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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1003122-23.2020.8.26.0157 e código 15D13EAC.
Registro: 2021.0000478940

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação Cível nº


1003122-23.2020.8.26.0157, da Comarca de Cubatão, em que é apelante DANIEL
SANTOS MEDEIROS, é apelado CONSTRUDECOR S.A. (SODIMAC
BRASIL).

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO SANDRESCHI SARTORELLI, liberado nos autos em 22/06/2021 às 15:00 .
ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 26ª Câmara de
Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
"Deram provimento, nos termos que constarão do acórdão. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


CARLOS DIAS MOTTA (Presidente sem voto), VIANNA COTRIM E FELIPE
FERREIRA.

São Paulo, 22 de junho de 2021.

RENATO SARTORELLI
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1003122-23.2020.8.26.0157

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APELANTE: DANIEL SANTOS MEDEIROS.
APELADA: CONSTRUDECOR S.A. (SODIMAC BRASIL).
MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU: GUSTAVO HENRICHS FAVERO.
COMARCA: CUBATÃO.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO SANDRESCHI SARTORELLI, liberado nos autos em 22/06/2021 às 15:00 .
EMENTA:

“COMPRA E VENDA DE BEM MÓVEL -


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -
VAZAMENTO DE DADOS DO
CONSUMIDOR NO WEBSITE DA RÉ -
VULNERABILIDADE DO SISTEMA -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA
FORNECEDORA - DANOS MORAIS
CONFIGURADOS - RECURSO
PROVIDO PARA JULGAR A AÇÃO
PARCIALMENTE PROCEDENTE.

A Lei Geral de Proteção de Dados


dispõe que o operador de dados
pessoais deve responder por eventual
dano decorrente de falha de
segurança, sem prejuízo da
aplicabilidade das disposições
consumeristas”.

VOTO Nº 33.501

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Ação de indenização por danos
morais, fundada em compra e venda de bem móvel, julgada
improcedente pela r. sentença de fls. 211/217, cujo relatório
adoto.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATO SANDRESCHI SARTORELLI, liberado nos autos em 22/06/2021 às 15:00 .
Inconformado, apela o autor. Após
estoriar os fatos relativos à lide, sustenta, em apertada síntese,
que a exposição indevida de seus dados pessoais no website
da ré autoriza a concessão de indenização por danos morais,
apontando a responsabilidade objetiva da fornecedora. Busca,
por isso, a inversão do resultado do julgamento.

Não houve resposta. Ausente o


preparo em face da gratuidade processual.

É o relatório.

1) A apelação é processada no
efeito suspensivo, nos termos do art. 1012 do CPC.

2) O inconformismo, a meu ver,


comporta provimento.

A ilação que se extrai é de que o


autor efetuou a compra de ferramenta por meio do website da
ré. Horas depois foi contatado por terceiro desconhecido, via

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Whatsapp, que o alertou acerca da exposição de seus dados
pessoais na página eletrônica da ré (cf. fls. 14/28).

O consumidor afirma que tentou

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contatar a ré, no mesmo dia, porém não obteve sucesso.
Alega, ainda, que somente dias depois foi atendido por
prepostos da demandada, quando manifestou insatisfação com
o vazamento de suas informações pessoais.

A ré, na contestação, não justificou


de forma satisfatória o evento narrado pelo consumidor,
afirmando, verbis:

“O Autor recebeu, após seu contato, retorno da Ré, através


de seus prepostos, consoante demonstra os documentos
juntados por ele próprio, não havendo que se falar em
prejuízos que sequer foram narrados.
Veja-se que, o relato do autor demonstra apenas um
possível equívoco de sistema, apontado por uma pessoa
desconhecida, que apresentou supostas fotos do site da
Ré em um aplicativo de redes sociais.
Ainda que, pequenos problemas como esses, muito
raramente possam acontecer, uma vez que a Ré toma
todos os cuidados necessários e adota diversos
protocolos de segurança como se extrai das informações
do seu próprio site: https://www.sodimac.com.br/sodimac-
br, (docs. 03/04) serão sempre, rapidamente, resolvidos
pela Ré através de sua equipe de Segurança da

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Informação” (fl. 64).

Na verdade, a divulgação de dados


pessoais do autor em página eletrônica, acessível por terceiros,
ainda que por curto período de tempo, é hábil a ensejar

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indenização por danos morais.

Vale dizer, ultrapassa o mero


aborrecimento o consumidor ter seus dados pessoais expostos
na internet, ferindo legítima expectativa de ter sua privacidade
preservada ao realizar compra on-line, sendo objetiva a
responsabilidade da ré por eventual falha em seu sistema
eletrônico (artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor).

Em outras palavras, o defeito na


segurança do website de empresa que realiza vendas on-line
insere-se no próprio risco da atividade desenvolvida,
caracterizando hipótese de fortuito interno que deve ser
suportado pela fornecedora.

Demais disso, a Lei Geral de


Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/2018) dispõe que o
operador de dados pessoais deve responder por eventual dano
decorrente de falha de segurança, sem prejuízo da
aplicabilidade das disposições consumeristas, verbis:
“Art. 44. O tratamento de dados pessoais será irregular

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quando deixar de observar a legislação ou quando não
fornecer a segurança que o titular dele pode esperar,
consideradas as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo pelo qual é realizado;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se

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esperam;
III - as técnicas de tratamento de dados pessoais
disponíveis à época em que foi realizado.
Parágrafo único. Responde pelos danos decorrentes da
violação da segurança dos dados o controlador ou o
operador que, ao deixar de adotar as medidas de
segurança previstas no art. 46 desta Lei, der causa ao
dano.
Art. 45. As hipóteses de violação do direito do titular no
âmbito das relações de consumo permanecem sujeitas às
regras de responsabilidade previstas na legislação
pertinente”.

Cabível a reparação moral, a


estimativa fica ao prudente arbítrio do juiz, sem que, no
entanto, traduza-se em montante insignificante para reparar a
lesão produzida e também sem que caracterize enriquecimento
indevido da parte ofendida.

Em consonância com a
jurisprudência predominante do E. Superior Tribunal de Justiça
"não só a capacidade econômico-financeira da vítima é critério
de análise para o arbitramento dos danos morais, sendo levado

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em conta, também, à míngua de requisitos legais, a
capacidade econômico-financeira do ofensor, as circunstâncias
concretas onde o dano ocorreu e a extensão do dano" (REsp.
n° 700.899-RN, Rel. Min. Humberto Martins).

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Na mesma diretriz, verbis:

"1. O valor da indenização por danos


morais deve ser fixado em valor
razoável, de modo a preservar a dupla
finalidade da condenação, qual seja, a
de punir o ato ilícito cometido e a de
reparar o sofrimento experimentado
pela vítima, consideradas as
peculiaridades subjetivas do feito"
(AgRg. no AgRg. no AREsp. nº
416.491/RJ, Rel. Ministro Antonio Carlos
Ferreira, Quarta Turma, DJe 03/05/2016).

Sopesadas as circunstâncias
preponderantes que envolvem o caso concreto, quais sejam, a
extensão do sofrimento experimentado pelo autor, a
capacidade econômica das partes, o grau de culpabilidade da
ré e, considerando, também, o valor da ferramenta adquirida no
website da ré (R$ 427,00 - cf. fl. 02), fixo a indenização por
dano moral no patamar de R$ 2.000,00 (dois mil reais), com
atualização monetária a partir desta data (Súmula nº 362 do

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Superior Tribunal de Justiça), quantia suficiente para atender
ao princípio da razoabilidade, evitando a insignificância da
indenização, assim como o enriquecimento sem causa do
ofendido.

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A condenação em montante inferior
ao postulado na inicial, a título de dano moral, não implica
sucumbência recíproca (Súmula nº 326 do STJ).

Os juros moratórios fluem a partir


da citação, por se tratar de dano advindo de relação contratual
existente entre as partes, nos termos do artigo 405 do Código
Civil.

Quanto aos honorários advocatícios


incide, na hipótese sub judice, o art. 85, § 8º, do CPC, verbis:

“§ 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o


proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa
for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por
apreciação equitativa, observando o disposto nos
incisos do § 2º”.

Pois bem, caso a verba honorária


fosse fixada com base no valor da condenação, ainda que
arbitrada no percentual máximo de 20% (vinte por cento),

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corresponderia ao montante de R$ 400,00 (quatrocentos reais
20% de R$ 2.000,00), o que traduz quantia irrisória que não
remunera condignamente o trabalho desenvolvido pelo
causídico.

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Destarte, considerando os
parâmetros do art. 85, § 8º, do CPC, arbitro os honorários
advocatícios no patamar de R$ 800,00 (oitocentos reais),
quantia que atende ao princípio da justa remuneração, no caso
concreto, sem onerar excessivamente a parte vencida.

Ante o exposto, dou provimento ao


recurso para julgar a ação parcialmente procedente,
condenando a ré ao pagamento de indenização por danos
morais no patamar de R$ 2.000,00 (dois mil reais), além de
custas e honorários advocatícios, nos termos do acórdão.

RENATO SARTORELLI
Relator
Assinatura Eletrônica

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