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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

DEFENSORIA PÚBLICA NA COMARCA DE SÃO LOURENÇO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CÍVEL


DA COMARCA DE SÃO LOURENÇO – MINAS GERAIS

Processo nº 0637 09 074239-5

“LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO COLETIVA. A TURMA, AO


PROSSEGUIR O JULGAMENTO, ENTENDEU QUE A DEFENSORIA PÚBLICA
TEM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL COLETIVA EM
BENEFÍCIO DOS CONSUMIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA, CONFORME
DISPÕE O ART. 5º, II, DA LEI N. 7.347/1985, COM REDAÇÃO DADA PELA LEI
N. 11.448/2007. PRECEDENTE CITADO: RESP 555.111-RJ, DJ 18/12/2006”
(RESP 912.849-RS, REL. MIN. JOSÉ DELGADO, JULGADO EM 26/2/2.008).

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, através do


seu órgão de execução infra-assinado, não se conformando, d.m.v, com os termos da
sentença de fls. 445/447 que julgou extinto o processo sem resolução de mérito sob o
argumento da ilegitimidade da postulante ao manejo da presente actio, vem respeitosamente
perante V. Exa., com fundamento nos arts. 513 e seguintes do digesto processual civil,
interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO, pelos fundamentos expostos nas
razões recursais que seguem a presente.

Por estarem presentes todos os requisitos de admissibilidade do presente


recurso REQUER a V. Exa., que o receba, por próprio, hábil e tempestivo, mandando
processar, inclusive com a oitiva do Ministério Público e, após as medidas suasórias o
remeta ao Egrégio TJMG com as costumeiras homenagens para julgamento.

Termos em que

Pede e espera deferimento.

São Lourenço/MG, 16 de dezembro de 2.014.

Roger Vieira Feichas


Defensor Público Estadual
MADEP 0611-D/MG

Apelante: Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais

IGUALDADE E CIDADANIA PARA TODOS


Rua Coronel José Justino, nº 458, Bairro Centro – São Lourenço/MG
CEP 37.470-000 – Tel/Fax: 0(xx)35–3332-6831 - 0(xx)3332-5941
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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
DEFENSORIA PÚBLICA NA COMARCA DE SÃO LOURENÇO

Apelado: Cemig Distribuição S/A


Origem: Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de São Lourenço – Minas Gerais
Processo: nº 0637.09.074239-5

RAZÕES DA APELANTE:

EXCELENTÍSSIMOS SENHORES DESEMBARGADORES


ILUSTRE PROCURADOR DE JUSTIÇA
NOBRE DEFENSOR PÚBLICO

Após o detido exame dos autos, feito à luz da realidade dos fatos e da matéria
de direito aplicável à espécie, verifica-se, data vênia, que a r. sentença não deverá
prevalecer.

Cuida a espécie de Ação Civil Pública que objetiva impedir a apuração unilateral
de suposta violação de medidor de energia pela apelada, estabelecendo, ainda, à luz da
normatividade de regência, possibilidade de dialeticidade e vinculação de metodologia
escorreita para a cobrança do suposto consumo não faturado.

No entanto, após o processamento e instrução da ação, o Julgador a-quo julgou


extinto o feito sem resolução de mérito por considerar a Defensoria Pública como parte
ilegítima ante tratar-se a questão de fundo de direito disponível.

Pois bem!

Ao revés do arguido na sentença objurgada, a lide em testilha apresenta não só


a compleição do interesse coletivo, assim como o individual homogêneo que justifica a ação
coletiva pela apelante.

A questão do fornecimento de energia, notadamente um serviço público


contínuo (art. 22, do CDC), por si só, já denota na atualidade “relevância de interesse
social”.

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Os constantes atendimentos da Defensoria Pública sobre o tema visualizados


em sua dimensão coletiva comprovam a lesão em massa e comprometimento de
interesses sociais relevantes.

Ratificando tal arguição e ainda a robustecendo por demais foram as


informações externadas por vários Corretores de Imóveis e o Coordenador do Procon
(fls.222/225) que corroboram a grave lesão social e coletiva praticada pela Apelada.

Os Corretores de Imóveis deste Município, que podem aferir a notoriedade e


relevância dos fatos (art. 334, I, do CPC) deixaram assente o seguinte:

“que a requerida, sempre que constata suposta fraude do consumo de energia elétrica, tal
como rompimento do lacre, realiza a cobrança de consumo por estimativa, sendo certo
que em caso de inadimplemento deste valor cobrado, pode ocorrer a suspensão do
fornecimento de energia elétrica (...) respondeu que a requerida somente comunica o
usuário da constatação de suposta fraude no medidor de consumo de energia elétrica,
não o notificando para acompanhar a aferição (...) (fls.225)

No mesmo sentido é o depoimento dos demais corretores (fls.222 e 223 ).

Não bastasse a evidenciação da suspensão do fornecimento do serviço, digno


de um exercício arbitrário das próprias razões, eis que a suspensão por débito pretérito
àqueles que se encontram adimplentes é vedada, pena de ofensa à reserva de
jurisdição, denotando-se, assim, que não há garantia do direito de defesa.

Daí se pergunta: O direito em jogo é disponível? É óbvio que não!

A CEMIG acusa, faz as provas unilateralmente e julga, quebrando a possibilidade


do devido processo legal, tal como aventado pelo i. representante do PROCON
(fls.224), litteris:

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“(...) que o depoente,na qualidade de representante do Procon, recebeu vários


consumidores (...) reclamando de multas e contas realizadas por estimativa, em razão
de suposta fraude no medidor de consumo de energia elétrica; (...) que o depoente
entende que, segundo direitos dos consumidores, a requerida ao levar o medido para
aferição em outro município e não permitir a participação dos usuários no
procedimento de aferição da fraude, violava os seus direitos (...) que o depoente
desconhece qualquer órgão público existente neste município, que seja capaz e
competente para realizar aferições em medidores de consumo de energia elétrica; [...]”

Ora, assim procedendo, a concessionária de serviço público viola as garantias


de informação e de produção de provas afetas ao processo administrativo, além de
violar os direitos constitucionais ao contraditório e à ampla defesa, o que restou
decidido na Apelação 1.0637.05.027984-2/001 da comarca de origem por este Egrégio
Tribunal.

Analisando outra ação desse jaez manejada na mesma comarca de origem


envolvendo as mesmas partes este Egrégio Tribunal atestou tal situação, ao verberar o
seguinte:

“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CEMIG - DÉBITO -


PRETÉRITO - SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA -
IMPOSSIBILIDADE.- Com advento da Lei 11.448/2007, que alterou a Lei 7.347/85,
restou sedimentado a legitimidade ativa da Defensoria para propositura da Ação Civil
Pública.- A existência de débito pretérito, relativo ao fornecimento de energia elétrica,
não pode servir como fundamento para a manutenção do corte do serviço na residência
do usuário, tampouco como forma de coação para forçá-lo ao pagamento, devendo, em
sendo o caso, o aludido débito ser cobrado pelas vias ordinárias cabíveis. 
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0637.10.007176-9/002 - COMARCA DE SÃO
LOURENÇO - APELANTE (S): CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A - APELADO (A)
(S): DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS 

Extrai-se da fundamentação do Acórdão a seguinte análise sobre a legitimidade


da apelante, verbis:

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“Com advento da Lei 11.448/2007, que alterou a Lei 7.347/85, restou sedimentado a


legitimidade ativa da Defensoria para propositura da Ação Civil Pública, que por
oportuno transcrevo:

‘Art. 1o Esta Lei altera o art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, que disciplina a
ação civil pública, legitimando para a sua propositura a Defensoria Pública. 

‘Art. 2o O art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, passa a vigorar com a


seguinte redação: 

"Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: 

I - o Ministério Público; 

II - a Defensoria Pública; 

(...) 

Assim, considerando que, à época da propositura da ação, a citada legislação já se


encontrava em vigor, nítida é a legitimidade da Defensoria Pública para a propositura
da presente demanda. 

Dito isso, não se pode restringir a esfera de atuação da Defensoria Pública por meio da
Ação Civil Pública, sob pena de se negar vigência ao texto constitucional, que dispõe,
em seu artigo 134, que referido Órgão"é instituição essencial à função jurisdicional do
Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.". 

Sendo assim, patente é, portanto, a legitimidade da Defensoria Pública para propor a


presente demanda, com vistas à defesa dos direitos dos consumidores de energia elétrica,
bem como adequada a via eleita. 

Neste sentido, cito jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça: 

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PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA. DEFENSORIA PÚBLICA.


LEGITIMIDADE ATIVA. ART. 5º, II, DA LEI Nº 7.347/1985 (REDAÇÃO DA LEI
Nº 11.448/2007). PRECEDENTE. 1. Recursos especiais contra acórdão que entendeu
pela legitimidade ativa da Defensoria Pública para propor ação civil coletiva de interesse
coletivo dos consumidores.2. Este Superior Tribunal de Justiça vem-se posicionando no
sentido de que, nos termos do art. 5º, II, da Lei nº 7.347/85 (com a redação dada pela Lei
nº 11.448/07), a Defensoria Pública tem legitimidade para propor a ação principal e a
ação cautelar em ações civis coletivas que buscam auferir responsabilidade por danos
causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências.3. Recursos especiais não-
providos. (REsp 912849-RS, Relator Ministro José Delgado, DJ 26/02/08). 

Portanto, não se entende o porquê da extinção sem análise de mérito da


quaestio, até porque a própria Apelada colacionou às fls. 432/441 julgado oriundo deste
Tribunal onde se atesta a indisponibilidade do direito discutido.

Não bastasse isso, a Emenda Constitucional 80/2014 alterou o art. 134 da


Constituição Federal assentando sua atuação coletiva nos seguinte termos:

“Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime
democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos
e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos,
de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta
Constituição Federal.

Desta forma, conforme exposição do Ministro CELSO DE MELLO, do Supremo


Tribunal Federal, na ADI 3.643/RJ, verbis: “torna-se necessário acentuar que a questão da
Defensoria Pública não pode nem deve ser tratada de maneira inconseqüente pelo Poder
Público”.

Este Tribunal, por sinal, atento a tal situação reconheceu essa atribuição ao
ajuizamento de ações coletivas pela Apelante, cuja decisão trazemos à colação:

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AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DEFENSORIA PÚBLICA - LEGITIMIDADE


ATIVA – LEI 11448, DE 15/01/2007 - APLICABILIDADE - ARTIGO 462, CPC -
LEGITIMIDADE DAS ASSOCIAÇÕES - MICROSSISTEMA DO
PROCESSO COLETIVO – APLICABILIDADE DO ARTIGO 82, DO CDC -
FINALIDADES INCLUINDO DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS OU
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. Atualmente esta discussão perdeu o objeto, uma
vez que a lei 11.448/07 incluiu expressamente a Defensoria Pública como legitimada
para o ingresso da ação civil pública. Constata-se que o legislador brasileiro acolheu os
argumentos favoráveis à legitimidade ativa da Defensoria Pública, posto que editou lei
reconhecendo e consolidando tal situação. Oportuno constar que a doutrina, analisando
tal alteração, vem afirmando que esta instituição somente poderá ingressar com a tutela
coletiva quando existir uma hipossuficiência jurídica por parte dos tutelados, a qual
poderá ser comprovada tanto por uma dificuldade organizacional (dificuldade de
agrupamento para ingressar com a demanda) como financeira. Por fim, fica registrado
que não se desconhece que há, no Supremo Tribunal Federal, ADI proposta pela
Associação Nacional dos Membros do Ministério Público, questionando a
constitucionalidade desta inovação legislativa. Ocorre que até o momento não foi
proferida decisão liminar e, conseqüentemente, a decisão desta lide não sofrerá qualquer
influência. Diante de tais argumentos constata-se a necessidade de aplicação do artigo
462, do Código de Processo Civil, o qual consagra o primado de que a decisão deve
refletir o estado de direito e de fato existente no momento da decisão. Considerando que
no estado atual o direito determina a legitimidade da Defensoria Pública para o
ajuizamento da ação civil pública, necessária a reforma da r.sentença, que decidiu de
forma contrária a este entendimento”1.

Mais:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA MUNICÍPIO DE
PASSA QUATRO. DEFENSORIA PÚBLICA. LEGITIMIDADE.
IRREGULARIDADE COMPROVADA MANUTENÇÃO DA SENTENÇA EM
REEXAM NECESSÁRIO.- A Defensoria Pública possui legitimidade ativa para
propor ação civil pública quando o grupo de substituídos abrange parcela necessitada da
sociedade civil, ainda que, indiretamente, beneficie outras pessoas que não sejam
economicamente hipossuficientes, mormente quando está comprovada a situação de
irregularidade fundiária no Município e há o interesse de preservação do direito
constitucional à moradia.- Deve ser confirmada a sentença que determina medidas
práticas para a regularização fundiária pelo Município, principalmente quando o
próprio ente público reconhece a irregularidade e não se opõe ao pedido.
(TJMG -  Ap Cível/Reex Necessário  1.0476.13.000173-0/002, Relator(a): Des.(a)
Alberto Vilas Boas , 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 04/11/2014,
publicação da súmula em 12/11/2014)

AGRAVO DE INSTRUMENTO- AÇÃO CIVIL PÚBLICA- LEGITIMIDADE


ATIVA- DEFENSORIA PÚLICA-TUTELA ANTECIPADA- INTITUIÇÃO
FINANCEIRA- INSTALAÇÃO DE GUARDA- VOLUMES- REQUISITOS-
AUSÊNCIA- PERIGO DE IRREVERSIBILIDADE- INDEFERIMENTO DA
1
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0024.06.251898-
0/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): DEFENSORIA PÚBLICA ESTADO MINAS
GERAIS E OUTRO(A)(S) - APELADO(A)(S): ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO. SR. DES.
BRANDÃO TEIXEIRA.

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TUTELA- MEDIDA QUE SE IMPOE- Com advento da Lei 11.448/2007, que alterou
a Lei 7.347/85, restou sedimentado a legitimidade ativa da Defensoria para propositura
da Ação Civil Pública, - Nos termos do art.273 do CPC, concede-se tutela antecipada
desde que exista prova inequívoca da verossimilhança da alegação e desde que haja
fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação , abuso do direito de defesa ou
manifesto propósito protelatório do réu. - Não há falar em deferimento de tutela
antecipada em ação civil pública ajuizada no interesse de consumidores , se não foi
inequivocamente comprovada a existência de dano irreparável e de difícil reparação aos
consumidores, havendo, ainda, perigo de irreversibilidade do provimento antecipado
Agravo de Instrumento Cv Nº 1.0313.12.022129-3/001 - COMARCA DE
Ipatinga - Agravante(s): BANCO ITAÚ UNIBANCO S/A - Agravado(a)(s):
DEFENSORIA PÚBLICA ESTADO MINAS GERAIS - Interessado: BANCO DO
BRASIL S/A, BANCO BRADESCO S/A  (TJMG -  Agravo de Instrumento-Cv
1.0313.12.022129-3/001, Relator(a): Des.(a) Luciano Pinto , 17ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 21/08/2014, publicação da súmula em 02/09/2014)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PROCESSUAL. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA, EM AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO A DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO.
DIREITO À EDUCAÇÃO. COMPROVAÇÃO DA HIPOSSUFICIÊNCIA.
DESNECESSIDADE. VULNERABILIDADE CONSTATADA. RECURSO NÃO
PROVIDO. Nos termos das normas que regem a espécie, a Defensoria Pública tem
legitimidade para o ajuizamento de Ação Civil Pública em que se discute o direito à
educação.A proteção de direito individual homogêneo pode ser objeto da Ação Civil
Pública.Hipótese dos autos que coincide com a proteção de direito individual
homogêneo, qual seja, proteção ao direito de educação de crianças de uma determina
região da Capital Mineira.A comprovação da hipossuficiência de cada interessado é
dificultosa. Em se tratando de ação que envolve interesses coletivos, a mera constatação
da vulnerabilidade daquele grupo já autoriza a intervenção da Defensoria Pública.
(TJMG -  Agravo de Instrumento-Cv  1.0024.13.293347-4/001, Relator(a): Des.(a)
Armando Freire , 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 26/08/2014, publicação
da súmula em 03/09/2014)

Não bastasse tal análise, imperioso salientar que o direito de fundo em debate
não é, repita-se: disponível e, para tanto, dissertando sobre o tema, vejamos trecho de
estudo doutrinário realizado pelo procurador do PROCON/SP publicado nas
conclusões da I Jornada em Defesa da Moradia Digna realizada pela Defensoria
Pública do Estado de São Paulo, sobre a saliência do serviço de energia elétrica, verbis:

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Sem haver possibilidade de comutatividade na relação jurídica entre as partes,


não há falar-se em disponibilidade do direito, principalmente por se tratar de normas
consumeristas de ordem pública.

A propósito:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PROCESSO CIVIL. OMISSÃO.


CONTRADIÇÃO. AUSÊNCIA. Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a
despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.” - O
Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública em defesa de interesses
sociais homogêneos, de relevante interesse social, em contratos por adesão, como no caso, os
contratos de arrendamento mercantil.- Embargos de declaração rejeitados” (EDcl no REsp
373636/SC, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA,
julgado em 19/05/2005, DJ 20/06/2005 p. 265)

O pretendido na ação vai além do direito individual, por se tratar de


comportamento único lançado em contrato de adesão, que atinge o direito de um
universo de consumidores. Em sendo assim, inegável que o debate circunda direito
individual homogêneo indisponível com caráter de relevância social que, com a
máxima vênia, pode ser objeto de Ação Civil Pública.

Sobre a matéria, notadamente sobre a adequação de se pleitear direito


individual homogêneos em uma Ação Civil Pública vejamos os ensinamentos de José
dos Santos Carvalho Filho:

Quanto à tutela dos interesses individuais homogêneos, tem havido alguma oscilação
nos Tribunais a respeito da viabilidade, ou não, de serem objeto de ação civil pública.
Como já tivemos a oportunidade de assinalar em obra que escrevemos a respeito, o art.
129, III, da CF e a Lei 7.347/1985 só se referiram a direitos coletivos ou difusos, mas não
aos individuais homogêneos, que formam uma terceira categoria. A Lei no 8.078/1990
(Código de Defesa do Consumidor) prevê a defesa coletiva para tais direi- tos, mas não
esclarece se se trata de categoria específica de acão ou se é a mesma ação civil pública.
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Em que pese a confusão que se formou a respeito, parece-nos melhor considerar a ação
civil pública como via idônea para a tutela de direitos individuais homogêneos, desde
que a defesa seja efetivamente coletiva, vale dizer, abranja grupo com significativo
número de integrantes. (Carvalho Filho , José. Manual de direito administrativo,
27ª edição. Atlas, 2014. VitalBook file. Minha Biblioteca.)

Mais especificamente, o autor conceitua os direitos individuais homogêneos:

Além desses interesses, o Código do Consumidor também definiu uma terceira categoria
de direitos - os interesses ou direitos individuais homogêneos -, definidos na lei como
aqueles que decorrem de origem comum. Esses direitos são marcadamente individuais, e
o aspecto de grupo a eles relativo diz respeito apenas a uma associação de interesses com
vistas a um mesmo fim. Não tem, portanto, o caráter transindividual dos interesses
coletivos e difusos, nos quais o relevante e´ o agrupamento em si, e não os indivíduos
que o compõem. (Carvalho Filho , José. Manual de direito administrativo, 27ª
edição. Atlas, 2014. VitalBook file. Minha Biblioteca.) 

Em sendo assim, apresentando-se os fatos como uma defesa do direito ao


fornecimento de energia elétrica, no âmbito de direitos individuais homogêneos,
justifica-se a Ação Civil Pública.

Não se trata, pois, de discussão de pequenos grupos, mas de toda a coletividade


com reflexo social significante.

Ademais, para rematar esse tópico, a atuação difusa por intermédio da


Defensoria Pública prestigia a otimização racional do próprio Poder Judicante, uma
vez que a molecularização da demanda impede a propositura de infinitas ações
individuais (=atomização da tutela) propalando o mesmo tema, evitando-se decisões
contraditórias, sempre incompreensíveis para os não iniciados na Jurisprudência,
permitindo o desafogo dos Tribunais, gerando credibilidade no próprio sistema de
justiça.

Para tal, basta observarem-se as inúmeras ações individuais que correm perante
o Poder Judiciário Mineiro patrocinadas pela Defensoria Pública ou pela atuação do
Juizado Especial em face da apelada, visando exatamente neutralizar e reverter os atos
e procedimentos decantados na proemial.

Daí a razão de o STJ, intérprete máximo da legislação federal ter acentuado da


aplicabilidade do interesse coletivo e da presença do direito individual homogêneo
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nesta matéria em debate pela Defensoria Pública, o que permite a reforma da


sentença.

“LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO COLETIVA. A TURMA, AO


PROSSEGUIR O JULGAMENTO, ENTENDEU QUE A DEFENSORIA PÚBLICA
TEM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL COLETIVA EM BENEFÍCIO
DOS CONSUMIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA, CONFORME DISPÕE O ART.
5º, II, DA LEI N. 7.347/1985, COM REDAÇÃO DADA PELA LEI N. 11.448/2007.
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MIN. JOSÉ DELGADO, JULGADO EM 26/2/2.008 ).

Mais:

“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERESSE COLETIVO DOS


CONSUMIDORES. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA. 1. A
Defensoria Pública tem legitimidade, a teor do art. 82, III, a lei 8.078/90 (CDC), para
propor ação coletiva visando à defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais
homogêneos dos consumidores necessitados. A disposição legal não exige que o órgão
da Administração Pública tenha atribuição exclusiva para promover a defesa do
consumidor, mas específica, e o art, 4º, XI, da LC 84/90, bem como o art. 3º, parágrafo
único, da LC 11.795/02- RS, estabelecem como dever institucional da Defensoria a
defesa dos consumidores. 2. APELAÇÃO PROVIDA.” (TJ/RS, Apelação Civil n.
70014404784 - Erechim - 4ª Câmara Cível - Relator: Des. Araken de Assis – 12.04.2006 -
V.U).

Os interesses individuais, no caso, embora pertinentes a pessoas naturais, se


visualizados em seu conjunto, em forma coletiva e impessoal, transcendem a esfera de
interesses puramente individuais e passam a constituir interesses da coletividade de
consumidores de energia elétrica com origem comum e alta relevância social,
impondo-se a proteção por via de ação coletiva, para que seja uniforme e eqüitativa,
principalmente por se tratar de normas de ordem pública, contrato de adesão e da
previsão expressa contida no art. 4º, VII, VIII, X e XI da Lei Complementar Federal nº
80/94, revitalizada pela LC nº 132/09.

EX-POSITIS: requer a Apelante seja conhecida e provida o presente Recurso


assegurando a concessão dos pedidos eventuais infra-indicados:

a) A REFORMA da sentença para que seja reconhecida a legitimidade da


Apelante, determinando-se, por-conseguinte, que o douto sentenciante analise a
questão de fundo;

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DEFENSORIA PÚBLICA NA COMARCA DE SÃO LOURENÇO

b) Caso este Egrégio Tribunal entenda da aplicação do princípio da causa


madura, contido no art. 515, §3º, do CPC, requer seja reforma a sentença para,
afastada a ilegitimidade ativa ad-causam, proceda-se ao acolhimento dos pedidos
inaugurais com as observâncias contidas às fls. 346, que estão subsumidas à
novel Resolução da Aneel (414/10);

REQUER, ainda:

A marcha processual deverá transcorrer com observância das prerrogativas


legais dos membros da Defensoria Pública - intimação pessoal do Defensor Público que
atua nesta câmara, com vista dos autos e contagem em dobro de todos os prazos - nos
termos do arts. 44, I, e 128, I, da LC nº 80/94 c/c art. 74, I, da LC nº Estadual n.º 65/03.

Prequestionamento expresso e implícito de toda a matéria jurídica,


normativa, e jurisprudencial exposta nos autos, para fins de acesso às instâncias
superiores em sede recursal.

Nestes termos,

Pede e espera provimento,

São Lourenço/MG, 16 de dezembro de 2.014

Roger Vieira Feichas


Defensor Público Estadual
MADEP 0611-D/MG

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