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MEDICINA DE FAMÍLIA E

COMUNIDADE
9° Período

Temas
Consulta em 7 passos, Sintomas sem explicação médica, abordagem familiar, MBE –
diagnóstico, abordagem da dor musculoesquelética, visitas domiciliares

Beatriz Chaveiro
Turma XVIII
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
CONSULTA EM 7 PASSOS → Fase inicial: preparação e primeiros minutos. É uma fase
→ A consulta pode ser abordada como um ato discreto com de concentração e de focalização de atenção e de energia,
antecedentes, princípio, meio, fim e consequências, as individualizando-se dois passos:
quais podem ser imediatas, a médio prazo e a longo prazo, o Passo 1 - Preparação: onde se revê a situação do
e podem passar a constituir antecedentes e determinantes médico, do consultório e do próximo paciente,
de próximas consultas. antes de este ser chamado para a consulta
o Passo 2 – Os primeiros minutos: onde se procede
à chamada, ao encontro, ao cumprimento e ao
acolhimento da pessoa, bem como à detecção de
indícios físicos e emocionais, de motivos de
→ A consulta pode, também, ser considerada como um consulta e ao acerto de agendas entre o médico e
sistema complexo aberto, com «entradas», interações, o paciente.
transformações internas, «saídas» e efeitos ou impactos.
Sob esta perspectiva sistémica podem considerar-se
aspectos e indicadores de contexto, de estrutura, de
processo e de resultados.

→ Fase intermédia: exploração, avaliação e plano (EAP).


Corresponde ao desenrolar da consulta, onde se faz a
recolha sistematizada de dados e de informação,
subjetivos e objetivos. É também nesta fase que se
→ Existem aspectos e indicadores de estrutura que dizem
processam intelectualmente os dados e a informação
respeito aos elementos do ambiente e da condução do
recolhidos para chegar, sempre com a participação e
atendimento. Os indicadores de processo incidem sobre a
envolvimento do paciente, a uma avaliação e a um plano
comunicação e a relação médico-paciente, modos de
de ação.
condução da consulta (estruturada, por passos versus
o Passo 3 – Exploração: onde se recolhem, analisam
desorganizada; linear e não-linear; graus de diretividade,
e contextualizam dados e informação (subjetivos,
etc.), métodos de raciocínio clínico, processos de
objetivos e contextuais).
envolvimento e participação do paciente, modos de anotar
o Passo 4 – Avaliação: onde se fazem a interpreta-
nos registos clínicos. Os indicadores de resultado
ção, os diagnósticos, as explicações, as previsões
associam-se aos critérios de sucesso da consulta, sob duas
(prognósticos) e se avaliam os impactos na
perspectivas: os objetivos do médico e os objetivos do
qualidade de vida
paciente.
o Passo 5 – Plano: onde se prepara o plano de cui-
→ Modelo clínico integrado: a consulta em 7 passos baseia-
dados (propostas, negociação, acordos e
se nesse modelo, que é um desenvolvimento do método
compromissos de acção, incluindo prevenção).
clínico centrado na pessoa. Isto é, centra-se na
singularidade de cada pessoa e, ao mesmo tempo, presta
atenção aos aspectos biomédicos, ao médico, à relação
médico-paciente e ao contexto em que tudo decorre
(família, contextos ocupacional, sócio-cultural e
comunitário). Esse modelo combina várias abordagens:
biomédica, psicossocial, centrada na pessoa atenta ao
→ Fase final: encerramento e reflexão final. É a altura para
médico e à relação médico-doente.
resumir o que se passou, para avaliar como decorreu a
→ Fases da consulta e os 7 passos:
consulta, para verificar que se chegou ao local desejado,
que não ficou nada para trás, e pensar em próximas
etapas.
o Passo 6 – Encerramento: onde se verifica se
subsistem dúvidas, se revê o plano acordado e se
procede ao cumprimento de despedida
o Passo 7 – Reflexão final: onde se faz uma breve
reflexão crítica sobre o que se passou.
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→ Aspectos Práticos dos 7 passos:
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FERRAMENTAS DE ABORDAGEM FAMILIAR pensamentos; bloquear as interrupções, se persistentes;
→ Família: um grupo de pessoas que convivem, têm laços não oferecer conselhos ou interpretações precoces; não
intensos de proximidade e compartilham o sentimento de fornecer brechas a revelações de confidencialidade da
identidade e pertencimento, que influenciarão, de alguma pessoa; como facilitador da entrevista, o médico deve dar
forma, suas vidas. Esse grupo, em geral, possui objetivos o tom para a discussão à medida que realiza a sua fala.
relacionados com a preservação, a nutrição e a proteção → Etapas da entrevista com a família:
daqueles que vivem em conjunto e tem seu próprio modo o Apresentação social: cumprimente cada pessoa
de perceber o mundo. individualmente
o Nuclear: pais e filhos o Aproximação: ajuda a iniciar o processo de
o Extensa: relações de consanguinidade conexão e geração de hipóteses
o Abrangente: não parentes que coabitam a casa o Entendimento da situação: solicite que cada
→ Importância da família: entender como a família pessoa mostre seu ponto de vista.
influencia a saúde dá a oportunidade de antecipar e o Discussão: encoraje a família a conversar.
reduzir os efeitos adversos do estresse familiar e usar a Questione como já lidaram com os problemas em
família como recurso para cuidar das pessoas. Os outras situações.
problemas clínicos e emocionais podem ser tratados com o Estabelecimento do plano terapêutico: solicite um
uma abordagem individual, centrada na pessoa, mas plano da família, contribua quando necessário
alguns vão alcançar maior benefício com a abordagem com informações médicas, aconselhe, enfatize as
familiar, estando a família presente ou não na consulta. questões em comum, realize combinações,
→ Presença da família na consulta: nem sempre a família lembrando os objetivos, questione se há dúvidas
pode estar presente na consulta. Nesse caso, faz-se e remarque novo encontro, se necessário.
presente a figura da(s) pessoa(s) ausente(s), por meio da → Ciclo de vida familiar: é uma sequência de transformações
existência imaginária (“se o seu marido estivesse aqui, o na história do desenvolvimento da família. Cada família
que a senhora pensa que ele diria?”). A presença da família atravessa diferentes fases em suas vidas, e cada nova
possibilita que uma mesma situação seja descrita e etapa é um desafio para que a família se organize e
compreendida de outra forma. Para doenças crônicas, obtenha novamente o equilíbrio. O simples fato de
situações de não adesão ao tratamento, puericulturas e localizar a fase do ciclo das famílias e suas crises, durante
pré-natais e situações que envolvam problemas mentais e os atendimentos, permite que o médico de família gere
interpessoais, o envolvimento de outros membros da hipóteses. As crises do ciclo de vida familiar podem ser
família facilita a compreensão do sistema familiar e a previsíveis, esperadas, ou acidentais, inesperadas, que
adesão por parte das pessoas ao tratamento. ocorrem por adoecimento, acidente, separação ou
O único caso em que há contraindicação em convidar a família e divórcio, perda de emprego, perda de um membro da
realizar a consulta em conjunto é quando existir o risco de violência família, e que exigem cuidados específicos. São três as
direta a alguém: ao indivíduo, a algum dos membros da família, à etapas do ciclo de vida familiar da população de classe
equipe de saúde ou ao médico. popular:
→ Níveis de envolvimento do médico: estabelece a distinção o Estágio 1 – Adolescente/Adulto jovem solteiro: As
entre o médico de família e o terapeuta de família. fronteiras entre a adolescência e a idade adulta
jovem são confusas. Os adolescentes são
responsáveis por si mesmos e utilizados como
fonte de renda a partir dos 10 ou 11 anos de
idade.
o Estágio 2 – A família com filhos: Começa sem que
ocorra necessariamente o casamento, mas com a
geração de filhos e a busca por formar um sistema
conjugal, assumir papéis paternos e
→ Cuidados na condução da consulta integrada com família: realinhamento dos relacionamentos com a
criar laços harmoniosos que possam dar continuidade ao família.
cuidado; manter um relacionamento empático e não o Estágio 3 – A família no estágio tardio da vida:
crítico; buscar interesses comuns e o melhor Ocorre com frequência uma composição familiar
entrosamento; evitar tomar partido; organizar a com três ou quatro gerações. Sendo assim, há
entrevista; encorajar, uma pessoa por vez, a falar; pouca probabilidade de haver “ninho vazio”, e
encorajar cada pessoa a fazer declarações na primeira muitas vezes a base de sustentação familiar
pessoa; afirmar a importância da contribuição de cada depende da aposentadoria de um dos avós, em
membro da família; reconhecer e agradecer qualquer geral a avó, que persiste com responsabilidades
emoção expressada; enfatizar os próprios recursos da sobre a sobrevivência de todos.
família; solicitar aos membros da família que sejam
específicos; ajudar os membros da família a organizar seus
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→ Genograma: instrumento para mapear, ampliar o → Ecomapa: é também um instrumento de avaliação
conhecimento sobre a família e realizar intervenções pelos familiar, por meio de uma representação gráfica, que
profissionais nos cuidados de saúde. Como instrumento de identifica todos os sistemas envolvidos e relacionados com
informação sobre a família e a sua dinâmica de a pessoa, com a família em questão e o meio onde vivem.
relacionamento, a construção do genograma deve ser
composta por, no mínimo, três gerações de componentes
familiares. Existe uma simbologia própria para expressar as
dinâmicas de funcionamento familiar, bem como as
possíveis influências que as dinâmicas do grupo podem
estar exercendo sobre o problema da pessoa. As pessoas
que moram na mesma casa são circuladas por um
tracejado.
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QUEIXAS SOMÁTICAS SEM EXPLICAÇÃO MÉDICA → Apresentações clínicas dos Sintomas somáticos
→ Conceito: uma tendência pessoal a se apresentar e inexplicáveis caracterizando síndromes específicas:
comunicar queixas somáticas, diante de estresse o Síndromes Funcionais: em geral, as síndromes
psicossocial, podendo haver diferentes graus de incluem um grupo comum de sintomas: dor
sofrimento emocional ou transtornos mentais. muscular difusa, fadiga, alterações
→ Fatores de risco: podem fazer com que queixas somáticas gastrintestinais, cefaleia, insônia, depressão,
sejam a forma de apresentação do sofrimento emocional, ansiedade, alterações de memória e um
podendo também levar à cronificação da posição de comprometimento geral do funcionamento
somatizador. social. As mais conhecidas são a fibromialgia, a
síndrome do intestino irritável e a síndrome da
fadiga crônica. Esses casos são encontrados sob
os cuidados de variadas especialidades médicas, e
sua etiologia e definição não estão claramente
estabelecidas.
o Hipocondria e preocupações somáticas: caracte-
riza-se pela convicção de ter uma determinada
doença, que não é confirmada pelo médico. Esse
padrão cognitivo pode ser caracterizado como
uma patologia na representação de ser doente,
ou seja, a hipocondria está mais associada a se
sentir fraco, incapaz e doente do que à presença
em si de sintomas sem explicação médica.
o Conversão ou dissociação: perda da integração
entre funções neuropsicológicas, neurológicas
→ Apresentações clínicas: superiores ou neurológicas periféricas, sem causa
o Sintomas físicos inexplicáveis associados a orgânica definida. Em geral são queixas que
sofrimento mental inespecífico: o sofrimento está atingem o sistema motor voluntário, ou funções
associado a fases difíceis da vida, ao aumento dos sensitivas e pares cranianos, como anestesias,
problemas e ao estresse do cotidiano, sem paresias, paralisias, mutismo, cegueiras, etc.
caracterizar transtorno mental específico. Essa Esses pacientes são vistos com maior frequência
forma de apresentação pode ser referida pelos em emergências médicas.
termos sofrimento psíquico, sofrimento difuso ou → Abordagem do paciente somatizador: as características
sofrimento mental. A maioria desses pacientes da tabela abaixo auxiliam nas etapas descritas a seguir.
apresenta quadros transitórios e associados a
eventos desencadeantes, como as crises de ciclo
de vida esperadas e acidentais. Muitas vezes o
quadro tem resolução rápida e espontânea.
o Sintomas físicos inexplicáveis associados a
transtornos mentais comuns: englobando os
transtornos ansiosos e depressivos (TMC),
geralmente acompanhados de diversos sintomas
físicos (cansaço, astenia, fadiga, palpitações,
dores, dispneia, sudorese de extremidades, entre
outros), alguns deles fazendo parte das próprias
definições psiquiátricas. Esses transtornos
mentais têm excelente possibilidade terapêutica,
sendo importante investigar a presença de TMC
em pacientes que somatizam. o Pesquisa dos eventos desencadeantes: investigar
o Sintomas somáticos inexplicáveis caracterizando as crises de ciclos de vida esperadas ou acidentais.
síndromes específicas: tais pacientes são descritos o Avaliação e tratamento dos transtornos ansiosos
como somatizadores “verdadeiros”, sendo a ou depressivos presentes: pode prevenir uma
apresentação menos frequente, em geral com evolução desfavorável.
curso crônico e grave comprometimento o Avaliação dos fatores de risco: avaliar a história de
funcional (social, laborativo e pessoal) e no qual vida do paciente e de suas relações familiares,
há uma recusa em aceitar associação entre o identificando fatores de risco para a presença de
sofrimento emocional e o quadro clínico. Descrito transtornos de somatização e para a cronificação
com mais detalhe no próximo tópico. destes.
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o Consideração do padrão de atribuição etiológica o Tratamento medicamentoso:
(somática ou psicológica): quanto mais o paciente ▪ Transtornos depressivos e ansiosos
puder reconhecer a natureza psicossocial de suas devidamente diagnosticados devem ser
queixas, melhor será a evolução. Assim sendo, tratados. Isso porque os antidepressivos,
grande parte das intervenções na APS são além de melhorarem os sintomas de
direcionadas a aumentar a consciência do somatização em pacientes deprimidos,
paciente somatizador sobre a origem não também são efetivos em pacientes com
orgânica de suas aflições, deslocando-o do polo queixas somáticas na ausência de
da atribuição puramente somática para a direção sintomas depressivos, especialmente em
da compreensão psicológica dos sintomas. dor.
o Avaliação do curso e do grau de incapacitação dos ▪ Sulpirida: apresenta efeitos benéficos,
sintomas: a maioria dos pacientes apresenta em especial nas queixas dolorosas e nos
quadros agudos ou subagudos, com duração distúrbios gastrintestinais. A resposta
inferior a seis meses. APS têm um papel ocorre com doses mais baixas do que as
importante em evitar que casos agudos usadas para tratar a esquizofrenia. Inicia-
cronifiquem. A cronicidade dos quadros de se com doses de 50 mg duas vezes ao dia
somatização é proporcional à sua gravidade, com aumento gradual até resposta
devido à maior a adesão do paciente ao papel de clínica, em geral com uma média de 150
doente, com ganhos secundários e uma profunda a 175 mg por dia, não devendo exceder
dificuldade em se confrontar com suas questões 200 mg por dia. Tem como principal
pessoais. efeito adverso a galactorreia.
→ Tratamento:
o Superar o modelo doença-lesão: os sintomas
inexplicáveis passam a ser vistos como uma
manifestação positiva de sofrimento emocional
ou de doença mental, permitindo construir com o
paciente modelos explicativos para os sintomas
físicos associados ao sofrimento psíquico.
o Evitar o poder somatizador da consulta médica:
estudos com pacientes somatizadores mostraram
que eles forneciam, durante as consultas,
diversas “pistas” – informações e comentários
relativos ao seu sofrimento psíquico – que eram
ignoradas pelos médicos, que se mantinham
fixados nos aspectos físicos. A abertura ao
sofrimento emocional pode ser demonstrada por
meio de perguntas simples, mas que demonstram
interesse e disponibilidade para ouvir os
problemas pelos quais o paciente está passando,
como: “está acontecendo alguma coisa que você
relacione com esse seu sofrimento?” ou “o que
você acha que está causando esse mal-estar?”
o Manejo clínico:
▪ Os pacientes com quadros agudos
(sintomas inexplicáveis associados a
sofrimento mental inespecífico ou aos
TMC) irão responder de forma rápida e
eficaz a uma abordagem que inclua
apoio psicossocial realizado já na APS.
▪ Os somatizadores crônicos (com
síndromes funcionais, conversão / disso-
ciação e hipocondria), aderidos ao papel
de doentes e negando a associação das
queixas com seu sofrimento psíquico,
provavelmente irão necessitar de
tratamento especializado.
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MBE: DIAGNÓSTICO
→ Diagnóstico: é relativo à probabilidade do paciente de ter
aquela doença. É uma informação mais probabilística do
que determinística, na maioria das vezes.
→ Probabilidade condicional (Pensamento Bayesiano): a
probabilidade final é decorrente da interação entre
probabilidades anteriores. No ponto de vista diagnóstico,
significa que partimos de uma probabilidade pré-teste,
acessamos nova informação (anamnese, exame físico ou
exame complementar) e moldamos uma probabilidade
resultante mais adequada ao caso. No caso do exame
complementar, é importante ressaltar que ele não é
determinístico. Portanto, somente aumenta ou diminui
uma probabilidade pré-teste (ideia do médico sobre a
condição do paciente antes de extrair novas informações).
Ex.: pacientes com tosse (informação inicial) tem uma probabilidade
menor de etiologia bacteriana do que pacientes com tosse e
expectoração amarelada (nova informação).

Valor preditivo
→ Valor preditivo: é a probabilidade pós-teste. Quando o
teste é positivo, a probabilidade pós-teste é chamada de
valor preditivo positivo. Quando o teste é negativo, a
probabilidade pós-teste é chamada de valor preditivo
negativo. O valor preditivo é uma propriedade do paciente
que fez o teste, uma vez que a probabilidade pré-teste foi
modificada de acordo com os resultados dos testes
Propriedade de acurácia dos testes
aplicados individualmente naquele paciente.
→ Acurácia: define se o teste influencia pouco ou muito a
probabilidade de doença. Ela é determinada por duas
propriedades: a sensibilidade e a especificidade.
→ Sensibilidade: reconhecer doença nos doentes. No
denominador, tem-se os doentes; no numerador, tem-se
os testes positivos.
→ Especificidade: reconhecer saúde nos saudáveis. No
denominador, tem-se os testes negativos.

→ Razão de probabilidade: combina a sensibilidade e a


especificidade.
o Razão de probabilidade positiva: quanto maior o
número (> 10), maior a probabilidade do paciente
ser doente se teste positivo. → Observações:
o Razão de probabilidade negativa: quanto menor o Prevalência da doença = prob. pré-teste
o número (< 0,1), menor a probabilidade do o Sensibilidade e especificidade podem variar com
paciente ser doente se teste negativo. extensão (gravidade) da doença
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Fluxo do raciocínio diagnóstico → Análise sequencial: parte-se de uma probabilidade pré-
→ Considerar, primeiramente, a probabilidade pré-teste, a teste inicial e aplica-se um teste 1, obtendo uma
qual é calculada a partir de escalas correlacionadas com probabilidade pós-teste 1. Essa probabilidade pós-teste 1
percentuais obtidos por estudos. se torna a probabilidade pré-teste 2, em que é aplicado o
→ Posteriormente, é importante calcular a razão de teste 2, obtendo a probabilidade pós-teste 2.
probabilidade positiva e negativa do teste. De acordo com → Análise multivariada: ajusta as variáveis (resultado dos
o resultado obtido (teste positivo ou teste negativo), deve- testes) entre si, eliminando redundâncias de efeito e
se considerar a respectiva RP. tornando o resultado da probabilidade final mais
→ Após essas etapas, é necessário identificar a probabilidade adequado com a realidade.
pós-teste da doença. Para isso, usamos o Nomograma de Estimativa da probabilidade pré-teste:
Fagan da seguinte maneira: localiza-se a probabilidade → Estimativa mental – pior
pré-teste na primeira coluna e a razão de probabilidade na → Prevalência geral da doença – mais básico
segunda coluna; traça-se uma linha reta unindo os dois → Análise sequencial – forma boa
pontos e terminando em um terceiro ponto na terceira → Análise multivariada – forma ideal
coluna. Este último ponto corresponde à probabilidade pós Análise crítica de estudos sobre acurácia de métodos
teste do paciente ter a doença. diagnósticos
→ Ex.: uma mulher de 40 anos e previamente saudável, → A análise crítica de uma evidência passa por três etapas:
apresenta dispneia em repouso há 2 horas. Foi submetida análise de veracidade (validade interna); análise de
a uma cirurgia de joelho há 2 semanas. Não apresenta relevância; análise de aplicabilidade.
sinais de ICC ou história de pneumonia. Sem sinais de TVP. → O desenho de estudo para análise de acurácia é
o De acordo com os critérios de Wells, a paciente transversal, uma vez que o diagnóstico está no presente.
apresenta probabilidade pré-teste (antes da → Existem dois padrões principais de avaliação do estudo de
angiotomografia de tórax) de TEP de 28%. acurácia:
o A angiotomografia de tórax apresenta razão de o A informação cuja acurácia está sendo testada
probabilidade positiva de 20 e razão de o O padrão de referência: é útil na separação da
probabilidade negativa de 0,18. amostra em um grupo de saudáveis e um grupo
o Considerando que a paciente teve resultado de doentes e que confirmará o diagnóstico após o
positivo na angio-TC de tórax, tem-se teste. A partir do grupo de doentes, é possível
probabilidade pós-teste de 90%, a partir do obter a sensibilidade do teste analisado. A partir
nomograma de Fagan (abaixo). do grupo de saudáveis, é possível obter a
especificidade do teste analisado.
→ Os estudos com protocolos a posteriori (retrospectivos)
são mais propensos a viés do que os estudos com
protocolos a priori (prospectivos).
→ Os vieses relacionados ao padrão de referência (exame
padrão-ouro para diagnóstico, usado como confirmação
dos resultados obtidos pelo exame estudado) são:
o Adequação ao padrão de referência
o Aplicação universal do padrão de referência (viés
de verificação parcial) → quando parte dos
pacientes não realiza o padrão de referência, cria-
se um viés que superestima a sensibilidade e
subestima a especificidade. Essa situação é mais
comum em estudos com protocolos a posteriori,
→ Outra possibilidade é o uso do app Rx-bayes em que a decisão de realizar o padrão-ouro não é
Análise diagnóstica sequencial ou multivariada aleatória, mas sim influenciada pelo resultado do
→ É referente aos casos mais reais, em que se tem muitas exame em questão (apenas os pacientes doentes
informações que precisam ser levadas em conta na hora com outros testes já positivos realizam o padrão
do diagnóstico, não só um teste. ouro, uma vez que os casos foram conduzidos
→ Existem duas formas de analisar um caso de maneira mais segundo protocolos clínicos, não protocolos de
fidedigna com a realidade: estudo. Desse modo que todos os resultados
o Análise sequencial positivos serão verdadeiros, enquanto todos os
o Análise multivariada, que cria o modelo preditor. negativos serão falsos).
o O mesmo padrão de referência para todos os
pacientes (viés de verificação diferencial)
o Leitura independente e cega
o Intervalo de realização entre exame vs padrão
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→ Utilidade do exame diagnóstico para o paciente:
o Probabilidade pré-teste: resulta em um valor
preditivo positivo ou negativo, que pode ser útil
ou não. Caso o paciente apresente uma
probabilidade pré-teste muito baixa, o exame
positivo não será capaz de elevar o percentual a
um nível diagnóstico (ex.: a mamografia é
aplicada na população feminina geral e apresenta
muitos falsos positivos. Contudo, a prevalência de
CA de mama nessa população é de 0,5%. Dessa
maneira, os resultados falsos positivos não se
relacionam à baixa acurácia do teste, uma vez que
ele tem um valor preditivo positivo bom, mas sim
à população em que o teste é aplicado). Assim,
conclui-se que a grande utilidade de um teste
diagnóstico é na zona intermediária de
probabilidade.
o Rendimento do exame diagnóstico (yield):
corresponde a quantos testes precisam ser feitos
para encontrar um resultado positivo verdadeiro.
Esse raciocínio é muito utilizado para testes
usados em triagem. Quanto mais exames
→ Os vieses relacionados ao método avaliado (exame em necessários para identificar um caso verdadeiro,
que a acurácia está em análise) são: mais raro ele é.
o Sistematização da leitura do método o Eficácia do exame diagnóstico: relevância para
o Leitura cega em relação paciente e ao padrão de mudar a conduta e melhorar o desfecho da
referência → o avaliador do resultado do exame doença para o paciente.
cuja acurácia está sendo analisada não deve saber
dos dados clínicos do paciente, nem do resultado
do exame padrão ouro.
o Intervalo de realização entre exame vs. padrão de
referência → deve ser um intervalo que não
permita alteração do estágio de evolução da
doença.
→ Os vieses relacionados à amostra analisada são os de Overdiagnosis
seleção, os quais ganham nome de Spectrum Bias (viés de → Conceito: é um diagnóstico correto, porém fútil. Tem mais
espectro). potencial de prejuízo do que de benefício.
o Grande contraste de gravidade de doença entre → Para reduzir o overtreatment (iatrogenia), é necessário
pacientes e saudáveis → otimiza falsamente a reduzir o overdiagnosis.
acurácia do método → Choosing Wisely: é uma iniciativa da Fundação ABIM que
o Evidente diferença entre os exames (otimiza busca promover um diálogo para evitar exames médicos,
capacidade discriminatória) tratamentos e procedimentos desnecessários. A missão
o Situações de menor utilidade do método, pois do Choosing Wisely é promover conversas entre médicos e
diagnóstico clínico muitas vezes está evidente → pacientes, ajudando os pacientes a escolher cuidados que
pacientes muito graves. sejam apoiados em evidência, não seja uma duplicata de
Aplicabilidade de métodos diagnósticos outros testes ou procedimentos já recebidos, com menor
→ Validade externa da acurácia: aplicação da informação risco e verdadeiramente necessários. A Choosing Wisely
obtida pelo estudo na população, dependendo do quão não deve ser usada para estabelecer decisões. Em vez
próximo esta é da amostra do estudo. disso, pretendem estimular a conversa sobre o que é um
→ Princípio da complacência: determina que a informação tratamento apropriado e necessário. Como a situação de
do estudo obtida a partir de uma amostra limitada pode cada paciente é única, provedores e pacientes devem usar
ser moderadamente aplicada em um espectro mais amplo as recomendações como diretrizes para determinar um
de pacientes, a partir do ideal da evidência indireta. Essa plano de tratamento apropriado em conjunto.
complacência, no contexto do teste diagnóstico, é limitada → Mecanismos de overdiagnosis: rastreamento de doenças,
pela extensão (gravidade) da doença. Isso porque estágios testes muito sensíveis, incidentalomas, definição ampliada
mais avançados podem facilitar o diagnóstico (falseando a de doenças.
acurácia) ou dificultar a avaliação do exame.
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TONTURA E VERTIGEM → Sintomas-chave das principais vestibulopatias:
→ Conceitos:
o Vertigem: é caracterizada pela sensação subjetiva
de rotação do sujeito ou dos objetos ao seu redor,
sendo uma ilusão de movimento do corpo ou do
ambiente.
o Pré-síncope: sensação iminente de síncope/perda
da consciência, por vezes acompanhada de
sensação de calor, diaforese, náuseas e
borramento visual.
o Desequilíbrio: sensação de instabilidade postural,
agravada durante a deambulação, sem a
sensação ilusória de rotação característica da → Vestibulopatias Centrais:
vertigem. Por vezes é descrito pelo paciente como o Mais comuns na população idosa e pediátrica.
“vindo das pernas, e não da cabeça”. o Raramente a tontura é o sintoma isolado, sendo
o Tontura: engloba os sintomas não possíveis de mais frequente o desequilíbrio (ataxia), não
categorizar como vertigem, pré-síncope ou rotatório, com predomínio de instabilidade e
desequilíbrio. Frequentemente os pacientes têm quedas.
dificuldade para descrever a sintomatologia. o É comum que as crises sejam de longa duração,
Vertigem com sintomas mais brandos em relação às
→ Conceito: o sintoma predominante resultante de uma periféricas.
assimetria aguda do sistema vestibular, podendo ser o É incomum que estejam presentes sintomas
classificada como de causa periférica ou central. auditivos (hipoacusia, zumbido, plenitude aural).
o Vestibulopatias Periféricas: distúrbios decorren- o Sintomas neurológicos (cefaleia, diplopia,
tes do sistema vestibular periférico, ou seja, do disartria, parestesia, fraqueza muscular e ataxia)
órgão vestibular na orelha interna até a entrada e neurovegetativos (vômito, sudorese e
do nervo vestibular no tronco encefálico. A palpitações) devem ser questionados.
diferença de atividade entre os dois labirintos o História de intoxicação por drogas e álcool, RCV
gera uma assimetria que chega ao núcleo (HAS, DM, tabagismo, angina) e enxaqueca
vestibular, sendo interpretada pelo cérebro como devem ser avaliados, pois são agravantes.
uma falsa sensação de movimento. → Vestibulopatias periféricas:
o Vestibulopatias Centrais: são causadas por um o Predominam na faixa etária adulta (40-60anos).
distúrbio nos centros de interação vestíbulo- o O sintoma clássico é de uma intensa crise de
ocular no tronco encefálico e cerebelo ou nas vias tontura rotatória (vertigem), frequentemente
sensoriais ao nível do tálamo. recorrente.
→ Estratégia diagnóstica para pacientes com vertigem: o Sintomas neurovegetativos podem acompanhar
os episódios.
o Sintomas otológicos, como perda auditiva,
zumbido, plenitude aural ou otorreia, também
podem estar presentes.
o O paciente pode referir uma tendência à queda
para um lado específico, em geral o do labirinto
comprometido.
o Movimentos da cabeça ou do corpo e os olhos
fechados podem intensificar a vertigem.
o As crises nas vestibulopatias periféricas variam
em duração, podendo se estender por segundos,
minutos, horas ou até dias.
→ Diagnóstico diferencial de acordo com tempo: → Principais pontos da anamnese que devem ser abordados
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
→ Exame Físico: avaliar segundo a sequência:
o Avaliação neurológica: pares cranianos, função
cerebelar (marcha, coordenação, reflexos, teste
índex-nariz) e fundoscopia (quando possível).
→ Exames complementares: úteis para confirmação do
o Otoscopia: afastar causas otológicas, sobretudo
diagnóstico topográfico e das doenças vestibulares
as inflamatórias (otorreia, otite média, tampão de
específicas.
cerúmen e vesículas no pavilhão auricular).
o Audiometria tonal e vocal: para identificação de
o Acumetria: avaliar hipoacusia solicitando ao a
evidências de perda auditiva.
repetição de palavras/números sussurrados
o Eletronistagmografia: permite o registro gráfico
próximos ao ouvido (“teste do sussurro”). Com o
dado pela direção do componente rápido do
diapasão (testes de Rinne e Weber), pesquisa-se
nistagmo. Permite identificar achados
se a hipoacusia é condutiva ou neurossensorial.
topográficos anormais periféricos ou centrais,
o Pesquisa de nistagmo: representa a função do
utilizando uma bateria de testes da função
sistema vestibular sobre a movimentação ocular
vestíbulo-ocular.
(reflexo vestíbulo-ocular). Geralmente o nistagmo
o RNM: meio de imagem preferencial na detecção
central não tem latência, piora com a fixação
das principais afecções centrais. Os achados mais
ocular e é multidirecional, enquanto o periférico
comuns são de neoplasias da fossa posterior,
tem latência, é fatigável e unidirecional. A
focos de desmielinização da esclerose múltipla,
presença de nistagmo espontâneo, bem como
áreas isquêmicas e degenerativas.
induzido por meio de qualquer manobra referida
→ Vertigem Posicional Paroxística Benigna:
pelo paciente como causadora de vertigem, deve
o Periférica.
ser investigada.
o Conceito: tontura causada por uma reação
o Teste de Dix-Hallpike: deve ser realizado quando
anormal do sistema equilibrador a certas posições
há suspeita de vertigem posicional paroxística
da cabeça.
benigna (VPPB). O teste é positivo se vertigem e
o Anatomia: doença da orelha interna com reper-
nistagmo estão presentes e o nistagmo inicia-se
cussões nos canais semicirculares (superior,
após um período de latência de poucos segundos,
horizontal e posterior), sendo mais frequente no
com frequência torsional, geotrópico (fase rápida
canal semicircular posterior.
do nistagmo com batimento no sentido da orelha
o Epidemiologia: comum entre 50-60 anos e fem.
estimulada, que está voltada para o solo) e
o Fisiopatologia: otólitos degeneram-se e geram
fatigável (com repetição da manobra).
partículas que ficam suspensas na endolinfa
o Testes de equilíbrio: avaliam o reflexo vestíbulo-
(canalitíase) ou aderidas à cúpula do canal
espinhal por meio dos testes de equilíbrio estático
semicircular (cupulolitíase). Quando ocorre
(Romberg) e dinâmico (Babinsky-Weil e
movimento da cabeça, a orientação do canal se
Unterberger). Geralmente, nos quadros perifé-
modifica em relação ao plano gravitacional e o
ricos existe tendência de queda para o lado do
deslocamento de partículas por ação da
labirinto deficitário (propulsão lateral), e nos
gravidade promove uma ativação anômala da
centrais predomina a ataxia e movimentos
crista ampular.
anteroposteriores (retropulsão).
o História clínica compatível: episódios recorrentes
▪ Romberg simples: aproxima os pés,
de vertigem posicional (desencadeada em posi-
deixando os braços ao longo do corpo, e
ções específicas da cabeça), que duram de poucos
fecha os olhos. O teste é considerado
segundos a 1 min. Pode ocorrer náusea, mas
positivo com oscilações ou queda.
vômitos são raros. Com frequência, após as crises,
▪ Romberg sensibilizado: a ponta do pé
surgem sintomas de desequilíbrio que podem
próximo ao calcanhar do pé oposto. É
durar de minutos a horas. Não costuma estar
periférico quando há latência entre o fe-
relacionada com hipoacusia e zumbido.
chamento dos olhos e a queda (no sen-
o Diagnóstico: a história clínica compatível +
tido do labirinto lesado). Nos casos
manobra de Dix-Hallpike positiva sugerem VPPB.
centrais, a queda é precoce e abrupta.
Vale lembrar que a manobra negativa não exclui.
▪ Babinsky-Weil: pede-se que o paciente
o Tratamento: manobra de Epley. É possível indicar
ande para frente (5-6 passos) e volte de
a manobra de Brandt-Daroff (doméstica).
costas com os olhos fechados. O desvio
o Prognóstico: curso intermitente, com possibi-
da marcha é para o labirinto lesado.
lidade de remissão espontânea ou recorrência.
▪ Unterberger: o paciente anda de olhos
o Avaliação com otorrino: refratariedade a 2
fechados sem sair do lugar por 1 min ou
tentativas de aplicação das manobras de
90 passos sem deslocar-se. A queda
reposição otolítica, incerteza diagnóstica ou
ocorre para o labirinto lesado.
recorrência de ≥ 3 episódios.
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
→ Neuronite vestibular / Labirintites: o Investigação complementar: a audiometria pode
o Periférica. evidenciar perda auditiva neurossensorial nas
o Conceito: baixas frequências (tons graves). A investigação
▪ Neuronite vestibular: é uma inflamação laboratorial deve identificar os distúrbios
do nervo vestibular que ocorre após uma metabólicos (intolerância a glicose/ diabetes,
infecção viral. Não acomete a audição, hipotireoidismo e dislipidemia).
sendo uma mononeuropatia do ramo o Tratamento:
vestibular. ▪ Preventivo: o medicamento-padrão é a
▪ Labirintite: acomete tanto o labirinto beta-histina (24 mg 2x/dia ou 16 mg
como o nervo vestibular, podendo 3x/dia). Em alguns casos, pode ser
apresentar hipoacusia e zumbido. associado diurético (HCTZ, 25 a 50 mg ao
o Epidemiologia: adultos jovens e meia idade. dia), porém as evidências recentes não
o Evolução clínica: início é abrupto com evolução comprovaram sua eficácia. Orientar
lenta, apresentando duração de semanas. A dieta hipossódica.
vertigem pode ser intensa e incapacitante, mas a ▪ Crise: associação de ansiolíticos
tendência é a melhora progressiva em função da (clonazepam, 0,25 a 0,5 mg 1 a 2x/dia) e
compensação vestibular central. sedativos labirínticos (dimenidrinato, 50
o Tratamento: a 100 mg a cada 4 a 8 horas).
▪ Medicamentoso: é sintomático e deve → Labirintopatias hormonais e metabólicas:
ser realizado pelo menor período o Periféricas.
possível para não comprometer a o Epidemiologia: mulheres, a partir de 30 anos.
compensação vestibular. Os sedativos o História clínica: sintomas ser cíclicos e vagos,
labirínticos (tabela abaixo) são usados. como cabeça leve, instabilidade e zumbidos de
▪ Exercícios de Cawthorne-Cooksey: exer- alta frequência.
cícios de reabilitação vestibular. o Etiologias: distúrbios do metabolismo dos carboi-
dratos (hiperinsulinemia, intolerância a glicose,
diabetes), da tireoide (hipo/hiper) e dos ovários.
o Investigação complementar: a audiometria pode
apresentar uma perda auditiva neurossensorial
“plana” ou em “U invertido”. A avaliação
glicêmica e tireoidiana está indicada.
o Tratamento: correção do distúrbio metabólico.
oAvaliação com otorrino: deve ser considerada nos → Cinetose:
casos de incerteza diagnóstica ou nos casos sem o Conceito: síndrome caracterizada por tontura,
melhora após uma semana do início dos palidez, sudorese, náusea, vômito, salivação, mal-
sintomas. estar generalizado originado pela estimulação
→ Síndrome de Ménière: excessiva do sistema vestibular, geralmente em
o Periférica. viagens de carro ou barco.
o Anatomia: orelha interna. o Fisiopatologia: decorre do conflito de
o Epidemiologia: mulheres entre 20 e 60 anos. informações entre os três sistemas do equilíbrio
o Etiologia: distúrbios metabólicos (dislipidemia, corporal (vestibular, visual e proprioceptivo).
tireoidopatia, autoimunidade, alergia, infecção o Prognóstico: a remissão é espontânea, em geral
viral, alterações vasculares e genética) algumas horas após a exposição.
o História clínica compatível: crises recorrentes de o Tratamento: fixação dos olhos em um ponto /
vertigem (sintoma principal), hipoacusia, exercício físico auxilia na compensação central.
zumbido e plenitude aural. Em geral é unilateral, Em casos mais intensos, indica-se reabilitação
mas pode ser bilateral em até 30% dos casos. vestibular e tratamento medicamentoso
o Diagnóstico: clínico (no mínimo duas crises de (sedativos labirínticos /clorfeniramina).
vertigem de duração de pelo menos 20 minutos, → Fístula labiríntica:
zumbido e/ou plenitude aural e perda auditiva o Periférica.
neurossensorial flutuante). o Comunicação entre a orelha interna e a cavidade
o Avaliação com otorrino: logo após a suspeita timpânica. Pode ocorrer de forma espontânea,
diagnóstica, uma vez que a confirmação é feita traumática, esforço físico ou infecções otológicas.
com exames específicos (eletrococleografia e Os sintomas são os de perda auditiva súbita ou
potenciais miogênicos vestibulares evocados) e o progressiva associada à vertigem. A vertigem
teste do glicerol (audiometrias seriadas após pode ser desencadeada por som intenso ou
administração de potente diurético). manobra de Valsalva. O tratamento é cirúrgico.
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
→ Migrânea Vestibular: Manobras abordadas na VPPB:
o Central. → Dix-Hallpike: o paciente fica de olhos abertos, sentado, a
o História clínica: ocorre na fase da aura, sendo uma altura que, quando deitado, sua cabeça permanecerá
exacerbada por movimentos da cabeça. Os fora da maca. A cabeça é virada 45° para o lado a ser
pacientes com migrânea vestibular são avaliado. Deita-se rapidamente a cabeça do paciente,
suscetíveis à cinetose. Os episódios de vertigem sendo segurada pendente por 20 segundos, e a presença
aguda duram de minutos a poucas horas. do nistagmo é pesquisada. Pesquisa-se mais uma vez a
o Diagnósticos diferenciais: eventos vasculares presença do nistagmo com o paciente levantado na
agudos do tronco encefálico e doença de posição sentada. Repete-se a mesma manobra do lado
Ménière. oposto. Observa-se a direção e duração do nistagmo, bem
o Diagnóstico: clínico → vertigem recorrente, como a sensação de vertigem.
história clínica ou familiar de migrânea e pelo
menos dois sintomas de migrânea nas crises de
vertigem (cefaleia, fotofobia, fonofobia,
escotomas visuais).
o Tratamento: é semelhante ao tratamento da
migrânea clássica
→ Insuficiência vertebrobasilar:
o Central.
o História clínica: desequilíbrio / instabilidade
constante, vertigem súbita ao girar a cabeça,
alterações visuais (escotomas e diplopias) e drop-
attack (queda súbita, sem perda de consciência).
→ Manobra de Epley: coloca-se o paciente na posição de Dix-
Pode estar acompanhada de outros sintomas Hallpike, do lado em que há aparecimento de vertigem
neurológicos como fraqueza nas extremidades, e/ou nistagmo. Conduz-se a cabeça, devagar, para o lado
parestesias, cefaleia e confusão mental. No oposto a 45°. Orienta-se o paciente a se deitar sobre o
exame físico, são importantes a aferição da ombro, do mesmo lado, sendo que a cabeça está segura
pressão arterial e a ausculta cervical em busca de pelo terapeuta. Desloca-se a cabeça para baixo até que o
sopros carotídeos. nariz fique apontado para o chão. Coloca-se o paciente na
o Fisiopatologia: diminuição do fluxo sanguíneo das posição sentada. Devem-se manter as posições por um
artérias vertebrais e basilar em função da período de três minutos cada.
presença de placas de ateroma, alterações
hemodinâmicas (hipotensão ortostática) ou
compressão extrínseca (contratura dos músculos
escalenos ou osteófitos).
o Epidemiologia: mais de 50 anos com ↑RCV.
o Fatores de risco: diabetes, hipertensão arterial e
dislipidemia.
→ Manobra de Brandt-Daroff: indicada quando o paciente
o Tratamento: tratamento da patologia de base
ainda refere queixa de tontura após a realização da
(doença vascular aterosclerótica, hipercoa-
manobra de Epley. Ela é realizada mudando o paciente da
gulabilidade, hiperviscosidade, osteoartrose)
posição sentada para o decúbito lateral correspondente ao
→ Outras causas mais raras de vestibulopatias centrais: labirinto afetado, permanecendo nessa posição por 30
o A esclerose múltipla, a neoplasia intracraniana (a
segundos. Em seguida, o paciente rapidamente volta à
mais associada sendo o schwannoma vestibular), posição sentada, permanecendo por mais 30 segundos, e,
a malformação de Arnold-Chiari e a epilepsia finalizando, passa para o decúbito lateral oposto,
podem causar vertigem. mantendo-se também durante 30 segundos nessa posição.
o Cabe ressaltar que, embora a hiperventilação
relacionada com ansiedade ou outros problemas
de ordem emocional sejam considerados
diagnóstico de exclusão, também podem estar
associados a quadros de vertigem, apesar de
serem mais comuns nos casos de tontura
inespecífica.
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
Pré-Síncope e Síncope → Síncope vasovagal:
→ Descrição: duração curta (seg ou min), costuma ser o É a forma mais comum.
descrito como “sensação de desmaio” ou de “apagão”, o É associada a momentos ansiogênicos.
embora nos casos menos intensos a descrição possa ser o Diagnóstico: clínico e de exclusão, uma vez que
menos clara. É comum o aparecimento de sensação de história e exame físico costumam ser “não
calor, diaforese, náusea e borramento visual, bem como a diagnósticos”. O “Tilt-test” confirma a suscetibili-
percepção de palidez. Além disso, costuma ocorrer quando dade à síncope vasovagal, podendo ser usado em
o indivíduo está em ortostase ou sentado. pacientes cuja informação seja necessária para
→ Etiologia: hipotensão, condições metabólicas, doença tomada de decisão clínica.
cardíaca, condições intracranianas e transtornos mentais. o Após a crise: o paciente pode apresentar rubor e
certo grau de confusão que dura cerca de 10 min,
sobretudo em idosos. A bradicardia pode durar
até 30 min após. Durante, recomenda-se que o
paciente permaneça em posição supina.
o Manejo: deitar assim que notar os sintomas, a fim
de abortar a síncope.
→ Síncope por hipotensão ortostática:
o Fisiopatologia: queda abrupta da pressão arterial
ao se levantar.
o Diagnóstico: aferição da pressão arterial deitado
ou sentado e depois que o paciente se mantiver
em ortostase por 3 minutos. Considera-se teste
diagnóstico positivo se:
→ Dados da anamnese importantes para a etiologia:
- PAS apresentar redução ≥ 20 mmHg
o Relação do sintoma com a atividade que estava - PAD apresentar redução ≥ 10 mmHg
realizando quando do seu início. - PAS < 90 mmHg com reprodução de sintomas
o Posição ou mudança de postura. - FC apresentar aumento > 30 bpm OU FC > 120 bpm após 10
o Atividade física minutos em ortostase.
o Fator estressante psicológico/físico o Etiologias:
o Presença de sintomas neurológicos. ▪ Medicamentos: anti-hipertensivos, mas
o Presença de sintomas cardíacos (palpitação ou também os que afetam a função
dor torácica). autonômica (neurolépticos, antidepres-
o Sintomas de ansiedade/alteração do humor. sivos tricíclicos, levodopa, agentes
o Medicamentos em uso. colinérgicos, anti-histamínicos). O trata-
o História prévia de sintomatologia semelhante. mento é redução ou retirada completa.
o História de cardiopatia prévia. ▪ Idade: a ortostase da idade é multifa-
o Uso de álcool ou drogas ilícitas. torial e pode estar somada à disfunção
→ Exame físico: exame cardiovascular e neurológico vestibular, isquemia cerebral, próprio-
meticulosos, com medição da PA e FC na posição deitada e cepção anormal e baixa acuidade visual.
após 1-2 min em ortostase, e ausculta cardíaca e de ▪ Pós-repouso prolongado: comum em
carótidas. idosos com pouca mobilidade ou indi-
→ Investigação complementar: um ECG de repouso pode ser víduos acamados por longos períodos.
indicado para todos os pacientes com síncope se uma ▪ Outras: calor, tempo prolongado na
causa óbvia não for identificada por meio da história e do posição ortostática, redução do volume
exame físico. Demais exames complementares como intravascular, neuropatia autonômica.
Holter, ECO, “Tilt-test” e laboratório devem ser solicitados
de acordo com a suspeição clínica.
→ Encaminhamento para serviço de emergência: suspeita
de causas graves como cardiopatias (arritmias, infarto
agudo do miocárdio, estenose aórtica), doença
cerebrovascular aguda (acidente vascular cerebral),
hipertensão intracraniana, hemorragia subaracnóidea,
crise convulsiva (paciente sem diagnóstico de epilepsia
confirmado) ou embolia pulmonar, por exemplo / Alto
risco de recorrência de síncope/pré-síncope com chance
de consequente dano/lesão (devido a uma queda, por
exemplo) em pacientes mais fragilizados.
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
→ Síncope cardíaca:
o Arritmias: consideradas em idosos, com história
de cardiopatia prévia, palpitação ou sintoma-
tologia enquanto deitados ou sentados. Um ECG
de repouso (ou até um Holter) deve ser solicitado.
o Estenose aórtica e miocardiopatia hipertrófica:
geralmente durante exercício físico, em
associação com precordialgia. Confirmado por
ECO.
o IAM: a síncope pode decorrer de arritmia, dor
intensa ou baixo débito cardíaco.
Outras tonturas
→ Desequilíbrio:
o Mais comum em idosos.
o Fisiopatologia: causado por um conjunto de
múltiplos déficits sensoriais (perda auditiva e
visual, disfunção da propriocepção ou disfunção
vestibular), paresia de extremidades (seja por
sequela de acidente vascular cerebral, atrofia
após longo período de inatividade ou neuropatia
periférica), dores em articulações de carga
(quadril, joelho ou tornozelo), ataxia cerebelar,
início recente de medicamentos (especialmente
ansiolíticos, hipnóticos e neurolépticos) ou início
recente de doença progressiva do sistema
nervoso central (Parkinson, mielopatias).
Espondilose cervical e alcoolismo crônico
também podem contribuir para os sintomas.
o Exame físico: observação da marcha, avaliação da
capacidade visual, exame de sensibilidade dos pés
e exame do aparelho musculoesquelético (sinais
de artrose, atrofia muscular, paresia).
o Fatores associados: piora em ambientes com
pouca luminosidade, melhora com apoio em
objetos estacionários.
o Manejo: tratamento da causa base; uso de
bengalas.
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
ABORDAGEM À DOR MUSCULOESQUELÉTICA → Síndrome dolorosa fascial:
→ Dados específicos que auxiliam na etiologia da dor: o Uma das principais causas de dor muscular.
o Localização: localizada ou difusa (quadros abaixo) o Causada por pontos-gatilho (PGs) miofasciais /
trigger points (não confundir com fibromialgia,
que envolve pontos sensíveis, ou tender points).

o Critérios diagnósticos:

o Anamnese: pessoas com PGs ativos referem dor


muscular persistente, com diminuição de força
e/ou amplitude de movimento do músculo
envolvido. O diagnóstico é clínico.
o Exame físico: PGs são pontos hipersensíveis na
banda tensa (feixe de fibras contraídas) do
músculo. São dolorosos à compressão, podendo
gerar dor ou sensibilidade, bem como sintomas
autonômicos e disfunção motora. Podem ser
o Início e evolução: em início súbito, avaliar trauma ativos (doem em repouso), latentes (ativam ao
ou alguma atividade fora do habitual. Os quadros estímulo) ou satélites (próximos ao principal). À
agudos sugerem infecções (fazer diagnóstico palpação, podem causar dor referida à distância e
diferencial com dengue, chikungunya e zika) e reflexo contrátil localizado. O alongamento ou
polimialgia reumática. Em quadro subagudo infiltração do PG causa alívio da dor.
(dias-semanas), sugere-se medicação (como as o Exames complementares: exames séricos e de
estatinas) como causa. Em quadro crônico imagem costumam ser normais.
(semanas-meses) com início gradual, sugere-se → Distensão muscular:
hipotireoidismo, viroses crônicas (hepatite C), o Lesão por estiramento excessivo do músculo. As
hipercalcemia e deficiência de vitamina D, mais frequentes envolvem parte posterior da
fibromialgia, síndrome dolorosa miofascial (SDM) coxa, panturrilha, quadríceps, lombar e adutores
e síndrome da fadiga crônica. da coxa. Rupturas completas são incomuns.
o Mais intensa de manhã: fortemente sugestiva de o Anamnese: ocorre durante contrações
doença reumatológica (polimialgia reumática, AR, excêntricas (resistência ao alongamento).
etc.), principalmente se associada à rigidez. Músculos que atuam em duas ou mais
o Sinais flogísticos: sugere causas infecciosas, como articulações, como os posteriores da coxa e o
piomiosite e abscesso muscular. Sua ausência em gastrocnêmio, são mais vulneráveis (variações
quadros localizados intensos deve sugerir infarto simultâneas de ângulo e velocidade impostas
muscular (diabéticos) e sínd. compartimental. pelas articulações). Há dor súbita durante
o Medicação iniciada ou interrompida no início da atividade. O tipo de movimento pode sugerir o
dor: hipolipemiantes (estatinas, fibratos e ácido diagnóstico.
nicotínico) são causas frequentes de mialgia, o Exame físico: as lesões ocorrem na junção
assim como AIE, zidovudina, cloroquina, colchi- miotendínea (área mais frágil do complexo
cina, D-penicilamina, α-interferon, antipsicóticos músculo-tendão). Edema, equimose e dor são
(haloperidol, risperidona, clozapina, olanzapina), comuns. A palpação evidencia sensibilidade e
diuréticos (hipocalemia crônica). Interrupção dor. Uma depressão palpável pode ser ruptura. A
súbita de ISRS e AIE pode causar mialgia. avaliação deve incluir exame neurovascular e
o Fraqueza muscular proximal: hipotireoidismo, comparação com a outra extremidade.
induzida por medicamentos, hipercalcemia e o Exames complementares: a USG confirma o
miopatia inflamatória (como a polimiosite). diagnóstico; avalia a extensão, necessidade de
drenagem de hematoma e recuperação.
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
→ Cãibras: → Anamnese geral:
o Contraturas involuntárias de um músculo ou o Dor: padrão, localização, intensidade, irradiação,
grupo muscular, em geral, dolorosas. Em alguns desencadeantes, atenuantes e agravantes,
casos, podem ser frequentes e intensas, levando sintomas associados, evolução cronológica
à incapacidade do indivíduo. o Fator desencadeante: sobrecargas, posturas
o Causas: muito variadas, incluindo alterações inadequadas durante tarefas (inclusive sono e
ortopédicas (como pés planos); desidratação, lazer), esforços repetitivos, traumas,
exercício, alterações eletrolíticas e medicamentos sedentarismo associado a esforços físicos
(sobretudo diuréticos e estatinas). intensos esporádicos (atletas de final de semana),
o Anamnese: geradas ou intensificadas por esportes praticados, atividades de lazer.
estresses físicos, como desidratação ou esforços → Exame físico de outras afecções:
excessivos. Doenças neuromusculares e doenças o Entesites, tenossinovites e bursites: diagnósticos
neuropáticas (como ELA, neuropatias periféricas) diferenciais de SDM, uma vez que causam dor
se acompanham de cãibras, bem como muscular, contraturas, alterações na amplitude
hipotireoidismo, disfunções renais ou hepáticas, de movimento e formação de PG.
distúrbios eletrolíticos (hipomagnesemia e o Síndrome compartimental: principal diagnóstico
hipocalcemia). As cãibras idiopáticas costumam diferencial de distensão muscular, sendo uma
acometer mais pernas e pés e ocorrem à noite. emergência cirúrgica. Edema, dor ao
o Exame físico: podem não estar presentes quando alongamento passivo e pressão intracomparti-
o indivíduo é examinado, o que as diferencia dos mental aumentada caracterizam o quadro.
espasmos musculares,que são contraturas → Tratamento farmacológico:
involuntárias sustentadas, geralmente dolorosas. o Analgésicos: paracetamol (até 4g/dia, em casos
o Exames complementares: avaliação de distúrbios sem sinais flogísticos) com/sem associação a
metabólicos ou eletrolíticos (TSH, K, Ca) opioides (codeína/tramadol) e dipirona (até
→ Fibromialgia: 2g/dia).
o Frequentemente acompanhada de fadiga, o AINEs orais: primeira escolha em caso de sinais
distúrbios cognitivos, sintomas psiquiátricos e flogísticos. Usados na dor aguda, o que facilita o
diversos sintomas somáticos. emprego de outras medidas terapêuticas, como
o Critérios diagnósticos: tratamento fisioterápico ou agulhamento. Seu
uso crônico não agrega benefício e está ligado a
complicações como gastrite, úlcera péptica, dano
renal e aumento da incidência de DCV.
o AINEs tópicos: efetivos e seguros quando usados
no manejo de dores musculoesqueléticas agudas,
como entorses, contusões e lesões por uso
excessivo, provavelmente equivalentes às
apresentações orais.
o Opioides: são utilizados como tratamento
adjuvante, se não forem obtidos resultados
satisfatórios com analgésicos, AINE e medidas
não farmacológicas.
o Relaxantes musculares: os de ação periférica não
parecem oferecer benefício. Os de ação central
mostraram melhores resultados em SDM. Entre
eles, usa-se ciclobenzaprina (15-30 mg/dia) e
tizanidina (2-8 mg, 3x/dia, VO).
o Psicofármacos: tricíclicos (amitriptilina, clomi-
pramina ou nortriptilina, em doses de 25-100
mg/dia), ISRS e os duais (mirtazapina, venlafaxina)
causam, além do efeito analgésico, relaxamento
muscular e melhora do sono. Os tricíclicos e os
duais são aparentemente equipotentes e mais
eficazes do que os ISRS (usados em caso de
contraindicação das outras classes). Gabapentina
e pregabalina são adjuvantes. Os BZD são
ansiolíticos de efeito miorrelaxante e alternativas
válidas para tratamentos curtos.
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
Avaliação do Ombro → Avaliação do músculo subescapular:
→ Inspeção: avaliar pela frente, lado e costas. Avaliar volume 1. Extensão do membro, com rotação interna atrás
muscular, deformidades ósseas, assimetrias. das costas, com uma distância discreta entre a
→ Avaliação da coluna vertebral: exclui patologias da coluna mão e a região lombar. Avaliar se o paciente
que podem ser confundidas com as do ombro. consegue manter a posição. Caso aproxime a mão
→ Amplitude do movimento: flexão frontal, abdução e apoie na lombar (segunda figura), sugere-se
completa, adução cruzando o tronco, rotação externa, insuficiência de rotação.
hiperextensão, rotação interna.

2. Teste Lift-Off (Gerber): na posição descrita acima,


solicitar que o paciente faça resistência à força
aplicada pelo examinador em direção à lombar.

→ Avaliação da escápula: repetir os movimentos de


avaliação da amplitude, observando o comportamento das
escápulas durante a realização. Buscar assimetrias ou → Avaliação do músculo serrátil anterior:
alterações de mobilidade. 1. Apoiar as mãos na parede e fazer uma “flexão”
→ Manguito rotador: estrutura mais afetada por patologias em pé. Avaliar presença de escápula alada,
do ombro. É composto pelos músculos: supraespinhal, indicando fraqueza do serrátil anterior.
infraespinhal, redondo menor e subescapular.

→ Pinçamento/Compressão do músculo supraespinhal:


1. Teste de Neer: rotação externa completa da mão
e flexão frontal de 180°. O teste positivo
corresponde à replicação do sintoma referido.

2. Teste da Lata Vazia: abdução em 90°,


→ Avaliação do músculo supraespinhal:
anteroflexão em 30° e rotação externa da mão.
1. Abdução em 90° e anteroflexão em 30°. Solicitar
Caso haja dor, o teste é positivo.
que o paciente faça resistência à força aplicada
pelo examinador em direção ao chão. Avaliar
presença de dor e assimetria de força.
2. Na mesma posição, porém com rotação externa
das mãos, solicitar que o paciente faça resistência 3. Teste Hawkins-Kennedy: repetidas rotações
à força aplicada pelo examinador em direção ao internas do ombro combinadas com adução
chão. cruzando o tronco.

→ Avaliação do músculo infraespinhal e redondo menor: → Tendinopatia do músculo bíceps:


1. Com cotovelos próximos ao tronco, flexionar 1. Speed’s test: flexionar o antebraço em 90°.
antebraços com rotação externa de 30°. Solicitar Solicitar que o paciente faça resistência à força
que o paciente faça resistência à força aplicada aplicada pelo examinador em direção ao chão.
pelo examinador em direção ao chão. Avaliar Palpar o tendão do bícep.
presença de dor e assimetria de força.
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
2. Yergason’s test: supinação com resistência. 2. Teste de apreensão e recolocação: colocar a mão
Durante a manobra, o examinador palpa o tendão fechada atrás do ombro e fazer força em direção
do bíceps (próximo à inserção no ombro e ao chão com braço do paciente flexionado em
próximo à inserção na fossa cubital). 90°. O teste é positivo se houver dor ou
desconforto. Após o aparecimento da dor, aplicar
uma força na articulação do ombro.

→ Capsulite aderente (ombro congelado): inicialmente, o


paciente apresenta dor, enquanto que, com a evolução da → Slap lesion: comum em atletas e acidente automobilístico.
doença, apresenta redução da movimentação ativa e
passiva do ombro.

1. Speed’s test: flexionar o antebraço em 90°.


Solicitar que o paciente faça resistência à força
1. Rotação externa: costuma ser a primeira aplicada pelo examinador em direção ao chão.
movimentação afetada. Palpar o tendão do bícep.

2. Movimentação da escápula: nota-se assimetria da 2. Teste de O’Brian: resistência à força que o


mobilidade escapular decorrente da capsulite. examinador faz em direção ao solo na posição da
3. Trapézio espasmo ou trigger points. foto.
→ Doença da articulação acromioclavicular: dor localizada
na articulação, com piora noturna (quando o paciente
deita sobre o ombro afetado)

3. Teste de Crank: rotação interna e externa


repetidas.

1. Palpação da articulação acromioclavicular: buscar


dor, deformidades estruturais, crepitações
2. Teste do cachecol: adução passiva cruzando o
tronco. O teste positivo consiste em dor ou Avaliação do Joelho
crepitação

3. Arco doloroso: dor na adução do braço, entre 150


e 180 graus.

→ Inspeção:
1. Frontal: cicatrizes, eritema, lacerações, edemas
(desaparecimento da depressão fisiológica medial
→ Instabilidade crônica do ombro: subluxação ou hipermobi- à patela), alinhamento (valgo ou varo).
lidade da articulação.
1. Sinal do sulco: tracionar o úmero para baixo e
avaliar presença de sulco que aparece na inserção
do deltoide.
2. Lateral: hiperextensão ou flexão unilateral
(inflamação / infecção).
3. Posterior: inchaços (cistos de Baker, aneurisma
poplíteo)
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
→ Marcha: pedir ao paciente que ande. 2. Cruzado Anterior (teste da gaveta): sentar-se
→ Avaliação vascular: palpar os pulsos dos MMII sobre o pé do lado avaliado e posicionar os hálux
→ Temperatura: avaliar com o dorso da mão. Comparar na fossa poplítea. Tracionar a tíbia anteriormente.
bilateralmente. Caso ambas estejam na mesma Avaliar mobilidade.
temperatura, comparar com o músculo (deve estar mais
quente). Temperatura elevada indica processo
inflamatório; temperatura reduzida indica dano vascular
ou nervoso.
→ Avaliação de edema medial e lateral: com paciente 3. Cruzado Anterior (Teste de Lachman): flexionar o
deitado, drenar o líquido possivelmente acumulado com joelho a 30°. Segurar e tracionar o fêmur para
movimentos de tensão da pele para cima. Pressionar acima baixo; simultaneamente segurar e tracionar a
da patela e verificar aparecimento de edemas laterais ou tíbia para cima.
mediais.

→ Avaliação dos ligamentos colaterais:


→ Avaliação óssea medial e lateral: flexionar os joelhos a 1. Flexionar o joelho a 30° e estabilizar. Tracionar a
90°. Iniciar palpação na crista tibial e no tendão patelar. tíbia para lateral e para medial. A abdução
Palpar as margens da patela e a inserção do quadríceps estressa o ligamento medial, enquanto que a
(margem suprapatelar). Palpar também os ligamentos adução estressa o ligamento lateral.
colaterais e a cápsula articular (bursa infrapatelar e bursa
anserina). Lembrar de palpar atrás dos joelhos, buscando
aneurismas ou cistos.

→ Avaliação do menisco lateral e medial:


1. Teste de McMurray: flexione o joelho a 90°, com
uma mão no tornozelo e outra mão estabilizando
→ Extensão do joelho: fixar a articulação acima da patela e o joelho. Para testar o menisco medial, tracione a
tracionar para cima a nível da tíbia. tíbia para lateral, faça rotação externa da perna e
estenda o membro. Para testar o menisco lateral,
tracione a tíbia para medial, faça uma rotação
interna da perna e estenda o membro. Um “click”
palpável ou audível indica o rompimento
→ Flexão do joelho: estabilizar a articulação e pedir para que meniscal.
o paciente flexione o máximo que conseguir.

2. Teste de Appley: paciente em decúbito ventral e


→ Fraqueza do Quadríceps: pedir para o paciente elevar a joelho flexionado a 90°. Aplicar força para baixo,
perna 10 cm acima da cama por alguns segundos, depois com pé rotacionado para lateral (menisco medial)
flexionar em 20° o joelho e retornar à posição original. e para medial (menisco lateral). O movimento
contrário (elevação do membro) alivia os
sintomas.

→ Avaliação dos ligamentos cruzados: flexionar os joelhos


em 90°.
1. Cruzado Posterior: avaliar a tuberosidade da tíbia → Avaliação de tendência a deslocamento de patela:
bilateralmente (se houver uma “queda” do nível abduzir o membro inferior para fora da cama, estabilizar a
em relação ao outro lado, sugere-se problema no patela. Iniciar flexão do joelho e, simultaneamente,
ligamento cruzado posterior). tracionar a patela para lateral.

https://www.youtube.com/wa tch?v=VcCAHbiEcZo&t=2s
https://www.youtube.com/wa tch?v=wlLfNls75RY
https://www.youtube.com/wa tch?v=M8RyFNN1ZRw&t=16s
Beatriz Chaveiro Turma XVIII
VISITA DOMICILIAR → Níveis de atenção domiciliar:
→ Cuidado domiciliar: a OMS define assistência domiciliar
como “a provisão de serviços de saúde por prestadores
formais e informais com o objetivo de promover, de
restaurar e de manter o conforto, a função e a saúde das
pessoas em um nível máximo, incluindo cuidados para uma
morte digna. Os serviços de assistência domiciliar (SADs)
podem ser classificados como preventivos, terapêuticos,
reabilitadores, de acompanhamento por longo tempo e de
cuidados paliativos. As visitas domiciliares (VDs) são
reconhecidas como uma prática de inquestionável
importância não apenas na descoberta, como também na
abordagem de problemas, no diagnóstico, na busca ativa,
na prevenção de agravos e na promoção da saúde.
→ Conceitos importantes: → Papeis dos profissionais na visita domiciliar:
o Atenção domiciliar: é a categoria mais ampla, que
inclui as outras. Baseia-se na interação do
profissional com a pessoa, com sua família e com
o cuidador, e se constitui em um conjunto de
atividades realizadas no domicílio de forma
programada e continuada. Envolve ações de
promoção à saúde em sua totalidade, incluindo a
prática de políticas econômicas e sociais que
influenciam o processo saúde-doença. Tem
caráter ambulatorial e envolve ações preventivas
e curativo-assistenciais.
o Assistência domiciliar: está ligada a todo e
qualquer atendimento a domicílio realizado por
profissionais que integram a equipe de saúde.
Não leva em conta a complexidade ou o objetivo
do atendimento, que pode ser uma orientação
simples até um suporte ventilatório invasivo.
o Atendimento domiciliar: categoria diretamente
relacionada à atuação profissional no domicílio,
que pode ser operacionalizada por meio da visita
e da internação domiciliar. Envolve atividades que
vão da educação e prevenção à recuperação e
manutenção da saúde das pessoas e seus
familiares no contexto de suas residências.
Abrange ou não cuidados multiprofissionais e
pode ser semelhante a um consultório em casa.
Alguns autores o relacionam a uma atenção mais
pontual e temporária, ligada a situações agudas.
o Visita domiciliar: prioriza o diagnóstico da
realidade do indivíduo e as ações educativas. É
programada e utilizada com o intuito de subsidiar
intervenções ou o planejamento de ações.
o Internação domiciliar: categoria mais específica,
que envolve a utilização de aparato tecnológico
em domicílio, de acordo com as necessidades de
cada situação. Não substitui a internação
hospitalar, mas pode se constituir como uma
continuidade desta, de forma temporária.
o Vigilância domiciliar: comparecimento de
integrante da equipe de saúde até o domicílio
para realizar ações de promoção, prevenção,
educação e busca ativa da população de sua área.

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