou em desespero, enquanto era
esquadrinhado por Paola, que só faltava devorá-lo. — Contei tudo o que eu
sabia. Por favor, não me deixe com ela.
— Ei! — reclamou Manuele. — Assim me sinto ofendido.
Meu olhar se tornou escuro.

— Você tocou nela — falei, sentindo os meus instintos se


efervescerem. — Você quase matou a minha mulher.
— E sabe de uma coisa, caro? — Paola perguntou, enrolando o chicote
nas mãos. — Dê-se por satisfeito que o seu algoz não será ele, porque eu

seria a primeira a sentir pena de você.


Meu sorriso foi tão perverso que tive certeza, pelo engolir dificultoso
do Caruso, que ele entendeu o quanto a minha soldado estava certa.
— Dê um oi ao diabo por mim — pedi e, em seguida, me virei
deixando-o nas mãos do meu irmão e da contadora de histórias.
***
Maya estava deitada na cama quando cheguei ao nosso quarto; por
alguns instantes, eu a admirei enquanto estava concentrada em sua leitura; os

cabelos negros completamente soltos, fazendo os meus dedos coçarem de


vontade de tocá-los.
Assim que seus lindos olhos se conectaram com os meus, eu senti,
como sempre acontecia, aquela conexão que nos fazia únicos.
Os últimos dias serviram para nos unir ainda mais, embora a sua
declaração houvesse me assustado. A sensação de impotência que senti
quando, praticamente, tive a sua vida se esvaindo entre os meus dedos foi
extremamente dolorosa, e eu não queria voltar a sentir isso de novo. Não me
sentia confortável em saber que tinha um ponto fraco.

— Ei? — Ouvi sua voz, e pisquei, dispersando os meus pensamentos


aleatórios. — O que foi? Estava com a mente longe.
Sorri, sacudindo a cabeça.
— Algum problema? Por acaso descobriu algo sobre o sabotador?

Neguei, angustiado, porque ainda não tinha tido coragem para contar a
ela sobre o filho bastardo do Billy.
— O que está lendo? — Caminhei até ela, apontando para o livro em
sua mão, ignorando propositalmente as suas perguntas.
Eu ainda não tinha me acostumado com a imagem dela usando aquela
maldita tipóia. Isso me enchia de fúria, porque me fazia lembrar a minha
falha em sua proteção.
— Ah, um romance bobo — respondeu, sem jeito. Sua mão — do

braço bom — enrolou-se em meu pescoço, forçando o meu rosto para o seu.
— Estava com saudades de mim? — perguntou entre beijos.
Sorri.
— Um pouquinho — menti, fazendo-a me beliscar. — Estava aqui
pensando... — entrelacei os nossos dedos e trouxe a sua mão para a minha
boca, onde beijei a sua palma macia — que tal darmos uma volta?
Franziu o cenho, mas não escondeu o entusiasmo com o meu convite.
— Para onde?
— Para onde quiser ir.

Os incríveis olhos azuis brilharam tanto quanto o Sol em dia quente.


— Então quero ir ao cinema! — exclamou.
Fiz uma careta.
— Ao cinema? — Não escondi o descontentamento com a escolha.

— Não ouse reclamar, pois você me deu carta branca! — Achei graça
da sua empolgação. — Vou me arrumar. — Saiu da cama num pulo.
Fiquei sentado na cama, apenas observando, encantado, a minha garota
começar a escolher a roupa que usaria para o nosso happy hour.
***
Eu não fazia ideia do filme escolhido, mas também nem me
interessava, porque eu só tinha olhos para a garota encantadora ao meu lado.
Maya estava fungando, enquanto não desgrudava a atenção do telão. Antes de

chegarmos, acabei comprando todos os ingressos para garantir a sala somente


para nós dois; meus seguranças estavam por todos os cantos, porque eu não
estava a fim de ter surpresas durante o meu encontro com a Maya.
— Você está perdendo todo o filme, sabia? — sussurrou de repente,
desviando os olhos para poder me encarar. — Está perdendo a beleza da
história.
Neguei com a cabeça.
— Não consigo me concentrar com todo esse teu chororô — zombei,
divertido.

— Ei! — reclamou, mas acabei lhe roubando um beijo.


Por mais que eu tentasse lutar contra o que vinha crescendo entre Maya
e eu estava sendo muito mais forte do que minhas forças podiam suportar.
Meus sorrisos já não eram mais contidos; a minha vontade de viver se tornou

mais forte desde que descobri um motivo para a minha vida. Maya era esse
motivo.
Ela era o meu motivo.
***
— Foi um filme bem interessante.
— Você nem assistiu — refutou, dando risada.
Estávamos na saída do prédio do shopping quando Maya parou de
caminhar de repente.

— Oh, meu Deus! Está chovendo.


Franzi o cenho.
— Sim. Por acaso nunca viu chuva?
— Não é isso, é só que...
Se desvencilhou de mim, e, rapidamente, como uma menina travessa,
correu para fora da cobertura do prédio.
Deslumbrado, eu simplesmente fiquei observando enquanto ela corria
de um lado ao outro, sob a chuva torrencial, rindo e se divertindo com algo
tão bobo e simples.

Com a mão no bolso, massageei a pedra, o qual fui presenteado pela


Beatrice — e que se tornou uma espécie de amuleto para mim — e me peguei
sorrindo. De uma forma esquisita, senti uma energia boa.
Sem aguentar, contagiado, eu fui até a minha garota.

— Sinta, Rossi... — fechou os olhos, jogando a cabeça para trás —


Sinta a sensação de liberdade.
Olhando para o seu rosto molhado, assim como o seu corpo todo, eu
finalmente entendi o que eu vinha protelando há tempos.
Eu a amava.
Amava cada uma das suas nuances.
Cada parte do seu corpo.
Amava-a com as suas qualidades e os seus defeitos.

E ali, eu prometi a mim mesmo que tentaria ser o que ela precisava que
eu fosse.
Por ela, eu me esforçaria para ser melhor.
Capítulo 25
Maya
Três semanas haviam se passado desde o atentado contra o Rossi.
Minha recuperação vinha sendo boa, considerando que no período da manhã,
eu passava por longas sessões de fisioterapia. Já não precisava mais usar a
tipóia, então já me sentia bem melhor.
Meu relacionamento com o meu marido, ao contrário de todo o
impacto pós atentado, melhorou consideravelmente; eu percebia o seu
esforço em continuar se mantendo neutro ao que, obviamente sentia por mim;

uma mulher sabe quando o homem está apaixonado, e eu sabia que Rossi
estava. Só precisava fazê-lo enxergar isso.
Os nossos últimos dias vinham sendo bem intensos; cheios de
novidades. Como que para me proteger, ele optou por me deixar no escuro a
respeito das investigações sobre o tiro, e sobre a sabotagem aos negócios do
meu pai. Então, sua maneira de me ludibriar era me mimando com diferentes
surpresas. Jantares, sexo, cinemas, sexo, joias, sexo, flores, sexo...
Não que estivesse reclamando..., mas eu sentia falta de algo... não
estávamos completos. Havia segredos entre nós.

— Está com saudade, né? — Dispersei meus pensamentos assim que


escutei a voz da Paola atrás de mim. Eu estava na sua sala de treinos. — Sabe
que ainda não podemos voltar a treinar, garota.
Sorri.

— Eu sei, não se preocupe.


— Não estou preocupada — resmungou, grossa.
Revirei os olhos para a sua rudeza.
De repente, ouvimos os passos de alguém; logo nós nos viramos para a
porta a tempo de visualizarmos o Mariano.
— Manuele pediu para avisar que vai precisar de você mais tarde —
disse ele, para a Paola, que sequer o encarou direito.
— Uhum — resmungou ela.

— E aí, Maya? Está se recuperando bem? — Ele se voltou para mim.


Sorri da sua preocupação genuína. A verdade é que as últimas semanas
serviram para me fazer enxergar a família incrível com a qual fui abençoada.
Todos cuidavam um do outro.
— Estou sim, obrigada, cunhado.
Assentiu, alegre, contudo, o sorriso desvaneceu quando voltou a
encarar a Paola, antes de se despedir de nós.
— Eu sei que, às vezes, eu sou uma cadela, mas você... — comentei,
entortando os lábios.

Franziu a testa.
— O quê? Do que está falando?
Me sentei num dos bancos, enquanto ela continuava de pé, amolando
as lâminas das espadas.

— Por que não consegue admitir que é louca pelo Mariano? Puta que
pariu, isso está na cara! Não consigo acreditar que eu seja a única a perceber.
Sua expressão se fechou na mesma hora.
— Você não sabe o que está falando.
— É, eu não sei mesmo! — Revirei os olhos, sem paciência.
Ficamos em silêncio por alguns minutos.
— Paola? — chamei de repente.
— Oi?! — resmungou, sem me dar a importância que eu desejava.

— Estou precisando da sua ajuda.


Seu olhar se chocou com o meu na mesma hora. Talvez fosse mera
curiosidade, ou ela realmente chegou a sentir a tensão por trás do meu
pedido.
— O que foi?
Respirei fundo, enquanto olhava ao redor, com medo de que alguém,
além dela, pudesse ouvir.
— Eu sei quem foi o responsável pelo ataque a mansão do meu pai lá
em Nova Iorque, meses atrás — contei, fazendo-a arquear as sobrancelhas.

— E antes que me acuse, não contei ao Rossi, porque tive medo.


— Medo? Do quê?
Bati a mão no meu lado, num pedido mudo para ela se aproximar, o
que ela fez sem reclamar.

— Naquela noite, eu fui atrás do invasor com os meus cães, e o


encontrei — lembrei. — Odin e Thor o encurralaram, e eu estava prestes a
acabar com ele, mas então o desconhecido me disse algo que me desarmou.
— O quê? O que ele disse?
Rapidamente, peguei as suas mãos e a encarei nos olhos.
— Eu quero que você prometa que não vai contar a ninguém o que eu
disser, Paola.
— Se é isso que quer, então pode confiar em mim — garantiu, séria.

Respirei fundo, confiando nela.


— Certo! — exclamei, buscando a coragem para dizer. — O homem
me chamou de irmã.
— Irmã? — Parecia tão incrédula quanto eu fiquei na ocasião. —
Então o seu pai teve outro filho?
— Ao que tudo indica, sim, mas fora do casamento — expliquei. —
Lembra do episódio em que eu saí com o Mariano? — Assentiu. — Eu fui
conversar com uma mulher que conheceu a minha mãe no passado. — Enfiei
a mão dentro do sutiã e retirei o cartão postal que ganhei da madame Carlota.

— Ela me entregou isto. — Paola pegou o papel envelhecido da minha mão.


— Esse era o endereço da amante do meu pai.
— Uau! Estou bem chocada — afirmou. — Deve ter sido um baque
para você descobrir que tem um irmão, e que o cara é um maldito criminoso.

— Não tem como ter certeza da índole dele — rebati. — Ele não tem
culpa se o nosso pai o rejeitou.
— Esse homem, o qual você está chamando de coitadinho, encheu a
mansão de explosivos, Maya.
— Ninguém tem certeza de nada. Ele pode não ter tido escolha.
— Todos nós temos escolhas — revidou, sombria. — Você escolhe
matar. Mas você também escolhe salvar.
Engoli com dificuldade, porque uma nova onda de náusea ameaçou me

abater. Vinha sendo extremamente difícil esconder isso de todos, sobretudo


do Rossi.
— Eu quero ir até esse endereço — contei.
— Ficou doida? O Rossi jamais permitiria isso, considerando o que
aconteceu há poucas semanas.
— Você não entende! — exasperei. — Ele vai matá-lo, Paola. —
Gesticulei. — Esse rapaz é o meu irmão.
— Que tentou te matar — referiu-se ao episódio em que Rossi e eu
fomos perseguidos no trânsito, além, é claro, dos explosivos na mansão. —

Quer mesmo enfrentar a fúria do capo?


— Ele não precisa saber — falei mais do que depressa. — Nós vamos
fingir que eu quero ir às compras e...
— Nós? — cortou-me, incrédula. — Pode me tirar fora dessa loucura.

Eu não vou fazer isso.


— Por favor. — Apertei a sua mão. — Talvez esse desconhecido seja o
meu único parente vivo, Paola, e eu corro o risco de perder isso se não fazer
nada. O Rossi vai matá-lo, ou... eles podem se matar se continuarem nessa
maldita guerra fria.
— Eu gosto de você, querida, mas sou fiel ao capo — foi firme. —
Sinto muito.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Malditos hormônios!

Espantada, Paola soltou a minha mão e apertou o meu ombro.


— Ei, garota, não faça isso, porque não vou cair nessa chantagem
barata!
Não me aguentei e ri entre as lágrimas.
— Não estou fingindo, sua idiota — resmunguei. Em seguida, passei as
mãos no rosto molhado. — Estou grávida — confessei.
O silêncio dela me fez erguer os olhos para encará-la. Paola estava
olhando para mim, mas parecendo não me enxergar de fato.
— Paola? — Estalei os dedos diante dos seus olhos. Ela piscou. —

Está tudo bem?


Uma nuvem negra trespassou por seu olhar, mas foi breve.
— Ele sabe?
Neguei com a cabeça.

— Rossi deixou claro que não quer ter filhos — argumentei.


— E você acha que vai conseguir esconder isso dele por quanto tempo?
Maya, você está carregando o filho dele na barriga, acorda! Há quanto tempo
sabe disso? Aliás, quando descobriu?
— No hospital.
— Puta que pariu, Maya! — exclamou, se levantando. — Isso é errado.
É malditamente errado! Você precisa contar.
— E eu vou. Mas não agora — devolvi, atormentada. — Antes, eu

preciso resolver o problema com o meu irmão.


— Pare com essa ideia idiota de querer buscar problemas — rosnou,
irritada. — Conte ao Rossi o que sabe, e deixe-o resolver.
— Ele não vai me deixar falar com o meu irmão. Rossi vai matá-lo, eu
sinto isso cada vez que ele menciona o assunto — murmurei em desespero.
— Então talvez se eu me encontrar com o meu irmão antes, eu...
— Você o que, hein? O que acha que vai fazer, ôh ninja? — Foi
sarcástica. — Rossi e os irmãos possuem anos de treinamentos, então não
pense que você, junto com os seus cães, conseguirá alguma coisa. Você só

vai se colocar em perigo. Ou melhor, colocar vocês dois em perigo —


referiu-se ao meu bebê. Por instinto, abracei a barriga. — Maya, por favor,
prometa que vai esquecer esse assunto — pediu. — Prometa que não vai se
colocar em perigo.

Pisquei, esforçando-me para absorver as suas palavras.


Não consegui dizer nada, então apenas assenti com a cabeça, embora lá
no fundo, eu soubesse que estava mentindo.
***
Eu não fazia ideia do motivo que me levou a caminhar por aquela parte
da mansão, mas ali estava... encarando a porta de ferro que abrigava um
espaço assustador.
Com mãos trêmulas, forcei ouvindo-a ranger enquanto se abria. O

sensor de movimento logo fez as luzes se acenderem, embora o ambiente não


fosse tão bem iluminado. Atordoada, eu observei, atentamente, cada detalhe
do lugar tenebroso e fétido.
Havia respingos de sangue por todos os lados.
Equipamentos de tortura.
Cheiro de morte no ar.
Eu nunca fui ingênua em relação a maneira como a máfia funcionava;
sabia que a criminalidade não se resumia apenas ao tráfico de armas e drogas,
mas também a todo e qualquer tipo de violência contra o ser humano. Mas

ver...? Meu cérebro ainda tentava administrar a lembrança do momento em


que presenciei o Rossi torturando um homem bem ali... onde eu estava
pisando. Era estranho.
Era angustiante.

Não conseguia ignorar o medo de saber que ele poderia fazer o mesmo
com o meu irmão, o que era ridículo, visto que eu não o conhecia. Não
conhecia a sua história, assim como ele também não conhecia a minha.
Talvez fosse pelo fato de eu estar grávida que minhas emoções
estivessem tão afloradas.
Soltei um suspiro dolorido, sentindo-me cansada.
Toquei o meu ventre, me perguntando o que Rossi diria quando
descobrisse sobre o bebê que crescia dentro de mim.

Uma olhada ao meu redor me fez focar em uma porta escondida no


canto do cômodo.
Caminhei até ela, curiosa para descobrir que tipo de coisas assustadoras
estavam escondidas do outro lado, mas ao girar a maçaneta a mesma não
abriu.
— Droga!
Mordi os lábios, frustrada.
Algo me dizia que ali dentro tinha algo importante. Um segredo muito
valioso.

Cansada, resolvi sair daquele lugar, porque todo aquele cheiro já estava
me deixando nauseada.
***
Beirava às sete da noite quando eu, de banho tomado, fui atrás do Rossi

em seu escritório. Eu o ouvi chegando mais cedo, mas como ele demorou a
subir, decidi ir até ele.
— Oi — saudei, depois de dar uma batidinha na porta. Ele estava
sozinho. Seu sorriso lindo, quando me viu, aqueceu o meu coração
apaixonado.
— Oi! — Se levantou na mesma hora, vindo ao meu encontro. Ofereci
os meus lábios quando ele quis me roubar um beijo. — Aconteceu alguma
coisa?

Circulei a sua cintura com meus braços.


— Sim, aconteceu — falei. — E eu preciso da sua ajuda.
Sua expressão se tornou tensa na mesma hora.
— O que houve?
— Pode vir comigo? Está ocupado?
— Não, eu... quer me contar o que aconteceu? — parecia desesperado.
— Encontro você lá na cozinha.
Não o esperei responder e virei nos calcanhares.
***

Alguns minutos depois de eu ter chegado à cozinha, Rossi logo


apareceu, com os olhos atentos.
— Pegue isto — joguei um avental para ele, que pegou antes que o
mesmo caísse no chão — Você vai precisar.

Ele permaneceu me encarando, sem entender.


— E o problema? Você me disse que estava precisando de ajuda.
— E estou — respondi, amarrando o meu próprio avental. — Para
fazer a massa do macarrão.
Sua cara de espanto logo deu lugar à incredulidade, e, eu ri.
— Não faça essa cara de mau — murmurei, me aproximando e
circulando a sua nuca com a minha mão —, porque fico toda mole.
— Você me deixou preocupado — disse contra os meus lábios. —

Pensei que fosse algo sério.


— Mas é — justifiquei, fazendo cara de inocente. — Quero que me
ensine a cozinhar macarrão.
Ele finalmente riu.
— Assim está melhor. — Belisquei o seu nariz.
Me afastei dele, que começou a falar os ingredientes que
precisaríamos. Neste momento, Manuele entrou na cozinha, seguido do
Mariano, Fillipo e por último Luca.
— Eu precisava ver com os meus próprios olhos — zombou Manuele.

— É oficial, galera, a psicopata conseguiu domar o nosso irmão mais velho.


Os outros riram.
— Vá se foder, Manuele. — Rossi jogou uma colher nele, que desviou,
enquanto ainda ria.

— Podemos considerar acrescentar isso no currículo dele, que tal? —


disse Luca. — O poderoso capo, que nas horas vagas usa avental e brinca de
casinha com a mulher.
— Se você quiser, ele pode preparar um mingau para você, Luca —
ironizei, provocando. — Já que ainda está em fase de crescimento.
Seus irmãos riram, inclusive Rossi.
— Não seja ridícula, sua doida. Eu, hein! — Cruzou os braços,
emburrado. — Sou muito homem, se quer saber.

— Não, ela não quer — rosnou Rossi, fazendo-me rir do seu ciúme.
— O que estão cozinhando, afinal? — Mariano quis saber, espionando
os ingredientes.
— Querem ajuda? — Fillipo perguntou. — Apesar de que estou
perguntando apenas por educação, que fique claro.
Gargalhei alto.
— Vocês são muito folgados — comentei, rindo.
Não demorou muito e Beatrice também entrou na cozinha, seguida da
Paola.

E o que era para ter sido um jantar de casal, se tornou de toda a família.
Capítulo 26
Rossi
— Você só está me provocando — reclamou Maya. — Sabe disso,
hun?
Soltei uma risadinha, enquanto continuava massageando o seu corpo
debaixo d’água. Tinha virado rotina o nosso banho matinal, juntos.
— É impressão minha, ou os teus seios estão maiores? — indaguei,
fixando o olhar em seus dois melões.
Sem me responder, ela simplesmente segurou o meu rosto e colou a

boca na minha, desesperada por um contato maior. Sua mão desceu e se


fechou em minha ereção, acariciando-me conforme nossas línguas se
enroscavam uma na outra.
Pegando-me desprevenido, ela se jogou aos meus pés ficando cara a
cara com o meu pau em riste; minha respiração engatou na mesma hora.
— Querida, você não... — minha voz se perdeu assim que ela me
abocanhou completamente sem ao menos esperar eu me preparar.
A cena era tão erótica que eu sequer tive palavras para descrever o que
se passava em meu interior. Aquela mulher me desarmava com uma

facilidade assustadora.
Ela me deixava perdido.
Com uma das mãos em minhas bolas e a outra estimulando o meu pau
num movimento de vai e vem, ela passou a me lamber e chupar como a um

pirulito; tudo isso sem deixar de me encarar nos olhos.


Tão linda.
Tão sensual.
Desesperado, enrolei os seus cabelos molhados em minha mão direita,
mas sem forçá-la; o controle estava com ela. A língua deslizava lentamente
pela glande e com tortura. Meus gemidos estavam engasgados.
— Dê-me leite, Rossi — pediu, desestabilizando-me. — Eu quero
engolir tudinho.

— Puta que pariu, mulher! — rugi, descontrolado. — Onde você


aprende essas coisas?
Gemi, jogando a cabeça para trás conforme ela intensificava a sucção.
Minhas pernas amoleceram e meus batimentos cardíacos se tornaram
ensurdecedores.
Logo Maya sentiu os meus jatos, direto em sua garganta, porém, para o
meu tesão maior, ela não reclamou; sequer se engasgou. Pelo contrário,
engoliu tudo como uma boa menina.
Ergui o seu corpo, e avancei a boca na sua, excitado demais para

continuar distante dos seus beijos.


Com cuidado, eu a impulsionei de modo a enrolar as pernas ao meu
redor e a pressionei contra a parede fria. Nossas bocas não se desgrudaram e
eu arremeti em sua boceta apertadinha.

— É isso o que quer? — gemi a pergunta, socando o meu pau em sua


entrada escorregadia.
Segurando o meu rosto, ela me encarou com aqueles grandes e
incríveis olhos azuis.
— Eu quero que você me ame! Quero que você me foda!
Tudo dentro e fora de mim parecia perdido, embora sempre que nós
estávamos juntos, eu sentisse que tudo se encaixava.
Parecia certo.

Não respondi. Ao invés disso, voltei a beijá-la. Um beijo recheado de


palavras não ditas.
***
— Você tem certeza de que é este o lugar que o Jack mencionou? —
indaguei, dentro do carro. Manuele e eu estávamos a pouco mais de vinte
minutos esperando o rapaz de apelido topo.
— Você já me fez essa pergunta mais de cinco vezes, Rossi —
respondeu num sibilar.
— Talvez, porque eu esteja sentindo que tudo isso seja uma maldita

perda de tempo! — rugi, sem paciência. Uma olhada pelos retrovisores, e eu


encontrei os nossos homens por todos os lados fazendo a nossa segurança.
O local marcado era um tanto quanto afastado, o que apenas aumentava
a minha desconfiança.

Por outro lado, toda e qualquer chance de descobrir o nome do novo


líder dos shadows, eu não podia desperdiçar.
— Seria muito mais fácil se o Jack descobrisse quem é essa porra de
papa — comentei.
— As coisas não são tão simples assim, Rossi, e você sabe disso.
Bufei, irritado e impaciente.
Instantes depois, nós, finalmente fomos informados da chegada do
nosso convidado.

Jack o localizou, dois dias atrás, mas garantiu a ele que nós não o
mataríamos e que apenas tínhamos interesse numa conversa.
— Você conhece o significado de pontualidade, hun? — perguntei num
tom ríspido, assim que o rapaz de aparência jovem entrou no veículo.
Estávamos nós dois na parte de trás do meu carro, enquanto Manuele
continuou na frente.
— Não vou pedir desculpas, cara — revidou ele, num forte sotaque
americano. — A verdade é que tenho uma vida muito corrida, então nem
sempre consigo honrar os meus compromissos nas horas certas.

— O Jack nos garantiu que você nos entregaria o nome do homem que
o contratou para matar o capo Rossi — Manuele se apressou a dizer, quando
me viu com os punhos cerrados, irritado pela maneira como o idiota me
tratou.

— Sim, mas preciso de garantias também.


Semicerrei os olhos.
— Que tipo de garantias? — a pergunta não passou de um silvo.
— De que continuarei vivo depois da informação dita — respondeu,
dando de ombros. — E claro, um bom montante de dinheiro.
Travando o maxilar, eu encarei o Manuele, que me passou um pequeno
envelope cheio de notas de euros.
Aguardei o idiota conferir e, em seguida, ele me encarou enquanto

abria a porta do veículo.


— Certo! — exclamou. — Felizmente, eu tenho as minhas próprias
garantias — complementou. — Direi o nome agora, e vocês me deixarão ir,
porque certamente vão querer saber onde encontrar o inimigo de vocês.
— Você sabe onde encontrá-lo? — questionei, piscando.
— Sim, eu sei. O nome dele é Louis Moran — disse, ignorando a
minha pergunta. — Ficou conhecido como papa, por se considerar o pai dos
regenerados.
Ele continuou falando, mas eu parei de ouvir assim que escutei aquele

nome.
A atmosfera parou.
Tudo a minha volta deixou de existir enquanto as minhas lembranças
tomavam conta da minha mente.

***
— Ele está pronto, Rossi — avisou o meu pai, Federico Ricci. — Eu
quero que você seja o cara a mandar o maldito para o inferno, considerando
que daqui a uns anos, irá assumir o meu lugar. Quero que meu filho seja tão
temido quanto eu sou.
Fazia menos de uma semana que encontramos o corpo da Bianca, e
desde então, a nossa rotina se resumiu a caçar todos os integrantes dessa
maldita máfia que a tirou de nós.

Sem dizer uma palavra, entornei o restante do conteúdo do meu copo


e, em seguida, entrei no lugar em que o homem estava. Quase toda a sua pele
havia sido arrancada, assim como os seus olhos. A maioria dos nossos
homens arrombou o ânus do maldito, acometendo-lhe as mesmas
barbaridades que fizeram com a Bianca.
Entretanto, eu não conseguia sentir alívio por isso.
Nada do que fizéssemos traria a nossa irmã de volta. Nada.
Olhando para aquele desgraçado, eu só conseguia sentir ódio. Ódio do
mais puro, doentio e cruel.

Louis Moran se tornou um desafeto dos Fratelli depois que o nosso pai
se recusou a trabalhar com ele; o desgraçado era um homem sem escrúpulos
e honra dentro do submundo, e Federico Ricci não queria trazer isso para a
nossa família.

E a consequência de tal decisão foi fatal para a nossa irmã.


Todos os meus irmãos estavam ali, mas em silêncio. O único som vinha
do maldito, que gritava a plenos pulmões de pura dor.
Olhei para as minhas mãos, tendo consciência de tudo o que já fui
capaz de fazer com elas. Não era nenhum santo. Nunca tive misericórdia. O
meu freio era a Bianca.
O meu pedacinho do paraíso.
O meu fôlego.

— Minha irmã era a luz que iluminava a minha vida — falei mais para
mim mesmo, embora todos ali pudessem ouvir. — E você a tirou de mim,
deixando-me na escuridão.
— Vá... se foder, garoto.
— Agora só me restaram as trevas — continuei, enquanto caminhava
pelo espaço imundo. — Nada mais.
Pegando a pistola, eu mirei em seu rosto e, simplesmente atirei.
Vinguei o que fizeram com ela. Mesmo que isso não fosse trazê-la de volta
para nós.

***
— Ei, Rossi... — Manuele me chamou, assim que entramos na mansão
— Vamos conversar, irmão.
Eu não conseguia parar de pensar naquele nome. Não conseguia

raciocinar. Sequer fazia ideia de como voltamos para casa, porque minha
mente se perdeu no loop do passado.
— Não vá para lá, Rossi — pediu ele, segurando o meu braço. — A
culpa não foi sua, irmão. Não foi.
Travei o maxilar, sentindo a dor me sufocando.
— Ela sofreu tanto... — balbuciei. — Tudo o que eu poderia ter feito,
que era acabar com o maldito que a feriu, eu fiz, mas acabo de descobrir que
falhei na missão. Ele sobreviveu.

Sem mais uma palavra, continuei subindo as escadas, em direção ao


lugar que me faria sentir o alívio necessário.
***
O martírio surgiu, semanas depois de termos encontrado o corpo da
Bianca. O peso da culpa que me consumia precisava ser aliviado de alguma
maneira, e foi essa forma que encontrei; uma forma de honrá-la.
Ajoelhado, passei a observar a sua foto, juntamente com a bonequinha
que ela mais amava; eu acabei criando uma espécie de altar para ela.
Com o chicote nas mãos, pela primeira vez, eu me vi hesitando, apesar

da dor dilacerante em meu peito. Era como se o meu subconsciente estivesse


me condenando...
Sem forças, desferi o primeiro golpe, mas a sensação esquisita
continuou; meu peito sufocou ao ponto de eu me ver sem ar.

O segundo golpe veio.


E o terceiro.
O quarto...
Não melhorava.
Por quê? Por que eu não estava sentindo o alívio? Por que a dor não
estava indo embora?
— Rossi? Oh, meu Deus!
Assustado, olhei para trás, me deparando com a Maya. Meus olhos se

encheram de lágrimas na mesma hora.


Ali, eu tive a resposta para o meu tormento interno. Acabei
descobrindo que a partir do momento em que me vi apaixonado, Maya se
tornou a dona não somente do meu corpo, mas também da minha alma.
— Por favor... seja a minha luz — implorei, aos prantos.
Capítulo 27
Maya
Eu já tinha tido o vislumbre da vulnerabilidade do Rossi, mas nunca
como naquele momento.
Quando escutei, minutos atrás, ele e Manuele numa pequena discussão,
eu não pensei duas vezes e me escondi. Segui-lo até a passagem que me
levaria a masmorra não foi o problema, mas sim a cena que presenciei logo
depois.
Eu fiquei sem ar.

Senti-me devastada por dentro.


Segurando o choro, me esforcei para fazer as minhas pernas
funcionarem e encurtei o espaço que nos separava.
Ajoelhando-me diante dele, amparei o seu rosto choroso com as
minhas mãos trêmulas e frias.
— O-o que está fazendo, meu amor? — perguntei, engasgada.
Suas mãos seguraram as minhas, em seu rosto.
— Estou honrando a memória da minha irmã — contou, olhando
diretamente em meus olhos.

Engoli com dificuldade, absorvendo as suas palavras.


— Mas há outras maneiras de fazer isso, querido — expliquei com toda
a calma do mundo, apesar do tormento em meu interior.
Negou com a cabeça, demonstrando toda a sua angústia.

— Não, não existem — declarou.


— Por que diz isso?
Ele ficou em silêncio.
Respirando um pouco, eu soltei o seu rosto e me sentei ao seu lado.
Comecei a observar ao redor; cheguei a conclusão de que ele havia feito uma
espécie de altar para a irmã.
Peguei uma bonequinha de pano, sorrindo com tristeza, por saber que a
garota não estava mais entre nós.

— Era a preferida dela — apontou Rossi, fazendo-me encará-lo — Eu


que comprei.
— Quantos anos ela tinha quando...?
Seu rosto se transformou numa nuvem negra.
— Oito.
Baixei os olhos novamente para a boneca em minhas mãos, lutando
para esconder a minha própria dor, porque era um momento em que eu
precisava ser forte para resgatá-lo, de alguma forma, desse loop sem fim. As
cicatrizes grossas e antigas eram prova disso.

— Quer falar um pouco sobre ela? — perguntei, ainda com os olhos na


boneca de pano.
Ele demorou um pouco, até pensei que não falaria.
— Bianca era a princesinha da casa; a dona dos nossos corações. Até

mesmo o nosso pai, considerado um homem duro e frio se derretia todo


quando estava com ela. Não havia quem não sentisse a luz que emanava
dela... — sua voz engasgou — Por vezes, eu cheguei em casa, depois de
algum treino fodido, ou de alguma missão em que me obriguei a matar
alguém, e bastava olhar para os olhinhos dela para que toda a minha carga se
dissipasse. Ela era a minha parte boa. A luz que iluminava os meus dias.
Fiquei em silêncio, dando a ele o espaço e a liberdade para falar
conforme as suas emoções permitissem.

— O sonho dela era se tornar musicista; dizia que levaria a sua música
para todas as pessoas que precisassem de amor em suas vidas — se calou,
como se a dor estivesse esmagando o seu peito. Segurei o choro, assim como
o desejo, corroendo em minhas veias, de abraçá-lo. — Mas esse sonho foi
arrancado dela por um maldito que não aceitou a recusa do nosso pai.
Lentamente, devolvi a bonequinha ao lugar em que estava antes e, em
seguida, fixei os olhos no porta-retrato com a foto dela. Era uma garotinha
linda e cheia de vida.
Malditos!

— O que houve? — obriguei-me a fazer a pergunta, porque tinha que


entender o motivo que o levava a se ferir daquela maneira.
— Eu era o responsável por levá-la a escola, todos os dias —
murmurou, de cabeça baixa — mas, naquele dia, eu...

— Você não foi — completei o seu raciocínio. Ele assentiu. — É por


isso que se culpa?
— Eu era o irmão mais velho, Maya, eu deveria ter estado lá para
protegê-la.
Respirando fundo, eu me virei para ele, ficando sob os meus joelhos.
Peguei as suas mãos, que ainda seguravam o chicote, e entrelacei os nossos
dedos.
— Você não poderia saber — declarei. — Há acontecimentos que

fogem do nosso domínio, Rossi.


Voltou a negar, balançando a cabeça freneticamente.
— Era a minha obrigação ter estado lá para ela — disse com
veemência. — Bianca confiava em mim; ela acreditava que eu estaria lá, mas
eu não estava. — Baixou a cabeça. — Quando voltei a vê-la, pouco mais de
um mês depois, ela estava nua e presa por ganchos como a um animal — não
segurei as lágrimas — eu segurei o meu anjinho, sem vida, nos braços, Maya,
e não pude fazer mais nada. Ela sofreu sozinha.
Continuei apertando as suas mãos, com força.

— Por isso você se fere? Para, de alguma forma, aliviar a culpa que
sente? — perguntei entre lágrimas.
— O alívio vem quando eu sinto dor — confessou. — Não consigo
aceitar o que fizeram com ela, não consigo — disse, fungando. — Depois que

a encontramos, a caçada aos responsáveis por sua morte começou.


— E-e encontraram?
— Dizimamos todos eles! — respondeu. — Um a um, nós fomos
destruindo os malditos. E... — se calou, em desespero — quando chegou ao
líder, o desgraçado que arquitetou toda essa barbárie, eu o matei. Nosso pai
fez questão de me deixar ser o responsável. — Se calou novamente, mas eu
podia sentir a sua angústia. — Mas... acabei de descobrir que o maldito não
morreu. De alguma forma, ele conseguiu sobreviver. — Pisquei, incrédula.

— Nem isso, eu fui capaz de fazer por ela, Maya — continuou, se castigando
— Eu não consegui vingar a morte da minha irmã. Que espécie de homem eu
sou? Como você pode me amar?
Desesperada, voltei a amparar o seu rosto com as minhas mãos.
— Entenda uma coisa: você não precisa controlar o mundo ao seu
redor, porque, antes de ser um líder, você é um ser humano que, como todos
nós, comete atos que estão sujeitos a erros. Você sempre será o responsável
por suas ações, mas não cabe a você culpar-se caso algo venha a dar errado.
Ele piscou, enquanto eu enxugava as suas lágrimas.

— Você tem falhas e fraquezas... — continuei — Naturalmente, você


comete erros e sofre com eles, mas precisa entender que não está sozinho.
Todos nós sentimos o mesmo.
— E-eu a peguei em meus braços ... — chorou — segurei o corpo dela

sem vida... — chorei junto com ele, enquanto o apertava contra mim.
— Nã-não consigo entender como o desgraçado sobreviveu — contou.
— Eu me lembro de ter atirado no rosto dele.
— Pode ter pegado de raspão — falei. — Ou dependendo do ângulo
que a bala entrou, não atingiu o cérebro.
Ele se afastou, voltando a sentar, passando as mãos no rosto.
— O que vocês fizeram com o corpo? — perguntei.
— Na época, nós deixamos nas mãos da equipe de limpeza —

respondeu. — Mas infelizmente, nós perdemos essa mesma equipe há alguns


anos, então não tenho como descobrir o que realmente aconteceu na época —
lamentou.
Assenti, compreendendo a sua agonia.
— Rossi? — Ele me olhou. — Você precisa reconhecer que agiu de
acordo com as suas possibilidades naquela situação. — Vi que seus olhos não
desgrudavam dos meus; — Entender que aconteceu algo ruim no passado e,
começar a criar uma história nova a partir de hoje. É uma alternativa que
você pode seguir. Não é esquecer o que aconteceu, ao contrário: é aprender a

lidar com a situação — pausei, dando a ele tempo para absorver as minhas
palavras — Em alguns casos, é muito difícil conseguir enxergar e sair do
ciclo paralisante da culpa. Enxergar novas saídas, às vezes, pode parecer
impossível. Mas... eu estou com você agora. Entendeu? Eu estou com você.

— Permaneceu me olhando. — Deixe-me ajudá-lo? Deixe-me cuidar de você


e das suas feridas?
Como ele não disse nada, eu me levantei e estiquei a minha mão.
Alívio brotou em meus poros quando a sua mão se fechou na minha.
***
Assim que o Rossi saiu do banheiro, eu pedi para que ele se sentasse na
cama, onde eu o esperava com o kit de primeiros socorros.
Em silêncio, ele fez o que pedi.

Sentado, entre minhas pernas abertas, permitiu que eu, calmamente


limpasse os cortes em suas costas; segurei a dor que ver aquelas cicatrizes me
causava. Antes, eu já sentia aquela conexão sombria sempre que olhava para
elas, mas agora que descobri o enorme peso que elas realmente carregavam,
eu só queria chorar.
Quando terminei, Rossi se ajeitou de lado. Os olhos estavam tristes e
envergonhados.
— Não há um único fato que resulta na forma como eu lido com a
culpa, mas uma série de acontecimentos que, de forma complexa e

interligada, forma a maneira que enfrento e enxergo como sou hoje e como
enfrento as situações — contou.
— Você precisa romper esse ciclo de culpa — pedi. — Eu compreendo
a sua dor, por Deus que estou falando a verdade, mas não vou aguentar

presenciar aquilo de novo. Juro que não vou.


Ele ficou me encarando.
— Antes de você chegar à masmorra, eu não estava alcançando a
satisfação que sempre alcançava com a dor — admitiu. — Há tempos, eu
vinha me sentindo cansado; cansado de continuar negando a mim mesmo o
direito de escrever uma nova história no meu pedaço de papel em branco.
Abri a boca para falar, mas acabei hesitando. Rossi, então amparou o
meu rosto em suas mãos quentes.

— Você é o meu pedaço de papel, Maya — afirmou, fazendo o meu


coração acelerar — Tive certeza disso quando você chegou lá embaixo e me
fez desejar esconder-me, porque não queria que me visse daquele jeito. Você
merece um homem forte e digno para estar ao seu lado, e eu serei esse
homem.
Sorrindo, senti os meus olhos nublados.
— Eu amo você com todas as suas nuances — garanti.
— E, eu? Amo você por me amar mesmo tendo visto as minhas
fraquezas mais feias.

Senti o meu peito sufocado pelas mais diversas emoções.


— V-você acabou de dizer que...?
Sacudiu a cabeça, sorrindo. Seu corpo se inclinou, de modo a forçar as
minhas costas contra o colchão.

— Sim, eu a amo — admitiu. — Amo com cada parte do meu ser.


Amo mesmo sabendo que não a mereço, mas prometo que vou me esforçar
para aprender a autoaceitação. Vou me perdoar por meus sentimentos,
pensamentos e minhas ações de autoagressão.
Aos prantos, puxei o seu rosto contra o meu, colando nossas bocas.
Pela primeira vez, eu senti que estava exatamente no lugar em que deveria
estar... ao lado do homem que me escolheu quando eu não queria, mas que
me fez desejá-lo quando enxerguei a sua real essência.

Ele era o meu anjo.


Meu anjo indomado.
Capítulo 28
Rossi
Eu era incapaz de descrever as sensações que ainda vibravam em cada
uma das minhas células, mesmo tendo passado algumas horas.
A ligação que eu tinha com os meus irmãos era forte, mas bem
diferente da conexão que eu mantinha com a Maya. Em todos esses anos,
jamais me senti tão vulnerável e forte ao mesmo tempo; isso porque
finalmente consegui dar liberdade às minhas emoções e aos sentimentos que
se afloraram em meu peito. Não havia mais dúvidas.

Não havia mais indecisões ou medo.


Maya, além de ter se tornado a dona do meu sobrenome, também se
tornou a dona do meu coração.
Dispersando os meus pensamentos, eu, lentamente, desvencilhei os
braços e as pernas dela, que estava agarrada a mim como se estivesse com
medo de eu desaparecer. Senti uma pontada de agonia ao imaginar que, de
alguma forma, eu a preocupei.
Devagar, para não a acordar, me coloquei para fora da cama. Não
resisti ao desejo de permanecer olhando para ela, a mulher incrível com a

qual fui presenteado, mesmo sem merecer. Maya era simplesmente


extraordinária. Inteligente. Sexy pra caralho.
Afastando-me, fui ao banheiro e, em seguida, deixei o quarto.
Desde o que houve com a minha irmã, não consegui mais dormir

direito; então o meu sono era curto e, por vezes, turbulento.


— Acordado tão cedo? — perguntei ao Fillipo assim que desci as
escadas e o encontrei numa das salas, jogado em um dos sofás.
Deu de ombros, desviando os olhos do aparelho de celular em suas
mãos.
— Na verdade, eu nem dormi — confessou, com uma risadinha. —
Gosto de ser o último a sair da boate, você sabe.
Assenti.

Antes de me sentar ao lado dele, no sofá, chamei a cozinheira e pedi


para ela me trazer uma xícara de café.
— Café? — Fillipo estranhou. — Não uísque? Ou vodca?
Foi minha vez de sorrir.
— Estou tentando melhorar — fui sincero. — E isso inclui coisas
simples, como essa. — Dei de ombros.
Meu irmão ficou me encarando, mas sem nada dizer. Entretanto, eu
podia lê-lo; sabia o que estava pensando.
— Não precisa me encarar assim — alertei — Sei que o Mariano deve

ter contado para vocês, sobre ontem, mas eu realmente estou bem.
— Como? — quis saber. — Como pode estar bem? Você correu para a
masmorra, Rossi! Esse assunto sempre te desestabiliza, irmão.
— Eu sei — respirei fundo, abrindo e fechando os punhos —, mas

dessa vez foi diferente.


Nos calamos quando a empregada surgiu, trazendo a minha xícara de
café fumegante. Agradeci e ela se afastou.
— Como assim diferente? — perguntou depois que voltamos a ficar
sozinhos.
— Maya me viu — respondi, sendo tomado pelas lembranças do
momento. — E foi muito...
— Estranho? — deduziu.

Franzi o cenho.
— Sim — fui honesto. — Eu me recusava a admitir o quanto precisava
dela — baixei a cabeça, olhando para a minha xícara de café — Aliás, tive
essa certeza quando a vi ontem, parada logo atrás de mim e, com lágrimas
nos olhos.
— A verdade é que essa garota, mesmo tinhosa, provou o seu valor
dentro da nossa família. — Afirmou ele, sorrindo. — Puta que pariu! Ela
levou um tiro por você.
Meus lábios, automaticamente se alargaram num sorriso arrogante.

— É, eu sei — concordei, orgulhoso da minha garota. — Alguma


novidade que eu deva saber? — mudei de assunto.
Fillipo suspirou.
— O Angel está cobrando a ajuda que ficamos de dar para encontrar a

irmã dele — comentou, fazendo-me praguejar.


— Porra! Eu acabei me esquecendo. — Entortei os lábios. Beberiquei
um pouco do café. — Mas não vejo outra saída a não ser mandar alguém até
a Turquia para descobrir se a garota realmente está lá. — Dei de ombros.
— O Luca?
Ambos rimos.
— Ele vai ficar puto, mas não vejo ninguém melhor para a função —
argumentei, vendo-o aumentar a risada.

— Não quero estar por perto quando ele descobrir.


Concordei, achando graça.
Terminei o café e, em seguida, me levantei.
— Certo! — exclamei. — Vá dormir um pouco — Olhei para ele. —
Vou para o escritório e começar a fazer umas ligações; quero descobrir mais
detalhes a respeito do Louis Moran, o cara que ressurgiu das cinzas. — Rangi
os dentes, mas não fui o único, porque Fillipo fez o mesmo.
— Como o maldito sobreviveu a um tiro no meio da cara? Fora que
teve os olhos arrancados.

Sacudi a cabeça.
— Não faço a menor ideia — busquei respirar fundo — Mas vamos
descobrir.
Ele também se levantou, guardando o celular.

— Eu sei que vamos. — Passou por mim dando um tapinha no meu


ombro. — Boa noite.
Eu ri.
— Bom dia — zombei.
***
— Eu não acredito que, além de ter domado a psicopata, você também
domou os cães dela!? — zombou Manuele, entrando no meu escritório. Odin
e Thor estavam deitados ao meu lado, perto da minha mesa.

— São bons meninos — comentei, acariciando os pelos deles — Mas


não se engane... — voltei a encarar o Manuele — porque eles ainda
continuam fiéis à única mestre deles.
Na mesma hora, ele olhou para trás, como se estivesse procurando por
alguém.
— Isso foi um recado? — brincou, se afastando da porta — Porque não
duvido que aquela doida atice os cães pra cima de mim.
Gargalhei.
— Pare de brincar com fogo — murmurei entre risos.

Manuele também sorriu, enquanto puxava um cigarro do maço e se


deixava cair no sofá.
— Você me parece bem — apontou, acendendo o cigarro e fazendo a
fumaça se espalhar na frente do seu rosto.

Não precisava ser um gênio para entender que ele se referia ao episódio
da noite anterior; todos eles sabiam que eu me martirizava por causa da morte
da nossa irmã.
— E eu estou — concordei honestamente.
Ele não disse nada, mas sorriu. Um sorriso que me dizia tudo o que eu
precisava; ele estava ali por mim e sempre estaria.
— Quais os planos? — perguntei, mudando o foco da conversa.
Suspirou.

— Terei que fazer uma viagem — respondeu. — Algumas famílias da


máfia Unità estão me dando uma dor de cabeça do caralho, porque não estão
conseguindo se adaptar às novas mudanças — soltou o ar — então, eu terei
que ir até eles para deixar as coisas mais esclarecidas. — Abriu um sorriso
perverso, fazendo-me rir junto, pois o conhecia bem o suficiente para saber o
quanto ele gostava de impor a sua autoridade. — Beatrice vai comigo dessa
vez.
— Está certo. E quanto ao Angel? Fillipo mencionou, mais cedo, que
ele está cobrando aquela ajuda a respeito da irmã desaparecida.

— Posso dar um pulo no México — argumentou. — Você já tem uma


ideia de como ajudá-lo?
Assenti.
— Só não sei se o Luca vai gostar da proposta — respondi, sorrindo

diabolicamente.
Manuele já começou a rir mesmo sem saber dos meus planos.
***
Ao final da manhã, eu fui atrás da Maya.
— Demorou a me encontrar? — perguntou ela, sorrindo, enquanto eu
me aproximava.
Ela estava sentada na borda da piscina, com os pés para dentro da água.
— Um pouco — respondi.

— Sente-se aqui. — Bateu ao seu lado.


Aceitei. Mas ao contrário de afundar os meus pés na água, eu optei por
me sentar de costas.
Maya inclinou o rosto para me beijar. Afastando-me, eu observei os
seus olhos; vi que pareciam preocupados.
— O que foi? — perguntei com o cenho franzido. — Está estranha.
Segurou a minha mão, entrelaçando os nossos dedos.
— Eu gostei muito do que aconteceu conosco ontem — declarou num
murmúrio. — Sinto que ultrapassamos a linha que faltava, sabe? Agora nos

tornamos um só.
— E isso é ruim?
Sacudiu a cabeça, rindo.
— Não, não é ruim.

— Então por que está com essa cara de preocupação?


Respirou fundo.
— Porque entendi que merecemos mais — respondeu, deixando-me
ainda mais confuso.
— Maya, eu não...
— Eu escondo coisas de você — cortou minhas palavras, fazendo-me
arquear as sobrancelhas, incrédulo.
Abri a boca para falar, mas hesitei.

Uma miríade de emoções me atingiu, porque eu não sabia o que


pensar. Tentei soltar as nossas mãos, mas ela não permitiu.
— Por favor, me deixe explicar — falou, reforçando o aperto. — Não é
o que está pensando — adiantou-se — não o tipo de segredo que deve estar
passando pela sua cabeça — suas bochechas se tornaram rubras, certamente
imaginando que eu estivesse pensando que ela me traiu com outro homem.
— Então... o que é?
— Lembra do que houve comigo no jantar na mansão do meu pai em
Nova York? — perguntou, e eu assenti.

— Encontrei você no labirinto do subsolo — acrescentei.


— Antes de você chegar, eu conversei com o sabotador — confessou,
pegando-me de surpresa.
— O quê? Como assim? Por que escondeu isso de mim?

Os lindos olhos umedeceram.


— Porque ele me chamou de irmã — respondeu, me fazendo engolir a
respiração. — Na época, eu ainda não confiava em você e nem na sua
família, então optei por guardar isso como um segredo até descobrir que
atitude tomar.
— E depois? Por que continuou escondendo? — Não consegui frear o
tom acusatório.
— Porque tive medo.

— Medo? — A confusão ficou visível em minha expressão.


— Medo por você, e medo pelo meu suposto irmão — explicou com a
voz embargada. — Sempre foram apenas eu e meus pais, Rossi; depois fiquei
apenas com o meu pai. Como acha que me senti quando ele morreu?
Sozinha! Abandonada! — explicou, magoada. — Então, de repente descubro
que tem mais alguém da minha família por aí e...
— Pensou que poderia conhecê-lo — concluí o seu raciocínio.
Baixou a cabeça, fazendo um beicinho lindo quando o choro se
intensificou.

— Sim — concordou.
Em seguida, me entregou um cartão postal envelhecido, explicando
como o conseguiu.
— Você estava planejando fugir para ir até este endereço? — intimei,

depois de ela me contar o que ouviu da tal madame Carlota.


— Sim, mas depois percebi que seria uma loucura — explicou,
constrangida. — Na verdade, eu só não queria que você o matasse. Entendo o
que ele fez, mas... não conhecemos a verdadeira história dele.
Não falei nada.
— Está chateado comigo? — intimou, depois de se cansar do meu
silêncio.
Chegando mais perto, soltei a sua mão e levei a minha ao seu rosto, de

modo a enxugar as suas lágrimas. Em seguida, acariciei os seus cabelos,


arrastando algumas mechas para trás das orelhas.
— Depende — respondi, fazendo-a fungar, confusa.
— Como assim? Depende do quê?
— Se você for ficar chateada comigo ao descobrir que eu já sabia do
filho bastardo do Billy — murmurei, sem jeito. — Então ficaríamos
chateados juntos — brinquei, mas ela não riu.
— Espera aí... então você sabia desse filho fora do casamento do meu
pai?

Respirei fundo, sentindo a tensão fluindo através dela.


— Descobri há alguns dias — respondi. — Não contei antes, porque
não sabia como abordar o assunto sem magoá-la, querida — fui honesto. —
Além disso, Ryder não está se mostrando ser um homem de boa índole, então

fiquei com medo.


— Ryder? — Piscou. — É esse o nome dele?
Assenti, observando as suas reações.
— Você sabe onde encontrá-lo?
— Estamos o rastreando, mas o cara é bom — franzi a testa — Não é à
toa que ficou nas sombras durante todos esses anos.
— Promete que não irá matá-lo? Promete que me deixará falar com
ele?

Suas indagações me pegaram de surpresa.


— É isso o que quer?
— Sim, é.
Deslizei a mão para a sua nuca, colando nossas testas.
— Então, eu te dou a minha palavra de que não tocarei nele até você
permitir. — Uni os nossos lábios num beijo cálido.
— Nunca vou permitir a morte dele — comentou entre o beijo.
— Nesse caso, ele tem muita sorte, porque vai manter as bolas
exatamente no lugar.

Ela afastou o rosto, me olhando com estranheza.


— O quê? Não entendi.
— Não é nada, querida, esquece. — Voltei a puxá-la.
Nossas bocas se conectaram outra vez, com mais intensidade.

E como sempre acontecia quando nós estávamos juntos, eu me esqueci


de todos os problemas. Não havia mais ninguém, apenas nós dois.
Eu e meu novo anjo.
Meu anjo indomado.
Capítulo 29
Maya
Meu estômago amanheceu enjoado, então me obriguei a correr para o
banheiro logo que acordei. Estava perto de completar três meses de gestação,
porém não fazia ideia de quanto tempo ainda esse mal estar ia continuar.
— Maya? — Ouvi a voz da Paola enquanto terminava de escovar os
dentes.
— Já estou saindo — falei, enxugando o rosto. — Bom dia! — saudei
assim que a encontrei, sentada na minha cama. — Está incumbida a me vigiar

hoje? — zombei.
Vi que rolou os olhos, impaciente.
— Estou entediada na verdade — declarou, instigando os meus cães a
se aproximarem dela — A Beatrice viajou ontem, então agora estou
dependendo dos irmãos para encontrar alguma aventura. — Ergueu os olhos
para encontrar os meus — A propósito, já contou ao Rossi sobre a gravidez?
Neguei, enquanto seguia para o guarda-roupa.
— Ainda não tive a oportunidade — resmunguei — Mas conversamos
sobre a história do desconhecido que se intitulou o meu irmão.

— Isso é bom! — exclamou ela. — Um relacionamento sem confiança


não funciona.
Olhei para ela.
— Você parece abatida — comentei. — Por acaso brigou com o

Mariano? — alfinetei.
Seus olhos reviraram-se.
— Não começa — ralhou.
— O que foi? Não vejo problema algum em apoiar um romance entre
vocês dois.
Bufou.
— Quando pretende contar ao Rossi da sua gravidez, afinal? — mudou
de assunto.

Respirei fundo.
— Hoje — respondi, arrancando a parte de cima do pijama. — Mas
antes, eu quero que você me leve ao shopping, porque quero comprar alguma
dessas coisas de bebê.
Ela riu.
— Qual é a graça? — intimei, colocando o vestido.
— Você vai ficar ainda mais insuportável quando a gravidez avançar
— comentou —, por causa dos hormônios — complementou.
— Ah, então você me acha insuportável? — questionei, fingindo estar

ofendida. — É bom saber.


— Não sou mulher de meias palavras, você sabe — murmurou, rindo.
Joguei a minha escova de cabelo nela, que desviou, parecendo
divertida.

— Idiota! — exclamei, achando graça também.


***
— Já tem ideia do que vai comprar? — perguntou, enquanto
caminhávamos pelo shopping. — Ou melhor, já sabe como pretende contar?
— Não — respondi honestamente. — Na verdade, estou com muito
medo da reação dele.
— Rossi está louco por você, então não há motivos para temê-lo.
— Eu sei que ele nunca me machucaria — argumentei, olhando para

ela, que me seguia de perto — O meu medo é de ele se decepcionar, sabe?


Não quero forçá-lo a algo o qual não esteja preparado. Ainda existe um longo
caminho para trabalharmos na sua autoestima, e temo que a responsabilidade
de ter um filho seja demais.
— Infelizmente, isso já deixou de ser uma escolha, porque o bebê de
vocês está crescendo no seu ventre — disse, dando de ombros.
— Você é tão insensível, sabia?
Ela riu.
— Eu sou prática, é diferente!

Rolei os olhos.
— Estou com fome — avisei, mudando o caminho. — Vamos fazer um
lanche primeiro, depois continuamos as compras.
Observei Paola fazendo sinais para a equipe de seguranças que nos

seguiam, discretamente.
— O que vai querer?
Negou com a cabeça.
— Não como nada pela manhã — afirmou.
Dei de ombros.
— Azar o seu, porque vou me fartar — comentei, fazendo-a rir.
***
Minutos depois, nós nos acomodamos em uma das mesas.

Estávamos rindo de um comentário que a Paola fez quando fomos


interrompidas por alguém.
— Eu não faria isso se fosse você, soldado — disse o homem que ficou
gravado em minha memória desde a primeira vez que o vi há algumas
semanas —, e acho melhor você ordenar a sua equipe para não fazerem nada
também, porque não há necessidade de ninguém se machucar aqui. Eu apenas
quero conversar com a minha irmã.
O ar ameaçou abandonar os meus pulmões, enquanto os meus olhos
não se desviavam do rosto dele.

— Isso não vai acontecer. — Paola rugiu, ameaçando pegar a sua


adaga.
Segurei o seu pulso, negando com a cabeça.
— Está louca? — indaguei, nervosa. — Vai mesmo querer colocar a

vida dessas pessoas em risco? — Gesticulei ao redor.


— Maya...
— Ele disse que só quer conversar — interrompi as suas palavras,
sentindo-me nervosa — Por favor, nos deixe sozinhos. — Ela continuou me
encarando. — Por favor, Paola, confie em mim. Está tudo bem.
Suspirando, ela assentiu.
Se levantou, porém quando deu a volta e se aproximou do Ryder, ela
pressionou a adaga em sua costela e, em seguida, disse ameaçadoramente:

— Qualquer movimento em falso, eu mato você! Qualquer motivo


mínimo que você me der, eu mato você! Qualquer desconfiança minha de que
a Maya esteja se sentindo ameaçada...
— Me deixe adivinhar — ele a interrompeu — você me mata?
Paola rosnou, quase o mordendo.
— Estarei por perto — avisou olhando para mim.
Sozinhos, eu me concentrei na enorme figura diante de mim.
— Nervosinha ela, hun? — Sacudiu a cabeça, rindo, enquanto se
sentava em minha frente.

Meus olhos estavam atentos a cada movimento seu; a cada detalhe da


sua fisionomia.
— Está curiosa sobre as minhas cicatrizes?
Pisquei.

— Não necessariamente — fui honesta. — A minha curiosidade vem


do passado em que não o conheci, mas que obviamente você me conheceu.
Por quê? Por que você sabia sobre mim quando eu não fazia ideia da sua
existência?
Ficou me olhando com intensidade. Os olhos eram verdes, diferentes
dos meus. Provavelmente herdou da mãe dele.
— Porque o nosso pai não me quis — respondeu com frieza. — A
história das minhas origens, eu descobri através do único pai que conheci, o

homem mandado para garantir que a minha mãe não importunasse a vida do
grande Billy.
— Mas... eu não entendo.
— O quê? O que você não entende, querida? — questionou com
cinismo. — A parte em que enquanto você teve amor e conforto, eu tive
somente privações, ou o fato de o nosso pai ter se recusado a me criar,
abandonando-me juntamente com a minha mãe a própria sorte?
Franzi a testa.
— Eu não podia imaginar — murmurei, nervosa demais para conseguir

raciocinar — Sempre foram apenas eu e meus pais; jamais imaginei que


existisse esse segredo na vida dele.
— Sei que não — afirmou. — Eu tinha 15 anos quando o meu pai de
criação me contou toda a verdade por trás da minha história — declarou. —

Foi quando ganhei isto — apontou para o próprio rosto.


— Co-como...?
— A minha mãe nunca se recuperou da rejeição do Billy, então
começou a beber descontroladamente. Os anos passaram e ela passou a se
afundar mais e mais... até que em uma noite, bebeu demais e colocou fogo na
nossa casa. Tentei salvá-la, mas não consegui.
— Oh, meu Deus! — exclamei, cobrindo a boca com as mãos, chocada
demais para ter qualquer outra reação. — Eu sinto muito.

Ele apenas deu de ombros.


— Não sinta — murmurou sem muita importância — ela foi uma fraca.
— Abri a boca para falar, mas acabei hesitando. — Cresci sabendo que o
meu lugar nunca foi ao lado dela, pois não nasci para ser um fracassado; eu
nasci para governar.
— O-o que quer de mim? — perguntei, sentindo uma sensação ruim.
De repente, tudo o que idealizei sobre ele caiu por Terra.
— De você? — zombou. — Nada! — afirmou. — Mas sim, a herança
que tenho direito. Não quero continuar com essa caça de cão e gato com o

seu marido. Também não quero fazer mal a você, doce irmãzinha, entretanto
não vou frear o impulso de fazer isso se for necessário — sibilou, sério. —
Me dê o que é meu, e tudo ficará bem.
— Você tentou nos matar — acusei, angustiada. — Como pode querer

exigir alguma coisa? — questionei, nervosa. Me inclinei, encarando o rosto


dele. — Meu marido o quer morto.
— Mas ambos sabemos que você o tem na coleira, né, minha querida?!
— Se inclinou também, quase colando os nossos rostos. — Além disso, você
e eu somos da família, Maya, nós só temos somente um ao outro.
Meus olhos se tornaram úmidos.
— Você colocou explosivos na casa em que nasci — voltei a acusar.
— Depois disso perseguiu o nosso carro. Como você quer que eu acredite

que agiu de boa fé?


Sua risada me causou calafrios.
— A única coisa que eu quero é a minha herança — decretou, se
levantando e retirando um cartão de dentro do bolso da jaqueta. —
Aguardarei o seu marido entrar em contato comigo para resolvermos isso de
um jeito prático. Sem sangue. Sem mortes.
Fiquei tão desnorteada que não fiz menção em pará-lo quando ele se
afastou.
Paola logo se aproximou, preocupada.

— Não mande os seus homens segui-lo — ordenei. — Deixe-o ir.


— Por quê? Ele é um inimigo da família.
— É, eu sei, mas também é o meu irmão — revidei, chateada.
Me levantei.

— O que foi? Aonde vamos? — questionou, me seguindo. — O que


ele falou, afinal?
— Fez exigências — respondi. — Preciso conversar com o Rossi.
— Droga! — exclamou, tão nervosa quanto eu.
Capítulo 30
Rossi
A partir do momento em que a Paola me contou o que houve, pelo
telefone, eu sequer estava conseguindo controlar o ímpeto de deixar a
fortaleza e ir até a minha garota. Meus punhos se abriam e fechavam,
conforme tentava me controlar. Apenas imaginar a Maya correndo perigo já
me deixava sem ar; cego de raiva e aquela odiosa sensação de impotência.
Mariano, Fillipo e Luca não estavam, então os meus nervos estavam
muito mais a flor da pele.

Assim que o carro adentrou a propriedade, eu corri para fora,


desesperado para sentir e ver a Maya com as minhas próprias mãos e olhos.
Ela mal desceu do carro e eu já a puxei para os meus braços,
apertando-a em meu peito, garantindo que ela realmente estivesse bem.
Segurei o seu rosto, trazendo os seus lábios nos meus.
— Você está bem?
Assentiu, apertando ambas as minhas mãos, olhando em meus olhos.
— Ele não me fez nada — disse num murmúrio. — Só quis conversar.
Travei o maxilar.

— Eu quero que você reúna todos os seguranças que acompanharam


vocês duas nesse passeio — falei para a Paola, que assentiu.
— Rossi, não os castigue — Maya puxou o meu rosto para si — a
culpa não foi de nenhum deles.

— Não se preocupe com nada disso, querida — garanti, entrelaçando


os meus dedos nos seus e trazendo-os aos meus lábios. — Venha, vamos
entrar.
***
Na privacidade do nosso quarto, eu a observei acariciando os seus cães,
enquanto suspirava baixinho.
— Você quer que eu prepare um banho? — Assentiu com a cabeça,
incapaz de pronunciar as palavras. Parecia quase em choque.

Em silêncio, fui ao banheiro e coloquei a banheira para encher. Em


seguida, retornei ao quarto, encontrando Maya sentada na cama.
— Vem aqui — bateu no colchão, ao seu lado. — Sei que está nervoso
com o que aconteceu, mas preciso que se controle — pediu. — Eu preciso da
sua calma agora; preciso da sua força.
Não entendi bem o que ela quis dizer com isso, mas assenti esforçando-
me para me manter tranquilo e forte para ela.
— O que a Paola falou para você? — perguntou, calma.
Franzi a testa.

— Disse que o Ryder interceptou você enquanto estavam no shopping,


mas que foi impedida de permanecer junto, durante a conversa.
Balançou a cabeça, absorvendo as minhas palavras.
Virando o corpo, ela segurou as minhas mãos.

— Foi isso mesmo! — Confirmou, mordendo os lábios. Em seguida,


buscou uma respiração profunda. — Ele chegou de repente, meio que se
impondo, então, eu concordei em não criar maiores problemas quando ele
exigiu conversar comigo a sós.
— E o que ele queria? — usei tudo de mim para continuar firme em
minha máscara neutra, embora estivesse pronto para explodir a cabeça do
bastardo.
— Dizer que quer a herança do nosso pai — respondeu, baixando os

olhos. — Falou que se eu entregar tudo, ele cessará todos os ataques, porque
não quer me fazer mal.
Respirei fundo, pensativo.
Era óbvio — em minha mente — que o desgraçado jamais se importou
com a Maya, considerando que todas as suas atitudes deixaram as suas
verdadeiras intenções muito claras; mas eu não podia minar as esperanças da
minha garota. Prometi a ela que me esforçaria para ser um homem melhor, e
eu cumpriria a minha palavra.
Cocei a garganta:

— E o que você quer fazer a respeito? — questionei, paciente. — É


certo que o Billy me concedeu o poder para gerir os negócios, mas no final
das contas, é tudo seu, querida.
Ela sacudiu a cabeça, parecendo atormentada, o que me deixou ainda

mais enraivecido com o maldito do seu irmão bastardo.


— E-eu não quero mais que isso continue — disse, provavelmente
referindo-se aos ataques e ameaças de morte. — Se ele quer ficar com a
herança, então vou dar a ele.
— Ok, então nós entregamos a parte dele — declarei, fazendo-a me
encarar com o semblante franzido. — Parte dele, meu bem, enquanto você
continua com a sua — esclareci. — O justo é o justo. — Dei de ombros. —
Ou você concorda em se desfazer do que é seu por direito? Se ele é filho do

Billy, ok, mas não se esqueça de que você também é.


— É, você está certo — concordou. — Eu também mereço fazer parte
do legado do meu pai.
Apertei as suas mãos nas minhas.
— Quero que saiba que só estou concordando com isso, porque tenho
certeza de que o Ryder é realmente filho do Billy; ou juro que a única
herança que ele ia ganhar seria direto no inferno.
— Meu Deus, Rossi! Que coisa horrível de falar.
Puxou-me para um abraço, estremecendo. Beijei a sua cabeça,

afundando o nariz em seus cabelos perfumados.


— Vai ficar tudo bem, baby — murmurei, acariciando as suas costas
num movimento de vai e vem.
— Eu sei que vai — disse. —, mas eu tinha esperança de que ele

quisesse me conhecer. Ingenuamente, imaginei que quando nos


encontrássemos de novo, a conversa seria outra.
Senti a sua dor e isso só serviu para me deixar mais irritado.
— Não se entristeça, minha querida — pedi, controlando o tom de voz
— Ryder foi criado sob a influência de uma mulher repleta de sentimentos
ruins, que foram causados pela rejeição do seu pai, então o coração dele não
tem espaço para mais nada, além de ambição e ódio. — Me afastei para poder
encarar os lindos olhos azuis, pelos quais eu era fascinado. — A culpa não é

sua. O problema é dele que não conseguiu enxergar o quanto você é incrível.
A umidade das lágrimas tomou conta do seu olhar.
— Você me acha incrível? — Fez um biquinho lindo.
Assenti com a cabeça, sorrindo.
— E gostosa — beijei a sua bochecha — e cheirosa — beijei o seu
pescoço — e excitante — arrastei a boca até o seu queixo, fazendo-a sorrir
um pouco — eu já disse gostosa?
Seu sorriso aumentou, enquanto enrolava os braços em meu pescoço.
— Já, mas eu não ligo de ouvir de novo — brincou.

Foi minha vez de rir.


Beijei a sua boca macia, mas logo pausei o beijo.
— Vou cuidar de você agora — murmurei, me levantando e a pegando
no colo — Tenho certeza de que vai se sentir melhor depois de um bom

banho de banheira.
***
Depois que consegui fazer a Maya adormecer, considerando que estava
muito abalada, eu desci e fui logo atrás da Paola.
Os seguranças estavam enfileirados, em uma das salas do andar
debaixo.
— Estão todos aqui? — perguntei, vendo a Paola assentir, enquanto eu
contava seis homens. — Ótimo!

— Senhor...
— Pode sair, Paola — cortei-a, impaciente. — Espere-me do lado de
fora.
Sozinho com os homens, eu comecei a esquadrinhá-los.
— Hoje, vocês me decepcionaram; todos vocês — desabafei,
gesticulando. — Eu não recruto homens para perder; ao meu lado, eu exijo os
melhores. E, infelizmente, vocês falharam.
Silêncio.
— Deveriam ter visto o inimigo se aproximando — persisti —

Deveriam tê-lo impedido antes mesmo que chegasse perto da minha mulher.
Como confiarei em vocês a minha vida?
Eu podia sentir o cheiro do medo.
Me colocando em frente a eles novamente, eu soltei o ar.

— Não vou matá-los — afirmei —, mas vou castigá-los. Alguma


objeção?
Silêncio.
— Ótimo! — exclamei. — Tirem as roupas.
Minutos depois, voltei a chamar a Paola, que entrou, imponente como
sempre.
— Coloque os sacos na cabeça de cada um deles e, em seguida, mande-
os para as celas. Sem água e sem comida até amanhã a meia noite, e sentados

no chão com os joelhos erguidos.


— Ok.
Dizendo isso, eu virei às costas e deixei a sala. Pegando o meu celular,
disquei o número do Mariano.
— Temos um problema com o irmão da Maya — falei quando ele
atendeu. — Ele quer uma trégua, mas precisamos trabalhar num plano B,
porque não confio nas intenções dele.
— Vou resolver alguns problemas aqui, mas logo estarei aí.
Encerrei a ligação, sentindo as minhas mãos trêmulas. O medo que

senti mais cedo ainda vibrava os seus efeitos em meu corpo.


Perder a Maya não era uma opção.
Jamais seria.
Capítulo 31
Maya
Inquieta. Era como eu estava me sentindo desde que saímos de
Palermo com destino a Nova Iorque. Tinha passado somente dois dias depois
que tive aquela estranha conversa com o meu irmão, e no fundo, eu ainda me
sentia extremamente magoada. Magoada, porque de certa forma, imaginei
que ele quisesse me conhecer, assim como desejei conhecê-lo.
— Está nervosa? — ouvi a voz do Rossi ao meu lado.
Olhei para ele, oferecendo-lhe um sorriso fraco.

— Não — falei honestamente. — Eu apenas quero acabar com isso de


uma vez.
Ele devolveu o sorriso e me puxou para os seus braços, em seguida,
beijou a minha cabeça.
— Eu sei, querida.
Suspirei, enquanto me aninhava melhor nos braços dele, o homem que
vinha sendo a minha base.
***
Chegamos à mansão do meu falecido pai, perto das sete da noite;

deixei o Rossi resolvendo os problemas e fui direto ao andar de cima, pois


sentia que precisava de um tempo, sozinha. Luca e Fillipo não vieram, apenas
o Mariano e a Paola.
Eu estava sufocada, ou melhor, quase desesperada.

A sensação era estranha, mas talvez a explicação para a miríade de


sentimentos que estava me deixando inquieta tivesse a ver com a gravidez,
considerando todos os hormônios descontrolados.
Entrando no meu antigo quarto, segui para a minha cama e ali
permaneci por longos minutos, absorvendo os sentimentos e as sensações que
me envolviam. Era certo que eu tive uma infância boa, apesar da obscuridade
por trás dos negócios do meu pai; fui amada e bem cuidada. Mesmo depois
da morte da minha mãe, eu pude sentir em cada um dos meus poros, o amor.

O amparo.
Soltando um suspiro, eu me ergui e comecei a caminhar pelo quarto,
me permitindo relembrar de todos os meus dias ali, naquela casa. Os porta
retratos ainda continuavam nas paredes, me presenteando com os sorrisos de
todos os bons momentos. Não era justo com a memória dos dois que eu os
julgasse por erros que cometeram; o meu pai por ter traído a minha mãe e a
mim, quando escondeu a amante e o fruto dessa traição; e a minha mãe por
ter sido tão omissa consigo mesma, embora insistisse em me fazer enxergar
um futuro onde eu pudesse ser livre.

Talvez ela idealizasse em mim, a vida que não teve.


— Maya?
Olhei para trás e me deparei com o Rossi.
— Ele já chegou? — perguntei em tom baixo.

— Sim. Você está pronta?


Respirei fundo, retornando o meu olhar ao porta-retrato na parede. Era
uma foto onde os meus pais apareciam sorrindo um para o outro.
Sorri.
— Agora estou. — Olhei para o Rossi, que franziu um pouco o cenho,
confuso, mas acabou sorrindo também.
Entrelaçando os dedos nos meus, ele me puxou para descermos, juntos.
***

O andar de baixo estava repleto de desconhecidos, e todos eles


armados. Odin e Thor começaram a rosnar conforme descíamos os degraus.
Uma mesa foi colocada no meio do hall; de um lado, estava o
advogado da família, e do outro, estava o Ryder, meu irmão. Gelei quando
passei a encarar os homens que o seguiam; todos com arma em punho,
preparados para matar quem quer que se colocasse em seu caminho.
— Olá, querida! — saudou-me, com um sorriso cínico. — Bom voltar
a vê-la.
Fechei a cara, irritada com o seu descaramento.

— Não aja como se fôssemos amigos, porque não somos — ralhei.


— E o mais importante — Rossi rugiu, apontando o dedo —, não aja
como se fosse um convidado, porque você não é.
Arrepios inundaram a minha pele com o timbre tenebroso do seu tom.

Engoli em seco, nervosa.


Olhei para o advogado:
— Onde eu assino? Quero acabar logo com isso.
O homem baixinho indicou a papelada sobre a mesa.
— Aqui — apontou — Com isso, você abdica de cinquenta por cento
de tudo o que abrange a sua herança e...
— O quê? — Ryder se intrometeu. — Que negócio é esse de cinquenta
por cento? O acordo foi eu ficar com tudo.

— Que acordo? — revidei, alterada. — Eu concordei em lhe entregar a


sua parte, mas não tudo. Eu também sou filha dele.
— Uma filha que teve tudo a vida toda — sibilou, me encarando com
os olhos chispando. — Fora que agora está casada com o chefe de uma
organização do caralho. Não aceito isso. Eu quero tudo.
— Isso não vai acontecer — avisou Rossi, se empertigando. Eu podia
sentir o quanto ele estava se controlando. — Dê-se por satisfeito, porque você
só não morreu ainda por causa da benevolência da sua irmã.
— Pois ela que se foda junto com a benevolência dela — rugiu,

apontando uma pistola em minha direção. — Ou é tudo, ou não quero nada!


Meu coração batia descompassado, enquanto passei a ver tudo em
câmera lenta.
Ouvi o engatilhar de armas de ambos os lados da mesa, entretanto, a

cena que partiria o meu coração se materializou em minha frente sem que eu
tivesse tempo de agir; Odin pulou no Ryder, quando ele disparou em minha
direção. O som do seu choro fez o meu coração sangrar na mesma hora.
— Não! — gritei, tentando ir até ele, mas o Rossi me jogou no chão
com tudo, arrastando-me para trás de um móvel. O movimento foi tão rápido
e ágil que eu sequer consegui raciocinar. — O Odin... — fiz um beiço.
Os disparos começaram e tornaram o ambiente ensurdecedor. Eu podia
ouvir a voz da Paola e do Mariano, mas toda a situação era tão assustadora

quanto desesperadora.
— Eu sei que ele é importante, querida, mas a sua vida é muito mais,
entendeu? — Rossi amparou o meu rosto com ambas as mãos.
Thor pulou na jugular de um homem que se colocou diante de nós,
dando tempo de o Rossi atirar contra ele.
Com o rosto lavado em lágrimas, voltei a encarar o Rossi, sentindo-me
trêmula.
— Por favor... salve o... nosso bebê — pedi, fazendo-o arregalar os
olhos de puro espanto e pavor. Thor atacou outro homem, deixando-o para o

meu marido terminar o serviço. — Sei que esse não é o momento ideal para
dar uma notícia dessas, mas... eu estou grávida, querido. — Foi minha vez de
segurar o seu rosto, assim que se voltou novamente para mim — Você vai ser
pai. — Ele piscou, pálido. — Agora se controla e acaba com eles.

Com a respiração descontrolada, ele assentiu.


Aproveitei para pegar a arma de um dos homens mortos, ao nosso lado,
e comecei a ajudar como podia, embora estivesse com o meu coração
sangrando pelo Odin.
Minutos depois, os tiros cessaram.
Devastada, saí do esconderijo e, a passos lentos, ignorei todos os
cadáveres e fui direto ao Odin. Thor choramingava em cima do corpo imóvel
do irmão, enquanto eu só sabia chorar.

Ajoelhada, peguei Odin nos braços, sentindo-me desolada.


— Ele morreu para me salvar — choraminguei, enquanto sentia as
mãos do Rossi em meus ombros, me consolando.
Tanto Odin quanto o Thor usavam coletes a prova de bala, mas o tiro
foi certeiro na cabeça. Não houve qualquer chance de defesa.
Enquanto eu chorava, escutei a Paola gritando ao avisar que o Ryder
ainda estava vivo.
Soluçando, ergui os olhos para o Rossi, num pedido silencioso.
Não precisei de palavras para fazê-lo entender o meu desejo.

Eu estava com o cadáver do meu cão em meus braços; o ser que não
apenas me presenteou com o seu amor e a sua lealdade, mas também com a
sua vida.
Ryder não era nada para mim.

Ele não era ninguém e eu pouco me importava se ele fosse viver ou


morrer.
Capítulo 32
Rossi
— Como assim, ele morreu? — indaguei ao Mariano, pelo telefone. —
Falamos com ele na semana passada, Mariano — exasperei.
— Foi assassinado, Rossi — explicou. — Topo sabia demais e,
provavelmente descobriram que ele pretendia contar algo.
— Mas que porra! — rugi, irritado por não ter chegado nele, a tempo.
— Ele ia nos entregar a localização do Louis.
— Encontraremos outra maneira, capo — comentou, tão desanimado

quanto eu. — Como ela está?


— Se recuperando — respondi, respirando fundo. — Pedi para que
fosse feito todo tipo de exame para garantir que ela e... — me calei por um
instante, porque ainda era difícil assimilar a novidade — o bebê fiquem bem.
— Puta que pariu, eu ainda não consigo acreditar que a Maya esteja
grávida — comentou, espantado. — Aliás, como você está reagindo a tudo
isso?
Franzi o cenho, absorvendo a pergunta.
— Assustado — fui honesto. Os únicos que me conheciam de verdade

eram os meus irmãos, e a minha garota, então eu não via problema algum em
me abrir com eles. — Preocupado em não ser bom o suficiente, tanto para ela
quanto para essa criança que está a caminho.
A linha ficou muda por alguns instantes.

— Você precisa parar de se culpar pelo que aconteceu com a Bianca,


irmão — disse de repente. — Todos nós fizemos o que podíamos na época —
fiquei em silêncio — Se quer honrá-la, então seja o pai que ela tinha certeza
de que você seria, Rossi; a Bianca te adorava e ela acreditava em você.
Um sorriso sincero despontou em meus lábios.
— É, eu sei.
— Todos nós acreditamos, irmão — acrescentou. — Você será um
ótimo pai, e não sei os outros quando souberem da novidade, mas eu serei o

tio mais babão da face desta Terra.


Gargalhei alto.
— Obrigado, irmão — falei, enquanto deixava escapar um suspiro. —
Vou desligar agora, porque a Maya precisa de mim.
— Está certo — murmurou. — Assim que a Paola e eu terminarmos de
organizar a bagunça que ficou na mansão do Billy, nós encontraremos vocês
aí no hospital.
Trocamos mais algumas palavras e, em seguida, eu desliguei.
Permaneci um tempo, olhando para o aparelho de celular, reunindo

toda a coragem que eu precisava para entrar no quarto em que a Maya estava.
A verdade é que fazia poucas horas desde o incidente na mansão do Billy, e
meus nervos ainda estavam à flor da pele. De alguma forma, eu sabia que
algo não daria certo nesse encontro, mas quase ter perdido a Maya durante a

troca de tiros me deixou em choque. E o que me deixou ainda mais


apavorado foi descobrir que poderia ter perdido o meu filho também.
Respirando profundamente, eu finalmente segui para o quarto.
Obviamente que ainda estávamos em Nova Iorque, em uma das nossas
clínicas clandestinas.
Assim que abri a porta e meus olhos se conectaram com os da Maya,
ela se debulhou em lágrimas.
Angustiado, encurtei o espaço que nos separava e fui até ela,

amparando-a em meus braços, de onde se dependesse de mim, ela jamais


sairia.
— Onde está o Thor? — perguntou entre lágrimas.
— Ele está com o Mariano e a Paola — respondi. — Estão cuidando
dele, não se preocupe.
Assentiu, soluçando.
— O Odin...
— Não resistiu — respondi a sua pergunta muda. — Eu sinto muito,
querida. — E realmente sentia. — Ele morreu como um herói.

Maya intensificou o abraço, como se estivesse tentando se esconder da


dor que sentia.
— Mas nós iremos levar o corpo dele para ser enterrado em nossa casa,
em Palermo — argumentei. — Odin terá um enterro digno, e será

eternamente lembrado por todos nós.


Os lindos olhos se ergueram, deixando-me de coração partido.
— E... o meu... o Ryder?
Minha testa franziu com o incômodo que a menção àquele nome me
causou.
— Morto.
Piscou, assentindo com a cabeça.
— Bom — murmurou. — Muito bom.

Não podia dizer que fiquei surpreso por tal reação vindo dela,
considerando que Odin morreu para defendê-la de um disparo que saiu da
arma do homem que era seu irmão. Eu, em seu lugar, também o desejaria
morto.
De repente, Maya se afastou um pouco, mas não completamente.
Enxugou as lágrimas dos olhos e, em seguida, olhou para baixo; vi quando as
suas mãos descansaram em sua barriga, coberta por aquela roupa fina do
hospital.
Meu coração, já acelerado, naquele instante começou a galopar.

— O médico disse que o nosso bebê está bem — comentou, baixinho.


— Eu jamais me perdoaria se algo tivesse acontecido com ele.
— Ei? — Ergui o seu queixo, ansiando o seu olhar. — A morte do
Odin não foi culpa sua — o lindo rosto se contorceu com novas lágrimas —

aquele cão te amava tanto que trocou a vida dele pela sua, Maya. E é
exatamente isso que você vai fazer, viver.
Voltei a abraçá-la com todo o carinho e cuidado.
— Não vou dizer que não estou com medo, porque estou, e você sabe
— declarei, instantes depois. — Tenho medo de não ser bom o suficiente; de
não ser o pai que essa criança vai precisar que eu seja...
— Rossi...
— Mas eu quero isso — interrompi as suas palavras, afastando-a com

delicadeza e amparando o seu rosto com as mãos — Passei a desejar este


bebê a partir do momento que você me confidenciou que ele existia; desde
que entendi que vocês dois corriam riscos. Eu o quero, porque é uma parte
minha e sua; um pedaço de nós dois.
— Tem certeza? — perguntou, apertando as minhas mãos que estavam
em seu rosto.
— Sim, eu tenho. — Sorrimos um para o outro.
Colei nossos lábios de modo casto e, em seguida, inclinei a cabeça e
beijei a sua barriga.

Sangue do meu sangue. Carne da minha carne.


***
O funeral do Odin foi feito logo depois da nossa chegada a Palermo.
Mandei preparar uma bela lápide para abrigá-lo.

Manuele ainda estava viajando, mas ficou bastante sensibilizado com o


que aconteceu.
Todos nós estávamos tomando o cuidado para não deixar que a
ausência do Odin desanimasse o Thor, pois sabíamos o quanto os dois eram
ligados.
A notícia da gravidez da Maya pegou os meus irmãos de surpresa, mas
a felicidade deles ficou tão evidente quanto a minha. Um filho nunca esteve
nos meus planos, mas no momento era uma das melhores sensações que eu

poderia sentir.
Entretanto, com a alegria, também vinha o medo do desconhecido,
considerando que a localização do maldito Louis ainda não havia sido
descoberta. E isso significava que nós não sabíamos qual seria o seu próximo
ataque. O líder dos shadows era bom em se manter nas sombras, o que apenas
piorava a minha angústia e ânsia de acabar com ele de uma vez por todas.
Porém, capturamos ele uma vez, no passado, e obviamente faríamos
isso de novo. E, eu tomaria o cuidado de garantir que ele realmente fosse
mandado para o inferno.

— O que você está inventando? — Maya quis saber, me encarando


com desconfiança e me forçando a dispersar os pensamentos. — Você está
com uma cara esquisita.
— Não estou tramando nada — respondi, achando graça.

Começamos a descer as escadas, até que de repente, Maya parou.


— Oh, meu Deus, Rossi! — exclamou ao ver o enorme quadro que
mandei fazer da foto do Odin, em sua homenagem. — Você mandou
emoldurar a foto dele. — Sua voz embargou.
— Agora todos que entrarem aqui poderão ver a imagem do amigo leal
e herói que você teve, querida — argumentei.
Jogando-se em meus braços, ela me beijou com sofreguidão.
— Obrigada — soprou, chorosa.

Descansei as mãos em sua cintura.


— Eu faço tudo para vê-la feliz, querida.
Sorriu.
— Então saiba que está fazendo um excelente trabalho, porque não
existe mulher mais feliz nesse mundo do que eu — declarou.
Puxei o seu rosto, desesperado para beijá-la outra vez.
Não havia limite para o meu desejo por ela.
Capítulo 33
Rossi
Duas semanas depois

Acordei assustado, e, inconscientemente, apertei a Maya contra mim.


Ela dormia tão tranquilamente que sequer percebeu a minha tensão.
Aquela não era a primeira vez que isso acontecia; a verdade era que
desde o momento em que descobri que seria pai, o meu subconsciente não me
deixou mais descansar. As teorias se tornaram infinitas em minha mente,
assim como os diversos cenários assustadores que eu passei a imaginar. E se

eu não fosse um bom pai? E se algo acontecesse com o meu filho, ou filha? E
se algo acontecesse com a Maya durante o parto? E se acontecesse algo com
os dois durante o parto?
As perguntas não paravam...
Elas me atormentavam dia e noite...
Lentamente, eu me desvencilhei da Maya, tomando o cuidado para não
a acordar. Não tinha a intenção de preocupá-la, mas, infelizmente, tinha
momentos em que eu precisava ficar sozinho.
As últimas semanas estavam sendo quase como uma gangorra de

descobertas e emoções. E eu temia não ser forte o suficiente.


Vesti uma camisa e, em seguida, saí do quarto.
Era madrugada, então a casa estava completamente silenciosa. Fui
direto para a sala do piano, pois precisava sentir a conexão com a minha doce

irmã. Eu já não me autoflagelava como antes — me punindo fisicamente —


porém, estava constantemente em contato com ela, através da música e das
boas lembranças.
Assim que entrei na sala, optei por não acender a luz, considerando que
a claridade da Lua se fazia presente iluminando todo o cômodo através das
vidraças.
Meu corpo parecia estar trêmulo e amortecido, conforme caminhava
pelo espaço. O ar ameaçava abandonar os meus pulmões.

Não deveria ser assim.


Não deveria ser assim.
Não deveria ser assim.
— Rossi?
Me sobressaltei ao som da voz rouca da Maya. Olhei para a porta da
sala e a encontrei parada, me olhando com o cenho franzido.
Os cabelos estavam desalinhados, mas a expressão de preocupação
estava presente em seu lindo rosto, o que me fez praguejar. Não gostava de
deixá-la preocupada comigo.

Meu olhar se fixou em sua barriga saliente assim que ela começou a
caminhar em minha direção.
— O que faz aqui uma hora dessas, amor? — ela quis saber. Amparei-a
em meus braços quando parou diante de mim. — Perdeu o sono? — Beijou

os meus lábios.
— Não é nada com que você precise se preocupar — murmurei.
Se afastando, ela me encarou com os olhos semicerrados.
— Não minta para mim, Rossi — resmungou. Em seguida, segurou a
minha mão e me puxou para o banco em frente ao piano. Vi que em suas
mãos estava o cordão com a pedra, que foi presente da Beatrice. Eu tinha
contado sobre o significado dele para a Maya, então ela mandou fazer uma
espécie de cordão que eu pudesse usar no pescoço. — Depois que descobriu a

gravidez, o seu sono está bem mais turbulento.


Respirei fundo antes de soltar o ar.
Ajeitei-me ao seu lado, enquanto esfregava a pedra, ansiando que ela
me desse as energias necessárias para acreditar que eu era capaz.
— O que foi? Qual é o problema?
Encarei aqueles olhos lindos.
— Eu, Maya — respondi. — Eu sou o problema. — Sua testa ganhou
alguns vincos. — Estou me esforçando para aceitar a nossa nova realidade,
mas é difícil.

— O que é difícil? Aceitar a gravidez?


Foi minha vez de franzir a testa, mas por causa da sensação ruim que
senti ao notar o seu tom magoado.
Neguei com a cabeça.

— Falo da realidade em que eu serei pai, porque... porque...


— Porque está com medo — concluiu o pensamento que não fui capaz
de expor em voz alta.
Nervoso, me levantei, colocando o cordão em meu pescoço. Sentia-me
agitado.
— E se eu não for bom o suficiente? — exasperei, me virando para ela,
que continuou sentada. — E se o nosso filho, ou filha, não conseguir sentir
conexão comigo? Porque, veja bem, Maya, ambos sabemos que não sei

demonstrar sentimentos.
De repente, ela começou a rir, o que me deixou confuso.
— O que foi? Por que está rindo? — perguntei, meio rude.
Se levantou, ainda rindo.
— Estou rindo, porque você está tão assustado que não percebeu que já
está agindo como pai — murmurou, se aproximando e enrolando os braços
em meu pescoço. Senti o carinho dos seus dedos em meu rosto e nuca. — Os
seus temores, são os meus também. Esse medo de não saber se seremos bons
pais, ou se conseguiremos manter ele ou ela seguros. — Os enormes olhos

azuis se fixaram nos meus. — Mas esses sentimentos são normais. É normal
sentir medo, então não se torture.
Desci os olhos para a sua boca, não resistindo ao desejo de beijar-lhe
os lábios.

— Nosso filho, ou filha, terá a melhor segurança possível —


continuou. — Os melhores tios, super protetores. E o mais importante: os
melhores pais, porque nós dois somos fodas pra caralho.
Dei risada da sua boca suja.
Desci as mãos até sua barriga, acariciando o ventre saliente e sentindo
aquele intenso instinto protetor.
— Vai dar tudo certo. — Ela garantiu, acarinhando o meu rosto. —
Acredito em você e em sua capacidade. Você é mais forte do que imagina, e

teremos sorte se o nosso bebê nascer com um terço da sua força e coragem.
Meu coração se aqueceu com as suas palavras.
— Eu sempre me sinto o homem mais incrível do mundo sob os seus
olhos, querida. — Enrolei a sua cintura, escondendo o rosto na dobra do seu
pescoço, beijando sua pele quente e perfumada.
— É porque você é incrível mesmo — declarou, toda derretida em
meus braços. — Mais incrível ainda é essa sua boca na minha e essas
enormes mãos em meu corpo — insinuou, fazendo-me rir.
— Esse é um convite? — indaguei, caminhando com ela em direção a

porta, mas sem soltá-la. — Ultimamente, você anda insaciável, mulher.


Ela riu, mordendo o meu queixo.
— Eu poderia culpar os hormônios da gravidez, mas a verdade é que
sou uma mulher fogosa mesmo.

Ambos rimos, enquanto nos perdíamos na boca um do outro.


Não havia limite para a minha fome de fazê-la feliz.
Amá-la se tornou a razão da minha existência e, eu mal podia esperar
para colocar os olhos no fruto do nosso amor.

FIM
Epílogo
Maya
Três meses depois

— Eu estou com vontade de comer m&m’s — comentei, sentindo a


minha boca salivar.
— Vou pedir para uma das empregadas pegar pra você — disse o
Rossi. — Talvez a Paola tenha...
— Tenho, mas de sabor caramelo — respondeu ela. Em seguida, me
encarou: — Quer?

Fiz uma careta.


— Eu quero de menta — olhei para o Rossi, quase desesperada — e
tenho certeza de que esse sabor nós não temos em casa. Você vai ter que ir
comprar — avisei.
— Deixa que eu vou — prontificou-se o Fillipo, já se levantando.
Todos nós estávamos numa das salas da mansão, assistindo a um filme.
— Não, eu vou — Mariano se intrometeu.
— É o meu sobrinho, então eu vou — Luca falou mais do que
depressa.

— Ei?! Mas ele também é o nosso sobrinho, cara — reclamou


Manuele.
— Argh, começaram! — Beatrice revirou os olhos, rindo.
Eu só sabia achar graça dessa pequena guerrinha que sempre se

formava entre eles quando o assunto era o meu bebê.


— Pelo amor de Deus, meninos — Paola alterou a voz. — Enquanto
vocês ficam nessa guerra de egos, a Maya vai acabar perdendo a vontade, e o
bebê vai nascer com cara de chocolate de menta — brincou.
— Eu vou. — Rossi decretou, usando um tom que não deixava brecha
para discussão. Inclinou-se para me beijar nos lábios. — Já volto, baby. —
Sorri, sentindo-me toda derretida pelo seu carinho e cuidado.
Assim que se afastou, eu comecei a rir das piadinhas que os seus

irmãos soltaram.
— Não pense que porque estou grávida, eu não posso quebrar a sua
cara, Manuele, porque posso fazer isso e farei com gosto — avisei, sorrindo,
vendo-o fingir tédio.
O alvoroço foi imediato entre eles.
Os últimos meses vinham sendo tudo de mais incrível, porque jamais
imaginei que poderia ser tão feliz no meio daquela família de irmãos que se
protegiam e se amavam de um jeito único e tocante.
— Maya... — olhei para o Mariano, que estava no sofá adjacente ao

meu — eu quero aproveitar que o Rossi deu uma saída, para conversar com
você — franzi a testa, achando estranho, mas permaneci em silêncio — É
óbvio que você chegou a esta casa em circunstâncias ruins, o que justificou
muito as suas atitudes no começo.

— Você foi, praticamente, arrancada do único berço familiar que


conheceu — Fillipo acrescentou, fazendo-me olhá-lo — além de ter que
engolir, à força, um desconhecido como marido.
— O seu crescimento emocional e, amadurecimento foi ficando cada
vez mais visível para mim à medida que você foi se permitindo conhecer, não
somente a família, mas ao seu marido também — complementou Beatrice,
com um sorriso terno nos lábios.
— O Rossi, depois que te conheceu, se tornou um homem mais forte

por dentro — declarou Manuele — você conseguiu resgatá-lo de um abismo


que nenhum de nós foi capaz — eu sabia que ele se referia ao fato de o Rossi
não estar mais se autoflagelando como antigamente. — E isso, por si só, já
faz de você uma mulher incrível, querida. Embora, ainda continue sendo a
minha psicopata preferida.
Joguei uma almofada nele, que riu junto comigo. Na verdade, eu estava
em lágrimas. Thor se aninhou aos meus pés, sentindo que eu estava emotiva.
— Você é uma de nós, Maya — Luca comentou, tendo a minha
atenção. — Não há palavras suficientes para externar o quanto você é bem-

vinda. — Sorriu com sinceridade.


Olhei para a Paola, que me oferecia um sorriso discreto.
— É isso aí, garota — mencionou, dando uma piscadinha marota.
— Você e o seu filho vêm em primeiro lugar para o nosso irmão, mas

saiba que todos nós também sempre estaremos aqui para continuar garantindo
a sua felicidade e segurança — Mariano concluiu.
As lágrimas embaçaram os meus olhos, enquanto eu sacudia a cabeça,
emocionada demais para sequer raciocinar.
Era certo que as perdas dos últimos meses me fizeram mergulhar num
mar de dor, mas também me fortaleceram. O acolhimento, não somente do
Rossi, mas de toda a família foi primordial para que eu conseguisse reunir
cada pedacinho quebrado do meu coração.

***
Mais alguns meses depois

Se me contassem que a dor do parto seria tão lancinante, eu jamais me


permitiria sentir. Era algo tão estranho, porque, ao mesmo tempo em que eu
ansiava olhar para o rostinho do meu bebê, eu também não queria ver, pois
isso significava ter que enfrentar a dor que me rasgava por dentro.
— Você tem certeza de que não quer que eu chame o médico? — Rossi
perguntou pela milésima vez.
Fulminei-o com os meus olhos.

— Daqui a pouco serei eu quem vai chamar, mas o satanás, para te


levar com ele, seu cretino! — rugi, indignada. — A culpa disso é toda sua,
que me engravidou. — Comecei a chorar. — Você colocou esse ser
humaninho aqui dentro, que agora quer sair, mas para isso acontecer precisa

me rasgar toda!
Estávamos na clínica da família.
Ele suspirou.
— Querida...
— Cala essa boca! — gritei, enraivecida.
Visualizei o seu maxilar enrijecido, mas ele não ousou falar mais nada.
— Rossi, por que não vai lá para fora? — ouvi a Beatrice dizer.
— Seria uma boa ideia realmente, porque os hormônios femininos se

afloram muito durante o processo do parto — Paola acrescentou.


Desci da cama e, em seguida, me inclinei no colchão sentindo a dor se
intensificando. As contrações estavam piorando.
De soslaio, eu vi o exato instante em que o Rossi, cabisbaixo,
caminhou até a porta, mas o parei:
— Rossi... — choraminguei — por favor, não vá — pedi.
Rapidamente se aproximou, preocupado.
— Estou aqui — massageou minhas costas — não vou a lugar nenhum
— garantiu.

— E-eu... estou com medo — confessei, olhando para os seus olhos,


enquanto me contorcia toda.
— Ficarei ao seu lado em cada segundo — avisou — Prometo que não
sairei até que o nosso filho venha a este mundo.

Lágrimas desceram dos meus olhos.


— Vai me desculpar pelos meus xingamentos? — perguntei, fazendo-o
dar uma risadinha. — Porque até essa dor passar, você vai ser o alvo da
minha fúria.
— Continuarei amando você, mesmo se tornando uma monstrinha.
Foi minha vez de rir, mesmo em meio à dor.
***
Eu já estava exausta, mas ainda consegui tirar forças da alma quando o

médico avisou que o meu bebê estava a caminho. Com o Rossi atrás de mim,
apoiando os meus ombros em seu peito, eu me esforcei ao máximo e, quando
estava prestes a desmaiar, sem forças, ouvi um som, que marcaria a minha
vida para sempre.
— Esse é o...
— Choro do nosso filho — Rossi completou, tão emocionado quanto.
Ele me ajeitou na maca, beijando a minha testa. — Você conseguiu, querida.
— O brilho orgulhoso em seus olhos me desmanchou.
O médico aninhou o meu menino em meu peito, que chorava sem

parar. O mais lindo som que eu já ouvi. O fôlego de vida da criaturinha que
me tinha nas mãos.
Valeu a pena cada instante de dor.
— O nosso bebê, Rossi — comentei, aos prantos, enquanto segurava a

sua mão na minha, e com a outra amparava o nosso filho.


— Sim, nosso filho. — Se inclinou para beijar a pequena mãozinha,
que segurava o seu dedo com força. — Não há palavras que sejam capazes de
expressar o que se passa dentro de mim neste momento, Maya, mas eu
prometo que continuarei me esforçando para garantir somente o melhor de
mim para você, e agora para o nosso menino.
Funguei, acariciando o seu rosto, que estava tão próximo ao meu.
— Você está com medo?

— Estou apavorado — confessou.


— Eu confio em você — soprei, emocionada. — E sei que você será o
melhor pai deste mundo.
Sua boca veio até a minha num beijo singelo.
— Como ele vai se chamar? — perguntei contra os seus lábios.
— Benjamin — disse. — Que significa mão direita, filho da mão
direita.
— Ou seja, da felicidade — acrescentei, sorrindo abertamente.
Rossi voltou a me beijar lentamente.

Ambos olhamos para o fruto do nosso amor em meus braços, contudo


optamos pelo silêncio, apenas nos permitimos vivenciar toda aquela emoção
que transbordava por nossos poros.
Meses atrás, eu ansiava a liberdade, e de certa forma encontrei. Rossi

libertou o meu coração, que estava preso a mágoas, ilusão e amargura. Minha
liberdade chegou, mas na forma de um homem incrível, e de um garotinho
que era, literalmente, o meu coração batendo fora do peito.
FIM
BÔNUS
Prólogo de ANJO SELVAGEM
Paola
Algum tempo antes

Moscou, Rússia.
Em todos os meus vinte e seis anos de vida, passei por várias etapas,

desde boas a ruins; fui colocada em frente ao bicho papão e me obriguei a


enfrentá-lo, uma vez, duas, três, quatro, cinco...
Sobretudo, de todas as minhas batalhas, nada era mais difícil do que ter
que lidar com a maneira como o Mariano olhava para mim, como se
conseguisse enxergar todas as minhas cicatrizes internas. Eu sequer precisava
olhar para saber que ele estava me encarando; a força da conexão que
tínhamos me desestabilizava, e eu não podia evitar. Aliás, essa era a única
coisa que eu não podia lidar. E esse fato me enervava demais.

— Qual o problema? — perguntei, incapaz de erguer meus olhos para


encontrar os seus, porque sabia que sua intensidade me enfraqueceria. Me
sentia uma covarde quando o assunto era ele.
— Nada — respondeu. — Só estou me perguntando se você está pronta
para rever aquele lugar.
Estávamos no jatinho, viajando para Moscou, Rússia. De acordo com
as últimas informações descobertas, Nero Bianchi, irmão da Beatrice,
protegida da família foi treinado por Alexei Pavlova, o russo que me ensinou

a lutar, anos atrás. Nossa missão era tentar descobrir quem foi o mandante do

Nero, já que o maldito se infiltrou entre nós apenas para colher os segredos
dos Fratelli.
Mordi o maxilar, esforçando-me para manter minhas lembranças no
fundo da minha mente. De onde eu estava, na poltrona de frente para ele, eu

finalmente ergui os olhos e encarei o único homem que conseguia mexer com
o meu coração, mesmo quando pensei que o mesmo já não mais existia.
— Estou bem — murmurei no fim. — Voltar a Moscou será como
retornar as minhas raízes. — Ofereci um sorriso maroto, que ele não
retribuiu, e isso me irritou. — Ah, qual é, Mariano? Essa sua preocupação é
tão ridícula quanto descabida. — Me levantei, começando a me sentir
inquieta.
— Você pode se fazer de forte, mas eu te conheço — afirmou ele,

segurando-me pelo braço, enquanto me encarava nos olhos. — Eu a vejo.


Meu coração se tornou uma confusão de batimentos acelerados. O
lindo rosto estava a centímetros do meu; cabelos curtos e barba rala. Os
lábios finos eram tão convidativos quanto ele todo.
— Você apenas enxerga aquilo que eu permito que veja — forcei
minha voz a sair de modo duro — Não se iluda.
Ao dizer isso, me desvencilhei do seu toque, que parecia queimar a
minha pele clara, e me afastei seguindo para outro compartimento.
Precisava ficar sozinha para me restabelecer.

Precisava reencontrar o meu equilíbrio.


***
Assim que desembarcamos em Moscou, Mariano começou a fazer
algumas ligações no instante em que pegamos um carro. Nossa equipe de

segurança foi reforçada, considerando tudo o que vínhamos enfrentando com


os Shadows, e com o pai e noivo da Beatrice Bianchi.
— Está quieta demais. O que foi? — A voz do Mariano interrompeu os
meus pensamentos.
Obriguei-me a olhar para o lado e o encontrei bem perto... sempre que
isso acontecia, eu tinha que usar todo o meu autocontrole para me manter
neutra ao que a nossa proximidade causava em mim.
— É estranho voltar para cá depois de tantos anos — fui honesta. —

Este lugar me recebeu quando eu era somente a sombra de mim mesma —


franzi o cenho com a recordação — Então estar aqui hoje é... nostálgico.
Pegando-me de surpresa, ele segurou a minha mão, embora a princípio,
eu houvesse tentado recusar o seu toque.
— O que significa isso? — intimei, encarando as nossas mãos juntas.
— Isso, sou eu mostrando que te entendo e que estou aqui —
respondeu, todo cheio de intensidade, sem desviar os olhos em tons cinza dos
meus. — Aliás, sempre estarei.
Engoli em seco, sentindo-me enrijecer no banco do carro.

Era por isso que eu sempre o evitava; Mariano sabia me ler como
nenhum outro era capaz.
Não falei nada. Entretanto, mantive minha mão na sua.
***

Levou quase uma semana para conseguirmos a permissão pra entrar no


prédio oficial da organização de Alexei; a mesma rigidez com a segurança, de
ano atrás, ainda existia.
Mesmo tentando evitar, me peguei relembrando daquela época, época
esta que tudo o que eu fazia era reunir e colar os meus pedaços destroçados.
Cada marca...
Cada cicatriz...
Cada contusão me fazia ficar mais forte.

— Relembrando os velhos tempos? — Me virei a tempo de vislumbrar


o dono dessa voz. O russo que mudou a minha vida completamente.
Permiti-me sorrir e, em seguida, me curvei em reverência.
— Apenas as coisas boas, mestre — respondi no seu idioma.
Devolvendo-me o sorriso, ele se aproximou e me puxou para um
abraço apertado. Foi impossível não me emocionar, pois esse homem fez um
verdadeiro milagre em meu interior.
— O que a trouxe de volta? — quis saber, sem rodeios.
Respirei fundo, me preparando para convencê-lo a permitir a entrada

do Mariano, e nos contar tudo o que sabia sobre o Nero Bianchi.


***
— Você sabia que o seu antigo mestre treinava pessoas com o
propósito de se tornarem espiões? — Veio a pergunta do Mariano, assim que

entramos no quarto do hotel em que estávamos hospedados.


— Não, eu não sabia.
— Mas você ficou naquele lugar por anos.
Rolei os olhos, enquanto ia direto para o frigobar.
— Só falta você me perguntar se, assim como o Nero, eu também sou
uma infiltrada.
— Não fale besteiras — resmungou, enquanto retirava a jaqueta de
couro. Em seguida, começou a descartar as armas sobre o aparador.

Alexei nos contou que cada infiltrado recebia a missão através de uma
pequena ficha com poucas informações, porém relevantes a respeito do alvo;
o mandante transferia o pagamento online, de um modo não rastreável e, não
necessariamente precisava se mostrar, o que foi o caso do Nero. A única
coisa que descobrimos foi que o homem que o contratou tinha como apelido:
o papa. O desgraçado queria conhecer as fraquezas e os pontos fortes dos
irmãos Fratelli.
— Por que tem tanta certeza? — Peguei uma garrafinha de água —
Naquela época, eu era apenas um fantasma, Mariano, então certamente não

tinha nada a perder.


Seus olhos encontraram os meus quase que instantaneamente, o que me
fez segurar o fôlego por um segundo.
— Tinha sim — afirmou, sério. — Eu. — Algo brilhou em seu olhar

nesse momento, mas foi breve, porque ele logo emendou: — Além do Rossi,
Luca, Manuele e Fillipo. A sua família.
Mordi o maxilar, nervosa.
Ele estava certo.
Ter o meu destino cruzado com o deles foi o meu momento de bálsamo
depois de tantos anos de tormenta.
— Se o Nero estava colhendo informações, então obviamente estava
guardando em algum lugar — comentei, mudando de assunto. — Precisamos

descobrir o que ele estava tramando antes de a Beatrice meter uma bala na
cabeça dele.
O maldito molestava a própria irmã, então num misto de pavor e
instinto de sobrevivência a garota atirou na cabeça dele. Manuele chegou no
exato momento e decidiu levá-la com ele, tornando-se o seu protetor desde
então.
Suspirando, ele desabafou:
— No momento, tudo o que nós precisamos é descobrir a verdadeira
identidade desse papa.

Tomei mais um generoso gole da minha água gelada.


— Tudo o que eu quero é um banho agora — declarei, inspirando forte.
— Pretende sair?
— Não — respondeu. — Vou ligar para o Manuele pra deixá-los a par

das novas descobertas.


Assenti e, em seguida, caminhei em direção ao banheiro.
***
Longos minutos depois, quando saí do banheiro, enrolada somente em
uma toalha branca, não me preparei para me deparar com o Mariano. Ele
estava seguindo para o próprio quarto, que tinha comunicação com o meu,
porém parou quando me viu.
Meus olhos se arregalaram.

— Me perdoe, não quis ser indiscreto — murmurou, tão nervoso


quanto. — Eu acabei esquecendo o meu celular aqui. — Balançou o aparelho
no ar dando ênfase ao que acabara de dizer.
Pigarreei.
— Sem problemas — falei, num esforço para não parecer afetada pelo
seu olhar quente.
Segui até a minha mala, contudo, de tão nervosa, acabei tropeçando no
tapete e, para não cair, precisei usar as mãos para me equilibrar. Isso me fez
soltar a toalha.

A atmosfera parou.
Quando meus olhos buscaram pelo Mariano, surpreendi-me ao
encontrá-lo mais perto, a poucos centímetros do meu corpo nu.
Seu olhar tinha aquele fogo abrasador que me mantinha cativa.

Por alguns instantes, nenhum de nós disse nada; era como se


estivéssemos nos comunicando pelo olhar.
Foi assim desde a primeira vez que nos vimos, há seis anos.
— Se você não me parar agora, eu vou te beijar, Paola — avisou num
tom quase engasgado, porém extremamente excitante. — E que Deus me
ajude, porque não vou parar até que seja minha.
O ar ameaçou escapar dos meus pulmões.
Ele tinha a mim sem nenhum esforço aparente, e isso me assustava.

Entretanto, naquele momento, sentindo cada parte do meu corpo


vibrando de desejo, eu liguei o foda-se e, simplesmente me deixei levar pelo
sentimento que vinha me sufocando por tanto tempo.
Gemi, derretida, quando num movimento abrupto, Mariano me beijou.
O beijo foi diferente de tudo o que imaginei; não havia pressa, embora
também não houvesse tanta delicadeza. Suas mãos arrastaram-se até o meu
traseiro, pressionando-me contra a sua protuberância deliciosa, que estava me
dando água na boca.
Como estávamos perto da cama, eu o empurrei sobre ela, fazendo-o

cair sentado e piscar, espantado. Porém, seu espanto logo deu lugar à
devassidão quando me coloquei em seu colo, com as pernas abertas.
Deslizando as mãos, eu arrastei a camiseta dele, que logo me ajudou a tirá-la
pela sua cabeça. Nossas bocas voltaram a se unir, duelando com as nossas

línguas sedentas.
Nenhum de nós dois dizia nada.
Não havia nada para dizer, apenas para sentir.
Apertando-me em seu colo, Mariano passou a esfregar-se contra mim
fazendo-me sentir a fricção do seu jeans bem no meu ponto necessitado.
Gemi contra a sua boca.
Erguendo-me sem qualquer esforço, ele trocou de posição ao me jogar
no colchão, dessa vez ficando por cima. As tatuagens em seu peitoral

chamaram a atenção dos meus olhos gulosos; ele era tão lindo... os músculos
não eram exagerados, mas na medida certa. Apesar de ser irmão gêmeo do
Manuele, eu achava impressionante o quão distinto eles eram, tanto em
aparência quanto em personalidade. Ao menos, eu achava isso.
De repente, se afastou e terminou de retirar as suas roupas; encarei o
seu corpo completamente, sentindo-me aquecer de dentro para fora.
A maneira como olhávamos um para o outro naquele momento era
diferente... intensa.
Transar com ele era malditamente errado, mas também parecia certo.

Nós dois parecíamos certos um para o outro.


Depois de colocar a camisinha, Mariano voltou a se aninhar entre as
minhas pernas, concentrado em mim e em minhas reações; tudo o que eu
sabia fazer era apenas gemer e deixá-lo saber o quanto estava apreciando a

maneira como ele estava amando o meu corpo.


Quando me penetrou, fechou os olhos e mordeu os lábios de um jeito
tão sexy que quase gozei; senti-me a mulher mais especial e foda da face da
Terra apenas por estar sendo capaz de fazer aquilo com ele.
— Eu sempre quis isso... — confessou, fazendo o meu coração galopar
ainda no peito — sempre quis estar assim... com você.
Seus olhos estavam fixos nos meus enquanto se declarava. Meu peito e
minha mente travaram; não havia lugar para mais nada dentro de mim, além

do medo de perder a única coisa boa que já me aconteceu.


Desesperada, enrolei os braços em seus ombros e puxei a sua cabeça
para mim, cobrindo os seus lábios com os meus.
Precisava silenciá-lo.
Precisava garantir que da sua boca não sairiam mais palavras bonitas
que, constantemente tinham o poder de me confundir ainda mais.
***
05hs12min.
Em pé, ao lado da cama, eu admirava o homem adormecido entre os

lençóis; ainda podia sentir a minha pele vibrando e meu corpo reclamando
pela ausência do calor daqueles braços que me aprisionaram horas atrás.
Minha noite com o Mariano não se resumiu apenas ao sexo incrível que
tivemos, mas ao significado de tudo que veio depois...

Seus cuidados.
Suas promessas.
Suas declarações.
Sua intensidade.
Seu carinho tocante.
Ele não disse com todas as letras, mas senti que me amava. Esse não
era o problema, porque eu o amava também.
O que me afligia era justamente o pavor de permitir que essa coisa

entre nós dois ganhasse proporções maiores porque, talvez, não desse certo.
Eu podia lidar com o meu coração partido, mas não saberia lidar com a
decepção dos irmãos. Não saberia lidar com o julgamento deles a respeito do
meu relacionamento com o Mariano.
Não, isso definitivamente era uma péssima ideia.
Suspirando, eu me aproximei e me inclinei para poder deixar um beijo
suave em seus lábios.
— Foi a melhor noite da minha vida — sussurrei, sabendo que ele não
poderia me ouvir, já que estava dormindo. — Nunca vou me esquecer.

Aprumando o corpo, virei em meus calcanhares e trilhei o espaço do


quarto em direção a minha mala.
Pretendia ir embora antes dele, visto que a nossa missão ali em Moscou
já tinha sido encerrada. Deixá-lo acordar sozinho o faria pensar que o que

houve entre nós não significou nada para mim, quando na verdade significou
tudo.
Mas infelizmente o meu medo de perder a família era maior do que a
coragem de assumir o quanto o amava.
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(SÉRIE EM BUSCA DO AMOR)


Eu sou a amante do meu marido — 1
Em busca do perdão da minha mulher — 2
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A obsessão do CEO — 2
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Ela não pode saber — As aventuras de um noivo atrapalhado
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(HISTÓRIAS ÚNICAS)
A Luz dos teus olhos
Insolente

De repente Casados
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Amarga solidão — 1
Doce libertação — 2
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Rendido pelo amor — 1

Rendida pelo perdão — 2


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[1]
Catedral (dedicada a Nossa Senhora da Assunção), o Palácio Real (com a Capela Palatina), a Fonte
da Praça Pretória e a Praça Vilhena, conhecida também como Praça dos Quatro Cantos, por ser o ponto
de encontro das duas ruas mais importantes da cidade histórica: a Via Maqueda e a Corso Vittorio
Emanuele, separando-as em quatro cantos.
[2]
Bonnie Elizabeth Parker e Clyde Chestnut Barrow foram um casal de criminosos norte-americanos
que viajavam pela região central dos Estados Unidos da América com sua gangue durante a Grande
Depressão, roubando e matando pessoas quando encurralados ou confrontados.
[3]
A flor do alecrim está associada à coragem e fidelidade. De igual forma, significa bom ânimo,
confiança e espiritualidade. As suas flores transmitem um sentido de bem-estar e por esse motivo estão
muitas vezes presente em reuniões familiares.
[4]
O parque da Favorita ou imobiliário da Favorita é o maior parque municipal do município de
Palermo . Ele está localizado dentro da reserva natural Monte Pellegrino .
[5]
Fernando I (Nápoles, 12 de janeiro de 1751 – Nápoles, 4 de janeiro de 1825), apelidado de "Rei
Narigudo", foi o Rei das Duas Sicílias desde sua unificação em 1816 até sua morte. Anteriormente ele
foi Rei da Sicília como Fernando III de 1759 até 1816 e Rei de Nápoles como Fernando IV em três
períodos diferentes, de 1759 até ser deposto em janeiro de 1799 pela República Partenopeia, de junho
de 1799 até ser deposto novamente em 1806 por Napoleão Bonaparte, e por fim entre 1815 e 1816.

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