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Com efeito, a competência em razão da matéria para as providências cautelares, instauradas como
incidente, como a generalidade das questões processuais que lhes digam respeito, não tem
autonomia porquanto o procedimento cautelar está na dependência da acção principal nos termos
dos art.º 91º, nº 1 e 364º, nº 3, do CPC.
Por isso, o tribunal que for materialmente competente para conhecer da acção é também
competente para conhecer dos seus incidentes, e procedimentos cautelares mesmo que sejam
preliminares à propositura da acção de que dependam[1].
Caso essa causa seja uma execução (como pretende o tribunal a quo), o tribunal competente será
o juízo de execução, conforme decisão, além do mais, deste mesmo coletivo por acórdão de
9.1.2019 in processo 812/05.9TBMCN-B., que decidiu que “O tribunal de família não é
materialmente competente para executar uma sentença proferida num processo de inventário.
Mas, caso esse processo principal seja o processo de inventário intentado por causa da dissolução
do casamento será, também, simples concluir que o tribunal competente é o tribunal de
família[2].
Isto porque, após inúmero conflitos de competência é actualmente pacifico que compete ao
tribunal de família, por força do disposto no artigo 81.º, alínea c) da Lei de Organização e
Funcionamento dos Tribunais Judiciais (Lei n.º 3/99, de 13 de Janeiro) tramitar os inventários na
sequência de divórcio, mesmo que requerido na Conservatória do Registo Civil.[3]
Importa, por isso determinar qual é a acção principal em relação a este procedimento cautelar.
O principio da dependência dos procedimentos cautelares pressupõe a existência de uma acção já
pendente ou de outra que possa vir a ser instaurada no prazo de caducidade previsto no art. 373º,
do CPC.
Isso é o que decorre do principio da coincidência em matéria de competência do Tribunal,
consagrado no art. 364º, do CPC, nos termos do qual a competência para o procedimento depende
da acção principal[5].
Abrantes Geraldes[6] (a propósito do art. 383º do CPC antigo e cuja redacção era idêntica à do nº
2 e 3 do actual art.º 364) afirma: “nestes casos, a competência por conexão sobrepõe-se aos
restantes critérios”.
Mas, mais importante, importa ter em conta que o procedimento é apenso ou a uma acção
existente (é o caso para todos os efeitos deste inventário, cuja tramitação e recurso cabe ao
tribunal de família), ou a uma cuja instauração seja a consequência lógica e necessária do direito
cujo exercício se procura salvaguardar.
Isto é, a dependência do procedimento face ao processo principal, visa precisamente proteger os
efeitos do direito deste.
Depois, o processo civil é um ramo do direito instrumental que visa exercer a liberdade
contratual, com o natural respeito pela vontade das partes. Por isso, em caso de dúvida sobre qual
seria a acção principal, o tribunal deveria ter dado preponderância ao principio do dispositivo,
nos termos do qual sempre caberia à parte optar pela concreta forma de tutela do seu direito. Ora,
analisando o requerimento inicial nunca se faz menção a qualquer execução, mas pelo contrário
descreve-se com precisão toda a tramitação do inventário que deu origem à alegada necessidade
de instaurar o procedimento de arresto.
Acresce que, nos procedimentos cautelares existem factores de celeridade e efectividade no
exercício de direitos, os quais, em regra não se compadecem com grandes demoras (arts 3 e 6.º do
CPC). Logo, em caso de dúvida sobre a efectiva natureza da acção deveria ter sido cumprida a
tramitação do art.º 364º, nº 2, do CPC, quando aí se estabelece que o procedimento (antecipado
requerido antes de proposta a acção… é apensado aos autos desta, logo que a acção seja
instaurada e se a acção vier a correr noutro tribunal, para aí é remetido o apenso, ficando o juiz
da acção com exclusiva competência para os termos subsequentes à remessa».