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Eu já sei ler gibi!


 
Esse gênero literário colorido, ilustrado e cheio de recursos gráficos estimula as turmas de pré-escola a tomar
gosto pela leitura 
 

Foi-se o tempo em que os gibis eram proibidos na sala de aula e as crianças tinham de escondê-los sob a
carteira. Os quadrinhos são uma excelente opção para incentivar a leitura em quem está entrando no mundo
das letras. A começar pelos personagens, que, por si só, são atraentes para a garotada. “Eles despertam
interesse por serem bem conhecidos”, explica o psicólogo José Moysés Alves, da Universidade Federal do Pará.
“Afinal, estão presentes em brinquedos, jogos, roupas, embalagens, peças de teatro e desenhos na televisão.
Sem contar que os protagonistas passam por situações parecidas com as de seus leitores: vão à escola e ao
parque, têm pesadelos e medo de dentista. Isso promove a identidade e a familiaridade entre eles.”

Mas o grande trunfo são os recursos gráficos. As imagens aparecem associadas a textos coloquiais e permitem
que a criança antecipe o enredo e atribua sentido à história, mesmo sem saber ler. Para Beatriz Gouveia,
coordenadora do programa Além das Letras, do Instituto Avisa Lá, em São Paulo, as onomatopéias, como
“ploft” e “grrr”, também são importantes para facilitar a compreesão de diversas situações e emoções.

O mesmo vale para os balões. Só de olhar é possível saber se um personagem está pensando, gritando ou
conversando. “Com essas informações, fica fácil entender a trama”, afirma Silvana Augusto, selecionadora do
Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. Ela lembra que as publicações são baratas e acessíveis, o que permite
a compra de vários exemplares da mesma edição para distribuir na sala. Com isso, as crianças podem
acompanhar a leitura em voz alta pelo professor.

Quadrinhos e fantoches

Para explorar essas características, o professor Marcelo Campos, da EMEI Sonho de Criança, em Pompéia, no
interior de São Paulo, criou o projeto Semeando o Prazer de Ler com as Histórias em Quadrinhos – vencedor do
Prêmio Professores do Brasil (dado pelas fundações Orsa e Bunge, com o apoio do Ministério da Educação). Ele
fez uma pesquisa e descobriu que 70% das crianças não vivenciavam situações de leitura em casa. Por isso,
apostou nas histórias em quadrinhos para iniciar o trabalho com classes de crianças com 4 e 5 anos (veja no
quadro ao lado uma seqüência didática para desenvolver um projeto nessa área).

Marcelo começou perguntando quais eram as histórias e os personagens mais conhecidos. Com esses dados,
confeccionou fantoches dos mais populares e, nas encenações, falava um pouco das características físicas e
psicológicas de cada um. Ao apresentar a Mônica, por exemplo, ele chamou a atenção para o fato de ela só
usar roupas vermelhas e sempre se irritar com o Cebolinha. Foi a forma que ele encontrou de antecipar
informações e facilitar a compreensão do enredo.

Como a escola não tinha as revistinhas, Marcelo mobilizou a comunidade para montar a gibiteca, espalhando
cartazes pela vizinhança e pedindo ajuda aos pais. Em pouco tempo, cerca de 300 gibis já estavam
catalogados na escola.

As crianças podiam levá-los para casa duas vezes por semana e tinham de devolver no dia combinado e cuidar
do material. Isso permitiu que todas manuseassem as histórias, criando as noções de como se comporta um
leitor de quadrinhos. Na etapa seguinte, Marcelo organizou uma leitura coletiva. Com a ajuda de um
retroprojetor, ele reproduziu algumas histórias em transparências para a turma perceber detalhes da
paisagem e dos personagens. No fim de cada projeção, Marcelo lia o texto na íntegra para todos entenderem a
ordem seqüencial.

Compartilhar os gibis

Para encerrar o trabalho, o professor organizou uma verdadeira gibiteca itinerante. Uma carroceria de
caminhão cedida pela prefeitura foi adaptada para transportar as crianças e o acervo e virou o Trenzinho da
Leitura. Seu objetivo? Disseminar o prazer de ler. Uma vez por semana, a turma visita outras unidades
educacionais do bairro para apresentar os personagens e falar sobre as histórias, formar rodas de leitura com
crianças de todas as idades e emprestar as revistinhas. O saldo do projeto foi animador: todos se tornaram
loucos por gibis, procurando-os espontaneamente. E tudo isso antes mesmo de estarem alfabetizados.
 
 
Atividades 
 
Seqüência didática 
 

Conteúdos

• Leitura e manuseio de histórias em quadrinhos.

• Valorização da leitura como fonte de prazer e cultura na escola e na comunidade.

• Envolvimento de crianças, pais e comunidade em situações de leitura.

Ano - Pré-escola.

Tempo estimado - Dois meses.

Objetivos

• Estimular nas crianças o prazer de ler antes da alfabetização.

• Aproximar a escola e a comunidade por meio da leitura.

• Formar leitores competentes.

Material necessário

Gibis variados, com o máximo possível de exemplares repetidos, cartolina, tesoura, transparências e
retroprojetor.

Desenvolvimento

• 1ª etapa

Reúna as crianças e pergunte quais personagens elas conhecem. Discuta as principais características de cada
um e apresente algumas informações comportamentais e físicas. Depois dessa conversa inicial, mande um
bilhete aos pais ou fale com eles sobre a importância do projeto. Aproveite para convidá-los a participar. Uma
das maneiras é pedir a doação de gibis. Outra é perguntar sobre a possibilidade de eles comparecerem
durante uma hora na escola, no decorrer do projeto, para ler para a turma ou participar como ouvintes das
rodas de leitura. Ao receber as doações, catalogue e organize-as por título para ficar mais fácil encontrar o
desejado. Assim estará montada a gibiteca. Para animar a garotada e controlar os mpréstimos, faça
carteirinhas de sócios para todos (que tal colocar uma foto também?). Anote as datas de retirada e de
devolução. Aproveite os momentos de organização do acervo para ensinar a manusear o material
corretamente: as páginas devem ser viradas com cuidado e com as mãos limpas para não rasgar sem amassar.
Explique que é preciso se comprometer a devolver o gibi na data estipulada para que outros colegas possam
ler depois.

• 2ª etapa

Prepare transparências com algumas seqüências e apresente as histórias com a ajuda de um retroprojetor.
Faça uma máscara de cartolina para cobrir os quadrinhos, pois o ideal é mostrá-los um a um. Dessa maneira,
todos vão fazer uma observação minuciosa das expressões fisionômicas dos personagens e dos detalhes das
cenas. Chame a atenção para o formato dos balões e as onomatopéias. Depois de analisar cada um, pergunte:
“O que será que vem no próximo?”, para estimular as crianças a antecipar o enredo. Depois, leia o texto
completo para a turma entender a seqüência.
• 3ª etapa

Para a leitura compartilhada, distribua exemplares do mesmo gibi para que todos possam acompanhar a
história individualmente, em duplas ou trios. Depois que a turma tiver um bom repertório, escolha uma das
histórias, recorte os quadrinhos e embaralhe-os. Organize a sala em grupos e distribua um montinho com uma
seqüência completa para cada um. O desafio é remontar na ordem correta.

• 4ª etapa

Repita os momentos de leitura várias vezes durante a semana - o ideal é fazer disso uma atividade
permanente durante o ano. É hora de chamar os pais que se dispuseram no início a participar do projeto para
comparecer à sala. Eles podem ser leitores ou simplesmente ouvir as histórias na roda. Cuide para que esses
momentos sejam bem descontraídos. Uma idéia é levar os pequenos para ler no parque. Outra, espalhar
colchonetes e deixá-los curtir os quadrinhos à vontade.

Avaliação

Para saber se os objetivos foram alcançados, observe se depois dessas atividades as crianças buscam
espontaneamente a leitura de gibis e com que freqüência, se comentam as histórias preferidas e se adquiriram
o hábito de levá-los emprestados para casa.

Consultoria

Marcelo Campos Pereira, professor da EMEI Sonho de Criança, em Pompéia, SP.


 
 
Quer saber mais? 
 

Contato

EMEI Sonho de Criança, R. José de Moura Resende, 650, 17580-000, Pompéia, SP, tel. (14) 3405-1503

Bibliografia

Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula, Angela Rama e outros, 160 págs., Ed. Contexto, tel.
(11) 3832-5838, 25 reais

Fonte: Revista Nova Escola - www.novaescola.com.br

...Saber explicar
Fazer associações

Explicar, segundo os dicionários, é dar compreensão a outra pessoa. “Crianças e


adolescentes dependem da intermediação de adultos para aprender”, diz a
pesquisadora e consultora Elvira Souza Lima. “Não há ensino sem explicações.” A
capacidade de cada aluno de entendê-las relaciona-se com os mesmos mecanismos de
quase todo aprendizado, ou seja, a utilização da experiência pessoal ou da associação
com informações que ele já tem. Por isso cabe ao educador ajudar os estudantes a
vasculhar o próprio conhecimento. “O maior desafio é expressar-se de acordo com os
processos de pensamento da turma, em especial se forem crianças”, afirma Elvira. Ao
planejar uma explicação, é fundamental prever que conceitos serão expostos à turma e
como isso será feito, para obter o máximo de clareza e atingir os objetivos (leia o
quadro abaixo).

O que e como explicar

  Recursos para explicações


  - Divisão em tópicos
  - Analogias
  - Esquemas gráficos
  - Exemplos e antiexemplos
  - Conexões com a experiência do aluno
  -  Humor
  Tipos de abordagem
  - Definição de conceitos
  - Similaridades e diferenças
  - Causa e efeito
  - Finalidade 
  - Processos
  Tipos de conceitos
  - Concreto  x  Abstrato
  - Familiar   x  Técnico
  Para avaliar explicações
  - Análise de gravações das aulas
  - Entrevistas com os alunos

Você mesmo pode aferir a eficácia de cada método. Elvira Souza Lima indica dois
caminhos para isso. O primeiro é a análise do próprio desempenho mediante o registro
das aulas, em vídeo ou áudio. O segundo é conversar com os estudantes e escutar o
que eles têm a dizer, para ver o que entenderam. Assim você avalia melhor a sintonia
que se estabelece entre professor e alunos. 

  Cinco Abordagens

As explicações podem seguir cinco tipos de abordagem. 


 
Definição de conceitos
Eles podem ser concretos ou abstratos e familiares (presentes no dia-a-dia) ou técnicos (restritos a
especialistas). Os abstratos e técnicos demandam mais explicação, porque estão além da experiência
sensorial e imediata. 
 
Semelhanças e diferenças
É hora de dar um passo maior. Com essa abordagem, você compara, distingue e/ou classifica as informações
em grupos. Para tratar de catolicismo e protestantismo, por exemplo, um quadro comparativo é um bom
material de apoio.  
 
Causa e efeito
Essa abordagem mostra como um fenômeno leva a outro numa seqüência lógica. É o melhor jeito de explicar
acontecimentos como a eclosão de uma guerra ou o surgimento de um movimento artístico. Diagramas
facilitam a compreensão. 
 
Finalidade
Mostrar “para que serve” um trabalho evoca a experiência dos alunos e os ajuda muito a entender. Um bom
exemplo é falar de princípios de saúde e mostrar como eles se aplicam à prática de esportes. 
 
Processos
Quando lança mão dessa abordagem, você revela como as coisas funcionam. A ênfase
é na seqüência de itens. Por isso, essa

  Duas dicas 

 Uma recomendação: o humor é um bom aliado para tornar as explicações mais acessíveis e interessantes.
Conhecer os comentários que vão divertir a turma só depende de você.

Um alerta: abrir espaço para debates durante a apresentação só serve para atrasar o processo e desviar o
assunto. Uma vez encerrado um tópico ou um tema, porém, a discussão é bem-vinda. 

Fonte
Revista Nova Escola - www.novaescola.com.br
:

...saber planejar
O planejamento é a etapa mais importante do projeto pedagógico, porque é nela que as metas são articuladas
às estratégias e ambas são ajustadas às possibilidades reais. Existem três tipos de planejamento escolar: o
plano da escola, o plano de ensino e o plano de aula.

O primeiro traz orientações gerais que vinculam os objetivos da escola ao sistema educacional mais amplo. O
plano de ensino se divide em tópicos que definem metas, conteúdos e estratégias metodológicas de um
período letivo. O plano de aula é a previsão de conteúdo de uma aula ou conjunto de aulas.

O planejamento escolar é um processo de racionalização, organização e coordenação da atividade do


professor, que articula o que acontece dentro da escola com o contexto em que ela se insere. Trata-se de um
processo de reflexão crítica a respeito das ações e opções ao alcance do professor. Por isso a idéia de planejar
precisa estar sempre presente e fazer parte de todas as atividades – senão prevalecerão rumos estabelecidos
em contextos estranhos à escola e/ou ao professor.

Para José Cerchi Fusari, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, não há ensino sem
planejamento. “Se a escola é o lugar onde por excelência se lida com o conhecimento, não podemos agir só
com base no improviso”, diz. “Ensinar requer intencionalidade e sistematização.” O poder de improvisação é
sempre necessário, mas não pode ser considerado regra.

Planejar requer:
  - Pesquisar sempre;
  - Ser criativo na elaboração da aula;
  - Estabelecer prioridades e limites;
  - Estar aberto para acolher o aluno e sua realidade;
  - Ser flexível para replanejar sempre que necessário.
 
Leve sempre em conta:
  - As características e necessidades de aprendizagem dos alunos;
  - Os objetivos educacionais da escola e seu projeto pedagógico;
  - O conteúdo de cada série;
  - Os objetivos e seu compromisso pessoal com o ensino;
  - As condições objetivas de trabalho.
 
Com base nisso, defina:
  - O que vai ensinar;
  - Como vai ensinar;
  - Quando vai ensinar.
  - O que, como e quando avaliar. 
 
Trabalho coletivo

Planejar é um ato coletivo que envolve a troca de informações entre professores, direção, coordenadores,
funcionários e pais. Isso não quer dizer que o produto final venha a ser um documento complicado. Ao
contrário, ele deve ser simples, funcional e flexível.

E não adianta elaborar o planejamento tendo em mente apenas alunos ideais. Avalie o que sua turma já sabe
e o que ainda precisa aprender. Só assim você poderá planejar com base em necessidades reais de
aprendizagem.

Esteja aberto para acolher o aluno e suas circunstâncias. E, é claro, para aprender com os próprios erros e
caminhar junto com a classe. 

Fonte: Revista Nova Escola - www.novaescola.com.br

10 passos para se sair bem na primeira reunião de pais

Depois da apresentação da proposta da escola pelo diretor, é a sua vez de entrar em cena. Se você descrever
o programa de sua disciplina e a metodologia de forma clara e reservar um tempinho para responder a
dúvidas, vai fisgar a família e transformá-la em grande aliada

Rose Delfino

   A primeira reunião entre pais e professores é uma ótima oportunidade para iniciar uma parceria de um ano
inteiro em torno do mesmo objetivo: levar crianças e adolescentes a aprender. "Essa é nossa chance para
pescar os pais", aconselha Helvécia Costa, diretora da Escola Estadual Andronico de Mello, em São Paulo. Para
ela, esse é o momento de despertar na família o interesse em participar da vida escolar dos filhos. Uma
reunião bem conduzida, portanto, faz a diferença. O ideal é dividi-la em duas partes: a primeira, mais geral,
fica a cargo da direção ou da coordenação; a segunda, em classe, é com o professor. Veja como ter sucesso
nessa tarefa.

1. Definir o roteiro com a direção

Para não perder o foco, vale organizar antecipadamente com a direção um roteiro do que será dito às
famílias. "Os pais têm direito de saber qual é a linha pedagógica adotada", defende a pedagoga Maria Maura
Barbosa, do Centro de Educação e Documentação para a Ação Comunitária (Cedac), em São Paulo. Como em
muitas escolas públicas, a primeira parte da reunião na Andronico de Mello é para todos os pais. Em 2005,
entre os assuntos debatidos estavam a proibição de celulares ligados em classe e o uso do uniforme. Depois
dessa discussão, os pais são encaminhados para grupos diversos, de acordo com a série dos filhos, para a
reunião com os professores. "Insistimos na questão da disciplina e explicamos o que a escola espera da
garotada", diz Helvécia.

2. Preparar e enviar os convites

O convite, enviado com pelo menos uma semana de antecedência, deve conter:

O aviso claro da reunião, com dia, local, hora para começar e terminar.

Os temas a serem tratados. Entre eles devem estar o programa do ano ou pelo menos do primeiro bimestre, as
normas da escola, o material escolar a ser providenciado (e, se possível, dicas de lugares que tenham preços
mais baixos), qual o sistema de avaliação, os horários e a importância das tarefas de casa.

Um lembrete de que não haverá tempo para falar das crianças individualmente e que isso será feito durante
todo o ano em reuniões periódicas.

3. Cuidar do ambiente

O local do encontro deve ser preparado com cuidado para que todos se sintam esperados e acolhidos. Alguns
professores costumam pedir às crianças para fazer desenhos e com eles decoram a sala onde será a reunião.
Dar aos pais a oportunidade de identificar o trabalho do filho entre tantos outros é uma forma afetuosa de dar
boas-vindas. Nem sempre isso é possível, mas uma faixa simples ou uma saudação na lousa são outras formas
simpáticas de acolher os pais. Se a reunião for feita à noite, é bom providenciar água, café e biscoitos para
quem vier direto do trabalho.
4. Garantir a participação ativa dos pais na reunião

Isso é fundamental para o sucesso do encontro entre escola e família. Reserve um tempo para os pais fazerem
perguntas e propostas. Questões específicas sobre uma criança, que não sejam do interesse geral, ficam para
depois, como informado no convite. Na opinião de Anizu Tavares, mãe de um aluno matriculado no ano
passado na 1a série da Escola Estadual Professora Eleonor Mendes de Barros, em Barueri (SP), o mais
importante na primeira reunião com os professores foi perceber que eles sabiam ouvir. "Muitos pais estavam
inseguros e ansiosos.

Eu tinha muitas dúvidas sobre como seria o contato do meu filho com as crianças maiores no horário de
entrada e de saída e no intervalo. Mas tudo foi explicado e fiquei tranqüila."

5. Fazer um resumo do programa de sua disciplina e da metodologia a ser usada

Todos os professores devem se apresentar aos pais e expor seu programa. Quando a reunião é com os
responsáveis por alunos de 5a a 8a série, fica encarregado pela conversa o orientador pedagógico ou um
professor escolhido pelos colegas. "Apresentamos todos, inclusive os de aulas específicas, como Inglês,
Informática, Educação Física, Artes e Laboratório de Ciências", diz Alessandra Thomaz Vicente Lee,
orientadora e coordenadora pedagógica do Colégio Elvira Brandão, em São Paulo. Eles explicam sua proposta
para a matéria e como pretendem colocá-la em prática. O tempo de cada professor deve ser determinado
antes para que todos possam participar.

6. Falar da periodicidade dos encontros

Se os pais sabem quando terão novas oportunidades de encontrar os professores, é criado um compromisso
entre a família e a escola. "Deve-se mostrar que a relação será duradoura e produtiva e que haverá um
momento para atender os pais que precisam conversar sobre problemas específicos", afirma Helvécia, do
Andronico de Mello. Atualmente os pais trabalham demais, têm uma vida corrida e tendem a delegar a
educação do filho totalmente à escola.

É importante, no entanto, mostrar que a aprendizagem só acontece se a escola, o aluno e a família


trabalharem juntos.

7. Preparar uma dinâmica

Para descontrair os pais e fazer com que se sintam mais à vontade, uma dinâmica pode funcionar bem.
Escolha uma que facilite a integração, mas que não demore mais do que 15 minutos. Aplique logo depois da
apresentação dos professores, explicando antes o que eles vão fazer e qual o objetivo. "Preparamos uma
atividade que, num futuro próximo (a aula do dia seguinte, por exemplo), será dada aos alunos. Assim, os pais
vivenciam a metodologia utilizada pelo professor", diz Alessandra, do Colégio Elvira Brandão.

8. Mostrar a escola

Em uma pequena excursão, leve os pais para conhecer as salas de aula, biblioteca, laboratório, banheiros e
quadras. "Eles querem a confirmação de que escolheram a escola certa para os filhos. Conhecer o espaço onde
a criança ou o adolescente passa tantas horas do dia e perceber que é seguro e adequado ao ensino os deixa
satisfeitos", diz Ivani Cesar Rubio, professora da Escola Espírito Santo e do Instituto de Educação Joana D'Arc,
ambos em São Paulo.

9. Apresentar os funcionários

Todas as pessoas que trabalham na escola devem ser apresentadas aos pais: o pessoal da merenda ou da
cantina, quem cuida do pátio na hora do recreio, os funcionários da secretaria, os faxineiros. Além das devidas
apresentações, o professor deve explicar o que cada um faz, os horários das merendas, as normas, os cuidados
com a higiene... O importante é que os pais saibam que seus filhos estão sendo cuidados e bem tratados por
todos. É o que eles esperam da escola que escolheram.

10. Enfatizar a importância da presença dos pais nas atividades escolares dos filhos

Uma boa maneira de concluir o encontro é lembrar aos pais o papel deles na aprendizagem dos filhos. Dados
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostram que crianças que fazem parte de uma
família que participa de forma direta do dia-a-dia escolar dos filhos apresentam desempenho superior em
relação às demais. Essa participação se dá de modo simples: conversar sobre o que acontece na escola,
acompanhar o dever de casa e incentivar a leitura, por exemplo. Nada garante que eles sairão completamente
confiantes da reunião, mas se você conduzi-la bem, com firmeza e paciência, a ansiedade dará lugar ao
espírito de cooperação.

Quer saber mais?


ESCOLA ESTADUAL ANDRONICO DE MELLO, R. Theo Dutra, 33, 05628-000, São Paulo, SP, tel. (11) 3742-7645,
www.andronic.hpg.com.br

COLÉGIO ELVIRA BRANDÃO, R. Luiz Seraphico Jr., 158, 04729-080, São Paulo, SP, tel. (11) 3742-4645,
http://www.elvirabrandao.com.br/

Ivani Cesar Rubio, rubioivani@hotmail.com

Bibliografia
ESCOLA SEM CONFLITO: PARCERIA COM OS PAIS, Tania Zagury, 260 págs., Ed. Record, tel. (21) 2585-2000,
26,60 reais

REUNIÃO DE PAIS: SOFRIMENTO OU PRAZER?, Beate Althuon, Corinna Essle e Isa Stoeber, 116 págs., Ed. Casa
do Psicólogo, tel. (11) 3034-3600, 15 reais

Fonte: Revista Nova Escola - www.novaescola.com.br

11 maneiras divertidas de ensinar uma língua estrangeira


Será que seus alunos já notaram que, ao apagar o abajur ou ir ao toalete, esbarram no francês? Ou que na
hora da refeição podem optar por um farto self-service ou por um delivery, termos emprestados do inglês?
Aprender outros idiomas, no entanto, vai muito além de conhecer palavras estrangeiras adotadas por aqui. Ao
dominar outras línguas, a garotada tem a possibilidade de manter contato com povos e culturas diferentes,
amplia o acesso a fontes de pesquisa – como livros e internet –, faz amigos no exterior e melhora as chances
de conseguir bons empregos no futuro.
Para envolver a turma nas aulas de Língua Estrangeira, uma boa dose de diversão é bem-vinda: troca de
correspondência, jogos, músicas e filmes ensinam e entretêm. Na Escola da Vila, por exemplo, as crianças
produziram belíssimos cartões-postais de São Paulo para trocar com alunos da Coréia do Sul.

É preciso tomar cuidado, no entanto, para não valorizar demais os recursos lúdicos e esquecer do objetivo
principal: ensinar conteúdos. A professora Sandra Baumel Durazzo, da Target Teaching, que terceiriza o ensino
de línguas em escolas de São Paulo, explica que as aulas são produtivas quando as práticas de linguagem a ser
exploradas são definidas previamente. E isso se aplica até em uma simples leitura. “O aluno pode ler o mesmo
texto com objetivos diferentes: para fazer um resumo ou uma apresentação oral, responder perguntas,
formular opiniões ou apenas por prazer.” 
 
Começar do que eles conhecem

Segundo a consultora Celina Bruniera, de São Paulo, um bom programa em Língua Estrangeira tem por base o
conhecimento lingüístico, textual e de mundo que o estudante traz. “Na hora de escolher os textos que serão
trabalhados, opte primeiro por aqueles com informações familiares à turma”, afirma Celina. Além disso, é
mais rico ler uma biografia ou uma notícia do que frases soltas, como: “Qual é o seu nome?” ou “Onde você
mora?” Letras de músicas? Sim, elas também fazem sucesso e, com certeza, podem enriquecer as aulas –
desde que atendam aos objetivos do seu planejamento. Se você analisar a letra e perceber que é mal escrita,
nada feito.

Para manter vivo o interesse da garotada pelas aulas e ao mesmo tempo atender aos diferentes objetivos
didáticos, os professores de Inglês do Colégio Estadual Douradina, na cidade paranaense de mesmo nome,
resolveram incentivar os alunos de 5ª a 8ª série e de Ensino Médio a ir além do livro didático. As turmas
treinaram conversação com uma estudante inglesa convidada a participar das aulas por meio de um programa
de intercâmbio. “Os alunos ficaram motivados porque conseguiram se comunicar com ela e perceberam que
sabiam mais do que imaginavam”, conta Nilza Fardin, professora de Inglês e orientadora educacional da
escola.

Para aprimorar a leitura e a escrita, eles produziram um jornal, um livro de jogos e outro de receitas e até um
folheto turístico bilíngüe, que é distribuído aos visitantes da cidade. Essas e outras atividades estão descritas a
seguir.
 
Aprendizado, envolvimento e diversão

Para ter sucesso entre a garotada e ser eficiente pedagogicamente, as atividades não requerem grandes
recursos. Elas podem ser desenvolvidas em todas as séries, desde que você adapte os conteúdos previstos no
seu planejamento. Na hora de dar as coordenadas à classe, vale a dica: alterne o uso do idioma estudado com
o do português, de acordo com o nível de conhecimento da turma. Se você falar em outro idioma o tempo
todo, corre o risco de angustiar e inibir os alunos. O contrário também prejudica, pois eles precisam ser
expostos à língua que estão estudando.
 
1. Contar história

As luzes da sala estão apagadas e a meninada na expectativa. Do lado de fora, você se prepara com os
acessórios necessários (como um chapéu ou uma espada de mentira) e já entra narrando, na língua estudada,
as peripécias dos personagens. A pronúncia clara, os gestos e a entonação da voz ajudam a meninada a
entender a narrativa. Essa atividade aprimora a compreensão oral da língua. O objetivo mais importante é
despertar nos alunos a certeza de que têm capacidade de interagir com o idioma, ainda que não o dominem.
Mesmo que a turma seja iniciante, histórias com vocabulário pobre devem ser evitadas.
 
2. Ler texto teatral

O objetivo dessa proposta é explorar as rubricas – as observações entre colchetes que aparecem nos textos
teatrais e que determinam a ação (e não a fala) dos personagens. Lida a peça, os alunos são desafiados a
mostrar, por meio de fotografias ou desenhos, apenas o que as rubricas trazem – [coloca a mão na testa e se
ajoelha], por exemplo. As imagens são trocadas com os colegas, que devem descobrir a que rubrica cada
imagem se refere. Os alunos aprendem as características de um texto sem narrador e exercitam a leitura, a
escrita e a fluência oral na língua.
 
3. Cartões-postais

Aqui cabem parcerias com professores de outras disciplinas, como Artes, História ou Geografia. Os estudantes
produzem cartões-postais com imagens de pontos turísticos ou informações relevantes sobre a cidade onde
moram. No verso, escrevem um pequeno texto, contando um pouco sobre o local escolhido e sobre eles
próprios. Terminada essa etapa, é necessário fazer contato com uma escola de outro país que queira trocar os
postais com a turma. A atividade permite utilizar a língua numa situação real de comunicação e aprimorar a
redação de textos descritivos e informais. Além disso, proporciona um maior contato dos alunos com o lugar
onde moram e o conhecimento sobre a cultura e o modo de vida de crianças e jovens de outros países. 

4. Filmes

Você lê com a classe a crítica de um filme escrita no idioma estudado. Ao assistir à fita (sem legendas), os
alunos treinam a escuta e anotam as passagens que não conseguiram entender para pesquisas posteriores. Em
seguida, todos debatem sobre o filme e a crítica. A próxima etapa envolve a produção de resenhas. Essa
atividade aprimora a redação de textos e o enriquecimento do vocabulário.
 
5. Músicas

Ao escolher canções para trabalhar em sala, é preciso primeiro definir os objetivos. Se a intenção é explorar
conteúdos gramaticais, a letra deve trazer subsídios suficientes. O critério de seleção não se restringe
somente às preferências da turma, mas juntar o útil ao agradável é sempre bom. A música serve para treinar a
pronúncia e fazer com que eles identifiquem sotaques diferentes, conforme a origem do cantor. No CD Músicas
Folclóricas Americanas Vol. 1, à venda com a revista ESCOLA, há vários exemplos. Essa atividade favorece
bastante o vínculo dos alunos com a língua.
 
6. Folheto turístico

A meninada vai achar um barato produzir um folheto bilíngüe e ilustrado para os visitantes da cidade – no
computador ou manualmente. Os alunos fazem um levantamento dos pontos turísticos: igreja da praça
central, museus, reservas naturais, parques, clubes... Antes de começar a redigir, é essencial que os
estudantes tenham contato com os textos publicitários. A atividade desenvolve conteúdos como construções
imperativas ou sugestivas, uso de tempos verbais no presente e adjetivação. 
 
7. Palavras cruzadas

Nesta atividade, cada criança inventa um jogo e desafia os colegas. Para o trabalho ser significativo, cabe aos
alunos elaborar os enunciados na língua estudada, e não apenas um exercício de tradução. Por exemplo: se a
palavra a ser encontrada é maestro (professor, em espanhol), é mais desafiador que eles escrevam la persona
que enseña en la escuela (a pessoa que ensina na escola), e não apenas o termo em português. Essa é uma
maneira de estudar vocabulário e qualquer estrutura gramatical. 
 
8. Livro de receitas

Para começar, a turma lê receitas fáceis de preparar escritas na língua estrangeira. A tarefa seguinte é
identificar palavras e expressões comuns nesse tipo de texto, como bater, misturar tudo, assar, untar. Depois
de se familiarizar com a linguagem, a turma traz de casa a receita predileta e a escreve na língua estudada.
Hora de colocar a mão na massa: ao ensinar os colegas a preparar os quitutes, os alunos são estimulados a
enriquecer o vocabulário e ainda praticam a linguagem oral. Além dos verbos no imperativo e infinitivo, eles
aprendem a usar advérbios e locuções adverbiais.
 
9. Jornal

Ao produzir um jornalzinho, os estudantes são estimulados a escrever, pois abordam temas relacionados ao
seu cotidiano. Eles se aproximam dos diversos gêneros jornalísticos ao fazer as colunas de horóscopo e de
piadas, quadro de recados, contos e críticas culturais, entrevistas e cobertura de eventos. A turma pode
procurar na internet sites de jornais do exterior, para saber como esses textos se organizam. E vai aprimorar a
leitura e a redação. Se a escola não tiver acesso à rede, é importante conseguir um exemplar de jornal
estrangeiro, mesmo que não seja recente, para mostrar à classe.
 
10. Visitantes estrangeiros

Se você conhece alguém na comunidade natural de outro país e que fale a língua estudada pela garotada, eis
uma oportunidade de organizar aulas de conversação envolventes. Caso o visitante não tenha tempo, vale uma
palestra sobre seu país, a cultura e os costumes do lugar onde nasceu. Para tornar o encontro mais rico, os
alunos elaboram roteiros de entrevista com antecedência e pesquisam sobre a nação em questão. Uma boa
pedida é gravar a entrevista para escutá-la nas aulas seguintes.
 
11. Narrativa vira diálogo

Na Escola da Vila, em São Paulo, as 5as séries participaram de um projeto de Inglês que desenvolveu, de
forma divertida, as habilidades de leitura, escrita, pronúncia e escuta. Cada turma de 12 a 15 alunos
transformou a narrativa em inglês de Ali Babá e os Quarenta Ladrões em um diálogo. O projeto durou três
meses e gerou ótimos resultados. Na hora de escolher o texto, as professoras optaram por um livro com
vocabulário para aprendizes de nível elementar (aproximadamente 600 palavras).

Os estudantes leram o texto de diferentes maneiras: sozinhos, em voz alta, em dupla, em casa ou
acompanhando a professora, para treinar a escuta e melhorar a pronúncia. Depois de dominar o vocabulário e
compreender bem a trama, veio o desafio: transformar a narrativa em diálogo. Como lição de casa, os alunos
dividiram o texto em dez partes e fizeram um storyboard, uma espécie de filminho em que a história é
resumida em desenhos. Em classe, cada um deles tinha sugestões a dar. Juntos, fizeram um único storyboard.
Depois disso, veio a produção dos diálogos.

Em duplas, os alunos redigiram as falas de cada parte. Como o narrador dava apenas a noção de tempo e
espaço, eles não podiam dizer que Ali Babá era lenhador e casado. Tinham que transformar essas informações
em falas dos personagens. A esposa, por exemplo, dizia em inglês: “Querido, sei que você está cansado de
cortar lenha o dia todo. Preparei o jantar”. Ali Babá respondia: “Você é a melhor esposa do mundo”. Pronto, o
recado estava dado. “Os alunos se envolveram muito porque, ao criar os diálogos, podiam soltar a 
imaginação”, conta a professora de Inglês Tathiana Barbosa Lima, da Target Teaching, que atua na Escola da
Vila.

Para que todos participassem da leitura interpretada que encerraria a atividade, os alunos foram orientados a
criar frases para personagens que não tinham destaque, como os ladrões. Já as falas de Ali Babá, numerosas,
foram divididas entre dois ou mais alunos. Os diálogos foram passados aos colegas para que conferissem se o
final de um trecho estava coerente com o começo do outro. Na hora de corrigir, as professoras verificaram a
ortografia, se o aluno havia conseguido comunicar o que pretendia e se tinha empregado no texto o conteúdo
já ensinado. “Não se pode exigir que acertem o que eles ainda não aprenderam”, alerta Sandra Durazzo.

A última etapa foi a apresentação, em que todos apareceram com turbantes na cabeça. O desafio era
entender bem o que o colega dizia e interagir fluentemente no diálogo, usando a entonação e a expressão
certas para cada personagem. Dessa maneira, a turma treinou a escuta e a pronúncia. “Os alunos aprenderam
porque utilizaram a língua para solucionar problemas e não porque foram apresentados primeiramente às
regras”, conclui Tathiana.
Aula das arábias  
 
a) Na Escola da Vila, as turmas de 5a série leram de diversas maneiras Ali Babá e os Quarenta Ladrões. Depois
veio o desafio: transformar a narrativa em diálogo

b) Feita a leitura, eles produziram um storyboard. A história foi dividida em dez partes, para organizar a
produção dos diálogos

c) O projeto durou três meses e se encerrou com uma leitura interpretada. Caracterizados, os alunos leram as
falas de seus personagens e deram vida à trama, usando a entonação correta e boa pronúncia em inglês 
 
 Quer saber mais? 
 
- Colégio Estadual Douradina
Av. Brasil, s/n, 87485-000, Douradina, PR
tel. (44) 663-1224

- Escola da Vila
R. Alfredo Mendes da Silva, 55, 05525-000, São Paulo, SP
tel. (11) 3751-5255, site: www.escoladavila.com.br

- Target Teaching, R. Eduardo Saigh Filho, 190, 05691-040, São Paulo, SP


tel. (11) 3758-4568, site: www.targetidiomas.com.br 
 
Bibliografia:

Escola, Leitura e Produção de Textos, Ana Maria Kaufman e Maria Helena Rodriguez, 180 págs., Ed. Artmed,
tel. 0800-7033444, 35 reais
 
Internet:

- Links para professores de diversas línguas em www.linguaestrangeira.pro.br


 
- Troque experiências e encontre colegas internacionais para se corresponder em www.teaching.com (em
inglês) 

Fonte: Revista Nova Escola - www.novaescola.com.br

4 mitos da dislexia
4 mitos da dislexia 
 
Criança que não aprende é doente, dizem muitos. Mas a solução para as dificuldades de aprender a ler e
escrever, entre outros problemas, passa primeiro pela sala de aula  
 
Revista Nova Escola - janeiro de 2008

Existe uma espécie de fantasma que assombra as salas de aula brasileiras. Ele atende pelo nome de dislexia e
é co-responsável pelas dificuldades de milhões de crianças, sobretudo nas séries iniciais. Mas será que ela é a
causa de tantos problemas de aprendizagem? É quase consenso que esse distúrbio é um grande obstáculo que
impede o pleno desenvolvimento da leitura e da escrita. Especialistas ouvidos por NOVA ESCOLA, no entanto,
discordam da análise. “Ela tem sido usada para justificar o fracasso escolar e a evasão e, com isso, muitos
tiram o foco da baixa qualidade do ensino, deixando os alunos como os únicos responsáveis pelas deficiências
da escola”, avalia Telma Weisz, doutora em Psicologia da Aprendizagem e do Desenvolvimento e uma das
autoras dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa.

Grande parte dos estudantes que escrevem as letras invertidas na alfabetização ou cometem erros de
ortografia age assim porque essas ocorrências são normais no processo de aquisição da linguagem escrita. Da
mesma forma, o pouco interesse pela leitura e pela escrita pode ser visto como doença – ou reflexo da falta
de contato com material impresso e das poucas oportunidades para ler e escrever no dia-a-dia. E as causas
genéticas e emocionais da dislexia? Se você prefere rotular seus alunos em vez de se interessar pela forma
como ele apreende conhecimentos, não há muito a fazer. Se, contudo, você prefere acreditar que todos
podem se desenvolver do ponto de vista cognitivo e intelectual, vai concordar que essa é uma das formas mais
cruéis de barrar os avanços porque acaba por envolver também as famílias nesse processo preconceituoso de
determinar o futuro das crianças.

Então, a dislexia não existe? Sim, ela é uma doença catalogada. O que não está clara é a idéia estabelecida
em alguns consultórios e salas de aula de que a patologia está na origem das dificuldades de aprendizagem. Os
conhecimentos de pedagogia e os estudos sobre como se constrói o conhecimento simplesmente não são
levados em conta nas discussões atuais sobre o tema. Talvez por isso pareça tranqüilo “encaminhar” esses
estudantes aos serviços de saúde (como revelam os casos relatados no quadro da página ao lado e da página
69). Ao considerar esses saberes, o diagnóstico costuma ser alterado e as soluções propostas passam a ter
muito mais a ver com as atividades desenvolvidas em classe. Confira a seguir os quatro grandes mitos em torno
da dislexia hoje.

1º mito: A dislexia atrapalha a alfabetização

Criança que troca letras é disléxica, certo? Não. Focar a expressão escrita na oralidade (escrever como se
fala), trocar tipos parecidos foneticamente (como F e V), juntar palavras e unir letras de forma
aparentemente aleatória são ações absolutamente normais do processo de alfabetização. Quem sabe como o
aluno constrói esse novo conhecimento considera esses fatos como um avanço em relação a uma etapa
anterior, não um erro.

As pesquisadoras argentinas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky descobriram (há quase 30 anos!) que os
estudantes elaboram diferentes hipóteses sobre o funcionamento do sistema de escrita, como se fossem
degraus numa escada rumo à aprendizagem. Investigações na área de didática são unânimes em demonstrar
que se alfabetizar está longe de ser uma tarefa simples, num processo complexo em que as idéias dos
pequenos nem sempre coincidem com as dos adultos. “Observar a relação do aluno com a própria escrita é
mais importante do que apontar erros e muito mais efetivo do que rotulá-lo como portador de um distúrbio”,
afirma Giselle Massi, especialista em fonoaudiologia e linguagem, em Curitiba. Em vez de encaminhar para um
tratamento de saúde, o importante é compreender que o percurso é tão importante e desafiador quanto sua
conclusão.

Vale lembrar que saber escrever vai além da aquisição da ortografia correta. Aspectos textuais, como
coerência, utilização e manipulação de referências e construção lógica de idéias, evidenciam a capacidade de
uso da escrita. Apesar de serem centrais na avaliação do nível de compreensão que cada criança tem da
linguagem, esses elementos muitas vezes são ignorados. Por exemplo: um aluno que troca letras pode
apresentar outras qualidades em seus textos e, portanto, não deve ser tachado de doente, sem apelação.

2º mito: O disléxico não gosta de ler e escrever

Na verdade, o desinteresse pela leitura e pela escrita está muitas vezes associado às próprias dificuldades da
alfabetização. A expectativa equivocada de pais e educadores quanto ao ritmo de aprendizagem e a simples
comparação entre os colegas de classe podem criar estigmas. Essa mania de colocar rótulos nos estudantes
(bons, esforçados, casos perdidos...) cria o que Giselle Massi chama de aquisição por sentido: “Ao ser
carimbada pelo professor e pelos pais, a criança desenvolve uma equivocada noção de si e passa a se ver como
incapaz de avançar”. Assim, é natural que perca o interesse pelas atividades ligadas ao que considera ser a
sua fragilidade (leia mais na entrevista da página 68).

Além de distúrbios físicos (problemas de visão ou audição, por exemplo) que podem interferir nessa
dificuldade, pais que não valorizam a leitura ou têm pouco acesso a livros e jornais influenciam diretamente o
desempenho percebido em sala de aula. Não se pode esquecer que no Brasil, segundo dados do Indicador do
Alfabetismo Funcional de 2007, só 28% da população entre 15 e 64 anos é capaz de ler textos longos e fazer
relações e inferências. É por isso que, aqui, acreditar que a dislexia seja responsável por esse problema é
muito grave e não pode justificar os entraves do atual sistema de Educação.

“Quando a criança é observada com mais atenção, é possível verificar que a maior parte dos problemas não é
de origem patológica, mas uma junção de fatores internos e externos à escola que dificultam a
aprendizagem”, afirma Telma Weisz. “Não questiono a existência da dislexia, mas seus sinais pedem muita
atenção num país como o nosso.”

3º mito: O disléxico é mais inteligente e criativo

Essa é outra afirmação, digamos, um tanto quanto estranha. Alguém acha que é possível medir a inteligência
ou a criatividade de forma objetiva, como resultado de uma avaliação pragmática? Uma tese amplamente
aceita é a de que, por utilizarem formas singulares de elaboração da linguagem escrita e de interação com o
idioma, as crianças ditas disléxicas acabariam por desenvolver estratégias mais criativas de comunicação,
interessando-se mais pelas artes e pelos esportes.

O fato é que cada ser humano é único, cheio de sutilezas e tem uma intrincada e singular forma de observar e
interagir com o mundo. Em outras palavras, todos os estudantes apresentam afinidade com diferentes
linguagens. Pesquisas do psicólogo norte-americano Howard Gardner comprovam essa diversidade. Tanto que
ele cunhou a expressão “inteligências múltiplas” (ou seja, não há “uma” inteligência a ser medida). Testar
essas habilidades implica considerar um universo de possibilidades do conhecimento humano e não apenas a
expectativa da sociedade numa determinada época.

Para a psicopedagoga Marice Ribenboim, de São Paulo, o rótulo de gênio é tão nocivo quanto o de incapaz de
aprender. “Marcar uma criança como portadora de um distúrbio é, em qualquer situação, uma forma de
limitação. A Educação não pode se pautar por esse tipo de evidência, como se fosse um veredicto final sobre
as possibilidades de cada um.”

4º mito: As causas da dislexia são genéticas

Estudos recentes conduzidos por Sally Shaywitz, neurologista da Universidade de Yale, nos Estados Unidos,
apontam para uma descoberta neurofisiológica que seria capaz de justificar a falta de consciência fonológica
do disléxico. Mas, embora as principais instituições de estudo da doença aceitem atualmente a teoria de uma
origem genética, oficialmente a dislexia ainda é um distúrbio sem causa definida. Sim, oficialmente é isso.

Pesquisas realizadas no Brasil e na Inglaterra pelo neurologista Saul Cypel, da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo e diretor do Instituto de Neurodesenvolvimento Integral, colocam em xeque a
maneira como são conduzidos esses tipos de teste de diagnóstico e revelam que, de cada 100 alunos
encaminhados ao médico com suspeita de dislexia, apenas três efetivamente têm a doença. Elas demonstram
que não há relação direta entre disfunções no exame eletroencefalográfico e dificuldades de aprendizagem.

Como os mecanismos de funcionamento da dislexia ainda são um mistério para a Medicina, só os sintomas é
que conduzem a um diagnóstico – e eles podem apontar para caminhos equivocados. Quando uma criança
mostra dificuldades de aprendizagem associadas à dislexia, os exames às quais é submetida têm como intuito
principal descobrir se existe outra causa perceptível para a doença. Se nenhum desvio físico ou psicológico é
encontrado, toma-se a dislexia como uma patologia presente e mede-se, por meio dos sintomas, seu grau de
severidade.

O tema, como se viu nestas quatro páginas, é bastante controverso e, obviamente, não se esgota aqui. Não há
conclusões totalmente definitivas sobre a dislexia (suas causas, seus sintomas, sua ligação com a escola). O
que sobra são dúvidas que precisam ser destacadas e exploradas num debate crítico. Como diz o filósofo
francês Edgar Morin em seu livro Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro: “Será preciso ensinar
princípios de estratégia que permitam enfrentar os imprevistos e as incertezas na complexidade do mundo
contemporâneo. É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de
certeza”.

Cada um no próprio ritmo

Vinícius Lobo Camargo, 13 anos, nunca foi considerado um bom aluno. Para sua mãe, as notas baixas e a falta
de concentração pareciam o sinal de pouco empenho nos estudos, já que o garoto vai muito bem em
Matemática e se comunica com facilidade. Aos 9 anos, uma tia o levou a um centro especializado em dislexia
para uma bateria de exames neurológicos, fonoaudiológicos e psicológicos. O resultado dos testes apontou
dislexia severa. “Eu nunca gostei muito de ler e escrever, mas estou provando que essa doença não me impede
de aprender”, diz o menino. Hoje, Vinícius não toma nenhum tipo de medicação e freqüenta a 7ª série numa
escola pública de São Paulo. Quando necessário, faz sessões de psicopedagogia e participa de aulas de reforço.

“A dislexia não me impede de aprender e passar de ano. Sou um aluno normal, mas que precisa de mais tempo
para acompanhar a turma. Qual o problema?”

Vinícius Lobo Camargo, 13 anos, estudante de São Paulo, SP


Luta contra o preconceito

Eliana Oliveira sofreu muito quando recebeu o diagnóstico de dislexia do filho. Felipe Anderson de Oliveira,
hoje com 14 anos, sempre teve dificuldade para ler e escrever e se adaptar ao ritmo da classe. Ela e o marido
mudaram o menino de colégio várias vezes (ele chegou a ser matriculado numa escola especial) e fizeram uma
peregrinação por consultórios e clínicas de neurologia e psiquiatria. Para a surpresa deles, os pais dos colegas
de Felipe questionavam as atividades diferenciadas destinadas ao garoto em sala de aula. “A discriminação é o
pior. Quero que Felipe reconheça suas potencialidades e não deixe de sonhar”, afirma a mãe. Há cinco anos,
ela e o marido passaram a estudar psicologia para entender a realidade do filho e ajudá-lo a avançar.

“A discriminação é muito pior do que qualquer distúrbio porque destrói o interesse da criança pelo aprender.
Reverter esse quadro é um longo trabalho”

Eliana Oliveira, mãe de Felipe, aluno da 7ª série em São Paulo


 
 
3 Perguntas 
 
Giselle Massi 
 

Seu livro mais recente coloca em xeque o excesso de diagnósticos de dislexia nas escolas. Por quê?

Por atuar na área de saúde, sempre me incomodou o fato de se tratar oficialmente de uma patologia sem
causa definida. Muitos estudos apontam que a dislexia surgiu da dificuldade de pacientes com lesão cerebral
em ler e escrever. O mesmo raciocínio é aplicado para explicar os problemas de aprendizagem, como se a
causa também estivesse em manifestações cerebrais.

Existe alguma relação direta entre a democratização do ensino e o aumento de crianças diagnosticadas como
disléxicas?

Sim, mas a meu ver isso não significa que crianças menos aptas a aprender estejam ocupando as salas de aula.
O aumento do número de diagnósticos evidencia as dificuldades no ensino da leitura e escrita. O problema
começa quando o aluno é considerado portador de um distúrbio e acaba sendo o único culpabilizado.

Qual a responsabilidade da escola diante desse assunto?

Se é equivocado culpar o aluno ou atribuir a uma doença a causa por dificuldades na aprendizagem da escrita
e da leitura, o mesmo deve servir para a escola. Por isso, não devemos jogar a culpa nos educadores. Nos
cursos de formação, os estudos da linguagem não têm recebido a merecida atenção apesar de sua profunda
importância no processo de alfabetização. Aliás, esse conhecimento muitas vezes está distante também dos
profissionais da área médica que lidam com a criança considerada disléxica.
 
 
Quer saber mais? 
 

Bibliografia

A Dislexia em Questão, Giselle Massi, 256 págs., Ed. Plexus, tel. (11) 3872-3322, 45,90 reais

Neurologia Infantil, Saul Cypel e Aron Diament, 1921 págs., Ed. Atheneu, tel. 0800-26-7753 (edição esgotada) 

Fonte: Revista Nova Escola - www.novaescola.com.br

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