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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DO SISTEMA DOS


JUIZADOS ESPECIAIS DO CONSUMIDOR DA COMARCA DE SALVADOR – BAHIA

Processo nº 0103937-47.2019.8.05.0001

FACS SERVIÇOS EDUCACIONAIS LTDA., já qualificada nos autos em epígrafe, por


intermédio dos seus advogados devidamente constituídos, vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, opor Embargos à Execução, com fulcro no art. 52, IX da Lei nº 9.099/95 e art. 525, § 1º, do
Código de Processo Civil, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

1. DA GARANTIA DO JUÍZO
De início, cumpre informar que a presente execução está garantida conforme guia de
depósito e comprovante de pagamento anexo.
Destarte que o valor executado pela exequente é de R$ 21.438,07 (vinte e um mil
quatrocentos e trinta e oito reais e sete centavos), decorrente da condenação da executada ao pagamento
de restituição de valores pagos a título de atividades complementares.
Sendo assim, estando garantida a execução, é plenamente cabível a oposição dos Embargos à
Execução.

2. DO EFEITO SUSPENSIVO
Desde já, pugna a executada pela atribuição de efeito suspensivo à presente execução, posto
que já há a garantia do juízo, conforme acima relatado, bem como pelos fundamentos que serão
apresentados nestes embargos.

SALVADOR BRASÍLIA
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SÂO PAULO
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Assinado eletronicamente por: ROBSON SAN TANA DOS SANTOS;
Código de validação do documento: 84a2207c a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.
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Conforme disposto no art. 525, § 6º, do Código de Processo Civil, aplicado subsidiariamente
ao procedimento dos juizados especiais, pode ser atribuído efeito suspensivo na execução, quando houver
requerimento do executado, garantia do juízo, fundamentos relevantes e caso o prosseguimento da
execução causar dano de difícil ou incerta reparação.
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-
se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou
nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
§ 6º A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos, inclusive
os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que garantido
o juízo com penhora, caução ou depósito suficientes, atribuir-lhe efeito suspensivo, se
seus fundamentos forem relevantes e se o prosseguimento da execução for
manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta
reparação.

Conforme será demonstrado, é inexigível o valor executado pela parte exequente, posto que
não há comprovação de cobrança das referidas “atividades complementares”.

3. DA RESUMO DA DEMANDA
Em apertada síntese, trata-se de demanda promovida pelo exequente requerendo a
restituição de valores pagos a título de atividades complementares, alega que foi discente da executada, e
que durante o período do curso foi cobrado por atividades complementares, requerendo devolução de
tais valores e condenação da parte ré ao pagamento de condenação por danos morais.
Em sentença, a ação foi julgada parcialmente totalmente improcedente.
Interposto Recurso Inominado pela parte autora/exequente, foi dado provimento ao recurso
para determinar a restituição de valores pagos de forma simples, observando a prescrição trienal, sem
condenação em ao pagamento de danos morais.
ISTO POSTO, ante as razões acima alinhadas, CONHEÇO E DOU PROVIMENTO
PARCIAL AO RECURSO DA PARTE AUTORA, para reconhecer a abusividade da
cobrança pela mera validação de atividades complementares externas como matéria
componente da grade semestral, condenando a ré na devolução simples dos valores
pagos a esse título, observando a prescrição trienal, afastando os danos morais e a
devolução em dobro.

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Iniciada a fase de execução, foi executado pela exequente o importe de R$ 21.438,07 (vinte
e um mil quatrocentos e trinta e oito reais e sete centavos).
Ocorre que, conforme será demonstrado, não há demonstração nos autos de que a exequente
pagou pelas referidas atividades complementares, ou o quanto pagou, não sendo possível saber o quanto
é devido em sede de execução.

4. DA PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO TRIENAL


Por se tratar de matéria de ordem pública, podendo ser suscitada a qualquer tempo e grau de
jurisdição, necessário chamar atenção acerca da prescrição constante nos autos.
Da análise dos autos, verifica-se que o valor que pretende ser ressarcida a exequente foram
quitados entre os anos de 2015 e 2019, sendo a ação distribuída apenas em 04/07/2019.
Importante frisar que, já há entendimento nas Turmas Recursais dos Juizados Especiais do
Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, que o prazo prescricional aplicável ao caso é de três anos:
EMENTA RECURSO INOMINADO. DEFESA DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS. AFIRMAÇÃO DE COBRANÇA DE
MENSALIDADE EM VALOR SUPERIOR. NEGATIVA DE REEMBOLSO.
HISTÓRICO CURRICULAR QUE DEMONSTRA QUE A AUTORA EXCEDEU
CRÉDITOS DE MATÉRIAS CURSADAS. RESTITUIÇÃO EM DOBRO DO VALOR
INCONTROVERSO DETERMINADO EM SENTENÇA. NEGATIVA DE REEMBOLSO
SOLICITADO ADMINISTRATIVAMENTE. DANO MORAL CONFIGURADO.
SENTENÇA REFORMADA EM PARTE. RECURSO PROVIDO EM PARTE. (...)
Importante ressaltar ainda que esta Turma Recursal aplica a regra de prescrição trienal
para o presente caso nos termos do art. 206 § 3° inciso V do Código Civil. RECURSO Nº
0176402-25.2017.8.05.0001 RECORRENTE: KAMYLA BARRETO RODRIGUES
RECORRIDO(A): FACS (UNIVERSIDADE SALVADOR - UNIFACS) - DRA KARLA
KRISTIANY MORENO DE OLIVEIRA PRESIDENTE RELATORA

Não obstante, em sede de julgamento do Recurso Inominado, na decisão monocrática que


deu provimento ao recurso, foi fixado pelo juízo relator que a restituição deve observar a prescrição
trienal.
Nesse ínterim, se os valores que a exequente pretende ver restituídos foram quitados entre
2015 e 2019, e a ação só foi distribuída em 04/07/2019, e sendo o prazo prescricional de três anos, parte
da pretensão executória (anos de 2015 e 2016) se encontra fulminada pela prescrição.
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Assim, deve ser acolhida a prescrição suscitada declarando inexigível a restituição pretendida
nos autos, posto que a ação só foi ajuizada após o lapso do prazo prescricional.

5. DO MÉRITO
Trata-se, aqui, de uma ação proposta por aluno da instituição de ensino ré, na qual o
contratante alega ter sido cobrado indevidamente por “ATIVIDADES COMPLEMENTARES”. Não se
fará, aqui, repetição dos termos da contestação, porque a peça defensiva está muito bem lançada e bem
evidencia toda a celeuma em torno das mencionadas “atividades complementares”. Mas é importante que
se tenha em mira que a pretensão ressarcitória deduzida pela parte autora tem como causa de pedir duas
alegações, a saber:

1ª causa de pedir – Que a cobrança por “atividades complementares” é indevida (ilícita).


2ª causa de pedir – Que houve cobrança por “atividades complementares” em relação a ela,
parte autora.

Não cabe, aqui, discutir a licitude ou ilicitude da cobrança em tese. Esta discussão, ou seja, a
discussão, em tese, acerca da legalidade da cobrança por “atividades complementares”, conquanto ainda
não tenha sido finalizada, está se desenvolvendo no âmbito do Pedido de Uniformização de Interpretação
de Lei Cível (rectius, Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas) nº 8000241-85.2020.8.05.9000,
em relação ao qual pende de apreciação o recurso extraordinário interposto pela ora peticionante contra
o acórdão concebido pela Turma de Uniformização, que não é dotado de efeito suspensivo automático.
Nessa toada, para o que interessa ao presente processo, por força do quanto decidido naquele
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas nº 8000241-85.2020.8.05.9000, tem-se como premissa,
pelo menos até o julgamento do mencionado recurso extraordinário, que a cobrança, em tese, por
“atividades complementares” se afigura ilícita.
O fato é que, embora a 1ª causa de pedir do presente processo, que envolve matéria
exclusivamente de direito, esteja caracterizada (por força da decisão do citado incidente), não há, nestes
autos, absolutamente nada que prove ter havido cobrança por “atividades complementares” da parte
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autora deste processo. Significa dizer que a 2ª causa de pedir não está demonstrada, levando-se em
consideração de que não restou comprovado na fase de conhecimento tais cobranças, sequer
conseguindo-se obter o quanto foi cobrado, sendo apresentado cálculos completamente aleatórios, sem
nenhum critério ou parâmetro para apuração do quanto fora cobrado.
Neste ponto, cabe destacar que os parâmetros adotados pela parte autora, para verificar os
valores pagos a título de atividades complementares, foi baseado no número de horas exigidas de
atividades extracurriculares, que faz de parte todo curso de ensino superior, aplicando simples regra de
três, sem que haja qualquer comprovação da veracidade das horas ali calculadas.
Os valores pagos pelo curso sequer são contabilizados pelas horas cursadas, mas sim pelos
créditos acadêmicos referentes a cada disciplina cursada. Frisa-se que, os créditos de atividades
complementares são componentes acadêmicos, mas não são computados como componentes financeiros,
desta forma, não integralizam os valores finais das mensalidades.
E foi, justamente, por perceber que a esmagadora maioria dos magistrados dos Juizados
Especiais, lamentavelmente, rogata maxima venia, não estava tendo o cuidado de analisar a 2ª causa de
pedir concretamente, ou seja, não estava tendo o cuidado de verificar se, de fato, a parte autora do
processo foi efetivamente cobrada por atividades complementares, que a ora peticionante, naquele
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas nº 8000241-85.2020.8.05.9000, interpôs embargos de
declaração do acórdão concebido, para que houvesse manifestação especifica acerca da necessidade de,
em cada caso concreto, haver demonstração de cobrança efetiva por “atividades complementares”.
Conquanto a Turma de Uniformização tenha tentado sair pela tangente acerca do ponto
omisso sobre o qual foi provocada a se manifestar, o fato é que constou expressamente no acórdão que
julgou o recurso horizontal que é “óbvio que a cobrança só poderá ser declarada ilícita quando
comprovada sua ocorrência.” (sic) Cumpre, a este respeito, transcrever todo o parágrafo do acórdão onde
o requisito para a condenação foi enfatizado:
No tocante à apontada omissão de que não teria sido explicitado que a cobrança da
matéria como disciplina independente teria que ser demonstrada pelo aluno
demandante para a hipótese de procedência, tal qual ressalvado quanto ao dano moral,
não procede. O tema a ser dirimido para fins de uniformização da jurisprudência foi a
legalidade/ilegalidade da cobrança da validação das atividades complementares como
matéria componente da grade semestral, definindo-se no sentido de sua ILEGALIDADE,
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apenas sendo feita ressalva quanto à prova do dano moral por se entender que, quanto a
este, justamente por depender da circunstância fática, não caberia a uniformização a
respeito do subtema. Desse modo, a decisão não padece de qualquer omissão, sendo
óbvio que a cobrança só poderá ser declarada ilícita quando comprovada sua ocorrência.
(grifamos)

Dito tudo isto, a partir do que foi afirmado pela Turma de Uniformização ao julgar os
embargos de declaração, no sentido de que é “óbvio que a cobrança só poderá ser declarada ilícita quando
comprovada sua ocorrência” (sic), é fundamental ter em mira, na análise do presente processo,
independentemente da existência ou não de um provimento condenatório que determine à ré a
restituição do valor correspondente às “atividades complementares”, que não haverá o que se restituir se
não houver prova do pagamento por “atividades complementares”, como, de fato, não há, sendo um
caminho natural, devido ao julgamento de procedência da ação, que a liquidação do julgado seja igual a
zero, pois, repise-se não há comprovação do pagamento das referidas atividades complementares.
Vale lembrar que a liquidação de valor igual a zero não é nenhuma novidade doutrinária ou
jurisprudencial. Em razão da riqueza da abordagem, faz-se, a seguir, transcrição de eloquente artigo do
Procurador do Estado do Acre Thomaz Carneiro Drumond, publicado em Migalhas1:
Uma situação intrigante é a possiblidade de a liquidação de uma sentença condenatória
resultar em quantum debeatur igual a zero. Na prática, o executado nada deverá apesar
de ter, contra si, transitada em julgado sentença que julgou procedente pedido
indenizatório ou pedido para realizar uma obrigação. A doutrina nomeia esta hipótese
de várias formas como liquidação zero, igual a zero, liquidação sem dano, ou até mesmo
liquidação sem resultado positivo. (grifamos)

O pedido deve ser determinado (art. 324, CPC), dimensionando seu alcance e extensão.
Porém, o § 1º permite que o autor realize pedido genérico (i) nas ações universais, se o
autor não puder individuar os bens demandados, (ii) quando não for possível
determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; ou (iii) quando a
determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser
praticado pelo réu. São hipóteses em que não seria viável exigir que o magistrado
prolatasse decisão líquida1.

A regra é a decisão julgadora seja líquida, apontando o an debeatur e o quantum


debeatur. É o que se extrai do caput do art. 491 do CPC, que dispõe que na ação de pagar
quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão

1
https://www.migalhas.com.br/depeso/358526/liquidacao-igual-a-zero-liquidacao-sem-dano-ou-sem-resultado-
positivo, acessado em 20/04/2022.
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da obrigação. Porém, o próprio dispositivo excepciona esta regra indicando situações em


que a decisão poderá ser ilíquida, nas hipóteses de (i) não ser possível determinar, de
modo definitivo, o montante devido, ou ainda (ii) quando a apuração do valor devido
depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa,
assim reconhecida na sentença.

A conclusão é que a decisão poderá ser ilíquida nos casos das exceções do art. 491 e nas
apreciações de pedidos genéricos do art. 324, § 1º, da lei processual, na circunstância de
o magistrado não conseguir apurar, na fase de cognição, a extensão devida.

Contextualizando, há exemplos em que se condena um réu a indenizar o autor, mas


excepcionalmente posterga-se a mínima ou exata mensuração do dano para a liquidação,
seja em razão de pedido genérico, seja em razão das mais variadas situações em que se
torna impossível apurar definitivamente o dano em razão do risco de demora da
prestação jurisdicional, por exemplo. Ocorre não apenas em obrigações de valor
pecuniário (quantia certa), mas também em outras em que não se estipule na sentença a
extensão, medida, quantidade da obrigação a ser prestada pelo devedor.

Nesses casos, a liquidação será uma fase anterior e indispensável para o início de um
futuro cumprimento de sentença, já que inserida em um processo sincrético. Seu
resultado declarará o elemento faltante do título judicial - o quantum debeatur -
tornando-o agora, além de certo, líquido, e, se for o caso, exigível com a implantação do
termo, para se viabilizar a tutela executiva.

Obtendo-se o resultado da liquidação, é possível que se conclua que não houve qualquer
dano ou que nenhum valor é devido, o que impossibilitará o início de um cumprimento
de sentença. O processo judicial, portanto, extingue-se nesta fase aparentemente
prematura, já que não há uma obrigação pendente de cumprimento. Sem dúvida, uma
situação que causa estranheza. A liquidação apurou resulta zero. O condenado nada
deve, na prática. (grifamos)

[...]

Haveria uma cisão entre o reconhecimento do an debeatur na fase de conhecimento, e


postergação do quantum debeatur para a liquidação, em razão de alguma situação que
impeça que estas atividades cognitivas se realizem na mesma fase processual. Na prática,
o credor que fora vencedor na fase cognitiva teve seu direito reconhecido, mas houve
uma postergação da obtenção do montante devido para a liquidação, por várias situações
justificáveis previstas na lei processual.

O resultado da apuração poderá produzir débito igual a zero, como fruto de um


procedimento concluído. Há uma regular liquidação, com seu efeito típico, mas ocorre
uma declaração de que o valor devido é zero - não como uma impossibilidade de
liquidação, mas com conclusão de uma liquidação realizada em que inexiste o dano.
Logo reconhece-se uma obrigação, mas que sua liquidação, por mais estranho que possa
parecer, resultou em dívida zero. (grifamos)
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[...]

Existe um questionamento acerca da impossibilidade de resultar em liquidação zero por


suposta violação à vedação ao non liquet, estampada no art. 140 do CPC. Este argumento
é afastado porque não há uma omissão de julgamento, mas situação em que não se
mostraria possível, em tese, a mensuração do dano (quantum debeatur) ainda na
sentença e que sua postergação seria autorizada pela lei. Houve, sim, julgamento - ainda
que incompleto -, reconhecendo-se ao menos o an debeatur (existência de uma dívida).
Repise-se, por outro lado, que se em cognição exauriente o magistrado compreendeu
não haver prova do dano ou da existência dívida, a improcedência do pedido é imperiosa,
não havendo se falar sequer em liquidação.

Outra questão relevante surge: há afronta à coisa julgada na liquidação igual à zero?
Afinal, condenar um devedor a indenizar o credor e, após, dizer que ele nada deve,
parece ser uma situação violadora do dispositivo sentencial, encontrando provável óbice
no art. 509, § 4º, do CPC, diz que na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou
modificar a sentença que a julgou. (grifamos)

A resposta é negativa. Não há uma modificação da sentença, mas descobre-se que o valor
devido é igual a zero, já que postergada sua apuração. Na prática, há uma frustração da
expectativa do credor, o que com certeza de uma perplexidade, já que a sentença da fase
de conhecimento teria uma eficácia puramente normativa. (grifamos)

Em seu Código de Processo Civil Anotado (2018), ao comentar o regime jurídico da


liquidação de sentença, o Professor Humberto Theodoro Júnior faz referência a julgado
do STJ que afasta a alegação de violação à coisa julgada sob o fundamento de que a
liquidação zero, ainda que seja uma situação não desejável, tem o condão de adequar à
realidade uma sentença condenatória que, por ocasião de sua liquidação, mostra-se
vazia, porquanto não demonstrada sua quantificação mínima e, por conseguinte, sua
própria existência.

Em diversas ocasiões, o STJ reconheceu a possibilidade de liquidação zero, indicando-


se, por todos, o Recurso Repetitivo REsp 1347136 (Temas 613 e 733 do STJ), que analisa
diversos precedentes da Corte Cidadã que reforçam a sua aplicação no direito processual
brasileiro. (grifamos)

[...]

Porém, certamente haverá situações em que o magistrado, em vez de proceder ao correto


exame das provas e acertamento do débito na sentença, em desacordo com as hipóteses
da lei postergará a apuração de um dano para liquidação, em pretensa celeridade
processual. E, na liquidação, atingindo-se o valor zero, se perceberá a incorreção do
procedimento adotado e que o pedido condenatório deveria ter sido, na verdade, julgado
improcedente na fase de conhecimento.

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Por isso é que considero extremamente feliz a constatação de Fredie Didier Jr. ao alertar
que a liquidação zero pode ocorrer, provavelmente, porque "na fase cognitiva inicial não
foram investigadas a contento as circunstâncias de fato que supostamente alicerçavam
o direito afirmado pelo credor. O suporte fático do an debeatur não estava completo e a
deficiência da análise cognitiva termina por resultar numa decisão que firma um
preceito equivocado." (grifamos)

De forma pertinente, conclui que "o problema é que muitas vezes esse equívoco somente
se revela durante a liquidação".2

Nesse ínterim, necessário ser observado por este juízo que o exequente, durante o processo
de conhecimento, não comprova o efetivo pagamento das referidas “atividades complementares”, sequer
de que foi cobrado pelas referidas, suas alegações são lastreadas em documentos sem a menor validade
processual ou lógica matemática.
Ainda que houvesse no caso dos autos cobrança por atividades complementares, a apuração
dos valores pagos a tal título não pode ser feita por simples cálculos aritméticos, sendo necessária a
realização de perícia contábil para apurar se de fato houve tal cobrança/pagamento e o quanto foi
cobrado/pago, o que é incabível em sede de juizados especiais devida a especificidade da prova e
celeridade do procedimento.
É dizer, o parâmetro utilizado para encontrar o valor executado neste procedimento, é
completamente aleatório, pois, conforme já exposto acima, o valor das mensalidades não é apurado pelas
horas do curso, e sim pelos créditos de cada disciplina, se tornando dificultoso, ainda mais, apurar tal
cobrança, pois o curso da exequente é na modalidade seriada, em que a cobrança é feita com base na grade
fechada do semestre.
Diante da ausência de tais comprovações, o resultado da liquidação deste procedimento
executório, está alinhado ao que foi exposto acima, qual seja a liquidação igual a zero.
A viabilidade destes Embargos à Execução, encontra respaldo na disposição contida no art.
525, § 1º, III do Código de Processo Civil, tendo em vista que, se estamos diante de liquidação igual a
zero, o título é inexequível.

2
https://www.migalhas.com.br/depeso/358526/liquidacao-igual-a-zero-liquidacao-sem-dano-ou-sem-resultado-
positivo, acessado em 20/04/2022.
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Sendo assim, é imperioso o julgamento procedente dos presentes Embargos à Execução


opostos, para determinar a extinção da execução, com resolução de mérito, devendo ser fixado que o valor
devido a título de restituição é igual a zero, diante da ausência de qualquer comprovação pelo exequente
de que foi cobrado pelas referidas “atividades complementares”.

6. DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
a) o recebimento dos presentes Embargos à Execução, com fulcro no art. 52, IX da Lei nº
9.099/95, e atribuição de efeito suspensivo, conforme art. 525, § 6º do CPC, posto que já houve garantia
do juízo, e pelos fatos e fundamentos apresentados;
b) o acolhimento da prescrição suscitada, tendo em vista o decurso do prazo prescricional
aplicável ao caso em espeque;
b) a procedência dos presentes Embargos à Execução, para determinar a extinção da
execução, com resolução de mérito, e fixar o devido a título de restituição em valor igual a zero.
Requer-se, por fim, que a exclusividade das publicações e intimações em nome do patrono
da requerida, Bel. Robson Sant’ana, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção da Bahia sob o nº
17.172-BA, sob pena de nulidade.

Termos em que
Pede deferimento.
Salvador/Bahia, 23 de maio de 2022.

ROBSON SANT’ANA
OAB nº 17.172-BA

SALVADOR BRASÍLIA
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SÂO PAULO
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Assinado eletronicamente por: ROBSON SAN TANA DOS SANTOS;
Código de validação do documento: 84a2207c a ser validado no sítio do PROJUDI - TJBA.

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