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TEORIAS DA EDUCAÇÃO

A EVOLUÇÃO DAS TEORIAS


EDUCATIVAS
1. As primeiras teorias da modernidade
pedagógica.
1.1. Rousseau e origem do naturalismo
1.2. A prática do ideal rousseniano.

2. O experimentalismo e o pragmatismo de Dewey.


As teorias e os métodos da Escola Nova.
2.1. O experimentalismo e o pragmatismo de
Dewey.
2.12. O movimento pedagógico da Escola Nova
Naturalismo

“Tudo é bom ao sair das mãos do criador tudo


degenera ao sair das mãos do Homem.”
Rousseau
Princípios gerais do pensamento de
Rousseau
• Critica o despotismo da Igreja e do Estado.
• Defende os ideais da revolução francesa e os
princípios do Iluminismo e Romantismo.
• Na obra Contrato Social explicita que o único limite
à liberdade é o que decorre da formação de uma
sociedade que assegure os Direitos Naturais.
• Em Emílio reconhece a importância da Educação
natural, de forma a que a sociedade não corrompa
a natureza humana intrinsecamente “boa”.
Emílio, 1762
• Divide-se em cinco “livros”, os três primeiros
dedicados à infância de Emílio, o quarto à sua
adolescência, e o quinto à educação de Sofia a
“mulher ideal” e futura esposa de Emílio, e à vida
doméstica, civil e formação política.
• Foi proibido e queimado em Paris e Genebra.
• Tornou-se um dos livros mais lidos em toda a
Europa e durante a Revolução francesa serviu de
modelo ao novo sistema educativo nacional.
Princípios da Educação Natural
A educação deve ser conforme à natureza.
(Naturalismo)
1- Natureza como disposição e hábito não
alterados pela instrução. Criança autora da sua
própria formação.
2- Educação centrada na verdadeira natureza da
criança.
3- Educação em contacto com natureza.
Educação Negativa em Rousseau
A primeira educação deve ser negativa: a criança não deve ser
castigada, deve sentir as consequências naturais das suas ações e
aprender livremente por si, em função das suas necessidades.
Os castigos são prejudicais, assim como o dever e a obediência.
Educação Negativa

Rousseau
Méritos do Modelo de Rousseau
• Ter colocado a criança como centro do processo
educativo (puerocentrismo) reconhecendo a sua
natureza própria.
• Reconhecer que o guia da edução é o sujeito que se
educa (autoeducação).
• Reconhecer a educação como processo vital (ao longo
de toda a vida).
• Valorizar o interesse natural da criança versus esforço
artificial.
• Ensino intuitivo (por descoberta ) e educação ativa.
• Influenciou inúmeros autores desde Pestalozzi aos
autores da Escola Nova como Tolstoi, Decroly,
Montessory e mesmo Dewey.
O experimentalismo e o
pragmatismo de Dewey
(1859- 1952)

Filósofo pragmatista, conhecido como o grande filósofo da


educação moderna.

Funda uma escola elementar na Universidade de Chicago


para alunos entre os 4 e os 16 anos, que constitui um
verdadeiro campo experimental de ensino - 1ª escola
laboratório –onde são testadas teorias e ideias educativas.
Os resultados desta investigação foram divulgados nas
suas obras.

As suas teorias educativas inspiraram muitas experiências


semelhantes noutras partes do mundo, incluíndo Portugal.
Educação e democracia

John Dewey para quem a finalidade do ato


educativo é “ajudar os alunos a pensar”.
• A democracia como modelo.
• A democracia como exame e reflexão de si.
• A democracia como educação.
• A educação em e para a democracia.
• Educação e mudança social.
• A filosofia na educação das crianças.
• Filosofia, educação e democracia
Convicções filosóficas
epistemológicas e políticas
• Defesa de um naturalismo empírico, empirismo
naturalista ou humanismo naturalista: os objetos e
factos da natureza são o ponto de partida para a
experiência primária

• As experiências efetivam-se pelas relações que as


pessoas estabelecem com os objetos e seus atributos
num processo de discriminações e identificações por meio
da experimentação

• Uma filosofia da educação deve estar submetida a uma


filosofia empírica e experimental. O valor dos objetos
reside no seu caráter experimental.
Educação
Progressiva
•Defesa de uma educação progressiva centrada na
conexão entre o processo educativo e as experiências
educativas.

•Afastamento da visão tradicional da criança.

•Defesa de atividades ou ocupações construtivas ou


ocupações ativas: aproximação das vivências quotidianas
da criança. A criança deve aprender fazendo, em
interação com os ambientes adequados.

•Liberdade não se opõe à existência de fins educativos


(intencionalidade dos projetos)
Princípios da educação progressiva
O valor da experiência baseia-se nos princípios da
continuidade e da interação.

- Continuidade:
Continuidade relativa ao vivido, hábitos intelectuais;
permanência de dados de experiências vividas pela pessoa,
influenciando a qualidade das experiências subsequentes.

"A educação deve ser compreendida como uma reconstrução


contínua da experiência."(Formosinho,2007).

- Interação:
As conceções de "situação" e "interação" são inseparáveis
uma da outra. Uma experiência implica sempre a interação
entre o indivíduo e o seu ambiente.
O pensar reflexivo

"Pensarequivale a patentear, a tornar explícito o


elemento inteligível da nossa experiência (...)“

Envolve 5 fases que interagem de modo dinâmico:

-Sugestões (ideias iniciais)


-Inteletualização (concetualização do problema)
-Ideia - guia ou hipótese
-Raciocínio (fio condutor, procura de sentido
-Verificação da hipótese (ação exterior ou
imaginativa)
Pensamento reflexivo
"A reflexão não é simplesmente uma sequência, mas uma consequência –
uma ordem de tal modo consecutiva que cada ideia engendra a seguinte
como seu efeito natural e, ao mesmo tempo, apoia-se na antecessora ou a
esta se refere“ (Formosinho, 2007).

O pensamento reflexivo requer três atitudes:


• Espírito aberto para aceitar diferentes possibilidades;
• Interesse para alcançar total envolvimento pessoal;
• Responsabilidade em examinar as consequências do
projetado.

Os métodos de ensinar devem criar condições que


promovam o pensamento reflexivo.
Método do laboratório
- Visa proporcionar um ambiente educativo em que
sejam recriadas condições de um processo de
investigação, para que as crianças possam perceber
problemas, levantar sugestões, fazer inferências e
interpretações, formando as suas próprias ideias sobre o
problema.

O ambiente deve ser pensado para que a composição dos


espaços, a natureza e a disposição do mobiliário e de
outros materiais deve favorecer a construção, a criação e a
investigação ativa da criança.
Educação como processo social
e democrático e de equidade

A educação não deve apenas centrar-se na criança mas sim


desvendar as forças sociais que estão presentes nos
indivíduos.

“A educação é um processo de vida, não preparação para


vida.”

A escola tem uma tarefa política na formação dos indivíduos.


O trabalho projeto e as ocupações
construtivas
- Os primeiros ensaios da prática de projetos nas escolas
laboratórios identificam-se como ocupações construtivas ou
ativas que desenvolvem o princípio da aproximação das
atividades da vida social às actividades formais da escola.

- Representam a oportunidade da criança se responsabilizar por


um trabalho intelectual de resolução de problemas,
percebidos por ela como relevantes.
- Nas ocupações construtivas ou nos projectos, a criança é a
Investigadora.

-Incluem múltiplas atividades, instrumentos e materiais:


• Trabalhos em papel, cartão, argila...
• Jardinagem, Excursões, Cozinha, costura, Jogos...
“Trabalhar em projetos significa planear um trabalho
inteligente e consecutivo que propicie uma
familiaridade da criança com os métodos
investigativos e com a experimentação.” (Formosinho,
2007)
Papel do professor
•Organização dos processos educativos e promoção de
um contexto favorável ao grupo

•Reconhecimento da individualidade intelectual do


professor como uma das principais condições de
qualquer reforma educacional

•Valorização da independência, iniciativa e inventividade


os profissionais da educação

"A supressão antidemocrática da individualidade do


professor tem uma correlação estreita com a
indevida supressão da inteligência e da mente da
criança.“ (ibidem)
Reconhecimento da importância da relação entre
teoria e prática pedagógicas


Os professores são "os canais mediante os quais as
consequências da teoria pedagógica chegam à vida
dos que estão na escola. Eu suspeito que, se estes
professores são somente canais de recepção e
transmissão, as conclusões da ciência se desviarão e
alterarão antes de chegar às mentes dos alunos.“
(ibidem)

- Destaca o papel reflexivo do professor como


instrumento essencial do de articulação teoria-prática.
A herança de Dewey

"A educação deve ser compreendida como uma


reconstrução contínua da experiência.“
John Dewey

“The better way of thinking is reflective thinking”


John Dewey
“A ciência da educação não se encontra nos livros, nem nos
laboratórios experimentais, nem nas salas de aula onde se
ensina, senão nas mentes dos que dirigem a atividade
educativa”
John Dewey
DOIS MODELOS ANTAGÓNICOS
Escola Nova
Escola Tradicional
Baseada em ideais transformadores e
contextualizados nas práticas;
Separada do mundo e práticas;
Centrada no aluno ;
Centrada no mestre;
Valorização da liberdade, da ação e da experiência, do
Primazia dos programas e dos conteúdos, desenvolvimento, do envolvimento, no processo de
capacidades pré-académicas; aprendizagem;
Alunos submetidos a modelos rígidos a Anti-autoritária, valorizando criatividade, interesses e
linguagem adulta; imaginação, esquemas internos e metacognição.
Utilização do mesmo método e processo para Diversidade e flexibilidade de métodos
todos, segundo normas ditadas pelo professor, (m.descoberta, resol. problemas) processos (jogo livre,
valorizando a transmissão, a memorização e a jogo educativo);
reprodução;
Valorização da relação pedagógica e da auto-
Ordem e disciplina, castigos e emulação. aprendizagem;
Avaliação centrada no produto e comparação Desenvolvimento integral, emocional intelectual e
com norma; moral;
Pedagogias diretivas Avaliação centrada nos processos, ensaio-erro,
reflexiva, individual e grupal;
Pedagogias “hetero-estruturantes”
Pedagogias Não Diretivas.
L.Not, 1991

Pedagogias “auto-estruturantes”
Conceções gerais comuns movimento
pedagógico da Escola Nova
Touriñán, J. M. (2015)

- situada na vida
- focada nos interesses da criança
- centrada em métodos ativos
- formar uma comunidade vital (cooperação)
- revalorizar papel do educador
Os Princípios pedagógicos:
da Escola Nova Touriñán, J. M. (2015)

- individualização
- socialização (centrado no espírito cooperativo)
- conceção unitária e globalizante (inspiração
Gestaltismo)
- autoeducação
- escola ativa
Múltiplas classificações da Escola
Nova
Segundo (Luzuriaga, 1931):
1º carater polémico-centro na individualidade da
criança ( Ex:Tolstoi...)
2º carater construtivo e pragmático (Ex: Dewey,
Ferriére...)
3º carater organizador (Ex: Reddie...)
4º carater técnico e pedagógico (Ex: Montessori,
Decroly, Cousinet...)
Alguns representantes dos ideais transformadores:
•Rousseau (1712-1788)- reconhecimento da natureza própria da criança.
•Ferrière (1879-1960) – valorização da Psicologia e da Escola Ativa
•Freinet (1896-1966)- interesse pela criança; valorização do trabalho da ação e da
experiência; escola “micro-sociedade” (cooperativa). Exemplos de novos métodos: imprensa na
escola, correspondência interescolar, textos livres, contratos de trabalho. (Escola Nova e
Movimento da Escola Moderna)

Crítica Anti-autoritária:
•A.S. Neil (1883-1973) – liberdade, auto-regulação e autogestão
•C. Rogers (1902-1987)- potencial natural para aprender, pessoa no centro, “aprender a
aprender” (auto-aprendizagem), dinâmicas de grupo.

•P. Freire (1921-1997) –diálogo, crítica e auto-crítica, comunicação, alfabetização e


conscientização.(Modelo crítico)

Valorização da experiência
•Dewey (1859-1952)- democracia, método científico, escola experimental, “aprender
fazendo”, homem como animal social. 1º escola laboratório. Defesa da educação progressiva
(instrumento da democracia). Valorização pensamento reflexivo, resolução de problemas e
trabalho por projetos (investigação ativa da criança em ambientes educativos com
intencionalidade educativa).

•Montessori (1870-1952) - ambiente propício e estruturado, materiais estimulantes,


educação sensorial, valor do erro, curiosidade natural, desenvolvimento e aprendizagem, liberdade
e interesse.
Críticas ao Movimento da Escola Nova
Touriñán, J. M. (2015)

• Riscos da Improvisação
• Possibilitam escassos conhecimentos
• Só com professores muito especiais (raros) pode funcionar a
educação progressiva
• Anti-intelectualismo
• Centros de interesse
• Escassa percentagem elege cursos difíceis
• Despreza o conhecimento em favor da atividade
• Falta de disciplina
As teorias da descolarização e as
teorias marxistas
As teorias da descolarização
• As teorias descolarizantes tecnológicas
• Illich e a prática da descolarização.

As teorias marxistas
• A reprodução segundo Bourdieu e Passeron
e o papel dos valores segundo B.Suchodolski
TEORIAS DESCOLARIZANTES
TECNOLÓGICAS
• Perspetiva radical de descolarização dos anos 70 que tem uma
componente simultaneamente anti-institucional e tecnológica.
• Critica a escola como aparelho de manipulação
(“domesticação da vontade”), mas valoriza a figura do
professor como mediador.
• Visam encontrar alternativas formativas que substituam a
tradicional instituição, através dos meios audiovisuais e
tecnologias da informação.
• Alguns exemplos: Marshall Macluhan, Ivan Illich, Everett
Reimer.
Ivan llich e a prática da descolarização
• Illich fundamenta a desescolarização, pelo facto da escola com a sua
excessiva burocratização e hierarquização, limitar a imaginação dos
educandos, presos a um ambiente escolar homogeneizador do
pensamento, encarando a aprendizagem como sabedoria
institucionalizada.

• Critica a educação como produto pré-formatado, confundindo ensino


com aprendizagem, obtenção de graus com educação e transmissão
de conteúdos com construção de conhecimento.

• Propõe desescolarizar as instituições, para valorizar as potencialidades


criativas dos educandos. “Educação por todos e não para todos”,
criando espaços de comunicação e diálogo, informalizando as
situações de aprendizagem, garantindo a formação permanente
apoiada por recursos pessoais e tecnológicos.
Illich e a prática da descolarização
Indica três objetivos para um bom sistema educacional assentes
numa pedagogia da liberdade e da palavra centradas na
“convivencialidade”:
• facilitar o acesso aos recursos necessários para o aluno
aprender em função dos seus interesses;

• facilitar a partilha dos conhecimentos e possibilitar que os


demais interessados neste saber os encontrem;

• criar oportunidades para tornar públicos os seus


conhecimentos, usando para isso as potencialidades da
tecnologia .
Illich e a prática da descolarização
Para concretizar os seus objetivos propõe:
• Uma solução tecnológica centrada na escola como banco de
conhecimentos, a que todos tinham acesso, através dos meios
audiovisuais e informáticos e que possibilitariam a auto-
aprendizagem e acesso a diferentes fontes educativas.

• Um conjunto de disposições jurídico-económicas, que dotando


as famílias de uma renda educativa, em função dos seus níveis
económicos, elas poderiam usar durante a sua vida, em função
das suas necessidades de aprendizagem. Podendo recorrer a:
serviços de consulta de objetos didáticos, lugares para exposição
e partilha livre de ideias, conselheiros de educação...
Em síntese

Visa uma educação que reforça os direitos dos indivíduos,


valorizando a sua autonomia, criando verdadeiras redes de
comunicação, que salientam a dimensão humana e não o
processo padronizado institucionalizado em que a escola se
tornou.
Habitus e reprodução social

• A teoria de Bourdieu centra-se no conceito de habitus, que é


um “sistema de disposições para a ação”, mediador entre a
sociedade e o indivíduo.

• Centra-se no modo como a sociedade se “infiltra” nas pessoas


sob a forma de disposições duráveis, capacidades treinadas, e
modos de pensar, agir e sentir, e capta também as respostas
criativas dos agentes às solicitações do meio social envolvente,
respostas essas que são guiadas pelas disposições apreendidas
no passado. Bourdieu e Passeron (2006)
Outros Projetos contemporâneos
• O Modelo de escolas Waldorf de R. Steiner (1919) até hoje (mais de 1000
escolas em todo o mundo).

• Princípios:
• Abordagem holística
• Desenvolvimento integral do ser humano (pensamento-sentimento-
vontade).
• Autonomia
• Autoeducação
• Criatividade
• Respeito pelas diferenças individuais
• Não há retenções nem avaliação quantitativa
• Colaboração Pais Professores

http://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=14262
Para refletir e discutir...
Ted Talk José Pacheco

https://www.youtube.com/watch?v=KlTG9Q0
JrwY
Sugestões de
bibliografia/webgrafia:
 TOURIÑÁN, J. M. (2015). Pedagogía mesoaxiológica y concepto de educación. Santiago
de Compostela: Andavira.
FORMOSINHO, J. (2007) Pedagogia(s) da Infância. Dialogando com o Passado,
Construindo o Futuro. Artmed
NOT, L.(1981). Pedagogias do Conhecimento. S.Paulo: Difel

 www.educ.fc.ul.pt/docentes/msantos/esp.pdf

 https://mcemuab2012.wordpress.com/paradigmas-de-investigacao/

 http://www.ipv.pt/millenium/pce6_jmc.htm (modelos auto, hetero e interestruturantes)

 http://www.movimentoescolamoderna.pt/documentos-ilustrativos-do-mem/txtref/snee/
 http://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=14262
 http://apei.pt/upload/ficheiros/edicoes/Artigo%20Destaque.pdf
 https://pt.slideshare.net/Cimi1985/modelos-pedaggicos-contemporneos
 http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/dicionario%20pedagogia.pdf

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