Você está na página 1de 57

Unidade II

PSICOLOGIA
DO DESENVOLVIMENTO E
TEORIAS DA APRENDIZAGEM

Profa. Dra. Heloisa Garcia


Conteúdo programático

Unidade 1
1. Modelos pedagógicos e epistemológicos
em educação
2. Abordagem tradicional
3. Abordagem comportamental
Unidade 2
1. Abordagem humanista
2. Abordagem psicanalítica
Unidade 3
1. Abordagem construtivista
2. Abordagem das inteligências múltiplas
3. Abordagem da inteligência emocional
Modelos pedagógicos em educação

Pedagogias:
 Diretiva, não diretiva e relacional
2. Pedagogia não diretiva: A  P
 Epistemologia – Inatismo: S  O
Teorias psicológicas
 Abordagem: humanismo – Rogers.
 Abordagem: psicanálise – Freud.
Abordagem humanista

 Foco na busca pela essência de cada


indivíduo (aluno).
 Baseia-se mais nas relações
interpessoais e menos nos conteúdos
em si.
 Carl Rogers; Alexander Neill.
 Pedagogia centrada no aluno.
 Pedagogia não diretiva: A  P.
 Inatismo.
Eixos centrais

 Educação com ênfase no processo


de crescimento.
 Relação professor-aluno: afetiva
e horizontal.
 Educar para a liberdade e felicidade.
Rogers

Carl Rogers (1902-1987)


 Psicólogo e terapeuta norte-americano.
 Terapia centrada no cliente.
Desenvolvimento

 Experiência subjetiva: é a base para a


construção dos conhecimentos
abstratos (não há uma realidade única).
 Homem como uma totalidade única,
independente, livre.
 Homem inacabado: “vir a ser”.
 Pressuposto básico: crença na fé e na
confiança na capacidade de cada pessoa
para crescer.
 “Tornar-se pessoa”.
Relação homem-mundo

 Toda conduta deve ser compreendida


dentro do quadro de referência de
cada indivíduo.
 Apesar da ênfase no indivíduo, não há
dualismo em relação ao mundo, pois é
nele que o indivíduo se atualiza.
 Mundo é um fenômeno subjetivo (de
cada um), no qual os indivíduos realizam
suas potencialidades e favorecem o
mesmo para os outros.
Ensino-aprendizagem

Segue uma orientação interna:


 Vida psicológica e emocional do
indivíduo, autoconceito, visão autêntica
de si mesmo, orientada para a realidade
individual e grupal.
Tem como objetivos:
 Desenvolver a personalidade do indivíduo.
 Favorecer a organização pessoal
da realidade.
 Desenvolver a capacidade de atuar como
uma pessoa integrada.
Professor

 Não transmite conteúdos, não ensina


nos moldes tradicionais.
 Facilitador da aprendizagem: cria
condições para que os alunos aprendam,
especialmente através das próprias
experiências dos alunos.
 Objetivo do professor: possibilitar a
aprendizagem significativa do aluno.
Aprendizagem significativa

 Envolve toda a pessoa do aluno.


 Autoiniciada e automotivada.
 Penetrante.
 Foco naquilo que o aluno quer saber.
 Avaliada pelo educando.
Aluno = educando

 É o arquiteto de si mesmo, consciente


de sua incompletude interior e exterior,
um ser em transformação de si e
da realidade.
 A qualidade de relacionamento
interpessoal é que possibilitará ao aluno
sua autorrealização.
 A experiência pessoal e subjetiva é a
base para a construção do
conhecimento, no processo de vir a ser
da pessoa.
Educação humanista

 Educação democrática.
 Favorecer a capacidade de
autoaprendizagem do aluno, tanto
intelectual como emocional.
 Abolição de exames, notas, diplomas.
 Livros: menos importantes do que as
relações interpessoais.
 Construção do significado pessoal x
exposição de conclusões prontas.
Educação humanista

O aluno deve tornar-se capaz de:


 Tomar iniciativa.
 Ter responsabilidade.
 Autodeterminação.
 Discernimento.
 Aplicar os conhecimentos construídos.
 Adaptar-se às novas situações
e problemas.
 Colaborar com os outros sem deixar de
ser si mesmo.
Condições facilitadoras da
aprendizagem

No professor:
1. Congruência – autenticidade,
honestidade com o aluno.
2. Empatia – a habilidade para sentir na
perspectiva do aluno.
3. Respeito – aceitação e consideração
positiva e incondicional do aluno.
Método não diretivo

Conceitos básicos:
 Potencial para aprender.
 Tendência à realização.
 Capacidade organísmica de valorização.
 Aprendizagem significativa (envolve toda
a pessoa).
 Resistência/abertura à experiência.
 Criatividade/autoconfiança/
independência.
 Autoavaliação.
Em síntese

 Competência básica do professor:


compreender-se e compreender
os outros.
 Educação é tudo aquilo que envolve o
crescimento pessoal, interpessoal e
intergrupal, por meio da autodescoberta.
 Crescimento tanto do aluno como do
professor: ambos são únicos.
Rogers x Skinner

Crítica:
 Planejamento e o controle externo: a
única autoridade a dirigir os homens é a
sua capacidade de estabelecer
qualidades positivas de relacionamento
interpessoal.
 Exames, notas, diplomas.
Princípio:
 É o homem, através de seu projeto
pessoal, que dá historicidade,
temporalidade ao mundo e à sociedade.
Interatividade

Um grupo de alunos briga muito, se agride


com frequência e não consegue desenvolver
as atividades propostas. Como um professor
baseado no humanismo não deveria agir?
a) Propor trabalhos em grupo, favorecendo
o autoconhecimento.
b) Aplicar punições mais rígidas.
c) Favorecer a empatia entre os alunos.
d) Realizar autoavaliações com os alunos.
e) Propor discussões sobre o respeito
mútuo.
Resposta

a) Propor trabalhos em grupo, favorecendo


o autoconhecimento.
b) Aplicar punições mais rígidas.
c) Favorecer a empatia entre os alunos.
d) Realizar autoavaliações com os alunos.
e) Propor discussões sobre o respeito
mútuo.
 Para o humanismo, punições rígidas não
favorecem uma aprendizagem
significativa nem o desenvolvimento das
qualidades de empatia e respeito entre
os alunos.
Abordagem humanista: Neill

Alexander Neill (1883-1973)


 Educador e escritor escocês.
 “Gostaria antes de ver a escola produzir
um varredor de ruas feliz do que um
erudito neurótico.”
Escola Summerhill (Inglaterra)

 Escola democrática: leis definidas em


assembleias escolares.
 Educação sem medo.
 Contra alunos “presos” às carteiras:
“dóceis”, porém não criativos.
 Educação intelectual e emocional:
felicidade.
 Respeito mútuo.
 Grupos pequenos.
 Crítica à sua proposta: projeto utópico.
Escola da Ponte (Portugal)

 Escola pública, reformulação desde


1976.
 Contra a “monodocência”: isolamento
do professor.
 Dificuldades de aprendizagem e
dificuldades de ensino.
Lógica de projeto:
 Não há ciclos, séries, turmas.
 Projetos coletivos e individuais.
 Não há salas, mas espaços educativos.
 Valores: liberdade/responsabilidade/
solidariedade.
Escola da Ponte (Portugal)

 Alunos de 5 a 17 anos.
O professor busca engajar o aluno num
processo de autoformação:
 “Preciso de ajuda em...”
 “Posso ajudar em...”
 “O que quero saber, o que já sei, o que
já fiz para aprender.”
 Avaliação diárias dos objetivos e
das ações (pelo aluno e pelo
professor tutor).
 Pais: principais aliados.
Abordagem Reggio Emilia (Itália)

 Escolas em escombros após a 2ª Guerra.


 Loris Malaguzzi + comunidade.
 Educação Infantil: 13 creches e 21 pré-
escolas.
 Criança investigativa, com foco na
representação simbólica (arte).
Projetos “multissimbólicos”, baseados nas
linguagens:
 Expressivas.
 Comunicativas.
 Linguísticas.
 Professor + atelierista.
Pedagogia Waldorf

Rudolf Steiner, 1919, Alemanha


“Antroposofia”:
 Espiritualidade.
 Relação homem-terra.
“Toda educação é autoeducação e nós,
como professores e educadores, somos,
em realidade, apenas o ambiente da criança
educando a si própria.”
Pedagogia holística – dimensões:
 Física.
 Anímica.
 Espiritual.
Escolas humanistas

Antropocêntricas:
 Conteúdos da aprendizagem a serviço
dos interesses pessoais.
 Sensibilidade x racionalidade.
 Democracia x submissão.
 Cooperação x competitividade.
Exemplo: literatura

Pinóquio às avessas, Rubem Alves, 2010


 Crítica à educação tradicional e
tecnicista.
 Curiosidade infantil x programa
institucional.
 Expressão livre x expressão realista.
 Felicidade x adaptação social.
Exemplo: filme

Sociedade dos poetas mortos, direção de


Peter Weir, EUA, 1989
 Carpe diem.
Estímulo ao desenvolvimento:
 da crítica;
 do pensamento autônomo;
 da abertura para o novo.
 Para refletir: riscos diante de uma
ruptura brusca dos padrões.
Abordagens tradicional,
comportamental e humanista

Diretivismo das abordagens tradicional e


comportamental x não diretivismo das
abordagens humanistas:
 Foco no professor x foco no aluno.
 Relações verticais x relações
horizontais: eu-tu e nunca eu-isto.
 Avaliações cumulativas x
autoavaliação significativa.
 Base empirista (o meio faz o indivíduo) x
base inatista (indivíduo como arquiteto
de si mesmo).
Interatividade

Pensando no tipo de relação entre o


professor e os alunos e entre os próprios
alunos nas diferentes abordagens
estudadas, assinale a alternativa incorreta:
a) Humanista: relação horizontal entre
professor e alunos.
b) Comportamental: relação vertical entre
professor e alunos.
c) Tradicional: relação vertical entre
professor e alunos.
d) Humanista: interação entre alunos.
e) Tradicional: interação entre alunos.
Resposta

a) Humanista: relação horizontal entre


professor e alunos.
b) Comportamental: relação vertical entre
professor e alunos.
c) Tradicional: relação vertical entre
professor e alunos.
d) Humanista: interação entre alunos.
e) Tradicional: interação entre alunos.
 Na tradicional, o foco da atenção do
aluno deve estar no professor, que tem
o saber, evitando-se as interações
entre alunos.
Abordagem psicanalítica

Sigmund Freud (1856-1939)


 Médico austríaco.
 “Pai” da psicanálise.
Eixos centrais

 Educação como “relação impossível”.


 Relação professor-aluno: o lugar
da transferência.
 Pedagogia não diretiva: A → P
 Inatismo.
Principais conceitos

 Inconsciente
 Sexualidade
 Libido
 Fase oral
 Fase anal
 Fase fálica
 Fase de latência
 Fase genital
 Pulsões parciais x sexualidade adulta
Conhecimento

Relações entre desejo e conhecimento:


 “De onde eu vim?”
 Sexualidade e origem: as teorias
infantis.
 Angústias.
 Desejo de saber e de conhecer ligado
aos impulsos de ver, dominar.
 Saber e poder.
Modelos freudianos

Modelo topológico:
 Inconsciente, pré-consciente,
consciente.
Modelo dinâmico (ou estrutural):
 Id, ego, superego.
Ser humano em conflito

Entre as dimensões psíquicas:


 Pulsão de vida (movimento, busca) x
pulsão de morte (repetição, inanimado).
 Eu x outro.
 O funcionamento psíquico é influenciado
pelas relações estabelecidas com o
meio: família e escola.
 A repressão externa se soma aos
conflitos intrapsíquicos.
Como lidamos com os conflitos?

Mecanismos de defesa:
 Negação.
 Projeção.
 Formação reativa etc.
Sublimação = direcionamento da libido para
fins socialmente “elevados”:
 Artes, ciências, promoção do bem-estar
humano.
 Brincar com argila.
 Papel da escola.
Freud e a educação 1

No início, acreditava numa “profilaxia das


neuroses” pela educação:
 O problema da neurose seria da
repressão externa (social).
Abandonou esta ideia:
 A repressão é necessária.
 Não é possível (nem desejável) eliminar
os conflitos por meio do treinamento dos
professores.
Freud e a educação 2

Depois, defende que ela deve:


 Inibir e reprimir os impulsos narcísicos
da criança, sem excessos.
 Favorecer a realização de seus desejos,
transformando-os em curiosidade
(sublimação).
Função do professor:
 Buscar, junto ao aluno, o equilíbrio justo
entre prazer individual e necessidades
sociais.
 Paradoxo: sempre haverá conflito.
Freud e a educação sexual

 Ética da verdade: acolher a curiosidade


da criança, fornecendo informações.
 Outro paradoxo: todos fomos crianças,
mas “esquecemos” (reprimimos) muito
da nossa infância.
 Educador: necessário reconciliar-se com
sua infância para não se apegar a uma
postura estritamente moral.
Para refletir:
 Como nossa sociedade lida com
este tema?
 “Sexualização” precoce.
Interatividade

Ao defender as contribuições da
psicanálise à educação, Freud defende que:
a) O professor deve reprimir firmemente a
expressão dos impulsos infantis.
b) O professor deve ignorar a expressão
dos impulsos infantis.
c) O professor deve evitar tratar de temas
ligados à sexualidade.
d) O professor deve acolher e sanar as
dúvidas infantis sobre a sexualidade.
e) O professor não deve reprimir
as crianças.
Resposta

a) O professor deve reprimir firmemente a


expressão dos impulsos infantis.
b) O professor deve ignorar a expressão dos
impulsos infantis.
c) O professor deve evitar tratar de temas
ligados à sexualidade.
d) O professor deve acolher e sanar as
dúvidas infantis sobre a sexualidade.
e) O professor não deve reprimir as crianças.
 Isso corresponde ao que ele defendeu
como uma “ética da verdade”.
Transferência

 Fenômeno inconsciente.
 Presente na relação médico-paciente/
professor-aluno etc.
“Toda uma série de acontecimentos
psíquicos ganha vida novamente, agora não
mais como passado, mas como relação
atual com a pessoa do médico.”
(FREUD, 1901)
O aluno e a transferência

 O aluno transfere para o professor os


sentimentos carinhosos ou agressivos
da sua relação com os pais.
 Conscientemente ou não, o professor
utiliza a ascendência que assim adquire
sobre o aluno (lugar de autoridade)
para transmitir ensinamentos, valores,
inquietações.
 Na escola e na vida, nós aprendemos por
amor a alguém.
O professor e a transferência

 Aprender pressupõe uma relação com


outra pessoa, a que ensina.
 O professor, colocado numa
determinada posição, pode ou não
propiciar a aprendizagem do aluno.
 Palavra: poder e submissão; força e
fraqueza; controle e descontrole.
 Saber  poder.
 Controle e diretivismo = ilusão.
Relação professor-aluno

 Marcada por conteúdos inconscientes,


do aluno e do professor, através de uma
relação transferencial.
 Movida pelo desejo de saber
(curiosidade) e pelo desejo de poder
(dominação), que precisam se
conciliar para que haja crescimento
do indivíduo (aluno).
 É nesse campo que se estabelecem as
condições para o aprender,
independentemente de quais sejam os
conteúdos transmitidos.
Relações transferenciais
na educação

 Professor: organiza, articula, torna


lógico seu campo de conhecimento e o
transmite aos alunos.
 Aluno: desarticula, ingere e digere
(“canibaliza”) estes elementos
transmitidos, que se vinculam a desejos
mais profundos, por meio da
transferência.
Lidar com a transferência do aluno:
 O lugar “vazio” do professor.
Educação impossível?

 “[...] educar, ao lado de governar e


psicanalisar, é uma profissão impossível
[...]” (FREUD, 1937).
 Desejos inconscientes do professor e do
aluno: ser e não ser a autoridade.
 Aluno – poder ocupar o lugar do
mestre.
 Processo interminável.
 Neste sentido, a educação é uma
profissão impossível!
 Eis o desafio!
Psicanálise e aprendizagem

Aprendizagem autêntica:
“O encontro entre o que foi ensinado e a
subjetividade de cada um é que torna
possível o pensamento renovado, a criação,
a geração de novos conhecimentos.”
(KUPFER, 1995, p. 99)
Psicanálise e as creches

 Conhecimentos sobre desenvolvimento


sexual infantil.
 Corpo e psiquismo.
 Repressão e saúde mental
 Profilaxia.
 Relação com a família.
 Suporte ao educador.
Para refletir

“A Psicanálise pode transmitir ao educador


(e não à Pedagogia, como um todo
instituído) uma ética, um modo de ver e de
entender sua prática educativa. É um saber
que pode gerar, dependendo naturalmente
das condições subjetivas de cada
educador, uma posição, uma filosofia
de trabalho”.
(KUPFER, 1995, p. 97, grifo nosso)
Humanismo e psicanálise

Semelhanças:
 Ênfase no sujeito: o que ele traz dentro
de si é o eixo principal do processo
educativo (“inatismo”).
 Não diretivismo.
Diferenças:
 Dimensão consciente (humanismo) x
dimensão inconsciente (psicanálise).
 Escolas humanistas x ética psicanalítica
frente ao lugar do professor.
Interatividade

O que Freud quis dizer ao afirmar que


educar é uma ação impossível?
a) Que ela é muito repressiva e, portanto,
deve ser abolida.
b) Que ela se sustenta em relações
inconscientes e paradoxais.
c) Que os professores são muito
neuróticos e deveriam fazer terapia.
d) Que a sexualidade infantil impede uma
boa aprendizagem dos alunos.
e) Que os verdadeiros educadores são os
pais e não os professores.
Resposta

a) Que ela é muito repressiva e, portanto,


deve ser abolida.
b) Que ela se sustenta em relações
inconscientes e paradoxais.
c) Que os professores são muito
neuróticos e deveriam fazer terapia.
d) Que a sexualidade infantil impede uma
boa aprendizagem dos alunos.
e) Que os verdadeiros educadores são os
pais e não os professores.
 A ação educativa se sustenta
em relações transferenciais e no
paradoxo entre ser e deixar de
ser professor.
ATÉ A PRÓXIMA!

Você também pode gostar