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INICIAL
Robson Dupont Rohr
Maico Alexandre Nicodem
João de Carvalho Castro
UNITERMOS
CHOQUE; CHOQUE/diagnóstico precoce; CHOQUE/manejo inicial.
KEYWORDS
SHOCK; SHOCK/early diagnosis; SHOCK/initial management.
SUMÁRIO
O choque circulatório é uma síndrome caracterizada por uma inadequada
perfusão tecidual sistêmica, e se não diagnosticado e manejado precocemente,
pode levar a falência múltipla de órgãos e a altos índices de mortalidade. Este
artigo objetiva revisar de forma breve e sistemática os tipos de choque, suas
apresentações e diagnóstico, além do manejo inicial na sala de emergência.
SUMMARY
Shock is a syndrome characterized by inadequate tissue perfusion, and if
not early diagnosed and managed, can lead to multiple organ failure and high
mortality rates. This review focuses briefly and systematically in the types of
shock, their presentations and diagnosis, beyond the initial management in the
emergency room.
INTRODUÇÃO
O choque ainda é um dos quadros clínicos mais complexos em
emergências médicas e medicina intensiva, resultando em altos índices de
letalidade devido à combinação entre diagnóstico tardio, terapêutica
inadequada e conhecimento insuficiente, mesmo com os avanços no
conhecimento das últimas décadas.1 Por se manifestar através de sinais e
sintomas inespecíficos, é necessário um alto grau de suspeição e uma avaliação
cuidadosa para o seu reconhecimento precoce a fim de corrigir as suas
disfunções, sendo que quanto mais precoce for o tratamento, melhor será o
prognóstico para o paciente.1-3
O choque, em sua definição, é uma síndrome caracterizada por uma
redução considerável da perfusão tecidual sistêmica devido a diferentes
etiologias e fisiopatologias, levando a uma baixa oferta de oxigênio e nutrientes
aos tecidos, bem como de sua efetiva utilização. A hipóxia prolongada pode
levar a morte celular, lesão de órgãos-alvo, falência múltipla de órgãos e morte.
A hipotensão é um componente importante do choque, porém não
necessariamente deve estar presente, sendo que a hipóxia celular pode ocorrer
mesmo com normotensão ou hipertensão, e o manejo agressivo para reverter o
choque e restaurar a perfusão não deve aguardar pela sua presença.4
CLASSIFICAÇÃO
O choque pode ser classificado em 4 tipos principais, baseados
tradicionalmente no seu perfil hemodinâmico: hipovolêmico, cardiogênico,
obstrutivo e distributivo. Tem sido proposta a inclusão de uma quinta categoria
que englobaria o choque secundário às causas de hipóxia histotóxica (p.ex.
intoxicação por cianeto, monóxido de carbono, ferro).1 O Quadro 1 apresenta as
principais etiologias para cada tipo de choque.
É importante ressaltar que o choque também pode ser misto. Por
exemplo, nos pacientes com choque séptico, que podem apresentar também o
componente hipovolêmico bem como cardiogênico associados.
ACHADOS CLÍNICOS
A apresentação clínica do choque varia de acordo com o tipo do choque,
sua causa inicial e a resposta orgânica a hipoperfusão e/ou hipóxia. Achados
severos são comuns a todos os tipos de choque, entretanto alguns achados
podem ser sugestivos de um tipo particular de choque.4
Um ponto importante na diferenciação clínica dos tipos de choque é
entender a diferença entre os ditos choques hipodinâmicos (frios) e
hiperdinâmicos (quentes), em que os primeiros, representados pelos choques
hipovolêmico, cardiogênico e obstrutivo, são os que apresentam baixo DC e alta
RVS, enquanto os segundos, representados pelos distributivos, apresentam
baixa RVS e DC alto.
Achados sugestivos
Hipovolêmico: Dependendo da causa, o paciente pode apresentar
hematêmese, hematoquesia, melena, náusea, vômitos, evidências de
trauma, ou ser paciente de pós-operatório. Manifestações clínicas incluem
pele, axilas, língua e mucosa oral secas, além de redução do turgor
cutâneo.4
Cardiogênico: Dependendo da causa, pode haver dispneia, dor no peito ou
palpitações. Muitos pacientes apresentam história de doença
cardiovascular. Ao exame físico pode haver crepitantes à ausculta
respiratória refletindo a congestão pulmonar, além de sopro, galope ou
abafamento de bulhas a ausculta cardíaca. Pode haver sinais de congestão
pulmonar a radiografia, sinais de isquemia miocárdica ao eletrocardiograma
(ECG) além de elevação de enzimas cardíacas.
Obstrutivo: A presença de sinais de insuficiência respiratória, enfisema
subcutâneo, ausência de murmúrio vesicular, timpanismo a percussão e
desvio de traqueia sugerem fortemente pneumotórax hipertensivo.8
Taquicardia, bulhas abafadas e estase jugular sugerem tamponamento
cardíaco. Outros sinais como dispneia, dor retroesternal, cianose e pulso
paradoxal podem estar presentes e correlacionados a TEP, coartação de
aorta, entre outros.
Distributivo: Dependendo da causa, pode haver dispneia, tosse produtiva,
disúria, hematúria, calafrios, mialgias, dor, história de picada de insetos ou
trauma raquimedular. Ao exame físico, o paciente pode apresentar febre,
taquipneia, taquicardia, petéquias, alteração do estado mental, rubor, e
leucocitose ao hemograma.
APROXIMAÇÃO AO DIAGNÓSTICO
O diagnóstico do choque é eminentemente clínico, reconhecendo através
de uma avaliação clínica cuidadosa os sinais precoces de perfusão e oxigenação
teciduais inadequadas. Este é o primeiro passo para o sucesso no tratamento.
Quando houver a suspeita de um paciente estar em choque, o diagnóstico
deve ocorrer ao mesmo tempo em que a ressuscitação. Os esforços para
restaurar a perfusão jamais devem ser retardados em detrimento da coleta da
história, exame físico ou realização de exames laboratoriais ou de imagem. 4 A
abordagem inicial deve ser dinâmica, com medidas diagnósticas e terapêuticas
ocorrendo simultaneamente, visando corrigir o déficit da perfusão tecidual e
prevenir lesão adicional.1
História médica
Pode trazer informações valiosas e deve ser direcionada à procura da
etiologia do choque, fornecendo assim subsídios para a terapêutica mais
adequada e eficaz para essa síndrome.2 A discussão com o paciente ou
familiares deve centrar em sintomas sugestivos de depleção de volume, história
de trauma, doença cardiovascular, focos infecciosos, medicações em uso, além
de possível reação anafilática ou intoxicação aguda.
Exame físico
Deve ser eficiente e direcionado para descobrir o tipo, severidade e causa
do choque. Os achados não são sensíveis nem específicos para identificar a
causa, mas se bem realizado e focado nos sinais sugestivos, o exame físico é de
grande valia para fornecer pistas iniciais.4
Exames complementares
Ajudam a identificar a causa do choque e falência orgânica. Devem ser
realizados precocemente na avaliação, mesmo no choque ainda indiferenciado.
Exames laboratoriais: devem incluir hemograma, eletrólitos, ureia,
creatinina, função hepática, amilase, lípase, coagulação, d-dímeros, enzimas
cardíacas, gasometria arterial, screening toxicológico e lactato arterial.
Tipagem sanguínea e provas cruzadas serão úteis nos pacientes candidatos
à transfusão devido à hemorragia.4
ECG e Radiografia de tórax são mandatórios. Radiografia de abdômen, TC
abdominal, ecocardiograma e exame de urina podem ser auxiliares.4
Culturas de possíveis sítios de infecção devem sempre ser solicitadas na
suspeita de choque séptico. A bacterioscopia pode auxiliar na busca do foco
infeccioso enquanto se aguardam os exames culturais.4
CONCLUSÃO
Mesmo com importantes avanços no entendimento do choque, suas taxas
de mortalidade continuam altas. Faz-se necessário que médicos e outros
profissionais da saúde estejam atentos aos sinais sugestivos de hipoperfusão,
visto que, o diagnóstico precoce, a ressuscitação agressiva e a interrupção da
causa base são a melhor abordagem no manejo destes pacientes.
REFERÊNCIAS
1. Dias FS, Rezende E, Mendes CL, et al. Choque circulatório. Rio de Janeiro: Revinter; 2008.
2. Sanga RR, Martins HS. Hipotensão e choque. In: Martins HS, et al. Emergências clínicas: abordagem
prática. 5. ed. ampl. e rev. Barueri: Manole; 2010. p. 76-94.
3. Felice CD, Susin CF, Costabeber AM, et al. Choque: diagnóstico e tratamento na emergência. Rev
AMRIGS 2011 Abr-Jun; 55(2):179-96.
4. Gaieski D, Parsons PE, Finlay G. Shock in adults: types, presentation and diagnostic approach.
UpToDate Online. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/shock-in-adults-types-
presentation-and-diagnostic-approach?source=search_result&search=shock&selectedTitle=1~150.
[acesso 29 abr. 2014].
5. Rapp JH, Owens CD, Johnson MD. Blood vessel & lymphatic disorders: shock. In: Papadakis MA,
McPhee SJ, Rabow MW. Current medical diagnosis & treatment. 53 rd ed. New York: McGraw-Hill:
2014. p. 485-89.
6. Rivers EP. Approach to the patient with shock. In: Goldman L, Schafer AI. Goldman’s Cecil Medicine.
24. ed. Philadelphia: Elsevier; 2012. p. 645-54.
7. Siqueira BG, Schmidt A. Choque circulatório: definição, diagnóstico e tratamento. Medicina
2003;36:145-50.
8. American College of Surgeons. Committee on Trauma. Advanced Trauma Life Support Course for
Doctors: student course manual. 8. ed. Chicago: American College of Surgeons; 2008.