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A.

Princípios

7 [F1 ] A natureza do kosmos foi agregada a partir de


ilimitados (Apeiron) e limitadores (perainónton), tanto < no >
inteiro kosmos quanto todas as coisas nele.

8 [F2] É necessário que as coisas existentes sejam todas ou


limitadoras ou ilimitadas, ou ao mesmo tempo limitadoras e
ilimitadas, mas nem em todos os casos apenas ilimitadas. Ora,
como é evidente que eles não são feitos de todos os limitadores
ou de todos os ilimitados, é claro que tanto a ordem do mundo
quanto as coisas nela são construídas seja a partir de limitadores
quanto de ilimitados. As acções das coisas também deixam isso
claro. As coisas compostas de limitadores limitam; as de ambos,
de limitadores e ilimitados, limitam e não limitam; e aquelas a
partir dos ilimitados parecerão ilimitados.

9 Filolau, o pitagórico [disse que os princípios são] o limite e o


ilimitado.

10 As coisas carentes são regidas pelas mais divinas e um só


mundo é produzido pela harmonia dos contrários, sendo
construído a partir de limitadores e ilimitados, segundo Filolau.

11 [F3] Quanto à natureza (physis) e à Harmonia, é assim: o


ser das coisas (éstó tó pragmáton), sendo eterno, e a própria
natureza (physis) admite o conhecimento divino (Theian ga)
mas não o humano (anthropopínen); embora não seja possível
que alguma das coisas que existem e são conhecidas por nós
pudesse ter vindo a ser, a menos que o ser das coisas, das quais
o kosmos é composto, existisse — a saber, limitadores e
ilimitados. E como os princípios (arkhai) não eram iguais nem
do mesmo tipo, era impossível organizá-los sem que houvesse
uma harmonia, fosse qual fosse. Ora, as coisas semelhantes e da
mesma espécie não necessitavam de Harmonia, mas as coisas
que dissemelhantes e de um tipo e classificação diferentes, estea
tinham que ser combinados através da harmonia, se quisessem
ser mantidas num Kosmos (numa bela ordem).

12 [F4] Nada se poderá saber, se todas as coisas forem


ilimitadas.

13 [F5] É cevidente que todas as coisas conhecidas têm


número. Pois sem tal não é <possível> que qualquer coisa possa
ser pensada ou conhecida.

14 [F6] De facto há dois tipos de números, o ímpar e o par, e


um terceiro, misto, o par-ímpar. Existem diversas formas de
cada tipo, em que cada coisa por si significa.

15 Arquitas e Filolau chamam à unidade mónada e a mónada


unidade, sem fazer distinção.
[F7] A magnitude da harmonia é a quarta e a quinta. A quinto
é maior que a quarta numa proporção de 9:8. Do tom mais
baixo ao meio é uma quarta; do meio para o mais alto é um
quinta. Da corda mais alta à terceira é uma quarta, e da terceira
corda à mais baixa é uma quinta. O intervalo entre a corda do
meio e a terceira corda está na proporção 9:8, a quarta na
proporção 4:3, a quinta 3:2 e a oitava 2:1. Assim, a harmonia é
de cinco tons e dois semitons. A quinta é três tons e um
semitom. A quarto é dois tons e um semitom.

19 [F8 ] A primeira coisa construída, aquela que está no meio


da esfera, chama-se lareira (Héstia).

20 Eles dizem claramente que quando o 1 foi composto, seja de


planos, seja de superfícies, ou de uma semente, ou não sabem
de quê, imediatamente a parte mais próxima do ilimitado
(Apeiron) foi desenhada e limitada pelo limite (pératos).

21 Os pitagóricos também diziam que havia um vazio (Kénon),


e que ele entrava no céu do ar sem-limites (apeiron
pneúmatos), como se fosse inspirado. O vazio distingue a
phúsis das coisas, como sendo a causa da separação e distinção
da série das coisas (phúsis). E isso se aplica principalmente aos
números [árithmois]; pois o vazio (kenon) distingue as suas
próprias phúsis.
22 No seu primeiro livro Sobre a filosofia de Pitágoras
[Aristóteles] escreve: "O céu (ouranon) é (o) Um, e nele do
ilimitado (apeiron) são atraídos o tempo (chronón), a respiração
(pnoén) e o vazio (kénon), que o vazio distingue o lugar de cada
coisa respectivamente".

23 [F9] Das Bacantes de Filolau: O kosmos é Um. Começou a


engendrar-se a partir do meio, e do meio para cima da mesma
maneira que para baixo, < e> as coisas acima do meio foram
dispostas opostas às de baixo. Pois a parte mais baixa está para
as coisas de baixo como a parte mais alta [para as coisas de
cima], e as outras partes estão dispostas da mesma forma. Pois
as partes correspondentes têm a mesma relação com o meio,
excepto que as suas posições estão invertidas.

38 [Fn ] Então, alguns pensamentos e emoções (pathé) não


dependem de nós, nem as acções realizadas em resposta a tais
pensamentos e cálculos (logismoús), mas como disse Filolau,
alguns Logos são mais fortes do que nós. 1

39 Pitágoras e Filolau [disseram que a anima (daimon/


psykhé ?) era] uma harmonia.2

40 E há outra visão sobre a psúkhé/daimon que também é


transmitida. . . pois dizem que é uma espécie de harmonia. De

1 Logos can range from word, speech or discourse to the reasoning or


reckoning that lies behind the discourse, to the measure, proportion, or law
of nature in the world that our reasoning discovers (see e.g. Kirk 1954:
37ff). Burkert (1972: 185) thinks the apophthegm refers to "daemonic"
forces and suggests that it implies that humans are surrounded by "stronger
powers." He connects it with the Pythagorean view mentioned by Aristotle
that souls are like motes in a beam of light. Thus he appears to take the
reference to be to "reasonings" which are known to the daemonic powers
but not us. Given Philolaus' interest in number and music we might suppose
that "ratio" or "proportion" was a possible meaning. Some proportions or
numerical formulas might be "stronger than us" in that we are not able to
grasp all the ways in which they govern our world, or the implication might
be that they control the world independent of our wishes. Such epistemic
modesty would be in accord with Philolaus' tone elsewhere. (Huffman 334)

2 we might speculate that Philolaus did believe that the soul was immortal,
but had a different name for this soul than psúkhé. The psúkhé would be a
specific attunement of material principles responsible for giving a particular
animal body the ability to move and breathe, and would hence perish when
those material principles became disordered. However, there might still be a
different "soul" in the body which does survive and is immortal. This idea
might be supported by the fact that Philolaus separates "intelligence" from
psúkhé in F13. Moreover, we have almost a precise parallel for this in
Empedocles, who clearly believed in transmigration, but seems to call the
transmigrating soul not psúkhé, which for him too is a certain mortal
combination of elements in the heart, but rather daimón. (Huffman 331)
facto a harmonia é uma mistura e um composto de contrários, e
o corpo é composto de contrários.

F13 A cabeça (Kephala) [é a sede] do intelecto (nóou), o


coração (kardia) da vida (psúkás)3 e da sensação (aisthésios), o
umbigo (omphala) do enraizamento e do primeiro crescimento,
os órgãos genitais da semeadura da semente e da geração. O
cérebro [contém] a arkhé do homem, o coração a dos animais
(zóou), o umbigo a das plantas, os genitais a de todos (os seres
vivos). Pois todas as coisas florescem e crescem da semente
(spérmatata).

F20 Os pitagóricos dedicam a hebdomada [o número 7] ao


líder do universo, que é o um, e Orfeu é testemunha disso
quando diz: Hebdomada, que o senhor que trabalha de longe,
Apolo, amou. Mas dissemos antes que aquele é misticamente
chamado Apolo, porque ele (Apollon) está separado dos muitos
(Apothen tón pollón), que está sozinho. Então, Filolau
corretamente chamou ao número 7 órfão. Pois somente ela não
tem natureza de gerar nem de ser gerada. Mas o que não gera
nem sé gerado é imóvel. Pois a geração envolve movimento,

3 The context makes clear that psúkhé is the life that leaves us at death and is
distinct from intelligence. This seems to be the right context in which to
place Philolaus' words. For Philolaus psúkhé refers to life as visible in the
processes of breathing and perception, both of which are common to
humans and animals. (Huffman 319)
pois tanto o que gera quanto o que é gerado não é sem
movimento, um para gerar, o outro para ser gerado. Mas deus é
assim, pelo menos Onetor, o Tarentino, diz o seguinte: Pois há
um líder e Governante de tudo, um, eterno, deus, permanente,
impassível, ele mesmo idêntico a ele mesmo.

41 [F12a] Como o número sete não gera nenhum dos números


da década nem é gerado por nenhum deles, foi por isso [que os
pitagóricos] lhe chamaram Athena. . . O número sete não gera
nem é gerado por nenhum número. Assim também é Athena:
órfã de mãe e sempre virgem.

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