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fazendo com que ela cessasse os passos. — Resta saber se é tão inteligente
quanto.
Seus cães ameaçaram me atacar novamente.
— Odin! Thor! — rosnou. — Fica! — Ela deu o comando, e isso fez
com que os dois obedecessem.
Sua atenção estava focada em mim, parado no meio do hall da casa.
Observei seus passos, atentamente. Desde a primeira vez que a vi, algo nela
me atraiu como a um imã. Era como se fôssemos iguais, mas diferentes ao
mesmo tempo.
— O que está tentando dizer, afinal?
— Não creio que seja ingênua ao ponto de não saber que tipo de
negócios o seu pai tinha — argumentei, analisando sua postura.
— Sei exatamente o que ele fazia — ditou, cruzando os braços. —
Inclusive a respeito do acordo que fez com você, sobre o casamento.
O canto dos meus lábios se abriu num sorriso discreto.
— Então deve conhecer as regras — declarei, gesticulando. — Sabe as
implicâncias sobre quebrá-las.
Maya
Eu prometi a mim mesma e a minha mãe — em seu leito de morte —
que jamais me deixaria ser submetida a algo que eu não quisesse. Uma doce
ilusão, eu tinha consciência disso, uma vez que, tinha nascido no berço da
máfia. Entretanto o desejo de alçar voo sempre esteve presente dentro de
mim. Sendo assim, depois da morte da minha mãe, aos poucos, fui
construindo uma ponte para a minha liberdade; fui me preparando para o
futuro que almejava. Como filha única, meu pai costumava me presentear
com todas as minhas vontades, então tive a oportunidade de estudar todo tipo
de luta que eu quis, sem ele sequer se dar conta disso. Aprendi a manejar
diversas armas, além de lutas marciais. Me tornei uma verdadeira ninja,
entretanto ali... eu estava me sentindo uma inútil, visto que minhas mãos
estavam atadas.
A reunião de celebração era totalmente simbólica, já que os noivos não
se conheciam. Eu estava me casando com um homem estranho. Estava
prazer em me desafiar.
A aliança foi colocada em meu dedo anelar.
Quase rosnei quando falei:
— A partir de hoje, eu me torno carne da sua carne e sangue do seu
sangue.
Eu quis chorar de pura raiva.
Eu quis trazer meu pai de volta a vida apenas para gritar com ele por
ter feito aquilo comigo.
Mas não tinha nada a ser feito.
Nada.
***
Mais tarde, eu e meus cachorros estávamos trilhando o corredor em
direção ao quarto que vinha utilizando nos últimos dias, mas parei quando
uma porta se abriu.
— Todas as suas coisas foram transferidas para cá — disse Rossi,
dando espaço num convite mudo para que eu entrasse, apesar de eu não ter
feito menção alguma. — E nem ouse complicar as coisas, porque eu sempre
venço, Maya. Sempre! — A força em seu tom me causou calafrios, e algo
que não soube explicar, mas que deixou o meio das minhas pernas, acalorado.
Droga!
Apesar de estar me sentindo derrotada — por ora — eu não o deixei
perceber. Ergui o queixo e passei por ele, que ainda estava usando o terno
branco do casamento. Aliás, eu o via constantemente com ternos brancos.
Parecia ser a sua marca registrada.
Dei alguns passos pelo quarto espaçoso, estudando o ambiente. Dei o
esposa digna a estar ao meu lado. Seja a mesma atriz que era perante o seu
pai.
Dizendo isso, ele me soltou e se afastou. Não tive tempo de falar nada,
porque ele foi até a porta dizendo que sairia e que só voltaria mais tarde.
Minha única reação foi bufar, indignada.
Caminhei até o closet, a fim de escolher uma peça de roupa para tirar
aquele vestido ridículo da cerimônia.
Surpresa comigo mesma, eu me peguei fuçando nas roupas do Rossi;
havia uma seleção imensa de ternos brancos. Tudo ali era muito bem
organizado e cheiroso. Não queria admitir, mas apreciava o perfume dele.
Depois de escolher a roupa que vestiria, fui ao banheiro da suíte e me
troquei rapidamente. Novamente no quarto, me joguei na cama e, em seguida,
apaguei a luz do abajur. Tudo o que minha mente queria era desligar e
esquecer, apenas por umas horas, a minha situação de merda.
***
Não fazia ideia do horário, mas acordei ao som de gemidos sofridos.
Assustada, eu me sentei, piscando para me acostumar com a fraca
despercebido. Havia enormes cicatrizes em suas costas. Mas não eram marcas
fracas, pelo contrário, elas davam a impressão de serem um mapa de puro
terror e sofrimento.
Cobri os lábios, boquiaberta. A grossura daquelas cicatrizes me fazia
crer que foram criadas há anos.
— Quem fez isso com você? — questionei baixinho, mas para mim
mesma.
Incapaz de me conter, eu estiquei a mão e toquei a pele rosada das suas
costas. Dei um gritinho de susto quando Rossi abriu os olhos e, num
— Não! Senta!
Rossi me encarava fixamente. Nossas respirações estavam
descompassadas. Vi que seus olhos estavam atormentados e vazios.
Segurei a respiração no instante em que ele inclinou a cabeça para
baixo.
— Nunca mais toque em minhas costas — rugiu contra o meu rosto. —
Nunca!
Em seguida, saiu de cima de mim, tropeçando em seus próprios pés
ironia.
— Espero que isso não seja um problema — fui sarcástica pela força
do hábito.
Sua risada me pegou de surpresa.
uma inútil apenas pelo que tenho entre as pernas. Vocês estavam discutindo
algo sobre o meu falecido pai, e eu exijo participar da conversa.
— Você não exige nada aqui, sua...
— Calado, Manuele! — rugiu a voz de trovão. Não gostava de admitir,
braços e forçou meu corpo sobre a mesa. Meu vestido curto se ergueu, então
fiquei com o traseiro empinado, enquanto sentia a pressão do seu corpo em
minhas nádegas. Mesmo não querendo, minha pele reagia à proximidade com
ele.
Não o toquei.
Mantive minhas mãos pressionadas na beirada da mesa.
— Um jantar — falei de supetão, fazendo-o me encarar sem entender.
Eu estava tão desnorteada com a nossa proximidade, que tudo o que pensei
foi em mudar o foco para ter tempo de reorganizar meus pensamentos. —
Marque um jantar para os aliados e associados do meu pai.
— Um jantar?
— Nada melhor do que uma recepção desse tipo para estreitar os laços
e, deixar claro as novas diligências e regras — expliquei. — Tenho certeza de
o motivo.
Na mesma hora, travei o meu maxilar, nervoso com a mera
possibilidade.
A verdade é que na ocasião, quando Maya ameaçou me tocar naquele
momento tão vulnerável meu — depois do maldito pesadelo — eu fiquei
assustado como nunca. Esse era um lado obscuro.
Um lado em que eu permitia a derrota me engolir e me mastigar com
todos os seus dentes grandes e feios.
Ninguém, além dos meus irmãos, sabia o que eu fazia na masmorra,
Manuele entrou.
— Boa noite — saudou, exalando uma felicidade que não existia antes
de a doce Beatrice entrar em sua vida.
— Alguma novidade? — intimei. Mais cedo, ele tinha ficado de se
reunir com o Angel.
— Eu quem pergunto — disse, apontando para meu rosto. — Que
merda é essa na tua boca? Andou levando porrada de alguém?
Mariano deu risada, o que chamou a atenção do seu gêmeo.
A verdade é que eu não fui capaz de proteger a Bianca. Não fui bom o
suficiente para mantê-la segura.
***
Como sempre acontecia, eu fui guiado ao santuário pelo lindo som do
piano. Desde a primeira vez que ouvi a Beatrice tocar, me senti sendo
transportado para uma época de paz interior. Uma época em que tudo o que
eu precisava ser era o irmão mais velho.
O protetor de todos eles.
No canto da sala, eu assistia a beleza da cena. Minha mente traidora
Eu queria poder pedir perdão a minha doce princesinha por não ter
conseguido impedir o que fizeram com ela.
— Rossi? — Pisquei, me deparando com o rosto delicado da mulher do
meu irmão. — Você está bem?
Respirei fundo, colocando as mãos nos bolsos da minha calça social.
— Por que não estaria? — revidei, não querendo demonstrar nenhuma
emoção.
Fazendo uma careta, ela se levantou do banco e caminhou até onde eu
estava, próximo a vidraça.
— Não sei — disse ela. — Você está sempre com cara de poucos
amigos, mas agora, enquanto eu estava tocando, eu o senti mais distante do
que o normal.
Sorri, sem mostrar os dentes.
chakra do coração, permitindo que a energia flua para ele. Ao enviar energias
divinas para esse chakra, ela te preenche com o amor universal e o auxilia a
amar plenamente. A chrysoprase é a pedra da graça e compaixão que
promove o otimismo, diversão e o contentamento. Ela te encoraja a aceitar
Eu precisava me refugiar.
Precisava encontrar o alívio que somente uma coisa seria capaz de me
dar.
***
Eu não fazia ideia do horário quando entrei no quarto que vinha
dividindo com a Maya. A luz estava apagada, mas ainda podia enxergar a
bela mulher adormecida entre os lençóis de seda.
Freei os passos quando ouvi o rosnado dos seus cães. A presença deles
já não me incomodava tanto, apesar de ser obvio que eles me odiavam tanto
Como uma leoa, ela marchou até mim, mas consegui segurar os seus
pulsos antes que me atingissem. Entretanto, ela conseguiu utilizar os pés, e
com o auxílio dos cães, logo eu estava no chão, com o seu corpo sobre o meu.
Suas unhas pressionaram o meu pescoço, bem em minha jugular.
— Eu deveria matá-lo aqui e agora — sibilou com rancor. — Odeio
você. Odeio esta casa. Odeio a sua família.
De repente, se inclinou, para sussurrar bem perto dos meus lábios.
— Eu.odeio.você — repetiu pausadamente.
Subitamente, eu segurei a sua cabeça com minhas duas mãos.
dessa realidade. Por diversas vezes, eu quis pegar todas as roupas do meu
digníssimo e jogar para Odin e Thor dormirem, mas confesso que não quis
inflamar ainda mais a ira do homem.
No fundo, a minha irritação maior vinha do fato de me pegar
relembrando do beijo roubado; foi ridícula a maneira como o meu corpo
reagiu a ele.
Ridícula a forma como os meus lábios ainda pareciam estar dormentes
como se sentissem o toque e o gosto dele.
Sentei-me na cama, furiosa comigo mesma.
— O insuportável? — perguntei.
— Hã? — Seu rosto se contorceu em confusão.
Sacudi a cabeça, achando graça, mas concordando que seria melhor
esconder dela que chutei, literalmente, o nariz do seu marido.
— Esqueça o que eu disse. — Apertei sua mão e, em seguida, a puxei
para um abraço. — É um prazer conhecê-la. Você já deve saber, mas eu me
chamo Maya.
Nos sentamos na cama, lado a lado.
— Eu nunca tive uma amiga — mencionei de repente, enquanto
que eu e ele não nos damos bem — fui rude sem querer. — Desculpa.
— Tudo bem. — Deu de ombros, sorrindo. — Você parece ser bem
teimosa, assim como ele. — Havia um brilho divertido em seus olhos claros.
— Não sou teimosa — contrapus. — Eu só não aceito receber ordens.
— Infelizmente dentro da máfia, nós mulheres, somos erroneamente
taxadas como o sexo frágil. Quando conheci o meu marido, eu vinha de uma
história familiar de abuso frequente.
— Sério? — Estava chocada, e solidária ao seu trauma.
— Sim. Mas fui salva.
— Temos que ir, querida — alertou ela, usando um tom doce para a
minha mais nova amiga.
Me perguntei o que havia de errado comigo para merecer o seu
sarcasmo.
— Tudo bem, Paola — disse Beatrice, se colocando de pé.
— Por que vai obedecê-la? Você não precisa ir.
Beatrice fez uma expressão fofa.
— Não é questão de obedecer ou de não obedecer, Maya —
Você e todos os outros estão adorando ver-me aqui, presa como a um animal.
— Então por que não experimenta deixar de agir como um? — Foi
extremamente dura.
Dizendo isso, ela simplesmente se afastou dando lugar aos seguranças
novamente.
Fechei a cara para eles e, em seguida, bati a porta com força.
Tentei segurar, mas as lágrimas embaçaram a minha visão fazendo-me
consciente de toda a pressão que se acumulou em meus ombros nos últimos
dias.
Não queria ter que suportar tudo sozinha
Era um fardo pesado demais.
***
Não sabia que horas eram quando Rossi entrou no quarto, usando o seu
rotineiro terno branco. Mal nos falávamos desde que aconteceu aquela
situação estranha do beijo. Na ocasião, eu quis ajudá-lo, mas porque percebi
que estava ferido. Faria isso por qualquer outra pessoa.
Sentei-me na cama e fiquei observando, em silêncio, enquanto ele
remexia em seu closet.
— Qual o seu problema? — Veio a pergunta dele, pegando-me
desprevenida.
— Por que está perguntando isso? Não falei nada.
meu maxilar.
Estávamos tão conectados, que eu era capaz de sentir as suas vibrações.
Quando eu explodi em mil pedacinhos, fui segurada por ele, que
inspirou meu cheiro como a um viciado enquanto eu só sabia balbuciar
palavras desconexas.
Jamais tinha sentido algo do tipo.
Ainda sem conseguir sequer raciocinar, visualizei o momento em que
Rossi retirou os dedos encharcados de dentro da minha calcinha e os levou
aos lábios.
Afastei a cabeça para poder encarar toda aquela cena devassa. Apenas
o olhar safado dele, saboreando os próprios dedos, já bastou para me deixar
ensandecida.
Foi automático.
Simplesmente me virei de frente e avancei os lábios nos seus como
uma esfomeada. Não deveria, eu sei, mas foi mais forte do que pude suportar.
Com facilidade, Rossi me ergueu de modo a enrolar minhas pernas em
sua cintura.
Contudo, lá estava o meu pau... mais duro do que nunca apenas pelo
fato de não saber o que esperar. Maya era uma caixinha de surpresas, e era
isso que deixava tudo ainda mais excitante.
Saí do banheiro, já vestido. Maya estava encolhida na cama, com o
rosto coberto pelos cabelos negros. O som dos soluços estava audível,
fazendo algo em meu peito doer. Não tive a intenção de magoá-la, apesar da
frustração de toda a situação.
O fato é que eu não saber lidar com ela, e todas as suas nuances me
deixava confuso.
Muito confuso.
Abri a boca para falar, mas hesitei. Quando pensei em me aproximar da
cama, o rosnado dos seus cães me fez parar imediatamente.
para brincar com o meu mais novo bichinho enquanto tento extorquir
informações. — Praticamente espumei pela boca.
Mariano riu.
— Você não pode — mencionou. — Hoje é a noite da confraternização
com os negociantes do falecido Billy — lembrou-me.
Bufei, impaciente.
— Porra! — exclamei. — Não sei o porquê fui dar ouvidos para aquela
garota. Esse jantar vai ser uma total perda de tempo — desabafei.
— Não acho isso — apaziguou ele. — Concordo com ela quando disse
que esta pode ser uma boa oportunidade para descobrirmos quem realmente
vai querer continuar a negociar agora que nós tomamos a frente da
organização que foi do Billy.
Ponderei.
pulsando.
— Porque não acho justo que você não saiba — revidou. — É
inadmissível um homem como você não saber.
— Não saber o quê? — indaguei, confuso.
entendê-la.
— Prepare-se, porque viajaremos para Nova York dentro de algumas
horas — declarei, frio, mascarando qualquer emoção visível.
— Com que propósito? Se é que posso saber. — Rolou os olhos.
Sorri com cinismo.
— Digamos que eu e você serviremos de isca para um bando de
cobras, querida. — Não escondi o tom de diversão. — Espero que esteja
preparada para atuar um pouco mais. No jantar, você não será lembrada como
a órfã do Billy, mas como a esposa do capo da máfia Fratelli.
ameaça no ar.
***
Fazia alguns longos minutos desde que as portas da mansão do velho
Billy se abriram para receber os associados e aliados da organização. A todo
o momento, eu olhava para as escadas, ansioso para ver a Maya. Quando
chegamos à Nova York, horas atrás, ela simplesmente subiu ao andar de cima
feito uma bala de canhão; parecia nostálgica. Não a impedi. Eu, mais do que
ninguém, conhecia a dor da saudade.
— Vejo que o velho Johnson soube escolher bem o braço para cuidar
do seu território — comentou um homem calvo em seu forte sotaque
americano, aproximando-se de mim. — O poderoso capo Rossi Ricci da
máfia Fratelli tem uma reputação invejável. A escuridão te precede, devo
admitir.
Entornei o líquido da minha taça, sentindo o delicioso ardor causado
pelo conhaque.
— É bom saber que tenho uma boa fama pelo submundo. — Ergui a
taça para ele, num cumprimento. — Assim consigo expulsar os traidores.
traidor está entre nós, isso é um fato. Mas se fazermos um estardalhaço antes
da hora poderá colocar todos nós em risco. Entendeu? — Me encarou, me
dando tempo para analisar suas palavras.
Meu maxilar tiquetaqueou.
amparar a linda garota. O vestido em tom azul ia até a altura dos joelhos e,
totalmente isento de decote. Os cabelos escuros escorriam, soltos por seus
ombros; e os olhos azuis evidenciados pela maquiagem suave e simples.
Magnífica. Ela conseguiu ficar ainda mais magnífica.
Tentei não demonstrar o meu desejo e admiração, mas foi quase
impossível.
— O que foi, marido? Por acaso eu não fiz a escolha certa de vestuário
para estar à altura do grande capo? — soprou, audaciosa como sempre.
Quis rir, mas engoli, porque precisava manter as aparências.
conectavam com os dos meus irmãos. Estávamos agindo contra o relógio ali.
— O que há com você, afinal? — Maya quis saber, cochichando em
meu ouvido. Seu perfume me inebriou.
— Nada — resmunguei.
chamar a atenção. Obviamente que ele não vai querer estar aqui quando
apertar o detonador.
Maya piscou algumas vezes.
— Eu tenho uma ideia, mas você terá que me ajudar — disse de
repente.
Minha testa ganhou alguns vincos.
— Do que está falando? — questionei.
Ela parou um dos funcionários, que perambulava pelo salão servindo
bebidas e petiscos, cochichou algo no ouvido dele, que assentiu e, em
seguida, falou com alguém através do sistema de comunicação em seu
ouvido.
Voltando a se aproximar de mim, ela espalmou o meu peito e encarou-
não foi difícil concluir que Rossi era um homem traumatizado. A garota
Beatrice tinha comentado que ele, apesar de todo o peso do cargo que
exercia, carregava um enorme sentimento de inferioridade. Talvez fosse por
isso o fato de pensar tão mal da minha atitude.
Olhos nos olhos, nós nos encarávamos de perto ali. Posicionei-me um
pouco à sua direita. Nossos corpos estavam em contato; os joelhos
ligeiramente comprimidos e os pés juntaram-se verticalmente, ou seja, a
ponta do pé direito estava junto à parte interna do pé esquerdo.
Minha respiração tornou-se ruidosa sem que eu pudesse controlar.
fáceis de pegar, considerando que aprendi a algum tempo nas aulas de dança;
o mais difícil era conseguir manter a postura rígida que desencadeia os
movimentos intensos, dramáticos e muitas vezes arrastados.
Enquanto me via sendo conduzida pelo Rossi, eu sentia que precisava
ter calma para apenas seguir a onda; sentir o peso dele. Precisava sentir para
onde ele estava indo. Sentir onde ele estava "entre" os movimentos para
equilibrar-me com eles.
— Uau! — exclamei, quando em um movimento ousado, ele segurou e
ergueu minha perna, prendendo-a em seu quadril. — Dançando desse jeito,
Dizendo isso, ele ficou direcionado para a lateral comigo. Com dois
passos lentos para a direita e, imediatamente depois do segundo passo — e
antes do terceiro, ele girou o meu torso para a esquerda. Então, concluiu o
movimento indo para frente.
— Na maioria das formas de tango, a mulher faz a maior parte do
trabalho sujo — comentei, utilizando as mãos para passeá-las em seu rosto
conforme o ritmo exigia.
De repente, ele incrementou, deixando-me ainda mais impressionada.
força sobre-humana.
Ajeitei-me, ainda agarrada a ele, captando o seu olhar no meu e, louca
para colar nossas bocas ali... na frente de todos aqueles idiotas bajuladores.
— Você me quer — declarou ele, num tom de voz carregado.
Sorri, mordendo os lábios em seguida. Senti-me feliz por ele,
finalmente ter percebido. Ter entendido.
Não respondi, e apenas sacudi a cabeça.
Sem que eu estivesse preparada, Rossi me lançou longe quando
de susto. Foram cinco disparos ao todo, enquanto gritava aos quatro cantos:
— VOCÊ É UMA MULHER TÃO... TÃO... ARGH! — berrou. De
repente, se virou para mim, apontando o dedo com ferocidade: — Por que
saiu correndo se achando uma ninja, caralho?! Você poderia estar morta
agora, sabia? Morta!
Quando ele estava com raiva, o seu sotaque italiano se intensificava.
Tentei segurar, mas foi quase impossível controlar a enxurrada de
lágrimas que se aglomerou em meus olhos.
Eu estava assustada.
Estava confusa.
— E-eu... sinto muito — gemi, fazendo um beicinho. — Por favor, m-
me desculpe...
Como se eu houvesse o desarmado, o homem imponente deixou os
ombros caírem, assim como sua postura feroz. Voltou para perto de mim e,
sem nenhuma dificuldade, me pegou em seus braços e me ergueu.
— Está tudo bem — soprou, enquanto eu me aninhava em seu peito
quente e apertava o seu pescoço com meus braços. — Eu achei você, querida.
Achei você.
Não falei nada.
Apenas fiquei concentrada em absorver o seu cuidado e o seu calor,
enquanto os meus pensamentos me presenteavam com a imagem do homem
Rolei os olhos.
— O instinto de sobrevivência sempre fala mais alto, irmão —
comentei. — Eu ficaria surpreso se um daqueles homens comentasse algo.
Enxugando as mãos, eu finalmente me aproximei do homem preso.
trêmula diante de mim. — Mas quem é você e o que pretendia fazer aqui.
— E-eu já disse que não sei de nada — falou, rápido demais. — Eu e
meus amigos fomos pagos para espalhar explosivos e... — engasgou de
repente —, nos infiltrar entre os convidados. Só isso, eu juro.
— Você jura? — indaguei, sarcástico, enquanto tentava escolher entre
as diversas opções de ferramentas de tortura para usar.
— Sim, eu juro — repetiu.
— Acontece, caro, que vocês mexeram com a pessoa errada... — me
voltei para ele e me aproximei — Quem foi o mandante? Quem está por trás
deste ataque?
— Já disse que não sei.
Afundei a faca no seu joelho e forcei para baixo, rasgando a carne. O
grito ecoou pelo lugar causando-me aquele frenesi revigorante.
impondo a ele a minha presença. Meu rosto colou no seu. — Todos os seus
amigos foram mortos, mas um deles escapou. Quem foi? Dê-me um nome.
O homem estava chorando de pura dor e desespero.
— Vá... se foder, porra! — Cuspiu contra o meu rosto.
Ergui-me, rindo enquanto limpava minha pele com as costas da mão.
— Eu quero uma investigação nas imagens das câmeras de segurança
— ordenei aos meus irmãos. — E qualquer novidade que conseguirem, eu
quero saber. Vocês podem ir agora. Vou demorar aqui — avisei, colocando
um “soco inglês” entre os meus dedos.
todas essas exigências para alguém que não tem muito a oferecer.
— Ele foi primordial na caçada contra o Giuseppe, e tudo isso levou a
felicidade do nosso irmão — comentei, antes de beber um longo gole de
uísque. — Então sim, nós gostamos do Angel por enquanto. — Bati o copo
na bancada.
Em seguida, me encaminhei para a porta.
— Conseguiu arrancar alguma coisa do infeliz, afinal? — Fillipo quis
saber, referindo-se ao homem sob o meu jugo, horas atrás.
Neguei com a cabeça.
cuidado para não acordar a Maya, que parecia dormir serena apesar de todo o
susto que passou.
Enquanto eu preparava a minha cama, no chão, eu notei um movimento
atrás de mim, e logo ouvi a voz sonolenta:
— Por que não dorme aqui comigo?
Por um momento, eu travei no lugar. Meu coração começou a bater
velozmente no peito.
Eu tinha medo de dormir com alguém, porque meu sono se tornou
cabelos macios.
O suspiro que escapou de seus lábios me fez ciente de que ela estava
bastante confortável em meus braços, e essa percepção fez o selvagem em
mim vibrar.
Coincidência ou não, o cansaço me venceu e eu dei boas-vindas à
escuridão.
Capítulo 7
Maya
Entediada e frustrada.
Essa era a mistura perfeita que me traduzia naquele momento,
enquanto voltava para Palermo no jato da família Fratelli.
Eu estava tentando não pensar nos últimos acontecimentos, visto que
ainda não sabia o que fazer a respeito. Se aquele homem realmente fosse o
meu irmão, então toda a minha vida não passava de uma mentira.
Zanzando de um lado ao outro dentro da aeronave espaçosa, eu
marchei até ele, mas antes de conseguir alcançá-lo, eu fui agarrada por mãos
fortes. Meu corpo reconheceu o toque imediatamente.
— Opa, opa — murmurou, enquanto o idiota do seu irmão caçula
continuava rindo. — Vamos acalmar os ânimos, querida.
Rugi, tentando me livrar do aperto enquanto era arrastada para longe.
— Eu ainda vou te pegar — ameacei o Luca, que piscou para mim.
Assim que Rossi abriu a porta do quarto, ele me colocou dentro e me
deixou livre do seu agarre.
Solte-me.
— Não — decretou, enrolando os dedos na barra da minha calcinha e
descendo o tecido pelas minhas pernas. Meu coração batia descompassado.
— Você é uma garota desobediente e não confio que não tocará em minhas
costas.
Pegando-o desprevenido, eu consegui me virar ficando com as costas
contra o colchão. Com as pernas livres, eu as envolvi em seu pescoço e forcei
sua cabeça contra a parte do meu corpo que pulsava dolorosamente.
Sua risada piorou o meu estado, porque pude sentir a vibração; e o
contato de sua barba naquele local tão sensível me fez revirar os olhos de
pura satisfação.
— Que seja, marido — remexi-me, incomodada pela sensação
minhas costas. Gemi rouca quando Rossi manteve o rosto entre minhas
pernas, lambendo-me com sofreguidão e amassando meus seios com suas
mãos fortes e pesadas. Eu o sentia esfregar o rosto em mim, como se ansiasse
me devorar inteira. Era como se ele quisesse se fundir a mim de alguma
forma.
— Porra de boceta gostosa!
A vibração da sua voz me fez arquear as costas, colando-me ainda mais
em seu rosto. Um redemoinho começou a se formar, tocando a ponta dos
dedos dos meus pés e subindo centímetro a centímetro do meu corpo febril e,
totalmente rendido.
— Rossi... Rossi... Rossi...
As palavras se embaralharam em minha mente; eu não sabia distinguir
mais nada. Os gritos que escaparam da minha garganta foram tão altos que eu
tinha certeza de que todos dentro da aeronave ouviriam.
Como se soubesse o meu frenesi interno, Rossi acelerou os
movimentos, avançando a língua em minha abertura enquanto pressionava o
meu clitóris com o polegar. Sem controlar, todos os meus músculos se
retorceram e eu passei a tremer incontrolavelmente.
Gozei tão forte que meus olhos se reviraram nas órbitas e todo o meu
corpo se arqueou exigindo mais. Exigindo tudo.
Rossi não parou de me chupar até que eu me acalmasse.
satisfeita, mas também estava frustrada, porque ele não me deixou retribuir o
carinho.
***
Assim que pisamos na mansão em Palermo, o telefone do Rossi
começou a tocar e ele saiu na frente. Os irmãos o seguiram e eu fiquei para
trás. Revirando os olhos, eu tencionei seguir as escadas, mas algo chamou a
minha atenção.
Sentindo-me sapeca, eu fui para a parte de trás, curiosa com algo que
me foi dito logo quando cheguei àquela casa.
Parei em frente a uma sala que tinha uma porta enorme de madeira,
toda entalhada com símbolos de luta. Eufórica, eu estiquei a mão para abrir,
mas ela foi atingida por um chicote.
— Ai! — reclamei, pulando para me defender de outro golpe do
meu joelho, enquanto também bloqueava seu soco com o meu antebraço.
Abaixei-me e consegui golpeá-la no estômago.
Ao me erguer, impulsionei a perna para chutar a sua costela, mas fui
pega desprevenida quando Paola segurou meu joelho e golpeou minha coxa
com o cotovelo. Gritei de dor antes de tomar uma rasteira.
Irritada, eu me levantei e marchei até ela, golpeando sua barriga com a
minha cabeça, o que a desequilibrou por alguns instantes. Em posição de
predadora, ela sorriu.
— Uau! Tem alguém aqui que se acha uma lutadora — zombou.
seu estômago.
Sem que eu esperasse, ela simplesmente me deu uma rasteira.
O brilho de uma das suas adagas, que acabou caindo durante a luta,
chamou a minha atenção e eu a peguei. Paola e eu erguemos os troncos, e
ambas fixamos a lâmina no pescoço uma da outra.
Estávamos respirando com dificuldade.
Eu estava com o rosto ferido, mas ela também não ficava para trás.
— Mas que porra está acontecendo aqui? — Nos separamos quando
Mariano apareceu. Os olhos dele se arregalaram quando os fixou em meu
— Já disse que vou ficar bem — falei, mas rude do que gostaria.
Rumei até a porta e saí, sabendo exatamente para onde deveria ir.
***
Talvez algo dentro de mim houvesse se quebrado no instante em que
boca arrebentada.
Rolei os olhos, impaciente.
Soltei a sua cabeça e trilhei o lugar, inquieto. Eu precisava de algo para
levar aquela sensação ruim embora.
o bastão, mas Paola foi mais ágil e conseguiu escapar. Não me preparei para
o seu próximo golpe, que me derrubou de cara no chão. Ao me virar, Paola
pressionou o bastão contra o meu pescoço, freando os meus movimentos.
— O que houve? — insistiu em tom duro.
Irritada, eu me sentei, sentindo toda a frustração me dominando por
inteiro. A última semana foi uma tortura, porque nada que eu fizesse era
capaz de me fazer esquecer a cena que vi na masmorra da mansão.
— Eu já disse que estou bem — resmunguei, me levantando.
Paola pegou nossos bastões e foi até o armário próprio para guardá-los.
Nós treinávamos todos os dias na parte da manhã. Salvo os dias que ela
precisava sair para alguma missão secreta.
— Você pode estar tudo, menos, bem — revidou. — Sei do seu
potencial de luta, porém, ultimamente, seus reflexos estão mais lentos. Você
está muito dispersa. Aconteceu alguma coisa, e você não quer me contar. É
um direito seu. — Deu de ombros.
Suspirei audivelmente, estalando os dedos e andando de um lado ao
outro. A inquietação parecia ter atingido o nível máximo dentro do meu
peito.
— Quer realmente saber o que aconteceu? — questionei, me virando
para ela, que veio em minha direção com uma garrafinha de água. Aceitei e
abri, antes de tomar um longo gole.
defesa.
Paola não disse nada.
Caminhei pelo espaço, sentindo todo o peso em meus ombros.
— E antes que me fale que a vida na máfia não é nenhum mar de rosas,
não somente a vida da linda garotinha, mas de toda a família. A menina foi
raptada por uma organização rival, que por pura maldade enxergou no
pequeno e frágil corpo, a oportunidade perfeita para descontar algo que não
foi feito por ela. Arrancaram não somente a sua luz e seus lindos sonhos, mas
também a sua vida. A partir deste dia, a escuridão entrou pela porta daquela
casa e nunca mais foi embora. Mesmo com o passar dos anos, a família não
se recuperou mais. A meta de vida dos irmãos era trabalhar para destruir
todos aqueles que foram responsáveis, direto ou indiretamente, pelo
sofrimento da única irmã deles.
Eu estava chocada.
— Esta história é... — engasguei — da família do Rossi?
Os olhos de Paola chisparam nos meus.
de contar. Então para mim, aquele lixo merece todas as atrocidades possíveis.
Arquejei, boquiaberta.
Paola se levantou.
— O treinamento acabou — avisou, de costas.
silêncio foi ensurdecedor, então insisti: — Por que não me disse que o
homem na masmorra tem relação com as pessoas que fizeram toda aquela
maldade com ela?
Dei um gritinho de susto quando a porta do Box foi aberta e Rossi
um monstro.
Neguei com a cabeça.
— Talvez seja isto que queira me fazer acreditar, porque me quer longe
— argumentei, sentindo todo o meu corpo reagindo a nossa proximidade. —
Admito que num primeiro momento, foi exatamente isso que pensei de você.
Mas depois tudo fez sentido na minha mente — pausei. Ergui a mão e toquei
seu rosto ali... tão perto do meu — Você apenas reage ao que está no seu
coração.
— Não, você não me conhece! — rugiu, segurando a minha mão e a
que minha mente me fazia assistir era o olhar aterrorizado da Maya. Nunca
me importei com o que pensavam a meu respeito, mas com ela foi diferente...
eu senti a dor do seu desprezo.
Pausei seus movimentos quando ela levou ambas as mãos na barra da
Conhecendo.
Estudando.
Segurei a respiração no instante em que ela fechou a mão no meu pau,
atrevida.
Amassei seus cabelos e trouxe sua boca para mim, exigindo espaço
para a minha língua. O beijo foi esfomeado, refletindo a intensidade do meu
desejo por ela.
Lambi o seu queixo, trilhando para o seu pescoço e descendo com
beijos molhados e fortes. Inclinando-me, eu fui experimentando...
Explorando.
Sentindo.
Acariciei o seu seio com as mãos, sugando e lambendo como se fosse
um sorvete saboroso.
Ajoelhado, eu não perdi tempo em arrancar o seu short indecente — de
tão curto — junto com a calcinha, revelando a delícia que era a sua boceta
rosada.
— Desde a primeira vez que a provei, o seu gosto não saiu mais da
minha língua — confessei, como um viciado perto da sua droga.
Abri sua bocetinha lisa com os dedos e, simplesmente, afundei o rosto
entre suas pernas, devorando a sua carne molhada e macia. Maya gritou,
apoiando-se na cama logo atrás de si. De olhos fechados, me concentrei no
seu sabor, na sua textura e nos sons que saíam de sua boca. Em determinado
momento, eu olhei para cima, me deparando com os seus olhos nos meus.
Linda.
Ela estava simplesmente linda.
Eu sabia que não havia redenção para mim, contudo, ali, desejei ser
capaz de amar e ser amado de volta. Eu desejei não ter a mente e o coração
tão atormentados.
— Rossi... — seu gemido desesperado me fez intensificar os
movimentos da minha língua. Pressionei o polegar em seu clitóris inchado, e
isso foi o estopim para a sua explosão.
O orgasmo foi tão arrebatador que obrigou ela a se sentar na cama.
Aproveitei o momento para arrastar seu corpo mais para o meio do colchão,
bocetinha, que ficou piscando diante dos meus olhos. Os gritos de Maya
ecoaram pelo quarto causando-me um frenesi nunca sentido. Cheguei a
conclusão de que dar prazer a ela acabou se tornando um vício.
Pressionei as suas nádegas, abrindo e fechando, conforme sugava o seu
mel; uma das minhas mãos deslizou pela sua barriga, encontrando os seus
seios durinhos.
Audaciosa, Maya passou a esfregar-se desavergonhadamente contra o
meu rosto.
Exigindo.
— E-eu... quero mais...
E eu dei.
Incansavelmente.
Longos minutos depois, quando eu, finalmente, me coloquei sobre ela,
já com a camisinha, perguntei num engasgo:
— Está pronta?
Em resposta, Maya segurou o meu rosto com ambas às mãos e o puxou
para si, tomando minha boca na sua.
vai doer.
Achando graça, escondi o rosto na dobra do seu pescoço e mordi a sua
pele.
— Ai! — voltou a gemer.
Fiz isso mais algumas vezes, apenas para distraí-la, enquanto
continuava encurtando a distância entre o meu pau e o seu hímen. No instante
em que me afundei completamente em seu interior, Maya soltou um grito.
Um rosnado feroz escapou da minha garganta quando senti as suas
unhas cravarem em minhas costas.
Quando sua boceta começou a ordenhar o meu pau, eu soube que ela
estava perto, então acelerei os movimentos um pouco mais.
Seus olhos se reviraram nas órbitas, mas ela não deixou de me encarar
quando gozou lindamente.
— Rossi, eu... oh, Rossi... — meu nome saindo dos seus lábios numa
lamúria de puro tesão foi a minha deixa.
Foi a minha perdição.
Tudo dentro e fora de mim explodiu.
— Mas você está por dentro das coisas que o seu marido faz, né? —
indaguei, sem acreditar em tal ingenuidade.
— Claro que sim! — exclamou. Em seguida, soltou o Thor, depois de
pronto. — Não pense que sou ingênua, por favor.
— Beatrice já atirou contra o Rossi se você quer saber — revelou
Paola, pegando-me desprevenida.
Engasguei com a própria saliva.
— O-o quê? — O espanto ficou visível em meu rosto.
A delicada garota parecia nervosa e sem graça.
foi algo feio, né? — Cruzou os braços. — Não é legal fazer esse tipo de
comentário, Paola, ainda mais se este for gerar um clima tenso.
A morena piscou, surpreendentemente acuada. Fiquei surpresa quando
visualizei um tom rubro em suas bochechas. Ela parecia verdadeiramente
envergonhada enquanto encarava a Beatrice. Ficou nítido o respeito e a
amizade entre as duas.
— Escapou, ora — defendeu-se, jogando as mãos. — Para o seu
governo, eu estava te defendendo. Ingrata!
Ainda era estranho pensar nele de outra maneira — que não fosse ruim
— considerando que as últimas semanas vinham me fazendo enxergar a
minha atual realidade com outros olhos. Mas isso ainda não mudava o fato de
eu me sentir presa a alguém que parecia querer me comandar.
inteira.
Flashes dos nossos momentos íntimos voltaram a invadir a minha
mente, desestruturando-me e me fazendo refém do desejo súbito. Não dava
mais para controlar.
— Qual o problema? — quis saber.
Observando os seus olhos atentos a cada um dos meus movimentos, eu
dei a volta na mesa e me coloquei em sua frente, depois que ele afastou a
cadeira para me dar espaço.
sou uma onça, Rossi... — dessa vez, seus olhos encontraram os meus,
brilhantes e carregados de pura luxúria — E ontem você me cutucou. —
Ergui o outro pé, fazendo questão de me arreganhar toda em sua frente. —
Agora, eu quero mais.
— Mas por que manter longe aquilo que eu quero dentro de mim? —
Levei a mão até a sua ereção.
O rugido que escapou dos seus lábios foi tão assustador quanto
excitante. Estremeci da cabeça aos pés.
Num rompante, ele pressionou os lábios nos meus num beijo cru e
quase cruel. Mas não me importei, pelo contrário, eu adorei. Senti quando
com agilidade, rasgou a minha calcinha de renda, antes de deixar os meus
lábios e abocanhar-me lá embaixo, fazendo-me gemer desavergonhadamente.
Me joguei para trás, na mesa, beliscando os mamilos enquanto me
da conversa.
Rossi piscou, me encarando com desconfiança.
— Sair?
— Sim. — Enxuguei as mãos suadas na minha saia. — Quero visitar
Respirei fundo.
— Uma mulher que conviveu comigo quando eu ainda era uma menina
e vinha para a Itália — respondi, evasiva. — Quero matar um pouco a
saudade da minha mãe, porque as duas foram muito próximas. É isso.
anos. Com habilidades que ninguém mais tinha, Jack era o melhor
investigador do submundo. Dotado de um cérebro excepcional, ele acabava
se tornando insubstituível. No entanto, estava sempre disposto a atender o
chamado dos Fratelli.
sozinho.
Luca deu risada.
— Às vezes, eu me esqueço que agora vocês se tornaram homens
domados e comprometidos — Revirou os olhos, enquanto, gentilmente,
afastava a linda garota loira entre suas pernas. Sorriu, beijando-a nos lábios e
prometendo que depois voltaria a chamá-la.
— Vou ignorar a parte da sua frase em que me coloca como “domado”
— rosnei, sentindo-me inquieto.
Sem controlar, minha mente me levou para o momento de mais cedo,
no escritório. Não podia imaginar a mudança drástica que minha relação com
a Maya teria, e em tão pouco tempo.
Os sentimentos.
As emoções.
Os olhares.
Os toques.
Ela era sim, uma mulher difícil de lidar, entretanto isso a fazia ainda
mais surpreendente, porque eu nunca sabia qual seria o seu próximo passo e,
esse fato era excitante pra caralho. Um pequeno sorriso se fez presente no
canto dos meus lábios quando, um único pensamento se fixou em minha
cabeça...
Minha.
meu ouvido:
— Senhor, há um homem querendo vê-lo — avisou.
Olhei para o Manuele, que cochichou o nome do Angel, gesticulando.
— Pode deixá-lo subir, Enzo — permiti.
da sua família?
O homem arregalou os olhos, espantado com as minhas palavras.
— Faço o meu trabalho de casa, mio caro. — Sorri, enigmático. —
Você é herdeiro direto de Sebastian Herrera, o homem que estabeleceu uma
recuperar a minha irmã, quando ela foi sequestrada — respondeu num tom
áspero. — Nossa organização, na verdade, é a união de dezenas de pequenos
grupos — explicou. — E, certamente, meu pai foi traído por algum deles,
considerando que era o homem que comandava tudo.
— Então a emboscada foi feita não para a sua irmã, de fato, mas para o
seu pai — comentou Luca, deixando claro que estava prestando atenção a
conversa. — A garota foi apenas a isca.
O suspiro de Angel pareceu doloroso.
— Ela nunca foi encontrada. Nem viva nem morta.
tem permissão, pois quando vivo, meu pai acabou criando inimizades. Há um
acordo e, eu sou proibido de colocar os pés na Turquia. Se isto acontecer e,
eu for pego, a guerra estará declarada.
— Mas eles já declararam guerra quando pegaram a sua irmã — sibilei,
Gesticulei para ele. — Cuidado, hein?! Daqui a pouco vão começar a reparar
— insinuei, provocando.
— Não fale besteiras — advertiu, nervoso. — Não tem nada para ser
reparado. Paola e eu somos apenas colegas de trabalho, e membros da mesma
família.
— Uhum, sei — desdenhei. — Então aposto que você não vai ligar se
souber que ela e o Enzo estão tendo encontros quentes, hun?
— O quê? — A cor praticamente abandonou o seu rosto e, ele se
obrigou a frear o carro subitamente.
— Wou! Ficou louco? — Olhei para trás, preocupada com o fluxo da
rodovia. — Não pode parar no meio da pista, Mariano.
Palermo é uma cidade grande, mas com uma infra-estrutura um pouco
demorar.
Sua mão livre segurou o meu braço, forçando-me para ele que, dessa
vez me encarava com irritação.
— Você sabe que uma simples algema não será capaz de me segurar
aqui, né? — ameaçou.
— Eu sei — confessei. — Mas os meus cães vão.
Em seguida, dei o comando aos dois, que se tornaram alertas e
concentrados.
Saí do carro ao som dos xingamentos do meu cunhado, mas ignorei
todos eles. Eu só não queria que ele soubesse as informações que eu estava
prestes a descobrir.
Caminhar por aquelas ruas estreitas e, repletas de prédios bonitos —
um tanto deteriorados, mas ainda com seus encantos — me fez lembrar as
de incenso.
— Me perdoe, querida, mas você não marcou hora — ouvi, embora
ainda não estivesse vendo a mulher. — Madame Carlota só atende com
consulta marcada.
— Eu me chamo Maya — expliquei, olhando ao redor, em busca da
dona da voz. — Não sei se vai lembrar, mas eu estive aqui com a minha mãe,
há muito tempo. O nome Karen Johnson significa alguma coisa para você?
— Karen? — Me virei subitamente, me deparando com uma mulher de
Em sua última visita, ela trouxe isto... — entregou-me uma espécie de cartão
postal.
O papel estava envelhecido e amarelado.
— Philadelphia, Pennsylvania. — Li em voz alta. Em seguida, virei o
papel para ler a parte de trás. — “Sempre serei a sua Oli. Estou com
saudades.”
Virei o cartão postal de um lado ao outro, tentando entender; tentando
juntar as peças.
do que para ela. — É possível que depois de tudo, a minha mãe tenha
morrido de puro desgosto.
A mulher deu os ombros.
— Não há como saber — disse.
Não precisava ser um gênio para saber o quanto ele estava furioso.
Engoli em seco, imaginando como eu estava fodida.
— Que porra é esse lugar aqui? — Gesticulou, olhando de mim para a
mulher, porém fixando os olhos frios apenas na pobre coitada. — Quem é
você?
— Mas o que é isso? — Me intrometi, colocando-me na frente dele. —
Guarde agora mesmo essa pistola, Rossi — sussurrei, sentindo o desespero
me dominar. Espalmei as mãos em seu peito, sentindo os meus dedos
A expressão dele ficou tão chocada que tive que me segurar ao máximo
para não rir.
Pegando-me desprevenida, ele agarrou o meu braço e, simplesmente,
me arrastou para fora do lugar.
No corredor vazio, me jogou contra a parede, prendendo a perna
esquerda entre as minhas, e espalmando as mãos ao lado da minha cabeça. Os
olhos eram como chamas nos meus.
— O que eu faço com você, garota? — A pergunta não passou de um
silvo.
Meu peito subia e descia devido ao misto de excitação e adrenalina.
Amparei o seu rosto com as minhas mãos, adorando o pinicar de sua
barba em minha pele.
— No momento, eu só quero que me beije, marido.
Não o esperei pensar muito. Colei a boca na sua, invadindo o vão com
a minha língua sedenta.
Incrivelmente, quando estávamos juntos desse jeito, eu conseguia me
esquecer de todo o resto e só sabia sentir e sentir e sentir...
mas desligou quando nos viu. — Juro que não foi pessoal — acrescentou,
sem jeito.
A palma da minha mão espalmava o meio das suas costas, enquanto
minha mente ainda tentava processar tudo o que acabara de acontecer.
— Definitivamente, você é maluca, garota — rosnou. — Odin e Thor
quase me mataram. Foi pura sorte, eu ter conseguido sair do carro.
Abrindo a porta de trás, ela deixou os seus cães livres, afagando a
cabeça de cada um, com amor.
— Argh, já pedi desculpas, oras — resmungou, impaciente, se
nós dois, Rossi. Você deveria se sentir feliz pela atitude linda que tive
Não me aguentei e gargalhei com vontade.
— Deixei de acreditar nessas coisas há muito tempo — fui sincero.
— Que coisas? Nas vibrações positivas?
Apenas assenti, sem falar nada.
Pelo retrovisor, eu podia notar o carro do Enzo me seguindo, assim
como mais dois logo atrás dele.
— Sim — respondi. — É cansativo acreditar. Assim como também é
cansativo confiar.
Notei o seu silêncio, então a encarei de soslaio.
— Como andam as investigações a respeito da invasão da mansão do
papai? — Mudou o assunto drasticamente.
Sacudi a cabeça.
— Não se preocupe, porque estamos trabalhando nisso — respondi,
evasivo. — Não há necessidade de encher a sua cabeça com isso.
Ouvi a sua bufada de pura frustração.
— Ah, claro que não! — exclamou. — Porque é mais gostoso encher a
desviando o olhar para fora da janela. — Vocês têm o hábito de acreditar que
nós, mulheres, somos frágeis. Até existe algumas assim, como a Beatrice, por
exemplo, mas não é o meu caso.
Franzi o cenho.
Abri a boca para falar, mas acabei hesitando quando percebi uma
movimentação estranha no trânsito.
Apertei um botão no painel para me comunicar com o Enzo.
— Esse carro preto está me seguindo.
arriscada, mas que nos tirou da pista de asfalto e nos colocou em uma estrada
de terra, estreita.
Como imaginei que aconteceria, o carro escuro continuou nos
seguindo.
Eu sabia para onde estava indo, então me esforçava, a todo custo, a
permanecer impassível, embora o pavor estampado nos olhos azuis de Maya
ameaçasse me desestabilizar a qualquer momento.
Pisei no acelerador, ganhando certa distância.
aumentaram quando o seu rosto se contorceu diante dos meus olhos. — E-eu
vi... o carro caindo...
Ignorando o seu desejo de se manter longe de mim, eu me aproximei,
prendendo-a em meus braços e aguentando as suas pequenas agressões na
tentativa de se desvencilhar.
— Me perdoe — soprei. — Eu estou aqui.
Cansada, se deixou dominar e, eu, finalmente, a amparei.
— Pensei que estava morto — choramingou, demonstrando uma
vulnerabilidade que eu raramente via.
Levei os lábios a sua testa, beijando a pele repetidas vezes, enquanto
apertava o seu frágil corpo contra o meu.
Uma movimentação na estrada, logo chamou a minha atenção, e senti
Maya estremecer.
— Está tudo bem — garanti. — É o Enzo.
Rapidamente, caminhamos até o meu segurança.
— Senhor! — Estava pálido. — O que aconteceu?
Mantendo a Maya agarrada a mim, eu ditei:
— Tudo saiu como o planejado — avisei, abrindo a porta do carro e
incitando Maya a entrar, juntamente com os seus cães inseparáveis. — Deixe-
me com este carro. — Estiquei a mão pedindo a chave. — Não fale nada para
os meus irmãos, pois vou falar com eles assim que sair da cidade.
sentimentos.
Droga!
Passando as mãos no rosto, a fim de enxugar as lágrimas, e nos cabelos
para alinhar os fios desarrumados, eu me concentrei no quarto enquanto
caminhava pelo cômodo. O guarda-roupa estava abarrotado de roupas
femininas e masculinas, o que não me surpreendeu nenhum pouco.
Sem ânimo algum, escolhi um vestido de malha, juntamente com uma
calcinha. Nada de sutiã.
O banheiro da suíte era tão luxuoso quanto todo o resto da propriedade,
— Maya...
— Juro que, por um momento, pensei que nós dois estávamos seguindo
para algo... diferente — declarei, cortando as suas palavras. — Caramba,
Rossi! Você não chegou a cogitar me contar sobre o maldito plano?
Ele travou o maxilar.
— Você sabe a resposta para essa pergunta.
Rosnei, ouvindo os meus dentes esfregarem-se um no outro.
— Eu não nasci para ser a sombra. — Caminhei até ele, apontando o
indicador contra o seu rosto estupidamente bonito. — Eu nasci para ser luz, e
a luz serve para guiar.
Parei a centímetros do seu corpo, sentindo a sua respiração banhando o
meu rosto. Seus olhos não abandonaram os meus em nenhum segundo.
— O que quer de mim? — repetiu a pergunta que tinha me feito logo
depois que deixamos a sala da madame Carlota, horas antes. Sua expressão
demonstrava todo o tormento presente em seu interior; eu podia sentir isso
emanando dele.
— Eu? — Gesticulei, apontando para mim mesma. As lágrimas
***
Acordei suando. Abri os olhos, tentando me acostumar com a pouca
iluminação.
Não fazia ideia do horário, mas parecia ser de madrugada ainda. Sequer
me recordava do momento em que peguei no sono.
Joguei as cobertas para o lado, ansiando aplacar o calor que me tomava
por inteiro naquele momento. A verdade é que acabei tendo um sonho erótico
com o Rossi, e meu corpo parecia estar sentindo as sensações.
Levei o olhar para os pés da cama e me deparei com o meu marido,
febril. Imaginei o meu marido, com aquele corpo glorioso deitado sobre o
meu. Contorci-me contra os meus dedos inexperientes, mas sentindo a minha
excitação crescendo gradativamente.
De repente, passei a imaginar que não eram as minhas mãos ali, mas
sim as do Rossi; acariciando os meus seios, enquanto afundava a língua entre
as minhas pernas. Movi-me, arqueando as costas, aplicando um pouco mais
de pressão no clitóris. Gemi um pouco mais alto, imaginando o meu marido
sobre mim.
— Uhummm... Rossi, oh!
— Maya...?
Pisquei, olhando para baixo e me deparando com o Rossi, ajoelhado
aos pés da cama. De onde eu estava não era possível visualizar os seus olhos
com muita precisão, mas podia sentir o quanto ele estava excitado e
se para a libertação.
— Oh, Rossi...
— Estou aqui, querida... — respondeu ele, intensificando os próprios
movimentos, enquanto olhava diretamente para mim, com os olhos em
chamas.
Uma última onda de prazer correu pelo meu corpo quando as minhas
paredes pélvicas se apertaram em torno dos meus dedos, alguns segundos
antes do meu glorioso orgasmo me atingir.
Não controlei os meus olhos, que se arrastaram pelo seu corpo assim
que ela chegou mais perto, roçando os seios no meu braço quando regulou a
temperatura da água. — Pronto! — exclamou, assim que a água se tornou
morna.
o dia todo vomitando depois disso, mas no fim das contas, acabei gostando.
Eu gostei da sensação de poder que isso me proporcionou. Gostei de visitar o
lado negro, Maya.
— Está tentando me assustar.
incredulidade.
— Eu deixei de sentir a muito tempo, Maya — confessei. — Porque o
meu coração foi arrancado de mim.
— Mas eu estou sentindo — murmurou, juntando as duas mãos em
vida.
Ficou claro para mim o caminho longo que o homem ainda precisava
percorrer para ser capaz de controlar a própria escuridão a fim de aprender a
lidar com os novos sentimentos. Mas eu estava disposta a ensiná-lo. Não
estava brincando quando disse que desejava ser a sua luz guia.
Animada com a constatação da minha nova realidade, dei um pulo da
cama e corri para o banheiro.
No banheiro, fui presenteada com o meu reflexo de mulher satisfeita e
feliz. Nunca senti dificuldade em assumir os meus sentimentos e emoções,
pois para mim, negar a si mesmo o que sente apenas causa um desgaste
desnecessário.
Desde o instante em que descobri que teria que me casar com o Rossi,
líder de uma poderosa organização, eu sofri; sofri, porque não fazia parte dos
meus planos de vida me casar com um homem estranho; sofri, porque os
meus ideais eram outros, embora sempre buscasse respeitar as regras
impostas pelo meu pai. A verdade é que eu sempre tive esperanças de
conseguir cumprir a promessa que fiz a minha falecida mãe, antes de ela
morrer, de que eu não permitiria viver uma vida a qual não escolhi,
entretanto, nada saiu como o planejado.
O Rossi não foi como eu imaginei que seria.
Tive um pequeno vislumbre do homem escondido por trás de todas
dentro do chalé.
***
— Meu Deus! — exclamei com a boca cheia, fazendo Rossi rir. — Isto
aqui está divino. — Apontei para a minha panqueca doce. — Onde aprendeu
a cozinhar?
— Com a minha falecida mãe — confessou, fazendo-me arquear as
sobrancelhas pela informação gratuita. Jamais imaginei que ele diria isso. —
Ela sempre afirmou que, se dependesse dela, os seus filhos seriam bons
homens e bons maridos para as suas esposas.
Voltei a encher a boca com a massa recheada, deixando o doce escorrer
um pouco.
— E você acha que está fazendo um bom trabalho com a sua esposa?
— indaguei, atrevida.
Rossi estava recostado na bancada, me assistindo comer, mas se
aproximou e se inclinou sobre mim, trazendo os dedos para limpar o meu
queixo sujo de doce. Meu ar ficou preso na garganta.
— Não sei ao certo, mas acredito que terei que perguntar para ela...
Tremores, causados pela sua proximidade, misturados a maneira
intensa como ele estava me olhando deixaram-me desesperada por mais.
Terminei de comer e, em seguida, me ajeitei na cadeira.
Rossi deslizou o indicador pelo meu braço, piorando os meus arrepios.
incômoda.
Fiquei quieta, aguardando até ele encerrar a ligação, minutos depois.
— E então? — intimei, quando ele desligou e voltou a me dar atenção.
Estava com os dois botões da camisa abertos, deixando à mostra um pedaço
da pele que eu desejava lamber. — Vai me dizer o que está acontecendo?
Ele me encarou, sério e, pensativo ao mesmo tempo. Pensei até que não
me responderia nada, mas eu estava errada.
— O homem que nos perseguiu nas estradas de Palermo foi o mesmo
que sabotou a mansão do seu falecido pai naquela noite. — Arregalei os
minha culpa. — Meu coração deu um solavanco. — Mas te garanto que quem
quer que seja esse homem, ele vai pagar por ter ousado tocar em você lá na
mansão. Eu prometo.
Fiquei sem ar, sentindo o desespero me dominar.
— Mas não foi... — tentei dizer que não havia sido o meu suposto
irmão quem me feriu naquela noite, mas fui impedida por ele, que me
interrompeu, claramente encerrando o assunto:
— Venha comigo. — Estendeu o braço para mim. — Quero te mostrar
uma coisa.
apenas me olhando.
Afundei o meu corpo por inteiro, e quando submergi, meus olhos se
chocaram com os do Rossi, ardentes e intensos.
Eu ficava impressionada com a facilidade que ele me desarmava,
irmão bastardo, mas desconfiei que as coisas pudessem ficar piores entre nós,
e eu acabasse estragando o progresso que custei para conquistar.
Ignorando todos os meus temores e emoções, guardei tudo dentro de
uma caixinha para remoer mais tarde quando estivesse sozinha.
Audaciosa, arranquei a minha calcinha e ergui a peça de modo a fazer o
Rossi enxergá-la em minha mão.
Seu olhar me queimou inteira. Por dentro e por fora.
— Estou cansada de conversar.
Não precisei falar mais nada, porque o homem simplesmente voou em
minha direção, pronto para me fazer ver estrelas mesmo perante aquele Sol
escaldante.
Capítulo 18
Rossi
Uma semana depois
— Vamos jogar um jogo — ditou Maya, fazendo minha testa franzir.
Estávamos dentro da banheira, um de frente para o outro e, eu
massageava os seus pés.
— Que tipo de jogo? — perguntei, desconfiado, mas sem esconder a
diversão que a sua expressão sapeca estava me causando.
A verdade é que a última semana, ao contrário do que imaginei que
seria, foi quase como um divisor de águas para nós dois; nos aproximamos
não apenas intimamente, mas emocionalmente também.
— O jogo dos porquês.
Achei graça, e me ajeitei um pouco melhor, porém mantendo o seu pé
em meu peito, sob minhas mãos.
— Não entendi a lógica, querida.
— É simples — disse, arrastando o pé pelo meu peito e deslizando-o
pelo meu rosto; aproveitei para morder o seu calcanhar, arrancando-lhe uma
risadinha — Cada um de nós terá o direito de fazer uma pergunta ao outro.
— Sobre o quê?
— Ah, sobre o que tem curiosidade, oras — respondeu. — Eu começo!
— exclamou, eufórica. Sentou-se, chegando mais perto. — Por que você
negociou a minha mão com o meu pai?
reformular o meu raciocínio, porque ela não parava de esfregar a sua doce
boceta no meu pau. — Como conseguiu convencer o Billy a deixá-la treinar?
Sua boca foi descendo, do meu queixo ao pomo de adão; arrastando a
língua pela minha pele úmida.
— Você pode se surpreender com o que vou dizer agora, querido, mas
há quem diga que sou manipuladora.
Gargalhei alto do seu cinismo.
— Isso é realmente surpreendente. — Ela me mordeu, fazendo-me
— Faz sentido.
— É, eu sei que faz — resmungou, segurando o meu pau e me
encaixando em sua entrada.
— Maya, nós temos que... — me calei quando ela se preencheu com o
Mas com a Maya era diferente. Aliás, tudo era diferente com ela.
Desde a primeira vez que nos vimos, eu me senti estranho.
— A questão aqui não é essa, mas sim o risco de você...
— Argh! Cala essa boquinha linda, cala, querido — interrompeu-me,
colando nossos lábios e aumentando o ritmo.
Sua língua estimulou a minha, numa dança erótica e sensual enquanto
seus gemidos se intensificavam conforme movimentava o quadril com
velocidade assustadora.
Meu gemido foi assustador até mesmo para mim, porque me senti completo e
realizado como nunca. Definitivamente, estar dentro dela se tornou o meu
lugar favorito no mundo.
— Confesse, querida — comentei, buscando por ar — você está
viciada no meu pau. — Não escondi a satisfação no meu rosto.
Ela achou graça, mas também não negou. Ao invés disso, voltou a me
beijar.
Sua língua era sedenta sobre a minha, e eu não me fiz de rogado.
Bonnie e Clyde[2].
Estávamos tão envolvidos um com o outro naquele momento, que
demorei a perceber o som do meu celular.
Delicadamente, afastei a Maya, que reclamou:
— Deixa tocar, Rossi — pediu. — Está tão gostoso nós dois aqui...
Sorri, beijando o seu narizinho, achando a sua expressão fofa.
— Não posso, querida — expus. — Mesmo não gostando, eu ainda sou
o líder de uma organização imensa e poderosa, então preciso estar sempre
preparado e atento.
Me levantei, puxando uma toalha e me enxugando. O telefone tinha
parado de tocar, mas retornou, alguns segundos depois.
— Mariano? — Atendi. — Alguma novidade?
Desde que vim com a Maya para Florença, a dúvida sobre a minha
suposta morte foi implantada no submundo como uma maneira de chamar a
atenção, não somente do homem de rosto deformado, mas também dos
traidores.
— O Jack já iniciou as investigações — disse ele. — O homem se
chama Ryder Mitchell. Tem 25 anos e foi criado na Philadelphia,
Pennsylvania. Ao que tudo indica, ele recebeu somente o nome da mãe,
Olívia Mitchell.
a quilômetros de distância.
— Ele quer falar — respondeu num murmúrio. — O seu hóspede da
masmorra disse que está pronto para falar.
Todo o meu corpo sentiu o peso daquela revelação, e eu me obriguei a
inspirar fundo.
— Ele ainda está vivo? — A pergunta soou num tom tão baixo que
cheguei a ter dúvidas se realmente houvesse pronunciado as palavras.
— Sim — respondeu. — Estamos o mantendo confortável, ao menos até
você chegar.
— Estou indo — falei mais do que depressa, e já saindo do banheiro.
— Ei! — ouvi Maya reclamar, mas ignorei-a.
— Mas e o plano de se manter afastado para o sabotador pensar que
está morto?
— Foda-se esse maldito plano! — rugi, abrindo a porta do guarda-
roupa. — Se temos a chance de descobrir informações sobre o líder dos
Shadows, eu não vou perdê-la.
Desliguei o telefone, olhando para a minha mão trêmula.
explosão.
— Idiota — resmungou, com os olhos cheios de água.
Caminhou até o guarda-roupa, onde, silenciosa, pegou as peças de
roupas.
Segurei o seu braço no instante em que ela tencionou voltar para o
banheiro.
— Maya...
— Não! — cortou-me, se soltando do meu aperto com um safanão. —
Não perca o seu tempo para me explicar o motivo da sua grosseria gratuita.
peito.
Não tinha tido a intenção de magoá-la.
Merda!
***
Chegamos a Palermo de noite. E assim como na ida para Florença, o
trajeto de volta foi feito em silêncio absoluto. Eu sabia que Maya tinha os
próprios motivos para se sentir magoada comigo, mas o que ela não entendia
é que eu não fui moldado para os bons sentimentos, aliás, perdi isso há muito
tempo.
Por que ela não conseguia lidar comigo da maneira como eu era?
Mal estacionei o carro na garagem da mansão e, ela já saiu, batendo a
porta com força e me fazendo praguejar.
— O que houve com ela? — Mariano quis saber, assim que abri a porta
do motorista. — Passou por mim feito um furacão.
— Não é nada — menti, pois não queria comentar o assunto. — Estão
todos aí?
Começamos a andar.
Não me importava com a dor intensa que cada açoite causava em mim.
Eu apenas queria esquecer o meu fracasso.
Queria esquecer que não fui bom o suficiente para manter a minha irmã
segura.
Capítulo 19
Maya
Eu estava magoada. Não, estava furiosa!
Era impressionante o quanto as coisas desandaram assim, tão rápido.
Os últimos dias ao lado do Rossi foram maravilhosos; eu pude sentir que aos
poucos estava conseguindo dobrá-lo... conhecê-lo.
Mas algo mudou.
Alguma coisa despertou o seu lado feio outra vez.
Num primeiro momento, me senti magoada, porém depois a mágoa deu
lugar à fúria.
E ali estava eu... pronta para brigar.
Andando de um lado ao outro no quarto, eu me sentia inquieta ao
extremo, enquanto esperava o meu excelentíssimo chegar; o alvo do meu
tormento pessoal.
A madrugada já havia avançado, mas as minhas emoções, à flor da
pele, não me permitiam descansar enquanto não voltasse a colocar os olhos
nele. Rossi precisava saber que eu não admitiria ser tratada de qualquer jeito.
Segurei a respiração quando ouvi o barulho na maçaneta da porta.
teimoso e insuportável na maioria das vezes, mas posso lhe garantir que
existe um motivo que faz com que tudo isso seja despertado nele.
Pisquei, fungando.
— O-o quê? O que é? Me diz.
Negou com a cabeça.
— Não posso — alegou. — Só posso torcer para que, um dia, ele tenha
forças suficientes para te contar.
Respirei fundo, abaixando a cabeça e encarando as minhas próprias
mãos.
firme. No fim das contas, ele foi preparar a sua cama no chão.
Estaca zero de novo.
Engoli o choro e a decepção.
***
Acordei no susto, mas suspirei de alívio quando olhei para o chão, em
frente à cama e vi que o Rossi ainda dormia. Devagar, joguei as pernas para
fora do colchão e, em seguida, peguei o meu robe.
Pé por pé, eu caminhei pelo cômodo, silenciosamente, e com cuidado
para evitar acordá-lo. Soltei o ar assim que fechei a porta atrás de mim e me
estranho admitir, mas eu me sentia dolorida por saber que ele estava
sofrendo.
Engolindo o desejo de chorar feito uma manteiga derretida — que eu
não era — levei a mão ao seu rosto. Porém, antes que eu tivesse a chance de
tocar a sua pele com os meus dedos sedentos, tive o meu pulso agarrado por
sua mão enorme e firme.
Dei um gritinho de susto, porque não estava esperando.
— Ui, que susto, homem! — exclamei, massageando o meu peito. —
Eu pensei que estava dormindo.
Mas entendi que o Mariano tinha razão quando disse que eu precisaria
mostrar que me importava. Rossi precisava sentir o meu amor.
Como estávamos perto da cama, eu me inclinei e, rapidamente peguei a
bandeja que já tinha deixado ali.
— O que...
— Eu mesma preparei — expliquei, cortando as suas palavras quando
viu os biscoitos amanteigados. — É uma receita de família, sabe? — contei,
nostálgica. — A minha mãe aprendeu com a minha avó; e eu aprendi com a
minha mãe. — Sorri, me recordando. — Pensei que gostaria de tomar café da
impaciente.
— Não tem problema, mio caro. — Me inclinei, apoiando os cotovelos
sobre a mesa. — Eu e meus irmãos temos todo o tempo do mundo para você.
O americano riu, chamando o garçom e pedindo uma cerveja.
Tive tempo o suficiente para observar a sua aparência, que, aliás,
estava sempre diferente a cada vez que nos víamos. No momento, ele estava
com os cabelos compridos, tingidos com mechas loiras, contrastando com
seus olhos verdes. Esquisito, mas certamente devia chamar a atenção de
algumas mulheres.
— Oh, por favor, Rossi, não seja tão ranzinza — disse, enquanto
remexia no conteúdo da sua bolsa. — Ambos sabemos que por mim, vocês
sempre esperam. — Piscou, abusado.
Não o corrigi, porque infelizmente ele estava certo. Não havia ninguém
cerveja.
— Ah, que delícia! — exclamou, bocejando o líquido em sua boca. —
Eu não sei — respondeu a minha pergunta — Ainda — acrescentou mais do
que depressa. — Ryder Michell foi criado sem a presença do pai; Billy teve
um caso com a Olívia Michell e quando descobriu a gravidez dela,
simplesmente a mandou para longe.
— Optou pelo mais fácil — Mariano deduziu.
— Pois é — Jack concordou. — Como uma garantia, ele mandou um
dos seus homens para tomar conta dela, durante os primeiros meses,
Faz sentido.
Ficamos ali por mais algum tempo, até nos despedirmos do Jack. Luca
acabou indo direto para a boate, enquanto Mariano e eu continuamos juntos.
Não era comum, mas Enzo estava como o meu motorista naquele dia,
então Mariano e eu nos ajeitamos na parte de trás do carro blindado.
— O que está pensando em fazer? — Meu irmão quis saber assim que
o carro entrou em movimento.
— Ainda não sei.
está falando?
E nos próximos minutos, ele narrou todo o acontecimento em que a
Maya o agrediu por pensar que foi ele a me ferir daquela forma.
— Não acredito que ela fez isso — Eu estava em choque.
— Pois acredite, irmão — garantiu entre risos. — Aquela garota te
ama, e eu pude sentir isso na pele. Literalmente falando.
Ambos demos risada.
Enquanto ria, eu não conseguia parar de repetir as palavras do meu
entre as pernas.
Foi minha vez de me fingir de ofendido.
— Ah, então agora eu só presto para servir aos seus prazeres sexuais?
Ela jogou a cabeça para trás, rindo, e eu aproveitei para esconder o
rosto na dobra do seu pescoço e inalar o perfume.
— Eu não disse isso — defendeu-se, voltando a me encarar com aquele
sorriso lindo.
Era notório o brilho em seus olhos nos últimos dias. Desde o meu
momento sombrio no altar da minha irmã, Maya vinha se mostrando tão
carinhosa e amável que tudo o que eu passei a desejar era poder estar com
ela. A mulher, que outrora desejei manter longe, se tornou o meu refúgio.
— Você disse gigante? — questionei, arrogante.
— Sim, eu disse — afirmou, achando graça.
murmurou, divertida.
Pensei em dizer que dessa forma, eu ficaria em casa por mais tempo,
entretanto optei pelo silêncio, pois no fundo... bem lá no fundo, eu
desconfiava que o meu desejo de estar perto dela não tinha a ver somente
com o nosso sexo, mas com algo mais profundo.
Capítulo 21
Maya
Uma semana depois
— Por que você só usa terno branco? — perguntei, porque isso sempre
me deixou curiosa.
Terminando, ele me encarou com um olhar esquisito.
— Porque era o preferido da minha irmã.
***
— Não vejo graça alguma em sair do forte, mas continuar sendo
seguida por brutamontes— comentei numa bufada, referindo-me aos
seguranças atrás de nós. — A propósito, onde está a Paola?
seu sorriso bobo. — Desde a primeira vez que vi vocês juntos, eu senti algo
especial; os olhos do Rossi brilharam como nunca.
Meu coração acelerou e se derreteu ao mesmo tempo.
— Você acha?
Seu sorriso aumentou.
— Tenho certeza — respondeu. — Tem sido lindo ver a maneira como
vocês dois estão se relacionando bem nas últimas semanas. — Ela parou de
falar para me mostrar um vestido, mas fiz uma careta indicando que não
gostei da escolha.
— Sim, tenho me esforçado bastante para fazer o nosso relacionamento
algo tragável.
A garota riu com vontade.
— Fala sério, Maya! Está escrito na sua testa o quanto está apaixonada.
— Ei! — reclamei, mas acabei rindo junto, porque não tinha como
negar o óbvio. — Hoje, ele me contou que tem o hábito de usar ternos
brancos, porque era o preferido da irmã.
Beatrice parou de sorrir na mesma hora e desviou o olhar.
palavras. Em seguida, abri a porta. Seus olhos arrastaram-se pelo meu corpo,
causando calor extremo em cada uma das minhas células.
— Você está...
Corri até ele, cobrindo a sua boca com os meus dedos, impedindo-o de
baixo do vestido para sentir o meu traseiro. Gemi baixinho quando seus
dedos resvalaram no vão entre minhas nádegas.
— Você vai permitir, porque a arrogância de saber que é o único que
pode me tocar desta forma... — me calei com um gemido baixo, derretida
com as carícias ousadas — é você.
Suas mãos apertaram as minhas nádegas, moendo o seu quadril no
meu, e um rosnado selvagem escapou da sua garganta; eu pude sentir a
possessividade em sua postura.
— Minha — afirmou. — Você é somente minha.
mas o seu olhar faminto já serviu para me deixar quase sem fôlego.
— Vem. — Entrelaçou nossos dedos e começou a me arrastar para fora
do quarto. — Vamos acabar logo com isso, porque não vejo a hora de
afundar a cara nessa sua boceta deliciosa.
Arrepios invadiram cada centímetro do meu corpo febril.
***
Tédio.
Sensação que me descrevia perfeitamente enquanto estava sendo
obrigada a sorrir quando tudo o que desejava fazer era rosnar feito uma
cadela raivosa. Eu entendia o meu papel ali, assim como também
compreendia que era a função do Rossi “fazer a corte” àquelas pessoas, que
mais pareciam abutres. Mas por que tinha que ser tão chato?
— Quem diria que a psicopata chamaria mais atenção do que o próprio
capo?
— Manuele! — Beatrice ralhou com ele.
Eu ri.
— Não se preocupe, querida — murmurei, cínica. — Sou imune ao
Rangi os dentes.
— É isso mesmo, Maya? — Luca quis saber.
Encarando o homem, eu ponderei toda a situação e cheguei a conclusão
de que de nada adiantaria causar uma briga naquele momento. Rossi não
precisava de uma mulher briguenta ao lado dele, mas de uma mulher sábia.
— Foi um mal-entendido, Luca. — Sorri para meu cunhado. —
Obrigada por se preocupar. — Assentiu, apesar de desconfiado. Seu olhar
para o tal Caruso foi tão assustador que até eu tive medo. — A propósito,
— Está tudo bem, Enzo — estendeu a mão, pedindo a chave — ela está
comigo.
Em seguida, o carro foi destravado e, eu não perdi tempo em entrar.
Rossi entrou logo depois, buscando a minha boca para beijar. Parecíamos
Houve um disparo.
Na mesma hora, eu gritei e impulsionei o corpo para descer do capô e
me colocar na frente do Rossi.
Senti o impacto da bala em meu ombro.
A atmosfera parou ao meu redor e tudo o que eu consegui ver e ouvir
foram os olhos assustados do meu marido, juntamente com os batimentos
acelerados do seu coração.
Percebi quando ele retirou a pistola do paletó e começou a trocar tiros
com alguém, depois que me colocou no chão.
medo. — Não deveria ter feito isso. Por que você se colocou na frente do
disparo? Por quê?
Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Por-porque eu não suportaria te perder — respondi com a voz fraca.
Segurando o meu rosto, ele me beijou com força, colando as nossas
testas.
— Então decidiu que seria mais fácil passar esse risco para mim? —
intimou com a voz engasgada.
Com a mão trêmula, fiz uma chamada para o Manuele, enquanto ligava
o carro e acionava a ré para nos tirar dali.
— Rossi, aonde você...
— A Maya foi atingida por uma bala perdida — falei de uma vez,
falando com alguém, mas não consegui entender nada. — Vou avisar ao
Mariano e encontraremos vocês lá.
— Não! Deixem os outros aí, até o jantar acabar — ditei.
— Tá certo.
Encerrei a ligação e voltei a encarar a Maya. Minha mão trêmula foi
para o seu rosto e, em seguida, para a sua mão, que pressionava o seu
ferimento.
— Continue pressionando, querida — praticamente implorei —
Continue pressionando.
***
A clínica fazia parte do nosso pagamento, então não precisei de
explicações extremas a respeito do que aconteceu. Com Maya nos braços, eu
a entreguei nas mãos da equipe médica.
normal extravasar as emoções quando, estas, são demais para guardar dentro
de si mesmo.
Voltei a piscar, absorvendo as suas palavras.
Meu coração batia tão depressa e tão alto que tudo ao redor parecia não
ter importância.
— Ela... ela disse que me ama — confessei baixinho, encarando as
minhas mãos — A mulher com quem eu me casei se apaixonou por mim,
Beatrice. Por quê? — Olhei para ela, sentindo os meus olhos úmidos depois
de muito tempo. A última vez que chorei foi quando perdi a minha irmã. —
Por que ela me amaria?
Beatrice se debulhou em lágrimas, buscando as minhas mãos nas suas.
— Porque você é bom — garantiu, chorosa. — Você é bom.
Puxando-me para um abraço, a garota frágil me amparou e, eu me
deixei ser consolado, porque sequer tinha forças para falar ou fazer qualquer
coisa que fosse.
Capítulo 23
Maya
Minha cabeça estava pesada, assim como todo o restante do meu corpo.
Abri os olhos, mas acabei piscando um pouco até conseguir me acostumar
com a claridade incômoda. Eu me lembrava do que tinha acontecido, só não
sabia há quanto tempo estava ali naquele quarto de hospital.
Olhei ao redor em busca de um rosto conhecido, mas só encontrei um
homem, anotando alguma coisa em sua prancheta enquanto observava as
informações da máquina barulhenta logo atrás de mim.
com o bebê — disse, me fazendo encará-lo tão rápido que cheguei a ficar
zonza. — Porque, geralmente, esse tipo de estresse em gestações de início
assim pode acarretar complicações, como o aborto, por exemplo.
— O-o que você disse? — eu não conseguia acreditar.
O médico me encarou com o semblante curioso.
— Você está grávida — repetiu quase pausadamente. — Não sabia
ainda?
Não consegui falar nada, então somente sacudi a cabeça, negando a sua
pergunta.
— Está com pouco mais de cinco semanas — explicou. — Mas ao que
tudo indica, o bebê está bem. Como médico, eu aconselho você a iniciar o
pré-natal o mais rápido possível para garantir uma gravidez saudável e sem
sustos. — Mexeu na bolsa de soro, ligada à minha veia. — Bem, agora vou
ali fora conversar com o seu marido, porque ele está extremamente
impaciente para saber notícias suas.
— Doutor... — segurei o seu braço — E-ele já sabe? — perguntei,
desesperada. — Sobre o... bebê? — fui mais específica quando notei que ele
Eu estava grávida.
Tanto trabalho que tive para fazer o Rossi confiar em mim, para
estragar com uma gravidez indesejada.
Sentindo os meus olhos úmidos, olhei para baixo, no meu corpo; estava
usando uma camisola de hospital.
Inconscientemente, deslizei a mão — do braço bom — até pairar sobre
o meu ventre plano.
Era difícil acreditar que havia uma pessoinha ali dentro.
Me assustei com a porta sendo rompida, e retirei a mão da barriga na
horas ali fora, esperando pela sua cirurgia e torcendo para entrar aqui e poder
encontrá-la bem.
— E encontrou! — murmurei, engasgada. — E-eu estou bem.
— Mas poderia não estar! — revidou, encarando-me com aquele olhar
intenso. — Eu odeio essa sensação de impotência, Maya, e foi exatamente o
que você me fez sentir.
Franzi o cenho.
— Está... me culpando por ter salvado a sua vida?
Paola riu.
— Não seja mentirosa — ralhou. — Sei que está magoada, pois o
Rossi não foi legal, mas você precisa entender que ele... — se calou,
franzindo o cenho. Era como se estivesse escolhendo as palavras certas.
— O quê? O que tem ele?
Ela buscou por ar.
— De todos os irmãos, Rossi é o mais problemático — disse.
— Por que diz isso?
mas eu não vou permitir que me empurre para longe. Não mais! — Apertei a
sua mão. — Eu amo você, e precisa aceitar isso. Consegue aceitar isso?
Seus olhos estavam temerosos e perdidos.
— Amar o outro significa muitas coisas, eu sei — continuei assim que
percebi que ele continuaria me olhando sem falar nada. — Corremos riscos.
Mas é justamente isso, que nos faz mais ousados; mais felizes. Eu não escolhi
me apaixonar, mas aconteceu.
— Eu... — ele baixou a cabeça, olhando para as nossas mãos unidas —
estou... com medo. — Ergueu o olhar, e pude enxergar o tormento em seus
olhos. — Não gosto dessa sensação, Maya.
— Do que você tem medo?
Ele piscou várias vezes.
— De perdê-la.
Meu coração perdeu uma batida.
Ansiosa, levei a mão ao seu rosto barbudo, adorando a sensação do
pinicar em minha pele sensível.
— Aposto que se você me der um beijo esse medo vai passar rapidinho
— brinquei com ele, mordendo os lábios.
Sorrindo, ele se inclinou, amparando o meu rosto entre suas mãos.
Automaticamente, eu inspirei o seu perfume delicioso, e chupei a sua língua
quando ela invadiu o vão entre os meus lábios.
de tamanho.
— Há uma semana, você esteve na minha casa para socializar conosco
e com os outros associados — argumentei, calmo e neutro. — Entretanto,
você acabou desrespeitando a minha esposa.
— O-o quê? Quem disse isso está mentindo, capo, eu jamais faria algo
assim.
Parei de caminhar, e me virei para ele com as sobrancelhas erguidas.
— Então está me dizendo que o meu irmão mentiu para mim? É isso
que está insinuando?
Ele passou a gaguejar, enquanto dava passos para trás, mas parou
quando se deparou com o Manuele em suas costas.
— O capo te fez uma pergunta — rosnou ele.
como também me perguntei o motivo de você ter sido visto saindo de Parco
della Favorita logo depois que a minha esposa foi atingida por um tiro. —
Travei o maxilar, observando as suas reações. — A única coisa que vem a
minha mente, Caruso, é que você não aceitou a recusa dela e, simplesmente,
nos seguiu assim que deixamos o jantar. Eu só não sei se o tiro realmente
deveria ter sido para ela, ou para mim.
— I-isso é um engano, capo — voltou a gaguejar, pálido feito um
pedaço branco de papel — E-eu não seria capaz... — se calou quando Paola
estalou o chicote, acertando um lado do seu rosto. O impacto fez com que um
corte se abrisse em sua pele.
— Por que tentou me matar? — questionei, me aproximando dele. —
Quem pagou você, Caruso? Não se esqueça que eu me lembro muito bem o
quanto meu pai gostava das suas habilidades de atirador.
Ele me encarou com os olhos injetados.
— Acha que vou contar alguma coisa sabendo que vocês vão me matar
de um jeito ou de outro? — indagou, cheio de cólera. — De longe, o seu pai
foi melhor líder que você, Rossi, considerando que sequer dá conta de manter
— Depende — falei.
— Do quê?
Um sorriso sinistro abrilhantou os meus lábios, enquanto eu coçava a
barba grande.
— Por que afirma não saber quem quer a cabeça do capo se acabou de
dizer que foi procurado por um homem? — Manuele perguntou.
— Porque o homem também era um intermediário — respondeu. —
Ele é aquele tipo de pessoa que terceiriza os serviços sujos.
para o meu relógio, vendo que estava quase perto das sete da noite. — Agora,
eu preciso ir. Divirtam-se!
Virando-me nos calcanhares, eu parei quando escutei a súplica do
Caruso:
— E-eu fiz o que você pediu — murmurou em desespero, enquanto era
esquadrinhado por Paola, que só faltava devorá-lo. — Contei tudo o que eu
sabia. Por favor, não me deixe com ela.
— Ei! — reclamou Manuele. — Assim me sinto ofendido.
Meu olhar se tornou escuro.
Neguei, angustiado, porque ainda não tinha tido coragem para contar a
ela sobre o filho bastardo do Billy.
— O que está lendo? — Caminhei até ela, apontando para o livro em
sua mão, ignorando propositalmente as suas perguntas.
Eu ainda não tinha me acostumado com a imagem dela usando aquela
maldita tipóia. Isso me enchia de fúria, porque me fazia lembrar a minha
falha em sua proteção.
— Ah, um romance bobo — respondeu, sem jeito. Sua mão — do
braço bom — enrolou-se em meu pescoço, forçando o meu rosto para o seu.
— Estava com saudades de mim? — perguntou entre beijos.
Sorri.
— Um pouquinho — menti, fazendo-a me beliscar. — Estava aqui
pensando... — entrelacei os nossos dedos e trouxe a sua mão para a minha
boca, onde beijei a sua palma macia — que tal darmos uma volta?
Franziu o cenho, mas não escondeu o entusiasmo com o meu convite.
— Para onde?
— Para onde quiser ir.
— Não ouse reclamar, pois você me deu carta branca! — Achei graça
da sua empolgação. — Vou me arrumar. — Saiu da cama num pulo.
Fiquei sentado na cama, apenas observando, encantado, a minha garota
começar a escolher a roupa que usaria para o nosso happy hour.
***
Eu não fazia ideia do filme escolhido, mas também nem me
interessava, porque eu só tinha olhos para a garota encantadora ao meu lado.
Maya estava fungando, enquanto não desgrudava a atenção do telão. Antes de
mais forte desde que descobri um motivo para a minha vida. Maya era esse
motivo.
Ela era o meu motivo.
***
— Foi um filme bem interessante.
— Você nem assistiu — refutou, dando risada.
Estávamos na saída do prédio do shopping quando Maya parou de
caminhar de repente.
E ali, eu prometi a mim mesmo que tentaria ser o que ela precisava que
eu fosse.
Por ela, eu me esforçaria para ser melhor.
Capítulo 25
Maya
Três semanas haviam se passado desde o atentado contra o Rossi.
Minha recuperação vinha sendo boa, considerando que no período da manhã,
eu passava por longas sessões de fisioterapia. Já não precisava mais usar a
tipóia, então já me sentia bem melhor.
Meu relacionamento com o meu marido, ao contrário de todo o
impacto pós atentado, melhorou consideravelmente; eu percebia o seu
esforço em continuar se mantendo neutro ao que, obviamente sentia por mim;
uma mulher sabe quando o homem está apaixonado, e eu sabia que Rossi
estava. Só precisava fazê-lo enxergar isso.
Os nossos últimos dias vinham sendo bem intensos; cheios de
novidades. Como que para me proteger, ele optou por me deixar no escuro a
respeito das investigações sobre o tiro, e sobre a sabotagem aos negócios do
meu pai. Então, sua maneira de me ludibriar era me mimando com diferentes
surpresas. Jantares, sexo, cinemas, sexo, joias, sexo, flores, sexo...
Não que estivesse reclamando..., mas eu sentia falta de algo... não
estávamos completos. Havia segredos entre nós.
Franziu a testa.
— O quê? Do que está falando?
Me sentei num dos bancos, enquanto ela continuava de pé, amolando
as lâminas das espadas.
— Por que não consegue admitir que é louca pelo Mariano? Puta que
pariu, isso está na cara! Não consigo acreditar que eu seja a única a perceber.
Sua expressão se fechou na mesma hora.
— Você não sabe o que está falando.
— É, eu não sei mesmo! — Revirei os olhos, sem paciência.
Ficamos em silêncio por alguns minutos.
— Paola? — chamei de repente.
— Oi?! — resmungou, sem me dar a importância que eu desejava.
— Não tem como ter certeza da índole dele — rebati. — Ele não tem
culpa se o nosso pai o rejeitou.
— Esse homem, o qual você está chamando de coitadinho, encheu a
mansão de explosivos, Maya.
— Ninguém tem certeza de nada. Ele pode não ter tido escolha.
— Todos nós temos escolhas — revidou, sombria. — Você escolhe
matar. Mas você também escolhe salvar.
Engoli com dificuldade, porque uma nova onda de náusea ameaçou me
Não conseguia ignorar o medo de saber que ele poderia fazer o mesmo
com o meu irmão, o que era ridículo, visto que eu não o conhecia. Não
conhecia a sua história, assim como ele também não conhecia a minha.
Talvez fosse pelo fato de eu estar grávida que minhas emoções
estivessem tão afloradas.
Soltei um suspiro dolorido, sentindo-me cansada.
Toquei o meu ventre, me perguntando o que Rossi diria quando
descobrisse sobre o bebê que crescia dentro de mim.
Cansada, resolvi sair daquele lugar, porque todo aquele cheiro já estava
me deixando nauseada.
***
Beirava às sete da noite quando eu, de banho tomado, fui atrás do Rossi
em seu escritório. Eu o ouvi chegando mais cedo, mas como ele demorou a
subir, decidi ir até ele.
— Oi — saudei, depois de dar uma batidinha na porta. Ele estava
sozinho. Seu sorriso lindo, quando me viu, aqueceu o meu coração
apaixonado.
— Oi! — Se levantou na mesma hora, vindo ao meu encontro. Ofereci
os meus lábios quando ele quis me roubar um beijo. — Aconteceu alguma
coisa?
— Não, ela não quer — rosnou Rossi, fazendo-me rir do seu ciúme.
— O que estão cozinhando, afinal? — Mariano quis saber, espionando
os ingredientes.
— Querem ajuda? — Fillipo perguntou. — Apesar de que estou
perguntando apenas por educação, que fique claro.
Gargalhei alto.
— Vocês são muito folgados — comentei, rindo.
Não demorou muito e Beatrice também entrou na cozinha, seguida da
Paola.
E o que era para ter sido um jantar de casal, se tornou de toda a família.
Capítulo 26
Rossi
— Você só está me provocando — reclamou Maya. — Sabe disso,
hun?
Soltei uma risadinha, enquanto continuava massageando o seu corpo
debaixo d’água. Tinha virado rotina o nosso banho matinal, juntos.
— É impressão minha, ou os teus seios estão maiores? — indaguei,
fixando o olhar em seus dois melões.
Sem me responder, ela simplesmente segurou o meu rosto e colou a
facilidade assustadora.
Ela me deixava perdido.
Com uma das mãos em minhas bolas e a outra estimulando o meu pau
num movimento de vai e vem, ela passou a me lamber e chupar como a um
Jack o localizou, dois dias atrás, mas garantiu a ele que nós não o
mataríamos e que apenas tínhamos interesse numa conversa.
— Você conhece o significado de pontualidade, hun? — perguntei num
tom ríspido, assim que o rapaz de aparência jovem entrou no veículo.
Estávamos nós dois na parte de trás do meu carro, enquanto Manuele
continuou na frente.
— Não vou pedir desculpas, cara — revidou ele, num forte sotaque
americano. — A verdade é que tenho uma vida muito corrida, então nem
sempre consigo honrar os meus compromissos nas horas certas.
— O Jack nos garantiu que você nos entregaria o nome do homem que
o contratou para matar o capo Rossi — Manuele se apressou a dizer, quando
me viu com os punhos cerrados, irritado pela maneira como o idiota me
tratou.
nome.
A atmosfera parou.
Tudo a minha volta deixou de existir enquanto as minhas lembranças
tomavam conta da minha mente.
***
— Ele está pronto, Rossi — avisou o meu pai, Federico Ricci. — Eu
quero que você seja o cara a mandar o maldito para o inferno, considerando
que daqui a uns anos, irá assumir o meu lugar. Quero que meu filho seja tão
temido quanto eu sou.
Fazia menos de uma semana que encontramos o corpo da Bianca, e
desde então, a nossa rotina se resumiu a caçar todos os integrantes dessa
maldita máfia que a tirou de nós.
Louis Moran se tornou um desafeto dos Fratelli depois que o nosso pai
se recusou a trabalhar com ele; o desgraçado era um homem sem escrúpulos
e honra dentro do submundo, e Federico Ricci não queria trazer isso para a
nossa família.
— Minha irmã era a luz que iluminava a minha vida — falei mais para
mim mesmo, embora todos ali pudessem ouvir. — E você a tirou de mim,
deixando-me na escuridão.
— Vá... se foder, garoto.
— Agora só me restaram as trevas — continuei, enquanto caminhava
pelo espaço imundo. — Nada mais.
Pegando a pistola, eu mirei em seu rosto e, simplesmente atirei.
Vinguei o que fizeram com ela. Mesmo que isso não fosse trazê-la de volta
para nós.
***
— Ei, Rossi... — Manuele me chamou, assim que entramos na mansão
— Vamos conversar, irmão.
Eu não conseguia parar de pensar naquele nome. Não conseguia
raciocinar. Sequer fazia ideia de como voltamos para casa, porque minha
mente se perdeu no loop do passado.
— Não vá para lá, Rossi — pediu ele, segurando o meu braço. — A
culpa não foi sua, irmão. Não foi.
Travei o maxilar, sentindo a dor me sufocando.
— Ela sofreu tanto... — balbuciei. — Tudo o que eu poderia ter feito,
que era acabar com o maldito que a feriu, eu fiz, mas acabo de descobrir que
falhei na missão. Ele sobreviveu.
— O sonho dela era se tornar musicista; dizia que levaria a sua música
para todas as pessoas que precisassem de amor em suas vidas — se calou,
como se a dor estivesse esmagando o seu peito. Segurei o choro, assim como
o desejo, corroendo em minhas veias, de abraçá-lo. — Mas esse sonho foi
arrancado dela por um maldito que não aceitou a recusa do nosso pai.
Lentamente, devolvi a bonequinha ao lugar em que estava antes e, em
seguida, fixei os olhos no porta-retrato com a foto dela. Era uma garotinha
linda e cheia de vida.
Malditos!
— Por isso você se fere? Para, de alguma forma, aliviar a culpa que
sente? — perguntei entre lágrimas.
— O alívio vem quando eu sinto dor — confessou. — Não consigo
aceitar o que fizeram com ela, não consigo — disse, fungando. — Depois que
— Nem isso, eu fui capaz de fazer por ela, Maya — continuou, se castigando
— Eu não consegui vingar a morte da minha irmã. Que espécie de homem eu
sou? Como você pode me amar?
Desesperada, voltei a amparar o seu rosto com as minhas mãos.
— Entenda uma coisa: você não precisa controlar o mundo ao seu
redor, porque, antes de ser um líder, você é um ser humano que, como todos
nós, comete atos que estão sujeitos a erros. Você sempre será o responsável
por suas ações, mas não cabe a você culpar-se caso algo venha a dar errado.
Ele piscou, enquanto eu enxugava as suas lágrimas.
sem vida... — chorei junto com ele, enquanto o apertava contra mim.
— Nã-não consigo entender como o desgraçado sobreviveu — contou.
— Eu me lembro de ter atirado no rosto dele.
— Pode ter pegado de raspão — falei. — Ou dependendo do ângulo
que a bala entrou, não atingiu o cérebro.
Ele se afastou, voltando a sentar, passando as mãos no rosto.
— O que vocês fizeram com o corpo? — perguntei.
— Na época, nós deixamos nas mãos da equipe de limpeza —
lidar com a situação — pausei, dando a ele tempo para absorver as minhas
palavras — Em alguns casos, é muito difícil conseguir enxergar e sair do
ciclo paralisante da culpa. Enxergar novas saídas, às vezes, pode parecer
impossível. Mas... eu estou com você agora. Entendeu? Eu estou com você.
interligada, forma a maneira que enfrento e enxergo como sou hoje e como
enfrento as situações — contou.
— Você precisa romper esse ciclo de culpa — pedi. — Eu compreendo
a sua dor, por Deus que estou falando a verdade, mas não vou aguentar
ter contado para vocês, sobre ontem, mas eu realmente estou bem.
— Como? — quis saber. — Como pode estar bem? Você correu para a
masmorra, Rossi! Esse assunto sempre te desestabiliza, irmão.
— Eu sei — respirei fundo, abrindo e fechando os punhos —, mas
Franzi o cenho.
— Sim — fui honesto. — Eu me recusava a admitir o quanto precisava
dela — baixei a cabeça, olhando para a minha xícara de café — Aliás, tive
essa certeza quando a vi ontem, parada logo atrás de mim e, com lágrimas
nos olhos.
— A verdade é que essa garota, mesmo tinhosa, provou o seu valor
dentro da nossa família. — Afirmou ele, sorrindo. — Puta que pariu! Ela
levou um tiro por você.
Meus lábios, automaticamente se alargaram num sorriso arrogante.
Sacudi a cabeça.
— Não faço a menor ideia — busquei respirar fundo — Mas vamos
descobrir.
Ele também se levantou, guardando o celular.
Não precisava ser um gênio para entender que ele se referia ao episódio
da noite anterior; todos eles sabiam que eu me martirizava por causa da morte
da nossa irmã.
— E eu estou — concordei honestamente.
Ele não disse nada, mas sorriu. Um sorriso que me dizia tudo o que eu
precisava; ele estava ali por mim e sempre estaria.
— Quais os planos? — perguntei, mudando o foco da conversa.
Suspirou.
diabolicamente.
Manuele já começou a rir mesmo sem saber dos meus planos.
***
Ao final da manhã, eu fui atrás da Maya.
— Demorou a me encontrar? — perguntou ela, sorrindo, enquanto eu
me aproximava.
Ela estava sentada na borda da piscina, com os pés para dentro da água.
— Um pouco — respondi.
tornamos um só.
— E isso é ruim?
Sacudiu a cabeça, rindo.
— Não, não é ruim.
— Sim — concordou.
Em seguida, me entregou um cartão postal envelhecido, explicando
como o conseguiu.
— Você estava planejando fugir para ir até este endereço? — intimei,
hoje? — zombei.
Vi que rolou os olhos, impaciente.
— Estou entediada na verdade — declarou, instigando os meus cães a
se aproximarem dela — A Beatrice viajou ontem, então agora estou
dependendo dos irmãos para encontrar alguma aventura. — Ergueu os olhos
para encontrar os meus — A propósito, já contou ao Rossi sobre a gravidez?
Neguei, enquanto seguia para o guarda-roupa.
— Ainda não tive a oportunidade — resmunguei — Mas conversamos
sobre a história do desconhecido que se intitulou o meu irmão.
Mariano? — alfinetei.
Seus olhos reviraram-se.
— Não começa — ralhou.
— O que foi? Não vejo problema algum em apoiar um romance entre
vocês dois.
Bufou.
— Quando pretende contar ao Rossi da sua gravidez, afinal? — mudou
de assunto.
Respirei fundo.
— Hoje — respondi, arrancando a parte de cima do pijama. — Mas
antes, eu quero que você me leve ao shopping, porque quero comprar alguma
dessas coisas de bebê.
Ela riu.
— Qual é a graça? — intimei, colocando o vestido.
— Você vai ficar ainda mais insuportável quando a gravidez avançar
— comentou —, por causa dos hormônios — complementou.
— Ah, então você me acha insuportável? — questionei, fingindo estar
Rolei os olhos.
— Estou com fome — avisei, mudando o caminho. — Vamos fazer um
lanche primeiro, depois continuamos as compras.
Observei Paola fazendo sinais para a equipe de seguranças que nos
seguiam, discretamente.
— O que vai querer?
Negou com a cabeça.
— Não como nada pela manhã — afirmou.
Dei de ombros.
— Azar o seu, porque vou me fartar — comentei, fazendo-a rir.
***
Minutos depois, nós nos acomodamos em uma das mesas.
homem mandado para garantir que a minha mãe não importunasse a vida do
grande Billy.
— Mas... eu não entendo.
— O quê? O que você não entende, querida? — questionou com
cinismo. — A parte em que enquanto você teve amor e conforto, eu tive
somente privações, ou o fato de o nosso pai ter se recusado a me criar,
abandonando-me juntamente com a minha mãe a própria sorte?
Franzi a testa.
— Eu não podia imaginar — murmurei, nervosa demais para conseguir
seu marido. Também não quero fazer mal a você, doce irmãzinha, entretanto
não vou frear o impulso de fazer isso se for necessário — sibilou, sério. —
Me dê o que é meu, e tudo ficará bem.
— Você tentou nos matar — acusei, angustiada. — Como pode querer
olhos. — Falou que se eu entregar tudo, ele cessará todos os ataques, porque
não quer me fazer mal.
Respirei fundo, pensativo.
Era óbvio — em minha mente — que o desgraçado jamais se importou
com a Maya, considerando que todas as suas atitudes deixaram as suas
verdadeiras intenções muito claras; mas eu não podia minar as esperanças da
minha garota. Prometi a ela que me esforçaria para ser um homem melhor, e
eu cumpriria a minha palavra.
Cocei a garganta:
sua. O problema é dele que não conseguiu enxergar o quanto você é incrível.
A umidade das lágrimas tomou conta do seu olhar.
— Você me acha incrível? — Fez um biquinho lindo.
Assenti com a cabeça, sorrindo.
— E gostosa — beijei a sua bochecha — e cheirosa — beijei o seu
pescoço — e excitante — arrastei a boca até o seu queixo, fazendo-a sorrir
um pouco — eu já disse gostosa?
Seu sorriso aumentou, enquanto enrolava os braços em meu pescoço.
— Já, mas eu não ligo de ouvir de novo — brincou.
banho de banheira.
***
Depois que consegui fazer a Maya adormecer, considerando que estava
muito abalada, eu desci e fui logo atrás da Paola.
Os seguranças estavam enfileirados, em uma das salas do andar
debaixo.
— Estão todos aqui? — perguntei, vendo a Paola assentir, enquanto eu
contava seis homens. — Ótimo!
— Senhor...
— Pode sair, Paola — cortei-a, impaciente. — Espere-me do lado de
fora.
Sozinho com os homens, eu comecei a esquadrinhá-los.
— Hoje, vocês me decepcionaram; todos vocês — desabafei,
gesticulando. — Eu não recruto homens para perder; ao meu lado, eu exijo os
melhores. E, infelizmente, vocês falharam.
Silêncio.
— Deveriam ter visto o inimigo se aproximando — persisti —
Deveriam tê-lo impedido antes mesmo que chegasse perto da minha mulher.
Como confiarei em vocês a minha vida?
Eu podia sentir o cheiro do medo.
Me colocando em frente a eles novamente, eu soltei o ar.
O amparo.
Soltando um suspiro, eu me ergui e comecei a caminhar pelo quarto,
me permitindo relembrar de todos os meus dias ali, naquela casa. Os porta
retratos ainda continuavam nas paredes, me presenteando com os sorrisos de
todos os bons momentos. Não era justo com a memória dos dois que eu os
julgasse por erros que cometeram; o meu pai por ter traído a minha mãe e a
mim, quando escondeu a amante e o fruto dessa traição; e a minha mãe por
ter sido tão omissa consigo mesma, embora insistisse em me fazer enxergar
um futuro onde eu pudesse ser livre.
cena que partiria o meu coração se materializou em minha frente sem que eu
tivesse tempo de agir; Odin pulou no Ryder, quando ele disparou em minha
direção. O som do seu choro fez o meu coração sangrar na mesma hora.
— Não! — gritei, tentando ir até ele, mas o Rossi me jogou no chão
com tudo, arrastando-me para trás de um móvel. O movimento foi tão rápido
e ágil que eu sequer consegui raciocinar. — O Odin... — fiz um beiço.
Os disparos começaram e tornaram o ambiente ensurdecedor. Eu podia
ouvir a voz da Paola e do Mariano, mas toda a situação era tão assustadora
quanto desesperadora.
— Eu sei que ele é importante, querida, mas a sua vida é muito mais,
entendeu? — Rossi amparou o meu rosto com ambas as mãos.
Thor pulou na jugular de um homem que se colocou diante de nós,
dando tempo de o Rossi atirar contra ele.
Com o rosto lavado em lágrimas, voltei a encarar o Rossi, sentindo-me
trêmula.
— Por favor... salve o... nosso bebê — pedi, fazendo-o arregalar os
olhos de puro espanto e pavor. Thor atacou outro homem, deixando-o para o
meu marido terminar o serviço. — Sei que esse não é o momento ideal para
dar uma notícia dessas, mas... eu estou grávida, querido. — Foi minha vez de
segurar o seu rosto, assim que se voltou novamente para mim — Você vai ser
pai. — Ele piscou, pálido. — Agora se controla e acaba com eles.
Eu estava com o cadáver do meu cão em meus braços; o ser que não
apenas me presenteou com o seu amor e a sua lealdade, mas também com a
sua vida.
Ryder não era nada para mim.
eram os meus irmãos, e a minha garota, então eu não via problema algum em
me abrir com eles. — Preocupado em não ser bom o suficiente, tanto para ela
quanto para essa criança que está a caminho.
A linha ficou muda por alguns instantes.
toda a coragem que eu precisava para entrar no quarto em que a Maya estava.
A verdade é que fazia poucas horas desde o incidente na mansão do Billy, e
meus nervos ainda estavam à flor da pele. De alguma forma, eu sabia que
algo não daria certo nesse encontro, mas quase ter perdido a Maya durante a
Não podia dizer que fiquei surpreso por tal reação vindo dela,
considerando que Odin morreu para defendê-la de um disparo que saiu da
arma do homem que era seu irmão. Eu, em seu lugar, também o desejaria
morto.
De repente, Maya se afastou um pouco, mas não completamente.
Enxugou as lágrimas dos olhos e, em seguida, olhou para baixo; vi quando as
suas mãos descansaram em sua barriga, coberta por aquela roupa fina do
hospital.
Meu coração, já acelerado, naquele instante começou a galopar.
aquele cão te amava tanto que trocou a vida dele pela sua, Maya. E é
exatamente isso que você vai fazer, viver.
Voltei a abraçá-la com todo o carinho e cuidado.
— Não vou dizer que não estou com medo, porque estou, e você sabe
— declarei, instantes depois. — Tenho medo de não ser bom o suficiente; de
não ser o pai que essa criança vai precisar que eu seja...
— Rossi...
— Mas eu quero isso — interrompi as suas palavras, afastando-a com
poderia sentir.
Entretanto, com a alegria, também vinha o medo do desconhecido,
considerando que a localização do maldito Louis ainda não havia sido
descoberta. E isso significava que nós não sabíamos qual seria o seu próximo
ataque. O líder dos shadows era bom em se manter nas sombras, o que apenas
piorava a minha angústia e ânsia de acabar com ele de uma vez por todas.
Porém, capturamos ele uma vez, no passado, e obviamente faríamos
isso de novo. E, eu tomaria o cuidado de garantir que ele realmente fosse
mandado para o inferno.
eu não fosse um bom pai? E se algo acontecesse com o meu filho, ou filha? E
se algo acontecesse com a Maya durante o parto? E se acontecesse algo com
os dois durante o parto?
As perguntas não paravam...
Elas me atormentavam dia e noite...
Lentamente, eu me desvencilhei da Maya, tomando o cuidado para não
a acordar. Não tinha a intenção de preocupá-la, mas, infelizmente, tinha
momentos em que eu precisava ficar sozinho.
As últimas semanas estavam sendo quase como uma gangorra de
Meu olhar se fixou em sua barriga saliente assim que ela começou a
caminhar em minha direção.
— O que faz aqui uma hora dessas, amor? — ela quis saber. Amparei-a
em meus braços quando parou diante de mim. — Perdeu o sono? — Beijou
os meus lábios.
— Não é nada com que você precise se preocupar — murmurei.
Se afastando, ela me encarou com os olhos semicerrados.
— Não minta para mim, Rossi — resmungou. Em seguida, segurou a
minha mão e me puxou para o banco em frente ao piano. Vi que em suas
mãos estava o cordão com a pedra, que foi presente da Beatrice. Eu tinha
contado sobre o significado dele para a Maya, então ela mandou fazer uma
espécie de cordão que eu pudesse usar no pescoço. — Depois que descobriu a
demonstrar sentimentos.
De repente, ela começou a rir, o que me deixou confuso.
— O que foi? Por que está rindo? — perguntei, meio rude.
Se levantou, ainda rindo.
— Estou rindo, porque você está tão assustado que não percebeu que já
está agindo como pai — murmurou, se aproximando e enrolando os braços
em meu pescoço. Senti o carinho dos seus dedos em meu rosto e nuca. — Os
seus temores, são os meus também. Esse medo de não saber se seremos bons
pais, ou se conseguiremos manter ele ou ela seguros. — Os enormes olhos
azuis se fixaram nos meus. — Mas esses sentimentos são normais. É normal
sentir medo, então não se torture.
Desci os olhos para a sua boca, não resistindo ao desejo de beijar-lhe
os lábios.
teremos sorte se o nosso bebê nascer com um terço da sua força e coragem.
Meu coração se aqueceu com as suas palavras.
— Eu sempre me sinto o homem mais incrível do mundo sob os seus
olhos, querida. — Enrolei a sua cintura, escondendo o rosto na dobra do seu
pescoço, beijando sua pele quente e perfumada.
— É porque você é incrível mesmo — declarou, toda derretida em
meus braços. — Mais incrível ainda é essa sua boca na minha e essas
enormes mãos em meu corpo — insinuou, fazendo-me rir.
— Esse é um convite? — indaguei, caminhando com ela em direção a
FIM
Epílogo
Maya
Três meses depois
irmãos soltaram.
— Não pense que porque estou grávida, eu não posso quebrar a sua
cara, Manuele, porque posso fazer isso e farei com gosto — avisei, sorrindo,
vendo-o fingir tédio.
O alvoroço foi imediato entre eles.
Os últimos meses vinham sendo tudo de mais incrível, porque jamais
imaginei que poderia ser tão feliz no meio daquela família de irmãos que se
protegiam e se amavam de um jeito único e tocante.
— Maya... — olhei para o Mariano, que estava no sofá adjacente ao
meu — eu quero aproveitar que o Rossi deu uma saída, para conversar com
você — franzi a testa, achando estranho, mas permaneci em silêncio — É
óbvio que você chegou a esta casa em circunstâncias ruins, o que justificou
muito as suas atitudes no começo.
saiba que todos nós também sempre estaremos aqui para continuar garantindo
a sua felicidade e segurança — Mariano concluiu.
As lágrimas embaçaram os meus olhos, enquanto eu sacudia a cabeça,
emocionada demais para sequer raciocinar.
Era certo que as perdas dos últimos meses me fizeram mergulhar num
mar de dor, mas também me fortaleceram. O acolhimento, não somente do
Rossi, mas de toda a família foi primordial para que eu conseguisse reunir
cada pedacinho quebrado do meu coração.
***
Mais alguns meses depois
me rasgar toda!
Estávamos na clínica da família.
Ele suspirou.
— Querida...
— Cala essa boca! — gritei, enraivecida.
Visualizei o seu maxilar enrijecido, mas ele não ousou falar mais nada.
— Rossi, por que não vai lá para fora? — ouvi a Beatrice dizer.
— Seria uma boa ideia realmente, porque os hormônios femininos se
médico avisou que o meu bebê estava a caminho. Com o Rossi atrás de mim,
apoiando os meus ombros em seu peito, eu me esforcei ao máximo e, quando
estava prestes a desmaiar, sem forças, ouvi um som, que marcaria a minha
vida para sempre.
— Esse é o...
— Choro do nosso filho — Rossi completou, tão emocionado quanto.
Ele me ajeitou na maca, beijando a minha testa. — Você conseguiu, querida.
— O brilho orgulhoso em seus olhos me desmanchou.
O médico aninhou o meu menino em meu peito, que chorava sem
parar. O mais lindo som que eu já ouvi. O fôlego de vida da criaturinha que
me tinha nas mãos.
Valeu a pena cada instante de dor.
— O nosso bebê, Rossi — comentei, aos prantos, enquanto segurava a
libertou o meu coração, que estava preso a mágoas, ilusão e amargura. Minha
liberdade chegou, mas na forma de um homem incrível, e de um garotinho
que era, literalmente, o meu coração batendo fora do peito.
FIM
BÔNUS
Prólogo de ANJO SELVAGEM
Paola
Algum tempo antes
Moscou, Rússia.
Em todos os meus vinte e seis anos de vida, passei por várias etapas,
a lutar, anos atrás. Nossa missão era tentar descobrir quem foi o mandante do
Nero, já que o maldito se infiltrou entre nós apenas para colher os segredos
dos Fratelli.
Mordi o maxilar, esforçando-me para manter minhas lembranças no
fundo da minha mente. De onde eu estava, na poltrona de frente para ele, eu
finalmente ergui os olhos e encarei o único homem que conseguia mexer com
o meu coração, mesmo quando pensei que o mesmo já não mais existia.
— Estou bem — murmurei no fim. — Voltar a Moscou será como
retornar as minhas raízes. — Ofereci um sorriso maroto, que ele não
retribuiu, e isso me irritou. — Ah, qual é, Mariano? Essa sua preocupação é
tão ridícula quanto descabida. — Me levantei, começando a me sentir
inquieta.
— Você pode se fazer de forte, mas eu te conheço — afirmou ele,
Era por isso que eu sempre o evitava; Mariano sabia me ler como
nenhum outro era capaz.
Não falei nada. Entretanto, mantive minha mão na sua.
***
Alexei nos contou que cada infiltrado recebia a missão através de uma
pequena ficha com poucas informações, porém relevantes a respeito do alvo;
o mandante transferia o pagamento online, de um modo não rastreável e, não
necessariamente precisava se mostrar, o que foi o caso do Nero. A única
coisa que descobrimos foi que o homem que o contratou tinha como apelido:
o papa. O desgraçado queria conhecer as fraquezas e os pontos fortes dos
irmãos Fratelli.
— Por que tem tanta certeza? — Peguei uma garrafinha de água —
Naquela época, eu era apenas um fantasma, Mariano, então certamente não
nesse momento, mas foi breve, porque ele logo emendou: — Além do Rossi,
Luca, Manuele e Fillipo. A sua família.
Mordi o maxilar, nervosa.
Ele estava certo.
Ter o meu destino cruzado com o deles foi o meu momento de bálsamo
depois de tantos anos de tormenta.
— Se o Nero estava colhendo informações, então obviamente estava
guardando em algum lugar — comentei, mudando de assunto. — Precisamos
descobrir o que ele estava tramando antes de a Beatrice meter uma bala na
cabeça dele.
O maldito molestava a própria irmã, então num misto de pavor e
instinto de sobrevivência a garota atirou na cabeça dele. Manuele chegou no
exato momento e decidiu levá-la com ele, tornando-se o seu protetor desde
então.
Suspirando, ele desabafou:
— No momento, tudo o que nós precisamos é descobrir a verdadeira
identidade desse papa.
A atmosfera parou.
Quando meus olhos buscaram pelo Mariano, surpreendi-me ao
encontrá-lo mais perto, a poucos centímetros do meu corpo nu.
Seu olhar tinha aquele fogo abrasador que me mantinha cativa.
cair sentado e piscar, espantado. Porém, seu espanto logo deu lugar à
devassidão quando me coloquei em seu colo, com as pernas abertas.
Deslizando as mãos, eu arrastei a camiseta dele, que logo me ajudou a tirá-la
pela sua cabeça. Nossas bocas voltaram a se unir, duelando com as nossas
línguas sedentas.
Nenhum de nós dois dizia nada.
Não havia nada para dizer, apenas para sentir.
Apertando-me em seu colo, Mariano passou a esfregar-se contra mim
fazendo-me sentir a fricção do seu jeans bem no meu ponto necessitado.
Gemi contra a sua boca.
Erguendo-me sem qualquer esforço, ele trocou de posição ao me jogar
no colchão, dessa vez ficando por cima. As tatuagens em seu peitoral
chamaram a atenção dos meus olhos gulosos; ele era tão lindo... os músculos
não eram exagerados, mas na medida certa. Apesar de ser irmão gêmeo do
Manuele, eu achava impressionante o quão distinto eles eram, tanto em
aparência quanto em personalidade. Ao menos, eu achava isso.
De repente, se afastou e terminou de retirar as suas roupas; encarei o
seu corpo completamente, sentindo-me aquecer de dentro para fora.
A maneira como olhávamos um para o outro naquele momento era
diferente... intensa.
Transar com ele era malditamente errado, mas também parecia certo.
lençóis; ainda podia sentir a minha pele vibrando e meu corpo reclamando
pela ausência do calor daqueles braços que me aprisionaram horas atrás.
Minha noite com o Mariano não se resumiu apenas ao sexo incrível que
tivemos, mas ao significado de tudo que veio depois...
Seus cuidados.
Suas promessas.
Suas declarações.
Sua intensidade.
Seu carinho tocante.
Ele não disse com todas as letras, mas senti que me amava. Esse não
era o problema, porque eu o amava também.
O que me afligia era justamente o pavor de permitir que essa coisa
entre nós dois ganhasse proporções maiores porque, talvez, não desse certo.
Eu podia lidar com o meu coração partido, mas não saberia lidar com a
decepção dos irmãos. Não saberia lidar com o julgamento deles a respeito do
meu relacionamento com o Mariano.
Não, isso definitivamente era uma péssima ideia.
Suspirando, eu me aproximei e me inclinei para poder deixar um beijo
suave em seus lábios.
— Foi a melhor noite da minha vida — sussurrei, sabendo que ele não
poderia me ouvir, já que estava dormindo. — Nunca vou me esquecer.
houve entre nós não significou nada para mim, quando na verdade significou
tudo.
Mas infelizmente o meu medo de perder a família era maior do que a
coragem de assumir o quanto o amava.
CONHEÇA OUTROS TRABALHOS
Disponíveis no site: https://amz.run/3cyZ
Eu sou dela — 3
Depois da Despedida — 4
Eu sou seu menino mau — 5
BOX com todos os cinco livros
(SÉRIE CAFAJESTE)
Um Cafajeste em Apuros — 1
Um Cafajeste no meu pé — 2
(TRILOGIA PECAMINOSO)
A proibida do CEO — 4
BOX com todos os quatro livros juntos
(LINHAGEM GONZÁLEZ)
Protetor — 1
Libertino — 2
(CONTOS)
Identidade G
Ela não pode saber — As aventuras de um noivo atrapalhado
Envolvida
(HISTÓRIAS ÚNICAS)
A Luz dos teus olhos
Insolente
De repente Casados
(DUOLOGIA SOMBRIOS)
Amarga solidão — 1
Doce libertação — 2
Box da duologia + conto fofo
(SÉRIE MÁFIA FRATELLI)
Anjo negro — 1
(PARCERIA COM A AUTORA BABI DAMETO)
Rendido pelo amor — 1
[1]
Catedral (dedicada a Nossa Senhora da Assunção), o Palácio Real (com a Capela Palatina), a Fonte
da Praça Pretória e a Praça Vilhena, conhecida também como Praça dos Quatro Cantos, por ser o ponto
de encontro das duas ruas mais importantes da cidade histórica: a Via Maqueda e a Corso Vittorio
Emanuele, separando-as em quatro cantos.
[2]
Bonnie Elizabeth Parker e Clyde Chestnut Barrow foram um casal de criminosos norte-americanos
que viajavam pela região central dos Estados Unidos da América com sua gangue durante a Grande
Depressão, roubando e matando pessoas quando encurralados ou confrontados.
[3]
A flor do alecrim está associada à coragem e fidelidade. De igual forma, significa bom ânimo,
confiança e espiritualidade. As suas flores transmitem um sentido de bem-estar e por esse motivo estão
muitas vezes presente em reuniões familiares.
[4]
O parque da Favorita ou imobiliário da Favorita é o maior parque municipal do município de
Palermo . Ele está localizado dentro da reserva natural Monte Pellegrino .
[5]
Fernando I (Nápoles, 12 de janeiro de 1751 – Nápoles, 4 de janeiro de 1825), apelidado de "Rei
Narigudo", foi o Rei das Duas Sicílias desde sua unificação em 1816 até sua morte. Anteriormente ele
foi Rei da Sicília como Fernando III de 1759 até 1816 e Rei de Nápoles como Fernando IV em três
períodos diferentes, de 1759 até ser deposto em janeiro de 1799 pela República Partenopeia, de junho
de 1799 até ser deposto novamente em 1806 por Napoleão Bonaparte, e por fim entre 1815 e 1816.