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Modalidades da ginástica

de academia: teorias,
objetivos e práticas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Analisar o desenvolvimento histórico das ginásticas de academia,


apontando as principais modalidades que se desenvolveram ao longo
dos últimos anos.
„„ Reconhecer as estruturas básicas que compõem uma aula de ginástica
de academia e desenvolver alguns planos de aula.
„„ Contrastar os benefícios e malefícios dos programas de ginástica
prontos e o papel do professor de educação física enquanto agente
ativo/passivo nessas modalidades.

Introdução
As academias de ginástica são espaços cada vez mais frequentados pelos
mais diversos públicos e com os mais diversos objetivos. Ao longo das
últimas décadas, percebemos o surgimento de diferentes práticas físicas
nas academias, influenciando parcelas significativas da população na
busca de corpos mais belos e melhor condicionamento. Dessa forma,
diferentes modalidades de ginástica de academia foram se consolidando
e passaram a fazer parte do cotidiano dos espaços voltados para o exer-
cício físico. Ao mesmo tempo, surgiram novas abordagens e propostas
relacionadas a essa modalidade de ginástica, como programas prontos
comercializados para academias, comercializados pela internet ou ainda
aplicativos com propostas de exercícios. Encontramos pontos positivos
e negativos nessas novas abordagens, que devem ser reconhecidos e
debatidos pelos profissionais da área. Ainda, em consequência dessas ino-
vações, é importante refletir sobre o real papel do profissional de Educação
2 Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas

Física na sociedade, como um agente que elabora e executa programas


de treinamento e promove saúde para os mais distintos públicos.
Neste capítulo, vamos analisar o desenvolvimento histórico da ginás-
tica de academia e as modalidades que a compõem; vamos reconhecer
as etapas básicas de uma aula dessas modalidades e, por fim, vamos
debater pontos positivos e negativos de programas prontos de ginástica,
além do papel do professor nesse processo.

Desenvolvimento histórico e modalidades


de ginástica de academia
As modalidades de ginástica de academia surgiram e se diversificaram a partir
da evolução das academias e dos espaços destinados para a prática de exer-
cícios físicos pelo mundo. Algumas modalidades estrangeiras influenciaram
na criação e evolução da ginástica de academia como a conhecemos hoje. Nas
décadas de 1960 e 1970, tivemos a Calistenia. Nos anos 1980, difundiu-se a
ginástica aeróbica. Já na década de 1990, popularizam-se o step e a ginástica
localizada, que tem sua base na musculação (MOURA et al. 2007).
No Brasil, o modelo de academias com lutas, fisiculturismo e ginásticas
começou a tomar forma a partir de 1940. Na década seguinte, esses espaços
começam a se expandir pelo país, principalmente com práticas como o haltero-
filismo e artes marciais orientais. Filmes com as participações de Lou Ferrigno
e Arnold Schwarzenegger, ambos atletas de fisiculturismo e competidores do
Mister Olympia, ajudaram na popularização do culto ao corpo e dos exercícios
em academias (FURTADO, 2009). Como parte desse processo de evolução,
firmou-se a ideia de tornar estes espaços cada vez mais lucrativos e, dessa
forma, surgiram propostas específicas para as academias. Um ponto positivo
das novas modalidades de ginástica que surgiram é a dinâmica que propor-
cionam, como alternativas às aulas convencionais de musculação. Enquanto
estas costumam ser monótonas e repetitivas, as novas propostas assumem
características mais atraentes e versáteis. Essas inovações são reconhecidas
como modalidades de ginástica de academia e vamos abordar as principais
delas no Quadro 1.
Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas 3

Quadro 1. Principais modalidades de ginástica de academia

Modalidade Descrição

Spinning São aulas orientadas em grupo, com atividade de ciclismo.


Os alunos fazem uso de bicicletas ergométricas em exercícios
conduzidos pelo professor, alternando intensidade, carga
da bicicleta e posições. Normalmente utilizam música como
ferramenta de condução e tem duração aproximada de uma
hora, trabalhando muito a resistência cardiorrespiratória e
a resistência muscular dos grupos de membros inferiores.
As aulas têm presença marcante de alunos que buscam
emagrecimento e melhora da composição corporal.

Ritmos São aulas conduzidas preferencialmente em grupo, com


elementos de dança. O professor escolhe um ritmo e
demonstra passos específicos a serem executados de
acordo com a influência de uma determinada escola de
dança (jazz, samba, etc.). As aulas, obviamente, necessitam
de música para a sua condução e os exercícios podem ser
realizados de forma individual ou em parceria, de acordo com
a proposta do professor. É uma atividade de predominância
aeróbica e costuma ser procurada por pessoas que querem
emagrecer e gostam de atividades diversificadas.

Local São aulas realizadas em grupo, com exercícios resistidos.


O professor propõe diferentes exercícios de força, com
ênfase na resistência muscular localizada (por isso o
nome da prática). São empregados halteres, barras
com anilhas, caneleiras ou mesmo o peso do corpo
para gerar sobrecarga aos movimentos, que podem ser
multiarticulares ou monoarticulares. O perfil dominante
de alunos é de pessoas que desejam o fortalecimento e o
ganho de resistência em grupos musculares específicos.

Jump São aulas conduzidas em grupo, com exercícios de saltos


em minitrampolins. É uma modalidade de ginástica de
academia em que os alunos reproduzem movimentos
demonstrados pelo professor. Todos os exercícios são
realizados em pequenos trampolins e são empregadas
diversas variações de saltos sobre essa estrutura, estimulando
o ganho de potência e resistência cardiorrespiratória. A
música é presença constante nas aulas e serve para ditar o
ritmo dos exercícios, alternando sua intensidade. É uma aula
com grande procura por parte de um público que busca
emagrecimento e fortalecimento de membros inferiores.

(Continua)
4 Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas

(Continuação)

Quadro 1. Principais modalidades de ginástica de academia

Modalidade Descrição

Step São aulas em grupo, com exercícios de saltos, troca de


pés, subidas e descidas em degraus. Por isso o nome steps,
que significa, em inglês, “passos” ou “degraus”. É uma aula
conduzida no sistema de demonstração e reprodução. O
professor executa uma série de movimentos utilizando um
step com diferentes possibilidades de altura, enquanto os
alunos buscam repetir esses movimentos. Normalmente,
essas aulas são conduzidas com música e são procuradas
por indivíduos que desejam perda de peso e ganho
de resistência muscular de membros inferiores.

Circuito São aulas desenvolvidas em grupo, com exercícios


variados de treinamento funcional em circuito. Nessa
modalidade, o professor elabora uma série de exercícios
que devem ser executados de forma sequencial. As
valências trabalhadas são bastante variadas, já que o
professor tem maior liberdade de criação, podendo
enfatizar potência muscular, força muscular, resistência
muscular ou resistência cardiorrespiratória. Normalmente
são empregados exercícios de força com resistência variada
(banda elástica, kettlebell, barras e anilhas, fita de suspensão,
etc.), saltos, deslocamentos em velocidade, entre outros.

Zumba São aulas em grupo, com coreografias musicais. É uma


modalidade bastante procurada ultimamente nas
academias de ginástica. O professor responsável propõe
coreografias para músicas populares da época, com
movimentos rápidos e variados. A aula exige muito do
condicionamento cardiorrespiratório e é procurada
por alunos que desejam incrementar essa valência
ou emagrecer, além de manter atividade física.

Programas prontos e planejamento das aulas


Muitas dessas aulas são realizadas por meio do processo de treinamento dos
professores em um método fechado, em que são vendidas sequências prontas
de exercícios para as diferentes etapas da aula, não permitindo ao professor
participar do processo de elaboração e criação. As aulas prontas têm estrutura
semelhante entre si: uma atividade de baixa intensidade como aquecimento
Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas 5

generalista, a parte principal com os exercícios selecionados e uma parte final


com alongamento. Esses roteiros não podem ser questionados pelo professor,
considerado somente como um executor, embora em alguns casos pudessem
existir possibilidades ou opções mais adequadas de exercícios do que aqueles
propostos no método fechado.
Em aulas em que o professor tem liberdade de criação, é possível adequar
as diferentes etapas da aula com exercícios específicos. Por exemplo, em uma
aula de spinning, o professor pode realizar exercícios de mobilidade articular
de quadril e tornozelo na etapa de preparação. Numa sessão de local é possível
utilizar exercícios de força com menores intensidades para preparar o corpo
para o restante da aula.
Para conduzir as diferentes etapas da aula, é fundamental que o professor
consiga estabelecer uma boa comunicação com seus alunos, que pode se
realizar de três formas distintas: verbal, visual ou cinestésica.
Na forma verbal, é importante que o professor tenha boa voz de comando,
saiba explicar de forma clara e didática a forma como o exercício deve ser
executado ou mesmo a razão daquela execução, além de instruir, corrigir e
motivar os seus alunos.
Na forma visual, é fundamental que o professor saiba executar da forma
correta os exercícios propostos na aula, pois frequentemente os alunos o
observam como um espelho, ou seja, analisam a forma como se movimenta
para reproduzir aquele padrão. Além disso, muitas vezes é mais fácil notar
um erro ou perceber a forma correta de executar um movimento através da
visão do que através da palavra.
Por fim, na forma cinestésica, o professor instrui e corrige determinadas
posturas dos alunos através do toque. Nesse caso, é necessário cuidado. O
toque deve ser sutil e nunca invasivo, para que o aluno não o interprete como
um gesto de desrespeito ou abuso. Sempre que o professor tocar o aluno, é
importante anunciar com antecedência e explicar o motivo da ação. Muitas
vezes é adequado que o professor toque e mostre também o seu próprio corpo.

Música nas aulas de ginástica de academia


A utilização de música como ferramenta nas aulas de ginástica de academia
é um ponto muito interessante a ser considerado. Como vimos nos exemplos
de modalidades dessa forma de ginástica, ela é amplamente usada como
instrumento de motivação e condução do ritmo da aula. A música tem relação
estreita com a execução de exercícios físicos e sua utilização é comumente
6 Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas

observada em diferentes tipos de atividades, sejam de alta intensidade ou de


relaxamento. Podemos citar, como benefícios importantes da influência da
música na execução de exercícios físicos:

„„ melhora a motivação para a prática;


„„ encoraja o aluno que se sente inibido;
„„ auxilia no controle da intensidade dos exercícios;
„„ ameniza a monotonia de determinadas práticas;
„„ promove maior capacidade de concentração e relaxamento;
„„ ajuda na execução coordenada de determinados movimentos.

Confira, nesse estudo de revisão publicado por Maria Luiza de Jesus Miranda e Maria
Regina Souza Godeli, na Revista Brasileira de Ciência e Movimento, os efeitos da
utilização da música na prática de exercícios físicos de idosos e no bem-estar dos
mesmos. As autoras sustentam que a escolha da música é tão importante como a
escolha dos exercícios físicos para promover alterações fisiológicas e psicológicas em
idosos, sejam elas positivas ou negativas. Para mais detalhes de como essa abordagem
pode ser feita, acesse o link a seguir.

https://goo.gl/1mUxd6

Aspectos metabólicos, fisiológicos e princípios do


treinamento físico em aulas de ginástica de academia
As modalidades de ginástica de academia normalmente são realizadas com
duração próxima a uma hora. Dessa forma, todas as rotas metabólicas têm
importância para gerar energia. Isso porque, ao contrário do que muitos po-
deriam pensar, mesmo atividades de alta intensidade, quando realizadas
repetidas vezes em sequência, necessitam de forte participação do sistema
aeróbico de produção de energia. Da mesma forma, as rotas de produção de
energia rápida também são solicitadas em atividades de menor intensidade,
mesmo que de forma menos expressiva.
Portanto, as aulas de ginástica de academia dependem dos três principais
sistemas metabólicos de produção de energia, descritos a seguir.
Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas 7

1. Sistema ATP-CP — é o principal sistema de produção de energia em


atividades de alta intensidade e curta duração. Nesse sistema, o ATP
é hidrolisado, liberando energia, tendo como produto um ADP. Altos
níveis de ADP geram uma sinalização da enzima creatina cinase (CK)
que, por sua vez, quebra a creatina fosfato (CP), liberando energia para
a ressíntese de ATP e, consequentemente, mantendo ativa essa rota.
2. Sistema glicolítico — é o sistema de produção de energia através do
glicogênio (intramuscular ou hepático) ou da glicose circulante. É uma
via de produção que utiliza, portanto, os carboidratos (açúcares) como
fonte de ATP, podendo ocorrer de forma anaeróbia (em que o piruvato,
produto da glicólise, é convertido em lactato no citoplasma) ou aeróbia
(em que o piruvato é convertido em Acetil-CoA na mitocôndria, sendo
oxidado por via aeróbia).
3. Sistema oxidativo — o mais eficiente dos sistemas de produção de
energia, produz ATP através da quebra das moléculas de ácidos graxos
livres, que formam Acil-CoA e Acetil-CoA após uma série de cascatas
de reações químicas, dando origem posteriormente ao processo de beta
oxidação e ao ciclo de Krebs para produzir energia.

Outro aspecto fisiológico importante é a utilização do ciclo de alonga-


mento e encurtamento (CAE) nas aulas de ginástica de academia. Isso por-
que diversas modalidades fazem uso de saltos, movimentos aéreos de troca
de base, agachamentos e movimentos de frenagem seguidos de uma rápida
aceleração na direção oposta. Sendo assim, fazem uso do CAE de forma
muito contundente. O CAE consiste na execução de um alongamento de
determinado grupo muscular, numa fase em que é acumulada energia elástica
através do estiramento de elementos passivos, seguido de um encurtamento
do mesmo grupo muscular, gerando energia não somente pelos componentes
ativos, mas também pelos componentes passivos que acumularam energia na
fase anterior. Caso exista um intervalo grande demais entre as duas fases, a
energia acumulada na fase de estiramento será dissipada na forma de calor
e dessa forma não será aproveitada na fase de encurtamento. O CAE é uma
ferramenta importante para promover ganhos de hipertrofia, potência e força
muscular quando empregado da forma correta e de acordo com os princípios
do treinamento.
É importante considerar, ainda, os princípios do treinamento físico, espe-
cialmente os três que tem maior relação com as modalidades de ginástica de
academia: a individualidade biológica, a sobrecarga crescente e a variabilidade
de estímulos.
8 Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas

Quando observamos como as modalidades de ginástica são desenvolvidas


em academias, frequentemente percebemos que a individualidade biológica é
ignorada. Muitas vezes, os professores ministram aulas sem levar em consi-
deração as particularidades de cada aluno, pois é comum que as aulas sejam
realizadas em grandes grupos. Isso acaba gerando um prejuízo quanto à
resposta adaptativa desses alunos.
Também a sobrecarga crescente é negligenciada, pelo mesmo motivo, já
que em aulas para grandes grupos é impossível encontrar uma intensidade
adequada para todos os participantes. Nesse caso, para alguns alunos a atividade
pode ser pouco intensa, enquanto para outros pode ser intensa em demasia.
Por fim, a variabilidade de estímulos muitas vezes é prejudicada porque algu-
mas aulas são repetitivas e não exploram diferentes tipos de atividades, embora
seja importante que o aluno experimente diferentes modalidades e, assim, possa
oferecer diferentes estímulos ao seu organismo, melhorando sua adaptação.

Mercado de trabalho
O mercado das modalidades de ginástica de academia está em constante
mutação, já que novas práticas surgem todos os anos, prometendo melhores
resultados. É habitual, no ramo das academias, o constante surgimento de
modismos e de diferentes práticas corporais, muitas vezes impulsionadas por
fortes ações de marketing, que acabam modificando esses espaços e a forma
como as pessoas buscam e lidam com o exercício físico.
Encontramos exemplos dessa prática em diferentes épocas. Nas décadas de
1980 e 1990, quase todas as academias ofereciam aulas de ginástica aeróbica,
procuradas por um número expressivo de alunos. Ainda nos anos 1990, aulas
de ginástica localizada passaram a dominar os espaços destinados à melhora
do condicionamento físico e também foram apresentadas em programas de
televisão. No início dos anos 2000, sistemas fechados eram as práticas domi-
nantes, com aulas como “jump”, “pump” e “combat”, sendo muito procuradas
nas academias. Mais recentemente, tivemos a popularização do treinamento
funcional e o Crossfit ou crosstraining, o que chegou a gerar mudanças no
padrão das academias (novos aparelhos, equipamentos e espaços) e se refletiu
no número crescente de estúdios de treinamento, espaços que se propõem a
atender um número menor de indivíduos, já que o custo para equipar e estru-
turar um estúdio é muito inferior ao de uma academia de maior porte ou dos
espaços com aparelhos de musculação.
Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas 9

É importante que o professor saiba lidar com a volatilidade do mercado


de trabalho nas academias, buscando atualização constante através de cur-
sos práticos e teóricos e ficando atento às novas tendências e modalidades.
No entanto, também é fundamental o bom senso para planejar e implantar
atividades que gerem respostas realmente importantes e positivas para os
alunos, evitando as que carecem de solidez e embasamento técnico e teórico,
embora promovidas por estratégias de marketing. Nesse sentido, é importante
conhecer a estrutura básica de uma aula de ginástica de academia, bem como
planos de aula.

Estrutura básica de uma aula de ginástica


de academia
Independente da modalidade que o professor ministra ou que o aluno adota,
existe uma estrutura básica a ser seguida em todas as aulas de ginástica,
especialmente nas de academia. Essa estrutura pode ser organizada de forma
simples e objetiva: uma parte inicial, uma parte principal e uma parte final,
cada uma delas com características próprias e bem definidas. Vamos conferir a
seguir, quê características são essas; quais exercícios estão presentes em cada
etapa e alguns exemplos de planos mais populares nas academias.

Estruturas básicas
É importante o professor conhecer e trabalhar as três etapas de uma aula, seja
qual for a modalidade que esteja sendo conduzida. São elas:

Parte inicial — Aqui é necessário dar prioridade para atividades que pre-
param a musculatura e as articulações para o esforço que será realizado na
parte principal da aula, de forma mais contundente nos grupos musculares e
articulações que serão mais exigidos. Também deve ser observado o trabalho
de determinados grupos ou exercícios com o organismo ainda não fatigado
(maior controle e técnica).
Atividades que podem ser desenvolvidas:

„„ exercícios de mobilidade articular (alongamentos balísticos e movi-


mentos de insistência nos limites articulares);
10 Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas

„„ exercícios de estabilidade (isometrias que exigem maior controle para


que não ocorra compensação);
„„ exercícios educativos (melhoria técnica de determinado gesto);
„„ exercícios de aquecimento (movimentos que geram calor e lubrificam
as articulações);
„„ exercícios de alongamento muscular (aumento da excursão muscular e
preparação para a atividade).

Parte principal — Nesta etapa da aula serão executados os exercícios mais


complexos e intensos, para trabalhar as valências que esta modalidade se propõe
a atingir. É importante que sejam realizados exercícios mais específicos, e não
tanto exercícios generalistas como nas demais etapas da aula.
Atividades que podem ser desenvolvidas:

„„ exercícios de força (maiores cargas e maiores volumes);


„„ exercícios cíclicos mais intensos (maiores velocidades em corrida ou
bicicleta);
„„ exercícios com saltos (estímulo do CAE);
„„ exercícios com execução mais rápida ou complexa (coreografia de dança
com mais elementos ou em ritmo mais acelerado);
„„ entre outras possibilidades, variando de acordo com os objetivos espe-
cíficos de cada modalidade, já que nessa parte da aula, os exercícios
são menos generalistas, como dito anteriormente.

Parte final — Por fim, aqui são realizados exercícios de relaxamento, numa
etapa de volta à calma, para que o aluno normalize as condições do seu orga-
nismo depois do esforço realizado na parte principal da aula.
Atividades que podem ser desenvolvidas:

„„ exercícios aeróbicos de baixa intensidade (como caminhadas lentas);


„„ exercícios de alongamento (alívio da tensão gerada na etapa mais
intensa);
„„ exercícios de relaxamento (massagem com as mãos ou com algum aparato);
„„ exercícios de meditação (aumento da concentração e sensação de
relaxamento).
Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas 11

Planos de aula
Conhecendo cada etapa de estruturação de uma aula de ginástica de academia,
fica mais fácil compreender e elaborar um plano de aula de uma modalidade
específica. A seguir, vamos apresentar dois exemplos de planos de aula para
atividades normalmente praticadas nas academias em nosso país.

Plano de aula — treinamento funcional


„„ Público: adultos.
„„ Local: estúdio de treinamento funcional.
„„ Tempo: uma hora.
„„ Objetivo: melhora da resistência muscular, resistência cardiorrespiratória e trabalho
de agachamento.

Parte inicial: duração de 15 minutos.


„„ exercício de mobilidade de tornozelo;
„„ exercício de mobilidade de quadril;
„„ exercício educativo de agachamento no caixote;
„„ exercícios de isometria para flexores e extensores de coluna: prancha frontal e
“super-homem”;
„„ corrida frontal e deslocamentos laterais em velocidade.

Parte principal: duração de 35 minutos. Três voltas no circuito de força e três voltas
no circuito cardiorrespiratório.
„„ agachamento unilateral na fita de suspensão (menor intensidade) (20x cada lado);
„„ agachamento frontal com kettlebells (intensidade intermediária) (15x);
„„ agachamento com barra em base tradicional (intensidade alta) (10x);
„„ agachamento com barra em base sumô (intensidade alta) (8x);
„„ circuito: empurrar trenó em máxima velocidade, saltos sobre o caixote e corrida
com cinto de tração (30 segundos em cada estação).

Parte final: duração de 10 minutos.


„„ massagem realizada pelo professor (automassagem no caso de muitos alunos);
„„ alongamento dos extensores da coluna lombar;
„„ alongamento dos principais grupos dos membros inferiores.
12 Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas

No vídeo disponível no link a seguir, diversos exemplos de exercícios educativos para


o movimento de agachamento são explicados pelo coordenador técnico do estúdio
“BPro – Treinamento Físico Funcional”, Tiago Proença. Percebe-se preocupação com
a execução técnica do movimento, e não com a dificuldade imposta, de acordo com
a proposta de atividades que devem compor a etapa inicial de uma aula. Confira!

https://goo.gl/gP9gNt

Plano de aula — aula de spinning


„„ Público: adultos.
„„ Local: academia de ginástica.
„„ Tempo: uma hora.
„„ Objetivo: melhora da resistência muscular de membros inferiores e resistência
cardiorrespiratória.

Parte inicial: duração de 10 minutos.


„„ agachamento com apoio da bicicleta (sem carga);
„„ agachamento “afundo” com apoio da bicicleta (sem carga);
„„ pedalada em intensidade mais baixa.

Parte principal: duração de 45 minutos.


„„ pedalada em ritmo mais rápido com menos carga;
„„ pedalada em ritmo mais lento com mais carga;
„„ alternar pedalada em ritmo mais rápido e mais lento com mais carga.

Parte final: duração de 5 minutos.


„„ alongamento de posteriores de coxa;
„„ alongamento de tríceps sural;
„„ alongamento de quadríceps.

Esses são exemplos de planos de aula comumente desenvolvidos em acade-


mias ou estúdios. As etapas normalmente são contempladas, mas é importante
avaliar se os exercícios propostos para cada uma têm fundamentação. Conhecer
as etapas de uma aula e a construção de um plano de aula é ferramenta impor-
Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas 13

tante para o professor, mas nem sempre uma aula de ginástica de academia
é conduzida dessa forma. Em muitos casos, os alunos adquirem programas
prontos de ginástica ou mesmo o professor é treinado dentro de um programa
fechado, em que ele somente irá executar os exercícios. Vamos abordar agora as
características desses programas, bem como seus pontos positivos e negativos.

Características dos programas de ginástica


prontos e o papel do professor de Educação
Física
Os programas de ginástica de academia prontos foram introduzidos no final
da década de 90 no Brasil, através da empresa Body Systems. As modalidades
disseminadas pelo grupo fizeram muito sucesso e tinham características
peculiares como utilização de música; aulas preestabelecidas para apenas ser
reproduzidas pelo professor; atualizações de aulas trimestrais e capacitação
dos professores, agregando valores de cientificidade, exclusividade e profis-
sionalismo (TOLEDO; PIRES, 2008).

Uma das empresas mais conhecidas no Brasil no ramo de programas prontos de


ginástica é a neozelandesa “Body Systems”. De acordo com Moura e colaboradores
(2007) “a Body Systems é uma empresa que atua na América Latina divulgando seus
programas como eficientes, motivantes e seguros, além de ministrar cursos oferecendo
treinamento e formação dos professores responsáveis pelas aulas”. Dentro as aulas
comercializadas pelo grupo, podemos citar: body pump, body combat, body jump e body
step. Os programas do grupo fizeram muito sucesso nas academias no início dos anos
2000 e ainda são utilizados em diversos estabelecimentos. Os professores treinados pelo
grupo recebem as aulas prontas, com música e coreografia previamente selecionadas.
Somente profissionais que tenham certificação da empresa podem ministrar as aulas.

Com o avanço da tecnologia, a criação de aplicativos e o uso cada vez mais


comum da internet, começaram a surgir novas formas de venda de programas
prontos de ginástica. Uma busca rápida por um banco de serviço de distribuição
digital de aplicativos já permite perceber o número gigantesco de softwares
14 Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas

desenvolvidos para que as pessoas possam executar exercícios em casa ou em


qualquer outro local, seguindo as instruções do programa.
Profissionais da área desenvolveram aplicativos e vídeos comercializados
na internet com o intuito de facilitar a prática de exercícios para grande parte
da população, prometendo resultados plenamente satisfatórios em curto pe-
ríodo de tempo.
É importante ressaltar que existem pontos negativos e positivos na avaliação
dos programas prontos de ginástica. Vamos abordar alguns deles, observando
que o profissional da área precisa reconhecer esses pontos e também informar
e alertar alunos e sociedade sobre essas questões.

Vantagens dos programas prontos


„„ Preço — Um dos principais benefícios dos programas prontos é o baixo
custo de aquisição. Existem, inclusive, alguns aplicativos gratuitos.
Devemos ter em mente que grande parcela da população brasileira não
tem poder aquisitivo para pagar um profissional que a oriente ou mesmo
uma academia. Dessa forma, a alternativa dos programas prontos é cada
vez mais procurada por essa parcela da população.
„„ Liberdade de local e horário — Os programas prontos vendidos na
internet são normalmente pensados para serem executados em qual-
quer lugar (em casa ou num parque, por exemplo). Além disso, dão
liberdade para que o usuário realize a atividade no horário que julgar
mais conveniente.
„„ Fácil acesso — Outra facilidade dos programas comercializados pela
internet ou celular é que eles podem ser acessados de qualquer lugar,
basta que o sujeito tenha acesso a um telefone e a uma rede de dados.
„„ Variabilidade — É muito ampla a gama de exercícios e da forma
de desenvolvê-los, já que o aluno pode explorar inúmeras maneiras
de realizá-los em casa (via aplicativos) ou mesmo numa academia,
em aulas conduzidas sempre de uma forma diferente e explorando
diferentes valências.

Desvantagens dos programas prontos


„„ Correção — Talvez o ponto mais negativo dos programas prontos seja o
prejuízo ao aluno quanto à correção da atividade que está desenvolvendo.
Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas 15

Isso porque vai realizar a atividade sozinho, reproduzindo aquilo que


o vídeo ou a tela do celular mostra e não é, necessariamente, o que
ele consegue fazer. Isso abre a possibilidade tanto de lesões como de
sensação de incapacidade, gerada pela dificuldade em realizar as tarefas
propostas (KURYLO, 2016).
„„ Motivação — Muitos alunos relatam que a presença do professor na
academia ou no local escolhido para a aula é uma das principais razões
para não faltarem às aulas. De forma parecida, a presença do professor
é motivadora para que o aluno se mantenha empenhado durante a aula
e tenha maior comprometimento num programa de treinamento.
„„ Progressão — A progressão é dificultada nos programas de treina-
mento pronto, porque o professor não está acompanhando de perto se
determinado nível de complexidade ou intensidade dos exercícios está
de acordo com a capacidade do aluno. Assim, uma série de exercícios
pode estar subestimando ou superestimando a capacidade do indivíduo,
prejudicando o seu processo de adaptação e progressão.
„„ Marketing — É necessário muito cuidado com aquilo que os programas
prometem. Muitos programas prontos são comercializados visando
apenas o lucro, e para isso, fazem uso de informações falsas sobre
resultados muito rápidos ou sobre a superioridade do método criado por
eles sobre os demais, o que não passa de uma estratégia de marketing
para potencializar vendas e maximizar lucros. É fundamental que o
profissional da área saiba detectar esse tipo de situação para alertar as
pessoas sobre o risco de adquirir tais programas.

Papel do professor
Diante dessas colocações, podemos perceber a dimensão e a relevância do papel
do professor no planejamento e na execução de um programa de treinamento.
Grande parte dos pontos negativos dos programas de ginástica prontos vendidos
pela internet seria resolvida com a presença de um professor. Da mesma forma,
as limitações de programas prontos ministrados em academias poderiam ser
superadas pela atuação e liberdade de criação ou adaptação de um profissional.
Além disso, sabemos que os benefícios de um programa de treinamento,
seja qual for, só serão atingidos se o aluno aderir àquela prática. Caso contrário,
não haverá tempo suficiente para gerar adaptação. A presença e o acompa-
nhamento de um professor capacitado podem influenciar decisivamente no
processo de aderência ao treino. O aluno se sente mais motivado, valorizado
16 Modalidades da ginástica de academia: teorias, objetivos e práticas

e cuidado dessa forma, permanecendo por mais tempo ativo dentro de um


plano de treinamento. Alcança os resultados almejados e os mantém por maior
período de tempo.

O papel do professor é fundamental para o sucesso de um aluno dentro de um


programa de treinamento. Confira um pouco mais sobre esse tema no trabalho de
conclusão de curso de Douglas Amboni Sombrio, de 2011, sobre os motivos de ade-
rência a um programa de treinamento personalizado.

https://goo.gl/Mgcirf

Neste capítulo, vimos que as modalidades do grupo de práticas de ginás-


tica de academia estão intimamente ligadas ao processo de popularização
das academias. Diferentes atividades tiveram momentos de maior apelo e
repercussão ao longo dos anos e a tendência é que novas modalidades sigam
surgindo e atraindo alunos para as academias. Percebemos também que pro-
gramas de ginástica prontos estão se tornando mais populares e apresentam
pontos positivos e negativos. Por isso, merecem atenção especial, sempre
com muito cuidado, considerando que o papel do professor é um dos fatores
mais importantes na prática de exercícios físicos e na geração de benefícios
à saúde dos praticantes.

FURTADO, R. P. Do fitness ao wellness: os três estágios de desenvolvimento das aca-


demias de ginástica. Pensar a Prática., v. 12, n. (1, p. 1-11, jan./abr. 2009.
KURYLO, A. P. O universo da consultoria online no treinamento personalizado: um estudo
de caso. 60 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado) – Faculdade de Educação
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de ginástica de academia. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 6, n. 3,
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Leitura recomendada
SALCEDO, J. F. Os motivos à prática regular do treinamento personalizado: um estudo
com alunos de personal trainer. 44 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado)
– Faculdade de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2010.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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